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0 0 6 - Diplomacia e Poder

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AULA 1 
POLÍTICAS INTERNACIONAIS, 
DIPLOMACIA E PODER 
Prof.a Glaucia Julião Bernardo 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Esta disciplina apresenta não só conceitos de forma independente, mas 
também busca estabelecer suas inter-relações. Sendo assim, ao longo dos 
conteúdos serão debatidos temas como: 
• Poder e seus tipos; 
• Política internacional de acordo com teorias de relações internacionais; 
• Conceitos, atores e relações diplomáticas; 
• Assuntos e instrumentos diplomáticos; 
• Diplomacia pública e soft power; 
• Reflexões sobre política externa, diplomacia e relações internacionais. 
Nesta aula definiremos “poder” e sua tipologia nas relações internacionais, 
explicando termos como soft power, hard power e smart power. Por último, 
ponderaremos sobre o conceito e a relação de poder e política. 
TEMA 1 – CONCEITO DE PODER 
Ao buscar o conceito de poder, encontra-se que a palavra “designa a 
capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos” e que “tanto pode ser 
referida a indivíduos e a grupos humanos como a objetos ou a fenômenos naturais” 
(Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 933). Em outras palavras, é necessário 
alguém/algo para exercer essa capacidade sobre alguém/algo. 
De certa forma, ainda se trata de uma concepção ampla, uma vez que ainda 
abrange a capacidade geral de agir até a aptidão de condicionar o comportamento 
de outros homens; isto é, o homem pode ser tanto sujeito quanto o objeto dentro 
do que se chama de poder social. Além de definir a relação entre os homens, é 
importante estabelecer também seu domínio ou esfera. “O poder que se funda 
sobre uma competência especial fica confinado ao âmbito dessa competência.” 
(Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 934) 
Há mais fatores essenciais no debate conceitual sobre poder: entender a 
diferença entre poder atual e poder potencial. Este é a simples capacidade de 
condicionar o comportamento alheio, ao passo que aquele é o exercício dessa 
capacidade. “Enquanto o poder atual é uma relação entre comportamentos, o 
potencial é uma relação entre atitudes para agir.” (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 
2004, p. 933) 
 
 
3 
Então como se exerce o poder? Há várias formas. Alguns autores 
mencionam persuasão, manipulação, punição, oferta de recompensa; outros já 
preferem atrelar o exercício do poder ao uso da coação. Daí distinguimos as ideias 
de poder e influência, mas também entendemos que poder é um conceito 
complexo para se basear apenas pelo (não) uso de coação (Bobbio; Matteucci; 
Pasquino, 2004, p. 938). 
Além dos desafios gerados pelas formas de exercício de poder – do uso ou 
não da coação –, mensurá-lo é outro fator que merece atenção. Mensurar o 
exercício do poder implica observar a realidade social, estudar as relações de 
modo a “diversas dimensões que pode ter o comportamento em causa”, 
confirmando ou não o exercício de poder (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, 
p. 939). 
Não é à toa que a área em que o poder se destaca é a política e seus 
fenômenos, em especial análises à luz da discussão clássica proposta por Max 
Weber. Para o autor, as relações de poder são mais do que mando e obediência; 
elas perpassam o fator da legitimidade. 
Sobre esse aspecto, a legitimidade estaria atrelada a três tipos puros de 
poder: 
1. Legal, relacionado à crença da legitimidade do ordenamento jurídico/lei; 
2. Tradicional, relacionado à legitimidade de que a tradição impõe os 
vínculos senhor vs. súditos; 
3. Carismático, quando a legitimidade é oriunda da devoção afetiva ao líder 
e seu caráter sacro (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 940). 
Adaptando essa discussão para as relações internacionais – que é nosso 
domínio –, podemos verificar que a definição de Nye Junior, autor renomado da 
área, segue a mesma lógica. O poder é “como uma capacidade de afetar os outros 
a alcançar resultados desejados por si”1 (Nye Junior citado por Raimzhanova, 
2015, p. 5, tradução nossa). Segundo esse autor, dentro da esfera das relações 
internacionais há as seguintes formas de exercício de poder: soft power, hard 
power e smart power – relacionadas à dicotomia de coerção e influência. 
Ainda refletindo sobre a legitimidade na esfera das relações internacionais, 
talvez sejam mais comuns os casos de poder legal e tradicional. 
 
1 Citação original: “as an ability to affect others to achieve the outcomes one wants.” 
 
 
4 
Assim, nos temas seguintes desta aula analisaremos cada tipo de poder 
mencionado – soft power, hard power e smart power. Por último, observaremos a 
relação entre poder e política nas relações internacionais. 
TEMA 2 – HARD POWER 
Sem uma autoridade supranacional no sistema internacional, os Estados 
usam suas capacidades para manter sua independência; em outras palavras, 
apelam em último caso ao uso da força militar para preservar sua segurança. O 
poder é um ponto comum entre autores da perspectiva realista, que enxerga a 
política internacional como uma política voltada a ele. A diferença entre os autores 
é como enxergam o poder: enquanto para uns ele se restringe a coerção e 
pagamentos, outros consideram também ideias e atração. Daí a cisão entre hard 
power e soft power (Nye Junior, 2013, p. 4), que pode ser ilustrada na Figura 1: 
Figura 1 – Cisão entre hard power e soft power 
 
Fonte: Adaptado de Raimzhanova, 2015, p. 6. 
O termo “hard power” (ou “poder duro”, como chamamos em língua 
portuguesa) representa a forma mais clássica de poder em relações 
internacionais. Dada a anarquia do sistema internacional, diante da perspectiva 
realista, os Estados passam a enfatizar o poder. “Hard power é definido como a 
capacidade de atingir os objetivos por meio de ações ou ameaças coercitivas, as 
Poder/power
Poder duro/Hard power Poder brando/Soft power
 
 
5 
chamadas ‘cenouras’ e ‘tacos’ da política internacional.”2 (Raimzhanova, 2015, 
p. 6, tradução nossa) 
Normalmente, ao se mensurar hard power, as seguintes dimensões são 
consideradas: 
Figura 2 – Dimensões do hard power 
 
Fonte: Adaptado de Nye Junior; Armitage, 2007 citados por Raimzhanova, 2015, p. 6. 
Essas dimensões são mais claras de analisar. É mais fácil comparar a 
economia, a população, os recursos e as forças militares de um país em relação 
a outro, dada a objetividade na determinação de indicadores. Em outras palavras, 
dessa forma a mensuração é mais fácil, e os resultados, mais perceptíveis. 
Nesse contexto, a ciência e a tecnologia detêm um papel de destaque no 
que se refere ao poder desde o início da Era Nuclear, em 1945 (Nye Junior, 2011, 
p. 2). Com efeito, aplicar a ciência e a tecnologia pode potencializar qualquer uma 
das dimensões apresentadas. Podemos exemplificar isso com o debate pela 
opção de qual tecnologia móvel – 5G – cada país irá utilizar. Em termos de marcas 
e nacionalidades, a delicadeza do assunto esbarra em temas polêmicos, como 
compartilhamento de informações e questões de segurança. 
Conforme discutido, deve-se explicar de que forma o poder é exercido. No 
caso do hard power, o exercício de poder se dá principalmente por meio de 
pagamentos ou coerção; daí a frase que o compara a uma “cenoura” ou “taco”. 
Em outras palavras, pensando na aplicação prática, às vezes um país ou uma 
organização internacional podem impor condições a outro para realizar um 
financiamento. Ainda, um país ou uma organização internacional podem exigir 
aplicar uma retaliação caso um acordo seja descumprido. 
O fato de o debate sobre poder encontrar-se alinhado principalmente à 
teoria realista das relações internacionais se deve ao fato de as outras teorias no 
assunto não dedicarem atenção ao conceito de poder como variável explicativa 
 
2 Citação original: “Hard power is defined as an ability to reach one's goals through coercive actions 
or threats, the so-called ‘carrots’ and ‘sticks’ of international politics.” 
Hard power, ou 
poder duro
População Geografia Recursos
Forças 
militares
Estabilidadesocial
Economia ...
 
 
6 
(Raimzhanova, 2015, p. 4). Para essas teorias, o poder duro, por si só, pode não 
dar conta das crescentes demandas, sendo importante para elas o soft power (ou 
poder brando, em português). 
TEMA 3 – SOFT POWER 
Nem sempre a aplicação do hard power pode ser efetiva. Nye Junior (2013, 
p. 4, tradução nossa) pondera que, “na era da informação, as estratégias de 
comunicação se tornam mais importantes, e os resultados são moldados não 
apenas por qual exército vence, mas também por qual história vence”3. Isto é, não 
adianta simplesmente a vitória, é necessária também a legitimidade, e nesse 
sentido vem o debate do soft power, ou poder brando. 
Um dos fatores desafiadores ao trabalhar com o conceito de poder brando 
é a complexidade de recursos e sua categorização. Se olharmos pela perspectiva 
comportamental, trata-se de um poder de atração; se a análise for feita em termos 
de recursos, são os ativos capazes de produzir essa atração (Raimzhanova, 
2015, p. 7). 
Enquanto o hard power foca pagamentos e coerção, o soft power “é a 
capacidade de obter resultados preferenciais por meio de atração e persuasão, 
em vez de coerção ou pagamentos”4 (Nye Junior, 2011, p. 1, tradução nossa). 
Assim, outros fatores ganham destaque, como ideias, instituições, cultura, valores 
e percepção de legitimidade (Nye Junior, 2013). 
Essa mudança da percepção do papel do poder traz também outras 
dimensões de análise: 
Figura 3 – Dimensões do soft power 
 
Fonte: Adaptado de McClory, 2011 citado por Raimzhanova, 2015, p. 6. 
 
3 Citação original: “It is not solely in relations among advanced countries, however, that soft power 
plays an important role. In an information age, communications strategies become more important 
and outcomes are shaped not merely by whose army wins, but also by whose story wins.” 
4 Citação original: “Soft power is the ability to obtain preferred outcomes through attraction and 
persuasion rather than coercion or payments.” 
Soft power, ou 
poder brando
Governo Cultura Diplomacia Educação Negócios/inovação
 
 
7 
Um exemplo a ser citado na articulação dessas dimensões é o Processo de 
Bolonha, que criou o Espaço Europeu de Ensino Superior. Na assinatura do 
Declaração de Bolonha, em 1999, os membros da União Europeia manifestaram 
seu interesse explícito: 
Em especial, deve-se ter em conta o objetivo de elevar a 
competitividade internacional do sistema europeu do ensino 
superior. A vitalidade e a eficiência de qualquer civilização podem 
ser medidas pela atração que a sua cultura exerce sobre os 
outros países. Precisamos de assegurar que o sistema europeu 
do ensino superior consiga adquirir um grau de atração mundial 
semelhante ao das nossas extraordinárias tradições culturais e 
científicas. (ABC, 1999, grifo nosso) 
Esse objetivo explícito em promover sua educação e cultura a um grau de 
atração mundial (dimensão diplomática) ilustra claramente um exercício de soft 
power. Com essas ações, o Processo de Bolonha chama a atenção de muitos 
países e regiões, que aderiram ao processo (da mesma região) ou se 
inspiraram/emularam as experiências europeias (de outras regiões) (Bernardo, 
2020). 
Com esse exemplo, fica claro que o poder brando deixa de lado o emprego 
da força e valoriza aspectos intangíveis, como cultura, valores políticos, 
instituições e políticas; aspectos que trazem legitimidade às ações, o que é 
essencial para o soft power (Raimzhanova, 2015, p. 6). Com isso podemos refletir 
sobre os atores envolvidos no tema em tela: Estados, organizações 
internacionais, organizações não governamentais, sociedade civil, corporações 
multinacionais e rede de atores (Raimzhanova, 2015, p. 10). 
Dada sua complexidade e sutileza, o soft power traz mais desafios para os 
governos exercerem: além de demorar para apresentar resultados, nem sempre 
é efetivo. Não cabe comparar eficácia e ética entre poder duro e poder brando, 
visto que os “julgamentos normativos dependem dos propósitos para os quais o 
poder é usado” (Nye Junior, 2011, p. 2). 
A questão não é qual poder é mais efetivo, mas quando lançar mão de cada 
um. E com isso surge o terceiro conceito: smart power. 
TEMA 4 – SMART POWER 
É importante compreender que tanto o conceito de hard power quanto o de 
soft power não competem entre si, tampouco são excludentes; há momentos em 
que um se reforça e outro se enfraquece. Diante dessa perspectiva, uma 
 
 
8 
inteligência contextual favorece distinguir e entender como ambos interagem em 
diferentes situações, para saber quando e como usá-los. É nesse contexto que 
surge o conceito de smart power (Nye Junior, 2013, p. 5). 
Uma ilustração para representar esse conceito pode ser a seguinte: 
Figura 4 – Relação entre hard power, soft power e smart power 
 
Smart power diz respeito a uma estratégia de poder que combina hard 
power e soft power em diferentes contextos. Não se trata de abordar 
exclusivamente um ou outro, mas saber combiná-los de forma a não desperdiçar 
tempo nem recursos (Nye Junior, 2013, p. 5). 
Nye Junior (2011) exemplifica o conceito com o relatório de uma comissão 
de 2007 sobre o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, que enfatiza a 
imagem e o poder de influência dos Estados Unidos: 
A comissão salientou que o Pentágono é o braço mais bem treinado e 
com melhores recursos do governo, mas há limites para o que o poder 
duro pode alcançar por si próprio. A promoção da democracia, dos 
direitos humanos e do desenvolvimento da sociedade civil não é mais 
bem tratada com o cano de uma arma. A prática de recorrer ao 
Pentágono, porque ele pode fazer as coisas, levou a uma imagem de 
uma política externa excessivamente militarizada. O desenvolvimento, a 
saúde pública, o enfrentamento das mudanças climáticas e a 
manutenção de um sistema econômico internacional estável e aberto 
não são promovidos pelo forte poder militar. Ao complementar o poderio 
militar e econômico americano com maiores investimentos em soft power 
e o foco em bens públicos globais, o governo Obama procurou 
desenvolver o que a secretária de Estado Hillary Clinton chamou de 
“estratégia de poder inteligente”5. (Nye Junior, 2011, p. 4, tradução 
nossa) 
 
5 Citação original: “The commission pointed out that the Pentagon is the best trained and best 
resourced arm of the government, but there are limits to what hard power can achieve on its own. 
Promoting democracy, human rights, and development of civil society are not best handled with 
the barrel of a gun. The practice of turning to the Pentagon because it can get things done led to 
an image of an over-militarized foreign policy. Development, public health, coping with climate 
Soft 
power
Hard 
power
Smart 
power 
 
 
9 
O exemplo fornecido por Nye Junior (2011) contribui para refletir sobre o 
que pode acontecer quando há uso exclusivo de apenas um poder. No caso dos 
Estados Unidos, o enfoque estava no hard power e, ao fazer os investimentos em 
soft power, usaram o smart power. Eles trabalharam o potencial de ambos os 
poderes, de modo a usar o mais adequado na situação oportuna. 
Para adotar essa estratégia, deve-se ter clareza do objetivo da política; em 
outras palavras, refletir sobre as iniciativas e a finalidade do poder. Uma 
racionalização da tomada de decisão envolve compreender o contexto, a escolha 
do poder adequado, análise de sua eficácia e implementação bem-sucedida da 
agenda (Raimzhanova, 2015, p. 13). 
Portanto, o smart power é a capacidade de um ator combinar ambos os 
poderes (hard power e soft power) de modo que os objetivos sejam atingidos de 
forma eficiente e eficaz, utilizando os recursos da melhor maneira possível 
(Raimzhanova, 2015, p. 13). 
TEMA 5 – PODER VERSUS POLÍTICA 
A discussão sobre poder – seus tipos, formas de exercício e mensuração, 
entre outros – serve de base para discutir a relação poder vs. política. Sem 
dúvidas, o conceito de política está atreladoao de poder; o poder político trata 
exclusivamente dessa categoria de poder de homem sobre homem, que pode ser 
expressa de várias formas (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 955). 
Podemos distinguir a definição de poder em três grandes classes: poder 
econômico, ideológico e político – definidos da seguinte maneira (Bobbio; 
Matteucci; Pasquino, 2004, p. 955): 
• Poder econômico: posse de determinados bens, cujos detentores 
condicionam os não detentores a um certo tipo de comportamento, 
sobretudo o trabalho assalariado; 
• Poder ideológico: formulação de ideias adequadas a certas circunstâncias 
por uma pessoa com autoridade reconhecida, influenciando a conduta de 
outras; 
 
change, and maintaining an open stable international economic system are not promoted by hard 
military power. By complementing American military and eco- nomic might with greater investments 
in soft power, and focusing on global public goods, the Obama administration sought to develop 
what Secretary of State Hillary Clinton termed a ‘smart power strategy’”. 
 
 
10 
• Poder político: monopólio do uso da força; pode ser entendido como um 
“poder coator”. 
Em comum está o fato de os três tipos se basearem e nutrirem uma 
sociedade desigual. Há uma divisão entre os detentores de poder (bens, 
conhecimento, monopólio do uso da força) e os que sofrem o exercício do poder 
(pobres, ignorantes, fracos). Entretanto, o poder político, dado que considera o 
uso da força, acaba sendo o poder soberano em todas as sociedades desiguais e 
ao qual todos estão subordinados (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 955). 
Com isso, Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004, p. 959) discutem sobre as 
visões da política, determinando-a como a relação “amigo-inimigo”, cuja origem e 
aplicação se ligariam a um antagonismo: cuidar dos “amigos” e defendê-los dos 
“inimigos”. Em outras palavras, há o reconhecimento de conflitos entre os homens 
e grupos sociais em diferentes intensidades, denominados conflitos políticos, que 
só poderiam ser resolvidos pela força. 
Há também a relação entre o político e o social, em que a política 
compreenderia todos os tipos de relações sociais. Entretanto, pode ser uma 
caracterização limitativa, dado que sua atrelagem ao poder coercitivo restringe 
esses âmbitos políticos e sociais (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 960). 
Outra questão levantada se relaciona à moral. Não há como estabelecer 
uma relação entre ações políticas e morais. Deve-se observar que 
o que é lícito em política não se pode dizer que o seja em moral; pode 
haver ações morais que são impolíticas (ou apolíticas) e ações políticas 
que são imorais (ou amorais). A descoberta da distinção que é atribuída, 
injustificada ou justificadamente a Maquiavel […] é geralmente 
apresentada como problema da autonomia da política. (Bobbio; 
Matteucci; Pasquino, 2004, p. 961-962) 
Assim sendo, é impossível padronizar questões políticas e morais. Essa 
questão fica evidente com a citação de Maquiavel, que nos remete à ideia de que 
“os fins justificam os meios”. Ela demonstra a dificuldade dessa caracterização. 
Ainda há a visão de política como a da “ética do grupo”, que traz as mesmas 
dificuldades do item anterior: muitas vezes o que é razoável num contexto não é 
em outro. E talvez a melhor explicação seja a diferença entre ética individual e 
grupal: o que é obrigatório para o indivíduo pode não ser para o grupo do qual 
esse mesmo indivíduo faz parte (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 961-962). 
Explicadas essas diferentes percepções sobre o termo “política”, 
finalizamos o tema com o debate sobre política externa e internacional: 
 
 
11 
“O mundo hoje conta com mais de 190 países que se relacionam de forma 
pensada e planejada, de acordo com seus interesses e objetivos. Esse 
planejamento é chamado de política externa” (Borelli, 2016). É com essa 
perspectiva que pensaremos, futuramente, em temas como: 
• Política internacional de acordo com teorias de relações internacionais; 
• Conceitos, atores e relações de diplomacia; 
• Assuntos e instrumentos diplomáticos; 
• Diplomacia pública e soft power; 
• Reflexões sobre política externa, diplomacia e relações internacionais. 
 
 
12 
REFERÊNCIAS 
ABC – Associação Brasileira de Ciências. Texto da Declaração de Bolonha 
Declaração conjunta dos Ministros da Educação europeus reunidos em 
Bolonha a 19 de junho de 1999. Disponível em: <http://www.abc.org.br/wp-
content/uploads/2009/09/www.ufabc_.edu_.br_images_stories_pdfs_declaracao
debolonhaportugues.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2020. 
BERNARDO, G. A proposal for enhancing policy transfer analysis among 
international organizations: the EU x Mercosur relations in higher education. 
2020. 151 p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2020. 
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. Brasília, 
DF: UnB, 2004. 
BORELLI, P. C. Política externa: o que é e por que é importante. Politize!, [S.l.], 
8 nov. 2016. Disponível em: <https://www.politize.com.br/politica-externa-o-que-
e-e-por-que-e-importante/>. Acesso em: 15 jun. 2020. 
NYE JUNIOR, J. S. Power: hard, soft, and smart. In: CHRISTIE, D. J. (Ed.) The 
encyclopedia of peace psychology. Hoboken: Wiley, 2011. 
_____. Hard, soft, and smart power. In: COOPER, A.; HEINE, J.; THAKUR, R. The 
Oxford handbook of modern diplomacy. Oxford: Oxford University Press, 2013. 
RAIMZHANOVA, A. Power in IR: hard, soft, and smart. Cultural Diplomacy, 
Bucareste, 2015. Disponível em: 
<http://www.culturaldiplomacy.org/academy/content/pdf/participant-papers/2015-
12_annual/Power-In-Ir-By-Raimzhanova,-A.pdf> Acesso em: 15 jun. 2020. 
AULA 2 
POLÍTICAS INTERNACIONAIS, 
DIPLOMACIA E PODER 
Profa Glaucia Julião Bernardo 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Anteriormente, analisamos o conceito de poder, principalmente sua 
aplicação à área de relações internacionais. Além disso, iniciamos a discussão 
sobre poder e política. Nesta aula, o enfoque será dado sobre o conceito de 
política internacional e seu ponto de vista de acordo com as teorias de relações 
internacionais. 
TEMA 1 – CONCEITO DE POLÍTICA INTERNACIONAL 
Iniciamos a conceituação de política externa indicando que ela se relaciona 
a “um conjunto definido de medidas, decisões e programas utilizado pelo governo 
de um país” com o objetivo de “projetar e direcionar suas ações políticas no 
exterior” (Borelli, 2016), isto é, a política externa é a forma como o país se organiza 
para agir internacionalmente. 
Por isso, a política externa, ao ser formulada, considera tanto aspectos 
nacionais quanto internacionais, uma vez que o modo de agir internacionalmente 
é motivado pelas autoridades nacionais. Em outras palavras, ao mesmo tempo 
que se considera fatores como distribuição de poder no cenário internacional ou 
na atuação das organizações, não se pode abandonar questões como interesses 
sociais e valores culturais do país (Borelli, 2016). 
Nesse sentido, a política externa pode ser considerada uma política 
pública. Apesar de uma política pública poder atravessar fronteiras nacionais – o 
que dificulta a persecução dos objetivos e a percepção dos resultados –, deve-se 
diferenciar política externa de uma simples ação externa. Por um lado, a ação 
externa diz respeito a qualquer contato do governo com um ator externo, podendo 
ser planejado ou não; já a política externa envolve toda sua elaboração – similar 
à política pública –, como as demandas e conflitos de variados grupos domésticos 
(Salomon; Pinheiro, 2013, p. 41). 
Mas por que discutir política externa dentro de política internacional? O que 
diferencia uma da outra? Trata-se de conceitos muito próximos e muito fáceis de 
confundir. A política externa considera o planejamento de um país para suas 
ações externas; a política internacional diz respeito à política entre as nações: 
Quando falamos em relações internacionais fazemos referência 
geralmenteàs relações que se estabelecem entre as unidades políticas 
que são os estados nacionais, ou seja, falamos de política entre as 
nações ou simplesmente política internacional (incluindo-se aí as duas 
 
 
3 
faces da atuação política, em nível internacional: a diplomacia e as 
questões militar-estratégicas). (Lacerda, 2006, p. 57) 
Enquanto a política externa foca a relação de unidades particulares 
(Salomon; Pinheiro, 2013, p. 40), ou seja, de um Estado com os outros, a política 
internacional volta-se à relação e interação do conjunto (Bittencourt, 2014), isto é, 
do sistema como um todo. Essa noção de interação também é reforçada na 
explicação proposta por Silva (2015), para quem a política internacional é 
entendida como o ambiente em que se inter-relacionam os Estados e 
alguns outros atores com status nessa política, tais como a Organização 
das Nações Unidas […] e outras organizações ou mecanismos de 
segurança e defesa regionais ou inter-regionais. (Silva, 2015, p. 183) 
É fundamental compreender as diferenças entre política externa e política 
internacional para entender como analisá-las, quem são os atores envolvidos em 
cada uma, como o exercício do poder acontece em cada uma, além de identificar 
como esses conceitos – poder, política externa, política internacional e diplomacia 
– se entrelaçam. 
Por fim, dentro das relações internacionais há diferentes abordagens 
teóricas. Isso significa reconhecer que há pequenas diferenças nos pontos de 
vista sobre a política internacional, haja vista que essas abordagens têm 
diferentes concepções sobre o homem e a sociedade e, por consequência, trazem 
várias explicações sobre o relacionamento entre os países (Lacerda, 2006). 
No decorrer desta aula, serão apresentados os pontos de vista sobre 
política internacional das três principais vertentes: liberalismo, realismo e 
construtivismo. Ao final, faremos um breve comparativo entre elas para explicitar 
suas diferenças. 
TEMA 2 – POLÍTICA INTERNACIONAL DO PONTO DE VISTA REALISTA 
O realismo tem como uma de suas principais características o foco nas 
relações de poder, especificamente na mudança da distribuição do poder entre os 
Estados. Pode-se dizer que a essência do realismo é a crença de que os assuntos 
internacionais – e, consequentemente, a política internacional – são uma luta 
constante entre os Estados pelo poder (Snyder, 2004, p. 53-55). 
Embora autores realistas sejam pessimistas em relação à luta pelo poder, 
ainda mais considerando a natureza humana, é preciso reconhecer que os 
Estados podem mitigar motivações de conflito e encontrar uma forma de reduzir 
o perigo que representam um ao outro. Isso não quer dizer que o realismo seja 
 
 
4 
amoral; seus defensores apenas destacam que essa questão do pragmatismo 
sobre o poder pode colaborar para um mundo pacífico (Snyder, 2004, p. 55). 
Sobre a política internacional pela perspectiva realista, deve-se considerar 
que estamos diante de uma corrente teórica que prioriza as relações políticas 
entre os Estados, dando ênfase às variáveis políticas, a saber: as diplomáticas e 
as militares (Snyder, 2004, p. 58-59). Em outras palavras, realçam as variáveis 
diretamente relacionadas à questão do poder. 
Como inexiste uma autoridade superior no sistema internacional, 
problemas de governabilidade podem acontecer, de modo a transformar a 
anarquia em desordem. Como consequência, os Estados, com vistas a garantir 
sua existência, passam a viver na iminência de uma guerra. Portanto, há uma 
constante busca pelo poder – principalmente o militar – e tudo que possa ser 
convertido em poder. Quem tem maior poder/capacidade “dá as cartas” (Lacerda, 
2004, p. 60-61). 
Conforme a visão de Joseph Nye Junior (2011, p. 2), “dada a estrutura 
anárquica das relações internacionais e os pressupostos de que os estados 
preferem preservar sua independência, as abordagens realistas tradicionais do 
assunto enfatizaram o hard power”. Em outras palavras, os realistas enfatizam o 
poder duro, ou a capacidade de ação por meio de coerção ou pagamentos no 
sistema internacional. Para eles, seriam esses os meios de demonstrar poder. 
A respeito dos principais autores realistas, Salomon e Pinheiro (2013, p. 46) 
destacam o papel de Hans Morgenthau, que discorre tanto sobre política externa 
(ou a escolha de governantes e tomadores de decisão) quanto política 
internacional (ou questões do sistema capazes de afetar a todos da mesma 
maneira). 
Os realistas seguiram com a discussão sobre política externa até que 
Kenneth Waltz, em 1979, enfatizou a política internacional. Com isso, o realismo 
estrutural (ou neorrealismo) se tornou uma corrente dominante na teoria. A 
proposta desse autor foi apesentar uma teoria política internacional que 
identificasse os “processos recorrentes (fundamentalmente a guerra) no sistema 
político internacional” (Salomon; Pinheiro, 2013, p. 46). 
Para Waltz, a política internacional não tratava de uma junção/coleção de 
políticas externas – como pensava o realismo tradicional –, mas de uma interação 
de unidades. Isso fica evidente no seguinte trecho: 
 
 
5 
um sistema é então definido como um conjunto de unidades em 
interação. Em um nível, um sistema consiste em uma estrutura, e a 
estrutura é o componente no nível do sistema que possibilita pensar nas 
unidades como formando um conjunto distinto da mera coleção. Em 
outro nível, o sistema consiste em unidades em interação1. (Waltz citado 
por Bittencourt, p. 2014, p. 8) 
A ênfase do autor está na ideia de conjunto. Não se trata de uma coleção 
de unidades e suas políticas externas, mas unidades com políticas externas que 
interagem. Além disso, a teoria prescinde de qualquer fator doméstico e trata 
apenas da distribuição de poder como fator condicionante da política internacional 
(Salomon; Pinheiro, 2013, p. 46). 
Mais tarde, surgem autores que querem construir uma teoria realista de 
política externa, tornando-se representantes de um “realismo neoclássico”. Para 
eles, suas teorias complementam as do neorrealismo (ou realismo estrutural), pois 
preocupam-se com a atuação dos Estados individuais e reintroduzem os aspectos 
domésticos à discussão (Salomon; Pinheiro, 2013, p. 46). 
TEMA 3 – POLÍTICA INTERNACIONAL DO PONTO DE VISTA LIBERAL 
O fim da Guerra Fria explicita algo que já vinha acontecendo: a 
fragmentação da agenda internacional. Em outras palavras, questões como 
segurança nacional e internacional abrem espaço para novos temas, dentre eles 
os sociais. Isso não quer dizer que os Estados tenham perdido sua capacidade 
sobre os assuntos anteriores, mas que demais atividades e iniciativas privadas 
transacionais não conseguem resolver todas as demandas a eles apresentadas, 
quer internamente, quer externamente (Villa, 2006, p. 7). 
Mas isso já acontecia há muito tempo. O liberalismo havia rompido com a 
visão realista do Estado como o principal agente do sistema internacional e cuja 
única preocupação seria preservar a soberania estatal. Na realidade, o conceito 
de soberania estatal vem passando por uma redefinição que pode ser observada 
desde os anos 1970, com a ênfase dada às instituições humanitárias 
internacionais, como Médicos sem Fronteiras e Medicina do Mundo. Isso 
demonstra que os direitos humanos são apenas um exemplo da redefinição de 
temas e atores nas relações internacionais (Villa, 2006, p. 7-8). 
 
1 Citação original: “a system is then defined as a set of interacting units. At one level, a system 
consists of a structure, and the structure is the system-level component that makes it possible to 
think of units as forming a set as distinct from mere collection. At another level, the system consists 
of interacting units”. 
 
 
6 
O realismo passa a conviver com uma nova teoria de relações 
internacionais: o liberalismo. Essa nova teoria traz uma visão muito diferente 
sobre a política internacional,a qual, antes pautada na busca pelo poder, agora 
seria moderada pela cooperação internacional e pelos valores democráticos. 
Uma das características do liberalismo é a confiança no potencial 
cooperativo de democracias consideradas maduras, principalmente quando esse 
trabalho é mediado por instituições eficazes. Por isso, nota-se a tendência de as 
democracias lidarem contra tiranias e se preocuparem com a propensão de 
democracias emergentes desmoronarem em violenta turbulência étnica (Snyder, 
2004, p. 53-54). 
Com isso, depreende-se outra importante característica do liberalismo: o 
papel fundamental das instituições. Como comentamos, a cooperação acontece 
por meio de instituições eficazes – se a cooperação não acontece, é por conta de 
falhas das instituições, e não pelo comportamento dos Estados. 
De fato, o liberalismo aponta para uma agenda além de questões de 
diplomacia e segurança, tendo em vista que o comércio e as finanças passam a 
estabelecer e fortalecer os laços entre as nações, assim como os ideais 
democráticos se espalham. Também há o fator da responsabilidade do líder eleito 
para com as pessoas; portanto, acredita-se que um regime legítimo não entraria 
em conflito o outro (Snyder, 2004, p. 55-56). 
Cumpre destacar que, contrariando o realismo, esta é a 
resposta que o liberalismo oferece às grandes questões das relações 
internacionais: o conflito recorrente entre Estados é evitável, a 
cooperação é possível, e o indivíduo, agindo por meio de instituições, é 
o principal agente de mudança na política internacional. (Salomon; 
Pinheiro, 2013, p. 45) 
Em vez de focar o conflito, o liberalismo traz a cooperação. Enquanto o 
realismo trata de Estados soberanos, o liberalismo também inclui instituições e 
indivíduos como agentes de mudança. Mas, principalmente, se no realismo as 
variáveis externas são deixadas de lado na política internacional, no liberalismo 
ganham peso na explicação (Salomon; Pinheiro, 2013). E isso pode ser ilustrado 
em qualquer uma de suas vertentes: 
 
 
 
 
 
 
7 
Figura 1 – Vertentes do liberalismo 
 
Fonte: adaptado de Salomon; Pinheiro, 2013, p. 45. 
TEMA 4 – POLÍTICA INTERNACIONAL DO PONTO DE VISTA CONSTRUTIVISTA 
Por um lado, temos o realismo focado na busca pelo poder, que identifica 
na política internacional variáveis políticas, como o militarismo e a diplomacia; por 
outro, o liberalismo contrapõe esse ponto de vista e prioriza novos temas na 
agenda internacional, como valores democráticos e instituições, o que colabora 
para uma visão mais cooperativa da política internacional. Um novo debate entra 
em pauta e enfatiza o papel das ideias: o construtivismo. 
Alguns autores apresentam o construtivismo como uma nova roupagem do 
idealismo. Snyder (2004, p. 60) afirma que recentemente “uma nova versão do 
idealismo – chamada construtivista de aderentes – retornou a um lugar de 
destaque nos debates sobre a teoria das relações internacionais”2. Ambos 
reconhecem o papel das ideias. 
 
2 Citação original: “Recently, a new version of idealism – called constructivism its adherents – 
returned to a prominent place in debates on international relations theory”. 
1902
• Imperialismo
1913
•A irracionalidade da guerra entre potências industrializadas
1936-
1943
•O papel pacificador das organizações internacionais
1957
•Transnacionalismo
1958
•Neofuncionalismo
1977
• Interdependência complexa
1989
•Paz democrática
1997-
2008
•Novo liberalismo
 
 
8 
O idealismo ressalta a mudança das normas em contextos como 
“soberania, direitos humanos, justiça internacional, bem como o aumento da 
potência das ideias religiosas na política”3 (Snyder, 2004, p. 54). Para o autor, já 
existe a noção da relação entre senso de valores e uma ordem política estável, 
reconhecendo também que forjar um consenso pode levar a uma luta ideológica 
com potencial de conflito. 
O idealismo crê que a política internacional é norteada por padrões éticos 
e legais, e o construtivismo sustenta a mesma lógica de que a realidade 
internacional é criada por meio de valores. E eventos como o 11 de Setembro 
parecem reforçar o ressurgimento da teoria, destacando novamente o papel das 
ideologias, da persuasão, das identidades e das redes transnacionais (Snyder, 
2004, p. 60). 
Nesse contexto, a concepção de poder se relaciona à capacidade de 
convencer os outros a adotar novas ideias e valores. Portanto, é impossível para 
os construtivistas que o interesse nacional seja imutável, como pregam os 
realistas. “Os construtivistas sustentam que sua teoria é mais profunda que o 
realismo e o liberalismo, porque explica as origens das forças que impulsionam 
as teorias concorrentes”4 (Snyder, 2004, p. 60). 
Observando o novo quadro da política internacional voltada às ideias, 
valores, padrões éticos e legais, talvez o soft power (poder brando) seja o mais 
relacionado com a visão construtivista. 
O poder brando pode se basear em recursos como a atração de ideias 
e cultura, a legitimidade percebida de suas políticas ou a capacidade de 
definir a agenda política de maneira a moldar as preferências que os 
outros expressam. […] Os teóricos construtivistas há muito 
compreendem o poder que advém de definir a agenda e determinar as 
preferências dos outros5. (Nye Junior, 2011, p. 2) 
Com efeito, o soft power se liga à ideia de poder pela atração e 
determinação da preferência alheia ao formar sua agenda. Assim, os principais 
atores dessa corrente teórica seriam aqueles capazes de promover esses novos 
conceitos. 
 
3 Citação original: “sovereignty, human rights, and international justice as well as the increased 
potency of religious ideas in politics”. 
4 Citação original: “Constructivists contend that their theory is deeper than realism and liberalism 
because it explains the origins of the forces that drive those competing theories”. 
5 Citação original: “Soft power can rest on such resources as the attraction of one’s ideas and 
culture, the perceived legitimacy of one’s policies, or on the ability to set the political agenda in a 
way that shapes the preferences others express. […] Constructivist theorists have long understood 
the power that comes from setting the agenda and determining the preferences of others”. 
 
 
9 
Salomon e Pinheiro (2013, p. 47), ao discorrerem sobre as contribuições 
construtivistas para analisar a política externa, argumentam que o construtivismo 
não é exclusivamente uma teoria de relações internacionais, mas uma ampla 
teoria social que pode ser usada para estudar a política internacional. Essa ampla 
teoria enfoca o papel das ideias dentro das relações sociais em geral, haja vista 
que elas poderiam tanto determinar a vida social quanto fatores materiais. 
Outro ponto fundamental para o construtivismo é o fato de sua análise não 
ter como base os Estados individuais, senão o surgimento, a propagação e a 
medicação das ideias. Quando se fala em ideias, entenda-se também as normas, 
as identidades e os interesses. De fato o construtivismo tem vasta pesquisa sobre 
a formação de interesses e normas internacionais, e sobre redes transnacionais 
também – temas que colaboram para entender a política internacional e analisar 
a política externa (Salomon; Pinheiro, 2013, p. 47-48). 
TEMA 5 – COMPARANDO PERSPECTIVAS 
Ao compararmos as três principais vertentes teóricas das relações 
internacionais, podemos observar seus diferentes enfoques (Snyder, 2004, p. 60): 
 Realismo: equilíbrio de poder; 
 Liberalismo: democracia e o poder da internacionalização; 
 Construtivismo: debate sobre as ideias como alicerces de 
internacionalização. 
Com diferentes enfoques, é natural que os principais atores, os 
instrumentos aplicados e o tipo de poder compatível sejam diferentes. Para 
resumir as correntes apresentadas e facilitar a comparação, observe o Quadro 1:Quadro 1 – Comparação entre as três vertentes 
 Realismo Liberalismo Construtivismo 
Crenças 
fundamentais 
Estados competem por 
poder e segurança 
Disseminação da 
democracia, laços 
econômicos globais e 
organizações 
internacionais que 
fortalecem a paz 
Política internacional 
moldada por ideias 
persuasivas, valores 
coletivos, cultura e 
identidade social 
Atores-chave 
Estados, que se 
comportam de forma 
similar, 
independentemente do 
tipo de governo 
Estados, instituições 
internacionais e 
interesses comerciais 
Promotores de novas 
ideias, redes de 
ativistas transnacionais, 
organizações não 
governamentais 
 
 
10 
 
Principais 
instrumentos 
Poder militar e 
diplomacia estatal 
 
Instituições 
internacionais de 
comércio global 
 
Ideias e valores 
Tipo de poder 
compatível 
Hard power Soft power 
Fonte: Nye Junior, 2011; Snyder, 2004, p. 59. 
Do ponto de vista das crenças fundamentais e atores-chave, é possível 
observar que a abordagem realista é oposta à liberal em termos de política 
internacional. A primeira debruça-se sobre o modo periódico do conflito 
internacional, sobre o qual as variáveis domésticas pouco podem explicar se 
comparadas às variáveis sistêmicas. Nesse contexto, os atores são 
exclusivamente os Estados, cujo comportamento não mudaria, 
independentemente dos governos. A segunda reconhece o papel das variáveis 
domésticas e a elas concede o peso principal da explicação da política 
internacional; portanto, os atores não são apenas os Estados, mas também as 
instituições internacionais, fundamentais para cooperação e interesses 
comerciais. 
O construtivismo segue uma lógica à parte, pois o foco não está no Estado 
nem em suas variáveis domésticas e internacionais, mas na promoção e nos 
agentes promotores das ideias, opondo-se à corrente liberal e à realista (Salomon; 
Pinheiro, 2013, p. 47; Snyder, 2004, p. 59). 
Optamos por adicionar ao Quadro 1 uma linha sobre o tipo de poder de 
acordo com o texto de Nye Junior (2011). Refletindo sobre a relação entre os 
instrumentos e os tipos de poder, é de se esperar que o realismo, baseado no 
poderio militar, priorize o hard power. Da mesma forma, não surpreende que o 
construtivismo, baseado nas ideias, tenha maior afinidade com o soft power. O 
desafio está em refletir sobre o poder preferido pelos liberais. 
A princípio, o autor não explicita nada sobre o tipo de poder compatível com 
o liberalismo, por isso esse item não está preenchido. Contudo, se pensarmos que 
o liberalismo considera valores – como os democráticos – e a cooperação, mas 
também reconhece o peso das instituições, do comércio e das finanças, pode-se 
especular que há uma predileção pelo smart power. Com isso, não se quer dizer 
que o smart power é exclusivo da vertente liberal; ao contrário: pode ser aplicado 
a todas. Contudo, a corrente que parece mais propensa a lidar com os dois tipos 
 
 
11 
de poderes é a liberal, enquanto a realista continua com as discussões focadas 
no poder, e a construtivista, nas ideias. 
Encerrada a discussão sobre política internacional, aprofundaremos a 
questão da diplomacia, discorrendo sobre seu conceito, atores, relações, 
assuntos, entre outros. 
 
 
 
12 
REFERÊNCIAS 
BITTENCOURT, P. V. Z. O papel do estado na teoria da política internacional de 
KENNETH WALTZ: seria o Estado o único ator das relações internacionais? 
Revista de Iniciação Científica da FCC, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 1-13, 2014. 
Disponível em: <https://www2.marilia.unesp.br/index.php/ric/article/view/6347>. 
Acesso em: 16 jun. 2020. 
BORELLI, P. C. Política externa: o que é e por que é importante. Politize!, [S.l.], 
8 nov. 2016. Disponível em: <https://www.politize.com.br/politica-externa-o-que-
e-e-por-que-e-importante/>. Acesso em: 15 jun. 2020. 
LACERDA, G. B. Algumas teorias das relações internacionais: realismo, idealismo 
e grocianismo. Revista InterSaberes, Curitiba, v. 1 n. 1, p. 56-77, jan./jun. 2006. 
NYE JUNIOR, J. S. Power: hard, soft, and smart. In: CHRISTIE, D. J. (Ed.) The 
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SALOMON, M.; PINHEIRO, L. Análise de política externa e política externa 
brasileira: trajetória, desafios e possibilidades de um campo de estudos. Revista 
Brasileira de Política Internacional, Brasília, DF, v. 56, n. 1, p. 40-59, 2013. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
73292013000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16 jun. 2020. 
SILVA, A. R. A. A diplomacia de defesa na política internacional. Revista da 
Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 179-202, jul./dez. 2015. 
SNYDER, J. One world, rival theories. Foreign Policy, Ann Arbor, n. 145, p. 52-
62, dez. 2004. Disponível em: 
<https://www.jstor.org/stable/4152944?origin=JSTOR-
pdf&seq=1#page_scan_tab_contents>. Acesso em: 16 jun. 2020. 
VILLA, R. D. Dossiê Política Internacional: temas emergentes. Apresentação. 
Revista de Sociologia e Política, Curitiba, v. 26, p. 7-14, nov. 2006. Disponível 
em <https://www.scielo.br/pdf/rsocp/n27/02.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2020. 
AULA 3 
POLÍTICAS INTERNACIONAIS, 
DIPLOMACIA E PODER 
Prof.ª Glaucia Julião Bernardo 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula e nos próximos conteúdos, trataremos especificamente de 
temas relacionados à diplomacia. Para isso, precisamos compreender o conceito 
de diplomacia, o papel dos diplomatas, quais são os demais atores envolvidos 
com a diplomacia, quais são os órgãos do Ministério das Relações Exteriores. 
Com isso, podemos abordar com suas particularidades as relações diplomáticas. 
TEMA 1 – CONCEITO DE DIPLOMACIA 
Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004, p. 348) iniciam sua explicação sobre 
o termo diplomacia recorrendo a sua definição de dicionário, segundo o qual a
diplomacia se trata da “[...] condução das relações internacionais através de 
negociações. O método através do qual estas relações são reguladas e mantidas 
por embaixadores e encarregados; o ofício ou a arte do diplomata”. Em outras 
palavras, o conceito apresentado por Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004) é claro 
quando diz se tratar a diplomacia de um método. 
O termo é oriundo da palavra diploma, ou seja, a folha usada para 
divulgação de leis e editais. Logo, passaria a designar o trabalho de pessoas que 
uso dela faziam, se tornando uma licença concedida a elas. As práticas desses 
mensageiros são muito antigas e pode ser atribuído aos gregos do século V a.C. 
o primeiro estabelecimento conhecido de um sistema de relações diplomáticas,
determinando o princípio de inviolabilidade dos mensageiros (Bobbio; Matteucci; 
Pasquino, 2004, p. 348). 
Dessa forma, é difícil tentar separar o desenvolvimento da diplomacia da 
atividade internacional dos Estados. Durante muito tempo, a diplomacia esteve 
associada à busca pelos interesses nacionais, elencados na política externa de 
cada país. Entretanto, mais do que a promoção de interesses dos Estados, de ser 
essencial para as atividades comerciais, a diplomacia também se mostrou um 
meio para a solução de controvérsias entre eles (Bueno; Freire; Oliveira, 2016, p. 
625). 
Como explicado, o desenvolvimento da diplomacia tradicional vem desde a 
Antiguidade, chegando a ser ligado aos “registros remanescentes de história 
escrita”; com efeito, esses registros remontam aos mais antigos tratados 
estabelecidos entre governos de diferentes regiões (Bueno; Freire; Oliveira, 2016, 
p. 626). Em termos jurídicos, o marco da diplomacia pode ser estabelecido como
 
 
3 
o Congresso de Viena de 1815, em que ocorre a primeira tentativa de 
regulamentação da diplomacia, cujos principais feitos resultantes são que: 
Preparou juridicamente as constituições da Confederação Germânica e 
Suíça; disciplinou a classe hierárquica de agentes diplomáticos; pontuou 
os primeiros passos rumo à abolição da escravidão de negros e 
consolidou o princípio de liberdadede navegação em rios internacionais 
(Bueno; Freire; Oliveira, 2016, p. 628). 
Com o Congresso de Viena, são estabelecidas as bases para a diplomacia 
moderna, culminando com o progresso e consolidação do direito diplomático na 
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (ONU, 1961). O documento foi 
fundamental para transferir a figura do chefe de missão para as embaixadas. Além 
disso, levou ao reconhecimento da condição dos agentes diplomáticos, atendendo 
a princípios das Nações Unidas, fomentando a relação amistosa entre os povos 
(Bueno; Freire; Oliveira, 2016, p. 630). 
Em suma, se formos conceituar nossa diplomacia moderna, podemos 
seguir a definição de Berridge e James (2001), que diz ela se tratar das relações 
entre Estados soberanos, realizadas no país ou no exterior ou em organizações 
internacionais, por funcionários, membros ou temporários, dos respectivos 
serviços diplomáticos. Nesse sentido, a forma ainda mais tradicional de relação 
diplomática é o envio de representantes de um Estado a outros Estados. Pode-se 
entender a diplomacia, também, como o sistema de comunicação da sociedade 
internacional. A diplomacia pode gerar também outras definições, como uso do 
tato no trato pessoal, qualquer tentativa de promoção de negócios internacionais 
ou ainda política externa (Berridge; James, 2001, p. 62-63). 
TEMA 2 – RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS 
As relações diplomáticas, portanto, dizem respeito a 
Uma condição desfrutada por dois Estados, que se diz terem ou estarem 
em relações diplomáticas entre si. Relações diplomáticas são o pré-
requisito para diplomacia normal, à medida que permite que os Estados 
envolvidos se comuniquem diretamente entre si, sem impedimentos nem 
obstáculos formais. Assim, cada um pode se dirigir ao outro, expressar 
pontos de vista e chegar a acordos com o outro, sendo esse negócio 
geralmente realizado por meio de agentes diplomáticos.1 (Berridge; 
James, 2001, p. 73, tradução nossa) 
 
1 No original: “A condition enjoyed by two states, who are then said to have or be in diplomatic 
relations with each other. It is the prerequisite for normal diplomacy [...] in that it enables the states 
concerned to engage in direct communication with each other, unhampered by any formal 
obstacles. Thus each may address the other, express views to the other, and reach agreements 
 
 
4 
Essa afirmação de Berridge e James (2001) reforça a ideia de que 
diplomacia se trata de um método e não de um conteúdo. Diferentemente da 
crença popular, ela não é exclusivamente o envio de missão de um Estado para 
o outro, mas um meio usual de manter contato permanente entre dois Estados 
(Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004; Berridge; James, 2001). Conforme exposto 
no tema anterior, as relações diplomáticas vêm de longa data, provavelmente 
desde os registros da escrita. E seguem um determinado rito, o qual atualmente 
é ditado pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (ONU, 1961), 
cuja finalidade era codificar e esclarecer juridicamente aspectos envolvendo: 
• agentes diplomáticos; 
• missões diplomáticas trocadas entre Estados; 
• privilégios e imunidades. 
Com a sua entrada em vigor, em 1964, a convenção mais tratou do âmbito 
jurídico do que das relações em si (ONU, 1961; Bobbio; Matteucci; Pasquino, 
2004; Berridge; James, 2001). Por isso, é importante ampliarmos a discussão 
sobre diplomacia, analisando a definição de agentes diplomáticos, atores em 
geral, órgãos envolvidos, entre outros elementos da diplomacia. Sobre os agentes 
diplomáticos, Bueno, Freire e Oliveira (2016, p. 630) recorrem à Convenção de 
Viena para explicar que eles estão divididos em três classes: 
1. “embaixadores, legados e núncios”; 
2. “enviados, ministros e outros agentes acreditados junto dos soberanos”; 
3. “encarregado de negócios, apenas acreditado junto dos ministros dos 
negócios estrangeiros”. 
Essas classes e, especialmente, os diplomatas serão parte do próximo 
tema. 
TEMA 3 – DIPLOMATAS DE CARREIRA 
É normal, quando estamos falando sobre atores em diplomacia, que os 
primeiros que venham a nossa mente sejam os diplomatas de carreira. Por 
diplomata entende-se um profissional envolvido no ofício de diplomacia, podendo 
ser um agente diplomático ou oficial de um Ministério das Relações Exteriores. 
 
with the other, such business usually being done through diplomatic agentes” (Berridge; James, 
2001, p. 73). 
 
 
5 
Por agente diplomático, tratamos daqueles chefes de missões ou seus membros 
(Berridge; James, 2001, p. 63). 
Os chefes de missões diplomáticas podem ser divididos em três classes, 
como vimos no tema anterior e foi explicitado na Convenção de Viena, em seu art. 
14 (ONU, 1961): 
• embaixadores ou núncios: 
• enviados, ministros ou internúncios, acreditados perante chefe de Estado; 
• encarregado de negócios, apenas acreditado por Ministério das Relações 
Exteriores. 
Por embaixador entende-se o agente diplomático de mais alto nível. Muitas 
vezes, o termo embaixador é usado para denominar o chefe de uma missão no 
exterior; essa missão em tela é a embaixada. Já a nomenclatura núncio faz 
referência ao representante diplomático da Santa Sé, nos casos em que os países 
se recusam a aceitar o decano do corpo diplomático (Berridge; James, 2001, p. 8, 
194, 195). 
A sede da embaixada ou instalações diplomáticas são os edifícios usados 
como parte da missão diplomática, dentre os quais está a residência do chefe da 
missão (Berridge; James, 2001, p. 69). Aliás, segundo a Convenção de Viena 
(ONU, 1961), é função do Estado receptor auxiliar na aquisição do território para 
a implementação da embaixada, cujas instalações são invioláveis. A entrada nela 
só é permitida pelo chefe da missão e o Estado receptor deve tomar medidas para 
proteção dessas instalações. E, no caso de interrupção das relações entre os 
Estados, também há normas a serem seguidas para preservação da embaixada. 
Outra classe destacada pela Convenção de Viena são os enviados, 
ministros ou internúncios, acreditados perante chefes de Estado. Naturalmente, 
os sistemas de governo possuem um ministro das Relações Exteriores, haja vista 
a necessidade que o chefe de governo possui de ser auxiliado por alguém para 
coordenar as relações entre Estados e usar de suas habilidades para interagir e 
interpretar estrangeiros. Da mesma forma, os cidadãos também precisam de 
apoio, por parte do Estado, para o desenvolvimento de suas atividades privadas 
e corporativas no exterior. O termo internúncio, por sua vez, também se encontra 
ligado às questões da Santa Sé (Greenstock, 2013, p. 2). 
Assim, a prática de se nomear – atribuição que é de chefe de Estado, chefe 
de governo ou de ministro das Relações Exteriores – enviados ou representantes 
especiais acabou se tornando comum, uma vez que há maior demanda do 
 
 
6 
estabelecimento de áreas especializadas por parte das organizações 
internacionais. Exemplos disso são as questões transfronteiriças, os direitos 
humanos, as mudanças climáticas. Geralmente, a designação para tratar desse 
tipo de matéria costuma ser feita para um diplomata em serviço ou recém-
aposentado ou ainda outro profissional com expertise no assunto. É uma forma 
de o chefe de governo ou ministro reforçar seu interesse numa questão pública 
(Greenstock, 2013, p. 5-6). 
A última classe destacada na Convenção de Viena diz respeito aos 
encarregados de negócios, apenas acreditados pelo Ministério das Relações 
Exteriores. O ministro das Relações Exteriores é auxiliado por escritório externo, 
chefiado por grupos de diplomatas e funcionários públicos, bem como por uma 
série de departamentos. As formas de organização desses departamentos são 
várias, de acordo com questões geográficas, temas transversais etc. (Greenstock, 
2013, p. 2). 
Nos temas a seguir, poder-se-ão observar quais são os outros atores que 
desempenham um papel essencial para a diplomacia, bem como ter uma ideia daorganização brasileira. 
TEMA 4 – ATORES DA DIPLOMACIA 
Como se pode observar, os diplomatas de carreira, bem como as demais 
classes diplomáticas, não são os únicos atores da prática da diplomacia. Eles são 
apenas os representantes oficiais do Estado. Na realidade, há uma série de outros 
atores que desempenham papel fundamental na diplomacia. 
Figura 1 – Outros atores da diplomacia 
 
 
7 
 
Fonte: adaptado de Cooper; Heine; Thakur, 2013. 
Em termos políticos, estão incluídos entre os atores da diplomacia os 
membros mais antigos e os chefes de governo, os quais são encarregados da 
promoção de um interesse nacional, enquanto desenvolvem relações de forma 
produtiva e positiva com outros atores, estatais ou não. As ações desses atores 
seguem as linhas apontadas pela política externa (Axworthy, 2013). 
Devido à complexidade das interações internacionais nos séculos XIX e 
XX, os Ministérios das Relações Exteriores passaram a contar com várias 
unidades, distribuídas hierarquicamente de diferentes formas. Chama-se isso de 
burocracia. Essas unidades precisam ser equipadas, treinadas e dotadas de 
atributos para lidar com o impacto real da distribuição de recursos diplomáticos 
(Greenstock, 2013). As missões diplomáticas, atualmente, se enquadram em 
vários títulos. Mas, ainda há a predominância de consulados e embaixadas, que 
podem ter tamanhos diversos, apesar de existirem também outras variações de 
consulados e escritórios comerciais (Malone, 2013). 
Já as organizações internacionais também são fontes de diplomacia e 
tomada de decisões, uma vez que compõem uma governança global, com 
arranjos e atividades cooperativas de solução de problemas internacionais. Elas 
são atores independentes, com atividades diplomáticas que mobilizam a atenção 
internacional, cumprem diferentes objetivos e interagem com outras organizações 
(Karns; Mingst, 2013). 
Atores
Políticos
Burocratas
Missões 
diplomáticas
Organizações 
internacionais
Oficiais das 
finanças
Sociedade civil
Empresas 
globais e 
transnacionais
Mídia
 
 
8 
Sobre os oficiais financeiros, é perceptível a mudança de seu papel desde 
1920. Sem dúvida, seu trabalho se trata do compartilhamento de tarefas, com 
colegas de vínculo intelectual, baseado no conhecimento técnico de demandas 
financeiras internacionais. Considerando-se a dificuldade típica do tema, sua 
função traduz-se como uso da experiência, posse e treinamento de informações 
específicas da área financeira, em negociações internacionais (Helleiner, 2013). 
Dado que a diplomacia se caracteriza pelo estabelecimento de interações 
pacíficas entre atores estatais, a sociedade civil é sempre deixada de lado da 
diplomacia, em termos conceituais. Entretanto, não há como negar seu papel 
essencial na governança global, haja vista a participação de associações 
envolvidas em ações transfronteiriças, entre outras ações. Assim, a diplomacia 
perde a sua exclusividade nesse ambiente de relacionamentos complexos. A 
sociedade civil desempenha papel crítico para auxiliar na formação da agenda 
diplomática global. A capacidade de delinear a percepção de cada questão que 
envolva trânsito entre fronteiras será, assim, tratada diplomaticamente. Cumpre 
lembrar que a capacidade de formar agenda não significa alcançar um acordo 
global de ação conjunta (Hochstetler, 2013). 
As grandes empresas com operação além de fronteiras nacionais também 
podem ser caracterizadas como diplomáticas. Elas acabam se envolvendo em 
atividades diplomáticas centrais, devendo negociar com outros interlocutores 
diplomáticos com intenção de alcançar objetivos que vão desde o acesso a 
mercados à proteção de ativos e gerenciamento de crises (ONU, 1961). 
Por fim, não se pode esquecer da mídia, com seu papel fundamental. Com 
o advento das tecnologias da informação, houve uma rápida transformação nesse 
papel, dinamizando-se o contexto e a situação global. O transporte moderno, a 
telefonia sem fios são alguns dos exemplos de mudanças com as quais os 
diplomatas tiveram que lidar. Hoje, a rede mundial de computadores, a internet 
fornece um fluxo que transforma a concepção de diplomacia (Powers, 2013). 
TEMA 5 – ÓRGÃOS DA DIPLOMACIA 
Para o desenvolvimento do trabalho diplomático, são vários os órgãos com 
os quais se pode contar. Essa estrutura vai variar de um país para outro, mas 
vamos observar o caso do nosso país. Ao olharmos as definições e depois 
analisarmos o exemplo do Brasil, sob a ótica do Decreto n. 9.683/2019, 
verificamos a complexidade da atuação dos órgãos diplomáticos existentes no 
 
 
9 
país (Brasil, 2019). A princípio, são seis as macrocategorias de órgãos 
diplomáticos: 
1. órgãos de assistência direta e imediata ao ministro das Relações 
Exteriores; 
2. Secretaria-Geral das Relações Exteriores; 
3. unidades descentralizadas; 
4. órgãos no exterior; 
5. órgãos de deliberação coletiva; 
6. entidade vinculada: Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) (Brasil, 
2019). 
A cada uma dessas macrocategorias estão ligados uma série de órgãos 
que são parte do Ministério das Relações Exteriores e que serão detalhados a 
seguir. O primeiro organograma diz respeito à assistência direta do ministro das 
Relações Exteriores (Figura 2). 
Figura 2 – Órgãos de assistência direta ao ministro das Relações Exteriores 
 
Fonte: Elaborado com base em Brasil, 2019. 
Como se pode observar (Figura 2), a assistência direta ao ministro vai além 
de um simples gabinete: há um conjunto de órgãos voltados à gestão estratégica 
do Ministério das Relações Exteriores, à sua interlocução com o Poder Legislativo 
e para o tratamento das questões jurídicas que envolvem o seu dia a dia. 
Logo abaixo hierarquicamente ao Gabinete do Ministro, está a Secretaria-
Geral do Ministério das Relações Exteriores, cuja estrutura pode ser esboçada da 
forma como descrita na Figura 3. 
 
Órgãos de assistência 
direta e imediata ao 
ministro
Gabinete
Assessoria Especial 
de Gestão 
Estratégica
Assessoria de 
Relações 
Federativas e com o 
Congresso Nacional
Consultoria Jurídica
 
 
10 
Figura 3 – Secretaria-Geral do Ministério das Relações Exteriores 
 
Fonte: adaptado de Brasil, 2019. 
A Secretaria-Geral do Ministério das Relações Exteriores e todas as suas 
unidades exemplificam as formas de organização explicadas no Tema 2. É 
possível observar a sua divisão tanto por questões quanto por temas transversais. 
Além disso, outros órgãos do Ministério das Relações Exteriores são as unidades 
descentralizadas (Figura 4). 
Figura 4 – Unidades descentralizadas do Ministério das Relações Exteriores 
 
Fonte: adaptado de Brasil, 2019. 
Órgãos de assessoria ao 
secretário-geral
Gabinete do Secretário-
Geral
Secretaria de Negociações 
Bilaterais e Regionais nas 
Américas
Departamento de Estados 
Unidos da América
Departamento de México, 
Canadá, América Central e 
Caribe
Departamento de América 
do Sul 
Departamento de Mercosul 
e Integração Regional
Secretaria de Negociações 
Bilaterais no Oriente 
Médio, Europa e África
Departamento de Europa
Departamento de Oriente 
Médio
Departamento de África
Secretaria de Negociações 
Bilaterais na Ásia, Oceania 
e Rússia
Departamento de China
Departamento de Índia e 
Ásia Meridional
Departamento de Rússia e 
Ásia Central
Departamento de Japão e 
Pacífico
Secretaria de Política 
Externa Comercial e 
Econômica
Departamento de 
Organismos Econômicos 
Multilaterais
Departamento de 
Promoção Tecnológica
Departamento de 
Promoção de Energia, 
Recursos Minerais e 
Infraestrutura
Departamento de 
Promoção do Agronegócio
Departamento de 
Promoção de Serviços e de 
Indústria
Agência Brasileira de 
Cooperação
Secretaria de Assuntos de 
Soberania Nacional e 
Cidadania
Departamento de 
Segurança e Justiça
Departamento de Defesa
Departamento de Nações 
Unidas
Departamento de Meio 
Ambiente
Departamento de Direitos 
Humanos e Cidadania
Departamento ConsularSecretaria de Comunicação 
e Cultura
Departamento Educacional 
e Cultural
Departamento de 
Comunicação Social
Instituto Rio Branco
Secretaria de Gestão 
Administrativa
Departamento de 
Tecnologia e Gestão da 
Informação
Departamento de 
Administração e Logística
Departamento de Serviço 
Exterior
Corregedoria, Inspetoria e 
Ouvidoria do Serviço 
Exterior
Cerimonial
Unidades 
descentralizadas
Escritórios de 
Representação
Comissões 
Brasileiras 
Demarcadoras de 
Limites
 
 
11 
Esses Escritórios de Representação do Ministério das Relações Exteriores 
são os seguintes, de acordo com a sua área de jurisdição: Minas Gerais 
(Ereminas), Distrito Federal (Setor de Legalizações e Rede Consular Estrangeira 
– SLRC), Paraná (Erepar), Santa Catarina (Eresc), Região Norte (Erenor), Rio 
Grande do Sul (Eresul), Região Nordeste (Erene), Rio de Janeiro (Ererio), Bahia 
(Erebahia), São Paulo (Eresp). 
Em relação aos órgãos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no 
exterior, a divisão é a que consta na Figura 5. 
Figura 5 – Órgãos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no exterior 
 
Fonte: adaptado de Brasil, 2019. 
As missões diplomáticas permanentes dizem respeito às embaixadas do 
país no exterior, instaladas para defender os interesses nacionais; já as 
repartições consulares fazem o atendimento dos cidadãos brasileiros em outros 
países. Há ainda conselhos e comitês deliberativos que fazem parte do rol de 
órgãos do Ministério das Relações Exteriores (Figura 6). 
 
Órgãos do Minitério 
das Relações Exteriores 
do Brasil no exterior
Missões 
diplomáticas 
permanentes
Repartições 
consulares
Unidades específicas, 
destinadas às atividades 
administrativas, técnicas, 
culturais ou de gestão de 
recursos financeiros
 
 
12 
Figura 6 – Conselhos e comitês deliberativos do Ministério das Relações 
Exteriores 
 
Fonte: adaptado de Brasil, 2019. 
Além desses órgãos deliberativos, ainda há um último órgão a ser 
mencionado: a Funag, um think tank governamental na área de relações 
internacionais. Todas essas unidades mencionadas formam o aparato burocrático 
do Ministério das Relações Exteriores. Ao “[...] conjunto de órgãos do Ministério 
no Brasil denomina-se Secretaria de Estado das Relações Exteriores” (Brasil, 
2019). 
 
Órgãos de 
deliberação 
coletiva
Conselho de Política 
Externa
Comissão de Promoções
Comitê Estratégico de 
Tecnologia da 
Informação
Comissão Permanente 
de Avaliação da 
Documentação Sigilosa
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
AXWORTHY, L. The Political Actors: Presidente, Prime Minister, and Minister of 
Foreign Affairs. In: COOPER, A.; HEINE, J.; THAKUR, R. (Ed.). The Oxford 
Handbook of Modern Diplomacy. Oxford: Oxford University Press, 2013. 
BERRIDGE, G.; JAMES, A. A Dictionary of Diplomacy. Nova York: 
Palgrave Macmillan, 2001. 
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. São Paulo: 
Editora UNB; Imprensa Oficial, 2004. 
BRASIL. Decreto n. 9.683, de 9 de janeiro de 2019. Diário Oficial da União, 
Brasília, p. 1, 10 jan. 2019. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Decreto/D9683.htm>. 
Acesso em: 26 jun. 2020. 
BUENO, E.; FREIRE, M.; OLIVEIRA, V. As origens históricas da diplomacia e a 
evolução do conceito de proteção diplomática dos nacionais. Anuario Mexicano 
de Derecho Internacional, v. 17, p. 623-649, 2017. Disponível em 
<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1870465417300454>. Acesso 
em: 26 jun. 2020. 
COOPER, A.; HEINE, J.; THAKUR, R. (Ed.). The Oxford Handbook of Modern 
Diplomacy. Oxford: Oxford University Press, 2013. 
GREENSTOCK, J. The Bureaucracy: Ministry of Foreign Affairs, Foreign Service, 
and Other Government Departments. In: COOPER, A.; HEINE, J.; THAKUR, R. 
(Ed.). The Oxford Handbook of Modern Diplomacy. Oxford: Oxford University 
Press, 2013. 
HELLEINER; E. Financial Officials as Diplomats: Evolving Issues, Actors, and 
Techniques since the 1920. In: COOPER, A.; HEINE, J.; THAKUR, R. (Ed.). The 
Oxford Handbook of Modern Diplomacy. Oxford: Oxford University Press, 2013. 
HOCHSTETLER; K. Civil Society. In: COOPER, A.; HEINE, J.; THAKUR, R. (Ed.). 
The Oxford Handbook of Modern Diplomacy. Oxford: Oxford University Press, 
2013. 
KARNS, M.; MINGST. International Organizations and Diplomacy. In: COOPER, 
A.; HEINE, J.; THAKUR, R. (Ed.). The Oxford Handbook of Modern Diplomacy. 
Oxford: Oxford University Press, 2013. 
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1870465417300454
 
 
14 
MALONE, D. The Modern Diplomatic Mission. In: COOPER, A.; HEINE, J.; 
THAKUR, R. (Ed.). The Oxford Handbook of Modern Diplomacy. Oxford: 
Oxford University Press, 2013. 
ONU – Organização das Nações Unidas. Convenção de Viena sobre Relações 
Diplomáticas. Viena, 1961. Disponível em: <http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-
conteudos-de-apoio/legislacao/relacoes-diplomaticas-e-consulares/relacoes-
diplomaticas-e-consulares/conv_viena_rel_consulares_1963.pdf>. Acesso em: 26 
jun. 2020. 
POWERS, S. Media, Diplomacy and Geopoolitics. In: COOPER, A.; HEINE, J.; 
THAKUR, R. (Ed.). The Oxford Handbook of Modern Diplomacy. Oxford: 
Oxford University Press, 2013. 
AULA 4 
POLÍTICAS INTERNACIONAIS, 
DIPLOMACIA E PODER 
Prof.ª Glaucia Julião Bernardo 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Anteriormente, observamos algumas questões básicas da diplomacia como 
a conceituação, principais atores, exemplificando com a estrutura organizacional 
brasileira. Um dos pontos recorrentes foi destacar a complexidade temática 
envolvida. 
O objetivo desta aula é trabalhar a complexidade de questões básicas da 
diplomacia – como a conceituação e principais atores – demonstrando as práticas 
diplomáticas e seus instrumentos, assim como os assuntos envolvidos. Em outras 
palavras, entenderemos a complexidade analisando o que se faz, como se faz e 
para que se faz. 
TEMA 1 – PRÁTICAS DIPLOMÁTICAS 
As práticas diplomáticas são as formas pelas quais os diplomatas e atores 
agem internacionalmente para consecução dos seus objetivos. Como se pode 
observar na representação abaixo, há várias práticas: 
Figura 1 – Práticas diplomáticas 
Fonte: Adaptado de Cooper, Heine e Thakur, 2013. 
 
Práticas 
Diplomáticas
Bilateral
Multilateral
Conferência
Cúpulas 
Institucionalizadas
Negociação
Mediação
Diplomacia 
Humanitária
Diplomacia de 
Defesa
 
 
3 
A diplomacia é fundamentada pela criação de maneiras para aprimorar 
relações entre nações, em que uma relação específica entre países terá mais 
relevância partindo de uma determinação da diplomacia bilateral. Como principais 
atividades da diplomacia bilateral, estão a capacidade de negociar, informar e 
representar. Antes a diplomacia bilateral era ligada ao Estado e a questões de 
soberania, hoje pode ser feita por meio de públicos e redes (Rozental; Buenrosto, 
2013). 
Por diplomacia multilateral entende-se o envolvimento de duas ou mais 
nações ou partes para soluções diplomáticas de problemas supranacionais. Sem 
dúvidas há uma evolução em diferentes níveis e formas das 
reuniões/organizações multilaterais, o que torna difícil mensurá-las. Essa 
evolução pode ser observada ao tentar contá-las desde a criação das Instituições 
de Bretton Woods e das Nações Unidas; há um crescimento significativo 
(Mahbubani, 2013). 
Um elemento que atualmente fomenta o sistema das Organização das 
Nações Unidas resulta de conferências globais, focadas nas soluções problemas 
globais. É importante dizer que não se trata de um novo modelo, visto que há 
registros de antecedentes, como a “Paz da Westfália” de 1648 e reuniões 
semelhantes normalmente ao final de uma guerra, quando havia o princípio de 
uma nova ordem mundial e da diplomacia de conferência moderna (Evans, 2013). 
No que se refere às cúpulas institucionalizadas, são aquelas reuniões 
oficiais de governo e chefes de Estado que contam com vários líderes que se 
reúnem repetidamente e são sustentadospor um ou outro, com estrutura 
burocrática institucionalizada que facilita a continuidade destas reuniões. Trata-se 
de criações modernas, que dependem de viagens para reunião de todo grupo e 
necessitam de apoio tecnológico para questões de comunicação, logística e 
segurança (Feinberg, 2013). 
A negociação é vista como a oferta de alguma coisa por outra. No contexto 
das relações internacionais, pode ser entendida como a busca de soluções na 
existência de conflitos de interesse de países, de modo que um atenda à política 
externa de outro por meio de uma oferta para motivá-los a cumprirem as 
promessas. No cenário de globalização, a negociação tem sido preferida, dada a 
densidade de interações que transpassam aspectos comerciais, econômicos, 
divisão social, cultural e política (Hampson; Crocker; Aall, 2013). 
 
 
4 
O uso e reconhecimento da mediação em âmbito internacional e doméstico 
tiveram crescimento expressivo nos últimos anos, contribuindo para soluções 
pacíficas quando existe disputa entre estados e outros atores. Tanto que o art. 
33da Carta das Nações Unidas, tem como um dos métodos possíveis de solução 
de conflitos internacionais a mediação, que requer que as partes devem: buscar 
solução por investigação, conciliação, negociação, mediação, recurso a agências, 
arbitragem, acordo judicial ou acordos regionais, ou outros meios (pacíficos) de 
sua escolha. A mediação é, portanto, o processo para solucionar conflitos que têm 
relação de negociações das próprias partes, em que há busca pela assistência ou 
aceitação de ajuda de alheio – organização, grupo, indivíduo ou Estado – de modo 
a alterar o comportamento, evitando-se a força física ou invocação de lei 
(Ahtisaari; Rintakoski, 2013). 
Quanto à diplomacia humanitária é aquela acionada quando militares e 
políticos desistem, e então a ONU, as principais organizações internacionais e as 
principais capitais concordam em acioná-la. As ações humanitárias tiveram 
crescimento expressivo, sendo realizadas na grande maioria pelo Movimento da 
Cruz Vermelha, Crescente Vermelho, Nações Unidas, agências governamentais 
e grupos de ajuda não governamentais locais, internacionais ou nacionais 
(Egeland, 2013). 
A diplomacia de defesa pode parecer uma contradição em um primeiro 
momento, pois a força militar tradicionalmente é o último recurso a ser utilizado 
na defesa de qualquer país, quando a diplomacia não consegue manter a paz. 
Mas continua a exercer papel importante para alcançar objetivos nacionais 
específicos, tendo emergido como instrumento significante da política do Estado 
(Cheyre, 2013). 
TEMA 2 – INSTRUMENTOS DIPLOMÁTICOS 
Os instrumentos e ferramentas diplomáticos representam o meio – ou seja, 
o “como” – em que os atores diplomáticos aplicam as práticas descritas acima. A 
seguir, uma simples ilustração de alguns deles: 
 
 
 
5 
Figura 2 – Instrumentos diplomáticos 
Fonte: Adaptado de Cooper, Heine e Thakur, 2013. 
A diplomacia econômica pode ser interpretada como aspecto distinto da 
diplomacia em geral, e ganha cada vez mais relevância, com o aumento da 
independência econômica internacional ou da globalização. Em uma sucinta 
definição, diplomacia econômica é a tomada de decisão e negociação para 
questões que afetam relações econômicas internacionais (Woolcoock; Bayne, 
2013). 
A diplomacia de negócios e investimentos interage de forma a depender da 
combinação do sistema econômico e tradição, afetando assim a relação entre 
empresas e governos na promoção comercial e de investimentos, algo incomum 
em grande parte do mundo em desenvolvimento (Mills, 2013). 
A respeito do instrumento/ferramenta da cultura duas premissas devem ser 
observadas. Em primeiro lugar, as relações corretas podem criar uma base de 
compreensão e respeito. Em segundo lugar, há o pressuposto de que idioma, 
educação e arte são aspectos mais significativos em uma cultura. Esse modo de 
diplomacia funciona por atração, e não por coerção (Goff, 2013). 
Instrumentos 
Diplomáticos
Economia
Negócios & 
Investimentos
Cultura
Diplomacia 
Pública
Tecnologia 
Digital
Relações 
Consulares
Direito 
Internacional
Convenção de 
Viena
Soft Power
 
 
6 
A diplomacia pública tem grande peso nos estudos diplomáticos, pois 
tornou-se a melhor exportação nesse tipo de estudo, como mostram livros, 
relatórios e artigos. Em suma, funciona como instrumento para entendimento de 
culturas, comportamentos e atitudes por parte de associações de Estados, alguns 
atores subestatais, não estatais e Estados, para promover seus interesses e 
valores (Melissen, 2013). 
Quanto à tecnologia digital, pode-se dizer que grande parte da discussão 
sobre a nova diplomacia foi impulsionada pela adoção, dentro das instituições 
diplomáticas e do governo em geral, de sistemas digitais de criação, transmissão 
e armazenamento de dados usando a internet, plataformas de mídia social, 
computadores e um variedade de dispositivos eletrônicos sem fio (Copeland, 
2013). 
As relações consulares são tratadas pelos Ministérios de Relações 
Exteriores como uma questão de necessidade, haja vista que são de natureza 
prática e não constituem preocupações centrais do governo. À medida que os 
cidadãos têm postura mais assertiva, interação público-privada e reportagens 
internacionais mais diversas, há aumento de contato entre diplomatas e público 
(Okano-Heijmans, 2013). 
No que se refere ao direito internacional, é uma ordem jurídica como um 
sistema hierárquico de regras autoritativas. Ela estabelece as regras que 
governam a vida de pessoas e instituições, alocando direitos e responsabilidades 
e declarando as consequências legais de inúmeras atividades cotidianas, bem 
como estabelecem os meios pelos quais essas regras são reconhecidas como 
juridicamente vinculativas. Além disso, é considerado hierárquico no sentido de 
que o sistema contém uma regra última de reconhecimento que permite aos 
participantes resolver inconsistências entre regras primárias e conflitos entre 
instituições para interpretá-los e aplicá-los (Farer, 2013). 
As Convenções de Viena (1961 e 1963) formam o núcleo consular 
internacional e de direito diplomático sobre relações consulares, codificando 
regras sobre relações diplomáticas bilaterais entre estados (Wouters; Duquet; 
Meuwissen, 2013). 
Por soft power entende-se o poder de atração. E isso o torna cada vez mais 
importante e estratégico em muitos países, e três fatores contribuem para tal: i) 
surgimento de armas nucleares, o que aponta para guerra (inaceitável e 
 
 
7 
improvável) entre grandes potências; ii) popularização de educação avançada; iii) 
forte e penetrante poder de informação e conhecimento com advento da internet 
(Change, 2013). 
TEMA 3 – HARD, SOFT E SMART POWER COMO INSTRUMENTOS 
DIPLOMÁTICOS 
É fato que o uso dos poderes faz diferença em termos diplomáticos. Da 
mesma forma que as pessoas estão envolvidas em várias relações, os Estados 
também estão. São essas relações que acabam moldando os seus 
comportamentos e as interações de poder. Em termos clássicos, a definição de 
poder é baseada nas relações coercitivas entre os atores. Aqueles que possuem 
mais recursos – território, população, economia, tecnologia militar – têm mais 
condições do exercício de poder (Change, 2013, p. 2). 
Foram Robert Keohane e Joseph Nye que desenvolveram os conceitos de 
vulnerabilidade e sensibilidade para compreender o poder como base da relação 
entre atores. A sensibilidade está relacionada à capacidade de responder dentro 
de uma estrutura política. A vulnerabilidade é a responsabilidade por sofrer os 
custos por questões externas. Assim sendo, em um mundo interdependente a 
assimetria das relações é uma fonte de poder; à medida que a relação é entre 
semelhantes, essa fonte tende a diminuir ou desaparecer (Change, 2013, p. 2). 
Também deve-se mencionar as questões sobre a origem do poder, visto 
que nem todas as ações

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