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Estudo comparativo entre diversas técnicas de desmonte para optimização económica e ambiental João Gonçalves Cardoso Dissertação para obtenção do grau de mestre em Engenharia Geológica e de Minas Orientadores: Professora Doutora Ana Paula Alves Afonso Falcão Neves Professor Doutor Pedro Alexandre Marques Bernardo Júri Presidente: Professor Doutor António Jorge Gonçalves de Sousa Orientadora: Professora Doutora Ana Paula Alves Afonso Falcão Neves Vogal: Doutor Gustavo André Paneiro Novembro de 2015 ii iii Agradecimentos O meu sincero agradecimento a todos aqueles que de algum modo contribuíram para a execução deste trabalho. À Professora Paula Falcão Neves e ao Professor Pedro Bernardo, pela disponibilidade em assumir a orientação deste trabalho, pela colaboração, incentivo, simpatia e apoio que me têm proporcionado ao longo deste percurso. A todos os professores da Secção de Minas e Georrecursos pelos ensinamentos partilhados. À Cimpor Souselas, pela oportunidade de estágio, nas pessoas de Eng.º Matos Ferreira, Eng.º João Rolim e Engª. Catarina Navarro, pela sua disponibilidade, opiniões e pela partilha de conhecimento. Aos meus amigos e aos colegas de curso, a quem agradeço a amizade nestes anos de percurso académico. À minha família pela motivação e apoios dados, especialmente aos meus pais, tios e irmãos. À Iris, um agradecimento muito especial pelo apoio, confiança e compreensão demonstrado durante toda esta etapa da minha vida. iv v Resumo A utilização de explosivos no desmonte de maciços rochosos, provoca impactes ambientais negativos tal como desconforto para as populações residentes nas imediações da exploração. Actualmente utilizando as melhores técnicas da aplicação de explosivos e a respectiva monitorização dos impactes, é possível reduzi-los dentro dos limites da legislação, conseguindo- se uma menor incomodidade para as populações. O grau de fragmentação da rocha num desmonte é um dos aspectos mais relevantes na optimização dos custos de produção numa exploração mineira. Da qualidade da fragmentação dependerão, posteriormente, os custos das operações de carga, transporte e britagem. Consequentemente, o desmonte com explosivos obriga a um criterioso estudo de optimização do dimensionamento do diagrama de fogo para se obter a fragmentação desejada. É neste contexto que surge o presente trabalho, como uma abordagem preliminar para uma possível melhoria, quer na minimização dos impactes ambientais, quer na eficiência técnico/económica das operações subsequentes ao desmonte, ou seja, garantir uma boa fragmentação que permita uma economia de recursos. Considerou-se então a utilização do sistema de air-deck articulado com dispositivos de melhoria de tamponamento, estudando o seu efeito teórico e comparando-o com trabalho de campo realizado na pedreira da Cimpor de Souselas. Com base no grau de fragmentação obtido por aplicação do método em teste, foi estimado a sua influência em termos de custos nas operações subsequentes, nomeadamente carga, transporte e britagem. Este trabalho tem dois objectivos principais: (1) avaliar a viabilidade do método em teste e (2) estimar o efeito do grau de fragmentação nos custos das operações subsequentes. Palavras-chave: Desmonte com explosivos, Custos unitários, Impactes ambientais, air-deck, grau de fragmentação. vi Abstract The blasting operation in open pit mining, causes environmental impacts and discomfort to the populations living in the surrounding areas. Currently are used the best techniques of explosives application and their monitoring of environmental impacts, and it’s possible to reduce them within the limits of the law, and managing to a minor inconvenience for people. The degree of rock fragmentation after a blasting is one of the most important aspects in the optimization of production costs in mining. The qualities of fragmentation influence the cost of subsequently operations, like loading, transport and crushing. Because of that the blasting explosives requires a careful study in order to optimize the design diagram of fire to achieve the desired fragmentation. It is in this context that the present work arises as a preliminary approach to a possible improvement both in minimizing environmental impacts, as well as in the technical/economic efficiency of subsequent operations. That ensures good fragmentation permitting saving features. Then is considered the use of articulated air-deck system with plug’s to improve stemming quality, studying the theoretical effect and comparing it, with fieldwork in the quarry of Cimpor - Souselas. Based on the degree of fragmentation obtained by applying the method in test, was estimated their influence in terms of cost in subsequent operations including loading, transport and crushing. Keywords: Blasting, costs, unit operations, environmental impacts, air-deck, degree of fragmentation. vii Índice Agradecimentos ....................................................................................................................... iii Resumo .................................................................................................................................... v Abstract ................................................................................................................................... vi 1. Introdução ............................................................................................................................. 1 2. Escavação de Maciços Rochosos com Substâncias Explosivas ............................................ 3 2.1. Propriedades Geotécnicas das Rochas .......................................................................... 3 2.1.1. Escavabilidade de Maciços Rochoso (Critério de Franklin)....................................... 3 2.2. Substâncias explosivas na escavação de maciços rochosos .......................................... 5 2.2.1 Acção de explosivos no seio de rochas ..................................................................... 5 2.2.2. Propriedades essenciais (Energia específica, Velocidade e Pressão de detonação) 7 2.2.3 Explosivos de desmonte (diferentes tipos e suas aplicações) .................................... 8 2.2.4. Diagramas de fogo ................................................................................................ 10 2.2.5. Air-deck ................................................................................................................. 13 2.2.6. Dispositivos de melhoria de tamponamento ........................................................... 14 2.3. Impactes Ambientais de Desmontes com explosivos .................................................... 16 2.3.1. Onda aérea ........................................................................................................... 16 2.3.2. Poeiras .................................................................................................................. 17 2.3.3. Projecção de Blocos .............................................................................................. 18 2.3.4. Vibrações .............................................................................................................. 18 2.4. Influência da Fragmentação nas Operações Unitárias Subsequentes ao Desmonte ..... 21 2.4.1. Desmonte .............................................................................................................. 22 2.4.2. Carga .................................................................................................................... 23 2.4.3 Transporte .............................................................................................................. 24 2.5.4 Britagem .................................................................................................................24 2.5.5. Custos de produção e a sua relação com o grau de fragmentação......................... 24 2.5. Análise de fragmentação através de imagens ............................................................... 26 2.5.1. Split-Desktop ......................................................................................................... 27 2.5.2. Obtenção de imagens ............................................................................................ 27 2.5.3. Delineação ............................................................................................................ 27 2.5.4. Resultado Final ...................................................................................................... 28 3. Caso de Estudo................................................................................................................... 31 3.1. Metodologia.................................................................................................................. 32 3.1.1. Método CPS .......................................................................................................... 33 3.1.2. Método em teste .................................................................................................... 34 3.2. Desmonte realizado na bancada N60 ........................................................................... 36 3.3. Desmonte realizado na bancada S40 ........................................................................... 43 3.4. Avaliação Global dos Desmontes ................................................................................. 47 3.4.1. Avaliação Económica............................................................................................. 47 3.4.2. Avaliação de Impactes Ambientais ......................................................................... 49 viii 4. Avaliação da Influência da fragmentação nas operações carga, transporte e fragmentação primária................................................................................................................................... 53 4.1. Carga e transporte........................................................................................................ 53 4.1.1. Cálculo do custo hora de trabalho .......................................................................... 55 4.1.2. Influência da fragmentação nos ciclos dos equipamentos ...................................... 60 4.3. Fragmentação Primária ................................................................................................ 66 4.4. Influência da fragmentação no custo total. .................................................................... 68 5. Resultados e Discussão ...................................................................................................... 69 5.1. Impactes Ambientais .................................................................................................... 69 5.2. Avaliação da fragmentação .......................................................................................... 70 5.3. Análise económica dos dois métodos em estudo .......................................................... 71 5.3.1. Bancada N60 ......................................................................................................... 71 5.3.3. Bancada S40 ......................................................................................................... 72 5.4. Análise Geral ................................................................................................................ 73 6. Considerações finais ........................................................................................................... 75 6.1 Conclusões ................................................................................................................... 75 6.2. Trabalhos futuros ......................................................................................................... 76 Referências bibliográficas ....................................................................................................... 77 Anexos ................................................................................................................................... 82 Anexo I – Fichas dos desmontes ......................................................................................... 83 Anexos II - Resultados do Split Desktop para a análise granulométrica ............................... 88 ix Lista de Tabelas Tabela 1- Principais critérios de escavabilidade e respectivos parâmetros (Bastos, 1998). ........ 3 Tabela 2- Principais variáveis influenciando o processo de selecção de um explosivo, (Hartman, 1987; citado por Bernardo, 2004) .............................................................................................. 9 Tabela 3- Comparação entre substâncias explosivas de uso industrial. (Bernardo, 2004) .......... 9 Tabela 4- Dimensionamento geométrico de diagramas de fogo segundo Ash (modificado por Dinis da Gama, 1998) ............................................................................................................. 10 Tabela 5 – Critério de Selecção do diâmetro de um furo.......................................................... 11 Tabela 6 - Competências de rocha vs consumo específico de explosivo (Jimeno et al, 2003) .. 13 Tabela 7 – Limites da onda aérea (Bhandari, 1997) ................................................................ 17 Tabela 8 – Factor de enchimento de uma pá carregadora, consoante a qualidade do desmonte. (CAT, 2015) ............................................................................................................................ 23 Tabela 9 – Parâmetros geométricos do diagrama de fogo ....................................................... 34 Tabela 10 – Características do explosivo utilizado. .................................................................. 34 Tabela 11 – Parâmetros de diagrama de fogo. ........................................................................ 36 Tabela 12 – Variação da quantidade de explosivo utilizado segundo o método em teste quando comparado com o método CPS. .............................................................................................. 37 Tabela 13 – Variação dos consumos específicos quando aplicado o método em teste. ........... 37 Tabela 14 – Resultados .......................................................................................................... 39 Tabela 15 – Coeficiente de Uniformidade ................................................................................ 39 Tabela 16 – Variação dos valores obtidos pelo método em teste quando comparado com o método CPS. .......................................................................................................................... 40 Tabela 17 - Parâmetros de diagrama de fogo. ......................................................................... 43 Tabela 18 - Variação da quantidade de explosivo utilizado segundo o método em teste quando comparado com o método CPS. .............................................................................................. 44 Tabela 19 - Variação dos consumos específicos quando aplicado o método em teste. ............ 44 Tabela 20 – Resultados análise granulométrica....................................................................... 45 Tabela 21 – Coeficiente de uniformidade................................................................................. 45 Tabela 22 – Variação dos Valores de vibrações e onda aérea entre o método CPS e o método em teste. ................................................................................................................................. 46 Tabela 23 – Quantidade de rocha desmontada por desmonte. ................................................ 47 Tabela 24 – Consumosespecíficos e custos por tonelada. ...................................................... 48 x Tabela 25 – Limites da velocidade de vibração admissível estabelecidos pela NP 2074 de 1983 (expressos em mm/s). ............................................................................................................. 50 Tabela 26 – Factor de Ponderação Ambiental para o descritor vibrações e onda aérea. .......... 51 Tabela 27 – Especificações do Equipamento (Cat Performance Handbook) ............................ 54 Tabela 28 - Especificações do Dumper 775G (Cat Performance Handbook). .......................... 54 Tabela 29 – Cálculo dos custos de propriedade ...................................................................... 55 Tabela 30 - Custo com consumíveis. (IGME, 1995) ................................................................. 57 Tabela 31 – Cálculo dos custos hora da pá carregadora ......................................................... 58 Tabela 32 - Cálculo dos custos hora do Dumper ..................................................................... 59 Tabela 33 – Valores considerados para a capacidade de carga dos equipamentos. ................ 60 Tabela 34 – Número de ciclos por hora da pá carregadora. ..................................................... 61 Tabela 35 – Volume real carregado pela pá carregadora. ........................................................ 61 Tabela 36 – Número de dumper’s carregados por hora. .......................................................... 62 Tabela 37 – Material movimentado por hora. ........................................................................... 62 Tabela 38 – Custo da operação de carga por tonelada. ........................................................... 62 Tabela 39 – Tempo de ciclo de um dumper. ............................................................................ 64 Tabela 40 – Número de ciclos por hora de um dumper. ........................................................... 64 Tabela 41 - Número de dumper’s a utilizar. ............................................................................. 64 Tabela 42 – Custo por tonelada da operação de transporte ..................................................... 65 Tabela 43 – Aplicação da fórmula de Bond para o cálculo do custo de fragmentação. ............. 67 Tabela 44 – Análise de fragmentação ..................................................................................... 71 xi Lista de Figuras Figura 1- Classificação da escavabilidade de maciços rochosos, segundo Franklin et al. .......... 4 Figura 2 - Sequência temporal de eventos verificados numa detonação em rocha situada na vizinhança de uma superfície livre (adaptado de Hartman,(1992) por Bernardo (2004). ............. 7 Figura 3 - Parâmetros de um diagrama de fogo para desmontes em bancadas a céu aberto (adaptado de IGM, 1999) ........................................................................................................ 10 Figura 4 – Esquema da técnica de air-deck, quando comparado com o método tradicional. .... 13 Figura 5 - Analise da fragmentação em função da percentagem de volume de air-deck (Cleeton, 1997) ...................................................................................................................................... 14 Figura 6 – Plugs ...................................................................................................................... 15 Figura 7 – Aplicação do plug. .................................................................................................. 15 Figura 8 – Esquema do furo com plug. .................................................................................... 15 Figura 9- Efeitos das vibrações nas estruturas segundo a distância, a geologia e o tipo da estrutura (Bernardo, 2004) ...................................................................................................... 20 Figura 10 – Diagrama das operações unitárias de uma exploração mineira. (Adaptado de Hustrulid, 1999)....................................................................................................................... 21 Figura 11 – Relação entre o custo unitário com perfuração e desmonte com explosivoso com o grau de fragmentação. (adaptado de Dinis da Gama, 1993) .................................................... 22 Figura 12 – Minimização de custos nas várias operações unitárias em função da dimensão dos fragmentos e consequentes impactes ambientais (Dinis da Gama & Jimeno, 1993). ............... 25 Figura 13 – Imagem antes e depois da delineação. ................................................................. 28 Figura 14 – Correcção de erros da delineação automática. ..................................................... 28 Figura 15 – Resultados obtidos da análise granulométrica. ..................................................... 29 Figura 16 – Exemplo de curva granulométrica obtida com o Split-desktop. .............................. 29 Figura 17 - Centro de Produção de Souselas .......................................................................... 31 Figura 18 – Imagem aérea da pedreira da Serra do Alhastro. .................................................. 31 Figura 19 - Metodologia proposta ............................................................................................ 32 Figura 20 – Localização das bancadas em estudo. ................................................................. 33 Figura 21 – Esquema do método em teste. ............................................................................. 35 Figura 22 – Desmontes realizados na bancada N60. ............................................................... 36 Figura 23 – Curva Granulométrica........................................................................................... 38 Figura 24 - Sequência de imagens do desmonte realizado no dia 19-11 (Método CPS). .......... 41 file:///C:/Users/PRCJC/Documents/Tese/tese%20jc%20final/tese/tese%20JC%20v%20publica%20(1).docx%23_Toc436918926 file:///C:/Users/PRCJC/Documents/Tese/tese%20jc%20final/tese/tese%20JC%20v%20publica%20(1).docx%23_Toc436918929 file:///C:/Users/PRCJC/Documents/Tese/tese%20jc%20final/tese/tese%20JC%20v%20publica%20(1).docx%23_Toc436918930 xii Figura 25 - Sequência de imagens do desmonte realizado no dia 21-11 (Método em teste)..... 41 Figura 26 – Diagrama de fogo, identificando o furo defeituoso. ................................................ 42 Figura 27 – Resultado do desmonte. ....................................................................................... 42 Figura 28 - Desmontes realizados na bancada S40. ................................................................ 43 Figura 29 - Curva Granulométrica bancada S40. ..................................................................... 45 Figura 30 – Sequência de imagens do desmonte realizado no dia 24-11 ................................. 46 Figura 31 – Desmontes bancada S40...................................................................................... 47 Figura 32 – Influência do consumo específico no DMF. ........................................................... 48 Figura 33 – Evolução do custo por tonelada com o aumento da DMF. ..................................... 49 Figura 34 – Relação entre o Factor de Ponderação Ambiental e a dimensão média dos fragmentos. ............................................................................................................................. 51 Figura 35 – Equipamentos utilizados na operação de carga e transporte. ................................ 53 Figura 36 – Cat 990 ................................................................................................................ 53 Figura 37 – Dumper 775D (http://www.trucksplanet.com/catalog/model.php?id=1105)............. 54 Figura 38– Tempo de vida dos pneus para um Dumper (Ashley, 2015). ................................. 57 Figura 39 - Tempo de vida dos pneus para uma Pá Carregadora (Ashley, 2015). .................... 57 Figura 40 – Tipo de enchimento do balde. (CAT, 2015) ........................................................... 60 Figura 41 – Custo por tonelada da operação de carga vs DMF................................................ 63 Figura 42 – Custo por tonelada da operação de transporte vs DMF. ........................................ 65 Figura 43 – Custo por tonelada na britagem vs DMF. .............................................................. 67 Figura 44 - Custo total por tonelada vs DMF............................................................................ 68 Figura 45 – Desmonte bancada N60 método CPS. ................................................................. 70 Figura 46 – Desmonte bancada N60 método em teste. ........................................................... 70 Figura 47 - Custo das várias operações unitárias para os dois métodos em estudo. ................ 72 Figura 48 – Custo das várias operações unitárias para os dois métodos em estudo. ............... 72 Figura 49 – Relação entre o custo por tonelada das várias operações e o DMF. ..................... 73 Figura 50 – Correlação entre o factor de ponderação ambiental e o DMF ................................ 74 file:///C:/Users/PRCJC/Documents/Tese/tese%20jc%20final/tese/tese%20JC%20v%20publica%20(1).docx%23_Toc436918933 file:///C:/Users/PRCJC/Documents/Tese/tese%20jc%20final/tese/tese%20JC%20v%20publica%20(1).docx%23_Toc436918935 xiii Lista de Abreviaturas Pd – Pressão de detonação (GPa) VOD – Velocidade de detonação (m/s) q – Consumo específico Q – Carga máxima por retardo (kg/retardo) DMF – Dimensão média dos fragmentos (cm) ϕ 90, 70, 60, 10 - diâmetro em que 90, 70, 60 e 10% das partículas em peso têm dimensão inferior a esse diâmetro (cm) Fv – Factor de ponderação para as vibrações W – Representa a energia consumida na fragmentação por unidade de massa (kwh/t) Wi – Representa energia específica do material a cominuir (kwh/t) H – altura da bancada (m) Hc – altura da carga de coluna no furo (m) Hf – altura da carga de fundo no furo (m) ϕf – diâmetro do furo (mm) A – afastamento (m) r – massa volúmica da rocha (t/m3) xiv 1 1. Introdução A utilização de explosivos para a fragmentação de rochas é praticada desde o século XVII, quando se começou a utilizar pólvora em minas, tornando-se rapidamente num dos métodos mais populares de fragmentação. Não estando a sua aplicação teorizada, a sua utilização era absolutamente empírica criando por isso graves falhas de segurança, má utilização de recursos e sérios impactes ambientais. Sendo por muitos considerada uma arte, nascida a partir da perícia e experiência dos operadores de explosivos. A evolução técnica incidiu essencialmente em aspectos de produtividade, tendo aliás como todas as actividades económicas, pouca sensibilidade com os aspectos ambientais. Actualmente a sociedade é cada vez mais sensível aos aspectos de protecção ambiental, pelo que a actividade de exploração mineira tem também a obrigação e o dever, de minimizar os impactes ambientais provocados pela sua actividade. Por conseguinte qualquer plano de lavra deverá adoptar, por força de lei, medidas e sistemas de protecção do ambiente, bem como um plano de recuperação ambiental e paisagística. Nos dias hoje e com as investigações desenvolvidas ao longo das últimas décadas, a utilização de substâncias explosivas para desmontes de rocha já é uma técnica com fundamentos teóricos e princípios científicos. Qualquer exploração mineira ou obra geotécnica que recorra a substâncias explosivas e seja executada nas imediações de uma zona habitacional, produz sempre impactes ambientais diversos. Estas consequências raramente são bem recebidas pelas comunidades, o que faz com que as explorações mineiras ou obras civis estejam sempre sobre enorme pressão da opinião pública para reduzir ao máximo estas ocorrências. Apesar de frequentemente se admitir que são fenómenos inevitáveis, mas transitórios no caso das obras civis, tecnicamente sabe-se que a intensidade elevada desses impactes por vezes estão associados a erros no dimensionamento dos desmontes, quer nas quantidades ou tipos de explosivo utilizado, quer nas temporizações associadas que provocam a acumulação de quantidades de explosivos detonados no mesmo instante de tempo (retardo), aumentando de forma drástica o impacte ambiental provocado pelo desmonte. Para cumprimento das medidas de protecção ambiental, existe hoje em dia, uma necessidade crescente de monitorizar, controlar e minimizar tais impactes, reforçando a necessidade de saber caracterizar os fenómenos associados, com a fragmentação de rochas com recurso a explosivos. 2 Tal atitude, permitirá, não só a protecção da população e das estruturas envolventes, mas também maior economia e eficiência no desmonte. Pois sabe-se que esta é compatível com a minimização dos impactes, ao contrário do que sucede na maioria das outras actividades industriais (Dinis da Gama, 1998). Outro aspecto importante no desmonte de rocha com explosivos é o grau de fragmentação obtido do material desmontado. Dado que são conhecidas a sua influência nas operações mineiras subsequentes, nomeadamente carga, transporte e britagem. Quanto maior o grau de fragmentação obtido maior a eficiência das restantes operações. A actual necessidade de redução de custos de produção em qualquer indústria requer a análise de todos os factores económicos envolvidos. Numa exploração mineira, um dos aspectos mais relevantes na optimização de custos é o grau de fragmentação do material, devido aos seus efeitos directos na economia das operações unitárias. A presente dissertação tem dois objectivos principais, sendo que o primeiro, consiste em avaliar a viabilidade de aplicação do método em teste, que tem por base a utilização da técnica de air- deck em conjunto com dispositivos de melhoria de tamponamento. A avaliação de viabilidade é feita em termos de intensidade de impactes ambientais, custo por tonelada do desmonte, e melhoria da fragmentação obtida. O segundo objectivo consiste em estimar o efeito do grau de fragmentação nos custos unitários das operações subsequentes ao desmonte. 3 2. Escavação de Maciços Rochosos com Substâncias Explosivas 2.1. Propriedades Geotécnicas das Rochas 2.1.1. Escavabilidade de Maciços Rochoso (Critério de Franklin) Uma das primeiras decisões a tomar, a nível de projecto, diz respeito à definição do método de escavação, que normalmente, em presença de um maciço rochoso implica a perfuração e o desmonte com explosivos enquanto para os solos envolve o uso de meios mecânicos (Figura 1). Nos terrenos de tipo intermédio, poderão ser usados explosivos para desagregar e técnicas de escarificação ou de ataque pontual. Entende-se por escavabilidade de um maciço rochoso, a sua capacidade de resistência à acção proporcionada pelos equipamentos de escavação, tanto mecânicos como explosivos. Esta apetência do maciço para ser desagregado, é um factor determinante nas fases de projecto e de execução. (Bastos, 1998) Ao longo dos tempos, têm sido desenvolvidos vários critérios de classificação dos maciços rochosos em função da sua escavabilidade. Estes critérios baseiam-se em diversos parâmetros de avaliação, existindo alguns de concepção simples e outros que incorporam um largo conjunto de características dos materiais e de equipamentos propostos (Tabela 1). Tabela 1- Principais critérios de escavabilidade e respectivos parâmetros (Bastos, 1998). Autores Parâmetros mecânicos associados Franklin, 1971 Is50 (índice de resistência à compressão pontual) ou resistência à compressão uniaxial (RCU) ou númerode Schmidt e espaçamento médio entre fracturas (F) ou RQD (Rock Quality Designation). Weaver, 1975 Velocidade sísmica, dureza, grau de alteração e espaçamento (F), continuidade, preenchimento e orientação das fracturas. Romana, 1981 RCU, RQD, grau de abrasividade (equivalente de sílica). Kirsten, 1982 RCU, RQD, Jn e Jr do sistema de classificação Q (de Barton), posição relativa dos blocos, alteração de fracturas. Abdullatif e Cruden, 1983 RMR (Rock Mass Rating). Scoble e Muftuoglu, 1984 Grau de alteração, RCU, Is50, espaçamento de diaclases, espessura (ou possança) média da estratificação. Hadjigiorgiou e Scoble, 1988 Is50, tamanho dos blocos, disposição estrutural, grau de alteração. Singh, 1989 Resistência à tracção, grau de alteração, grau de abrasividade, espaçamento das fracturas. 4 O método desenvolvido por Franklin (1971) foi inovador, ao propor uma sistematização do conceito de escavabilidade. Tem por base uma classificação do maciço rochoso com base em parâmetros obtidos em testemunhos de sondagens, relacionando a resistência da rocha (Is50 - índice de resistência à carga pontual) com o espaçamento médio entre fracturas. Estes parâmetros podem ainda ser correlacionáveis com outras grandezas, o Is50 com a resistência à compressão simples e com o número de Schmidt e, o espaçamento médio entre fracturas com o RQD. Este método, conforme se pode observar na Figura 1, define quatro métodos de desmonte do maciço rochoso: Escavação mecânica; Escarificação; Uso de explosivos para desagregação; Desmonte com explosivo. Devido à data da sua concepção, a classificação encontra-se um tanto imprecisa, uma vez que os equipamentos de escavação e as tecnologias associadas evoluíram consideravelmente, tornando possível a expansão das áreas de escavação mecânica e escarificação para as zonas de desmonte com recurso a substâncias explosivas. No entanto, mantém-se como uma boa base de trabalho relativamente às características resistentes do maciço rochoso (Bastos, 1998). Este método apesar da sua aparente simplicidade ainda hoje é o método de eleição de muitos projectistas, dado a sua ampla abrangência. Por não contemplar todos os parâmetros que, por vezes, são necessários à caracterização dos maciços rochosos, o critério de Franklin poderá ser complementado com outros parâmetros tais como orientação das fracturas no maciço ou a influência da água subterrânea. Figura 1- Classificação da escavabilidade de maciços rochosos, segundo Franklin et al. (adaptado de Franklin et al, 1971, in López Jimeno e Díaz Méndez, 1997) 5 Convém referir que este, assim como outros critérios de classificação de escavibilidade de maciços rochosos, não contemplam alguns dos restantes factores relacionados com o desmonte de rocha, e que podem ser limitativos quanto ao método de escavação a utilizar, nomeadamente, factores ambientais, económicos, estruturais, etc. (Louro, 2009). 2.2. Substâncias explosivas na escavação de maciços rochosos Entende-se por explosivo, como um composto químico ou mistura de compostos, que, quando iniciado por calor, impacto, fricção ou choque, tem capacidade de entrar numa rápida decomposição, libertando uma considerável quantidade de calor e gás (Hartman, 1992). A indústria dos explosivos viveu mudanças substanciais desde 1985, com muitas técnicas tradicionais a tornarem-se obsoletas tendo os explosivos evoluído drasticamente (Hartman, 1992). Desde 2000 que a utilização de ANFO e emulsões se tornou prática corrente tanto na exploração mineira como obras de construção civil, sendo que o primeiro se encontra actualmente em desuso. O recurso a fórmulas empíricas e ao trabalho por tentativas é muitas das vezes a única solução disponível para projectar adequadamente um desmonte, devido à dificuldade intrínseca do problema. Os explosivos podem ser classificados como deflagrantes ou detonantes, sendo que os primeiros se caracterizam por a detonação se dar por meio de uma combustão dos seus constituintes, que se processa a uma velocidade inferior à do som. As pólvoras são um exemplo de um explosivo deflagrante. Os explosivos detonantes, dependendo da sua composição, decompõem-se a velocidades muito superiores quando comparado com os referidos anteriormente. No decorrer da sua decomposição é produzido um volume considerável de gás, a temperatura e pressão extremamente elevadas. Actualmente os explosivos detonantes são aqueles que são utilizados nas principais obras mineiras e geotécnicas. 2.2.1 Acção de explosivos no seio de rochas Muitas teorias têm sido propostas sobre o mecanismo de fragmentação das rochas devido à acção das substâncias explosivas. Tal como foi referido anteriormente, segundo Konya e Walter (1990), dois mecanismos distintos têm lugar neste processo: em primeiro lugar, uma onda de choque, do tipo compressiva, desenvolve-se em torno da carga explosiva; em segundo lugar, após a passagem da onda de compressão ao longo da rocha, a pressão do gás no furo submete novamente a rocha a tensões de compressão. Sendo assim, a detonação das cargas explosivas nos furos, ocorre em duas fases distintas (Bernardo, 2009): 6 fase dinâmica – o maciço é sujeito a uma perturbação dinâmica violenta, aplicada num curto espaço de tempo, que é produzida por uma onda de choque que se desloca a uma velocidade que é essencialmente dependente do tipo de rocha, mas também do tipo de explosivo. A onda, propagando-se radialmente a partir do furo, é gradualmente atenuada com a distância, o que dá lugar a um regime de propagação duma onda de tensão compressiva, do tipo sónico; fase quase-estática – é caracterizada pela expansão dos gases resultantes da detonação da carga explosiva, originando a aplicação de tensões elevadas, em regime quase estacionário. A designação atribuída (quase-estática) deve-se à ordem de grandeza dos tempos associados a esta fase, visto que, a propagação das ondas de tensão ocorre na ordem de grandeza das dezenas de microsegundos, a pressurização dos gases ocorre por vários milisegundos. Assim, a fase dinâmica corresponderá à acção das ondas de choque no maciço rochoso, e a fase quase-estática é aquela devida ao trabalho mecânico realizado pelos gases provenientes da reacção química de decomposição do explosivo, ou seja, corresponde ao deslocamento dos blocos do maciço rochoso. Há que salientar ainda a contribuição de um outro mecanismo no arranque de rochas com explosivos: a rotura por reflexão de ondas em superfícies livres da rocha. Quando as cargas explosivas são detonadas nas proximidades dessas superfícies, ocorre um tipo de fracturação característico, designado por “escamação periférica”, cuja natureza depende exclusivamente do mecanismo dinâmico desencadeado pela onda de choque, não havendo qualquer participação da energia contida nos gases da explosão (Dinis da Gama, 2003). Logo após a detonação, tem lugar a deformação da zona fragmentada em torno do furo, seguindo-se a iniciação e propagação de fracturas radiais por acção da tensão de tracção, na direcção tangencial, associada à onda emitida. Quando esta última atinge a superfície de separação rocha-ar, passa a transportar tracções na direcção radial, que originam a escamação periférica, a qual se vai desenvolvendo até maior ou menor distância para o interior do maciço rochoso, simultaneamente com o prolongamento das fracturas radiais previamente formadas. Finalmente, os gases da explosão passam a desenvolver o processo de expansão, do qual resultam a abertura das fendas radiais, a definição da forma geométrica final da cratera e ainda a projecção dos fragmentos de rocha arrancados (Dinis da Gama, 2007). Para a propagação de fracturas radiais contribui também a existência de micro-fracturas naturais e outras fissuras, sobretudo as causadas pelas operações de perfuração, que precedem o arranquecom explosivos (Bernardo, 2004). A sequência dos eventos encontra-se esquematizada na Figura 2. 7 Figura 2 - Sequência temporal de eventos verificados numa detonação em rocha situada na vizinhança de uma superfície livre (adaptado de Hartman,(1992) por Bernardo (2004)). 2.2.2. Propriedades essenciais (Energia específica, Velocidade e Pressão de detonação) Entende-se por energia específica como energia total libertada por um explosivo, podendo ser dividida em duas componentes: a energia da onda de choque (designada por fase dinâmica) e a energia dos gases em expansão (designada por fase quase-estática). A componente de choque da energia é produzida pela elevada pressão da frente de detonação à medida que esta progride ao longo da carga explosiva e embate nas paredes do furo. A sua magnitude é proporcional à densidade da carga explosiva e velocidade de detonação. Esta componente é a que primeiro contribui para a rotura do maciço. A energia dos gases é a outra componente da energia total libertada definindo-se como a energia a alta pressão e temperatura existente após a passagem da onda de choque. Esta componente exerce uma forte pressão nas paredes do furo já fracturado pela acção da onda de choque, originando o deslocamento do material rochoso. (Bernardo, 2009) A velocidade de detonação define-se como a velocidade a que a onda de detonação se propaga ao longo da coluna de explosivo e define o ritmo de libertação de energia. Os explosivos comerciais têm uma velocidade de detonação entre os 1500 m/s para o ANFO e os 6700 m/s para o cordão detonante, sendo que a maioria dos explosivos comerciais têm velocidades entre 3000 m/s e 5000 m/s. Por norma, quanto maior a velocidade de detonação de um explosivo mais adequado será a sua aplicação para fragmentar rochas de maior dureza. (Hartman, 1992). Existem vários factores que afectam a velocidade de detonação, sendo de salientar o diâmetro da carga, densidade, grau de confinamento, temperatura e iniciação. No instante que um explosivo detona, é libertada uma intensa pressão, sob a forma de onda de choque, que faz sentir em todos os locais por uma fracção de segundo. A pressão de detonação define-se como a máxima pressão teórica existente na zona de reacção, medida no plano Chapman-Jouget (plano C-J), plano esse onde a reacção química é completa, assumindo-se uma detonação ideal (Bernardo, 2009). A equação que define este parâmetro é: 8 𝑷𝒅 = 𝝆𝒆 × 𝑽𝒅 𝟐 𝟒 (2.1) Pd : pressão de detonação (kPa). 𝜌𝑒: massa volúmica da substância explosiva (kg\m 3). Vd : velocidade de detonação (m/s). 2.2.3 Explosivos de desmonte (diferentes tipos e suas aplicações) Existem essencialmente 3 classes de explosivos industriais actualmente disponíveis no mercado, quando classificados consoante a sua composição química: Gelatinosos: caracterizam-se por ter por base a Nitroglicerina. Têm altas velocidades de detonação, densidades e resistência à água. Granulados: consiste numa mistura de nitrato de amónio, com hidrocarbonetos líquidos (nomeadamente gasóleo). O principal exemplo deste tipo de explosivos é o ANFO. Estes explosivos apresentam uma grande limitação, no que concerne à presença de água, uma vez que para uma saturação superior a 10% o explosivo não detona. Emulsões: Consiste numa solução aquosa de nitrato de amónio dispersa numa fase exterior ou contínua, gasóleo, por intermédio da acção de agentes emulsionantes. A estabilidade da estrutura do tipo água/óleo depende do emulsionante e a sua sensibilidade da quantidade de ar ou das microesferas adicionadas para garantir a estabilidade adequada. A redução da dimensão destas partículas é importante, pois um maior contacto entre o oxidante e o combustível, resulta num aumento do grau e eficiência das reacções, obtendo-se maiores velocidades de detonação (Bernardo, 2009). No caso das Emulsões estas têm-se desenvolvido significativamente desde os anos 70, e têm tido grande receptibilidade pelo mercado dadas as suas vantagens quando comparadas com os restantes tipos de explosivos apresentados anteriormente. Entre as principais vantagens tem-se o baixo custo, resistência à água, produtos com densidades entre 0,9 e 1,45 e elevada segurança no manuseamento. 2.2.3.1. Critérios de selecção de explosivos de desmonte A selecção do tipo de explosivo é um critério importante para o dimensionamento de um desmonte, e consequentemente para os resultados a obter. O processo de selecção do tipo de explosivo a utilizar em determinado desmonte, não deve ser visto apenas do ponto de vista económico, uma vez que na maioria das situações não conduzem a um resultado global do desmonte mais económico. Segundo Hartman (1987) os factores a considerar no processo de selecção de um explosivo para o adequar à aplicação em causa, podem ser divididos em seis grupos (Tabela 2). 9 Tabela 2- Principais variáveis influenciando o processo de selecção de um explosivo, (Hartman, 1987; citado por Bernardo, 2004) Factores Económicos - Custo de explosivo; - Custo da perfuração; - Outros custos (fragmentação secundária, transporte e britagem); Características da rocha e do maciço rochoso - Propriedades geomecânicas da rocha (densidade, velocidade de propagação das ondas, resistência à compressão e tracção dinâmicas); - Grau de fracturação do maciço Tipo de explosivo - Impedância característica; - Pressão de detonação, energia disponível e volume de gases; - Sensibilidade e condições de armazenamento; Condições Existentes - Dimensões da carga (diâmetro e comprimento); - Tipo e ponto de iniciação; - Atacamento e desacopolamento; - Presença de água; Resultados Pretendidos - Volume de rocha a desmontar; - Grau de fragmentação a obter; Restrições Ambientais - Vibrações do terreno; - Onda aérea (ruído); -Libertação de poeiras; - Projecção de Blocos; - Sobrefacturação do maciço remanescente; Uma vez que existe uma vasta gama de explosivos disponíveis no mercado, é essencial conhecer as suas características de modo a eleger de forma qualitativa e quantitativa, o explosivo mais adequado para os objectivos delineados. A Tabela 3 apresenta as principais substâncias explosivas presentes no mercado nacional, salientando, em termos das suas propriedades, as que mais influenciam a sua aplicação. Tabela 3- Comparação entre substâncias explosivas de uso industrial. (Bernardo, 2004) Substâncias explosivas Pólvoras Gelatinoso Granulado Emulsões Composição base Nitrato de potássio, Enxofre e Carbono Nitroglicol ou Nitroglicerina Nitrato de amónio e Gasóleo (ANFO) Soluções aquosa de nit. de amónio, óleos e emulsionantes Resistência à água Má Excelente Má Boa Densidade Variável 1,4/1,5 0,75/0,85 0,9/1,25 Apresentação Granel - Encartuchado Observações Rocha Ornamental Mais Caros Mais Baratos Mais Recentes 10 2.2.4. Diagramas de fogo A aplicação de substâncias explosivas é concretizada através de diagramas de fogo, nos quais são ajustados os diversos parâmetros relativos ao dimensionamento das cargas explosivas a aplicar. Na etapa de definição do diagrama de fogo tem de se ter em atenção os seguintes factores: produção requerida por pega, carga máxima admissível por retardo, diâmetro do furo, comprimento do furo, número de furos, distância (afastamento) à face livre, espaçamento entre furos, atacamento, subfuração, carga específica e consumo específico. As relações empíricas para dimensionamento de diagramas de fogo para desmontes em bancadas a céu aberto (Figura 3) foram inicialmente propostas por Ash, em 1963 (Tabela 4) e, posteriormente, confirmadas na prática em numerosas explorações a céu aberto a nível mundial, compreendendo variadas geometrias de escavação, várias alturas de bancada, diversos diâmetros de furo, diferentes litologias e distintos tipos de explosivo. Por essarazão, considera- se que constituem excelentes aproximações iniciais, em relação aos diagramas de fogo considerados ideais (Dinis da Gama, 2003; Hustrulid, 1999). Tabela 4- Dimensionamento geométrico de diagramas de fogo segundo Ash (modificado por Dinis da Gama, 1998) Parâmetros Expressão Constantes empíricas Intervalos de variação Características de aplicação Afastamento 𝐴 = 𝐾𝑎 ∙ ∅𝑓 𝐾𝑎 25 ≤ 𝐾𝑎 ≤ 40 Densidades do explosivo e do maciço rochoso Espaçamento 𝑆 = 𝐾𝑠 ∙ 𝐴 𝐾𝑠 1,25 ≤ 𝐾𝑠 ≤ 5 Simultaneidade do disparo Altura da Bancada 𝐻 = 𝐾𝐻 ∙ 𝐴 𝐾𝐻 1,5 ≤ 𝐾𝐻 ≤ 4 Produção (em volume) Atacamento 𝑇 = 𝐾𝑡 ∙ 𝐴 𝐾𝑡 0,5 ≤ 𝐾𝑇 ≤ 1 Preocupação Ambiental Furação abaixo do piso 𝐺 = 𝐾𝐺 ∙ 𝐺 𝐾𝐺 0,2 ≤ 𝐾𝐺 ≤ 0,5 Correcção de Repés Figura 3 - Parâmetros de um diagrama de fogo para desmontes em bancadas a céu aberto (adaptado de IGM, 1999) 11 O recurso a fórmulas empíricas é muitas das vezes a única forma de solucionar adequadamente o problema do dimensionamento de diagramas de fogo, devido à dificuldade em conhecer certos factores, principalmente aqueles que são intrínsecos à geologia do maciço. Sendo, que o responsável pela operação de desmonte tem um papel fundamental na recolha criteriosa dos dados que permitem a optimização desejada. O diâmetro furo a utilizar depende da rocha a ser desmontada, do grau de fragmentação pretendido, altura da bancada, e está normalmente condicionado pelo tipo de equipamento disponível. Na Tabela 5 estão representados os aspectos a ter em atenção na selecção do diâmetro de um furo, e respectivas desvantagens/vantagens para um maior diâmetro. Tabela 5 – Critério de Selecção do diâmetro de um furo Depende dos seguintes factores Quanto maior o diâmetro Desvantagens Vantagens - Características do maciço rochoso; - Grau de fragmentação pretendido; - Altura da bancada - Configuração das Cargas - Processo de furação e desmonte - Ritmo de produção - maior granulometria média dos produtos obtidos - maior risco de blocos grandes - maior risco de projecções - maior facilidade à ocorrência de fracturas indesejadas - maior economia - melhor adaptação a bancadas de altura média/alta 2.2.4.1 Atacamento Descreve-se de seguida o caso específico do atacamento, dado a sua importância para este trabalho. Entende-se por atacamento como a porção do furo, acima da carga explosiva, que se encontra preenchida por material inerte, de modo a proporcionar um confinamento dos gases resultantes da detonação dos explosivos. No caso de uma altura de atacamento insuficiente, poderá ocorrer uma libertação prematura dos gases para atmosfera, dando origem a uma onda aérea de elevada intensidade, com risco de projecções de blocos pelo topo do furo. No caso inverso, uma altura de tamponamento sobredimensionada, pode dar origem a uma grande quantidade de blocos de dimensão excessiva provenientes do topo da bancada, um fraco deslocamento da mesma e um aumento considerável da intensidade das vibrações (Jimeno, 2003). No cálculo da altura de tamponamento, há que considerar o maior ou menor confinamento exigido aos gases resultantes da detonação. Este parâmetro é bastante influenciado pela qualidade do atacamento, de forma a garantir que os gases realizem trabalho adicional na fragmentação. (Bernardo, 2004) 12 Habitualmente o material utilizado como tamponamento é o pó resultante da furação, devido à facilidade de acesso e de carregamento no furo. Apesar da generalizada utilização, apresenta alguma ineficiência, uma vez que dado as suas características, oferece pouca resistência à acção dos explosivos e é facilmente ejectado pelo topo do furo. Alguns autores sugerem que a utilização de um material angular proveniente da britagem, garante um tamponamento mais eficiente, essencialmente no que diz respeito à resistência que este oferece à pressão exercida pela detonação. 2.2.4.2. Consumos específicos de carga explosiva O consumo específico de explosivo (equação (2.2)), refere-se à quantidade de explosivo necessária para fragmentar 1 m3 ou 1 t de rocha, em que H, G, T, A e S se referem aos parâmetros para dimensionamento de desmontes em bancadas a céu aberto, propostas por ASH (1963) (Tabela 4), ∅𝑓 é o diâmetro do furo (mm), 𝜌𝑒 a massa volúmica da substância explosiva (kg/m3), e α o ângulo do furo com a horizontal (Bernardo, 2004). q = (H + G − T)π ∙ ∅f 2 ∙ ρe 4ASH ∙ senα (2.2) A carga explosiva de um furo depende apenas da densidade relativa do explosivo (assim como do comprimento do furo e da sua secção) mas não de qualquer outra propriedade termodinâmica capaz de exprimir a energia que nesse furo de aplica. O consumo específico de carga explosiva de um desmonte aumenta com: a diminuição do diâmetro dos furos; a diminuição do número de faces livres; o aumento de competência da rocha o aumento do grau de fragmentação requerido; o tempo de retardo inadequado ou a má distribuição da carga no maciço. Em conclusão, os maciços de maior competência, cujo desmonte exige uma malha mais apertada, menores diâmetro de furação e aplicação de cargas explosivas mais densas, estão associados a consumos específicos mais elevados (Tabela 6). Contudo, os consumos específicos mais elevados, para além de proporcionarem uma boa fragmentação e deslocamento da rocha, dão lugar a menores problemas de repés (em escavações a céu aberto) e podem ajudar a alcançar o ponto óptimo do custo total das operações (perfuração, desmonte, carga, transporte e fragmentação/britagem) (Jimeno, 2003). 13 Tabela 6 - Competências de rocha vs consumo específico de explosivo (Jimeno et al, 2003) Tipo de Maciço Consumo específico (kg/m3) Muito competente e Resistente 0,6 – 1,5 Resistência média 0,3 – 0,6 Brando ou muito fracturado 0,1 – 0,3 2.2.5. Air-deck No processo convencional, em que o furo se encontra totalmente preenchido por explosivo e com o atacamento, no instante em que uma carga explosiva é detonada no interior de um furo, a enorme pressão gerada inicialmente, excede em larga medida a resistência dinâmica da rocha. A técnica de air-deck (coluna de ar) tem por base a utilização de um ou mais espaços vazios na coluna de explosivo, como um meio para optimizar a fragmentação para um dado comprimento de carga (Figura 4). Esta metodologia foi proposta por Melnikov (1979). Em consequência a onda de choque começa a propagar-se ao longo da rocha, fragmentando-a em partículas de pequenas dimensões ou seja, uma grande parte da energia gerada na detonação é desperdiçada na área circundante à carga explosiva (zona de pulverização). (Cavadas, 2012). Figura 4 – Esquema da técnica de air-deck, quando comparado com o método tradicional. A utilização da técnica de air-deck permite utilizar de uma forma mais eficiente a energia gerada na detonação. Esta técnica consiste essencialmente na introdução de um air-deck (coluna de ar) no topo, a meio ou no fundo do furo, de modo que aquando da detonação da carga explosiva, ocorram reflexões da onda de choque no interior do furo dando origem a ondas de tensão secundárias. Este fenómeno aumenta a extensão de propagação das fracturas previamente à expansão dos gases. 14 Com a diminuição da pressão associada à detonação, devido à utilização de air-deck, reduz-se a fragmentação excessiva da rocha na zona adjacente ao furo, mas, contudo, continua a ser capaz de criar um sistema de fracturas extensas, ao mesmo tempo que os gases resultantes da detonação continuam a garantir o deslocamento dos blocos do maciço rochoso. Este processo acrescenta apenas alguns microssegundos ao evento de modo que um observador externo não notará nada de diferente acerca da detonação. A utilização de um air-deck na interface explosivo-tamponamento permite que os gases libertados durante a detonação da carga explosiva possam ocupareste espaço, tendo sido possível inferir por vários estudos realizados, que a diminuição de pressão pela utilização de um air-deck, não é significativo para o efeito de fragmentação (Figura 5) (Cleeton, 1997). A Figura 5 contempla a variação de fragmentação em função do volume de air-deck, em que este último está representado em percentagem do volume de explosivo mais o volume do air-deck. Ou seja, é a quantidade de explosivo que pode ser removido do furo e substituído por ar. Figura 5 - Analise da fragmentação em função da percentagem de volume de air-deck (Cleeton, 1997) O gráfico da Figura 5 foi obtido através de um trabalho de investigação desenvolvido na Austrália no qual se concluiu que 20 a 30% da carga explosiva presente num furo pode ser substituída por ar, antes de se atingir uma deterioração significativa na fragmentação obtida (Cleeton,1997). 2.2.6. Dispositivos de melhoria de tamponamento Existem hoje em dia no mercado vários dispositivos disponíveis que possibilitam uma melhoria do desempenho global do desmonte, controlo de projecções e produtividade. O aparecimento deste tipo dispositivos está associado à necessidade de optimizar o tamponamento, de modo a impedir a saída de gases pela boca do furo, e garantir que estes fluam através da face livre em vez de pelo tamponamento. O resultado final é um aumento da energia transmitida ao maciço rochoso, sendo expectável uma melhoria na fragmentação e tornando a operação do desmonte mais eficiente, devido à diminuição de perdas energéticas. 15 O plug funciona criando um efeito de bloqueio no furo, fazendo de cunha para o material de tamponamento. No instante da detonação dos explosivos o plug é forçado para cima contra o tamponamento e fica bloqueado. Os gases e a sua energia são impedidos de escapar pelo topo do furo, e em vez disso são contidos no seio do maciço rochoso por mais tempo (na ordem dos milissegundos) do que numa detonação sem estes dispositivos. Estes dispositivos também aumentam o tempo retenção da energia de detonação em 2 a 4 vezes mais e obviamente, que o confinamento dos gases e a sua conservação no seio da rocha, aumenta o nível de fragmentação (Figura 6 e Figura 7). Figura 6 – Plugs (www.varistem.com). Figura 7 – Aplicação do plug. Figura 8 – Esquema do furo com plug. Um plug como o da Figura 6 (quando devidamente suportado por um atacamento adequado) é destruído na fase de libertação de calor, acrescentando assim alguns milissegundos que permitem que os gases libertados na detonação se propaguem pelo maciço rochoso. Existem vários tipos de plug’s disponíveis no mercado, que tanto podem ser insufláveis, como semi-rigidos (Figura 6). A grande maioria destes dispositivos estão focados na diminuição do consumo de explosivo, por aplicação da técnica de air-deck, e não na melhoria da qualidade do tamponamento. Estes plug’s, ao servirem de suporte ao atacamento, permitindo uma redução do consumo de explosivo, mas não uma melhoria da fragmentação obtida. Uma vez que não apresentam resistência às condições existentes na fase inicial da detonação, são destruídos em milésimos de segundo na primeira onda de pressão. Existem outros tipos de plug’s semi-rígidos (usualmente feitos de plástico), mas que não conseguem garantir a melhoria de tamponamento assegurado pelos plug’s Varistem, funcionando apenas para servir de suporte ao material de atacamento. Plug Explosivo Atacamento 16 2.3. Impactes Ambientais de Desmontes com explosivos Nos últimos anos os problemas ambientais têm vindo a tomar uma posição de maior preocupação por parte da opinião pública, daí que tenham sido implementadas pelos órgãos políticos legislação de conservação da Natureza. Entende-se por impacte ambiental “como o conjunto das alterações favoráveis e desfavoráveis produzidas em parâmetros ambientais e sociais, num determinado período de tempo e numa determinada área, resultantes da realização de um projecto, comparadas com a situação que ocorreria, nesse período de tempo e nessa área, se o projecto não viesse a ter lugar” (Decreto de lei nº69/2000, de 3 de Maio). Na indústria extractiva a céu-aberto, a principal fonte de impactes ambientais provém da escavação de maciços rochosos com recurso a explosivos, devido aos efeitos que originam. Cabe ao responsável pelo diagrama de fogo, ajustar o explosivo ao ambiente geológico, procurando as soluções que melhor se adaptem, optimizando cada aplicação e consequentemente, verificando menor impactes ambientais. (Bernardo, 2004) Com efeito, qualquer excesso de energia empregue na fase de escavação, é prejudicial, uma vez que tem como consequências: (Bernardo, 2004): Ocasionar custos mais altos de equipamentos e materiais; Tornar o maciço menos resistente, mais deformável e mais permeável; Provocar impactes ambientais acrescidos; Obrigar a usar suportes mais resistentes e mais caros; De seguida serão apresentados os impactes ambientais mais comuns resultantes de desmontes com recurso a explosivos, em explorações a céu aberto. 2.3.1. Onda aérea O uso de explosivos origina a propagação de ondas de choque através da atmosfera, gerando um som desagradável (ruído) e vibrações aerotransportadas, vulgarmente conhecidas por onda aérea ou sopro. As vibrações aerotransportadas resultam, essencialmente, da vibração da superfície do terreno, enquanto o ruído é geralmente gerado pela libertação de gases, uso de cordão detonante e/ou pela colisão de blocos projectados entre si e o piso. Sendo que as principais medidas a tomar de modo a minimizar este impacte são: 1. Utilizar um atacamento com dimensão adequada (usualmente 0,7 vezes o afastamento); 2. Utilizar como material de atacamento, rocha fragmentada em vez do usual pó de furação, ou então dispositivos de melhoria de atacamento (plug); 3. Analisar a face livre de modo a detectar fracturação excessiva da frente de desmonte, e carregar com explosivos a primeira fila de furos em conformidade; 17 4. Detonar quando as condições de vento sejam favoráveis (nomeadamente quando a sua direcção seja contrária ao local das estruturas a proteger); 5. Utilização de detonadores não eléctricos, em vez do cordão detonante. Consoante a intensidade da onda aérea, são vários os efeitos esperados (Tabela 7). Tabela 7 – Limites da onda aérea (Bhandari, 1997) dB(L) kPa Efeitos 177 14,00 Quebra de todas as janelas 170 6,30 Quebra da maioria das janelas 150 0,63 Quebra de algumas janelas 140 0,20 Quebra de janelas soltas 136 0,13 Limite admissível segundo o USBM 128 0,05 Queixas prováveis 2.3.2. Poeiras No instante após uma detonação gera-se uma grande quantidade de poeiras mas, dado que esta situação ocorre normalmente uma vez por turno de trabalhos, faz com que as detonações não sejam uma fonte significativa de poeiras, quando comparadas com as restantes operações associadas à exploração. Sendo as actividades de carácter contínuo tal como carga, transporte e britagem, mais relevantes na emissão de poeiras. A afectação das comunidades envolventes à exploração está dependente da sua proximidade às detonações e a localização face aos ventos dominantes. Deste modo as medidas a tomar para a diminuição de emissão de poeiras em detonações, são: Redução ao mínimo da frequência dos disparos, se possível para uma periodicidade semanal; Adiar a detonação até se verificar as condições atmosféricas ideais, particularmente a direcção do vento; Evitar usar pó resultante da furação para o tamponamento; Molhar o material fino no exterior do furo, após o tamponamento e imediatamente antes da detonação; Molhar as frentes antes da detonação; Evitar utilização de cordão detonante, no sentido de evitar a destruição do tamponamento. 18 2.3.3. Projecção de Blocos Entende-se como projecção de blocos como o deslocamento devolumes do maciço rochoso, a distâncias superiores às previstas e desejáveis, em termos da optimização da operação de carga transporte. Esse efeito ocorre devido à rede de fracturação pré-existente e induzida e à energia libertada na detonação. Quando ocorre, a projecção de blocos pode constituir um dos impactes mais graves resultantes do processo de escavação com explosivos, na medida em que os fragmentos lançados podem originar acidentes graves, envolvendo equipamentos ou infra- estruturas diversas (Bernardo, 2004). Sendo que as principais causas de ocorrência de projecção de blocos: Excesso de carga explosiva no furo; Reduzido afastamento à superfície livre; Sequência de temporização incorrecta; Cavidades ou alterações geológicas no maciço rochoso; Desmonte secundário; Uso de cordão detonante na iniciação dos furos; Decapagens usando explosivo. Foi proposto por Lundborg (1981) uma expressão baseada em estudos experimentais, para o cálculo do alcance máximo dos fragmentos projectados ( 𝐿𝑚á𝑥[𝑚]), (2.3). Lmáx = (150q − 30) ∙ ∅f (2.3) 𝑞- Carga específica; ∅𝑓- Diâmetro do furo [polegadas]. Dado não ser possível eliminar por completo as possibilidades de projecções, as medidas de minimização devem ser sobretudo de carácter preventivas. Assim devem ser evitadas as situações referidas anteriormente como principais causas de projecção de blocos. 2.3.4. Vibrações Entende-se por vibração como um movimento oscilatório de um material, sólido ou fluido, que foi afastado da sua posição de equilíbrio. No âmbito deste estudo, a vibração é tida como uma resposta elástica do terreno, constituído por solos e/ou rochas, à passagem de uma onda de tensão, com origem directa ou indirecta numa solicitação dinâmica. (Bernardo, 2004) Do ponto de vista da geração, após a libertação súbita de qualquer forma de energia no terreno, desencadeia-se a propagação radial de ondas volumétricas e superficiais, que perturba pessoas e atinge estruturas próximas, com amplitudes de vibração que dependem de vários factores (Dinis da Gama, 2003): Quantidade de energia libertada no fenómeno que as ocasionou; Distância entre a origem e o ponto onde se registam os seus efeitos; 19 Propriedades transmissoras e dissipadoras dos terrenos envolvidos; Resistência dinâmica das estruturas e dos seus componentes mais frágeis. Embora as vibrações possam ter outra origem, que não devida à utilização de substâncias explosivas para a escavação de maciços rochosos, tais como o uso de certos equipamentos de desmonte mecânico, Holmberg (1982) estima que os fenómenos de rotura de uma rocha resistente, por acção dinâmica, requerem velocidades vibratórias da ordem de 700 a 1.000 mm/s (Hustrulid, 1982), enquanto que as vibrações provocadas pelos equipamentos quaisquer que sejam são geralmente menos relevantes. Contudo, é importante referir que as gamas de velocidades vibratórias devidas ao trânsito rodoviário têm, por vezes, a mesma ordem de grandeza das que resultam das obras de escavação, para distâncias não superiores à centena de metros, de acordo com alguns estudos realizados pelo Centro de Geotecnia do IST (Bernardo, 2004). Sabe-se que, só uma reduzida parcela da energia transmitida aos terrenos é convertida em energia útil à fragmentação. Dinis da Gama (1998) estima que apenas cerca de 5 a 15 % da energia libertada pelas detonações de substâncias explosivas em rocha, sejam efectivamente usados na finalidade do seu emprego, a fragmentação da rocha. Porém, esta parcela, ao ser transmitida a grandes distâncias, pode afectar estruturas (Bernardo, 2004). De acordo com Sarsby (2000), são vários os factores que contribuem para a diminuição das vibrações com a distância: expansão geométrica das ondas no maciço; progressiva separação das três componentes (que provém das diferentes velocidades de propagação); presença de descontinuidades nos maciços; o atrito interno dinâmico característico das rochas. No entanto, a atenuação das ondas com a distância nem sempre se verifica. Por exemplo, em meios estratificados e se a sua geometria o favorecer, as ondas podem concentrar-se ou sobrepor-se a outras reflectidas, chegando a medir-se valores maiores da vibração em pontos mais afastados (Azevedo & Patrício, 2003). Os efeitos das vibrações nas estruturas estão também dependentes do tipo da estrutura e da geologia na qual se propagam as vibrações, como se pode ver na Figura 9, através de respostas dinâmicas diferenciadas, nas estruturas esboçadas 20 Figura 9- Efeitos das vibrações nas estruturas segundo a distância, a geologia e o tipo da estrutura (Bernardo, 2004) O controlo e a monitorização dos impactes resultantes de detonações resultam do compromisso de duas questões: em primeiro lugar, a quantidade de carga explosiva detonada por volume de rocha e, em segundo lugar, tem de ser estabelecido o limite máximo da carga explosiva disparada por retardo que não afecte ilegalmente as estruturas vizinhas (Konya e Walter, 1990). 21 2.4. Influência da Fragmentação nas Operações Unitárias Subsequentes ao Desmonte Sendo o desmonte de rochas com explosivos a primeira etapa do processo global de fragmentação das rochas, é óbvia a sua importância consoante os objectivos pretendidos, tanto para obras civis como explorações mineiras. O grau de fragmentação do material desmontado interfere na eficiência e no custo das operações subsequentes sendo, também, directamente afectado pelo esquema de furação e pela quantidade de explosivos consumidos (Dinis da Gama, 1971). O consumo energético nas operações de carga, transporte e britagem, dependem directamente da qualidade de fragmentação obtida (Sastry & Chandar, 2004; Ryu et al., 2009; Clerici & Mancini et al., 1974). Um desmonte que dê origem a um baixo grau de fragmentação, implicará uma operação deficiente nas actividades subsequentes que, por sua vez, levará a um maior consumo energético e, consequentemente, a mais custos. Uma exploração mineira a céu aberto consiste no conjunto de várias operações, que assim constituem um ciclo (Figura 10). Figura 10 – Diagrama das operações unitárias de uma exploração mineira. (Adaptado de Hustrulid, 1999) A economia global é uma regra importante, na medida em que qualquer tentativa exagerada de minimização de custos numa dada operação (por exemplo o desmonte) se irá reflectir negativamente nas operações subsequentes. Deste modo, o esforço tendente à redução do custo de escavação deve ser feito considerando todas as operações (custo total) e não apenas uma operação (Bernardo, 2004). 22 2.4.1. Desmonte Numa operação de furação e desmonte de rocha com explosivos o custo da operação está directamente relacionado com o grau de fragmentação que se pretende obter, à medida que o grau de fragmentação aumenta o custo unitário também aumenta (Figura 11). O aumento do grau de fragmentação pode ser conseguido de duas formas: aumentando a quantidade de explosivo ou utilizando um explosivo com mais energia. Para a primeira hipótese, o custo associado à furação irá aumentar, uma vez que aumento da quantidade de explosivo utilizada só é possível aumentando o diâmetro de furação ou alterando o diagrama de fogo para uma malha mais apertada. Assim sendo, será necessário um maior número de furos para desmontar o mesmo volume de rocha, ou a execução de furos de maior diâmetro. Para a segunda hipótese, o custo de furação mantém-se aumentado apenas o custo com o explosivo, uma vez que um explosivo mais enérgico é, teoricamente mais, caro (Hustrulid, 1999). Não obstante, que das duas hipóteses apresentadas o custo por tonelada de rocha desmontada aumenta. Figura 11 – Relação entre o custo unitário com perfuração e desmonte com explosivoso com o grau de fragmentação. (adaptado de Dinis da Gama, 1993) Por norma, um desmontecom um baixo grau de fragmentação torna necessário recorrer à fragmentação secundária, também designada por taqueio. Esta operação consiste em fragmentar blocos resultantes de uma pega de fogo, com dimensões superiores à capacidade do equipamento de carga ou do equipamento de britagem a que se destinam. (Bernardo, 2004) A fragmentação secundária pode ser feita recorrendo a um equipamento mecânico, martelo de impacto, ou com explosivos, só se justificando a utilização de explosivos, quando a fragmentação do bloco não puder ser conseguida recorrendo ao equipamento mecânico A execução do taqueio com recurso a explosivos acarreta elevados riscos de projecção de blocos, o que leva a que interfira no ciclo produtivo, devido à necessidade de mover os equipamentos e pessoas para um local seguro. Esta operação é altamente dispendiosa, dado a sua baixa produtividade, devendo ser evitada sempre que possível. 23 2.4.2. Carga A operação de carga dos fragmentos rochosos resultantes do desmonte de rocha com explosivos é, em termos de eficiência, dependente da qualidade do desmonte obtido, nomeadamente o grau de fragmentação e deslocamento da massa rochosa fragmentada. Considerando que a operação de carga é executada recorrendo a uma pá carregadora de rodas, o seu rendimento será maior quanto maior for o grau de fragmentação obtido no desmonte, uma vez que vai diminuir o tempo necessário para carregar o equipamento de transporte e aumentar o volume de material carregado por ciclo, uma vez que consegue encher mais facilmente o balde (Hustrulid, 1999). Uma fragmentação de material demasiado grosseira, pode reduzir o factor de enchimento da pá, fazendo com que seja carregado uma menor quantidade de material por ciclo. Esta diminuição do factor de enchimento, implica que no processo de carga do equipamento de transporte, serão necessários um maior número de ciclos atingir a capacidade de carga total do equipamento. Nas principais explorações em portugal esta operação é executada geralmente recorrendo a uma pá carregadora de rodas. O factor de enchimento médio de uma pá carregadora de rodas varia em função da qualidade do desmonte, nomeadamente o grau de fragmentação (Tabela 8). Tabela 8 – Factor de enchimento de uma pá carregadora, consoante a qualidade do desmonte. (CAT, 2015) Qualidade do desmonte Factor de enchimento Bom 80 – 95% Médio 75 – 90% Mau 60 – 75% Ainda que, sendo óbvio que um maior grau de fragmentação aumenta a produtividade do equipamento na operação de carga, esta depende também de factores como a forma e deslocamento da pilha de escombros, da experiência do operador, penetração do balde, força de arranque, tipo de balde, etc. Determinando os custos por hora do equipamento, resultará num custo por tonelada inferior, permitindo a realização de maior número de ciclos por hora de trabalho. 24 2.4.3 Transporte Esta operação é habitualmente executada com recurso a dumper’s. Em condições similares da operação de transporte, uma melhoria da fragmentação levará a uma melhoria da productividade do equipamento. Esta melhoria deve-se essencialmente à diminuição do tempo de ciclo do equipamento de carga, fazendo com que o dumper seja carregado num menor espaço de tempo, devido a um menor número de ciclos (pazadas), e a melhoria do factor de enchimento da pá, o que levará também a uma diminuição do tempo de ciclo, obtendo-se assim um menor custo por tonelada de material transportado. 2.5.4 Britagem Grande parte da energia eléctrica consumida numa exploração mineira a céu aberto, é gasta na operação de britagem, sendo significativo o efeito do grau de fragmentação obtido no desmonte de rocha, na eficiência e custos desta operação (Eloranta, 1995; Paley & Kojovic, 2001). Um aumento do grau de fragmentação do material desmontado permite obter menores custos de britagem, devido, não só a uma melhor eficiência da mesma, mas também devido a um menor desgaste do equipamento que leva a uma redução de custos a nível de reparação e manutenção. A granulometria do material de alimentação do britador, ou seja o material desmontado, afecta a produção e eficiência do mesmo, uma vez que uma fragmentação mais grosseira, leva a que o material tenha um maior tempo de residência no seio do britador, devido a uma maior relação de redução de tamanho que tem de ser obtida. Outro efeito associado à utilização de explosivos, tem por base a produção de fracturas internas nos fragmentos de rocha, o que faz com que o material seja mais facilmente fragmentado na operação de britagem. A energia gasta na operação de fragmentação/cominuição varia de 3 formas possíveis (Workman & Eloranta, 2003): 1. Se o calibre do material de alimentação diminuir, aumenta o rendimento do equipamento e menos energia é necessária para britar até ao calibre pretendido; 2. Um aumento das fracturas internas do material de alimentação reduz a quantidade de energia necessária para fragmentar esse material; 3. Um aumento da quantidade de material mais fino, passará directamente pelo britador sem ser britado, diminuindo a quantidade de material britado por hora. 2.5.5. Custos de produção e a sua relação com o grau de fragmentação Como se encontra ilustrado na Figura 12, a minimização de custos unitários nos desmontes com explosivos consegue-se pela adequada combinação de todas as operações, a partir de um grau de fragmentação óptimo (Dinis da Gama, 1993). 25 Em cada caso concreto, haverá que determinar por pontos, as curvas correspondentes à evolução de custos das diferentes operações relacionadas na Figura 12, processo que é difícil conseguir na prática. A experiência anterior e a realização de desmontes pode suprir em parte a falta de informação relativa à forma dessas curvas, permitindo prever o seu anulamento, reconhecer as suas tendências e fazer avaliações qualitativas do grau de fragmentação (Dinis da Gama, 1993). No entanto, o procedimento ideal consiste em optimizar por aproximações sucessivas o próprio desmonte, através de ajustamentos de parâmetros no diagrama de fogo, que levem as curvas a aproximarem-se progressivamente do ponto óptimo assinalado na figura. Uma vez determinado este ponto óptimo, relativamente ao custo, ele também será compatível com a minimização dos impactes ambientais, associados ao uso de substâncias explosivas (Figura 12), traduzindo-se, por isso, numa importante meta a atingir por parte dos responsáveis pelas obras de escavação. A partir do conhecimento do grau de fragmentação óptimo (ou tamanho máximo dos blocos), correspondente ao custo total mínimo, deve-se planear o diagrama de fogo de modo que este se aproxime o mais possível do critério de optimização do desmonte, ou seja à minimização dos custos totais (Figura 12) (Pizarro, 2005). Dado a interligação existente entre as várias operações unitárias, é importante que quando se procura a minimização de custos, é aconselhável olhar sempre para a economia global, e não para uma operação independente. Por exemplo, uma minimização de custos exagerada numa dada operação irá se reflectir negativamente em operações subsequentes. Ao contrário do que ocorre na maioria das indústrias, em que as soluções mais económicas são acompanhadas por maiores impactes ambientais, a minimização de custos nas escavações de rocha é compatível com a minimização dos seus impactes ambientais. De facto verifica-se que existe uma correlação entre a magnitude dos impactes ambientais e os custos das operações de desmonte de rocha com explosivos e que, através da fragmentação, são simultaneamente minimizados incentivando a aplicação de tecnologia adequada à solução dos dois problemas (Bernardo, 2004). Figura 12 – Minimização de custos nas várias operações unitárias em função da dimensão dos fragmentos e consequentes impactes ambientais (Dinis da Gama & Jimeno, 1993).
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