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TUTELA, CURATELA E TOMADA DE DECISAO APOIADA

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TUTELA, CURATELA E TOMADA DE DECISÃO APOIADA
1. TUTELA
No direito de família, a tutela é considerada como um instrumento de
proteção jurídica e de representação legal do menor, sendo tratada tanto no Código
Civil, como no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em regra, os menores são protegidos pelo instituto do poder familiar, que
compete aos pais, em conjunto ou, na falta ou impedimento de um deles, ao outro,
que o exercerá com exclusividade, nos termos do artigo 1.631 do Código Civil.
Todavia, quando o poder familiar não puder ser exercido por qualquer dos pais,
aplica-se o instituto da tutela, o qual é substitutivo do poder familiar e, por essa
razão, com este incompatível.
Desta feita, a tutela é aplicada na hipótese de falecimento dos pais, da
declaração de ausência dos mesmos, ou da destituição do poder familiar (art. 1728
CC), tendo como finalidade suprir a ausência dos genitores e preservar os
interesses do menor. Diante da ocorrência de alguma das hipóteses supracitadas, o
tutor assumirá a representação e assistência do menor.
Portanto, de acordo com Pablo Stolze Gagliano (2017, p. 1.335), a tutela
possui dois sujeitos: o tutor e o tutelado. O tutor é a pessoa que exercerá o encargo
em benefício do menor, lançando mão da administração do patrimônio e orientação
educacional deste. O tutelado, por sua vez, é o incapaz sobre quem se exerce a
tutela.1
A doutrina classifica a tutela em três categorias: testamentária, legítima ou
dativa. A tutela testamentária se dá quando o tutor é nomeado pelos pais por meio
de testamento ou por qualquer outro documento autêntico. Já a legítima ocorre
quando o tutor é indicado por previsão legal, na ausência de manifestação dos pais
e segundo a proximidade de parentesco (ascendentes e colaterais até o terceiro
grau, sendo preferindo os mais próximos aos mais remotos). Por fim, a tutela dativa
é verificada quando o tutor é nomeado pelo magistrado, em razão da falta de
indicação testamentária e impossibilidade de indicação legítima.
1 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: direito de
família. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2017. v. 6.
Cumpre destacar que no julgamento REsp nº 710.204/AlL, o Superior
Tribunal de Justiça teve entendimento no sentido de que a nomeação do tutor pode
ser flexibilizada, levando-se em consideração o melhor interesse da criança e do
adolescente. Nesse sentido, verifica-se a jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Paraná:
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
AÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO DE TUTELA. DECISÃO AGRAVADA
INDEFERIU O PEDIDO LIMINAR. IRRESIGNAÇÃO DA AVÓ PATERNA.
PLEITO RECURSAL PARA ALTERAÇÃO PRÓVISÓRIA DA TUTORA DAS
ADOLESCENTES. REGULARIZAÇÃO DA SITUAÇÃO FÁTICA.
ADOLESCENTES QUE MANIFESTARAM DESEJO DE RESIDIR COM A
AVÓ PATERNA. NOMEAÇÃO DE TUTOR QUE DEVE ATENDER AO
MELHOR INTERESSE DAS ADOLESCENTES. NECESSIDADE DE
OITIVA DA VONTADE DAS TUTELADAS. ARTIGO 28 DO ECA. MERA
REGULARIZAÇÃO DA SITUAÇÃO FÁTICA. TUTELADAS QUE TEM
TODAS AS NECESSIDADES ATENDIDAS. ALTERAÇÃO PROVISÓRIA DA
TUTORA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
(TJPR - 12ª C.Cível - 0058605-20.2020.8.16.0000 - Foz do Iguaçu - Rel.:
DESEMBARGADORA IVANISE MARIA TRATZ MARTINS - J. 10.02.2021)
Outrossim, ante a tamanha importância da função que o tutor irá
desempenhar, o legislador civilista criou um rol de pessoas impedidas de exercer a
tutela, o qual está previsto no art. 1.735 do Código Civil:
Art. 1.735. Não podem ser tutores e serão exonerados da tutela, caso a
exerçam:
I - aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens;
II - aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem
constituídos em obrigação para com o menor, ou tiverem que fazer valer
direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou cônjuges tiverem
demanda contra o menor;
III - os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes
expressamente excluídos da tutela;
IV - os condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra
a família ou os costumes, tenham ou não cumprido pena;
V - as pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e as
culpadas de abuso em tutorias anteriores;
VI - aqueles que exercerem função pública incompatível com a boa
administração da tutela.
Os referidos impedimentos envolvem temas de ordem pública, devendo ser
reconhecidos pelo juiz de ofício, mesmo sem a provocação das partes ou do
Ministério Público.
Ainda, existe o rol das pessoas que podem se escusar do exercício da tutela,
o qual exige postulação do interessado:
Art. 1.736. Podem escusar-se da tutela:
I - mulheres casadas;
II - maiores de sessenta anos;
III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
IV - os impossibilitados por enfermidade;
V - aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;
VI - aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
VII - militares em serviço.
Dentre as principais atribuições do tutor estão: dirigir a educação do tutelado,
defendê-lo, prestar alimentos, adimplir o dever dos pais e administrar os bens do
menor. Tais encargos poderão ser exercidos livremente.
Todavia, o tutor precisa de autorização do juiz para pagar as dívidas do
menor; aceitar por ele heranças, legados ou doações, ainda que com encargos;
transigir; vender-lhe os bens móveis, cuja conservação não convier, e os imóveis
nos casos em que for permitido; propor em juízo as ações, ou nelas assistir o
menor, e promover todas as diligências a bem deste, assim como defendê-lo nos
pleitos contra ele movidos.
Ademais, há hipóteses em que o tutor não está autorizado a agir, sob pena
de nulidade, são elas: adquirir por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato
particular, bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor; dispor dos bens do
menor a título gratuito e constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o
menor.
A gestão do patrimônio do menor pelo tutor traz à tona a questão da
responsabilidade civil. Perante o tutelado, a responsabilidade civil configura-se
subjetiva, respondendo este pelos danos causados pelas suas condutas dolosas ou
culposas. Já perante terceiros, por danos causados pelo tutelado, a
responsabilidade é indireta e objetiva, podendo o tutor manejar ação regressiva
contra o tutelado.
Outrossim, ainda encontra-se regulamentado a responsabilidade civil do juiz,
uma vez ser este o responsável por inspecionar o tutor no exercício da tutela. Sobre
o tema, Flávio Tartuce (2017, p. 927) diz que:
O Código Civil, a exemplo do anterior, continua trazendo a
responsabilidade do juiz quanto à tutela havendo prejuízos ao
tutelado, podendo essa responsabilidade ser direta ou subsidiária
em relação ao tutor (art.1.774 do CC). A responsabilidade do juiz
será direta e pessoal quando não tiver nomeado o tutor ou não o
houver feito oportunamente. Por outra via, essa responsabilidade do
magistrado será subsidiária quando não tiver exigido garantia legal
do tutor, nem o removido, tanto que se tornou suspeito. Nos dois
casos, exige-se apenas culpa do juiz, e não o dolo, que era regra
geral contida no art. 133 do CPC/1973, repetida pelo art. 143 do
CPC/2015.2
Ainda, diante dos diversos afazeres do magistrado, há possibilidade deste
nomear um “produtor”, o qual irá atuar na condição de fiscalizador dos atos do tutor
e responderá solidariamente pelos danos causados ao tutelado.
Insta salientar que o tutor e o produtor serão remunerados pelo exercício da
função, a qual será arbitrada de forma proporcional à importância dos bens geridos.
Por fim, ao final de cada ano de administração, o tutor é obrigado a prestar
contas.
2. CURATELA
A curatela, assim como a tutela, trata-se de um instituto voltado para proteger
a criança e o adolecente, mas que vai além disso, vez que ampara aqueles que já
completaram a maioridade civil e que por conta de alguma doença ou por se
enquadrar em alguma das hipóteses citadas no art. 1767, não dispõem da
capacidade de autodeterminação,não sendo possível gerir seu próprios interesses.
2 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. 7ª Ed. São Paulo: Método, 2017.
Destarte, esses sujeitos precisam de um representante, pois mesmo que, na teoria,
eles já tenham a capacidade de responder civilmente, a doença impede-os disso.
De acordo com Nelson Rosenvald (2015, p. 908):
Tutela e Curatela são “instituições protetivas da pessoa e dos bens dos que
detém limitada capacidade de agir – seja pela idade ou pela submissão a
prévio processo de incapacitação –, evitando os riscos que essa carência
possa impor ao exercícios das situações jurídicas por parte de indivíduos
juridicamente vulneráveis.3
Já seguindo as lições de Maria Helena Diniz (2014, p. 720), a curatela é o
encargo público, cometido, por lei, a alguém para reger e defender a pessoa e
administrar os bens de maiores, que por si só, não estão em condições de fazê-lo,
em razão de enfermidade ou deficiência mental4.
De acordo com o artigo 1.767 do Código Civil, estão sujeitos à curatela:
Art. 1.767:
I – aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o
necessário discernimento para os atos da vida civil;
II – aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir sua
vontade;
III – os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;
IV – os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;
V – os pródigos.
O doutrinador Gagliano ensina que os sujeitos da curatela são o curador
(pessoa necessariamente idônea e capaz) e o curatelado (o destinatário da
proteção jurídica5. O curador deve ter, como requisito fundamental, a capacidade
plena para os atos da vida civil. Assim sendo, a partir do momento que se completa
esse requisito, qualquer cidadão, teoricamente, poderá ser designado como curador
de outra pessoa. No entanto, o autor complementa:
Não é razoável imaginar que qualquer indivíduo, aleatoriamente,
seja nomeado para tão importante mister.
5 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: direito de
família. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019a. v. 6.
4 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 28ª ed.
3 FARIAS, Cristiano Chaves e ROSENVALD, Nelson. Famílias. 2ª ed. .
Por isso, o lógico é que tal função seja exercida por alguém que,
além de apresentar comportamento probo e idôneo, mantenha
relações de parentesco ou amizade com o sujeito que teve sua
incapacidade, total ou relativa, reconhecida.6
O Código Civil, em seu art. 1.775 determina uma ordem preferencial de
escolha do curatelado:
Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente
ou de fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito.
§ 1º Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou
a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto.
§ 2º Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais
remotos.
§ 3º  Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao
juiz a escolha do curador.
Não obstante, o Estatuto da Pessoa com Deficiência instituiu a possibilidade
de haver uma tutela compartilhada.
Na curatela, há uma ação típica, intitulada como processo de interdição, o
qual se processa mediante procedimento especial e de jurisdição voluntária, e tem
como escopo identificar eventual incapacidade relativa mediante prolação de
sentença.
Em tal procedimento, a entrevista com o curatelado e a prova pericial
configuram-se obrigatórias, tendo em vista a necessidade de comprovação e
demonstração técnica da incapacidade. Sobre o tema, confira-se a jurisprudência:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. INTERDIÇÃO E CURATELA.
INTERDITANDA ACOMETIDA DE SUPOSTA ESQUIZOFRENIA
PARANOIDE (CID 10 – F 20.0). INTERDIÇÃO DECRETADA COM BASE
EM LAUDOS PRODUZIDOS EXTRAJUDICIALMENTE E EM ENTREVISTA
JUDICIAL. AUSÊNCIA DE REALIZAÇÃO DE PERÍCIA MÉDICA.
VIOLAÇÃO AO ARTIGO 753 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
SENTENÇA ANULADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.1. A regra
prevista no artigo 753 do Código de Processo Civil, ao exigir a realização
6 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: direito de
família. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019a. v. 6.
de perícia médica para a avaliação da capacidade do interditando para
praticar os atos da vida civil, procura ampliar as razões de prudência na
decretação da interdição, já que a pessoa com deficiência deve ter
assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal, em igualdade de
condições com as demais pessoas, sendo a curatela uma medida
extraordinária, que deve ser proporcional às necessidades e às
circunstâncias de cada caso, e durar o menor tempo possível (artigo 84, §
3º, do Estatuto da Pessoa com Deficiência - Lei nº 13.146/2015). 2. A
decretação da interdição de pessoa, com deficiência mental (suposta
esquizofrenia), por ser medida excepcional, deve ser fundamentada
em prova pericial, não bastando a sua comprovação por documento
(atestado médico) acompanhado de entrevista judicial, até porque a
experiência pessoal e profissional do magistrado não supre a falta da
prova científica quanto ao estado de saúde do possível interditando.4.
Havendo controvérsia na interdição, extrapola-se a mera
administração pública de interesses privados própria dos
procedimentos de jurisdição voluntária, a exigir a mais ampla garantia
do contraditório e da ampla defesa, possibilitando à interditanda (ora
recorrente) o direito à prova pericial. 5. A aplicação do artigo 472 do
Código de Processo Civil, que dispensa à prova pericial - quando pareceres
técnicos ou documentos, juntados pelas partes com a petição inicial e a
constestação, se mostrem suficientes para a elucidação das questões
fáticas - ao procedimento de jurisdição voluntária de interdição em que há
controvérsia deve ser excepcional, quando a situação fática for
absolutamente evidente (v.g., interditando em coma), a ponto de tornar
desnecessária ou inútil a realização da perícia. 6. Convencido o Estado-juiz
da desnecessidade, inutilidade ou caráter meramente protelatório da prova
pericial, sobretudo nos casos em que não há controvérsia quanto ao
indeferimento da interdição ou quando esta venha a se mostrar
incontroversa, caberá indeferir a realização da perícia em decisão
fundamentada (art. 370 do CPC).7. Recurso conhecido e provido.
(TJPR - 12ª C.Cível - 0021708-39.2020.8.16.0017 - Maringá - Rel.:
EDUARDO AUGUSTO SALOMAO CAMBI - J. 19.10.2022)
Com relação aos aspectos processuais da curatela, é admitido a pretensão
resistida, ou seja a discordância e a impugnação por parte do curatelado, ou até
mesmo pela intervenção de um terceiro interessado, de acordo com o artigo 752,
§2º e §3º do CPC).
Ainda sobre os aspectos processuais, Pablo Stolze Gagliano (2017, p. 1.350)
informa que, na escrita do art. 755, § 3º do CPC, a sentença que determina a
interdição deverá ser inscrita no registro de pessoas naturais e publicada na internet
de forma imediata, permanecendo por 6 meses; na imprensa local, uma vez, e no
órgão oficial, por 3 vezes, com intervalo de 10 dias, constando do edital os nomes
do interdito e do curador, a causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo
total a interdição, os atos que o interdito poderá praticar sozinho.7
Por fim, conforme os ensinamentos de Luciano Figueiredo (2020, p. 1.661),
durante o exercício da curatela deve ser assegurado ao interditando todo apoio
necessário para o interditando para ser preservado o seu direito à convivência
familiar e comunitária, evitando-se, ao máximo, seu recolhimento em
estabelecimento. Ainda, o curador deverá administrar os bens do curatelado e
auxiliar na recuperação destes.8
3. TOMADA DE DECISÃO APOIADA
Tendo em vista que a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre os
Direitos da Pessoa com Deficiência e a Lei de Inclusão Brasileira buscaram
reconhecer a necessidade de garantir a autonomia e a independência individuais
das pessoas com deficiência, podendo esse grupo social possuir liberdade pararealizar as próprias escolhas.
O processo de Tomada de Decisão Apoiada se deu origem pela Lei 13.146/15,
possibilitando que a pessoa portadora de deficiência possa indicar duas pessoas
idôneas, qual tenha um vínculo e seja de total confiança para prestar apoio na
tomada de decisão sobre atos de sua vida civil e fornecendo também informações
necessárias para exercer sua capacidade, sendo previsto no Art. 1783-A, que tem
como objetivo garantir maior autonomia e segurança jurídica ao apoiado.
Para realizar o processo é necessário que a pessoa com deficiência junto com
seus apoiadores apresentem um termo constando os limites do apoio a ser
oferecido e os compromissos dos apoiadores, contendo o prazo de vigência do
acordo, e respeitando sua vontade, os direitos e interesses da pessoa apoiada. É
8 FIGUEIREDO, Luciano. Manual de Direito Civil - Volume Único - Salvador: Editora Juspodivm, 2020
7 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: direito de
família. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2017. v. 6.
possível cessar a tomada de decisão apoiada, tanto o apoiado e o apoiador podem
fazer essa solicitação.
Em caso de haver discordância entre os apoiadores e o apoiado, que possam
apresentar riscos ou prejuízos relevantes, a divergência será solucionada pelo juiz,
que, ouvirá o Ministério Público antes de proferir sua decisão. Entretanto, se a
discordância não gerar consequências negativas, prevalecerá a escolha do apoiado,
privilegiando-se a autonomia da pessoa com deficiência em prejuízo da opinião dos
apoiadores, em consonância com o espírito invocado pelo Estatuto.
Vale ressaltar que, se o apoiador for negligente, atuando com descaso ou
ultrapassando os limites estabelecido, o apoiado ou qualquer pessoa que presencia
a negligência podem fazer uma denuncia ao Ministério Público ou ao magistrado, o
qual destituir o apoiador e ouvirá a pessoa com deficiência para indicar um novo
apoiador. O apoiador destituído está sujeito à responsabilidade civil subjetiva, de
acordo com os artigos 186 e 297 do Código Civil, quando em razão da negligência
houver prejuízo à pessoa apoiada9. Destaca-se que após a homologação do acordo,
os apoiadores se sujeitam a prestar contas, seguindo as normas referentes à
prestação de contas de Curatela.
Art. 186. “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
Art. 927. “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
Salienta-se que Curatela e Tomada de decisão apoiada são procedimentos
distintos, tendo em vista que a Curatela é apenas concedida pelo magistrado
quando a pessoa é totalmente incapaz de tomar decisões sobre a vida civil, já em
casos como no julgado abaixo mencionado, quando a pessoa é relativamente
incapaz é mais adequado recorrer ao procedimento de Tomada de Decisão
Apoiada. Sobre o tema, verifica-se a jurisprudência:
9 MENEZES, Joyceane Bezerra de. Tomada de decisão apoiada: instrumento de apoio ao exercício
da capacidade civil da pessoa com deficiência instituído pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei n.
13.146/2015). Revista Brasileira de Direito Civil, Rio de Janeiro, vol. 9, n. 03, p.50, jul./set. 2016.
APELAÇÃO CÍVEL. INTERDIÇÃO E CURATELA. AÇÃO PROPOSTA PELA
TIA EM FAVOR DO SOBRINHO. ALEGADA INCAPACIDADE PARA A
PRÁTICA DOS ATOS DA VIDA CIVIL NÃO CONSTATADA - LAUDO
PERICIAL QUE APONTA QUE A INCAPACIDADE DO SOBRINHO SE
RESTRINGE AOS MOMENTOS DE CRISE – CURATELA QUE NÃO SE
REVELA A OPÇÃO MAIS ADEQUADA – POSSIBILIDADE DE O JOVEM
SE SOCORRER DO PROCEDIMENTO DE TOMADA DE DECISÃO
APOIADA – JULGAMENTO DE IMPROCEDÊNCIA DA DEMANDA QUE
DEVE SER MANTIDO. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 11ª C.Cível -
0001473-95.2014.8.16.0038 - Fazenda Rio Grande - Rel.:
DESEMBARGADOR MARIO NINI AZZOLINI - J. 09.03.2018)
Isto posto, pode-se concluir que a Tomada de Decisão Apoiada tem como
seu principal objetivo que a pessoa portadora de deficiência tenha sua liberdade e
autonomia garantidas, podendo ele fazer suas escolhas e apenas quando
necessário o apoiador intervém visando o melhor ao assistido.
Referências Bibliográficas:
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO - Tomada de Decisão Apoiada
- Medidas de apoio previstas na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência - Disponível em: <https://www.cnmp.mp.br/portal/images/curatela.pdf>
FIGUEIREDO, Luciano. Manual de Direito Civil - Volume Único - Salvador: Editora
Juspodivm, 2020
GUIMARÃES, Décio Nascimento. MEDEIROS, Rayana F. Pinheiro. ZAGANELLI , M.
Vetis. BENEVENUTI, Clesiane Bindaco. PESSIN, Gisel. TOMADA DE DECISÃO
APOIADA: INSTRUMENTO PROTETIVO DO EXERCÍCIO DA CAPACIDADE CIVIL
DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. Disponível em:
<https://temasemsaude.com/wp-content/uploads/2018/12/18415.pdf>
LISITA, Kelly Moura Oliveira. Direito das Famílias, Tomada de Decisão Apoiada
(TDA), Curatela e Tutela em breves análises jurídicas. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1784/Direito+das+Fam%C3%ADlias%2C+Tomada+de
+Decis%C3%A3o+Apoiada+%28TDA%29%2C+++Curatela+e+Tutela+em+breves+
an%C3%A1lises+jur%C3%ADdicas>
MENEZES, Joyceane Bezerra de. Tomada de decisão apoiada: instrumento de
apoio ao exercício da capacidade civil da pessoa com deficiência instituído pela Lei
Brasileira de Inclusão (Lei n. 13.146/2015). Revista Brasileira de Direito Civil, Rio de
Janeiro, vol. 9, n. 03, p.50, jul./set. 2016.
ROSENVALD, Nelson. A tomada de decisão apoiada – Primeiras linhas sobre um
novo modelo jurídico promocional da pessoa com deficiência. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/assets/upload/anais/253.pdf>
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Disponível em:
<https://direitouninovest.files.wordpress.com/2016/03/maria-helena-diniz-curso-de-di
reito-civil-brasileiro-vol-1-teoria-geral-do-direito-civil-2012.pdf>
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil:
direito de família. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2017. v. 6
FIGUEIREDO, Luciano. Manual de Direito Civil - Volume Único - Salvador: Editora
Juspodivm, 2020
https://direitouninovest.files.wordpress.com/2016/03/maria-helena-diniz-curso-de-direito-civil-brasileiro-vol-1-teoria-geral-do-direito-civil-2012.pdf
https://direitouninovest.files.wordpress.com/2016/03/maria-helena-diniz-curso-de-direito-civil-brasileiro-vol-1-teoria-geral-do-direito-civil-2012.pdf

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