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Espanhola Prof.ª Claci Inês Schneider Prof.a Gabriela Marçal Nunes Prof.a Kadhiny Mendonça de Souza Policarpo Cultura dos paísEs dE língua Indaial – 2020 1a Edição Impresso por: Elaboração: Prof.a Claci Inês Schneider Prof.a Gabriela Marçal Nunes Prof.a Kadhiny Mendonça de Souza Policarpo Copyright © UNIASSELVI 2020 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI S358c Schneider, Claci Inês Cultura dos países de língua espanhola. / Claci Inês Schneider; Gabriela Marçal Nunes; Kadhiny Mendonça de Souza Policarpo. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 193 p.; il. ISBN 978-65-5663-099-1 1. História da Espanha. - Brasil. 2. Cultura das regiões hispânicas. – Brasil. I. Schneider, Claci Inês. II. Nunes, Gabriela Marçal. III. Policarpo, Kadhiny Mendonça de Souza. IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 460.7 Somos parte de uma sociedade e, como tal, somos seres culturais, pois a cultura faz parte de nossas vidas. Em cada ato, em cada costume, em cada prato servido, em cada música, em cada passo de dança. Respiramos cultura. Cada povo, cada cidade tem sua própria cultura, e a história, as origens de cada região têm muito a ver com a cultura que se formou no local. O livro de Cultura dos Países de Língua Espanhola foi pensado para proporcionar uma breve reflexão sobre as raízes culturais dos países que falam espanhol, alguns hábitos culturais e considerações sobre a cultura e o ensino de línguas. Na Unidade 1 do livro faremos um breve recorrido sobre termos relacionados à cultura a fim de compreender do que se trata efetivamente o termo estudado, assim como sobre a história da Espanha, da América e da Guiné Equatorial, países que tem o espanhol como língua oficial. Também propomos uma reflexão sobre a cultura na escola e aspectos que devem ser considerados pelos professores e pela comunidade escolar em geral. Na Unidade 2 nos aprofundaremos mais em diferentes aspectos da cultura como folclores, música, dança, gastronomia, costumes, aspectos religiosos, festas etc. de diferentes regiões hispânicas. Na Unidade 3, por fim, falaremos de literatura, arquitetura, medicina, religião, patrimônios culturais e a cultura em sala de aula. Há muito por estudar, desejamos que as propostas aqui apresentadas sejam úteis para a construção de seu conhecimento e de suas reflexões enquanto futuro docente. O tema que estamos estudando é bastante amplo e merece nossa atenção e dedicação, por isso, mãos à obra! Um grande abraço! Prof.a Claci Inês Schneider Prof.a Gabriela Marçal Nunes Prof.a Kadhiny Mendonça de Souza Policarpo APRESENTAÇÃO GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! QR CODE SUMÁRIO UNIDADE 1 — CULTURA ...........................................................................................1 TÓPICO 1 — CULTURA ............................................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 CULTURA POPULAR ............................................................................................ 7 2.1 DANÇA .................................................................................................................................... 8 2.2 GASTRONOMIA ...................................................................................................................10 2.3 MÚSICA ................................................................................................................................13 2.4 CINEMA ................................................................................................................................13 2.5 ARTES E LITERATURA .......................................................................................................14 3 CULTURA DE MASSA ......................................................................................... 15 4 CULTURA ERUDITA ............................................................................................ 16 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 18 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 19 TÓPICO 2 — FORMAÇÃO CULTURAL .................................................................... 21 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 21 2 ESPANHA ............................................................................................................ 21 2.1 PRIMEIROS HABITANTES .................................................................................................22 2.2 PRIMEIROS HABITANTES DA AMÉRICA ...................................................................... 26 2.2.1 Os Astecas ...................................................................................................................27 2.2.2 Os Maias .....................................................................................................................28 2.2.3 Os Incas ..................................................................................................................... 29 2.2.4 Imigração Europeia para América do Sul no Pós-Colonialismo ...................31 2.2.5 Nações Hispânicas e Seus Símbolos.................................................................. 33 3 PAÍSES DA LÍNGUA ESPANHOLA ......................................................................33 3.1 PORTO RICO ........................................................................................................................34 3.2 EQUADOR ............................................................................................................................34 3.3 O ESPANHOL NA ÁFRICA – GUINÉ EQUATORIAL ......................................................34 4 HINOS E BANDEIRAS .........................................................................................36 5 CULTURA HISPÂNICA ........................................................................................38 5.1 CURIOSIDADES DA ESPANHA ........................................................................................38 5.2 CURIOSIDADES DE HISPANO-AMÉRICA ..................................................................... 39 RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................42 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................43 TÓPICO 3 — CULTURA E EDUCAÇÃO ...................................................................45 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................45 2 CULTURA E EDUCAÇÃO .....................................................................................49 3 A IMPORTÂNCIA DA CULTURA NA ESCOLA ...................................................... 51 4 A PRESENÇA DA CULTURA DA COMUNIDADE NO PPP – PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA ................................................................53 5 EXEMPLOS DE ATIVIDADES QUE PODERIAM SER TRABALHADAS EM SALA DE AULA .............................................................................................54 5.1 EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS ............................................................................................ 55 5.2 COSTUMES ......................................................................................................................... 56 5.3 MÚSICAS E DANÇAS .........................................................................................................57 5.4 TRABALHOS PRÁTICOS ....................................................................................................57 6 A ESCOLA COMO ESPAÇO DE PRODUÇÃO CULTURAL .................................... 57 6.1 FESTIVAL DE TALENTOS ..................................................................................................58 6.2 VARAL LITERÁRIO .............................................................................................................58 6.3 TEATRO NA ESCOLA .........................................................................................................58 6.4 CONCURSO DE POESIAS ................................................................................................ 59 6.5 CIRCO NA ESCOLA ............................................................................................................ 59 6.6 FESTIVAL DA CANÇÃO .................................................................................................... 59 6.7 FEIRA CULTURAL ............................................................................................................... 59 6.8 CONCURSO DE DANÇA/MÚSICA .................................................................................. 59 6.9 DIA DO FOLCLORE ............................................................................................................60 6.10 DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA ......................................................................................60 6.11 DIA DO ÍNDIO .....................................................................................................................60 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................. 61 RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................64 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................65 UNIDADE 2 — CULTURA POPULAR ...................................................................... 67 TÓPICO 1 — REPRESENTAÇÕES CULTURAIS POPULARES ................................69 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................69 2 FOLCLORE ..........................................................................................................69 2.1 ARGENTINA ............................................................................................................................ 70 2.2 COLÔMBIA ......................................................................................................................... 73 3 ARTE POPULAR.................................................................................................. 75 3.1 MÉXICO ..................................................................................................................................76 3.1.1 Lacas ............................................................................................................................76 3.1.2 Alfarería .......................................................................................................................77 3.2 GUATEMALA ....................................................................................................................... 78 3.2.1 Máscaras .................................................................................................................... 78 3.2.2 Cestas ........................................................................................................................79 3.3 EL SALVADOR ....................................................................................................................80 4 MÚSICA ...............................................................................................................80 5 DANÇA ................................................................................................................86 5.1 TANGO ...................................................................................................................................86 5.2 CUMBIA ...............................................................................................................................88 5.3 MAMBO ................................................................................................................................89 5.4 FLAMENCO .........................................................................................................................90 6 GASTRONOMIA .................................................................................................. 91 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................94 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................95 TÓPICO 2 — FOLCLORE ......................................................................................... 97 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 97 2 CRENÇAS E RELIGIÕES ..................................................................................... 97 3 REZAS E BENZEDURAS ...................................................................................100 4 DITADOS POPULARES .....................................................................................102 5 COSTUMES ......................................................................................................104 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 110 AUTOATIVIDADE .................................................................................................. 111 TÓPICO 3 — FESTAS POPULARES ..................................................................... 113 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 113 2 PATRIMÔNIOS CULTURAIS .............................................................................. 113 2.1 LUTA LIVRE MEXICANA ................................................................................................... 114 2.2 DÍA DE MUERTOS ............................................................................................................. 115 2.3 CARNAVAL DE ORURO ................................................................................................... 116 3 FESTAS REGIONAIS ..........................................................................................117 3.1 LOS SANFERMINES ...........................................................................................................117 3.2 LAS FALLAS ...................................................................................................................... 118 3.3 LA TOMATINA .................................................................................................................... 118 3.4 INTI RAYMI ......................................................................................................................... 119 3.5 FIESTA DE LA VENDIMIA ................................................................................................ 119 3.6 LA MAMA NEGRA ............................................................................................................ 120 4 MÚSICAS FOLCLÓRICAS ................................................................................. 121 5 DANÇAS REGIONAIS ........................................................................................ 123 5.1 CHACARERA .................................................................................................................... 124 5.2 BAILECITO ......................................................................................................................... 124 5.3 DANZÓN E CONGA ...........................................................................................................125 5.4 DIABLITOS ........................................................................................................................ 126 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 127 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................130 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................131 UNIDADE 3 — CULTURA, PRESERVAÇÃO E ENSINO .........................................133 TÓPICO 1 — CULTURA MULTIFACETADA ........................................................... 135 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 135 2 LITERATURA .................................................................................................... 136 2.1 MIGUEL DE CERVANTES E A ESPANHA .................................................................... 136 2.2 JORGE LUIS BORGES E A ARGENTINA ...................................................................... 138 3 ARQUITETURA .................................................................................................140 3.1 BUENOS AIRES – ARGENTINA ....................................................................................... 141 3.2 BARCELONA – ESPANHA .............................................................................................. 142 4 MEDICINA .........................................................................................................143 4.1 A MEDICINA PREVENTIVA DE CUBA ........................................................................... 144 5 RELIGIÃO ..........................................................................................................145 5.1 O CATOLICISMO NA AMÉRICA ....................................................................................... 146 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................148 AUTOATIVIDADE .................................................................................................149 TÓPICO 2 — PRESERVAÇÃO ................................................................................151 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................151 2 PATRIMÔNIO CULTURAL ................................................................................. 152 3 PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL ........................................................... 153 3.1 PATRIMÔNIO MATERIAL .................................................................................................. 154 3.2 PATRIMÔNIO IMATERIAL ................................................................................................ 154 3.3 PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE ................................................................................... 159 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 166 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 167 TÓPICO 3 — SALA DE AULA ................................................................................ 169 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 169 2 CULTURA NA SALA DE AULA ........................................................................... 169 3 ÉTICA E RESPEITO ............................................................................................171 3.1 PRECONCEITO LINGUÍSTICO ..........................................................................................172 3.2 PRECONCEITO RELIGIOSO .............................................................................................173 4 IDEIAS E SUGESTÕES...................................................................................... 174 4.1 GÊNEROS TEXTUAIS ........................................................................................................174 4.2 LITERATURA ......................................................................................................................175 4.3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA .................................................................................................... 177 4.4 APRENDIZAGEM BASEADA POR PROJETOS ............................................................ 177 4.5 TEXTO SOBRE A CULTURA MATERNA ........................................................................ 180 4.6 FORMAS ESPONTÂNEAS ............................................................................................... 180 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................182 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................186 AUTOATIVIDADE .................................................................................................187 REFERÊNCIAS .....................................................................................................189 1 UNIDADE 1 — CULTURA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar diferentes definições do termo cultura; • reconhecer aspectos relacionados à cultura popular, de massa e cultura erudita; • conhecer a história da Espanha, América e Guiné Equatorial; • aprender aspectos relacionados à colonização espanhola da América e da África; • estudar aspectos da imigração europeia no pós-colonialismo; • identificar principais definições de termos relacionados à cultura como identidade cultural, pluralidade, multicultural etc.; • refletir sobre a cultura na escola e a importância de considerá-la para preparar nossas aulas etc. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CULTURA TÓPICO 2 – FORMAÇÃO CULTURAL TÓPICO 3 – CULTURA E EDUCAÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 CULTURA TÓPICO 1 — UNIDADE 1 “Um ser humano sem cultura seria apenas uma monstruosidade sem mente” (GEERTZ, 2008, p. 50). 1 INTRODUÇÃO Falar sobre cultura não é algo tão simples quanto parece. A palavra cultura por si só é um termo difícil de definir pois apresenta diferentes usos e interpretações, de acordo com a situação, podendo substituir termos como mentalidade, espírito, tradição e ideologia (CUCHE, 2002). A cultura também se refere às artes, aos costumes, assim como também podemos dizer que ter cultura é ser letrado, é ser inteligente, é ter acesso ao conhecimento. Cultura é cinema, livro, fala, um prato preparado há anos pelas avós do vilarejo, uma cantiga, uma renda, um artesanato, uma pesca, uma forma de cultivar um fruto e demais coisas adquiridas, seja em contato com a família ou com a sociedade da qual fazemos parte. Cultura pode ser um mundo em construção, especialmente considerando que o constante contato entre as pessoas faz com que novas culturas surjam a cada momento, como nos indica a figura a seguir. FIGURA 1 – CULTURA - UMA PALAVRA POLISSÊMICA FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTFl5F0stSi9WlU_ tQEowIOqELtehLPnfG4bLYb5pxhK2VD6TkG>. Acesso em: 25 mar. 2020. 4 A fim de começarmos a entender melhor o termo cultura, vejamos a seguir as definições de dois dicionários, primeiro o da Real Academia Española: Cultura –Del lat. cultūra. 1. f. cultivo. 2. f. Conjunto de conocimientos que permite a alguien desarrollar su juicio crítico. 3. f. Conjunto de modos de vida y costumbres, conocimientos y grado de desarrollo artístico, científico, industrial, en una época, grupo social etc. 4. f. desus. Culto religioso. cultura física 1. f. Conjunto de conocimientos sobre gimnasia y deportes, y práctica de ellos, encaminados al pleno desarrollo de las facultades corporales. cultura popular 1. f. Conjunto de las manifestaciones en que se expresa la vida tradicional de un pueblo. Agora vejamos a definição do Dicionário Online de Português: Cultura Substantivo feminino 1. Conjunto dos hábitos sociais e religiosos, das manifestações intelectuais e artísticas, que caracteriza uma sociedade: cultura inca; a cultura helenística. 2. Normas de comportamento, saberes, hábitos ou crenças que diferenciam um grupo de outro: provêm de culturas distintas. 3. Conjunto dos conhecimentos adquiridos; instrução: sujeito sem cultura. 4. Ação, efeito ou modo usado para tratar a terra ou as plantas; cultivo. 5. Terreno cultivado; categoria de vegetais cultivados: a cultura das flores; culturas forrageiras. 6. Criação de certos animais: cultura de abelhas. 7. Expressão ou estágio evolutivo das tradições e valores de uma região, num período determinado: cultura católica. 8. Aplicação do espírito a uma coisa: a cultura das ciências. 9. Desenvolvimento das faculdades naturais: a cultura do espírito. 10. Apuro, expressão de elegância: a cultura do estilo. 11. Desenvolvimento de certas espécies microbianas: caldo de cultura. 12. Arte de utilizar certas produções naturais: cultura do algodão. Etimologia (origem da palavra cultura). Do latim cultura. Optamos por mostrar a definição de dois dicionários para comparar o que ambos trazem, pois nos pareceu bastante interessante a diferença das duas entradas, reforçando a teoria da dificuldade de definição do termo cultura. O dicionário da RAE traz apenas 4 acepções para a entrada cultura, começando com a entrada cultivo, de onde se origina o termo latino. Já o dicionário brasileiro traz 12 acepções que ainda assim parecem não explorar devidamente a amplitude da palavra cultura, pois há acepções que se repetem em relação ao sentido de cultura quanto ao cultivo da terra, mas poderiam ter explorado um pouco mais, por exemplo a dicotomia civilização e barbárie que sempre é tratada quando se fala de cultura. Por exemplo, em Facundo, de 5 FIGURA 2 – PLANETA MULTICULTURAL FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/10/diversidade-cultural.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2020 Sarmiento, que em 1845, fala de civilização e barbárie, ou Euclides da Cunha, com os Sertões. Essa ideia de cultura como civilização era muito usada pela aristocracia alemã, que estava preocupada “demais em imitar as maneiras civilizadas da corte francesa” (CUCHE, 2002, p. 25). O dicionário da RAE, em sua segunda acepção, remete a cultura à questão do conhecimento e em sua terceira acepção faz uma grande misto de ideia em que fala de hábitos costumes, artes etc. O dicionário português pormenoriza e dá exemplos para 12 situações diferentes, o que, para o caso da lexicografia, é muito bem visto, para o caso da semântica também nos parece interessante pois dá um leque amplo de opções para o consulente que visa entender o que, de fato, é cultura. Sem contar que chama a atenção o fato de que, na organização das acepções, onde costumeiramente se organiza por ordem de importância, no dicionário europeu a primeira entrada é a relacionada ao cultivo, a segunda ao conhecimento e apenas a terceira aos hábitos, manifestações artísticas etc. No dicionário brasileiro essa acepção é a primeira. Será isso já uma marca cultural? Assim como acontece com os dois dicionários cujas equipes de lexicógrafos registram a referida entrada de maneira diferente, assim é a sociedade que vive de formas diferentes, tem hábitos diferentes, costumes diferentes, se alimenta diferente, vive em locais diferentes, tem línguas diferentes, biotipos diferentes, se somos tão diferentes, como esperar que nossas culturas fossem iguais? Marilena Chauí (1995, p. 81) afirma que “todos os indivíduos e grupos são seres e sujeitos culturais”. Dessa forma, como esperar que a cultura tenha uma mesma definição? Na sequência trataremos um pouco mais sobre o assunto sem desejar esgotar a temática, tão profunda e ampla, apenas visamos aqui promover algumas reflexões sobre possíveis usos da palavra cultura para um maior entendimento dentro de nossa proposta neste material. 6 Vejamos primeiramente definições de alguns autores sobre a palavra cultura: Para Geertz (2008, p .64), cultura é: “um padrão de significados transmitido historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas ex- pressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à vida”. Já Cuche (2002, p. 28) afirma que cultura é “a soma dos saberes acumulados e transmitidos pela humanidade” e mais a frente, na mesma página, afirma que é “um conjunto de características artísticas, intelectuais e morais queconstituem o patrimônio de uma nação”. Por sua vez, Eagleton (2005, p.184) afirma que a cultura “não é unicamente aquilo de que vivemos. Ela também é, em grande medida, aquilo para o que vivemos. Afeto, relacionamento, memória, parentesco, lugar, comunidade, satisfação emocional, prazer intelectual, um sentido de significado último”. Para Laraia (2009, p. 68), “o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura”. Para finalizar nossa lista de definições teóricas, trazemos Zygmund Bauman (2012, p. 141), que define cultura como “um sistema de significação e uma de suas funções universalmente admitidas é ordenar o ambiente humano e padronizar as relações entre os homens”. Como vemos, as definições apresentadas, apesar de diferentes, todas convergem para um mesmo sentido, de que a cultura humana tem relação direta com os hábitos, as emoções e valores morais e comportamentais que regem nossa sociedade. Tem relação ao conhecimento, ao intelecto, à memória e às emoções e passa de geração para geração. Através da cultura optamos, expressamos, escolhemos, questionamos, significamos. A cultura abrange as reações de um indivíduo, sendo que essas reações são afetadas diretamente pelos hábitos e reações do grupo com o qual ele convive, com os hábitos dos indivíduos os quais ele tem contato e como vivemos em uma sociedade cada vez mais globalizada, onde as pessoas viajam, passam a morar em outros lugares, esses costumes, esses hábitos passam a ter contato com outros hábitos e assim a cultura vai se transformando. 7 No entanto, cabe um parêntese sobre as intolerâncias. Infelizmente ainda vivemos em um mundo em que apesar da diversidade cultural, apesar da globalização, do contato tão amplo que as pessoas têm com culturas tão diferentes, ainda existe muitas formas de não aceitação cultural. Esse “choque” cultural pode existir pela distância cultural que há, por exemplo para nossa cultura ocidental é muito chocante saber que há culturas em que é comum o consumo se animais como cachorro, insetos como a barata, tarântulas, formigas, escorpiões etc. Do mesmo modo para os hindus é assustador saber que nós consumimos a carne da vaca, para eles um animal sagrado. Além da distância cultural há as desavenças, especialmente entre povos e tribos. Podemos falar facilmente de tribos africanas que lutam entre si por anos por desavenças e rixas culturais, brigas religiosas etc. Muitos são os casos de grupos culturais diferentes que não se aceitam e que pregam o ódio entre si, causando lutas, desavenças, guerras, mortes e acreditamos que há lugar para todos. Pois como já foi dito anteriormente, todos somos seres culturais e não há uma cultura melhor ou superior. Tudo está evoluindo, em adaptação. Vistas várias formas de definição da palavra cultura agora conheceremos algumas possibilidades de classificar este termo, que pode ser chamado de cultura popular, de massa, erudita, subcultura, contracultura, subalterna, material ou imaterial etc. Vejamos a seguir um pouco mais de cada uma dessas classes ou categorias de cultura (é muito comum a subdivisão de cultura em cultura popular, de massa e erudita. Acreditamos que seja importante conhecer as definições destes termos, mas não desejamos de forma alguma ressaltar qualquer forma de discurso elitista que possa ocorrer): 2 CULTURA POPULAR Assim como acontecem com o termo cultura, não é fácil determinar o que é cultura popular, pois esta se confunde com cultura de massa. O próprio dicionário do IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) aborda a dificuldade de diferenciar os dois termos, mas podemos dizer que cultura popular é aquela produzida pelo povo, para o povo, em oposição à clássica ou erudita, que alcança apenas a poucos. Existe a presença de regionalismos, ou seja, atividades culturais regionais. Surge de pessoas que não precisam ter estudo aprofundado ou técnicas esperadas como ocorre com a cultura erudita. Caso você tenha interesse a respeito do dicionário do IPHAN, acesse o link: http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural. DICA 8 A cultura popular, se comparada com a erudita, por exemplo, é considerada mais simples e espontânea, criada a partir de representações de atividades típicas do dia a dia do povo de determinada região ou grupo. No litoral de Santa Catarina, por exemplo, existe uma tradição muito comum, a tradição do Boi de Mamão, uma atividade folclórica preservada na ilha de Florianópolis desde a chegada dos colonizadores europeus e muito apreciada pelos moradores locais (mais a diante será retomada). 2.1 DANÇA A dança é uma das expressões culturais e religiosas mais antigas da humanidade, acompanhada da música, do movimento corporal expressando sentimentos, e como forma de comunicação ritualística também. A dança, com o passar do tempo sempre teve um olhar que esteve entre o sagrado e o profano, mas nunca deixou de existir e nunca deixou de evoluir. Com ela, podemos contar uma história, podemos emocionar, podemos registrar fatos históricos. A dança se torna uma forma de resgate histórico cultural, pode ser também uma terapia, uma forma de cultivar amizades etc. Há muitos tipos de dança e formas de dançar, vejamos uma possível classificação: QUADRO 1 – TIPOS DE DANÇA FONTE: <https://www.todamateria.com.br/o-que-e-danca/>. Acesso em: 25 mar. 2020. Forma Origem Finalidade Danças solo - quando o dançarino se apresenta desacompanhado. Danças folclóricas - como Bumba meu boi, frevo, maracatu, carimbó. Dança performática - como o balé, dança contemporânea, sapateado, flamenco etc. Danças em dupla - danças de casais, como tango, samba, forró, valsa, entre outras. Danças cerimoniais - como algumas danças circulares, danças indígenas etc. Dança social - como a dança de salão. Danças em grupo - quando várias pessoas compõem uma coreografia, como nas danças circulares, sapateado etc. Danças étnicas - quando são de um lugar específico. Dança religiosa - como a dança sufi. Por outro lado, há danças que representam a cultura e a história local, resgatando ações e costumes locais. Um bom exemplo é o Boi de Mamão. Vamos saber um pouco mais sobre essa tradição catarinense, no recorte a seguir: 9 Boi de Mamão A dança do Boi de Mamão é a brincadeira mais cultivada e, por isso mesmo, a mais apreciada dança folclórica da região. Sendo uma das tradições folclóricas mais antigas de Santa Catarina, principalmente nas regiões litorâneas, recebendo maior destaque entre o Natal e o Carnaval. Inicialmente, o Boi de Mamão era denominado de O Folguedo do Boi Falso ou Boi de Pano da Ilha de Santa Catarina e, somente na década de 1930, recebe o nome atual. Isso porque as crianças, na falta do crânio original, usaram um mamão para fazer a cabeça do boi. Mas ainda há algumas divergências no que diz respeito à origem do nome. Diferentemente das outras brincadeiras que foram trazidas à Ilha de Santa Catarina pelos açorianos, o Boi de Mamão é uma tradição comum a outros estados brasileiros, apresenta diversas variações, com tipos diferentes de apresentação, mas semelhantes na oralidade de sua história. Muitas semelhanças são vistas entre o Boi de Mamão e o Boi Bumbá, ou o Bumba Meu Boi, todavia, para conhecer a verdadeira origem da tradição, é preciso recorrer à Europa, em uma região chamada Galícia, que, ao sul, limita-se com Portugal. Galícia é uma comunidade autônoma espanhola, onde foram registradas as primeiras referências do costume. FONTE: <https://guiafloripa.com.br/cultura/folclore/brincadeira-boi-de-mamao>. Acesso em: 25 mar. 2020. FIGURA 3 – BOI DE MAMÃO DE SANTA CATARINA FONTE:<http://www.engeplus.com.br/cache/noticia/0126/0126917/unesc-recebe-palestra-sobre- cultura-popular-de-santa-catarina.jpg?t=20181128085134>. Acesso em: 25 mar. 2020. Outro exemplo, para irmos um pouco à cultura hispano-americana, é o tradicional carnaval da cidade de Putre, no Chile. Cidade pequena, mas com uma grande tradição no carnaval. A propósito, há vários lugares em que o carnaval é comemorado no mundo hispânico. El carnaval de Putre – uma tradição cultural andina, o carnaval da cidade chilena de Putre. É um povoado rural que na época de carnaval festeja por uma semana “ressuscitando” um boneco de palha chamado “El Abuelo Carnavalón” que animará 10 FIGURA 4 – CARNAVAL DE PUTRE FONTE: <https://www.flickr.com/photos/marcell_claassen/32092812883/>. Acesso em: 25 mar. 2020. Isso por dar alguns exemplos, mas não há como falar em danças de origem hispânica e não lembrar do tango, do flamenco, da salsa, da rumba, do bolero, do pasodoble, da achata, do merengue, do chá-chá-chá, do atual reggaeton, entre outros. 2.2 GASTRONOMIA Outro elemento que caracteriza muito a cultura de um povo é a sua alimentação. No Brasil, por exemplo, nossa alimentação é base de feijão e arroz. Na Argentina o acompanhamento base das refeições é a batata inglesa, a base da culinária mexicana é o milho, o feijão e a pimenta, na maioria dos países hispânicos é muito comum o acompanhamento dos pães nas refeições. Quando falamos em pratos típicos da comida hispânica alguns pratos são conhecidos, como o asado argentino, o guacamole, a paella etc., porém há muito mais além disso. Agora vamos falar apenas um pouco sobre isso. Um país que tem a língua espanhola como língua oficial e que é pouco conhe- cido é a Guiné Equatorial, um dos menores países da África. A base de sua culinária são a mandioca, a batata e a banana, em virtude disso, o prato que traremos para vo- cês faz parte do dia a dia da população, ou como café da manhã ou como sobremesa: el akwadu. Na sequência vamos conhecer um pouco sobre a história do akwadu, esse prato típico da Guiné Equatorial, à base de banana. a festa por uma semana a fim de trazer um bom ano para a região, rogando por boa produção agrícola para o povoado. Apesar de ser um povoado bem pequeno, a festa parece ser grande e bem animada. 11 FIGURA 5 – EL AKWADU DE GUINÉ EQUATORIAL FONTE: <https://www.196flavors.com/wp-content/uploads/2013/06/AKWADU-GUINEE-EQUATORIALE.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2020. EL AKWADU Hay dos formas de cocinarlo: con y sin la cáscara del plátano. Como es una receta muy rápida, decidí probar ambos métodos. Se puede preparar con la banana clásica o plátano macho. Yo elegí el plátano macho para la versión con cáscara, pensando que dado que es más firme, sería más adecuado para cocinar. Tendré que probar la versión sin piel en otro momento. Realmente, me gustó más el resultado final y el sabor con la banana clásica y sin la cáscara, por supuesto. ¡Es cuestión de gusto! También hay un método de cocción menos común: a la parrilla. Esta versión consiste en macerar los plátanos en todos los ingredientes, antes de asarlos en la parrilla y servirlos calientes después de verter el adobo por encima. La banana La banana es una de las frutas más populares del mundo. Se cultiva en la mayor parte del mundo, con plantaciones en al menos 107 países. La banana, con una producción anual de más de 130 millones de toneladas, es un alimento de gran importancia en todo el mundo. Con casi 30 millones de toneladas, India es el mayor productor mundial, mientras que los países de América Latina dominan el comercio internacional de banano. En el África subsahariana, esta fruta es el principal contribuyente a una dieta saludable para más de 100 millones de personas. 12 Después de India, el segundo mayor productor es Uganda, que anualmente exporta solo el 10% de su producción, mientras que América Latina y el Caribe representan el 70% de las exportaciones mundiales de banana. ¿Cuál es la diferencia entre una banana y un plátano macho? La banana clásica es dulce y se consume principalmente cruda, como una fruta, mientras que el plátano macho es principalmente almidón hasta que madura, se cuece o se procesa. Los plátanos macho son similares a los plátanos verdes, pero son más largos, más gruesos y tienen una piel dura. Se vuelven negros cuando están maduros. A diferencia de las bananas amarillas tiernas, que a menudo simplemente se pelan y se comen crudas, los plátanos machos se cocinan siempre antes de comerlos, ya sea en sopas y guisos, al horno o fritos. El plátano macho es un alimento básico de la cocina caribeña y del oeste de África. Tiene una pulpa amarilla o rosa. Las bananas clásicas son dulces con una cáscara de color amarillo brillante que se pela antes de comer. Tienen una consistencia suave. La banana es un ingrediente común en muchas recetas de tortas, jugos, batidos y se usa a menudo como espesante. Las bananas, y especialmente los plátanos macho, se venden en diferentes etapas de madurez, cada uno con su uso culinario asociado. Los plátanos verdes se cocinan a consciencia, quedando ligeramente dorados y tiernos después de la cocción, mientras que los plátanos maduros se caramelizan. Los plátanos verdes también se pueden usar para espesar sopas y guisos. Para pelar una banana solo hay que agrietar el tallo y tirar de la cáscara. Pelar un plátano macho es más complicado. Primero se cortan los extremos y después el plátano se corta en trozos con la cáscara puesta. La cáscara de cada pedazo se saca, una por una. La banana y el plátano macho tienen un valor nutricional similar. Un plátano macho tiene solo alrededor de 5 calorías de grasa y es bajo en colesterol y sodio. Una banana clásica cruda contiene unas seis calorías de grasa. Son muy buenas fuentes de vitamina C, vitamina B6 y manganeso. Ambos son ricos en fibra, potasio y vitaminas esenciales. ¡El akwadu es delicioso y extremadamente fácil de preparar! FONTE: <https://www.196flavors.com/es/guinea-ecuatorial-akwadu/>. Acesso em: 25 mar. 2020. 13 2.3 MÚSICA Assim como a dança e a comida, a música é um grande representante da cultura popular, e cada país, cada região tem suas particularidades culturais, vamos falar um pouco aqui sobre a música andina. É muito similar em toda a região que permeia os Andes, é tocada com instrumentos típicos da região, como a zampoña, a ocarina, o charango, todos de origem inca. Alguns desses instrumentos imitam sons de pássaros, outros eram usados como meios de comunicação entre eles no meio da selva, como a ocarina, que é uma espécie de flauta usada em um cordão amarrado ao pescoço. Os ritmos musicais mais comuns da música andina é o bambuco, torbellino, guabina, rajaleña, sanjuanero, guaneña, bunde tolimense, caña, cañabrava, vueltas antioqueñas, fandanguillo criollo, pasillo, danza criolla e música guasca. Há também as danças mais comuns, mais apreciadas, mas varia um pouco de acordo com o país, por exemplo, no Peru é o huayno e a marinera, já na Bolívia o Tinku etc. 2.4 CINEMA A sétima arte tem sido muito bem representada ao logo dos anos pelos hispânicos, seja por bons atores como Antônio Banderas, Penélope Cruz, Javier Barden, Salma Hayek, Ricardo Darín, Gael García Bernal, Jennifer Lopes, Benício del Toro, Pedro Pascal, Sofía Vergara, por citar alguns, seja por cineastas como nada menos que Pedro Almodóvar e também Luis Buñuel. O cinema espanhol tem uma longa tradição de sucesso já assegurada e seus atores reconhecidos pela imponente indústria Hollywoodiana, assim como filmes de excelente qualidade, bem recebidos e diretores premiados. O mesmo ocorre em relação a muitos atores da América Espanhola. Um dos últimos nomes a encher os olhos de Hollywood foi o do argentino Darín, que tem sido sinônimo de sucesso, tendo rendido Originalmente,a música andina era tocada apenas com instrumentos de sopro e percussão, com a chegada dos espanhóis foram introduzidos instrumentos de corda. A música andina é tradicionalmente reconhecida por imitar o som dos pássaros e da natureza, tendo a presença sempre marcante das flautas traz um sentimento de paz em sua melodia. Tem como representante supremo a canção El Condor Pasa, lançada em 1966, e considerada como o segundo hino do Peru. NOTA 14 o Oscar de melhor filme estrangeiro a El secreto de sus ojos em 2009. A Argentina já produziu muitos filmes de excelente qualidade, assim como a Colômbia já teve seu boom cinematográfico. A América é um berço de boas produções, lamentavelmente falta muitas vezes o aporte financeiro. 2.5 ARTES E LITERATURA No campo das artes, de um modo em geral, temos também muitos bons representantes no mundo hispânico. Já falamos brevemente da música, mas podemos citar aqui tenores de relevância mundial como Plácido Domingo ou Montserrat Caballet. Das Artes Plásticas, figuras como Pablo Picasso, Salvador Dalí, Joan Miró etc. Arquitetos como Antoni Gaudí. Na América temos Frida Kahlo, Fernando Botero, Diego Rivera etc. O mesmo vale para o campo da literatura. Tanto na Europa como na América Espanhola temos exemplos de excelentes autores, como Miguel de Cervantes, Juan Rulfo, Carlos Fuentes, Isabel Allende, Pablo Neruda, Julio Cortazar, Jorge Luiz Borges, Gabriel Garcia Márquez, Vargas Llosa, Pío Baroja, Miguel de Unamuno, Alejo Carpentier, Valle Inclán, Roa Bastos, Ana Maria Matute, Juan Carlos Onetti, Octavio Paz, entre tantos outros de incomensurável qualidade. Nossa literatura já recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos entre eles o Nobel de literatura, acompanhe a lista: • 2010 Mario Vargas Llosa – Peru • 1992 Derek Walcott – Santa Lucía, Caribe • 1990 Octavio Paz – México • 1989 Camilo José Cela – Espanha • 1982 Gabriel García Márquez – Colômbia • 1977Vicente Aleixandre – Espanha • 1971 Pablo Neruda – Chile • 1967 Miguel Ángel Asturias – Guatemala • 1956 Juan Ramón Jiménez – Espanha • 1945 Gabriela Mistral – Chile • 1922 Jacinto Benavente – Espanha • 1904 José Echegaray - Espanha Há muito o que falar sobre a cultura popular, nas próximas unidades retomaremos o assunto. Agora falaremos um pouco sobre cultura de massa. 15 3 CULTURA DE MASSA Quando falamos de massa estamos falando do povo, das pessoas sem distinção social, étnica, etária, sexual etc. São as pessoas tratadas em pé de igualdade, mas em geral no contexto de comunicação de massa. Os meios de comunicação de massa são os meios de comunicação que chegam até esse povo, ou seja, há esse grande número de pessoas. Seria a mídia aberta, como rádio, televisão, jornais, revistas etc. Por sua vez a Cultura de massa é um termo usado geralmente por esses meios de comunicação para popularizar gêneros culturais que não são pensados para grupos específicos, como a cultura sertaneja, que originalmente era voltada às pessoas do campo, ou ao funk que era voltado às pessoas do gueto, ou o samba, enfim, estilos músicas que tinham um nicho e que acabaram se popularizando. A cultura de massa é mais mercantil, um gênero moderno criado através de tendências e modas e vendido para a massa. Um dos grandes objetivos da cultura de massa é a venda de um produto, seja um produto cultural ou não. As modas lançadas em filmes, novelas, clipes de músicas sempre são tendências a seres seguidas pelas pessoas, a roupa, o carro, os acessórios, as cores, a casa, a porta, os móveis, tudo será influenciado por aquilo que as mídias de massa decidirem. E isso não é algo atual, é algo que ocorre há tempos. Vejamos o que nos diz Mafalda em seu cómic: FIGURA 6 – CULTURA DE MASSA FONTE: <https://sapatilhando.files.wordpress.com/2009/02/mafalda-aindanc3a3osabemos.jpg?w=300>. Acesso em: 25 mar. 2020. E sobre a cultura erudita, o que você sabe? 16 4 CULTURA ERUDITA A cultura erudita é aquela que evidencia uma elaboração técnica maior, advinda do estudo de teorias, investigações acadêmicas mais elaboradas, elitizadas e críticas. Em virtude destas características a cultura erudita possui um público geralmente mais restrito, normalmente as classes mais abastadas ou pessoas que possuem um nível de instrução maior pois essa arte requer maior conhecimento do público consumidor sendo conhecida como a cultura das elites. O termo erudito surgiu na Europa, no Século XVIII em oposição à cultura popular. Basicamente a cultura erudita é observada nas artes plásticas, no cinema, na música e na literatura. Obras de artes de artistas renomados como Picasso ou da Vinci, compositores como Beethoven e Mozart estão entre os principais nomes da música clássica, que por sua especificidade é um dos mais conhecidos exemplos de arte erudita. Apesar de ser apreciada apenas por um grupo restrito de pessoas, visa ser a mais bela expressão das artes. FIGURA 7 – CULTURA ERUDITA FONTE: <https://www.cruzeirofm.com.br/wp-content/uploads/2018/05/orquestra.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2020. Além das outras já citadas, existem outros tipos de cultura. Podemos citar: • Subcultura – é o uso de elementos de uma cultura em virtude da identidade do grupo social que ela representa, em geral um grupo que se difere da cultura à qual pertence sem se afastar de todo. Em geral compartilham de características em comum como cor da roupa, penteados, dialetos. • Contracultura ou Cultura Marginal – a cultura marginal é aquela que não se adequa à modismos, que prefere seguir seu estilo, ouvir seus LPs. Não está dentro dos padrões, tenta ser original. Surgiu nos anos 50 com a geração Beat, buscando se libertar dos movimentos da cultura padrão. 17 • Cultura Subalterna – aquela que não é moda, não é reconhecida. • Cultura/Patrimônio material ou imaterial – em 1922, Ogburn propõe a divisão da cultura em material e imaterial, sendo a material a parte física, os animais, plantas, artefatos, estabelecimentos, o design (arquitetura e configuração de objetos, de pedras a objetos mais refinados). A cultura imaterial inclui os significados atribuídos às crenças, valores, símbolos, linguagens, normas, instituições e organizações sociais. 18 Neste tópico, você aprendeu: • O termo cultura é importante e que merece a nossa atenção. • Cultura popular é a cultura produzida pelo povo, estando incluídas dança, gastronomia, música, cinema, literatura e arte etc. • A cultura de massa é o termo usado pelos meios de comunicação para influenciar a massa. • A cultura erudita é aquela que evidencia uma formação maior e com isso possui um público mais restrito. • Há ainda, dentro da cultura humana a subcultura, a contracultura ou cultura marginal, a cultura subalterna, entre outras formas de classificá-la. • Compreender que a cultura pode ser salvaguardada como bem material ou imaterial, como forma de preservação. RESUMO DO TÓPICO 1 19 AUTOATIVIDADE 1 Leia o trecho: Fatores culturais exercem influência no comportamento da população PORQUE A cultura consiste no conjunto compartilhado de valores e crenças duradouras que caracterizam e distinguem grupos sociais. A respeito dessas duas afirmações, é CORRETO afirmar que: a) ( ) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. b) ( ) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. c) ( ) A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa. d) ( ) A primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira. 2 Cultura de massa é um termo usado como sinônimo da chamada indústria cultural. Sobre a Cultura de massa, marque V para verdadeiro e F para Falso: a) ( ) Cultura de massa se refere ao cultivo de massas e macarrões; b) ( ) Essa referência à massa é uma referência ao povo, para colocar a todos em pé de igualdade. c) ( ) Cultura de massa se refere aos meios de comunicaçãoque dirigem ao povo; d) ( ) Cultura de massa se refere ao povo sem mensagens específicas. 3 Cultura erudita é sinônimo de música clássica. Arte restrita a poucas pessoas. Sobre a cultura erudita, marque V para verdadeiro e F para Falso: a) ( ) É o tipo de cultura que exige mais conhecimento. b) ( ) Tem um público não tão seleto. c) ( ) Os principais representantes são Beethoven e Mozart. d) ( ) Visa ser a mais bela expressão da arte. 20 21 FORMAÇÃO CULTURAL UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO Como vimos, falar de cultura não é algo assim tão simples, pois depende do entendimento de cultura que tenhamos. E se pensarmos na formação cultural de uma nação, muito mais complexo, porque cada caso é um caso. Cada país tem uma formação cultural, cada estado desse país tem suas particularidades, cada região, cada vila. Isso se dá porque cada local é formado por um grupo de pessoas que é originário de uma região, com hábitos e costumes próprios e passa a ter contato com pessoas que são originárias (ou até nativas) de outras regiões, com outros hábitos, com outros costumes. Realmente é muito difícil estabelecer normas, tudo depende da história de cada lugar. Neste segundo tópico buscaremos justamente falar um pouco sobre a formação cultural dos países que têm a língua espanhola como língua oficial, não todos e nem de forma profunda pois não é de um tratado. O que buscamos aqui é lançar uma semente no sentido de valorização cultural, de que conheçamos um pouco sobre os países da cultura que ensinamos a nossos alunos. Como se dará a escolha dos países? De forma aleatória de modo a tratar dos países mais conhecidos, como a Espanha até países menos conhecidos como Guinea Ecuatorial e El Salvador, por exemplo. Acreditamos que é importante conhecer a história para entender a cultura, por isso propomos um recorrido ao passado, pois, como mencionamos anteriormente, tudo depende da história, precisamos conhecê-la minimamente. Começamos? 2 ESPANHA Espanha é uma nação muito conhecida, especialmente por se tratar, no caso da língua espanhola, do país colonizador, aquele que levou e leva a língua espanhola ao resto do mundo. É um país muito rico cultural e historicamente, e cuja história remonta há muitos e muitos séculos atrás. A história do mundo passa também pela história da Espanha e muito ainda temos no país, dessa história, para poder apreciar, como castelos, casas etc. Vale a pena ressaltar que é um país ainda regido por monarquia, sendo a quinta principal economia da Europa. 22 Comecemos olhando para o mapa. Espanha é um país pequeno, da Europa, dividido atualmente em cerca de 16 comunidades autônomas e com 4 línguas oficiais (no passado eram mais, elas seguem sendo faladas no país, mas perderam o status de oficial). Aqui já podemos respirar uma diversidade cultural imensa, mas conheçamos um pouco mais sobre esse país, sua história, pois conhecendo suas raízes entenderemos um pouco mais sobre essa pluricultura que ele exala. FIGURA 8 – ESPANHA FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/ma/pa/mapadaespanha2-cke.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2020. 2.1 PRIMEIROS HABITANTES A Espanha é um país que teve sua origem na junção de diferentes reinos medievais, como o reino de Castilla y León, Castilla y La Mancha. O reino de Castilla, ou Castela, é o ponto de origem da língua espanhola, razão pela qual o espanhol também é chamado de castelhano muitas vezes. Há registros humanos na região da atual Espanha desde a pré-história, como as artes rupestres na gruta de Altamira, na Cantábria. Muito mais tarde, houve a chegada das tribos indo-europeias, como os celtas ou fenícios à algumas regiões da Península Ibérica. Esses habitantes originários viviam em cavernas, caçavam, viviam da coleta de frutos, como os povos nômades de então. 23 FIGURA 9 – PRIMEIROS HABITANTES DA PENÍNSULA IBÉRICA FONTE: <https://revistadehistoria.es/wp-content/uploads/2014/12/apaleoli.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2020. O que hoje conhecemos como Espanha, no passado era a Hispania ou Ibéria, estamos falando do período pré-romano, romano e pós romano. Pois bem, de uma maneira breve e resumida, a história do país é essa: Roma está decidida a dominar o que eles conhecem do mundo e fica sabendo de uma região chamada Hispania, decidem “invadir e conquistar”. Roma ganha e os escraviza. Com o passar dos anos, Roma cai e é dominada pelos povos bárbaros, os visigodos, e com isso há o contato com as línguas bárbaras. Mais adiante vêm os árabes e expulsam os bárbaros, dominando a região por mais de 700 anos, o que deixou um grande legado linguístico na região, como as palavras começadas por AL (inclusive no português) como: alcohol, alhambra, álgebra. Surge então o movimento La Reconquista, quando os nativos se organizam para expulsar os árabes, vale lembrar que nessa época a Espanha não era um país, era um conjunto de reinados, como León, Navarra, Aragón, Castilla etc. Reinados que isolados eram fracos. O Rei Fernando de Aragão decide estrategicamente casar-se com a rainha Isabel de Castela, unindo assim os dois maiores reinos da Espanha, Navarra pede para entrar na união dos estados. Em 1492, finalmente há a queda de Granada, com isso a Espanha consegue expulsar os árabes do país. A seguir, vejamos uma herança cultural desses tempos que está presente ainda hoje entre nós. 24 Moros y Cristianos Em Cuba, há um prato típico a base de arroz e feijão, onde o arroz é um prato do cotidiano de praticamente todos os lares das pessoas, chamado “Moros y Cristianos” e esse prato recebe esse nome em referência direta à época da dominação árabe na Espanha. Os Moros (feijões pretos) são os árabes, pessoas de cor negra, e os Cristianos (arroz) são os espanhóis, pessoas de cor branca. O prato é justamente a união do arroz e do feijão em um único prato, representando o embate das duas crenças durante mais de 700 anos. É comum que seja servido no Festival de San Jorge, que terminam com encenações de batalhas com os cristãos sobre cavalos lutando com muçulmanos em camelos e os derrotando. FIGURA – MOROS Y CRISTIANOS FONTE: <http://twixar.me/55sm>. Acesso em: 25 mar. 2020. INTERESSANTE Tantos anos de dominação moçárabe, como vimos nos exemplos dados sobre a língua, deixaram heranças diversas pelo país, seja na arquitetura, na comida, na dança etc. Se consideramos a formação do país, durante tantos anos de conquistas e evolução, confrontos, ataques, invasões, e diversas outras formas de contato, as línguas dos reinos da Espanha tiveram muitas influências. A maioria das palavras do espanhol, por exemplo, deriva do latim, mas há muita influência árabe, há palavras de origens gregas, celtas e Euskera, por causa de invasão dos visigodos temos a presença de palavras de origem germânicas assim como a relação da Espanha com suas colônias trouxe outros termos ao vocabulário europeu, de modo a ampliar e enriquecer o vocabulário da língua espanhola. Em virtude dessa grandeza de vocabulário e falantes, em 1713 surge a RAE – Real Academia Española, que passa a estudar e registrar o espanhol. Passando pouco a pouco a reconhecer e a valorizar a língua dos países fora da Espanha também. 25 Por uma questão semelhante ao que acontece com o português, o conquistador, a fim de carimbar seu poderio histórico, mantém a nomenclatura que aproxima a língua mais ao nome do país, por tanto, espanhol é o termo preferido para a Espanha e o termo castelhano tem sido cada vez menos indicado. NOTA O mesmo que ocorre com a língua se dá no âmbito cultural. A riqueza cultural do mundo hispânico é imensa, mesmo se nos detemos apenas na Espanha. Pois em um país do tamanho do Rio Grande do Sul, para nós brasileiros termos uma ideia, onde há 16 comunidades autônomas. Espanha, apesar do tamanho geográfico/físico reduzido sempre foi gigante em muitos aspectos.Segundo o Instituto Cervantes, hoje são 21 países falam o espanhol como língua oficial, com isso, são cerca de 500 milhões de falantes, sendo o segundo mais falando no mundo e o mais importante em questões econômicas. Ou seja, a an- tiga Hispania, um dia conquistada e dominada por outros reinos passou a conquistar e dominar. Mais a frente falaremos mais das conquistas e dos países conquistados pelas Espanha, mas cabe agora ressaltar que este pequeno reino, mesmo subdividido inter- namente fez e faz história. É um país um desenvolvido tecnologicamente, referência nos esportes, na cultura, tem suas marcas importantes na história, com muitos e rele- vantes artistas como Dali, Picasso, Miró, entre outros; tem nada menos que Cervantes e Dom Quijote de La Mancha como representante máximo da literatura; por ter muitos castelos e construções medievais entre outros pontos a serem visitados é um roteiro imperdível de turismo. Mais ou menos na época em que os árabes são expulsos da Espanha o italiano Cristóvão Colombo recebe apoio da coroa espanhola para chegar às Índias, como sabemos, na realidade ele chega à América e não às Índias. Essa “descoberta” alimenta a Espanha por muito tempo, tanto em relação a metais preciosos, quanto em relação a alimentos, especiarias e mesmo à literatura com relatos históricos, e trazendo novas colônias aos conquistadores europeus. Conheçamos brevemente um pouco mais de América então. 26 2.2 PRIMEIROS HABITANTES DA AMÉRICA A chegada dos conquistadores à América ocorre em 12 de outubro de 1492, com a chegada de Cristóvão Colombo ao chamado Novo Mundo, as Antilhas, que é a primeira parte a ser explorada pelos espanhóis. Além das especiarias, buscavam encontram metais preciosos, mas não encontram nada mais que uma população de nativos, nessa região que nada tinha a oferecer de interessante. Infelizmente foi um período desolador para as populações nativas que foram dizimadas, ou pelas doenças ou pela mão opressora do conquistador que não teve dó e matou o que viu pela frente, conforme muitos relatos de Frei Bartalomé de Las Casas (LAS CASAS, 2011, p. 27-28). Sobre esses cordeiros tão dóceis (os nativos), tão qualificados e dotados pelo seu Criador como se disse, os espanhóis se arremessaram no mesmo instante como le- ões e tigres cruéis, há muito tempo esfaimados, de quarenta anos para cá, e ainda hoje em dia, outra cousa não fazem ali senão despedaçar, matar, afligir, atormentar e destruir esse povo por estranhas crueldades (como vos farei ver depois); de tal sorte que de três milhões de almas que havia na ilha Espanhola e que nós vimos, não há hoje de seus naturais habitantes nem duzentas pessoas. A ilha de Cuba está hoje como deserta. A ilha de São João e a de Jamaica, ambas muito grandes e muito férteis, estão desoladas. A seguir estão as rotas das viagens que Colombo fez com intenção de chegar às Índias, mas sempre chegou a diferentes partes da América Central. FIGURA 10 – AS VIAGENS DE COLOMBO FONTE: <https://bit.ly/2GkRnM9>. Acesso em: 25 mar. 2020. Porém, em novas expedições outros conquistadores encontram civilizações maiores, mais evoluídas, como as maias e as astecas e, posteriormente, as incas, que foram escravizadas e aniquiladas. A partir de agora conheceremos um pouco mais de cada um desses povos. 27 2.2.1 Os Astecas Também chamado de Mexica o povo Asteca se originou da aliança de diferentes povos da América Central, dentre eles estavam os Mexicas, os Acolhua e os Astecas onde os últimos se destacaram impondo seus costumes e sua língua, o Náhuatl. Eram nômades, mas em uma época difícil de seca receberam a mensagem dos deuses que deveriam se estabelecer em um local em que avistassem uma serpente devorando uma cobra em um nopal, um cacto comum na região. Eram um povo muito ligado a essas crendices e, em dado momento de sua peregrinação é avistada, em uma ilha dentro do lago Texcoco, uma águia devorando a uma serpente enquanto está pousada em um nopal. Haviam encontrado seu lar, Tenochtitlán, que futuramente dará origem à Cidade do México. Essa ilha era pequena e pantanosa, com isso os astecas precisaram desenvol- ver estratégias para poder construir e criar sua cidade. Foi um povo muito desenvolvido, criando aquedutos, represas, estradas, sistemas de irrigação e outras tecnologias bas- tante avançadas para a época. FIGURA 11 – A CRIAÇÃO DO MÉXICO FONTE: <https://www.mexicodesconocido.com.mx/wp-content/uploads/2018/01/escudo_nacional_ mexicano.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2020. A lenda da criação de Tenochtitlán, que posteriormente seria a Cidade do México e, futuramente o próprio México, aparece no Escudo Nacional da Bandeira mexicana. Neste escudo podemos ver nada menos que a representação da lenda da águia e da serpente no nopal, na pequena ilha pantanosa, rodeada de água. São detalhes sobre a importância da história do povo para a manutenção de suas raízes. NOTA 28 Com a Chegada de Hernán Cortés à região em 1519 o Império asteca começa seu descenso. Os espanhóis se aliaram aos grupos inimigos dos astecas e assim, mesmo com resistência em 1521 o império asteca sucumbiu. 2.2.2 Os Maias Os maias derivam da cultura Olmeca, havendo teorias que afirmam que na verdade que houve contato intercultural entre maias e olmecas, nada comprovado. Edificaram cidades estado dirigidas por governos hereditários, esses centros se multiplicaram rapidamente razão pela qual criaram uma rede eficaz de caminhos. As cidades foram construídas em torno a enormes centros cerimoniais, edifícios públicos etc. Tinham um considerável conhecimento de arquitetura, mas não faziam abóbadas, não usavam a roda e não tinham animais de tração. Tinham o sistema de escrita mais sofisticado da América, um elevado conhecimento matemático, pois descobriram o zero e um alto conhecimento de astronomia. Em dado período da história migram do sul, abandonando sua cidade (por motivos desconhecidos) e fundando outras cidades mais ao norte, sofrendo influência tolteca do centro do México. Nessa época havia o culto à serpente emplumada, Kukulkan, que aparece na majestosa pirâmide de Chichén Itzá, sacrifícios humanos em massa e diferentes formas artísticas. A seguir, verifique uma representação da cena do filme Apocalypto de Mel Gibson, que retrata os episódios de sacrifícios humanos. FIGURA 12 – CENA DO FILME APOCALYPTO FONTE: <https://aosugo.files.wordpress.com/2008/03/apocalypto21.jpg?w=730>. Acesso: 25 mar. 2020. Assim como acontece com os astecas, a civilização maia chega ao fim de seus dias de glória. Ficam na história, visíveis até hoje, muitos resquícios desta rica cultura, muitos descendentes, a língua e heranças culturais podem facilmente ser percebidas no país. 29 2.2.3 Os Incas A região dos Andes tem registros de grupos humanos de cerca de 4500 anos a.C. Os chavín, que seria o grupo predecessor aos Incas, também chamados de Quéchuas, que dominaram a região mais ou menos desde o ano 1000/1200 a.C. O governo era teocrático onde o imperador era visto como descendente direto do deus sol. Tinha poderes irrestritos podendo decidir até sobre a vida pessoal de cada indivíduo. O Reino Inca foi grandioso em extensão territorial, indo da cordilheira dos Andes no oeste da Argentina ao Equador, tendo como a capital do império Cusco (que significa na língua quéchua o umbigo do mundo). Tinha grande amplitude de estradas, com isso era característica uma grande diversidade de culturas, pois se calculava que pudessem chegar a algo como seis ou dez milhões de habitantes, utilizando-se de muitos idiomas diferentes, entre eles o quéchua ou quíchua. A base da economia era a agricultura, tendo também conhecimentos desenvolvidos na área da medicina, da música, entre outros. Como viviam na área andina, precisaram desenvolver seu conhecimento agrícola, sua tecnologia é bastante avançada, inclusive no que se refere aosistema de irrigação. A seguir, veremos um exemplo dos terraços, espaços criados pelos incas, por volta do ano 1400, onde o terreno se mantém mais úmido e mais quente, favorecendo o cultivo. FIGURA 13 – AGRICULTURA INCA FONTE: <https://img.brasildefato.com.br/media/512db75cbd4b9ab226550dd10a666356.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2020. A decadência do Império Inca se deu, assim como com os Astecas e Maias, pela chegada dos colonizadores espanhóis, liderados por Pizarro, entre 1525 e 1533. Estes são exemplos das 3 maiores civilizações da América, que mesmo perdendo quase que totalmente seu espaço deixaram uma grande herança cultural por onde passaram. Esses não foram as únicas influências da cultura hispânica da América. Vejamos um esquema que nos dá uma ideia da abrangência dos Impérios Asteca, Maia e Inca, a presença de outros povos indígenas, assim como um esquema da chegada dos espanhóis. 30 FIGURA 14 – OS MAIORES IMPÉRIOS PRÉ-HISPÂNICOS FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-jTyX0cu_Q5A/VDNm4nMe7uI/AAAAAAAAAPA/7KstBXalAjw/s1600/ Mapa%2BConquista%2Bda%2BAm%C3%A9rica.gif>. Acesso em: 25 mar. 2020. 31 2.2.4 Imigração Europeia para América do Sul no Pós-Colonialismo Depois da chegada dos espanhóis, se dá início ao processo de colonização, quando são estabelecidos na América os vice-reinos. São cerca de 300 anos de exploração e de miscigenação até que a partir do Século XVIII comecem a ocorrer as independências dos territórios que vieram a formar os países da América, pouco a pouco. Mais tarde começam a chegar as ondas de imigrantes vindas da Europa. Foram, assim como ocorreu no Brasil, de grande importância para a formação do país, tanto economicamente, quanto culturalmente: “as grandes migrações transoceânicas dos Séculos XIX e XX constituem [...] um aspecto do movimento demográfico da Europa em que a urbanização e a industrialização desempenham papel relevante” (PETRONE, 1997, p. 95). Em 1880, a população argentina, por exemplo, era relativamente pequena, mas havia chegado cerca de 440 mil imigrantes europeus, em 1914 já eram 30% da população (KLEIN, 2000). Para os governos americanos a vinda dos europeus era de suma importância, tanto pelo final da escravidão e consequente término da mão de obra escrava, como por acreditar na vinda de “europeus culturalmente superiores” (SANCHEZ-ALONSO, 2007, p. 398), o que contribuiria para o desenvolvimento do país. Famílias inteiras vinham à América, em busca de melhores condições de vida, muitas a trabalhar no campo, para desbravar áreas não habitadas ainda. A vinda dessas famílias, com sua cultura, hábitos, costumes. Ao encontrar-se, fusionar-se com os moradores locais formaram novos hábitos, adaptando o que traziam com o que encontravam e assim contribuíam para a formação da cultura americana. Os imigrantes, em grande maioria alemães e italianos, chegados entre 1850 e 1900 são a grande massa obreira que compôs a população, especialmente do Brasil e da Argentina, onde chegaram em número mais expressivo. A seguir, veremos uma imagem de um grupo de agricultores, imigrantes europeus. Acesse o link a seguir para visitar o Museu da Imigração, de São Paulo, onde há um vasto acervo digital: http://museudaimigracao.org.br/. Ainda, assim como em Buenos Aires, há o museu da imigração narra a história de espanhóis e italianos: http://untref.edu.ar/muntref/es/ museo-de-la-inmigracion/. DICA 32 FIGURA 15 – IMIGRAÇÃO EUROPEIA FONTE: <https://bit.ly/2t7GVVa>. Acesso em: 25 mar. 2020. Em outras regiões, como Caribe, assim como ocorreu na região nordeste do Brasil a migração europeia não foi tão considerável, mas há sim um número grande de africanos que compôs a população e com isso a cultura da região. O cone sul da América, por exemplo, tem uma população negra bastante reduzida se comparada com a parte norte da América, em contrapartida, o Chile, por exemplo, possui uma grande comunidade Mapuche, o maior grupo indígena do país, e o biotipo da população chilena, descendente desse grupo étnico fica entre o povo mapuche e o europeu (espanhol) respeitando-se a miscigenação de tantos anos que se passaram, claro. Encontramos o mesmo “fenômeno” em outros países onde a população indígena é bastante predominante, ou seja, praticamente toda América, ou seja, temos o caso do Paraguai onde grande parte da população descende dos guaranis, na Bolívia, Peru e Equador, principalmente, temos dois grupos indígenas fortes, os quéchuas e os aimarás (lembrando que aqui falamos apenas dos maiores representantes, mas há mais grupos indígenas nesses países). Na América central temos vários grupos, mas os principais são os remanescentes dos astecas e dos maias, mas há outros mais. Junto com esses grupos indígenas, que aportam suas contribuições culturais, há os mencionados imigrantes que vieram colonizar, em grupos, mais os colonizadores que chegaram de modo solitário ou que chegam agora, como grupos de venezuelanos que fogem das dificuldades sociais do país, haitianos fugindo da devastação que houve em virtude de questões ambientais (furacões etc.), peruanos e bolivianos que chegam à Argentina, principalmente, a buscar trabalho e melhores condições de vida, devido a problemas socioeconômicos em sua terra natal etc. O tempo passa, os motivos mudam, mas as migrações seguem precisando ocorrer, e é um direito humano previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Qualquer pessoa que sinta que seu país de origem não é mais seguro pode buscar um lugar melhor para viver. E sempre que mudamos, que vamos viver em outro lugar, levamos um pouco de nós, de nossa cultura e encontramos um pouco da cultura do outro, que pode ser assimilada ou pode nos causar estranhamento, mas nunca nos deixa do mesmo modo que chegamos, sempre nos causa alguma reflexão. 33 2.2.5 Nações Hispânicas e Seus Símbolos Atualmente, entre América do Sul, Central e do Norte temos 19 países que falam espanhol, mais a Espanha, na Europa e a Guiné Equatorial na África. Além desses 21 países que tem o espanhol como língua oficial, temos outros países onde o espanhol é amplamente usado por um número significativo da população, como Estados Unidos, Marrocos, Filipinas, Haiti etc. FIGURA 16 – PAÍSES QUE TÊM O ESPANHOL COMO LÍNGUA OFICIAL FONTE: <https://www.soespanhol.com.br/conteudo/diversos_figuras/hispmap.gif>. Acesso em: 25 mar. 2020. 3 PAÍSES DA LÍNGUA ESPANHOLA Conheçamos agora alguns países hispano-americanos, escolhidos por serem pouco conhecidos da maioria. Não trata-se de uma pesquisa exaustiva, mas um convite para que busquemos mais informações pois para ensinar sobre a língua, é preciso saber sobre a história e sobre a cultura de cada lugar. 34 3.1 PORTO RICO É um arquipélago localizado no mar do Caribe e, ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, Porto Rico não é um país, é um território não incorporado dos Estados Unidos, como se fosse um estado a mais. Sua capital é San Juan e tem duas línguas oficiais, o inglês e o espanhol, sendo este o predominante. Porto Rico foi colonizado pela Espanha, na época de Colombo, como os demais países da região. Houve, com o passar dos anos, movimentos para tentar a independência, mas sem sucesso. Chegou ao ponto de acionarem os Estados Unidos em busca de ajuda contra o domínio espanhol. E Porto Rico permanece como um “estado Livre Associado” dos EUA até hoje. É um país de maioria católica, e tem uma das economias mais dinâmicas da América, vivendo, entre outras coisas da agropecuária, pesca e turismo. 3.2 EQUADOR Ecuador, cuja capital é Quito, é um país onde a maioria dos moradores são de origem indígena, o que pode ser observado no biotipo dos moradores locais. Depois de uma crise financeira em 2001, a moeda local, osucre, foi abandonado, e o país é um dos poucos da América que adota o dólar como moeda nacional. A maioria da população é de religião católica e reside em áreas urbanas. A base da economia é a agricultura, onde cultivam em especial o milho e a banana, elementos que aparecem na gastronomia local. Equador é um país pequeno e está localizado na parte central do globo, por isso seu nome foi usado para batizar a linha que divide o planeta ao meio. Outro fato histórico que torna esse país famoso é o fato de que foi visitado por Charles Darwin, que ao conhecer as ilhas Galápagos criou a teoria da evolução. 3.3 O ESPANHOL NA ÁFRICA – GUINÉ EQUATORIAL Guinea Ecuatorial é um pequeno país africano, cuja capital é Malabo e possui cerca de 700 mil habitantes. Está localizado na parte central do continente e foi colonizado pela Espanha, em virtude disso tem o espanhol como língua oficial e tem o catolicismo como religião oficial, apesar de que a maioria da população pratica também o animismo. Apenas em 1968 se tornou independente. 35 FIGURA 17 – PLAZA DE LA INDEPENDENCIA FONTE: <http://twixar.me/S5sm>. Acesso em: 25 mar. 2020. A economia do país se baseia na agricultura e na pesca, o atual presidente está no poder desde 1979 e apesar de que seja um país pobre, foi eleito pela revista Forbes como o oitavo governante mais rico do mundo. O futebol está entre os esportes mais apreciados no país, sua gastronomia tem forte influência espanhola e africana. O Balélé é a dança mais tradicional do país, onde as mulheres dançam geralmente acompanhadas por um pequeno grupo de músicos. FIGURA 18 – INDEPENDÊNCIA DE GUINÉ EQUATORIAL FONTE: <http://twixar.me/X5sm>. Acesso em: 25 mar. 2020. Para entender melhor o processo de independência de Guiné Equatorial da Espanha e os conflitos surgidos, sugerimos o filme ou a leitura da obra Filme Palmeras en la Nieve, baseado na obra homónima. DICA 36 4 HINOS E BANDEIRAS Outro fator de ordem histórico-cultural que é interessante observar em relação às nações de um modo em geral são seus hinos e suas bandeiras. Falam muito de si. A escolha das cores da bandeira, os símbolos ou brasões. O mesmo em relação aos hinos, que mostram fatos, ressaltam características etc. Algo que sempre nos chamou a atenção, por exemplo, foi o uso da cor vermelha em muitas das bandeiras latino-ameri- canas, e se buscarmos o significado desta cor, geralmente é algo relacionado ao sangue derramado nas batalhas. O azul é o céu ou o mar, o amarelo é o ouro ou as riquezas. Vejamos o exemplo do que se diz da bandeira da Colômbia: El significado de los colores de la bandera colombiana, a pesar de la incerteza de su origen, se resume actualmente como: • Amarillo, como representación de la abundancia y riqueza de Colombia derivado de la soberanía de los territorios colonizados. • Azul, por el mar y los dos océanos que unen Colombia con el resto del mundo. • Rojo, que simboliza la sangre de aquellos que lucharon por la soberanía, y que se traduce en amor, progreso, fuerza y poder. FONTE: <https://www.significados.com/bandera-de-colombia/>. Acesso em: 25 jan. 2020 Algo similar ocorre em relação aos hinos. Veja a seguir a letra do hino da Colômbia. Observe que fala de fatos históricos, da conquista, de heróis e diferentes fatos que ressaltam a grandeza da nação. 37 FIGURA 19 – HINO NACIONAL DA COLÔMBIA FONTE: <https://imagenestotales.com/wp-content/uploads/2018/10/1539555194-550x733.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2020. Coro ¡Oh gloria inmarcesible! ¡Oh júbilo inmortal! ¡En surcos de dolores El bien germina ya! III Estrofa Del Orinoco el cauce Se colma de despojos; De sangre y llanto un río Se mira allí correr. En Bárbula no saben Las almas ni los ojos Si admiración o espanto Sentir o padecer. VI Estrofa Bolívar cruza el Ande Que riega dos océanos; Espadas cual centellas Fulguran en Junín. Centauros indomables Descienden a los llanos Y empieza a presentirse De la epopeya el fin. IX Estrofa La Patria así se forma, Termópilas brotando; Constelación de cíclopes Su noche iluminó; La flor estremecida, Mortal el viento hallando, Debajo los laureles Seguridad buscó. I Estrofa ¡Cesó la horrible noche! La libertad sublime Derrama las auroras De su invencible luz. La humanidad entera, Que entre cadenas gime, Comprende las palabras Del que murió en la cruz. IV Estrofa A orillas del Caribe Hambriento un pueblo lucha, Horrores prefiriendo A pérfida salud. !Oh, sí¡ de Cartagena La abnegación es mucha, Y escombros de la muerte desprecian su virtud. VII Estrofa La trompa victoriosa Que en Ayacucho truena, En cada triunfo crece Su formidable son. En su expansivo empuje La libertad se estrena, Del cielo Americano Formando un pabellón. X Estrofa Mas no es completa gloria Vencer en la batalla, Que al brazo que combate Lo anima la verdad. La independencia sola El gran clamor no acalla; Si el sol alumbra a todos, Justicia es libertad. II Estrofa “¡Independencia!” grita El mundo americano: Se baña en sangre de héroes La tierra de Colón. Pero este gran principio: “El rey no es soberano”, Resuena, Y los que sufren Bendicen su pasión. V Estrofa De Boyacá en los campos El genio de la gloria Con cada espiga un héroe invicto coronó. Soldados sin coraza Ganaron la victoria; Su varonil aliento De escudo les sirvió. VIII Estrofa La Virgen sus cabellos Arranca en agonía Y de su amor viuda Los cuelga del ciprés. Lamenta su esperanza Que cubre losa fría, Pero glorioso orgullo circunda su alba tez. XI Estrofa Del hombre los derechos Nariño predicando, El alma de la lucha Profético enseñó. Ricaurte en San Mateo En átomos volando “Deber antes que vida”, Con llamas escribió. 38 Tanto a bandeira como o brasão ou o hino são elementos cívicos que representam a história, a nacionalidade e a cultura, assim como ressaltam o sentimento de civismo da nação. É comum que países como a Argentina tenham as cores de sua bandeira pintadas em seus muros ou casas, por exemplo, ou que as cores da bandeira apareçam em diferentes objetos que representem seu país. 5 CULTURA HISPÂNICA Agora veremos novamente, de um modo breve e sucinto, alguns aspectos culturais do mundo hispânico que são curiosos, em especial se comparamos com nossa cultura. Lembramos que não é nossa intenção esgotar o assunto que é bastante amplo. Trataremos de aspectos variados como comida, danças, arte, festas etc. Como retrata muito bem a imagem que segue, a cultura hispânica é bastante variada, veremos aqui alguns poucos aspectos a título de curiosidade, começando pela Espanha. Nas próximas unidades veremos pontualmente alguns casos de forma mais específica. FIGURA 20 – CULTURA HISPÂNICA FONTE: <https://universidadedaterceiraidade.files.wordpress.com/2016/04/espanhol-640x300.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2020. 5.1 CURIOSIDADES DA ESPANHA • Os espanhóis costumam dormir e acordar tarde. O almoço ocorre em geral às 15hs, o jantar entre as 21h/22h. • La siesta, nas cidades do interior é comum que o comércio todo feche por duas horas, ou feche das 14h às 17h pois a população tem o hábito de dormir por uma ou duas horas. Nesse período é raro que se veja viva alma nas ruas. Esse hábito é comum na América também. • Os frutos do mar são a base principal da alimentação dos espanhóis, assim como costumam ter sempre o pão, presente nas refeições. 39 • Dia 06/01, el día de los Reyes Magos, é uma data mais importante e mais celebrada que o Natal, pois é nesse dia que, as crianças principalmente, trocam os presentes (quem se comporta mal recebe um carvão). Isso é comum em muitos países da América também. • A Corrida de Toros, ou touradas é uma das tradições mais polêmicas da Espanha. • Na Espanha a aliança de casamento se usa na mão direita. • O país possui 46 locais classificados pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. • Está entre os 10 primeiros países com a melhor expectativa de vida no mundo (82,4 anos).• Foi o 4º país no mundo a legalizar o casamento de pessoas do mesmo sexo. • O hino nacional espanhol é um dos raros do mundo que não possui letra. É apenas a melodia. • É o país que mais produz azeite de oliva no mundo. • Espanha é o país da Europa com a maior proporção de bares por pessoa. É tradição entre amigos e família salir de tapas, ou seja, em uma mesma noite ir a diferentes bares e provar aperitivos ou uma entrada e uma bebida em cada bar. • Muitas cidades da Espanha permitem a venda de álcool apenas até as 22h. • É um dos países mais visitados do mundo. • Costumam se cumprimentar com dois beijos. • Em feriados, diante das prefeituras, há mais de 200 anos, eles possuem a tradição de realizar os Castells, as torres humanas. • A obras espanhol Don Quijote de la Mancha é, depois da Bíblia, o livro mais traduzido no mundo. • O prato tradicional é a paella. • Na Espanha não é a fada do Dente que visita as crianças, mas o Ratoncito Perez, tradição trazida para as América. • El gordo – na Espanha há a tradição do sorteio da loteria milionária desde 1982, um evento que se tornou muito tradicional no país e que ocorre todo 22 de dezembro. • Espanha poderia ser considerada a terra da arte. Foi berço de nomes como Cervantes, Gaudí, Picasso, Dali, Miró etc. 5.2 CURIOSIDADES DE HISPANO-AMÉRICA • Costa Rica possui 25% do território nacional protegido por leis ambientais e desde 1949 não possui um exército, tendo a segurança pública feita por grupos particulares. A constituição do país proíbe a formação de uma força armada regular. • Na América o México é o país com mais lugares declarados como patrimônios da humanidade pela Unesco, 34, como Chichén Itzá ou Teotihuacan. • O esporte mais apreciado em países como Nicarágua e Costa Rica é o beisebol. 40 • Na América Central, em especial Costa Rica, Nicarágua, Honduras e Guatemala, é muito comum que, como café da manhã seja servido uma combinação chamada Gallo Pinto, um prato de arroz, feijão e comumente ovos. A diferença entre o feijão servido no almoço é que este é servido seco, inclusive geralmente são preparados juntos, fritos na mesma panela. • Colômbia divide com a Índia o posto de país do mundo com mais feriados, 18 ao ano, o país adota um sistema que transfere, salvo algumas exceções, o feriado para a segunda ou para a sexta feira. • Colômbia é conhecida no mundo pela qualidade de seu café, de suas esmeraldas, e flores, todos entre os melhores do mundo. • Nos anos 90, em virtude do narcotráfico estabelecido por Escobar, especialmente em Medellín, essa cidade assim como toda a Colômbia ficou conhecida no mundo como locais de extrema violência e hoje Medellín é conhecida como cidade modelo contra o crime. • O Chile é o segundo país com mais vulcões no mundo, 90, atrás da Indonésia (140), o Equador é o terceiro, com 27 potencialmente ativos. • No Equador há um povoado chamado Otavalo, onde para pedir a mão de uma moça em casamento o pai do noivo deve levar à casa dela 12 porquinhos da índia. • Os latino-americanos são bastante expressivos, gesticulam muito ao falar. • Guiné Equatorial tem uma das ditaduras mais antigas da África, com a maior parte da população vivendo na pobreza e menos da metade com água potável. • No Panamá há cerca de 14 mil espécies de peixes, de fato, o significado desta palavra é “abundância de peixes”. • É comum que na culinária panamenha qualquer prato seja acompanhado com ketchup. • Nas festas de Corpus Christi celebradas no Panamá há a tradição dos diablicos sucios, figuras fantasiadas de diabo, como o nome indica, brincando e jogando água no povo. • O reggaeton é um estilo musical muito apreciado em toda a América, especialmente na América Central. • A tortilha, feita de trigo ou de milho, é um acompanhamento quase que obrigatório da culinária da América Central. • A Bolívia possui 37 idiomas oficiais, espanhol, quéchua aimará e outras 34 línguas indígenas. • As cholas, mulheres indígenas dos Andes, não gostam muito de serem fotografadas, quando algumas o permitem geralmente pedem propina, gorjeta. • La hora ecuatoriana é uma expressão usada no Equador devido ao fato que o equatoriano tem a fama de não ser pontual em seus compromissos. • Os equatorianos, no comercio, costumam pedir descontos. Um negócio, uma compra, só será bom se houver um bom desconto. • Para curar uma ressaca (chuchaqui) o equatoriano tem o costume de tomar, pela manhã um encebolado, caldo de peixe, mandioca e cebola roxa na conserva. • O arroz é um dos acompanhamentos básicos da culinária equatoriana, diferentes da maioria dos países da América espanhola. 41 • Em El Salvador é comum que pelas tardes, depois de cumprir com suas tarefas diárias, as pessoas disfrutem um atole, uma bebida pré-colombiana a base de milho. • Na Guatemala é um costume, no aniversário, queimar fogos de artificio as 5h da manhã, para homenagear o aniversariante e comer tamal, com chocolate e pão francês no café da manhã, no caso de criança não podem faltar as piñatas. • Na Guatemala há o costume dos pais dos noivos se encontrarem para discutir os planos do futuro casal. O pai do noivo é o responsável de tomar a frente. • O cubano costuma ter a banana como acompanhamento de muitos de seus pratos do dia a dia. • É hábito da população cubana dar nome do vilão da novela do momento à gripe ou resfriado que tenha contraído. Exemplo: Me agarró una Soraya Montenegro. • O cubano costuma saudar com um beijo, gosta de sair para comer sorvete em qualquer época do ano, não importa o clima, assim como gosta de música alta e muita dança. 42 Neste tópico, você aprendeu: • A formação cultural dos países que falam espanhol é variada. • Os aspectos da formação histórica da Espanha e dos países por ela colonizados são relevantes para a formação do professor de língua espanhola. • É importante refletir sobre dados relacionados a aspectos culturais de cada país a fim de valorizar e respeitas as diferenças. • Existem muitas curiosidades sobre a cultura de países que falam o espanhol. RESUMO DO TÓPICO 2 43 AUTOATIVIDADE 1 Sobre a imigração europeia para a América do Sul, marque V para verdadeiro F para Falso: a) ( ) Vieram para a América do Sul apenas alemães e italianos. b) ( ) As famílias vinham em busca de melhores condições de vida. c) ( ) O principal ofício ao que se dedicaram os imigrantes foi à agricultura. d) ( ) A vinda desses europeus foi um problema para o governo da época. 2 Tendo em vista que o espanhol é falado, como língua oficial, em 21 países, é natural que a diversidade cultural exista. Considerando essas particularidades liste cinco curiosidades culturais de alguns países de língua espanhola que você escolheria para usar em uma aula de espanhol. Justifique sua escolha. 3 As civilizações maias, astecas e incas foram as maiores potências da América Pré- Hispânica, sendo os astecas e os incas foram facilmente vencidos pelos espanhóis. Sobre essas três civilizações, marque V para verdadeiro e F para Falso: a) ( ) Os maias tinham recebido a mensagem dos deuses para montar uma nova cidade onde encontrassem uma águia comendo uma cobra em um nopal. b) ( ) Os astecas se originaram da aliança de diferentes povos da América Central, como Mexicas, Acolhuas e Astecas. c) ( ) Os incas tinham um sistema sofisticado de escrita e Astronomia. d) ( ) Os maias possuíam uma tecnologia avançada quanto à agricultura. 4 As principais civilizações que se desenvolveram na América antes da chegada de Colombo foram os astecas, maias e incas. Os astecas e os maias desenvolveram seus respectivos centros urbanos na região conhecida como Mesoamérica, situada na América Central, entre o sul do México e a Guatemala. Já a civilização inca esta- beleceu-se ao longo da linha dos Andes, na América do Sul, regiãoque compreende os atuais Chile, Equador e Peru. Considerando esses dados, escolha uma das 3 civili- zações anteriormente citadas faça um breve resumo de sua história, contando como fui que desapareceu e diga o que mais chamou a sua atenção em tal civilização, justificando sua resposta. Escreva em espanhol. 44 45 A cultura é algo que, como vimos, faz parte de nosso dia a dia, seja em nossos hábitos diários de alimentação, em hábitos sociais, folclore, danças etc. A cultura é um elemento ativo de nossa vida. Todos temos cultura, todos vivemos cultura, todos propagamos cultura. Mas, e quando pensamos na cultura enquanto ambiente de ensino, quando devemos lidar com as diferentes manifestações culturais, como fazê-lo? Moreira e Candau (2003, p. 160) afirma que "a escola é, sem dúvida, uma instituição cultural”. A educação e a cultura devem estar atreladas. São termos plurais. Como na figura a seguir, vemos a educação como uma semente que plantamos e que devemos regar com os mais diferentes e ricos insumos, para que produza uma sombra rica e ampla de formas, onde vejamos não apenas a sombra de folhas, mas sons, imagens, movimentos, ideias, ações. A cultura deve ser assim vista, e aí o papel da escola (não apenas dela!). TÓPICO 3 — CULTURA E EDUCAÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO FIGURA 21 – O CULTIVO DA EDUCAÇÃO FONTE: <https://sites.google.com/site/educacionculturacomunicacion/_/rsrc/1480474564996/home/ Cultura.png>. Acesso em: 11 jan. 2020. 46 A cultura alimenta a educação, a educação alimenta a cultura, por essa razão ambas devem estar atreladas e precisam trabalhar juntas quando pensamos o ensino. E nisso nossa sociedade ainda precisa evoluir, pois nossas escolas ainda não conseguem aplicar muito o que as teorias já dizem. Os documentos que regem o ensino no Brasil, como os PCNs no passado e agora a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) já tem um olhar lançado sobre a importância da cultura, em especial da cultura da comunidade escolar, mas o que vemos na prática não condiz muito com isso. Antes de falarmos mais sobre a cultura no ensino, gostaríamos de falar, de forma breve, sobre alguns termos com: pluralidade cultural, diversidade cultural, identidade cultural, multicultural, transcultural, intercultural, esculturação, aculturação. Definiremos aqui de uma forma simplificada, pois a discussão teórica sobre sua taxonomia seria tema para mais um livro. • Pluralidade cultural: é conhecer e valorizar as diferentes culturas, etnias, grupos sociais que convivem em um mesmo espaço. FIGURA 22 – PLURALIDADE CULTURAL FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcQr63SPkz2jAWj_ xfKTQIfSftODlB080FOONaEhjO4qhKqlKZ2j>. Acesso em: 10 jan. 2020. • Diversidade Cultural: é justamente a grandeza ou multivariedade, a diferença de aspectos culturais de um país ou região. É a diversidade cultural que diferencia os povos pois marca a identidade cultural de cada um, porém alguns teóricos dizem que com a globalização a diversidade cultural estaria ameaçada. • Identidade Cultural: quando falamos de um contexto multicultural como o de nossas escolas e, no nosso caso do contexto do ensino do espanhol, que é uma disciplina formada por uma realidade multicultural, falar de formação de identidade cultural é praticamente uma obrigação. É uma oportunidade ímpar de fazer com que nossos alunos entendam e aprendam sobre sua cultura, sobre sua identidade cultural. Sobre esse sentimento de identificação em relação a um grupo ou cultura. O lugar onde estamos, a nacionalidade, crença religiosa, etnia, idioma, entre outros fatores podem 47 influenciar diretamente a formação da identidade cultural de cada um. Dubar (1997, p. 104), por exemplo, afirma que a "identidade nunca é dada, é sempre construída e (re)construída, em uma incerteza maior ou menor e mais ou menos durável". Ou seja, assim como acontece com a cultura, com a sociedade e sua efemeridade, a identidade cultural pode ir se transformando, se adaptando. Stuart Hall (2006, p. 6) usa o plural para tratar deste termo - "identidades culturais" – pois refere-se ao sentimento de pertencimento à uma pluralidade de culturas, sejam elas étnicas, linguísticas, religiosas e nacionais. Hall afirma que atualmente a sociedade está "fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais" (Ibidem, p. 9). A Identidade cultural é a forma como vimos o mundo e como nos posicionamos em relação a ele. Se vivo em uma sociedade onde tenho contato com elementos culturais variados, posso me identificar com alguns e com outros não. Por exemplo: Sou natural de uma cidade que é chamada de Tri-fronteira, porque justamente faz fronteira entre Dionísio Cerqueira-Santa Catarina, Bernardo de Irigoyen, na Argentina, e a Cidade de Barracão, no Paraná. Caso você queira conhecer um pouco mais sobre uma das formas de cruzar para a Argentina, via porto Seco, como se diz por lá, conheça Dionísio Cerqueira, acessando https://www.dionisiocerqueira.sc.gov.br/ e https://www.youtube.com/watch?v=GwJstOwPFiY. DICA Essa região, na parte brasileira, é de colonização gaúcha, ou seja, raízes majoritariamente alemãs ou italianas. É uma cidade pequena, cerca de 14 mil habitantes, que vive da agricultura familiar, onde os ritmos musicais ouvidos pelos habitantes são o sertanejo, raiz pelos mais velhos e universitário pelos mais jovens e ritmos de origem gauchesca, como vanerão, chamamé, valsa, bandinhas etc. que animam os bailes no interior da cidade. Pois bem, apresentada a realidade cultural onde cresci e me criei vocês podem ter ideia da identidade cultural que eu formei até o momento em que eu vivi nesta região. Eu gostava e me identificava com a maioria das coisas com as quais eu convivia. Não apreciava ritmos musicais com os quais eu não tinha contato, por exemplo o rock e o samba, tinha certos hábitos alimentares, certos gostos musicais, meu sotaque era outro, minhas gírias eram outras, os costumes, a vestimenta, enfim, muita coisa mudou 48 ao mudar de cidade, de uma cidade interiorana para a capital do estado. Claro que devo contabilizar o lapso temporal, o tempo pesa também na formação da identidade cultural. Mas o fato é que hoje aprendi a apreciar o rock e o samba de roda, estilos como o sertanejo fazem parte de meu passado, mas sigo apreciando certos estilos de sertanejo raiz e música tradicionalista gaúcha. Hoje minha alimentação é diferente, meu sotaque é diferente, eu sou outra. Hoje não me identifico, e isso já há muitos anos, como cerqueirense, sou manezinha da ilha (florianopolitana/SC). Essa é minha identidade cultural de agora. A figura a seguir mostra um bom esquema de elementos que podem formar a identidade cultural de uma pessoa. FIGURA 23 – IDENTIDADE CULTURA FONTE: <https://bit.ly/2sRvYXQ>. Acesso em: 25 mar. 2020. • Multicultural: sinônimo de diversidade cultural. Em geral, se refere à presença ou coexistência de alguns grupos culturais. Canclini (2004, p. 14) define “[...] o mundo multicultural como a justaposição de etnias ou grupos em uma cidade ou nação”. Ao falar sobre multiculturalismo, o autor ressalta ainda que o contato entre as culturas é fundamental para as sociedades: A multiculturalidade, ou seja, a abundância de opções simbólicas, propicia enriquecimentos e fusões, inovações estilísticas, toman- do emprestado de muitas partes. [...] O multiculturalismo, entendi- do como programa que prescreve cotas de representatividade em museus, universidades e parlamentos, como exaltação indiferencia- da dos acertos e penúrias de quem compartilha a mesma etnia e o mesmo gênero, encurrala no local, sem problematizar sua inser- ção em unidades sociais complexas em grande escala (CANCLINI,2004, p. 22). 49 • Transcultural: vem do processo de transculturação, quando uma pessoa passa a ter contato com outra cultura, e passa a adotar aspectos da cultura de chegada. Como eu quando cheguei a Florianópolis. Passei por um processo de transculturação. • Intercultural: é a proposta de aceitação da diversidade cultural que há na sociedade. Visa valorizar e manter as diferenças em harmonia por que são as diferenças que tornam a sociedade o que ela é. • Enculturação: o ato de aprender a própria cultura seja em casa (sendo passada de geração em geração), seja na escola ou na sociedade local. • Aculturação: o contato de culturas diferentes. Quando culturas, grupos diferentes entram em contato e passam a adotar aspectos da cultura um do outro, transformando padrões locais. Um pouco mais familiarizados com esses termos, podemos refletir mais sobre a questão da cultura na escola. É algo amplo e profundo. Não se trata, como estivemos falando desde o princípio, apenas de conhecimento, de história, artes etc. O termo cultura, quando falamos da formação humana vai mais além, vide os termos que acabamos de ver. E é isso que encontraremos na escola. É um tema que não é nossa intenção aprofundar neste momento, aqui desejamos apenas lançar algumas reflexões mais voltadas especificamente à cultura hispânica e, sim, lançar una pisca (pitada) sobre o tema para que os interessados busquem outros materiais específicos sobre o assunto. 2 CULTURA E EDUCAÇÃO Como já comentamos anteriormente, a cultura é um conhecimento passado de geração em geração e que cada ser humano possui sua cultura. Imaginem um ambiente escolar, que por si só é uma ebulição de hormônios em crescimento, onde corpos e conhecimentos estão em crescimento e conhecendo seu espaço no mundo e junto vem o componente CULTURA que na maioria das vezes é esquecido por nós. Sim, cada indivíduo desses é um universo cultural, que tem uma formação cultural diferente, por mais que viva em uma comunidade escolar em comum tem uma formação cultural pessoal, com hábitos particulares, culturas particulares. E isso entra em choque quando chegam à escola e se deparam com centenas de culturas particulares, dentro de uma cultura escolar diferenciada. E, hoje, como comentamos anteriormente, com a globalização, é muito comum que tenhamos em nosso grupo escolar pessoas de cidades diferentes, ou até de países diferentes, trazendo uma cultural com aspectos mais diferenciados. E isso pode gerar conflitos diversos, desde a não aceitação por parte de um dos lados, até a não compreensão de algo. É preciso saber lidar com isso, para que as culturas sejam legitimadas. Muitas vezes ocorre que uma cultura se sobreponha à outra, que uma seja vista como melhor que a outra, inclusive pela mídia ou em filmes e telenovelas e isso pode fazer com que as minorias étnicas se sintam menosprezadas. É muito comum que ocorra 50 com índios, quilombolas, negros, pessoas que vivem em áreas rurais ou de baixa renda e que frequentem uma escola em outra área. Porque sua cultura é diferente. Porque sua realidade é outra. Cabe, nesse caso encontrar uma forma de tratar o problema e mostrar que toda forma de cultura é válida, toda forma de cultura merece respeito, e nenhuma cultura é superior ou deve ser considerada superior à outra. No caso das línguas estrangeiras isso é bastante frequente e é muito fácil exemplificar, pois sempre nos ocorre que citem o inglês como melhor, mais bonito, mais importante, mais difícil e o espanhol como fácil, desnecessário, por ser igual ao português. Uma simples lista de falsos cognatos já ajuda a desmistificar isso, com certeza. Se comparamos uma língua derivada do latim, como o espanhol, que é uma língua irmã do português, será muito mais simples para um brasileiro aprender que uma língua como o inglês ou o alemão, que têm outra raiz. Para a compreensão, isso facilita, porém, dominar uma língua tão próxima, justamente por sua proximidade não é assim tão fácil, pero eso ya es tema para otra película. O fato é que lidamos também com essa situação de imposição cultural, de sentimento de supremacia. De um modo geral costumo sempre afirmar que ambas são importantes e que o ideal seria aprender, no mundo de hoje, no mínimo, as duas, trazendo dados sobre a relevância do espanhol no contexto global e mostrando que o espanhol não é assim tão fácil como parece e que, falar/escrever bem em espanhol demanda trabalho. Estimular os alunos ao gosto pela cultura alheia, por prender a valorizar o que é do outro, o que é diferente do seu, respeitando aquilo que não “lhe pertence”, ajuda na formação do cidadão, ajuda a valorizar e respeitar o Outro, conforme o que preconiza o PCN. Essa auto percepção mais elaborada coopera para o fortalecimento da autoestima, abrindo-se assim para o diálogo com o outro, para o trabalho de composição de memórias, identidades e projetos coletivos — de sua família, de seu grupo étnico, de seu bairro, de sua turma, de sua cidade, de seu estado, de sua região, de seu país (BRASIL, 1998). O PCN fala da importância de aprender sobre a cultura do outro e de sua própria cultura: “Aprender a posicionar-se de forma que compreenda a relatividade de opiniões, preferências, gostos, escolhas, é aprender o respeito ao outro. Ensinar suas próprias práticas, histórias, gestos, tradições, é fazer-se respeitar ao dar-se a conhecer” (BRASIL, 1998, p. 138). Da mesma forma a BNCC orienta a que seja desenvolvida a identidade e consciência cultural, assim como o respeito à diversidade cultural. O fazer-se respeitar é um trabalho fundamental a ser realizado nas escolas, especialmente em tempos de bullying. Ensinar, naturalizar, fazer que não seja diferente ajudar a todos entender que não há motivo para piadas ou brincadeiras desnecessárias. Os PCNs trazem bons exemplos sobre expressões idiomáticas que podem ser trabalhadas na língua portuguesa, e que tem relação direta com culturas religiosas, mas pode se adequar a várias situações. 51 O estudo de variantes linguísticas permite trabalhar com expressões típicas de grupos étnicos, assim como com regionalismos. Aqui não se trata de bilinguismo, mas de certas expressões que são usadas corriqueiramente por grupos étnicos em seu cotidiano no Brasil — “fazer a cabeça”, no candomblé; “fazer Bar-Mitzvá”, no judaísmo etc. —, cujo conhecimento pode facilitar a convivência com outros que não partilham o sentido. Esse trabalho também deve ser desenvolvido como uma forma de abordar respeitosamente expressões desconhecidas, sem estranhamento e sem deboche (BRASIL, 1998). Por outro lado, trabalhar com aspectos culturais na escola permite desenvolver no aluno a criatividade e desenvolver a imaginação, torná-lo um cidadão crítico e responsável. É dar-lhes uma folha em branco e permitir que dela produzam o que puderem imaginar. Por essa razão acreditamos que educação e cultura precisam ser vistas como duas faces de uma mesma moeda. Precisam começar a ser tratadas de uma forma mais equânime de modo a que ambas possam suprir as reais necessidades de nossos alunos. A cultura precisa ser vista como um elemento fundamental na elaboração do saber, na construção do conhecimento, a peça elementar da criatividade do aluno. FIGURA 24 – A CULTURA COMO INSPIRAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/30Ikgeu>. Acesso em: 25 mar. 2020. 3 A IMPORTÂNCIA DA CULTURA NA ESCOLA Como comentávamos anteriormente, a escola é uma das melhores representações da pluralidade cultural de uma sociedade, tendo em vista que nela se reúnem pessoas de diferentes origens, diferentes credos, diferentes raças, diferentes opiniões e gostos. Tanta pluralidade muitas vezes propicia o preconceito e a discriminação e como o PCN preconizava (e agora o faz a BNCC), ainda, na parte introdutória do Capítulo sobre a PluralidadeCultural, “para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem” (BRASIL, 1998 p. 117). 52 Em tempos de violência lidar com as animosidades não tem sido algo fácil, especialmente nas escolas, que têm tido dificuldade de perceber que a diversidade faz parte da identidade nacional e que precisamos aprender a coexistir e a tolerar as diferenças, a respeitar o outro. Muitas vezes as desigualdades socioeconômicas e as diferenças étnicas estão entre as principais causadoras de desavenças na escola. Já falamos um pouco sobre grupos étnicos, mas o que seriam as desigualdades socioeconômicas? É quando existe a dominação ou exploração por de alguém em relação a outro, de cunho social, econômico e político. Pode ocorrer, nesse caso, a discriminação, o preconceito, a exclusão social etc. Pessoas que fazem parte desse grupo não tem acesso à muita coisa, ficando à margem da sociedade, criando sua própria cultura. Com isso, são vistos sempre de uma forma discriminatória, à margem. Em escolas onde há grupos mesclados, ou seja, alguns alunos que tem acesso e outros que não tem acesso à cultura, aos bens materiais, o choque cultural acaba sendo mais evidente, justamente por que a diferença é maior e nem sempre à aceitação e a escola precisa saber trabalhar com essas diferenças. Mesmo em casos em que o choque não seja tão evidente, mas que os gostos e hábitos sejam diversos, é preciso valorizar e reconhecer para que todos se sintam parte da comunidade escolar. Suponhamos: uma cidade com torcidas rivais de futebol, parte da escola torcedora do Flamengo e a outra do Vasco, quando houver atividades de educação física dever ser propiciado atividades em que se mencione todos os times ou se utilizem estratégias para realizar a atividade. Ou que um grupo da escola goste de rap e outro de Sertanejo, observar para que nos eventos todos os ritmos tenham a oportunidade de ser tocados. Esses exemplos são genéricos, mas nos servem muito, para o caso da das línguas estrangeiras, pois tratamos como ninguém com aspectos relacionados à multiculturalidade, à diversidade cultural etc. Temos a oportunidade de mostrar a nossos alunos de mostrar como é a cultura de países vizinhos ou mesmo países distantes, de mostrar realidades que não conhecemos, de mostrar como as coisas surgiram e que o Outro é assim e em nada me afeta que ele seja assim. Que devo respeitar essa diferença. Aprendemos conhecendo o outro e ao ver o outro nos damos conta de coisas interessantes que temos em nossa cultura. No contato com o outro aprenderemos mais sobre nós mesmos. O caso específico do espanhol é bastante interessante, pois resgatar sua história nos ajuda a resgatar a história do Brasil, em vários aspectos, por exemplo, a questão da raiz indígena que temos em comum. A educação brasileira tem implementado leis de ensino que fomentam a valorização do indígena e do negro. Isso é de suma importância para que resgatemos nosso passado histórico. Ao conhecer a história da América Espanhola, nosso aluno assimila as semelhanças que temos, afinal, nossa colonização ocorreu, digamos que, nos mesmos moldes, mudando apenas o colonizador. 53 Para maiores informações, acesse o link da lei de que orienta as escolas e estabelecimentos de ensino a terem em sua programação um momento para o estudo desses povos: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2008/Lei/L11645.htm. DICA Muitos podem ser os benefícios em termos de conhecimento se pensamos na exploração de aspectos culturais para o aluno, tais como: • A formação ética e moral ampliada, através de debates, leituras, documentários que fomentem seu pensamento crítico. • A formação sociológica e antropológica, pois conhecerá mais a cerca de populações locais, sua história e sua situação social, sobre democracia, cidadania etc. • O conhecimento sobre a língua espanhola e suas variantes, sobre contextos bilíngues e até multilíngues, e com isso refletir sobre a própria língua materna e questões de fronteira ou de contato linguístico. • Conhecimentos populacionais que têm relação com aspectos da geografia, história, ciências etc. 4 A PRESENÇA DA CULTURA DA COMUNIDADE NO PPP – PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA A legislação nacional e a BNCC estimulam que o PPP das escolas fomente sempre o trabalho focado na realidade local, com projetos que possam estimulas os alunos a conhecerem sua realidade, seu entorno. Negar o trabalho com a cultura é negar aos estudantes que conheçam a si mesmas, que conheçam sua história, negar uma riqueza de conhecimento que é seu direito. Dentro deste pacote de conhecimento cultural local podemos citar folclore local, festas típicas, estórias, fatos históricos locais, saídas de campo para conhecer personalidades e locais importantes da cidade. Assim como exposições que ocorram na cidade, contando coisas relacionadas ao seu entorno ou não. A figura a seguir, por exemplo, mostra uma exposição de um museu de ciências naturais, pode ser que uma escola fique próxima a um local que tenha um museu ou um parque natural, mas se não tiver nenhum parque natural, nada impede de propiciar semelhante experiência a nossos alunos, pois estamos sim mostrando a ele a cultura do outro, e nosso aluno sempre irá aprender, associar, comparar e com isso construir novos conhecimentos. 54 FIGURA 25 – A CULTURA COMO CONHECIMENTO FONTE: <https://revistadigital.inesem.es/educacion-sociedad/files/2017/05/importancia-del-arte-en-la- educaci%C3%B3n-infantil-1020x680.jpg>. Acesso em: 25 mar. 2020. Ainda falta muito para que de fato as escolas consigam entender a importância da cultura para a formação do ser humano. Estamos longe e muito presos às regras, conteúdos, normativas. Não aprendemos a nos importarmos mais a conhecer o lado humano, cultural primeiro, para depois irmos para o lado teórico, vamos primeiro para o lado teórico, sempre. No que se refere ao ensino da língua espanhola, infelizmente não é diferente. O foco acaba sempre pendendo mais para a forma, para a gramática, regras, uso. Falamos de aspectos culturais, mas pouco, e observamos que quase nada se explora o potencial que teríamos de poder comparar a cultura estrangeira e a nacional a fim de valorizar a nossa ou mesmo mostrar as diferenças a fim de mostrar que não são culturas iguais e que sim, precisamos respeitar. A esse propósito na sequência traremos alguns exemplos e reflexões de atividades com cunho cultural que podem ser adaptadas para sala de aula, de acordo com a necessidade e intenção do professor. Lembramos que são apenas ideias e que podem e devem ser incrementadas. 5 EXEMPLOS DE ATIVIDADES QUE PODERIAM SER TRABALHADAS EM SALA DE AULA Aqui traremos algumas propostas como sugestões a serem trabalhadas em sala de aula de aula de modo a refletir sobre os aspectos culturais da língua espanhola e, também, da língua portuguesa, contrapondo ambas. 55 5.1 EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS São um ótimo exemplo, no que compete à parte da língua, de marcas culturais, pois surgem em determinadas regiões ou país com um significado em especial. FIGURA 26 – EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS FONTE: <https://espanolparainmigrantes.wordpress.com/2015/05/06/expresiones-idiomaticas/>. Acesso em: 25 mar. 2020. 56 Por exemplo a expressão importar un pimiento surgiu na Espanha em uma região e uma época em que esse alimento abundava, então dizer isso significar que não importa nada, porque esse alimento, esse produto, por abundar, não importa nada. Uma tradução literal ao português não faria sentido, porque para nós não há esse referente cultural. O mesmo ocorre com outras expressões que nós usamos e que nossos alunos, ao aprender espanhol, querem traduzir, mas que na verdade não tem sentido, como a interjeição “nossa!”, traduzimoscomo vaya, ou madre, mas nunca como nuestra. Não tem sentido algum em espanhol. Ou quando costumamos colocar o pronome eu na frente, em espanhol isso não ocorre, ele sem vem depois. Outra construção que causa estranhamento ao nativo da língua espanhola é quando nos dirigimos a uma pessoa, especialmente a alguém mais velho ou a quem deva respeito, e, nos dirigindo a essa pessoa usamos a terceira pessoa, por exemplo. Ao falar com meu professo digo: “professor? O professor (você) vai vir para a universidade amanhã? ” Traduzir essa mesma construção frasal, comum aqui no sul do Brasil, de um modo literal ao espanhol não funcionaria: profesor, ¿el profesor vendrá a la universidad mañana? Eles não entendem, é preciso que eu aclare que quero saber se ELE virá. Certamente perguntará quê professor? Pois não está claro na pergunta que você se refere a ele. Esse tipo de exercício pode ser bastante interessante para que nossos alunos criem a consciência linguística. Sempre é importante lembrar que devemos considerar o nível de conhecimento linguístico de nossos alunos, porque adequar a atividade ao nível de conhecimento será um estímulo. Atividades muito fáceis, ou muito difíceis podem fazer com que percamos o interesse de nosso grupo. 5.2 COSTUMES Para retratar hábitos, costumes, muitas coisas podem ser trabalhadas, desde músicas, filmes, textos etc. Na região sul do Brasil, por exemplo, em especial na área litorânea, a presença de hispânicos do Cone Sul da América é uma constante, porque é um hábito muito forte dessas pessoas, em seu período de férias viajar em família. Mesmo que a situação financeira do país não contribua muito, viajam. É algo que nos chama muito a atenção. E sempre em família, grupos grandes, com seu mate a tiracolo. Uma sugestão de temas para a sala de aula, são os horários e refeições. Os horários que os países fazem suas refeições e o que costumam comer em cada uma. Na Argentina, por exemplo, não é comum uma variedade de pratos no almoço das famílias. Aqui uma família da classe média prepara o feijão e o arroz de cada dia com seus acompanhamentos, uma carne, um legume e saladas, pelo menos, eles não. É um prato apenas. Muito comum acompanhamento de pão e a presença da batata e a ausência do arroz e com certeza não consomem o feijão. É muito comum nos restaurantes a entrada, prato principal e sobremesa. 57 5.3 MÚSICAS E DANÇAS Outra possibilidade é relacionada à música e dança, pois é um tema que os alunos apreciam bastante. E pode ser de uma amplitude bastante grande pois é possível pedir que busquem estilos musicais e comparem com estilos brasileiros. Podem pesquisar sobre um país, sua cultura e padrões musicais, podem pesquisar e preparar apresentações relacionadas à ritmos de dança daquele país, preparando uma coreografia e apresentando ao grupo, se houver músicos no grupo podem se apresentar, trabalhando assim a oralidade. 5.4 TRABALHOS PRÁTICOS A depender da realidade tecnológica da escola, muita coisa pode ser preparada. Desde festivais de teatro, curtas metragens, festivais da canção, mostras de pintura, atividades esportivas etc. Esse tipo de promoção por parte da escola e da comunidade escolar, estimulando as diferentes formas de cultura podem desenvolver talentos ocultos, abrir o olhar dos alunos para campos profissionais não conhecidos, além de trabalhar as habilidades socioemocionais indicadas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular) a aceitação do outro, o respeito para com os colegas, a abertura para o novo, a resolução de conflitos, responsabilidade, autonomia, entre outros. Essas são algumas ideias para serem implementadas em sala de aula, de um modo mais intimista, mas muitos projetos maiores podem ser realizados na escola ou mesmo na comunidade escolar. Vejamos aqui algumas sugestões: 6 A ESCOLA COMO ESPAÇO DE PRODUÇÃO CULTURAL Essas propostas devem ser adequadas à realidade da escola, ao objetivo que se tem, ao público almejado, à época do ano letivo e ao período que levará e como a cultura é trabalhada de fato com os alunos. Quais os objetivos deste projeto? Isso deve ser sempre um dos alvos do proponente. 58 FIGURA 27 – A CULTURA NA ESCOLA FONTE: <http://www.uneac.org.cu/sites/default/files/styles/large/public/imagen/secciones-periodisticas/ promocion-cultural.jpg?itok=ziIqYfE7>. Acesso em: 25 mar. 2020. 6.1 FESTIVAL DE TALENTOS Pode ser realizado em diferentes situações e momentos. Tem o benefício de conseguir explorar diferentes talentos dos alunos da escola, o que pode não acontecer com atividades mais específicas como algo relacionado à música ou à literatura. Ocorre tanto em formato de mostra de atividades realizadas em sala de aula por diferentes disciplinas como através da inscrição espontânea de alunos que queiram mostrar seus talentos, sejam eles quais forem. 6.2 VARAL LITERÁRIO O varal literário tende a ser algo mais específico da área das linguagens e geralmente é trabalhado em sala de aula, mas nada impede a realização de um trabalho interdisciplinar que seja apresentado à comunidade escolar, com a leitura ou não dos trabalhos, que podem ser comentados por seus autores, sendo uma experiência bastante interessante para os alunos. 6.3 TEATRO NA ESCOLA Esta atividade pode ser explorada por várias disciplinas para retratar temas diversos, inclusive com trabalhos interdisciplinares. É importante o planejamento prévio, pensando no espaço a ser usado, nos alunos – em especial os mais tímidos, no material necessário, tempo para ensaio etc. 59 6.4 CONCURSO DE POESIAS O concurso de poesias também é uma atividade que tende ser mais relacionada às Linguagens, pode ter uma temática a ser tratada por cada turma, por exemplo, crítica social, de amor, nacionalista etc. Depende do objetivo do professor. 6.5 CIRCO NA ESCOLA Essa atividade pode ser realizada tanto pelo componente de artes quanto pelo componente de Educação Física, assim como pode ser uma atividade interdisciplinar, de cunho lúdico. É muito proveitoso para a escola e podendo ser aberto à comunidade escolar. Demanda organização, preparo, bastante pesquisa e ensaio, mas pode render resultados muito gratificantes. 6.6 FESTIVAL DA CANÇÃO Esta atividade, em geral muito rica é descobrir talentos ocultos na escola, mas tem o diferencial de limitar-se apenas a quem canta. Mesmo assim vale muito a pena investir nesse tipo de projeto porque os resultados são excelentes e os alunos gostam muito de ver os colegas se apresentando. 6.7 FEIRA CULTURAL A feira cultural tem o benefício de ser ampla, e poder abarcar todas as formas e expressões de cultura. Nela os alunos podem mostrar diferentes formas de culturas e, dependendo de como a escola organizar o evento, pode ser temática: de países, de regiões ou estados do Brasil etc. 6.8 CONCURSO DE DANÇA/MÚSICA Pode parecer muito específico, mas em determinadas regiões esse tipo de atividade dá muito certo. São comunidades em que a cultura local está habituada à dança ou à música. Por exemplo, em algumas regiões do Brasil a formação musical é muito forte, tendo grupos de fanfarra de excelente qualidade nas escolas ou alunos que participam em bandas civis da cidade. Ou regiões em que algo similar ocorre em relação à dança. 60 6.9 DIA DO FOLCLORE O dia do folclore brasileiro é 22 de agosto. Neste dia podem ser propostas diversas atividades na escola, inclusive a fim de fomentar o conhecimento de nossos alunos em relação às nossas criaturas mitológicas. Lamentavelmente acaba sendo uma atividade muito restrita ao ensino básico, nossos jovens acabam por esquecer dessa parte de nossa cultura. No que compete ao ensino do espanhol, é possível realizar um apanhado de figuras folclóricas dos países hispânicos e comparar, ou relacionar as lendas existentes, enfim, muitas coisas podem ser feitas.6.10 DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Dia 20 de novembro foi instituído como o dia da consciência negra. A legislação orienta as escolas a que tenham uma programação específica na escola ao menos para esse dia. A orientação não é trabalhar a consciência negra apenas dia 20/11, mas o ano inteiro, e se pede que nesse período se realize na escola uma programação especial. Muitas escolas organizam a semana da consciência negra com Cinema Negro, Arte Negra, Música Negra, debates sobre a situação do negro no Brasil e no Mundo. No caso da Língua Espanhola é possível apresentar artistas negros do universo hispânico, arte afro-hispana, literatura afro-hispana etc. 6.11 DIA DO ÍNDIO Dia 19 de abril. Essa é outra data em que as escolas são orientadas a ter uma programação especial voltada ao índio. O que é muito justo, tendo em vista que é o povo originário de nossa nação. Muitas propostas podem ser pensadas, como cine debate, roda de conversas etc. Esse tipo de atividade, assim como o dia da Consciência Negra devem englobar toda a escola. Em relação à língua espanhola é possível fazer um link bastante interessante com a Conquista da América pelos espanhóis e trazer um pouco sobre os povos indígenas da América e sua vasta riqueza cultural. 61 LA DIVERSIDAD CULTURAL EN LA ESCUELA Actualmente vivimos en una sociedad en la cual los cambios tecnológicos y las formas de experiencia social se modifican día a día. La realidad cambia continuamente y como la escuela no es una institución ajena a ella, se modifica también a pasos agigantados. Son nuevas las problemáticas que hoy por hoy sufre la escuela y un docente debe ser consciente de ellas para poder tratarlas. Una de las principales causas de la diversidad cultural en las escuelas es el fenómeno migratorio que se ha producido en los últimos años como consecuencia, principalmente, de la pobreza y la globalización del mercado laboral. La diversidad cultural es un tema complejo que no debe ser simplificado ni ge- neralizado. Saber realmente de qué se trata puede contribuir a actuar responsablemente al respecto y por eso mismo considero importante ahondar en el tema. Actuación del docente ante la diversidad cultural El rol del docente se trata, en primer lugar, de tomar conciencia de esta realidad para no caer en concepciones ingenuas y para que sus actos se correspondan con una concepción formada y crítica de la situación. La conciencia de que la superioridad y la discriminación son construcciones sociales y por tanto artificiales, permite obrar al respecto sin prejuzgar o subestimar a los alumnos y construyendo, principalmente a través del ejemplo, una concepción real de la diversidad. Hay una realidad que debemos afrontar y es que los alumnos que provienen de hogares de clases socioeconómicas beneficiadas, reciben en la escuela la misma cultura que les han transmitido sus padres, mientras que quienes vienen de hogares “pobres” o de culturas alternativas sufren una imposición cultural arbitraria. La escuela debería adaptarse al alumno y no al revés, aceptando la diversidad y construyendo a partir de ella. Las diferencias pueden ser fuente de riqueza, conocimiento y recurso en el proceso de enseñanza-aprendizaje. LEITURA COMPLEMENTAR 62 La escuela debe sumar una nueva demanda a su propuesta educativa, educar para construir una sociedad intercultural; para vivir en contextos heterogéneos, para construir comunidad desde la diversidad identitaria. Objetivos extremadamente complejos y ambiciosos. Pero recordemos un par de las verdades del optimismo pedagógico. Primera: quizás la escuela no cambie el mundo, pero sin ella no será posible hacerlo. Segunda: no hay hoy proyecto de socialización democrática (de justicia social, de igualdad, de interculturalidad) más potente que lo que llamamos educación pública. Los profesionales que orientan sus esfuerzos para ofrecer una educación de calidad deben reflexionar para poder afrontar el nuevo reto de trabajar en clases multiculturales. De esta reflexión, deben concretarse los planteamientos que ayuden a extraer los aspectos positivos de esta nueva situación, minimizando los negativos. La presencia y el testimonio de los alumnos extranjeros en las aulas garantiza una aproximación cultural más directa a las tradiciones o las costumbres de otros luga- res del mundo, relatadas en primera persona. Este hecho es un elemento enriquecedor del grupo y, por tanto, de la actividad educativa que se lleva a cabo, garantizando el derecho a la educación y a la igualdad de oportunidades. El alumnado extranjero debe adaptarse, integrarse, respetar los referentes culturales y las directrices que determine el sistema educativo del país en el que ahora residen. Esta afirmación no debe interpretarse, en ningún caso, como una imposición cultural sino más bien como una fórmula para facilitar la convivencia y la integración en los hábitos de vida del país de acogida. Debe evitarse la confrontación que puede aflorar al situar, en un mismo marco de actuación, la cultura que existe en el país receptor y la existente en el país de origen. Ambas son respetables e igualmente importantes, pero el entorno determina la prepon- derancia de una sobre las otras. Las normas, las tradiciones y las costumbres de un país, que impregnan la labor docente y el propio sistema educativo, no deben alterar su es- tructura. No obstante, sí deben adaptar sus medios, promoviendo medidas de apoyo y refuerzo, para que el trato al alumnado sea igualitario con el fin de que todo alumno tenga las mismas oportunidades en nuestra sociedad con independencia de su procedencia. Una de las principales carencias de este alumnado es el desconocimiento del castellano. En la comunidad autónoma de Andalucía, cuando se incorporan este tipo de alumnos a las aulas en las etapas de Educación Primaria suelen aparecer tres problemáticas: • Muestran necesidades educativas motivadas por situaciones de desigualdad social y económica. • Su procedencia cultural es diferente a la andaluza/ española. • Su lengua materna dispone de caracteres orales y escritos que distan bastante de la lengua española. 63 Alcanzar un equilibrio entre la identidad cultural y la diversidad, para que los ciudadanos de nuestra sociedad, sea cual sea su origen, raza o religión, toleren y reco- nozcan el resto de las opciones culturales diferentes a las propias, por minoritarias o di- ferentes que éstas sean, no es una tarea sencilla. Igualmente, tampoco lo es que las mi- norías culturales acepten y respeten igualitariamente la cultura matriz del país receptor. FONTE: TEMAS PARA LA EDUCACIÓN. La diversidad cultural en la escuela. 2011. Disponível em: https://www.feandalucia.ccoo.es/docu/p5sd8303.pdf. Acesso em: 25 mar. 2020. 64 Neste tópico, você aprendeu: • O termo pluralidade cultural se refere à convivência de diferentes grupos culturais. • Diversidade cultural se refere à diferença das culturas em um país ou região. • Identidade cultural é a forma como me identifico com um lugar ou com uma cultura. • Multicultural é presença ou coexistência de grupos culturais. • Transcultural é quando uma pessoa adota aspectos da cultura em que passa a conviver. • Intercultural é a aceitação das diferenças entre as culturas. • Enculturação é aprender a própria cultura. • Aculturação é o termo que se refere ao contato entre culturas onde uma assume aspectos da outra. • A possibilidade de propiciar, através do PPP, atividades culturais junto à comunidade escolar. • A relação que há entre a cultura e a educação são importantes para a formação do cidadão. • É preciso identificar na escola um espaço de produção cultural. RESUMO DO TÓPICO 3 65 AUTOATIVIDADE 1 Conocida por su historia, arte, corridas de toros, flamenco, playas y tantas horas de solal año, es España, sin embargo, no sólo esto, sino mucho más. En realidad, es diferente de todo; de Europa, del mundo, y sobre todo de sí misma. Ya que es un país lleno de contrastes, comenzando por su clima y sus paisajes cuya diversidad le han acarreado el calificativo de "la pequeña Europa". Efectivamente en España encontramos climas y paisajes que recuerdan a puntos muy remotos del continente europeo o incluso del africano, nada extraño si consideramos que sólo está separada de África por el Estrecho de Gibraltar. Pero lo más especial es que todos estos contrastes los encontramos a veces en una muy reducida área, como es el caso de la provincia de Granada, que a pesar de contar con el pico más alto de la península, el Mulhacén, cubierto de nieves perpetuas, se encuentra muy al sur, en la costa Mediterránea frente a África. Esto nos puede dar una idea de cómo en escasos kilómetros pasamos de paisajes alpinos a paisajes africanos. FONTE: <https://www.red2000.com/spain/primer/1index.html>. Acesso em: 25 mar. 2020. Baseado na leitura, prepare um breve resumo falando da história de um dos países colonizados pela Espanha. Siga a mesma linha do texto do enunciado e escreva em espanhol. 2 A escola é um espaço multicultural por natureza e, em virtude da diversidade cultural que existe, a atuação do docente é fundamental para mediar determinadas situações. Sobre esse assunto, marque V para Verdadeiro ou F para Falso. a) ( ) O papel do professor é de ser consciente da diversidade cultural existente na escola. b) ( ) A discriminação não julga nem subestima os alunos. c) ( ) O aluno deveria adaptar-se à escola e não o contrário. d) ( ) A presença de alunos estrangeiros garante uma aproximação cultural mais direta com outros países. 3 A identidade cultural nada mais é que é a identificação de uma pessoa com as características culturais locais PORQUE A multivariedade de aspectos culturais marca a identidade de cada um. 66 A respeito destas afirmações, é CORRETO afirmar que: a) ( ) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. b) ( ) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. c) ( ) A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa. d) ( ) A primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira. 4 Diversidad cultural es un principio que reconoce y legitima las diferencias culturales entre diversos grupos humanos, así como la existencia, convivencia e interacción entre diferentes culturas dentro de un mismo espacio geográfico. Baseado nisso marque V para verdadeiro e F para falso em relação à Diversidade Cultural na Escola: a) ( ) O fenômeno migratório é o principal responsável pela diversidade cultural nas escolas. b) ( ) A diversidade cultural é um tema simples e sem complexidade. c) ( ) A globalização não interfere diretamente na diversidade cultural. d) ( ) A pobreza não tem relação com a diversidade cultural. 67 CULTURA POPULAR UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os conceitos de cultura popular e folclore; • conhecer as diferentes representações populares dos países hispânicos; • identificar as diferentes crenças e religiões predominantes em países hispânicos; • conhecer as diferentes representações culturais que foram convertidas em patrimônios culturais da humanidade; A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – REPRESENTAÇÕES CULTURAIS POPULARES TÓPICO 2 – FOLCLORE TÓPICO 3 – FESTAS POPULARES Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 68 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 69 TÓPICO 1 — REPRESENTAÇÕES CULTURAIS POPULARES UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, iremos conhecer e ter um panorama de algumas representações culturais dos países hispânicos. Essas representações estão divididas em: folclore, arte popular, música, dança e gastronomia. As representações culturais populares, como já explicita o título do tópico, trata-se da cultura popular e de como ela está representada através de diversas formas artísticas. Dentre as artes populares, vamos destacar a música, o folclore, a dança e os elementos religiosos. Relembrando o histórico da América Latina, deve-se sempre lembrar que, em sua grande maioria, trata-se de países colonizados e, por isso, as representações culturais podem conter muitas influências dos países colonizadores, sendo assim, apresentam influências espanholas, francesas, portuguesas. Também podem conter influências de países próximos, como é o caso dos Estados Unidos e Brasil. 2 FOLCLORE Sempre que se canta a uma criança uma cantiga de ninar; sempre que se usa uma canção, uma adivinha, uma parlenda, uma rima de contar, no quarto das crianças ou na escola; sempre que ditos, provérbios, fábulas, estórias bobas e contos populares sejam representados; sempre que, por hábito ou inclinação, a gente se entregue a cantos e danças, a jogos antigos, a folguedos, para marcar a passagem do ano e as festividades usuais; sempre que uma mãe ensina a filha a costurar, tricotar, fiar, tecer, bordar, fazer uma coberta, trançar um cinto, assar uma torta à moda antiga; sempre que um profissional da aldeia [...] adestre seu aprendiz no uso de instrumentos e lhe mostre como fazer um encaixe e um tarugo para uma junta, como levantar uma casa ou celeiro de madeira, como encordoar um sapato- raqueta de andar na neve [...] aí veremos o folclore em seu próprio domínio, sempre em ação, vivo e mutável, sempre pronto a agarrar e assimilar novos elementos em seu caminho. Ele é antiquado, depressa recua de primeiras cidadelas ao impacto do progresso e da indústria modernos; é o adversário do número em série, do produto estampado e do padrão penteado (Definição de folclore, artigo de Francis Lee Utley incluído em O Folclore dos Estados Unidos) (BRANDÃO, 1982, p. 23). 70 Decidimos iniciar este tópico com essa citação porque acreditamos que ela exemplifica exatamente o que nós entendemos por folclore: a tradição, aquilo que o povo faz e passa de geração para geração. O folclore é visto e entendido de diferentes maneiras em diferentes países, inclusive no Brasil existe um consenso estabelecido no I Congresso Brasileiro de Folclore que, segundo a Carta de Folclore Brasileiro, estabelece o que deve ser considerado como folclore (BRANDÃO, 1982). Porém, ainda que existam cartas que estabeleçam o que é ou não considerado folclore, é importante que você saiba que “a criação do folclore é pessoal” (BRANDÃO, 1982, p. 34), ou seja, ele surge a partir das vivências de cada indivíduo e, ainda que cantemos músicas, repetimos provérbios, façamos trabalhos manuais específicos etc., reproduzimos uma cultura que tampouco conhecemos os autores, ou seja, trata-se de uma individualidade coletiva, que representa um povo e que reproduzimos e passamos para as próximas gerações. Na América Latina, as representações folclóricas se dão nos mais diversos níveis e tipos e, neste momento, você conhecerá alguns exemplos. 2.1 ARGENTINA O folclore argentino tem sua principal expressão nas músicas, e isso se deve a sua história, que tem suas raízes na multiplicidade de culturas, pois, além das influências dos povos indígenas pré-colonização, conhecidos como ameríndios, também tem as influências europeias e africanas. Toda essa mistura se deu a partir do Século XVI, com a colonização europeia e a escravização dos povos africanos, até o Século XVIII. Entretanto, a música folclórica teve seu destaque nos anos de 1950 pois, na época, estavam acontecendo as migrações da população do campo para a cidade,em busca de empregos e uma vida melhor. No momento, a música folclórica começa a ser reconhecida, a população que migrava levava consigo uma bagagem cultural, ou seja, a cultura popular da região em que vivera. Em meados de 1970, o folclore tornou-se muito popular, ganhando, inclusive, um festival: Festival Nacional de Folklore de Cosquín, que acontece até hoje. 71 FIGURA 1 – BANNER DE DIVULGAÇÃO DO FESTIVAL NACIONAL DE FOLKLORE 2019 FONTE: <http://twixar.me/B2RT> Acesso em: 14 jan. 2020. O festival é considerado o mais importante festival folclórico da Argentina, e acontece todos os anos na última semana de janeiro, tendo uma duração de nove dias. O festival é realizado na cidade de Cosquín, em Córdoba, desde a primeira edição. Inclusive, a cidade de Cosquín foi escolhida para que sediasse o festival justamente por conta de sua localização, pois, em meados do Século XX, ocorreu um surto de tuberculose e, para um bom tratamento, os enfermos migravam para cidades com um clima favorável ao tratamento, ou seja, Cosquín era uma cidade com um clima agradável e rapidamente tornou-se uma cidade conhecida por receber pessoas doentes em tratamento. Para mudar o estigma criado em cima da cidade, promover o turismo e incentivar a economia local, os habitantes decidiram organizar um espetáculo folclórico, sendo assim, do dia 21 a 29 de janeiro de 1961 ocorreu a primeira edição do Festival Nacional de Folklore de Cosquín. FIGURA 2 – FESTIVAL NACIONAL DE FOLKLORE ARGENTINO DE COSQUÍN FONTE: <https://en.wikipedia.org/wiki/Cosqu%C3%ADn_Festival#/media/File:Festival_de_ Cosqu%C3%ADn_1970_ca.jpg>. Acesso em: 30 jan. 2020. 72 O festival ganhou um hino que se chama “Cosquín empieza a cantar”, e foi composto por Zulema Alcayaga (poetisa e compositora argentina) e Waldo Belloso (pianista e compositor argentino): Cosquín empieza a cantar Zulema Alcayaga Waldo Belloso Hoy es el día del canto va a comenzar la cosecha. Una cosecha de coplas que en nueve noches se siembra. Apaga el fuego río cantor, que es una hoguera mi corazón. Siega la copla río cantor, para que crezca nombrando al amor. Para que crezca nombrando al amor. A la huella, a la huella, Cosquín te llama, A la huella del canto que nos hermana. cuatro rumbos nos llevan por esta huella cuatro rumbos la cruzan, cuatro la besan. En la cruz del camino, nació una estrella, para alumbrar el canto de nuestra huella. A la huella a la huella Cosquín te llama, A la huella del canto que nos hermana. Este es un triunfo de todos porque es un triunfo de paz porque es un triunfo de paz. Enarbolemos el canto que maduró en libertad que maduró en libertad. Vengan del sur y del norte de Cuyo y del Litoral de Cuyo y del Litoral. Vengan a ver el milagro que en nueve noches se da, que en nueve noches se da. Escuche América toda Cosquín empieza a Cantar, Cosquín empieza a cantar. 73 Alguns nomes do folclore argentino de grande renome se destacaram através do festival, como: Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Horacio Guarani etc. 2.2 COLÔMBIA Na Colômbia, sobretudo na região do Caribe, local que recebeu os primeiros espanhóis durante o descobrimento, o folclore é muito rico, e aborda diversos aspectos, desde as vestimentas, danças, mitos e lendas. Ainda que diversas cidades e regiões urbanas tenham sofrido influências do mundo globalizado, em regiões mais perto da costa, a vestimenta folclórica é mantida, principalmente pelos povos indígenas que, em geral, têm a vestimenta com muitas cores e com tecidos leves por conta do calor. Além das vestimentas, a zona é muito conhecida por conta das festas e festivais que promove, são eles: • O carnaval de Barranquilla: uma festa que representa as diferentes manifestações do folclore do Caribe Colombiano. A data de início da festa é sempre no sábado que antecede a quarta-feira de cinzas. A festa é de tamanha importância, declarada como Patrimônio Oral e Intangível da Humanidade da Unesco. Cosquín tiene en su nombre una campana, templada con el canto de las guitarras Cosquín, Cosquín, Cosquín, Cosquín, Cosquín tiene en su nombre una campana y un corazón que late cuando nos llama, Cosquín, Cosquín, Cosquín, Cosquín. De pie que las campanas ya están tañendo y el canto de la tierra viene creciendo. Ya vuelan las campanas buscando el cielo y el nombre que nos une van repitiendo Cosquín, Cosquín, Cosquín, Cosquín, Cosquín, Cosquín. Vengan a ver el milagro Cosquín empieza a cantar. Letra: Zulema Alcayaga Música: Waldo Belloso 74 • Festival de la Leyenda Vallenata: No festival estão presentes os maiores intérpretes do vallenato, um ritmo musical típico da Colômbia. Sua primeira edição aconteceu em 1968, e o que se sabe é que três pessoas decidiram criar o festival com a finalidade de resgatar e manter todo o acervo cultural e musical da região. No ano de 1987, o festival marcou a inauguração da televisão regional, com o canal Telecaribe, que ficou encarregado de fazer a transmissão ao vivo do festival. Entretanto, somente em 1999 o Festival de la Leyenda Vallenata foi transmitido ao vivo em nível nacional. Ademais de ser um grande evento folclórico e cultural, também é um grande impulsionador da economia local, pois atrai turistas de diversas regiões. FIGURA 3 – FESTIVAL DE LA LEYENDA VALLENATA FONTE: <https://festivalvallenato.com/>. Acesso em: 14 jan. 2020. • Festival Autóctono de Gaitas de San Jacinto: acontece desde 1988, anualmente, no mês de agosto, e conta com a apresentação de diversos grupos profissionais e amadores de gaita. A primeira edição do festival aconteceu em homenagem a três grandes nomes da música colombiana: Toño Fernández, Juan e José Lara. • Festival de la cultura Wayúu: o festival, que teve sua primeira edição em 1985, tem por objetivo apresentar ao grande público a essência da cultura do povo indígena através de danças, comidas, música tradicional etc. Em 2006, o festival foi declarado Patrimônio Cultural da Nação e, através do artesanato, rituais, jogos, o festival ressalta e conserva os costumes, tradições e o folclore. Você conhecerá mais sobre o Carnaval de Barranquilla no Tópico 3, quando falaremos dos patrimônios culturais. ESTUDOS FUTUROS 75 Além dos festivais folclóricos, as danças também se destacam no folclore colombiano, sobretudo a Cumbia, uma dança que é conhecida por nascer de uma mescla cultural entre a cultura indígena, africana e hispânica na época da colônia. Apesar de ser um ritmo colombiano, o ritmo se expandiu por toda América Latina e possui muitas variações do gênero. FIGURA 4 – DANÇARINOS DE CUMBIA FONTE: <https://cdn.colombia.com/images/colombia-info/folclor-y-tradiciones/cumbia.jpg>. Acesso em: 14 jan. 2020. Os bailarinos que dançam a Cumbia têm um traje típico, como vimos na figura anterior. As mulheres usam saias e vestidos longos e rodados, já os homens vestem uma camisa e calça brancas, o Sombrero Vueltiao (um dos símbolos da Colômbia) e um lenço vermelho no pescoço. 3 ARTE POPULAR Você sabe o que é arte popular? É todo tipo de produções artísticas com valor relevante e que são feitas e produzidas por pessoas que não são especialistas em arte, ou seja, pinturas, esculturas, literatura feita por uma determinada população. Em muitos casos, esses trabalhos manuais são denominados artesanatos e, de certa forma, apresenta certa influência na economia de um país, como afirma Canclini (2015). Os estudos sobre artesanato mostram um crescimento do número de artesãos, do volume da produção e de seu peso quantitativo: “um relatório do SELA calcula que os artesãos dos quatorze países latino-americanos analisados apresentam 6% da população geral e 18% da população economicamente ativa. Uma das principais explicações do incremento, dada tanto por autores da área andina quanto mesoamericana, é que as deficiências da exploração agrária e o empobrecimentorelativo dos produtos do campo impulsionam muitos povos a procurar na venda de artesanato o aumento de sua renda” (CANCLINI, 2015, p. 215-216). 76 O artesanato, como arte popular, demonstra ter muita relevância em muitos países hispânicos, não somente economicamente, mas também histórica e culturalmente. Tudo isso se dá quando notamos que a arte popular atravessou fronteiras e que se faz cada vez mais presente nas grandes cidades, de acordo com Canclini (2015), como no Peru, em que 29% dos artesãos encontram-se na cidade de Lima, capital do país. Já no México há um “intenso apoio à produção artesanal, a mais volumosa do continente e com um alto número de produtores: seis milhões” (CANCLINI, 2015, p. 216). Essa herança artística tem grande ligação com as raízes indígenas dos povos que habitavam o território latino-americano antes da colonização dos europeus. Porém, apesar do processo colonizador, a cultura não foi deteriorada e, ainda assim, manteve-se com algumas novas interferências, fossem elas de origem europeia ou africana. Neste momento, você conhecerá representações artísticas de alguns países latino-americanos. 3.1 MÉXICO Devido à geografia tão variada, o México possui diversas regiões que variam desde desertos até costas que encontram os Oceanos Pacífico e Atlântico. O clima é tão variado quanto sua geografia, o que favorece a produção da diversificada vegetação e agricultura do país. A união dos fatores geográficos e climáticos à diversificada população com diferentes origens indígenas e a miscigenação com outros povos favorece a arte popular mexicana ser tão rica e múltipla. 3.1.1 Lacas É um tipo de pintura dos povos indígenas feita em peças de madeira, que podem ser de uso cotidiano ou para grandes comemorações. Primeiro, o artesão prepara a superfície que vai receber a tinta fazendo a impermeabilização da porosidade do material. Esse processo é feito com óleos animais ou vegetais. As cores que a madeira vai receber para fazer sua pintura também são feitos a partir de produtos de origem Você pode conhecer e aprofundar mais seus conhecimentos sobre a arte popular da América através do livro Arte Popular de América. FONTE: RIBALTA, M. et al. Arte popular de América. Barcelona: Editorial Blume, 1986. DICA 77 natural. Após fazer toda a preparação do material, o artesão faz seus desenhos através de ranhuras na madeira, dando a ela uma textura que, em seguida, pode receber a tinta para que ela ganhe vida. Os temas pintados costumam ser coloridos e com flores ou desenhos de animais e, geralmente, há uma combinação cores como o vermelho com preto, ou azul com branco. Ainda, as peças que recebem esse tipo de pintura geralmente são: baús, mesas, bandejas, xícaras, caixas etc. FIGURA 5 – LACAS MEXICANAS FONTE: <https://rotativo.com.mx/2016/11/26/noticias/nacionales/artesanos-olinala-buscan-norma- oficial-mexicana-poder-exportar-577858/>. Acesso em: 23 jan. 2020. 3.1.2 Alfarería Em português, a prática é chamada de olaria, e se trata da produção de objetos a partir de barro ou argila. No México, a maioria dos povos trabalha com a função de olaria e essa é a atividade mais praticada no país. O processo de fabricação acontece a partir de dois tipos de barro: um negro e um branco. Após misturar os dois barros, em partes iguais, eles submergem a mistura na água com a finalidade de separar o barro das impurezas. Todas as produções são muito coloridas, e predominam as combinações azul e amarelo. Os desenhos, geralmente, são de flores. Na cidade de Metepec, são feitas as peças mais representativas do México: el árbol de la vida. Trata-se de uma sequência de figuras que representa o início da vida a partir de Adão e Eva. 78 FIGURA 6 – EL ÁRBOL DE LA VIDA FONTE: <https://www.elportalinmobiliario.com.mx/articulos/metepec-y-su-arbol-de-la-vida>. Acesso em: 14 jan. 2020. 3.2 GUATEMALA Guatemala está localizada na América Central e, como é vizinha do México, compartilha a herança cultural dos povos Maia. Assim, muitas representações culturais derivam de religiões, cultos, cerimônias ou da agricultura local. 3.2.1 Máscaras As máscaras guatemaltecas têm uma função sobrenatural, pois podem repre- sentar: ritual, religião ou, até mesmo, mágica. Elas são usadas, em muitos casos, em cerimônias de iniciação ou também, no processo de cura de doenças. Sem dúvidas, as antigas civilizações que viviam no território do país desenvolviam e faziam uso das máscaras para as diversas situações. O material para a confecção é o mais diversificado possível, pois elas podem ser feitas desde peles de animais, crina de cavalos ou de madeira, que são as mais comuns. FIGURA 7 – MÁSCARAS GUATEMALTECAS FONTE: <https://www.guatemala.com/noticias/sociedad/mascaras-elaboradas-guatemaltecos-son- expuestas-museo-estados-unidos.html>. Acesso em: 27 jan. 2020. 79 Devido ao uso tão diversificado, as máscaras podem representar uma gama enorme de personagens, dentre eles, são comuns representações de indígenas, velhos, mulheres, até mesmo figuras de animais, como macacos, tigres, cachorros, ou também, figuras não reais, como diabos, caveiras etc. 3.2.2 Cestas As cestas (cestería ou canasto, em espanhol) são feitas de fibras, raízes, varas ou de folhas de plantas que são usadas, principalmente, para transporte de produtos vendidos nos mercados locais. Elas são tão populares que seu uso não pode ser limitado apenas a sua primeira função, o transporte, mas também para a valorização da cultura popular, pois são vendidas e muito procuradas em mercados, principalmente pelo público estrangeiro, que fica encantado com a destreza dos artesãos que produzem as cestas. FIGURA 8 – CESTERÍA FONTE: <http://www.amigosmap.org.mx/wp-content/uploads/2014/09/195arte.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. A confecção das cestas é um trabalho exclusivamente manual, e foi desenvolvido principalmente para auxiliar o transporte das colheitas, porém, atualmente, elas são usadas também para transportar brinquedos, comidas, objetos em geral. Por essa razão, ela pode ter vários tamanhos, formas e cores. Atualmente, nos mercados, o que se predomina são as cores mais vivas e vibrantes: rosa, amarelo, verde, azul, todas juntas, transformando a cesta em um artefato colorido. Na Guatemala, existem dois principais centros “cesteiros”, que se localizam na zona central do país: San Juan Comalapa e San José Poaquil. 80 4 MÚSICA Teoricamente, a música é considerada uma arte que se forma a partir de dois elementos básicos: sons e ritmos. Entretanto, sabemos que a prática musical vai além desses dois elementos, ela é um elemento cultural de grande notoriedade e importância nas mais diversificadas culturas. Por essa razão, diversas civilizações, desde os primórdios até a atualidade, usam a música como forma de expressão cultural, social e política colocando nas melodias as manifestações e questões específicas daquele povo. A música tem uma grande importância nas mais diversificadas sociedades pois a sua manifestação se dá, principalmente, de maneira coletiva, como em festas, rituais religiosos e funerais. Os contextos social e cultural nunca são dissociados da música, pois ela representa as características específicas de um povo. A música pode ser dividida em quatro grandes grupos: a música erudita, música popular, música tradicional e a música religiosa. Todas essas divisões são representadas de alguma maneira na música da América Latina. 3.3 EL SALVADOR Por estar situado na América Central, El Salvador, é um país com a arte popular bem semelhante aos países vizinhos, pois são espaços antes habitados pela cultura maia. Assim, a população Salvadorenha, produz sua arte de maneira muito parecida com o que já vimos anteriormente. O país possui centros de olaria em todo seu território, com grande destaque a Guatajiagua, localizado na parte lestedo país, que concentra os maiores centros cerâmicos tradicionais, cujas peças são feitas, principalmente, por mulheres que seguem e confeccionam o material a partir de técnicas pré-colonização, e todas feitas à mão. As peças desenvolvidas geralmente são utensílios domésticos ou objetos de decoração, como bonecos e miniaturas, até mesmo galinhas, em que dentro da galinha há outras miniaturas que podem representar imagens religiosas ou, até mesmo, eróticas. Além dos centros de olaria, podemos destacar, também, a confecção de tecidos do país. As mulheres indígenas têm grande relevância na produção dos tecidos, que são feitos de fibras vegetais. Geralmente, os tecidos são feitos com tear, com pedais, e são produzidas colchas, telas, cortinas etc. 81 A música latina tem uma variedade desde a composição até as melodias, que podem ser das mais simples até as mais sofisticadas. Elas nascem a partir da riqueza da herança das culturas indígenas, africanas e europeias, como por exemplo a forma de escrita dos versos na composição de canções de origem espanhola, estrofes com dez versos. Além disso, a influência da música africana aparece nitidamente nos ritmos como: rumba cubana, cumbia colombiana, samba, marimba equatoriana etc. Além das influências de outros continentes, os povos indígenas têm grande influência nas músicas latinas, sobretudo na confecção de instrumentos que, em geral, são de sopro ou percussão, como o tlapitzlli (uma espécie de flauta) ou teponaztli (tambor de madeira). FIGURA 9 – TLAPITZLLI FONTE: <https://i.etsystatic.com/14225123/r/il/93a221/1929229575/il_794xN.1929229575_3m64.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. FIGURA 10 – TEPONAZTLI FONTE: <https://mna.inah.gob.mx/images/pieza_mes/Teponztli-principal.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. Na América Latina, a música sempre teve grande importância, principalmente no contexto político, pois, através da música, diversos artistas expressavam suas insatisfações com o Estado. Neste tópico, não poderíamos deixar de falar da música Latinoamérica, do grupo musical Calle 13: 82 Latinoamérica Calle 13 Soy Soy lo que dejaron Soy toda la sobra de lo que te robaron Un pueblo escondido en la cima Mi piel es de cuero por eso aguanta cualquier clima Soy una fábrica de humo Mano de obra campesina para tu consumo Frente de frio en el medio del verano El amor en los tiempos del cólera, mi hermano El sol que nace y el día que muere Con los mejores atardeceres Soy el desarrollo en carne viva Un discurso político sin saliva Las caras más bonitas que he conocido Soy la fotografía de un desaparecido La sangre dentro de tus venas Soy un pedazo de tierra que vale la pena Soy una canasta con frijoles Soy Maradona contra Inglaterra anotándote dos goles Soy lo que sostiene mi bandera La espina dorsal del planeta es mi cordillera Soy lo que me enseño mi padre El que no quiere a su patria no quiere a su madre Soy América Latina Un pueblo sin piernas pero que camina, oye Tú no puedes comprar al viento Tú no puedes comprar al sol Tú no puedes comprar la lluvia Tú no puedes comprar el calor Tú no puedes comprar las nubes Tú no puedes comprar los colores Tú no puedes comprar mi alegría Tú no puedes comprar mis dolores (2x) Tengo los lagos, tengo los ríos Tengo mis dientes pa' cuando me sonrío La nieve que maquilla mis montañas Tengo el sol que me seca y la lluvia que me baña Un desierto embriagado con bellos de un trago de pulque Para cantar con los coyotes, todo lo que necesito Tengo mis pulmones respirando azul clarito La altura que sofoca 83 Soy las muelas de mi boca mascando coca El otoño con sus hojas desmalladas Los versos escritos bajo la noche estrellada Una viña repleta de uvas Un cañaveral bajo el sol en cuba Soy el mar caribe que vigila las casitas Haciendo rituales de agua bendita El viento que peina mi cabello Soy todos los santos que cuelgan de mi cuello El jugo de mi lucha no es artificial Porque el abono de mi tierra es natural Tú no puedes comprar al viento Tú no puedes comprar al sol Tú no puedes comprar la lluvia Tú no puedes comprar el calor Tú no puedes comprar las nubes Tú no puedes comprar los colores Tú no puedes comprar mi alegría Tú no puedes comprar mis dolores Não se pode comprar o vento Não se pode comprar o sol Não se pode comprar a chuva Não se pode comprar o calor Não se pode comprar as nuvens Não se pode comprar as cores Não se pode comprar minha'legria Não se pode comprar minhas dores No puedes comprar al sol No puedes comprar la lluvia Vamos caminando Vamos dibujando el camino No puedes comprar mi vida Mi tierra no se vende Trabajo bruto pero con orgullo Aquí se comparte, lo mío es tuyo Este pueblo no se ahoga con marullos Y si se derrumba yo lo reconstruyo Tampoco pestañeo cuando te miro Para que recuerdes mi apellido La operación cóndor invadiendo mi nido Perdono pero nunca olvido, oye 84 Aquí se respira lucha (Vamos caminando) Yo canto porque se escucha (vamos caminando) Aquí estamos de pie Que viva la América No puedes comprar mi vida Composição: Rafael Ignacio Arcaute FONTE: <https://www.vagalume.com.br/calle-13/latinoamerica.html>. Acesso em: 15 jan. 2020. A música, do grupo porto-riquenho Calle 13, foi lançada em 2011, e conta com a participação de três artistas muito relevantes em seus países, Susana Baca, do Peru, Totó la Momposina, Colômbia e Maria Rita, do Brasil. Latinoamérica ganhou dois prêmios no Grammy Latino de 2011: Gravação do Ano e Canção do Ano. Ela representa, de uma forma muito bonita, a música latina, que é, sobretudo, uma música que fala de fatos históricos e socioculturais de maneira crítica e em formato de canção, o que é muito popular na música latina. Ademais, a música latino-americana tem esse aspecto desde as décadas de 1950, quando se deu início a um movimento que teve grande relevância e impacto na cultura latina: o movimento Nueva Canción. Esse movimento teve início nos anos de 1960, e surgiu com a intenção de vários artistas comporem canções com denúncias sociais incorporando-as aos elementos da música folclórica. O movimento não se deu apenas em um único país, tendo variantes no Chile, Argentina, Cuba. No Chile, o movimento se consolidou no fim da década de 1960, com a finalidade de promover a recuperação da música folclórica chilena, para isso, o movimento contou com o apoio de vários folcloristas: Violeta Parra, Margot Loyola, Gabriela Pizarro, Héctor Pavez etc., e de poetas como Pablo Neruda e Nicanor Parra. Na Argentina, o movimento teve início uma década antes do Chile, em 1950, durante o governo de Juan Domingo Perón. A Nueva Canción argentina teve um caráter bastante representativo no folclore nacional, visto que os artistas que se destacaram são conhecidos pelas composições e interpretações de músicas folclóricas, como: Los Fronterizos, Los Chalchaleros, Atahualpa Yupanqui, César Isella e Mercedes Sosa. A música, na Argentina, tem grande destaque, pois trata-se de um país com uma diversidade de ritmos e gêneros muito variada. O tango, por exemplo, é um estilo musical e uma dança muito popular no país, com grande destaque principalmente na capital, Buenos Aires, e é considerada a música tradicional com mais força no país, inclusive recebendo o título de Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2009. 85 Além do mais, outros ritmos também são de grande destaque, sobretudo a música folclórica ou, como chamam, o folklore, que já vimos que teve grande destaque, sobretudo, no movimento Nueva Canción. O rock nacional ou o rock argentino também tem grande repercussão quando se trata de música argentina. Tem seu surgimento no final da década de 1960 e até hoje tem grande destaque no país, lotando shows em diversos estádios e, até mesmo, nos festivais, como o de Cosquín, mencionado no tópico sobre folclore. O rock teve e tem até hoje grande destaque por também ser reconhecido como um ritmo de resistência, em que os artistas fazem uso de ascanções para poder protestar e expressar sua indignação frente ao autoritarismo do Estado. A música argentina tem, desde muito tempo, a característica de ser, sobretudo, uma forma de resistência e luta, que expressa através de melodias e canções o pensamento político e social. Na Colômbia, a cumbia é um ritmo tipicamente colombiano, que teve fronteiras rompidas e hoje está presente em diversos países latino-americanos. Sua origem se dá pelas influências africanas na região da América. O ritmo tem uma ampla variedade de instrumentos que determinam e representam a cumbia em suas duas formas: moderna e clássica. A cumbia clássica conta com instrumentos como a gaita, maracas, e tem características e melodias da música indígena. Já a cumbia moderna, os instrumentos são as maracas, tambores (chamador, alegre etc.), típicos da região caribenha. Ademais, uma grande diferença entre as duas formas é que a cumbia clássica conta apenas com o som instrumental, não há ninguém cantando, ao contrário da cumbia moderna. Em Cuba, a música e a dança são de grande expressão no país, e quase que indissociáveis. Suas origens e influências são, como quase em todo território americano, o europeu e o africano, o que determina, principalmente as principais vertentes da música cubana: afro-cubana e euro-cubana. Assim, o merengue e a salsa apresentam as influências dos colonizadores europeus, e o mambo representa as influências dos povos africanos que foram trazidos ao país como escravos. A salsa representa uma mistura de diversos ritmos musicais latinos e teve sua maior representação em Nova Iorque, como forma de representação da música latina. Entretanto, o ritmo existe em Cuba desde antes da década 1940, mas, somente em 1970, em Nova Iorque, o ritmo ganhou esse nome. Por tratar-se de um ritmo tão alegre e dançante, o nome salsa foi escolhido justamente pelo ritmo ser entendido como um tempero da cultura. O merengue se dá ao som de saxofones, acordeões, trompetes e teclados. Ele é popularmente conhecido em diversos países latinos e recebeu esse nome por tratar-se de um passo de dança em que consistia em um pé fazer a marcação do ritmo e o outro ser arrastado no chão. Já o mambo é um ritmo com origens africanas e que também é conhecido por ser muito animado e dançante. Os instrumentos geralmente usados para a melodia são o piano, trombone, saxofone, trompete. 86 5 DANÇA Assim como a música, a dança é uma das artes mais representativas da cultura de uma população. Em teoria, ela se dá a partir de movimentos do corpo em um ritmo determinado obedecendo, ou não, uma série de movimentos predeterminados ou livres. Da mesma forma que a música, a dança é muito peculiar e particular de um determinado país, povo ou cultura. Assim, a dança hispânica não poderia ser apenas determinada e representada por apenas uma ou duas danças típicas. Apesar de terem herdado uma mistura dos ritmos europeus, africanos e indígenas, cada país adaptou essas heranças a seu modo, dando vida aos mais diversos e ricos ritmos e danças. Devido à rica diversidade de ritmos, e aos ritmos não estarem limitados as fronteiras, vamos destacar, neste tópico, algumas danças populares, e mencionar em que países elas predominam e aparecem. FIGURA 11 – TANGO FONTE: <https://viajantesolo.com.br/wp-content/uploads/2015/04/Tango-em-Buenos-Aires-El-Querandi- Viajante-Solo-696x465.jpg>. Acesso em: 23 jan. 2020. 5.1 TANGO Quando pensamos em ritmos latinos, um dos primeiros que vem a nossa cabeça é o tango, uma marca da dança e cultura argentina. Entretanto, nem sempre foi assim. O ritmo surgiu nos subúrbios de Buenos Aires, por volta dos anos de 1880 e, mesmo sendo conhecido hoje como sinônimo de sensualidade, melancolia e paixão, antigamente o ritmo era considerado vulgar e malvisto pela sociedade argentina. Naquela época, a Argentina estava recebendo muitos imigrantes europeus, em geral homens, para trabalhar e ser mão de obra no país. Esses homens, muitas vezes, não vinham acompanhados de suas famílias e acabavam ficando sozinhos. Para terem 87 companhia e conseguir algum prazer sexual, esses imigrantes buscavam, normalmente, os bordéis da cidade. Assim, com tantos imigrantes e a incessante busca desses homens por prazer, inúmeros bordéis foram abertos, entretanto, não conseguiam vencer a grande demanda, deixando com que esses homens formassem filas nas portas, ou tivessem que aguardar nos salões algumas horas até conseguirem ser atendidos. Para distrair esses homens, deu-se o surgimento de um ritmo que misturava a polca europeia, havaneira cubana, candomblé uruguaio e a milonga espanhola, e essa mescla deu vida ao mais novo ritmo argentino: o tango. No Século XIX, o tango ficou conhecido como um ritmo imoral, por ser popular nos bordéis e pelas letras das canções retratarem e descreverem o ambiente em que ele foi criado. Além disso, o tango daquela época muito se diferenciava da atualidade, pois era um ritmo mais alegre e sem ares de melancolia. No Século XX o ritmo ganhou novas perspectivas, principalmente por conta de Carlos Gardel, cujas composições deram uma nova cara ao ritmo, trazendo a ele um ar mais melancólico e menos vulgar. Sua popularidade tornou-se ainda maior quando Gardel e Alfredo Le Pera compuseram a música El día que me quieras, para o filme de mesmo nome, tornando o tango um ritmo de grande sucesso. FIGURA 12 – FILME EL DÍA QUE ME QUIERAS FONTE: <http://cinemalivre.net/imagens/capas/el_dia_que_me_quieras_o.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. Além do mais, o ritmo é tão bem quisto que, no ano de 2009, foi integrado pela UNESCO na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. 88 5.2 CUMBIA A cumbia é um ritmo conhecido principalmente na Colômbia, é uma dança que mescla a cultura indígena e africana, sendo considerada um ritmo folclórico, como já vimos anteriormente. Mistura os tambores africanos, com as danças indígenas e se desenvolve de maneira única através de melodias colombianas, ou seja, é uma mescla muito bonita das culturas dos povos marginalizados durante o período de colonização. FIGURA 13 – CUMBIA COLOMBIANA FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/b2/6e/18/b26e18bcd4d893e41e6c1ee4bb241be3.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. Por ser um ritmo dançado por casais, cada um na dupla tem uma função específica. As mulheres, com suas saias longas e rodadas seguram em uma mão uma vela e com a outra mão seguram sua saia, já os homens ficam atrás das mulheres e dançam com uma mão nas costas e a outra segurando seu Sombrero Vueltiao. Ainda que seja um ritmo dançado por um casal, eles dividem o salão com outras duplas, sempre esperando sua vez de poder adentrar ao centro do salão e poderem fazer suas performances. No Tópico 3, veremos um pouco mais sobre os patrimônios culturais e, além disso, na Unidade 3, vocês trabalharão com a temática específica de Patrimônios Culturais Materiais e Imateriais. ESTUDOS FUTUROS 89 5.3 MAMBO Mais um ritmo derivado da música africana, porém, o mambo teve grande influência do jazz e da cultura estado-unidense. Isso se deve porque, em 1940, em Cuba, o ritmo mambo, surgiu, porém, não tinha ainda um nome conhecido e tampouco era popular. Entretanto, antes da revolução, muitos norte-americanos, mexicanos vinham até Cuba e desfrutavam de toda sua cultura local. Assim, o ritmo começa a ficar conhecido entre cubanos, mexicanos e norte-americanos, até que em 1951 o mambo torna-se popularmente conhecido. Toda a popularidade deu-se por conta de um personagem específico, o rei do mambo: Pérez Prado, pianista e compositor cubano. O artista tornou o ritmo mundial- mente conhecido após fazer uma turnê junto a sua orquestra pelos Estados Unidos. Aliás, você conhece a música Mambo #5? Provavelmente, você já escutou essa música em algum momento da sua vida, visto que ela fez grande sucesso no ano de 1999. Entretanto, apesarde ser interpretada por Lou Bega, a música foi escrita e composta por Pérez Prado, em 1949 e é uma grande representante do Mambo, ritmo típico cubano. FIGURA 14 – MAMBO FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTaxcJv8IQ9-dTX8mozuKVPK6zYmoLd fB8SUpbefhd5OXuvhowZ&s>. Acesso em: 15 jan. 2020. Em grandes competições de dança, o ritmo cubano é considerado um dos mais difíceis, visto que sua dança exige muita técnica e precisão. A dança é bastante acelerada e mescla passos no solo com acrobacias, onde o dançarino ajuda sua parceira em suas manobras no ar. 90 5.4 FLAMENCO Diferentemente dos ritmos vistos anteriormente, a dança flamenca tem origem cigana e influências árabes e judaicas. Seu destaque se dá na região de Andaluzia, na Espanha. Assim como o tango, a dança flamenca foi, também, inserida na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, no ano de 2010. Apesar de ser um ritmo europeu, a dança não se livrou dos preconceitos até chegar ao seu momento de consagração e, devido a isso, um pouco de sua história foi perdida, já que não era considerada uma dança relevante, não se acreditava que era necessário fazer registros escritos sobre a história da dança. Além do mais, a cultura cigana sempre foi passada de maneira oral, o que dificultou ainda mais qualquer informação ou registro histórico. Sabe-se que o flamenco nem sempre foi o que nós conhecemos atualmente, e que as primeiras representações do ritmo eram apenas através do canto e, em seguida, inseriu-se melodias com o auxílio de instrumentos como o violão, ou palmas e sapateados. A dança e as castanholas vieram por último, porém, não deixaram de ser importantes, tornando o ritmo ainda mais conhecido e apreciado. Sua época de ouro aconteceu nos anos de 1889 até 1910, momento em que os ciganos aproveitavam da popularidade dos cafés das cidades para fazer apresentações artísticas. FIGURA 15 – FLAMENCO FONTE: <https://ichef.bbci.co.uk/images/ic/640x360/p05r3kv2.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. 91 6 GASTRONOMIA Agora vamos pensar na gastronomia, ela também faz parte da cultura, mesmo não sendo uma “arte”? Se ficou com dúvidas, a resposta é sim. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a comida não é apenas um modo de manutenção da existência humana, não comemos apenas para sobreviver, a alimentação tem significados e (CASTRO; MACIEL; MACIEL, 2016) está diretamente relacionada como um elemento cultural. Segundo Castro, Maciel e Maciel (2016, p. 19), “todos os grupos humanos têm cultura. É esta que produz as diferenças, as particularidades, gerando grande diversidade a partir de uma base biológica comum”, ou seja, a partir de uma ação biologicamente necessária e indispensável, também acontece a produção da cultura. Através da comida, podemos determinar e reconhecer diversos fatores históricos e culturais de um determinado meio social. Sendo assim, pensando na culinária hispânica e, sobretudo, latino-americana, os pratos típicos e a cozinha cotidiana estão diretamente ligadas ao clima, à geografia e, principalmente, das interferências históricas, pois trata- se de países colonizados onde o espaço estava sendo compartilhado por indígenas nativos, europeus colonizadores e africanos escravizados. Contudo, as interferências estrangeiras e os fatores históricos fizeram com que a gastronomia e culinária latino- americana se tornasse uma das mais ricas e procuradas, competindo igualmente com técnicas antigas da culinária francesa, italiana e até mesmo, espanhola. Agora você, tente lembrar alguns pratos típicos latino-americanos que você conhece, são muitos ou poucos? Vamos conhecer alguns pratos tipicamente hispânicos, sua história e o modo como é feito. Você conhece algum prato em que o ingrediente principal não é cozido, mas, sim, servido cru? O Ceviche é um prato típico da culinária peruana em que o ingrediente principal, o peixe, é servido cru. Não se sabe muito bem sua origem, mas o primeiro registro do prato estima que ele surgiu cerca de 2000 a.C., entretanto, o prato é tão popular no país, que existem milhares de restaurantes especializados por todo território peruano, as chamadas “cevicherías”. O prato é feito a base de peixe-branco e cru, marinado em um suco de limão ou algum líquido cítrico. Normalmente o peixe usado é o atum, por ser um peixe-branco e de carne firme, que permite ser cortado em pequenos blocos. Ademais, outros frutos- do-mar também podem ser o ingrediente principal, como o camarão, lagosta ou polvo. Outro ingrediente muito importante do ceviche é o leche de tigre, um suco feito com o peixe marinado, limão e outros ingredientes. Por conta do tempo marinando, o líquido fica com uma cor branca, e por isso é chamado de leite. O nome tigre se dá devido ao fato do molho também ser usado na cura de ressaca, dando força a pessoa que o ingere. 92 Outros ingredientes indispensáveis para a elaboração do ceviche é a cebola e pimenta, mas ele também pode vir acompanhado de outros legumes e temperos. FIGURA 16 – CEVICHE FONTE: <https://images.app.goo.gl/WDoqHoFo8Nsq2Y626>. Acesso em: 15 jan. 2020. No México, apesar do guacamole ter grande notoriedade e ser reconhecida mundialmente, o prato que vamos conhecer é muito parecido e chega a ser comparado com as panquecas, se chama enchilada. Sua base é uma massa feita de milho, recheada, geralmente, com carne bovina, feijão ou outro condimento, sempre com um molho em cima, coberto por azeitonas ou queijo. Acredita-se que as enchiladas são uma nova versão das tortillas, outro prato tipicamente mexicano. FIGURA 17 – ENCHILADA FONTE: <https://food.fnr.sndimg.com/content/dam/images/food/fullset/2012/10/1/0/WU0308H_simple- perfect-enchiladas_s4x3.jpg.rend.hgtvcom.826.620.suffix/1382541970364.jpeg>. Acesso em: 15 jan. 2020. 93 Sabemos que a culinária hispânica é regada a fartura e muitos ingredientes e, ainda que alguns dos seus pratos sejam cobertos de uma carga histórica imensa, sua diversidade permite que receitas mais novas também sejam facilmente incorporadas à culinária nacional, como aconteceu com a Bandeja Paisa, um prato tipicamente colombiano, mas que não tem nenhum tipo de registro histórico antes dos anos de 1950. O prato consiste em uma grande abundância de carboidratos por conta da região em que foi criado, pois o povo que vivia na região da Antioquia trabalhava de forma pesada e com longas jornadas de viagem, assim, o prato deveria suprir os gastos energéticos demandados por todas as horas e energias que foram gastas. Bandeja Paisa é um prato que se constitui com vários ingredientes que podem ser: arroz, feijão, alguma carne, banana, abacate, ovos fritos, arepas etc. É um prato carregado de ingredientes com tamanha diversidade. A popularidade do prato é tão grande, que ele se converteu em um prato nacional da Colômbia. FIGURA 18 – BANDEJA PAISA FONTE: <https://cdn.colombia.com/sdi/2011/08/02/bandeja-paisa-500927.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. 94 Neste tópico, você aprendeu: • O folclore é de extrema importância para a cultura latino-americana, e que apesar de ser uma representação popular, se constitui a partir da individualidade de cada indivíduo. • As representações artísticas populares sofreram extrema influência dos povos indígenas e dos povos imigrantes pós-colonização: europeus e africanos. • A música e a dança contemplam estilos e ritmos que, apesar de terem influências de outros povos, são usadas como formas de expressão cultural, social e política. • A comida, apesar de não parecer, é sim uma forma de expressão cultural, contem- plando diversos aspectos socio-históricos de uma sociedade. RESUMO DO TÓPICO 1 95 AUTOATIVIDADE 1 São muitas as discussões acerca do que é considerado folclore, de acordo com as informações do Tópico 1, assinale V para verdadeiro e Fpara falso sobre o que pode ser considerado folclore: ( ) O folclore surge a partir da vivência de cada indivíduo, pois o folclore se trata de uma individualidade coletiva, que representa o povo e que produz e reproduz novas práticas que são passadas de geração para geração. ( ) O folclore é uma construção unicamente coletiva, pois trata-se de uma herança dos antepassados, dessa forma, as sociedades produzem músicas, provérbios, trabalhos manuais que foram passados de geração para geração. ( ) O folclore pode ser: cantiga de ninar, rimas, ditos, provérbios, fábulas, estórias, contos populares, cantos, danças, jogos etc. ( ) O folclore apenas representa a cultura imaterial, ou seja, canções, contos, lendas, ditos, pois é passada de geração para geração através da oralidade. 2 A arte popular tem grande destaque na cultura hispânica pois representa as expressões artísticas de grande relevância para uma determinada sociedade. Leia as afirmações a seguir. I- A arte popular é todo tipo de produções artísticas com valor relevante e que não são feitas por pessoas que não são especialistas em arte, sempre por trás de uma obra há uma pessoa que é especializada na área. II- O artesanato é considerado uma arte popular de grande relevância não somente cultural, mas também econômica. III- A arte popular tem sua origem em regiões mais afastadas, entretanto, cada vez mais está ganhando espaço nas grandes cidades e centros urbanos. IV- O Peru é o país em que há mais artesãos na capital, cidade de Lima, do que em regiões afastadas, como de costume. De acordo com as afirmativas, podemos assinalar que estão CORRETAS: a) ( ) I e II. b) ( ) II e III. c) ( ) III e IV. d) ( ) I e IV. e) ( ) Todas estão corretas. 96 97 FOLCLORE UNIDADE 2 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO Como você já viu no Tópico 1, o folclore é de tamanha importância na cultura hispânica e, sobretudo, na cultura latino-americana. O Tópico 2 será dedicado às mais diversas formas e expressão do folclore tradicional e como ela pode ser exposta. Então, a seguir, você verá a presença do folclore nas crenças e religiões de cada sociedade, as rezas e benzeduras que podem acontecer em rituais religiosos. Ademais, indo de encontro à vida cotidiana, vamos abordar a presença e os variados ditados populares e costumes dos países hispânicos. 2 CRENÇAS E RELIGIÕES A mescla de povos e culturas atingiu a América Latina de diversas formas, como você já viu anteriormente, através de representações artísticas, culturais e também através da religião. No continente americano, a religião tem grande importância por conta dos povos colonizadores que, através da religião, conseguiam obter novas formas de coerção e ordem. O catolicismo teve grande destaque nesse período de colonização, e auxiliou o processo de “ordem”. Assim, e pensando no processo histórico, a igreja católica ainda é, desde os tempos de colonização, a religião de maior adesão e pertencimento dos países latinos (ORO, 2008). Acadêmico, você verá com mais profundidade a relação dos países hispânicos com as religiões na próxima unidade. ESTUDOS FUTUROS 98 A partir do Século XX, começou a acontecer um processo de visibilidade das religiões e crenças dos povos indígenas presentes antes do processo colonizador e que, de certa forma, tornaram-se “invisíveis” por conta da hegemonia cristã que predominava o continente colonizado. Com isso, a América Latina é, junto a Europa, o continente com maiores perdas de fiéis da igreja católica (STROTMANN, 2008 apud RODRÍGUEZ, 2011). Junto a esse movimento, muitos países passaram também a fazer a separação entre Igreja e Estado, tornando-se, então, um estado laico. Segundo Gutiérrez (2017), Uruguai foi o primeiro país a estabelecer essa separação, no ano de 1905. Em seguida, o México também estabeleceu a separação, entretanto, a religiosidade popular se manteve. Segundo Fidanza e Suárez (2016), a religiosidade popular é uma das formas de manifestação do ser, de estar, e expressar uma vinculação com o sagrado e, ademais, ela indica os modos como o indivíduo vê o mundo, compreende sua origem, a origem da vida, do homem, a ordem da sociedade etc. A religião rege, através de símbolos ou dogmas, questões morais e sociais dos indivíduos. Ainda que muitos países latinos sejam majoritariamente cristãos, católicos ou evangélicos, as crenças e religiões dos países na região do Caribe e América Central se dão a partir de muitas crenças populares das culturas dos seus ancestrais. No caso do Caribe, a religiosidade é fundamentalmente sincrética, expressando uma riqueza de matizes multicoloridos. Desde os tempos da conquista houve a interação da religião católica, como vários séculos depois das protestantes, com os rituais dos povos nativos e com os cultos afros (GUTIÉRREZ, 2017). Assim, ainda que haja a presença de religiões de fundamento cristão, as cerimônias, cultos e ritos feitos para diversos outros tipos de divindades estão presentes de maneira bastante aparente, e adquirem cada vez mais visibilidade nesses países, como veremos adiante. O espiritismo, uma doutrina de cunho filosófico que se baseia nos estudos do pensador Allan Kardec tem grande popularidade e importância em países como: Cuba, República Dominicana, Porto Rico e, inclusive, no Brasil. Assim como em outras religiões, o espiritismo tem duas vertentes: uma considerada oficial e, até mesmo científica, e outra popular. A primeira, considerada científica, recebe influências do cristianismo popular e de cultos africanos. Já o espiritismo popular “pretende proporcionar respostas aos conflitos da vida cotidiana, tais como problemas familiares, enfermidades e padecimentos emocionais” (GUTIÉRREZ, 2017, s.p.). “A santería, outra vertente religiosa, é o culto afro-cubano que combi- na elementos do catolicismo espanhol com as religiões africanas” (GUTIÉRREZ, 2017, s.p.). São cultos próprios da região Caribenha e suas práticas são caracterizadas por ritos de sacrifícios e oferendas para agradecer ou pedir algo. A santería é mais po- pular, e conta com elementos e personagens como caboclos, pretos velhos e orixás (GUTIÉRREZ, 2017). 99 As religiões indígenas tornaram-se visíveis após o Século XX mas, é impor- tante sinalizar que elas existem desde muito antes do processo colonizador, e por conta de todo o processo, elas foram silenciadas. Entretanto, diferentemente das outras ma- nifestações religiosas, as religiões indígenas têm características que as difere, a exem- plo de três aspectos que podem ser a base da religião, como animismo, toteísmo e o xamanismo. A primeira, trata-se de povos que creem que todo material orgânico possui uma alma equivalente à alma humana. Todas as ações feitas por esses corpos orgânicos são feitas por alguma razão e com um propósito. Assim, a natureza, plantas, árvores, animais etc., possuem uma alma humana que determina suas ações fazendo com que a divindade seja totalmente voltada a esses corpos orgânicos. O toteísmo é, basicamente, a afinidade mística que o homem possui com um material inanimado, denominado totem. Assim, acredita-se que os totens são seres místicos com poderes que podem ajudar o homem na resolução de problemas, assim como, também devem ser adorados e venerados. Por último, o xamanismo é o termo usado a práticas de magia feitas para que haja uma conexão entre homem, espírito e natureza, com rituais com a finalidade de estabelecer contato com o mundo espiritual. No xamanismo, acredita-se em um ser superior, o ser celeste, que não tem forma, gênero, tampouco é humano ou animal, ou seja, é como se fosse um campo energético, uma força maior. Ainda que seja uma das principais religiões monoteístas, vale destacar o Judaísmo como uma religião de bastante relevânciana América Latina, visto que, a população judaica é uma das maiores no continente e, está na Argentina, a maior população judaica da América Latina. Os judeus, denominação para aqueles que seguem a religião judaica, é um grupo etno-religioso, visto que as pessoas podem nascer judias ou podem ser convertidas à religião. Vale destacar que a conversão se trata de um processo lento, pois o processo não acontece tal qual a “evangelização” que foi comum nos Séculos XVII, XVIII. O judaísmo é a mais antiga religião reconhecida pela Torah (livro sagrado judaico). Assim como o cristianismo e o islamismo, o judaísmo é também uma das religiões monoteístas abraâmicas mais relevantes. Assim como o cristianismo, o judaísmo tem seus próprios escritos, conhecido também como Torah Escrita, um pergaminho onde encontra-se escrita a Lei Judaica. Os escritos judaicos são todos em hebraico, ou seja, as cerimônias religiosas, ainda que aconteçam em diversos países, são feitas em hebraico. 100 FIGURA 19 – TORAH FONTE: <http://s2.glbimg.com/fsmdiLfMBdcVLMYqkKHvrK-hjOg=/s.glbimg.com/jo/g1/f/ original/2013/05/29/tora.jpg>. Acesso em: 23 jan. 2020. A lei judaica, também conhecida como Halacá, mencionada no Torá diz, resumidamente, que o homem deve seguir pelo caminho da vida boa, ou seja, rege as orientações, hábitos, costumes e modos de agir dos judeus. Por tratar-se de um escrito sagrado, a Torá e a lei judaica devem ser seguidas rigorosamente, pois tem a origem divina e é considerada eterna e imutável. Ademais, o judaísmo pode ser subdividido em três grupos: judaísmo ortodoxo, judaísmo conservador e judaísmo reformista. A principal diferença entre cada uma das vertentes judaicas é na forma como interpretam e seguem a Halacá, onde os conservadores e reformistas são considerados mais liberais, enquanto os ortodoxos são mais rígidos. 3 REZAS E BENZEDURAS As rezas e benzeduras podem ser reconhecidas como manifestações religiosas, como forma de súplicas ao divino, ao místico a espíritos. As rezas, normalmente, são destinadas a uma divindade específica, e pode ser feita como forma de súplica ou agradecimento. Normalmente, o fiel recorre à reza de joelhos, mãos encostadas e olhos fechados, com a finalidade de que ocorra uma ligação maior entre ele e a divindade desejada. As mais conhecidas são católicas, Ave Maria e Pai-Nosso que, em espanhol, recebem o nome de Díos te salve María e Padre Nuestro: 101 Díos te salve María Dios te salve, María, llena eres de gracia, el Seńor es contigo. Bendita tú eres entre todas las mujeres, y bendito es el fruto de tu vientre, Jesús. Santa María, Madre de Dios, ruega por nosotros, pecadores, ahora y en la hora de nuestra muerte. Amén Padre Nuestro Padre nuestro, que estás en el cielo, santificado sea tu Nombre; venga a nosotros tu reino; hágase tu voluntad en la tierra como en el cielo. Danos hoy nuestro pan de cada día; perdona nuestras ofensas, como también nosotros perdonamos a los que nos ofenden; no nos dejes caer en la tentación, y líbranos del mal. Amén. As benzeduras, em espanhol, podem ser traduzidas como brujerías e fazem parte da vida cotidiana de muitas pessoas, principalmente nos continentes americano e africano. Mesmo sendo uma representação religiosa, ela não parte da crença de um único Deus, muito pelo contrário, ela parte do próprio homem e da sua fé interior. Ou seja, ela representa a esperança, fé e crença que aquele indivíduo tem dentro de si para, então, ajudá-lo a solucionar qualquer tipo de entrave que encontra na sua vida. Como já visto anteriormente, na América Latina, as práticas de brujerías carregam uma bagagem de mistura de tradições e costumes de diversos povos, principalmente dos africanos e indígenas, com seus rituais e sacrifícios. No México, a prática de buscar pessoas que trabalham com essas manifestações é bastante comum e varia de acordo com cada estado. Entretanto, o número de pessoas que fazem esse tipo de função é bastante representativo. Em geral, o indivíduo recorre aos rituais com a finalidade de buscar uma solução e ajuda para os mais diversos tipos de problemas cotidianos. Dessa forma, os brujos contam com o auxílio de uma divindade, anjo ou espírito que possa auxiliar no desfecho do problema. 102 Na Guatemala, o molem é uma doença bastante conhecida entre a população, seja ela médica ou religiosa, visto que, a enfermidade é considerada por muitos médicos e estudiosos uma doença mental, embora suas causas ainda sejam desconhecidas. La cuarta enfermedad se trata de el Molem, una de las más difíciles de traducir, hasta el momento la hemos traducido como “tiene un poco de todo”, pero por la asociación con algunos de sus principales síntomas se ha mal traducido popularmente como anemia, sin que ello tenga que ver con lo que médicamente describe tal enfermedad. Es común también escuchar Molelem yabil, que quiere decir “enfermedad recogida, obtenida”, de alguna manera esta expresión adelanta la explicación sobre su etiología, recogida u obtenida, da la idea de contagio. Y efectivamente en este padecimiento se agrupan una serie de manifestaciones somáticas que tienen origen primario, viral, parasitario y/o bacteriano. Sin embargo la etiología e interpretación cultural de estas manifestaciones es lo que nos hace agruparla como problema psicosocial, ya que para el pensamiento médico maya no podemos aislar a los problemas físicos de la realidad social, por lo que cuando se presentan varias de estas manifestaciones tenemos que encontrar más que el origen físico del problema, frecuentemente el origen está relacionado a la situación de pobreza y deterioradas condiciones sanitarias en que vive la población, en general a la situación socioeconómica y a la descomposición social que produjo el conflicto armado interno, entre sus principales causas (ALVARADO; MORALES; BAYARDO, 2005, p. 132). De acordo com o conhecimento popular, o Molem é uma doença que, para nós brasileiros, pode ser equivalente ao que chamamos de olho gordo ou inveja. O que acontece é que a pessoa com a doença começa a sofrer com sintomas que podem ser diarreia, vômito, febre etc., sem que haja uma causa específica que justifique todos os sintomas. Então, o indivíduo que busca ajuda pode ir até idosos que, ao jogarem feijões- vermelhos, buscam a origem desse fracasso que a pessoa atraiu. Pode variar entre a vida amorosa, econômica e, até mesmo na carreira. Após encontrado e solucionado o problema, os fiéis pagam a ajuda através de oferendas às entidades com objetos específicos. 4 DITADOS POPULARES Aposto que em algum momento da sua vida você já ouviu ou falou algo como “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, ou “cavalo dado não se olha os dentes”. Essas frases são conhecidas como ditados populares ou provérbios, ou seja, são frases populares que expressam, certa forma, um senso comum, algo específico de uma cultura. Apesar de serem frases muito antigas, não se sabe a autoria tampouco quando foram criadas ou quando surgiram, mas o uso é tão comum nas falas que se tornam aspectos e característica importantes de cada cultura. 103 Em português, quando falamos em ditados populares é muito fácil de lembrar de vários exemplos, mas não pense que essas frases são de uso exclusivo da cultura brasileira. A cultura hispânica também é rica de ditados populares, conhecidos como dichos populares. Neste tópico, conheceremos alguns dichos populares e o que significam: • A buen entendedor pocas palabras: esse ditado equivale ao conhecido no Brasil como “para bom entendedor, meia palavra basta”, ou seja, significa que não se faz necessário muitas explicações, poucas palavras ou pequenos atos já são necessários para compreender o que está acontecendo. • A confesión de partes, relevo de pruebas: se usa quando alguém admite seu erro e por essa razão, não se faznecessário elevar a discussão, basta que quem cometeu o erro tenha admitido e reconhecido que errou. • A falta de pan, buenas son tortas: significa que nem sempre podemos ter o que queremos, o que desejamos, • A grandes males, grandes remedios: quer dizer que quanto maior seja o problema, maior será a solução que encontraremos e maior ainda o esforço que faremos para conseguir resolver. • A la suerte, hay que ayudarla: significa que devemos sempre “ajudar a sorte”, ou seja, trabalhar, se esforçar para que as coisas aconteçam, pois, elas dependem de nós mesmos. • A palabras necias, oídos sordos: Não se deve escutar pessoas que usam das palavras para ofender ou falar besteiras. • Afortunado en el juego, desafortunado en el amor: sorte no jogo, azar no amor… Ou pode aparecer de forma contrária também. • Água que no has de beber, déjala correr: devemos manter somente o que for necessário, o que não nos acrescenta, ou é considerado desnecessário, devemos deixar ir, passar adiante. • Al enemigo que huye, puente de plata: devemos sempre facilitar a fuga, ou a ida daquilo que nos aflige, os problemas. Ou seja, para que nos livremos dos problemas, abrimos e facilitamos seu caminho. • Al mejor cazador se le escapa la liebre: ainda que seja a pessoa com maiores habilidades e destrezas, os erros são inevitáveis para qualquer um. • Al que madruga, Dios lo ayuda: “Deus ajuda quem cedo madruga”, ou seja, o quanto antes fazemos as coisas, antes recolheremos seus frutos. • Aunque la mona se vista de seda, mona se queda: A frase foi criada pelo escritor espanhol Tomás de Iriarte, na sua fábula XXVII. O ditado significa que mesmo que a pessoa tente, sua essência sempre será a mesma. • Al que no quiere caldo se le dan dos tazas: quer dizer que você deve tomar cuidado com o que deseja, pois, ao receber o que tanto se pediu, você pode não saber o que fazer. • Hierba mala nunca muere: usamos um ditado que pode equivaler: “vaso ruim não quebra”. • Al pan, pan y al vino, vino: o ditado quer dizer que devemos chamar as coisas e vê- las como elas são, sem dar rodeios. 104 • Cría cuervos y te sacarán los ojos: nesse caso pode significar: você faz o bem e ajuda pessoas que mais adiante podem te trair ou serem ingratas. • Buenos y malos martes los hay en todas partes: momentos bons e momentos ruins apareceram em nossas vidas, mas não é por conta disso que devemos deixar de pensar positivo. • Cuando el gato se va, los ratones hacen fiesta: “quando o gato sai, os ratos fazem a festa”, podemos inclusive pensar na parte prática, quando o professor sai de sala, os alunos aproveitam! • Dinero que prestaste, enemigo que te echaste: dinheiro sempre é um assunto polêmico, principalmente quando misturado a amizade, ou seja, se você emprestou dinheiro a um amigo seu, ele é um potencial inimigo, pois pode acontecer de ficar devendo. • El hombre y el oso, cuanto más feo más hermoso: significa que se deve julgar as pessoas por suas atitudes e caráter e não pela sua aparência. • Gallo que no canta algo tiene en la garganta: quer dizer que uma pessoa que não participa ou não fala sobre certo assunto deve ter algo a esconder em relação a isso. • El hambre es muy mala consejera: significa que a impulsividade nunca é uma boa conselheira, e nunca devemos agir apenas por impulso, mas sim, pensar e raciocinar antes de tomar qualquer decisão. Como você viu, os ditados populares são usados para inúmeras situações e podem carregar diversos significados. Neste tópico, você conheceu apenas alguns ditados, pois, como se trata de uma cultura tão vasta, necessitaria de um livro apenas para dedicar-se a esta arte popular, que são esses ditados. Além do mais, você pode ver que, assim como todas as outras formas de expressão artística e folclórica, os ditados também podem ser interferências de outras culturas que se fazem presentes na história da cultura hispânica latino-americana. 5 COSTUMES Uma sociedade possui diversos fatores que a identificam e diferenciam de outras, tais fatores podem ser políticos, sociais e culturais, como você já viu anteriormente. Dentro dessas características, nesse tópico, destacaremos os costumes, que, diferentemente das tradições, possuem certa flexibilidade e comprometimento formal com o passado (MAIA, 2001). O ditado popular anterior foi título de uma música do cantor porto-riquenho Chayanne, que você pode conferir através do link: https://www.letras.mus.br/chayanne/168618/traducao.html. DICA 105 Se as tradições são atos e modos sociais que não sofrem mudanças, os costumes, por sua vez, permitem inovações, desde que suas mudanças e alterações sejam compatíveis, ou até mesmo idênticas àquela precedente, ou seja, os costumes têm um sentido histórico, e o significado desses costumes está ligado de alguma forma a práticas históricas, ou seja, na transmissão de valores e práticas culturais (MAIA, 2001). Os costumes podem ser práticas sociais materiais ou imateriais, como por exemplo, a piñata, no México. Se você nunca ouviu falar, trata-se de uma brincadeira, normalmente direcionada para crianças, onde uma embalagem de papelão é enfeitada por diversos papéis coloridos, geralmente, essa embalagem tem o formato de um animal, ou objeto. Dentro da piñata são colocados diversos tipos de doces, brinquedos, ou outros pequenos artefatos para recompensar as crianças. Após toda a confecção, ela é suspensa no ar por um cordão, e um participante, vendado e com um bastão nas mãos, tenta atingi-la com a finalidade de quebrá-la para conseguir liberar os doces. A presença da piñata é muito comum em festas de aniversários. FIGURA 20 – PIÑATA FONTE: <https://www.gob.mx/cms/uploads/image/file/356640/pin_ata1.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. Outro costume mexicano são as festas de quinze anos, as chamadas quinceañera. São comemorações de aniversário nas quais uma menina é apresentada à sociedade quando completa a idade de quinze anos. Essa comemoração acontece por tratar-se de uma transição da vida de menina para tornar-se uma mulher. Nessas festas, normalmente, as meninas costumam usar um vestido feito especialmente para a ocasião, podendo ele ser voluptuoso e brilhoso ou mais discreto. Ela adentra o salão da festa após a chegada dos convidados, acompanhada do seu pai que fará sua apresentação. 106 FIGURA 21 – VESTIDOS DE QUINCEAÑERA FONTE: <http://twixar.me/KGYT>. Acesso em: 15 jan. 2020. Após a entrada, acontecem as cerimônias: dança da valsa, homenagens, brinde. Em alguns casos, as meninas recebem uma joia, geralmente um anel de ouro, de presente como marco da transição, e podem também fazer a troca do sapato, em que a menina adentra o salão com sapato baixo e, durante a cerimônia, acontece o ritual de troca de sapato por um salto alto. A celebração dos quinze anos é um costume muito comum na América Latina e, por isso, pode variar de acordo com cada país. FIGURA 22 – SALÃO DE FESTAS QUINCEAÑERA FONTE: <https://images.app.goo.gl/xjBV6WtK5MHXEpSr6>. Acesso em: 15 jan. 2020. Os costumes não se restringem somente a jovens e adultos, as crianças também sofrem influência por essas práticas sociais como, por exemplo, através de jogos e brincadeiras. As canicas, que no Brasil são conhecidas como bolinhas de gude, são pequenas bolinhas de vidro que servem para jogar diversos jogos que, em geral, são universais, mas que, como tudo, podem variar de acordo com a região. A essência do jogo é sempre 107 a mesma: jogar as bolinhas com a finalidade de chegar mais próximo ao alvo, nesse sentido, os jogadores podem atingir as bolinhas dos outros jogadores e afastá-los do alvo. FIGURA 23 – CANICAS FONTE: <https://images.app.goo.gl/TXQ4NoNS4hvdsza3A>. Acesso em: 15 jan. 2020. A rayuela, ou jogo da amarelinha, também é um costume muito popular entre as crianças hispânicas. O jogo se inicia quando as crianças desenhamno chão, com um giz, um desenho com dez quadrados com números de 1 a 10 dentro e um círculo no topo escrito “céu”. Em seguida, o jogador lança sua pedrinha no quadrado de número 1 e, ao acertar, ele deve pular com um pé dentro dos quadrados, com exceção do número que está a pedra. E assim deve ser feito com todos os números. Quando chega no céu, o jogador deve retornar pelo mesmo caminho e pegar sua pedrinha de volta. O jogador perde quando não acertar a pedrinha no número indicado, se pisar nas linhas, se não pegar a bolinha quando retorna, e se pisa no quadrado em que está a pedrinha. O nome do jogo pode variar de acordo com o país, como por exemplo: no Chile, luche; na Colômbia, coroza; na Espanha, cuadrillo etc. FIGURA 24 – RAYUELA FONTE: <https://br.guiainfantil.com/media/294/blobid1523264287287.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. Além de comemorações e brincadeiras, outro costume muito popular são as lendas e histórias, que são passadas de geração para geração através da oralidade. No Equador, duas são as lendas que mais se destacam por sua popularidade: La leyenda del padre Almeida e La Leyenda del gallo de la catedral. 108 Como muitos elementos da cultura, a fonte e os autores que criaram as lendas são desconhecidos, porém, esse fato não impediu que tais histórias se tornassem tão populares mediante a sociedade equatoriana. La leyenda del padre Almeida Padre Almeida Se dice que en el Convento de San Diego, vivió hace mucho tiempo un joven sacerdote conocido como el padre Almeida, del cual se sabía que llevaba una vida muy libertina, donde se destacaba su afición a tomar aguardiente y al juego. Todas las noches, tratando de pasar desapercibido, el padre Almeida salía del convento por una ventana que daba hacia la calle, la cual se encontraba ubicada a una gran altura y para poder llegar a ella, tenía que apoyarse en una escultura de Cristo colocada en la pared. Se rumora, que, cansado de esta situación, el Cristo todas las noches le preguntaba al libertino sacerdote: “Hasta cuando padre Almeida”, a lo que este respondía. “Hasta la vuelta señor”. Cuando pisaba la calle, el espíritu festivo del joven sacerdote se desataba, tomando demasiado aguardiente hasta que comenzaban a asomarse los primeros rayos del sol del otro día. Una de esas madrugadas, cuando regresaba al convento caminando tambaleante por las calles de Quito, se encontró con el paso de un cortejo fúnebre. Extrañado por ver la procesión a esa hora, echó una mirada dentro del féretro para saber de quien se trataba, descubriendo su propio cuerpo dentro del ataúd. Se cuenta que al joven sacerdote se le quitó la borrachera de golpe y porrazo, echó a correr como un loco y nunca más volvió a escaparse del convento para ir a beber aguardiente. FONTE: <https://www.leyendapopular.com/2013/11/padre-almeida-leyenda-ecuador.html>. Acesso em: 15 jan. 2020. 109 La leyenda del gallo de la catedral Hace mucho tiempo, vivió en la ciudad de Quito Don Ramón Ayala y Sandoval. Era un respetado y rico terrateniente al que le gustaban mucho las andanzas de la vida nocturna. Cada noche convivía con sus amigos más allegados, con los que compartía un gran número de copas de licor. A Don Ramón le gustaba tocar la guitarra mientras bebía con sus amigos. Durante sus parrandas, cantaba junto con sus acompañantes muchas canciones del repertorio tradicional de música popular. Se decía que el rico hacendado estaba ena- morado de una joven llamada Mariana, la cual vivía a poca distancia de su hacienda. El acaudalado hombre vivía con una rutina que nunca cambiaba en absoluto. Cada día se levantaba a las seis de la mañana para asearse y desayunar. Al mediodía generalmente como almuerzo disfrutaba de un bistec asado con papas y huevos fritos. Los cuales acompañaba con una taza de chocolate caliente y espumoso. Luego de terminar la comida, se trasladaba a la biblioteca para leer un rato. Al terminar su lectura, se dirigía a su recámara para tomar una siesta. Más tarde se levantaba, se bañaba, se vestía y salía a pasear por las calles. Caminaba un buen tramo hasta pasar frente a la catedral. Ahí se encontraba con el “Gallo de la Catedral”. A quién desafiaba diciéndole “¡Qué gallito, qué disparate de gallito!”. Después se dirigía a la cantina de la hermosa Mariana, a quien los lugareños conocían como “La Chola”. Más tarde, ebrio gritaba desaforado: ¡Para mí no hay gallitos que valgan, ni el gallo de la catedral! Una noche, el acaudalado hombre caminaba ebrio cuando pasó por la catedral y pensó desafiar al gallito. Cuando se disponía a gritarle, el gallo alzó la pata y rasgó la pierna de Don Ramón. El rico terrateniente cayó al suelo y el ave le propinó un feroz golpe en la cabeza. Aturdido, el hombre comenzó a pedir perdón y clemencia al ave. El gallo dijo: -No vuelvas a beber, ya que, si lo haces de nuevo no tendré clemencia y te mataré. También le dijo que dejara ser altanero con las personas. El hacendado le prometió al animal que desde ese momento enmendaría su vida y ya no cometería más abusos. Se dice que Don Ramón Ayala y Sandoval fue otro hombre a partir de ese día. Se volvió respetuoso con sus semejantes y dejó de tomar licor. Hasta que un día, unos amigos le prepararon una fiesta en su honor, donde tomó licor. Ese día volvió a terminar la noche en la cantina de la “Chola” Mariana. FONTE: <https://www.leyendapopular.com/2019/06/gallo-catedral-leyenda-ecuador.html>. Acesso em: 15 jan. 2020. 110 Neste tópico, você aprendeu: • A presença do catolicismo é muito grande na América Latina. • Existem outras religiões tão importantes quanto o catolicismo que ganharam, nova- mente, visibilidade a partir do Século XX. • São comuns outras expressões de religiosidade como práticas de benzeduras. • Os ditados populares são presentes nas sociedades hispânicas. • Os costumes são dos mais variados, desde festas, brincadeiras e lendas que passam de geração para geração. RESUMO DO TÓPICO 2 111 AUTOATIVIDADE 1 A cultura hispânica é regada de heranças pós-colonização, quando estiveram presentes europeus e africanos. A mescla de culturas europeia, africana e indígena demonstra pontos em comum que persistem até os dias atuais. De acordo com o conteúdo visto no Tópico 2, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) No Século XIX o processo de resgate às religiões e crenças dos povos indígenas começou a acontecer. b) ( ) O catolicismo é a religião que mais cresce no continente americano, ficando atrás apenas da Europa, em que o número de fiéis cresce a cada dia. c) ( ) A religiosidade popular é uma das formas de manifestação do ser, de estar, e expressar uma vinculação com o sagrado. d) ( ) Apesar de muito importante culturalmente, a religião não interfere nos modos como o indivíduo vê o mundo. e) ( ) Ao contrário do que se imaginava, as religiões de cunho cristão estão presentes na América Latina desde as épocas pré-colombinas. 2 Sobre costumes e tradições, assinale V para verdadeiro e F para falso: ( ) As tradições possuem certa flexibilidade e comprometimento formal com o passado. ( ) Os costumes possuem certa flexibilidade e comprometimento formal com o passado. ( ) Os costumes permitem inovações desde que suas alterações sejam coerentes e compatíveis com as precedentes. ( ) O costume está ligado a práticas históricas, na transmissão de valores e práticas culturais. ( ) Os costumes são sempre imateriais e nunca estão relacionados e ligados a objetos. De acordo com suas respostas, escolha a sequência CORRETA: a) ( ) V-V-F-V-V. b) ( ) F-V-V-F-F. c) ( ) F-V-V-V-F. d) ( ) V-F-V-V-F. e) ( ) F-V-V-F-V. 112 113 TÓPICO 3 — FESTAS POPULARES UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste último tópico da Unidade 2, você conhecerá um pouco mais da cultura popular hispânica através das festas populares e tudo o que diz respeito a elas. É importante que você saiba quemuitas dessas festas populares são tão importantes e grandiosas que foram incluídas na lista de patrimônios culturais da humanidade pela UNESCO. Ademais, o tópico abordará também as festas regionais, menos populares internacionalmente, assim como as músicas folclóricas e as danças regionais que, como vimos no primeiro tópico, são as mais variadas e, para listá-las por completo, seria necessário um livro inteiro apenas sobre o assunto. 2 PATRIMÔNIOS CULTURAIS As definições de patrimônio cultural mudaram de forma considerável, visto que elas não se restringem a apenas monumentos e objetos, pois a cultura também se expressa através de tradições e expressões herdadas dos ancestrais e transmitidas de geração para geração. Elas podem ser expressadas de diversas formas, através de práticas orais, artes cênicas, práticas sociais, rituais, eventos festivos, conhecimentos e práticas relativas à natureza e ao universo, ou conhecimentos e habilidade para produzir tradições. Os patrimônios culturais intangíveis são de extrema importância não somente por conta da manifestação cultural em si, mas sim, por causa da riqueza de conhecimentos e habilidades que as gerações mais antigas transmitem para as novas gerações. O patrimônio cultural intangível é: • Tradicional, contemporâneo e vivo: o patrimônio cultural intangível não represen- ta apenas tradições herdadas do passado, mas também práticas rurais e urbanas contemporâneas nas quais participam diversos grupos culturais. • Inclusivo: podemos compartilhar expressões do patrimônio cultural intangível semelhantes às praticadas por outros. Quer sejam da aldeia vizinha, de uma cidade do lado oposto do mundo, ou tenham sido adaptados por povos que migraram e se estabeleceram em uma região diferente, todos são patrimônio cultural intangível: 114 passaram de uma geração para outra. Evoluíram em resposta aos seus ambientes e contribuem para nos dar um senso de identidade e continuidade, fornecendo um elo do nosso passado, do presente e do futuro. O patrimônio cultural intangível não suscita dúvidas sobre se certas práticas são ou não específicas para uma cultura. Contribui para a coesão social, incentivando um senso de identidade e responsabilidade que ajuda os indivíduos a se sentirem parte de uma ou diferentes comunidades e a se sentirem parte da sociedade em geral. • Representante: o patrimônio cultural intangível não é meramente avaliado como um bem cultural, em uma base comparativa, por sua exclusividade ou seu valor excepcional. Ela prospera com base nas comunidades e depende daquelas cujo conhecimento de tradições, habilidades e costumes é passado para o resto da comunidade, de geração em geração, ou para outras comunidades. • Baseado na comunidade: o patrimônio cultural intangível só pode ser patrimônio quando é reconhecido como tal pelas comunidades, grupos ou indivíduos que o criam, mantêm e transmitem, sem o seu reconhecimento ninguém mais pode decidir por eles que uma determinada expressão ou prática é sua herança. Você verá, a seguir, alguns exemplos de patrimônios culturais intangíveis da cultura hispânica e poderá comprovar tamanha diversidade e riqueza cultural. 2.1 LUTA LIVRE MEXICANA A luta livre mexicana é uma versão adaptada da modalidade luta livre. Carrega esse nome pois seu estilo é único e carrega consigo inúmeras características do folclore mexicano, ademais, suas regras, acrobacias e golpes também variam. Aliás, seu nome é conhecido em várias partes do mundo tal qual se fala em espanhol, ou seja, em países não hispânicos a luta se chama, também, lucha libre. O diferencial da luta livre mexicana são as mesclas entre luta livre e o teatro, pois trata-se de um esporte teatral, em que os lutadores podem fazer diversas acrobacias, saltos etc. Além disso, o esporte é muito conhecido por conta das máscaras usadas por seus lutadores, pois elas dão personalidade aos lutadores que são reconhecidos como personagens. 115 FIGURA 25 – LUCHA LIBRE FONTE: <https://miro.medium.com/max/667/1*PiWioQB4begTkfk3a75_cw.jpeg>. Acesso em: 15 jan. 2020. 2.2 DÍA DE MUERTOS Nos dias 1 e 2 de novembro acontece a celebração do dia dos mortos, em que os mexicanos têm o costume de enfeitar suas casas, preparar altares e fazem oferendas aos seus ancestrais. O México é um país rico em tradições e a concepção de morte é realmente distinta de outras sociedades, pois para os mexicanos a morte não é vista como algo ruim, e pode ser venerada e honrada. O dia dos mortos no México é carregado de diversas tradições, uma delas – e a que mais se destaca – são as caveiras. Geralmente são feitas de açúcar e são comestíveis; outra característica são os altares e oferendas, onde estão presentes as caveiras, que carregam o nome da pessoa morta e os parentes e pessoas próximas podem comê-las; o pão do morto é um pão doce que representa a eucaristia (sacrifício); as flores também estão presentes nos altares, para enfeitar as tumbas e, acredita-se que ajudam na atração dos mortos até o local desejado; oferendas, pois se crê que as visitas são distintas nos dois dias, cujo dia 1 são recebidas as crianças e no dia 2 os adultos, nesse caso, são oferecidas às almas pratos de comida, o pão de morto, água, tequila, cigarros e, inclusive, brinquedos; fotos que tenham o retrato da pessoa já falecida, e assim por diante. 116 FIGURA 26 – ALTAR DO DIA DOS MORTOS FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/83387030574384093/?lp=true>. Acesso em: 15 jan. 2020. 2.3 CARNAVAL DE ORURO A festa que acontece na Bolívia em que mais de 40 grupos folclóricos se reúnem para fazer uma peregrinação para o Santuario del Socavón no sábado de carnaval. Para conhecer mais sobre o dia dos mortos, a forma como ele acontece e é visto pelos cidadãos mexicanos, indicamos duas animações que tratam da temática: “Festa no céu”, da Fox Filmes, e “VIVA: a vida é uma festa”, da Disney Pixar. Você pode assistir ao trailer do filme VIVA: a vida é uma festa, através do QR Code ao lado, ou através do link: https://www.youtube.com/watch?v=awzWdtCezDo. Você pode assistir ao trailer do filme Festa no céu através do QR Code ao lado, ou através do link: https://www.youtube.com/watch?v=8gTP4-AfjMY. DICA 117 O carnaval, como já diz o nome, acontece na cidade de Oruro, na Bolívia, em que é considerada a capital do folclore boliviano. A festa faz uma mescla entre a cultura cristã e a cultura pagã, entretanto, muitos dançarinos são extremamente devotos à virgem del Socavón. FIGURA 27 – CARNAVAL DE ORURO FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/df/CarnavalOruro4.JPG/800px- CarnavalOruro4.JPG>. Acesso em: 15 jan. 2020. Além desses exemplos, são inúmeras as representações culturais que estão presentes na lista dos patrimônios culturais imateriais: O filete porteño e o tango na Argentina, a cultura do povo garifuna na Guatemala, Honduras e Nicarágua; el baile chino no Chile; Carnaval de Barranquilla, e Fiesta de San Francisco de Asís, e o Vallenato, todos da Colômbia. A rumba em Cuba; as manifestações culturais do povo zápara; A arte têxtil de Taquile, a danza de tijeras, todos no Perú. 3 FESTAS REGIONAIS Ainda que sejam de menor porte, as festas regionais recebem muitas pessoas que estão em busca de entretenimento, diversão e cultura. Assim, uma festa regional pode representar, de maneira muito completa, diversos aspectos e características de uma determinada sociedade. 3.1 LOS SANFERMINES Acontece na cidade de Pamplona, Espanha, entre os dias 6 e 14 de julho, a festa que tem por objetivo prestar uma homenagem a São Firmino, o padroeiro da cidade. Durante os quase dez dias, são realizadas diversas atividades, como desfiles de bonecos gigantes, prática de jogos tradicionais bascos e a queima de fogos de artifício. É prática comum as pessoas irem à festa com vestimenta branca e um lenço ou faixa vermelha no pescoçoou cintura. 118 FIGURA 28 – LOS SANFERMINES FONTE: <http://twixar.me/tdYT>. Acesso em: 15 jan. 2020. 3.2 LAS FALLAS Dia 19 de março, na cidade de Valência, na Espanha, acontece a queima de bonecos feitos de papel machê ou madeira, que são chamados de fallas e queimados nas ruas da cidade. Ao contrário do que se pode pensar, a festa se deu de forma inocente, com a finalidade de queimar restos de materiais das oficinas de carpintaria. FIGURA 29 – LAS FALLAS FONTE: <https://img.theculturetrip.com/1440x807/smart/wp-content/uploads/2017/04/2420288627_ e092180e43_b.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. 3.3 LA TOMATINA Você já participou de uma guerra de comida? Pois a tomatina consiste em pessoas arremessando tomates umas nas outras. Ela acontece em Valência, na Espanha, na última quarta-feira do mês de agosto. A origem da festa é ainda duvidosa, mas acredita-se que surgiu com um desfile de bonecos e acabou com jovens fazendo uma guerra de comida entre amigos, a principal arma são os tomates. 119 FIGURA 30 – LA TOMATINA FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/74/La_Tomatina_2014.jpg/300px- La_Tomatina_2014.jpg>. Acesso em: 14 jan. 2020. 3.4 INTI RAYMI A festa do sol é um festival religioso que acontece em Cuzco, no Peru, no dia 24 de junho. O festival acontece como um espetáculo de adoração ao deus sol, cujo roteiro é todo escrito em Quéchua e é considerada a principal cerimônia do mês. FIGURA 31 – INTI RAYMI FONTE: <https://www.peru.travel/Portals/_default/Images/News/inti-raymi-representa-adoracion-dios-sol.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. 3.5 FIESTA DE LA VENDIMIA A festa, que acontece em Mendoza, na Argentina, é uma celebração da uva transformada em vinho, e é considerada uma das festas de colheita mais importantes do mundo, assim como o festival é, também, um dos mais importantes na Argentina. A celebração acontece no último domingo de fevereiro, quando acontecem as bençãos dos frutos, e termina no primeiro sábado de março, quando há o ato central. 120 FIGURA 32 – FESTA LA VENDIMIA FONTE: <https://www.catadelvino.com/uploads/la-fiesta-de-la-vendimia-y-la-cultura-del-vino-9261-1.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. 3.6 LA MAMA NEGRA No Equador, na cidade de Latacunga acontece a festa da Mama negra, nos dias 23 e 24 de setembro. A origem da festa é por conta da celebração de agradecimento à Virgen de la Mercedes que salvou toda a população que vivia aterrorizada pelas erupções vulcânicas do vulcão Cotopaxi. A personagem principal, La Mama Negra, veste-se com roupas típicas, que podem ser trocadas em cada esquina. FIGURA 33 – LA MAMA NEGRA FONTE: <http://www.enciclopediadelecuador.com/wp-content/uploads/2016/04/La_Mama_Negra.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. 121 4 MÚSICAS FOLCLÓRICAS As músicas folclóricas são grandes destaques quando se trata da história e cultura de um país, pois ela representa não apenas um estilo, mas também, aquilo que os indivíduos podem e sabem tocar e cantar. Assim como a arte popular, a música folclórica não precisa ser necessariamente feita por cantores e músicos profissionais, mas sim, necessitam passar a verdade e expressar o que toda uma comunidade representa. As músicas folclóricas falam muito de reivindicações e protestos, sobretudo nas épocas de ditaduras militares, onde muitos artistas populares tiveram que abandonar seus países para exilar-se e salvar suas vidas de torturas e perseguições. Há o caso de Mercedes Sosa, cantora argentina que tem grande destaque na música folclórica do seu país. Embora tenha falecido em 2009, quando se trata de folclore, a Argentina tem grande destaque e principalmente Mercedes, pois foi uma grande representante do estilo musical. Como você já viu no Tópico 1, a música representa sentimentos e expressa, através de melodias e composições, as angústias e receios que uma sociedade pode viver. Mercedes, após sofrer diversas censuras, decide gravar a música Serenata para la tierra uno, canção de María Elena Walsh: Serenata para la tierra uno María Elena Walsh Porque me duele si me quedo pero me muero si me voy, por todo y a pesar de todo, mi amor, yo quiero vivir en vos. Por tu decencia de vidala y por tu escándalo de sol, por tu verano con jazmines, mi amor, yo quiero vivir en vos. Porque el idioma de infancia es un secreto entre los dos, porque le diste reparo al desarraigo de mi corazón. Por tus antiguas rebeldías y por la edad de tu dolor, por tu esperanza interminable, mi amor, yo quiero vivir en vos. Para sembrarte de guitarra, para cuidarte en cada flor y odiar a los que te castigan, mi amor, yo quiero vivir en vos. 122 Na canção, interpretada por Mercedes, é nítida a forma como ela lamenta a alter- nativa de deixar seu país, de ter que abandoná-lo, de deixá-lo nas mãos de pessoas que ela acreditava não serem responsáveis e dignas de estarem no poder. Uma crítica e muito lamento à conjuntura política da Argentina que estava sendo governada pelos militares. Além da Argentina, no Chile a música folclórica também teve grande destaque, principalmente nos tempos de regime militar. Como forma de protesto, diversos cantores – Margot Loyola, Violeta Parra, Victor Jarra etc. – e bandas – Los de tres, Los huasos, Quincheros etc. – se destacaram na composição de músicas de protesto. Como a exemplo da música “No es cierto”, gravada pelo grupo Los tres, cuja letra menciona palavras mencionadas por Pinochet quando questionado sobre o processo militar que liderou em 1973: No es cierto Garcia Nunez De Caceres Leonel Schairis Rodriguez Nahuel Nunca nadie entendío lo que dijiste ayer Sonaba tan distinto a cuando eras el rey Un hombre convertido en niño le ruega a Dios Silencioso como una rata meando sobre algodón Dios perdonará si me exedí, pero no creo Todos los problemas que causé, se los dedico al cielo No me acuerdo, pero no es cierto y si es cierto no me acuerdo, hoy... Para ser un valiente hay que llegar al final Soldado en tu uniforme y arrugas que hay que planchar Hoy ya no sabes si tu vida fue tan buena Los recuerdos de los que me hablas iluminan tu condena Si tu vida fuera mi vida, moriría de pena No me acuerdo, pero no es cierto y si es cierto no me acuerdo No me acuerdo hoy FONTE: <https://www.letras.mus.br/los-tres/736772/>. Acesso em: 23 jan. 2020. Baseado no Tópico 1 e complementando com os exemplos do Tópico 3 mencio- nados agora, pode-se notar a grande força que a música representa em uma sociedade e, principalmente em momentos que se necessitam fazer críticas a quaisquer que sejam as motivações. Em geral, as músicas folclóricas se destacam por conta do cunho político que apresentam e, como consequência, muitos de seus intérpretes acabaram por serem censurados e, até mesmo exilados. 123 Vale destacar, mais uma vez, que a música folclórica não se trata de um ritmo específico, mas de elementos que possam compô-la, ou seja, de acordo com o país, os elementos podem variar, conforme os instrumentos, as letras, as melodias, as formas de composição. E, mais uma vez, as composições e melodias criadas nas músicas folclóricas apresentam, de certo modo, as interferências externas à sociedade que a compôs, ou seja, a presença dos colonizadores europeus, os escravos africanos e os povos originários estão presentes na forma música como forma de expressão, seja através da composição dos versos, nas melodias ou nos instrumentos utilizados. 5 DANÇAS REGIONAIS Las danzas que se aprehenden difieren de las que se aprenden no sólo por la ausencia del cuerpo entrenado, sino también por todo lo que propone el papel protagonista del ciudadano-bailarín, que, sin formación académica, se presta a reflejar la sensación de danza del hombre común; una sensación que, al no pasar por filtros técnicos, documenta el simple ser-cuerpo-en-movimiento de cada colectividad. Un buen ejemplo de la absorción de nuevas formas demoverse lo constituyen las danzas populares en toda América Latina (CESIO, 2017, s.p.). Após a leitura desse trecho, podemos dialogar com a diferença de aprender uma dança e apreender uma dança. Enquanto o primeiro verbo se refere a adquirir uma habilidade, o segundo se refere a assimilar mentalmente, compreender algo. Embora a dança seja uma prática física do corpo muito do que nós sabemos fazer, vem, na verdade, da nossa mente e das assimilações que fazemos das práticas que somos expostos. Quando vemos uma criança dançando, mexendo os pés, batendo palmas no ritmo de uma música, pressupõe-se que ela já foi exposta a esse estímulo e, dessa maneira, ela seguirá apreendendo outras formas de movimentar-se de acordo com a melodia e ritmo. Pensando na América Latina, você já viu no primeiro tópico algumas danças populares, acredito que tenha buscado na internet vídeos com exemplos, para conhecer a forma como as pessoas mexem seus corpos e, acredito também, que tenha se espantado com a destreza e velocidade que algumas danças exigem. Não vamos generalizar e pensar que todos os argentinos sabem dançar tango, ou que todo cubano sabe dançar o mambo, isso de fato não é real, assim como nem todo brasileiro sabe sambar. Você sabe sambar? Se você não souber, não quer dizer que você não pertence àquela cultura, pois, mesmo sem saber dançar, você sabe reconhecer os passos e reconhecer a melodia que deve tocar quando alguém for sambar. 124 Usamos o samba como opção, mas sabemos que o Brasil é de tamanha extensão e não limita suas danças regionais a apenas um estilo, assim como os países hispânicos, principalmente por tratar-se de países, onde cada um tem sua cultura, práticas e modos diferentes de agir. Por isso, neste tópico, conheceremos os tipos de danças populares que não são tão conhecidas pelo grande público e que demonstram a riqueza da cultura latino- americana. 5.1 CHACARERA É uma dança da Argentina, em que a melodia é ditada por instrumentos que podem ser: violão, violino, acordeão etc. É uma dança que deve ser dançada em dupla e tem ritmo ágil por tratar-se de um ritmo muito alegre. FIGURA 34 – CHACARERA FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/64/de/82/64de82c1df21e067517a809073159cdc--bolivia- argentina.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. 5.2 BAILECITO O bailecito é um ritmo da Bolívia que pode ser dançado sozinho ou com uma dupla. O bailecito é uma dança folclórica e, além de estar presente na Bolívia, tem também suas versões e expressões na Argentina. Como toda expressão artística, a dança tem influências europeias com os povos aborígenes. 125 FIGURA 35 – BAILECITO FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=AI19nZRyfJI>. Acesso em: 15 jan. 2020. 5.3 DANZÓN E CONGA Em Cuba, o que mais se destaca é o danzón, e surgiu a partir de outro gênero, a danza. O ritmo é embalado, geralmente, por instrumentos como flauta, violinos, percussão etc. Ademais, outro muito conhecido é a conga, que consiste em, basicamente, dar chutes para os lados e pequenos passos para frente. Normalmente, a conga acontece em festas particulares, quando os dançarinos fazem uma fila indiana. FIGURA 36 – CONGA CUBANA FONTE: <https://www.absolutviajes.com/la-conga-instrumento-y-ritmo-cubano/>. Acesso em: 15 jan. 2020. 126 5.4 DIABLITOS Na Nicarágua, uma dança folclórica chama a atenção por sua caracterização, são os diablitos, pessoas vestidas de diversos personagens dançam ao som de violino ou violão nas ruas do país. FIGURA 37 – LOS DIABLITOS FONTE: <https://www.lavozdelsandinismo.com/wp-estaticos/2015/06/baile-diablitos.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020. 127 LEITURA COMPLEMENTAR DIVERSIDADE CULTURAL, PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E CULTURA POPULAR: A UNESCO E A CONSTRUÇÃO DE UM UNIVERSALISMO GLOBAL Elder Patrick Maia Alves INTRODUÇÃO Este trabalho tem como propósito central desvelar a atuação da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na coordenação específica de um trânsito simbólico e discursivo, envolvendo governos, organizações da sociedade civil global e organismos transacionais. Essa coordenação permitiu à Unesco, entre outros aspectos, criar os principais instrumentos jurídicos transnacionais responsáveis pelo disciplinamento e o tratamento jurídico-político de temas e questões envolvendo a cultura popular e/ ou tradicional, o patrimônio cultural imaterial e as novas relações entre cultura e desenvolvimento. A rigor, o próprio trânsito discursivo e simbólico aludido, assim como a atuação mais incisiva da Unesco no que tange aos assuntos culturais nas últimas décadas, bem como as novas ações e programas de políticas culturais adotadas por diversos governos nos mais variados contextos, faz parte de uma configuração Elias (1991) político-simbólica mais abrangente. Sua trama passou a ser confeccionada a partir do recrudescimento do processo de industrialização do simbólico no decurso da década de sessenta do século passado e, como tal, impactou no modo de perceber e normatizar as relações entre a produção simbólico-cultural, a economia e a política. Para compreender determinados aspectos da trama dessa configuração e, por conseguinte, para que o objetivo desse trabalho fique patente é preciso situar as indagações aqui contidas no escopo geral do processo de pesquisa do qual elas brotaram. O que se segue é parte constitutiva de um trabalho de investigação realizado nos últimos quatro anos, intitulado A economia simbólica da cultura popular sertanejo- nordestina. O trabalho de pesquisa abrigou como eixo temático as transformações ocorridas no âmbito da produção simbólico-cultural contemporânea, notadamente no que diz respeito às novas faces e fases do processo de industrialização do simbólico com as políticas culturais públicas. Diante desse eixo temático, a pesquisa buscou compreender as interfaces entre determinadas políticas culturais públicas e o advento de uma nova formação discursiva (o repertório discursivo Unesco) para a estruturação de um mercado de bens e serviços culturais assaz específico, ancorado fundamentalmente no valor social conferido a categorias como tradição e “autenticidade”. 128 A UNESCO E O ADVENTO DE UM NOVO UNIVERSALISMO GLOBAL: DIVERSIDADE, CULTURA E DESENVOLVIMENTO As muitas dimensões pelas quais o conceito de cultura penetrou o debate e a problemática do desenvolvimento durante a segunda metade do Século XX se imbricaram inteiramente nos últimos anos. Essa interpenetração ensejou novos usos da categoria cultura e uma série de envolvimentos políticos por parte de vastos segmentos da sociedade civil global e, por conseguinte, de alguns organismos transnacionais, como a Unesco. Essa organização passou a ser, sobretudo a partir dos anos noventa, uma espécie de núcleo global das tensões envolvendo cultura e desenvolvimento. A Unesco passou a capitanear as discussões realizadas em âmbito mundial no que diz respeito a um conjunto de ações e propostas de regulamentação, definição e normatização da categoria cultura em face das profundas transformações ocorridas no final do Século XX. Mattelart (2005) sustenta que a cultura, como uma área de competência específica reivindicada pela Unesco, ganhou maior densidade institucional no decurso dos anos noventa, com a promulgação de inúmeros documentos de regulamentação: declarações, recomendações e convenções (Mattelart, 2005). A tensão central inscrita no seio da Unesco foi construída a partir da consolidação e do grande crescimento da demanda mundial por bens e serviços culturais, que resultou no aumento vertiginoso de alguns mercados culturais, como o fonográfico, o editorial e o cinematográfico. O crescimento desses mercados, que foram acompanhados do crescimento e da desregulamentação de alguns mercados nacionais, como o mercado financeiro, ocorreu simultaneamente à profusão de um conjunto de novas tecnologiasda informação e de uma infinidade de multimídias. O advento desses meios, aliado às novas convergências digitais que conferiram ao processo de industrialização do simbólico uma nova dinâmica, intensificou ainda mais os fluxos informacionais e comunicacionais em todo o mundo. Todos esses processos concorreram para engendrar a chamada globalização cultural, que levou autores como Jameson (2006) a falar em explosão da cultura, segundo o autor, a sensação de que a cultura estaria em todos os lugares ao mesmo tempo (Jameson, 2006). O crescimento dos mercados culturais mundiais e a expansão dos fluxos simbólicos globais geraram a sensação generalizada de que o mundo estaria passando por um processo acelerado de homogeneização e padronização cultural (Mattelart, 2005). Essa sensação decorreu, em certa medida, das profundas assimetrias existentes entre os principais pólos de produção simbólica (Estados Unidos e União Europeia), classificados como os centros exportadores de bens culturais, e os pólos de consumo (América Latina, África e Ásia), classificados como os centros de importação. A globalização cultural estaria, assim, potencializando as antigas e já profundas assimetrias da divisão internacional do trabalho cultural Yudice (2005). Mattelart (2005) destaca que surge, a partir do início dos anos noventa do século passado, um grande apelo global à diversidade cultural e uma luta encarniçada das identidades regionais em meio à configuração da globalização cultural Mattelart (2005). É em nome da preservação e promoção da diversidade e da identidade cultural que muitos estados nacionais e instituições transnacionais passaram a defender a elaboração e execução 129 de novas políticas públicas de cultura. No entanto, como sustenta o próprio Mattelart (2005), foi a consecução de uma rede global de defesa e promoção da diversidade e da identidade que produziu uma grande pressão junto aos governos nacionais (sobretudo os governos dos chamados países em desenvolvimento) e organismos transnacionais (BID e UNESCO), no sentido da adoção de novas políticas culturais que pudessem ressemantizar e ressignificar um conjunto de conceitos, como o conceito de exceção cultural Mattelart (2005). Em 1999, por exemplo, os países membros da União Europeia substituíram o conceito de exceção cultural pelo conceito de diversidade cultural. O principal argumento para efetivação dessa mudança foi elaborado segundo a justificativa de que o conceito de diversidade cultural seria mais afirmativo, conotando uma posição menos defensiva, embora naquele momento oferecesse pouca segurança jurídica, visto que não havia ainda um marco jurídico legal no âmbito do direito europeu e do direito internacional. Seis anos mais tarde, em 2005, a União Europeia, sob a liderança do Ministério da Cultura francês, lançou um programa de política cultural continental, assinado por 24 ministros europeus da cultura, com vistas a desenvolver um minucioso mapeamento cultural do continente, que possuía como objetivo central preservar e promover as diferenças culturais do continente, chamando atenção para as identidades culturais locais do mesmo. Essas ações, entre muitas outras em âmbito transcontinental e transnacional, conduziram à consecução progressiva de um novo universalismo, ancorado no grande valor atribuído à diferença e à diversidade cultural Mattelart (2005). Não obstante, para que essas categorias e conceitos compusessem uma espécie de amálgama ético-moral, ao longo das últimas duas décadas, foi necessário um grande trabalho de mobilização político-cultural. Em nome da defesa da diferença e da diversidade cultural foram criadas inúmeras instituições culturais e políticas (organizações nacionais ligadas a entidades da sociedade civil, organizações não-governamentais, locais, nacionais e transacionais, entidades de artistas, produtores culturais e governos em geral) empenhadas na luta pela defesa e promoção da identidade cultural e da diversidade cultural em âmbito local, nacional e transacional, desdobrada na luta pela defesa e promoção de diversas formas de reconhecimento identitário, como o sexual, étnico e racial. Essa extensa rede de organizações levou, na passagem do Século XX para o Século XXI, à constituição de coalizões globais de luta em defesa e promoção da identidade e da diversidade cultural espalhadas por todo mundo. A coalizão brasileira pela diversidade cultural foi criada em 2001. FONTE: <http://www.scielo.br/pdf/se/v25n3/07.pdf>. Acesso em: 5 fev. 2020. 130 Neste tópico, você aprendeu: • Patrimônios culturais também podem ser intangíveis, e não se restringem a monu- mentos, objetos, mas também se referem a tradições transmitidas de geração para geração. • Festas regionais representam as características e costumes de uma determinada região. • As músicas folclóricas, em geral, podem ser escritas e compostas por letras de cunho político, pois muitos cantores e intérpretes faziam uso de suas artes para expressar-se. • Uma dança regional pode representar as diversas formas de movimentar-se. RESUMO DO TÓPICO 3 131 AUTOATIVIDADE 1 Os patrimônios culturais intangíveis são de extrema importância não somente por conta da manifestação cultural em si, mas também, por causa da riqueza de conhecimentos e habilidades que as gerações mais antigas transmitem para as novas gerações. Seguindo essa linha de pensamento: I- As definições de patrimônio cultural mudaram pois não se restringem apenas a monumentos e objetos, a cultura se expressa, também, através de tradições e expressões herdadas e transmitidas de geração para geração. II- Os patrimônios culturais intangíveis são de extrema importância não somente por conta da manifestação cultural em si, mas sim, por causa da riqueza de conhecimentos e habilidades que as gerações mais antigas transmitem para as novas gerações. III- As tradições podem ser expressadas de diversas formas, como através de práticas orais, artes cênicas, práticas sociais, rituais, eventos festivos, conhecimentos e práticas relativas à natureza e ao universo, ou conhecimentos e habilidade para produzir tradições. Apenas está CORRETA: a) ( ) Todas estão corretas. b) ( ) I e III. c) ( ) I e II. d) ( ) II e III. e) ( ) Nenhuma está correta. 2 Sobre os conhecimentos sobre os Patrimônios Culturais Intangíveis, é correto afirmar que eles são: a) ( ) Tradicionais, contemporâneos e vivos, pois apresentam apenas as tradições herdadas do passado e suas práticas rurais. b) ( ) Inclusivos, pois não suscita dúvidas sobre se certas práticas são ou não espe- cíficas para uma cultura. Contribui para a coesão social, incentivando um senso de identidade e responsabilidade que ajuda os indivíduos a se sentirem parte de uma ou diferentes comunidades e a se sentirem parte da sociedade em geral. c) ( ) Representantes, pois são avaliados como um bem cultural, sem uma base comparativa. d) ( ) Baseados na comunidade, mas não significa que o patrimônio cultural intangível só pode ser patrimônio quando é reconhecido como tal pelas comunidades, grupos ou indivíduos que o criam, mantêm e transmitem. 132 133 CULTURA, PRESERVAÇÃO E ENSINO UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer criticamente algumas questões do mundo hispânico; • discutir sobre a cultura dos países que falam a língua espanhola; • avaliar questões culturais dos países da língua espanhola; • transmitir e apresentar elementos, na prática, que estão presentes na cultura desses países. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CULTURA MULTIFACETADATÓPICO 2 – PRESERVAÇÃO TÓPICO 3 – SALA DE AULA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 134 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 135 TÓPICO 1 — CULTURA MULTIFACETADA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Imaginamos que, ao olhar o título deste tópico, você já se questionou: cultura multifacetada? Para início de discussão, olharemos, especificamente, para cada uma dessas palavras. De acordo com o que foi visto na Unidade 1, o que você entende por "cultura"? Escreva um pequeno parágrafo retomando definições e aspectos trabalhados na Unidade 1 deste curso. O adjetivo multifacetado é empregado para algo, ou alguém, que possui muitas facetas, muitas faces, ângulos e lados. Quando em uma frase sua intenção está em expressar a condição de pluralidade que o sujeito possui, quando analisamos a cultura, percebemos que ela é vista e expressa por inúmeras perspectivas e de diversas maneiras, dessa forma, podemos dizer que a cultura é multifacetada. Assim, quais seriam essas facetas que compõem a cultura? Pense e tente listar alguns pontos que fazem com que a cultura tenha esse caráter multifacetado. Nas próximas páginas, vamos discutir e conhecer um pouco sobre essas formas. Antes disso, é importante que você tenha, de maneira clara, alguns termos importantes, visto que estamos trabalhamos com cultura, e que eles desempenham diferentes tipos de relações culturais, e que, de alguma forma, são praticados no ensino-aprendizagem de uma nova língua e cultura, são eles: multiculturalismo, pluralismo cultural e intercul- turalidade. De acordo com Barabas (2014): • Multiculturalismo: É o reconhecimento da existência de diferentes grupos culturais em uma mesma nação. Um modo de tratar a diversidade cultural, um tipo de política pública. • Pluralismo cultural: Pluralidade de culturas que convivem em uma mesma nação. Une diferentes grupos etnoculturais em uma relação de interdependência, igualdade e respeito, ao mesmo tempo que cada grupo leva o seu modo de vida e sua cultura. • Interculturalidade: Dinâmica entre as relações que formam o contexto da diversidade cultural. Práticas culturais e modo de vida que se integram entre culturas. 136 2 LITERATURA A língua faz parte da cultura e a literatura faz parte dos domínios linguísticos desta língua. Dessa forma, conhecer a literatura é conhecer uma língua, um povo, uma cultura. Podemos dizer que a literatura é uma das facetas da cultura de um povo. Até o Século XVIII, literatura e cultura eram sinônimas. Uma pessoa considerada culta era aquela pessoa com muitas leituras, com muita literatura (FILLOLA, 1993). Com o tempo, esses conceitos mudaram, entretanto, a literatura não se desvinculou da cultura, visto que é um elemento transmissor de fatores culturais. A literatura tem grande impacto nas aulas das línguas estrangeiras, atuando como um recurso de transmissão cultural de maneira que os alunos possam ter contato com um saber no âmbito social da língua-alvo. Na continuação, você terá um pequeno panorama de alguns escritores importantes da literatura hispânica e em como a cultura de seus países transparecem em suas obras e, em como suas obras compõem a cultura de cada um dos países: 2.1 MIGUEL DE CERVANTES E A ESPANHA Miguel de Cervantes Saavedra nasceu em Alcalá de Henares, uma cidade localizada próxima a Madri, no ano de 1547. Cervantes é considerado o maior escritor espanhol e, entre seus poemas, obras de teatro e novelas, foi conhecido internacionalmente por escrever o primeiro romance moderno Don Quijote de la Mancha. Cervantes marcou um período, no qual foi estabelecido e nomeado de “Espa- nha de Cervantes", compreendido entre 1570 e 1661, um momento muito conturbado na história do país, de peste, de exploração, colonização e crises. Sua obra traz muito do período histórico no qual vivia na Espanha, já que na narrativa é possível perceber valor histórico e documental. Em Don Quijote, Cervantes faz constantes referências à Para aprofundar a leitura e o conhecimento sobre esses termos dentro da cultura hispânica indicamos o artigo Multiculturalismo, pluralismo cultural y interculturalidad en el contexto de América Latina: la presencia de los pueblos originarios, no site: https://journals.openedition.org/configuracoes/2219. DICA 137 sociedade de sua época e as suas diversidades: indivíduos de diferentes reinos, homens livres, escravos, descendentes de judeus e muçulmanos, essas diferenças sociais são tratadas em sua obra. A época também foi uma época de crise econômica, com más colheitas e perda de produção, causando efeitos sociais acarretando o aumento no número de mendigos, desempregados, pobres e criminosos, esses fatores também foram refletidos na narrativa. A importância do Quijote é inexplicável. Essa obra surgiu quando a literatura espanhola estava em transição, entre o Renascimento e o Barroco, em meio a uma época de muitas mudanças culturais que afetaram a língua hispânica. Foi um grande marco do período denominado de Siglo de Oro. Além de Don Quijote ter influenciado e refletido na cultura da Espanha daquela época, a obra inigualável também influencia e continua refletindo na cultura até hoje, principalmente de seu país de origem. A seguir, há uma imagem da estátua dos personagens principais da obra, Don Quijote e Sancho Panza, na Plaza España em Madri. O monumento foi criado em 1915 pelo Rei Alfonso XIII para celebrar o centenário da publicação da segunda parte de Don Quijote. FIGURA 1 – MONUMENTO A CERVANTES FONTE: <http://twixar.me/MDYT>. Acesso em: 28 nov. 2019. Mais informações no site oficial de turismo de Madrid: http://www.esmadrid.com. DICA 138 Por ser o precursor do romance europeu, pela sua importância na história da literatura, Miguel de Cervantes influenciou e inspirou muitos autores reconhecidos na literatura mundial e principalmente hispânica. O legado deixado por Cervantes é um dos grandes e mais importantes aspectos culturais. 2.2 JORGE LUIS BORGES E A ARGENTINA Jorge Luís Borges nasceu na Argentina, passou o começo da sua infância no Bairro de Palermo em Buenos Aires, até sua família se mudar para Genebra na Suíça para tratar uma doença de seu pai. Na Suíça, ele foi para a escola e teve contato com diferentes escritores e em diferentes línguas, como o francês e o alemão. Depois, se mudou a Espanha, onde teve também contato com a cultura e a literatura do local. Ao retornar a Buenos Aires, em 1921, redescobriu seu amor por sua cidade e isto está bem marcado e indissociável em suas obras. Muitas de suas obras levam seu amor e admiração por Buenos Aires, de maneira que podemos viajar à capital argentina através de sua literatura. Lourenço e Makowiecky (2011, p. 2745) descrevem que Borges se referia a Buenos Aires não como uma cidade, mas como um país, pois: devido à hibridização causada pela imigração, é composta por bairros que mais parecem pequenas cidades por possuírem características próprias; falar em Buenos Aires é falar de San Telmo, Palermo, La Boca, Recoleta, Retiro e Porto Madero. Enquanto caminha pelas ruas da capital argentina, o poeta vai visitando memórias e trazendo, em suas obras, a cidade onde viveu. Assim, é notável a carga cultural que Borges traz em suas obras. Muitos elementos da sociedade portenha são refletidos nos seus trabalhos de maneira que se converte a um recurso muito rico quando trabalhado em aula de língua estrangeira, já que os alunos além de estarem em contato com questões linguísticas da língua espanhola, estão em contato também, com uma cultura e uma visão sobre ela, que não poderiam ter, visto que não são nativos ou moradores da cidade de Buenos Aires. Dessa forma, os textos contribuem para a formação cultural do aluno. Borges retoma e antecipa temas que fizeram parte de seu universo literário como “[...] as lembranças, e a intertextualidadeque a literatura tem com textos emblemáticos e precursores como Don Quijote” (ASSUNÇÃO, 2003, p. 233). É concretizada a importância da obra de Cervantes na cultura hispânica, visto que a cultura interfere na literatura de modo que a literatura se torna parte cultura. A seguir, o poema Fundación Mítica de Buenos Aires de Jorge Luís Borges que demonstra um pouco do que tratamos anteriormente. Tente perceber e apontar os fatores culturais presentes no texto. 139 FUNDACIÓN MÍTICA DE BUENOS AIRES Y fue por este río de sueñera y de barro que las proas vinieron a fundarme una patria? Irían a los tumbos los barquitos pintados entre los camalotes de la corriente zaina. Pensando bien la cosa, supondremos que el río era azulejo entonces como oriundo del cielo con su estrellita roja para marcar el sitio en que ayunó Juan Díaz y los indios comieron. Lo cierto es que mil hombres y otros mil arribaron por un mar que tenía cinco lunas de anchura y aún estaba poblado de sirenas y endriagos y de pedras imanes que enloquecen la brújula. Prendieron unos ranchos trémulos en la costa, durmieron extrañados. Dicen que en el Riachuelo, pero son embelecos fraguados en la Boca. Fue una manzana entera y en bi barrio: en Palermo. Una manzana entera pero en mità del campo expuesta a las auroras y lluvias y suestadas. La manzana pareja que persiste en mi barrio: Guatemala, Serrano, Paraguay y Gurruchaga. Un almacén rosado como revés de naipe brilló y en la trastienda conversaron un truco; el almacén rosado floreció en un compadre, ya patrón de la esquina, ya resentido y duro. El primer organito salvaba el horizonte con su achacoso porte, su habanera y su gringo. El corralón seguro ya opinaba YRIGOYEN, algún piano mandaba tangos de Saborido. Una cigarrería sahumó como una rosa el desierto. La tarde se había ahondado en ayeres, los hombres compartieron un pasado ilusorio. Sólo faltó una cosa: la vereda de enfrente. A mí se me hace cuento que empezó Buenos Aires: la juzgo tan eterna como el agua y como el aire. 140 3 ARQUITETURA A arquitetura é a arte de construir e de edificar, é uma expressão artística. Está ligada com a história e com a cultura de um povo, já que nela podemos encontrar manifestações de cunho político, social, econômico e intelectual. Você já se perguntou qual a forma mais fácil de conhecer a cultura de um lugar? É a partir da observação de sua arquitetura que podemos responder muitas perguntas sobre determinado local e sobre sua sociedade. A expressão arquitetônica é umas das linguagens que o ser humano tem desenvolvido para se comunicar com o meio físico e social no qual se instaura (ROA, 1972, p. 177). As criações arquitetônicas também são resultadas das necessidades do ho- mem em cada momento histórico. No período neolítico, o homem deixou de construir unicamente pela necessidade de se proteger e passou a construir com finalidade reli- giosa como: monumentos religiosos, templos, palácios, entre outros. Na época que os europeus chegaram na América não havia arquitetura, existiam construções indígenas. Por conta disso que os países de língua hispânica, e mais precisamente os da América Latina, tiveram um processo de sobreposições de elementos culturais por conta da mistura de culturas que se instauraram. Uma base indígena de povos que já habitavam essa região e uma parte vinda dos colonizadores europeus, além de outras singulares intervenções de grupos migratórios que chegaram em cada região. Todo esse contexto histórico e político foi, de alguma forma, refletido na arquitetura dos países. Dessa forma, pela concreticidade dos monumentos e construções arquitetônicas passaram a ganhar grande visibilidade cultural nas cidades. Sendo a arquitetura um "bem de cal e pedra" é um meio dentro da cultura no qual o patrimônio material se manifesta. Os gregos atribuíam grande importância à arquitetura de suas cidades pois compreendiam que através delas podiam transmitir conhecimento. A presença de monumentos espalhados pelas cidades tinha a função não só comemorativa, mas também educativa contando para todos qual era a história do local. NOTA 141 3.1 BUENOS AIRES – ARGENTINA Após a colonização espanhola e com a independência da Argentina em 1816, Buenos Aires começou a receber e atrair imigrantes europeus, os quais chegavam às terras latino-americanas com sua cultura e, assim, sua arquitetura foi refletida nas construções da cidade fruto da colonização. Por volta dos anos 1920, Buenos Aires se converteu em uma cidade cosmopolita e começou a competir com várias capitais europeias, e muito por conta da arquitetura que ali se instaurou, já que remetia muito à arquitetura da Europa. Levando em consideração que, quando alguém chega a um lugar diferente, o choque cultural visual é a primeira coisa na qual é percebida, quando esse choque é diminuído, não há aquele sentimento primário de estranheza, e a adaptação no local torna-se facilitada. O Teatro Colón na capital argentina é internacionalmente conhecido por seu valor patrimonial e pelas influências europeias na sua arquitetura, mais precisamente espanhola, italiana e francesa, considerado também um dos monumentos históricos mais representativos do país. Em 1989, foi considerado como Monumento Histórico Nacional. Perceba, na imagem a seguir, os aspectos europeus presentes na arquitetura do teatro Colón, e como ele se distingue das demais construções da cidade. FIGURA 2 – TEATRO COLÓN EM BUENOS AIRES - ARGENTINA FONTE: <https://turismo.buenosaires.gob.ar/sites/turismo/files/teatro_colon_panoramica_1200_1.jpg>. Acesso em: 28 nov. 2019. No próximo tópico, você estudará mais sobre patrimônios materiais. ESTUDOS FUTUROS 142 3.2 BARCELONA – ESPANHA Barcelona, na Espanha, é uma cidade muito conhecida por sua arquitetura, já que nela se manifestam fortemente a cultura e história local, gerando, assim, o interesse turístico por conta de suas construções arquitetônicas. Um dos atores principais nesse processo foi o arquiteto espanhol Antoni Gaudí, suas obras são facilmente vistas pelas ruas de Barcelona o que torna esta cidade tão única. As obras de Gaudí são consideradas Patrimônios Materiais. Gaudí construía colocando um pouco de suas quatro paixões nas suas criações: a arquitetura, a natureza, a religião e o seu amor pela região da Catalunha. Além de levar em consideração as questões básicas estruturais, também se apegava às questões funcionais de suas criações, de maneira que muitas eram pensadas para que pudesse trazer funcionalidade e conforto para a vida das pessoas. Como exemplo, pode ser citado os bancos do Parque Guell, que além de comporem a arquitetura do ambiente, foi pensado para ser um "banco perfeito", para que fosse anatômico ao sentar-se, já que se encaixava perfeitamente na postura do homem. FIGURA 3 – BANCOS DO PARQUE GUELL FONTE: <http://artenarede.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/03/Gaudi_bancosondulantes.jpg>. Acesso em: 28 nov. 2019. A observação da natureza é outro ponto que Gaudí sempre representava e trazia a suas obras, através da escolha de materiais como cerâmica, vidraças, ferro forjado, carpintaria, na utilização de formas geométricas e no jogo com as luzes naturais. Você estudará sobre Patrimônios no próximo tópico desta disciplina. ESTUDOS FUTUROS 143 A Casa Batlló, que foi reformada pelo arquiteto, apresenta formas, traços e texturas em sua fachada e em seu interior que remetem a ossos, vegetais, animais. O telhado remete a pele descamada de um dragão e o seu interior permite um melhor aproveitamento luminoso. FIGURA 4 – A CASA DE BATLLÓ FONTE: <https://cdn.casabatllo.es/wp-content/uploads/2018/01/xfachada-590x760.png.pagespeed. ic.pJkK5mwnWa.webp>. Acesso em: 28 nov. 2019. 4 MEDICINA No início deste capítulo, quando você foi questionado sobre as facetas da cultura, você pontuou a medicina? Caso não tenha pontuado, pense e analise em como a cultura se manifesta através da medicina na sociedade. Não esqueça das definiçõesde cultura estudadas no Capítulo 1 para esta análise. Assim, qual a relação entre a medicina e a cultura? Para começo de discussão, devemos pensar em saúde. Os valores e concepções que atribuímos à saúde são traços culturais e esses traços estão ligados à medicina. A medicina está muito conectada com a sobrevivência, em defender a vida. Sendo assim, “[…]a maneira de tratar a saúde através da medicina é regulamentada através da cultura” (CAMPOS, 2001, p. 109). A medicina como uma faceta da cultura está relacionada em como as pessoas tratam, explicam as causas de suas doenças, os tipos de tratamento em que acreditam e a quem recorrem quando estão com problemas de saúde, nas distintas culturas. 144 Na cultura hispânica, as questões se organizam de acordo com os diferentes países e diferentes culturas. A medicina que abrange grande parte da América Latina tem muitas características pautadas na medicina tradicional indígena, visto que as tradições indígenas permaneceram em muitos países da América Latina. Esse tipo de medicina se caracteriza pela integração e harmonia do homem com a natureza, de maneira que as ervas e os minerais de cada região fornecem as bases terapêuticas importantes deste sistema de cura. Sendo assim, a cultura é refletida na medicina de acordo com os métodos de cura e de prevenção, e nas pessoas que ajudam nesse processo. Desta forma, “[…]os chamados "erveiros" são personagens que derivam da cultura indígena, assim como as benzedeiras e as parteiras, todos agentes de cura contemporâneos que utilizam de intervenções provindas da tradição indígena na América do Sul” (LUZ, 2005, p. 155). De acordo com Luz (2005), outra medicina introduzida nos países da América do Sul e América Central está relacionada com a população de origem africana através da escravidão que foi realizada nesses continentes pelos colonizadores europeus. Assim como a medicina indígena, a afro-americana também se pauta nos recursos naturais, entretanto, é mais espiritualizada em sua abordagem, pois há a figura do pai de santo ou mãe de santo que é o agente de cura nessa vertente e geralmente realizados através de rituais. 4.1 A MEDICINA PREVENTIVA DE CUBA Cuba tem a maior expectativa de vida dos países americanos, 76 anos para os homens e 81 anos para as mulheres (VIGNA; ORDONEZ, 2015). O fato está atrelado a fatos históricos e econômicos que influenciam diretamente na medicina, de maneira que repercute na cultura do país. Por conta do embargo diplomático e econômico com os Estados Unidos, tudo que era de origem e que partia de terras norte-americanas não entrava em Cuba. Entretanto, eram os americanos que tinham grande parte das tecnologias, no caso, as Este processo de assimilar e mesclar os traços mais significativos de duas culturas, dando origem a novas manifestações culturais, é chamado de "sincretismo cultural". Podemos ver mais claramente essas misturas na medicina e na religião, abordaremos em seguida. NOTA 145 referentes à saúde, como equipamentos para exame e até medicamentos, causando a escassez desses recursos na ilha. Juntamente com Revolução Cubana, por conta dos conflitos, muitos médicos fugiram de Cuba, correndo risco de acabar a medicina no país. Levando os pontos citados em consideração, houve um investimento liderado pelo médico Che Guevara, que revolucionou a medicina do país, propondo uma medicina preventiva, chamada de medicina natural y tradicional. Essa iniciativa foi tão positiva que os índices de Cuba desde então só estão em ascensão. A medicina natural y tradicional praticada em Cuba é formada por dez modali- dades terapêuticas, entre elas: acupuntura; fitoterapia (utilização de plantas); apiterapia (utiliza produtos das abelhas como: mel, pólen, própolis, etc.); homeopatia, terapia floral e ozonoterapia (a partir da introdução do elemento químico ozônio). O panorama da medicina em Cuba é um claro exemplo de como a medicina pode ser influenciada e influencia na cultura do país. 5 RELIGIÃO A religião foi objeto de estudo dos teólogos, mas, foi apenas com as ciências sociais na passagem do Século XIX para o XX, que a religiosidade recebeu a atenção dos estudiosos, como fenômeno cultural, antes que, teológico. É na religiosidade popular onde podemos encontrar a verdadeira síntese cultural. Do ponto de vista cultural, a religião pode ser considerada tanto um instrumento político quanto uma busca por respostas inexistentes que diversos povos criaram durante milênios. Há vários contos, fábulas e passagens religiosas que foram e são utilizados como instrumentos de condutas de uma sociedade, que direcionam virtudes e valores nos quais são refletidos na cultura de cada lugar. A imaterialidade dos sentimentos religiosos os associa de forma muito direta ao patrimônio cultural imaterial, que veremos no tópico seguinte. A religião tem uma ligação muito clara com a cultura e em como isso se manifesta nas ações e atitudes de um povo. Para exemplificar: pense na diferença do Brasil com um país árabe, por exemplo, Marrocos. Muitas das diferenças que você pode pensar e pontuar são guiadas e ocasionadas pela religião que impera em cada localidade. Mais informações, pesquise no site: https://diplomatique.org.br/medicina-as-alternativas-cubanas/. DICA 146 QUADRO 1 – RELIGIÃO DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS País Católicos (%) Evangélicos (%) Outros (%) Não religiosos (%) Argentina 92 2 6 - Bolívia 95 5 - - Brasil 73,6 15,4 3,6 7,4 Chile 89 11 - - Colômbia 81,7 15 1,4 1,9 Costa Rica 76,3 15,7 4,8 3,2 Cuba 40 3 7 50 El Salvador 83 17 - - Equador 94 3 3 - Guatemala 60 39 1 - Haiti 80 16 3 1 Honduras 60,3 28,7 11 - México 88 7 5 - Nicarágua 72,9 16,7 1,9 8,5 Panamá 85 15 - - Paraguai 90 10 - - Peru 88 8-10 1-2 - República Dominicana 95 - 5 - Uruguai 52 16 19 13 Venezuela 96 2 2 - FONTE: Oro e Ureta (2007, p. 285) Como visto, o catolicismo é a religião predominante na América Latina, decorrente de fatores históricos e culturais. As religiões outras que constam em vários países latino-americanos referem-se as religiões indígenas, dos maias e grupos andinos, principalmente, bem como o judaísmo, as religiões orientais, as religiões afro-americanas e os novos movimentos religiosos (ORO; URETA, 2007, p. 286). 5.1 O CATOLICISMO NA AMÉRICA A religião católica chegou na América Latina por meio da bagagem cultural que os europeus trouxeram na época da colonização. De acordo com Oro e Ureta (2007, p. 281), "[...] a expansão ibérica significou também a expansão do catolicismo na América Latina". Na Espanha semifeudal, a população e os seus valores eram influenciados pela religião. 147 A primeira impressão dos europeus ao chegarem na América foi referente aos índios. Já que eles eram primitivos, desnudos e desprovidos de toda a cultura espanhola, eles deveriam ser convertidos a uma "religião verdadeira" e não àquela no qual eles estavam acostumados a celebrar. Essas justificativas religiosas eram frequentemente utilizadas para dominar e escravizar os índios. O fato de os índios manterem suas religiões, suas crenças e seus rituais foi totalmente descartado. Dessa forma, o catolicismo imposto pelos espanhóis foi algo externo e superficial para os índios, no qual não implicou em uma conversão profunda. Como forma de resistência, os índios praticavam suas religiões, porém modificadas e encobertas de forma que fosse aceitável como católica aos espanhóis, e os rituais adaptados e adequados para esse propósito, isso fez sobreviverem, até hoje, as raízes indígenas. 148 Neste tópico, você aprendeu: • A cultura tem um caráter multifacetado. • A literatura é uma dessas facetas da cultura. • A cultura influencia nas obras literárias e as obras literárias influenciam na cultura. • A arquitetura é uma forma de expressão cultural. • Há Influência da arquitetura europeia em Buenos Aires. • Gaudí carrega uma grande importância na Arquitetura Catalã. • A medicina e a cultura estão relacionadas• Cuba utiliza da medicina preventiva. • A religião é considerada uma faceta da cultura. • O catolicismo tem predominância na América Latina. RESUMO DO TÓPICO 1 149 AUTOATIVIDADE 1 A cultura multifacetada é um termo empregado para fazer referências às facetas, nas quais a cultura se manifesta, visto que são essas que compõem uma determinada cultura. Levando em consideração a cultura hispânica e suas facetas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A literatura é considerada parte da cultura multifacetada pois é por ela que os domínios linguísticos se manifestam e são eternizados na escrita. ( ) A arquitetura está ligada apenas à história de um povo. É quase impossível perceber alguma manifestação cultural, social ou político através da arquitetura de um determinado lugar. ( ) Não há influência da cultura na medicina, visto que, é uma ciência na qual os tipos de tratamento são uniformes em qualquer lugar do mundo, principalmente na cultura hispânica. ( ) A religião é uma face da cultura e tem uma ligação com cada sociedade, entretanto, sua influência e características não podem ser percebidas apenas ao olhar determi- nado povo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - V - F – F. b) ( ) V - F - F – F. c) ( ) F - F - F – F. d) ( ) F - V - F – V. 2 “Desde que Cristóbal Colón piso las playas del nuevo mundo, se planteó la cuestión de las imágenes. Muy pronto, la imagen constituyó un elemento de referência, y luego de aculturación y dominio, cuando la iglesia decidió cristianizar a los indios desde la Florida a Tierra del Fuego. La colonización europea apresó al continente en una trampa de imágenes que no dejó de ampliarse, desplegarse y modificarse al ritmo de los estilos, de las políticas, de las reacciones y oposiciones encontradas” (GRUZINSKI, 1994, p. 3). Com a chegada dos europeus no continente americano houve o choque de culturas e consequentemente, a mescla da cultura que ali já estava, com a cultura que chegou para se instaurar. O sincretismo cultural é um termo empregado quando duas ou mais culturas se mesclam e dão origem a novas manifestações culturais. Sobre o sincretismo cultural hispânico, analise: 150 I- A mistura de culturas na América pós colonização só pode ser observada, até os dias de hoje, a partir da religião. A religião católica sobrou mudanças decorrentes da mescla com a cultura indígena. II- As pessoas que tratam, as que explicam as causas de doenças, os tipos de tratamento e a quem recorrem quando estão com problemas de saúde, são aspectos relacionados à medicina que mudam de acordo com a cultura. III- A medicina só sofreu o sincretismo cultural na América por conta dos indígenas e de suas crenças na integração e harmonia do homem com a natureza e da utilização de ervas e minerais como sistemas de cura. IV- Os índios que não aceitavam a imposição da religião católica, praticavam suas próprias religiões, porém modificadas e encobertas, de forma que pudessem ser aceitas como católica pelos espanhóis. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a afirmativa IV está correta. b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas. d) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas. 3 Disserte e exemplifique sobre a seguinte afirmação: "América Latina, como se sabe, “nasceu” católica. Isto é, os primeiros viajantes e exploradores espanhóis e portugueses aqui chegaram com o intuito não somente de conquistar economicamente terras e riquezas naturais, mas, também, de ver concretizado o sonho milenarista e salvacionista cristão, acalentado pelo imaginário europeu, de encontrar o paraíso terrestre, noção baseada no Gênesis e recheada pelo imaginário edênico ao longo dos séculos" (ORO; URETA, 2007, p. 281). 151 PRESERVAÇÃO UNIDADE 3 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO Preservar é garantir que as marcas de uma cultura e de um povo do passado, possam ser transmitidas a gerações futuras da mesma forma na qual nos foi transmitida no presente. Um trecho de Lemos (2010, p. 26) esclarecerá a importância da preservação: Preservar, diz o mestre Aurélio, é livrar de algum mal, manter livre de corrupção, de perigo ou dano, conservar, livrar, defender, resguardar. Todas essas providências, no nosso caso, estão, ou deveriam estar incidindo sobre uma amostragem representativa da totalidade dos elementos que compõem o amplo Patrimônio Cultural sobre todos, porque havendo tal entrelaçamento entre eles, como já vimos, se um deles não é guardado, o conjunto se desarmoniza e se desequilibra, o que no fundo não é bem o que se queria, pois, o escopo seria um fiel retrato de um estágio cultural. Tempos depois, com a antropologia como base, passou-se a entender que os seres humanos produzem não apenas arte e construções, mas que a ciência, técnicas, saberes, costumes, formas de se relacionar e se comunicar também constituem um legado cultural e que sem a preservação desses aspectos, parte da cultura de um povo vai morrendo (BARRETO, 2015). Assim, para preservar as características de uma sociedade, teremos que manter conservadas as suas condições mínimas de sobrevivência, todas elas explicitadas no meio ambiente e no seu saber. A ideia de preservação iniciou na revolução industrial na França e na Inglaterra [...], quando os edifícios passaram a ser substituídos pelas novas formas arquitetônicas e a sociedade começou a ser contaminada com a ideia de um país sem passado própria do novo mundo sem memória [...] (BARRETO, 2015, p. 112). NOTA 152 Utilizamos os patrimônios como uma forma de preservação da cultura nesta sociedade que está em constante mudança. Nas próximas páginas você vai entender um pouco mais sobre os tipos de patrimônios e como eles se estabelecem nos países hispânicos. 2 PATRIMÔNIO CULTURAL O Patrimônio Cultural é a memória de um povo de um determinado lugar. Carrega valor de representação e de identidade cultural para este mesmo povo. De acordo com Pelegrini e Funari (2008), o patrimônio cultural, inicialmente, era associado com aquilo que representaria nacionalidade, na forma de monumentos, edifícios, além de outras formas de expressão. Esse movimento de valorização das culturas, que se iniciou com aspectos materiais, que em geral eram produzidos pela elite, com o objetivo de confirmar e assegurar suas conquistas. De acordo com as autoras, aos poucos, a concepção de patrimônio cultural passou a se expandir para as manifestações dos grupos sociais em geral, não mais restringido à classe dominante, mas também, agregando os grupos marginalizados. Dessa forma, o patrimônio, que antes, era concebido como excepcional, aproximou-se cada vez mais das ações cotidianas e dos mais diversos grupos que compõem a sociedade. A escolha desses patrimônios é feita por órgãos oficiais de preservação. Patrimônio é o que recebemos de legado do passado, vivemos no presente e transmitimos às nossas futuras gerações. Assim, a UNESCO engajou-se nesse campo e passou a promover reflexões sobre estratégias pacíficas de desenvolvimento e mais precisamente nas áreas das ciências naturais, humanas e sociais, da cultura, da comunicação, da educação e da informação. Com isso, de acordo com Pelegrini e Funari (2008), em 1972, a UNESCO mobilizou cerca de 148 países em torno de um abrangente pacto em prol dos bens culturais e naturais da humanidade, chamado de Convenção do Patrimônio Cultural que reconhece que alguns lugares têm "valor universal excepcional" e devem fazer parte do patrimônio comum da humanidade (UNESCO, 1972). O conceito de Patrimônio da Humanidade será tratado nas próximas páginas. ESTUDOS FUTUROS 153 Desde então, cada país se compromete a conservar não somente os bens do Patrimônio Mundial localizados em seu território como também a proteger o próprio patrimônio nacional (UNESCO, 1972). Visto isso, o patrimônio cultural engloba dois elementos: • Patrimônio cultural: monumentos,grupo de edifícios e sítios que tenham grande valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. • Patrimônio natural: formações físicas, biológicas, geológicas, habitats de espécies de animais e vegetais ameaçadas e área com valor científico, de conservação ou estético, riquezas que estão no solo e no subsolo (BARRETO, 2015). O Patrimônio se estreita aos turismos, pois eles se configuram como lugares de afluências de visitantes e atrativo turístico. De acordo com Barreto (2015, p. 34), "[...] muitas vezes pode ser encontrado o turismo cultural com a denominação de heritage tourism, o que poderia ser traduzido como ‘turismo patrimonial’, visto que abrange tudo o que se refere ao patrimônio histórico e aos monumentos, ao legado cultural em sentido amplo". A seguir, você aprofundará mais sobre os tipos de patrimônios: material e imaterial. 3 PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL No tópico anterior você pôde conhecer um pouco sobre a preservação cultural e entender como essa questão é importante para que uma cultura prevaleça e seja passada para gerações posteriores. A ação de tombar um costume, uma dança, uma prática ou uma crença como patrimônio cultural é referente a este ato de preservação. Já neste tópico você conhecerá outros tipos de patrimônios, o material e o imaterial, que juntos com o cultural, constituem as práticas de preservação cultural mundial. Site da UNESCO: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world- heritage/cultural-heritage/. DICA 154 3.1 PATRIMÔNIO MATERIAL O patrimônio material é um conjunto de bens materiais que carregam valor cultural arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico, e que a sua preservação é de extrema importância. São considerados patrimônios materiais: sítios paisagísticos, sítios arqueológicos, construções, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. São considerados patri- mônios materiais tanto os culturais como os naturais. 3.2 PATRIMÔNIO IMATERIAL São considerados patrimônios imateriais: práticas, representações, expressões, conhecimento e técnicas, junto com os instrumentos objetos, artefatos e lugares culturais que lhe são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural (CONVENÇÃO PARA A SALVAGUARDA PATRIMÔNIO IMATERIAL, 2003 apud PELEGRINI; FUNARI, 2008). O patrimônio imaterial se manifesta em particular nos seguintes campos, de acordo com Pelegrini e Funari (2008): • Tradições e expressões orais, incluindo idioma como veículo. • Expressões artísticas. • Práticas sociais, rituais e atos festivos. • Conhecimentos e práticas relacionados à natureza e ao universo. • Técnicas artesanais tradicionais. Assim, de acordo com Pelegrini e Funari (2008), o patrimônio imaterial é transmitido de geração a geração e é alvo de constantes recriações por conta das mudanças que ocorrem na sociedade, entre as comunidades, nos grupos que convivem num dado espaço social, no meio ambiente, nas interações com a natureza e na própria história dessas populações. Com isso, as pesquisadoras apontam que a própria UNESCO reconhece esses processos de globalização e de transformação social presentes na contemporaneidade, com condições propícias para um diálogo entre as comunidades, Os Patrimônios da Humanidade são todos patrimônios materiais, no qual nos aprofundaremos mais adiante nesta unidade. ESTUDOS FUTUROS 155 mas geram também, da mesma forma, o fenômeno da intolerância, assim como graves riscos de deterioração do patrimônio imaterial, em carência de instrumentos e meios para sua salvaguarda. As autoras pontuam que se recomenda a adoção de medidas aplicadas à investigação, identificação, documentação, proteção, valorização e revitalização dos bens imateriais. A UNESCO proclamou alguns Patrimônios Imateriais nos anos de 2001, 2003 e 2005. Eles são distinguidos em duas categorias: • Formas de expressão populares e tradicionais • Espaços culturais, definidos por "lugares onde se concentram atividades populares e tradicionais". A seguir, alguns exemplos de patrimônios imateriais segundo a UNESCO nos países hispânicos: • A cosmovisão Andina dos Kallawayas de Bolívia: Grupo étnico da região montanhosa, Bautista Saavedra, ao norte de La Paz. A atividade principal dos Kallawayas é a medicina ancestral, na qual está associada a ritos e cerimônias que constituem a base da economia local. A cosmovisão desta cultura abarca todo o acervo relacionado a mitos, rituais, valores e expressão artística. Suas técnicas medicinais, baseadas nas crenças dos antigos povos indígenas dos Andes, têm um grande reconhecimento na Bolívia e em outros países da América do Sul, onde os médicos-sacerdotes kallawayas exercem a sua função. FIGURA 5 – POVO KALLAWAYAS FONTE: <http://www.crespial.org/pt/Content2/index/0006/NF/3/bolivia-pci-reconocido>. Acesso em: 29 nov. 2019. 156 • Carnaval na Colômbia: Todos os anos, durante os quatro dias que precedem a quaresma, o Carnaval de Barranquilla ocorre com danças e expressões culturais das distintas culturas colombianas. Essa mescla de diversas tradições locais transparece em vários aspectos nesta tradição como: as danças, os gêneros musicais e os instrumentos. A música do carnaval é interpretada por tambores e instrumentos de sopro. Os grupos de bailarinos com máscaras, atores, cantores e instrumentistas regam a multidão com suas representações teatrais e musicais inspiradas tanto em acontecimento histórico quanto da atualidade. FIGURA 6 – CARNAVAL DE BARRANQUILLA - DANZA DEL CONGO FONTE: <http://www.carnavaldebarranquilla.org/wp-content/uploads/2016/12/congo_barranquillero- 1024x573.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019. • O espaço cultural da fraternidade do Espírito Santo de congos de Villa Mella na Re- pública Dominicana: Criado por escravos africanos, a fraternidade tem grande im- portância na identidade cultural da população dominicana. A fraternidade do Espírito Santo celebra um ritual que inclui orações, danças e cantos, acompanhados do con- go, que é um tambor que tem a origem atribuía ao Espírito Santo. Para saber mais sobre esse patrimônio, acesse o site: https://ich.unesco. org/es/RL/el-espacio-cultural-de-la-cofradia-del-espiritu-santo-de-los- congos-de-villa-mella-00006. DICA 157 • O patrimônio oral e as manifestações culturais do povo Zápara no Equador e Peru: Os Zápara são um dos povos mais antigos da Amazônia e os últimos representantes de um grupo etnolinguístico que compreendia muitos outros povos antes da conquista espanhola. Eles desenvolveram uma cultura oral rica em conhecimentos sobre seu entorno natural, sobre a fauna, flora, e conhecimentos sobre plantas medicinais. Esse patrimônio também se expressa através de mitos, rituais, práticas artísticas. Sua língua carrega o conhecimento e a memória de toda uma região. Esse povo está em risco de extinção. • As festividades indígenas dedicadas aos mortos no México: Juntamente com o Día de los muertos essas celebrações ocorrem aos finais de outubro e começo de novembro de cada ano, período no qual marca o ciclo anual do milho, o cultivo predominante no país. Para facilitar o retorno das almas à terra, as famílias colocam pétalas de flores, velas e oferendas no caminho que vai desde sua casa até o cemitério. Os pratos favoritos dos defuntos são preparados e colocados ao redor do altar familiar e do túmulo, junto com flores e objetos artesanais. As festas indígenas dedicadas aos mortos estão enraizadas na vida cultural dos povos indígenas do México. Visite o site da UNESCO para saber mais: https://ich.unesco.org/ es/RL/el-patrimonio-oral-y-las-manifestaciones-culturales-del- pueblo-zapara-00007. DICA Essas fusões de ritos religiosos indígenas e festas católicas são resultados da tentativa de introduzir a visão de mundo europeia como você estudou no tópico anterior. NOTA • O güegüensena Nicarágua: É uma síntese da cultura espanhola e indígena que combina o teatro, a dança e a música, em forma de protesto contra o domínio colonial. É considerada uma das expressões mais distintivas da época colonial da América Latina. O nome da celebração dá nome ao personagem principal que é respeitado e venerado no país, e na história, ele se encontra com as autoridades coloniais 158 espanholas e se defende de maneira conciliadora e cooperativa. Este personagem é tão popular na Nicarágua que utilizam a expressão poner cara de Güegüense quando alguém aparenta ter autoridade enquanto trabalha sutilmente. • O mistério de elche na Espanha: De acordo com o site de turismo da Espanha, este patrimônio é um drama lírico de origem medieval, que se encena desde o Século XIII. A representação está baseada em vários textos dos Evangelhos Apócrifos, muito populares durante a Idade Média. É o único exemplo vivo do teatro lírico, é também o único no mundo que é apresentado dentro de uma igreja, neste caso, na Basílica de Santa Maria em Alicante. Para saber mais sobre o patrimônio, acesse: https://www.spain.info/ pt_BR/que-quieres/agenda/fiestas/alicante/misterio_de_elche.html DICA A seguir outros patrimônios imateriais hispânicos que não foram comentados anterior- mente, mas que fazem parte da listagem da UNESCO e que podem ser acessados pelo site: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000147344_spa. • O espaço cultural de Palenque de San Basílio da Colômbia. • Tradição de BOYEO e as carretas de Costa Rica. • A Tumba Francesa em Cuba. • A tradição do teatro bailado Rabinal Achí na Guatemala. • A arte têxtil de Taquile no Peru. • A Patum de Berga na Espanha. • A língua, a dança e a música dos Garífunas de Belice, Guatemala, Honduras e Nicarágua. DICA O Carnaval de Oruro da Bolívia, que também faz parte desta listagem, já foi mencionado na Unidade 2. NOTA 159 3.3 PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) reconhece e lista um local como Patrimônio Mundial ou como Patrimônio da Humanidade para garantia da preservação, visto que esse lugar tem importância única para o mundo e para a humanidade. Essa foi uma estratégia tomada pela UNESCO como forma de preservação, visto que estava ocorrendo a deterioração de lugares e monumentos por falta de interesse ou de dinheiro para sua manutenção. Quando um lugar é tombado como Patrimônio da Humanidade, passa a pertencer a todos os povos do mundo, independentemente do lugar onde está localizado. Assim, esses Patrimônios Mundiais constituem um patrimônio universal que, de acordo com a UNESCO, cuja proteção a comunidade internacional inteira tem o dever de cooperar. Os Patrimônios podem ser estabelecidos como: bens culturais, bens naturais ou bens mistos. Os bens culturais devem: 1. Representar uma obra-prima do gênio criativo humano, ou II- ser a manifestação de um intercâmbio considerável de valores humanos durante um determinado período ou em uma área cultural específica, no desenvolvimento da arquitetura, das artes monumentais, de planejamento urbano ou de paisagismo, ou III- aportar um testemunho único ou excepcional de uma tradição cultural ou de uma civilização ainda viva ou que tenha desaparecido, ou IV- ser um exemplo excepcional de um tipo de edifício ou de conjunto arquitetônico ou tecnológico, ou de paisagem que ilustre uma ou várias etapas significativas da história da humanidade, ou V- constituir um exemplo excepcional de habitat ou estabelecimento humano tradicional ou do uso da terra, que seja representativo de uma cultura ou de culturas, especialmente as que tenham se tornado vulneráveis por efeitos de mudanças irreversíveis, ou VI- estar associados diretamente ou tangivelmente a acontecimentos ou tradições vivas, com ideias ou crenças, ou com obras artísticas ou literárias de significado universal excepcional (o Comitê considera que este critério não deve justificar a inscrição na Lista, salvo em circunstâncias excepcionais e na aplicação conjunta com outros critérios culturais ou naturais). Os bens naturais devem: 2. Ser exemplos excepcionais representativos dos diferentes períodos da história da Terra, incluindo o registro da evolução, dos processos geológicos significativos em curso, do desenvolvimento das formas terrestres ou de elementos geomórficos e fisiográficos significativos, ou 160 II- ser exemplos excepcionais que representem processos ecológicos e biológicos significativos para a evolução e o desenvolvimento de ecossistemas terrestres, costeiros, marítimos e de água doce e de comunidades de plantas e animais, ou III- conter fenômenos naturais extraordinários ou áreas de uma beleza natural e uma importância estética excepcionais, ou IV- conter os habitats naturais mais importantes e mais representativos para a con- servação in situ da diversidade biológica, incluindo aqueles que abrigam espécies ameaçadas que possuam um valor universal excepcional do ponto de vista da ciên- cia ou da conservação. Os sítios mistos têm, ao mesmo tempo, excepcionais valores natural e cultural. Desde 1992, interações significativas entre o homem e o meio natural têm sido reconhe- cidas como paisagens culturais. A seguir, alguns exemplos desses bens nos países de língua espanhola: Parque Nacional Los Glaciales – Argentina - O Parque Nacional Los Glaciales, situado na Patagônia Argentina, é considerado um patrimônio natural. Ele foi criado para preservar uma grande extensão de gelo continental e glacial que abrange, aproximadamente, 726.927 hectares. FIGURA 7 – PARQUE NACIONAL LOS GLACIALES FONTE: <http://whc.unesco.org/uploads/thumbs/site_0145_0013-500--20151104151127.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019. Cidade de Potosí – Bolívia - A cidade de Potosí na Bolívia era considerada o maior complexo industrial do mundo do Século XVI. Chama a atenção pois é considerado um patrimônio cultural em extinção. 161 FIGURA 8 – CIDADE DE POTOSÍ – BOLÍVIA FONTE: <http://whc.unesco.org/uploads/thumbs/site_0420_0003-500--20151104160303.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019. Fortaleza de San Pedro de La Roca – Cuba - A fortaleza de San Pedro de La Roca, na província de Santiago de Cuba, se originou a partir da rivalidade comercial e política que havia na região do Caribe no Século XVII. É considerada a mais completa e a mais conservada arquitetura militar espanhola localizada na América. FIGURA 9 – FORTALEZA DE SAN PEDRO DE LA ROCA – CUBA FONTE: <http://whc.unesco.org/uploads/thumbs/site_0841_0010-500--20151104165649.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019. Santuário histórico de Machu Picchu – Peru - Santuário do império Inca, é uma das realizações arquitetônicas mais deslumbrantes e impactantes. Considerado um patrimônio misto, tanto cultural como natural. 162 FIGURA 10 – SANTUÁRIO HISTÓRICO DE MACHU PICCHU FONTE: <http://whc.unesco.org/uploads/thumbs/site_0274_0001-500--20151105151608.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019. Alhambra, Generalife e Albaicín de Granada - Espanha - é o núcleo me- dieval de Granada e um complexo de fortalezas e residências reais. Alhambra é uma cidade muralhada onde se centravam os serviços para a população, como: palácio real, mesquitas, escolas e oficinas. Já Generalife era utilizado como zona rural, com hortas e jardins, utilizado pelos reis muçulmanos de Granada. Já Albaicín foi um bairro que era característico pela canalização e distribuição de água potável da região de Granada. FIGURA 11 – ALHAMBRA, GENERALIFE E ALBAICÍN DE GRANADA - ESPANHA FONTE: <http://whc.unesco.org/uploads/thumbs/site_0314_0022-750-0-20151105153009.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019. 163 Cidade Colonial de Santo Domingo – República Dominicana - Santo Domingo foi a primeira cidade onde foi construída a primeira catedral, o primeiro hospital, a primeira universidade e a primeira aduana do continente americano após o descobrimento de Cuba, em 1492. FIGURA 12 – CIDADE COLONIAL DE SANTO DOMINGO FONTE: <http://whc.unesco.org/uploads/thumbs/site_0526_0002-500--20110915115514.jpg>.Acesso em: 29 nov. 2019. Forte da costa caribenha do Panamá - Portobelo y San Lorenzo - Os fortes panamenhos são exemplos da arquitetura militar nos Séculos VXII e VXIII, nos quais faziam parte de um sistema criado pela Coroa Espanhola para proteger o comércio transatlântico. Desde 2012, é considerado um patrimônio cultural em perigo por conta da deterioração ocasionada pelo tempo. FIGURA 13 – FORTE DA COSTA CARIBENHA DO PANAMÁ FONTE: <http://whc.unesco.org/uploads/thumbs/site_0135_0002-500--20151105151442.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019. 164 A seguir, a listagem com alguns Patrimônios da Humanidade localizados nos países de língua espanhola, divididos por país e por tipo de patrimônio. Esses patrimônios podem ser utilizados e explorados em suas aulas como futuro professor da língua. Argentina: Parque Nacional do Iguaçu (patrimônio natural); Península Valdés (patrimônio natural); Caverna das Mãos (patrimônio natural); Fazendas de Córdoba (patrimônio natural); Quebrada de Humahuaca (patrimônio natural); Parques de Ischigualasto e Talampaya (patrimônio cultural). Bolívia: Centro histórico de Sucre (patrimônio cultural) Chile: Parque Nacional Rapa Nui (patrimônio cultural); Bairro histórico de Valparaíso (patrimônio cultural). Colômbia: Parque Nacional Los Katíos (patrimônio natural); Porto, fortalezas e conjunto monumental de Cartagena (patrimônio cultural); Paisagem cultural do café de Colômbia (patrimônio cultural). Costa Rica: Parque Nacional Cocos Island (patrimônio natural); Parque Nacional da Amizade (patrimônio natural). Cuba: Cidade antiga de Havana e seu sistema de fortes (patrimônio cultural); Trindad y Valle de los Ingenios (patrimônio cultural); Parque Nacional Desembarco del Granma. República Dominicana: Cidade colonial de Santo Domingo (patrimônio cultural); Equador: Cidade de Quito (patrimônio cultural); Ilhas Galápagos (patrimônio natural). El Salvador: Sitio arqueológico de Joya de Cerén (patrimônio cultural). Guatemala: Cidade de Antígua (patrimônio cultural); Parque Nacional Tikal (patrimônio misto). Honduras: Sitio maya de Copán (patrimônio cultural). México: Centro histórico da Cidade do México e Xochimilco (patrimônio cultural); Cidade pré-hispânica de Teotihuacan (patrimônio cultural). Nicarágua: Ruinas de León Viejo (patrimônio cultural). Panamá: Fortes da costa caribenha do Panamá: Portobelo e San Lorenzo (patrimônio cultural). 165 Paraguai: Missões jesuítas da Santíssima Trindade de Paraná e Jesus Tavarangue (patrimônio cultural). Peru: Cidade de Cuzco (patrimônio cultural); Parque Nacional Huascarán (patrimônio natural). Espanha: Alhambra, Generalife e Albaicín de Granada (patrimônio cultural); Centro histórico de Córdoba (patrimônio cultural); Obras de Antoni Gaudí (patrimônio cultural); Ibiza, biodiversidade e cultura (patrimônio misto). Uruguai: Bairro histórico de Colonia del Sacramento (patrimônio cultural). Venezuela: Cidade universitária de Caracas (patrimônio cultural); Parque nacional Canaima (patrimônio natural). No site da UNESCO http://whc.unesco.org/en/list/, você pode ter acesso à lista completa, além de mais informações dos patrimônios culturais materiais da humanidade. DICA 166 Neste tópico, você aprendeu: • É importante a preservação cultural para as futuras gerações. • Os patrimônios atuam como forma de preservação. • O patrimônio cultural é uma forma de preservação e conheceu alguns exemplos do mundo hispânico. • O patrimônio da humanidade é uma forma de preservação e conheceu alguns exemplos do mundo hispânico. • O patrimônio material é uma forma de preservação e conheceu alguns exemplos do mundo hispânico. • O patrimônio imaterial é uma forma de preservação e conheceu alguns exemplos do mundo hispânico. RESUMO DO TÓPICO 2 167 AUTOATIVIDADE 1 Transmitido pelas gerações e sempre recriado por grupos e pelas comunidades, em face de sua interação com a natureza, de seu ambiente e de sua história, o patrimônio imaterial gera sentimento de identidade e de continuidade, promovendo o respeito à diversidade cultural e à própria criatividade humana. Sobre o patrimônio imaterial, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As lendas, canções e narrativas que constituem o patrimônio folclórico de uma sociedade, desde que nunca transcritos e transformados em textos com autoria. b) ( ) O conjunto das edificações construídas no passado que estejam ameaçadas de deterioração e ainda não foram estudadas e tombadas pelo Serviço de Patrimônio Histórico. c) ( ) As expressões e movimentos artísticos populares reconhecidos pelo Estado, excluindo-se as técnicas de artesanato e conhecimentos transmitidos oralmente. d) ( ) As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas − com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados. e) ( ) As habilidades e práticas associadas a conhecimentos e técnicas populares − com a produção de instrumentos, objetos, artefatos − que a UNESCO reconheça como patrimônio intangível da Humanidade. 2 O patrimônio é uma forma de preservação da cultura de um determinado povo. Sobre essa temática, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O conceito de patrimônio ampliou-se ao longo do tempo e passou a contemplar uma variedade de expressões culturais, como patrimônio histórico, material, imaterial e artístico. ( ) Um patrimônio histórico contém memórias individuais e (ou) coletivas que justificam a sua escolha como patrimônio. ( ) Quando tombado como patrimônio da humanidade, este bem é de total responsabilidade de preservação apenas do país no qual está localizado. ( ) Muitos dos pontos turísticos de países como Peru, Espanha e México são conside- rados patrimônios da humanidade. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F – V. b) ( ) F - V - F – V. c) ( ) V - V - F – V. d) ( ) V - V - F – F. 168 169 TÓPICO 3 — SALA DE AULA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, você irá refletir e discutir como todos os aspectos culturais, vistos até o momento, nesta disciplina, possam ser incorporados nas suas futuras aulas como professor de língua espanhola. Serão abordados aspectos que são importantes a serem discutidos e observados em uma aula quando se trata de uma diferente cultura, costumes e crenças, como o preconceito linguístico, preconceito religioso, tolerância, ética e respeito. Você também conhecerá, algumas estratégias e caminhos metodológicos para que essas e, outras, temáticas culturais possam ser introduzidas dentro de suas aulas de língua espanhola de maneira lógica e significante. 2 CULTURA NA SALA DE AULA O ensino de língua estrangeira perpassa por muito mais aspectos além dos códigos linguísticos e gramaticais. Ensinar uma língua estrangeira é ensinar a cultura e a história de um povo, visto que a linguagem desempenha um papel social. Dessa forma, é imprescindível que o ensino de um idioma leve em consideração toda a bagagem cultural daquele coletivo, pois é o meio pelo qual a linguagem se desenvolveu e se desenvolve naquela determinada sociedade. A importância de conhecer a cultura de um povo com o qual se comunica se dá, pois o aluno conseguirá ter sucesso em sua comunicação, já que poderá interagir de forma competente com aquela comunidade linguística e com aquele contexto que é diferente do seu. A confiança depositada no professor de língua estrangeira exige a delimitação de objetivos adequados para a compreensão a partir de elementos culturais que são transmitidos juntos à língua que ele ensina. Para isso, é preciso que o professor de língua estrangeira desenvolva uma sensibilidade especial frente às outras culturas e grupos sociais, para que possa transmitir aspectos da cultura da língua que ensina, ou seja, deve dominar estratégias para desenvolver um diálogo intercultural diluído no processo de ensino-aprendizagem da língua. 170 Como aponta Ventura (2008),a contextualização da língua é um passo muito importante para o ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira, e esta vem marcada pela cultura que é o canal que facilita a imersão do aluno nas questões culturais e no seu próprio desenvolvimento linguístico. De acordo com Ventura (2008), o ensino a partir de uma concepção comunica- tiva da língua mantém o enfoque unificado em consonância com a língua e a cultura. O ensino da língua não pode ser desvinculado com as situações de comunicação real e com o que rodeia o contexto cotidiano dos alunos. Dessa maneira, a abordagem co- municativa de língua exige a inserção da cultura, já que é quase impossível ensinar uma língua sem fazer referência à cultura de seus falantes, a suas ideias, a suas crenças, a sua realidade e ao seu entorno. Assim, a língua e a cultura de um povo não podem ser ensinadas de maneira desassociada, já que a língua representa a experiência humana de entender o mundo, interpretação de fenômenos, crenças, histórias, que se concei- tualizam e são expressadas através da língua. Desta maneira, a cultura e língua formam um único corpo. Como futuro professor de língua espanhola, e levando em consideração todos os aspectos culturais que rodeiam esta língua, visto que é falada em 21 países, sendo uma das línguas mais faladas no mundo, é importante considerar essa complexidade cultural, pois, de acordo com Sarmento (2004), isto implica no professor ter conhecimento sobre essas diferenças culturais para que possa ser abordada em sala de aula. O professor, por sua vez, tem que familiarizar os alunos com as diferentes culturas e conscientizá- los quanto às situações comunicativas que possam surgir por conta dessas diferenças. É importante também relacionar a própria cultura dos alunos com a cultura da língua estrangeira, para assim utilizar de estratégias adequadas com o fim de estabelecer contato com pessoas da cultura meta e a capacidade de fazer um intermédio entre ambas as culturas, de abordar mal-entendidos culturais e superar estereótipos como forma de evitar o preconceito. No equívoco gramatical, a comunicação não é estabelecida, não há o entendimento, já no pragmático, pode resultar em problemas com o interlocutor pelo mal-entendimento e em algumas vezes acarretar em preconceitos, nos quais podem causar danos à imagem social do interlocutor (VENTURA, 2008). O professor de LEM (Língua Estrangeira Moderna) deve constituir um papel de "mediador intercultural", de acordo com Marillas (2002 apud VENTURA, 2008). Ele é capaz de integrar os conhecimentos prévios dos alunos com os novos, além de incentivar atitudes positivas através do conhecimento, seja ele linguístico ou cultural, evitar mal- entendidos e falta de conhecimento sobre os valores da nova cultura. A língua e a cultura facilitam o exercício, a prática e o desenvolvimento da competência linguística e da competência cultural, já que contribuem para o conhecimento de elementos verbais e não verbais, nos quais são indispensáveis para o processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira. O esquecimento ou 171 a abstração desses pontos na hora da prática pedagógica, na maioria das vezes, é ofuscado pelo enfoque apenas nos aspectos visíveis da cultura, as quais remetem a língua, vestuário, hábitos, religião, entre outros. Entretanto, esses aspectos invisíveis de uma cultura são pontos igualmente muito importantes: Qual é o atraso permitido para que alguém não seja considerado mal-educado, que tópicos devem ser evitados ao iniciarmos uma conversa, como podemos mostrar atenção e interesse quando estamos ouvindo, como mostramos ao falante que gostaríamos que ele passasse para o próximo ponto conversacional. Esses, entre outros, são aspectos culturais dos quais não nos damos conta, mas que podem determinar o sucesso de uma comunicação intercultural: quando falar ou não falar; o que falar, o que é considerado adequado, que tipo de pergunta pode ser feito; mecanismos de controle da conversação, de pausa e ritmo (entonação); o que deve ser comunicado indiretamente, e como ser indireto; coesão e coerência (TANNEN, 1994 apud SARMENTO, 2004, p. 194). Esses conhecimentos são indispensáveis para que os falantes de diferentes comunidades linguísticas possam realizar uma comunicação bem-sucedida, sem que haja algum tipo de mal-entendido, falta de respeito ou até mesmo preconceito. Assim, esses aspectos são fundamentais a serem apontados e trabalhados por você, futuro professor de língua espanhola. Um ponto importante quando se trabalha com diferentes culturas e suas manifestações dentro de sala de aula, é ter o que cuidado para que não desenvolva a criação de estereótipos. O foco excessivo na cultura visível pode criar um conforto e uma supergeneralização dos modos de vida das pessoas desta determinada cultura, acarretando assim interpretações errôneas (SARMENTO, 2004). 3 ÉTICA E RESPEITO Quando trabalhamos com uma língua estrangeira, trabalhamos com uma nova cultura. Você já viu e já discutiu esse ponto no decorrer desta disciplina. Entretanto, quando entramos em contato com uma nova cultura, muitas coisas nos surpreendem e, algumas vezes, podem nos causar estranhezas, visto que podem divergir muito da nossa realidade e do que estamos acostumados. Você provavelmente se deparou com situações parecidas no decorrer da leitura deste material. O que é de extrema importância, é que não se perca o respeito e a ética com as culturas a serem estudadas. Muitos preconceitos fazem parte de inverdades, distorções e falácias que povoam preconceitos nos quais criamos sobre algo que surge e que nos causa estranheza, algo que seja diferente de nós. Quando estudamos uma língua estrangeira, essas divergências são ainda mais evidenciadas por conta de estarmos em contato 172 e conhecermos uma nova cultura, novos costumes. Dessa forma, esses mitos e preconceitos podem ser engatilhados por alguma ordem que possa divergir um pouco da sua, seja ela: racial, cultural ou socioeconômica. Para Bizarro (2012), uma das fases de desenvolvimento da competência cultural é a fase da curiosidade e do espanto, é nesta que entra o papel do professor como mediador cultural. Ventura (2008) coloca que é pertinente contrapor o choque cultural dos estudan- tes, ou seja, que o professor realize uma correta apresentação e descrição linguística desde um ponto de vista pragmático tanto da língua como da cultura, com a finalidade dos pro- cessos de ensino-aprendizagem. Comparando a cultura materna com a cultura meta para evitar más interpretações e não chegar a estereótipos e etnocentrismo. O Plan Curricular del Instituto Cervantes (1994) também prevê a aproximação da cultura materna com a cul- tura hispânica, para que assim, possa transmitir uma imagem autêntica e colaborar com a destruição de preconceitos. Bagno (2013) aponta que o preconceito é causado pela intolerância, inflexibili- dade, fanatismo e desrespeito. Esses são fatores que devem ser trabalhados tanto em você como professor de língua espanhola, já que poderá lidar com situações que podem aparecer visto a diversidade cultural que você levará à sala de aula, quanto nos alunos. É importante que você esteja sempre preocupado e determinado a trabalhar para que aquelas atitudes, citadas no começo do parágrafo, não sejam praticadas, e que o res- peito prevaleça, seja ele com uma nova cultura ou com a mesma na qual os nossos alu- nos estão inseridos. A seguir, alguns tipos de preconceitos que podem aparecer quando inserimos o estudo de uma nova cultura nas aulas de língua estrangeira. 3.1 PRECONCEITO LINGUÍSTICO Quando se estuda uma nova língua um dos preconceitos mais recorrentes é o linguístico, em se tratando da língua espanhola na qual dispõe de uma enorme quantidade de países e de falantes, sendo assim, apresentando muitas variantes do idioma. Bagno (1999) entende por preconceito linguístico um tipo de discriminação e comparação indevida, feita entre uma norma culta padrãode uma língua, e entre a forma coloquial na qual as pessoas realmente se comunicam. Esse preconceito voltado para o ensino de língua espanhola, pode acontecer também, quando se compara a forma de falar de diferentes regiões e países. O ensino da cultura está totalmente atrelado com a variante na qual, você professor, utiliza em sala de aula, visto que uma variante não carrega apenas questões fonéticas e lexicais, mas também, pragmáticas e sociolinguísticas que determinam e apresentam muitos elementos linguísticos não visíveis, como já tratamos anteriormente. 173 A utilização de uma variante não pode menosprezar as demais. Uma variante não é mais rica, não é mais complexa, não é mais "correta" que outra. Uma variante não tem nada de melhor que outra variante. Para que o preconceito linguístico não ocorra dentro da sua aula é importante se atentar a alguns aspectos: • O ensino da língua voltado para a comunicação, nas mais diferentes linguagens e gêneros que circulam na sociedade e nos diferentes países. • Utilizar variedades linguísticas, sendo elas de prestígios ou não. • Praticar a reflexão linguística para a formação intelectual do cidadão através de fatos linguísticos reais. • A variação linguística tem que ser objeto e objetivo do ensino da língua, como afirma Bagno (2008, p. 35): [...] uma educação linguística voltada para a construção da cidadania numa sociedade verdadeiramente democrática não pode desconsiderar que os modos de falar dos diferentes grupos sociais constituem elementos fundamentais da identidade cultural, da comunidade e dos indivíduos particulares, e que denegrir ou condenar uma variedade linguística equivale a denegrir ou condenar os seres humanos que a falam, como se fossem incapazes, deficientes ou menos inteligentes - é preciso mostrar em sala de aula e fora dela, que a língua varia tanto quanto a sociedade varia, que existem muitas maneiras de dizer a mesma coisa e que todas correspondem a usos diferenciados e eficazes dos recursos que o idioma oferece a seus falantes. 3.2 PRECONCEITO RELIGIOSO A religião é um ponto que traz, e que sempre trouxe à tona, problemas para lidar com as diferenças na sociedade. Sempre foi causa de muitas guerras e discordâncias. Assim, ao levar essa temática para sala de aula, há que ter cuidado redobrado para que situações de intolerância e preconceito não ocorram, visto que esse assunto que pode gerar divergências em relação a valores e crenças pessoais dos alunos. Por entrar em contato com uma nova cultura, com a diversidade, é importante que se incentive e que se pratique a tolerância, que, de acordo com Rodrigues (2013, p. 212), corresponde em: "respeitar o que se constitui diferentemente de nós, de assumir as assimetrias dos pontos de vista étnico e cultural e/ou ideológicos e tentar compreender a diferença nos termos mesmos do outro, ou seja, pela sua perspectiva, sem objetificá-lo ou subsumi-lo". A tolerância permite que o aluno possa reconhecer as diferenças e a partir disto, construir sua autonomia e saber lidar com as diferenças dos outros, sejam elas, individuais ou coletivas. Também, é um meio de guiar o aluno na construção da sua identidade, de maneira que lhe conduz a uma convivência social pacífica, com pluralidades de opiniões e desta forma, ajudando a despertar a sua consciência cultural. 174 4 IDEIAS E SUGESTÕES Todos as facetas culturais que vimos nas unidades anteriores podem ser utilizadas nas suas futuras aulas como professor de língua espanhola, pois são temáticas, que nos ajudam a conhecer e a nos aproximar mais da cultura e da língua estudada. A seguir, algumas ideias e sugestões para o uso dessas temáticas e outras estratégias em aula. 4.1 GÊNEROS TEXTUAIS A utilização de gêneros textuais em sala de aula está extremamente conectada com a cultura e com a sociedade, visto o seu poder comunicativo, como Marcuschi (2002, p. 1) aponta: Já se tornou trivial a ideia de que os gêneros textuais são fenôme- nos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e es- tabilizar as atividades comunicativas do dia a dia. São entidades só- cio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e interpretativo das ações humanas em qualquer contexto discursivo, os gêneros não são instrumentos estanques e enrijece- dores da ação criativa. Caracterizam-se como eventos textuais al- tamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades socioculturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se consi- derar a quantidades de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita. A quantidade de gêneros textuais foram evoluindo com o passar do tempo. Inicialmente, nos povos de cultura essencialmente oral havia uma quantidade limitada de gêneros. Depois, com a invenção da escrita, essa quantidade foi se multiplicando, hoje com a tecnologia eletrônica e digital, com o surgimento de diferentes meios e aparatos tecnológicos como: telefone, gravador, rádio, tv, computador, internet e celular, vivenciamos o surgimento de novas formas de se comunicar e consequentemente de novos gêneros textuais, sendo eles orais e escritos. Os gêneros textuais surgem, situam-se e integram-se funcional- mente nas culturas em que se desenvolvem. Caracterizam-se muito mais por suas funções comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades linguísticas e estruturais (MARCUSCHI, 2002, p. 20). Os gêneros são pautados em critérios externos e sociocomunicativos nos quais os interlocutores direcionam os seus textos, de acordo com Gulich (1986 apud MARCUSCHI 2002): 175 • Canal/meio de comunicação (telefonema, carta, telegrama). • Critérios formais (conto, discussão, debate, contrato, ata, poema). • Natureza do conteúdo (piada, prefácio de livro, receita culinária, bula de remédio). Dessa forma, os gêneros textuais podem ser aplicados na sua aula, como professor de língua espanhola, como uma maneira de comunicação e atividade cultural, podendo agregar e vincular com temáticas culturais abordadas nesta matéria, e todas as outras que fazem parte da cultura hispânica. 4.2 LITERATURA Na aprendizagem de uma língua estrangeira a literatura funciona como um reflexo de uma época histórica, de um modo de perceber o mundo, ou seja, se trata de uma perspectiva cultural, histórica e social, além da linguística da dita língua. Com a utilização da literatura nas aulas de línguas estrangeiras, se pode melhorar tanto as competências linguísticas dos alunos, quanto despertar seu interesse pela cultura meta (VENTURA, 2008). Os textos literários têm a capacidade de apontar diversos aspectos gramaticais, funcionais, comunicativos e culturais, fatores imprescindíveis para uma aula de língua espanhola. Assim, a literatura é uma faceta da cultura. Como vimos em tópicos anterio- res, é um elemento interessante de se trabalhar. • São materiais didáticos autênticos. • A produção literária abarca diversidade de registros, recursos linguísticos, e possibi- lidades expressivas. • Nas criações literárias como novelas e teatro os personagens, produzem atos de fala a partir da experiência cotidiana do uso da linguagem. • Referencias, conexões e contrastes culturais presentes nos textos. • Desenvolver o hábito da leitura como recurso para o aperfeiçoamento e ampliação linguística. • Conhecer manifestações artísticas culturais da língua na qual se está aprendendo. Levar em consideração esses fatores quando você for utilizar os gêneros em sala de aula. IMPORTANTE 176 Entretanto, com uso da literatura temos que levar alguns pontos em consideração e com atenção. É importante que não seja utilizado de maneira descontextualizada e fragmentada, a escolha da obra tem que refletir os objetivosmetodológicos e linguísticos, além de considerar as preferências, contextos e perfis dos alunos. A escolha equivocada do material pode causar dificuldade em relação ao vocabulário, tornando-o inadequado para aquele momento. Nos textos literários em língua estrangeira é importante, também, que apresentem uma estrutura sintática clara e próxima ao da fala coloquial, pois apresentam aspectos pragmáticos, de conversação e marcadores que estruturam e formam a comunicação cotidiana. De maneira que se os textos são muito rebuscados e com estilo linguístico complexo, os alunos tomam esses tipos de textos como incompreensíveis e acarreta no interesse e significado que lhe é atribuído a língua (VENTURA, 2008). Entretanto, o vocabulário que se extrai, que se tem contato na obra literária, tem de ser em um nível para que possa contribuir para a extensão do léxico, e que permita que o estudante conheça melhor a cultura e a vida de um povo com o qual vai praticar e desenvolver suas habilidades comunicativas na língua estrangeira. Os textos nos direcionam para um caminho determinado no qual é possível descobrir muitas situações comunicativas diferentes, provindas de distintas categorias: social, econômica e cultural. Outro ponto que tem que ser levado em consideração é a capacidade do texto de surpreender, interagir e envolver o aluno-leitor. Obras atrativas que ofereçam uma estrutura aberta e que assim possam ser utilizadas em sala de aula de maneira criativa e envolvente, para que ao fim, se possa alcançar a comunicação (VENTURA, 2008). É interessante que sejam desenvolvidas estratégias de compreensão textual que possam reverberar em produções orais e escritas e em habilidades de compreensão e expressão. Já que se entende que por meio da literatura o aluno se aproxima das situações comunicativas que se produzem fora da sala de aula, e assim, gerando um maior entendimento do mundo da cultura da língua estrangeira. De acordo com Wessels (1997, p. 53 apud VENTURA, 2008, p. 57), "entonces la labor del profesor consiste en dar vida a esos diálogos del libro para que los personajes salten de las páginas y sean personas de carne y hueso". A literatura potencializa o processo nas estratégias de comunicação e facilita que o aluno aprenda e adquira a língua, experimentando, comunicando, cooperando, negociando, participando e analisando as situações que aparecem no texto. Além disso, a literatura nos permite que possa derivar tantas outras atividades a partir dela mesma. Entretanto, é você, futuro professor, que vai proporcionar esses momentos para essas ações e para essas expressões comunicativas (VENTURA, 2008). A sequência didática pode ser uma boa estratégia para essa finalidade. 177 4.3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA A sequência faz parte do processo de estruturação de uma aula e com o seu formato, sendo este dividido em: introdução da aula, a sequência (a divisão da aula e de como cada elemento desta divisão se conecta) e o encerramento. Como propõe Ventura (2008), ao início de cada aula pode ser um momento interessante para refletir e analisar, se adequado, os acontecimentos culturais através da oralidade. Os minutos iniciais cumprem a função de introduzir estratégias cognitivas que configuram o processo de estruturação de uma aula, de maneira prática e efetiva para conquistar um clima favorável em classe. Começar com perguntas que proporcionem a utilização de algumas construções linguísticas, como perguntar do fim de semana para praticar o passado, ou perguntar o que vão fazer no feriado para praticar o futuro, além é claro, de comentar acontecimentos culturais e políticos que possam ter ocorrido nos países hispânicos, para recuperar e comentar aspectos culturais do país em questão. Além de outras situações espontâneas que podem ser trazidas pelos alunos, trataremos dessa questão nas próximas páginas. A sequência didática, assim como outras metodologias ativas, facilita a inserção de conteúdos extensos, ou o trabalho com uma obra de literatura já que o conteúdo consegue ser trabalhado em várias aulas e segue uma sequência lógica. A passagem de uma atividade para outra é um ponto no qual tem que estar bem estruturado, que as transações e ganchos feitos favoreçam a fluidez da próxima atividade. 4.4 APRENDIZAGEM BASEADA POR PROJETOS A aprendizagem baseada por projeto é uma metodologia ativa, a qual: [...] permite que os alunos confrontem as questões e os problemas do mundo real que consideram significativos, determinando, como abordá-los e, então, agindo cooperativamente em busca de soluções (BARELL, 2010; BARON, 2010; BELLAND; FRENCH; ERTMER, 2009; LARMER; MERGENDOLLER, 2010 apud BENDER, 2014, p. 33). Em outras palavras, essa metodologia permite que os alunos possam traçar um caminho até a resolução de determinado problema, ou seja, não consiste em um trabalho em uma aula isolada, e sim, este projeto, pode ser dividido em várias etapas durantes várias aulas. Isto favorece o ensino da cultura já que muitas temáticas, como vimos neste material, podem requerer várias aulas para serem bem trabalhadas e aprofundadas. Outra importante consideração é que esses problemas são criados a partir de motivações do mundo real, sendo assim, mais um indício para que a cultura possa ser trabalhada dentro de sala de aula de maneira contextualizada. 178 A utilização e projetos também favorece a relação interpessoal dentro de sala de aula, já que, ao trabalhar em equipes os alunos desenvolvem habilidades colaborativas, além de aumentar a motivação para aprender. As tecnologias digitais desempenham um papel decisivo nesta metodologia, o que proporciona mais autonomia e criatividade para os alunos. A seguir, um quadro retirado da obra Aprendizagem Baseada em Projetos: Educação Diferenciada para o Século XXI, de William N. Bender, o qual aponta os termos e as etapas para a utilização dessa metodologia. Esse quadro mostrará a você, de maneira mais clara, como elaborar um projeto. Observe o quadro já veiculando com temáticas culturais que lhe foram apresentadas nesta disciplina e, que você possa vir a trabalhar em sala de aula como futuro professor de língua espanhola. QUADRO 2 – TEMÁTICAS CULTURAIS Âncora: Essa é a base para perguntar. Uma âncora serve para fundamentar o ensino em um cenário do mundo real. Ela pode ser um artigo de jornal, um vídeo interessante, um problema colocado por um político ou grupo de defesa, ou uma apresentação multimídia projetada para "preparar o cenário" para o projeto (COGNITION AND TECHNOLOGY GROUP AT VANDERBILT, 1992a, 1992b; GRANT, 2002). Artefatos: São itens criados ao longo da execução de um projeto e que representam possíveis soluções, ou aspectos da solução, para o problema. O termo artefato é usado para enfatizar que nem todos os projetos resultam em um relato escrito ou em uma apresentação. Os artefatos podem incluí-los, mas também podem abranger vídeos digitais, portfólios, podcasts, websites, poemas, músicas ou cantos que ilustrem o conteúdo, projetos de arte que resultem do projeto, interpretação de papéis ou peças de um único ato que representem soluções de problemas, artigos para o jornal da escola ou para jornais locais, relatórios apresentados oralmente para vários órgãos governamentais ou para outras organizações e recomendações ou diretrizes para ações com relação a certas questões. Em resumo, um artefato pode ser praticamente qualquer coisa de que o projeto necessite, dada a expectativa de que os artefatos representem coisas necessárias ou usadas no mundo real (GRANT, 2002). Além disso, na maior parte das instruções de ABP, há ênfase nas habilidades do Século XXI, de modo que muitos artefatos envolvem o desenvolvimento ou a criação com o uso das tecnologias digitais. Desempenho autêntico: Representa a ênfase de que a aprendizagem resultante desses projetos deveria se originar de cenários do mundo real e representar os tipos de coisas que se espera que os adultos façam no mundoreal (BARELL, 2007). 179 Brainstorming: O processo de brainstorming pelo qual os alunos passam para formular um plano para tarefas de projeto é semelhante a outras atividades de brainstorming, em que a meta é produzir o máximo possível de ideias para a resolução de tarefas sem descartar, inicialmente, nenhuma delas. Em muitos casos, esse processo precisa ser ensinado diretamente aos alunos, já que alguns encontrarão problemas nas ideias de outros imediatamente, a menos que sejam devidamente instruídos sobre o processo de brainstorming (GRANT, 2002). Questão motriz: É a questão principal, que fornece a tarefa geral ou a meta declarada para o projeto de ABP. Ela deve ser explicitada de maneira clara e ser altamente motivadora; deve ser algo que os alunos considerem significativo e que desperte sua paixão (GRANT, 2002; LARMER; MERGENDOLLER, 2010). Aprendizagem expedicionária: É uma forma de aprendizagem baseada em projetos que envolve a realização de viagens ou expedições reais para várias localizações na comunidade relacionadas ao projeto em si. No projeto de amostra apresentado no final deste capítulo, pode-se realizar uma expedição até a fazenda real, o cenário do corte de cedros, para obter uma contagem verdadeira de cedros, que permitirá a conclusão do projeto. De forma alternativa, esse projeto de amostra pode ser realizado sem que se faça tal expedição, o que representaria uma experiência de ABP mais típica. Na verdade, os professores devem notar que a maioria dos exemplos de ABP não são projetos de aprendizagem expedicionária. Voz e escolha do aluno: Essa expressão é usada para representar o fato de que os alunos devem ter algum poder de decisão (alguns proponentes da ABP diriam que eles devem ter o poder exclusivo de decisão) sobre a escolha do projeto e a especificação da questão fundamental (LARMER; MERGENDOLLER, 2010). Web 2.0.: Recentemente, o termo web 2.0 passou a ser usado para mostrar que a instrução baseada nas tecnologias já foi muito além do mero acesso às informações pela internet (FERRITER; GARRY, 2010). Mais do que isso, as ferramentas web 2.0 salientam o fato de que os alunos, ao trabalharem de forma colaborativa em modernos ambientes de tecnologia instrucional, na verdade estão criando conhecimento em vez de simplesmente usar a tecnologia de forma passiva para adquiri-lo. Dessa forma, a web 2.0 não é uma coleção de novas aplicações tecnológicas, mas uma forma de utilizar os aplicativos atuais para ajudar os alunos a resolverem problemas e a se tornarem contribuintes do conhecimento. FONTE: Bender (2014, p. 16-17) 180 Para aprofundar seus estudos sobre a aprendizagem baseada por projetos, indicamos o livro Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o Século XXI, de William N. Bender. DICA 4.5 TEXTO SOBRE A CULTURA MATERNA Uma questão importante, na qual você já viu anteriormente, é que de comparar a cultura dos alunos com a cultura meta, não há uma comparação de valores, mas uma comparação em tentar compreender como se manifestam determinadas ações em di- ferentes culturas, para uma compreender que não existe o certo ou o errado, e sim, que culturas diferentes têm manifestações diferentes. Assim, fazer com que o aluno reflita não apenas sobre a cultura alvo, mas sobre a sua própria cultura é um bom caminho a ser tomado. Uma estratégia sugerida por Byrnes (1991 apud SARMENTO, 2004) é analisar um texto escrito na língua-alvo, neste caso, na língua espanhola, sobre a nossa própria cultura. Dessa maneira, os alunos estariam refletindo a respeito de sua própria prática social, para que assim, pudessem desenvolver consciência cultural, além, de conseguir perceber as diferenças que são causadas pelas diferentes culturas. 4.6 FORMAS ESPONTÂNEAS O ensino da cultura através de forma espontânea de acordo com Stempleski (1993 apud SARMENTO, 2004) se baseia nas situações que ocorrem dentro de sala de aula, e que não precisam ser necessariamente preparadas com antecedência pelo professor. Muitas das situações que ocorrem dentro de sala de aula podem ser utilizadas para explorar assuntos de caráter cultural. Sarmento (2004) traz o exemplo de quando um aluno espirra, podemos utilizar do momento para falar como devemos nos portar dentro da cultural hispânica, o que deveríamos falar, se a pessoa que espirrou precisa se desculpar, ou não. Muitos momentos são ótimos para que os alunos possam conhecer e refletir sobre a cultura meta, de maneira que essas informações sejam associadas mais facilmente, visto que não foi preciso criar ou imaginar um cenário específico para tratar de determinado assunto, já com uma situação espontânea e real, o aprendizado pode ser facilitado, visto que foi significante por conta de um momento real de uso da língua. 181 Todas essas estratégias e metodologias não apenas objetivam a comunicação como objetivo, mas também a aprendizagem de maneira autônoma para que os alunos se tornem o protagonista e responsável pelo o seu processo. Desta maneira, ele está diante de compreender, aceitar e praticar uma nova cultura com a nova língua na qual está aprendendo. Neste tópico, você viu que a abordagem cultural nas aulas de língua estrangeira pode ser feita de várias formas, sejam elas mais ou menos planejadas. Mas que o seu ensino é imprescindível, visto que a língua de um determinado povo não está desasso- ciada de uma determinada cultural, para aprender uma língua, você tem que aprender uma cultura. Sendo assim, para ensinar uma língua, tem que se ensinar uma cultura. 182 LEITURA COMPLEMENTAR EL ESTUDIO DE LA LENGUA Y DE LA CULTURA Pilar Úcar Ventura Como ya quedó enunciado en el capítulo anterior, la Enseñanza Comunicativa mantiene un enfoque unificador en consonancia con las corrientes integradoras del estudio de Lengua y Cultura, de ahí que suscribimos las palabras de Villayandre: “Hoy se aconseja un tratamiento conjunto e integrado de ambos conceptos con lo que eso supone de motivación para los alumnos, pues el estudio de la lengua no puede plantearse desligado de las situaciones comunicativas reales y del ámbito con el que interactúa el estudiante de manera cotidiana”, a diferencia de lo que se venía haciendo desde la segunda mitad del siglo XIX y hasta mediados del siglo XX, centurias en las que se enseñaba la cultura de la lengua extranjera (LE) que se aprendía no como algo en conexión, sino como una asignatura diferente: cultura francesa, cultura italiana, cultura griega y latina o clásica (VILLAYANDRE, 1998, p. 731). El Enfoque Comunicativo exige, por lo tanto, la inserción de la propia cultura, más que la sola introducción de lo cultural puesto que se trata de una orientación didáctica, que tiene muy presente la idea de que hablamos con competencia lingüística, y también con competencia extralingüística, es decir, con saberes, ideas y creencias acerca de las cosas, de la realidad y del entorno. Por lo tanto se debería enseñar la cultura tal y como se manifiesta a través de la lengua, pues como ya se deduce de la expresión ‘cultura velada’ (hidden culture) (BYRAM, 1999), resulta imposible enseñar una lengua sin hacer continua referencia a la cultura de sus hablantes, dado que la lengua se refiere implícitamente a la percepción del mundo y a los códigos de comportamiento de aquéllos; de ahí que traigamos de nuevo a colación lo que ya se ha dicho acerca del papel fundamental de la competencia sociolingüística de la que habla Canale, respecto a los muchos estudios realizados sobre la motivación de los estudiantes de idiomas. Tales estudios concluyen en afirmar que el interés por el pueblo extranjero y su cultura facilitan el aprendizaje, mientras que en gran medida, la dificultad para aprender un idioma viene de la hostilidad o rechazo que se siente hacia el país o países donde se habla esa lengua (CANALE, 1982). Además, se advierte cómo el hecho de disponer de determinadas pautas culturales, genera determinadoscomportamientos comunicativos, y por consiguiente, la elección de específicas formas lingüísticas a la hora de programar contenidos y de elegir formas didácticas en el proceso de aprendizaje de una segunda lengua. Así pues, si se acepta un planteamiento vertebrado referido a lo cultural y a su contenido, deberemos partir de la concepción teórica que considera las lenguas hechos de cultura, 183 actividad que crea y difunde cultura, o en parecidos términos, afirmamos que las lenguas constituyen el molde, el medio y la carcasa de prácticas sociales y estructuras mentales que nos permiten relacionarnos entre nosotros y con el resto. Las lenguas superan el concepto de simples códigos abstractos, de puras formas, por lo que no olvidemos que una de las funciones de la segunda lengua (L2) la constituye la función interpersonal y comunicativa, dado que la lengua sirve para establecer contacto social, para llevar a cabo dicha interacción y coordinar la conducta en los encuentros sociales y en las actividades conjuntas. A parecidas reflexiones llegó Edward Sapir quien sostenía que una lengua y la cultura de sus hablantes no pueden ser analizadas de forma aislada la una de la otra, sino que la lengua debe ser vista como una manera de representar la experiencia hu- mana y de entender el mundo, puesto que los miembros de una comunidad de habla comparten sistemas de comportamiento y comprensión que fundamentan su configu- ración de la realidad. Estas construcciones, interpretación de fenómenos objetivos, creencias e historias, se conceptualizan, y se expresan a través de la lengua, es decir, que formas de referencia y formas de expresión crean un tejido inextricable; como Sapir aseguraba, Cultura y Lengua forman un cuerpo único, reflejo independiente de los comportamientos sociales e individuales (SAPIR, 1961). En similares términos se expresaban Hymes y Gumperz al argumentar que los usos de una lengua y sus análisis son inseparables de situaciones sociológicas específicas, del origen social de los interlocutores y de identidades y significaciones sociales codificadas lingüísticamente. Para el primero, los actos de habla están gobernados por normas sociales y lingüísticas, que regulan el contenido comunicativo, la forma, el marco de la emisión y sus objetivos extralingüísticos (HYMES, 1974), y el segundo sostiene que la lengua real únicamente tiene como vía para presentarse ante el estudiante la comunicación espontánea con nativos, sólo posible en un estadio avanzado del aprendizaje y en un lugar en que se hable el idioma que se pretende adquirir (GUMPERZ, 1976). De la misma manera, y como viene siendo aceptado, dentro de la matriz social en la cual se adquiere un sistema de gramática, un niño, por ejemplo, adquiere no sólo un sistema de uso, referido a personas, lugares, motivos, actitudes y creencias relacionados con ellos, sino también patrones de uso en la conversación, tratamientos, rutinas y similares, inmersos en una cultura determinada. En dicha adquisición se encuentra la competencia sociolingüística del niño de la que habla Canale; se advierte cómo sus reflexiones redundan en lo apuntado hasta ahora: tan importante será la adquisición del sistema o el código de una lengua, como el uso que de ese sistema se haga en una situación determinada, de forma que dicho uso resulte adecuado a la situación de comunicación (1982); de ahí la necesidad de que la enseñanza esté penetrada y conectada con la experiencia vital y personal del 184 estudiante. Así pues, no podemos obviar el hecho de que uno de los más fuertes alicientes deseados por parte de muchos estudiantes que aprenden una segunda o tercera lengua es llegar a integrarse como personas en una comunidad. Ahora bien, si tenemos en cuenta el concepto de cultura como código social compartido, cuyo desconocimiento por parte del alumno pueda ser fuente de conflicto y de malas interpretaciones, equívocos o perplejidad, ya que “existen en los pueblos algunas formas de actuación –costumbres, ritos, gestos– que les son propias y que no aparecen en otras culturas y actos, dotados habitualmente de expresión lingüística, compartidos por una mayoría –patrones de comportamiento–o al menos identificados en su forma por los miembros de esa comunidad lingüística o cultural, entre quienes procediendo de otro ámbito cultural se enfrentan a ellos, además del hecho de ciertas actitudes negativas y prejuicios hacia una lengua y hacia su cultura”, se puede deducir la capital importancia que el componente cultural desempeña en el estudio y en la enseñanza de lenguas extranjeras (CARCEDO, 1998, p. 165). Asumimos, pues, que ha de producirse desde el principio un cambio de dichas actitudes en el sujeto no sólo como receptor, sino también como emisor, de forma que el comportamiento del estudiante sea positivo, ayudado por un autoconvencimiento, como oyente, de que va a entender y, como hablante, de que va a ser comprendido (COVEY, 1999), ya que las interferencias inter pragmáticas o errores pragmáticos ocasionan perjuicios más graves en la comunicación que los errores gramaticales. Entendido el error como aquella distorsión o fallo pragmático que daña más la imagen social de los interlocutores, porque resulta más difícil de captar y de entender que un error gramatical, pues el error pragmático afecta a la sensibilidad del interlocutor, y el error gramatical invita al afán cooperativo en la comunicación, para que los estudiantes sepan afrontar los contactos con hablantes de esa lengua de manera abierta y positiva, pues para alcanzar la competencia intercultural a la que hace referencia el Marco Común de Referencia para el Aprendizaje, la Enseñanza y la Evolución de las Lenguas (2001), deberán aprender las variaciones culturales entre su lengua materna y la lengua meta (LM) y deberán aprender a su vez, a saber comportarse en un contexto pluricultural, o lo que es lo mismo, habrán de conocer dicha competencia intercultural como formante de una amplia competencia del hablante de una lengua extranjera o de una segunda lengua (L2), dotado de la habilidad para actuar de forma adecuada y flexible. Dicha competencia abarca la sociolingüística y la pragmática pero trasciende a ambas, pues tiene un componente cognitivo, de actitud y de destrezas recogido en las competencias generales (conocimiento declarativo compuesto por el conocimiento del mundo, por el sociocultural y por la conciencia intercultural (saber), las destrezas y las habilidades que consisten en la capacidad para relacionar la cultura propia y la meta, para utilizar las estrategias adecuadas a fin de establecer contacto con personas de la cultura meta y la capacidad de hacer de intermediario entre ambas culturas, de abordar malentendidos interculturales y de superar los estereotipos (saber hacer), la competencia existencial (saber ser) y la capacidad de aprender (saber aprender), y en 185 las competencias comunicativas, ambas interrelacionadas y necesarias para el uso de la lengua (2001), enfrentarse a acciones y expectativas de personas de otras culturas (OLIVERAS, 2000). Creemos pertinente, por lo tanto, para contrarrestar el choque cultural de los estudiantes extranjeros, que el profesor realice una correcta presentación y descripción lingüística desde un punto de vista pragmático tanto de la lengua como de la cultura para que el fin último de los procesos de enseñanza-aprendizaje, el conocimiento y el desarrollo de la receptividad de una lengua y de su cultura, se lleve a buen término; el profesor estimulará la curiosidad del estudiante hacia el descubrimiento de lo desconocido por lo que de novedad y de praxis pueda tener a la hora de provocar y conseguir que el alumno empatice con el resto de miembros que conforman su nueva comunidad cultural. Al ingresar en un contexto de cultura diferente, cambian los horizontes y los marcos de referencia, de ahí que los estudiantes extranjeros pasen, de unmodo abrupto, a una situación en que la lengua española emerge des-contextualizada con un único interactuante y que, con motivaciones didácticas controla y distorsiona la muestra de lengua; así pues, el docente no sólo debe presentar y practicar, sino que además, tiene que ayudar al estudiante a anticipar, pronosticar y desactivar las interferencias culturales a través del análisis de lo relativo y particular de las diferentes realidades que se le ofrecen; y todo ello se ha de realizar por medio de una actitud positiva hacia las connotaciones que aportan de nuestra cultura los aprendices, comparando la cultura materna con la anfitriona para así evitar malas interpretaciones de la realidad y no incurrir en estereotipos o etnocentrismos. Añadiremos, por otro lado, el hecho de la constante información que reciben los alumnos; se trata de un input masivo y siempre en reconfiguración para lo cual, en muchas ocasiones los estudiantes no siempre tienen categorías de registro e interpretación; así pues, necesitan “mentores biculturales” involucrados, que conozcan bien los desafíos reales a los que los discentes se enfrentan y ofrezcan materiales de apoyo directamente pertinentes a sus necesidades. Se trata de conocer el medio y la cultura en la que viven los estudiantes extranjeros para recoger los datos empíricos de respaldo y de apoyo a los procesos de enseñanza- aprendizaje que van desarrollando paulatinamente; por lo tanto, encontramos que la labor del profesor de segundas lenguas (L2) va a constituirse en la de un “mediador “mediador intercultural” (MORILLAS, 2002). A la vez que la colaboración en el desarrollo de actitudes y valores con respecto a la sociedad internacional, como el pluralismo cultural y lingüístico, la aceptación y valoración positiva de la diversidad y de la diferencia, el reconocimiento y el respeto mutuo (INSTITUTO CERVANTES, 1994). FONTE: VENTURA, P. Ú. En el aula de lengua y cultura. Espanha: Universidad Pontificia Comillas, 2008. p. 61-66. 186 Neste tópico, você aprendeu: • A cultura não está desvinculada da língua. • É importante o ensino da cultura na aula de língua estrangeira. • A abordagem comunicativa pode contribuir para unificação da língua e da cultura. • É essencial praticar e prezar a ética e o respeito com as novas culturas. • A utilizar de gêneros textuais voltados à cultura e à comunicação. • A literatura atua como forma de manifestação sócio histórico cultural. • Se pode utilizar da sequência didática para trabalhar conteúdos culturais. • Se pode utilizar da Aprendizagem baseada por projeto para trabalhar conteúdos culturais. • É possível utilizar de texto sobre a cultura materna para refletir sobre a própria cultura. • É possível utilizar de formas espontâneas para inserir cultura na sala de aula. RESUMO DO TÓPICO 3 187 AUTOATIVIDADE 1 O ensino de língua estrangeira está completamente atrelado à cultura, visto que a língua é o meio pelo qual esta cultura se manifesta. Desta forma, é imprescindível que a cultura seja trabalhada nas aulas de LEM, levando em consideração que será explorada de maneira significativa e contextualizada com os alunos. Sobre os recursos utilizados nas aulas de língua estrangeira para o ensino da cultura, analise as seguintes sentenças: I- A utilização de gêneros textuais é estratégia importantes para as aulas de língua estrangeiras pois envolvem de maneira funcional a questão cultural além do caráter comunicativa que exerce. II- A literatura no contexto de ensino de língua estrangeira funciona como um meio no qual a literatura se manifesta, e abarca recursos linguísticos, percepções de mundo, abarca a história e a sociedade de um povo. III- A sequência didática e a aprendizagem baseada em projetos são metodologias nas quais facilitam a inserção de culturais, visto que são conteúdos extensos e podem ser trabalhados através de uma sequência lógica em várias aulas. IV- O ensino da cultura geralmente não ocorre através de formas espontâneas, pois para levar essas questões para a dentro da sala de aula tem que ser muito bem planejada e preparadas com antecedência por parte do professor. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas. b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas I, II, e III estão corretas. d) ( ) Somente a afirmativa I está correta. 2 "Compreendemos a integração da língua e da cultura como fatores dominantes no processo ensino-aprendizagem da língua estrangeira (LE), pois acreditamos que essa atividade tem como alvo a comunicação dentro de contextos e cenários específicos, e que tanto o discurso como a comunicação têm importância vital para a caracterização da identidade cultural de um povo" (AGRA; BURGEILE, 2010, p. 16). Sobre o ensino da cultura nas aulas de língua estrangeiras, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 188 ( ) Já que a linguagem desempenha um papel social, não é imprescindível que o ensino de uma língua estrangeira leve em consideração toda a bagagem cultural e histórica daquela sociedade. ( ) O ensino da língua estrangeira não pode ser desvinculado de situações reais de comunicação e de uso da língua nos mais diversificados contextos que rodeiam a vida dos alunos de da sociedade. ( ) É importante relacionar a própria cultura do aluno, com a cultura da língua estrangeira, para que assim eles possam perceber que nenhuma é superior à outra, mas que são lugares distintos, com culturas e costumes distintos. ( ) Os equívocos gramaticais são mais graves que os pragmáticos, já que quando ocorre um equívoco gramatical a comunicação não se estabelece e os interlocutores não conseguem sustentar uma comunicação. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F - V - V – V. b) ( ) F - V - V – F. c) ( ) V - V - F – F. d) ( ) V - V - V – F. 189 REFERÊNCIAS ABREU, M. Cultura popular, um conceito e várias histórias. In: ABREU, M.; SOIHET, R. Ensino de história, conceitos, temáticas e metodologias. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. AGRA, K. L. de O.; BURGEILE, O. 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