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Capítulo 3 Influências fisiológicas David Kinnebrook, assistente de um astrônomo no Observatório Real de Greenwich, Inglaterra, foi despedido em 1795, pois as observações que havia feito sobre a velocidade das estrelas divergiam das de seu supervisor (embora sem muitadiferença).Vinte anos depois, Wilhelm Bessel interessou-se em saber como as observações de dois indivíduos podiam ser diversas. Ele acreditava que os “erros” de David eram em função das diferenças individuais que estavam fora de seu controle, em vez de competência intelectual. O trabalho de Bessel repercutiuas teorias de Locke e Berkeley relativas à natureza subjetiva da percepção humana. As conclusões dele foram duas.Primeiro, os astrônomos têm de levar em conta as características pessoais e as percepções que influenciam as observações relatadas. Em segundo lugar, como qualquer ciência depende de métodos de observação, eles teriamde ser cautelosos sobre as diferenças individuais. Esse aspecto levou a percepção humana a se tornar um foco de estudo. As pesquisas fisiológicas, que eram uma disciplina cada vez mais orientadas experimentalmente em 1830, foramas primeiras a examinar a diferença individual na percepção. Johannes Muller, um defensor do método experimental propôs que os nervos teriam energias específicas, e estimular um nervo especial iria sempre levar a uma sensação característica desse nervo. Um nervo óptico somente enviaria informações sobre a luz, mesmo sendo estimulado por pressão, substâncias químicas ou outros meios, e mesmo na ausência de luz. Outros pesquisadores estavam preocupados com a tentativa de mapear o cérebro. Ao observarem que os animais decapitados moviam suas terminações nervosas ao serem estimuladas, distinguiram a origem do movimento voluntário e involuntário no cérebro. Pierre Flourens destruiria sistematicamente as partes dos cérebros dos pombos para testar como isso afetaria o comportamento deles. Ele, por sua vez deduziu que o cérebro controla os processos mentais superiores, partes do mesencéfalo, o controle de reflexos visuais e auditivos, o cerebelo controla a coordenação, e a medula governa batimentos cardíacos, respiração e outras funções vitais. Ambos os investigadores utilizaram extirpação (ao destruir sistematicamente partes do cérebro para determinar a função cerebral) como meio de mapeamento funcionamento do cérebro. Em meados da década de 1800, dois novos métodos experimentais surgiram. O método clínico envolve o exame post-mortem do cérebro humano, na tentativa de localizar áreas danificadas que se acredita serem responsáveis por determinados comportamentos. Tais pesquisasse iniciaram com o trabalho de Paul Broca com um homem que ficou muitos anos sem falar. Depois que o homem morreu, Broca descobriu que o cérebro dele havia sofrido danos em uma área atualmente conhecida como área de Broca, que é o centro responsável pelafala. A estimulação elétrica também foi aplicada para observaçãoda função cerebral. Esta foi utilizada/aplicada pela primeira vez por Fritsch e Hitzig, que usaram correntes elétricas fracas para estimular o cérebro de animais e gravar respostas motoras subsequentes. Ao mapear o cérebro em seu interior, Franz Josef Gall descobriu “a existência de ambas as matérias branca e cinzenta do cérebro, as fibras nervosas que ligam cada um dos lados do cérebro ao lado oposto da medula espinhal, e as fibras de ligação de ambas as metades o cérebro”. Quando ele começou a observaro cérebro externamentepode constatar características como tamanho e forma, e com base nessas observações desenvolveu a frenologia, que propôs que as características de personalidade e inteligência podem ser deduzidas, ao se investigar o formato do próprio crânio. A frenologia rapidamente se tornou popular e rentável em toda a Europa e nos Estados Unidos . Apenas depois de algum tempo foi considerada charlatanismo pela comunidade científica. Flourens, por exemplo, descobriu que o formato do crânio não estava relacionado com a forma do cérebro. Outra crítica foi que à medida que os fisiologistas descobriram as funções das áreas dos cérebros, essas áreas não correspondiam ao mapeamento da frenologia de Gall. A maior parte do trabalho foi realizado ao investigar como o sistema nervoso funcionava.Luigi Galvani “sugeriu que os impulsos nervosos eram elétricos”. Um físico espanhol, Ramón y Cajal, descobriu a “direção da viagem para os impulsos nervosos no cérebro e na medula espinhal”. Outros pesquisadores descobriram os neurônios e a ideia de que, de algum modo, eles se conectam entre si. Este trabalho estava bem alinhado com o espírito do mecanicismo:encontrar “os mecanismos que estão por trás de fenômenos mentais”. Assim, estabeleceu-se a fase para o advento da psicologia experimental, que surge na Alemanha (em vez de em outros países) por diversas razões. Primeiro, os cientistas alemães favoreceram a abordagem indutiva à ciência, que envolve coletar e catalogar cuidadosamente um grande número de fatos. Os alemães também definiram a ciência para incluir uma ampla variedade de temas, como a biologia e a fisiologia, que não foram prontamente aceitas em outros países. No início do século XIX, os professores e alunos alemães tiveram a liberdade de pesquisar qualquer tópico de estudo que quisessem (uma liberdade desconhecida na França e na Inglaterra). Ao mesmo tempo havia um número maior de universidades na Alemanha em comparação às duas únicas da Inglaterra, e não havia universidades de pesquisa nos Estados Unidos até que Johns Hopkins fundou uma delas em 1876. Hermann vonHelmholtz foi um dos quatro estudiosos alemães que fizeram uma grande contribuição para o campo emergente da psicologia.VonHelmholtz teve uma abordagem mecanicista e determinista.A primeira de suas descobertas foi medir a velocidade do impulso neural (90 pés por segundo aproximadamente tantos cm ou tantos metros por segundo), que forneceu evidências de que o pensamento e o movimento não são simultâneos, como se acreditava anteriormente, mas seguiram umas às outras em incrementos mensuráveis distintos.Seguindo essa linha de pesquisa, experimentos de tempo de reação se tornaram produtivos. Von Helmholtz também contribuiu para a compreensão e a avaliação dos processos psicofisiológicos, como a visão e a audição, com seu trabalho sobre a teoria de Young-Helmholtz da visão de cores, bem como a pesquisa sobre a percepção de tons, harmonias e dissonâncias. Ernst Weber contribuiu para a psicologia com suas experiências sobre as sensações táteis e musculares. Mais notavelmente, Weber analisou o “limiar de dois pontos”, o limiar em que é possível se distinguir dois pontos de estimulação. .Weber também explorou o ponto em que uma pessoa pode afirmar se dois pesos são correspondentes ou se um deles é mais pesado que o outro, o que ele denominou diferença mínima perceptível.Ele descobriu que as pessoas podem detectar quando a diferença for de 1:40 do peso padrão. Essa proporção alterou-se quando as pessoas levantavam os pesos em contrapartida aos pesos quando eram colocados nas mãos delas. Ele descobriu também que essa proporção alterava-se para outros sentidos, a exemplo da visão. Sua “pesquisa mostrou que não havia correspondência direta entre um estímulo físico e a percepção dele”. Ambos, vonHelmholtz e Weber forneceram um método útil para se examinar a relação entre o corpo e a mente, que foi, talvez, a maior contribuição deles para a psicologia. Gustav Fechner também estudou a relação entre a sensação mental e os estímulos materiais. Fechner teve sintomas neuróticos ao longo da vida, e finalmente se recuperou e desenvolveu a ideia do princípio do prazer, que mais tarde influenciou a escola psicanalítica de Sigmund Freud . A maior contribuição de Fechner para a psicologia foi deduzir a relação entre sensação e percepção. Ele acreditavaque as alterações na intensidade do estímulo ocorrem“em relação à quantidade de sensação já existente”. Tal convicção permitiu o estudo não somente do corpo, como também da mente.Para realizar esse tipo de estudo, ele desenvolveu a ideia do limiar absoluto, “o ponto de sensibilidade abaixo do qual nenhuma sensação pode ser detectada e acima do qual as sensações podem ser percebidas”. Fechner ainda definiu o limiar diferencial, que é “ quantidade mínima de alteração no estímulo que dá origem a uma mudança na sensação”. Ele descobriu que a relação entre a sensação (mente) e estímulo (objeto material) é expressa pela equação S = K log R. Apesar de alguns dos trabalhos de Fechner serem semelhantes aos de Weber, e apesar de Fechner assistir a palestras de Weber , Fechner alega ter tido as ideias de modo independente. Sua pesquisa é denominada psicofísica, que é o “estudo científico das relações entre processos mentais e físicos”. Três dos métodos desenvolvidos por ele são aplicados, ainda, nos dias de hoje. Um desses métodos é o erro médio (obter a média de muitas observações e reduzir o erro). Um segundo método, o do estímulo constante , utilizou um estímulo cuja intensidade era constante enquanto um segundo grupo de estímulos variantes era comparado a ele.No terceiro método, o de limites, dois estímulos são apresentados; em seguida, um estímulo é gradualmente aumentado ou diminuído até que seja detectada uma diferença. Em 1860 Fechner publicou Elementos de Psicofísica, uma importante contribuição para a psicologia científica. O trabalho de Fechner, o trabalho de fisiologistas alemães, empiristas britânicos e o Zeitgeist da época contribuíram para a fundação oficial de uma nova ciência, a psicologia científica de Wilhelm Wundt.
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