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ANA LUISA ARRABAL DE ALMEIDA – VET160 -Hemostasia: conceito comum que significa a parada ou a cessação de um sangramento, demonstrando que diversas patologias têm relação com o mecanismo de coagulação. Em outras palavras, a hemostasia é o termo que se refere à manutenção do sangue fluído e processos de necessidade de coagulação. Há três componentes centrais: • Parede vascular: em condição saudável, é contínua, permitindo a produção de moléculas anticoagulantes. A perda da integridade da parede vascular, as lesões expõem regiões subendoteliais a fatores de coagulação. • Plaquetas: produzidas pelos megacariócitos. É um componente não celular presente no sangue. • Fatores de coagulação: é uma cascata que inicia a ativação de um componente, até chegar a formação da fibrina. -Fator von Willebrand: substância pró- coagulante produzida pelas células endoteliais. Favorece a ativação e agregação de plaquetas. Em cenários de lesão, esse fator é fixado na matriz extracelular: Esquema de uma plaqueta mostrando os principais receptores que atuam nos processos de ativação e adesão. Observar o fator de von Willebrand (vWf) atuando como uma molécula de adesão. Plaquetas ativadas modificam a sua morfologia e emitem numerosos pseudópodes, ao longo dos quais os grânulos se deslocam para sofrer exocitose. A adesão de plaquetas umas às outras (agregação) faz-se por meio de integrinas (glicoproteínas plaquetárias, GP), utilizando fibrinogênio (Fb) (detalhe no retângulo). -Essas vias fazem referência aos caminhos existentes para a formação da trombina, molécula que realiza a polimerização do fibrinogênio em fibrina. A via intrínseca e extrínseca possuem uma forma de começo diferente, mas eventualmente culminam na formação do fator X e, a partir daí, seguem uma via comum de ativação. -O fator Xa juntamente com o Va atuam sobre a protrombina, transformando-a a trombina. Esta atua no fibrinogênio, promovendo sua polimerização e formação de fibrina. Por ação do fator XIIIa, formam-se ligações cruzadas entre as moléculas de fibrina, tornando-a estável. -Trombina gerada no processo de coagulação, ADP proveniente do endotélio e tromboxano produzido nas próprias plaquetas são todos fatores que também favorecem a coagulação. Por fim, a deposição de fibrina completa o tampão plaquetário. -A fibrina é produzida através de fibrinogênio, enzima presente na célula na sua forma inativa. -Em resumo, existem 4 fases na ativação das plaquetas e na formação do tampão plaquetário: 1. Adesão de plaquetas ao estroma subendotelial por meio de receptores para colágeno e para o fator de von Willebrand (havendo lesão vascular, ocorre vasoconstrição localizada). 2. Deformação mecânica induz as plaquetas a emitirem pseudópodes finos, o que aumenta a superfície de contato e favorece sua agregação. 3. Amplificação do tampão plaquetário. 4. Estabilização do tampão plaquetário por fibrina. -Conceito: se refere ao “maior aporte de sangue”. É um aumento da quantidade de sangue, não por aumento do volume total do organismo, mas sim aumento em determinado tecido ou órgão pelo aumento do lúmen vascular. Pode ser hiperemia ativa ou passiva: -Ativa: se dá quando se tem um aumento do diâmetro arteriolar. É ativa porque necessita de mecanismo ativo para aumentar seu diâmetro. Em exercícios físicos, por exemplo, a maior necessidade de oxigênio em tecidos musculares faz com que haja hiperemia ativa (nesse caso, transitória e fisiológica). Exemplos disso são os distúrbios neurológicos relacionados à timidez que causam dilatação nos vasos da face (rubor). Agentes agressores entrando em uma determinada região iniciam um processo inflamatório, o qual tem como principal característica a liberação de substâncias vasodilatadoras para aumento da chegada de células de defesa, caracterizando também uma hiperemia ativa. Hiperemia vista em região de inflamação. Observa-se vasos completamente cheios de hemácias (congestionados). -Passiva: também chamada de congestão. A hiperemia passiva ocorre devido à falha do retorno venoso. A principal origem desse problema é a insuficiência cardíaca. Obs.: processo inflamatórios em determinados locais da pele são caracteristicamente vermelhos, devido ao processo patológico de hiperemia ativa. -O corpo tem capacidade de readequar sua distribuição sanguínea em localidades diferentes, não ocorrendo falha sistêmica em caso de hiperemia. -Patologia primária no coração tem como consequência a hiperemia passiva. A insuficiência cardíaca ocorre por vários motivos, como alterações inflamatórias (pericardite, miocardite), necróticas, neoplásicas (rabdomiossarcoma), hemorrágicas. Uma falha de bombeamento na região direita do coração implica um processo de congestão nas regiões anteriores ao átrio e ventrículo direito, ou seja, em todos os órgãos menos os pulmões (hiperemia passiva sistêmica ou generalizada). A falha na região esquerda do coração implica a congestão sanguínea no pulmão (hiperemia passiva pulmonar). -Macroscopicamente: órgão com aporte de sangue maior ocorre aumento de volume. Também ocorre saída de grande quantidade de sangue caso o órgão hiperêmico seja cortado. O sangue presente na hiperemia passiva é venoso, menos oxigenado, dando ao órgão uma coloração mais arroxeada. A coloração presente na hiperemia passiva pulmonar não caracteriza um fator macroscópico (somente aumento de volume e, ao corte, aumento do fluxo sanguíneo). Fígado também é um órgão sede para avaliar a hiperemia sistêmica. Hiperemia passiva hepática. -Lesão do tipo noz-moscada: no centro dos lóbulos hepáticos, a região mais perto da veia centrolobular sofre mais com a hipóxia consequente da hiperemia. A coloração pálida caracteriza processos degenerativos, os quais evoluem para processos necróticos. -Ocorre extravasamento de hemácias no pulmão, que serão fagocitadas por macrófagos presentes no lúmen alveolar. Ocorre hemossiderina, um processo de pigmentação patológica. -É o extravasamento de sangue do leito intravascular para o leito extravascular. Hemorragias podem ser de fácil ou difícil visualização. São dois tipos de hemorragia em termos de classificação/ patogênese: • Rexe: lesão de um vaso e perda de continuidade da parede vascular. Exemplos incluem situações diversas de traumatismo, enfraquecimento da parede vascular com formação de microlesões (mais comum em animais senis) e aumento da pressão sanguínea. -Lesões de parede celular tornam ela mais enfraquecida (aterosclerose e arteriosclerose – deposição de material lipídico na parede vascular e degeneração das células epiteliais vasculares). -A força traumática vinda de dentro do vaso (por aumento da pressão sanguínea, por exemplo) pode ocasionar hemorragia também. • Diapedese (transcelular ou paracelular): saída de hemácias individualizadas entre as células endoteliais. Não há perda da continuidade do vaso ou lesão. Obs.: estudos atuais demonstram que lesões discretas ou pontuais em casos de hemorragia por diapedese podem ser causadas por falhas nos fatores de coagulação. -A capacidade coagulativa do sangue é essencial em casos de hemorragia. Hemorragia hepática – lâmina 40x -Nomenclatura: relaciona-se com o local de hemorragia. -Hemorragia na microscopia: vírus podem causar lesões vasculares que caracterizam um quadro hemorrágico – tropismo por vasos sanguíneos. Um tropismo viral por medula óssea pode afetar produção de plaquetas. Hiperemia, edema do tipo exsudato e hemorragia pulmonar – lâmina de 40x Obs.: vírus da dengue tem tropismo por medula óssea. Obs.: ácido acetilsalicílico – dificulta a coagulação. -Hemorragia do tipo petéquias (sangramento puntiforme): -Hemorragia do tipo hematoma: -Hemorragia do tipo epixtase: -Resolução e consequências: impacto intimamente relacionado com sua intensidade, além do tempo de hemorragia. Uma grande perda de sangue em curto período pode fazer o animal entrar em estado de choque por hipovolemia. É mais comum acontecer com animais atropelados. -A depender do local, pode haver outras consequências: tamponamento cardíaco (afeta dilatação), asfixia (em hemorragias pulmonares por afetar a troca gasosa), sequelas neurológicas. -Extravasamento do componente plasmático (fluido) sanguíneo, resultando em acúmulo de líquido no interstício ou em cavidades pré- formadas do organismo. Naturalmente, ocorre filtração e reabsorção desse componente fluido na microcirculação e um desequilíbrio desses processos pode fazer com que esse componente acumule no meio extracelular. -Pressão hidrostática (PH): pressão do componente sanguíneo sobre a parede vascular. -Pressão coloidosmótica ou oncótica (PO): relacionada à macromoléculas que fazem com que haja reabsorção do componente fluido. -O desequilíbrio dessas pressões faz ocorrer o extravasamento de líquido. O produto da filtração sendo maior que a reabsorção é absorvido pelo componente linfático. -Dessa forma, o edema pode ocorrer por diversos mecanismos: 1. Diminuição da pressão oncótica (hipoproteinemia por falha nutricional, problemas entéricos ou renais); 2. Aumento da pressão hidrostática (por aumento da pressão sanguínea ou hiperemia passiva – falha do retorno venoso); 3. Diminuição da drenagem linfática (por inflamação dos vasos linfáticos, metástases tumorais nos linfonodos). 4. Aumento da permeabilidade vascular (por substâncias químicas atuando na parede vascular, permitindo que ele seja mais permissível a componentes celulares – células e fluido saindo). -Pode ser do tipo transudato ou exsudato: -Transudato: maior parte é água, possui baixa densidade (<1020 g/ mL); -Exsudato: possui maior quantidade de outros componentes (celulares e proteicos), além de água. Possui densidade maior (>1020 g/ mL). Está intimamente relacionado com o aumento de permeabilidade vascular – elementos químicos que permitem o extravasamento sanguíneo como acontece em inflamações, traumatismos na microcirculação e em vasos malformados no interior de neoplasias. -Nomenclatura: -Em cavidades: hidro + nome da cavidade – hidropericárdio, hidroperitônito (ascite), hidrotórax, hidroartrose. -Edema generalizado: anasarca. -Aspecto macroscópico: no fígado, o edema faz com que haja separação lobular com presença de material gelatinoso entre os lóbulos. Nas vias aéreas, ocorre presença de líquido espumoso (mistura física entre líquido edematoso e ar). Aspecto macroscópico de edema hepático. Obs.: sinal de cacifo. -Aspecto microscópico: presença de material eosinofílico nas regiões de lúmen. No estômago, a espessura da submucosa aumenta exponencialmente. -Conceito: “trombose é a solidificação do sangue no leito vascular ou no interior das câmaras cardíacas, em um indivíduo vivo”. -Trombo e coágulo: o processo de lesão vascular leva a formação de um coágulo. O trombo tem uma característica mais ressecada, além de estar obrigatoriamente aderido à superfície vascular. O coágulo (coloração vermelho mais vivo) é facilmente removido da parede vascular, não estando aderido a ela. -Patogênese (tríade de Virchow): 1. Alterações na parede vascular: lesões de endotélio que expõem região subendotelial, a qual possui substâncias coagulantes. 2. Alterações no fluxo sanguíneo – ocorre em condições fisiológicas. Modificações na velocidade do sangue (aumento ou redução) e turbulência no fluxo sanguíneo são fatores importantes na gênese de trombos. 3. Alteração dos constituintes sanguíneos: aumento ou diminuição dos fatores coagulantes. -É necessário que pelo menos dois mecanismos estejam atuando para que haja um quadro de trombose, diferente da formação de coágulo. -Formação de saculações na parede vascular caracteriza um aneurisma. A região do aneurisma é propícia para a formação de trombos. Além da trombose, está susceptível à rompimentos por pequenas variações na pressão sanguínea e posterior hemorragia. Formação de trombo em aneurisma. A. O fluxo turbilhonado no aneurisma favorece o choque de plaquetas contra o endotélio, o que as ativa e inicia a sua agregação. B. Sobre as plaquetas agregadas é ativada a coagulação (vias plasmática e tecidual), produzindo o crescimento do trombo. C. Novas plaquetas precipitam-se e o processo se repete, conferindo aspecto estriado (lamelado) ao trombo. -Falha na continuidade do fluxo e retorno venoso predispõe à formação de trombos, como observado abaixo: Formação de trombo em veia profunda dos membros inferiores. A. Células sanguíneas no fluxo sanguíneo normal. B. Como tais veias possuem valvas, no recesso delas o fluxo sanguíneo laminar torna-se turbilhonado. Em condições normais, o turbilhonamento é pequeno, e as plaquetas mantêm-se longe do endotélio. Quando existe hiperemia passiva (p. ex., insuficiência cardíaca), as veias dilatam-se, a velocidade do sangue diminui, e o turbilhonamento do sangue aumenta no recesso valvar, aumentando o choque de plaquetas contra o endotélio nesse local. C. Ao se chocarem com o endotélio, as plaquetas são ativadas, agregam-se e iniciam a formação de um trombo, por ativação da coagulação sanguínea. D. O crescimento do trombo é rápido devido à velocidade reduzida do fluxo sanguíneo. O trombo cresce na direção do fluxo e de modo retrógrado, devido à redução na velocidade do sangue a montante do local onde o trombo começou a ser formado. -Pode ser classificado em: -Trombo vermelho: alta quantidade de hemácias. Pigmento enegrecido denominado hematina é presente – ocorre com aplicação de formol sem tamponamento adequado. -Trombo branco: maior quantidade de fibrina e plaquetas. Formam-se na microcirculação e não são vistos macroscopicamente. -Evolução da trombose: • Crescimento: cada vez mais terá componentes sanguíneos sendo depositados. Ocorre maior turbilhão e maior disposição à solidificação. • Lise: organismos começa a liberar fatores anticoagulantes ou que permitam a degradação do trombo. São fatores que quebram principalmente fibrina. Células de defesa atuam diretamente no trombo, fagocitando, limpando e removendo. Em casos de trombos muito grandes, o organismo utiliza artifícios angiogênicos que fazem com que células endoteliais proliferem (formação de novos vasos) – caminhos vasculares dentro do trombo para permitir que o fluxo sanguíneo seja reparado (recanalização). • Embolização: fragmento do trombo desprende e segue a corrente sanguínea. O trombo desprendido percorre a circulação até atingir um vaso de menor calibre e entupi-lo (tromboembolismo). -Características microscópicas: componentes eosinofílicos majoritariamente em capilares. Trombos hialinos em capilares glomerulares. -Síndrome de CID (síndrome da coagulação intravascular disseminada): processo de solidificação do vaso que acomete vários locais ao mesmo tempo. Etiologias: -Condições obstétricas que incluem liberação de tromboplastina (retenção fetal, deslocamento de placenta); -Traumatismo com dano tecidual; -Infecções sistêmicas com ativação de receptores de PAMPs e danos endoteliais (esses danos expõem o subendotélio e liberação de substâncias coagulantes). Obs.: PAMP são moléculas presentes em microrganismos exógenos que ativam as células de defesa do organismo. -NaCID, ocorre processos hemorrágicos em diversos locais – os fatores anticoagulantes são consumidos para tentar suprir a necessidade dos diversos trombos. -Conceito: processo patológico em que algum elemento estranho ao sangue obstrui um vaso sanguíneo. O elemento pode ser de diversas naturezas, sendo chamado de êmbolo: -Ex.: pode ter natureza semelhante aos componentes sanguíneos, mas de aspecto sólido (trombo – êmbolo sólido). Pode ser embolia gasosa em que, ao fazer um acesso venoso, pode haver entrada de ar na circulação. -Êmbolos gordurosos podem ocorrer pela lesão completa de ossos longos. Ocorre também após lipoaspiração, em que o tecido adiposo pode penetrar um vaso sanguíneo. Processos neoplásicos que tomam a corrente sanguínea para entrar em outros sítios (metástase) caracterizam um êmbolo metastático ou neoplásico. Pode ser um êmbolo séptico (agrupamento de microrganismos se movimentando na corrente sanguínea) – ao chegar em um vaso sanguíneo de menor calibre, consolida-se o processo de embolia. -Muitas vezes ocorre relação íntima entre embolia e trombose, sendo denominado tromboembolismo. -Pulmão e fígado são os órgãos mais acometidos devido à sua grande irrigação sanguínea. -Condições em que o aporte sanguíneo para uma determinada região (localizado) é comprometido, seja por obstrução total, seja por obstrução parcial. O quadro isquêmico pode ser consequência de uma embolia. -Infarto: é a consequência de um processo isquêmico em uma região do corpo. O processo patológico que se instala é morte celular (necrose isquêmica). -Órgãos de circulação terminal: denomina-se infarto branco. A região afetada fica mais clara (branca ou amarelada) do que a cor normal do órgão. Infarto branco é causado por obstrução arterial em territórios sem ou com escassa circulação colateral. Infarto branco em rim. -Órgãos de circulação colateral: denomina-se infarto vermelho ou hemorrágico. A região comprometida adquire coloração avermelhada em razão da hemorragia que se forma na área infartada. Infarto vermelho, que pode ser causado por obstrução tanto arterial quanto venosa, ocorre caracteristicamente em órgãos com estroma frouxo (pulmões) e/ou com circulação dupla ou com rica rede de vasos colaterais. Obstrução de uma artéria em órgão cujos ramos colaterais podem manter o suprimento sanguíneo não causa necrose isquêmica. Infarto vermelho do pulmão associado a tromboembolia na artéria pulmonar. A seta branca indica o ramo arterial obstruído por tromboêmbolo proveniente de trombose de veias profundas da perna. Notar a típica configuração cônica (piramidal) da área infartada (mais escura), cuja base está voltada para a pleura (setas vermelhas).
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