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Lucymara Carpim O cenário educacional apresenta várias possibilidades de o pe- dagogo contribuir com a construção de conhecimentos sistema- tizados, que possibilitem aos alunos interagir e agir no contexto profissional, social e cultural. Para estar aberto a essas possibilidades, é importante o peda- gogo entender que o saber sistematizado pode ser desenvolvido tanto nos espaços escolares quanto nos não escolares. Este livro apresenta uma diversidade de ambientes possíveis de atuação desse profissional, como organizações empresariais e universi- dades corporativas; espaços hospitalares; espaços sociais, como associações culturais, organizações não governamentais (ONGs), asilos, casas de acolhimento social e educacional, fundações e demais instituições; e outros espaços não escolares, como mu- seus, escolas e instituições como sistema S e sistema carcerário. Nesses espaços são desenvolvidos programas educacionais e profissionais, visando à formação dos sujeitos com foco na trans- formação social e individual. Lu cym ara C arp im PEDAGOGIA EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES Código Logístico 59211 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6590-5 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 9 0 5 Pedagogia em espaços não escolares Lucymara Carpim IESDE BRASIL 2020 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C298p Carpim, Lucymara Pedagogia em espaços não escolares / Lucymara Carpim. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 126 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6590-5 1. Educação - Estudo e ensino. 2. Pedagogos - Orientação profissional. I. Título.. 20-62569 CDD: 370.71 CDU: 37.013 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Envato Elements Lucymara Carpim Doutora e mestra em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Didática do ensino superior pela mesma instituição; em Gestão educacional pelo Serviço Nacional de Aprendizagem (Senac PR); em Marketing empresarial, Economia do trabalho e Gerenciamento ambiental na indústria pela Universidade Federal do Paraná (UFPR); em Gestão do meio ambiente e Planejamento e gestão estratégica pela UNINTER. Graduada em Letras pela Universidade Tuiuti do Paraná e em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional Uninter. Tem experiência em gestão educacional, universidades corporativas, educação profissional, ensino superior, técnico e tecnológico. Atua em espaços escolares e não escolares, com a prática docente em ambientes presenciais e on-line. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! 1 Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 9 1.1 Cenários educacionais para atuação do pedagogo 10 1.2 Conceitos, fundamentos e perspectivas educativas 16 1.3 O público-alvo do pedagogo em contextos não escolares 24 2 O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 29 2.1 Atuação do pedagogo nas organizações 30 2.2 Perspectivas educativas na área de Recursos Humanos 37 2.3 Pedagogia corporativa e a gestão do conhecimento 41 2.4 Aprendizagem continuada e sustentação dos objetivos organizacionais 44 3 O pedagogo no ambiente hospitalar 50 3.1 História e legislação da pedagogia hospitalar 50 3.2 O pedagogo e o processo de hospitalização 57 3.3 Desempenho educativo em espaços hospitalares ou residenciais 62 4 O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 69 4.1 História da pedagogia social 70 4.2 Pedagogia social e os desafios de uma prática inovadora 72 4.3 Caminhos para a elaboração de projetos sociais e seus desafios 82 5 Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares 90 5.1 Atividades pedagógicas em museus 91 5.2 As atribuições e oportunidades de atuação do pedagogo e a formação profissional 96 5.3 A reeducação dos detentos e as oportunidades de transformação social 102 6 Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem 109 6.1 Perfil do pedagogo para atuação em espaços não escolares 110 6.2 Metodologias de ensino em diferentes níveis e contextos não formais 115 6.3 Desafios do pedagogo em espaços não escolares 122 O cenário educacional apresenta várias possibilidades de o pedagogo contribuir com a construção de conhecimentos sistematizados, que possibilitem aos alunos interagir e agir no contexto profissional, social e cultural. Para estar aberto a essas possibilidades, é importante o pedagogo entender que o saber sistematizado pode ser desenvolvido tanto nos espaços escolares quanto nos não escolares. Esse é o tema do nosso livro; nele, apresentamos uma diversidade de ambientes possíveis de atuação desse profissional. No primeiro capítulo, apresentamos os conceitos e os fundamentos da pedagogia, da andragogia, dos espaços não escolares e a importância da intencionalidade educativa nas ações propostas, apontando caminhos para o trabalho do pedagogo no contexto não formal de ensino. O segundo capítulo destaca a atuação do pedagogo nas organizações empresariais e em universidades corporativas, tendo em vista que muitas empresas investem na formação contínua e no desenvolvimento de competências profissionais por meio de programas educacionais. Tais programas demandam atuação de profissionais ligados à educação, em especial, aos saberes didáticos e pedagógicos. No terceiro capítulo, abordamos as legislações, os conceitos e os fundamentos da ação pedagógica nos espaços hospitalares e a grande contribuição dos profissionais para atender, educativamente, às pessoas impossibilitadas de comparecer aos espaços formais de ensino. O pedagogo atuando em espaços sociais, conhecidos como terceiro setor, é tratado no quarto capítulo, que apresenta direcionadores para uma atuação educativa visando à formação dos sujeitos com foco na transformação social e individual, em especial nos espaços como associações culturais e sociais, organizações não governamentais (ONGs), asilos, casas de acolhimento social e educacional, fundações e demais Vídeo APRESENTAÇÃO 8 Pedagogia em espaços não escolares instituições. Esses espaços buscam promover o desenvolvimento profissional, cultural, social e educacional, o que exige do pedagogo uma prática profissional colaborativa e cooperativa, com diversos outros profissionais que atuam em prol de uma sociedade mais justa e inclusiva. No quinto capítulo, discorremos sobre a pedagogia em outros espaços não escolares, como museus, escolas e instituições como sistema S e sistema carcerário, onde são desenvolvidos programas de formação profissional. Todas essas entidades têm como objetivo a ampliação de oportunidades de aprendizagem e empregabilidade e, para isso, dependem dos saberes técnicos do pedagogo no que diz respeito aos processos de ensino e à aprendizagem. Por fim, no sexto capítulo, recomenda-se a adoção de metodologias inovadorasde ensino, considerando a utilização das metodologias ativas que objetivam envolver os estudantes nas atividades de ensino propostas, com foco no desenvolvimento de sua autonomia educacional para pesquisa, resolução de problemas reais e direcionamento da aprendizagem significativa. Bons estudos! Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 9 Neste capítulo, trataremos dos cenários educacionais, con- ceitos e fundamentos da atuação do pedagogo em espaços não escolares e das perspectivas de práticas de ensino inovadoras, considerando contextos de constante transformação e que exi- gem pessoas preparadas para aprender continuamente. Os espaços não escolares possibilitam que o pedagogo atue ancorado nos fundamentos e princípios educativos da pedagogia e da andragogia. Por isso, a partir do estudo deste capítulo, você compreenderá como atuar nos diferentes contextos não escola- res e como o processo de ensino e aprendizagem pode ocorrer. Embora a formação em pedagogia foque em preparar os profissionais para que eles atuem em ambientes formais de en- sino, existem outras possibilidades que permitem ao pedagogo contribuir para a educação significativamente por meio de uma multiplicidade de áreas de atuação que carecem de profissionais habilitados e com os conhecimentos pertinentes dos processos de ensino e aprendizagem tanto no que diz respeito à pedagogia como à andragogia. Nesse sentido, convidamos você a abrir seus horizontes para a possibilidade de atuar além dos espaços formais de ensino, bem como adentrar um cenário desafiador, porém aberto a novas oportunidades de construir saberes que serão fundamentais para direcionar seus caminhos como pedagogo e atender a uma de- manda que exige profissionais engajados e comprometidos para trabalhar em diferentes campos educacionais. Bons estudos! Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 1 10 Pedagogia em espaços não escolares 1.1 Cenários educacionais para atuação do pedagogo Vídeo A pedagogia vem apresentando diversas oportunidades de atua- ção para o pedagogo, requerendo, para tanto, saberes que permitam ao profissional adentrar espaços não escolares, como ONGs, empresas, museus, hospitais, associações e demais instituições. Entretanto, é re- querido desse profissional que ele entenda com maiores detalhes fun- damentos, conceitos e princípios da pedagogia e da andragogia, pois ambas se complementam quando falamos em atuar em espaços não formais de ensino. É fundamental pensar a pedagogia no contexto educacional, social e econômico, uma vez que existem várias possibilidades para sua atuação. Além disso, o pedagogo pode desenvolver suas atividades educativas em diversos cenários e espaços por estarmos vivendo um contexto em que a competitividade de mercado, o processo de globalização e as transfor- mações técnicas e tecnológicas demandam pessoas preparadas e em constante movimento de aprendizagem a fim de manterem-se atuantes. Podemos nos embasar em Libâneo (2010, p. 28) quando nos orienta sobre a atuação do pedagogo: “verifica-se, pois, uma ação pedagógica múltipla na sociedade. O pedagógico perpassa toda a sociedade, extra- polando o âmbito escolar formal, abrangendo esferas mais amplas da educação informal e não formal”. No artigo A pedagogia no seu contexto histórico acerca da sua identidade, publi- cado pela revista FIPED, é apresentada a pedagogia, seu contexto histórico e a identidade do pedagogo com base na sua atuação em ambientes formais e não formais de ensino, demonstrando a importância desse profissional não só nas escolas regulares como em espaços não escolares. Acesso em: 23 jan. 2020. http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscri- to_50_d45e054ee66ad2745fc50cb12ef6a77c.pdf Artigo Sendo assim, é tão necessário pensar a ação do pedagogo em es- paços formais – desde escolas de educação infantil até o ensino uni- versitário – como também em espaços não formais, como empresas, hospitais, centros comunitários, associações sociais e religiosas, museus, http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscrito_50_d45e054ee66ad2745fc50cb12ef6a77c.pdf http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscrito_50_d45e054ee66ad2745fc50cb12ef6a77c.pdf Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 11 universidades corporativas, sindicatos, escolas profissionalizantes, siste- ma carcerário e muitos outros que exigem competências educacionais que transponham os conhecimentos didáticos e pedagógicos adotados em ambientes tradicionais de ensino. Veja, a seguir, alguns aspectos que diferenciam o espaço escolar formal de ensino e o espaço não escolar. Quadro 1 Aspectos dos espaços de ensino ESPAÇOS FORMAIS DE ENSINO Escolas que têm organização sistemática do ensino Atividades apresentadas de maneira sequencial e disciplinar Regidos por leis Concedem certificados (formalizados pelas Diretrizes Nacionais de Educação) Divisão por níveis de conhecimento Conteúdos atendem a uma matriz curricular Professor comumente pode ser visto como detentor dos saberes ESPAÇOS NÃO ESCOLARES Permitem o compartilhamento, a cooperação e a colaboração visando à construção interativa de saberes O professor tem papel de facilitador, mediador ou instrutor O ensino foca nos processos educativos, que devem ser interativos A construção dos saberes deve ser coletiva, por meio de atividades desenvolvidas em equipes Conhecimentos propostos de maneira problematizadora e que tragam a realidade dos estudantes Fonte: Elaborado pela autora. Percebemos que, além dos saberes pedagógicos de ensino, é ne- cessário que o pedagogo compreenda os fundamentos da andragogia, que direciona seus pressupostos teóricos para o ensino de adultos. Destacando que o pedagogo pode atuar nos dois espaços, é importan- te considerar, no entanto, que os direcionadores metodológicos podem 12 Pedagogia em espaços não escolares divergir no que diz respeito a intencionalidade educativa, público-alvo, metodologia, avaliação e propostas de atividades. É importante você entender que o trabalho do pedagogo está conec- tado ao do professor, e isso requer gostar de atuar como docente, en- volver-se com práticas educativas que estimulem e levem os estudantes – independentemente de serem crianças, jovens ou adultos – a construí- rem saberes significativos e que possam ser usados em suas vidas. Além disso, a prática pedagógica em espaços não escolares requer atuação em atividades que demandam planejamento, trabalho em equi- pe, coordenação, formação pessoal e profissional contínua e agir como mediador dos processos de ensino. Isso porque, em ambientes não for- mais de ensino, a diversidade de atribuições é grande e exige que os sa- beres sejam reconstruídos, pois as ações são diferentes de acordo com o espaço profissional onde o pedagogo vai desenvolver suas competên- cias educativas. Para Frisson (2004, p. 89): o pedagogo gerencia muito mais do que aprendizagens, gerencia um espaço comum, o planejamento, a construção e a dinamiza- ção de projetos, de cursos, de materiais didáticos, as relações entre o grupo de alunos ou colaboradores. Isso significa que não basta possuir inúmeros conhecimentos teóricos sobre determi- nado assunto, é preciso mobilizá-los. Isso requer que o pedagogo compreenda que, para atuar em espa- ços não escolares, são exigidos saberes específicos sobre cada ambien- te de atuação, além de competências educacionais e metodológicas que sejam inovadoras, que promovam o envolvimento dos estudantes nas atividades de maneira dialógica e interativa e que estejam em con- formidade com os propósitos de ensino. PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES FLEXÍVEL DINÂMICO PROMOVE A APRENDIZAGEM DENTRO DAS DIFERENCIAÇÕES Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 13 É importante que você compreenda que, comopedagogo, tem di- versas possibilidades de atuação profissional, mas será necessário desenvolver um conjunto de conhecimentos e ampliar sua visão de mundo, visto que a possibilidade de adotar práticas educativas diver- sificadas implica cercar-se de referenciais que possam contribuir para sua prática profissional de acordo com o espaço de trabalho pelo qual optar para atuar. Para Libâneo e Pimenta (2011, p. 36), o campo de atuação do peda- gogo é ampliado devido às novas necessidades sociais: os profissionais da educação formados pelo curso de Pedago- gia atuarão nos vários campos sociais da educação, decorrentes de novas necessidades e demandas sociais a serem regulados profissionalmente. Tais campos são: as escolas e os sistemas es- colares; os movimentos sociais; as diversas mídias, incluindo o campo editorial; as áreas de saúde; as empresas; os sindicatos e outros que se fizerem necessários. Entretanto, é importante destacar que o caráter didático e episte- mológico deve ser levado em consideração quando tratamos do en- sino em ambientes não formais. A sistematização do conhecimento, embora não formalizada, deve ser entendida e construída segundo a necessidade do público-alvo. Assim, o seu sentido de docência precisa ser ampliado, lembrando que o papel do pedagogo, além de atuar com a prática pedagógica, inclui preocupar-se com o fator humano, ou seja, o sujeito objeto do ensino e da aprendizagem. Atitudes como ética, compreensão dos espaços onde atuará e ob- servação cautelosa dos envolvidos no processo de ensino e dos di- recionadores metodológicos adequados à faixa etária são condutas imprescindíveis ao pedagogo neste contexto, pois a educação não for- mal parte de diferentes contextos e realidades sociais, culturais, políti- cas, econômicas e profissionais. Essa realidade exige entendimento da intencionalidade pedagógica, dedicação e compromisso do educador com os estudantes envolvidos no processo de aprendizagem. O que acabamos de expor vai ao encontro do que aponta Libâneo (2010, p. 92) quanto à importância da intencionalidade de aprendiza- gem: “a tomada de consciência dos influxos sobre os educandos do contexto global da vida social requer da prática educativa uma inten- cionalidade, isto é, processos orientados explicitamente por objetivos e baseados em conteúdos, e meios dirigidos a esses objetivos”. 14 Pedagogia em espaços não escolares Mesmo que o ambiente de atuação do pedagogo não seja institu- cionalizado e direcionado por legislações educativas pertinentes, deve atender aos pressupostos teóricos e metodológicos que correspon- dam às expectativas dos estudantes quanto à construção de saberes significativos. Para reforçar a compreensão sobre os espaços não formais de atua- ção do pedagogo, vamos esclarecer um pouco mais sobre a educação não formal e formal a fim de contribuir para seu entendimento do pa- pel dos pedagogos nos diversos espaços educativos. Para tanto, recor- remos a Libâneo (2010, p. 88-89), que apresenta a diferença dos termos formal e não formal: Formal refere-se a tudo que implica uma forma, isto é, algo in- teligível, estruturado, o modo como algo se configura. Educação formal seria, pois, aquela estruturada, organizada, planejada in- tencionalmente, sistemática [...] São atividades formais também a educação de adultos, a educação sindical, a educação profis- sional, desde que nelas estejam presentes a intencionalidade, a sistematicidade e condições previamente preparadas, atributos que caracterizam um trabalho pedagógico-didático, ainda que realizadas fora do marco escolar propriamente dito. A educação não formal, por sua vez, são aquelas atividades com caráter de intencionalidade, porém com baixo grau de estrutura- ção e sistematização, implicando certamente relações pedagógi- cas, mas não formalizadas. Desse modo, podemos dizer que a educação formal abrange os sis- temas de ensino e as escolas profissionalizantes, no entanto as ativida- des complementares das escolas são consideradas não formais. Já os espaços não formais em contextos escolares podem ser exem- plificados por trabalhos comunitários, cinemas, área de recreação, praças, museus, ONGs, movimentos sociais, espaços que possuem ca- racterísticas específicas e que exigem programações e direcionadores de aprendizagem com intencionalidade de acordo com seu segmento de atuação. Nesse sentido, segundo aponta Libâneo (2010, p. 91), “os processos educativos informais só se movem a partir de ações organi- zadas, conscientes, intencionais, ou seja, quando se pode prefigurar, antecipar resultados que se quer obter”. Significa dizer que o profissional envolvido com essa ação deve planejar, organizando o processo de ensino, definindo direcionadores didáticos e metodológicos que configurem uma ação intencional de en- Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 15 sino, construção de autonomia, pensamento crítico e reflexivo, cons- trução de saberes específicos, assim como de consciência cidadã, ética e de compromisso social e profissional. Lembre: não é porque o espaço não é formal (escolar) que não de- vem existir os procedimentos didáticos e pedagógicos. Apenas a confi- guração é um pouco diferente para atender às especificidades do tipo de instituição e do público-alvo. A intencionalidade pedagógica, assim como procedimentos didáticos e metodológicos, deve existir mesmo em espaços não escolares. Porém, estamos falando de formação, muitas vezes de formação continuada, de atualização ou de aperfeiçoamento de saberes, o que exige intencionalidade de aprendizagem. Portanto, para Libâneo (2010, p. 91), “quando falamos em formação – construção do homem, desen- volvimento da consciência crítica, desenvolvimento de qualidades inte- lectuais –, referimo-nos a atos intencionados, objetivos explícitos, certo grau de direção e estruturação, o que não ocorre em contextos não in- tencionais”. Dessa forma, o papel do pedagogo deve ser orientado para o desenvolvimento de programas educativos que atinjam também ob- jetivos de formação éticos e sociais, além dos específicos. A multiplicidade de áreas em que o pedagogo pode atuar exige uma formação sólida e demanda práticas dialógicas, que permitam que os alunos sejam construtores do seu próprio conhecimento, fazendo a transposição de uma ação educativa ancorada em ações de reprodu- ção e memorização de conteúdos para uma preocupada em formar pensadores críticos, que poderão atuar em espaços organizacionais, sociais e políticos. Dessa forma, o pedagogo precisa direcionar o fazer educativo com base em uma metodologia de ensino transformadora e que acom- panhe as mudanças tecnológicas apresentadas na contemporanei- dade. Esse processo exige atividades que envolvam os profissionais por meio de problemas reais. Além disso, o cenário corporativo requer pessoas que saibam trabalhar em equipes, sejam proativas e recepti- vas às mudanças, saibam solucionar problemas, gostem de desafios e interajam com as novas tecnologias, que são disruptivas e exigem competências inovadoras. Atividade 1 Relate um pouco sobre o que entende da ação do pedagogo a partir da prática de ensino considerando a realidade dos estudantes e a aplicabilidade do aprendizado na sua realidade profissional e pessoal. 16 Pedagogia em espaços não escolares Considerando esse cenário, vamos entender melhor do que tratam a pedagogia e a andragogia e como elas podem se complementar no processo de aprendizagem em espaços não escolares de ensino, uma vez que ambas possuem direcionadores metodológicos que podem fa- vorecer um aprendizado significativo. 1.2 Conceitos, fundamentos e perspectivas educativas Vídeo É importante entender os conceitos, o histórico e os fundamentos da pedagogia e da andragogia para, assim, compor uma ação educativa mais coerente com os objetivos e as necessidades de formação dos indivíduos em espaços não escolares, especialmente quando tratamos de práticas educativas inovadoras eancoradas em metodologias que envolvem os estudantes como agentes de mudança nas ações de aprendizagem. Por pedagogia, entendemos o que afirmam Knowles, Holton III e Swanson (2009, p. 66, grifos do original): “a palavra pedagogia deriva das palavras gregas paid, que significa ‘criança’ (a mesma raiz que ori- ginou a palavra ‘pediatria’), e agogus, que significa ‘líder de’. Assim, pe- dagogia significa literalmente a arte e a ciência de ensinar às crianças” Fica claro, a princípio, o viés histórico da palavra pedagogia que di- reciona o ensino para crianças. Nesse modelo de ensino, o papel do professor é o de detentor do saber, cabendo a ele a tarefa de definir o que a criança deve aprender, seguindo as orientações prescritas em sala de aula. O aluno, portanto, depende totalmente da ação educativa do docente. As tarefas de ensino são centradas nos conteúdos, e os alunos são motivados por notas, aprovação ou reprovação, fatores ex- ternos ao indivíduo. Além disso, o papel de receber com passividade as orientações dos professores é característica do aluno aprendiz. Falar em ensino requer tratar da educação e de sua importância para o desenvolvimento da humanidade, entendendo que não existe uma fórmula única de educar. Libâneo (2010, p. 26) trata a educação como “um fenômeno plurifacetado, ocorrendo em muitos lugares, ins- titucionalizado ou não, sob várias modalidades”. A educação permeia vários ambientes, sejam eles espaços escolares de formação tanto de crianças e adolescentes como de adultos, sejam espaços não formais. Logo, podemos compreender que educar ocorre Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 17 em vários cenários, de maneira contínua, e, por isso, a educação se mani- festa por meio de teorias expostas ao longo da história da humanidade. Voltamos historicamente à Grécia Antiga, quando os filósofos ques- tionavam quais eram as melhores formas de educar, considerando os aspectos do pensamento crítico juntamente com a razão – questões que causam inquietações. Segundo explica Aranha (2006, p. 67): a palavra paidagogos nomeava inicialmente o escravo que condu- zia a criança, com o tempo o sentido do conceito ampliou-se para designar toda teoria sobre a educação. [...] Os gregos esboçaram as primeiras linhas conscientes da ação pedagógica e assim in- fluenciaram por séculos a cultura ocidental. A visão filosófica da pedagogia grega se fundamentava na retórica da escola de Isócrates e de Platão; a visão romana, por outro lado, es- tava voltada para as ações políticas. Na Idade Média, o contexto escolar ficava a cargo da Igreja Católica, que reforçava o papel do indivíduo na sociedade como cristão (ARANHA, 2006). Com a chegada da Idade Moderna, o poder da ação educativa (pe- dagogia) passou para as mãos da burguesia, período em que o Brasil é descoberto devido ao advento das grandes navegações. O desco- brimento do Brasil ocorre em um momento no qual a Idade Moder- na apresentava mudanças sociais, políticas e econômicas. Juntamente com sua chegada às nossas praias, os portugueses trazem os jesuítas, que são os detentores dos processos educativos. Portanto, o período das Grandes Navegações e o início da colonização de nosso país che- gam com o pensamento dos religiosos jesuítas, que trouxeram normas e estratégias específicas. No período do Império, o Brasil não tinha uma preocupação com a educação, cenário que não exigia método de ensino ou pedagógico. Entretanto, em 1835, foi criada em Niterói, no Rio de Janeiro, a Escola Normal de Niterói. Por não podermos incorrer no erro de dizer que não tínhamos nenhum projeto pedagógico, naquela época, baseávamos os projetos nas ideias europeias e norte-americanas (ARANHA, 2006). Do período da Proclamação da República (1889) até a Redemocrati- zação política, ou seja, a Nova República (1985), a questão pedagógica passa por várias transformações, e o movimento da Escola Nova, entre as décadas de 1920 e 1930, é marcado por pensadores que lançam muitas discussões a respeito dos métodos de ensino. 18 Pedagogia em espaços não escolares Esse contexto histórico brasileiro é conhecido e expresso pelo Ma- nifesto dos Pioneiros da Educação Nova e trouxe à tona nomes de expressão do cenário educacional, como Anísio Teixeira, Fernando e Azevedo e Paulo Freire – este apresenta sua pedagogia progressista, que até hoje é significativa no mundo educacional e tem em sua pro- posta de ensino a educação para adultos, focada na aprendizagem com base nas experiências de vida. Paulo Freire usou métodos andragógi- cos de ensino para alfabetizar adultos. Vamos, agora, esclarecer melhor os aspectos legais, considerando as legislações e normas para que você entenda a história da formação dos pedagogos em nosso país. Especificamente no Brasil, a história da pedagogia surge com a ins- tituição do Decreto-Lei n. 1.190, de 4 de abril de 1939, na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade de Brasil, com a finalidade de formar bacharéis e licenciados. Em 1962, o Parecer 292, atendendo à Lei n. 4.024/61, mantém o curso de bacharel, e o Parecer CFE 512 regulamenta a licenciatura. Em 1969, o Parecer CFE 2529 define, segundo Libâneo (2010, p. 46), a distinção entre bacharelado e licenciatura, mas mantém a for- mação de especialistas nas várias habilitações, no mesmo es- pírito do Parecer CFE 2512. Com suporte na ideia de “formar o especialista no professor”, a legislação em vigor estabelece que o formado no curso de pedagogia recebe o título de licenciado. Esse Parecer também introduz a formação de especialistas com ha- bilitações em administração escolar, inspeção escolar, supervisão pe- dagógica e orientação educacional, além de habilitar para a docência em disciplinas pedagógicas e para a atuação em cursos de magistério. No final dos anos 1970, muitos estudiosos e professores passam a exigir ter mais envolvimento com relação às leis que direcionam a for- mação de professores e os cursos de pedagogia, com participações de organismos oficiais e entidades que eram compostas dos educadores. Com a instituição da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, o curso de pedagogia forma o pedagogo como especialista em educação, con- forme as contribuições de Leite (2011, p. 12) a esse respeito: durante a década de 90, o curso de Pedagogia, o qual passara a ser responsável pela formação do professor, recebeu nova refor- mulação com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 19 (Lei n° 9.394/96). Em seu artigo 64, o pedagogo se manteve como especialista em educação, o que gerou muitas discussões de educadores que defendiam a formação deste profissional tendo como base a docência. Tratando ainda da LBD, é importante lembrar que a lei define o papel do pedagogo, causando vários debates sobre o pedagogo e sua atuação, pois reforça a essencialidade da metodologia tecnicista de en- sino, que foca muito mais no fazer do que no saber, conforme aponta Leite (2011, p. 12): a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 desencadeou vários debates com relação à formação dos pedagogos e sobre a identidade do curso, reforçando os pressupostos do tecnicismo, separando o fazer e o pensar, distanciando o pedagogo da prática docente e direcionando para pensar o trabalho dentro das instituições educacionais, enfatizando em seu artigo 4° que “as atividades docentes também compreendem a participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino”. Temos, atualmente, a legislação que orienta para a atuação do pe- dagogo por meio da Resolução CNE/CP n. 1, de 15 de maio de 2006, que institui as diretrizes nacionais para o curso de graduação em pedagogia (licenciatura), em seu artigo 2°: as Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação In- fantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursosde Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagó- gicos. (BRASIL, 2006) Nesse artigo, fica clara a possibilidade de o pedagogo atuar em ou- tros espaços que não os escolares, sendo reforçado pelo artigo 5° da mesma Resolução: “art. 5° O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a: [...] IV – trabalhar, em espaços escolares, não escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases de de- senvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo” (BRASIL, 2006). Nesse contexto, percebemos que o pedagogo, com a sua for- mação, pode atuar em espaços não escolares, o que abre oportu- nidades diversas, considerando a importância da ação pedagógica nesses ambientes. A pedagogia é um campo que exige contextua- 20 Pedagogia em espaços não escolares lização sobre o que se quer aprender, e o pedagogo é o responsá- vel por possibilitar a ação educativa por meio de aprofundamentos teóricos que se transformam em práticas, que, por sua vez, levam o educando a aprender a aprender. É essencial compreender que as ações educativas no ambiente edu- cativo exigem que a atuação do pedagogo atenda aos movimentos de transformações constantes, transpondo a fragmentação de conteúdos, passando de uma visão linear para um olhar mais integrador, no qual os contextos de ensino se conectem e interajam, considerando entender todas as dimensões humanas, ou seja, social, emocional, física, profis- sional, intelectual e espiritual, e compreendendo que a aprendizagem se concretiza a partir da visão integral do professor para o indivíduo. Figura 1 Ensino conservador versus ensino inovador ENSINO CONSERVADOR ENSINO INOVADOR VISÃO LINEAR REPRODUÇÃO DE SABERES CÓPIA DE CONTEÚDOS VISÃO INTEGRAL CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO METODOLOGIAS INOVADORAS Fonte: Elaborada pela autora. Os aspectos conceituais e históricos da andragogia (ensinar os adultos) têm seus princípios em 1833, quando o professor alemão Alexandre Kapp emprega o termo andragogik a partir de uma descri- ção embasada na obra de Platão. Nas palavras de Bellan (2005, p. 20): “andragogia é a ciência que estuda como os adultos aprendem”. Ainda segundo a autora (2005, p. 22), “para a andragogia, o ensino de adultos precisa focalizar muito mais o processo do que o conteúdo que está sendo ensinado”, diferentemente do que propõe a pedagogia, que foca o ensino nos conteúdos. Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 21 PEDAGOGIA: CONTEÚDOS ANDRAGOGIA: PROCESSOS É importante você compreender que: Depois desse episódio, outros autores começam a usar a palavra andragogia, mas isso causou pouco impacto na comunidade científica e educacional. É somente a partir do final da década de 1950 que surgem autores e palestras que tratam do tema e faculdades de andragogia que ofertam doutorado na área de educação de adultos. Nas últimas décadas, foram publicados artigos e relatos sobre mo- delos andragógicos de ensino, conforme destacam Knowles, Holton III e Swanson (2006, p. 65): “foram publicados vários artigos acadêmicos com relatos sobre as aplicações do modelo andragógico para a edu- cação do trabalho social, educação religiosa, educação universitária e pós-graduação, treinamento gerencial e outras esferas; e um volume cada vez maior de pesquisas sobre hipóteses derivadas da teoria an- dragógica está sendo reportado. Assim, muitas colocações têm sido feitas quanto à evidência de que aspectos da teoria andragógica estão sendo aplicados em programas educacionais que envolvem adultos, em especial nos ambientes não formais de ensino, como empresas, universidades corporativas, asso- ciações e programas sociais. Isso significa que o pedagogo pode atuar em diferentes áreas e que, para que a qualidade de ensino se consolide, é essencial a compreen- são desses possíveis espaços de atuação, pois a dinâmica posta pelas transformações e pelo excesso de informações exige que a construção de novos saberes seja contínua e transponha os ambientes formais de ensino. Sobre isso, Chamoun (2011, p. 32) afirma: “aprender deixou de ser um privilégio para a sala de aula e para pessoas de pouca idade e passou a ser uma atividade cotidiana que o sujeito precisa desenvolver em qualquer lugar em que ele esteja”. Além disso, no contexto andragógico, o envolvimento do estudante no processo educativo é fundamental, enquanto os conteúdos devem ser selecionados de acordo com as necessidades de aprendizagem. A característica do estudante adulto no processo de ensino exige que sejam lançados desafios e problemas compatíveis com suas neces- 22 Pedagogia em espaços não escolares sidades de estudo, pois ele sente necessidade de conhecer e aprender por meio de experiências reais. Bellan (2005, p. 31) destaca: “a aprendi- zagem para o adulto deve ter significado para o seu dia a dia e não ser apenas retenção de conteúdos para futuras aplicações”. Estudantes adultos aprendem por meio de desafios, estudos de casos e atividades em equipes. No processo andragógico de ensino, o aprendizado deve ser dire- cionado, pois o estudante quer aplicar de imediato o que aprendeu, uma vez que assume responsabilidades sobre os saberes construídos. Para Chamoun (2011, p. 44), “além do conhecimento teórico que o pro- fessor detém, a aula tem que ser enriquecida pelo conhecimento ex- perimental dos alunos. Pelo seu papel de facilitador, cabe ao professor simplificar a realização desse processo”. Cabe ao pedagogo pensar e elaborar programas cujas atividades propiciem a cooperação entre os participantes, por meio de grupos de trabalho, promovendo debates e trocas de experiências. A ideia é que os novos saberes construídos agreguem valor para o participante da atividade educativa, e isso exige práticas interativas, visto que adultos querem conhecimentos que se relacionem com sua realidade profis- sional, pessoal e educacional. O formato da sala de aula no processo andragógico exige uma estrutura que permita mais conexão entre os estudantes. Por isso, a distribuição das cadeiras deve ser formatada de maneira que todos possam se olhar, podendo ser em forma de círculo, U ou em grupos. Essa medida facilita o processo de comunicação. Você perceberá que os contextos educativo da pedagogia e da an- dragogia se complementam e podem favorecer o trabalho do pedago- go em espaços não escolares quando ele compreender como as duas Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 23 propostas teóricas e metodológicas interagem e possibilitam uma prá- tica educativa mais adequada aos desafios da aprendizagem. Sendo assim, vamos entender agora quais são os públicos-alvo quando se trata de ambientes não escolares, suas características e ce- nários possíveis. Para melhor compreensão das abordagens pedagógica e andragó- gica em espaços não escolares, apresentamos, no Quadro 1 a seguir, os elementos do processo da andragogia desenvolvido por Knowles. Quadro 2 Elementos do processo da andragogia ELEMENTO ABORDAGEM PEDAGÓGICA ABORDAGEM ANDRAGÓGICA Preparar os aprendizes Mínima Fornecer informações Preparar para a participação Ajudar a desenvolver expectativas realistas Começar a pensar nos conteúdos Clima Orientação à autoridade Formal Competitivo Tranquilo, confiante Respeito mútuo, informal Caloroso, colaborativo, apoiador Abertura e autenticidade Humanidade Planejamento Pelo professor Mecanismo de planejamento mútuo por aprendizes e facilitador Diagnóstico das necessidades Pelo professor Por meio de avaliação mútua Definição de objetivos Pelo professor Por meio de negociação Desenho dos planos de aprendizagem Lógica do assunto Unidades de conteúdo Sequenciado de acordo com a prontidão Unidades de problemas Atividades de aprendizagem Técnicas de transmissão Técnicas experienciais (investigação) Avaliação Pelo professor Novo diagnóstico mútuo das necessidades Mensuraçãomútua do programa Fonte: Knowles, 1995 apud Knowles; Holton III; Swanson, 2009, p. 122. Observamos que a abordagem andragógica de ensino requer do pedagogo alguns passos metodológicos que envolvem o participante de maneira proativa e colaborativa no processo educacional. Por se tratar de um modelo processual, a andragogia requer um preparo antecipado das atividades com base no entendimento das ne- cessidades de aprendizagem, considerando também a definição das atividades que serão mais apropriadas e contribuirão para que os estu- dantes construam saberes. 24 Pedagogia em espaços não escolares Para melhor compreensão desse direcionamento, destacamos o que os autores Knowles, Holton III e Swanson (2009, p. 121) afirmam: “o professor andragógico (facilitador, consultor, agente de mudança) prepara antecipadamente um conjunto de procedimentos para envol- ver os aprendizes (e outras partes interessadas)”. Assim, é preciso estabelecer um clima de participação e colabora- ção, os objetivos de aprendizagem devem ser claros e promover o en- volvimento dos estudantes no planejamento para que, dessa forma, eles se sintam comprometidos e envolvidos com o processo de ensino. 1.3 O público-alvo do pedagogo em contextos não escolares Vídeo Diversas são as possibilidades de atuação do pedagogo em ambien- tes não escolares, pois a formação humana ocorre além da escola (es- paço formal de ensino); ocorre também na comunidade, no trabalho, nos ambientes sociais e culturais, permitindo que o pedagogo contri- bua com suas competências educacionais. Porém, é importante compreender que nem sempre ele será de- nominado pedagogo, pois, dependendo do ambiente em que estiver atuando, a denominação muda. Por exemplo, se estiver em espaços organizacionais, muitas vezes é denominado facilitador ou mediador. Existem outras possibilidades destacadas por Libâneo (2010, p. 59): no campo da ação pedagógica extraescolar distinguem-se profis- sionais que exercem sistematicamente atividades pedagógicas e os que ocupam apenas parte de seu tempo nestas atividades: a) formadores, animadores, instrutores, que desenvolvem ativi- dades pedagógicas (não escolares) em órgãos públicos, privados e públicos não estatais, ligadas a empresas, à cultura, aos servi- ços de saúde, alimentação, promoção social etc.; b) formadores ocasionais que ocupam parte de seu tempo em atividades peda- gógicas em órgãos públicos estatais e não estatais e empresas referentes à transmissão de saberes e técnicas ligados a outra atividade profissional especializada. Essas possibilidades se devem ao fato de que o pedagogo pode desenvolver práticas educativas em ambientes além dos anteriormen- te citados, incluindo escolas indígenas, asilos, igrejas, jornais, centros de formação de condutores, sindicatos, presídios e penitenciárias, Atividade 2 Relate brevemente os pontos relevantes sobre a andragogia para as práticas educativas. Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 25 sistema S, museus, associações sociais e religiosas, espaços artísticos e praças, hospitais, redes solidárias, brinquedotecas, cinemas, bibliote- cas, teatros, espaços socioeducativos etc. Atualmente, identificamos que o pedagogo insere-se em áreas mais amplas e que sua contribuição é muito relevante, pois, além da docên- cia, está diretamente ligada a aspectos de coordenação, gestão, ope- racionalização de projetos, definição de percursos de formação, apoio nas atribuições da área de recursos humanos, mapeamento de lacunas de conhecimento, estruturação de atividades compatíveis com a faixa etária e espaço onde atua. Por ter uma formação que contempla áreas de conhecimento como filosofia, psicologia, sociologia, história, antropologia, economia, políti- ca, metodologia, ecologia, espaços turísticos – além dos processos di- dáticos e pedagógicos, nos quais se incluem planejamento, avaliação e currículo, ou seja, uma multiplicidade de saberes –, o pedagogo pode compor sua ação profissional por meio de uma relação de colaboração e cooperação entre diversos atores, a fim de promover o desenvolvi- mento humano. Podemos ampliar este rol de possibilidades, pois, de acordo com Barreto e Couto (2016, p. 32), “os programas sociais de medicina pre- ventiva, informação sanitária, orientação sexual, recreação, cultivo do corpo” são também espaços nos quais a atuação do pedagogo se faz presente. Observamos que a atuação do pedagogo ultrapassa o simples em- prego de metodologias direcionadas a escolas formais, exigindo o de- senvolvimento de saberes específicos condizentes com o público-alvo, os objetivos e as estratégias de atuação do espaço não escolar em que vai atuar, bem como com os direcionadores educacionais, sociais e pro- fissionais que deverá compor para que sua ação educativa seja relevan- te e efetiva. No entanto, para que a atuação do pedagogo possa ser diversa e múltipla, sua formação deve ser sólida e comprometida, pois os campos de inserção são muitos, assim como são diversas áreas e instituições. Ao optar por atuar em espaços não escolares, é essencial que o pedagogo tenha o entendimento de que, além dos saberes de sua formação aca- dêmica, deverá conhecer a fundo o funcionamento da instituição onde desenvolverá suas atividades, pois cada uma delas possui uma legisla- O vídeo Pedagogia em espaços não escolares, pu- blicado pelo canal Lona das Artes, apresenta o pedagogo como coorde- nador de atividades em espaços não escolares, como balé, teatro e circo, por meio de ações sociais que visam à constru- ção de saberes como arte, inserção social e protagonismo juvenil, demonstrando a relevân- cia da ação educativa do pedagogo no contexto do desenvolvimento crítico e cultural dos jovens. Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=mUauBed33gU. Acesso em: 24 jan. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=mUauBed33gU https://www.youtube.com/watch?v=mUauBed33gU 26 Pedagogia em espaços não escolares ção e estratégias de funcionamento específicas. Por exemplo, se for uma universidade corporativa e funcionar dentro de uma empresa, o peda- gogo deverá entender sobre o segmento econômico de atuação: eletrô- nicos, perfumaria, alimentos, bebidas, petróleo e derivados. Os espaços não escolares exigem que as ações educativas sejam produtivas, tragam conhecimentos para aplicabilidade profissional e pessoal, despertem interesse e envolvam os estudantes em simula- ções e práticas para concretizar uma aprendizagem significativa. Isso demanda a aplicação de metodologias ativas, nas quais o participante da atividade traga suas experiências, debata com os colegas e aprenda por meio da troca, do diálogo e da interação. A seguir, vamos exemplificar para você a atuação do pedagogo em espaços não escolares. Exemplo: Sindicato Patronal de Autopeças O sindicato de peças automotivas possui várias empresas filiadas de diferentes portes, como micro, pequenas, médias e grandes empresas. Estudos sobre o desempenho do mercado mostram aos diretores e às equipes profissionais do sindicato que é necessário apoiar os micro e pequenos empresários no que diz respeito ao processo de gestão da empresa, visando orientá-los sobre os princípios de liderança e gestão de pessoas para que a organização possa crescer e competir em um mercado inovador e em constante transformação, que exige profissionais preparados e qualificados para atender a clientes cada vez mais exigentes e adotar estratégias de negócios competitivas. A diretoria, então, chama para ir ao sindicato sua equipe de atendimento às empresas filiadas, especifica- mente a responsável pelos programas educacionais ofertados, que na sua maioria visam ao crescimento das empresas e à qualificação dos seus funcionários. Entre os integrantes da equipe está Ana, a responsável pela área de desenvolvimento técnico e humano do sindicato. Cabe a ela coordenar todas as ações que envolvem a gestão do conhecimento, tanto no que diz respeito aos funcionáriosdo sindicato quanto às atividades oferecidas para as empresas. Durante toda a sua história, além de serviços jurídicos, financeiros e de processos, o sindicato sempre ofereceu também, por meio da área de desenvolvimento técnico e humano, cursos, palestras, seminários e roda de discussões a fim de contribuir com o crescimento das empresas filiadas. Ana é formada em pedagogia, e com ela trabalham um auxiliar administrativo e dois estagiários de pedagogia, que têm a tarefa de identificar junto à diretoria a demanda da atividade que deverá ser desen- volvida, o público-alvo, o possível número de participantes, a forma de comunicar as empresas sobre a atividade, os conteúdos que deverão ser tratados, quais deverão ser os resultados de aprendizagem e de aplicabilidade dos saberes, se será necessário estruturar um curso, um seminário ou palestra, quem serão os convidados (funcionários de qual setor da empresa filiada), quem será o professor (facilitador), quais as competências desse profissional, quais os encaminhamentos metodológicos, como será controlada a presença das pessoas (será emitido certificado, ficha de chamada), como deverá ser preparado o ambiente da atividade (quais equipamentos, estrutura das cadeiras e mesas, materiais para desenvolver as atividades etc.). Estudo de caso O que é uma universidade corporativa? A universidade corporativa está vinculada a uma empresa pública ou privada e visa desenvolver o capital intelectual das organizações. Suas ações podem ser de treinamentos e cursos de curta e longa duração, palestras, seminários e demais atividades que possam contribuir com a construção de novos conhecimentos a fim de favorecer o crescimento profis- sional, pessoal e empresarial. Algumas universidades corporativas fazem parcerias com universidades formais com o objetivo de ofertar programas de graduação e pós-graduação para seus profissionais. As ações ofertadas por uma universidade corporativa podem ser estendidas a parceiros, fornecedores, clientes e demais envolvidos com o negócio da empresa. Saiba mais+ Discorra brevemente sobre o papel do pedagogo em espaços não escolares e sua importância na formação de cidadãos críticos e reflexivos. Atividade 3 Pressupostos da pedagogia e da andragogia na educação não formal 27 Fonte: Elaborado pela autora. Com o exemplo anterior, esperamos que tenha ficado mais fácil compreender o papel do pedagogo em espaços não escolares e como a pedagogia e a andragogia podem ser adotadas de maneira conjunta a fim de contribuir para o desenvolvimento das atividades educacionais. Perceba que existem várias tarefas que requerem de Ana um planejamento educacional, no qual sejam contemplados o público-alvo, os objetivos, os conteúdos, a metodologia, um referencial (para definir quem será o professor da atividade), o controle de frequência (pois muitas vezes as atividade são ofertadas durante o horário comercial), avaliação – que pode ser composta por diagnóstica (pré-work) ou somativa (pós-work), por exemplo. E atenção: Ana precisa, além dos saberes didáticos e pedagógicos construídos ao longo de sua formação como pedagoga, conhecer a fundo o funcionamento do sindicato, seus filiados e o segmento econômico ao qual pertencem as empresas filiadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebemos que existem múltiplas oportunidades para a atuação do pedagogo, o que permite que os espaços educacionais não formais ga- nhem em qualidade, bem como direcionadores teóricos e metodológicos que contribuam com a formação de pessoas de maneira crítica e reflexiva. É fundamental pensar a pedagogia como um processo histórico, so- ciológico, filosófico e cultural, com o objetivo de preparar pessoas para atuarem em uma sociedade transformadora e inclusiva. Atuar em espaços não escolares abre um leque de possibilidades para que o pedagogo transcenda os espaços da escola e atenda a uma deman- da cada vez mais exigente e complexa no que diz respeito à educação e à construção de saberes significativos que permitam maior participação das pessoas no processo de construção de saberes que possam ser aplicados na sua realidade profissional e pessoal. Lembrando que esses espaços exigem saberes multidimensionais e inovadores, o pedagogo precisa, portanto, adequar-se às concepções e direcionadores estratégicos e educacionais desses ambientes com o propósito de compor uma ação educativa coerente com as expectati- vas e necessidades de cada público-alvo, a partir da adoção de meto- dologias de ensino inovadoras. 28 Pedagogia em espaços não escolares REFERÊNCIAS ARANHA, M. L. de A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006. BARRETO, K. D’ A. S.; COUTO, M. A. S. A atuação do pedagogo além do espaço formal de educação. In: II ENCONTRO CIENTÍFICO MULTIDISCIPLINAR DA FACULDADE AMADEUS, 2016, Sergipe. Anais... Sergipe: FAMA, 2016. p. 23-40. BELLAN, Z. S. Andragogia em ação: como ensinar adultos sem se tornar maçante. São Paulo: SOCEP, 2005. BRASIL. Resolução CNE/CP n. 1, de 1 de maio de 2006. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/ pdf/rcp01_06.pdf. Acesso em: 23 jan. 2020. CHAMOUN, P. J. A andragogia na educação: uma quebra de paradigmas: novos tempos novos desafios. São Bernardo do Campo: Instituto Atlântida, 2011. FRISSON, L. M. B. O pedagogo em espaços não escolares: novos desafios. Ciência, Porto Alegre, n. 36. jul./dez. 2004, p. 87-103. KNOWLES, M. S.; HOLTON III, E. F.; SWANSON, R. A aprendizagem de resultados: uma abordagem prática para aumentar a efetividade da educação corporativa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. LEITE, M. de Q. Atuação do pedagogo em espaços não escolares. Rio de Janeiro, 2011. 42 f. Monografia (Graduação em Pedagogia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www2.unirio.br/unirio/cchs/educacao/graduacao/pedagogia- presencial/MilenadeQueirozLeite.PDF. Acesso em: 23 jan. 2020. LIBÂNEO, J. C.; PIMENTA, S. G. Formação de profissionais da educação: visão crítica e perspectiva de mudança. In: PIMENTA, S. G. (org.). Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2011. LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2010. GABARITO 1. É fundamental que o docente adote estratégias de ensino que permitam aos alunos experienciar o aprendizado, pois os contextos educacional e profissional contemporâ- neos exigem pessoas que, ao aprender, já possam colocar em prática o aprendizado. Nesse sentido, o professor deve conectar o ensino à realidade social, cultural, profis- sional e educacional dos estudantes. 2. A andragogia tem seu foco de ensino no processo educativo, diferentemente da pe- dagogia, que objetiva o ensino de conteúdos. Ao optar por processos andragógicos de ensino, é importante considerar o perfil dos alunos e o ambiente onde estão inseri- dos. As atividades devem provocar reflexões e problematizações com base na realida- de dos estudantes. Além disso, o papel do pedagogo é o de facilitador, estimulando o trabalho em equipes para promover a colaboração dos participantes do processo de ensino e aprendizagem. 3. A importância do pedagogo em sua ação educativa se dá devido ao seu papel trans- cender os espaços formais de ensino, uma vez que educar perpassa toda a socieda- de. Os saberes dos pedagogos nos espaços não escolares requerem reconstrução de conhecimentos didáticos e pedagógicos a fim de compor programas educativos que atendam às demandas de formação, uma vez que cada espaço exige estratégias e direcionadores educacionais específicos. Sua importância está na flexibilidade desse profissional, que tem competências didáticas e pedagógicas que podem atender a vários aspectos formativos. http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf http://www2.unirio.br/unirio/cchs/educacao/graduacao/pedagogia-presencial/MilenadeQueirozLeite.PDFhttp://www2.unirio.br/unirio/cchs/educacao/graduacao/pedagogia-presencial/MilenadeQueirozLeite.PDF O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 29 O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 2 Vivemos um cenário de transformações sociais e organizacio- nais devido ao desenvolvimento econômico mundial que exige das empresas brasileiras nova postura frente ao conhecimento. Devido ao advento da abertura econômica na década de 1990 e ao acirramento da globalização comercial, as organizações per- cebem que não é mais possível atuar considerando apenas o fazer (práticas profissionais) de seus funcionários. Passa a ser requerido, então, um perfil profissional que atenda aos pilares da competên- cia (conhecimentos, habilidades e atitudes). Para entender o contexto de competências, vamos fazer um comparativo entre seus pilares e os pilares da educação: PILARES DA COMPETÊNCIA PILARES DA EDUCAÇÃO CONHECIMENTOS HABILIDADES ATITUDES APRENDER A CONHECER APRENDER A FAZER APRENDER A SER APRENDER A CONVIVER Considera-se que conhecimentos, pilar da competência, se refe- re a aprender a conhecer, pilar da educação; o pilar habilidades se refere ao pilar aprender a fazer e o pilar atitudes se refere aos pila- res da educação aprender a ser e aprender a conviver. Observamos, portanto, a conexão com relação ao processo de ensino e aprendi- zagem entre a educação formal e a educação corporativa. 30 Pedagogia em espaços não escolares Esse contexto passa a demandar das empresas uma atenção especial para a formação continuada dos profissionais, visto que para manterem-se competitivas é necessário preparar os funcio- nários para atender às novas demandas de mercado por meio de aprimoramento profissional e pessoal contínuo. Até então, as organizações tinham a atenção de capacitação das pessoas ape- nas em programas de formação focados nas práticas profissionais (habilidades). Com a nova caracterização do mundo econômico e comercial exige-se uma formação mais complexa, em que não apenas o sa- ber fazer é importante, mas o saber conhecer (conhecimentos), bem como o saber ser (conviver). Essas características passam a ser observadas e consideradas pré-requisitos para atuar no mun- do do trabalho, especialmente com relação ao comportamento dos indivíduos. Portanto, os programas educacionais corporativos são funda- mentais, pois abrem oportunidades para os pedagogos atuarem considerando: área de recursos humanos, gestão do conheci- mento e universidades corporativas. Assim, neste capítulo, trataremos da ação educativa dentro das empresas e – com o objetivo de construir novos saberes que permitam aos trabalhadores e às empresas manterem-se compe- titivos – de que maneiras o pedagogo pode contribuir no direciona- mento estratégico de ações de desenvolvimento dos profissionais. 2.1 Atuação do pedagogo nas organizações Vídeo Você vai perceber que o espaço para a atuação dentro das empre- sas é uma oportunidade ímpar, uma vez que o pedagogo é o profissio- nal que trata da formação humana. O compromisso da educação é a mudança de comportamento para que os indivíduos se tornem seres sociais. Nas organizações não é diferente, especialmente porque o co- nhecimento é cada vez mais valorizado, não só no contexto da técnica pela técnica, uma vez que vivemos, neste século, a exigência da cons- trução de saberes sociais e sustentáveis. Isso também é foco estra- tégico daquelas que necessitam investir no desenvolvimento contínuo O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 31 de seu capital intelectual para atender aos desafios de um mercado em constante transformação, à legislação vigente, aos parceiros, aos fornecedores e aos consumidores, que estão cada vez mais exigentes. “Vivemos na era do conhecimento, em que as empresas passam a dar mais impor- tância para o que há de mais valioso dentro de seu espaço organizacional – o capital intelectual de seus profissionais”. LOPES (2011, p. 26) A pedagogia empresarial é uma das oportunidades que o pedagogo tem de desenvolver a prática educativa em diferentes contextos. Isso porque o conhecimento passou a ser uma das estratégias das empre- sas que pretendem continuar a obter resultados favoráveis frente aos desafios que se apresentam no mundo corporativo. A aprendizagem continuada se faz necessária devido ao contexto disruptivo dos negócios que exige aprender continuamente em todos os níveis hierárquicos da empresa. Historicamente, a educação corporativa no Brasil ocorre desde a década de 1930, quando a proposta econômica e política demandou a industrialização do país, período em que cabia à área de departamento pessoal focar o desenvolvimento dos conhecimentos técnicos e instru- mentais dos trabalhadores. O início do século XX traz a automação para o ambiente organiza- cional e o estabelecimento de uma economia do bem-estar social re- querendo dos profissionais a acumulação de saberes e valores éticos. Desse modo, reforçou-se a necessidade de as empresas investirem em treinamentos para capacitar as pessoas nos ambientes de trabalho. Ainda nesse aspecto, o modelo organizacional de desenvolvimento de pessoas era o de capacitar uma pequena parcela dos profissionais, os mais qualificados eram os beneficiários e tinham a oportunidade de participar de programas de formação contínua. A década de 1970, especificamente, exige reestruturação das for- mas de atuar, demandando uma flexibilização nas relações de trabalho, coincidindo esse momento com a era da comunicação e da informação, denominada terceira revolução industrial, surgindo o termo sociedade do conhecimento. A partir da década de 1980, o conhecimento passa a ser exigência do novo modelo de produção, porém ainda com foco no trabalho técnico. 32 Pedagogia em espaços não escolares De acordo com Claro e Torres (2012, p. 209), “a concepção de formação alterou-se bruscamente nas últimas décadas, conforme foi se estreitan- do a ligação entre conhecimento e competitividade, e o nível de exigên- cias relacionadas ao desempenho profissional foi se intensificando”. Com a mudança nas relações de consumo, a reestruturação dos mercados necessários devido ao acirramento da globalização e à aber- tura de mercados no Brasil, no fim dos anos 1990, exige-se das empre- sas uma reorganização no que diz respeito à gestão de pessoas e ao desenvolvimento profissional. Conforme afirma Chiavenato (2014, p. 5): as organizações são verdadeiros organismos vivos e em cons- tante ação e desenvolvimento. Quando elas são bem-sucedidas, tendem a crescer ou, no mínimo, a sobreviver. O crescimento acarreta mais complexidade de recursos necessários às suas operações, com o aumento de capital e instalações [...] as pes- soas passam a significar o diferencial competitivo que mantém e promove o sucesso organizacional. Nessas fases de transformações, a área de departamento pessoal também foi se adaptando, a fim de atender às novas características or- ganizacionais e de formação continuada dos trabalhadores, passando a ser denominada área de recursos humanos, gestão de pessoas ou gestão de talentos. Atualmente, muitas empresas, ao acompanhar o novo cenário econômico e organizacional, atendem pelo nome de gestão de gente. As transformações exigem um profissional com características bem diferentes das até então exigidas e requerem a criação de um ambiente corporativo onde a aprendizagem seja constante, com foco não ape- nas nos conhecimentos técnicos, mas também nos conceitos teóricos e comportamentais. Conforme Almeida (2006, p. 51), “os funcionários precisam se manter atualizados com as tecnologias, métodos e proces- sos utilizados e desenvolvidos pela empresa, visando criar um ambien- te permanente de aprendizado e desenvolvimento profissional”. Para atender a esse ambiente de aprendizagem e construção con- tínua de conhecimento, a empresa precisa estar atenta ao desempe- nho de seus profissionais. As equipes de trabalho, sempre atualizadase competitivas, necessitam de estrutura e profissionais que tenham a expertise na área educacional, para contribuir com o desempenho edu- cacional e profissional dos trabalhadores. O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 33 Esse perfil de competências técnicas educacionais está associado ao pedagogo, conforme palavras de Quirino (2005, p. 71): o pedagogo tem em sua formação acadêmica toda uma baga- gem necessária para transformar a prática educativa, onde quer que ela aconteça, em uma atividade intencional e eficaz, orien- tando-a, não só para alcançar os objetivos organizacionais, mas, sobretudo, para as finalidades sociais e políticas da educação criando um conjunto de condições metodológicas e organizati- vas para viabilizá-la. Vivemos a era da quarta revolução industrial, as transformações técnicas e tecnológicas exigem um perfil organizacional e profissional criativo, que esteja receptivo às mudanças, saiba trabalhar em equipes, seja proativo, empreendedor, bem como engajado com a cultura orga- nizacional, atuando com ética, responsabilidade social e cultural. As mudanças fizeram com que um trabalhador passivo, que atendia rigorosamente às ordens determinadas, cuja valorização profissional acontecia apenas por suas habilidades técnicas (pilar da competência habilidade), não atenda mais às necessidades de um ambiente de tra- balho proposto no século XXI. A dinamicidade das transformações exige trabalhadores do co- nhecimento, que aliem saberes (conhecimentos e atitudes) com as técnicas (habilidades), que sejam autônomos, envolvidos com o ne- gócio da organização, levando as empresas a investir no capital inte- lectual. Essa realidade apresenta um campo maior de atuação para o pedagogo, pois o valor do conhecimento passa a ter outro significado tanto para o profissional quanto para a empresa. Isso se dá porque o pedagogo pode atender a quatro campos específicos dentro de uma empresa: atividades pedagógicas, burocráticas, sociais e administra- tivas (RIBEIRO, 2010). Entretanto, é importante entender que atuar em uma empresa exi- ge outros saberes do profissional pedagogo, além dos fundamentos da educação, sua caracterização de trabalho é diferente de um ambiente escolar formal. O pedagogo precisa entender a estrutura organizacio- nal em que atua, compreender suas estratégias e o segmento econômi- co do negócio, saber com detalhes de todos os perfis e as funções dos profissionais da organização e suas propostas de projetos de formação (educacionais, culturais e sociais), para, assim, poder contribuir com a área de gestão de pessoas ou com a área na qual estiver vinculado, ob- Atividade 1 De que forma o pedagogo, atendendo às atividades peda- gógicas, burocráticas, sociais e administrativas, pode atuar dentro de uma organização? 34 Pedagogia em espaços não escolares jetivando maior assertividade quando propor ou coordenar programas de formação continuada. É preciso também atentar para as opções metodológicas e os en- caminhamentos educativos, pois segundo Ribeiro (2010, p. 26), “para melhor atender às demandas de formação, o pedagogo precisa estar atento às metas de aprendizagem a serem alcançadas, a partir de me- todologias que assegurem atividades que sejam orientadas para as experiências”. Lembre-se de que nas empresas, ao se construir um novo saber, espera-se que o profissional aplique de imediato o que apendeu, a fim de manter a empresa atualizada. Para Ribeiro (2010, p. 31), “a mudan- ça constante é uma prerrogativa dos processos de aprendizagem nas empresas. Mudam tanto as funções quanto os aspectos didático-meto- dológicos na institucionalização da aprendizagem”. A característica do ensino corporativo exige olhar para as estraté- gias e metas da empresa: EDUCAÇÃO CORPORATIVA: FOCO: METAS E ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM. METODOLOGIA DE ENSINO: ORIENTADA PARA A EXPERIÊNCIA. APLICAÇÃO DO SABER: DE IMEDIATO EM BUSCA DE RESULTADOS. A dinamicidade das transformações corporativas exigem a elevação do potencial de aprendizagem das equipes. Essa realidade requer uma postura mais empreendedora do pedagogo, para que coordene equi- pes multidisciplinares, proponha e acompanhe projetos estratégicos, recomende políticas e propostas inovadoras de formação continuada com foco na aprendizagem individual, coletiva e organizacional. Nas empresas o foco da aprendizagem está nos aspectos: O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 35 INDIVIDUAL O profissional aprende para aplicar em sua ação profissional. COLETIVO Ao compartilhar dúvidas e descobertas, são construídos colaborativamente novos saberes. ORGANIZACIONAL A dinâmica de uma empresa, as relações com clientes, fornecedores e parceiros, assim como as transformações no mercado contribuem com o aprendizado dos profissionais. O profissional responsável pelo desenvolvimento contínuo dentro da organização necessita articular diferentes situações a fim de promo- ver espaços em que a aprendizagem se concretize, atendendo aos três cenários acima mencionados. Com o intuito de melhorar o desempenho profissional e pessoal dos trabalhadores de maneira cooperativa, cabe à pedagogia empresarial contribuir para que os profissionais desenvolvam novas competências no que diz respeito a conhecimentos, habilidades e atitudes. É importante reforçar que apenas saberes teóricos ou técnicos não atendem mais às exigências de mercado, tendo em vista que os clien- tes estão cada vez mais exigentes e requerem dos profissionais ética, respeito e atenção aos valores pessoais e organizacionais. Por conta disso é que o papel do pedagogo é fundamental dentro das empresas. Cabe a ele atender aos aspectos educativos de preparar pessoas com ênfase nos pilares da competência, considerando o com- portamento das pessoas e as exigências sociais. A sociedade do conhecimento demanda que as organizações te- nham uma cultura de aprendizagem, especialmente por vivermos na era digital. As pessoas são o patrimônio mais relevante das empre- sas e os trabalhadores são os protagonistas do crescimento de uma organização. 36 Pedagogia em espaços não escolares O que acabamos de expor vem ao encontro das considerações de Claro e Torres (2012, p. 211): as funções que o pedagogo exerce nas empresas podem ser re- sumidas em garantir que os colaboradores estejam preparados para qualquer demanda que possa surgir, ou seja, que apoiados por uma aprendizagem contínua possam detectar e superar obs- táculos, identificar e aproveitar oportunidades, trazendo vanta- gens para o negócio. Sendo assim, é importante que o pedagogo desenvolva projetos educacionais que garantam o aprimoramento contínuo dos indivíduos, a fim de potencializar os saberes “estimulando o desenvolvimento do ser humano de forma integral” (CLARO; TORRES, 2012, p. 211). O peda- gogo precisa diminuir as lacunas de conhecimentos entre as pessoas, verificando o que já sabem e o que precisam construir de novos sabe- res, para que atendam às necessidades de competências profissionais, organizacionais e pessoais. É importante você compreender que o pedagogo precisa alinhar as competências dos profissionais às estratégias da empresa, assim, são necessárias ações educativas voltadas à gestão do conhecimento para aumentar a produtividade. Para Choo (2003, p. 179), “numa organização, o conhecimento é amplamente disseminado e toma várias formas, mas sua qualidade é revelada na diversidade de capacitações que a empresa possui como resultado desse conhecimento”. É imprescindível ao pedagogo ter em mente que as organizações que buscam aprender apenas se desenvolvem se a aprendizagem for em equipe. De acordo com Senge (2006, p. 43), “quando as equipes realmen- te estão aprendendo, não só produzem resultados extraordinários como também seus integrantes crescem com maior rapidez do que ocorreria de outra forma”. Para o autor, as equipes que não desenvolvem a capa- cidade de aprender resultam em empresas que tambémnão aprendem. Ao atuar em uma empresa, o papel do pedagogo é construir cami- nhos entre as estratégias da organização e o capital humano, de ma- neira a promover a cultura do aprender continuamente, preparando as pessoas para direcionar seus conhecimentos técnicos e comportamen- tais para o seu sucesso pessoal e da organização. No vídeo Escola Viva – Pedagogia Empresarial, publicado pelo canal Educativa TV, o professor Alex Vasconcelos é entrevistado e destaca as oportunidades de atuação do pedagogo, especialmente nos espaços empresariais, apontando as mudanças pelas quais passam as organizações, tanto públi- cas quanto privadas, que abrem espaços para que o pedagogo desenvolva suas ações educacionais contribuindo com o cres- cimento profissional e educacional das pessoas e das empresas. Disponível em: https://www.you- tube.com/watch?v=H_t7wwDlQFI. Acesso em: 14 jan. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=H_t7wwDlQFI https://www.youtube.com/watch?v=H_t7wwDlQFI O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 37 A aprendizagem nas empresas deve ser rotineira. Esse cenário vem procurando por um profissional em educação (pedagogo), que possa contribuir de diversas maneiras, como veremos na próxima seção, e que apresenta sua atuação na área de recursos humanos, também denominada, por algumas empresas, de gestão de pessoas, gestão de talentos ou gestão de gente. 2.2 Perspectivas educativas na área de Recursos HumanosVídeo A área de recursos humanos dentro de uma empresa é a respon- sável por tratar de questões relacionadas às pessoas. Nela, devem ser considerados aspectos administrativos, como seleção, contratação, fé- rias, demissões, treinamento e desenvolvimento, bem como diversas atividades que atendam aos interesses e deveres dos trabalhadores. Assim como todas as transformações ocorridas ao longo do tem- po, dentro das organizações na área de recursos humanos não foi di- ferente. Ao acompanhar as mudanças, passou de uma estrutura que atendia à demanda de formação apenas com foco na reprodução das técnicas e práticas profissionais de maneira hierárquica, para, no sé- culo XXI, ter uma responsabilidade muito mais densa e complexa no que diz respeito à gestão do conhecimento dos trabalhadores. Historicamente, a área de recursos humanos era burocrática, cen- tralizadora, atendia a regras e controle rígidos para regular as pessoas a cumprirem suas tarefas prescritas. Ao longo do desenvolvimento social e profissional, essa área foi passando por transformações. En- tre o período de 1900 a 1950, o direcionamento da área era de aten- der ao prescrito nas relações industriais. Entre o período de 1950 a 1990, sua função era a de administração de recursos humanos, com foco nas pessoas como recursos para atender aos objetivos específi- cos do fazer profissional nas organizações. Foi a partir de 1990 que a estrutura organizacional passou a ser mais fluida. As atividades, por conta das mudanças de mercado, tor- naram-se mais descentralizadas, exigindo dos profissionais que pas- sassem a ser multifuncionais, inovadores e autônomos. Valores como criatividade, proatividade e engajamento passaram a fazer parte do vocabulário das empresas. Conforme afirma Mariano (2015, p. 20), 38 Pedagogia em espaços não escolares “até meados do século passado, a relação organização-pessoas era bastante antagônica e conflitiva. Porém, nas últimas décadas essa re- lação passou por mudanças significativas”. Atualmente, as organizações compreendem que as pessoas são es- senciais para atingir seus objetivos e suas metas. Segundo Chiavenato (2014), as empresas perceberam que as pessoas são importantes e fundamentais. Por isso, estas tornaram-se o diferencial competitivo, sendo tratadas como capital intelectual. O profissional é visto como maior investimento, visto que os trabalhadores contribuem para que a empresa se mantenha atuante. Para Chiavenato (2014, p. 6): as pessoas constituem o principal ativo da organização. Daí, a ne- cessidade de tornar as organizações mais conscientes e atentas para seus funcionários. As organizações bem-sucedidas estão percebendo que somente podem crescer, prosperar e manter sua continuidade se forem capazes de otimizar o retorno sobre os investimentos de todos os parceiros, principalmente o investi- mento dos funcionários. Portanto, as pessoas passam a ter outro status dentro das empre- sas e com ele vem um novo olhar sobre o seu desenvolvimento, não apenas profissional, com foco nas técnicas, mas também nos saberes teóricos e no seu comportamento, no qual as atitudes são referências para a atuação profissional. Assim como ocorreu a transformação da área de recursos huma- nos, a nomenclatura das pessoas foram se alterando de funcionários, para empregados, colaboradores, recursos humanos, e, hoje: capital hu- mano ou intelectual. Esse contexto exige que os processos educativos, antes focados em capacitar profissionais por meio do treinamento técnico, também sejam aprimorados, exigindo que o pedagogo compreenda como o mundo globalizado traz a necessidade de preparar um profissional polivalente, que esteja receptivo à mudança e desenvolva uma visão crítica, visto que a sociedade da informação e da comunicação exige um olhar mais abrangente para o aprender a aprender. Quanto mais a empresa investe na formação contínua de seus profissionais, mais valiosos eles se tornam para a organização, o que exige que a empresa desenvolva programas de formação continuada para manter as equipes atualizadas e conectadas com as transforma- ções. Essas ações são de responsabilidade da área de recursos huma- O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 39 nos, que tem como uma de suas bases de atuação o desenvolvimento do capital intelectual. Os programas educacionais devem ser atuais, estruturados e fun- damentados de acordo com o que acontece no mercado globalizado e nos aspectos legais e econômicos do cenário onde a empresa atua. Com base nas atividades da moderna área de gestão de pessoas, apresentamos a seguir um esquema dos processos básicos para me- lhor compreensão das oportunidades de trabalho para as pessoas que compõem a área de recursos humanos (gestão de pessoas), es- pecialmente o pedagogo. Figura 1 Moderna gestão de pessoas MODERNA GESTÃO DE PESSOAS APLICANDO PESSOAS RECOMPENSANDO PESSOAS MANTENDO PESSOAS AGREGANDO PESSOAS DESENVOLVENDO PESSOAS MONITORANDO PESSOAS Fonte: Adaptado de Chiavenato, 2014. As atividades mencionadas na Figura 1 demonstram que, em face a uma nova realidade do relacionamento dos profissionais e das empre- sas, surgem desafios para a área de gestão de pessoas, que deve focar suas atividades nos aspectos técnicos e, especialmente, na busca pelo melhor desempenho dos trabalhadores, desenvolvendo novas compe- tências, valorizando e mantendo os profissionais engajados e compro- metidos com a empresa, onde o monitoramento seja mais focado no crescimento profissional e educacional. 40 Pedagogia em espaços não escolares A evolução do papel da área de gestão de pessoas traz as oportu- nidades de atuação do pedagogo, pois o conhecimento é entendido pelas empresas do século XXI como essencial para o crescimento or- ganizacional. O pedagogo também pode atuar na área de recursos humanos nas demais atividades, tendo em vista sua formação acadê- mica, que lhe dá sustentação para perceber o indivíduo tanto como trabalhador técnico quanto como ser pensante e social. Assim, o pedagogo é o profissional que pode ser responsável pelo ato de ensinar e aprender, considerando os objetivos e as metas da empresa, e pelo percurso de desenvolvimento pessoal e educacional dos profissionais, o que vem ao encontro do que considera Riva e Reali (2008, p. 3): “atualmente, as organizações requerem trabalha- dores criativos, analíticos, com habilidades para resolução de proble- mas, tomada de decisões e com ampla capacidade para trabalhar em equipe”. Esse perfilde profissional vem atender à nova realidade econômi- ca dentro das empresas, que requerem profissionais mais atuantes e comprometidos com seu negócio, o que exige da área de recursos humanos um planejamento de formação continuada denso e dinâ- mico. Esse cenário aponta para as contribuições do pedagogo como mentor dos projetos. Sobre o papel do pedagogo na organização, Riva (2008, p. 3) afirma: “o profissional em educação através do pedagogo empresarial poderá colaborar com a empresa desenvolvendo proje- tos educacionais, selecionando e planejando cursos de aperfeiçoa- mento e capacitação dos funcionários”. Para que o pedagogo possa acompanhar a evolução técnica e tecnológica, de gestão e de negócios das organizações, precisa pre- parar-se para tal, entendendo que apenas os saberes desenvolvidos dentro do ensino superior não são suficientes. Também é importante a capacidade de autogestão, adaptabilidade e flexibilidade para com- preender todos os processos e as estratégias da empresa e como sua atuação poderá contribuir para o crescimento da organização, bem como dos profissionais que nela atuam. O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 41 2.3 Pedagogia corporativa e a gestão do conhecimento Vídeo Nos últimos anos, as organizações estão mais conectadas com a questão da gestão do conhecimento e como ela pode ajudar no seu desempenho nos negócios, especialmente com o advento das trans- formações tecnológicas que são exponenciais e exigem das empresas dinamicidade para a mudança. Mais do que nunca as habilidades humanas e a produção intelectual são temas muito discutidos dentro do ambiente corporativo, pois as empresas descobriram que o sucesso organizacional somente será al- cançado se os profissionais que nela atuam forem criativos e dispostos a aprender continuamente, pensarem e atuarem colaborativamente. Ou seja, o potencial de uma organização está hoje nas pessoas que aprendem, descritas nas palavras de Figueiredo (2005, p. 15), “ Estamos vivendo dias em que as características mais apreciadas vinculadas ao trabalho são essencialmente habilidades humanas, ligadas à produção intelectual, como criar, inovar, pensar, julgar, relacionar e aprender”. O conhecimento criador dentro das empresas é extremamente va- lorizado, pois a competitividade exige empresas flexíveis, adaptáveis aos mercados e que possam dar respostas rápidas devido à nova reali- dade mundial de negócios. Para Eboli (2004, p. 5), “vivemos a era do conhecimento: o advento e a consolidação da economia do conhecimento, na qual conhecimento é a nova base para a formação de riqueza nos níveis individual, em- presarial ou nacional.” Portanto, o ambiente empresarial exige que a aprendizagem seja constante, para criar a vantagem competitiva. EMPRESAS DO SÉCULO XXI APRENDIZAGEM CONSTANTE CRESCIMENTO PROFISSIONAL E ORGANIZACIONAL Figura 2 Aprendizagem organizacional Fonte: Elaborada pela autora. 42 Pedagogia em espaços não escolares Por conta disso, a gestão do conhecimento se faz essencial dentro da empresa, conforme o que destacam Davenport e Prusak (1999, p. 6) sobre conhecimento: conhecimento é uma mistura fluída de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais. Portanto, o conhecimento se faz por meio das pessoas que atuam nas empresas, elas geram o saber, pois ele existe dentro de nós, faz par- te do nosso dia a dia, das nossas experiências, dos desafios e proble- mas pelos quais passamos, segundo Devenport e Prusak (1999, p. 7), “o conhecimento pode e deve ser avaliado pelas decisões ou tomadas de ação às quais ele leva”. Entendemos, assim, que o conhecimento está vinculado à ação. Logo, as ações das pessoas dentro das empresas geram consequên- cias, isso significa que quanto mais bem preparado estiver o profis- sional para atuar em seu espaço organizacional, melhores serão suas decisões técnicas e comportamentais. Por conta disso é que as empre- sas perceberam a importância de gerir os conhecimentos das pessoas. De acordo com Teixeira filho (2000, p. 23), “as empresas tendem a se diferenciar pelo que elas sabem e pela forma como conseguem usar esse conhecimento. Numa economia global, o conhecimento torna-se a maior vantagem competitiva de uma organização”. Devido a esse cenário, as empresas investem cada vez mais na ges- tão do conhecimento, abrindo caminhos para que o pedagogo atue como responsável pelo desenvolvimento contínuo dos profissionais, visando unir o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. Por co- nhecimento tácito entendemos o conhecimento que reside na cabeça das pessoas, e por explícito o que está registrado e disponível para con- sulta (TEIXEIRA FILHO, 2000). É importante compreender que quando falamos em gestão do co- nhecimento estamos nos referindo a unir corpo e mente. Nesse sen- tido, a criação de novo conhecimento nas empresas é a conversão do conhecimento tácito para o explícito. O e-book Desafios na edu- cação corporativa traz in- formações e orientações do cenário de ruptura que vivemos, especial- mente com relação às tecnologias e ao contexto digital, bem como ao novo perfil de aprendi- zado. Também, explora algumas metodologias de ensino que podem ser aplicadas em programas educacionais no que diz respeito à educação corporativa. Disponível em: https:// conteudo.dotgroup.com.br/ desafios_na_educacao_corpo- rativa?gclid=CjwKCAiAsIDxBRA- sEiwAV76N89AntK6ej_TWhYc_ Eh4oIC_ymHwpRnbFKKhgC2TaVr- 30Yeh28FokWRoCXXIQAvD_BwE. Acesso em: 24 jan. 2020. Leitura O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 43 Para melhor compreensão, vamos apontar o que nos explicam Nonaka e Takeuchi (1997, p. 11) sobre a criação de conhecimento: “ter um insight ou palpite altamente pessoal tem pouco valor para a em- presa, a não ser que o indivíduo possa convertê-lo em conhecimento explícito, permitindo assim que ele seja compartilhado com outros in- divíduos na empresa”. Gerir conhecimento significa contribuir para que a construção de novos saberes seja uma dinâmica que envolva todos os profissionais. Isso é possível por meio de programas educacionais, atividades que gerem discussões criativas, trabalhos colaborativos, problematizações que gerem debates. Também, a multiplicidade de saberes precisa ser posta em ação, entendendo que um novo conhecimento começa com um indivíduo e pode ser transformado em organizacional quando com- partilhado. Além disso, para Nonaka e Takeushi (1997, p. 15), “a criação do novo conhecimento é produto de uma interação dinâmica entre eles”, isto é, todos os profissionais de uma empresa. O desenvolvimento das pessoas não pode ser apenas pontual, mas permanente, com base em uma ação pedagógica intencional e meto- dologicamente planejada, considerando os direcionadores estratégicos e a transformação das experiências em conhecimento compartilhado, construído de maneira coletiva e colaborativa. O pedagogo é o profissional que pode ser o articulador do processo de construção de novos conhecimentos dentro da empresa, fundamen- tado em programas de formação continuada que permitam a interação e a troca de conhecimentos, valorizando as experiências, fomentando a participação e a colaboração. Como considera Figueiredo (2005, p. 12): “para que uma empresa se torne e seja considerada inteligente é preci- so que as pessoas se capacitem, troquem e avaliem constantemente as informações, aprendendo perenemente uma com as outras, com seus clientes, fornecedores e mercados”. É preciso que as pessoas se sintam motivadas para o aprendizado contínuo. Assim, o pedagogo tem a função de programar projetos de educação corporativa que sejamestimulantes, gerem novos conheci- mentos, apliquem metodologias ativas, em que os participantes pos- sam interagir por meio de diálogo franco e relacional. A gestão do conhecimento se consolida por meio de estratégias de aprendizado compartilhado, o que gera novas competências pessoais, profissionais e organizacionais. Atividade 2 Relate brevemente sobre a importância da gestão do conhecimento nas empresas que aprendem. 44 Pedagogia em espaços não escolares 2.4 Aprendizagem continuada e sustentação dos objetivos organizacionais Vídeo O reconhecimento pela empresa de que as pessoas são geradoras de conhecimentos, que podem se transformar em diferencial compe- titivo, tem levado muitas organizações a implantarem em sua estrutu- ra organizacional a universidade corporativa, que tem como objetivo preparar os trabalhadores para a gestão de negócios, a fim de gerar, assimilar e difundir novos saberes que sejam diferenciais competitivos. Conforme Meister (1999, p. 19) a universidade corporativa pode dire- cionar suas ações para “sustentar a vantagem competitiva inspirando um aprendizado permanente e um desempenho excepcional, preci- sam ser flexíveis, enxutas e velozes quanto as mudanças e eficiência nos negócios”. Para isso, necessita de uma estrutura educacional que crie valor para seu capital intelectual, a fim de sustentar a vantagem competitiva e alavancar novas oportunidades de negócios, por meio do aprendizado. O tema universidade corporativa passa a ser compreendido com maior propriedade no cenário organizacional com o lançamento do livro Educação Corporativa, em 1999, da autora Jeanne Meister (EBOLI, 2004). A importância da educação corporativa, por meio da implantação de uma universidade corporativa apontada por Meister, foca a apren- dizagem contínua, apresentando como caminho possível para desper- tar e implantar um modelo mental de aprendizado. Destaca-se que para manter uma posição do mercado globalizado, a empresa neces- sita ajustar e aperfeiçoar sistemas e processos, visto que, para Meister (1999, p.7), no ambiente competitivo “as técnicas de aprendizagem adquirem muita importância porque as chances de uma organização mudar com sucesso dependem da capacidade dos funcionários de aprender novos papéis, processos e habilidades”. O ambiente empresarial conta com um elemento-chave, que é o profissional (capital intelectual). Desse modo, para acompanhar as mu- danças e a sobrecarga de informações, é essencial preparar os profis- sionais para que transformem a informação em conhecimento, que se apresenta como a base da inovação necessária para a empresa atuar de maneira estratégica e competitiva. O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 45 Assim, o pedagogo como profissional da educação que conhece e domina os fundamentos do processo de aprender, as metodologias de ensino, bem como os direcionadores de planejamento, acompanha- mento e avaliação, pode ser o mentor de ações educativas que sejam aderentes às necessidades das empresas quanto aos aspectos didáti- cos e pedagógicos. Atualmente, para as empresas atuarem com sucesso, devem com- preender que o conhecimento é a ferramenta mais importante, pois ge- rar saberes tornou-se a moeda do crescimento organizacional. Conforme palavras de Figueiredo (2005, p. 14), “o mundo empresarial descobriu que é no conhecimento que as pessoas têm, que residem as chances e oportunidades de sobreviver no futuro”. Sendo assim, a sustentação dos conhecimentos da empresa é fundamental e seu diferencial de negócios somente sobreviverá se a empresa contar com profissionais qualifica- dos e atentos ao desenvolvimento contínuo. O autor ainda aponta que “o funcionário contribui agora não mais só com sua força muscular, mas principalmente com sua capacidade de criar, inovar, conhecer, apren- der, mudar, adaptar, ensinar e compartilhar” (FIGUEIREDO, 2005, p. 14). Ao optar pela implantação de uma universidade corporativa, a or- ganização precisará mudar a visão com relação ao conhecimento e aos pressupostos do paradigma do termo treinamento, pois a ideia de aprendizagem se transforma. A essencialidade do processo educativo, agora, é aprender agindo por meio de uma estrutura em que o pedago- go tem um papel primordial de conhecer a direção estratégica da em- presa e de compor projetos que envolvam não apenas os funcionários da empresa, mas também os clientes, fornecedores e parceiros. Portanto, a concepção de uma universidade corporativa transpõe o ambiente da empresa e exige do pedagogo um olhar ampliado do ne- gócio e do segmento econômico no qual atua, pois, além de conhecer os aspectos estratégicos da empresa, precisa entender os parceiros, clientes e as estruturas sindicais, desenvolver conhecimentos sobre os concorrentes, compreender os problemas vivenciados pela empresa como um todo, para, assim, recomendar e elaborar projetos que tra- gam soluções imediatas a fim de que a organização supere os desafios das transformações impostas pelo mercado (MEISTER, 1999). Veja que o pedagogo, ao atuar em uma universidade corporativa, precisa pensar como um empreendedor, isto é, acompanhar as mu- danças, entender de negócios, clientes, fornecedores e parceiros, com- O livro Educação corpo- rativa: a gestão do capital intelectual através das universidades corporati- vas, embora tenha sido lançado no Brasil em 1999, é um dos marcos para a compreensão das oportunidades e dos fundamentos oferecidos pela implantação de uma universidade corporativa. Na obra, a autora destaca como a mudança dos mercados afeta as em- presas, apresentando o funcionamento, o modelo da universidade corpora- tiva e como é possível, por meio do conhecimento, as pessoas e as organizações crescerem profissional, pessoal e socialmente. MEISTER, J. C. São Paulo: Makron Books, 1999. Livro 46 Pedagogia em espaços não escolares preender que o ambiente educacional de uma empresa é diferente dos espaços formais de ensino, é uma nova configuração para a construção do aprendizado. Muitas empresas que possuem universidade corporativa possuem parcerias com universidades, com a finalidade de certificar os profis- sionais em nível superior, uma vez que essas são as instituições for- mais habilitadas para isso. Muitas empresas brasileiras formalizam ações em conjunto com universidades credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC) para compor seus programas de formação continua- da, lembrando que a universidade corporativa oferece programas edu- cacionais específicos, relacionados ao segmento econômico em que a empresa atua. É importante saber que as universidades corporativas focam as questões de mercado, porém sem deixar de atender aos aspectos sociais, comportamentais e ecológicos. Quando se trata de formação contínua, seus princípios deverão ser atendidos e compreendidos pelo pedagogo, com o propósito de contribuir para que os profissionais e a empresa alcancem os objetivos propostos, Meister (1999, p. 30-31) aponta alguns princípios que uma universidade corporativa precisa atender para contribuir com o crescimento organizacional: • Oferecer oportunidades de aprendizagem que deem sustenta- ção às questões empresariais mais importantes da organização. • Considerar o modelo de universidade corporativa um processo, e não um espaço físico destinado à aprendizagem. • Elaborar um currículo que incorpore os três Cs: cidadania corpo- rativa, estrutura contextual e competências básicas. • Treinar cadeia de valor e parceiros, inclusive clientes, distribui- dores, fornecedores de produtos terceirizados, assim como uni- versidades que possam fornecer os trabalhadores de amanhã. • Passar do treinamento conduzido pelo instrutor para vários for- matos de apresentação da aprendizagem. • Encorajar a facilitar o envolvimento dos líderes com o aprendizado. • Passar do modelo de financiamento corporativo por alocação para o “autofinanciamento” pelas unidades de negócio. • Assumir um foco globalno desenvolvimento de soluções de aprendizagem. • Criar um sistema de avaliação dos resultados e dos investimentos. • Utilizar a universidade corporativa para obter vantagem compe- titiva e entrar em novos mercados. O pedagogo nas organizações e nas universidades corporativas 47 Embora as universidades corporativas tenham foco nas habilidades, nas atitudes e no desenvolvimento de conhecimentos direcionados ao mundo dos negócios, também têm a preocupação de preparar as pes- soas para a cidadania, responsabilidade social e ecológica, aspectos es- senciais exigidos pelos consumidores, parceiros, fornecedores e pelas legislações. No Brasil, empresas como O Boticário, Ambev, Petrobras, Ban- co do Brasil, Caixa Econômica Federal, Embraer, Grupo Algar, Grupo Votorantim, entre muitas outras, já possuem suas universidades cor- porativas e desenvolvem talentos por meio de cursos e atividades educacionais que focam a aprendizagem contínua das competências empresariais e humanas. Também, no contexto da universidade corporativa, é possível que o pedagogo possa formalizar parcerias e alianças com outros atores edu- cacionais e sociais permitindo a obtenção de vantagens estratégicas humanas e sociais significativas e inovadoras. Muitas empresas envolvem os fornecedores nos processos educa- cionais, alavancando, assim, a construção de saberes para ambas as equipes de profissionais, isso provoca melhora de performance profis- sional, educacional, social e pessoal. Outro aspecto de inovação é que as universidades corporativas po- dem ser estruturadas em ambientes presenciais para o ensino, assim como virtuais, significando que o pedagogo precisa também se apro- priar de saberes sobre a educação on-line e como ela pode favorecer o aprendizado corporativo. Como você pode perceber, são inúmeras as atividades que o pe- dagogo exerce dentro de uma universidade corporativa. Alguns dire- cionadores essenciais a serem compreendidos e desenvolvidos são: saber como funciona uma empresa, conhecer com propriedade suas estratégias, seus parceiros e fornecedores, o mercado onde atua e o perfil dos profissionais. Muitas organizações brasileiras se beneficiam da educação con- tinuada por meio das suas universidades corporativas ou parceiras que possuem, tornando relevante que os pedagogos conheçam essas oportunidades e dediquem-se a estudar e entender como podem atuar além dos espaços formais de ensino. Atividade 3 Como a atuação do pedagogo dentro de uma empresa pode favorecer o crescimento pessoal, profissional e organizacional a partir de proposições de formação continuada? 48 Pedagogia em espaços não escolares CONSIDERAÇÕES FINAIS A globalização vem mudando os mercados de maneira avassaladora, as tecnologias da informação e da comunicação exigem cada vez mais pessoas que invistam em sua formação continuada para poderem atuar onde os padrões de qualidade são exigências cada vez maiores dos consumidores. A internet faz com que os indivíduos fiquem mais conectados com as transformações, demandando das empresas atenção ao atendimento e conexão eficaz para se manterem competitivas. Os padrões de treinamento e desenvolvimento utilizados pelas em- presas há 10 anos não atendem mais ao novo cenário da era do conheci- mento, exigindo que organização e profissionais invistam no aprendizado contínuo, podendo ser por meio da atuação do pedagogo como respon- sável por promover programas educacionais que sejam inovadores e que atendam aos padrões de competitividade dos mercados. Assim, o pedagogo, que pode atuar tanto na área de recursos huma- nos quanto em estruturas como as universidades corporativas ou outras áreas da organização que contemplem o aprendizado contínuo, precisa se adaptar a esse contexto, aprimorando-se sobre a pedagogia empresa- rial e a gestão do conhecimento organizacional. Atuar em uma empresa exige do pedagogo um olhar inovador para o processo educativo e seu potencial de atuação, pois cria oportunidades para que as pessoas fora do ambiente formal de ensino, como as empre- sas, aprendam e se desenvolvam continuamente, contribuindo para que a gestão do conhecimento possa favorecer uma equipe de profissionais criativos, inovadores e comprometidos com os aspectos técnicos dentro da empresa, bem como orientados para ações cidadãs, consolidando a ação pedagógica e andragógica do educador. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. G. Pedagogia empresarial: saberes, práticas e referencias. Rio de Janeiro: Brasport, 2006. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Barueri: Manole, 2014. CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. São Paulo: Senac, 2003. CLARO, J. A. C. S.; TORRES, M. O. F. 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Gerenciando conhecimento: como a empresa pode usar a memória organizacional e a inteligência competitiva no desenvolvimento de negócios. Rio de Janeiro: Senac, 2000. GABARITO 1. Para que o pedagogo atenda às atividades pedagógicas, burocráticas, sociais e ad- ministrativas da empresa, ele deve conhecer bem o negócio da organização, suas es- tratégias de negócios, o segmento econômico que a empresa atende, seus clientes, mercado, e,especialmente, o perfil dos funcionários, as áreas em que atuam e suas responsabilidades técnicas e comportamentais 2. As organizações no século XXI precisam manter programas de educação continuada para que as pessoas estejam atualizadas quanto aos aspectos técnicos, tecnológicos, pessoais, educacionais e comportamentais. Esse cenário exige das empresas que desenvolvam programas educacionais constantes a fim de gerenciar os saberes dos profissionais para que sejam competitivas e invistam no capital intelectual, que hoje é considerado o maior patrimônio de competitividade (pessoas e seus conhecimentos). 3. O pedagogo, a partir de seus saberes didáticos e pedagógicos, pode contribuir dire- cionando a formação continuada dos profissionais, compondo programas de treina- mento e desenvolvimento focados não apenas nos aspectos técnicos,mais também nos comportamentais. Deve levar em consideração as estratégias metodológicas de ensino, para que esta valorizem os saberes prévios dos profissionais, suas experiên- cias, fomentando a participação e a colaboração. Um dos aspectos mais importantes é que o aprendizado gere debates e que ele seja não só no aspecto profissional, mas também no pessoal. http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enanpad2004-grt-1816.pdf http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enanpad2004-grt-1816.pdf https://pt.scribd.com/doc/73294951/Saberes-do-pedagogo-para-a-pratica-educativa https://pt.scribd.com/doc/73294951/Saberes-do-pedagogo-para-a-pratica-educativa 50 Pedagogia em espaços não escolares 3 O pedagogo no ambiente hospitalar As transformações sociais e educacionais possibilitaram ao pe- dagogo atuar em diferentes níveis e contextos educacionais. Esse cenário tem permitido que o educador possa atuar também nos hospitais e demais instituições que atendem crianças e adolescen- tes em tratamento de saúde. Neste capítulo, abordaremos legislações, conceitos, fundamen- tos e direcionadores históricos e metodológicos que dão suporte à atuação do pedagogo nesses espaços, assim como os caminhos para a inclusão de alunos em situação especial de saúde por meio da atuação dos profissionais da educação. Você vai verificar que, embora a pedagogia hospitalar esteja caminhando de maneira lenta e sem uma legislação específica no Brasil, muitas ações estão sendo desenvolvidas, a fim de garantir que o pedagogo contribua com a caminhada educativa de alunos em fase escolar que se encontram hospitalizados e impossibilita- dos de comparecer às aulas nos espaços formais de ensino. 3.1 História e legislação da pedagogia hospitalar Vídeo Antes de entrarmos no âmbito histórico e tratar das legislações, ini- ciamos esta seção com alguns conceitos e fundamentos da pedagogia hospitalar, destacando que ela tem como objetivo o atendimento de crianças e adolescentes em processo de tratamento de saúde, consi- derando seus direitos constitucionais de acesso à saúde e à educação. Para Gonzáles-Simancas e Polaino-Lorente (1990, p. 126), pode-se entender por Pedagogia Hospitalar aquele ramo da Pedagogia, cujo objeto de estudo, investigação e dedicação é a O pedagogo no ambiente hospitalar 51 situação do estudante hospitalizado, a fim de que continue pro- gredindo na aprendizagem cultural, formativa e muito especial- mente, quanto ao modo de enfrentar a sua enfermidade, com vistas ao autocuidado e à prevenção de outras possíveis altera- ções na sua saúde. Dessa forma, compreendemos que a pedagogia hospitalar serve para dar suporte educacional aos alunos que, impedidos de compare- cer ao ambiente regular de ensino, necessitam de orientações para dar continuidade ao seu desenvolvimento educacional, social e cultural. Importante PEDAGOGIA HOSPITALAR Continuidade do processo educacional, atendendo ao saber sistematizado e à inclusão social A proposta de ensino no ambiente hospitalar visa combater a exclu- são educacional e social do estudante, uma vez que, ao passar por tra- tamento de saúde, muitas vezes, isso demanda sua ausência do espaço escolar formal. É importante destacar que tanto a criança como o ado- lescente necessitam que o processo educativo seja contínuo – visando minimizar os impactos psicopatológicos que podem ser causados pelo tratamento da enfermidade e pela exclusão social –, uma vez que o ambiente escolar proporciona a construção de saberes sociopolíticos e formação para a cidadania. Nesse sentido, destaca-se, na proposta da pedagogia hospitalar, para Matos e Mugiatti (2008, p. 68), que: este enfoque educativo e de aprendizagem deu origem à ação pedagógica em hospitais pediátricos, nascendo de uma convic- ção de que a criança e o adolescente hospitalizados, em idade escolar, que não devem interromper, na medida do possível, seu processo de aprendizagem, seu processo curricular educativo. A necessidade de continuar os estudos nesse contexto de enfermi- dade faz surgir a história da pedagogia hospitalar, a qual vamos relatar brevemente. É importante ressaltar que são recentes as discussões e as pesquisas sobre o tema aqui no Brasil, porém, várias ações já es- tão em andamento, fundamentadas em pesquisadores e instituições Considerando o histórico da pedagogia hospitalar e, ainda, a inexistência, no Brasil, de uma política educacional clara para direcionar as ações do pedagogo nos espaços onde se encontram as crianças e os adolescentes em tratamento de saúde, discorra, brevemente, sobre a importância de um documento norteador que garanta a inclusão desses alunos quanto aos aspectos educacionais e sociais. Atividade 1 52 Pedagogia em espaços não escolares hospitalares que possuem estrutura para dar suporte ao Atendimento Pedagógico ao Escolar em Tratamento de Saúde (APETS). Segundo Ferreira e Behrens (2016, p. 63), “a história da Peda- gogia Hospitalar no Brasil e no mundo apresenta um percurso que está intimamente ligado aos movimentos em prol do direito à edu- cação e à saúde, juntamente com o percurso histórico da educação especial”. Por não existir, ainda, uma legislação específica para a pedagogia hospitalar, as ações direcionadas ao trabalho do peda- gogo nos espaços hospitalares, nas clínicas e em ONGs que aten- dem o aluno em tratamento de saúde seguem outras legislações, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É importante destacar que também não existe clareza sobre o his- tórico do início da pedagogia hospitalar no mundo. Segundo Ferreira e Behrens (2016), essa preocupação em atender o aluno em fase de tratamento começou a ser observada na Europa, mais especificamente em Paris, em 1929, tornando, assim, a França o primeiro país a atender crianças hospitalizadas em sanatórios. Ainda segundo os autores (2016, p. 63), “na década de 1940 foi cria- da uma instituição que estava preocupada com o processo de hospita- lização da criança, a associação Animation, Loisirs à I’Hôpital (Animação, Lazer no Hospital)”. De acordo com o autor, na década de 1980, foi criada uma fundação vinculada à European Association for Children In Hospital (Associação Europeia para crianças em hospital – EACH), com o objetivo de melhorar as condições de hospitalização das crianças. Ainda na França, conforme relata Vasconcelos (2006), Henri Sellier lidera experiências pedagógicas com crianças hospitalizadas. Por obter êxito no seu trabalho, outros países europeus seguem seu exemplo, como os Estados Unidos, que adotam ações pedagógicas com crianças tuberculosas, pois, devido à doença ser contagiosa, o tratamento exige isolamento do convívio social e escolar. Um contexto que trouxe preocupação com esse tipo de atendimen- to foi a Segunda Guerra Mundial, que levou muitos países da Europa a criar instituições “destinadas ao atendimento dos órfãos de guerra e das crianças separadas de seus pais” (FERREIRA; VARGAS; ROCHA, 1998, p. 112). Além disso, o advento da Segunda Guerra Mundial faz crescer a necessidade do próprio atendimento hospitalar convencional, pois, APETS: termo amplo para denominar o atendimento pedagógico que acontece ao escolar em tratamento de saúde que está em diferentes níveis e contextos de ensino e aprendiza- gem (FERREIRA, 2015). Glossário O pedagogo no ambiente hospitalar 53 devido aos conflitos, muitas crianças e muitos adolescentes foram afe- tados por doenças contagiosas e mutilações, o que exigiu atenção das autoridades. Nesse contexto, outros países, como Áustria, Bélgica, Dinamarca, Inglaterra, Croácia, Espanha, Eslovênia, Luxemburgo, Noruega, Irlanda e Romênia, seguem a França e também adotam a escolarização no am- biente hospitalar (FERREIRA; BEHRENS, 2016). No Brasil, pesquisas apontam que a pedagogia hospitalar se ini- ciou em 1950, na cidade do Rio de Janeiro, com a primeira classe hospitalar no Hospital Jesus. Para ampliar seus saberes, recomendamos a leitura do artigo Formação conti- nuada onlinepara docentes que atuam no atendimento pedagógico ao escolar em tratamento de saúde, dos autores Jacques de Lima Ferreira e Marilda Aparecida Behrens, publicado na Revista da FAEEBA, em 2016. O artigo apresenta como o ambiente virtual de ensino contribuiu para a formação de pedagogos e professores quanto aos direcionadores educativos e metodológi- cos ao atendimento pedagógico do escolar em tratamento de saúde (APETS). Acesso em: 27 fev. 2020. https://www.revistas.uneb.br/index.php/faeeba/article/view/2715/1842 Artigo Segundo Paula (2010), entretanto, “essa modalidade de ensino só foi reconhecida em 1994 pelo Ministério da Educação e Desporto – MEC, através da Política da Educação Especial” (PAULA, 2010, p. 71). É importante salientar que muitos esforços têm sido aplicados no Brasil para que práticas educativas sejam adotadas nos hospitais e em outras instituições de saúde, a fim de atender as crianças e os adolescentes em tratamento de saúde. Tendo em vista essas diretrizes, autoridades administrativas da educação do Brasil perceberam a importância do atendimento hos- pitalar e, em 1990, a Lei n. 8.069, de 13 de junho 1990, é instituí- da. Denominada Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ela traz como prerrogativa que: a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamen- tais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção in- tegral de que tratam esta lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico mental, moral, espiritual e so- cial, em condições de liberdade e dignidade. 54 Pedagogia em espaços não escolares Observamos que o ECA vem reforçar a essencialidade da aten- ção aos direitos das crianças e dos adolescentes no que trata de seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, en- tendendo, assim, que o processo educativo é um dos caminhos para atingir essas condições. Em seu art. 57, o ECA observa que “o Poder Público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas a inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino funda- mental obrigatório” (BRASIL, 1990). Nesse contexto, podemos considerar a inserção de crianças e adolescentes em tratamento de saúde, tendo em vista a sua ca- racterística de excluídos das classes regulares de ensino. Também podemos destacar outro documento que contribui para atender ao proposto do atendimento hospitalar para crianças e adolescentes: a publicação, em 1994, da Política Nacional de Educação Especial, pelo Ministério da Educação. Nesse documento, o termo atendimento a crianças e adolescentes em tratamento de saúde passa a ser denominado classe hospitalar, porém, somente com a publicação do Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizados, que foi aprovado pela Resolução n. 41, de 13 de ou- tubro de 1995 (BRASIL, 1995), é que os direitos da criança e do ado- lescente têm reconhecidos também os direitos referentes às questões educacionais em situações de hospitalização. O item 9 da Resolução n. 41 esclarece que a criança e o adolescente têm o “direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar du- rante sua permanência hospitalar” (BRASIL, 1995). Lembrando ainda que a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, traz em seu capítulo II, dos Direitos Sociais, no seu arti- go 6º, que “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a mora- dia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados” (BRASIL, 1988). Fica evidente a responsabilidade do Estado quanto às questões de saúde e educação. Ainda, no seu capítulo III, da Educação, Cultura e do desporto, artigo 214, da referida Constituição, é apresentado que: É essencial que o pedagogo faça a leitura do Estatuto da Criança e do Adolescente, conside- rando que se trata da lei que cria condições para atender aos direitos da criança e do adolescente. Disponível em: http://www.planal- to.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 27 fev. 2020. Importante O pedagogo no ambiente hospitalar 55 a lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração de- cenal, com o objetivo de articular o sistema nacional em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e o desenvol- vimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modali- dades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzem a: I – erradicação do analfabetismo; II – universalização do atendimento escolar. (BRASIL, 1988) Outro documento que é essencial apontar é a Resolução CNE/ CEB n. 2, de 11 de setembro de 2001, emitido pela Câmara de Edu- cação Básica do Conselho Nacional de Educação. No seu artigo 13, observa-se que: os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os siste- mas de saúde, devem organizar o atendimento educacional es- pecializado a alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospita- lar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio. (BRASIL, 2001) Observamos que a Resolução CNE/CEB n. 2 traz orientações claras sobre a inclusão dos estudantes, estimulando as parcerias entre hos- pitais e demais instituições de saúde e as escolas, a fim de favorecer que crianças e adolescentes em fase de tratamento de saúde possam continuar seus estudos. Devemos mencionar também um documento que visa orientar e estruturar as ações em torno do atendimento educacional em ambientes hospitalares e em domicílios. Tal documento é denomi- nado Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: estra- tégias e orientações. Editado em dezembro de 2002 pelo Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Especial, traz di- recionadores mais específicos para nortear o atendimento do alu- no em fase de tratamento de saúde, trazendo com maior ênfase o termo classe hospitalar. “O atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circuns- tância de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde” (BRASIL, 2002, p. 13). Percebemos nesse documento o direcionador estratégico quanto ao atendimento do estudante hospitalizado, com destaque para a es- pecificidade do tratamento de saúde, quando observa que: Para compreender melhor o termo classe hospitalar e seus direcio- nadores para a atuação do pedagogo, leia o do- cumento Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar, editado pelo MEC, por meio de sua Secretaria de Educação Especial, em dezembro de 2002. BRASIL. Ministério da educação. Brasília: MEC; SEESP, 2002. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/seesp/arquivos/pdf/livro9. pdf. Acesso em: 27 fev. 2020. Leitura 56 Pedagogia em espaços não escolares na impossibilidade de frequência à escola, durante o período sob tratamento de saúde ou de assistência psicossocial, as pessoas necessitam de formas alternativas de organização e oferta de en- sino de modo a cumprir com os direitos à educação e à saúde, tal como definidos na Lei e demandados pelo direito à vida em sociedade. (BRASIL, 2002, p. 11) Embora existam leis e normativas que visam garantir o atendimento educacional dos alunos em tratamento de saúde e que estão impos- sibilitados de comparecer ao ambiente formal de ensino, não existe uma legislação de educação no Brasil que garanta esse atendimento. É importante lembrar que não basta apenas a boa vontade dos profis- sionais envolvidos; esse tipo de atendimento exige toda uma estrutura física, educacional e profissional, na qual as pessoas envolvidas com esse tipo de atuação devem construir saberes específicos.A terminologia, também, ainda é um desafio para os pesquisado- res e profissionais pedagogos que atuam no contexto do atendimento hospitalar do aluno em tratamento de saúde, pois não existe um do- cumento direcionador esclarecendo os termos e suas funções de ação. De acordo com o que observa Ferreira e Behrens (2016, p. 52), na contemporaneidade, temos as seguintes nomenclaturas para o atendimento pedagógico, ao escolar em tratamento de saúde: - pedagogia hospitalar; - atendimento pedagógico domiciliar; - educação hospitalar; - atendimento educacional em ambientes hospitalares e domiciliares; - escolar hospitalizado; - escolariza- ção hospitalar; - educação e saúde, entre outros. É importante, portanto, atenção quanto a estes termos, destacando que o objeto de nosso estudo, aqui, está no termo pedagogia hospitalar, por existir algumas referências que podem ser estudadas e aprofunda- das, caso sua opção de atuação como pedagogo seja em espaços que atendam os alunos em fase de tratamento de saúde. Outro fator que deve ser levado em consideração pelo pedago- go que pretende atuar no cenário da pedagogia hospitalar é ler com atenção todas as legislações aqui citadas e as demais existentes, ten- do em vista a essencialidade de conhecer com maior profundidade os direcionadores legais, assim como os caminhos possíveis para atuar, considerando as especificidades do ambiente hospitalar e as demais instituições que acolhem os alunos em tratamento de saúde. Você pode explorar mais sobre a pedagogia hos- pitalar com a leitura do livro Pedagogia hospitalar: a humanização integrando educação e saúde, de Elizete Lúcia Moreira Matos e Margarida M. Teixeira de Freitas Mugiatti. MATOS, E. L. M.; MUGIATTI, M. M. T. F. 7. ed. São Paulo: Vozes, 2013. Livro Em Curitiba, há um hospital que é referência no atendimento à criança e ao adolescente em tratamento de saúde. Você pode conhecer os programas de humanização no site do hospital: http://pequenoprincipe.org.br/ hospital/. Também poderá ler o documento O direito à educação e à cultura em hospitais, que está disponível em: https://peque- noprincipe.org.br/projetosaber- mais/manual/Educ.pdf. Acesso em: 27 fev. 2020. Curiosidade O pedagogo no ambiente hospitalar 57 3.2 O pedagogo e o processo de hospitalização Vídeo Um dos pressupostos da atuação do pedagogo em espaços hospi- talares é contribuir para o bem-estar físico, emocional e psíquico das crianças e dos adolescentes (SCHILKE, 2010), pois eles precisam que a ação educativa seja diferenciada e que não seja confundida apenas com recreação. Toda ação educativa nos hospitais e ambientes onde se encontram crianças e adolescentes na fase de tratamento de saúde deve ter uma intencionalidade pedagógica. Além disso, o pedagogo, ao optar por atuar nesses espaços, precisa se preparar, especialmente entendendo que a criança ou o adolescente internado pode desenvolver sintomas como irritação e desmotivação devido à falta de seus pais, colegas de escola e do ambiente familiar. Nesse sentido, conforme destaca Jesus (2010, p. 87-88), a hospitalização pode ser uma experiência difícil, dolorida para a vida do enfermo, principalmente se este for uma criança. Esses fatores, por sua vez, facilitam a irritabilidade, a desmotivação, o estresse, entre outros. O trabalho lúdico e educativo, desen- volvido pelo pedagogo, pode ajudar os hospitalizados a aceitar melhor a ideia do processo de internação, bem como auxiliar em seu processo de recuperação. Nesse aspecto, o pedagogo precisa compreender que a dimensão de sua atuação transpõe os saberes teóricos, pois, além de exigir que a ação educativa ofereça à criança e ao adolescente em tratamento de saúde a continuidade de seus estudos, exige que a atuação pedagógica auxilie o estudante no enfrentamento dos efeitos da internação, que podem ser traumáticos, e do impacto que o afastamento de seu conví- vio familiar e social provoca. Nesse aspecto, a ação do pedagogo contribui para que a hospitaliza- ção se transforme, conforme destaca Schilke (2010, p. 266), “num tempo de construção de conhecimento e aquisição de novos significados, não sendo preenchido apenas pelo sofrimento”. É, portanto, um momento em que o sentido de humanização deve estar presente. “Tomamos a hu- manização como estratégia de interferência no processo de produção de saúde, levando-se em conta que sujeitos sociais, quando mobilizados, são capazes de transformar realidades” (BRASIL, 2004, p. 16). 58 Pedagogia em espaços não escolares Cabe ao pedagogo doar-se enquanto profissional da educação, aplicando seus saberes técnicos e científicos para garantir a cons- trução de novos saberes pelos alunos hospitalizados, mais espe- cialmente integrando saúde e educação, bem-estar e crescimento, reconhecendo o estudante como sujeito integral, promovendo a in- serção da criança e do adolescente no processo de ensino e apren- dizagem, sem deixar de atender aos padrões de qualidade exigidos nos espaços formais de ensino. Nas palavras de Jesus (2010, p. 82): “observa-se a necessidade de apoio, atendimento pedagógico de qualidade, recreação e novos olha- res nesse cenário, o qual a educação começa a adentrar com neces- sidades de atuação que lhe é pertinente”. Temos de ter consciência, portanto, que o espaço hospitalar requer uma atuação docente legiti- mada, atuando de maneira interdisciplinar e multidimensional. O artigo O papel do pedagogo no ambiente hospitalar: a formação para além da docência, de Cinthia Vernize Adachi Menezes, apresentado no XII Congresso Nacional de Educação, trata do papel do pedagogo no ambiente hospitalar e algumas de suas atribuições docentes. Acesso em: 27 fev. 2020. https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/18954_8950.pdf Artigo Lembrando que a pedagogia hospitalar, para Matos e Mugiatti (2001, p. 40), “constitui-se num espaço alternativo que vai além da escola e do hospital, haja vista que se propõe a um trabalho não somente de oferecer continuidade de instrução”. É um espaço que precisa provocar o diálogo e a integração da criança com o espaço social e educacional, conforme as autoras ainda apontam: “ele vai além, quando realiza a integração do escolar docente, prestando ajuda, não só na escolaridade na doença, mas em todos os aspectos decorrentes do afastamento necessário do seu cotidiano e do pro- cesso, por vezes, traumático da internação”. É importante ressaltar que, ao optar por trabalhar com a peda- gogia hospitalar, o pedagogo precisa desenvolver saberes no con- texto da psicologia, pois atuará em um ambiente onde situações de conflitos, traumas da enfermidade, ausência da família, separação da escola e do contexto social deixam a criança ou o adolescente emocional e psicologicamente vulnerável. Para compreender o pro- cesso de humanização nos espaços hospitalares de demais ambientes onde o contexto maior é a saúde, você pode aces- sar o site do Ministério da Saúde e consultar as diretrizes e ações que são apresentadas para o pro- cesso de humanização. Disponível em: http://www.saude.gov.br/ acoes-e-programas/humanizasus/ diretrizes. Acesso em: 27 fev. 2020. Saiba mais O pedagogo no ambiente hospitalar 59 Esse cenário exige do pedagogo flexibilidade, abertura para en- frentar desafios, disciplina, planejamento, articulação com os demais profissionais que atuam junto da criança, como enfermeiros, médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais, professores, e também com a família, que deve ser envolvida no processo de escolarização. Como aponta Matos e Mugiatti (2008, p. 82), “a responsabilidade as- sumida pelo pedagogo, nas suas relações com as crianças/adolescen- tes enfermos ou hospitalizados, exige, também, experiência no plano da psicologia do desenvolvimento e da educação”. É fundamental que o pedagogo construa significados psicológicos e educacionais para que sua ação docente tenha êxito com esse perfil de estudante, por meio de atividades lúdicas e recreativasque envolvam o discente de maneira ativa nas práticas educativas. Esses estudantes precisam de espaço para exteriorizar suas frustra- ções e pensamentos conflituosos, o que exige do pedagogo a aplicação de atividades pedagógicas como dramatizações, dança, música, leitu- ra de histórias, jogos, simulações e desenhos. Tais atividades exigem do pedagogo um planejamento adequado para atender tanto à grade curricular do nível de escolaridade do aluno quanto às ações lúdicas e recreativas, a fim de envolvê-lo de maneira prazerosa. De acordo com Matos e Mugiatti (2008, p. 83), a inserção da pedagogia no espaço hospitalar não pode ser dis- sociada de um projeto pedagógico adequado. A relação homem- -sociedade, homem-mundo, sempre implica em transformação. Conforme se estabelece estas relações, o homem pode ter ou não condições objetivas para o pleno exercício da maneira hu- mana de existir. A ideia é tornar seu período de permanência no hospital o mais prazeroso possível, mantendo, se possível, o vínculo com a esco- la, atendendo ao processo pedagógico curricular da série que está cursando e participando de atividades que o levem à reflexão e ao enriquecimento cultural. O espaço hospitalar deve ser, para o pedagogo/professor, um am- biente que promova seu enriquecimento nos aspectos humanos e pro- fissionais, onde seu aprendizado seja constante, tornando o processo de hospitalização, para a criança ou para o adolescente, um espaço também de crescimento e desenvolvimento contínuo. 60 Pedagogia em espaços não escolares AMBIENTE HOSPITALAR + PROCESSO EDUCATIVO ENRIQUECIMENTO DOS ASPECTOS EDUCACIONAIS, SOCIAIS E CULTURAIS É preciso que a ação docente do pedagogo dê voz ao estudan- te hospitalizado, atendendo ao que orienta Granemann (2010, p. 133): “por meio de práticas e recursos variados com os quais o aluno aprende de forma significativa e prazerosa, resultando na sua aprendizagem, formação da cidadania, bem como na sua recu- peração orgânica e psicológica”. É necessário, portanto, que no espaço hospitalar a ação educativa supere os fundamentos de uma prática pedagógica tradicional e con- servadora, além de permitir que os alunos se envolvam em ações dia- lógicas e interativas de ensino. De acordo com Nascimento e Freitas (2010, p. 32) “existe um saber voltado ao processo de ensino-aprendi- zagem nesse contexto [...] pautado no princípio da educação inclusiva e na superação de métodos tradicionais/convencionais de ensino”, o pedagogo precisar ser inovador, promover o trabalho colaborativo e inclusivo. É essencial destacar que a criança ou o adolescente está num am- biente estranho, muitas vezes, ligado a equipamentos para monitorar e acompanhar os procedimentos médicos do tratamento ao qual se submete, impossibilitando sua locomoção. Esse ambiente pode ser ameaçador para a criança, pois muitos profissionais podem adentrar esse espaço, pessoas que podem gerar desconfiança, podendo levar o aluno em tratamento de saúde à depressão e agressividade. Sendo assim, o pedagogo precisa compreender bem esse cenário, pensar em seu desenvolvimento contínuo, especialmente, como já des- tacado, nos aspectos psicopedagógicos, para, assim, construir saberes que venham contribuir com o seu desempenho profissional enquanto educador nos espaços não escolares formais. Tendo em vista a importância do papel do pedagogo nos espaços de tratamento de saúde de crianças e adolescentes, destacamos o que A rede Sarah de Hospitais de Reabilitação é uma rede de hospitais públi- cos que prestam serviços de ortopedia e reabilita- ção em vários estados do Brasil. As equipes são interdisciplinares, sendo compostas de fisioterapeutas, médicos, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, assistentes sociais, pedagogos e licenciandos responsáveis pela docência. Disponível em: http://www.sarah. br/. Acesso em: 27 fev. 2020. Curiosidade O pedagogo no ambiente hospitalar 61 Matos e Mugiatti (2008, p. 72) comentam: “observa-se que a continui- dade dos estudos, paralelamente ao internamento, traz maior vigor às forças vitais da criança (e adolescente) hospitalizada, como estímulo motivacional, induzindo-o a se tornar mais participante e produtivo”. O pedagogo é o agente de mudança, de transformação educacional e social, imprescindível para que o aluno hospitalizado possa acompa- nhar os conteúdos trabalhados na escola por meio de atividades didá- ticas e pedagógicas compatíveis com sua realidade de enfermidade e de desempenho. A seguir, vamos tratar do desempenho profissional do pedagogo nos hospitais e, também, no atendimento de pacientes em domicílio. Porém, antes, vamos apresentar no quadro abaixo algumas definições sobre os termos que são utilizados no cenário da pedagogia hospitalar, para sua melhor compreensão. São eles: Pedagogia hospitalar “Verificada a necessidade da existência de uma práxis e uma técnica pedagógica nos hospitais, confirma-se a existência de um saber envolvido no processo ensino-aprendizagem, instaurando-se aí um corpo de conhecimento de apoio que justifica a Pedagogia Hospitalar. Num enfoque de trabalho social insere-se a Pedagogia Hospitalar num pluralismo de ações educativas, cujo âmbito hospitalar muito se tem a investigar e contribuir. Com isso, estabelece-se a real necessidade da contribuição pedagógica em integração com as áreas afins envolvidas”. (MATOS; MUGIATTI, 2008, p. 85) Classe hospitalar “Denomina-se classe hospitalar o atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambiente de tratamento de saúde, seja na circunstância de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental”. (BRASIL, 2002, p. 13) No vídeo Educação e cultura no hospital peque- no príncipe, você pode assistir aos depoimentos dos profissionais que atuam com a educação em espaços hospitalares, mais especificamente no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. Apresenta o trabalho dos educadores atuando na ação educativa. Disponível em: https://www.you- tube.com/watch?v=SU9KK2Q-2es. Acesso em: 5 fev. 2020. Vídeo 62 Pedagogia em espaços não escolares Atendimento pedagógico domiciliar: De forma breve, responda: você concorda que o pedagogo, ao optar pela prática profissional com alunos hospitalizados, ne- cessita construir novos saberes, em especial sobre educação especial e/ou psicopedagogia? Por quê? Atividade 2 “É o atendimento educacional que ocorre em ambiente domiciliar, decorrente de problema de saúde que impossibilite o educando de frequentar a escola ou esteja ele em casas de passagem, casas de apoio, casas/lar e/ou outras estruturas de apoio da sociedade”. (BRASIL, 2002, p. 13) 3.3 Desempenho educativo em espaços hospitalares ou residenciais Vídeo Como já estudamos, o ambiente escolar pode transpor os espaços formais de ensino e ser estendido para os hospitais ou instituições que atendem a criança ou o adolescente em fase educacional. Um “braço” desse atendimento pode ser o domicílio, pois muitas situações permitem que a criança ou o adolescente se recupere em sua residência. Porém, é importante lembrar que muitas vulnerabili- dades surgem quando estes adoecem; a primeira delas, dependendo do grau da doença, afasta o indivíduo do seu convívio social e edu- cacional, causando repercussões psicológicas, como sentimento de culpa, exclusão e depressão. Quando falamos da aprendizagem aqui, referimo-nos à continui- dade dos estudos pelo estudante em tratamento de saúde, mesmo que sua recuperação ou tratamento esteja sendo administrada em seu domicílio. Conforme já apontamos, as diretrizes emitidas pelo Ministério da Educação (BRASIL, 2002) apresentam caminhos para esse tipo de atendimento educacional. Uma de suas orientações (2002, p. 7) visa: promover a oferta do atendimento pedagógico em ambientes hospitalares e domiciliares de forma a assegurar o acesso à edu- cação básica e à atenção às necessidades educacionaisespe- ciais, de modo a promover o desenvolvimento e contribuir para a construção do conhecimento desses educandos. Nesse sentido, observamos que o referido documento apresen- ta direcionadores que podem servir de orientação para os peda- O pedagogo no ambiente hospitalar 63 gogos, favorecendo, dessa forma, sua atuação no atendimento do paciente domiciliar. A ação docente no domicílio exige do pedagogo alguns cuidados, uma vez que a criança ou o adolescente enfermo estão afastados do convívio social da escola e podem perder o interesse pelos estudos, por brincar e interagir com outras pessoas. Atendendo ao que propõe Ribeiro e Paula (2012, p. 6), “o Atendimento Pedagógico Domiciliar é uma interação entre ambientes e deve haver uma relação entre o am- biente escolar, ambiente domiciliar e o ambiente hospitalar”. Além disso, muitas vezes, a locomoção da criança ou do adolescente é res- trita, o que pode desfavorecer o desenvolvimento de algumas ativida- des que seriam normais no ambiente escolar, isso exige do pedagogo adequações no que diz respeito às suas práticas docentes. Esse contexto requer do pedagogo um planejamento de ação edu- cativa compatível com as possibilidades da criança ou do adolescente. Outro fator essencial a ser observado é que qualquer direcionamento educativo deve ser planejado em parceria com a escola a qual o pa- ciente está vinculado e com a equipe médica/hospitalar. Outro cuida- do a ser tomado pelo pedagogo é conhecer com maior propriedade a patologia que afeta o estudante. Segundo Barbosa (2009), o atendimento domiciliar requer atenção a tempos e espaços específicos, por ser um ambiente diferente, em que existe uma estrutura familiar com características culturais, econô- micas, sociais e ambientais que devem ser respeitadas e entendidas. Assim, o planejamento das atividades exige olhar para esses aspec- tos, a fim de que as ações educativas possam surtir efeitos positivos, tanto no aluno em fase de tratamento de saúde como na família. Segundo Ribeiro e Paula (2012, p. 1), “o Atendimento Pedagógico Domiciliar é uma forma de atendimento educacional recente em nos- so país. Este atendimento está voltado para crianças e adolescentes enfermos que não podem sair de suas casas”. Estes, em alguns casos, apresentam patologias degenerativas. Há, também, pacientes que passam por cirurgias que demandam o restabelecimento em casa, isso impossibilita o deslocamento do estudante até os ambientes de ensino. Esse cenário requer do pedagogo uma definição dos conteú- dos curriculares compatíveis com a série e o processo metodológico da instituição de ensino. Classe Hospitalar e Atendimento Pedagógico Domiciliar: estratégia e orientações é um documento editado pelo Ministério da Educação, por meio de sua secreta- ria de Educação especial, no ano de 2002. Nele, são apresentadas as diretri- zes para o atendimento domiciliar. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/seesp/arquivos/pdf/livro9. pdf. Acesso em: 27 fev. 2020. Leitura 64 Pedagogia em espaços não escolares Compreender como atuar é fundamental para o sucesso do apren- dizado. Segundo Brandão (2011, p. 5260), “o professor torna-se o mediador em vários aspectos, pois, além de assegurar o desenvolvi- mento intelectual, auxilia na apropriação dos conteúdos das discipli- nas da série a qual o aluno pertence”. É essencial que o pedagogo elabore com o estudante um planeja- mento de atividades, horários e logística adequado à sua realidade de tratamento e à dinâmica do ambiente familiar. Além disso, ainda segundo Brandão (2011, p. 5260), a ação edu- cacional no ambiente domiciliar “contribui para minimizar o estresse causado pela situação da doença e oferece oportunidades educacio- nais planejadas para que o educando ocupe seu tempo com ativida- des semelhantes às realizadas por seus colegas de turma em sala de aula”. Essa forma de atuação docente exige flexibilidade curricular, pos- sibilitando a construção de um ambiente de confiança e de aprendi- zagem. Para tanto, o pedagogo deve sempre estar atento ao ritmo do aluno em fase de tratamento de saúde, verificando isso por meio da adoção de múltiplas formas de enriquecer o processo educativo. Sobre esse enriquecimento, para a atuação do pedagogo em es- paço domiciliar, é essencial verificar quais são as adaptações neces- sárias e os instrumentos de apoio didático-pedagógico que serão necessários para dar andamento ao processo educativo. A parceria com os serviços de saúde e de assistência social também pode definir direcionadores educacionais que venham a efetivar a construção de saberes significativos pelo aluno. Importante Lembre: todo processo educativo exige uma intencionalidade de aprendi- zagem. Por se tratar de um atendimento especial, o pedagogo precisa ser flexível e atuar considerando contribuir para a continuidade dos estudos do paciente e, se possível, o breve retorno para o ambiente formal de ensino. É fundamental que o pedagogo no atendimento educacional domiciliar adote estratégias diferenciadas (RIBEIRO; PAULA, 2012), com o uso de atividades lúdicas. Embora deva seguir os conteúdos Projeto Sareh – Paraná Documento: Serviço de Atendimento a Rede de Esco- larização Hospitalar (SAREH). Esse documento apresenta as diretivas do atendimento ao estudante hospitalizado e serve de referência para todo o Estado do Paraná. Disponível em: http://www. educadores.diaadia.pr.gov.br/ arquivos/File/cadernos_temati- cos/tematico_sareh.pdf. Acesso em: 27 fev. 2020. Você pode também acessar a pá- gina do SAREH pelo link: http:// www.gestaoescolar.diaadia. pr.gov.br/modules/faq/category. php?categoryid=99. Ali, você pode obter mais informações sobre as ações e os direciona- dores educacionais do projeto. Acesso em: 27 fev. 2020. Saiba mais Sobre a ação educativa no atendimento domiciliar do aluno debilitado por alguma patologia que o impede de se deslocar até o ambiente formal de ensino, responda: para você, qual é a importância da atuação do pedagogo no processo educativo? Atividade 3 O pedagogo no ambiente hospitalar 65 escolares, podem ocorrer situações em que se tenha de mudar al- guns direcionadores didáticos, pois a exigência de conhecimentos diversos requer a aplicação do processo de humanização e enten- dimento de diversas possibilidades educacionais para a constru- ção de saberes. O principal objetivo do atendimento hospitalar é contribuir para a melhora da saúde da criança ou do adolescente e para a sua inclusão no processo educativo e social. CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho do pedagogo com crianças e adolescentes em trata- mento de saúde exige um processo educativo que atenda à multi- plicidade de necessidades existentes nos ambientes hospitalares. A função do pedagogo nesses espaços não formais de ensino é de me- diação e transformação social. Como o estudante fica longe dos colegas da escola, do processo formal de ensino, do ambiente de socialização com a família e dos demais espaços dos quais normalmente participaria, ele pode desenvolver certa resistência ao processo educativo, pois está vulnerável e sensível; em alguns casos, sen- te dores e desconforto, dependendo do tipo de patologia pela qual passa. A educação nesse cenário se torna importante, e o ensino nos espaços hospitalares e nas instituições similares carecem de profissionais da edu- cação que se dediquem a desenvolver ações didáticas e pedagógicas que beneficiem a criança e o adolescente, motivando-os e incentivando-os a conduzir seu processo educativo. Ao pedagogo cabe atender os alunos em situação especial em toda a sua dimensão, tanto social quanto pessoal e educacional, ajudando-os a construir saberes que tornem o momento de internação ou de exclusão mais alegres e receptivos às atividades e aos encontros educativos. É essencial que o pedagogo assuma um papel na sociedade como educador e transformador de vidas e como agente de mudança. Dessa forma, é necessário mediar a aprendizagem em conjuntocom as equipes médica e educacional, adotando o compromisso de educar para a inclu- são e para a compreensão da natureza humana. Como a escola é um meio de socialização e a criança ou o adolescente está impossibilitado de conviver nesse meio, o educador pode minimizar o impacto negativo da doença e da internação por meio de atividades que desenvolvam sua razão e emoção, integrando os saberes interculturais, sociais e educacionais. 66 Pedagogia em espaços não escolares É importante lembrar que cada aluno tem especificidades e expectati- vas educacionais diferentes, o que exige que o pedagogo faça a mediação de todas as disciplinas, requerendo, para isso, estudos paralelos e, algu- mas vezes, trabalhar com professores especialistas que o orientem para contribuir no desenvolvimento do aluno. O pedagogo, portanto, nos espaços de atendimento aos alunos em tratamento de saúde, precisa observar as especificidades de cada paciente, sua patologia, seus anseios e suas frustrações, suas neces- sidades de aprendizagem e, com isso, compor uma prática docente considerando o indivíduo em todas as suas dimensões: sociais, edu- cacionais, culturais e espirituais. REFERÊNCIAS BARBOSA, F. N. R. Política de atendimento pedagógico domiciliar na rede municipal de ensino de Curitiba: uma proposta inclusiva considerando o tempo e formas de aprender. EDUCERE – IX Congresso Nacional de Educação. Curitiba: PUC/PR, p. 5402-5413, 2009. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2009/3270_1796.pdf. Acesso em: 27 fev. 2020. BRANDÃO, S. H. A. O atendimento educacional domiciliar ao aluno afastado da escola por motivo de doença. EDUCERE - X Congresso Nacional de Educação. Curitiba: PUC/PR, 2011, p. 5258-5268. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/4965_3003. pdf. 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Você pode verificar que é essencial existir uma política nacional que direcione a ação educacional para atender os pacientes, em período educacional, que não podem com- parecer ao ambiente formal de ensino, pois a inexistência de tal política deixa vulnerá- vel a obrigatoriedade dessa ação social e de inclusão; isso porque muitas instituições hospitalares e de saúde, assim como muitos estados do Brasil, ainda não possuem esse tipo de atendimento. 2. É importante ressaltarque é fundamental, ao optar pelo trabalho educacional com crianças e adolescentes em atendimento de saúde e impedidos de comparecer às aulas regulares, que o pedagogo invista em sua formação continuada, especialmente no que diz respeito a questões de inclusão e psicopedagogia, pois esses saberes irão contribuir para que o pedagogo compreenda melhor os direcionadores educacionais e estratégicos didáticos para favorecer o seu trabalho com esse perfil de aluno. 3. A importância está em conceder ao aluno em fase de tratamento de saúde a opor- tunidade de continuar seus estudos, de se sentir valorizado, e não excluído do es- paço educacional, além de poder interagir com o contexto de ensino, uma vez que o responsável (educador) estará compartilhando saberes e contribuindo para o seu crescimento educacional, pessoal e social. O papel atenderá à singularidade do aluno, possibilitando o diálogo entre o ensino, a sociedade e a humanização, ressignificando o ensino por meio da escuta pedagógica, resgatando sua autoestima e contribuindo para sua melhora. O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 69 4 O pedagogo e sua atuação no terceiro setor Fundamentado na perspectiva da educação não formal de en- sino, o pedagogo tem a possibilidade de atuar em espaços que tratam da construção das relações, circunstâncias educativas, rela- cionadas à vivência histórica e social dos indivíduos. Estamos nos referindo aqui à pedagogia social, tema que tem sua ênfase no campo social educacional, com vistas à formação dos sujeitos nos aspectos humanos e nas bases de ensino para a vida e para a cidadania. Neste capítulo, vamos explorar como o pedagogo pode compor a sua ação educativa com destaque para os princípios históricos, culturais e sociais das pessoas, visando à transfor- mação individual e social. Na pedagogia social, o processo de construção de conhecimen- to ocorre em espaços não formais de ensino e pode se processar por meio de intervenções de caráter social, considerando ambien- tes como ONGs, associações, asilos, clubes, casas de acolhimentos, fundações, e demais instituições que possibilitem os desenvolvi- mentos social, profissional, educacional. Nesse cenário, o pedagogo pode compor sua prática profissio- nal a partir de um trabalho cooperativo e colaborativo com outros profissionais, como psicólogos, sociólogos, assistentes sociais, re- creadores e profissionais da saúde, na coordenação ou no desen- volvimento de programas e projetos de natureza educativa e social. Podemos afirmar que a pedagogia social ainda é um tema bas- tante novo no Brasil no que diz respeito à atuação do pedagogo e sua formação nesse contexto. 70 Pedagogia em espaços não escolares Vamos, portanto, apresentar alguns caminhos possíveis para que você entenda as possibilidades de atuação do pedagogo que deseja atuar fora do espaço formal de ensino. Considerando, assim, que, nos espaços da pedagogia social, a intencionalidade docente deve estar presente e o pedagogo deve entender que, no ambien- te da educação social, os processos de interação e comunicação são fundamentais para o alcance dos objetivos de aprendizagem. 4.1 História da pedagogia social Vídeo Historicamente, o termo pedagogia social surgiu em uma publicação da revista Pädagogische Revue, em 1844, escrita por Karl Mager. Carac- terizando o conceito de ajuda à juventude, no ano de 1850, o peda- gogo alemão Adolph Diesterweg conceitua a pedagogia social na obra Bibliografia para a Formação dos Mestres Alemães e, em 1898, surge a primeira obra sistematizando a pedagogia social, escrita pelo filósofo Paul Natorp (MACHADO, 2008). É importante destacar que a Alemanha é o país de referência, no tema, para o mundo, inclusive para o Brasil. Um fator que refletiu, no cenário da pedagogia social, foi a Revolução Industrial e o surgimento de movimentos populares, que passaram a exi- gir maiores direitos aos indivíduos, como liberdade e direitos humanos. A necessidade de solucionar situações críticas políticas e sociais de- ram vazão a debates e posicionamentos que visavam ampliar as ações sociais por meio de atividades educacionais. Segundo Machado (2008, p. 3): coerente com o contexto alemão [...] marcado por uma situação social crítica, a Pedagogia Social enfatiza o atendimento a pro- blemas públicos da sociedade da época, relacionados à infância abandonada, a jovens inadaptados ou delinquentes, a grupos marginalizados, à terceira idade, à animação sociocultural, à edu- cação permanente. As ações visavam minimizar os impactos da Primeira Guer- ra Mundial, buscando soluções para os problemas sociais que se apresentavam. Nesse cenário, surgem alguns enfoques da peda- gogia social que se voltam para a formação política das pessoas, especialmente na década de 1930. O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 71 Com o passar do tempo, a pedagogia social foi se apresentando de diversas maneiras em diferentes países e culturas, culminando na sua forma mais conhecida de caracterização, sendo entendida, no cenário europeu, como ciência relacionada à inadaptação social, defendendo-se, assim, uma educação para a democracia (MACHADO, 2008). No período entre 1933 e 1949, com o advento da Segunda Guerra Mundial, algumas ações foram desenvolvidas para atender os indiví- duos que se encontravam desprotegidos e vulneráveis devido a inú- meras situações críticas, como desemprego e miséria. Entretanto, foi somente após a guerra que surgiram várias correntes que passaram a defender o resgate do bem-estar social com maior entusiasmo. É im- portante referenciar o que Loureiro e Casteleiro (2014, p. 75) nos apre- sentam sobre o contexto histórico da pedagógica social: o contexto histórico e social europeu, no final da Segunda Gran- de Guerra, extremamente complexo, era marcado pela ruína econômica dos países envolvidos nesse acontecimento. Este contexto desfavorável, marcado pelo desemprego, fome, miséria e fenômenos de exclusão social acabou por construir um terreno propício ao desenvolvimento da Pedagogia Social moderna. Nesse contexto, a educação social passa a ter sentido se suas ações forem direcionadas para defender os direitos humanos e o processo de cidadania. Nesse cenário, consolida-se, então, no século XX, a De- claração Universal dos Direitos Humanos e a Declaração dos Direitos da Criança e da Convenção dos Direitos da Infância, aprovadas pela As- sembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) (LOUREIRO; CASTELEIRO, 2014). Lembrando que o surgimento da pedagogia social na Alemanha torna-se referência na área e começa a se consolidar em conjunto com as ciências sociais, refletindo no reconhecimento dos movi- mentos populares que demandam pela liberdade e pelos direitos humanos (MACHADO, 2008). Com relação ao histórico da pedagogia social no Brasil, a década de 1960 traz uma conexão com as ideias de Paulo Freire e a educação popular, que atuava com a alfabetização de adultos por meio de uma metodologia de ensino que privilegiava o diálogo e a compreensão do significado da vida e da sua realidade social e cultural. Os direcionado- res pedagógicos de Freire propunham a transformação social a partir 72 Pedagogia em espaços não escolares de uma educação popular que conscientizasse as pessoas sobre suas realidades culturais e históricas. Segundo o que destacam Pinheiro e Stival (2018, p. 467): “no Brasil, a Pedagogia Social é entendida por ser uma educação que humaniza e que constrói o ser humano e o inclui na sociedade, gerando, assim, a transformação do indivíduo, possibilitando-o ser um sujeito conhece- dor e reconhecido por meio de seus direitos e deveres”. A pedagogia social tem como foco ajudar o indivíduo a compreen- der o mundo e a sociedade por meio de atividades educativas, isto é, contribuir para as pessoas refletirem, discutirem e entenderem critica- mente os problemas sociais, como eles as afetam e como podem ser tratados, a partir da participação coletiva, para melhorar a qualidadede vida. No início, as ações da pedagogia social no Brasil foram de cará- ter assistencialista, porém, com o tempo, a sociedade civil começou a participar das atividades e passou a assumir compromissos mais efetivos, por meio de práticas que atendiam pessoas em vulnera- bilidade social, programas de lazer, esporte e projetos sociais que visavam dar atenção às questões de drogas, violência infantil, vio- lência contra mulheres, desemprego etc. 4.2 Pedagogia social e os desafios de uma prática inovadora Vídeo As bases da pedagogia social estão ancoradas na teoria geral da educação, que tem como um de seus pressupostos a intencionalidade no processo de ensinar e aprender. Um dos propósitos da ação do pedagogo nos ambientes não formais de ensino, no que diz respeito aos aspectos sociais, são as intervenções educativas que visam à concretização da construção de saberes para a vida, considerando os aspectos emocionais e cognitivos dos indivíduos. Nesse sentido, muitos autores denominam o pedagogo como educa- dor social. Os autores Loureiro e Casteleiro (2014, p. 72) observam que, “hoje, a Pedagogia Social é considerada um conceito que corresponde à teoria pedagógica, enquanto a Educação Social corresponde à ação realizada sobre o indivíduo”. O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 73 Entende-se, assim, que o pedagogo é o profissional da educação e é a partir de sua ação educativa que se consolida a educação social. Des- sa forma, a educação social pode atender a todas as faixas etárias em situações sociais adversas. Ela exige do pedagogo conhecimentos que promovam o aprendizado de maneiras interativa e coletiva, especial- mente no que diz respeito à construção de relações que compreendam a igualdade e a justiça social. A prática educativa, nesse contexto, deve primar pelo fortalecimen- to do exercício da cidadania e da formação social e política dos indi- víduos. Segundo o que aponta Gohn (2010, p. 19), “a transmissão de informação e formação política e sociocultural é uma meta na educa- ção não formal. Ela prepara formando e produzindo saberes nos cida- dãos, educa o ser humano para a civilidade, em oposição à barbárie, ao egoísmo, ao individualismo etc.”. O artigo O Planejamento de projetos sociais: dicas, técnicas e metodologias, de Armin- da Eugenia Marques Campos, Luís Henrique Abegão e Maurício César Delamaro, publicado no Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon), da Universidade Federal de Minas Gerais, traz todos os passos para o desenvolvimento de proje- tos sociais. Acesso em: 10 fev. 2020. https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2154.pdf Artigo Portanto, a proposta da pedagogia social está na formação do cidadão crítico e reflexivo, que percebe seu lugar no mundo, apren- dendo com a diversidade, a partir da construção da identidade coletiva, entendendo sua história social e cultural para, com base nela, viver sua cidadania. A pedagogia social já esteve atrelada a propostas assistencialistas, po- rém, na contemporaneidade, ela se volta para o desenvolvimento social dos indivíduos e para suas formações cultural e política. Podemos desta- car que o papel do pedagogo enquanto educador social é o da interven- ção educativa participante, que deve considerar os saberes socioculturais na sua prática educativa. Com base no que destacam Cofferri e Nogaro (2010, p. 11), é importante estarmos cientes de que “a pedagogia social constitui-se no campo do conhecimento que tem por objeto a educação social do indivíduo, ou seja, o desenvolvimento da sua sociabilidade”. 74 Pedagogia em espaços não escolares Nesse sentido, entende-se que o pedagogo que atua em espa- ços sociais precisa considerar o desenvolvimento psicossocial dos indivíduos e refletir de maneira colaborativa sobre as problemáti- cas que interferem no crescimento das pessoas como seres sociais e culturais. Isso significa pensar em intervenções participantes, ob- servando o aspecto da vida em sociedade, resgatando seus direitos e também seus deveres como cidadãos. É importante lembrar que a aprendizagem significativa se consolida a partir da vivência em comunidade, com base em suas realidades, e que as demandas apresentadas pelo mundo moderno exigem pessoas mais humani- zadas, éticas e comprometidas socialmente. Nas orientações de Gohn (2010, p. 33), a pedagogia social é “um processo sociopolítico, cultural e pedagógico de formação do indivíduo para interagir com o outro em sociedade”. Dessa forma, cabe ao peda- gogo adotar uma série de práticas educativas que promovam a apren- dizagem sociocultural, envolvendo os participantes em atividades que promovam a colaboração e a interação. A intencionalidade educativa deve ser permeada de ações que instiguem o desenvolvimento de relações sociais que sejam basea- das no respeito mútuo, visando ao fortalecimento das pessoas na condição de grupo que atua para um fim comum. As orientações educativas devem primar pela formação política, a fim de produzir saberes para a civilidade (GOHN, 2010). O intuito das ações educacionais na pedagogia social é o de desen- volver no participante um olhar integrador na sua transformação, por meio de uma relação dialética, dialógica e intencional, na perspectiva da construção e compreensão da realidade social e humana. Desenvolver laços de pertencimento, de integração e de cooperação são alguns dos atributos da pedagogia social. Assim, o agir em grupos coletivos, em que os esforços sejam para a conquista de conhecimen- tos que ajudem na consolidação de uma identidade coletiva, valoriza o acervo cultural, a solidariedade, o respeito e a dignidade humana. Podemos afirmar também que um dos intentos na pedagogia social é melhorar a qualidade de vida das pessoas, segundo Passos (2018, p. 11), “com liberdade em sua plenitude e na perspectiva de avanços, impactos na sociedade, muito além dos muros institucionais (espaços escolares e não escolares) em que o educando seja o protagonista da própria história”. O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 75 Portanto, o pedagogo que atua como educador social é um pro- fissional que necessita desenvolver atividades educativas que sejam revestidas de significados culturais, por meio da participação coletiva, estimulando e promovendo ações em que o processo educacional seja ativo, interativo e colaborativo. Sua atuação deve ser pautada em pro- blematizações da realidade dos envolvidos no processo educativo, pro- vocando o diálogo e a reflexão. Conforme orienta Gohn (2010, p. 51), o pedagogo precisa ter “sensibilidade para entender e captar a cultura lo- cal, do outro, do diferente, do nativo daquela região, é algo primordial”. Para tanto, é necessário compreender com profundidade o ambiente (região), os indicadores socioculturais e econômicos, que espaços são esses, quais são os desafios que a sociedade encontra nele, quais são as carências e as experiências históricas, sociais e culturais, para, assim, poder planejar suas estratégias de ensino e de aprendizagem, qual me- todologia utilizar, quais temas serão abordados, quais serão os parcei- ros, ambientes disponíveis para desenvolver as ações etc. AÇÃO EDUCATIVA SOCIAL PROCESSO DE CRIAÇÃO E RECRIAÇÃO DO CONHECIMENTO A ação educativa social exige a criação e a recriação dos saberes. Precisa ser desenvolvida estimulando a participação ativa dos sujeitos envolvidos na criação constante de novos conhecimentos. Um dos maiores objetivos da pedagogia social é o desenvolvi- mento, pelo educando, de uma consciência crítica. Quando este tem consciência de seu espaço social, cultural e histórico, se torna capaz de transformar e agir a partir de diferentes olhares para a sua realidade, ou seja, ser o protagonista da transformação social, política, econômica e educacional. É importante observar que, com o passar dos anos, a pedagogia so- cial vem se formando como ciência e buscando alternativas educativas a partir de propostas cujas intervenções se concretizam consideran- do aconstrução dos saberes educacionais, sociológicos, psicológicos e filosóficos, aprendidos pelo pedagogo na sua formação, com vistas à formação cidadã; destacando que as conexões com a educação formal favorecem essa formação. Na perspectiva da educação cidadã, Gohn (2010, p. 33) aponta que “na educação não formal, essa educação volta-se para a formação de 76 Pedagogia em espaços não escolares cidadãos(ãs) livres, emancipados, portadores de um leque diversificado de direitos, assim como de deveres para com os outros”. Assim, o caráter educativo tem função interventiva e considera o ensino a partir de uma visão antropológica, valorizando a educa- ção política das pessoas, assim como as competências sociais. É, portanto, no nosso entender, uma ação dos processos educativos, com a intenção de integrar os saberes teóricos com as possibilida- des de sua aplicabilidade na realidade dos estudantes ou envolvi- dos nos programas de educação social. A educação social vem dar suporte a várias necessidades que se apresentam nas sociedades. Por ser menos formal, tem a possibilidade de maior envolvimento dos indivíduos, o que permite maior flexibilida- de dos espaços onde as ações podem ser desenvolvidas. Alguns cenários nos quais se entende ser possível atuar com a pe- dagogia social é a atenção ao adolescente e à criança, nos aspectos de desestruturação familiar, toxicomanias ou alcoolismo, violência sexual, delinquência de jovens, saúde, educação para o trabalho, minorias ét- nicas, público carcerário, feminicídio e, também, indivíduos que, de al- guma forma, encontram-se em situação de exclusão social. Para atender a essas questões, espaços como teatros, circos, casas culturais, sociedades, associações, praças, clubes etc. podem promover atividades socioculturais e educacionais, como: gincanas, jogos, espa- ços para leituras, feiras educativas, gastronomia etc. Enfim, são várias as situações que carecem da atuação do pro- fissional de pedagogia, que pode atuar a partir da aplicação das teorias da educação e suas metodologias correspondentes, visan- do ao desenvolvimento comunitário. Vivemos em um momento no qual a exclusão social é latente e afe- ta muitas sociedades. Sella (2002, p. 13) aponta que “a exclusão social é fruto amargo da sociedade moderna, apesar de tantos avanços em seus vários setores”, ela apresenta muitos desafios para a sociedade. Ainda nas palavras do autor: não se trata apenas de uma exclusão do mundo do trabalho, considerada uma das consequências mais duras do capitalismo neoliberal, através do fenômeno do desemprego, mas também da exclusão dos outros bens básicos: a saúde, a educação, a ali- mentação, a moradia, a terra, o lazer etc. Trata-se de exclusão de O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 77 dignidade humana, criando uma enorme massa de descartáveis, os sem-nada. (SELLA, 2002, p. 13) Esse cenário exige que o pedagogo seja comprometido com o processo educativo com ênfase na ação para a transformação so- cial. Trabalhando colaborativamente para encontrar soluções para os problemas sociais, conectando-se com as estruturas culturais. Nesse sentido, muitos profissionais atuam com a ação social por meio de projetos de voluntariado. Entretanto, muitas instituições como ONGs, sindicatos, movimentos sociais e associações comunitárias, que lutam contra a exclusão e a desigualdade étnica e social, estão absorvendo as competências dos pedagogos para formar para a cidadania plena. Aqui, cabe ressaltar a importância da pedagogia social como educação libertadora, que prepara os sujeitos para a transforma- ção política e social. Graciani (2006, p. 4) observa que um projeto social deve “realizar-se no domínio específico da prática social com classes sociais populares, a partir de um trabalho político educacio- nal de libertação popular”. O foco da ação educativa nesse contexto se baseia no protagonismo da memória histórica e na identidade coletiva dos envolvidos, assegu- rando o entendimento da dimensão educacional e da dinâmica cultu- ral. Para Graciani (2006, p. 4), o pedagogo ao atuar na pedagogia social deve perceber a possibilidade entre a capacidade lógica de compreender os liames capitalistas e a valorização da participação comuni- tária e, autoestima, autovalorização, e autoconfiança da au- todeterminação de sujeitos que tentam construir uma nova ordem social, econômica e cultural. Portanto, podemos afirmar que buscar alternativas para minimizar as desigualdades sociais, a superação de vulnerabilidade econômica e educacional, estabelecendo metas para atingir o bem-estar social, é a essência do papel do pedagogo social. No cenário brasileiro, as desigualdades são apresentadas dia- riamente na mídia. Situações de privação alimentar e de saúde são comuns em nosso país, o que exige um atendimento educacional qualificado, a fim de envolver os indivíduos nas discussões e nos projetos para a transformação. Liames: relação, ligação ou vínculo. Glossário Acesse o relatório da Oxfam Brasil e saiba mais sobre essa organização da sociedade civil brasi- leira, que direciona suas atividades no combate à desigualdade social. Disponível em: https://oxfam. org.br/justica-social-e-econo- mica/forum-economico-de-da- vos/tempo-de-cuidar/. Acesso em: 11 fev. 2020. Curiosidade 78 Pedagogia em espaços não escolares É importante perceber que a pedagogia social deve ser pensada e entendida como área de conhecimento. Desse modo, precisa de pro- fissionais engajados e comprometidos com uma educação de qualida- de, que entendam a realidade social das pessoas com quem vão atuar, apontando caminhos para a promoção da mudança. Para consolidar uma ação educativa atendendo aos princípios da pedagogia social, nas considerações de Graciani (2006, p. 5), é essen- cial “de um lado, buscar conhecer a sabedoria popular, expressa em seus códigos, dramaturgia, religiosidade, produtos culturais e senso comum, base fundamental que deve servir de plataforma para ele (in- divíduo, grupo, classe popular)”. Isso quer dizer que o pedagogo, como educador social, precisa valorizar os aspectos culturais das pessoas na sua essência, nas suas estratificações e compreender a essencialidade do trabalho com a coletividade, os contextos ideológicos das classes populares e seus desafios enquanto cidadãos. Temos, ainda, um segundo ponto na consolidação da ação educati- va, que trata do trabalho enquanto libertação social, entendendo que os indivíduos não possuem identidade única (GRACIANI, 2006), mas manifestam-se por meio de diversas formas. Assim um trabalho que promova, nessas pessoas, a construção de saberes que levem à conso- lidação crítica e reflexiva da realidade pode proporcionar a transforma- ção. Isso pode ser conquistado a partir da prática num movimento de ação e reflexão constantes. Significa que a prática docente do pedagogo deve ser também de ação e de reflexão, tendo como objeto de atuação a percepção da reali- dade vivida pelo grupo ou pessoa com quem atua. Nas palavras de Gra- ciani (2006, p. 6), “trata-se de compreender cada fenômeno particular dentro do movimento que o relaciona com a totalidade social em um movimento histórico concreto dado”. Referenciando Paula e Machado (2009, p. 7), “é preciso que as teo- rias e os conhecimentos produzidos respeitem as diferenças culturais e as condições de vida dos sujeitos envolvidos”. O blog do ChildFund Brasil apresenta alguns exemplos e ativida- des desenvolvidas em projetos que envolvem a educação social no Brasil, para que você possa compreender o papel do pedagogo e suas oportu- nidades de atuação e de transformação. Disponível em: https://www. childfundbrasil.org.br/blog/ conheca-6-exemplos-de-projetos- -sociais-que-transformam-vidas/. Acesso em: 7 fev. 2020. Saiba mais O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 79 Assim, o desenvolvimento das capacidades e potenciais cognitivos e emocionais são essenciais, a fim de mostrar para os estudantes as articulaçõese relações existentes entre o saber e o processo de trans- formação social, percebendo-se como sujeito histórico por meio de experiências reais, rompendo com medos, inseguranças e desenvol- vendo confiança e autoestima. Essa maneira de educação para a transformação apresenta o viés de uma ação educativa inovadora, que transponha o olhar conservador e memorizador do ensino conservador adotado pelo contexto do am- biente de ensino tradicional, em que as concepções de ensino são frag- mentadas, reprodutivistas e ancoradas em um movimento disciplinar. A atuação do pedagogo social, na contemporaneidade, exige romper com o olhar para o aluno como receptor de informações, passivo, privado de criticidade, de participação na construção de seu próprio conhecimento. O princípio maior da pedagogia social é se contrapor. Sobre isso, Graciani (2006, p. 8) pondera que “radicalmente à educação domes- ticadora, bancária e fragmentada”, a proposta de um trabalho cola- borativo, crítico e integrado, na educação social, deve romper com a educação bancária apontada por Paulo Freire. Para Freire (1990, p. 46), o indivíduo deve ser visto “como um ser da práxis, o homem, ao res- ponder aos desafios que partem do mundo, cria seu mundo: o mundo histórico-cultural”. O século XXI exige novo comportamento frente ao processo edu- cativo, assim, velhos modelos de ensino precisam ser substituídos por abordagens metodológicas que privilegiem ações colaborativas, com- pondo a produção de conhecimentos que promovam a autonomia dos estudantes, de maneira criativa. A proposta inovadora de ensino exigida nos ambientes de educação social requer do ensino a construção de visão de mundo, como um todo integrado (CAPRA, 1996). Veja a Figura 1 a seguir para compreender o ensino conservador e o inovador no contexto da educação social. 80 Pedagogia em espaços não escolares Figura 1 Ação educacional conservadora e inovadora ENSINO INOVADOR • Construção e reconstrução de saberes. • Estudantes participantes e construtores de seus conhecimentos de maneira interativa. • Práticas educativas que gerem a solução de problemas. • Professor mediador e integrador do processo de ensino colaborativo. ENSINO CONSERVADOR • Reprodução e memorização dos saberes. • Cópia de conteúdos prontos e acabados. • Aluno passivo (receptor de informações). • Professor como único detentor do conhecimento. Fonte: Elaborado pela autora. A ideia é a conexão entre o domínio material e social, o propósito do novo olhar inovador de ensino está em educar para a vida. Nas pa- lavras de Behrens (2006, p. 15), “Os seres humanos precisam retomar a visão de contexto, de conjunto e o significado das relações entre as partes e o todo”. O processo de educação social, enfocando a construção de saberes de maneira participava e ativa, requer a adoção de uma proposta me- todológica de ensino que privilegie a pesquisa, por meio do estímulo ao espírito investigativo das pessoas, possibilitando a interpretação do conhecimento, conectando suas realidades sociais e culturais e o obje- to de investigação. O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 81 Na intencionalidade do ensino social, o pedagogo precisa propor- cionar uma investigação orientada, tornando o sujeito produtor de no- vos saberes, superando a visão de reprodução do conhecimento para a construção de maneira autônoma e crítica. Para Behrens, o pedagogo social, ao provocar os indivíduos a in- vestigarem a partir de uma problemática, contribui para a superação dos desafios sociais, pois “o ensino com pesquisa pode provocar a su- peração da reprodução para a produção do conhecimento, com auto- nomia, espírito crítico e investigativo. Considera o aluno e o professor como pesquisadores e produtores dos seus próprios conhecimentos” (BEHRENS, 2005, p. 56). Nessa forma de ensinar para a vida e para a cidadania, é possível atender a toda uma diversidade de situações econômicas, sociais ou educacionais, por meio de projetos que promovam o desenvolvimento humano. Lembrando que as pessoas são diferentes, possuem caracte- rísticas, experiências, desejos, contextos, expectativas e sonhos diver- sos que podem e devem ser respeitados mutuamente. Dessa forma, a proposição do trabalho com projetos que propiciem a investigação e a construção coletiva de saberes é um caminho meto- dológico possível e pode favorecer uma aliança entre os protagonistas do trabalho educativo social. A partir do entendimento da realidade do grupo com que vai atuar no processo da educação social, o pedagogo pode partir para a elabo- ração e desenvolvimento de projetos sociais que permitem a concre- tização das ações planejadas, considerando o sentir, pensar e agir de forma dialética e colaborativa. O olhar para os cenários sociais, culturais e históricos dos indivíduos devem estar presentes a fim de flexibilizar as ações que provoquem a leitura de mundo e que agucem para a mudança, provocando ações e reações que sejam construtivas, para que os indivíduos mantenham-se atuantes em prol de uma sociedade mais justa. Na próxima seção, vamos entender as possibilidades na ela- boração e desenvolvimento de projetos sociais à luz de uma ação educativa social inovadora. Assista ao vídeo do professor Moacir Gadotti, que trata dos princípios da educação social e de seus direcionadores educacionais, apresen- tado no IV Congresso da Pedagogia Social. Disponível em: https://www.you- tube.com/watch?v=XGFJR0g-Njc. Acesso em: 27 fev. 2020. Vídeo Recomendamos que você faça a leitura da obra Educação não formal e o educador social, da autora Maria da Glória Gohn. Neste livro, a autora traz os fundamentos da educação social e uma orientação detalhada do pedagogo atuando como educador social. GOHN, M. G. São Paulo: Cortez, 2010. Livro O processo de construção do conhecimento no atual cenário educacional tem como ponto de partida a conexão entre teoria e prática. Nesse sentido, reflita: como o pedagogo social pode e deve direcionar sua ação educa- tiva considerando essa conexão? Que caminhos educativos o pedagogo deve adotar para que essa conexão ocorra no processo educativo da pedagogia social? Atividade 1 82 Pedagogia em espaços não escolares 4.3 Caminhos para a elaboração de projetos sociais e seus desafios Vídeo No Brasil, os projetos sociais são, em sua maioria, financiados por empresas nacionais e internacionais, fundações e demais entidades constituídas pela sociedade civil, denominadas de terceiro setor. Dessa forma, diversas associações e entidades sobrevivem com o apoio e o aporte financeiro das instituições citadas acima, conforme aponta Gohn (2010, p. 76): “este conjunto de entidades patrocina inú- meros projetos sociais, projetos formulados com premissas associa- tivistas destinadas a clientelas carentes, num universo multifacetado das experiências, inscrevendo suas atuações no universo das políticas e responsabilidade social”. No artigo Pedagogia social: impasses, desafios e perspectivas em construção, publicado no I Congresso Internacional de pedagogia Social, em 2006, Maria Stela Santos Graciani trata da importância da pedagogia social e da elabora- ção de projetos sociais a partir de intencionalidade docente, bem como as perspectivas da consolidação de um projeto social. Acesso em: 10 fev. 2020. http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=MSC0000000092006000100038&lng=en&nrm=iso Artigo Porém, é importante que, ao atuar no cenário da educação social, o pedagogo compreenda a diferença entre os projetos sociais mantidos por instituições, empresas e demais entidades, com as propostas da educação social praticadas pelos movimentos sociais e algumas ONGs. Segundo Gonh (2010, p. 77), “nestas últimas, o importante é a constru- ção de dadas metas e objetivos geradores de conhecimento e cons- ciência social”. Para que as ações se concretizem atendendo a metas e objetivos, é essencial o desenvolvimento de um projeto com ênfase na realidadee problemática da proposta da ação educacional social. Nas palavras de Gohn (2010, p. 78), algumas ONGs argumentam que o projeto social pre- cisa atender aos desejos das pessoas, “elas afirmam que o projeto social nasce do desejo de uma ou várias pessoas de mudar a realidade em que vivem”. Para tanto, o pedagogo social precisa conhecer a realidade social, econômica ou educacional e levantar os desafios e problemas existentes. Descreva brevemente como você, na condição de pedagogo, pode construir caminhos para contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária. Atividade 2 O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 83 Os projetos podem contribuir para que os envolvidos tenham mais consciência dos problemas sociais e, de maneira investigativa e cola- borativa, busquem soluções viáveis. Por meio da troca de ideias, dis- cussões articuladas e monitoradas pelo pedagogo, que envolvam as pessoas que desejam promover uma transformação, é possível definir quais são os caminhos que precisam ser seguidos, quais as priorida- des, as estratégias e as ações, os encaminhamentos metodológicos e, principalmente, um critério de avaliação, para assim, poder adequar rotas de trabalho a fim de promover a melhoria do processo. Para Cofferri e Nogaro (2010, p. 13), o papel do pedagogo social, no que diz respeito a elaboração e desenvolvimento de projetos sociais, envolve algumas funções e finalidades, como “estimular a detecção e resolução de situações de risco ou exclusão social, promovendo ativi- dades que previnam as mesmas; estimular a elaboração de projetos de intervenção comunitários com a participação dos usuários e favorecer a participação dos sujeitos em tarefas comunitárias”. Além desses aspectos, é essencial que o relacionamento entre os grupos seja facilitado, que possíveis parcerias possam ser formalizadas e que a consolidação de uma rede social seja fortalecida a fim de atuar em prol de objetivos comuns, como na prevenção de situações de risco. Vamos exemplificar: uma família que mora em uma casa com apenas três cômodos, em um bairro afastado do centro da cidade, composta de uma mãe viúva, que trabalha como empregada do- méstica e não possui escolaridade, com três filhos pequenos em fase escolar, e que cuida de uma mãe idosa com a saúde debilitada. Esse bairro não tem escolas, creches nem unidades de saúde. Como as crianças se deslocam para a escola mais próxima? Todos têm acompanhamento à saúde básica? Como a mãe atende às crianças, à saúde da sua mãe e se desloca para o trabalho? Quais são os benefícios a que tem acesso, como, por exemplo: a mãe idosa tem direito à seguridade social? Com quem contam em momentos e maior urgência? Nesse contexto, percebemos a existência de fragilidades sociais. Podemos entender que a falta de recursos da família coloca-a à exposição de exploração, negligência, violência, fome, reforçando um cenário de violações aos direitos dos cidadãos. Hoje, muitas famílias estão expostas a riscos quando alocadas em encostas, em casas construídas com materiais inadequados, na beira dos rios, sem saneamento básico, água e luz etc. Lembrando que as pessoas são diferentes, a pluralidade e a multirreferencialidade social e cultural devem ser respeitadas e va- lorizadas, portanto, o projeto deve enobrecer a diversidade cultural, enfatizando a prática cidadã. O envolvimento das pessoas deve par- No vídeo Passo a passo para você montar seu pro- jeto social, publicado pelo canal Danilo Ladentim, são apresentados, de maneira sintética, quatro passos para dar start ao seu projeto social. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=eugTJjC- gKlU. Acesso em: 10 fev. 2020. Vídeo 84 Pedagogia em espaços não escolares tir do reconhecimento de sua cultura, sua ideologia e seus princípios de vida, sua realidade de moradia, estágio educacional, de saúde, reconhecendo-se a multiculturalidade entre os indivíduos que partici- pam da ação educacional social. Segundo aponta Gohn (2010, p. 81), o pedagogo ao trabalhar com projeto social deve dar atenção à troca compartilhada, ou seja: “deve haver diálogos transversais, cruzamentos e inter-relações de forma a criar pontes entre as diferentes tradições e práticas culturais existen- tes. Devem-se criar redes tecidas por fios que promovam esta interliga- ção e a conexão necessária”. Na fala de Gohn (2010), percebemos que a proposta de desenvol- vimento de projetos deve fazer com que o indivíduo se perceba como ser pleno, envolvido com o todo do processo social e educativo, não de maneira fragmentada, mas compondo uma rede de respeito, solidarie- dade, humanização e inclusão. O trabalho do pedagogo social está em emancipar os protagonistas dos projetos das garras da exploração e atuar em prol de uma construção de significados sociais e educacionais com características de libertação, bem como a compressão do seu papel como agente social e transformador. Quando as pessoas participam ativamente da transformação, elas passam a desenvolver a sua relação com o outro, pensar e agir criticamente, olhar além do espaço onde está. Seu olhar deve estar na democracia integral, en- quanto sujeito socializador e ciente do valor das expressões populares. Quando falamos em transformação no papel do pedagogo, estamos nos referindo à sua prática no sentido de planejar e organizar ideias, compreender a realidade do contexto em que está inserido, analisar e elaborar uma proposta com intencionalidade de mudança. O pedagogo pode contribuir com um grupo de pessoas na elabo- ração de uma proposta de aprendizagem que se transforme em ação concreta. Por exemplo, acolher as pessoas, compreender suas vulnera- bilidades e buscar alternativas de saberes, bem como de oportunida- des para que esses indivíduos tenham acesso a materiais de leituras, bibliotecas, museus, espaços recreativos e culturais. Sugerimos que você assista ao vídeo Pedagogia social na rua – portal do saber, publicado pelo canal Portal do Saber. Ele apresenta experiências de educadores sociais em projetos com pessoas que vivem na rua. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=rUEcWbJT9FE. Acesso em: 10 fev. 2020. Vídeo O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 85 TRANSFORMAÇÃO SOCIAL CIDADANIA E HUMANIZAÇÃO PROJETOS SOCIAIS VISAM A: Importante Dessa forma, a base do relacionamento entre educador social e estudantes deve ser formada pelo diálogo, pela interação, pela com- preensão do eu e do outro, a partir de uma gestão democrática, por meio de uma relação ativa e crítica, onde o compartilhamento de signi- ficados e expressões sejam insumos para a consolidação de uma rela- ção de construção social e de práticas cidadãs. Porém, é muito importante que o pedagogo compreenda que exis- tem vários desafios a serem superados quando tratamos da educação social, pois os envolvidos – crianças, adolescentes e até mesmo adultos – possuem características e perfis de pessoas em situação de vulne- rabilidade econômica e estão, muitas vezes, inseridos em ambientes familiares desestruturados. Assim, em muitas situações, podem ser agressivos e agitados, o que pode exigir do pedagogo uma atuação que promova a redução desse cenário. Além disso, por tratar-se de ações que podem envolver uma multi- plicidade de atores, em algumas ocasiões, o papel do pedagogo não é reconhecido. Muitos profissionais rejeitam a atuação e a competência do pedagogo nos espaços que tratam de programas sociais e inclusivos. Segundo o que aponta Campos (2018, p. 50), “as dificuldades en- contradas são as relações entre os profissionais que trabalham juntos, pois, por se tratar de uma área muito nova de atuação do pedagogo, ele ainda é visto com muita rejeição”. Ao tratarmos dos caminhos da pedagogia social, é essencial destacar- mos que também existem desafios a serem superados pelo educador social, como, por exemplo, as condições que muitas vezes se apresen- tam para o trabalho do educador social, como infraestrutura inadequa- da, baixossalários, falta de autonomia, de materiais de apoio e didático. 86 Pedagogia em espaços não escolares Esses aspectos dificultam o trabalho educativo, pois muitas institui- ções que desenvolvem o trabalho social dependem de apoio finan- ceiro, que, na maioria das vezes, é restrito ou inexistente. Um fator também relevante é a falta de conexão ou integração entre as áreas de conhecimento envolvidas com os programas so- ciais, como a área da saúde, social e educacional. Muitas vezes, falta planejamento ou até mesmo integração entre as equipes e áreas multidisciplinares, o que gera um trabalho estressante e desafia- dor para o educador social, que precisa trabalhar sem contar com o apoio e participação de todos. Aqui, cabe lembrar o que já apontamos anteriormente: é essen- cial que o pedagogo, ao optar por atuar no contexto da pedagogia social, tenha claro os fundamentos e entendimentos dos contextos cognitivos e também emocionais, para, assim, manter uma postura clara, confiante e ética frente aos desafios. Um aspecto que precisa ser mencionado como mais um desafio é que os locais onde estão estabelecidas as instituições de apoio à vulne- rabilidade social são em comunidades carentes e, em alguns casos, dis- tantes e de difícil acesso, o que se torna, para o pedagogo, uma situação a ser superada. Entretanto, embora existam muitas questões a serem superadas, o pedagogo atuando em programas sociais pode fortalecer os laços familiares e sociais, por meio da organização de sua ação docente, conscientizando sobre a importância do conhecimento, articulando o individual e o coletivo na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Recomendamos a leitura do artigo A pedagogia social: os precursores e suas in- fluências, publicado pela Revista de Pedagogia Social, em 2018. Nesse artigo, Jacy Passos apresenta com mais detalhes o histórico da pedagogia social e suas influências nos países europeus e na América Latina. Acesso em: 10 fev. 2020. http://www.revistadepedagogiasocial.uff.br/index.php/revista/article/view/114 Artigo Como o pedagogo pode contribuir com seus saberes e experiências na elaboração de um projeto social e qual o significado desse projeto para a concretização da ação educativa que promova a transformação social? Relate brevemente. Atividade 3 O pedagogo e sua atuação no terceiro setor 87 CONSIDERAÇÕES FINAIS Atuar no contexto da pedagogia social exige do pedagogo um papel de mediador do processo de ensino e aprendizagem a partir de ações que valorizem a cultura e o histórico de vida das pessoas envolvidas na educação social. Os projetos e as ações devem ser pautadas no diálogo e nas intera- ções dos estudantes a fim de que sejam protagonistas das transforma- ções e na busca pela emancipação humana. As atividades focadas na realidade dos indivíduos precisam conscientizar que é possível mudar, e que essas mudanças dependem das atitudes e comportamentos das pessoas envolvidas. O processo educativo deve adotar metodologias que promovam a construção crítica e reflexiva de saberes sobre a sua própria realidade, e que passem a agir com autonomia e sensibilidade para pensar e agir em sociedade. A intencionalidade pedagógica deve conduzir para a investigação dos problemas das realidades sociais e econômicas, vigentes no grupo en- volvido no processo educativo, de maneira que se organizem a partir de objetivos comunitários e pensem em ações voltadas para encontrar solu- ções dos problemas existentes de maneira integrada. A intervenção social deve primar pela construção da cidadania, por meio da atuação do educador social que deve adotar uma postura de mediações concretas, valorizando significações sociais e culturais. Lem- brando que uma prática docente deve ser inovadora, permitindo a partici- pação ativa dos estudantes. A metodologia deve ser de investigação sobre o concreto, partindo do entendimento de que as pessoas, ao se apropria- rem dos novos conhecimentos, podem decidir como sua aplicabilidade poderá transformar a realidade. É importante que o pedagogo entenda que, ao optar pelo trabalho educacional no cenário da pedagogia social, encontra o desafio de fomen- tar a capacidade reflexiva e crítica das pessoas, promovendo a compreen- são dos sujeitos que pertencem a um contexto social, político, econômico e educacional e que devem ser agentes que buscam as melhorias na so- ciedade de maneira individual e coletiva. Assim, a atuação do pedagogo social fundamenta-se na construção da cidadania, na justiça e nos direitos humanos, estabelecendo uma relação de respeito, de troca e de confiança com as pessoas. 88 Pedagogia em espaços não escolares REFERÊNCIAS BEHRENS, M. A. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2005. BEHRENS, M. A. Paradigma da complexidade: metodologias de projetos, contratos didáticos e portfólio. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2006. CAMPOS, T. F. A. Pedagogia social: desafios e possibilidades do pedagogo no centro de referência de assistência social (CRAS) no Município de Ipixuna do Pará. TTC. UFPA – Pará, 2018. Disponível: https://bdm.ufpa.br:8443/jspui/bitstream/prefix/965/1/TCC_ PedagogiaSocialDesafios.pdf. Acesso. 15 de dezembro 2019. CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1996. COFFERRI, F. F.; NOGARO, A. 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O pedagogo como educador social deve direcionar suas atividades a partir do entendi- mento da realidade social e cultural dos envolvidos no processo educativo, ter clareza dos desafios, dos problemas que enfrenta e planejar sua ação educativa com vistas à liberdade social, permeando o ensino por meio de reflexões críticas e construtivas, fazendo com que os estudantes percebam-se como cidadãos, comprometidos com seus deveres e cientes de seus direitos, a fim de, com base no entendimento de suas realidades, trabalhar para a transformação. 2. Certamente o pedagogo pode favorecer a construção de uma sociedade mais justa e igualitária a partir de um trabalho comprometido com a educação, fazendo com que sua ação docente seja ética e envolvida com a prática pedagógica. Esta não pode ser apenas a reprodução de conteúdos, mas, sim, a construção de saberes que sejam significativos para os alunos. A transformação se concretiza a partir do entendimento da realidade e de como podemos mudá-la. Um professor que só está para cumprir o conteúdo estabelecido na matriz curricular não atende mais ao contexto atual. É preci- so ir além dos conteúdos, transpor o processo de ensinar para o de aprender, ou seja, é importante que o aluno aprenda para a vida, para o convívio social. 3. A elaboração e o desenvolvimento de um projeto social permitem que a constru- ção dessa proposta de transformação seja coletiva e colaborativa, além de serem essenciais para sistematizar as ações educativas e planejar as atividades e as intencionalidades de ensino de maneira a acompanhar o desenvolvimento das atividades. Ademais, os desafios e as conquistas, quando registradas, permitem realinhar as intenções de aprendizagem favorecendo o monitoramento e a me- lhoria do processo educativo. 90 Pedagogia em espaços não escolares 5 Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares Atuar em museus, nas instituições que ofertam cursos de educação profissional – nas modalidades de capacitação, qualificação e técnico –, e na ressocialização de detentos também é possível para o pedagogo. Esses ambientes educacionais desenvolvem atividades que promovem a sistematização dos saberes por meio de ações dirigi- das que ampliam as oportunidades de aprendizagem para os es- tudantes envolvidos. Atividades como palestras, oficinas, gincanas, projetos, contação de histórias, visitas monitoradas ou dramatiza- das, jogos, seminários e dinâmicas são alguns dos exemplos que podemos citar de atividades para o pedagogo desenvolver com as pessoas que estão inseridas nos espaços mencionados. Nos museus, as atividades podem estar de acordo com as bases curriculares, quando compactuadas com as escolas e suas equipes pedagógicas. Museus são ambientes ricos em materiais e acervos históricos e culturais que possibilitam a pesquisa e o aces- so a obras por meio de interfaces dos modelos pedagógicos e da intencionalidade de aprendizagem dos alunos visitantes. No cenário das instituições que ofertam cursos de educação profissional, a atuação do pedagogo é diversificada, pois essas instituições promovem várias modalidades de ensino, tanto formal como não formal. O trabalho nesses espaços abre uma série de possibilidades educativas, desde a atuação em projetos específicos até o monitoramento e planejamento dos processos acadêmicos. Programas com foco na profissionalização requerem do pe- dagogo conhecimentos específicos quanto às legislações e di- recionamentos metodológicos, por se tratar de desenvolver nos estudantes competências profissionais que contribuam para que ele conquiste seu espaço no mundo do trabalho. Já no caso do ensino no sistema penitenciário, o pedagogo certamente encontrará muitos desafios devido ao perfil dos estudantes e da infraestrutura, muitas vezes frágil e carente de materiais didáticos e recursos. Entretanto, as oportunidades e as conquistas são também motivadoras para que o pedagogo faça a diferença na vida de pessoas que, por meio da educação, podem ter acesso a um espaço de reflexão, de aprendizagem, de transformação e de resgate da cidadania. Neste capítulo, portanto, trataremos de mais três possibilida- des de atuação do pedagogo fora dos espaços formais de ensino: as atividades em museus, a formação profissional e a promoção da transformação por meio da educação no sistema carcerário. Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares 91 Já no caso do ensino no sistema penitenciário, o pedagogo certamente encontrará muitos desafios devido ao perfil dos estudantes e da infraestrutura, muitas vezes frágil e carente de materiais didáticos e recursos. Entretanto, as oportunidades e as conquistas são também motivadoras para que o pedagogo faça a diferença na vida de pessoas que, por meio da educação, podem ter acesso a um espaço de reflexão, de aprendizagem, de transformação e de resgate da cidadania. Neste capítulo, portanto, trataremos de mais três possibilida- des de atuação do pedagogo fora dos espaços formais de ensino: as atividades em museus, a formação profissional e a promoção da transformação por meio da educação no sistema carcerário. 5.1 Atividades pedagógicas em museus Vídeo A formação cultural, social e política deve iniciar no ambiente escolar por meio de atividades que são desenvolvidas dentro e fora da sala de aula. Contudo, outros espaços, como museus, po- dem potencializar a construção de conhecimentos por meio do contato mais próximo com o patrimônio cultural e histórico. O museu, em conjunto com a escola, pode cumprir tarefas sistematizadas de ensino, cumprindo um papel, além do educa- cional, social e complementar aos estudos. Ele favorece o processo de aprendizagem por meio de tarefas e ações específicas que, bem estruturadas, permitem maior aproximação dos estudantes com os objetos de estudo. Ao buscar aprofundamento de determinado con- teúdo formal de ensino, o museu pode permitir que o aluno entenda melhor determinado tema. Marandino (2008, p. 15) destaca que a conexão da visita ao mu- seu e o aprofundamento dos saberes ocorre “quando os alunos o visitam com uma atividade totalmente es- truturada por sua escola, buscando aprofundamento de um determinado conteúdo conceitual (ou, como muitos professores dizem, tentando ver na prática o que têm em teoria na sala de aula)”. Acesse o site do Museu Oscar Niemeyer e acompanhe as ações educacionais que são desenvolvidas e mediadas por educadores. São universitários das áreas de artes visuais, turismo, história, design, teatro e pedagogia. Disponível em: https://www. museuoscarniemeyer.org.br/ acaoeducativa/acao-educativa. Acesso em: 28 fev. 2020. Site O museu pode ser um ambiente complementar de aprendizagem, pois o saber não se constrói somente na relação entre professor e alu- no, mas também em espaços culturais e sociais onde o contato com outras realidades permite maior compreensão da educação sistemati- zada, possibilitando a ressignificação dos conhecimentos. Além de servir como espaço de contato cultural, o museu possi- bilita atividades de lazer, como o próprio passeio, contação de his- tórias, jogos, atividades lúdicas, gincanas, dinâmicas etc. Para Souza (2016, p. 43): “a aprendizagem acontecena interação do sujeito com o conhecimento. Da mesma forma, a cultura é vivida, ela não é transmitida, ensinada. Logo, o museu é um espaço de cultura, onde o sujeito interage com o objeto museologizado, questionando-o, analisando-o, ressignificando-o”. Assim, compreendemos o museu como espaço de construção de saberes significativos, por apresentar fontes diversificadas de aprendizagens. Quando em conjunto com a escola, a equipe do museu, sob coordenação do pedagogo, disponibiliza programas educativos dirigidos ou elaborados de maneira específica, como uma oficina, por meio de atividades que explorem e conciliem os conteúdos estudados no ambiente formal de ensino. Entendemos que o pedagogo que atua em museus pode aproximar a realidade histórica ao processo de aprender. Por exemplo, vamos pensar em um(a) professor(a) que está de- senvolvendo atividades de Língua Portuguesa em sala de aula sobre gêneros textuais e as expressões sociais elaboradas por meio de obras de artes, como esculturas, pinturas, partituras, registros docu- mentados etc. É possível compor uma ação educativa em que, colaborativamen- te, escola e museu estruturem uma oficina, composta da análise das obras dispostas no museu, mate- riais de apoio como folhetos, infor- mativos e demais atividades que envolvam os alunos para me- lhor compreensão do conteúdo estudado. Essa atividade pode ser desenvolvida pelo pedagogo que atua no museu, em conjunto com o pedagogo da escola, por meio de uma visita orientada, estimulando nos estudantes a exploração do acervo do museu, que servirá de estrutura didática para a composição da atividade educativa. Mon key B usin ess Imag es/S hutte rstoc k 92 Pedagogia em espaços não escolares Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares 93 Como espaço cultural, o museu permite a interação dos sujeitos com os conhecimentos sistematizados, assim, o saber é vivido pelo estudante. Souza (2016, p. 43) destaca que “é possível compreen- der o museu como um espaço potencialmente educativo. Como espaço de cultura, onde o sujeito interage com o conhecimento e com a história da humanidade, o museu apresenta uma dimensão educativa que é intrínseca à sua estrutura, aos seus objetivos, ao seu papel social”. É a partir do século XIX que ganha força o espaço educativo pro- porcionado pelos museus como ambiente acessível para promoção do ensino e aprendizagem. Esse contexto abre oportunidades para o pedagogo atuar como mediador de estratégias didáticas nesses ambientes, em parceria não apenas com escolas formais, mas tam- bém com outras instituições educativas de cunho social e cultural, como ONGs, fundações etc. Desse modo, o pedagogo pode desenvolver atividades como pla- nejamento e avaliação das ações desenvolvidas dentro dos museus de cunho educativo, como mediação de visitas, oficinas de criação e con- tação de histórias, mostras culturais, palestras, simpósios e outras que podem envolver pais, alunos e comunidade. A compreensão disso por parte do cenário educativo formal favore- ce que o pedagogo, ao atuar nos museus, possa contribuir para dinami- zar o processo educativo. Isso pode ser exemplificado pela relação que tais atividades proporcionam entre o saber sistematizado e o histórico, mantendo um diálogo criativo e integrador entre as obras apresenta- das e os conteúdos estudados em sala de aula, ou seja, contribuindo para um ensino contextualizado a situações reais. Porém, é essencial que a mediação seja formada a partir dos interesses do público. Para que isso ocorra o pedagogo precisa planejar a atividade, definir estratégias metodológicas e obras que estejam de acordo com as ex- pectativas do professor da escola, entender quais são os objetivos do processo de aprender e o que a escola e o professor regente esperam alcançar com a visita e com a ação educativa. Portanto, deve existir um compromisso do pedagogo responsável pela mediação com relação aos aspectos didáticos e pedagógicos. As- sim, nas palavras de Luckesi (2011, p. 168), “o planejamento define os 94 Pedagogia em espaços não escolares resultados e os meios a serem atingidos; a execução (desenvolvimento) constrói os resultados, e a avaliação serve de instrumento de verifica- ção dos resultados planejados”. O museu como campo de atuação do pedagogo permite que ele atue além da preparação das visitas, promovendo programas e cur- sos dirigidos para a formação de professores, oficinas e jogos peda- gógicos, práticas de leituras e contação de histórias, direcionamento para pesquisas e exposições itinerantes. Essas atividades são feitas em conjunto com uma equipe multidisciplinar, muitas vezes existentes nas estruturas funcionais do museu. Materiais como folders, panfletos e guias, atividades como edição de livros, promoção de mostras de filmes e obras, suporte para exposi- ções e colóquios são ferramentas para o pedagogo encantar e envolver os alunos (FALCÃO, 2009). Uma das características de atuação do pedagogo nos espaços mu- seológicos é que podem contribuir com a construção de saberes a partir de temas interdisciplinares, o que promove a ampliação dos co- nhecimentos culturais e a formação para a cidadania. No entanto, é importante compreender que, como pedagogo, ao atuar nesse espaço, é de extrema importância buscar estudos comple- mentares. Conhecer todo o acervo do museu, obras, espaços, artistas, informações culturais e históricas é necessário para compor uma prá- tica educativa compatível com as expectativas dos estudantes visitan- tes. Exige-se, pois, saberes das múltiplas dimensões que compõem um museu. Dessa maneira, o pedagogo que recebe os estudantes deve estar preparado, pois, segundo Falcão (2009, p. 21), a fim de promover me- lhor aproveitamento da visita, deve-se oferecer acesso a novas linguagens, tecnologias, conhecimentos e valores, estimulando a curiosidade dos visitantes [...] tanto por parte dos professores como pelas escolas [...] Uma vez que ensinar é bem mais que promover a fixação de termos e conceitos; é privilegiar situações de aprendizagem que possibilitem ao aluno a formação de sua bagagem cognitiva, enten- demos que as coleções e os museus, pelas possibilidades que ofe- recem como base de investigação e também por sua capacidade de estimular debates e experiências diferenciadas, constituem-se em um recurso de elevado potencial científico, político e cultural, e No vídeo Museus como espaços de aprendizagem, do canal Futura, é apre- sentado como os museus contribuem como espaço de aprendizagem e disseminação histórica e cultural. Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=FKWMdE2bnIo. Acesso em: 25 mar. 2020. Vídeo Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares 95 desta forma devem ser usados e aproveitados pelos professores, alunos, ou seja, pela comunidade escolar como um todo. É essencial reforçar que o pedagogo que atua em espaços como os museus e centros culturais precisa interagir com uma multiplicidade de profissionais, como museólogos, músicos, técnicos de manutenção e montagem, iluminadores, restauradores, pesquisadores, fotógrafos, expositores etc., o que exige competências que o habilitem a trabalhar em projetos e programas inter e multidisciplinares. Muitos museus têm parcerias com institutos de pesquisas, labora- tórios, casas de culturas, centros culturais e bibliotecas, os quais exi- gem do pedagogo a participação em atividades complementares, como exposições e diferentes formações para conhecer as coleções museo- lógicas, para, depois, se preparar para lidar com os conhecimentos atrelados. Conforme aponta Falcão (2009, p. 26), “em certos casos, os museus elaboram também atividades complementares às exposições, na forma de projetos de educação não formal especialmente destina- dos a públicos escolares, como cursos, oficinas etc.”. Podemos verificar que o museu é rico em possibilidades de atuação para o pedagogo, especialmente por permitir acesso a uma série de ma-teriais de acervo histórico e cultural, que permitem que a prática educa- tiva seja permeada de novas descobertas, multiplicidades de atividades que envolvem os estudantes de maneira lúdica, criativa e interativa. Essas práticas podem provocar curiosidade, questionamento e en- cantamento, escuta ativa e, acima de tudo, possibilitar que o indivíduo tenha acesso a diferentes leituras de mundo e de sociedade, pois ao ter contato com diversos gêneros textuais, promove-se a formação de cidadãos críticos e reflexivos. Cabe ao pedagogo a leitura e releitura dos conteúdos sistemati- zados pelo professor da escola, para compor a mediação da visita ao museu, trazendo uma bagagem cultural e histórica, de maneira insti- gadora e prazerosa, que leve os estudantes a viajar por espaços que tragam surpresas e ao mesmo tempo aprendizado. É também sua res- ponsabilidade conhecer o público com o qual vai interagir, para que possa adotar as estratégias educativas adequadas e, assim, aproximar os estudantes da realidade técnica do museu, fazendo-os compreen- der sua contribuição social e educacional. 96 Pedagogia em espaços não escolares Desse modo, consolida-se a democratização do acesso ao ambiente composto de obras de arte a alunos, o que resulta na conscientização deles sobre a importância da preservação patrimonial e o respeito à cultura por meio do ensino ressignificado. Para que as atividades do pedagogo no espaço museológico se- jam coerentes com as propostas da escola (ou ambiente formal de ensino), são requisitos essenciais compreender a diversidade e nível de desenvolvimento cognitivo dos estudantes e reconhecer o espa- ço do museu como oportunidade de contribuir com o seu aprendiza- do, ao levá-los à releitura dos conteúdos já apresentados em sala de aula, promovendo a conexão com o que está presente nos museus, enquanto riqueza cultural. Portanto, as atividades e o vocabulário devem ser compatíveis com o nível de linguagem, os conhecimentos, as histórias e as realidades sociais e culturais dos alunos. A ideia central, além de focar no aprendizado dos alunos, é visar à aproximação da escola com o museu, a fim de contribuir na formação integral dos estudantes, potencializando a sua compreensão de socie- dade e de mundo. Para ampliar seus saberes sobre o papel do pedagogo em espaços como os museus, faça a leitura do artigo: Museu também é local de pedagogo, da autora Nilzilene Imaculada Lucindo, apresentado no Educere da PUCPR. Acesso em: 25 mar. 2020. https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/21055_9887.pdf. Artigo 5.2 As atribuições e oportunidades de atuação do pedagogo e a formação profissional Vídeo Um campo de atuação para o pedagogo são as instituições de edu- cação profissional, as quais ofertam programas educacionais de qua- lificação, capacitação e aperfeiçoamento. Há muitas escolas que direcionam suas ações educativas para a formação profissional e para o ensino técnico, pautadas em legisla- ções específicas que permitem que essas instituições funcionem e preparem os profissionais para compor o mundo do trabalho. Como você percebe a diversidade de atividades que o pedagogo pode desenvolver nos museus e o compromisso com a cons- trução de novos saberes pelos estudantes que participam dessas atividades? Comente. Atividade 1 Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares 97 Ao optar por atuar nesse contexto, é importante o pedagogo en- tender todas as diretivas que permitem a oferta desses cursos, pois a educação profissional tem ganhado força devido às transformações técnicas e tecnológicas, que exigem profissionais em constante apri- moramento de seus saberes. Quando falamos de cursos de capacitação, qualificação e aper- feiçoamento profissional estamos nos referindo, em sua maioria, a cursos de curta duração, dependendo da área de conhecimento. Por exemplo, cursos de qualificação e capacitação profissional precisam ser ofertados com uma carga horária mínima de 160 horas. Assim, cursos como os de pedreiro, eletricista, manicure podem ser desen- volvidos a partir dessa carga horária. Cursos de atualização e aperfeiçoamento profissional possuem cargas horárias mais flexíveis, pois trata-se de uma modalidade de ensino que visa aprimorar os saberes dos profissionais. Desse modo, seu programa de formação pode ser de curta duração. Por exemplo, se um profissional da área de gestão quer aprimorar seus saberes e compreender o novo papel da liderança, pode participar de um curso de atualização profissional de 8 horas. As escolas de educação profissional também podem ofertar cur- sos técnicos. Esses possuem normativas e os projetos precisam ser autorizados por órgãos competentes, como os Núcleos Regionais de Educação e as Secretarias de Educação dos Estados, por serem ações educacionais de nível médio. As mudanças que ocorrem no cenário econômico, político e or- ganizacional exigem que os profissionais estejam em constante mo- vimento com relação à construção de novos saberes. Sobre esse contexto, Silva, Costa e Souza (2016, p. 2) comentam que, devido às “constantes mudanças no mundo moderno, as escolas técnicas estão em destaque diante do atual cenário de necessidade das pessoas em se aperfeiçoar para garantir um emprego em uma sociedade cada dia mais exigente”. Para a educação profissional, especificamente, teve relevância a promulgação da LDB (Lei n. 9.394/1996), que regulamentou a edu- cação profissional, fortalecendo a criação de novas instituições que ofertam essa modalidade de ensino. Recomendamos a leitura do livro Perfil e formação do professor de educação profissional técnica, de Cleunice Matos Rehem. Esse livro traz muitas orientações sobre o pa- pel docente e os aspectos didáticos e pedagógicos que podem servir de pa- râmetros para a atuação do pedagogo na gestão do processo educativo. São Paulo: Editora Senac, 2009. Livro 98 Pedagogia em espaços não escolares O Brasil tem como referência do ensino profissionalizante o sis- tema S (composto de nove entidades que ofertam cursos que aten- dem a um público diverso). Embora tenha sido criado, na década de 1940, para atender especificamente a programas educativos de aprendizagem, hoje, seu leque de atuação é mais abrangente e, de- pendendo de cada instituição, atende à educação infantil, ao ensi- no fundamental, ao ensino médio, ao ensino técnico, à graduação, à pós-graduação, aos cursos de qualificação, capacitação e aperfei- çoamento profissional. Segundo Carpim (2016, p. 19): o sistema “S” é um conjunto de organizações das entidades cor- porativas voltadas a formação profissional, assistência social, técnica e tecnológica, fazem parte o SESI – Serviço Social da In- dústria, o SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, e o IEL – Instituto Euvaldo Lodi, estas compõem o Sistema das Federações das Indústrias; o SENAC – Serviço Nacional de Apren- dizagem Comercial, SESC – Serviço Social do Comércio, que com- põem o Sistema das Federações do Comércio; o SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, que compõe o Sistema Fede- ração da Agricultura; o SESCOOP - Serviço Nacional de Aprendi- zagem Cooperativa, que compõe o Sistema das Cooperativas; o SENAT – Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte. Serviço Social da Indústria Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Serviço Nacional de Aprendizagem Cooperativa Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Instituto Euvaldo Lodi Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial Serviço Social do Comércio Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte É importante destacar que, assim como outras instituições de ensi- no que foram criadas para atender à educação profissional, o sistema S ganha relevância por possuir uma característica ímpar, por opor- Assista ao vídeo Pedago- gos da educação profissio- nal: formação, atuação e desafios, para compreen- der com mais detalhes a atuação do pedagogo e o processo educativo na educação profissional. O vídeo apresenta diversosprofissionais comentando seu papel no contexto da educação profissional. Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=pWwKl0BwIaM. Acesso em: 25 mar. 2020. Saiba mais Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares 99 tunizar ambientes de trabalho para o pedagogo em diversas modali- dades de ensino (presencial, semipresencial e educação a distância). Também é possível o pedagogo atuar nos programas de educação profissional como qualificação, capacitação e atualização profissional, pois os diversos cursos disponibilizados, assim como no ensino for- mal, exigem planejamento e acompanhamento do desempenho dos professores e dos alunos, procedimentos acadêmicos e administrati- vos educacionais que requerem as competências dos pedagogos. Nesse sentido, o pedagogo ao optar por atuar em uma dessas ins- tituições de ensino profissionalizante precisa ter clara a exigência de conhecer as ações que são desenvolvidas neste contexto, suas carac- terísticas e políticas de funcionamento, como as do Senac. Conforme descrito por Silva, Costa e Souza (2016, p. 3), “o Senac oferece cursos em diversas áreas de formação, entre elas está o comércio, turismo e os serviços. Desse modo, contribui para a valorização do trabalhador através de sua capacitação profissional”. Um exemplo dessas ações que precisam ser compreendidas são as legislações pertinentes à instituição. Por exemplo, o Senac oferta cur- sos técnicos na área de saúde: Técnico em podologia, Técnico de en- fermagem, Farmácia, Gestão de serviço de saúde. Todos eles possuem legislações elaboradas por órgãos federais e estaduais, nos contextos educacional e profissional. Isso requer que o pedagogo esteja constantemente atualizado quanto a leis, pareceres, resoluções e normativas que orientam o fun- cionamento e a formação dos profissionais. Tendo em vista que as instituições de ensino profissionalizante ofer- tam cursos não apenas de cunho não formal, mas também formal, muitas dessas escolas possuem um projeto político pedagógico e metodologias de ensino específicas. Por ofertar programas de ensino para crianças, jovens e adultos, essas escolas devem definir e atender a diretrizes com- patíveis com as legislações vigentes de cada modalidade e tipo de curso que oferece. Isso exige que o pedagogo esteja atualizado e acompanhan- do as mudanças mercadológicas e as políticas educacionais. Para tanto, o pedagogo deve atuar comprometido e envolvido com esses documentos e ser responsável pelas ações ofertadas. Lembran- Uma instituição que atua com cursos profissiona- lizantes no Paraná é o Seduc. Ele oferta cursos técnicos de capacitação, especialização e de gra- duação e pós-graduação em EAD. Disponível em: http://seducintec. com.br/. Acesso em: 25 mar. 2020. Saiba mais 100 Pedagogia em espaços não escolares do que quando se fala de educação profissional, o objetivo do ensino está em ensinar para aplicar na prática, ou seja, os estudantes que bus- cam a formação profissional têm como meta a empregabilidade, o que exige que os programas educativos, além de promover a construção de saberes técnicos e teóricos, prepararem esses futuros profissionais para aplicar o que aprenderam no mundo do trabalho. Nesse sentido, alguns exemplos das atribuições do pedagogo são: apoiar a equipe multidisciplinar de profissionais de diversas áreas de conhecimento quanto aos procedimentos acadêmicos; acompanhar a elaboração dos projetos e se estes estão de acordo com as legislações da área de conhecimento; promover a aplicação do projeto político pedagógico; orientar o planejamento da ação docente; e acompanhar o processo de avaliação. Cabe ao pedagogo também a formação continuada dos profis- sionais, como: instrutores, professores, estagiários e coordenado- res de cursos quanto à correta aplicação da metodologia de ensino adotada pela instituição de ensino, pois, por se tratar de profes- sores que, em sua maioria, não possuem a formação didática e pedagógica, não conhecem os procedimentos de ensino essenciais para a prática docente. O sistema S ainda oferta programas de responsabilidade social, apoio às empresas e sistemas de comunicação. Muitos departamen- tos regionais dessas instituições também possuem editoras e departa- mentos de elaboração de materiais didáticos e instrucionais, tanto de cursos presenciais como a distância. Todas as áreas de conhecimento nas quais a instituição atua demandam ações e orientações educativas e metodológicas do pedagogo. Portanto, podemos afirmar que existem muitas possibilidades para o pedagogo atuar nos espaços educativos que ofertam programas de educação profissional. Para tanto, requer-se profissionais dispostos a aprender continuamente e a acompanhar as transformações exigidas pela sociedade e pelo mundo do trabalho. Para conhecer um pouco mais sobre os programas ofertados e as oportu- nidades de atuação do pedagogo no espaço da educação profissional, acesse o site do Senac de São Paulo e navegue verificando a quantidade de cursos que são ofer- tados e suas respectivas modalidades de ensino. O sistema S possui regionais em todos os estados do Brasil, e cada uma é responsável por programas específicos, de acordo com as realidades em que estão alocadas as suas escolas ou centros de formação profisisonal. Disponível em: https://www.sp.se- nac.br/jsp/default.jsp?newsID=0. Acesso em: 25 mar. 2020. Saiba mais Você pode ampliar seus saberes sobre o peda- gogo e suas atribuições na educação profissional acessando o site do sistema FAEP. . Nesse site é possível conhecer um pouco mais sobre as ações educativas oferta- das pelo Senar, como o programa Agrinho, que oferta cursos presen- ciais e a distância para professores das escolas municipais do estado do Paraná, programas de aprendizagem rural, que focam as ações edu- cativas na formação do produtor rural, e outras ações que envolvem o trabalho do pedagogo. Disponível em: https://sistemafaep. org.br/. Acesso em: 25 mar. 2020. Site Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares 101 Exemplo da atuação de um pedagogo em um planejamento de curso de capacitação profissional O pedagogo, ao contribuir com o técnico responsável da área de alimentos e bebidas, precisa alinhar alguns componentes didáticos e pedagógicos. Primeiramente, precisa saber qual é o curso, ou seja, nome do curso, carga horária, público a quem se destina , período em que será ofertado, matriz curricular, qual o objetivo, direcionadores metodológicos, materiais didáticos que serão necessários, ambiente (espaço físico: se será necessário sala de aula e laboratório, como espaço pedagógico, cozinha e demais materiais técnicos de suporte). Após essas definições, cabe ao pedagogo contribuir com a elaboração do projeto, planejamento geral e planos de ensino, metodologia de avaliação, acompanhamen- to de desempenho (nestes casos, geralmente existem documentos já elaborados, caso não, cabe ao pedagogo estruturar esses documentos). O pedagogo precisa orientar o professor quanto às referências bibliográficas e à metodologia de ensino que será adotada durante a ação educativa. É papel do pedagogo fazer o acompanhamento durante a realização do curso, para verificar o desempenho do professor, se está precisando de apoio, e atender aos alunos. Ainda é essencial que o pedagogo acompanhe o processo de comunicação interna e a resolução de conflitos, caso ocorram. É possível perceber pelo exemplo anterior que o pedagogo no ensino profissionalizante terá uma série de atribuições que de- mandam compromisso e envolvimento. É essencial que mantenha a equipe integrada, comprometida com o processo de ensino e aprendizagem, verificando se os docentes adotam as metodologias de ensino de acordo com as especificidades definidas e que par- ticipe das reuniões do conselho de classe, a fim de direcionar as melhorias no processo de ensino e aprendizagem. Também é papel do pedagogo planejar e executar ações quanto ao processoseletivo de candidatos, participando de reuniões técnicas e programas de cooperação técnica e tecnológica. Ele deve ser multiplica- 102 Pedagogia em espaços não escolares dor de temas pedagógicos para a equipe de professores e ainda exercer atividades burocráticas como: elaborar relatórios referentes ao desem- penho técnico e educacional da equipe sob sua responsabilidade. Enfim, são várias as opções de atuação do pedagogo no ensino pro- fissionalizante. É importante ressaltar que cada instituição atende a um segmento profissional e as especificidades são muitas. Essa realidade demanda do pedagogo a busca constante por estudo, pois trata-se de uma prática profissional relacionada à gestão do processo de ensino e aprendizagem, atividade que exige proatividade e flexibilidade para a busca por diferentes maneiras de promover um ensino de qualidade por meio da dinamização dos processos de aprendizagem. É essencial considerar que as escolas de ensino profissional vi- sam garantir a preparação para o mundo do trabalho, por isso mui- tas empresas buscam esse tipo de ensino para requalificar seus profissionais, demandando do pedagogo adequar, junto às equipes técnicas, programas educativos que sejam direcionados para deter- minados segmentos profissionais. 5.3 A reeducação dos detentos e as oportunidades de transformação social Vídeo Um espaço de trabalho desafiador para o pedagogo, porém neces- sário e importante, é o sistema penitenciário, onde as contribuições do ensino e aprendizagem são fundamentais para favorecer o processo de transformação e reeducação do detento. Muitas instituições carcerárias possuem programas de formação que visam dar oportunidade para que o indivíduo que está sem di- reito à liberdade por determinado período possa participar de pro- gramas de reeducação. Com atividades educativas voltadas para a alfabetização, esses programas, além de contribuir para a ressocia- lização do indivíduo, em muitas situações propiciam alguns benefí- cios, como a redução da pena. Também existem em vários espaços carcerários a educação não for- mal – que funciona como a modalidade de Educação de Jovens e Adul- tos (EJA) –, que visa educar para a transformação social e educacional, com foco no resgate dos princípios éticos e cidadãos. Ao assumir o compromisso profissional de atuar no espaço educativo que oferece cursos de educação profissional, o peda- gogo encontra alguns desafios. Comente brevemente como esses desafios podem ser superados, entendendo que a educação do novo século requer profissionais comprometidos e engajados com o aprendizado contínuo. Atividade 2 Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares 103 A ideia central desses projetos é a de executar atividades que per- mitam a reinserção dessas pessoas na sociedade, permitindo que seu retorno ao convívio social seja um sucesso e que não voltem a cometer os mesmos delitos, pois compreende-se que apenas privar o indivíduo da liberdade de ir e vir não proporcionará sua reabilitação. Muitas instituições prisionais entendem que por meio da formação educacional é possível uma transformação efetiva. Para que isso acon- teça, essas instituições ofertam cursos não apenas relacionados ao sa- ber sistematizado, como a EJA e alfabetização, mas também cursos de qualificação profissional, a fim de contribuir para que as pessoas em privação de liberdade possam conquistar um espaço na sociedade e no mercado de trabalho, após cumprirem suas penas. É essencial destacar que, no Brasil, as atividades educativas com foco na recuperação dos detentos ganharam força na década de 1950, pois durante muito tempo as ações propostas para contribuir com a reinser- ção do preso na sociedade não obtiveram êxito, resultando em muitos fracassos, como aponta Santos (2015, p. 104), “como forma de combater esse fracasso referente à transformação dos detentos, surge a necessi- dade de executar atividades educativas dentro do sistema penitenciário”. No princípio, ações como ensino religioso e laico são praticadas no sistema penitenciário como forma de aproveitamento do tempo dessas pessoas, com o objetivo de mantê-las ocupadas. Quando não se obteve êxito com essas ações, passou-se a adotar programas que contribuís- sem com o desenvolvimento intelectual e social dos indivíduos, como o curso de alfabetização, por exemplo, o primeiro projeto educativo ofertado nesse contexto. Assim, o papel do pedagogo ganhou força, uma vez que este é o profissional competente no que diz respeito aos direcionadores metodológicos de ensino. No entanto, é importante observar que o objetivo do ensino nesses espaços é formar para a cidadania. Para atingi-lo, devemos destacar que a construção dos saberes deve partir de ações educativas siste- matizadas, que considerem uma intencionalidade pedagógica, promo- vendo e provocando nos estudantes o entendimento da atitude ética e responsável diante de si e do outro. Cabe mencionar que, ao ofertar programas educativos, o siste- ma carcerário não obriga os detentos a frequentar as atividades, na verdade, a maioria deles busca pelos programas de formação Para compreender mais sobre a importância da educação e do pedagogo no sistema carcerário, assista ao vídeo Educação nos presídios fortalece ações de reinserção social, publicado pelo canal do Governo do Estado da Bahia. Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=_evJ2vCCzRA. Acesso em: 25 mar. 2020. Vídeo 104 Pedagogia em espaços não escolares como forma de reduzir suas penas, preencher o tempo ocioso ou até mesmo por curiosidade. Cabe, então, ao pedagogo o papel de adotar estratégias educativas que desenvolvam nesse indivíduo o encantamento e o envolvimento com o pro- cesso de ensino e aprendizagem, contribuindo para que essas pessoas pas- sem a tomar gosto pelo processo de aprender e percebam a necessidade de sua formação e futura inserção no mundo social e do trabalho. Muitas pessoas que se encontram nessa situação de privação de liberdade sentem-se excluídas e, na maioria das ocasiões, por falta de oportunidades para estudar e conseguir um espaço no mercado de tra- balho, ou até mesmo pela falta de estrutura familiar, cometem peque- nos delitos para sobreviver. Em muitos desses casos, essas pessoas se arrependem e demonstram desejo de mudar e transformar suas vidas, e encontram na educação um caminho para a reabilitação. Nesse contexto, a atuação do pedagogo é fundamental, a fim de acompanhar, no desenvolvimento de cursos e programas de formação profissional, o direcionamento e planejamento metodológico e o apro- veitamento dos estudantes. Felizari, Luiz e Bartz (2018, p. 2), destacam que a pedagogia presidiária, ao elencar e procurar dar novos senti- dos aos apenados, cumpre sua tarefa de cunho social, uma vez que atua em um campo onde se faz necessária sua intervenção, tendo fins que cooperam com todos os indivíduos ativos em so- ciedade, já que procura mostrar aos delinquentes que é possível uma nova forma de vida. O pedagogo precisa atuar nesse cenário considerando a ressociali- zação dos indivíduos, para que esses possam reintegrar-se no mundo social, educacional e profissional, por meio de uma educação ampla e que possibilite ao educando construir saberes que sejam caminhos para a reconquista de sua cidadania plena. Para Felizari, Luiz e Bartz (2018, p. 4): “ressocializar é dar ao preso o suporte necessário para reintegrá-lo à sociedade, é buscar compreen- der os motivos que o levaram a praticar tais delitos, é dar-lhe uma chance de mudar, de ter um futuro melhor, independente daquilo que aconteceu no passado”. Nesse sentido, a atuação do pedagogo é de assistência educa- cional. Isto é, por meio de atividades de ensino, estabelecer junto Para ampliar seus saberes sobre o papel do pedagogo e do ensino no sistema carcerário, assista ao vídeo Ensino e aprendizagem na peni- tenciária, do canal Nova Escola. Disponível: https://www.youtube. com/watch?v=AP0hIRCbO5I. Acessoem: 25 mar. 2020 Vídeo aos alunos detentos uma reflexão, um compromisso com a apren- dizagem, com novas formas de pensar, de agir, de relacionar-se e de interagir com a sociedade. Um dos desafios do pedagogo nessa atividade é manter a or- dem entre os estudantes, ter equilíbrio emocional, saber lidar com conflitos e compreender as circunstâncias que colocaram aqueles detentos no cenário da exclusão social. Além disso, os ambientes de aula são fechados e austeros e muitas vezes não possuem ma- teriais didáticos disponíveis, o que se soma aos aspectos citados como desafios ao trabalho do pedagogo. Para obter êxito no processo de ressocialização, cabe ainda ao pe- dagogo trabalhar de maneira coletiva e colaborativa com os demais profissionais do sistema penitenciário, pois todos precisam atuar em prol da reintegração dos indivíduos na sociedade. Desse modo, o pedagogo precisa definir estratégias educati- vas que gerem conhecimentos que sejam aplicados na realidade do mundo do trabalho. A ideia é educar para a vida, assim, outras atividades devem ser estruturadas para que a aprendizagem seja integral. Sobre essa integração, Felizari, Luiz e Bartz (2018, p. 6, gri- fos nossos) destacam que: “ao frequentar a escola no presídio, os sentenciados têm a possibilidade de sair do pavilhão, encontrarem presos que habitam outros pavilhões, ter acesso a informações e participarem de atividade de cunho socioeducativo, tais como aulas de música, informática, artesanato, dentre outras”. Azamat Imanaliev/Shutterstock aos alunos detentos uma reflexão, um compromisso com a apren- dizagem, com novas formas de pensar, de agir, de relacionar-se e de interagir com a sociedade. Um dos desafios do pedagogo nessa atividade é manter a or- dem entre os estudantes, ter equilíbrio emocional, saber lidar com conflitos e compreender as circunstâncias que colocaram aqueles detentos no cenário da exclusão social. Além disso, os ambientes de aula são fechados e austeros e muitas vezes não possuem ma- teriais didáticos disponíveis, o que se soma aos aspectos citados como desafios ao trabalho do pedagogo. Para obter êxito no processo de ressocialização, cabe ainda ao pe- dagogo trabalhar de maneira coletiva e colaborativa com os demais profissionais do sistema penitenciário, pois todos precisam atuar em prol da reintegração dos indivíduos na sociedade. Desse modo, o pedagogo precisa definir estratégias educati- vas que gerem conhecimentos que sejam aplicados na realidade do mundo do trabalho. A ideia é educar para a vida, assim, outras atividades devem ser estruturadas para que a aprendizagem seja integral. Sobre essa integração, Felizari, Luiz e Bartz (2018, p. 6, gri- fos nossos) destacam que: “ao frequentar a escola no presídio, os sentenciados têm a possibilidade de sair do pavilhão, encontrarem presos que habitam outros pavilhões, ter acesso a informações e participarem de atividade de cunho socioeducativo, tais como aulas de música, informática, artesanato, dentre outras”. Azamat Imanaliev/Shutterstock Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares 105 106 Pedagogia em espaços não escolares É importante ressaltar que no ambiente penitenciário o pedagogo precisa atuar por meio de um planejamento educativo ressignificado, voltado para o aprender para a vida social, educacional e política. Tal planejamento tem como objetivo fazer com que o estudante não caia no equívoco de ver a educação como um momento para passar o tem- po, mas sim como uma oportunidade de desenvolvimento e de con- quistas pessoais, profissionais e sociais. Portanto, ser pedagogo e responsável pelo processo de ensino e aprendizagem dentro do sistema carcerário pode ser, ao mes- mo tempo, desafiador e compensador. Conforme abordado, os desafios estão presentes, mas é por meio desse trabalho que o educador contribui para transformar e oportunizar aos detentos o retorno ao convívio em sociedade, pois é na educação que as pes- soas podem encontrar caminhos para a cidadania, para conviver com a família, com a sociedade, continuar seus estudos, interagir com o ambiente cultural e do trabalho. Leia o artigo A formação do pedagogo e a educação nas prisões: reflexões acerca de uma experiência, dos autores Marieta Gouvêa de Oliveira Penna, Alexandre Filordi de Carvalho e Luiz Carlos Novaes, publicado pelo Caderno CEDES. O artigo apresenta como o pedagogo pode atuar no sistema carcerário, as possibilidades de contribuir na ressocialização do preso, os desafios e as conquistas educativas. Acesso em: 25 mar. 2020. http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v36n98/1678-7110-ccedes-36-98-00109.pdf Artigo CONSIDERAÇÕES FINAIS Pensar em atuar em espaços não formais de ensino – os quais, his- toricamente, não são conhecidos dos pedagogos em formação – é uma oportunidade de o pedagogo, bem como de toda a sociedade, entender como a educação é relevante e pode transformar vidas. A discussão feita nesse capítulo, a respeito da atuação do pedagogo em diferentes ambientes: a ação docente dentro dos museus, das escolas de educação profissional e do sistema carcerário, só vem a fortalecer a importância do profissional pedagogo e o quanto ele pode, por meio de seus saberes, construir espaços onde sua proatividade, seu engajamento e compromisso com a educação, seu olhar crítico para a realidade social A atuação do pedagogo no sistema penitenciário pode ser desafiadora, pois é um ambiente onde existe carência de materiais de apoio e infraestrutura, o que ocasiona a necessidade de ade- quações metodológicas. Dessa maneira, descreva brevemente como esses desafios podem ser superados e quais as conquistas que a educação pode promover para os detentos. Atividade 3 Atuação do pedagogo em outros espaços não escolares 107 e cultural, podem promover projetos e encaminhamentos metodológicos que sejam essenciais para o desenvolvimento da sociedade. Assim, as oportunidades de atuação do pedagogo vão além de ensinar, essa atuação amplia-se para projetar, programar, gerenciar e mediar, com equipe multidisciplinar, ações que contribuam com o desenvolvimento das pessoas nos aspectos educacionais, sociais, culturais e nas diferentes realidades sociais com as quais convivem. Atuar com sujeitos em diferentes fases de ensino, diversidade cultural e experiências de vida exige que o pedagogo perceba sua importância e relevância para sustentar as ações educacionais necessárias que valori- zem as experiências dos estudantes e suas realidades. REFERÊNCIAS CARPIM, L. Formação pedagógica continuada do professor de educação profissional do segmento rural na modalidade da educação a distância. Curitiba, 2016. Tese (Doutorado em Educação) - Escola de Educação e Humanidades, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Disponível em: http://www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_busca/arquivo. php?codArquivo=3560. Acesso em: 24 mar. 2020. FALCÃO, A. Museu como lugar de memória. In: BRASIL. Ministério da educação. Museu e escola: educação formal e não formal. Brasília, DF: ano XIX, n. 3, maio/2009. Disponível em: http:// portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000012191.pdf. Acesso em: 24 mar. 2020. FELIZARI, D. da C. C; LUIZ, C. F.; BARTZ, A. de L. V. B. O protagonismo da atuação do professor pedagogo inserido no sistema carcerário. In: 23ª SEMANA DE PEDAGOGIA. Anais [...]. Maringá: UEM, jun. 2018. Disponível em: http://www.ppe.uem.br/ semanadepedagogia/2018/T04/04.06.pdf. Acesso em: 24 mar. 2020. MARANDINO, M. (org.). Educação em museus: a mediação em foco. São Paulo: Geenf/ FEUSP, 2008. SANTOS, W. L. O papel do pedagogo dentro do sistema penitenciário. Revista Científica da FASETE, Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: https://www.unirios.edu.br/revistarios/ media/revistas/2015/9/o_papel_do_pedagogo_dentro_do_sistema_penitenciario.pdf. Acesso em: 24 mar. 2020. SILVA, M. da C.; COSTA, S. M. da.; SOUZA, M. J. da. O papel do pedagogo na educação profissional. In: 3º CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Anais [...].Rio Grande do Norte: 2016. Disponível em: http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/ TRABALHO_EV056_MD1_SA2_ID2098_19082016165122.pdf. Acesso em: 24 mar. 2020. SOUZA, R. N. O pedagogo e os espaços não escolares: a atuação nos museus. Rio de Janeiro: 2016. Dissertação (Mestrado em Educação) - Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/ tesesabertas/1411880_2016_completo.pdf. Acesso em: 24 mar. 2020. http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000012191.pdf http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000012191.pdf http://www.ppe.uem.br/semanadepedagogia/2018/T04/04.06.pdf http://www.ppe.uem.br/semanadepedagogia/2018/T04/04.06.pdf https://www.unirios.edu.br/revistarios/media/revistas/2015/9/o_papel_do_pedagogo_dentro_do_sistema_penitenciario.pdf https://www.unirios.edu.br/revistarios/media/revistas/2015/9/o_papel_do_pedagogo_dentro_do_sistema_penitenciario.pdf http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_EV056_MD1_SA2_ID2098_19082016165122.pdf http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_EV056_MD1_SA2_ID2098_19082016165122.pdf http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1411880_2016_completo.pdf http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1411880_2016_completo.pdf 108 Pedagogia em espaços não escolares GABARITO 1. A multiplicidade de atividades de cunho educativo que são ofertadas nos museus exi- ge dos pedagogos estudos complementares e compromisso com a ação educativa no sentido de contribuir com a construção de saberes que sejam significativos, que envolvam os alunos no processo de ensino e aprendizagem. Lembrando que a escola, ao buscar o espaço cultural e histórico, está imbuída de complementar os saberes sistematizados e dar oportunidade para que os estudantes conheçam as realidades sociais, culturais e históricas. 2. O desafio está em compreender o cenário da educação profissional, suas legislações e normativas, que são específicas. Cada instituição que oferta educação profissional possui suas especificidades técnicas devido à diversidade de cursos e áreas de atuação. Cabe ao pedagogo envolver-se nos programas de maneira a interagir com os diversos públicos e perfis profissionais, entender os segmentos econômicos nos quais os alu- nos e futuros profissionais serão inseridos, disposição e disponibilidade para prepa- rar os professores, que, em sua maioria, são bacharéis e desconhecem os processos didáticos e pedagógicos. Assim, pensar na formação continuada é fundamental para atender ao cenário social e profissional em constante transformação. 3. Embora existam situações a serem superadas no ambiente carcerário – devido as es- truturas do nosso sistema prisional, que, em sua maioria, não atende aos requisitos de qualidade necessários para que processo educativo seja desenvolvido com qua- lidade – o papel da educação nesse contexto é de extrema relevância, pois muitos detentos anseiam por uma oportunidade de ser alfabetizado ou de aprender uma ocupação profissional que o habilite a conquistar um espaço no mundo do trabalho. Pensar no processo educativo como transformador de vidas submete o pedagogo a demonstrar como a educação pode favorecer e contribuir para que o preso, ao ganhar a liberdade, possa exercer a sua cidadania. Esse cenário aponta para a importância do pedagogo atuar nesses espaços e contribuir com desenvolvimento educacional e so- cial dos presos, favorecendo que esses, ao saírem do contexto carcerário, encontrem oportunidades de trabalho e de reinserção social. Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem 109 6 Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem Para atuar nos espaços não escolares, o pedagogo precisa ad- quirir competências que o habilitem a desenvolver suas atividades em diversos contextos educativos. Isso requer, além de sua for- mação em Pedagogia, que amplie seus horizontes de saberes com cursos de educação continuada, os quais podem preparar para novos horizontes de atuação docente. A diversidade de espaços não escolares de aprendizagem vem exigindo, cada vez mais, profissionais da educação que estejam receptivos a adotar metodologias de ensino inovadoras, que per- mitam aos estudantes participação ativa. Atividades que envolvam o trabalho colaborativo e interativo, bem como direcionem o alu- no a construir saberes que sejam significativos e possibilitem o desenvolvimento de sua autonomia como pesquisador são exem- plos disso. Assim, ao mediar o processo de aprender, o pedagogo estimulará os estudantes a trilhar caminhos inovadores, de desco- bertas que componham e recomponham a aprendizagem. Aspectos como reprodução e memorização de conhecimen- tos não atendem mais aos espaços educacionais formais e não formais, pois o século XXI requer o desenvolvimento da parceria professor e aluno na produção e coprodução de conhecimentos. Portanto, estudantes e docentes são responsáveis pelo proces- so de ensino e aprendizagem, a fim de elaborar e reelaborar saberes que sejam úteis aos contextos social, educacional, pro- fissional e político. 110 Pedagogia em espaços não escolares 6.1 Perfil do pedagogo para atuação em espaços não escolares Vídeo O cenário não escolar requer que os pedagogos demarquem seus espaços de atuação, considerando o desenvolvimento de competên- cias não apenas educacionais, mas também saberes das áreas de filo- sofia, sociologia, psicologia e antropologia, ou seja, voltadas a um eixo humanístico. Isso porque o pedagogo atua como mediador entre teo- ria e prática, portanto necessita acompanhar as transformações que ocorrem na sociedade e atuar conectando os saberes sistematizados com o caráter humano, apontando caminhos para que o aluno se per- ceba como sujeito produtor do próprio saber. Indicamos a leitura do artigo Metodologia de projetos: aprender e ensinar para a produção do conhecimento numa visão completa, publicado na Coleção Agrinho. A autora, Marilda Aparecida Behrens, discute sobre a adoção da metodologia de projetos e sua importância na ação educativa em espaços não formais, e como o aluno pode ressignificar sua aprendizagem por meio da investigação, a qual transforma informação em conhecimento. Acesso em: 3 abr. 2020. https://www.agrinho.com.br/site/wp-content/uploads/2014/09/2_04_Metodologia-de-projetos.pdf Artigo A formação do sujeito está presente em todos os processos edu- cativos ofertados pelas instituições escolares não formais. Logo, as di- versas maneiras de ação educativa exigem que o pedagogo aflore seu papel social de formação e de transformação para contribuir com a consolidação da cidadania plena de seu aluno. A ação educativa no espaço não escolar está, conforme aponta Nascimento et al. (2010, p. 61), “diretamente relacionada às atividades que envolvem trabalho em equipe, planejamento, formação pessoal, orienta- ção, coordenação, sendo que o objetivo principal desse fazer está direcio- nado às transformações dos sujeitos envolvidos na prática pedagógica.” Sendo assim, é importante que o pedagogo se prepare por meio da construção de novos saberes que o subsidiem técnica, tecnológica e emocionalmente para enfrentar a diversidade de públicos, realida- des sociais, educacionais e estruturais, apresentadas nesses espaços e, enfim, promover essa transformação. https://www.agrinho.com.br/site/wp-content/uploads/2014/09/2_04_Metodologia-de-projetos.pdf Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem 111 Os espaços não escolares, como hospitais, sistema carcerário, ONGs, apresentam incertezas; devido a isso, os sujeitos necessitam de orientação e atenção. Para esse suporte, é fundamental que os edu- cadores trabalhem em conjunto com outros profissionais, bem como estejam, sobretudo, envolvidos e comprometidos em ajudar a institui- ção cujo foco é modificar a vida dos estudantes envolvidos nos projetos educativos. Assim, opedagogo assume uma função como a de um or- questrador que articula de maneira crítica e reflexiva as habilidades de seus alunos com os conteúdos trabalhados. A função disso é promover um ambiente educativo que instrumentalize os indivíduos para a sua emancipação social e política. Essa conquista será possível se o pedagogo estiver disposto a en- volver os estudantes em projetos que retratem a realidade social e cul- tural em que vivem, a fim de fazê-los compreender que os problemas existentes podem ser solucionados de maneira interativa e colabora- tiva. De acordo com as palavras de Behrens (2005, p. 83), o pedagogo “assumindo o papel de parceiro mais experiente na investigação e na produção do conhecimento, provoca um processo educativo produtivo e prazeroso”, que leva à consolidação de práticas educacionais e sociais inovadoras. Portanto, a atuação do pedagogo deve ser de parceiro dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem, e seu papel prin- cipal é o de instigar os sujeitos para que sejam responsáveis por seu aprendizado de maneira autônoma, fazendo-os transpor um saber de memorização para o de construtor de seu próprio conhecimento. Desse modo, dominar os diferentes campos científicos de conhe- cimentos proporcionados na formação do pedagogo é fundamental para que ele possa atuar de maneira transformadora, lidando com si- tuações difíceis e rotineiras que os espaços não escolares apresentam. Nesse caso, para Nascimento et al. (2010, p. 65), “os saberes de sua for- mação juntamente com sua competência são fatores indispensáveis para uma atuação positiva”. Leia o artigo O perfil do pedagogo para atuação em espaços não escolares, da professora doutora Mary Rosane Ceroni. No artigo, ela aponta a importância de o professor compreender os espaços não escolares e o compromisso do educador com sua ação educativa. Acesso em: 6 abr. 2020. http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092006000100040&script=sci_arttext Artigo http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092006000100040&script=sci_arttext 112 Pedagogia em espaços não escolares Com base na discussão tecida até aqui, chegamos a uma síntese do perfil desejável ao pedagogo que atua nos espaços não escolares. Esse perfil, portanto, exige que o profissional esteja disposto a desen- volver competências que permitam ligar a prática cotidiana do fazer da escola não formal com as abordagens educativas, administrativas, sociais e, muitas vezes, comunitárias, devido às características dos programas ofertados pelas instituições. O essencial, para tanto, é não fragmentar os saberes e atender aos novos pressupostos da educa- ção atual, que requer a integração de conhecimentos, e consolidar o intercâmbio entre a solidariedade e a participação real e ativa dos estudantes para a mudança. Figura 1 Competências para o pedagogo que atua em espaços não escolares PROFESSOR INOVADOR MEDIADOR DO PROCESSO DE APRENDER A APRENDER ENVOLVE OS ESTUDANTES EM ATIVIDADES COLABORATIVAS PROVOCA A PESQUISA E O COMPARTILHAMENTO DE DÚVIDAS E DESCOBERTAS É importante destacar que, atualmente, o ensino exige que o professor supere a posição autoritária de transmissor de conteúdos e seja um mediador do processo de ensino e aprendizagem. Isso signi- fica, na prática, que é essencial permitir ao aluno que pergunte, inte- raja com os demais estudantes e exponha suas opiniões, bem como que a ele sejam propostas reflexões dos conteúdos com base em situações-problemas reais, que exijam a investigação e a pesquisa. A pesquisa, por sua vez, deve ser entendida como aporte para o de- senvolvimento da autonomia do aluno em sua aprendizagem, uma vez que, ao buscar informações, propor soluções e compartilhar saberes e dúvidas, são construídos saberes significativos, que o ajudarão a com- preender melhor sua realidade e que podem, inclusive, se estender à aplicação em trabalhos comunitários. O vídeo As características do professor mediador, do canal Supera Ginástica para o Cérebro, apre- senta as características do professor mediador e como ele pode levar o aluno a construir sua autonomia no processo de aprendizagem, por meio da interação do saber sistematizado e da sua realidade de apren- dizado. Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=RtVvvMaSX90. Acesso em: 3 abr. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=RtVvvMaSX90 https://www.youtube.com/watch?v=RtVvvMaSX90 Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem 113 Portanto, o professor precisa atuar provocando e mostrando aos estudantes a relevância do tema da pesquisa proposta, a fim de que possam intervir em sua realidade de vida, instigando-os a trabalhar ao mesmo tempo que se desenvolvem cognitivamente. No entanto, quando se fala que o aluno deve ser autônomo, po- demos pensar: qual é então a importância do pedagogo? O pedagogo torna-se significativo nesse processo quando orienta as atividades edu- cativas religando os saberes sistematizados e relacionados ao ambiente social e cultural dos estudantes, pois preparar as pessoas por meio da educação significa instrumentalizar para sua emancipação social. Sobre isso, Behrens (2005, p. 84) afirma que “como sujeito, o aluno precisa ser instigado a avançar com autonomia, a se exprimir com propriedade, a construir espaços próprios, a tomar iniciativa, a participar com respon- sabilidade, enfim a fazer acontecer e a aprender a aprender”. Portanto, o pedagogo é fundamental em todo esse processo, visto que cabe a ele viabilizar a aprendizagem e a formação cidadã, por meio da mediação. Nessa função, é essencial o pedagogo mostrar ao aluno, por meio do processo, por que é importante aprender e, principalmente, mos- trar a ele o potencial que tem para aprender. Para atingir esse objetivo, de justificar a importância do aprender, o pedagogo precisa se valer novamente da prática e dos contextos reais em que o aluno está inse- rido. Isso significa fazê-lo participar de projetos coletivos e solidários, que o levem a compreender a dinâmica da sociedade e da vida, com o intuito de superar desafios e conquistar espaços que garantam a interdependência e o entendimento de que existe uma multidimensio- nalidade humana, que deve ser respeitada e valorizada. Reflita sobre a importância de o pedagogo compreender o cenário em que o aluno está inserido e quais direcionadores educacionais são necessários para uma ação docente que explore o potencial dos estu- dantes em aprender a aprender. Devido às mudanças hoje apresentadas nos espaços não escolares, o pedagogo deve caminhar na busca de novas descobertas de ação e atuação fora do espaço formal de ensino, visto que existem diversos contextos educacionais que ampliam a dimensão pessoal e social onde o educador pode se inserir profissionalmente. Para conhecer espaços comunitários que congre- gam vários profissionais, inclusive o pedagogo, acesse o site da Pastoral da Criança. A Pastoral foi fundada pela médica pediatra e sanitarista Zilda Arns, que, embora nascida em Santa Catarina, atuava e morava em Curitiba, no Paraná. Falecida no terremoto do Haiti, em janeiro de 2010, deixou esse legado que se mantém em todo o Brasil. Disponível em: https://www. pastoraldacrianca.org.br/ sou-da-pastoral-da-crianca. Acesso em: 9 abr. 2020. Saiba mais https://www.pastoraldacrianca.org.br/sou-da-pastoral-da-crianca https://www.pastoraldacrianca.org.br/sou-da-pastoral-da-crianca https://www.pastoraldacrianca.org.br/sou-da-pastoral-da-crianca 114 Pedagogia em espaços não escolares Monezi (2003, p. 60) destaca: para um projeto educativo interdisciplinar ser bem sucedido, é necessário que o professor, envolvido e comprometido com a educação e com seus pares, apresente coerência entre sua visão e sua ação, o que contribuirá eficazmente com o processo de construção e reconstrução da sociedade: porque não há projeto sem sonho e sem vontade de futuro. Isso significa dizer que se exige diversidade deconhecimentos e vontade de aprender sempre por parte do pedagogo, a fim de que tam- bém tenha segurança e competência técnica para atingir efetivamente os objetivos que tanto defende, ou seja, a coerência entre visão e ação que Monezi (2003) aponta. Para atingir essa coerência, também é importante dizer que não deve ocorrer a fragmentação do conhecimento, assim, saberes cientí- ficos, técnicos e sociais devem ser alinhados como uma “teia de conhe- cimentos”, preparando os estudantes para recuperar valores perdidos. Sobre isso, Cardoso (1997, p. 53) afirma que “educar significa utilizar práticas pedagógicas que desenvolvam simultaneamente razão, sensa- ção, sentimento e intuição e que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome da paz e a unidade do mundo”. Portanto, agir com ética e compromisso, visando à construção de uma sociedade mais inclusiva, igualitária, com base na identificação de problemas socioculturais e educacionais, bem como trabalhar com o intuito de contribuir com a superação das exclusões educacionais e so- ciais são algumas das atribuições essenciais ao pedagogo que deseja atuar nos espaços não escolares. bl ea ks ta r/ S hu tte rs to ck Como o pedagogo pode contri- buir com a construção de novos saberes, com base na problema- tização de situações reais vividas pelos estudantes participantes de ações educativas em espaços não escolares? Atividade 1 Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem 115 6.2 Metodologias de ensino em diferentes níveis e contextos não formais Vídeo Independentemente do nível ou do ambiente de ensino, se escolar ou não, é essencial aos professores e pedagogos adotarem metodolo- gias de ensino que sejam inovadoras e possibilitem aos estudantes participação ativa. Com a proposição de práticas pedagógicas, é necessário que, neste século de profundas transfor- mações, o docente considere o aprendiz como ser indiviso (MORAES; ALMEIDA, 2012), promovendo momentos educativos dialógicos e interativos, que levem em consideração o sentir, a emoção e as sen- sações dos alunos, pois tratamos com pessoas que são seres multidimensionais. Entendemos por dialógica o que nos orienta Moraes (2008, p. 102): “diz respeito às trocas, aos in- tercâmbios, às simbioses [...], é o diálogo entre a teo- ria e a prática, entre razão e emoção, entre o sentir, o pensar e o agir”. Figura 2 Alunos aprendendo de maneira ativa, como agente construtor do próprio saber. Un ito ne V ec to r/ S hu tte rs to ck É essencial ao pedagogo explorar atividades em que o aluno participe ativamente. No vídeo Entrevista José Moran, publicado pelo canal Metodolo- gias Ativas Unisul, o professor José Moran retrata a importância de os professores re- novarem suas práticas educativas, em que o aluno seja protagonista de sua aprendizagem, empreendedor e expe- rimentador, e o profes- sor estimule a pesquisa e ajude a desenvolver a autonomia do aluno. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=O4icT4Z- 8m6Q. Acesso em: 14 abr. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=O4icT4Z8m6Q https://www.youtube.com/watch?v=O4icT4Z8m6Q https://www.youtube.com/watch?v=O4icT4Z8m6Q 116 Pedagogia em espaços não escolares Nesse sentido, é relevante ao pedagogo pautar sua prática em me- todologias ativas. O processo de aprender a aprender exige uma recon- figuração nas ações educacionais, ou seja, o professor deve direcionar a ação docente, estabelecendo ligações entre os diferentes espaços do saber e o cotidiano dos estudantes. O artigo As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes, de Neusi Aparecida Navas Berbel, publicado na revista Semina: Ciências Sociais e Humanas, relata alternativas metodológicas ativas que podem favorecer o professor a adotar estratégias inovadoras de ensino, que permitem aos estudantes envolvimento como agentes ativos do próprio aprendizado. Acesso em: 9 abr. 2020. http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/10326/10999 Artigo O foco das metodologias ativas de ensino está em provocar a au- tonomia do aluno, pois o docente precisa fazê-lo interagir com a cons- trução de seu conhecimento. Assim, a proposta é passar da concepção de meramente ensinar para a de aprender. Além disso, atividades inte- rativas devem ser aplicadas de maneira a fortalecer a importância do trabalho em equipe. Para Berbel (2011, p. 29): o engajamento do aluno em relação às novas aprendizagens, pela compreensão, pela escolha e pelo interesse, é condição essencial para ampliar suas possibilidades de exercitar a liberda- de e autonomia na tomada de decisões em diferentes momentos do processo que vivencia, preparando-se para o exercício profis- sional futuro. Figura 3 Ciclo dos direcionadores da metodologia ativa metodologias ativas provocar a autonomia do aluno trabalho em equipe, colaboração professor mediador aluno, centro do processo de ensino Fonte: Elaborada pela autora. Portanto, nos espaços não escolares, há a neces- sidade de os pedagogos instigarem a aprendizagem, problematizando – o que exige do docente conhe- cer a realidade do estudante –, ligando os conteú- dos estudados com base em uma intencionalidade de aprendizagem e de resolução de problemas. Isso requer, por parte do educador, abertura para que o aluno questione, compare, interaja com o conteú- do – momento em que o pedagogo deve exercitar a escuta ativa. A Figura 3 nos mostra quatro pontos principais que devem ser observados pelo pedagogo ao ado- tar metodologias que permitam maior participação http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/10326/10999 Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem 117 dos estudantes. Esse envolvimento dos alunos oportuniza aos profes- sores receptividade para aprender e compreender como inovar sua ação educativa, utilizando estratégias de ensino mediadas, que levem o aluno a pensar e a criar. Para tanto, a metodologia deve ir ao encontro dos interesses e das necessidades de aprendizagem dos estudantes. É importante haver o planejamento de diferentes ações que façam os alunos colocarem em prática de imediato o que aprendem, para promover o aprender com significado. Conforme aponta Moran (2018, p. 6): a aprendizagem é mais significativa quando motivamos os alu- nos intimamente, quando eles acham sentido nas atividades que propomos, quando consultamos suas motivações profun- das, quando se engajam em projetos para os quais trazem con- tribuições, quando há diálogo sobre as atividades e a forma de realizá-las. Atividades que remetam à pesquisa, como a metodologia de proje- tos, cuja finalidade seja a de produzir conhecimentos que envolvam os processos de investigação, compartilhamento e transformação, exigem do docente um maior planejamento em sua elaboração. De acordo com Behrens (2006 p. 37), essa forma de aprender “exige processos democráticos de escolha e de envolvimento”. Além disso, essa metodologia envolve responsabilidade do estudante, respeito e proposi- ção de soluções de situações múltiplas, pois a ideia é atuar com base na realidade dos estudantes. Ainda segundo Behrens (2006, p. 38): a metodologia de projetos pode incentivar a habilidade de esco- lher, de valorizar a si mesmo e ao grupo, de conviver em situações de consenso, de aceitar e analisar com respeito o posicionamen- to de outras pessoas, de construir processos de autoconfiança que permitam atuar com competência e independência. Nessa forma de ação educativa, o docente precisa, de maneira de- mocrática, escolher com os alunos o tema de pesquisa, contribuir com o direcionamento da investigação, mediar a interação entre o grupo, sempre permitindo que eles participem. Cabem aos alunos definir pa- péis de responsabilidades entre si para a consolidação do projeto. 118 Pedagogia em espaços não escolares Tratando ainda de metodologias inovadoras, o professor pode pro- por atividades que utilizemos mapas conceituais e contribuam para um ensino significativo. Nesse tipo de atividade, a ideia é a exploração de conteúdos por meio de sua sistematização, despertando o aluno para pesquisa e questionamentos. Na Figura 4, apresentamos um modelo de mapa conceitual, feito em um programa denominado CmapTools, que pode ser baixado gratuita- mente, possibilitando a elaboração de esquemas conceituais. Figura 4 Mapa conceitual – oralidade ORALIDADE situações específicas de comunicação oralidade dos alunos COMUNICAÇÃO instrumento de interação social participação ativa dos estudantes entender a linguagem requer por meio de via como explorar requer Fonte: Elaborada pela autora. É importante compreender que o mapa conceitual permite ao es- tudante expressar a apropriação do conhecimento, por meio da re- presentação visual, uma vez que ao ler um texto, por exemplo, pode expressar seu entendimento e sua leitura por meio de esquematização. A metodologia da elaboração do mapa conceitual é uma técnica que permite estabelecer uma conexão entre os conceitos do saber siste- matizado e o saber significativo. Para adotar essa forma de interagir com a aprendizagem, é fundamental ao professor dominar a técnica de elaboração do mapa conceitual e seus direcionadores estratégicos educacionais, pois essa forma de ensinar provoca mudanças na manei- ra de o estudante estudar e aprender. Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem 119 Para saber mais sobre a metodologia de ensino com mapas conceituais, recomendamos a leitura do artigo Mapas conceituais uma ferramenta para a construção de uma cartografia do conhecimento, das autoras Rita de Cássia Veiga Marriott e Patrícia Lupion Torres, que apresenta os caminhos para aplicação dessa metodologia ativa de ensino. Acesso em: 19 fev. 2020. https://www.agrinho.com.br/materialdoprofessor/ mapas-conceituais-uma-ferramenta-para-construcao-de-uma-cartografia-conhecimento Artigo Uma ação educativa com mapas conceituais estimula o aluno a pen- sar criticamente, refletir sobre o que está aprendendo, porque terá de reelaborar sua leitura em uma linha de raciocínio em forma de mapa conceitual. Também, terá de articular palavras e conceitos-chave aos co- nectivos adequados e organizar esses conteúdos em uma hierarquia que expresse sua leitura e compreensão de determinado tema. É possível que a elaboração de projetos possa ser complementada com os mapas. Segundo Marriott e Torres (2014, p. 184): os alunos, individualmente ou colaborativamente, podem fazer mapas para planejar pesquisas e projetos, preparar apresentações e organizar a informação em categorias signi- ficativas, revisando e estudando a matéria, condensando um texto ou várias páginas de um livro num resumo sucinto das ideias principais do autor. Portanto, os mapas conceituais podem servir de base para es- timular o pensamento criativo e direcionar a produção de novos conhecimentos. Outra metodologia ativa que vem ganhando espaço nos ambientes educacionais é o design thinking (DT). Ele começou a ser utilizado nas organizações empresariais, mas, devido às suas possibilidades de apli- cação, migrou para o cenário educacional. Essa metodologia é usada, sobretudo, para explorar a sensibilidade e os métodos de inovar tam- bém no ambiente educativo. Segundo nos apresenta Brown (2010, p. 4), “o design thinking se ba- seia em nossa capacidade de ser intuitivos, reconhecer padrões, desen- volver ideias que tenham um significado emocional além do funcional, nos expressar em mídias além de palavras ou símbolos”. Conforme comenta Oliveira (2014, p. 108), a base para o design thinking é a empatia, a colaboração e a experimentação de ideias. Nas palavras de Rocha (2018, p. 153): design thinking (DT) é o nome dado à apropriação por outras áreas do conhecimento da metodologia e sistemática utilizada pelos designers para gerar, aprimorar ideias e efetivar soluções. O DT tem características muito particulares que visam facilitar o processo de solução dos desafios cotidianos com criatividade e de forma colaborativa. Graças a elas, pode-se dizer que o DT provoca a inovação e a ação prática. Nessa metodologia, o professor pode trabalhar com problematiza- ções tendo em vista o envolvimento de todos os estudantes. Para isso, promove-se a escuta ativa, no sentido de estimular a colaboração, pro- vocando todos a buscar soluções. Isso exige que ideias sejam aceitas, interpretadas e aplicadas. O DT é uma atividade centrada no ser humano que exige colabora- ção, apresentação e visualização de ideias, por meio de investigação, elaboração de conceitos e métodos de exploração de problemas rela- cionados a situações reais. Nesse contexto, o trabalho em grupo é fundamental. Novamente, o professor desempenhará a função de mediador das possíveis diver- gências de ideias. Na mediação, o professor precisa explorar a fase de desco- berta com base no que foi investigado, o compar- tilhamento e o foco na interpretação das informações, partindo para a proposi- ção de ações que sejam possíveis de serem aplicadas. Figura 5 Estudante na fase de apontar ideias M R. Ya nu ki t/ S hu tte rs to ck 120 Pedagogia em espaços não escolares Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem 121 Essa forma de interagir com o conhecimento exige a fase de elabo- rar uma proposta de ação e obter feedback, ou seja, acompanhamento da aprendizagem por parte do pedagogo. Ressaltamos que o design thinking não exige respostas corretas como resultado, porém é uma ferramenta que permite aos alunos apontar coisas que, na maioria das vezes, não dizem e que são ex- pressadas no momento da interação. Entra, nesse contexto, o valor da qualidade das informações, além disso, essa metodologia busca compreender os sentimentos e as emoções, além de acatar as ideias de todos (OLIVEIRA, 2014). Portanto, sugerimos que o pedagogo adote estratégias de ensino como o design thinking, estimulando a criatividade por meio de pesqui- sas colaborativas para solucionar problemas sociais e educacionais nos ambientes não escolares. Apresentamos apenas três exemplos do uso das metodologias ati- vas no processo de aprendizagem, para despertar sua curiosidade e seu interesse em ampliar seus saberes acerca das metodologias ati- vas e adotar estratégias de ensino que sejam inovadoras e possibilitem maior colaboração dos alunos. Entretanto, existem várias propostas que podem favorecer a ação educativa do pedagogo que deseja inter- mediar a aprendizagem de maneira inovadora e significativa. Porém, fica uma orientação: para adotar essas estratégias de ensi- no ativas, é fundamental o seu aprimoramento, ou seja, é necessário estudar e compreender a maneira adequada de aplicar essas metodo- logias, porque somente assim você, pedagogo, obterá sucesso na sua prática educativa. Para conhecer outras propostas de metodologias ativas, aponta- mos, a seguir, algumas referências que podem contribuir com suas pesquisas sobre propostas estratégicas inovadoras de ensino. O design thinking é uma metodologia que pode favorecer sua ação educativa, pois remete à participação colabora- tiva e instiga os alunos a interagirem. O artigo A contribuição do desing thinking na educação, da autora Aline Cristina Antoneli, apresenta vários cases de utilização do de- sign thinking como fonte de propostas inovadoras na educação. Disponível em: https://www. google.com/search?q=a+con- tribui%C3%A7%C3%A3o+- do+design+thinking+na+e- duca%C3%A7%C3%A3o&oq=a+- contribui%C3%A7%C3%A3o+- do+&aqs=chrome.1.69i57j69i- 59j0l4j69i60l2.11382j0j7&sourcei- d=chrome&ie=UTF-8. Acesso em: 16 abr. 2020. Saiba mais Aponte suas considerações sobre as metodologias ativas e se, no seu entendimento, elas permitem a construção de saberes significativos. Atividade 2 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+&aqs=chrome.1.69i57j69i59j0l4j69i60l2.11382j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+&aqs=chrome.1.69i57j69i59j0l4j69i60l2.11382j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+&aqs=chrome.1.69i57j69i59j0l4j69i60l2.11382j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+&aqs=chrome.1.69i57j69i59j0l4j69i60l2.11382j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+&aqs=chrome.1.69i57j69i59j0l4j69i60l2.11382j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+&aqs=chrome.1.69i57j69i59j0l4j69i60l2.11382j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+&aqs=chrome.1.69i57j69i59j0l4j69i60l2.11382j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+&aqs=chrome.1.69i57j69i59j0l4j69i60l2.11382j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+&aqs=chrome.1.69i57j69i59j0l4j69i60l2.11382j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 6.3 Desafios do pedagogo em espaços não escolares Vídeo Ao atuar em espaços não escolares, o pedagogo certamente encon- trará alguns desafios, visto que, na maioria das ações ofertadas nesse contexto educacional, o processo de ensino e aprendizagem é marcado por ambientes onde os estudantes passam por situações como vulne- rabilidade econômica, distúrbios sociais e emocionais, privação de li- berdade, saúde mental e física etc. Dessa forma, o pedagogo que atua nesses espaços precisa desen- volver competências educativas para relacionar um conjunto de prá- ticas pedagógicas que relacionem o cenário social e educacional do estudante, ou seja, sua realidade de vida. Ações educativas que ultra- passem os processos de ensino de memorização, adotados pelo ensino tradicional e conservador. O maior desafio do pedagogo é respeitar e compreender as dife- renças, pois, na maioria das vezes, esses espaços são compostos de pessoas excluídas da sociedade, da família, da escola e do ambien- te profissional. Isso exige compreensão, empatia, amorosidade, isto é, educar pela compreensão humana. Conforme Moraes e Almeida (2012, p. 36), “compreender é perceber os vários lados de uma pessoa, os vários ângulos de um problema”. Nesse contexto, a intervenção educativa do pedagogo nas ativida- des educativas e sociais podem promover o desenvolvimento intelec- tual, o bem-estar e o olhar para a construção de um cenário solidário e de inclusão. Assim, a ação do educador extrapola o saber sistematiza- do e contempla o diálogo, com a subjetividade dos indivíduos. Para isso, muitas vezes é necessário a am- pliação de saberes não estudados, ou aprofundados, durante a sua for- mação. A existência de especifici- dades científicas e técnicas nos espaços não escolares apontam desafios que precisam ser com- preendidos e superados pelos pedagogos. Para aprimorar seus saberes, leia o livro Os sete saberes necessários à educação do presente: por uma educação transfor- madora. Nesse livro, são abordados caminhos possíveis pelos quais o educador do século XXI pode optar para trans- formar sua ação docente conservadora em inova- dora, para, assim, compor uma sociedade mais justa e solidária. MORAES, M. C.; ALMEIDA, M. C. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2016. Livro Figura 6 Espaço de investigação e interação 122 Pedagogia em espaços não escolares R aw pi xe l.c om / S hu tte rs to ck Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem 123 Não é necessário que a ação educativa aconte- ça entre quatro paredes, existe a flexibilidade. Esse é outro desafio para o pedagogo que está, em sua maioria, habituado a atuar em salas de aulas fecha- das, atendendo ao modelo conservador de ensino. O importante nos espaços não escolares é que os estu- dantes se sintam confortáveis, dispostos a aprender, e que o local onde ocorre a aprendizagem contribua para gerar conhecimentos significativos. Isso signifi- ca que a estrutura do ambiente deve ser iluminada, o local higienizado, as cadeiras confortáveis e o es- paço acolhedor, permeado por empatia, respeito e amorosidade por parte dos pedagogos e demais profissionais. Baixe na internet o livro Educação no século XXI: tendências, ferramentas e projetos para inspirar, que apresenta várias possibilidades de práticas inovadoras de ensino. Disponível em: https://smartlab.me/wp-content/ uploads/2017/05/Educac%CC%A7a%CC%83o-no-se%CC%- 81culo-21-download-1.pdf. Acesso em: 6 abr. 2020. Livro Você acredita que a adoção de metodologias ativas de ensi- no por parte dos pedagogos contribui para que as práticas educativas sejam direcionadas à aprendizagem significativa e ao trabalho colaborativo? Relate suas reflexões. Atividade 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O saber do pedagogo no cenário da educação contemporânea preci- sa ser transformado constantemente, pois as mudanças que ocorrem no mundo educacional, social e econômico exigem um perfil de educador inovador, que atrele sua ação educativa em estratégias que permitam aos estudantes a construção e a reconstrução dos saberes. Isso significa dizer que o professor não é mais o centro do processo educativo, e que o aluno é hoje corresponsável pela sua aprendizagem. Essa realidade exige dos educadores adotarem em sua intencionalidade docente ações que exijam dos estudantes responsabilidade. É preciso levá-los a refletir sobre o que estão aprendendo, como utilizar em sua vida os saberes construídos, despertar o senso crítico do respeito, da so- lidariedade, da compreensão humana, da amorosidade e da consciência social, isto é, prepará-los para serem cidadãos do mundo e agentes de transformação. Portanto, o pedagogo deve adotar ações educativas que trabalhem com a pesquisa e a investigação por meio de projetos, adotando as no- vas tecnologias como ferramentas de apoio no processo de aprender a aprender. Por meio de parcerias entre alunos e professores, as atividades devem gerar o saber significativo, ético e comprometido com a constru- ção de uma sociedade justa e inclusiva. https://smartlab.me/wp-content/uploads/2017/05/Educac%CC%A7a%CC%83o-no-se%CC%81culo-21-download-1.pdf https://smartlab.me/wp-content/uploads/2017/05/Educac%CC%A7a%CC%83o-no-se%CC%81culo-21-download-1.pdf https://smartlab.me/wp-content/uploads/2017/05/Educac%CC%A7a%CC%83o-no-se%CC%81culo-21-download-1.pdf 124 Pedagogia em espaços não escolares REFERÊNCIAS BEHRENS, M. A. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2005. BERBEL, N. A. N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-45, jan./jun. 2011. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/10326/10999. Acesso em: 10 de fevereiro de 2020. BROWN, T. 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Design thinking na formação de professores: novos olhares para dos desafios da educação. In: BACICH, L.; MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. GABARITO 1. Ao propor situações-problemas reais vividas pelos estudantes, o pedagogo está pro- vocando a reflexão e direcionando para a investigação do porquê da situação que se apresenta, suas causas, seus desafios e quais são as possibilidades de resolução para os problemas apresentados. O professor, nesse contexto, precisa mediar a ação educativa, por meio do estímulo por pesquisas, trabalho coletivo e colaborativo, pro- porcionando que o estudante desenvolva sua autonomia na condição de pesquisador, compreenda o significado do aprendizado, e saiba como pode transpor esse conhe- cimento para solucionar os problemas encontrados em seu entorno social e cultural. http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/10326/10999 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&aqs=chrome..69i57j69i60l2.9783j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&aqs=chrome..69i57j69i60l2.9783j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&aqs=chrome..69i57j69i60l2.9783j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 https://www.google.com/search?q=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&oq=a+contribui%C3%A7%C3%A3o+do+design+thinking+na+educa%C3%A7%C3%A3o&aqs=chrome..69i57j69i60l2.9783j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 Pedagogo: professor facilitador do processo de aprendizagem 125 2. As metodologias ativas permitem a construção de saberes significativos, uma vez que seus direcionadores de aprendizagem requerem que o aluno participe ativamente da aula e que ele seja o protagonista da ação educativa, cabendo ao docente mediar o saber sistematizado, partindo de duas premissas: escutar os alunos nas suas difi- culdades e em seus interesses; e deslocar o foco do ensino para a aprendizagem, a fim de que esta seja significativa ao aluno e que ele possa expressar suas opiniões, experiências e descobertas. Na aprendizagem ativa, o professor transpõe o ensino memorizador e permite ao estudante o protagonismo. 3. Certamente, ao adotar metodologias de ensino inovadoras, obrigatoriamente, o pe- dagogo terá de saber como aplicar a atividade, usando as estratégias de ensino pro- postas na metodologia. Isso exigirá estudos de sua parte, para que compreenda os direcionadores estratégicos e as técnicas propostas pela metodologia adotada. São muitas possibilidades de metodologias, que se bem aplicadas, envolvendo os estu- dantes e fazendo-os entender a intencionalidade da atividade, com certeza, propor- cionarão os melhores resultados possíveis. O ideal antes de aplicar uma metodologia é estudá-la, compreender como e quando aplicar, sempre com foco na intencionali- dade pedagógica e no feedback. Atividades que envolvem os estudantes como corres- ponsáveis pelo próprio aprendizado refletem no saber significativo. Lucymara Carpim Lu cym ara C arp im PEDAGOGIA EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES Código Logístico 59211 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6590-5 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 9 0 5 Página em branco Página em branco