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Universidade Anhanguera de São Paulo – UniAN/SP Unidade Santo André Curso de Psicologia (Formação de Psicólogo) ALANA ANTUNES SILVA – RA: 327397615807 ARIANE VENANCIO – RA: 333526615807 BIANCA OLIVERA DE JESUS – RA: 329150915807 ELISABETE CAVALCANTE FERLE DA SILVA – RA: 326182515807 GABRIEL HENRIQUE ANTUNES SILVA – RA: 328415115807 LUCILENE DO NASCIMENTO SILVESTRINI – RA: 327397715807 MARIA CAROLINA VIEIRA – RA: 332691215807 NAYARA SOUSA DE BARROS – RA: 328953715807 Crise de Saúde Pública – Gripe Espanhola Estágio Básico II (Saúde) Santo André Abril de 2020 Relatório referente ao trabalho que tem como tema “Crise em Saúde Pública” do Estágio Básico II, do Curso de Psicologia (Formação de Psicólogo) da Universidade Anhanguera de São Paulo – UniAN/SP, unidade Santo André, sob a orientação do Prof. Luís Sérgio Sardinha, realizado no primeiro semestre de 2020. 2 GRIPE ESPANHOLA Ortomyxovirus influenza, mais conhecido como Gripe espanhola, é uma doença infecciosa aguda de origem viral, as pessoas infectadas apresentavam como principais sintomas febre, coriza, dor no corpo, típicos de gripe comum, nos casos mais graves apresentavam dificuldades para respirar, problemas digestivos e cardiovasculares. Figura 1 – Trato respiratório 3D- Áreas do corpo humano afetadas pelo vírus Fonte: Fonte: < https://www.terceirotempouol.com.br >. Acesso em: 06 abril.2020 O vírus inicia-se em trato respiratório, se divide em três tipos, A B e C, sendo que somente o tipo A e B apresentam relevância clínica em humanos. Teve sua primeira aparição em 1918, ano final da primeira guerra mundial, sua origem geográfica é desconhecida porém de acordo com alguns artigos, seu primeiro caso observado teria ocorrido no Estados Unidos no mês de março de 1918 no sul do país, na cidade de Texas, outro caso no extremo do sul em Nova Iorque, logo os casos foram se espalhando, chegando no continente europeu aproximadamente em abril. Foi dado o nome ao influenza de “Gripe espanhola”, por quê a Espanha ao se deparar com os casos não escondeu, divulgou independente da situação da guerra, chegando a noticia em outros países como Gripe Espanhola mesmo. De acordo com alguns artigos, a gripe espanhola possivelmente chegou ao Brasil através de tripulantes de Demera, um navio brasileiro que rodou auxiliando https://www.terceirotempouol.com.br/ 3 aliados na primeira guerra mundial, este navio passou por Lisboa e em seguida Recife, Salvador e Rio de janeiro, os casos de influenza no brasil começaram a aparecer em setembro de 1918, em São Paulo teve cerca de 350 mil infectados, na antiga capital do Brasil, Rio de Janeiro, 15 mil pessoas faleceram, contaminando 66% dos cariocas, as notícias publicadas no dia 24 de setembro em salvador, 700 já haviam contraído o vírus causando grande espanto, visto que a doença chegou em dez dias. Diante daquele cenário, imprensas apresentavam aos telespectadores uma porção de informações sobre a pandemia que assolava o país. Os jornais estabeleciam debates sobre as condições sanitárias, principalmente em Salvador, já que seu número era o mais espantoso de casos, enquanto no Rio de Janeiro, se tinha mais porcentagem de óbito. O poder legislativo, teve como projeto dos senadores, a aprovação automática de todos os estudantes do país, já que o governo havia determinado a proibição das aglomerações, inclusive em colégios e universidades, sendo assim, nenhum aluno foi reprovado nesse período. O anseio pela cura e pela prevenção, era tanta, que os brasileiros passaram a fazer remédios caseiros, como tomar uma mistura de limão com mel, o que criou a famosa “caipirinha”, levando os jornais a publicar estes “remédios”. Figura 2 – Jornal Gazeta estampava notícias sobre a grande epidemia Fonte: < https://www.globalframe.com.br >. Acesso em: 03 abril.2020 Este vírus serviu para deixar nítido o quanto a saúde do país era frágil, não havia hospitais públicos, as pessoas doentes de classe mais baixa, procuraram as delegacias de polícia atrás de encontrarem solução. Diante dessas situações, foi criado as instituições de saúde públicas no Brasil. A população não entendia, não sabia explicar e nem sabia como curar, o pânico começou a tomar conta o que tornou https://www.globalframe.com.br/ 4 um colapso social. Uma série de contestação às atividades políticas da elite levou a população a uma grande revolta por conta da desumanização com os doentes e mortos da época. Em outubro a Diretoria de Saúde Pública, deu seu posicionamento através do Carlos Seidl (diretor da instituição), afirmando que a doença não podia ser controlada, o Brasil estava em quarentena, todos suspenderam suas atividades, não se tinha alimentos, remédios, nem caixões o suficiente. Na petição do presidente da República, Venceslau Brás, o médico sanitarista Carlos Chagas, liderou 27 pontos de atendimento a população no combate à gripe. Também foi criado um cemitério especial para as vítimas. A guerra ajudou a disseminação do vírus, as tropas britânicas e o acampamento hospitalar em Staples, na França, foram teorizados por pesquisadores como estando no centro da gripe espanhola. A pesquisa foi publicada em 1999 por uma equipe britânica liderada pelo virologista John Oxford. No final de 1917, militares patologistas relataram o aparecimento de uma nova doença com alta mortalidade que mais tarde reconheceram como gripe. O acampamento e o hospital superlotados eram o local ideal para a propagação de um vírus respiratório. O hospital tratou milhares de vítimas de ataques químicos e outras causalidades, e 100.000 soldados atravessavam o acampamento todos os dias. O local utilizado pelos britânicos em Étaples sujo, e as aves eram trazidas das aldeias vizinhas de forma regular para serem utilizadas como suprimentos, a partir disto, Oxford e sua equipe postularam que um vírus precursor significativo estaria alojado em pássaros, sofreu mutação e depois migrou para porcos mantidos proximos. Em 2016, um relatório publicado no Jornal da Associação Médica Chinesa encontrou evidências de que o vírus de 1918 circulava nos exércitos europeus por meses e possivelmente anos antes da pandemia de 1918. Segundo Christiane Maria Cruz e Sousa (2007), ocorreram três ondas de contágio entre março de 1918 a maio de 1919, sendo a segunda onda a mais grave, pois milhões foram infectados, ocasionando milhões de mortes, comprovando que a gripe matou mais que a guerra. 5 Figura 3 – Foto representativa sobre os milhões de pessoas infectadas e hospitalizadas. Fonte: < https://www.globalframe.com.br >. Acesso em: 03 abril.2020 Em setembro de 1918, especialistas na área da saúde recomendavam medidas para evitar a aglomeração de pessoas para retardar o propagação do vírus, mas as autoridades da Filadélfia, no Estado da Pensilvânia, decidiram ignorar o apelo para cancelar um desfile nas ruas da cidade, que na época tinha população de 1,7 milhão de pessoas. A decisão teve efeitos devastadores e fez com que a Filadélfia se tornasse uma das cidades mais gravemente afetadas pela gripe. Em seis semanas, 47 mil pessoas estavam doentes e 12 mil haviam morrido. Figura 4 – Desfile na Filadélfia, ato julgado como desrespeitoso devido ao risco de disseminação no local. Fonte: < https://www.bbc.com >. Acesso em: 05 abril.2020 https://www.globalframe.com.br/ https://www.bbc.com/ 6 Figura 5 – Foto comparativa demonstrando o quanto medidas rígidas de isolamento social reduziram a velocidade da propagação da doença. Fonte: < https://www.bbc.com >. Acesso em: 05 abril.2020 O certo é que a espanhola se traduziu, aos olhos do mundo, no maior exemplo, até mesmo pedagógico, de que vivemos relações biológicas que nem sempre podem ser controladas;e de quão negativos podem ser os efeitos da interdependência social (Elias, 1993, 1994; Hochman, 1998). Não diferente da pandemia atual, COVID-19, as associações que podemos fazer com relação as emoções e condições psicológicas tanto na época da gripe espanhola como nos dias atuais, são bem semelhantes. Invariavelmente, o reconhecimento oficial de uma epidemia só se concretiza após um grande acúmulo de doentes e mortos, exigindo o estabelecimento de uma estrutura que possibilite lidar com as arbitrariedades que ela origina, forçando uma reação coletiva (Rosemberg, 1992; Evans, 1992). Conforme ressaltam Rosemberg e Evans, após reconhecimento e uma pandemia, se faz necessário uma estrutura em que haja reação coletiva, toda doença quando contagiosa passa a se tornar um evento social, naquela época houve no Brasil uma grande mobilização, onde a sociedade buscou uma resposta e a partir de então a opinião pública mediante pressão de seu povo veio como tentativa de salvá-los daquela moléstia. A descoberta do agente causador de uma doença redefine a liberdade individual, "anulando o direito de contaminar os outros", mesmo que para isso seja necessário a utilização de certa "coerção legal (...) para a proteção do maior número, https://www.bbc.com/ 7 atitude que não é somente legítima, mas se impõe às sociedades como um de seus deveres essenciais" (Seidl, 1913, p. 188). Alguns médicos, sem saber que tipo de estratégia de combate estabelecer para a moléstia reinante, passaram a defender que o isolamento dos doentes "se impõe como a primeira medida de higiene" (Azevedo, 1919, p. 15). Após certa reatividade por parte de alguns, começou-se a exigir medidas como quarentena e isolamento para evitar a propagação da doença. Os teóricos desde aquela época já defendiam o isolamento humano, fato do qual algumas pessoas tinham e ainda tem resistência. Conforme descrito acima, o fato desconhecido do motivo real do surgimento do vírus pela população gerava preocupação excessiva, o que os fazia ficar em pânico buscando até mesmo formas de tratamento caseiras e alternativas. Obviamente, aqueles com poder aquisitivo maior, tinham formas mais dignas de tratamento e proteção. Em paralelo, cientistas debatiam se o vírus se originara através de algo químico lançado ao ar, algo de origem laboratorial podendo ser uma bactéria ou até mesmo uma moléstia de criação alemã envolvendo a política. O governo de vários países apresentaram grande descaso com as notícias iniciais levando como “boatos”. No decorrer dos dias o vírus se alastrou também no Brasil fazendo com que hospitais e atendimentos de saúde não fossem suficientes, dependendo então de ajuda de órgãos de iniciativa privada como escolas, igrejas e a cruz vermelha. Os jornais, espalhavam notícias falsas de cura, de que o vírus havia se alastrado mais, outras vezes menos, e de possíveis descoberta de sua origem. Houve muita mentira nessas divulgações, pois devido à falta de assistência médica e hospitalização, muitos doentes faleciam de causas diversas e para o laudo de morte na época, precisava-se apenas de duas testemunhas e um policial para registrar o ocorrido. Ou seja, alguns eram registrados como morte natural mas haviam falecido de gripe espanhola e vice-versa, não havia um médico presente para dar o diagnóstico real, o que dificultou muito as estatísticas. No Brasil, todas essas situações foram grandes contribuintes para maior investimento na saúde e ciência, pois o país se viu totalmente despreparado para o caos gerado pela doença. 8 Há uma espécie repetição comum na história de tais epidemias que, de modo geral, apresentam dilemas semelhantes, que partem da necessidade de serem explicadas e combatidas. A complexidade do entendimento, da definição e da resposta concreta envolvem um misto de realidade e fantasias, onde os contextos se fundem, o tempo passa, e por fim, continuamos escravizados e dependentes daquilo que a sociedade e o governo nos apresentam como solução. Abaixo vemos algumas sátiras, onde na última delas o paciente é orientado a não ler jornais para que se cure do vírus, relacionado ao poder da notícia falsa e exagerada que gera preocupação em demasia nas pessoas. Encerramos este estudo e análise então com estas charges que são grandes reflexões, e acredite ou não, de 1918 a 2020, seguimos com meras coincidências. Figura 6 – Charge que ironiza o descaso com a saúde pública. Fonte: < https://www.scielo.br >. Acesso em: 06 abril.2020 https://www.bbc.com/ 9 Figura 7 – Charge sobre os efeitos das notícias falsas e alarmantes Fonte: < https://www.scielo.br >. Acesso em: 06 abril.2020 https://www.bbc.com/ 10 REFERÊNCIAS: AZEVEDO, Altino de 1919 Do estudo clínico da gripe. Tese, Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Casa Duprat. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702005000100006. Acesso em: 3 abr. 2020. CORREA, Alessandra. 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