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AULA 1 - Pré-Cinema (Cinema e Videodocumentário)

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Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
1 
 
 
 
Cinema e Videodocumentário 
 
Aula 01 
 
Prof. Tom Lisboa 
 
 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
2 
Conversa Inicial 
Bem-vindos à disciplina de Cinema e Videodocumentário. Meu nome é Tom 
Lisboa e, além de ser professor de cinema há muitos anos, gosto de ver filmes 
há mais tempo ainda. Desde já eu posso garantir uma coisa para vocês: assistir 
filmes é muito, mas muito mais divertido quando você conhece a história do 
cinema. 
A partir do hoje, você vai entrar no seleto grupo daquelas pessoas que 
conseguem analisar aspectos da linguagem cinematográfica, que entendem 
melhor referências históricas, conhecem os principais diretores, e assim por 
diante. A história do cinema é longa. Ela começou em 1895, e em 2016 faz 121 
anos. Ela não tão longa quanto a do teatro, da música ou da pintura, mas muita 
coisa aconteceu de lá para cá. 
Na Rota 1, vamos focalizar dois períodos: um em que ainda não existia cinema, 
e outro que vai desde sua invenção até 1914, aproximadamente. Mas você deve 
estar pensando: por que falar da época que antecede ao cinema? Eu não quero 
adiantar muito, mas a gente vai perceber que o ser humano, desde a época das 
cavernas, sempre foi fascinado em representar imagens em movimento. Só 
faltava inventar um equipamento que suprisse esse desejo. Talvez, por isso, o 
cinematógrafo tenha tido um alcance popular tão grande. 
E esteja preparado, pois a partir de hoje, além de ver, você vai ter outro grande 
prazer: o de conseguir analisar filmes e perceber coisas que os espectadores 
normais não notam. O conhecimento transforma, para melhor, nossa relação 
com o mundo. Prepare-se para gostar ainda mais de cinema. 
 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
3 
Contextualizando 
Toda nova tecnologia procura atender certas necessidades e desejos do ser 
humano. Até chegarmos à invenção do cinematógrafo dos irmãos Lumière, muita 
coisa foi inventada para simular a vida em movimento. Cada um destes 
equipamentos, à sua maneira, trouxe sua dose de encantamento e avanços 
técnicos. Tanto que a maioria deles é utilizado até os dias atuais. 
No entanto, toda nova tecnologia, seja ela qual for, depois de disponibilizada 
para nosso uso, segue sendo modificada e revista para continuar atendendo 
nossas novas necessidades e desejos. Por exemplo, compare os aparelhos 
celulares de hoje com os de 20 anos atrás. 
As mudanças foram graduais, e até achamos graça quando comparamos um 
aparelho atual com uma versão mais antiga. Por outro lado, os celulares não 
perderam sua característica inicial, que é a capacidade de nos colocar em 
contato com outras pessoas. A maioria dos aplicativos dos smartphones 
(whatsapp, messenger, facebook, viber, skype), simplesmente enfatizam esta 
característica que já existia no aparelho inicial. 
Com o cinema foi exatamente a mesma coisa. Nesta primeira parte do curso, 
você talvez se surpreenda com algumas coisas, afinal de contas não estávamos 
vivos em 1895. Mas, ao final, conhecendo um pouco do passado do cinema, 
talvez perceba que muito da sua essência resistiu ao passar dos anos. 
 
 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
4 
Tema 1: Pré-cinemas 
No livro que serve como fonte de consulta principal para esta disciplina, Pré 
cinemas e pós-cinema, o autor Arlindo Machado nos traz uma informação 
interessante. Cientistas desconfiam que muitas das imagens encontradas nas 
paredes das cavernas de 20 ou 30 mil anos atrás e que foram gravadas em 
relevo na rocha pareciam uma tentativa muito rudimentar de fazer cinema. Isso 
porque, à medida que o observador se locomovia nas trevas da caverna, o fogo 
iluminava e escurecia parte dos desenhos, simulando uma espécie de 
movimento. 
Mais recentemente, no filme A Caverna dos Sonhos Esquecidos, o diretor 
alemão Werner Herzog entra em uma dessas cavernas e nota um fato curioso: 
alguns animais pareciam ter patas a mais. Como o artista não está mais vivo 
para nos esclarecer esta questão, o diretor faz uma hipótese que não pode ser 
descartada: “Algumas dessas imagens foram feitas para simular movimento, daí 
a impressão de alguns animais terem patas em excesso. Elas são como uma 
antevisão do que seria o cinema, uma espécie de protocinema". 
Além de várias outras reflexões interessantes, o diretor, para percorrer esta 
caverna, teve que fazer como nossos ancestrais, e caminhar pela escuridão 
carregando apenas uma fonte de luz. O tempo foi passando e, com ele, novas 
experiências se desenvolveram, tanto de registro quanto de observação de 
imagens em movimento. Entre elas, podemos citar: 
Câmara escura – sua invenção remonta ao século VI a.C., na China, e sua 
construção é muito simples. Imagine que você está dentro de uma caixa 
hermeticamente fechada e em completa escuridão. Se você for em uma das 
paredes e fizer um pequeno furo vai ter uma surpresa: a luz que entra do exterior 
vai projetar na parede oposta a do furo uma reprodução do está do lado de fora 
da caixa. A única diferença é que esta imagem estará de cabeça para baixo. 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
5 
Muito utilizada na pintura, por auxiliar o artista a copiar melhor os detalhes de 
uma pessoa ou paisagem, e considerada um aparelho que lança os fundamentos 
do que vai ser a fotografia, a câmara escura é uma das primeiras invenções em 
que foi possível observamos imagens em movimento dentro de uma sala escura. 
Representação de uma câmera escura. 
 
Fonte: <pt.wikipedia.org/wiki/Câmera_escura>. 
Fuzil cronofotográfico – o advento da fotografia nos proporcionou uma 
experiência inédita até então: um equipamento que tinha a capacidade "congelar 
o tempo" em papel fotográfico. A partir disso, foram desenvolvidos estudos para 
tentar observar melhor coisas que, aos nossos olhos, aconteciam rápidas 
demais: um pássaro batendo as asas, um cavalo galopando, e assim por diante. 
Criado em 1878 pelo fisiologista francês Étienne-Jules, o fuzil cronofotográfico 
era, de fato, uma arma que era "carregada" com um tambor forrado por uma 
chapa fotográfica circular e capaz de produzir 12 frames consecutivos por 
segundo. O interessante é que estes 12 instantes eram registrados na mesma 
imagem, permitindo que se observasse simultaneamente várias nuances de 
movimento. 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
6 
O cinema, que seria inventado décadas depois, nada mais é do que um aparelho 
que, ao filmar, decompõe o movimento em uma série de fotogramas estáticos, 
assim como o fuzil cronofotográfico. A diferença é que o cinema tinha uma 
peculiaridade a mais: a de também ser capaz de recriar a ilusão do movimento 
ao movimentar estas imagens estáticas em uma determinada velocidade. 
Um fuzil cronofotográfico. 
 
Fonte: <mariaeusebio12av1.wordpress.com>. 
 
Fotografias produzidas com o fuzil cronotográfico. 
 
Fonte: <escolafluxo.com.br/>. 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
7 
Lanterna mágica – a autoria da invenção da lanterna mágica não é precisa, 
mas, de modo geral, é atribuída ao sacerdote jesuíta alemão Athanasius Kircher, 
em 1645, que a utilizava com finalidades didáticas. Precursora dos projetores de 
slides e dos atuais projetores multimídia, a lanterna mágica consistia de um 
instrumento que, a partir de uma luz interna (que podia ser até uma vela) 
projetava imagens pintadas em um suporte transparente em uma tela. 
É considerado o primeiro aparelho que produziu espetáculos para serem 
admirados por um grupo, seja numa praça ou em uma sala especial de projeção. 
A popularidade deste invento atingiu seu ápice em 1700, e chegou até mesmo a 
criar uma nova profissão: a de lanternista ambulante (uma atividade que, como 
poder visto no filme Cinema, Aspirinas e Urubus, de 2005, de Marcelo Gomes, 
será retomada pelo cinema). 
Uma lanterna mágica. 
 
Fonte: <parquedaciencia.blogspot.com.br/>. 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
8 
Fenacistoscópio – inventado por Joseph Plateau,em 1829, o fenacistoscópio 
fazia exatamente o inverso do fuzil cronofotográfico. Se no fuzil o movimento era 
decomposto em uma série de imagens estáticas, no fenacistoscópio criava-se a 
ilusão do movimento a partir de imagens estáticas. 
Sua construção era bem simples: em uma placa circular lisa, vários desenhos e 
formas geométricas eram colocadas em posições ligeiramente diferentes. 
Quando este disco era girado em frente a um espelho, o observador tinha a 
impressão de que os desenhos estavam se mexendo. Durante uma boa parte do 
século XIX, foi um entretenimento muito popular. Fazendo uma comparação com 
os dias de hoje, o que se via no fenacistoscópio se assemelha muito aos GIFs 
animados que circulam nas redes sociais, especialmente no Facebook. 
Fenacistoscópio sendo utilizado. 
 
Fonte: <http://criaras.blogspot.com.br/>. 
Flip book – nada mais é do que um livro onde uma sequência de imagens varia 
gradualmente, página após página, que, quando folheadas rapidamente, 
podemos perceber um pequeno filme sendo executado. Muitos de nós já fizemos 
isso nos cantos de nossos cadernos escolares sem saber que era uma invenção 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
9 
de 1868, patenteada por John Barnes Linnett. Sua principal contribuição ao meio 
cinematográfico foi introduzir a ideia de uma sequência linear de imagens, em 
vez do formato circular proposto pelo fenacistoscópio. 
Cinetoscópio – patenteado em 1890 pelo norte-americano Thomas Alva 
Edison, o cinetoscópio é um instrumento de projeção interna de filmes. 
Tecnicamente muito próximo do que viria a ser o cinematógrafo dos irmãos 
Lumière, este invento já trabalhava com película de celuloide e o rolo de filme 
perfurado. 
Cada cinetoscópio consistia de um aparato que tinha em seu interior 
engrenagens para uma tira de 15 metros de celuloide. Como as imagens não 
eram projetadas em uma tela, e sim no interior de uma máquina, seu conteúdo 
era acessado por um espectador de cada vez. Em Nova Iorque existiam salas 
de cinetoscópios. Bastava alguém inserir uma moeda no aparelho para o filme 
começar a ser projetado no interior da caixa. 
Usuário de um cinetoscópio. 
 
Fonte: <http://www.mondi.it/>. 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
10 
Muitas outras invenções poderiam ter sido citadas. O caminho até a criação do 
cinematógrafo, dos irmãos Lumière, não foi aleatório. Ele parte do interesse 
contínuo do ser humano pelas imagens em movimento, do desejo de memorizar 
certos instantes de nossas vidas e, principalmente, para nos divertirmos com 
aquilo que vemos. 
Vale a pena ressaltar que muitos destes inventos chamados de "pré-cinemas" 
continuam sendo utilizados nos dias de hoje. Os flip books são facilmente 
encontrados em livrarias e lojas de souvenires. A banda japonesa Sour lançou 
há poucos anos o videoclipe da música Life of Music, utilizando uma série de 
fenacistoscópios. O artista visual brasileiro Dirceu Maués criou uma intervenção 
urbana chamada (in)versões na paisagem, onde coloca em praças públicas 
várias câmaras escuras empilhadas. Felizmente, os pré-cinemas sobreviveram 
ao cinema. 
Feita esta apresentação, você com certeza vai aproveitar ainda mais os dois 
primeiros capítulos do livro "Pré-cinemas e Pós-cinemas", do Arlindo Machado. 
 
 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
11 
Tema 2: Os irmãos Lumière 
Vimos anteriormente alguns dos inventos que antecederam a criação do 
cinematógrafo. Agora, vamos dedicar atenção especial à história dos inventores 
deste equipamento que dá início à história do cinema: os irmãos Lumière. 
Os irmãos Lumière. 
 
Fonte: <pt.wikipedia.org>. 
Biografia 
Os irmãos Lumière se chamavam Auguste-Marie e Louis-Jean. Nasceram com 
apenas dois anos de diferença um do outro, 1862 e 1864, respectivamente, em 
Besançon, na França. O fato de terem inventado o cinematógrafo não foi um 
acaso. Filhos de Antoine Lumière, que era dono de um estúdio fotográfico, estes 
jovens foram criados em um meio repleto de experimentações e técnicas de 
manipulação de imagem. A isto somou-se uma excelente habilidade para 
administrar os negócios da empresa e ampliar suas atividades em vários setores. 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
12 
Um deles, inclusive, acabou sendo o das imagens em movimento. Em 1894, o 
cinetoscópio de Thomas Edison chega a Paris e instiga o tino comercial dos 
irmãos Lumière a prospectar um novo tipo de equipamento que pudesse 
alcançar lucros ainda maiores. 
O cinematógrafo, que foi patenteado no dia 13 de fevereiro de 1895, incorporava 
os avanços do cinetoscópio, tais como o uso do celuloide e das engrenagens de 
rolo de filme perfurado, mas trazia um avanço decisivo: deixava de ser um 
espetáculo individual, visto dentro de uma caixa, para ser um espetáculo exibido 
para uma grande plateia, em uma sala escura. Surgia a primeira ideia do que 
viria a ser o cinema. 
Na verdade, foi esta visão do uso do cinematógrafo como um "evento social" e 
orientado para o público de massa que delegou aos irmãos Lumière o título de 
"pais do cinema" pelos historiadores. Outras tecnologias já possibilitavam a 
criação de imagens em movimento antes de 1895, mas não tinham apelo tão 
contundente para grandes plateias. Entre eles podemos citar: 
 os aparatos de cronofotografia, de Eadweard Muybridge, Étienne-Jules 
Marey and Ottomar Anschütz, na década de 1880; 
 o cinetoscópio de Thomas Edison, de 1891; 
 Louis Le Prince e Claude Mechant, que chegaram mesmo a fazer 
filmagens em 1888, mas nunca as exibiram publicamente. 
 
 
 
 
 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
13 
Uma sala de cinetoscópios. 
 
Fonte: <fotos.sapo.pt/>. 
Uma sala de cinema atual. 
 
Fonte: <http://www.correiodoestado.com.br/>. 
 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
14 
O equipamento 
Apesar de incorporar características de muitos dos aparatos tecnológicos 
desenvolvidos até então, o cinematógrafo trouxe avanços que seus concorrentes 
não possuíam. Por fora, seu formato era mais ou menos semelhante ao que já 
existia. Não passava de uma caixa de madeira que trazia uma lente na frente e 
uma pequena manivela do lado direto. 
No entanto, o interior do cinematógrafo abrigava uma novidade: ele funcionava 
tanto como filmadora quanto como copiadora e projetor. Isso permitia que uma 
mesma pessoa registrasse imagens na película virgem, tirasse cópias no interior 
da própria caixa e pudesse ainda projetá-las. Isso sem contar a melhora da 
portabilidade (ele pesava apenas 4,5 kg) e da qualidade de imagem, muito 
superior ao que estava disponível no mercado. 
O interior de um cinematógrafo. 
 
Fonte: <mundoestranho.abril.com.br/>. 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
15 
Ele funcionava da seguinte maneira: 
1. Antes de mais nada, o cinematógrafo precisava ser colocado em cima de 
um tripé para garantir a estabilidade da imagem; 
2. Diferente das câmeras atuais, ele não possuía visor; o enquadramento 
era ajustado pelo ponto de vista de quem ia fazer a filmagem; 
3. O filme virgem, com 35mm de largura e 17m de comprimento (semelhante 
ao do cinetospópio), era colocado em um compartimento, e seus furos 
nas laterais engatavam em pinos que eram acionados pela manivela; 
4. Ao ser acionada, a manivela trazia o filme para dentro da caixa e o 
expunha à sensibilização da entrada de luz; 
5. Na sequência, este mesmo mecanismo já guardava a película em um 
compartimento vedado e escuro; 
6. Por ser bastante sensível à luz, as películas dos irmãos Lumière podiam 
ser reveladas rapidamente e estavam prontas para projeção no mesmo 
dia; 
7. Para a projeção, o cinematógrafo tinha que passar por uma pequena 
mudança. O filme revelado retornava o mesmo local onde o filme virgem 
tinha sido colocado, e a lente de gravação era substituída por outra que 
ampliava as imagens; 
8. Para vê-las em movimento na tela, bastava colocar uma fonte de luz atrás 
do cinematógrafo e girar a manivela. 
Os primeirosfilmes dos irmãos Lumière 
Como veremos na Rota 2 da nossa disciplina, o cinema desenvolveu também 
uma linguagem própria. Utilizando recursos de câmera, montagem e som, ele foi 
capaz de criar efeitos e situações inexistentes até então. No teatro, por exemplo, 
não conseguimos ver detalhes dos rostos do ator porque nossos olhos não são 
equipados com zoom (neste caso, podemos usar no máximo um binóculo). 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
16 
Já a câmera pode nos revelar tanto o rosto quanto um detalhe ainda mais 
específico com um olho ou uma cicatriz. Do mesmo modo que a literatura utiliza 
palavras e certas convenções para criar um texto, o cinema também vai 
desenvolver um vocabulário muito particular. Só que vão demorar quase 20 anos 
até que esta linguagem se consolide, lá por volta de 1915. 
Em 1895, os filmes dos irmãos Lumière haviam inventado a técnica, mas não a 
linguagem. No fundo, por terem trabalhado toda a vida com fotografia, eles 
pareciam tratar seus filmes como uma espécie de "fotografia em movimento". 
Esses filmes mostravam curtas cenas do cotidiano, com câmera estática e uma 
ação muito clara: o trem chegando na estação, o bebê tomando sua papinha, 
uma menina dando seus primeiros passos, e assim por diante. 
Por ser uma grande novidade técnica, a qualidade relativa ao seu conteúdo era 
dispensável. Via-se qualquer coisa pela curiosidade e fascínio por este novo 
equipamento. A primeira projeção pública aconteceu no dia 22 de março de 
1895. O filme tinha menos de um minuto de duração e se chamava A saída da 
fábrica Lumière em Lyon. Outra data importante é a da primeira projeção paga 
de cinema. Ela aconteceu no dia 28 de dezembro de 1895, no Salão Indiano, no 
subsolo do Grand Café, no centro de Paris. Ao preço de 1 franco, 33 pessoas 
assistiram a uma sessão de 20 minutos que incluía o famoso A chegada do 
trem na estação. 
Diz a lenda que algumas pessoas, ainda desacostumadas com esta tecnologia, 
saíram correndo da sala de projeção com medo de ser atropeladas pelo trem. 
Mas, o fato é que apenas dois meses depois, em vez de 33, já se vendiam 2.000 
bilhetes diários. Iniciada a história do cinema, a novidade se espalhou 
rapidamente pelos quatro cantos do mundo. No início de 1896, já se tinha 
notícias do cinematógrafo em Londres, Nova Iorque, Buenos Aires, Bombaim, 
Bruxelas, Viena, Bucareste, Belgrado, São Petersburgo, Madri, Rio de Janeiro e 
Osaka. 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
17 
Auguste-Marie faleceu em Lyon, em abril de 1954, e Louis-Jean em Bandol, em 
Junho de 1948. Eles viveram o suficiente para ver os avanços técnicos 
posteriores, tais como o aparecimento do som e o uso da cor e as multidões que 
foram seduzidas pelas imagens em movimento do cinema. 
 
Tema 3: Os filmes de Georges Meliès 
Há certas coisas que de tão improváveis costumamos dizer que nem um 
roteirista de cinema seria capaz de imaginá-las. Pois foi o que aconteceu na 
primeira projeção paga feita pelos irmãos Lumière, em Paris, no dia 28 de 
dezembro de 1895. Na plateia havia um homem que observava fascinado 
aquelas imagens em movimento. Apesar da família ter insistido para que se 
tornasse um empresário do ramo de sapatos, sua vocação sempre foi a área 
artística, onde se dedicou a estudar desenho, escultura, pintura e manipulação 
de bonecos. 
Na época desta sessão, ele já era dono de um teatro, fazia shows de ilusionismo 
e presidia o sindicato dos artistas ilusionistas. Sua cabeça, provavelmente, devia 
estar fervilhando de ideias com os novos truques que aquele equipamento 
poderia proporcionar. Seu nome era Georges Méliès. 
George Méliès. 
 
Fonte: <www.designingdisney.com>. 
https://www.designingdisney.com/content/remembering-space-mountain-earth-moon
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
18 
Como os irmãos Lumière, com medo da concorrência, se recusaram a vender 
um Cinematógrafo para Méliès, ele não só acabou confeccionando sua própria 
câmera, patenteada com o nome de Kinètographe Robert-Houdin (que de tão 
barulhenta, ele apelidou de moedor de café), como fundou uma companhia para 
produzir seus filmes: a Star Film. 
O que se percebe, então, é uma nítida ruptura no que diz respeito à maneira de 
pensar cinema. Enquanto os irmãos Lumière, provenientes do meio fotográfico, 
registravam cenas do cotidiano, quase documentais, Georges Méliès, ilusionista 
e dono de teatro, pensava filmes que encantassem pela magia e pela capacidade 
de entreter o espectador. Enquanto os irmãos Lumière nos levaram para ver a 
chegada de um trem na estação, Méliès nos levará a uma viagem à lua (e isso 
no ano de 1902!). É o que veremos a seguir. 
A contribuição de Georges Méliès 
Os filmes de Georges Méliès trouxeram grandes avanços técnicos e narrativos 
ao cinema. Já em 1896, ele começa a exercitar as primeiras características que 
marcariam seu estilo: os efeitos especiais, o absurdo e a fantasia. Enquanto os 
irmãos Lumiére se empenhavam em tentar nos mostrar o mundo tal como ele 
era, Méliès usava o celuloide para nos apresentar mundos, seres e situações 
irreais e fantasmagóricos. 
No filme Uma noite terrível, por exemplo, ele conta a história de um hóspede 
de hotel que é atacado por um percevejo (bedbug) gigante; em outro, chamado 
A mulher desaparecida (The vanishing lady), o próprio Méliès faz sua 
assistente desaparecer do palco, retornar como um esqueleto e, depois, 
ressurgir em carne e osso. Como esse mundo fantástico de Méliès não existia, 
ele precisou de um local especial para fabricá-lo. Além de ser dono de um teatro, 
ele passou a possuir também um estúdio de cinema, construído em sua 
propriedade nos arredores de Paris. 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
19 
Feito inteiro de vidro para aproveitar ao máximo a luz natural do Sol, havia lá 
toda a infraestrutura necessária para colocar suas ideias em prática: camarins, 
sala de maquiagem e equipes para construir cenários e figurinos. Um fato 
interessante é que, como as cores podiam sofrer grandes alterações ao serem 
transpostas para o filme preto e branco, tudo, desde a maquiagem até os 
cenários, era feito nos mais variados tons de cinza. 
Inventivo por natureza, a ele é atribuída a técnica do stop motion (técnica que 
produz uma animação a partir das seguintes ações: filmar um objeto, parar a 
câmera, modificar levemente a posição do objeto, filmá-lo de novo, e assim por 
diante), além de outras contribuições, tais como o corte, a sobreposição de 
imagens, as transições por dissolução (fade-in, fade-out), a manipulação gráfica 
da imagem e a utilização de ilusões de óptica. Duas delas serão analisadas mais 
detalhadamente: o corte e a sobreposição. 
A introdução do corte, ou seja, o momento em que a câmera para de filmar uma 
cena para que se possa filmar outra, é decisivo na história do cinema. Em vez 
dos filmes de cena única dos irmãos Lumière (o trem chegando na estação, o 
bebê tomando sua papinha), as histórias dos filmes passaram a ser contadas 
através da concatenação de cenas. Essa mudança foi fundamental, tanto pelo 
lado artístico quanto administrativo. 
Os filmes feitos através da concatenação de cenas ganharam dinamismo, 
permitindo a troca de cenários e figurinos. Por outro lado, esta nova dinâmica 
criativa passou a necessitar de um planejamento de filmagem para organizar 
todas estas variáveis. Para fazer seus filmes, Méliès tinha uma série de 
preocupações antes de começar a girar a manivela de sua câmera. 
A segunda característica a ser analisada é consequência do uso do corte e 
também um dos efeitos especiais preferidos deste diretor: a sobreposição. Ela é 
feita da seguinte forma: filma-se uma imagem em um fundo totalmente preto 
(porque o preto não é revelado na película); depois, a câmera é rebobinada e 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
20 
uma nova imagem filmada, só que desta vez com o fundo preto onde estava 
localizada a imagem anterior. Deste modo, pode-se incrustar umaimagem na 
outra e produzir cenas inimagináveis, como as do filme O homem-orquestra, 
onde a película passou pela câmera cerca de sete vezes antes de chegar ao 
resultado final. 
No entanto, apesar de toda sua criatividade cinematográfica, Méliès ainda via o 
cinema como uma espécie de "teatro filmado". Nos seus filmes, a câmera ficava 
sempre estática e posicionada como se fosse um espectador sentado em sua 
cadeira. Não é raro também um personagem entrar em cena e saudar o público 
ou, ao final, fazer reverências para a plateia. 
De seus estúdios saíram cerca de 500 filmes que nos levaram para aventuras 
submarinas (usando um aquário de peixes na frente da lente e atores ao fundo 
se movimentando em câmera lenta, como se estivessem debaixo d´água) e 
também à Lua (Viagem à Lua, de 1902... considerado um dos filmes mais 
importantes da história do cinema), para viagens ao tempo de Joanna D´Arc e 
Cleópatra ou para o mundo de fantasia de Cinderella, Gulliver e Robinson 
Crusoé. 
Georges Méliès filmou até 1913 e abriu falência no ano seguinte. Sucumbiu por 
sua inabilidade de se adaptar às exigências mercadológicas. Em 1923, seu 
teatro foi demolido e, num ato de fúria, queimou vários negativos de seus filmes, 
assim como cenários e figurinos. Foram preservados pouco mais de 200. Depois 
de permanecer no ostracismo por vários anos, foi encontrado, aos 70 anos, 
vendendo doces em uma estação ferroviária de Paris. Abrigado em um 
apartamento patrocinado pelo governo francês, faleceu em 1938, aos 77 anos. 
Em sua lápide consta a inscrição: "O pai do espetáculo cinematográfico". É 
referência para cineastas do mundo inteiro até os dias atuais. 
 
 
Pró-Reitoria de EaD e CCDD 
 
21 
Walt Disney, quando foi agraciado com a Legião de Honra ao Mérito, em 1936, 
dedicou o prêmio a Méliès por ter descoberto um modo de levar poesia ao 
alcance do homem comum. Em 2011 foi homenageado por Martin Scorsese no 
filme A Invenção de Hugo Cabret. 
Lápide de Georges Méliès. 
 
Fonte: <www.pinterest.com>. 
 
 
Tema 4: A reação do mundo aos primeiros filmes (1900 a 1914) 
Até agora estudamos a invenção do cinema através de acontecimentos pontuais. 
Foram analisados fatos, pessoas e ideias, mas estas informações precisam de 
um contexto mais amplo para serem mais bem compreendidas. Falamos de 
alguns avanços na construção da linguagem cinematográfica promovidos por 
Georges Méliès, das primeiras narrativas, mas estamos ainda bem no começo 
da nossa história. 
 
 
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Nesta parte falaremos de questões mais genéricas, tais como: 
 Que público ia ao cinema no começo do século XX? 
 Onde esses filmes eram exibidos? 
 Que tipo de filme se fazia? 
Neste período que estamos analisando, de 1900 a 1914, ainda não existia uma 
indústria de cinema estabelecida, mas produtores pulverizados nos quatro 
cantos do mundo. Por ser uma forma de arte cara, o cinema vai ter um grande 
salto técnico quando começar a se organizar como indústria, depois de 1914. 
Mas isso é assunto da Rota 2. No momento, vamos focar este período 
ligeiramente anterior. 
O público 
Se fôssemos definir o público de cinema da França e dos Estados Unidos na 
virada do século XIX para o XX, ele seria, de modo geral, composto por pessoas 
de baixíssimo poder aquisitivo e analfabetos, que buscavam algum tipo de 
diversão após exaustivas horas de trabalho. Vale a pena lembrar que era a 
época da Revolução Industrial e inexistiam leis trabalhistas. Os turnos giravam 
em torno de 10 a 14 horas diárias. Tudo o que a classe operária queria era uma 
forma rápida, divertida e barata de diversão. 
Além dos bares, dos salões de dança e dos teatros de variedades, a projeção 
das imagens em movimento atraía multidões. Nos Estados Unidos, era uma das 
atrações preferidas dos imigrantes que, além das restrições econômicas, ainda 
não dominavam o idioma. Por serem mudos, estes filmes podiam ser 
compreendidos nos quatro cantos do planeta. 
 
 
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Os filmes 
Como os trabalhadores saíam exausto das fábricas, eles queriam ir ao cinema 
"para não pensar". Os filmes precisavam oferecer pouca sutileza e nada de 
introspecção. Uma boa dose de pornografia, violência, grosserias e humor 
escatológico eram muito bem-vindas por sinal. Até mesmo Georges Méliès 
produziu algumas obras assim. 
Guardadas as devidas proporções, não era muito diferente do que hoje em dia 
dá picos de audiência na televisão aberta ou na internet. Mas, se a qualidade 
dos filmes podia ser discutível, seu sucesso não era. Em 1908, estima-se que se 
vendiam cerca de 340 mil ingressos por dia, apenas em Nova Iorque. 
Em seu livro Vocês ainda não ouviram nada, Celso Sabadin descreve alguns 
enredos que chegavam às telas: A história de um crime (1901) chocou plateias 
ao mostrar com grande realismo uma cena de decapitação na guilhotina; Vítimas 
do alcoolismo (1902) mostrava um pai de família agonizando e morrendo em 
delirium tremens, vítima do álcool; por fim, há ainda um quadro de humor 
duvidoso em que um rapaz entra numa cabine telefônica, julgando estar em um 
banheiro público, e evacua neste local. 
Outro aspecto interessante é que o público não orientava suas escolhas por 
diretor ou determinado ator e atriz, como se faz hoje. Na verdade, ainda não 
havia atores e atrizes de cinema. Eram pessoas comuns, artistas de teatro de 
variedades que encenavam os primeiros filmes. No caso de Viagem à Lua 
(1902), de Georges Méliès, todo o elenco era composto por acrobatas, cantoras 
de vaudeville e dançarinas, sem nenhum tipo de treinamento específico. Os 
nomes das pessoas não constavam dos cartazes de divulgação e, em muitos 
casos, era até melhor nem receber crédito e evitar ter seu nome vinculado a algo 
de baixa qualidade. 
 
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Neste primeiro momento, o fascínio era pelo cinematógrafo. Via-se qualquer 
coisa que fosse projetada na busca por um entretenimento passageiro. 
Cena do primeiro filme pornográfico. 
 
Fonte: <forum.bodybuilding.com/>. 
 
As salas de cinema 
No início, a exibição de filmes se concentrou em casas de espetáculos de 
variedades e feiras livres, nas quais se podia comer, beber, dançar e, entre 
outras coisas, ver filmes. Demorou um tempo até que “assistir a um filme” fosse 
em um local específico e, mais ainda, para que fossem oferecidas sessões 
exclusivas de um mesmo título. Como a duração de um filme dificilmente excedia 
5 minutos, o que acontecia era a composição de vários filmes curtos, de modo a 
atingir um tempo que "valesse o ingresso" do espectador. 
 
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As primeiras salas de cinema eram quase um armazém improvisado, alguns sem 
lugar até para sentar. Como o preço custava um níquel (cinco centavos), estes 
locais acabaram recebendo um apelido que, hoje, é utilizado como nome de um 
canal infantil: nickelodeons. Dependendo da concorrência, uma ou outra atração 
poderia ser adicionada, tal como um piano ou órgão para musicar determinadas 
cenas. A estimativa é que, no ano de 1908, Nova Iorque contava com 600 
estabelecimentos deste tipo e outros 6.000 espalhados pelo país. 
Os primeiros dez anos de comércio do cinema fizeram surgir ainda uma profissão 
que caiu em desuso posteriormente: a de explicador. Como as pessoas ainda 
não estavam acostumadas com as técnicas e os procedimentos de linguagem 
para entender este tipo narrativa visual, havia alguém treinado para 
contextualizar a plateia sobre o que estava sendo projetado. 
 
O começo da mudança 
O sucesso dessa diversão do proletariado chamou logo a atenção da classe 
média burguesa, que classificava de vulgar este lugar sujo e escuro, onde 
pessoas se agrupavam para ver filmes repugnantes. Encabeçado pela bandeira 
da moral e dos bons costumes, os nickelodeons começaram a sofrer batidas 
policiais, a ter filmes apreendidos e, não raro, serem fechados.Depois, veio a 
censura aos filmes, que tinham que ser submetidos ao recém-criado Conselho 
de Censura Cinematográfica de Nova Iorque, em 1909, para retirar tudo aquilo 
que pudesse ser ofensivo. 
A submissão a estes novos critérios causou uma reviravolta sem precedentes. 
Com a censura, os filmes começaram a ficar mais "respeitáveis" aos olhos da 
sociedade burguesa, que ficou mais tolerante com esta nova forma de arte. De 
tão tolerante, ela passou a ser incentivadora de filmes mais longos e refinados, 
 
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sendo baseados em peças de teatro ou romances literários e contando com a 
presença de atores de teatro famosos. 
As salas de cinema precisaram ficar tão confortáveis quanto os teatros para que 
pudesse abrigar com conforto suas plateias. O preço do ingresso acompanhou 
o processo de elitização, e ficou mais caro. O ano de 1912 estabelece mais um 
marco divisório: o lançamento do primeiro longa-metragem, Oliver Twist, e a 
inauguração do Regent Plaza de Nova Iorque, o primeiro cinema construído 
especificamente para a exibição de filmes (que era quase um palácio). Nas 
palavras de uma jornalista que foi na noite de estreia, o novo local estava no 
nível das melhores casas de espetáculo e que, julgando pelo decoro e pela 
apreciação sincera, o público parecia estar assistindo a uma ópera. 
As novas salas de cinema. 
 
Fonte: <newyorktoursbygary.blogspot.com.br>. 
 
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27 
Tema 5: Os filmes de Charles Chaplin e Buster Keaton 
Como vimos no item anterior, o cinema chegou a um formato considerado ideal: 
o longa-metragem. Foi uma evolução gradual. Os produtores iam testando a 
paciência da plateia em relação à duração da projeção. Conforme a aceitação 
aumentava, o formato do longa-metragem foi se consolidando. Assim como uma 
peça de teatro, que precisa que o público se acomode em uma poltrona por uns 
minutos e preste atenção ao que está acontecendo no palco, os filmes passaram 
a exigir este tipo de dedicação. 
Importante lembrar que os filmes curtos, alguns muito vulgares continuaram 
existindo. De certo modo, a produção de títulos vulgares perdura até os dias de 
hoje. 
Um gênero que sempre encantou as plateias foi a comédia e, ainda na década 
de 1910, dois atores geniais criaram para o cinema personagens inesquecíveis. 
Um era inglês e tinha bigodinho engraçado e chapéu coco e, o outro, era norte-
americano e uma inconfundível fisionomia triste. São eles: Charles Chaplin e 
Buster Keaton. 
Charles Chaplin 
Charles Spencer Chaplin nasceu no dia 16 de abril de 1889, em Londres, em 
uma família já ligada ao meio artístico. Da era do cinema mudo, foi um dos 
profissionais mais completos, e é considerado por alguns críticos um artista de 
relevância equiparada aos Irmãos Lumière e Georges Méliès. Notabilizou-se por 
criar o personagem de um adorável vagabundo que tem a "alma de nobre" e 
veste um paletó apertado, sapatos grandes, bengala e um chapéu coco. Ele 
surge pela primeira vez em 1914, no filme Kid Auto Races at Venice, e 
reaparece em dezenas de produções posteriores. 
 
 
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Charlie Chaplin em Kid auto races at Venice. 
 
Fonte: <http://www.vintag.es/>. 
Charlie Chaplin atuou, dirigiu, escreveu e produziu seus próprios filmes em uma 
carreira que durou mais de 75 anos. Politicamente engajado, fundou, em 1919, 
junto com outras estrelas de cinema da época (Douglas Fairbanks, Mary Pickford 
e D. W. Griffith), a United Artists, um estúdio que tinha como finalidade preservar 
a liberdade criativa dos artistas longe da imposição comercial dos grandes 
estúdios. 
O humanismo em seus filmes, especialmente os que foram criados após a 
Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão de 1929, traziam esperança de 
paz, respeito e amor ao próximo, apesar de todas as dificuldades. Fez também 
(hilárias) críticas ao sistema capitalista e industrial, como é o caso de Tempos 
Modernos (1936); e à repressão e à ditadura, em obras como O Grande ditador 
(1940). Por razões óbvias, na década de 1930, seus filmes chegaram ser 
proibidos na Alemanha nazista, pois eram considerados subversivos e contrários 
a moral e aos bons costumes daquele país. 
Em 2008, Martin Sieff escreveu a respeito da biografia de Chaplin: 
 
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"Chaplin não foi apenas 'grande', ele foi gigantesco. Em 1915, ele 
estourou um mundo dilacerado pela guerra trazendo o dom da 
comédia, risos e alívio enquanto ele próprio estava se dividindo ao 
meio pela Primeira Guerra Mundial. Durante os próximos 25 anos, 
através da Grande Depressão e da ascensão de Hitler, ele 
permaneceu no emprego. Ele foi maior do que qualquer um. É 
duvidoso que algum outro indivíduo tenha dado mais entretenimento, 
prazer e alívio para tantos seres humanos quando eles mais 
precisavam." 
Charlie Chaplin em Tempos Modernos. 
 
Fonte: <www.ridleymcintyre.com>. 
Chaplin faleceu no dia de natal, em 1977. No entanto, sua imagem perdura até 
os dias de hoje, seduzindo novas plateias e influenciando artistas das mais 
variadas áreas. Difícil conhecer alguém que não tenha alguma lembrança do 
personagem que ele imortalizou. 
 
 
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Buster Keaton 
Buster Keaton nasceu em uma família de artistas ambulantes. Batizado como 
Joseph, seu nome artístico Buster veio de uma situação inusitada. Quando tinha 
18 meses de idade, seu pai, por acidente, o deixou rolar escada baixo. Quando 
a criança se levantou, como se nada tivesse acontecido, o sócio de seu pai disse: 
"Esse é um buster de verdade". Na época, buster era uma expressão usada para 
designar uma queda que tinha grande potencial de causar lesões. 
Ele começou sua carreira no cinema mudo fazendo parceria com Roscoe "Fatty" 
Arbuckle, em 1917, mas três anos mais tarde já era protagonista de seus filmes. 
Buster Keaton. 
 
Fonte: <www.doctormacro.com>. 
Uma das principais contribuições de Buster Keaton foram as paródias, ou seja, 
ele foi um mestre em fazer releituras cômicas de alguma composição literária, 
peça de teatro ou até mesmo de outros filmes e atores. O ator William S. Hart, 
por exemplo, conhecido por derramar lágrimas por qualquer motivo, 
especialmente em seus filmes de faroeste melodramáticos, ficou furioso com 
Keaton quando este criou um personagem que chorava lágrimas de glicerina até 
quando estava atirando em alguém em The Frozen North (1922). 
 
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Em The Play House (1921), Keaton idealiza a cena de um sonho em que ele 
interpreta todos os personagens, desde o elenco até os integrantes da banda e 
da plateia. A crítica tinha endereço certo: Thomas H. Ince, diretor habituado a 
dar créditos excessivos para si mesmo em suas produções. 
 
Paródia de William S. Hart. 
 
Fonte: <theloudestvoice.tumblr.com/>. 
Outra característica sua era a coragem para filmar cenas perigosas. Em 
Marinheiro de Encomenda (1928), uma parede de quase duas toneladas com 
apenas uma janela na parte superior cai sobre ele. Sua vida dependia da 
precisão do cálculo de seu posicionamento no chão em relação a esta janela. 
Diz a lenda que parte da equipe preferiu abandonar o set e nem ver esta cena 
ser filmada. 
 
 
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Em General (1926), ele senta em uma das partes que movimenta as rodas do 
trem e começa a ser lentamente carregado para cima e para baixo. Até o 
condutor do trem precisou ser convencido a fazer esta tarefa. Qualquer erro 
poderia arremessá-lo para longe ou causar algum outro acidente. Buster Keaton 
morreu no dia 1 de fevereiro, de 1966, aos 66 anos. Estrelou mais de 100 filmes. 
Na Rota 1 fizemos uma análise da história do cinema desde seus primórdios. 
Começamos lá no tempo das cavernas e fomos caminhando até a invenção do 
cinematógrafo, que iniciou, de fato, nossa relação com as imagens em 
movimento. O cinema prosseguiu seu desenvolvimentonas décadas posteriores 
encantando um público sempre em busca de novidade e entretenimento. Na 
Rota 2, nós vamos continuar esta história, falando do aparecimento dos 
primeiros estúdios, de como a linguagem cinematográfica se consolidou e sobre 
a transição dos filmes mudos para os falados. 
 
Síntese 
Finalizamos, agora, a primeira parte da nossa disciplina Cinema e 
Videodocumentário. Foi um começo com muitas experimentações e diferentes 
abordagens. Os irmãos Lumière buscavam um viés mais documental, outros, 
como Georges Méliès, insistiam na fantasia e nos efeitos especiais. Até hoje 
estas abordagens existem. Há diretores mais próximos do documentário e outros 
que preferem fazer Star Wars. Fato é que o cinema foi evoluindo até chegar ao 
formato que se utiliza até hoje, o longa-metragem, e fez surgir suas primeiras 
estrelas de cinema, como Charlie Chaplin e Buster Keaton. 
Lembrem-se de que bem no início do século XX as pessoas iam ver as imagens 
do cinematógrafo por curiosidade, e não pelos artistas. Fechamos aqui um ciclo 
importante, que vai até 1914. Com a Primeira Guerra Mundial, que vai de 1914 
a 1918, todo o cenário do mundo cinematográfico vai mudar drasticamente. Na 
 
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Rota 2, nós vamos falar sobre como este momento histórico afetou a cinema e 
tratar do aparecimento dos primeiros estúdios, de como a linguagem 
cinematográfica se consolidou e sobre a transição dos filmes mudos para os 
falados. 
 
Referências 
ALMEIDA, Cláudia. O Cinetógrafo e Cinetoscópio de Thomas Edison. 
Disponível em: 
<https://sites.google.com/site/arteprojectada2/ocinet%C3%B3grafoecinetosc%
C3%B3piodethomasedison>. 
ALMEIDA, Frederico B. Câmara Escura de Orifício. Disponível em: 
<http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/camara-escura-orificio.htm>. 
BIOGRAFIAS. UOL Educação. Buster Keaton. Cineasta e Ator Norte-
Americano Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/buster-
keaton.htm>. 
CINEMA EM CENA. Cinco Arriscadas Cenas da Carreira de Buster Keaton. 
Disponível em: <http://www.cinemaemcena.com.br/Coluna/Ler/1883/cinco-
arriscadas-cenas-da-carreira-de-buster-keaton>. 
DEVANEIOS. Melies e irmãos Lumiere: visões acerca do cinema. Disponível 
em: <htmlhttp://devaneiosregi.blogspot.com.br/2012/10/melies-e-irmaos-
lumiere-visoes-acerca.html>. 
SABADIN, Celso. Vocês ainda não ouviram nada: a barulhenta história do 
cinema mudo. São Paulo: Lemos editorial, 2000. 
 
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SUL 21. O dia em que os irmãos Lumiere apresentaram o cinema ao mundo. 
Disponível em: <http://www.sul21.com.br/jornal/o-dia-em-que-os-irmaos-
lumiere-apresentaram-o-cinema-ao-mundo/>. 
TENDIMAG. Fotografar o movimento do corpo. 2013. Disponível em: 
<https://tendimag.com/tag/etienne-jules-marey/>. 
WIKIPEDIA. Charlie Chaplin. Disponível em: 
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Charlie_Chaplin>. 
WIKIPEDIA. Nickelodeon. Disponível em: 
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Nickelodeon_(cinema)>.

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