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0 0 - Meios de Resoluções e Conflitos

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AULA 1 
MEIOS DE RESOLUÇÕES DE 
CONFLITOS INTERNACIONAIS 
Prof.ª Sue Martins 
 
 
2 
A paz só pode estabelecer-se ou manter-se por meio de um pacto entre os 
povos, assim defendia Kant (2018), ainda em 1795, quando o filósofo concluiu que 
a guerra como via jurídica era condenada pela razão, a mesma que faz da paz um 
dever imediato. 
Nossa disciplina é justamente uma busca incessante pela paz. Veremos, 
no decorrer dos conteúdos, desde o histórico e evolução dos meios pacíficos de 
solução de conflitos internacionais: esse é o objetivo principal dessas ferramentas 
– estabelecer e manter a paz internacional. 
Dando razão a Kant, essa busca não pode acontecer senão pelo acordo 
entre os Estados, os quais, de seu “máximo poder/legislativo moral” (Kant, 2018, 
p. 146), condenaram a guerra como via jurídica, no entanto ainda não a 
eliminaram de todo, porquanto talvez ainda lhes falte, na razão, a urgência do 
estado de paz, intrínseca a quem sofre diretamente os horrores da guerra. 
Como estudaremos em nosso primeiro tema, os conflitos internacionais são 
desacordos, trocas negativas entre Estados ou grupos de Estados. Essas trocas 
podem ir desde uma divergência acerca da interpretação de um tratado até 
disputas territoriais, econômicas, políticas. 
Esses conflitos, a depender da solução buscada pelas partes conflitantes, 
podem obter diversos rumos no cenário internacional. Infelizmente, apesar da 
obrigatoriedade de se buscar uma solução pacífica para eliminar a controvérsia, 
nem sempre as partes encontram esse caminho, podendo atingir resultados 
catastróficos de proporções internacionais. 
Por esse motivo, dividimos nosso estudo em três momentos: evolução 
histórica e contextualização; meios coercitivos e meios não pacíficos; meios 
pacíficos de solução de conflitos. No primeiro momento, vamos analisar o histórico 
de desenvolvimento dos meios de solução existentes. 
Em seguida, os meios coercitivos, a guerra e o Direito Internacional 
Humanitário. Acerca dos meios coercitivos, detalharemos os seguintes institutos: 
retorsão, represália, embargos, bloqueio, boicote, rompimento das relações 
diplomáticas e atuação do Conselho de Segurança. 
Sobre a guerra, vamos nos basear em seu histórico até nosso contexto 
atual, passando pelas leis que a permeiam. O Direito Internacional Humanitário 
possui aqui um papel fundamental, uma vez que constitui um limitador da guerra. 
Após estudarmos os meios coercitivos e meios não pacíficos, passaremos 
ao estudo dos meios pacíficos de solução de controvérsia internacional, esses sim 
 
 
3 
avanços na busca e na manutenção da paz internacional. Nessa segunda fase, 
as soluções pacíficas serão divididas da seguinte forma: meios diplomáticos, 
meios políticos e meios jurisdicionais. 
Os meios diplomáticos são formulados entre Estados com a participação 
ou não de um terceiro. São meios diplomáticos de solução de controvérsia: 
negociação direta, bons ofícios, mediação, conciliação, sistema de consultas e 
inquérito. Enquanto os meios políticos são aqueles solucionados no âmbito das 
Organizações Internacionais ou abarcados por acordos regionais. 
Meios jurisdicionais são aqueles onde se diz o direito, através de uma 
sentença ou laudo arbitral. Dividem-se em solução judicial e arbitragem 
internacional. Quanto às soluções judiciais, adentraremos às Corte Internacionais 
permanentes, regionais e especializadas. No tópico da arbitragem internacional, 
além de discutirmos as características desse instituto, estudaremos os principais 
fóruns arbitrais internacionais. 
Esse é nosso plano de estudos: evolução histórica e contextualização; 
meios coercitivos e meios não pacíficos; meios pacíficos: diplomáticos e políticos 
e, meios jurisdicionais (solução judicial e arbitragem internacional). 
TEMA 1 – CONFLITOS INTERNACIONAIS 
Neste tópico, iremos compreender o que são conflitos internacionais. 
Quando pensamos em conflito, logo vem à mente a ideia de hostilidade, de luta. 
Mas nesta disciplina vamos abordar o conflito de uma forma mais ampla. Vamos 
entender o conflito como um desacordo. 
Nesse sentido, o conflito seria tanto uma simples divergência na 
interpretação de uma regra em um acordo bilateral, quanto uma disputa entre dois 
Estados por um território, cujo resultado pode culminar em hostilidade. 
A Corte Permanente de Justiça Internacional – CPJI expressou o conceito 
de conflito internacional no caso Mavrommatis (Court Permanente de Justice 
Internationale, 1924, p. 12, tradução nossa)1 como sendo “um desacordo sobre 
determinado ponto de direito ou de fato, ou seja, toda oposição de interesses ou 
de teses jurídicas”. 
Brotóns (2010) bem esmiuçou esse conceito da Corte trazendo seus 
elementos constitutivos, necessários à noção empregada, tanto objetivo quanto 
 
1 Texto original: Un différend est un désaccord sur un point de droit ou de fait, une contradiction, 
une opposition de thèses juridiques ou d'intérêts [...] 
 
 
4 
subjetivo. De maneira tal que o elemento objetivo seria o desacordo em si, a 
oposição entre as partes. Enquanto isso, o elemento subjetivo seria a presença 
das partes que nomeiam a controvérsia internacional, o sujeito de direito 
internacional. 
Outra decisão importante na concepção do conflito internacional foi o caso 
Sudoeste Africano (1962), quando a Corte Internacional de Justiça – CIJ 
acrescentou ao conceito a ideia de que esse conflito deveria, em um terceiro 
momento, manifestar-se no sentido de que a pretensão de uma parte encontrasse 
a oposição de outra, o que, segundo Brotóns (2010), seria um terceiro elemento, 
o elemento formal: 
não é suficiente que uma das partes em um caso contencioso afirme a 
existência de um litígio com a outra parte. A simples afirmação não é 
suficiente para provar a existência de um conflito, [...]. Também não é 
suficiente demonstrar que os interesses de ambas as partes em 
determinado caso estão em conflito. Deve ser demonstrado que a 
reclamação de uma das partes se encontra manifestamente em 
oposição à outra. (Caso Sudoeste Africano, 1962, p. 12) (Tradução 
nossa)2 
O mesmo autor ainda diferencia o conflito internacional de pequenas 
desavenças, situações conflitivas vagas e imprecisas, tensões cotidianas 
internacionais, que não possuem objeto definido ou, nem mesmo, muitas vezes, 
as partes determinadas (Brotons, 2010). 
No mesmo sentido, Amaral Junior (2015, p. 268) analisou ainda a diferença 
entre controvérsia internacional e tensão política, a fim de melhor delimitar o objeto 
desse estudo: “A tensão política é um antagonismo que não tem objeto 
circunscrito ou claramente definido. Exprime-se, em geral, em pretensões difusas, 
de cunho passional, não suscetíveis a critérios racionais, o que a torna refratária 
à solução pacífica”. 
De maneira que a tensão política pode ou não estar presente num conflito 
internacional, trazendo, portanto, maior dificuldade na solução pacífica da 
controvérsia. Também para Santulli (2005, p. 5), para que haja um conflito, é 
preciso que estejamos diante da pretensão de uma parte e da contestação de 
 
2 En d'autres termes, il ne suffit pas que l'une des parties à une affaire contentieuse affirme 
l'existence d'un différend avec l'autre partie. La simple affirmation ne suffit pas pour prouver 
l'existence d'un différend, [...]. Il n'est pas suffisant non plus de démontrer que les intérêts des deux 
parties à une telle affaire sont en conflit. Il faut démontrer que la réclamation de l'une des parties 
se heurte à l'opposition manifeste de l'autre. 
 
 
 
5 
outra. A pretensão pode ser explícita ou implícita, enquanto a contestação pode 
ser expressa ou tácita. 
Portanto, conflitos internacionais são disputas, trocas negativas entre 
Estados, oposição de interesses ou teses jurídicas. Essas trocas negativasentre 
Estados ou grupo de Estados podem abranger mero impasse sobre a 
interpretação de uma regra, mas também conflitos de enorme proporção, que 
podem, inclusive, chegar ao conflito armado. 
O objeto do conflito, litígio, disputa, lide, controvérsia, pode estar 
relacionado com qualquer área de interesse dos envolvidos, podendo ser político, 
cultural, econômico, religioso, ou de qualquer outra natureza que gere a 
divergência entre as partes. 
É importante compreendermos o direito internacional do ponto de vista da 
integração e interdependência dos povos. Os conflitos internacionais em geral 
fazem parte de um todo, de maneira que, enquanto um Estado impõe desacordos 
em sua região, do outro lado do globo, outro Estado está a sentir seus efeitos. 
Importante ressaltar, nesse ponto que, diferente do direito interno, no direito 
internacional não temos um órgão superior ou centralizado detentor de autoridade 
para dirimir todos os conflitos internacionais de uma sociedade envolvendo 
estados soberanos. 
Não há exclusividade de jurisdição, pois a “sociedade internacional é 
descentralizada, pautada por uma lógica de coordenação entre os Estados que a 
compõem. Os teóricos das relações internacionais afirmam que ela é anárquica, 
no sentido de que não há um governo mundial com poderes supranacionais, 
subordinando todos os estados” (Sloboda, 2018, p. 152). 
 Assim, quando surge um conflito, a depender de diversos fatores – por 
exemplo, da existência ou não de tratados entre as partes, de quem são os 
Estados envolvidos, bem como o objeto dessa controvérsia –, esse conflito será 
direcionado para uma solução. Atualmente, podemos dizer que, para pôr fim ao 
conflito, é necessária a cooperação internacional, sempre em busca da paz e sua 
manutenção, especialmente por meio da vontade e da boa-fé dos Estados 
soberanos. 
Logicamente, todo conflito possui um contexto histórico-social-cultural e 
não emerge do dia para noite. Temos que a própria institucionalização do conflito 
internacional é reflexo da necessidade dos Estados que – ao longo da história, 
conforme veremos adiante, desde as Convenções de Haia (1899 e 1907) – 
 
 
6 
resolveram instituir normas gerais, a fim de estimular os meios pacíficos de 
solução de controvérsias internacionais. 
Portanto, no mundo globalizado em que vivemos atualmente, não se 
permite um comportamento voltado apenas aos interesses internos dos Estados. 
Com base nessa reflexão, iniciaremos o histórico da evolução dos meios pacíficos 
de solução de controvérsia internacional, começando pela Paz de Westfália. 
TEMA 2 – HISTÓRICO – DA PAZ DE WESTFÁLIA ÀS CONFERÊNCIAS DA PAZ 
Para entendermos como chegamos aos mecanismos de solução de 
controvérsias existentes hoje, é preciso que tenhamos uma visão ampla dos 
acontecimentos históricos que conduziram e impulsionaram o direito internacional, 
como também, deram origem a todo esse sistema. 
A evolução dos mecanismos de solução de controvérsias é essencialmente 
vinculada à busca e à manutenção da paz. Para compreendermos esse histórico, 
vamos abordar a Paz de Westfália no século XVII, adentrando ao Congresso de 
Vienna de 1815, à Convenção de Genebra de 1864, às Convenções de Haia 1899 
e 1907, à Conferência de São Francisco de 1945 e seu fruto, a Carta da ONU. 
A Guerra dos 30 Anos foi um período sangrento na Europa, marcado 
principalmente por conflitos religiosos, após o qual declinou o poder da Igreja, 
rompendo com diversos preceitos e estabelecendo a soberania e igualdade entre 
os Estados. Essa soberania e igualdade estatal foi possível por meio da Paz de 
Westfália, no século XVII. 
A partir da Paz de Westfália iniciou-se um caminho comum para os Estados 
da Europa, que ao assinarem os Tratados de Westfália, em 1648, encerrando a 
Guerra dos 30 Anos, afirmaram sua soberania. Segundo o professor Wagner 
Menezes (2010, p. 23), foi a partir desse Tratado que se iniciou uma preocupação 
em sistematizar um direto internacional que resultasse em uma convivência 
pacífica entre os Estados europeus. 
A partir dos Tratados de Westfália, amparados pela doutrina de Hugo 
Grócio (pensador do direito internacional moderno), um momento sem 
precedentes foi inaugurado no Direito Internacional Público, pois seria 
considerado uma ciência autônoma, elevando o princípio da igualdade formal 
entre os Estados: 
Com os dois tratados de Westfalia (Tratado de Münster, assinado por 
Estados católicos e, Tratado de Osnabrück, assinado pelos protestantes 
 
 
7 
envolvidos no litígio) demarcou-se, então, a nova era do Direito 
Internacional Público, que, a partir daí, passaria a ser conhecido como 
ramo autônomo do Direito moderno. Mas, por qual motivo? Pelo fato de, 
pela primeira vez, se ter reconhecido, no plano internacional, o princípio 
da igualdade formal dos Estados europeus e a exclusão de qualquer 
outro poder a eles superior (Mazzuoli, 2020, p. 11). 
Desde então, começa a surgir uma sociedade internacional, por meio da 
qual os Estados buscam o equilíbrio entre entidades soberanas, firmando diversos 
tratados bilaterais entre si, o que abre caminho para o Tratado de Viena, firmado 
em 1815, primeiro tratado multilateral que, posteriormente, levaria à 
universalização e à institucionalização do direito internacional: 
Assim, a forma clássica dos tratados que se desenvolveram por meio de 
pacotes de tratados bilaterais para fixar as relações entre uma série de 
Estados, em particular por ocasião dos grandes tratados de paz dos 
séculos XVII e XVIII, abre espaço pela primeira vez em 1815, durante o 
Segundo Tratado de Viena, a um tratado multilateral, um instrumento 
único assinado por todos os interessados, abrindo caminho para a 
universalização e posterior institucionalização. (Decaux, 2008, 6. 
Tradução nossa) 
Vale lembrar que o Ocidente estava influenciado pelo constitucionalismo 
advindo do final do século XVIII, o que mais tarde influenciaria na construção dos 
direitos humanos, que até então eram tutelados pelo direito interno dos Estados. 
Paralelamente, nessa fase, ocorria um despertar para os procedimentos de 
arbitragem internacional, em razão do sucesso dos procedimentos de arbitragem 
enfrentados por Estados Unidos e Grã-Bretanha pós Revolução Americana – que 
havia sido permitido pelo Tratado de Jay (1794) –, movimento que levaria ao 
crescimento dos procedimentos de arbitragem internacional nos próximos anos, 
assunto esse que retomaremos mais adiante, ao falarmos sobre arbitragem. 
O Congresso de Vienna de 1815, que ocorreu encerrando as guerras 
napoleônicas (das quais a Grã-Bretanha saiu como grande potência), “estruturou 
o sistema internacional eurocêntrico” (Lafer, 2018, p. 937). Essa estrutura, que se 
erguia sobre o princípio da legitimidade e do equilíbrio europeu, viria abaixo em 
1848 “ano da ‘Primavera dos Povos’ –, quando revoluções liberais pipocaram por 
todo o continente, desde a França até a Prússia e a Áustria” (Magnoli, 2013, p. 
79). 
É importante notar que, enquanto a Europa realizava esse movimento, a 
América espanhola conquistava sua independência no processo de 
descolonização que viria a terminar em 1824, de onde, mais tarde, sairiam novos 
atores internacionais, que viriam a contribuir com a evolução do sistema de 
solução de conflitos no cenário internacional. 
 
 
8 
Posteriormente, um movimento histórico no âmbito das relações 
internacionais veio com a Convenção de Genebra, porquanto, pela primeira vez, 
por meio de um tratado, o indivíduo ganhava relevância em detrimento do poder 
do Estado: 
Indubitavelmente surge um marco na história das relações 
internacionais, visto que, nunca antes na história da civilização, os 
Estados se haviam colocado de acordo para limitar, em um tratado 
internacional aberto à ratificação universal, seu próprio poder em 
benefício do indivíduo. (Guerra, 2019, p. 509-510) 
A Convenção de Genebra de 1864 aconteceu para regulamentaro Comitê 
da Cruz Vermelha, projetado por Henry Dunant para atender aos feridos de guerra 
em Genebra, marcando o início do direito internacional humanitário. O documento 
gerado estabeleceu dez artigos cujo teor pregava “o respeito e a proteção das 
equipes e instalações sanitárias, assim como também reconheciam o princípio 
essencial de que os militares feridos ou enfermos devem ser protegidos e receber 
cuidados seja qual for sua nacionalidade” (Guerra, 2019, p. 509). 
Todos esses movimentos, passando pela Paz de Westfália, Congresso de 
Viena de 1815 e Convenção de Genebra de 1864, foram de suma importância na 
construção do sistema de solução de controvérsia internacional, uma vez que 
começou com a evolutiva criação de um sistema internacional até o início de um 
direito internacional humanitário, para, mais tarde, como veremos nos próximos 
temas, resultar nos mecanismos atuais. 
Antes de adentrarmos às Convenções de Haia de 1899 e 1907, vamos 
retomar o início dos procedimentos de arbitragem internacional, porque eles se 
deram justamente antes das Conferência da Paz e, assim, influenciaram a criação 
da Corte Permanente de Arbitragem no evento. Grandes questões internacionais 
surgiam advindas do processo de independência dos Estados Unidos, para os 
quais a solução foi o procedimento de arbitragem: 
Na era moderna, o prestígio da arbitragem, recobrado a partir do final do 
século XVIII, antecipou a extraordinária evolução dos meios de solução 
de controvérsias no curso do século XX. As decisões arbitrais proferidas 
com base no artigo VII do Tratado Jay, celebrado em 1794, concorreram 
para desenvolver a teoria da responsabilidade do Estado e abriram 
caminho para o uso da arbitragem internacional no futuro. Estima-se que 
entre 1795 e 1922 ocorreram 350 arbitragens internacionais, sendo que 
74 delas tiveram lugar no período entre 1891 e 1900 (Amaral Junior, 
2015, p. 281) 
 
 
9 
A eficácia desses procedimentos para a solução dos conflitos entre os dois 
países gerou interesse na comunidade internacional, interesse esse que resultaria 
na criação da Corte Permanente de Arbitragem durante as Conferências da Paz. 
Obviamente, a arbitragem não é a única forma pacífica de solução de 
controvérsia internacional, mas importa compreender que esse processo de 
interesse pela arbitragem no âmbito internacional propulsionou a escolha pela 
solução pacífica dos conflitos, sendo “um valioso instrumento para a solução das 
disputas internacionais, que os Estados utilizam amiúde, em virtude do crescente 
número de conflitos oriundos das várias formas de interdependência” (Amaral 
Junior, 2015, p. 281). 
Conforme menciona Amaral Junior, as Convenções de Haia de 1899 e 
1907 iniciaram uma nova etapa do direito internacional, na qual houve um 
crescimento na “institucionalização dos procedimentos de resolução de disputas” 
(Amaral Junior, 2015, p. 266). 
De fato, as Conferências da Paz marcam o início dos esforços para 
defender as relações entre os Estados, institucionalizando as soluções pacíficas 
de seus conflitos. Tratava-se de uma autêntica ordem institucional em formação, 
contudo ainda estreitamente fechada no contexto europeu (Decaux, 2008, p. 7). 
Conforme mencionamos no tema anterior, o direito internacional não possui 
uma autoridade ou órgão central para dirimir conflitos e as Conferências da Paz 
tinham como objetivo institucionalizar os procedimentos a fim de viabilizar essas 
soluções. Diferente dos eventos ocorridos até então, as Convenções de Haia de 
1899 e 1907 foram embaladas pelo movimento pacifista do século XIX. 
A primeira Convenção, realizada 18 de maio a 19 de julho de 1899, 
dedicou-se ao direito humanitário, tema sobre o qual nos debruçaremos em 
conteúdos posteriores. Além disso, na Convenção criou-se a Corte Permanente 
de Arbitragem, mais especificamente na Convenção Internacional para a Solução 
Pacífica de Controvérsias. 
A Corte Permanente de Arbitragem “não é propriamente uma Corte, mas 
sim uma estrutura administrativa com sede na Haia, que coloca à disposição dos 
interessados uma lista de árbitros designados pelos países partes-contratantes” 
(Lafer, 2018, p. 946). 
A segunda Convenção de Haia, em 15 de junho a 19 de outubro de 1907, 
já discutia, dentre outros assuntos, a criação da Corte Internacional de Justiça, 
proposta pelos Estados Unidos, com o apoio da Alemanha e Reino Unido – 
 
 
10 
proposta contra a qual se insurgiram diversos países, dentre eles o Brasil (Cardim, 
2014, p. 11). 
Somente em 1925 é que nasceria a Corte Permanente de Justiça 
Internacional ou Tribunal Permanente de Justiça Internacional, Corte essa que 
seria, mais tarde, substituída pela Corte Internacional de Justiça de Haia, em 
1945, por meio da Carta da ONU, documento derivado da Conferência de São 
Francisco, temas nos quais nos deteremos com maior atenção no próximo tópico. 
É possível verificar também que, no decorrer desse desenvolvimento, 
cruzamos com diversos conceitos e eventos importantes relacionados aos diretos 
humanos e o direito internacional humanitário. 
A própria Conferência de São Francisco em 1945, que gerou a Carta da 
Organização das Nações Unidas – ONU, um documento de suma importância 
para o nosso tema, pois declarou a guerra como um ilícito internacional, 
estabeleceu a centralidade do indivíduo e, não mais do Estado, o que foi central 
para a positivação dos direitos humanos no âmbito internacional, movimento que 
é possível verificar com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. 
TEMA 3 – CARTA DA ONU DE 1945 
As atrocidades causadas pela Segunda Guerra lançaram maior interesse 
na solução pacífica dos conflitos internacionais, conforme conclui Amaral Junior 
(2015, p. 266), após a qual houve “maior sofisticação das formas diplomáticas de 
composição dos conflitos verificou-se, concomitantemente ao aperfeiçoamento da 
arbitragem e à proliferação das cortes judiciárias, em escala regional e universal”. 
Foi com a Carta da ONU que o uso da força passou a ser proibido, restando 
aos Estados a via da solução pacífica das controvérsias. Entretanto, tal proibição 
veio de um crescente movimento que já começava a expressar-se no Pacto da 
Liga ou Sociedade das Nações em 1919 quando os Estados se comprometeram 
a não recorrer à guerra. 
No entanto, esse Pacto não chegou a proibir a guerra, tão somente a 
preteriu, limitando-se ao compromisso de união daquela Sociedade de Estados. 
Com o Pacto de Briand-Kellogg de 1928 (Tratado de Renúncia à Guerra), 
assinado em Paris, os Estados partes renunciaram o recurso à guerra como 
solução para sanar os conflitos, embora nenhum desses movimentos tenha sido 
suficiente para evitar a Segunda Guerra. 
 
 
11 
Já a Carta da ONU, com todo o peso do pós-guerra, expressou a proibição 
do uso da força em seu art. 2º, parágrafo 4º: 
Art. 2º, § 4º. Todos os membros deverão evitar em suas relações 
internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial 
ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação 
incompatível com os propósitos das Nações Unidas (Brasil, 1945). 
Além da proibição do uso da força – cujo tema abordaremos 
posrteriormente –, a importância da Carta da ONU para nossa disciplina se dá 
porque a obrigação dos Estados de buscar a via pacífica para solucionar as 
controvérsias é se tornou imperativa no direito internacional: 
Art. 33. 1. As partes em uma controvérsia, que possa vir a constituir uma 
ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, 
chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, 
arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, 
ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha (Brasil, 1945). 
O documento dispõe de um capítulo inteiro sobre solução de controvérsias 
e elenca, no art. 33, alguns meios dos quais as partes podem se valer para dirimir 
seus conflitosde forma pacífica (Brasil, 1945). Pontuado por Mazzuoli (2020, p. 
979), essa obrigação “integra o quadro dos princípios fundamentais do Direito 
Internacional Público na condição de norma geral imperativa (jus cogens)”. 
Nesse sentido, dizemos que a Carta da ONU estabeleceu tanto obrigações 
negativas (proibição da ameaça ou uso da força) quanto obrigações positivas 
(buscar a solução de pacífica de suas controvérsias) aos Estados, dispõe a Carta 
acerca dos propósitos da ONU (no art. 1º, parágrafo 1º) e, princípios (no art. 2º, 
parágrafo 3º): 
Art. 1. Os propósitos das Nações Unidas são: 
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, 
coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os 
atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios 
pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito 
internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que 
possam levar a uma perturbação da paz; 
Art. 2. A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos 
mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios: 
(...) 
3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias 
internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas 
a paz, a segurança e a justiça internacionais (Brasil, 1945). 
Da mesma forma, no continente americano também se buscava 
cooperação entre os países. O Pacto do Rio (Tratado Interamericano de 
Assistência Recíproca - TIAR), assinado em 1947, com o intuito de assegurar a 
paz e a segurança entre países do continente americano, mantendo-se unidos e 
 
 
12 
fidelizados aos propósitos das Nações Unidas, dispunha em seus primeiros 
artigos (Mazzuoli, 2020, p. 982): 
Art. 1º As Altas Partes Contratantes condenam formalmente a guerra e 
se obrigam, nas suas relações internacionais, a não recorrer à ameaça 
nem ao uso da força, de qualquer forma incompatível com as 
disposições da Carta das Nações Unidas ou do presente Tratado. 
Artigo 2º Como consequência do princípio formulado no Artigo anterior, 
as Altas Partes Contratantes comprometem-se a submeter toda 
controvérsia, que entre elas surja, aos métodos de soluções pacífica e a 
procurar resolvê-la entre si, mediante os processos vigentes no Sistema 
Interamericano, antes de a referir à Assembleia Geral ou ao Conselho 
de Segurança das Nações Unidas (TIAR – Tratado Interamericano de 
Assistência Recíproca, 1947). 
Condenando o recurso à guerra e comprometendo-se com os meios 
pacíficos para solução dos conflitos, os países signatários do Pacto do Rio 
submetem-se aos processos existentes no Sistema Interamericano e, após isso, 
à Assembleia Geral e Conselho de Segurança da ONU. Da mesma forma, 
seguindo o Pacto do Rio, a Carta da Organização dos Estados Americanos – OEA 
de 1948 coloca como propósito as soluções pacíficas entre seus membros: 
Art. 2. Para realizar os princípios em que se baseia e para cumprir com 
suas obrigações regionais, de acordo com a Carta das Nações Unidas, 
a Organização dos Estados Americanos estabelece como propósitos 
essenciais os seguintes: 
[...] c. Prevenir as possíveis causas de dificuldades e assegurar a 
solução pacífica das controvérsias que surjam entre seus membros 
(Carta da OEA, 1948) (Brasil, 1952) 
Nos arts. 25 e 26 também dispõe acerca dos meios a serem utilizados para 
tanto: 
Art. 25. São processos pacíficos: a negociação direta, os bons ofícios, a 
mediação, a investigação e conciliação, o processo judicial, a arbitragem 
e os que sejam especialmente combinados, em qualquer momento, 
pelas partes. 
Art. 26. Quando entre dois ou mais Estados americanos surgir uma 
controvérsia que, na opinião de um deles, não possa ser resolvida pelos 
meios diplomáticos comuns, as partes deverão convir em qualquer outro 
processo pacífico que lhes permita chegar a uma solução. (Carta da 
OEA, 1948) (Brasil, 1952) 
Na mesma ocasião adotou-se o Pacto de Bogotá de (Tratado Americano 
de Solução Pacífica de Controvérsia), por meio “do qual os Estados hemisféricos 
comprometeram-se em abster-se da ameaça, do uso da força ou de qualquer 
outro meio de coação para solucionar controvérsias, recorrendo apenas a 
procedimentos pacíficos” (Abdul-Hak, 2013, p. 42). 
O que é importante compreendermos neste tópico, com todos os eventos 
e documentos importantes sobre nosso tema, é que “os meios de solução de 
 
 
13 
controvérsias conheceram, no curso do século XX, transformação profunda, 
dramaticamente intensificada pela aceleração da interdependência” (Amaral 
Junior, 2015, p. 267). 
A evolução dos procedimentos de solução pacífica se deu pela 
necessidade de evitar guerras e conflitos, o que somente seria possível pela 
integração e cooperação dos Estados, pois o processo de interdependência já era 
característico da sociedade internacional. 
Com relação ao Brasil, destacamos que a Constituição Federal de 1988 
nos traz o direcionamento que deve ser dado pelo Brasil na condução dos conflitos 
internacionais, prezando pela solução pacífica. O art. 4º da Constituição Federal 
estabelece os princípios que norteiam as relações internacionais do Brasil: 
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações 
internacionais pelos seguintes princípios: 
I - independência nacional; 
II - prevalência dos direitos humanos; 
III - autodeterminação dos povos; 
IV - não-intervenção; 
V - igualdade entre os Estados; 
VI - defesa da paz; 
VII - solução pacífica dos conflitos; 
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X - concessão de asilo político. (Brasil, 1988) 
O Brasil ratificou a Carta da ONU no Decreto n. 19.841, de 22 de outubro 
de 1945. Portanto, essa deve ser a postura do Brasil diante dos conflitos 
internacionais, sempre objetivando a paz, objetivando a solução pacífica de seus 
conflitos. 
No próximo tópico, vamos abordar a proibição do uso da força que veio 
com a Carta da ONU, particularizando seu desenvolvimento histórico, tema que 
permeia nossa disciplina e constituiu um marco na evolução dos meios pacíficos 
de solução de controvérsias internacionais. 
TEMA 4 – PROIBIÇÃO DO USO DA FORÇA 
Neste tópico, reacenderemos, para nossa lembrança, um antigo debate 
entre os pensamentos jusnaturalista e o positivista jurídico acerca da relação entre 
o direito e a força. Para o jusnaturalismo, a força não é essencial para o direito, 
sendo o direito uma ordem justa. Em oposição, o positivismo entende o poder e a 
força como inseparável do direito, sendo a força “um meio de realização do direito” 
(Amaral Junior, 2015, p. 213). 
 
 
14 
Nessa discussão, ao citar Bobbio, Amaral Junior (2015, p. 216) conclui que 
“o direito é a disciplina do exercício da força não porque todas as normas 
contenham sanções, mas porque as normas secundárias, que são as verdadeiras 
normas jurídicas, regulam direta ou indiretamente a força.” 
Inicialmente a ideia de guerra justa definiu os contornos do que seria o uso 
lícito e o uso ilícito da força. Os primeiros teólogos cristãos afirmavam que a guerra 
era sempre injustificada, ilícita. Em oposição a essa tese, surgiu a ideia de guerra 
justa, que seria entendida como aquela que busca reparação de quem se recusa 
a reparar, limitando-se à punição dos culpados e à restituição da paz internacional, 
conforme pensamento de Agostinho (Amaral Junior, 2015). 
A discussão acerca desse tema é bastante complexa, levando-nos também 
ao debate direito-moral-justiça e outros assuntos de relevância filosófica-jurídica. 
Para nossa disciplina, é importante sabermos que essa ideia de guerra justa irá 
embalar a discussão acerca do uso da força, no sentido de que a guerra justa 
seria o uso lícito da força, o direito à guerra (jus ad bellum), o que hoje se trata de 
uma exceção à proibição do uso da força, comportada pela Carta da ONU – tema 
que será objeto de nosso estudo mais adiante. 
A expressão“guerra justa”, ainda utilizada hodiernamente e levada à 
discussão, conforme afirma Rezek (2018, 437 e 438): 
De todo modo, a expressão guerra justa não desapareceu da linguagem 
corrente. Ela é ainda hoje ouvida nos foros internacionais, mas quase 
que tão só com o propósito de definir o uso da força naquelas raras 
hipóteses em que o direito internacional contemporâneo o tolera: a 
legítima defesa real contra uma agressão armada, e a luta pela 
autodeterminação de um povo contra a dominação colonial. 
 Diversos temas delinearam a construção da proibição da guerra, e o próprio 
princípio da não intervenção dos Estados, que nasceu com a Paz de Westfália 
ainda em 1648 ofertou subsídios nesse sentido, pois a não intervenção dos 
Estados nascia com a igualdade e a soberania formal entre os entes estatais que 
emergiam como sociedade internacional à época. 
Apesar disso, a proibição da guerra só veio a ocorrer com a Carta ONU, 
em 1945, embora já fosse possível identificar diversos esforços no sentido de 
buscar a paz internacional. Mazzuoli (2020, p. 900) observa que a criação da 
Sociedade das Nações Unidas teve esse aspecto: “Foi na Conferência de 
Versalhes, de 1919, que criou a SdN, que surgiu pela primeira vez a ideia de 
qualificar os atos de agressão bélica como crimes contra a paz internacional”. 
 
 
15 
Celso Lafer (2018, p. 543) também faz menção ao fato de que o art. 11 do 
Pacto da Sociedade das Nações reconhece o problema da guerra e ameaça à 
paz como um problema comum de toda a comunidade internacional: 
No século XX, para uma análise da visão grociana do ponto de vista 
jurídico institucional, importa mencionar o art. 11 do Pacto da Sociedade 
das Nações que, ao colocar o princípio de indivisibilidade da paz, 
reconhece que toda guerra ou ameaça de guerra diz respeito não 
apenas às partes diretamente envolvidas, mas a toda a sociedade 
internacional. 
Entretanto, como vimos anteriormente, o Pacto da Sociedade de Nações 
somente proclamou a união entre os Estados da Sociedade, preterindo o recurso 
à guerra, elencando exceções para seu uso. Com o Pacto de Briand-Kellog, de 
1928, os Estados renunciaram o recurso à guerra, mas ainda não havia proibição. 
Accioly nos faz lembrar da não existência de uma autoridade ou instituição 
superior no direito internacional que possa fazer valer suas normas. Nesse 
sentido, caminhou a criação da antiga Sociedade das Nações e depois, das 
Nações Unidas e, apesar dos esforços dessas organizações, o que se vê no 
ambiente internacional são “os limites entre a força e o direito no âmbito 
internacional” (Accioly, 2012, 795). 
A proibição do uso da força só ocorreu após a derrocada da Sociedade ou 
Liga das Nações Unidas, com a Carta das Nações Unidas de 1945, em seus arts. 
2º (parágrafo 3º) e 4º: 
Art. 2º § 3º Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias 
internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas 
a paz, a segurança e a justiça internacionais. 
§ 4º Todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais 
a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a 
independência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação 
incompatível com os propósitos das Nações Unidas. (Brasil, 1945) 
Por meios desse dispositivo se entende a proscrição da guerra. A guerra 
hoje é um ilício internacional. É importante frisar aqui o objetivo colocado pela 
Carta da ONU, em seu preâmbulo, de “preservar as gerações vindouras do flagelo 
da guerra, que, por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos 
indizíveis à humanidade” (Carta das ONU, 1945). 
Como bem observa Mazzuoli (2020, p. 1017), merece destaque a 
expressão utilizada pela Carta, porquanto o uso da força abrange “qualquer 
tipo de agressão (inclusive a ameaça) à integridade territorial ou independência 
política de qualquer Estado”. 
 
 
16 
Com a proibição do uso da força, importa falar do caráter imperativo dessa 
norma no direito internacional. Em 1986, a Corte Internacional de Justiça firmou 
entendimento a respeito da força cogente da proibição do uso ou ameaça do uso 
da força. No caso Nicarágua versus EUA, a Corte expressou o seguinte 
entendimento: 
Decide que, colocando minas em águas interiores ou territórios da 
República da Nicarágua durante os primeiros meses 1984, os Estados 
Unidos da América contra a República da Nicarágua, violou suas 
obrigações de acordo com o direito internacional costumeiro de não usar 
a força contra outro Estado [...] Caso Nicarágua x EUA, Corte 
Internacional de Justiça, 1986, p. 3) (Cour Internationale de Justice, 
1986. Tradução nossa)3 
Expressa na decisão da CIJ, a opinião do então Presidente do Tribunal, 
Nagendra Singh, expôs a proibição do uso da força como sendo uma norma 
consistente no espectro jus cogens do direito internacional, juntamente com o 
princípio da não intervenção: 
O que o Tribunal fez, além disso, foi sublinhar que o princípio do não uso 
da força se enquadrava no jus cogens e que ele estava, portanto, no 
centro dos esforços da humanidade para promova a paz em um mundo 
dilacerado pela guerra. Força gera força e exacerba o conflito; ela 
envenena relacionamentos e põe em perigo a solução pacífica de 
disputas. 
A importante doutrina da não intervenção nos assuntos de Os Estados 
são igualmente essenciais para a paz e o progresso da humanidade uma 
vez que é essencial para o bem-estar da comunidade internacional. O 
princípio da não intervenção deve ser considerado como uma regra de 
direito absoluto e sagrado (Cour Internationale de Justice, 1986. p. 153) 
(Tradução nossa)4. 
Ao emitir opinião na mesma decisão, o brasileiro e então juiz José Sette 
Câmara Filho afirmou a imperatividade dessa proibição no direito internacional 
consuetudinário: 
 
3 Texto original: Décide que, en posant des mines dans les eaux intérieures ou territoriales de la 
République du Nicaragua au cours des premiers mois de 1984, les Etats-Unis d'Amérique ont, à 
l'encontre de la République du Nicaragua, violé les obligations que leur impose le droit international 
coutumier de ne pas recourir à la force contre un autre Etat, de ne pas intervenir dans ses affaires, 
de ne pas porter atteinte à sa souveraineté et de ne pas interrompre le commerce maritime 
pacifique; 
4 Texto original: Ce que la Cour a fait en plus a été de souligner que le principe du non-emploi de 
la force relevait du jus cogens et qu'il était donc au coeur des efforts déployés par l'humanité pour 
promouvoir la paix dans un monde déchiré par les guerres. La force engendre la force et exacerbe 
les conflits; elle envenime les relations et met en péril la solution pacifique des différends. 
L'importante doctrine de la non-intervention dans les affaires des Etats est tout aussi essentielle 
pour la paix et le progrès de l'humanité puisqu'elle est indispensable au bien-être de la 
communauté internationale. Le principe de la non-intervention doit être considéré comme une règle 
de droit absolue et sacrée. 
 
 
17 
o não uso da força, bem como o princípio da não intervenção - sendo 
este último o corolário da igualdade dos Estados e do direito à 
autodeterminação - não são apenas princípios cardeais do direito 
internacional consuetudinário, mas também podem ser considerados 
como regras imperativas do direito internacional consuetudinário que 
impõem obrigações a todos os Estados (Cour Internationale de Justice, 
1986, p. 189) (Tradução nossa)5 
Em que pese o caráter imperativo da norma internacional apontada pela 
Carta, a proscrição da guerra – proibição do uso da força – é relativizada no art. 
51 da Carta das Nações Unidas, quando o documento comporta exceção à norma, 
dispondo sobre a possibilidade de legítima defesa individual ou coletiva: 
Art. 51. Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima 
defesa individual ou coletiva, no caso de ocorrer um ataque armado 
contra ummembro das Nações Unidas, até que o Conselho de 
Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção 
da paz e da segurança internacionais. As medidas tomadas pelos 
Membros no exercício desse direito de legítima defesa serão 
comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão 
de modo algum, atingir a autoridade e a responsabilidade que a presente 
Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer tempo, a ação 
que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da 
segurança internacionais. (Brasil, 1945) 
Essa permissão veremos com mais atenção nos próximos conteúdos. 
Outra norma importante relativa ao tema é a tipificação do crime de agressão do 
Estatuto de Roma de 1998, que rege o Tribunal Penal Internacional, cujos 
detalhes também conheceremos em outro momento. No momento, vamos 
introduzir, no próximo tema, os meios de solução de controvérsia internacional, 
com o objetivo de interligar os assuntos que serão desenvolvidos em conteúdos 
posteriores, o que nos possibilitará um apanhado geral de nossa disciplina. 
TEMA 5 – INTRODUÇÃO AOS MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS 
INTERNACIONAIS 
Neste tema faremos uma introdução aos meios de solução de conflitos 
internacionais, a fim de que, desde já, seja possível visualizar a disciplina como 
um todo. Depois de compreender o histórico, traremos – de forma concisa – o 
 
5 Texto original: “le non-emploi de la force, ainsi que le principe de non-intervention - ce dernier 
étant le corollaire de l'égalité des Etats et du droit à l'autodétermination - non seulement sont des 
principes cardinaux du droit international coutumier mais encore peuvent être considérés comme 
des règles impératives du droit international coutumier qui imposent des obligations à tous les 
Etats" 
 
 
 
18 
próprio sistema de maneira bastante generalizada, para, depois, adentrarmos com 
detalhes em cada um dos meios existentes nos próximos conteúdos. 
Com base no histórico analisado nesta aula, já conseguimos obter 
contornos acerca da evolução dos meios pacíficos de solução de controvérsia. A 
necessidade de se buscar um sistema sólido, de abrangência das nações já 
interdependentes, nasceu do sofrimento causado por conflitos mal geridos. De 
maneira tal que o berço que embalou a construção desse sistema foi justamente 
a busca pela paz. 
Como estudamos no primeiro tema, conflitos internacionais são 
desacordos, trocas negativas entre Estados, cujo maior risco é resultar num 
embate violento. A fim de evitar esse resultado violento ou, no mínimo, amenizar 
o conflito de maneira a não permitir sua intensificação é que se impõem os meios 
pacíficos. 
É importante lembrar que, no direito internacional, não temos uma 
autoridade superior na qual centralizar as decisões e dirimir os conflitos suscitados 
nesse âmbito. Portanto, com base no surgimento da controvérsia é que se poderá 
lançar mão de uma ou várias das ferramentas dispostas para tanto. 
Diferente do direito interno, onde, com base no conflito, a competência e 
jurisdição se façam valer de forma mais facilmente detectável, porquanto expressa 
e exclusiva, no direito internacional essas trocas negativas podem ser 
solucionadas a partir de diversos meios ou órgãos, uma vez que não exista 
exclusividade de jurisdição nessa esfera. 
Enquanto o direito interno conta com uma Corte preexistente para 
determinado conflito, há um formato previsto juridicamente, um procedimento a 
ser seguido, um juiz cujo poder o Estado garante, no direito internacional não 
existe hierarquia entre os órgãos, tampouco, um órgão centralizador das normas 
internacionais. 
Como vimos no tema justamente anterior, a partir da Carta da ONU 
estabeleceu-se que a guerra não seria mais um meio a se buscar para solucionar 
os conflitos entre Estados. A proibição do uso da força vinculou os Estados à 
busca dos meios pacíficos. Ao se tornar um ilícito internacional, a guerra, 
obviamente, deixou de ser um direito dos Estados, enquanto a busca por meios 
de solução pacífica se tornou uma obrigação. 
À escolha dos Estados, o rol de meios pacíficos dispostos na Carta da ONU 
não é um rol exaustivo, portanto os Estados não estão vinculados àquelas formas 
 
 
19 
ali dispostas, mas sim, à busca pela solução pacífica, podendo ser aquelas 
elencadas no art. 33, parágrafo 1º (Brasil, 1945), ou qualquer outra, desde que o 
façam de modo pacífico. 
Brotóns (2010) esclarece bem essas obrigações, elencando-as como 
princípios gerais: obrigação de buscar uma solução pacífica e livre escolha dos 
meios. Sendo o primeiro um princípio fundamental do direito internacional, uma 
norma imperativa. Logo, obviamente, a proibição do uso da força e a obrigação 
de escolher meios pacíficos não podem existir um sem o outro, não constituindo, 
todavia, uma obrigação de resultado, mas dependente da boa-fé e do espírito de 
cooperação dos Estados. 
O mesmo autor continua explanando acerca do princípio da livre escolha 
dos meios. Os Estados não podem ser submetidos a qualquer desses meios sem 
seu consentimento, sendo esse o entendimento já fixado pela Corte Internacional 
de Justiça. Excepcionando, de modo evidente, a submissão específica em tratado 
para o caso de futura controvérsia, como acontece em muitos tratados. 
Com o objetivo de compreendermos como esse sistema funciona e como 
esses meios interagem, vamos abordar de maneira geral cada um deles. Os meios 
coercitivos possuem diversos mecanismos, como a retorsão, boicote, rompimento 
das relações diplomáticas etc. Os meios não pacíficos abrangem a guerra (ilícito 
internacional) e suas peculiaridades, destacando-se as normas limitadoras: o 
Direito Internacional Humanitário. Os meios pacíficos dividimos da seguinte 
maneira: 
a. Diplomáticos: negociação direta, bons ofícios, conciliação, sistema de 
consultas, mediação, inquérito; 
b. Políticos: recurso a entidades ou acordos regionais (no âmbito das 
Organizações Internacionais ou abarcados por acordos regionais); 
c. Jurisdicionais: solução judicial e arbitragem. 
Pensando num cenário hipotético, como os Estados transitam por esses 
meios? Digamos que, com base em alguns pontos controvertidos, os Estados A e 
B resolvam questionar-se (consulta) acerca do ocorrido, com o objetivo recíproco 
de obter uma posição da outra parte. 
Veja, até aqui as partes estão em uma fase preliminar e podem negociar 
entre si (negociação direta), não havendo ainda a participação de terceiro. Sem 
sucesso na negociação, um terceiro pode oferecer um espaço neutro para que as 
 
 
20 
partes acordem uma solução (bons ofícios). Nesse caso, o terceiro ainda não 
participa diretamente da solução, apenas aproxima as partes. 
Sem resultado, um terceiro pode ser chamado para oferecer uma solução, 
participando diretamente da matéria conflituosa (mediação). Esse terceiro pode 
ser um grupo de pessoas, uma comissão (conciliação) e há participação direta 
nos critérios técnicos da controvérsia com proposta de solução formulada. 
Não necessariamente essa seria a ordem dos meios utilizados, a depender 
de muitos fatores relacionados às peculiaridades, à gravidade e à extensão do 
conflito, bem como dos tratados existentes entre as partes, que, como veremos 
em conteúdos posteriores, podem determinar o meio antes mesmo do surgimento 
do conflito. Como é o caso, por exemplo, dos tratados que dispõem que as partes 
em conflito deverão buscar negociação direta primeiro e, após essa tentativa, a 
arbitragem. 
Perceba que, até os meios diplomáticos, as partes não estão vinculadas a 
qualquer posição ou solução proposta. Sem êxito com os meios diplomáticos, é 
possível que as partes busquem os meios jurisdicionais. Aqui sim haverá 
vinculação com base em um laudo arbitral ou sentença judicial. Novamente, não 
necessariamente nessa ordem, pois nada impede que as partes busquem a 
soluçãopor meio da arbitragem diretamente. 
Observe que todos esses meios podem ser realizados no âmbito das 
organizações internacionais ou com base em acordos regionais que determinem 
os procedimentos. Quando isso acontece, dizemos que esses são meios políticos 
de solução de controvérsia. 
No decorrer de todo esse processo, pode ser que as partes intensifiquem 
esse conflito por meio de interações mais exaltadas. Aqui pode entrar o uso de 
alguns meios coercitivos, como a retorsão e o boicote, por exemplo. Esses meios 
coercitivos, no geral, são aplicados pelo Conselho de Segurança da ONU, que 
possui um papel fundamental na aplicação desses meios, conforme veremos mais 
adiante. 
Analisemos um caso emblemático de conflito estatal que passou pela 
utilização de diversos desses meios, a fim de que compreendamos, na prática, a 
amplitude desse sistema e como os Estados se movimentam nesse cenário. 
Entre 1933 e 1984, Chile e Argentina protagonizaram grande impasse ao 
discutir a posse do Canal de Beagle. O conflito entre os dois países durante esse 
período quase resultou em conflito armado, quando diversos mecanismos foram 
 
 
21 
engendrados para chegar a uma solução. É evidente que esse conflito – repleto 
de peculiaridades históricas e contextuais – havia se iniciado décadas antes, no 
entanto vamos nos ater aos passos dados em direção à solução do conflito, o que 
poderá aclarar nosso estudo. 
Nesse contexto, Chile e Argentina eram signatários do Tratado Geral de 
Arbitragem de 1902. Mesmo assim, houve grande dificuldade – isso decorrente 
do contexto político interno da Argentina – de submeter o conflito à arbitragem. 
Tanto é que, em 1933, a Argentina declarou intenção em solucionar o conflito do 
Beagle por meio de negociação direta. Várias tentativas de submeter o caso à 
arbitragem foram prejudicadas (Santos, 2016). 
Em 1971, os dois Estados celebraram compromisso arbitral, entretanto o 
laudo arbitral da Coroa britânica entregue em 1977 não foi aceito pela Argentina, 
o que agravou o conflito entre os países, levando-os a uma situação pré-bélica. 
Em 1978, quando o Chile já notificava propor recurso à Corte Internacional de 
Justiça, a Missão de Paz do Papa João Paulo II, realizada pelo cardeal Antonio 
Samoré, conseguiu instituir os Acordos de Montevidéu através da mediação. Com 
a mediação papal, em 1984, Argentina e Chile firmaram Declaração de Paz e 
Amizade, encerrando, finalmente, o conflito entre as partes (Santos, 2016). 
Note que o caso Beagle passou gradualmente por diversos mecanismos 
de solução de controvérsia, desde a negociação direta, passando pela arbitragem, 
até chegar a uma solução por meio da mediação. Conforme expõe Santos (2016, 
p. 188), os países chegaram “a uma solução intermediária através de um processo 
gradual, que vai desde a negociação direta até a instância final de arbitragem”. 
Vários institutos aplicados à nossa disciplina podem ser verificados no caso 
Beagle, tentativa de negociação, arbitragem, mediação. O que é mais importante 
frisar nesse tema é que o objetivo dos procedimentos é evitar o agravamento do 
conflito e extingui-lo por meio de tentativas pacíficas de solução. Repare que a 
controvérsia pode tomar vários rumos, cabendo às partes tentativas genuínas de 
manter a paz, agindo de boa-fé. 
Conforme já estudamos, existe um ponto do conflito que pode despertar 
medidas mais exacerbadas entre os Estados, as quais serão temas de conteúdos 
posteriores, quando nos deteremos aos meios coercitivos e aos meios não 
pacíficos de solução de controvérsia. 
 
 
 
 
22 
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interesses do Brasil (CDS). Brasília: FUNAG, 2013. 
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23 
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VARGAS, F. A. Formação das fronteiras latino-americanas. Brasília: FUNAG, 
2017. 
 
 
AULA 2 
MEIOS DE RESOLUÇÕES DE 
CONFLITOS INTERNACIONAIS 
Profª Sue Martins 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Conforme estudamos anteriormente, nem sempre os meios pacíficos 
solucionam a controvérsia, o que faz com que os Estados, muitas vezes, busquem 
maneiras coercitivas como forma de impor sua vontade ou satisfazer um direto. 
Algumas vezes, essas trocas negativas podem chegar, inclusive, ao conflito 
armado. 
Nesta aula, vamos aprender quais são os meios coercitivos e qual é a 
natureza desses meios, dentre os quais citamos: retorsão, represálias, embargo, 
bloqueio comercial, boicote e rompimento das relações diplomáticas. Essas 
medidas envolvem também a atuação do Conselho de Segurança e Assembleia 
Geral da ONU, cuja competência está disposta na Carta da ONU. Em seguida, 
vamos discutir os meios não pacíficos, que envolvem as peculiaridades da guerra 
e, por último, o Direito Internacional Humanitário como limitador da guerra. 
TEMA 1 – MEIOS COERCITIVOS (PARTE 1) 
É possível que os conflitos internacionais alcancem maior severidade entre 
as partes. Isso pode acontecer em qualquer momento do conflito, mesmo durante 
umatentativa pacífica de solução por um meio diplomático, por exemplo. Quando 
isso acontece, é possível que meios coercitivos sejam empregados como forma 
de um Estado fazer valer sua vontade sobre a de outro. 
Conforme explica Accioly (2012), esses meios eram tolerados pelo direito 
internacional, ainda que reconhecidamente abusivos, contudo, a aplicação 
acabava, muitas vezes, restando disponível às grandes potências. Portanto, como 
sanção que são esses métodos, sua aplicação só se justificaria se determinada 
por organização internacional, no caso, o Conselho de Segurança, prerrogativa 
que veremos ao final deste tema. 
Entretanto, no fervor das trocas negativas entre Estados, algumas medidas 
são aplicadas com o objetivo de fazer cumprir a vontade de uma parte sobre a 
outra, antes mesmo de um resultado prático de um dos meios pacíficos em 
andamento – se é que existam. Na prática, teremos um conflito internacional entre 
Estados e “um deles, cujos direitos ou interesses foram violados, pode usar de 
certos meios coercitivos com objetivo de forçar o adversário a solucionar o 
desacordo existente” (Guerra, 2019, p. 485). 
 
 
3 
Assim, os meios coercitivos são uma forma de pressionar o outro Estado 
visando alterar seu posicionamento para alcançarem um resultado favorável. 
Entretanto, essa pressão causa maior tensão, fazendo com que o outro Estado 
perca sua posição de decidir, sendo, por isso, chamado de meio coercitivo. 
Antes de tratarmos das modalidades existentes, vamos discorrer um pouco 
sobre a natureza desses mecanismos, porquanto diverge a doutrina acerca da 
natureza pacífica dos meios coercitivos, uma vez que essas medidas seriam 
contrárias às regras do direito internacional contemporâneo. 
1.1 Meios coercitivos – pacíficos ou não pacíficos? 
Neste tópico, temos uma questão doutrinária bastante relevante, no que 
tange à natureza dos meios coercitivos. O direito internacional clássico e os 
doutrinadores a ele atrelados consideram os meios coercitivos meios pacíficos de 
solução de controvérsia. Contudo, no direito internacional contemporâneo não é 
assim. 
Para Mazzuoli (2020), por exemplo, os meios coercitivos são considerados 
meios pacíficos de solução de controvérsia, isso porque, embora façam uso de 
uma força coercitiva, tais meios são uma tentativa última de preservar a paz 
internacional, o que seria um último passo antes do conflito armado. 
Contudo, há que se considerar de forma crítica, a natureza dos meios 
coercitivos. Os meios coercitivos seriam essencialmente diferentes dos meios 
pacíficos, porquanto contrários às regras do direito internacional público. Quando 
se pensa em coerção, imediatamente se conclui pelo uso da força para obter 
resultados e é essa discussão que permeia os mecanismos coercitivos como 
solução pacífica (ou não pacífica) de conflitos internacionais. 
Veja que a ideia de um Estado impor sua vontade a outro por meio de 
alguns mecanismos limitadores – limitações que podem ocorrer no âmbito 
econômico, territorial, político etc. – já não comporta a ideia de solução pacífica, 
considerando o sentido para onde caminha o direito internacional. 
A Carta das Nações Unidas proíbe a intervenção nos assuntos internos dos 
Estados, assim como também esclarece que a Carta não obriga qualquer Estado 
a se submeter a alguma solução ali disposta. De qualquer forma, no mesmo artigo 
não exclui a aplicação dos meios coercitivos: 
Art. 2. 7. Nenhum dispositivo da presente carta autorizará as Nações 
Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da 
 
 
4 
jurisdição de qualquer estado ou obrigará os membros a submeterem 
tais assuntos a uma solução, nos termos da presente carta; este 
princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas 
constantes do capítulo VII (Brasil, 1945). 
Mais do que não excluir a possibilidade de uso dos meios coercitivos, a 
Carta dispõe sobre a competência do Conselho de Segurança para aplicar 
medidas coercitivas em seus arts. 41 e 42 – disposição que veremos ao final deste 
tema. 
É uma posição bastante discutível, conquanto as características dos meios 
coercitivos se aproximem muito mais de uma tentativa não pacífica do que pacífica 
de solução de conflito. Por outro lado, são compreendidas como tentativa última 
de solução antes de se chegar às formas mais exacerbadas de solução não 
pacífica, como seria o caso dos conflitos que culminam em guerra. 
Sobre esse entendimento, de que os meios coercitivos seriam uma 
tentativa última de solução antes do conflito armado, deve haver um 
posicionamento bastante crítico, pois, de certo modo, muitas vezes esses meios 
são utilizados por grandes potências (com recursos, poder econômico e político) 
como forma de impor sua vontade aos países em posição menos favorável. 
Levando em consideração que a prática internacional ainda denota o uso 
desses meios, sobretudo na atuação do Conselho de Segurança, vamos estudá-
los a título de reconhecimento prático dos meios coercitivos, conforme descrito 
pela doutrina. 
1.2 Retorsão 
A retorsão é o que poderíamos chamar popularmente de chumbo trocado. 
Um Estado responde a outro nos mesmos termos aquilo que lhe foi causado. A 
medida tomada pelo segundo ente é em resposta àquela que originou sua 
reclamação em relação ao primeiro. 
É considerado um meio moderado, uma forma de resposta imediata de um 
estado em relação à atitude de outro que o prejudicou. Mazzuoli (2020, p. 1009) 
traz um exemplo interessante nesse sentido: 
Por exemplo: se um Estado nega aos cidadãos de outro, que no seu 
território se encontram, certos direitos civis, o Estado do qual são 
nacionais tais pessoas pode, como meio de forçar o outro (ofensor) a 
modificar sua legislação, tomar as mesmas medidas em relação aos 
nacionais deste em seu território, restringindo igualmente o gozo de tais 
direitos. 
 
 
5 
Portanto, trata-se de um meio de resposta, cujo objetivo é efetivamente 
retorquir a ofensa, rejeitá-la de forma a responder com outra ofensa. Por exemplo, 
“o aumento das tarifas alfandegárias sobre o produto de determinada 
procedência, a interdição de acesso de portos de um Estado aos navios de outro 
Estado” (Guerra, 2019, p. 486). Outro exemplo interessante é o trazido por Accioly 
(2012, p. 1.199): 
Como causas legítimas de retorsão, indicam-se as seguintes: o aumento 
exagerado, por um estado, dos direitos de importação ou trânsito 
estabelecido sobre os produtos de outro estado; a interdição do acesso 
de portos de um estado aos navios de outro estado; a concessão de 
certos privilégios ou vantagens aos nacionais de um estado, 
simultaneamente com a recusa dos mesmos favores aos nacionais de 
outro Estado etc. 
O mesmo autor considera a retorsão um meio legítimo – admitindo sua 
oposição à doutrina internacional contemporânea –, uma vez que seria “um meio 
de se opor a que um estado exerça seus direitos em prejuízo de outro estado. 
Inspira-se no princípio da reciprocidade e no respeito mútuo” (Accioly, 2020, p. 
1.199). 
No mesmo sentido, a posição Mazzuoli (2020), que identifica tratar-se de 
uma manifestação agressiva e não totalmente aceita pelo direto internacional 
contemporâneo, conquanto passível do mesmo abuso de direito empregado pelo 
primeiro ofensor, embora considere a medida como meio de defesa legítimo. 
TEMA 2 – MEIOS COERCITIVOS (PARTE 2) 
Neste tema, continuaremos a estudar os meios coercitivos, represálias, 
embargo, bloqueio comercial, boicote e rompimento das relações diplomáticas, 
bem como a atuação do Conselho de Segurança e Assembleia Geral da ONU 
quanto à aplicação dessas medidas. 
2.1 Represália 
A principal diferença entre represália e retorsão é que na retorsão o Estado 
age reciprocamente no sentido contrário a um ato considerado injusto perpetrado 
por outro Estado, tratando-se de medida recíproca, enquanto na represália o 
Estado vai contra outro Estado em razão da violaçãode seu direito. Nesse caso, 
há uma violação do direito daquele que repreende; há, de fato, um ofensor e um 
contra-ataque: 
 
 
6 
Em sua sessão de Paris, em 1934, o IDI assim definiu esse meio 
coercitivo: “As represálias são medidas coercitivas, derrogatórias das 
regras ordinárias do direito das gentes, tomadas por um estado em 
consequência de atos ilícitos praticados, em seu prejuízo, por outro 
estado e destinadas a impor a este, por meio de um dano, o respeito ao 
direito”. (Accioly, 2012, p. 1.199) 
Como bem aponta Guerra (2019, p. 486), “a distinção da represália para a 
retorsão consiste no fato de que aquela se baseia na existência de uma violação 
de um direito, enquanto essa é motivada por um ato que o direito não proíbe ao 
Estado estrangeiro, mas que causa prejuízo ao Estado que dela lança mão”. 
Conforme já mencionamos, essa seria uma medida não admitida no direito 
internacional contemporâneo. Contudo, a título de distinção desse meio, 
descreveremos essa medida conforme alguns autores a título de conhecimento e 
reconhecimento da prática internacional. 
Segundo alguns autores atrelados à doutrina clássica, a represália não 
admitida seria a represália armada, ou seja, aquela empregada com o uso da 
força. Nesse caso, a represália seria dividida em positiva e negativa. Na positiva, 
um Estado se insurge contra o outro; na negativa, recusa-se a cumprir uma 
obrigação (esta última, exemplo de represália sem o uso da força). 
Nesse sentido, haveria requisitos para o uso dessa medida, como explica 
Mazzuoli (2020, p. 1010): é uma “medida mais dura e arbitrária” que deve ser 
proporcional “ao fato ilícito sofrido, devendo suspender-se no momento em que o 
dano tiver sido reparado ou no momento em que a responsabilidade internacional 
do Estado tiver sido reconhecida”. É possível que haja uma violência moral, 
porém, como já mencionado, não se admite o uso da força para o ato da 
represália: 
Por isso, atualmente, as únicas represálias permitidas são as pacíficas, 
que devem ser proporcionais ao fato ilícito sofrido, devendo suspender-
se no momento em que o dano tiver sido reparado ou no momento em 
que a responsabilidade internacional do Estado tiver sido reconhecida. 
Quaisquer outros tipos de represálias (armadas ou praticadas com 
violência) devem ser considerados atos internacionalmente ilícitos. 
(Mazzuoli, 2020, p. 1010) 
Outros autores descrevem os requisitos e princípios para o emprego da 
represália: 
a) as represálias só devem ser permitidas em caso de violação flagrante 
do direito internacional, por parte do estado contra o qual são exercidas; 
b) devem constituir, apenas, atos de legítima defesa, proporcionais ao 
dano sofrido ou à gravidade da injustiça cometida pelo dito estado; c) só 
se justificam como medida de necessidade e depois de esgotados outros 
meios de restabelecimento da ordem jurídica violada; d) devem cessar 
 
 
7 
quando seja concedida a reparação que se teve em vista obter; e) seus 
efeitos devem limitar-se ao estado contra o qual são dirigidas e não 
atingir os direitos de particulares, nem os de terceiros estados. (Accioly, 
2012, p. 1.200) 
A medida é um contra-ataque de Estado para Estado e não é considerada 
admitida pelo direito internacional contemporâneo, sobretudo na forma armada. 
2.2 Embargos 
Trata-se de uma forma de represália. A hipótese aqui é a apropriação de 
cargas e navios nacionais de outro Estado, ancorados ou de passagem pelo porto 
do embargante, com o objetivo de impor sua vontade sobre o embargado. 
Destaca-se que a apropriação se dá em um momento de paz entre os Estados, 
ou seja, fora do contexto de um conflito armado, o que veremos que não é 
permitido. 
De acordo com Mazzuoli (2020, p. 1011), é uma prática não aceitável no 
direito internacional contemporâneo, que “deve ser abolida do contexto das 
relações internacionais contemporâneas”. Guerra (2019, p. 486) vai mais longe ao 
afirmar que, “embora no passado o embargo tenha sido largamente utilizado, 
atualmente esta modalidade foi abandonada pela prática internacional.” 
Pode ter natureza privada ou estatal, sendo que a privada se dá entre 
nacionais de Estados diversos. Na estatal, logicamente, entre Estados, podendo 
culminar na responsabilidade internacional do Estado que promoveu o embargo, 
caso haja prejuízo de terceiro, ainda que o aquele tenha somente apoiado um 
boicote privado. 
2.3 Bloqueio 
Outra forma de represália, o bloqueio – também chamado de bloqueio 
pacífico ou comercial – equivale ao uso de força armada de um Estado 
(bloqueador) para impedir que o Estado bloqueado mantenha relações comerciais 
com outros Estados. De maneira geral, o Estado bloqueador impede que outros 
navios e embarcações de países terceiros trafeguem pelos portos e costas do 
Estado bloqueado, impedindo, por meios da força, as relações comerciais entre 
eles. 
De acordo com o exemplo dado por Mazzuoli (2020, p. 1012), o bloqueio 
foi utilizado “pela primeira vez em 1827, quando a Grã-Bretanha, juntamente com 
 
 
8 
a França e a Rússia, bloquearam o comércio com a Turquia como meio de 
consolidar a independência da Grécia”. 
O bloqueio é uma medida disponível ao Conselho de Segurança, prevista 
no art. 42 da Carta da ONU (Brasil, 1945), medida na qual o CSNU poderá aplicar 
com o objetivo de manter ou restabelecer a paz e a segurança internacional, 
fazendo cumprir a referida Carta. 
2.4 Boicote 
 Considerado por alguns autores como uma forma de represália, no boicote 
ou boicotagem, um Estado interrompe as relações comerciais com outro Estado, 
como forma de fazer valer sua vontade. Retomando o art. 41 da Carta das Nações 
Unidas, este dispõe sobre a possibilidade do Conselho de Segurança tomar 
medidas sem o uso da força, o que implica que essas medidas “poderão incluir a 
interrupção completa ou parcial das relações econômicas” (Brasil, 1945). 
Em outro sentido segue a Carta da Organização dos Estados Americanos, 
que, em seu art. 20, proíbe aplicação ou estímulo de “medidas coercivas de 
caráter econômico e político, para forçar a vontade soberana de outro Estado e 
obter deste vantagens de qualquer natureza” (CIDH, 1948). 
2.5 Rompimento das relações diplomáticas 
A definição, trazida pelo próprio nome, implica o rompimento das relações 
oficiais entre Estados conflitantes. Geralmente temporária, essa medida pode 
chegar a ser definitiva, quando então “procede-se à devolução dos passaportes 
aos seus representantes diplomáticos, assim como à retirada imediata do pessoal 
da missão instalada no país, normalmente na capital do Estado” (Mazzuoli, 2020, 
p. 1013). 
Esse rompimento nem sempre recai sobre as relações econômicas e 
consulares, sendo possível às partes retomarem suas relações diplomáticas em 
futuras negociações. Essa também é uma medida empregada pelo Conselho de 
Segurança, conforme art. 41 da Carta da ONU (Brasil, 1945). 
2.6 Conselho de Segurança da ONU 
Não poderíamos deixar de adentrar um pouco mais na atuação do 
Conselho de Segurança. A Organização das Nações Unidas – ONU é uma das 
 
 
9 
organizações internacionais com capacidade de atuação universal. O Conselho 
de Segurança – CSNU, cujos objetivos são a paz e a segurança internacional, 
possui forte atuação relativa aos meios coercitivos (sanções coletivas 
internacionais). Conforme arts. 41 e 42 da Carta da ONU, são as sanções 
coletivas internacionais: 
Art. 41. O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem 
envolver o emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar 
efetivas suas decisões e poderá convidar os Membros das Nações 
Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a interrupção 
completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de 
comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, 
radiofônicos, ou de outra qualquer espécie e o rompimento das relações 
diplomáticas; 
Art. 42. No caso de o Conselho de Segurança considerarque as medidas 
previstas no Artigo 41 seriam ou demonstraram que são inadequadas, 
poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a 
ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a 
segurança internacionais. Tal ação poderá compreender 
demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças 
aéreas, navais ou terrestres dos Membros das Nações Unidas (Brasil, 
1945). 
O CSNU, conforme a doutrina, foi criado para ser o principal órgão das 
Nações Unidas, sendo formado por cinco membros permanentes – China, EUA, 
França, Reino Unido e Rússia – e dez membros não permanentes, eleitos pela 
AGNU para atuarem por um prazo de dois anos. 
O art. 24 da Carta da ONU traz as funções e atribuições do CS: 
Art. 24. 1. A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações 
Unidas, seus Membros conferem ao Conselho de Segurança a principal 
responsabilidade na manutenção da paz e da segurança internacionais 
e concordam em que no cumprimento dos deveres impostos por essa 
responsabilidade o Conselho de Segurança aja em nome deles. 
2. No cumprimento desses deveres, o Conselho de Segurança agirá de 
acordo com os Propósitos e Princípios das Nações Unidas. As 
atribuições específicas do Conselho de Segurança para o cumprimento 
desses deveres estão enumeradas nos Capítulos VI, VII, VIII e XII. 
(Brasil, 1945) 
É importante destacar que o capítulo VI trata da solução pacífica de 
controvérsias e o capítulo VII da ação relativa a ameaças à paz, ruptura da paz e 
atos de agressão. O artigo referido acima também indica que o CSNU age, não 
em nome próprio, mas em nome dos Estados-membros. 
Nesse sentido, conclui Pontes (2018, p. 38) que a legitimidade do órgão 
decorre de uma combinação entre efetividade e transparência, sendo 
necessário que o órgão tome decisões tempestivas e hábeis a prevenir 
ou solucionar ameaças à paz e à segurança internacionais. Aí reside sua 
 
 
10 
efetividade. Por outro lado, é desejável que o faça com o respaldo e 
acompanhamento dos Estados-membros interessados. 
O CSNU condenou o regime do Apartheid em 1963, por meio da Resolução 
1963, e “convidou todos os Estados-membros a interromperem a venda e o 
embarque de armas, munições de todos os tipos e veículos militares à África do 
Sul” (Silva, 2011, p. 50). 
Amaral Junior (2003) traz mais alguns casos de atuação do CSNU, em que 
o órgão da ONU proibindo voos de aeronaves militares no espaço aéreo da Bósnia 
para garantir ajuda humanitária no país e autorizou o emprego de medidas 
necessárias para punir transgressores. O CSNU, estabelecendo uma zona de 
segurança em Ruanda, evitou a morte de milhares de refugiados: 
O Conselho de Segurança, preocupado em assegurar a continuidade da 
ajuda humanitária na Bósnia, aprovou, em outubro de 1992, a Resolução 
781, que proibiu os voos de aeronaves militares no espaço aéreo bósnio. 
A Resolução 816, de março de 1993, ampliou a proibição, autorizando o 
emprego das medidas necessárias para punir os transgressores. A zona 
de segurança instituída pelos militares franceses no sudeste de Ruanda 
nos termos das Resoluções 925 e 929 da ONU, impediu a morte de 
milhares de refugiados que a ela acorreram. É incontestável que a 
inexistência desta zona de segurança teria aprofundado a catástrofe 
humana em curso, provocando o êxodo de quase um milhão de 
refugiados para países vizinhos. (Amaral Junior, 2003, p. 252) 
Outro papel importante do Conselho de Segurança está descrito no art. 42 
da Carta da ONU de 1945, que implica o uso da força caso as medidas coercitivas 
não venham a surtir efeito. Esse papel veremos com maior atenção no próximo 
tema, conquanto implique um recorte extremo e de exceção acerca da 
possibilidade do uso da força. Nesse caso, passamos a analisar a guerra e, em 
seguida, seu limitador, o direito internacional humanitário. 
TEMA 3 – GUERRA (PARTE 1) 
 Os primeiros conflitos se davam entre grupos, em represália a alguma 
injustiça. Com o crescimento desses grupos e o surgimento do Estado, esses 
conflitos passaram a ser estatais. A partir de Roma, a guerra passa a ter 
conotação jurídica e se inicia o tratamento de regras sobre conflitos bélicos para 
o que seria uma guerra justa, o jus ad bellum (direito à guerra) e o jus in bello 
(direito na guerra). 
 O jus ad bellum corresponderia ao direito de fazer guerra quando esta 
significasse a justiça para o beligerante. Seria a guerra justa, cujo motivo poderia 
ser religioso, político, étnico, econômico ou outro qualquer. Nesse caso, o jus in 
 
 
11 
bello derivou justamente da tentativa de se prevenirem as atrocidades provocadas 
para o que seria uma guerra inevitável, regras que seriam aplicadas na guerra. 
 Quanto ao conceito de guerra, em que pese a divergência doutrinária, 
citemos alguns doutrinadores. Celso Mello (citado por Guerra, 2019, p. 512) 
menciona: 
para que o conceito de guerra tenha solidez necessária se faz a 
presença de elementos de ordem objetiva e subjetiva. A ordem objetiva 
consiste na efetivação da hostilidade, ou seja, a luta armada entre 
Estados, enquanto a ordem subjetiva diz respeito ao animus belligerandi, 
sendo, assim, a intenção de fazer a guerra. Para existir a guerra é 
necessária a coexistência de ambos os elementos, pois nenhuma guerra 
existe do acaso, mas, sim, da vontade de pelo menos um dos Estados. 
Mazzuoli (2020, p. 1016) descreve o conceito de guerra “como todo conflito 
armado entre dois ou mais Estados, durante um certo período de tempo e sob a 
direção dos seus respectivos governos, com a finalidade de forçar um dos 
adversários a satisfazer a(s) vontade(s) do(s) outro(s)”. 
A Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da Resolução n. 3.314, 
esclareceu a definição de agressão: “o uso da força armada por um Estado contra 
a soberania, integridade territorial ou independência política de outro Estado, ou 
de qualquer forma incompatível com a Carta das Nações Unidas” (ONU, 1974, 
tradução nossa)1. 
As Convenções de Genebra de 1949 e seus Protocolo Adicionais de 1977 
– cujos documentos nos aprofundaremos mais adiante, uma vez que representam 
o núcleo do direito internacional humanitário – estendeu a compreensão de 
conflitos armados para situações nas quais “os povos lutam contra a dominação 
colonial e a ocupação estrangeira e contra os regimes racistas” (Brasil, 1993). 
A guerra pode ter um início formal, quando há declaração formal de guerra, 
ou material, quando o uso da força armada é empregado com o intuito do Estado 
de impor sua vontade sobre outro Estado (Mazzuoli, 2020, 1016). Desprezar o 
ultimato do Estado oponente também pode tratar de uma resposta de declaração 
de guerra. O que precisa ficar claro entre os Estados beligerantes é o início do 
estado de guerra, o que marcará a vigência do jus in bellum (direito na guerra). 
 
 
1 Texto original: L’agression est l’emploi de la force armée par um Etat contre la souveraineté, 
l’intégrité territoriale ou l’indépendence politique d’un autre Etat, ou de toute autre manière 
incompatible avec la Charte des Nations Unies. 
 
 
12 
3.1 Jus ad bellum – a legítima defesa 
Como já mencionado, o jus ad bellum (direito da guerra) é entendido como 
o direito de guerrear quando essa guerra parece justa. Todavia, seu conceito não 
é o mesmo hoje, pois não pode ser empregado o uso da força por quaisquer 
razões que o beligerante entenda como justa. 
Conforme vimos em outro momento, a guerra é hoje um ilícito internacional, 
porquanto sua proibição se deu com a Carta da ONU de 1945, mais propriamente 
em seu art. 2º, parágrafo 3º e 4º: 
Art. 2º § 3º Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias 
internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas 
a paz, a segurança e a justiça internacionais. 
§ 4º Todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais 
a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a 
independência política

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