Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO DIPLOMÁTICO 
E CONSULAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Arthur Augusto Garcia 
 
 
2 
TEMA 1 – RELAÇÕES INTERNACIONAIS E RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS 
1.1 Relações diplomáticas 
A diplomacia, em seu desenvolvimento, se confunde com a atividade 
internacional que os Estados, ao longo dos séculos, promoveram na consecução 
dos interesses nacionais, principalmente no âmbito da política externa, sempre 
realizada por seus cônsules e diplomatas. 
Desde a mais remota antiguidade, a diplomacia foi – e é até hoje – um 
importante instrumento de promoção dos interesses dos Estados, consolidando-
se como relevante mecanismo que tem como objetivo a solução pacífica de 
controvérsias nas relações internacionais. Dessa forma, desempenha um papel 
significativo no desenvolvimento das atividades comerciais, que originalmente, 
constitui o objeto de proteção diplomática. 
Essa proteção encontrou na doutrina clássica as primeiras delimitações, 
como, por exemplo, na obra de Emer de Vattes (1758) intitulada O direito das 
gentes. Ali, é fácil identificar as primeiras referências em relação à matéria de 
proteção diplomática, que é essencial como direito do Estado. Essa perspectiva, 
no âmbito moderno da doutrina, perdurou por séculos e se incumbiu de colocar o 
indivíduo como objeto da proteção diplomática, e não vice-versa. 
No decorrer do século XX, a doutrina e a jurisprudência ajustaram o 
conceito tradicional de proteção diplomática à realidade do mundo pós-moderno, 
visto que a maior parte dos investimentos estrangeiros estava ligada à atividade 
desenvolvida por pessoas jurídicas. Passou-se também a questionar o papel do 
indivíduo como objeto de tal proteção. Baseando-se nesses novos 
questionamentos e visões, surgiram as teorias que defendem o indivíduo como 
destinatário do direito internacional, as quais veremos mais adiante. 
O direito diplomático tem como premissa básica a soberania dos Estados, 
o que acarreta maior dificuldade na aplicação das normais jurídicas. Ao contrário 
do que ocorre no ordenamento interno dos países, em que os indivíduos estão 
subordinados a regras constitucionais e ao poder estatal, na ordem internacional 
não há força superior que determine tais condutas. Dessa forma, é possível dizer 
que os Estados soberanos se encontram no mesmo nível hierárquico e que as 
relações entre eles são manifestadas conforme a coordenação que advém de 
acordos de vontade. 
 
 
3 
Como não existe um poder supranacional que detenha poder para definição 
de regras e aplicação de sanções sem a concordância dos indivíduos envolvidos, 
o direito diplomático tem sido, ao longo dos anos, objeto de diversas críticas, uma 
vez que a ausência de normas abrangentes e coercitivas poderia trazer uma 
invalidade a essa grande área do direito internacional. 
Posto isso, os Estados soberanos são submetidos apenas às obrigações 
que tiverem assumido dentro dos parâmetros que considerem razoáveis. A 
ausência de uma força externa e superior exige que o direito diplomático tenha 
algum evento de vinculação entre as partes e que este seja capaz de atribuir 
obrigações e conferir direitos recíprocos entre elas. 
Um dos princípios que garantem a coerência do tecido normativo 
internacional é conhecido como pact sunt servanda, que pode ser traduzido como 
“o pacto deve ser observado e cumprido”. Esse princípio está inteiramente ligado 
à boa-fé, mediante a qual uma parte se compromete a cumprir as regras que 
aceitou, considerando a expectativa de que a outra parte proceda da mesma 
forma. 
Assim, o vínculo formado entre os Estados normalmente é consolidado com 
a celebração de um tratado, documento que representa o acordo de vontades 
soberanas e que se destina a estabelecer parâmetros recíprocos de ação 
conforme os desejos dos signatários. Há também, como efetivação desse 
princípio, a aceitação de costumes dotados de validade jurídica e que possuem 
grande relevância em razão do baixo nível de codificação do direito internacional. 
Portanto, o direito diplomático pode ser definido como um conjunto de 
princípios e regras, pautados na boa-fé e na soberania, reunidos em normas 
escritas e não escritas voltadas a regular as relações entre os Estados soberanos 
e os organismos internacionais. 
1.2 Relações internacionais 
As relações internacionais são conceituadas como o ramo do direito cuja 
finalidade é regulamentar as relações jurídicas existentes entre os sujeitos do 
direito internacional dentro de uma sociedade internacional. A relação 
internacional é constituída pelos fluxos produzidos pelos humanos que 
atravessam as fronteiras entre os Estados e os espações considerados comuns, 
como a Antártida, os oceanos, o espaço sideral etc. 
 
 
4 
Tais fluxos podem ser materiais e imateriais, legais e ilegais, abrangendo 
todas as relações de poder, trocas comerciais, finanças, turismo, tráfico de 
drogas, pessoas, culturas, notícias, esportes, infraestrutura etc. Nesse sentido, as 
relações internacionais são consideradas como um campo de estudo 
interdisciplinar o qual analisa esses fluxos. 
1.3 Diferenciações 
Um dos fluxos mais importantes é o relacionamento formal e informal, 
regular ou esporádico, que os Estados possuem entre si e que se dá por meio da 
diplomacia (direito diplomático). Tal direito envolve a acreditação de 
representantes oficiais dos Estados soberanos, como embaixadores, funcionários 
etc., bem como o relacionamento com as organizações internacionais que 
promovem as relações pacíficas e os canais de diálogo, conforme estabelecido 
pela Convenção de Viena, firmada em 19611. 
Nesse sentido, o direito diplomático traz uma dimensão da política externa 
dos Estados, manifestando-se por meio de negociações, representação e 
informação lícita. Por esse motivo, desde 1961 há uma clara separação entre 
direito diplomático e relações internacionais, ficando vedado aos diplomatas, por 
exemplo, realizarem atividade de espionagem e/ou o controle de fontes humanas 
nos países nos quais estão acreditados. 
São instrumentos diplomáticos arbitragem, conferências, mediações e 
negociações, tendo como resultado direto a formação de regimes internacionais. 
TEMA 2 – AS ORIGENS E FONTES DO DIREITO DIPLOMÁTICO 
Estruturado e desenvolvido durante séculos, desde a mais remota 
antiguidade, o direito diplomático se confunde com seu tempo histórico. Há 
registros de sua existência desde o surgimento da história escrita, manifestando-
se por meio de tratados ocorridos nas mais diversas partes do mundo. 
O tratado mais antigo do mundo do qual se tem registro surgiu na 
Mesopotâmia, realizado entre Eannatum (soberano da cidade de Lagash) e a 
cidade de Umma. Ele foi escrito em língua suméria e fixava os limites de fronteiras. 
Há também registros de práticas diplomáticas na China, funcionando como um 
 
1 No Brasil, a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados está formalizada desde 2009, com 
a promulgação do Decreto n. 7.030. 
 
 
5 
dos meios mais eficazes de diálogos e contenção de conflitos entre os povos 
vizinhos. 
Há que se destacar aqui a influência confuciana entre os povos vizinhos do 
império do meio, que desenvolveram importantes institutos diplomáticos, como a 
criação de carreiras públicas mediante concursos periódicos de recrutamento, 
conforme registros da Dinastia Lý, no atual Vietnã. 
Além desses aportes, houve também, no desenvolvimento histórico da 
diplomacia, influência dos povos islâmicos, que contribuíram para os institutos que 
norteiam a diplomacia em sua totalidade, por exemplo a inviolabilidade dos 
embaixadores e respeito ao cumprimento das obrigações convencionais. Já entre 
os gregos, se encontram as instituições conhecidas até hoje como direito dos 
agentes, como tratados, arbitragem e inviolabilidade dos arautos. 
A partir do século XV, houve a necessidade de institucionalizare criar uma 
convivência pacífica entre os estados italianos. Foi assim que nasceu o interesse 
no desenvolvimento da diplomacia, com o surgimento da figura do embaixador, o 
que possibilitou uma relevante instauração institucional e um consequente 
fortalecimento do instituto, desenvolvendo um papel crucial no período de 
instabilidade na península italiana. 
Esse fortalecimento do direito diplomático e de suas instituições influenciou 
diversos pequenos Estados – que não dispunham de muita força militar – a 
empregarem técnicas diplomáticas na resolução de conflitos e barganhas 
internacionais. Um exemplo disso foi o domínio de Veneza sobre a República de 
Ragusa (atual Dubrovnik), que contribuiu para o desenvolvimento do direito e 
instituições diplomáticas. Vale lembrar que, no século XIII, a Ragusa já detinha 
cortes especializadas, uma cível e outra criminal, adquirindo então, por meio da 
diplomacia, certa independência em relação aos impérios que a cercavam, tal 
como o Império Otomano. 
Dessa forma, a influência entre os estados italianos, no que diz respeito ao 
direito diplomático institucionalizado foi essencial para a implementação dos 
embaixadores residentes em toda a Europa e tornou-se um parâmetro de 
organização diplomático no decorrer dos séculos. 
2.1 Fontes 
As fontes jurídicas, encarregadas pela formação das normas diplomáticas, 
são de extrema importância para entendermos o direito diplomático em sua 
 
 
6 
totalidade. Elas são a base para toda e qualquer compreensão sobre esse 
instituto, que é responsável por reger as relações entre os Estados soberanos 
mundialmente. 
As fontes do direito diplomático podem ser divididas em: 
• Próprias – são aquelas que agem diretamente sobre o sistema de normas 
jurídicas internacionais, ou seja, criam, modificam ou extinguem as regras 
existentes; estão englobados aqui os costumes, os princípios gerais do 
direito e os tratados. 
• Impróprias – consistem em um ponto de referência para que possamos 
estabelecer as criações, modificações e extinções das normas, seja esta 
nova, seja antiga; também são utilizadas para verificar qual o alcance 
jurídico de uma norma já existente, desde que interpretadas corretas. Estão 
abarcados aqui o estudo da doutrina e a criação de jurisprudências, isto é, 
em âmbito nacional há as leis internas de cada país. 
TEMA 3 – OS COSTUMES COMO FONTES DO DIREITO DIPLOMÁTICO 
Grande parte das regras referentes ao direito diplomático como vemos hoje 
foi formada progressivamente ao longo dos séculos, especificamente entre o 
Renascimento e o Congresso de Viena (1815), utilizando-se da prática legislativa, 
diplomática e jurisprudencial dos estados europeus; ou seja, a fonte originária de 
tais normas é de natureza costumeira. 
Esses costumes internacionais, conforme traz grade parte da doutrina, são 
um comportamento uniforme e que possuem constância entre os Estados, com o 
objetivo de estabelecer com convicção da obrigatoriedade e da necessidade 
deles. 
As fontes desse Direito são caracterizadas entre a diuturnitas e a opinio 
juris sive necessitatis. A primeira tem natureza material e é prolongada na 
constante reiteração comportamental, e a segunda é constituída por uma natureza 
psicológica, ou seja, é a convicção de cumprimento de um preceito jurídico com o 
objetivo de uma necessidade social. 
Conforme observa a doutrina, a consolidação dos costumes em matéria 
diplomática sofreu influência de dois elementos importantes: a rede de 
convenções bilaterais entre os estados europeus e os outros países, remetendo-
se geralmente ao “direito das gentes” ou ao “direito internacional geral” 
 
 
7 
desenvolvendo, entretanto, uma função de especificação a forma escrita de tal 
direito, e por vezes, até prevendo um tratamento mais favorável ao direito geral. 
Todavia, em outro viés, a reciprocidade foi um importante elemento na 
formação das normais baseadas em costumes. Como observa Salmon (1994), é 
de interesse de todos os membros da comunidade internacional que as próprias 
missões no exterior gozem de um estatuto favorável para o cumprimento 
harmonioso de suas funções. 
Imperioso é destacar que o costume diplomático – de caráter obrigatório – 
deve ser distinto dos simples usos da cortesia, do protocolo ou de expedientes 
diplomáticos, conforme salienta Maresca (1969). Dessa forma, não há derivação 
precisa das obrigações jurídicas comitas gentium ou cortesia internacional, razão 
por que a inobservância dela não origina os chamados ilícitos internacionais, ou 
seja, não comprometem os Estados e suas responsabilidades. Entretanto, a 
cortesia internacional é uma das fontes inesgotáveis de critérios e preceitos 
utilizados para facilitar o eficaz desenvolvimento das relações internacionais. 
Com o passar do tempo, essas normas pautadas na cortesia internacional 
foram ganhando status de regras jurídicas verdadeiras. Um exemplo disso é o 
caso daquela que define que os chefes e outros membros das missões 
diplomáticas sejam aprovados (agréement), estabelecido na Convenção de Viena 
de 1961 (art. 4º, parágrafo 1º): “1. O Estado acreditante deverá certificar-se de 
que a pessoa que pretende nomear como Chefe da Missão perante o Estado 
acreditado obteve o Agrément do referido Estado” (Brasil, 2009). 
Dentro da categoria de normas que podem ser reportadas aos costumes, 
existem os princípios gerais do direito internacional, que constituem uma categoria 
sui generis de normas internacionais, as quais são aplicadas por parte dos 
Estados dos respectivos ordenamentos jurídicos internos. 
Já em relação a opinio juris sive necessitatis, se encontram particularmente 
as regras de justiça e lógicas jurídicas consideradas por todos os órgãos dos 
Estados como tendo um valor universal; portanto, são aplicáveis a qualquer 
ordenamento jurídico interno ou internacional. Dessa forma, em se tratando de 
relações diplomáticas, os princípios gerais não desenvolvem um papel primário, e 
sim os costumes. 
A norma consuetudinária tem persistente importância, conforme 
Nascimento e Silva (1978) aduzem que o processo de produção jurídica no 
sistema diplomático é confirmado, de modo geral, pelas recentes convenções que 
 
 
8 
codificam o direito diplomático, e, de modo particular, pela Convenção de Viena 
de 1961, citada anteriormente, sobre as relações diplomáticas, cujo preâmbulo 
determina: “as normas de Direito Internacional consuetudinário devem continuar 
regendo as questões que não tenham sido expressamente reguladas nas 
disposições da presente Convenção”. 
Dessa forma, a doutrina ressalta que o costume tem determinadas 
vantagens, como a flexibilidade e, por consequência, a possibilidade de 
adaptação fácil às mudanças das circunstâncias na sociedade internacional onde 
está inserido. Entretanto, não se pode esquecer que os costumes apresentam 
alguns importantes inconvenientes, como o fato de serem sempre indeterminados, 
e sobretudo, a sua reconhecida dificuldade de comprovação existencial. 
TEMA 4 – TRATADOS 
Com o passar do tempo, especificamente a partir da metade do século XIX, 
os Estados soberanos perceberam que havia necessidade de procurar algo que 
pudesse lhes oferecer garantias maiores em relação à segurança jurídica 
constantes nas normais consuetudinárias diplomáticas. Dessa forma, o tratado 
era o instrumento que melhor dava conta dessa tarefa e, corroborava, ao mesmo 
tempo, buscar o maior número possível de consentimentos. 
Os tratados estão previstos na Convenção de Viena sobre o Direito dos 
Tratados, especificamente em seu art. 2°, parágrafo 1°, alínea “a”: “tratado 
significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo 
Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais 
instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica”. Dessa 
forma, dependendo do número de Estados soberanos participantes, ostratados 
podem ser divididos em dois tipos: bilaterais e multilaterais. Ambos serão 
conceituados adiante. 
É de suma importância que conheçamos os principais tratados de direito 
diplomático existentes e que embasam toda a legislação moderna sobre o 
assunto. Entre eles, podemos citar: Regulamento sobre a Classe entre os Agentes 
Diplomáticos, anexo ao Tratado de Viena de 1815; Convenção de Havana de 
1928 sobre funcionários diplomáticos; Convenção de Viena de 1961 sobre 
relações diplomáticas; Carta das Nações Unidas de 1945; e outros. 
 
 
9 
TEMA 5 – TRATADOS BILATERAIS E MULTILATERAIS NO DIREITO 
DIPLOMÁTICO 
Como vimos acima, os Estados soberanos perceberam que, após o século 
XIX, havia necessidade de positivar as regras inerentes ao direito diplomático. 
Assim o fizeram, com base nos tratados, que podem ser bilaterais ou multilaterais, 
dependendo do número de Estados soberanos envolvidos. 
5.1 Tratados bilaterais 
Os tratados bilaterais concluídos, dentro do direito diplomático, têm como 
objetivo o estabelecimento em primeiro lugar das relações diplomáticas e, 
consequentemente, a instituição de uma missão diplomática de caráter 
permanente. Em segundo lugar, podem modificar le rang de uma relação para a 
de uma embaixada ou, ainda, atribuir um tratamento mais favorável a determinado 
Estado em relação aos outros que se encontram acreditados em dado território. 
Um tratado tido como bilateral pode criar uma obrigação para um Estado 
quando este conceder determinado tratamento às missões diplomáticas 
estrangeiras que, acreditadas no outro Estado, encontram-se em seu território. 
Assim, se reconhece que, mesmo numerosos, os tratados bilaterais não possuem 
tanta importância no que tange às fontes do direito diplomático, em parte porque 
há recorrente falta de precisão e de detalhes, e a maioria deles se remetem a 
normas e princípios reconhecidos pelo direito internacional. 
5.2 Tratados multilaterais 
Dentro do sistema de fontes do direito diplomático, o acordo pode ser 
firmado para cumprir uma função geral e diferente daquela que estabelece 
normais que regulam questões particulares entre dois estados ou um grupo 
restrito deles. Assim, dentro de um tratado multilateral há a participação de três 
ou mais Estados soberanos. 
É por meio desses tratados que se forma a segurança jurídica na forma 
escrita, ou seja, os costumes adquirem uma forma escrita com uma roupagem de 
segurança jurídica. Dessa forma, a função de codificação do acordo pode ser 
cumprida com base em dois critérios distintos: declarativo e progressivo. O 
primeiro é formado pela escrita das normas consuetudinárias – derivadas dos 
 
 
10 
costumes. Já o segundo não se limita tão somente a estabelecer os costumes 
existenciais, mas sim desenvolvê-los, trazendo as exigências mutáveis da 
comunidade internacional. 
Ao contrário dos tratados bilaterais, os multilaterais possuem maior 
relevância dentro do cenário internacional do direito diplomático, menos 
numerosos. 
 
 
 
11 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Decreto n. 7.030, de 14 de dezembro de 2009. Diário Oficial da União, 
Poder Executivo, Brasília, 15 dez. 2009. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D7030.htm>. 
Acesso em: 16 nov. 2019. 
BRASIL. Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. 
Acordos dos quais o Brasil é parte. [S.d.]. Disponível em: 
<http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/negociacoes-internacionais/796-
negociacoes-internacionais-2>. Acesso em: 17 nov. 2019. 
SALMON, J. Manuel de Droit Diplomatique. Bruxelles: Bruylant, 1994. 
http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/negociacoes-internacionais/796-negociacoes-internacionais-2
http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/negociacoes-internacionais/796-negociacoes-internacionais-2
 
 
12 
ANEXO 
CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS 
Os Estados Partes na presente Convenção, 
Considerando que, desde tempos remotos, os povos de todas as Nações 
têm reconhecido a condição dos agentes diplomáticos; 
Conscientes dos propósitos e princípios da Carta das Nações unidas relativos à 
igualdade soberana dos Estados, à manutenção da paz e da segurança 
internacional e ao desenvolvimento das relações de amizade entre as Nações; 
Estimando que uma Convenção Internacional sobre relações, privilégios e 
imunidades diplomáticas contribuirá para o desenvolvimento de relações 
amistosas entre as Nações, independentemente da diversidade dos seus regimes 
constitucionais e sociais; 
Reconhecendo que a finalidade de tais privilégios e imunidades não é 
beneficiar indivíduos, mas, sim, a de garantir o eficaz desempenho das funções 
das Missões diplomáticas, em seu caráter de representantes dos Estados; 
Afirmando que as normas de Direito internacional consuetudinário devem 
continuar regendo as questões que não tenham sido expressamente reguladas 
nas disposições da presente Convenção; 
Convieram no seguinte: 
Art. 1 
Para os efeitos da presente Convenção: 
1) "Chefe de Missão" é a pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir 
nessa qualidade; 
2) "Membros da Missão" são o Chefe da Missão e os membros do pessoal da 
Missão; 
3) "Membros do Pessoal da Missão" são os membros do pessoal diplomático, 
do pessoal administrativo e técnico e do pessoal de serviço da Missão; 
4) "Membros do Pessoal Diplomático" são os membros do pessoal da Missão 
que tiverem a qualidade de diplomata; 
5) "Agente Diplomático" é o Chefe da Missão ou um membro do pessoal 
diplomático da Missão; 
 
 
13 
6) "Membros do Pessoal Administrativo e Técnico" são os membros do 
pessoal da Missão empregados no serviço administrativo e técnico da 
Missão; 
7) "Membros do Pessoal de Serviço" são os membros do pessoal da Missão 
empregados no serviço doméstico da Missão; 
8) "Criado particular" é a pessoa do serviço doméstico de um membro da 
Missão que não seja empregado do Estado acreditante; 
9) "Locais da Missão" são os edifícios, ou parte dos edifícios, e terrenos 
anexos, seja quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da 
Missão inclusive a residência do Chefe da Missão. 
Art. 2 
O estabelecimento de relações diplomáticas entre Estados e o envio de 
Missões diplomáticas permanentes efetua-se por consentimento mútuo. 
Art. 3 
1. As funções de uma Missão diplomática consistem, entre outras, em: 
a) representar o Estado acreditante perante o Estado acreditado; 
b) proteger no Estado acreditado os interesses do Estado acreditante e de 
seus nacionais, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional; 
c) negociar com o Governo do Estado acreditado; 
d) inteirar-se por todos os meios lícitos das condições existentes e da 
evolução dos acontecimentos no Estado acreditado e informar a esse 
respeito o Governo do Estado acreditante; 
e) promover relações amistosas e desenvolver as relações econômicas, 
culturais e científicas entre o Estado acreditante e o Estado acreditado. 
2. Nenhuma disposição da presente Convenção poderá ser interpretada 
como impedindo o exercício de funções consulares pela Missão 
diplomática. 
Art. 4 
1. O Estado acreditante deverá certificar-se de que a pessoa que pretende 
nomear como Chefe da Missão perante o Estado acreditado obteve 
o Agrément do referido Estado. 
2. O Estado acreditado não está obrigado a dar ao Estado acreditante as 
razões da negação do "agrément". 
 
 
14 
Art. 5 
a) O Estado acreditante poderá depois de haver feito a devida notificação aos 
Estados creditados interessados, nomear um Chefe de Missão ou designar 
qualquer membro do pessoal diplomático perante dois ou mais Estados, a 
não ser que um dos Estados acreditados a isso se oponha expressamente. 
b) Se um Estado acredita um Chefe de Missão perante dois ou mais Estados, 
poderá estabelecer uma Missão diplomática dirigida por um Encarregado 
de Negócios ad interim em cada um dos Estados onde o Chefe da Missãonão tenha a sua sede permanente. 
c) O Chefe da Missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da Missão 
poderá representar o Estado acreditante perante uma organização 
internacional. 
Art. 6 
Dois ou mais Estados poderão acreditar a mesma pessoa como Chefe de 
Missão perante outro Estado, a não ser que o Estado acreditado a isso se oponha. 
Art. 7 
Respeitadas as disposições dos artigos 5, 8, 9 e 11, o Estado acreditante 
poderá nomear livremente os membros do pessoal da Missão. No caso dos adidos 
militar, naval ou aéreo, o Estado acreditado poderá exigir que seus nomes lhes 
sejam previamente submetidos para efeitos de aprovação. 
Art. 8 
a) Os membros do pessoal diplomático da Missão deverão, em princípio, ter 
a nacionalidade do Estado acreditante. 
b) Os membros do pessoal diplomático da Missão não poderão ser nomeados 
dentre pessoas que tenham a nacionalidade do Estado acreditado, exceto 
com o consentimento do referido Estado, que poderá retirá-lo em qualquer 
momento. 
c) O Estado acreditado poderá exercer o mesmo direito com relação a 
nacionais de terceiro Estado que não sejam igualmente nacionais do 
Estado acreditante. 
Art. 9 
f) O Estado acreditado poderá a qualquer momento, e sem ser obrigado a 
justificar a sua decisão, notificar ao Estado acreditante que o Chefe da 
 
 
15 
Missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da Missão é 
persona nongrata ou que outro membro do pessoal da Missão não é 
aceitável. O Estado acreditante, conforme o caso, retirará a pessoa em 
questão ou dará por terminadas as suas funções na Missão. Uma Pessoa 
poderá ser declarada nongrata ou não aceitável mesmo antes de chegar 
ao território do Estado acreditado. 
g) Se o Estado acreditante se recusar a cumprir, ou não cumpre dentro de um 
prazo razoável, as obrigações que lhe incumbem, nos termos do parágrafo 
1 deste artigo, o Estado acreditado poderá recusar-se a reconhecer tal 
pessoa como membro da Missão. 
Art. 10 
1. Serão notificados ao Ministério das Relações Exteriores do Estado 
acreditado, ou a outro Ministério em que se tenha convindo: 
a) a nomeação dos membros do pessoal da Missão, sua chegada e partida 
definitiva ou o termo das suas funções na Missão; 
b) a chegada e partida definitiva de pessoas pertencentes à família de um 
membro da missão e, se for o caso, o fato de uma pessoa vir a ser ou deixar 
de ser membro da família de um membro da Missão; 
c) a chegada e a partida definitiva dos criados particulares a serviço das 
pessoas a que se refere a alínea a) deste parágrafo e, se for o caso, o fato 
de terem deixado o serviço de tais pessoas; 
d) a admissão e a despedida de pessoas residentes no Estado acreditado 
como membros da Missão ou como criados particulares com direito a 
privilégios e imunidades. 
2. Sempre que possível, a chegada e a partida definitiva deverão também ser 
previamente notificadas. 
Art. 11 
1. Não havendo acordo explícito sobre o número de membros da Missão, o 
Estado acreditado poderá exigir que o efetivo da Missão seja mantido 
dentro dos limites que considere razoável e normal, tendo em conta as 
circunstâncias e condições existentes nesse Estado e as necessidades da 
referida Missão. 
 
 
16 
2. O Estado acreditado poderá igualmente, dentro dos mesmos limites e sem 
discriminação, recusar-se a admitir funcionários de uma determinada 
categoria. 
Art. 12 
O Estado acreditado não poderá, sem o consentimento expresso e prévio 
do Estado acreditado, instalar escritórios que façam parte da Missão em 
localidades distintas daquela em que a Missão tem a sua sede. 
Art. 13 
1) O Chefe da Missão é considerado como tendo assumido as suas funções 
no Estado acreditado no momento em que tenha entregado suas 
credenciais ou tenha comunicado a sua chegada e apresentado as cópias 
figuradas de suas credenciais ao Ministério das Relações Exteriores, ou ao 
Ministério em que se tenha convindo, de acordo com a prática observada 
no Estado acreditado, a qual deverá ser aplicada de maneira uniforme. 
2) A ordem de entrega das credenciais ou de sua cópia figurada será 
determinada pela data e hora da chegada do Chefe da Missão. 
Art. 14 
1) Os Chefes de Missão dividem-se em três classes: 
a) Embaixadores ou Núncios acreditados perante Chefes de Estado, e outros 
Chefes de Missões de categoria equivalente; 
b) Enviados, Ministro ou internúncios, acreditados perante Chefe de Estado; 
c) Encarregados de Negócios, acreditados perante Ministros das Relações 
Exteriores. 
2) Salvo em questões de precedência e etiqueta, não se fará nenhuma 
distinção entre Chefes de Missão em razão de sua classe. 
Art. 15 
Os Estados, por acordo, determinarão a classe a que devem pertencer os 
Chefes de suas Missões. 
 
 
 
17 
Art. 16 
1) A precedência dos Chefes de Missão, dentro de cada classe, se 
estabelecerá de acordo com a data e hora em que tenham assumido suas 
funções, nos termos do art. 13. 
2) As modificações nas credenciais de um Chefe de Missão, desde que não 
impliquem mudança de classe, não alteram a sua ordem de precedência. 
3) O presente artigo não afeta a prática que exista ou venha a existir no 
Estado acreditado com respeito à precedência do representante da Santa 
Sé. 
Art. 17 
O Chefe da Missão notificará ao Ministério da Relações Exteriores, ou a 
outro Ministério em que as partes tenham convindo, a ordem de precedência dos 
Membros do pessoal diplomático da Missão. 
Art. 18 
O Cerimonial que se observe em cada Estado para recepção dos Chefes 
de Missão deverá ser uniforme a respeito de cada classe. 
Art. 19 
1) Em caso de vacância do posto de Chefe da Missão, ou se um Chefe de 
Missão estiver impedido de desempenhar suas funções, um Encarregado 
de Negócios ad interim exercerá provisoriamente a chefia da Missão. O 
nome do Encarregado de Negócios ad interim será comunicado ao 
Ministério das Relações Exteriores do Estado acreditado, ou ao Ministério 
em que as partes tenham convindo, pelo Chefe da Missão ou, se este não 
poder fazê-lo, pelo Ministério das Relações Exteriores do Estado 
acreditante. 
2) Se nenhum membro do pessoal diplomático estiver presente no Estado 
acreditado, um membro do pessoal administrativo e técnico poderá, com o 
consentimento do Estado acreditado, ser designado pelo Estado 
acreditante para encarregar-se dos assuntos administrativos correntes da 
Missão. 
 
 
 
18 
Art. 20 
A missão e seu Chefe terão o direito de usar a bandeira e o escudo do 
Estado acreditante nos locais da Missão, inclusive na residência do Chefe da 
Missão e nos seus meios de transporte. 
Art. 21 
1) O Estado acreditado deverá facilitar a aquisição em seu território, de acordo 
com as suas leis, pelo Estado acreditado, dos locais necessários à Missão 
ou ajudá-lo a consegui-los de outra maneira. 
2) Quando necessário, ajudará também as Missões a obterem alojamento 
adequado para seus membros. 
Art. 22 
1) Os locais da Missão são invioláveis. Os Agentes do Estado acreditado não 
poderão neles penetrar sem o consentimento do Chefe da Missão. 
2) O Estado acreditado tem a obrigação especial de adotar todas as medidas 
apropriadas para proteger os locais da Missão contra qualquer intrusão ou 
dano e evitar perturbações à tranquilidade da Missão ou ofensas à sua 
dignidade. 
3) Os locais da Missão, em mobiliário e demais bens neles situados, assim 
como os meios de transporte da Missão, não poderão ser objeto de busca, 
requisição, embargo ou medida de execução. 
Art. 23 
1) O Estado acreditante e o Chefe da Missão estão isentos de todos os 
impostos e taxas, nacionais, regionais ou municipais, sobre os locais da 
Missão de que sejam proprietários ou inquilinos, excetuados os que 
representem o pagamento de serviços específicos que lhes sejam 
prestados. 
2) A isenção fiscal a que se refere este artigo não se aplica aos impostos e 
taxas cujo pagamento, na conformidade da legislação do Estado 
acreditado,incumbir as pessoas que contratem com o Estado acreditante 
ou com o Chefe da Missão. 
 
 
 
19 
Art. 24 
Os arquivos e documentos da Missão são invioláveis, em qualquer 
momento e onde quer que se encontrem. 
Art. 25 
O Estado acreditado dará todas as facilidades para o desempenho das 
funções da Missão. 
Art. 26 
Salvo o disposto nas leis e regulamentos relativos a zonas cujo acesso é 
proibido ou regulamentado por motivos de segurança nacional, o Estado 
acreditado garantirá a todos os membros da Missão a liberdade de circulação e 
trânsito em seu território. 
Art. 27 
1) O Estado acreditado permitirá e protegerá a livre comunicação da Missão 
para todos os fins oficiais. Para comunicar-se com o Governo e demais 
Missões e Consulados do Estado acreditante, onde quer que se encontrem, 
a Missão poderá empregar todos os meios de comunicação adequados, 
inclusive correios diplomáticos e mensagens em códigos ou cifra. Não 
obstante, a Missão só poderá instalar e usar uma emissora de rádio com o 
consentimento do Estado acreditado. 
2) A correspondência oficial da Missão é inviolável. Por correspondência 
oficial entende-se toda correspondência concernente à Missão e suas 
funções. 
3) A mala diplomática não poderá ser aberta ou retida. 
4) Os volumes que constituam a mala diplomática deverão conter sinais 
exteriores visíveis que indiquem o seu caráter e só poderão conter 
documentos diplomáticos e objetos destinados a uso oficial. 
5) O correio diplomático, que deverá estar munido de um documento oficial 
que indique sua condição e o número de volumes que constituam a mala 
diplomática, será, no desempenho das suas funções, protegido pelo Estado 
acreditado. 
6) O Estado acreditante ou a Missão poderão designar correios diplomáticos 
"ad hoc". Em tal caso, aplicar-se-ão as disposições do parágrafo 5 deste 
artigo, mas as imunidades nele mencionadas deixarão de se aplicar, desde 
 
 
20 
que o referido correio tenha entregado ao destinatário a mala diplomática 
que lhe fora confiada. 
7) A mala diplomática poderá ser confiada ao comandante de uma aeronave 
comercial que tenha de aterrissar num aeroporto de entrada autorizada. O 
comandante será munido de um documento oficial que indique o número 
de volumes que constituam a mala, mas não será considerado correio 
diplomático. A Missão poderá enviar um de seus membros para receber a 
mala diplomática, direta e livremente, das mãos do comandante da 
aeronave. 
Art. 28 
Os direitos e emolumentos que a Missão perceba em razão da prática de 
atos oficiais estarão isentos de todos os impostos ou taxas. 
Art. 29 
A pessoa do agente diplomático é inviolável. Não poderá ser objeto de 
nenhuma forma de detenção ou prisão. O Estado acreditado tratá-lo-á com o 
devido respeito e adotará todas as medidas adequadas para impedir qualquer 
ofensa à sua pessoa, liberdade ou dignidade. 
Art. 30 
1) A residência particular do agente diplomático goza da mesma 
inviolabilidade e proteção que os locais da missão. 
2) Seus documentos, sua correspondência e, sob reserva do disposto no 
parágrafo 3 do artigo 31, seus bens gozarão igualmente de inviolabilidade. 
Art. 31 
1) O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal do Estado 
acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e 
administrativa, a não ser que se trate de: 
a) uma ação real sobre imóvel privado situado no território do Estado 
acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado 
acreditado para os fins da missão. 
b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e 
não em nome do Estado, como executor testamentário, administrador, 
herdeiro ou legatário. 
 
 
21 
c) uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial 
exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora de suas 
funções oficiais. 
2) O agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como 
testemunha. 
3) O agente diplomático não está sujeito a nenhuma medida de execução a 
não ser nos casos previstos nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo 1 deste 
artigo e desde que a execução possa realizar-se sem afetar a 
inviolabilidade de sua pessoa ou residência. 
4) A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditado 
não o isenta da jurisdição do Estado acreditante. 
Art. 32 
1) O Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos seus 
agentes diplomáticos e das pessoas que gozam de imunidade nos termos 
do artigo 37. 
2) A renúncia será sempre expressa. 
3) Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de 
jurisdição nos termos do artigo 37 inicia uma ação judicial, não lhe será 
permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma reconvenção 
ligada à ação principal. 
4) A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações civis ou 
administrativas não implica renúncia a imunidade quanto às medidas de 
execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária. 
Art. 33 
1) Salvo o disposto no parágrafo 3 deste artigo, o agente diplomático estará 
no tocante aos serviços prestados ao Estado acreditante isento das 
disposições sobre seguro social que possam vigorar no Estado acreditado. 
2) A isenção prevista no parágrafo 1 deste artigo aplicar-se-á também aos 
criados particulares que se acham ao serviço exclusivo do agente 
diplomático, desde que: 
a) Não sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residência 
permanente; e 
b) Estejam protegidos pelas disposições sobre seguro social vigentes no 
Estado acreditado ou em terceiro estado. 
 
 
22 
3. O agente diplomático que empregue pessoas a quem não se aplique a 
isenção prevista no parágrafo 2 deste artigo deverá respeitar as obrigações 
impostas aos patrões pelas disposições sobre seguro social vigentes no 
Estado acreditado. 
4. A isenção prevista nos parágrafos 1 e 2 deste artigo não exclui a 
participação voluntária no sistema de seguro social do Estado acreditado, 
desde que tal participação seja admitida pelo referido Estado. 
5. As disposições deste artigo não afetam os acordos bilaterais ou 
multilaterais sobre seguro social já concluídos e não impedem a celebração 
ulterior de acordos de tal natureza. 
Art. 34 
O agente diplomático gozará de isenção de todos os impostos e taxas, 
pessoais ou reais, nacionais, regionais ou municipais, com as exceções seguintes: 
a) os impostos indiretos que estejam normalmente incluídos no preço das 
mercadorias ou dos serviços; 
b) os impostos e taxas sobre bens imóveis privados situados no território do 
Estado acreditado, a não ser que o agente diplomático os possua em nome 
do Estado acreditante e para os fins da missão; 
c) os direitos de sucessão percebidos pelo Estado acreditado, salvo o 
disposto no parágrafo 4 do artigo 39; 
d) os impostos e taxas sobre rendimentos privados que tenham a sua origem 
no Estado acreditado e os impostos sobre o capital referentes a 
investimentos em empresas comerciais no Estado acreditado. 
e) os impostos e taxas que incidem sobre a remuneração relativa a serviços 
específicos; 
f) os direitos de registro, de hipoteca, custas judiciais e imposto de selo 
relativos a bens imóveis, salvo o disposto no artigo 23. 
Art. 35 
O Estado acreditado deverá isentar os agentes diplomáticos de toda 
prestação pessoal, de todo serviço público, seja qual for a sua natureza, e de 
obrigações militares tais como requisições, contribuições e alojamento militar. 
 
 
 
23 
Art. 36 
1) De acordo com leis e regulamentos que adote, o Estado acreditado 
permitirá a entrada livre do pagamento de direitos aduaneiros, taxas e 
gravames conexos que não constituam despesas de armazenagem, 
transporte e outras relativas a serviços análogos: 
a) dos objetos destinados ao uso oficial da missão; 
b) dos objetos destinados ao uso pessoal do agente diplomático ou dos 
membros da sua família que com elevivam, incluídos os bens destinados 
à sua instalação. 
1) A bagagem pessoal do agente diplomático não está sujeita a inspeção, 
salvo se existirem motivos sérios para crer que a mesma contém objetos 
não previstos nas isenções mencionadas no parágrafo 1 deste artigo, ou 
objetos cuja importação ou exportação é proibida pela legislação do Estado 
acreditado, ou sujeitos aos seus regulamentos de quarentena. Nesse caso 
a inspeção só poderá ser feita em presença de agente diplomático ou de 
seu representante autorizado. 
Art. 37 
1) Os membros da família de um agente diplomático que com ele vivam 
gozarão dos privilégios e imunidade mencionados nos artigos 29 e 36, 
desde que não sejam nacionais do Estado acreditado. 
2) Os membros do pessoal administrativo e técnico da missão, assim como 
os membros de suas famílias que com eles vivam, desde que não sejam 
nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residência permanente, 
gozarão dos privilégios e imunidades mencionados nos artigos 29 a 35 com 
ressalva de que a imunidade de jurisdição civil e administrativa do Estado 
acreditado, mencionado no parágrafo 1 do artigo 31, não se estenderá aos 
atos por eles praticados fora do exército de suas funções; gozarão também 
dos privilégios mencionados no parágrafo 1 do artigo 36, no que respeita 
aos objetos importados para a primeira instalação. 
3) Os membros do pessoal de serviço da Missão, que não sejam nacionais 
do Estado acreditado nem nele tenham residência permanente, gozarão de 
imunidades quanto aos atos praticados no exercício de suas funções, de 
isenção de impostos e taxas sobre os salários que perceberem pelos seus 
serviços e da isenção prevista no artigo 33. 
 
 
24 
4) Os criados particulares dos membros da Missão, que não sejam nacionais 
do Estado acreditado nem nele tenham residência permanente, estão 
isentos de impostos e taxas sobre os salários que perceberem pelos seus 
serviços. Nos demais casos, só gozarão de privilégios e imunidades na 
medida reconhecida pelo referido Estado. Todavia, o Estado acreditado 
deverá exercer a sua jurisdição sobre tais pessoas de modo a não interferir 
demasiadamente como o desempenho das funções da Missão. 
Art. 38 
1) A não ser na medida em que o Estado acreditado conceda outros privilégios 
e imunidades, o agente diplomático que seja nacional do referido Estado 
ou nele tenha residência permanente gozará da imunidade de jurisdição e 
de inviolabilidade apenas quanto aos atos oficiais praticados no 
desempenho de suas funções. 
2) Os demais membros do pessoal da Missão e os criados particulares, que 
sejam nacionais do Estado acreditado ou nele tenham a sua residência 
permanente, gozarão apenas dos privilégios e imunidades que lhes forem 
reconhecidos pelo referido Estado. Todavia, o Estado acreditado deverá 
exercer a sua jurisdição sobre tais pessoas de maneira a não interferir 
demasiadamente como o desempenho das funções da Missão. 
Art. 39 
1) Toda a pessoa que tenha direito a privilégios e imunidades gozará dos 
mesmos a partir do momento em que entrar no território do Estado 
acreditado para assumir o seu posto ou, no caso de já se encontrar no 
referido território, desde que a sua nomeação tenha sido notificada ao 
Ministério das Relações Exteriores ou ao Ministério em que se tenha 
convindo. 
2) Quando terminarem as funções de uma pessoa que goze de privilégios e 
imunidades, esses privilégios e imunidades cessarão normalmente no 
momento em que essa pessoa deixar o país ou quando transcorrido um 
prazo razoável que lhe tenha sido concedido para tal fim mas perdurarão 
até esse momento mesmo em caso de conflito armado. Todavia a 
imunidade subsiste no que diz respeito aos atos praticados por tal pessoal 
no exercício de suas funções como Membro da Missão. 
 
 
25 
3) Em caso de falecimento de um membro da Missão os membros de sua 
família continuarão no gozo dos privilégios e imunidades a que têm direito 
até a expiração de um prazo razoável que lhes permita deixar o território 
do Estado acreditado. 
4) Em caso de falecimento de um membro da Missão, que não seja nacional 
do Estado acreditado nem nele tenha residência permanente, ou de 
membro de sua família que com ele viva, o Estado acreditado permitirá que 
os bens móveis do falecido sejam retirados do país com exceção dos que 
nele foram adquiridos e cuja exportação seja proibida no momento do 
falecimento. Não serão cobrados direitos de sucessão sobre os bens 
móveis cuja situação no Estado acreditado era devida unicamente à 
presença do falecimento no referido Estado, como membro da Missão ou 
como membro da família de um membro da Missão. 
Art. 40 
1) Se o agente diplomático atravessa o território ou se encontra no território 
de um terceiro Estado, que lhe concedeu visto no passaporte quando esse 
visto for exigido, a fim de assumir ou reassumir o seu posto ou regressar 
ao seu país, o terceiro Estado conceder-lhe-á inviolabilidade e todas as 
outras imunidades necessárias para lhe permitir o trânsito ou o regresso. 
Esta regra será igualmente aplicável aos membros da família: que gozem 
de privilégios e imunidades, que acompanhem o agente diplomático quer 
viagem separadamente. Para reunir-se a ele ou regressar ao seu país. 
2) Em circunstâncias análogas às previstas no parágrafo 1 deste artigo, os 
terceiros Estados não deverão dificultar a passagem através do seu 
território dos membros do pessoal administrado e técnico ou de serviço da 
Missão e dos membros de suas famílias. 
3) Os terceiros Estados concederão à correspondência e a outras 
comunicações oficiais em trânsito inclusive às mensagens em código ou 
cifra a mesma liberdade e proteção concedida pelo Estado acreditado. 
Concederão aos correios diplomáticos a quem um visto no passaporte 
tenha sido concedido quando êsse visto fôr exigido bem como às malas 
diplomáticas em trânsito a mesma inviolabilidade e proteção a que se acha 
obrigado o Estado acreditado. 
4) As obrigações dos terceiros Estados em virtude dos parágrafos 1, 2 e 3 
deste artigo serão aplicáveis também às pessoas mencionadas 
 
 
26 
respectivamente nesses parágrafos, bem como às comunicações oficiais e 
às malas diplomáticas quanto as mesmas se encontrem no território do 
terceiro Estado por motivo de força maior. 
Art. 41 
1) Sem prejuízo de seus privilégios e imunidade todas as pessoas que gozem 
desses privilégios e imunidades deverão respeitar as leis e os 
regulamentos do Estado acreditado. Têm também o dever de não se 
imiscuir nos assuntos internos do referido Estado. 
2) Todos os assuntos oficiais que o Estado acreditante confiar à Missão para 
serem tratados com o Estado acreditado deverão sê-lo com o Ministério 
das Relações Exteriores ou por seu intermédio ou com outro Ministério em 
que se tenha convindo. 
3) Os locais da Missão não devem ser utilizados de maneira incompatível com 
as funções da Missão tais como são enunciadas na presente Convenção 
em outras normas de direito internacional geral ou em acordos especiais 
em vigor entre o Estado acreditado. 
Art. 42 
O agente diplomático não exercerá no Estado acreditado nenhuma 
atividade profissional ou comercial em proveito próprio. 
Art. 43 
As funções de agente diplomático terminarão, inter-alia: 
a) pela notificação do Estado acreditante ao Estado acreditado e que as 
funções do agente diplomático terminaram; 
b) pela notificação do Estado acreditado ao Estado acreditante de que, nos 
termos do parágrafo 2 do artigo 9, se recusa a reconhecer o agente 
diplomático como membro da Missão. 
Art. 44 
O Estado acreditado deverá, mesmo no caso de conflito armado, conceder 
facilidades para que as pessoas que gozem de privilégios e imunidades e não 
sejam nacionais do Estado acreditado, bem como os membros de suas famílias, 
seja qual for a sua nacionalidade, possam deixar o seu território o mais depressa 
possível. Especialmente, deverá colocarà sua disposição se necessário, os meios 
de transporte indispensáveis para tais pessoas e seus bens. 
 
 
27 
Art. 45 
Em caso de ruptura das relações diplomáticas entre dois Estados ou se 
uma Missão é retirada definitiva ou temporariamente: 
1) o Estado acreditado está obrigado a respeitar e a proteger, mesmo em caso 
de conflito armado, os locais da Missão bem como os seus bens e arquivos; 
2) o Estado acreditante poderá confiar a guarda dos locais da Missão bem 
como de seus bens e arquivos a um terceiro Estado aceitável para o Estado 
acreditado; 
3) o Estado acreditante poderá confiar a proteção de seus interesses e dos 
de seus nacionais a um terceiro Estado acreditado. 
Art. 46 
Com o consentimento prévio do Estado acreditado e a pedido de um 
terceiro Estado nele não representado, o Estado acreditante poderá assumir a 
proteção temporária dos interesses do terceiro Estado e de seus nacionais. 
Art. 47 
1) Na aplicação das disposições da presente Convenção, o Estado acreditado 
não fará nenhuma discriminação entre Estado. 
2) Todavia, não será considerada discriminação: 
a) o fato de o Estado acreditante aplicar restritivamente uma das disposições 
da presente Convenção, quando a mesma for aplicada de igual maneira à 
sua Missão no Estado acreditado; 
b) o fato de os Estados em virtude de costume ou convênio se concederem 
reciprocamente um tratamento mais favorável do que o questionado pelas 
disposições da presente Convenção. 
Art. 48 
A presente Convenção ficará aberta para assinatura de todos os Estados 
Membros das Nações Unidas de uma organização especializada bem como dos 
Estados Partes no Estatuto da Corte Internacional de Justiça e de qualquer outro 
Estado convidado pela Assembleia Geral das Nações Unidas a tornar-se Parte na 
Convenção, da maneira seguinte: até 31 de outubro de 1961, no Ministério Federal 
dos Negócios Estrangeiros da Áustria e, depois, até 13 de marco de 1962, na sede 
das Nações Unidas, em Nova York. 
 
 
 
28 
Art. 49 
A presente Convenção será ratificada, os instrumentos de ratificação serão 
depositados perante o Secretário-Geral das Nações Unidas. 
Art. 50 
A presente Convenção permanecerá aberta à adesão de todo o Estado 
pertencente a qualquer das quatro categorias mencionadas no artigo 48. Os 
instrumentos de adesão serão depositados perante o Secretário-Geral das 
Nações Unidas. 
Art. 51 
1) A presente Convenção entrará em vigor no trigésimo dia que se seguir à 
data do depósito perante o Secretário-Geral das Nações Unidas do 
vigésimo-segundo instrumento de ratificação ou adesão. 
2) Para cada um dos Estados que ratificarem a Convenção ou a ela aderirem 
depois do depósito do vigésimo segundo instrumento de ratificação ou 
adesão, a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia após o depósito, 
por esse Estado, do instrumento de ratificação ou adesão. 
Art. 52 
O Secretário-Geral das Nações Unidas comunicará a todos os Estados 
pertencentes a qualquer das quatro categorias mencionadas no artigo 48: 
a) as assinaturas apostas à presente Convenção e o depósito dos 
instrumentos de ratificação ou adesão nos termos dos artigos 48, 49 e 50; 
b) a data em que a presente Convenção entrara em vigor, nos termos do 
artigo 51. 
Art. 53 
O original da presente Convenção, cujos textos em chinês, espanhol, 
francês, inglês e russo, fazem igualmente fé, será depositado perante o 
Secretário-Geral das Nações Unidas, que enviará cópias certificadas conforme a 
todos os Estados pertencentes a qualquer das quatro categorias mencionadas no 
artigo 48. 
Em fé do que, os plenipotenciários os assinados, devidamente autorizados 
pelos respectivos Governos assinaram a presente Convenção. Feito em Viena, 
aos dezoito dias do mês de abril de mil novecentos e sessenta e um. 
AULA 2 
DIREITO DIPLOMÁTICO 
E CONSULAR
Prof. Arthur Garcia 
2 
TEMA 1 – O ESTABELECIMENTO E AS MODALIDADES DAS RELAÇÕES 
DIPLOMÁTICAS PERMANENTES ENTRE OS ESTADOS 
A Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas de 1961 
estabelece em seu art. 3°, entre outras coisas, as funções das missões 
diplomáticas. 
Essas funções consistem em representar o Estado acreditante perante o 
Estado receptor, proteger os interesses do país e dos seus nacionais no Estado 
acreditador; negociar com o Estado acreditador; inteirar-se por todos os meios 
lícitos das condições existentes e da evolução dos acontecimentos no Estado 
acreditador; promover relações amistosas e desenvolver as relações econômicas, 
culturais e científicas entre o País e o Estado acreditador. 
Todavia, antes de estudarmos especificamente essas funções, é 
necessário ter alguns conceitos básicos em mente. 
1.1 O conceito de missão diplomática 
A expressão missão diplomática pode ser utilizada com vários significados, 
dependendo da situação, e todos são juridicamente válidos, segundo a doutrina. 
Alguns são ligados à pessoa física do agente diplomático, já em outros 
conceitos se referem ao órgão diplomático no qual o agente diplomático é 
preposto. 
Inicialmente, o termo missão diplomática é empregado como indicação das 
várias e complexas incumbências que o Estado acreditante concede ao seu 
agente diplomático, que é exercida junto ao Estado no qual o agente encontra-se 
acreditado, indicando o período de tempo no qual o agente diplomático 
permanece nesse Estado. 
Em outra visão, a expressão missão diplomática pode indicar um conjunto 
orgânico de pessoas preposto à função diplomática dentro de um Estado 
estrangeiro. Esses indivíduos são compostos pelos membros do pessoal da 
missão diplomática, ou seja, os membros do pessoal administrativo, técnico e do 
pessoal que está a serviço desta missão diplomática. 
Há o conjunto de missões diplomáticas que, em um determinado momento 
estão acreditadas em uma capital, formando o Corpo Diplomático. 
Já em uma terceira abordagem, a missão diplomática nada mais é que o 
órgão administrativo formado por uma instituição de caráter permanente, que fica 
 
 
3 
estabelecida no Estado estrangeiro, em que há a contribuição de várias pessoas 
para sua composição. 
Importante mencionar que esse órgão administrativo tem como objetivo 
assegurar e manter as boas relações entre os Estados, bem como tem a função 
de proteger os direitos e interesses do respectivo país. Isso porque, na instituição 
diplomática contemporânea, a mais importante modificação foi a constatação que 
a ação diplomática passou da pessoa do Chefe da Missão para a Missão 
Diplomática em si. 
No anteprojeto sobre as relações diplomáticas do ano de 1957, elaborado 
pela Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas, os trabalhos se 
orientaram no sentido de dar à missão diplomática a verdadeira importância que 
era concedida à pessoa do agente diplomático. 
Com efeito, a Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas 
leva em consideração o pressuposto acima mencionado, tanto é que definiu a 
missão diplomática como uma entidade distinta, mesmo que para alguns, não o 
suficiente. 
1.2 Como se dá a criação de uma missão diplomática 
Tradicionalmente e essencialmente, o instrumento para o desenvolvimento 
e uma vida de relações, e sobretudo a manutenção da paz e segurança 
internacional entre os membros de uma sociedade internacional, é representado 
pelo estabelecimento de relações internacionais, que se dá por meio do envio de 
missões diplomáticas entre um Estado e outro. 
O doutrinador italiano Giuliano (1983) aduz que, entre outras atribuições, o 
Estado tem por obrigação excluir cada exercício da sua autoridade sobre o 
território de outro Estado, e, consequentemente, este Estado é titular da pretensão 
jurídica (direito subjetivo) correspondente. 
Tal obrigação é caracterizada por uma qualificação: a penetração e a ação 
autorizada de agentes diplomáticos de um Estado no território de outro Estado. 
Desse modo, sempre que uma permanência de um agente diplomático de 
um Estadoem outro for autorizada, o soberano territorial não pode colocar 
nenhum obstáculo para que o agente diplomático exerça sua missão diplomática. 
Neste sentido, é claro o art. 2° da Convenção de Viena de 1961 sobre 
relações diplomáticas ao afirmar que “o estabelecimento de relação diplomáticas 
 
 
4 
e o envio de missões diplomáticas permanentes se efetuam por consentimento 
mútuo” (1961). 
Por esse motivo é que a criação de uma missão diplomática advém de um 
acordo entre o Estado que envia e o Estado que recebe tal missão. 
Uma análise dos pressupostos jurídicos necessários para a criação das 
missões diplomáticas é de extrema importância, pois alguns são pacificados pela 
doutrina, como, por exemplo, a personalidade jurídica internacional, 
reconhecimento, acordo dos Estados, entre outros; porém, alguns pontos são 
extremamente controvertidos entre os doutrinadores da diplomacia, como, por 
exemplo, o direito de legação. 
Assim, analisaremos no próximo tópico as contradições e pacificações 
doutrinárias a respeito destes pressupostos jurídicos. 
TEMA 2 – OS PRESSUPOSTOS JURÍDICOS NA INSTITUIÇÃO DE UMA MISSÃO 
DIPLOMÁTICA PERMANENTE 
Como analisamos anteriormente as missões diplomáticas são 
conceituadas como a indicação de várias e complexas incumbências que um 
Estado soberano concede ao seu agente diplomático, que irá aplicá-los em um 
outro Estado soberano, conhecidos respectivamente como Estado acreditado e 
Estado acreditante. 
Todavia, as missões diplomáticas passam por um processo de criação, e 
neste são analisados alguns pressupostos jurídicos de validade, que veremos 
abaixo. 
2.1 Personalidade jurídica Internacional 
Seja interno ou internacional, um sistema jurídico tem como característica 
a existência de um conjunto de normas, e consequentemente, os destinatários 
dessas normas são considerados como sujeitos de direito. Dessa forma, uma 
norma jurídica atribui direitos e deveres aos entes aos quais se destina. Assim, 
ser um sujeito de direito é ter normas atribuídas, adquirindo com isso direitos e 
deveres. 
A missão diplomática somente poderá ser criada entre sujeitos de direito 
internacional, pois nas relações diplomáticas há o atributo de um sujeito de direito 
internacional. 
 
 
5 
Mas quem são esses sujeitos de direito internacional? Conforme observa 
Nascimento e Silva (1978), no art. 2° da Convenção de Viena de 1961, sem 
maiores detalhes, citam-se apenas os “Estados”. Portanto, a questão sobre a 
determinação dos Estados com direito de estabelecer relações diplomáticas foi 
debatida na Comissão de Direito Internacional. 
Muito se debateu que determinadas entidades, como às vezes os 
chamados protetorados, Estados membros de uma federação, não tinham o 
direito de instituir missões diplomáticas, conforme suas constituições, e seria 
errado permitir que tais Estados firmem, simplesmente por mútuo consentimento, 
relações diplomáticas com outros Estados. 
A determinação de quais Estados poderiam estabelecer relações 
diplomáticas sempre foi objeto de controvérsias dentro da doutrina e da prática 
diplomáticas; todavia, uma expressiva parte da doutrina saliente que apenas a 
referências “Estados” na Carta das Nações Unidas é a melhor orientação, mesmo 
que breve, sendo necessária para que seja analisado os diferentes tipos de 
sujeitos que têm o direito de estabelecer as relações diplomáticas entre si. 
2.2 Os Estados 
Primeiramente é necessário mencionar que todo Estado, soberano ou 
independente, possui o direito de estabelecer relações diplomáticas, bem como o 
de trocar missões diplomáticas com os demais sujeitos da comunidade 
internacional. Esses Estados, compreendidos aqui como uma população que 
reside de forma estável em um território determinado e está sujeita ao mesmo 
sistema político, é sem sombra de dúvidas o natural e primeiro titular da qualidade 
de sujeito diplomático. 
Fato é que os Estados possuem vários órgãos que tratam das relações 
internacionais que o direito diplomático engloba, mas nem todos os Estados são 
titulares das qualidades jurídicas exigidas pela diplomacia. Existem alguns, com 
raríssimas exceções, que se encontram em um status incompatível com o direito 
de exercício de suas capacidades jurídicas. Claros exemplos disso, que 
ocorreram no passado, são os países vassalos que viviam sob uma tutela e 
mandato de tipo “A”, os protetorados, os Estados tributários em administração 
fiduciária etc., pois não eram soberanos ou não eram independentes. 
Assim, nem sempre os Estados possuem a qualidade jurídica de modo 
pleno, em decorrência de situações de caráter excepcional ou temporário, para 
 
 
6 
exemplificar essa afirmação. Pensemos na condição do Estado sujeito a 
ocupação bélica (occupatio bellica) por parte de outro Estado. 
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha ocupou belicamente o 
território de alguns governos, tais como o da Polônia (atacada em setembro de 
1939), a Dinamarca (abril de 1940), a Noruega (abril de 1940), a Bélgica (maio de 
1940), a Holanda (maio de 1940), a França (maio de 1940), a Iugoslávia (abril de 
1941), a Grécia (abril de 1941) e Luxemburgo (maio de 1940). 
Tais governos foram obrigados, em virtude do conflito bélico, a deixar o 
próprio país e se instarem na Grã-Bretanha, passando a serem tratados como 
governos em exílio. Todavia, a Grã-Bretanha acredita grande parte da doutrina, 
que por motivações políticas e de modo muito gracioso, os equiparou aos outros 
Estados concedendo a estes governos em exílio privilégios e imunidades 
diplomáticas. 
Assim o desaparecimento de um Estado implica, automaticamente, no fim 
de suas capacidades jurídicas diplomáticas, e sem ela não é possível estabelecer 
relações diplomáticas. 
2.3 As confederações de Estados 
A finalidades das confederações é a defesa comum, são uniões 
internacionais entre os Estados, aglomerados em assembleias, com amplos 
poderes no que tange a política externa e a representatividade de todos os demais 
membros, em que cada Estado continua sendo titular das qualidades de sujeito 
de direito diplomático, assim conservando o direito de representação própria – 
tanto os Estados membros quantos os demais Estados. 
Entretanto, é importante mencionar que um órgão da federação pode ter a 
mesma capacidade diplomática dos Estados. 
 
 
 
7 
2.4 As federações 
São compostas pela união perpétua nos quais os integrantes transferem o 
exercício da soberania externa para um organismo central, porém mantendo a 
autonomia relativa. 
Importante mencionar que a situação jurídica dos Estados membros de 
uma federação, embora o ordenamento constitucional conceda a eles um alto 
grau de autonomia no âmbito legislativo, administrativo e judiciário, não dá a eles 
titularidade de personalidade jurídica diplomática, pois tais entes são os Estados, 
Regiões, Cantões etc. 
Portanto um Estado Federal é o único sujeito de direito internacional idôneo 
capaz de estabelecer e conduzir as relações internacionais. 
TEMA 3 – O RECONHECIMENTO DE UM ESTADO 
3.1 Reconhecimento de um novo Estado ou um novo governo 
O reconhecimento do Estado é um dos pressupostos de existência de uma 
missão diplomática, e é por meio desse ato, que é unilateral e discricionário, que 
um Estado admite a existência de outro, permitindo como consequência a 
manifestação do desejo de realizar as missões diplomáticas. 
Em direito internacional existem várias teorias sobre o reconhecimento de 
Estados, entre as quais o efeito atributivo/constitutivo e a do efeito declarativo. 
A teoria do efeito atributivo declara que um Estado apenas passa a existir 
para os demais Estados, como uma pessoa internacional, depois de ter sido 
reconhecido. Já no que tange a teoria do efeito declarativo, que é a teoria 
reconhecida pela doutrina majoritária, o reconhecimento é o “ato livre pelo qual 
um ou mais Estados reconhecem a existência, em um território determinado, deuma sociedade humana politicamente organizada, independentemente de 
qualquer outro Estado existente e capaz de observar as prescrições do Direito 
Internacional” (Nascimento e Silva; Accioly, 2012). 
O reconhecimento de um novo Estado ou um novo governo pode resultar 
na retirada de uma missão diplomática acreditada em outro Estado ou governo. 
Esse resultado é obrigatório quando um Estado realiza o reconhecimento de um 
governo revolucionário que luta contra um governo legítimo, ocorrido, por 
exemplo, durante a Guerra Espanhola (1936 a 1939), na qual diversos Estados 
 
 
8 
reconheceram o governo do General Franco e retiraram as missões diplomáticas 
acreditadas no governo republicano em Madrid. 
Importante mencionar que a retirada das missões diplomática não é algo 
que ocorre automaticamente, uma vez que cabe ao Estado legítimo analisar a 
julgar o reconhecimento do Estado beligerante, analisando se tal reconhecimento 
é constituído por um ato não amigável que resulte e justifique o rompimento das 
relações diplomáticas. 
A retirada então de uma missão diplomática nem sempre significa a retirada 
do reconhecimento, da mesma forma que o reconhecimento de um novo Estado 
ou um novo governo não resulta no estabelecimento de uma missão diplomática: 
tais atos são analisados caso a caso. 
3.2 Consentimento mútuo 
O envio de missões diplomáticas permanentes entre os Estados como 
objetivo de estabelecimento das relações diplomáticas é rigorosamente 
subordinado ao chamado mútuo consentimento. Aqui, significa dizer que o 
Estado, uma vez formado, adquire a capacidade de concluir acordo internacionais 
em geral, e como consequência, acordos de estabelecimentos de relações 
diplomáticas em particular (jus contrahendi). Assim, nenhum Estado é obrigado a 
estabelecer relações diplomáticas contra a própria vontade, efetivando então o 
mútuo consentimento. 
A não obrigatoriedade de firmar acordos internacionais é clara, todavia, 
mesmo que não sejam os Estados obrigados a tal, são necessárias negociações 
sobre determinadas questões. Dessa forma, a missão diplomática permanente se 
torna o principal instrumento dos relacionamentos entre os Estados, ao menos no 
que diz respeito à manutenção da paz e da segurança internacional. 
A necessidade e a não obrigatoriedade do estabelecimento de relações 
diplomáticas consiste em como um Estado, membro da Comunidade Internacional 
e que pertencesse, como ocorre com quase todos os Estados, às Nações Unidas, 
agiria de maneira muito estranha se se recusasse a iniciar relações diplomáticas 
com outro Estado, ressalvados os casos excepcionais e temporários como o de 
não reconhecimento. 
Dessa forma, a não obrigatoriedade do estabelecimento das relações 
diplomáticas é finalmente reconhecida pela Convenção de Viena de 1961 sobre 
Relações Diplomáticas, cujo art. 2º determina que “o estabelecimento de relações 
 
 
9 
diplomáticas e o envio de Missões Diplomáticas permanentes se efetuam por 
consentimento mútuo” (1961). 
TEMA 4 – OS DIFERENTES TIPOS DE MISSÃO DIPLOMÁTICAS 
As relações diplomáticas entre os Estados não se concretizam apenas por 
meio do consentimento mútuo, mas também por meio da instituição de um órgão 
idôneo, ou seja, a missão diplomática permanente. 
No ponto de vista jurídico, as referidas missões ou representações 
diplomáticas, que são criadas convencionalmente entre os Estados, podem 
possuir várias denominações, as quais veremos agora. 
4.1 As embaixadas 
As embaixadas são as missões diplomáticas permanentes com o maior 
grau de importância dentro do direito diplomático, pois são dotadas da classe mais 
elevada. O titular de uma embaixada, o chefe da missão, é um embaixador. 
O embaixador é um agente diplomático que pertence à primeira classe, 
conforme nos traz o Regulamento de Viena de 1815. As embaixadas, até o final 
do século XX, eram instituídas apenas entre as grandes potências, conforme o 
diferente peso político, militar e econômico que representavam dentro da 
comunidade internacional. 
Após a Segunda Guerra Mundial houve um crescente número de 
embaixadas criadas em virtude de vários fatores, entre eles se destaca a 
intensificação das relações entre os países, que se uniram pela resistência 
comum contra a Alemanha nazista, e também em virtude da multiplicação do 
número de novos Estados, consequência do processo de descolonização, que 
tinham como objetivo único a paridade ou igualdade jurídica relativa aos Estados 
de antiga formação. 
4.2 As nunciaturas 
Primeiramente é necessário entender que a nunciatura consiste em um 
órgão diplomático permanente crido pela Santa Sé em outros sujeitos de direito 
internacional que objetivavam a manutenção das relações internacionais. 
Da mesma forma que as embaixadas possuem o embaixador como chefe, 
as nunciaturas possuem a pessoa do núncio, que, de acordo com o Regulamento 
 
 
10 
de Viena de 1961, também faz parte da primeira categoria de agentes 
diplomáticos. 
Conforme consta no art. 14 da Convenção de Viena de 1961, a nunciatura 
pode ter como titular tanto o núncio quanto o pró-núncio, sendo este último uma 
criação recente, datada de 1965. A Santa Sé se utiliza dessa figura diplomática 
em países onde a religião católica não é predominante. 
De forma geral, o núncio é um arcebispo, e de acordo com o Direito 
Canônico, algumas nunciaturas são conhecidas como “apostólicas cardinalícias” 
pois ao final da missão seu titular é elevado à dignidade cardinalícia. 
Em sua atividade, se comparada às demais missões diplomáticas, a 
nunciatura tem, além da representação da Santa Sé em outros Estados, a 
prerrogativa de realizar o próprio poder jurisdicional sobre a hierarquia eclesiástica 
do local, devido ao primado do Romano Pontífice. 
4.3 Os altos comissariados 
Consiste em uma missão diplomática de um Estado em outro, ambos 
conectados por vínculos especiais, como é o caso do Commonwealth britânico ou 
na Comunidade Francesa. 
O titular desta missão é o chamado alto comissário (high commissioner), 
sendo este um agente diplomático de primeira categoria, pois nas relações onde 
era típico haver um país colonizador e suas colônias, o alto comissário representa 
a figura do governador. Por exemplo, na Commonwealth os Estados membros são 
representados em Londres pelo alto comissário e, reciprocamente, há na colônia 
um agente da mesma categoria representando o Reino Unido. 
Importante não confundir a figura do embaixador e a do alto comissário, já 
que o segundo não apresenta credenciais, pois o Estado que envia e os que 
recebem têm o mesmo chefe de Estado. No exemplo da Commonwealth, o chefe 
de Estado do Reino Unido é o mesmo que o chefe da Commonwealth. 
4.4 As legações 
As legações são missões diplomáticas permanentes que, mesmo 
desenvolvendo as mesmas funções de uma embaixada, são dirigidas por um 
ministro ou um ministro residente, sendo que era classificada como de segunda 
classe. 
 
 
11 
Consoante a igualdade entre os Estados, instituída após a Segunda 
Grande Guerra, e também em consequência da descolonização, as legações 
foram transformadas, paulatinamente em embaixadas, alcançando então a 
primeira classe. 
4.5 As internunciaturas 
Essa missão foi extinta em meados de 1970, transformadas em 
nunciaturas, que tinham a mesma classe das legações. O titular desse posto era 
o chamado internúncio, e pertencia à segunda categoria que representava a Santa 
Sé nos Estados que não possuíam Nunciaturas. 
TEMA 5 – OS LOCAIS DAS MISSÕES DIPLOMÁTICAS E SUA ESTRUTURA 
Uma das questões mais debatidas pela doutrina diplomática é a 
localização, propriedade e dimensão das missões diplomáticas permanentes, o 
que evidenciou a necessidade de uma regulamentação a respeito. 
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, discussões sobre a obtenção de 
locais para a sede das missões ou para a residência dos agentes diplomáticos 
exerceu pressão na adoção, pela Convençãode Viena de 1961, dessas 
regulamentações. 
Desse modo, a Convenção de Viena menciona em várias oportunidades a 
missão diplomática, como por exemplo, no art. 1°, alínea i, consta que “os 
edifícios, ou parte dos edifícios, e terrenos anexos, seja qual for o proprietário, 
utilizadas para a finalidade da missão, inclusive a residência do Chefe da missão” 
(1961). 
Importante mencionar aqui que, em se tratando de edifício, a expressão 
abrange também o respectivo terreno e acréscimos, inclusive o jardim e o 
estacionamento de automóveis. 
Há também a figura da residência do chefe da missão, que consiste na 
habitação pessoal do chefe da missão e da própria família; abrange também o 
apartamento reservado aos hóspedes de honra; e pelo complexo dos locais (salas 
de representações) destinados às várias manifestações da função representativa 
da missão diplomática, considerada em um dos seus aspectos mais 
característicos. 
 
 
12 
Na residência do chefe da missão é possível que seja hasteada a bandeira, 
pregado o escudo com suas respectivas armas, direito este trazido também pela 
Convenção de Viena de 1961 em seu art. 20, tendo por objetivo a salvaguarda e 
da integridade das mesmas nos momentos de agitação ou manifestações 
populares. 
A sede da missão e os escritórios, normalmente, localizam-se na capital do 
Estado acreditado, mas não faltam exemplos de missões instaladas fora da 
capital, sendo que para isso é necessária a autorização do Estado acreditado (art. 
12 da Convenção de Viena de 1961). 
5.1 Estrutura das missões diplomáticas permanentes 
A missão diplomática permanente, como órgão das relações externas de 
um Estado, é composta por uma pluralidade de seções que correspondem à 
especialização dos indivíduos que a compõem, as quais veremos a seguir. 
5.1.1 A chancelaria 
Consiste no órgão central e principal da missão, onde é concentrado o 
trabalho burocrático das demais seções. Aqui são conservados os arquivos 
gerais, confidenciais, ostensivos, bem como os materiais criptografas, bibliotecas, 
registros, selos, material de expediente oficial, atos relativos aos nacionais do 
Estado acreditante, tais como os atos de estado civil, passaportes etc. 
O administrador direto dessa seção é o chamado conselheiro, seguido 
hierarquicamente das figuras do primeiro secretário, segundo secretário e terceiro 
secretário. 
5.1.2 O setor econômico-comercial 
Esse setor tem como principal função o desenvolvimento das relações 
comerciais entre Estado acreditante e acreditado, ou seja, o conhecimento da 
situação econômica do país acreditado, o estudo das exigências, dos recursos e 
das efetivas possibilidades do mercado no que diz respeito à importação e à 
exportação, à análise da política dos direitos aduaneiros e alfandegários etc. 
O titular do setor econômico-comercial é o adido comercial, cuja 
preocupação principal é a coleta e a análise de informações em determinadas 
 
 
13 
matérias. O adido comercial ainda prepara e negocia os tratados de comércio, 
além de vigiar sua efetiva aplicação. 
5.1.3 O setor militar 
O setor militar pode compreender também o setor naval e do ar, 
dependendo da importância da missão diplomática na qual o setor militar está 
inserido. 
Esse setor é gerenciado pelo adido militar de proveniência dos quadros do 
exército do Estado acreditante, muito embora tenha contato com o próprio ministro 
da Defesa, e de possuir um grau superior ao do chefe da missão, o adido militar 
continua submetido hierarquicamente às instruções deste último. 
As funções dos adidos militares podem ser divididas da seguinte forma: 
observação e coleta de informações, por meio lícito, sobre a situação local em 
matéria de instituições militares e dos armamentos do Estado acreditado; busca 
contínua por colaboração com as autoridades militares locais em matéria de troca 
de informações, fornecimento de material bélico e de treinamento especializado; 
representação do Estado acreditante nas cerimônias oficiais do Estado acreditado 
por meio da participação em festas nacionais, recepções, paradas, manifestações 
etc. 
5.1.4 O setor cultural 
Por meio do setor cultural, a missão proporcionalizara um ambiente 
propício para a difusão da cultura nacional. Este setor é chefiado pelo adido 
cultural, cujas funções principais são o preparo de acordos culturais entre o Estado 
acreditado e acreditante, autorizar bolsas de estudo, organização de sistemas de 
intercâmbio de estudantes dos países interessados e organizar conferências 
literárias e científicas e de exposições artísticas, bem como a criação de escolas 
para difundir o ensinamento do idioma nacional. 
5.1.5 O setor de imprensa 
Este é o setor responsável, por meio do adido de imprensa, pela análise 
das notícias reportadas na imprensa local com ênfase naquelas sobre o próprio 
Estado, pela redação de um boletim de uso interno da missão sobre a situação 
política, militar, econômica do Estado acreditado, e é também o centro de relação 
 
 
14 
e de informações para a imprensa local sobre o Estado acreditante. Realiza a 
redação de um boletim de uso externo à missão, para informar e esclarecer 
determinas notícias a respeito do Estado acreditante. 
5.1.6 A chancelaria consular 
Por fim, esse é o setor responsável por responder a uma exigência prática 
e econômica da missão, prevista no art. 3°, parágrafo 2°, da Convenção de Viena 
de 1961, e foi criado para suprir a falta de um consulado na capital onde a missão 
se encontra acreditada. 
A chancelaria consular tem como titular um agente diplomático da missão, 
que, mesmo desempenhado funções tipicamente de um cônsul, continua gozando 
dos mesmos privilégios e imunidades diplomáticas. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
NASCIMENTO E SILVA, G. E. do. A Convenção de Viena sobre relações 
diplomáticas. Brasília: IBGE, 1978. 
NASCIMENTO E SILVA, G. E. do; ACCIOLY, H. Manual de direito 
internacional público. São Paulo: Saraiva, 2002. 
AULA 3 
DIREITO DIPLOMÁTICO 
E CONSULAR 
Prof. Arthur Augusto Garcia 
2 
TEMA 1 – PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS 
Para que haja um bom funcionamento e execução das missões 
diplomáticas, são concedidos certos privilégios e certas imunidades aos membros 
dessas missões, que têm como função subtrair determinadas pessoas da 
autoridade e da competência judiciária do Estado acreditado, assunto este que 
trataremos de forma aprofundadas nos tópicos que se seguem. 
1.1 Fundamentos jurídicos das imunidades diplomáticas 
Sem que o Estado acreditado garantisse a liberdade, o decoro e, 
sobretudo, a independência, não seria possível à segurança da missão 
diplomática a execução de suas funções pelos membros que compõem aquele 
complexo diplomático. 
As imunidades baseiam-se no direito internacional e têm a finalidade de 
destituir certas competências judiciarias do Estado acreditado sobre membros 
permanentes de uma missão diplomática que vivem em seu território. 
Uma parte da doutrina considera como sinônimas as expressões 
imunidades e privilégios no que tange às missões diplomáticas, contudo outra 
parte da doutrina as considera expressões distintas. 
Sob o ponto de vista jurídico de Pellet e Daillet (2002, citado por Sicari, 
2007, p. 124), existe distinção entre as expressões, vejamos: 
Somente as imunidades, por exemplo as imunidades jurisdicionais, se 
baseariam diretamente no direito internacional; somente elas, 
constituiriam ataques a soberania dos Estado acreditado e se imporiam 
como tal a eles. Ao contrário, os privilégios dependeriam exclusivamente 
do direito interno do Estado acreditado que teria plena competência para 
“autorizá-los” ao Estado acreditante. Conforme Fauchille, os privilégios 
variam “segundo o prazer dos diferentes Estados, uns os acordam mais 
largamente, os outros mais estritamente. Outros autores, como 
Verdross, recusam cada distinção; eles sustentam que privilégios e 
imunidades são termosequivalentes e que uns como os outros posam 
no direito internacional. Essa tese é favorável ao Estado acreditante. 
Embora a Convenção de Viena de 1961 tenha mantido a referida distinção 
dos termos, resolveu a questão trazendo uma solução intermediária a essa 
divergência doutrinária, ou seja, enquanto as imunidades são baseadas 
integralmente no direito internacional, somente alguns tipos de privilégio se 
baseariam nesse direito também, por exemplo, as isenções de taxas aduaneiras, 
ou seja, do direito interno do Estado acreditado (Sicari, 2007). 
 
 
3 
Formadas progressivamente com o desenvolvimento das missões 
diplomáticas, as imunidades surgiram em substituição à desconfiança inicial dos 
Estados decorrentes dos inúmeros casos envolvendo espionagem política que 
ocorriam entre Estado acreditado e membros do Estado acreditante. 
O aumento ou diminuição da extensão das imunidades ou privilégios 
diplomáticos carecem do fundamento jurídico, que para a doutrina, tem como base 
a teoria da extraterritorialidade, a teoria do caráter representativo bem como a 
teoria do interesse da função. 
1.2 Teoria da extraterritorialidade 
Esta teoria tem como fundamento o fato de que o diplomata permanece em 
seu próprio país, mesmo que esteja no território de outro, isso porque a 
extraterritorialidade fictícia passou a ser considerada real em virtude de a 
embaixada ser considerada como uma extensão do território do embaixador. Por 
exemplo, o território da embaixada do Brasil em Buenos Aires (Argentina) seria 
considerado território brasileiro, assim o diplomata “escaparia” do comando do 
soberano territorial sob o qual se encontra. 
Todavia, depois de muito tempo tal teoria deixou de ser adotada, pois 
encontra várias críticas pela doutrina moderna, que a considera inexata e perigosa 
em virtudes das soluções jurídicas que dispõe. Um exemplo disso, que leva em 
consideração a teoria em comento, é que a missão poderia entregar à polícia do 
Estado acreditado, somente mediante um procedimento de extradição, um 
delinquente de direito comum que estivesse refugiado nela. 
Sendo assim, a Conferência de Viena retirou por completo o uso do termo 
extraterritorialidade da redação da Convenção que trata sobre as relações 
diplomáticas (Sicari, 2007). 
1.3 Teoria do caráter representativo 
 Essa teoria é originada na época monárquica, quando as relações 
internacionais eram equiparadas às relações pessoais entre os reis e os príncipes, 
sendo então os diplomatas considerados representantes diretos destas figuras. 
 Todavia, contemporaneamente, a missão e os agentes que a compõem 
representam os interesses do Estado acreditante. Assim, aqueles que recebem 
as imunidades e os privilégios têm reconhecido o respeito pelo Estado acreditado 
 
 
4 
em relação à sua dignidade e liberdade e, em contrapartida, reconhecem a 
dignidade e a liberdade do próprio Estado acreditante. 
 Contudo, da mesma forma que a teoria da extraterritorialidade, a teoria do 
caráter representativo dificulta uma delimitação jurídica do Estado acreditante no 
território do estado acreditado. 
1.4 Teoria do interesse da função 
 Essa teoria tem como fundamento único a necessidade do exercício de 
forma independente da função diplomática, ou seja, considera que as imunidades 
e privilégios devem ser garantidos para que o êxito da missão diplomática seja 
atingido. 
 Assim, ao mesmo tempo em que é admitida a possibilidade de limitação ao 
exercício diplomática, é estabelecido um equilíbrio entre as exigências trazidas 
pelo Estado acreditante e os deveres do Estado acreditado. 
 Dessa forma, é necessário levar em consideração que o agente diplomático 
não poderia desempenhar suas funções de maneira independente se não 
gozasse de condições específicas. Assim, as imunidades diplomáticas têm como 
objetivo impedir que obstáculos de qualquer natureza surjam no funcionamento 
da missão diplomática e no desempenho do agente diplomático. 
 Com base em todas as configurações mencionadas, a Conferência de 
Viena de 1961 escolheu a teoria do caráter representativo e do interesse da 
função como fundamento das imunidades e privilégios diplomáticos, tanto é que 
há menção destas no preâmbulo da Convenção, quando menciona que 
“Reconhecendo que a finalidade de tais privilégios e imunidades não é beneficiar 
indivíduos, mas, sim, a de garantir o eficaz desempenho das funções das missões 
diplomáticas, em seu caráter de representantes dos Estados” (Brasil, 1965). 
TEMA 2 – IMUNIDADES DA MISSÃO DIPLOMÁTICA 
As imunidades e privilégios concedidos às missões diplomáticas e 
consulares estão elencadas, respectivamente, na Convenção de Viena sobre 
Relações Diplomáticas de 1961 e na Convenção de Viena sobre Relações 
Consulares de 1963 (Privilégios..., S.d.). 
A seguir, verificaremos do que se trata tais concessões. 
 
 
 
5 
2.1 Inviolabilidade da missão diplomática 
Considerada como a regra mais antiga e importante entre as imunidades 
concedidas às missões diplomáticas, a inviolabilidade justificava-se, em sua 
origem, pelo caráter sagrado que o embaixador possuía pelo fato de estar sempre 
sob a proteção dos deuses. 
 Todavia, atualmente, essa imunidade apresenta dois aspectos importantes: 
o primeiro é que obriga o Estado acreditado a garantir uma proteção especial, 
jurídica e material da missão diplomática e o segundo é que há uma obrigação do 
Estado acreditado de se abster de toda e qualquer ação coercitiva a respeito da 
missão. 
 A inviolabilidade mais importante está representada no art. 1°, alínea “i” da 
Convenção de Viena de 1961, que trata sobre a inviolabilidade da sede e da 
residência particular dos agentes diplomáticos (Brasil, 1965). 
 Conforme tal imunidade, não é permitido nenhum tipo de ato coercitivo por 
parte das forças locais na sede da missão, sendo que não se pode adentrar a 
sede, nem exercer qualquer função que não lhe seja própria sem a permissão do 
chefe da missão. 
É importante mencionar que essa imunidade tem caráter absoluto. 
2.2 Direito ao asilo diplomático 
 Essa imunidade está inteiramente vinculada à inviolabilidade da sede da 
missão diplomática. O direito ao asilo diplomático estabelece que, em situações 
excepcionais e preexistindo determinadas condições, a embaixada de um Estado 
estrangeiro pode oferecer refúgio a um indivíduo que esteja sendo perseguido 
pelas autoridades locais por razões políticas. 
 Para que esse refúgio possa ser concedido, é necessário que haja as 
seguintes condições: 
a. a natureza política do fato pelo qual o indivíduo é perseguido; 
b. a abstenção por parte do beneficiário do direito de asilo de desenvolver, 
durante a sua permanência na embaixada, qualquer atividade política; 
c. a obrigação, também por parte do indivíduo a quem foi concedido o direito 
de asilo, de deixar a sede diplomática, logo após ter conseguido das 
autoridades competentes um salvo-conduto para alcançar a fronteira e 
expatriar. 
 
 
6 
2.3 Inviolabilidade dos bens da missão diplomática 
 A inviolabilidade dos bens da missão diplomática tem como objetivo 
proporcionar aos diplomatas o desempenho de suas funções, sendo que deve 
esta ser garantida pelo Estado acreditado. 
 A imunidade em comento protege os bens que estejam dentro ou fora da 
missão, e são concedidas, em primeiro lugar, para a proteção dos arquivos onde 
todos os documentos com informações são guardados, isso porque todos os 
documentos de uma missão diplomáticas devem ter caráter sigiloso, pois, caso 
não houvesse o sigilo absoluto decretado nesses documentos, o Estado 
acreditado poderia justificar eventuais violações sob o argumento de que a 
inviolabilidade se aplicaria apenas aos documentos sigilosos e não a todos, 
ocasionando então uma limitação nas atividades diplomáticas. 
 Essa imunidade está prevista, especificamente, no art. 24 da Convenção 
de Viena de 1961 (Brasil, 1965). 
 Além dos documentos, tambémfazem parte dessa imunidade os móveis, 
contas bancárias, carros ou quaisquer meios de transporte que possam conter 
documentos da missão, ou seja, estes também gozam de inviolabilidade e são 
livres de qualquer busca, apreensão judiciária ou administrativa (Sicari, 2007). 
 Atualmente, a imunidade das contas bancárias contra qualquer medida de 
apreensão do Estado acreditante é prevista pelo parágrafo 1°, a, do art. 21 da 
Convenção das Nações Unidas sobre a Imunidade Jurisdicional dos Estados e 
dos seus bens de 2004 (Sicari, 2007). 
 Considerando as características e objetivos acima, a Conferência de Viena 
de 1961, com base nas sugestões da Comissão de Direito Internacional, 
consagrou a imunidade dos bens da missão, mas submetendo-a ao respeito pelas 
leis e pelos regulamentos locais. 
2.4 A liberdade da comunicação diplomática 
Para que a missão diplomática desempenhe suas atividades e funções de 
forma correta, é necessária a comunicação, frequente, com o seu governo de 
origem. Pensando nisso é que existe a confidencialidade e a proteção de tais 
comunicações. 
 
 
7 
 Com base nisso é que há a obrigação do Estado acreditado em proteger o 
segredo da correspondência da missão, não violando nem interceptando ou 
decifrando as comunicações (Sicari, 2007). 
Além disso, é necessário o oferecimento à missão diplomática de todas as 
facilidades para o fluxo de comunicação, garantindo o respeito ao sigilo (Sicari, 
2007). 
 Essa imunidade encontra-se prevista no art. 27, parágrafos 2°, 3° e 4° da 
Convenção de Viena de 1961 (Brasil, 1965). 
2.5 Imunidade de jurisdição da missão diplomática 
 A imunidade de jurisdição da missão diplomática tem como finalidade a 
subtração da jurisdição do Estado acreditado sobre um determinado grupo de 
pessoas, ou seja, os diplomatas, para que desempenhem suas funções de forma 
livre. 
Por exemplo, os agentes diplomáticos brasileiros gozam de imunidades 
quando exercem funções em embaixada do Brasil no exterior e estão imunes à 
jurisdição do país onde se encontram, mas não estão imunes à jurisdição das 
autoridades brasileiras. 
Da mesma forma os agentes diplomáticos de determinado país gozam de 
imunidades quando cumprem missão junto à respectiva embaixada no Brasil, mas 
não estão imunes à jurisdição de seu próprio país (Privilégios..., S.d.). 
2.6 Isenções de natureza fiscal e aduaneira da missão diplomática 
 Os imóveis da missão, sendo ou não de propriedade do Estado acreditante, 
possuem isenção do imposto de compra ou venda de imóveis e do imposto 
predial. Essa prática está prevista na Conferência de Viena de 1961 em seu art. 
23 (Brasil, 1965). 
É importante mencionar que, na prática internacional, os impostos ou taxas 
que representam o pagamento de uma prestação específica de serviço, devem 
ser pagos. 
Trata-se, por exemplo, daqueles serviços prestados não pelo Estado, mas 
por empresas particulares, tais como os serviços de água e esgoto, de iluminação 
pública, de vigilância noturna etc. 
 
 
 
8 
TEMA 3 – IMUNIDADES DOS MEMBROS DA MISSÃO DIPLOMÁTICA 
3.1 Inviolabilidade pessoal dos agentes diplomáticos 
Essa imunidade garante que o Estado acreditado deixe de exercer contra 
os agentes diplomáticos quaisquer atos coercitivos, ou seja, tem como obrigação 
impedir a prática de todo e qualquer ato ofensivo, violento ou injurioso em relação 
à pessoa ou à dignidade do agente diplomático por parte de qualquer autoridade 
ou de particular. Assim, não é permitido prendê-lo ou detê-lo em nenhuma 
hipótese (Sicari, 2007). 
A Convenção de Viena de 1961 reconhece esse mesmo princípio em seu 
art. 29 (Brasil, 1965). 
3.2 Inviolabilidade dos bens dos agentes diplomáticos 
Na prática, isso significa dizer que a inviolabilidade dos bens de um agente 
diplomático é aplicada sobre os documentos, a correspondência, o salário, a conta 
bancária, os móveis etc., sendo que devem ficar ao abrigo de qualquer ato de 
coação tais como o sequestro e a apreensão por parte do Estado acreditado. 
Esse princípio é consagrado pelo parágrafo 2º do art. 30 da Convenção de 
Viena, de 1961 (Brasil, 1965), ou seja, o direito internacional obriga o Estado 
acreditado a garantir a proteção da pessoa do diplomata contra qualquer tipo de 
violência, incluindo a difamação (Sicari, 2007). 
3.3 Imunidade de jurisdição (cível, penal e administrativa) dos agentes 
diplomáticos 
No que tange à esfera penal, os agentes diplomáticos não podem ser 
perseguidos perante os tribunais do Estado acreditado, nem ser investigados por 
nenhuma autoridade judiciária ou de polícia (Sicari, 2007, p.158). 
Essa imunidade é absoluta, valendo tanto para os atos realizados no 
exercício da função diplomática quanto para os atos privados (imunidade penal) 
(Turra; Obregon, 2018). 
Já em relação à imunidade cível, são aquelas de responsabilidade civil a 
que poderia o diplomata ser penalizado, por exemplo, batida de carro, multas de 
trânsito. Nesses casos, o Brasil não poderá executar os bens dos diplomatas 
 
 
9 
(Gouveia, 2015), exceções trazidas pelo art. 31 da Convenção de Viena de 1961 
(Brasil, 1965). 
Por fim, mas não menos importante, temos a imunidade administrativa, em 
que a doutrina admite que o agente goza de imunidade perante os tribunais do 
trabalho e do comércio. 
3.4 Isenções de natureza fiscal e aduaneira dos agentes diplomáticos 
A Convenção de Viena de 1961 consagra esse princípio no começo do art. 
34, no qual determina que o agente diplomático gozará de isenção de todos os 
impostos e taxas, pessoas ou reais, nacionais, regionais ou municipais, 
ressalvadas exceções previstas no mesmo artigo (Brasil, 1965). 
3.5 Imunidades da família do agente diplomático 
Para que os agentes diplomáticos tenham garantias de exercício pleno e 
eficaz de suas funções e atividades, as mesmas imunidades conferidas a estes 
são concedidas universalmente para as famílias dos agentes diplomáticos. 
3.6 Imunidades do pessoal técnico e administrativo 
As imunidades do pessoal técnico e diplomático consistem em (Sicari, 
2007): 
a. inviolabilidade da pessoa, da moradia e de seus bens como os dos agentes 
diplomáticos; 
b. imunidade da jurisdição penal para os atos cumpridos no exercício das 
funções assim como para os atos privados; 
c. imunidade da jurisdição cível e administrativa somente para os atos 
cumpridos no exercício das funções; 
d. isenção da legislação de segurança social do Estado acreditado; 
e. isenção aduaneira para os bens destinados ao uso pessoal e ao da própria 
família. 
 
 
 
10 
3.7 Início e término das funções do agente diplomático 
Em relação a esse período, a Conferência de Viena de 1961 concede ao 
diplomata o início de suas imunidades no momento em que a sua nomeação for 
notificada ao Estado acreditado, permanecendo este último sempre no seu pleno 
direito de recusar a nomeação (Brasil, 1965). 
 Já no que tange ao encerramento dessas imunidades, esta termina quando 
o agente diplomático deixa o território do Estado acreditado ou quando expira o 
prazo razoável acordado para deixar o referido território. Se o agente, no 
vencimento do prazo, não deixar o Estado acreditado, este último pode 
desconhecer suas imunidades (Sicari, 2007). 
A Convenção de Viena, de 1961 consagrou esses princípios no seu art. 39 
(Brasil, 1965). 
 O início e o fim dessas imunidades têm como objetivo regularizar a situação 
daquele agente diplomático que deixará de exercer sua função em prol do 
exercício de um novo agente diplomático. 
3.8 Imunidade do agente diplomático perante terceiros Estados 
 O diplomata em trânsito gozará das seguintes prerrogativas (Sicari, 2007): 
a. o agente diplomático é inviolável e totalmente imune à jurisdição penal; 
b. as bagagens não devem ser objeto de nenhuma medida coercitiva; 
c. o terceiro Estado tem a obrigação de não violar a correspondência 
diplomática e, sobretudo, deve reconhecer a inviolabilidade ao correiodiplomático. 
Entretanto, o agente diplomático, em trânsito não gozará de nenhum 
privilégio em matéria fiscal e aduaneira. 
Além disso, a imunidade cível, se não comportar a necessidade de uma 
detenção, pode ser recusada (Sicari, 2007). A Convenção de Viena, de 1961, 
consagra todos esses princípios, no seu art. 40 (Brasil, 1965). 
 
 
 
11 
TEMA 4 –Término das funções do agente diplomático 
O início da missão de um agente diplomático se fundamenta no acordo 
entre o Estado acreditante e o Estado acreditado, e o término das funções do 
diplomata na missão depende de uma decisão unilateral das partes (Sicari, 2007). 
Há dois grupos de causas para o término das funções do agente 
diplomático: as causas que dependem da vontade do Estado acreditante e as que 
dependem do Estado acreditado. 
4.1 Causas que dependem da vontade do Estado acreditante 
Refere-se ao caso em que o Estado acreditante solicita a volta do agente 
diplomático, sendo os motivos de tal decisão diversos, dentre os quais destaca-
se a mudança de posto do diplomata devido ao longo tempo de serviço no Estado 
acreditado, a idade avançada do agente diplomático, a perda de confiança em 
relação ao diplomata por parte de seu governo, a mudança política do seu 
governo, o descontentamento do Estado acreditante com um comportamento do 
Estado acreditado etc. 
Para que o chefe da missão possa ser chamado de volta por seu Estado 
de origem são necessárias solenidades previstas em lei. O agente diplomático, 
chefe da missão, apresenta ao Chefe do Estado acreditado uma carta de richiamo 
enviada pelo Chefe do Estado acreditante. Nessa ocasião, se a missão do 
diplomata foi satisfatória, o agente diplomático recebe as devidas condecorações 
e remete a carta de recredenciamento ao Chefe do Estado acreditado. Antes de 
partir, o chefe da missão, conforme o protocolo, despedir-se-á do ministro das 
Relações Externas e das outras altas personalidades do Estado acreditado. 
Já nos casos de ruptura das relações diplomáticas ou de guerra ou dos 
outros agentes diplomáticos, a partida do chefe da missão será das mais simples. 
A missão diplomática comunica, por meio de uma notificação ao ministro das 
Relações Externas, o término das funções dos seus agentes, os quais, antes de 
partirem, também se despedirão do ministro das Relações Externas do Estado 
acreditado (Sicari, 2007). 
Esse princípio encontra-se codificado no art. 43 da Convenção de Viena 
(Brasil, 1965). 
 
 
 
12 
4.2 Causas que dependem do Estado acreditado 
Trata-se do caso em que o Estado acreditado declara o agente diplomático 
persona non grata. Os motivos de tal decisão podem ser vários, tais como: a 
ingerência do diplomata nos negócios internos do Estado acreditado, o fato de 
desrespeitar repetidamente as leis e os regulamentos locais, a inimizade com as 
autoridades do Estado acreditado, a atividade de espionagem etc. (Sicari, 2007). 
A vontade do Estado acreditado de dar fim à missão do agente diplomático, 
conforme a doutrina, pode manifestar-se de duas maneiras. Uma delas se dá 
quando o Estado acreditado obriga o Estado acreditante a chamar de volta o 
agente diplomático, ocasionando assim o término da missão. A outra 
manifestação ocorre quando o Estado acreditado expulsa o agente diplomático. 
Conforme a prática internacional, o Estado acreditado tem esse poder jurídico, a 
ele conferido pelo direito internacional (Sicari, 2007). 
Essas práticas se encontram definitivamente consagradas no art. 9 o da 
Convenção de Viena de 1961 (Brasil, 1965). 
TEMA 5 – EXTINÇÃO DA MISSÃO DIPLOMÁTICA 
As causas que podem levar à extinção de uma missão diplomática, e em 
consequência, das funções dos seus membros, são várias e serão abordadas nos 
próximos tópicos (Sicari, 2007). 
5.1 Ruptura de relações diplomáticas 
Trata-se da principal causa e, sobretudo, da mais frequente. Ao contrário 
do estabelecimento das relações diplomáticas, que se fundamenta no 
consentimento mútuo dos Estados, a ruptura de relações diplomáticas é um ato 
unilateral e discricionário do Estado acreditado. A consequência desse ato é a 
extinção da missão diplomática no Estado acreditado, e, pelo princípio de 
reciprocidade, da missão diplomática deste último no Estado acreditante. 
A ruptura das relações diplomáticas pode ter várias causas como: o 
prelúdio a uma guerra, a ação de um grupo de Estados para obrigar um outro a 
agir conforme seus objetivos internacionais, a sanção coletiva por violação de 
obrigação internacional etc. 
De acordo com Silva e Accioly (2002), constata-se a existência de duas 
modalidades de ruptura de relações diplomáticas: uma de desenvolvimento 
 
 
13 
recente, que consiste em sanção votada coletivamente; a outra, a tradicional, é 
quando o Estado procura impor a própria vontade. Ainda, conforme os autores 
brasileiros, a ruptura de relações diplomáticas pode ser simultânea a uma 
declaração de guerra, mas não deve ser vinculada a ela. A retirada de toda a 
missão diplomática pode significar um passo em direção à guerra. 
A ruptura das relações diplomáticas, seja qual for a causa, permanece um 
ato grave, pois é a manifestação de uma profunda crise das relações 
internacionais entre o Estado acreditado e o Estado acreditante. 
A ruptura das relações diplomáticas, que pode ser expressa ou tácita, é 
regulada particularmente pelo art. 45 da Convenção de Viena de 1961 (Brasil, 
1965). 
5.2 Guerra 
 Trata-se da interrupção, por incompatibilidade com a nova situação, das 
relações diplomáticas entre o Estado acreditado e o Estado acreditante. 
A questão dos efeitos da guerra sobre as relações diplomáticas foi objeto 
de discussão no seio da Comissão de Direito Internacional e ficou definido que as 
relações diplomáticas não cessam ipso facto com a declaração de guerra. 
 Isso porque, conforme a Convenção de Viena de 1961, em seu art. 44: 
O Estado acreditado deverá mesmo no caso de conflito armado, 
conceder facilidades para que as pessoas que gozem de privilégios e 
imunidades, e não sejam nacionais do Estado acreditado, bem como os 
membros de suas famílias, seja qual for a sua nacionalidade, possam 
deixar o seu território o mais depressa possível. Especialmente, deverá 
colocar à sua disposição, se necessário, os meios de transporte 
indispensáveis para tais pessoas e seus bens (Brasil, 1965). 
Dessa forma, conforme o artigo transcrito acima, até que os membros da 
missão diplomática se retirem do território no qual exercem a diplomacia, a eles 
lhes são garantidas as imunidades previstas na Convenção, o que nos leva a 
concluir que a Guerra por si só não é motivo para a extinção da missão diplomática 
e sim a saída de seus membros do território no qual estão. 
5.3 Perda da personalidade jurídica internacional do Estado acreditante ou 
do acreditado 
Trata-se dos casos de extinção do Estado como o desmembramento, a 
anexação, a fusão etc. Dessa forma, independentemente do motivo, quando 
 
 
14 
surgem novas entidades, conforme a prática, é possível que a missão diplomática 
que representava o Estado extinto passe a representar o novo. 
É importante mencionar que, quando é o Estado acreditado perde a 
personalidade jurídica internacional, a missão diplomática se transforma em 
Consulado Geral, em consideração da natureza de órgão interno própria do 
Cônsul (Sicari, 2007). 
5.4 Não reconhecimento do governo do Estado acreditado pelo Estado 
acreditante e vice-versa 
Como visto anteriormente, a missão diplomática é o órgão das relações 
internacionais de um determinado Estado e, ao mesmo tempo, o instrumento por 
meio do qual um governo desempenha a própria política externa. 
Assim, se o Estado acreditado não entende reconhecer o governo do 
Estado acreditante, a missão diplomática, salvo exceções, se extingue, aplicando-
se a mesma lógica no caso inverso, quando, devido a uma série de situações 
particulares, o Estado acreditante não reconheceo governo do Estado acreditado. 
5.5 Supressão 
Refere-se à extinção da missão diplomática por motivos de orçamento. 
Essa causa não influi sobre as relações internacionais dos Estados em causa; 
conforme a prática, tais relações são garantidas pela missão diplomática de um 
terceiro Estado. 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
ACCIOLY, H. Tratado de direito internacional público. 3. ed. São Paulo: 
Quartier Latin, 2009. 
BRASIL. Decreto 56.435, de 8 de junho de 1965. Diário Oficial da União, Poder 
Legislativo, Brasília, DF, 11 jun. 1965. 
GOUVEIA, T. Imunidades e privilégios diplomáticos. JusBrasil, 2015. Disponível 
em: <https://thaynerck.jusbrasil.com.br/artigos/258931610/imunidades-e-
privilegios-diplomaticos>. Acesso em: 29 nov. 2019. 
PRIVILÉGIOS e imunidades de missões diplomáticas. Ministério das Relações 
Exteriores, S.d. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-
BR/representacoes-diplomaticas-estrangeiras-no-brasil/18169-acordos-
internacionais>. Acesso em: 29 nov. 2019. 
SICARI, V. R. O direito nas relações diplomáticas. São Paulo: Del Rey, 2007. 
SILVA, G. E. N.; ACCIOLY, H. Manual de direito internacional público, 15. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2002. 
TURRA, G. S.; OBREGON, M. F. Imunidade diplomática e a aplicação da lei penal 
local. Derecho y cambio social, 1 out. 2018. Disponível em: 
<http://www.derechoycambiosocial.com/revista054/IMUNIDADE_DIPLOMATICA.
pdf>. Acesso em: 29 nov. 2019. 
 
 
https://thaynerck.jusbrasil.com.br/artigos/258931610/imunidades-e-privilegios-diplomaticos
https://thaynerck.jusbrasil.com.br/artigos/258931610/imunidades-e-privilegios-diplomaticos
AULA 4 
DIREITO DIPLOMÁTICO 
E CONSULAR 
Prof. Arthur Augusto Garcia 
 
 
2 
TEMA 1 – RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS E CONSULARES 
As relações diplomáticas e consulares são importantes para que seja 
estabelecido o grau de cordialidade entre as nações. Contudo, isso não significa 
que relações diplomáticas e consulares são sinônimas. 
Veremos a seguir as diferenças entre essas relações perante o Direito 
Internacional. 
1.1 Breve histórico 
Antes de diferenciarmos as relações diplomáticas das relações consulares, 
é imperioso analisar a origem e o objetivo de cada uma delas, para que tenhamos 
uma base para compreender seus institutos e suas características. 
Estas relações acontecem desde os períodos iniciais das civilizações grega 
e romana, entretanto, não havia uma estabilidade em virtude de não apresentarem 
uma base sólida na resolução de assuntos pertinentes às relações dos países, 
bem como em relação ao “Diplomata”. 
Neste mesmo período histórico surgiram também as relações consulares, 
iniciadas nas civilizações grega e romana, que tinham mais foco nas resoluções 
de conflitos entre as nações do que propriamente o Estado, como ocorre nas 
relações diplomáticas. 
Durante as Cruzadas (1095-1492 d.C.), por exemplo, em que os europeus 
disputavam com povos do Oriente Médio, também era necessário enviar 
representantes confiáveis para a resolução de divergências entre os seus 
conterrâneos e os estrangeiros. A pessoa enviada recebia o nome de “juiz”, que 
futuramente se tornaria o chamado “Cônsul”. 
Em 1648, na chamada “Paz de Westfália”, houve uma espécie de 
oficialização das chamadas relações diplomáticas, tornando-as permanente. 
Todavia, estas permaneceram na base dos costumes, o que deixava a matéria 
confusa e com ausência de segurança jurídica, visto que cada país tinha uma 
forma diferente de tratar as relações exteriores. 
Somente após a Convenção de Viena de 1961 que a diplomacia passou a 
ter homogeneidade, com a disposição de regras e regulamentos próprios. 
Foi também após a referida convenção que ficaram estabelecidas as 
atribuições que regulamentariam as relações no âmbito internacional. 
 
 
 
3 
1.2 Diferença entre as Relações Diplomáticas e as Relações Consulares 
Foi por meio das regulamentações, normas e convenções que ficou nítida 
a diferenciação de ambos os institutos, visto que desempenham funções distintas 
em seu modo de atuação. 
A Diplomacia trata de assuntos dos Estados e os Consulares, dos 
interesses dos particulares, ou seja, das pessoas físicas e jurídicas no exterior. 
Aos Cônsules são atribuídas as funções de registro, por exemplo, de nascimento 
e casamento. É também função dos Cônsules zelar pelos nacionais de seu país 
de origem que se encontram em situações delicadas no estrangeiro, como 
enfermidades, problemas jurídicos e até casos de óbito. 
É por estas funções que os Consulado e, consequentemente, os Cônsules 
estão alocados nas cidades em que maior número de particulares eventualmente 
precisarão de auxílio. Para visualizarmos tal função, pensemos em um brasileiro 
que se encontra em Londres, na Inglaterra, e precise de um auxílio referente a um 
registro. É pelo Consulado do Brasil na Inglaterra que o brasileiro terá o auxílio 
necessário, e não na sede de uma Missão Diplomática. 
No que tange ao Diplomata, este tem um papel político para com o seu país 
de origem. A ele é atribuída a função de representar seu Estado na comunidade 
internacional, bem como de desempenhar o papel de negociador dos interesses 
de sua nação perante outra. 
Outra função atribuída ao Diplomata é a de prestar informação ao Estado 
acreditante (país de origem) em relação às condições presentes no Estado 
acreditado (local da sua missão), de maneira que a embaixada deve 
obrigatoriamente ser estabelecida na capital de cada estado onde a missão se 
encontra. 
TEMA 2 – IMUNIDADES E PRIVILÉGIOS DOS DIPLOMATAS 
Aos diplomatas são concedidas certas imunidades e privilégios para que 
não haja óbice no exercício de sua função para com a missão diplomática. É 
importante mencionar que há imunidades concedidas às missões diplomáticas, 
aos membros da missão diplomática e ao seu chefe, que, neste caso, é o 
Diplomata, de modo que as imunidades relativas aos primeiros já foram objeto de 
estudo nas aulas anteriores. 
 
 
4 
Privilégios, atribuições e imunidades concedidas aos Diplomatas estão 
regulamentados pela Convenção de Viena de 1961 que trata sobre as relações 
diplomáticas. 
2.1 Inviolabilidade Pessoal do Diplomata 
Não só a missão diplomática tem esta prerrogativa como também a pessoa 
do Diplomata, sendo esta característica a mais importante, pois protege o agente 
diplomático, com base no art. 29, que aduz: 
“A pessoa do agente diplomático é inviolável. Não poderá ser objeto de 
nenhuma forma de detenção ou prisão. O estado acreditado tratá-lo-á 
com o devido respeito e adotará todas as medidas adequadas para 
impedir qualquer ofensa à sua pessoa, liberdade ou dignidade”. 
A doutrina no que diz respeito a esta inviolabilidade pessoal do Diplomata 
entende que tal prerrogativa é a base para todas as demais que estudaremos a 
seguir, e que, mesmo nos tempos da idade antiga, já vinha sendo aplicada. 
Um exemplo claro dessa imunidade na Antiguidade é que os 
emissários/mensageiros podiam transitar entre diferentes povos sem que fossem 
objeto de qualquer violação. 
A Convenção de Viena de 1961 é clara ao afirmar que o Estado acreditado 
tem a obrigação de coibir a prática de qualquer ato ofensivo, injurioso ou violento 
contra a pessoa e a dignidade do Diplomata. 
Vale salientar a não especificidade dos casos considerados ofensivos, 
injuriosos ou violentos, sendo tais conceitos intrínsecos na Convenção de Viena 
de 1961 sobre as Relações Diplomáticas. Em outras palavras, seus sentidos são 
muito amplos. 
Entretanto, é pacífico que o Diplomata não pode ser preso ou detido por 
qualquer pessoa, seja por particular ou autoridade, do Estado em que se encontra 
estabelecida a Missão Diplomática por ele chefiada. 
2.2 Liberdade de Movimento do Diplomata 
Esta prerrogativa, também muito importante no exercício das funções pelo 
Diplomata, é prevista no art. 26 da Convenção de Viena de 1961 sobre as relações 
diplomáticas, que prevê: “art. 26: Salvo o disposto nas leise regulamentos 
relativos a zonas cujo acesso é proibido ou regulamentado por motivos de 
 
 
5 
segurança nacional, o Estado acreditado garantirá a todos os membros da Missão 
a liberdade de circulação e trânsito em seu território”. (1961) 
A liberdade de movimento é a mais abrangente das imunidades concedidas 
ao Diplomata, uma vez que tal liberdade garante ao Diplomata o trânsito por 
qualquer lugar que não seja motivadamente proibido ou regulamento. 
Esta ideia surgiu no pós-guerra (1948), pois a extinta URSS demarcava 
diversas zonas com caráter proibitivo, onde a entrada dependia de autorização, 
nas quais os Diplomatas sofreram restrições de movimentações. Assim, o referido 
art. 26 tinha como objetivo definir a proibição de entrada do Diplomata em 
determinados locais como exceção, e não regra, como ocorreu no pós-guerra. 
Corroborando com tal entendimento, Silva (2015) aduz que a intenção 
legislativa à elaboração do art. 26 era de que as proibições de ingresso em 
determinadas zonas resultado de lei ou regulamento visando a todos os 
habitantes do país, e não, especificamente, aos agentes diplomáticos 
estrangeiros. Outrossim, a restrição prevista deve ser a exceção, a regra é a 
liberdade de locomoção 
Dessa forma, a liberdade de movimento não significa que o Diplomata tem 
passe livre, condicionado apenas à sua vontade de ir e vir, mas sim de promover 
uma garantia que não lhe impeça realizar movimentações que acarretem prejuízo 
ao objetivo da missão diplomática, da sua função ou até mesmo que haja a 
discriminação do Diplomata em face de outras pessoas naturais do Estado em 
que se encontra. 
Esta imunidade deve ser garantida ao Diplomata porque, de outra forma, 
ele poderia ser impedido de realizar seu trabalho plenamente apenas pelo fato de 
não ter a mesma mobilidade que as pessoas nascidas naquele país. 
 É importante salientar que tal imunidade é exclusiva do Diplomata, e não 
se estende, por exemplo, à equipe técnica da missão, que é composta de 
cidadãos do Estado acreditado, uma vez que naturalmente já têm tal liberdade de 
movimentação. 
Por fim, ressalta-se que isso de maneira alguma significa que o agente 
diplomático pode locomover-se ou manter-se onde quiser. Os locais privados ou 
que, em razão de segurança, têm restrição de acesso, até mesmo aos cidadãos 
daquele Estado, podem restringir acesso também ao agente diplomático sem que 
isso configure violação ao art. 26 da CVRD. 
 
 
 
6 
2.3 Liberdade de Comunicação do Diplomata 
Tal imunidade tem previsão legal na Convenção de Viena de 1961, 
especificamente em seu art. 27, que aduz: 
Art. 27: 
1. O Estado acreditado permitirá e protegerá a livre comunicação da 
Missão para todos os fins oficiais. Para comunicar-se com o Governo e 
demais Missões e Consulados do Estado acreditante, onde quer que se 
encontrem, a Missão poderá empregar todos os meios de comunicação 
adequados, inclusive correios diplomáticos e mensagens em códigos ou 
cifra. Não obstante, a Missão só poderá instalar e usar uma emissora de 
rádio com o consentimento do Estado acreditado; 
2. A correspondência oficial da Missão é inviolável. Por correspondência 
oficial entende-se toda correspondência concernente à Missão e suas 
funções; 
3. A mala diplomática não poderá ser aberta ou retida; 
4. Os volumes que constituam a mala diplomática deverão conter sinais 
exteriores visíveis que indiquem o seu caráter e só poderão conter 
documentos diplomáticos e objetos destinados a uso oficial; 
5. O correio diplomático, que deverá estar munido de um documento 
oficial que indique sua condição e o número de volumes que constituam 
a mala diplomática, será, no desempenho das suas funções, protegido 
pelo Estado acreditado; 
6. O Estado acreditante ou a Missão poderão designar correios 
diplomáticos " ad hoc ". Em tal caso, aplicar-se-ão as disposições do 
parágrafo 5 deste artigo, mas as imunidades nele mencionadas deixarão 
de se aplicar, desde que o referido correio tenha entregado ao 
destinatário a mala diplomática que lhe fora confiada; 
7. A mala diplomática poderá ser confiada ao comandante de uma 
aeronave comercial que tenha de aterrissar num aeroporto de entrada 
autorizada. O comandante será munido de um documento oficial que 
indique o número de volumes que constituam a mala, mas não será 
considerado correio diplomático. A Missão poderá enviar um de seus 
membros para receber a mala diplomática, direta e livremente, das mãos 
do comandante da aeronave. 
Mesmo que a liberdade de comunicação tenha um conceito muito alterado 
durante os anos, ela é considerada umas das principais imunidades concedidas 
ao Diplomata, podendo, inclusive, ser comparada, em grau de importância, com 
as que estudamos anteriormente (pessoal e movimento). 
Tais alterações mencionadas se devem ao fato de alguns meios de 
comunicação elencados no art. 26 da CVRD terem caído em desuso em virtude 
da evolução tecnológica ocorrida a partir de 1961, ano de criação da regra, como 
a correspondência, por exemplo. 
Todavia, mesmo que tenha ocorrido grande modificação e modernização 
na forma de se comunicar, é indispensável para o cumprimento das funções do 
Diplomata que este dispositivo legal, ainda que de maneira adaptada para as 
formas modernas de comunicação. A imunidade deve ser respeitada e aplicada. 
 
 
7 
Desta forma, a liberdade de comunicação deve ser aplicada em todas as 
formas de comunicação do diplomata para com o seu Estado, seja via telefone, e-
mails, malotes, cabendo ao Estado acreditado a efetivação desta regra, 
garantindo o seu sigilo e sua inviolabilidade. 
2.4 Imunidade de Jurisdição (Cível, Penal e Tributária) do Diplomata 
A imunidade de jurisdição, ou imunidade à jurisdição estatal, como também 
é chamada, consiste na característica concedida por Lei ao Diplomata que o torna 
imune à incidência da lei do estado acreditado. Esta imunidade é justificada pela 
teoria do interesse da função, que justifica a imunidade de jurisdição da missão 
diplomática, a qual estudamos anteriormente. 
Esta teoria, que hoje é aplicada pela maioria da jurisprudência internacional 
e pela doutrina, trata de reconhecer que tais imunidades e privilégios são 
concedidos para a garantia das funções do Diplomata que decorrem do exercício 
de sua função para com a Missão Diplomática. Ou seja, tais imunidades não têm 
como objetivo o benefício individual do Diplomata, mas sim assegurar que este 
desempenhe suas funções para o bem da coletividade (Mello, 2001). 
A Imunidade de Jurisdição pode ser Cível, Penal e Tributária, as quais 
veremos a seguir. 
2.4.1 Imunidade Cível 
Entende-se como imunidade de jurisdição cível a prerrogativa que torna o 
Diplomata imune à jurisdição local, todavia podem ser julgados pelo seu Estado 
que representa com base nas suas leis. 
2.4.1 Imunidade Penal 
Trata-se da mais controversa imunidade mediante a opinião púbica e, 
conforme Moreira (2002), aplica-se, outrossim, o disposto no art. 31, parágrafo 4, 
da CRVD, que evita que a imunidade de jurisdição criminal do agente diplomático 
venha a significar impunidade. 
Na prática, observa-se, de igual modo, ceticismo quanto à retomada da 
ação penal nos tribunais do Estado acreditante. As consequências morais e 
administrativas da ação do Estado acreditado podem, no entanto, constituir 
sanção efetiva contra o agente faltoso. 
 
 
8 
Vale esclarecer que esta imunidade não tem o propósito de beneficiar o 
Diplomata ou até mesmo lhe promover uma impunibilidade em relação a qualquer 
ato criminoso que venha a cometer, ao passo de que as autoridades legais podem 
apresentar queixa ao estado de origem do Diplomata, onde caberá a este acusa-
lo ou não. 
2.4.2 Imunidade Tributária 
Esta imunidade encontra-se prevista no art. 23, parágrafos 1° e 2° da 
Convenção de Viena sobre as relações Diplomáticas, a qual aduz que o Diplomata 
é isento de taxas e impostos para com o estado acreditante. 
Artigo 23:1. O Estado acreditante e o Chefe da Missão estão isentos de todos os 
impostos e taxas, nacionais, regionais ou municipais, sobre os locais da 
Missão de que sejam proprietários ou inquilinos, excetuados os que 
representem o pagamento de serviços específicos que lhes sejam 
prestados. 
2. A isenção fiscal a que se refere este artigo não se aplica aos impostos 
e taxas cujo pagamento, na conformidade da legislação do Estado 
acreditado, incumbir as pessoas que contratem com o Estado 
acreditante ou com o Chefe da Missão. 
Ainda, também está previsto no mesmo tratado, em seu art. 34, essa 
mesma isenção por parte de seus agentes. 
Artigo 34: O agente diplomático gozará de isenção de todos os impostos 
e taxas, pessoais ou reais, nacionais, regionais ou municipais, com as 
exceções seguintes: 
a) os impostos indiretos que estejam normalmente incluídos no preço 
das mercadorias ou dos serviços; 
b) os impostos e taxas sobre bens imóveis privados situados no território 
do Estado acreditado, a não ser que o agente diplomático os possua em 
nome do Estado acreditante e para os fins da missão; 
c) os direitos de sucessão percebidos pelo Estado acreditado, salvo o 
disposto no parágrafo 4 do artigo 39; 
d) os impostos e taxas sobre rendimentos privados que tenham a sua 
origem no Estado acreditado e os impostos sobre o capital, referentes a 
investimentos em empresas comerciais no Estado acreditado. 
e) os impostos e taxas que incidem sobre a remuneração relativa a 
serviços específicos; 
f) os direitos de registro, de hipoteca, custas judiciais e imposto de selo 
relativos a bens imóveis, salvo o disposto no artigo 23. 
Todavia, é importante mencionar que há exceções para esta imunidade 
tributária, visto que, mesmo que o Diplomata seja isento a determinados tributos 
pela Convenção de Viena, ele deve pagar tributos que são cobrados de forma 
indireta pela utilização de serviços ou bens (Rezek, 2008). 
 
 
9 
Assim, entende-se que a imunidade tributária foi instituída de forma relativa, 
com cautela e acertadamente, uma vez que, se a imunidade fosse absoluta, 
acarretaria diversos problemas ao estado acreditado. 
TEMA 3 – IMUNIDADES E PRIVILÉGIOS DOS CÔNSULES 
Primeiramente, é importante relembrar que os Cônsules desempenham 
funções de interesse dos seus nacionais, ou seja, notarial ou de registro, além da 
função consular propriamente dita. 
 Na primeira, o Cônsul desempenha as funções de tabelião, realizando 
registros de nascimento, óbito, procuração, contratos, autenticação de 
documentos etc. Na última, o Cônsul tem como função promover o auxílio aos 
nacionais em situação de vulnerabilidade, ou seja, pessoas presas, doentes etc. 
 Já em relação aos privilégios e às imunidades concedidas aos Cônsules, 
estas apresentam bastante semelhança com a concedida aos diplomatas, 
diferindo em relação à abrangência, ou seja, são menos amplas que as dos 
Diplomatas. 
3.1 Inviolabilidade Pessoal 
Da mesma forma como ocorre com o Diplomata, também é garantida ao 
Cônsul a inviolabilidade pessoal, ou seja, o Estado no qual o Cônsul se encontra 
deve garantir proteção contra atos injuriosos, físicos ou violentos à sua pessoa. 
É importante mencionar que a inviolabilidade da bagagem pode ser 
relativizada quando não tem fim compatível com o exercício da função consular. 
No que tange à residência do Cônsul, esta também é inviolável, todavia sua 
regra não se aplica aos demais agentes consulares, com exceção do campo 
tributário. 
3.2 Imunidade Penal 
Ao contrário do Diplomata, que tem imunidade penal de forma absoluta, ao 
Cônsul a imunidade penal é aplicada de forma relativa. 
Assim, é possível que o Cônsul seja preso em caso de crime grave ou em 
caso de decisão judicial definitiva. Entretanto, o processo judicial deve buscar não 
impedir o exercício da função consular. 
Por fim, a imunidade penal não é estendida aos familiares do Cônsul. 
 
 
10 
3.3 Imunidade Cível 
O Cônsul tem imunidade cível pelos atos praticados no exercício de suas 
funções, ou seja, ela é relativa, e não absoluta. A exceção está no contrato em 
que o funcionário não tiver realizado como agente estatal. Esta imunidade também 
não se aplica aos seus familiares. 
3.4 Imunidade Tributária 
Aqui temos a primeira semelhança em comparativo com as imunidades dos 
diplomatas. O Cônsul tem imunidade tributária em relação aos impostos do país 
no qual exerce suas atividades estatais, com exceção daqueles cobrados pelo 
consumo de bens e serviços (transporte, energia elétrica, saneamento etc.). 
3.5 Obrigação de depor como testemunha 
O Cônsul não pode ser obrigado pelo Estado onde se encontra a prestar 
depoimento na qualidade de testemunha, contudo, essa imunidade se aplica 
apenas aos atos realizados na função estatal que desempenha, ou seja, o 
depoimento não pode versar sobre assuntos consulares. 
TEMA 4 – CONSULADO HONORÁRIO E SUAS FUNÇÕES 
4.1 Consulado Honorário 
O objetivo central das repartições honorárias é promover a defesa e 
garantia de direitos e assistências, emergenciais ou não, dos membros da 
comunidade brasileira, sejam eles de passagem ou residentes, na jurisdição do 
consulado. 
4.2 Funções dos Consulados Honorários 
Os consulados honorários têm como funções: 
a) Prestação de assistência a cidadãos brasileiros que dela necessitem, em 
coordenação com o Posto consular ao qual se subordinam; 
b) Visitas aos cidadãos brasileiros em centros de detenção; 
c) Apoio para os Consulados Itinerantes, na sua divulgação, preparação, 
realização e identificação de local; 
 
 
11 
d) Organização e participação em encontros e outras atividades que envolvam 
a comunidade brasileira local; 
e) Processamento de matrículas a serem incorporadas posteriormente ao 
banco de dados da Repartição Consular a que se subordina; 
f) Em coordenação com a Repartição Consular a que se subordina, fomento 
ao desenvolvimento das relações comerciais, econômicas, culturais e 
científicas do Brasil, inclusive mediante prestação de apoio a delegações 
brasileiras. 
4.2 Escolha dos Cônsules Honorários 
Essa escolha recai em pessoas que mantenham vínculos com o Brasil e, 
sobretudo, com a comunidade brasileira no local onde exercem suas funções e 
que, em virtude de seu trânsito nos demais locais, mantenham condições próprias 
do desempenho pleno das funções descritas anteriormente. 
São direcionadas pelos postos as escolhas de candidatos que, geralmente, 
possuem no mínimo o conhecimento da língua portuguesa ou que geralmente 
tenham condições de contar com intérpretes cujos serviços podem ser solicitados 
em prazo hábil. 
4.3 Tempo de Mandato 
O Ministério das Relações Exteriores, juntamente dos Postos que se 
subordinam às Repartições Consulares Honorárias, definem os mandatos de 
quatro anos, que podem ser prorrogados por mais quatro anos, existindo 
eventualmente casos em que os mandatos têm duração inferior a este período. 
Os postos encaminham avaliação anual de desempenho dos titulares de 
Consulados Honorários, inclusive considerações a respeito da conveniência ou 
não de manter, substituir ou encerrar atividades em determinados Consulados 
Honorários. 
4.4 Renúncia dos Privilégios 
O Estado acreditante tem prerrogativa de renunciar expressamente a 
imunidade de jurisdição de seus agentes diplomáticos e das demais pessoas 
pertencentes. 
 
 
12 
Tal possibilidade é prevista no art. 32, parágrafo 1° da Convenção de Viena 
de 1961. 
Artigo 32 
1. O Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos 
seus agentes diplomáticos e das pessoas que gozam de imunidade nos 
termos do artigo 37. 
2. A renúncia será sempre expressa. 
3. Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de 
jurisdição nos termos do artigo 37 inicia uma ação judicial, não lhe será 
permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma 
reconvenção ligada à ação principal. 
4. A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às açõescivis ou 
administrativas não implica renúncia a imunidade quanto as medidas de 
execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária. 
Já sabemos que os funcionários consulares têm alguns privilégios para 
facilitar o exercício de suas funções, contudo estes podem ser renunciados pelo 
Estado acreditante. 
Essa renúncia deve ser expressa e, conforme elucida Campos (2012), 
somente o Estado acreditante pode renunciar as imunidades de ordem penal e 
cível dos representantes diplomáticos e consulares. 
TEMA 5 – DIFERENÇAS ENTRE CÔNSULES E DIPLOMATAS 
No meio social, é muito comum realizar confusões entre as carreiras 
consular e diplomática, e diariamente nos deparamos com pessoas definindo o 
diplomata com atribuições consulares e vice-versa. Isso é comum até mesmo 
entre os profissionais do direito, pois existe certa nebulosidade sobre o tema. 
Contudo, pensemos: Qual é a real diferença entre os dois? 
Ambas as figuras estão inseridas no Direito Internacional, estando 
presentes ao lado do presidente da República e do ministro das Relações 
Exteriores (no caso do Brasil), em que ambos figuram como agentes de 
representação internacional dos Estados soberanos. 
A diferença mora nas atribuições que cada figura tem em relação às suas 
carreiras. Os agentes diplomáticos têm como chefe o Embaixador, estes são 
encarregados da nobre missão de representação do Estado no que tange a 
assuntos públicos e políticas no exterior, já os membros do corpo consular são 
encarregados dos interesses privados de seus nacionais. 
Os cônsules desempenham basicamente duas funções essenciais, ligadas 
ao interesse dos seus nacionais: a função notarial ou de registro e a função 
consular propriamente dita. 
 
 
13 
a) Função Notarial ou de Registro do Consul: equipara-se à função dos 
tabeliões, ou seja, de realizar registros de nascimento, óbito, procurações, 
contratos, autenticações de documentos etc. 
b) Função Consular: o cônsul tem como atribuição o gerenciamento dos 
auxílios concedidos a nacionais em situação de vulnerabilidade, em 
especial àqueles que estão presos ou doentes. 
 Os agentes diplomáticos, por sua vez, representam e promovem os 
interesses brasileiros no plano internacional, fortalecendo os laços de cooperação 
do seu país com os demais países. Ou seja, apresentam funções ligadas ao 
Estado que representa, e não aos nacionais, como os cônsules. 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Decreto n. 54.435, de 8 de junho de 1965. Convenção de Viena Sobre 
Relações Diplomáticas. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 jun. 1965. 
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D56435.htm>. 
Acesso em: 27 nov. 2019. 
MELLO, C. D. de A. Curso de Direito Internacional Público. 13. ed. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2001. 
MOREIRA LIMA, S. E. Privilégios e Imunidades diplomáticas. Brasília: Instituto 
Rio Branco; Fundação Alexandre de Gusmão, 2002. 
REZEK, F. Curso Elementar de Direito Internacional Público. 11. ed. rev. atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008. 
SILVA, G. E. do N. e. Direito Internacional Diplomático. 4 ed. São Paulo: 
Saraiva, 2015. 
 
 
 
AULA 5 
DIREITO DIPLOMÁTICO 
E CONSULAR 
Prof. Arthur Augusto Garcia 
 
 
2 
TEMA 1 – MEIOS DIPLOMÁTICOS DE RESOLUÇÃO PACÍFICA DE 
CONTROVÉRSIAS INTERNACIONAIS 
Anteriormente, adentramos nas modalidades de resolução pacífica de 
controvérsias dentro do Direito Diplomático e Consular. Agora, é importante 
entendermos a natureza dessas modalidades e também os limites impostos a ela. 
A institucionalização dos mecanismos de solução de controvérsias entre os 
Estados é o caminho para a redução dos efeitos destruidores sobre o sistema que 
decorrem de tensões, bem como da permanência de controvérsias mal resolvidas 
ou não resolvidas entre os Estados soberanos. No contexto pós-moderno, espera-
se que tais controvérsias sejam resolvidas de maneira pacífica, mediante 
mecanismos jurídicos e arbitrais. 
 Existem vários meios de resolução pacífica de controvérsias internacionais, 
divididos em três categorias: duas de caráter amistoso (meios diplomáticos e 
meios jurídicos) e a última de caráter não amistoso (meios coercitivos) (Moraes, 
2012), 
 Via de regra, os métodos coercitivos constituem-se em sanções, e a sua 
utilização por organizações internacionais, como é o caso de decisões do 
Conselho de Segurança das Nações Unidas, retrata um meio aceitável de 
implementação do direito internacional. Contudo, quando temos uma sanção 
aplicada unilateralmente por um Estado mais poderoso em relação ao outro, os 
meios coercitivos não se justificam (Moraes, 2012). 
 Agora, veremos os meios diplomáticos de resolução de controvérsias, 
sendo eles: negociações diretas, congressos e conferências, os bons ofícios, 
mediações e os sistema consultivo. 
1.1 As Negociações direitas 
 Aqui, temos o meio usual, que geralmente chega aos melhores resultados 
para a solução de divergência entre os estados. Essas negociações podem variar 
de acordo com a gravidade do problema (Nunes, 2015). 
Nos de menor importância, a solução encontrada se dá através de um 
entendimento verbal que ocorre entre a missão diplomática e o Ministério das 
Relações Exteriores local. Já nos de maior gravidade, essa solução pode ser 
encontrada mediante entendimento entre os altos funcionários dos dois governos, 
ou seja, geralmente entre os próprios ministros das relações exteriores. Essas 
 
 
3 
resoluções podem ocorrer por desistência, aquiescência e transação (Nunes, 
2015). 
 Quando um governo renuncia a pretensão de um direito que causava o 
conflito, estamos diante da desistência. Todavia, quando um Estado reconhece a 
pretensão do outro e isso coloca fim à controvérsia, teremos uma aquiescência. E 
por fim, quando ocorre a concessão recíproca na resolução do conflito, chamamos 
de transação. 
1.2 Congressos e Conferências 
 Quando há um interesse mútuo de diversos Estados na resolução do 
conflito, bem como há em vista a solução de um conjunto de questões sobre a 
qual há divergências, essas são resolvidas através de congressos ou por meio de 
uma conferência internacional. 
 Hoje em dia, esses tipos de problemas, de caráter litigioso ou não, são 
resolvidos na Assembleia Geral das Nações Unidades e, caso envolva Estados 
latino-americanos, por meio da Organização dos Estados Americanos (OEA). A 
princípio, não há uma definição da diferença entre congressos e conferências 
diplomáticas internacionais, visto que ambas consistem em reuniões de 
representantes de estados, devidamente autorizados para a discussão de 
questões internacionais (Guerra, 2017). 
 Houve um tempo em que a denominação de congresso era reservada às 
reuniões de soberanos ou chefes de estados. Já as conferências são as demais, 
aquelas que não se enquadravam na definição anterior. Entretanto, hoje essa 
definição já não é mais utilizada (Guerra, 2017). 
1.3 Bons Ofícios 
Essa modalidade de resolução pacífica de controvérsias se trata da 
tentativa amistosa de estados litigantes de encontrarem um acordo. Estes podem 
ser oferecidos ou solicitados por qualquer um dos Estados litigantes. 
Nessa modalidade, o estado ou os estados que os oferecem ou que os 
aceitam não tomam partido direto nas negociações, nem no acordo a que os 
litigantes possam chegar. A intervenção tem como objetivo colocá-los em um 
terreno neutro, em que possam realizar as discussões livremente. 
 
 
4 
É importante mencionar que essa modalidade de resolução não se 
caracteriza como uma resolução não amistosa, tampouco quando há a recusa em 
exercê-la. 
 Como exemplo histórico dessa modalidade, temos o governo português, 
em 1895, para a solução da questão da Ilha da Trindade, entre o Brasil e a Grã-
Bretanha; os do Presidente Theodore Roosevelt dos Estados Unidos da América, 
em 1905, para a conclusão da guerra entre o Japão e a Rússia; os do Brasil, em 
1909, para a reconciliação do Chile com os EstadosUnidos, a propósito da 
reclamação da firma Alsop & Cia., e em 1934, entre o Peru e a Colômbia, no caso 
de Letícia (Kasper, 2019). 
1.4 A mediação 
 Essa forma de resolução de conflitos consiste na interposição amistosa de 
um ou mais Estados, entre outros Estados, para a resolução pacífica de um 
conflito. Todavia, na prática, nem sempre é possível destituir a mediação dos bons 
ofícios. 
 A princípio, pode-se dizer que a mediação se distingue dos bons ofícios 
quando, ao contrário do que ocorre com estes, é constituída uma forma de 
participação direta nas negociações entre os estados litigantes. 
 Outra diferenciação que podemos fazer é no que tange à intervenção, 
propriamente dita, quando o estado mediador, ao contrário do que intervém, se 
abstém de impor a sua vontade (Moraes, 2012). 
 Da mesma forma que os bons ofícios, a mediação pode ser oferecida ou 
solicitada, bem como recusada, e isso não traz um caráter de ato inamistoso. 
 São exemplos e resolução por mediação o do Papa Leão XIII, em 1885, no 
conflito entre a Alemanha e a Espanha, sobre as ilhas Carolinas; o da Inglaterra, 
entre o Brasil e Portugal, para o reconhecimento da independência política 
brasileira, consagrado no Tratado de Paz e Amizade celebrado no Rio de Janeiro 
em 29 de agosto de 1825; o da Bolívia e o Paraguai, de 1935 a 1938, para o 
término da guerra do Chaco e consequente celebração da paz; o da Inglaterra, 
entre o Brasil e a Argentina, durante a guerra da Cisplatina, e cujo resultado foi a 
Convenção Preliminar de Paz, pela qual se reconheceu a independência do 
Uruguai o de seis países americanos (Brasil, Argentina, Chile, Estados Unidos da 
América, Peru e Uruguai (Unimonte, 2017). 
 
 
 
5 
1.5 O sistema consultivo 
Outro método de resolução pacífica de controvérsias internacionais é a 
consulta, que pode ser conceituada como uma troca de opiniões entre dois ou 
mais governos que, direta ou indiretamente, estão interessados no litígio 
internacional. 
Nessa concepção, as consultas vêm figurando em acordos internacionais, 
ao menos desde o tratado firmado em Washington, no dia 13 de dezembro de 
1921, entre os Estados Unidos da América, o Império Britânico, a França e o 
Japão no que tange à posse ou domínios insulares no Oceano Pacífico. 
 Todavia, foi no continente americano que essa modalidade de resolução 
de litígios internacionais ganhou o caráter pacífico de resolução de controvérsias 
bem como o de cooperação pacifista internacional. 
O primeiro deles nesse sentido nasceu na Conferência Interamericana de 
Consolidação da Paz (Buenos Aires, 1936), em duas convenções (convenção 
sobre manutenção, garantia e restabelecimento da paz e convenção para 
coordenar, ampliar e assegurar o cumprimento dos tratados existentes entre os 
estados americanos), que foi ampliado e aperfeiçoado através da 8 ª Conferência 
Internacional Americana (Lima, 1938), bem como na Conferência Interamericana 
de Petrópolis (1947), em relação à manutenção da paz e da segurança do 
continente, e por fim, na Carta da Organização dos Estados Americanos. 
 Desse modo, o método consultivo entre os países americanos teve, 
inicialmente, o objetivo de promover a manutenção da paz no continente, 
entretanto, foi com a ampliação adotada na Conferência de Lima que esse método 
aplicável em qualquer questão cultural, econômica ou de outra ordem que, em 
razão da sua importância, justifique esse processo no qual o exame ou solução 
entre os estados americanos tenham interesses em comum. 
 Aqui, ficou definido que a consulta, em que haja contato pessoal, deve ser 
realizada com assistência dos Ministros das Relações Exteriores (das repúblicas 
americanas) ou de seus representantes devidamente autorizados. Aqui, também 
há o surgimento das denominadas reuniões de consulta, como, por exemplo, a 
primeira, na cidade do Panamá, de 23 de setembro a 3 de outubro de 1939; a 
segunda em Havana, de 21 a 30 de junho de 1940; e a terceira no Rio de Janeiro, 
de 15 a 28 de janeiro de 1942, todas realizadas durante o período da Segunda 
Guerra Mundial. 
 
 
6 
 Foi adotado na Conferência Interamericana do México, em 1945, uma 
resolução em que se declara que as reuniões ordinárias de consulta devem ser 
realizadas anualmente, dependendo de convocação do Conselho Diretor da União 
Pan-Americana. 
 Fica definido também que, nas reuniões de consulta, haveria a tomada de 
decisões relativas aos problemas com grau de urgência relevantes, ou seja, que 
interfiram dentro do sistema interamericano, bem como nas situações e disputas 
de todo gênero que ameacem a paz das repúblicas americanas. 
 Todavia, os efeitos dessa resolução desapareceram em detrimento da 
regulamentação definitiva dada ao sistema consultivo interamericano, pela Carta 
da OEA e pelo trabalho de assistência recíproca interamericano. 
 Por fim, a Carta de Bogotá não só trouxe o reconhecimento das Reuniões 
de Consulta dos Ministérios das Relações Exteriores como um dos órgãos da 
OEA, mas também definiu o caráter de novo órgão e o mecanismo de suas 
reuniões, tal qual hoje está estabelecido. 
TEMA 2 – MEIOS JURÍDICOS DE RESOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIAS 
INTERNACIONAIS 
Além das formas mencionadas anteriormente, a doutrina jurídica estipula 
outros métodos de resolução pacífica de controvérsias internacionais. Dentre elas, 
temos as jurídicas ou judiciárias, que se dão de diversas formas, as quais veremos 
a seguir. 
2.1 Tribunais internacionais permanentes 
Consideradas como entidades judiciárias permanentes, as cortes e 
tribunais são compostas por juízes independentes, os quais exercem a função de 
julgadores dos conflitos internacionais, levando em consideração o direito 
internacional e suas normas, tendo como base um processo preestabelecido em 
que as sentenças possuem caráter obrigatório para as partes envolvidas no litígio. 
 Via de regra, as questões são submetidas aos tribunais internacionais 
permanentes pelos Estados, contudo, não existe impedimento para que essa 
proposição seja feita por organizações internacionais. A criação de um tribunal de 
caráter permanente foi proposta por ocasião da Segunda Conferência da Paz de 
Haia, contudo efetivamente somente seria implementado anos mais tarde. 
 
 
7 
No contexto Pós-Moderno, a construção do direito internacional possui 
marcos internacionais específicos, sendo constituídos por ferramentas básicas de 
trabalho para os profissionais da área, isso porque, para conhecer o direito 
internacional de justiça, é necessário compreender também as bases da 
jurisprudência internacional (em especial da Corte Internacional de Justiça, sua 
predecessora, a Corte Permanente de Justiça Internacional, e da Corte 
Permanente de Arbitragem) (Accioly, 2019). 
Lentamente, os novos tribunais internacionais permanentes vão sendo 
instituídos com o objetivo de adjudicar uma ampla gama de problemas, 
destacando-se os tribunais de caráter universal e os de natureza regional. 
Estes podem possuir funções amplas, conforme ocorre com a CIJ, ou então 
ter um objetivo restrito, conforme ocorre com o Tribunal Internacional do Direito 
do Mar, que foi criado pela Convenção sobre o Direito do Mar (Accioly, 2019). 
2.2 Comissões Mistas 
 Durante o século XIX, esteve muito em voga a solução de controvérsias 
internacionais por meio da constituição de comissões mistas, que são compostas 
exclusivamente de representantes das partes litigantes. Na verdade, as 
comissões mistas são o início da arbitragem. 
 As comissões mistas se tratava de ações referentes a fronteiras, e 
principalmente da reclamação de particulares sobre danos sofridos em suas 
pessoas ou bens. A história da diplomacia do Brasil registra alguns casos de 
comissões dessa natureza, contudo, estas tornaram-se raras no século XX, pois 
foram se transformando em tribunais arbitrais, compostos também por um 
membro estranho ao litígio. 
 É importante mencionar que ascomissões mistas responsáveis pela 
resolução de controvérsias internacionais não se confundem com as comissões 
mistas que têm como objetivo a execução de serviços de interesse mútuo, pois 
essas últimas, geralmente, possuem natureza técnica, como por exemplo as 
comissões demarcadoras de fronteiras. 
2.3 Arbitragem 
 Definida como o meio de solução pacífica de controvérsias entre Estados, 
a arbitragem é composta por uma ou mais pessoas livremente escolhidas pelas 
 
 
8 
partes litigantes, o que é feito, via de regra, por meio de um compromisso arbitral 
que estabelece as normas a serem seguidas, e as partes contratantes aceitam 
previamente a decisão que será adotada (Moraes, 2012). 
 Os autores, geralmente, sustentam que só pode ser objeto de resolução 
por arbitragem os conflitos de ordem jurídica ou suscetíveis de serem formulados 
juridicamente. Esse posicionamento também é adotado pelas Convenções de 
Haia, de 1899 e 1907, onde fica estabelecida como requisito para arbitragem a 
existência de uma questão jurídica ou ao menos baseada no direito (Moraes, 
2012). 
 Em verdade, é possível dizer que a arbitragem é aplicável a todas as 
controvérsias internacionais, independentemente de sua natureza ou causa, pois 
nem sempre é possível distinguir com precisão as controvérsias de ordem jurídica 
ou de ordem política. 
É importante entender quais são as características da Arbitragem: 
• O acordo de vontades das partes para a fixação do objeto do litígio e o 
pedido de sua solução a um ou mais árbitros; 
• A livre escolha destes; 
• A obrigatoriedade da decisão. 
Visto isso, a arbitragem pode ser feita de duas formas, voluntária ou obrigatória, 
sendo a primeira instituída por livre estipulação de um juízo arbitral, por acordo 
ocasional entre as partes, e a segunda forma decorre de um ajuste prévio entre 
os litigantes, sendo que em ambos os casos é firmado um acordo ao final. 
TEMA 3 – RESOLUÇÕES COERCITIVAS DE CONTROVÉRSIAS 
INTERNACIONAIS 
Uma vez esgotados os meios pacíficos de solução de controvérsias 
internacionais, os Estados podem empregar meios coercitivos de resolução de 
controvérsias, o que não significa necessariamente conflito armado. Tais meios 
eram tolerados pelo direito internacional, mesmo que tenham reconhecido o 
caráter abusivo desse método. 
É importante mencionar que tais métodos são de fato sanções, e como tais, 
só podem ser aplicados se determinados por uma organização internacional. O 
Conselho de Segurança das Nações Unidas, em seu art. 41, determina que 
poderá ser aplicada medidas coercitivas desde que não haja o emprego de forças 
 
 
9 
armadas, interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de 
comunicação marítimos, postais, aéreos, telegráficos, ferroviários ou de qualquer 
espécie de relação diplomática. 
3.1 Retorsão 
Essa modalidade é conceituada como um ato por meio do qual um Estado 
ofendido aplica ao Estado que o ofendeu as mesmas medidas ou os mesmos 
processos empregados a ele. Dessa forma, nada mais é que um meio de se opor 
que um Estado exerça seus direitos em prejuízo de outro Estado. 
 Esse meio é inspirado no princípio da reciprocidade e no respeito mútuo, 
que deve ser aplicado por todas as nações para com as demais. 
 Consideram-se como legitimas causas de aplicação de retorsão a 
interdição do acesso de portos de um Estado aos navios de outro Estado; a 
concessão de certos privilégios ou vantagens aos nacionais de um Estado, 
simultaneamente com a recusa dos mesmos favores aos nacionais de outro 
Estado (Barreira, 2017); o aumento exagerado, por um Estado, dos direitos de 
importação ou trânsito estabelecido sobre os produtos de outro Estado etc. 
3.2 Represálias 
As represálias se constituem como uma medida coercitiva, derrogatórias 
das regras ordinárias do direito das gentes, e que são aplicadas em virtude de 
atos ilícitos praticados por um Estado para com outro Estado. Estas, conforme 
aduz Kesek (2008), é “um delito, na medida em que se realizam como uma reação 
contra um delito”. Assim, são consideradas medidas mais ou menos violentas, e, 
em geral, contrárias a certas regras previamente impostas ao direito das gentes. 
Via de regas, as aplicações de represálias devem levar em consideração 
os seguintes princípios (Lavacci, 2016): 
• As represálias só devem ser permitidas em caso de violação flagrante do 
direito internacional, por parte do Estado contra o qual são exercidas; 
• Devem constituir, apenas, atos de legítima defesa, proporcionais ao dano 
sofrido ou à gravidade da injustiça cometida pelo dito estado; 
• Só se justificam como medida de necessidade e depois de esgotados 
outros meios de restabelecimento da ordem jurídica violada; 
 
 
10 
• Devem cessar quando seja concedida a reparação que se teve em vista 
obter; 
• Seus efeitos devem limitar-se ao estado contra o qual são dirigidas e não 
atingir os direitos de particulares, nem os de terceiros estados. 
Assim, esse método coercitivo deve ser utilizado apenas em último caso, a 
fim de evitar que um adversário multiplique os atos praticados contra o direito das 
gentes, como uma forma de revisar tal represália. 
3.3 Bloqueio Pacífico 
 Essa outra forma de coerção consiste em impedir, através de força armada, 
as comunicações com as costas ou portos de um país ao qual se pretendia obrigar 
a proceder de determina forma. Essa forma pode ser utilizada pelo Conselho de 
Segurança das Nações Unidas para obrigar um Estado a respeitar e seguir as 
regras trazidas pelo órgão. 
 O bloqueio pacífico pode ser utilizado também para impedir a entrada e 
saída dos navios pertencentes ao Estado bloqueado, concedendo permissão de 
livre entrada ou saída para embarcações nacionais de outros Estados. 
3.4 Boicotagem 
Trata-se da interrupção de relação comercial com um estado ofensor dos 
nacionais ou dos interesses de outro estado. Esse recurso, via de regra, tem o 
objetivo de modificar uma atitude considerada agressiva ou injusta de um Estado 
para com o outro. 
Essa medida pode ser adotada por ato oficial de um governo ou pode ser 
obra de meros particulares, sendo que, nesse segundo caso, a boicotagem não 
acarreta responsabilidade internacional do Estado de onde parta tal ação. 
Conforme o art. 16 do Pacto da Sociedade das Nações, a boicotagem como 
medida coercitiva legítima contra o Estado que não respeite os preceitos do Artigo 
12,13 e 15 do mesmo pacto, recorresse à guerra. 
Já o art. 14 da Carta das Nações Unidas prevê igualmente a aplicação da 
boicotagem como medida que se destina a tornar efetiva as decisões em casos 
de ameaça à paz internacional. 
 
 
 
11 
TEMA 4 – RUPTURA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ENTRE ESTADOS 
 A cessação ou ruptura temporária das relações oficiais entre dois países 
pode ser causa por uma violação de um Estado para com os direitos dos outros. 
Entretanto, esta pode ser empregada também como meio de impor pressão de 
um estado sobre o outro com o objetivo de forçá-lo a modificar uma ou várias 
atitudes, bem como para chegar a um acordo sobre algum litígio que os separe. 
 Dessa forma, o rompimento das relações diplomáticas é utilizado como um 
sinal de protesto contra uma ofensa recebida, ou até como uma maneira de forçar 
uma decisão a qual se pretende sobre outro Estado. É nesse sentido que a Carta 
das Nações Unidades, em seu art. 41, prevê como uma das possibilidades que 
podem ser recomendadas pelo Conselho Nacional de Segurança a aceitação de 
suas decisões, em caso de ameaça à paz internacional (Barreira, 2017). 
 Essa ruptura é manifestada pela entrega de passaportes ao agente 
diplomático do Estado que está sofrendo tal ruptura ou pela retirada do próprio 
agente diplomático da capital desse Estado, ou até mesmo pela aplicação 
concomitante desses atos. 
 A ruptura não acarreta obrigatoriamente uma guerra, contudo, pode abrir 
caminho para que ela ocorra. Desse modo, essamedida de rompimento de 
relações diplomáticas, inicialmente, tem caráter de advertência para o Estado na 
qual se aplica, e, caso não tenha sucesso, outras medidas mais graves poderão 
ser contra ele empregadas. 
TEMA 5 – NOÇÕES GERAIS DE EXTRADIÇÃO 
 A extradição é um antigo instrumento de cooperação jurídica internacional, 
contudo, ganhou muita relevância nos dias atuais, em virtude da 
internacionalização das finanças, intensificação do transito de pessoas e de bens, 
bem como o aprofundamento da interdependência entre países, a redefinição de 
fronteiras, o desenvolvimento geral, ou seja, todo o contexto mundial do início do 
século XXI que trouxe profundas conquistas para humanidade, e com isso, a 
criação de grandes desafios (Junior, 2008). 
 Um dos grandes desafios implementados no mundo pós-moderno é a 
expansão do crime transacional, e é algo elementar que exige uma cooperação 
internacional cada vez mais eficiente e principalmente integrada. Muitas vezes, 
pessoas condenadas pela justiça em um determinado Estado estrangeiro 
 
 
12 
aproveitam para hominizar-se em outros países, e é nesse momento que o 
instituto da extradição se torna um dos mais eficazes métodos de cooperação 
jurídica no combate ao crime. 
Dessa forma, a extradição assume uma posição de extrema importância 
para que as fronteiras dos países deixem de representar a inaplicabilidade da 
justiça. Conforme Rezek (2005), a extradição pode ser conceituada como: 
A entrega, por um Estado a outro, e a pedido deste, de pessoa que em 
seu território deva responder a processo penal ou cumprir pena. Cuida-
se de uma relação executiva, com envolvimento judiciário de ambos os 
lados: o governo reque- rente da extradição só́ toma essa iniciativa em 
razão da existência do processo penal – findo ou em curso – ante sua 
Justiça; e o governo do Estado requerido [...] não goza, em geral, de uma 
prerrogativa de decidir sobre o atendimento do pedido senão depois de 
um pronunciamento da Justiça local. 
 Assim, o instituto da extração de um indivíduo processado ou condenado 
em âmbito penal não se limita à cooperação de dois Estados, mas também traduz 
a união de esforços dos Poderes Judiciários e Executivos de determinados 
Estados. 
 Aqui, teremos dois tipos de extradição, a passiva e a ativa, sendo que na 
primeira o Estado requerente é o interessado, e na segunda o Estado requerido é 
o mandatário. 
 Na legislação brasileira, a Secretaria Nacional de Justiça ligado ao 
Ministério da Justiça é o órgão responsável pela formalização dos pedidos de 
extradição realizados por autoridades judiciárias brasileiras a um determinado 
Estado estrangeiro (ativa), bem como processar, relatar, opinar e encaminhar as 
solicitações de extradição pretendida por outro país às autoridades brasileiras 
(passiva) (Junior 2008). 
 Assim, via de regra, o Judiciário do Estado requerido é competente para 
decidir se o pedido de extradição deve ou não ser permitido. Nesse momento é 
que são analisados os aspectos formais que conduziram o processo criminal, que 
é objeto do pedido de extradição, tendo em consideração as garantias 
processuais do extraditando no curso do seu processo, levando em consideração 
também as limitações de prescrição e inexistência de motivações políticas ou 
ideológicas que são causas de nulidade do pedido formulado. 
 O responsável por analisar tais requisitos no Brasil é o Supremo Tribunal 
Federal, sendo que de sua decisão não há possibilidade de recorrer, apenas de 
propor embargos de declaração nos casos de omissão, contradição e obscuridade 
contidos na decisão. 
 
 
13 
 O pedido de extradição não depende obrigatoriamente da existência de um 
tratado firmado entre os Estados envolvidos no processo, podendo ser baseado 
na promessa de reciprocidade em casos análogos. Essa promessa deve ser 
respeitada, e mais importante ainda, o princípio da especialidade que pauta o 
instituto da extradição, para que o extraditando não seja processado, condenado 
ou detido por delitos cometidos previamente e que não sejam objeto do pedido de 
extradição. 
 Todavia, na hipótese de haver outros crimes não contemplados no pedido 
de extradição, os demais juízes são convidados a realizar manifestação de 
interesse na extensão ou ampliação do pedido (extradição complementar ou 
supletiva) pois não é possível o adiamento do pedido. 
 A extensão do pedido de extradição está amparada no modelo de tratado 
sugerido pelas Nações Unidades, em seu art. 14, o qual aduz que: 
Um indivíduo extraditado [...] não poderá́, no território do Estado 
requerente, ser processado, condenado, detido ou reextraditado para 
um terceiro Estado, nem ser submetido a outras restrições em sua 
liberdade pessoal, por uma infração cometi- da antes da entrega, salvo: 
a) se se tratar de uma infração pela qual a extradição tenha sido 
concedida; ou 
b) se o Estado requerido manifestar a sua concordância. 
Outro princípio que deve nortear a extradição é o da “dupla incriminação do 
fato”, que é legitimado na necessidade de o crime ser considerado como tal tanto 
no país que requer e o país que concede a extradição, isso porque, pautado no 
princípio da legalidade, ninguém pode ser condenado se não houver previsão 
legal para tanto. 
O princípio no non bis in idem também é levado em consideração no pedido 
de extradição, pois se já houver sentença condenatória transitada em julgado pelo 
mesmo crime em que a extradição se baseia, esta não será concedida. 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
ACCIOLY, H.; SILVA, G. E do N.; CASELLA, P. B. Manual de Direito 
Internacional Público. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
BRASIL, Decreto n. 54.435, de 8 de junho de 1965. Convenção de Viena Sobre 
Relações Diplomáticas. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jun. 1965. 
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D56435.htm>. 
GUERRA, S. C. S. Curso de Direito Internacional Público. 10 ed. São Paulo: 
Saraiva, 2017. 
JUNIOR, R. T. Extradição: Conceitos, extensão, princípios e acordos 
internacionais. 15 set. 2008. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2008-set-
15/conceitos_principios_acordos_extradicao>. Acesso em: 5 ago. 2019. 
KASPER, B. A Diplomacia como meio de solução pacífica de conflitos 
internacionais. Disponível em: 
<https://brunofskasper.jusbrasil.com.br/artigos/698719978/a-diplomacia-como-
meio-de-solucao-pacifica-de-conflitos-internacionais>. Acesso em: 5 ago. 2019. 
LIMA, S. E. M. Privilégios e Imunidades diplomáticas. Brasília: Fundação 
Alexandre de Gusmão, 2002. 
MORAES, T. F. A mediação, a conciliação e a arbitragem como formas 
alternativas de resolução de conflitos. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 17, 
n. 3346, 29 ago. 2012. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/22520>. Acesso 
em: 29 nov. 2019. 
RESEK, F. Direito Internacional Público: Curso elementar. 10. Ed. São Paulo: 
Saraiva, 2005. 
AULA 6 
DIREITO DIPLOMÁTICO 
E CONSULAR 
Prof. Arthur Augusto Garcia 
 
 
2 
TEMA 1 – NOÇÕES GERAIS DE ASILO POLÍTICO E REFÚGIO 
O asilo político trata-se de uma entidade jurídica que tem como finalidade 
proteger, como autoridade soberana, um cidadão estrangeiro que esteja sofrendo 
perseguição política, por convicção religiosa bem como situações de 
discriminação racial em seu país de origem. Esse direito está previsto na 
Declaração Universal dos Direitos Humanos, mesmo já sendo uma tradição das 
civilizações antigas compostas por gregos, judeus e egípcios. 
Já no Brasil, o asilo político encontra-se previsto na Constitucional Federal 
e é um privilégio dado ao Poder Executivo, que é representado pelo Ministério da 
Justiça. De acordo com Portela (2011), a expressão asilo político “consiste na 
proteção dada por um Estado a um indivíduo cuja vida, liberdade ou dignidade 
estejam ameaçadas pelas autoridades de outro Estado, normalmente por conta 
de perseguições de ordem política”. Portanto, asilo político é, segundo Resek(2007): 
O acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido alhures – 
geralmente, mas não necessariamente, em seu próprio país patrial – por 
causa de dissidência política, de delitos de opinião, ou por crimes que 
relacionados com a segurança do Estado, não configuram quebra do 
direito penal comum. 
Desta forma, levando-se em consideração os dois conceitos, o objetivo do 
asilo político é proporcionar segurança, em outro Estado, ao estrangeiro 
perseguido por motivos políticos (não de natureza criminal), por sua opinião ou 
por crimes contra a segurança do Estado. 
É nesse sentido que o Artigo XIV da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos aduz que “todo homem, vítima de perseguição tem o direito de procurar 
e de gozar asilo em outros países”, exceto se perseguido legitimamente por ter 
praticado um crime comum ou tenha praticado algum ato contrário aos princípios 
das Nações Unidas (Piovesan, 2015). 
É importante mencionar também que o Pacto de São José, em seu Art. 22, 
Parágrafo 7° e 8°, preconiza que o direito ao asilo político se trata de: 
Direito aplicável na hipótese de perseguição por delitos políticos ou 
comuns, conexos com delitos políticos, vedando ainda a expulsão ou 
entrega a outro país do indivíduo cujo direito à vida ou liberdade pessoal 
esteja em risco de violação em virtude de sua raça, nacionalidade 
religião, condição social ou de suas opiniões políticas. (Portela, 2011) 
 
 
 
3 
Assim, previamente, a concessão de asilo político deve resguardar o direito 
do estrangeiro asilado à liberdade pessoal, seja ela de raça, nacionalidade, 
religião, condição social ou opiniões públicas. 
1.1 Tipos de asilo 
 Há, na doutrina internacional, dois tipos de asilos políticos: o territorial e o 
diplomático. O asilo territorial ocorre quando um estrangeiro cruza a fronteira de 
um país, colocando-se no espaço soberano de outro (Resek, 2007). O asilo 
diplomático, por sua vez, corresponde a uma forma provisória de asilo político em 
que o território nacional por expansão (embaixada, unidade militar etc.) acolhe o 
estrangeiro para conduzi-lo posteriormente ao país representado pela embaixada 
ou para um terceiro pais que o aceite. Esse tipo de asilo, contudo, não é 
assegurado. 
 É importante mencionar que o asilo diplomático decorre de uma codificação 
de costumes da América Latina, positivados nas Convenções de Havana (1928), 
Montevideo (1933) e Caracas (1945). 
1.2 Refúgio 
Entendido os conceitos de asilo político, passa-se ao estudo do conceito 
de refugiado ou refúgio, sendo este definido como uma pessoa civil que está 
desprotegida por seu próprio governo. Conforme Sousa (2011), 
O termo refugiado é interpretado de maneira extensiva no DIH. Não 
engloba apenas as pessoas que deixam seu país de origem em razão 
de um conflito armado, mas também aquelas que lá permanecem, 
porém, se encontram desamparadas, sem lar, em razão de um conflito 
armado interno. 
Dessa forma, o refúgio não ocorre por livre e espontânea vontade daqueles 
que deixam seu local de origem, mas pelas condições que fazem com que essa 
pessoa fuja para não perder a vida, liberdade ou segurança. 
Assim, trata-se do refúgio de um acolhimento por razões humanitárias, que 
abrange questões religiosas, raciais, de nacionalidade, opinião pública e grupos 
sociais. 
Nesse mesmo sentido, a Convenção de Genebra sobre o Direito dos 
Refugiados, tal qual o Protocolo de Nova York (1967), também define o refugiado 
como um cidadão que teme ser perseguido por motivos de raça, religião, 
 
 
4 
nacionalidade, grupo social ou opinião política e que se encontra fora de seus pais 
de nacionalidade, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no 
qual tinha sua residência habitual, em consequência de tais acontecimentos, não 
pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele. 
Desta forma, o asilo político é concedido de forma discricionária pelo 
Estado. Já o refúgio não pode ser negado, ou seja, é um dever do estado concedê-
lo. 
É importante salientar que a concessão de refúgio é integralmente 
regulamentada por tratado, possuindo um organismo internacional competente 
para o tema, que é o Alto Comissariado das Nações Unidas – ACNUR. 
TEMA 2 – PREVISÃO LEGAL DOS INSTITUTOS DO REFÚGIO E DO ASILO NO 
BRASIL 
No que tange à situação jurídica do estrangeiro em território brasileiro, em 
especial ao refugiado e ao asilado político, é necessário se debruçar na 
Constituição Federal, nos tratados internacionais ratificados e nas demais normas 
jurídicas que regulamentam essa situação. 
Sobre o tratamento dos refugiados pelo Brasil, no pós-guerra, o país 
assinou a Convenção de 1951 no ano seguinte à sua elaboração, no momento 
em que aderiu à reserva geográfica, e ratificou essa convenção em 1960. Dessa 
forma, todos os não europeus tinham garantido o visto de turista que permitia uma 
estadia provisória de noventa dias no país e, durante esse período, essas pessoas 
ficavam no aguardo para serem reassentadas em um terceiro país. 
A Convenção de 1951 foi aprovada no país por meio do Decreto Legislativo 
11/1960, sendo promulgada em 1961 pelo Decreto 50.215, pelo então presidente 
Juscelino Kubitschek (1961). Todavia, esta apenas protegia os cidadãos 
europeus, chamada de cláusula de reserva geográfica. 
Entretanto, tal cláusula foi revogada pelo Decreto 98.608/1989 e o Brasil 
passou a acolher os refugiados de todos os continentes. Tal decreto foi assinado 
pelo então presidente José Sarney (1989), pois nessa época já era válida a 
Constituição de 1988, e conceder proteção para apenas uma parcela de pessoas, 
no caso os europeus, era incompatível com os princípios. 
Essa incompatibilidade se dava pelo fato de que a República Federativa do 
Brasil tem como objeto constitucional a dignidade da pessoa humana (Art. 1°, 
inciso III), e seu objetivo basilar é a construção de uma sociedade livre, justa e 
 
 
5 
igualitária (Art. 3°, inciso I). Ademais, a República Federativa do Brasil também 
resguarda a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, 
cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação (Art. 3°, inciso IV). 
Juntamente com tais fatos, as relações internacionais são regidas pelo princípio 
da concessão de asilo político (Art. 4°, inciso X), e os ideais da cláusula de reserva 
geográfica não pactuam com tais princípios. 
É neste sentido que Novelino (2016) aduz que “a concessão de asilo 
político visa à proteção de indivíduos de outras nacionalidades contra 
perseguições, por parte de seu país de origem, motivadas por razões de natureza 
política”. 
Não obstante, “a condição jurídica de asilado é regulada pelos artigos 28 a 
30 do Estatuto do Estrangeiro” (Portela, 2011), diferentemente da condição de 
refugiado. 
Esse Estatuto (Lei n. 6.815/1980) disciplinava que o estrangeiro admitido 
no território nacional na condição de asilado político ficaria sujeito, além dos 
deveres que lhe forem impostos pelo Direito Internacional, a cumprir as 
disposições da legislação vigente e as que o governo brasileiro lhe fixar (Art. 28), 
além da obrigação de se registrar no Ministério da Justiça (art. 30) e da obrigação 
de não sair do país, sob pena de ser considerada renúncia ao asilo (Art. 29, “caput” 
e parágrafo único), impedindo seu retorno ao Brasil. 
Entretanto, em 2017, o Estatuto do Estrangeiro foi revogado pela Lei de 
Migração (Lei n. 13.445/2017), que dispõe sobre a discricionariedade do asilado 
político ser admitido pelo Estado, prevendo tanto o asilo diplomático quanto o asilo 
territorial, considerando-os como uma espécie de proteção à pessoa. 
Desse modo, o Estatuto do Estrangeiro nega a concessão de asilo para o 
estrangeiro que tenha cometido quaisquer crimes previstos no Estatuto de Roma 
do Tribunal Penal Internacional de 1988, promulgado pelo Decreto n. 4.388/2002, 
mantendo a renúncia ao asilo quando o asilado deixar o Brasil sem comunicaçãoprévia. 
Em 1997, o Brasil promulgou uma lei específica a respeito da situação dos 
refugiados (Lei n. 9.747/1997), considerada pela maioria dos juristas como uma 
lei inovadora e avançada no ponto de vista dos refugiados e que abarca tanto os 
motivos clássicos de concessão de refúgio, dados inicialmente pela Convenção 
de 1951), quanto os motivos ampliados, trazidos pela Declaração de 1984. Esta 
declara em seu Art. 1° que: 
 
 
6 
Art. 1º. Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: 
I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, 
religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se 
fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se 
à proteção de tal país; 
II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua 
residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função 
das circunstâncias descritas no inciso anterior; 
III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é 
obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em 
outro país. 
A Lei brasileira que trata sobre a situação dos refugiados decorre do 
Programa Nacional de Direitos Humanos de 1962, o qual demonstrou claramente 
o desejo do governo brasileiro em se inserir no contexto internacional a questão 
da proteção de seres humanos. A partir dessa implantação legal, foi instituído um 
órgão responsável para analisar e julgar o pedido de refúgio, ou seja, o Comitê 
Nacional para Refugiados (CONARE). 
Esse comitê é responsável por várias atribuições concernentes ao refúgio, 
entre elas, as de receber as solicitações de refugiados, autorizando a 
documentação que identifica a pessoa como tal para que esta possa empregar-
se no Brasil e utilizar os serviços públicos do país. 
TEMA 3 – A CODIFICAÇÃO DO DIREITO DIPLOMÁTICO E CONSULAR 
 Durante o Século XIX, aconteceram as mais importantes tentativas de 
decodificação do direito diplomático e consular, tendo como destaque os projetos 
elaborados por Fliore e Bluntschili. 
 Especificamente em 1902, em virtude da proposta de José Higino realizada 
na Conferência Internacional Interamericana que ocorreu na Cidade do México, 
houve o início do trabalho de codificação interamericano. 
 Esse movimento foi iniciado de forma satisfatória, isso porque, em 1928, foi 
assinada em Havana a Convenção sobre Direito Internacional Privado, também 
conhecido como Código Bustamente, bem como outras diversas convenções que 
tratavam sobre esses ramos do direito internacional, sendo estas baseadas no 
projeto concebido por Epitácio Pessoa. 
 Essa era uma das preocupações da Sociedade das Nações (SDN) no 
desenvolvimento do direito internacional, que criou, em 1924, a comissão de 
peritos, que é encarregada da verificação do que poderia ser feito no âmbito da 
codificação. 
 
 
7 
 Em 1930, foram preparados diversos projetos, reunidos em Haia na 
Primeira Conferência de Codificação do Direito Internacional, momento em que 
três tópicos de extrema importância foram abordados: águas territoriais, 
responsabilidade por danos a bens de estrangeiro e os conflitos de nacionalidade. 
 Todavia, essa conferência foi uma iniciativa prematura, tanto que ela foi 
considerada um fracasso, mesmo com a Convenção sobre Conflitos de 
Nacionalidade tendo sido assinada nesse momento. 
 O fim da Sociedade das Nações ocorreu na Segunda Guerra Mundial, 
quando ocorreu a transição desse sistema para o da ONU – Organizações das 
Nações Unidas. O projeto de Dumbarton Oaks foi utilizado como base à 
elaboração das Cartas das Nações Unidas. Entretanto, tal carta é omissa no que 
tange ao direito internacional. 
 Foi em 1945, entretanto, durante a Conferência de São Francisco que 
houve menções referentes ao direito internacional, graças a pequenas potências. 
A Carta, ao enumerar todas as atribuições da Assembleia Geral, menciona, em 
seu Art. 13, que “promover a cooperação internacional no terreno político e 
incentivar o desenvolvimento progressivo do direito internacional e a sua 
codificação”. 
 Por seguinte foi criada a Comissão de Direito Internacional das Nações 
Unidas – CDI, que tem como objetivo central tratar a codificação das regras 
internacionais e de seu desenvolvimento progressivo ocorrido ao longo dos anos 
seguintes. 
 O juiz da CIJ, Charles de Visscher, escreveu, em 1955, que: 
Hoje em dia as possibilidades de uma codificação do direito internacional 
num ambiente universal são nulas. O abismo entre as concepções 
jurídicas que se defrontam no seio da AGNU, mesmo no tocante aos 
problemas mais fundamentais, é tal que toda nova iniciativa dessa 
espécie deve ser considerada perigosa para o progresso do direito 
internacional. 
 Após a Guerra Fria, o mundo foi dividido pelo conflito de civilizações, o que 
tornou igualmente questionável a viabilidade e alcance das tentativas de 
codificação de caráter universal das regras relacionadas ao direito diplomático e 
consular. Juntamente, a consolidação de bases comuns se tornara, mais do que 
nunca, necessária para evitar o acirramento dos conflitos internacionais e 
agravamento das tensões internacionais. 
 Todavia, ficou demonstrado que o pessimismo não mais se justificava, pois, 
em um primeiro momento, com a criação da Comissão de Direito Internacional 
 
 
8 
das Nações Unidas (CDI), houve uma fase de excelente produção que resultou 
em importantes convenções, a maioria assinada em Viena, as quais veremos a 
seguir. 
TEMA 4 – AS CONVENÇÕES DE VIENA 
4.1 A Convenção de Viena sobre relações diplomáticas de 1961 
 Considerada como uma das mais bem-sucedidas no que tange à 
codificação do direito diplomático bem como do direito internacional como um 
todo, a Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas de 1961 traz direitos, 
deveres e regulamenta vários fatores derivados dessas relações. 
 Vários fatores foram determinantes para que essa convenção fosse 
elaborada, sendo o mais importante a positivação do direito costumeiro, pois este 
já estava com um grau alto de aplicação no dia a dia. Algumas regras codificadas 
em 1961 não foram objeto de muitos debates, como por exemplo a convicção dos 
delegados que o projeto elaborado pela CNI correspondia ao direito existente. 
 A codificação mais substancial realizada na Conferência de 1961 foi a de 
deixar determinadas as prerrogativas e as imunidades diplomáticas, sendo 
verificado um inesperado consenso quanto a sua enumeração, mesmo diante da 
abrangência delas. 
 Houve divergência, entretanto, quanto à determinação da aplicação das 
imunidades e prerrogativas aos familiares e pessoal administrativo técnico das 
missões diplomáticas. Quanto a isso, houve uma maioria de delegações 
contrárias à concessão dessas imunidades e privilégios, pois consideravam 
excessivo o número de pessoas abrangidas por tais. 
 A Convenção, em seu Art. 37, espelha uma emenda brasileira que inclui o 
pessoal administrativo e técnico em uma categoria diferenciada, na qual 
reconhece a imunidade de jurisdição penal, uma relativa à imunidade de jurisdição 
cível e administrativa, bem como à concessão de isenção alfandegária. 
 O projeto elaborado pela CDI trazia que “a missão poderá empregar todos 
os meios de comunicação adequados, inclusive correios diplomáticos e 
mensagens em código ou cifra”. Contudo, tais termos vagos concediam ao Estado 
estrangeiro o direito de livre utilização das estações de rádio, o que provocou uma 
reação forte da maioria dos presentes. 
 
 
9 
 Assim, o texto, que finalmente foi aprovado, traz o condicionamento da 
instalação e utilização de uma emissora de rádio ao consentimento das 
autoridades locais. 
 A Convenção de 1961 consolidou o costume de deslocar a 
responsabilidade diplomática da figura do chefe da missão e concedeu-a à 
embaixada ou legação. Assim, de acordo com esse novo método, a expressão 
“agente diplomático” perdeu o conceito que lhe era dadoanteriormente, ou seja, 
deixou de se referir apenas ao chefe da missão e passou a abranger toda a missão 
(embaixada ou legação), compreendendo então todo o seu conjunto. 
4.2 Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1968 
 Com o advento da Convenção de 1961, houve a abertura e a percepção da 
real necessidade de codificação também das relações consulares que ocorreu em 
Viena entre os dias 4 de março e 24 de abril de 1964. 
É importante mencionar que é impossível desassociar as duas 
conferências, pois a CDI, ao elaborar o projeto definitivo sobre as relações 
consulares, teve que definir se continuaria com a orientação seguida no 
anteprojeto anterior ou se adaptaria, mesmo não concordando com alguns termos, 
a Convenção de Viena sobre relações diplomáticas à realidade das relações 
consulares, tendo optado pela adaptação. 
 Sendo essa escolha definida pela CDI, este teve, diante de si, 
primeiramente, uma série de regras relativamente claras e de fácil aceitação. 
Todavia, em segundo lugar, o panorama era mais complicado, pois além do direito 
internacional pautado nos costumes, a CDI deveria examinar uma quantidade 
grande de convenções bilaterais, leis internas que tinham como objetivo 
preencher os vácuos existentes que existiam em virtude de uma não codificação 
das normas. 
 Assim, ao passo que a Convenção de Viena sobre as Relações 
Diplomáticas possui, ao total, 53 artigos, a Convenção que versa sobre as 
relações consulares possui 79 artigos. 
 A determinação das atribuições consulares foi, sem sombra de dúvidas, a 
tarefa mais difícil da Conferência. Isso porque, para algumas delegações, a 
solução prática seria seguir os moldes adotados pela Convenção de Havana 
sobre Cônsules, no qual trazia que “os cônsules exercerão as atribuições que lhes 
 
 
10 
confere a lei do seu Estado, sem detrimento da legislação do Estado onde 
desempenham as suas funções”. 
 Todavia, outra solução favorecia a enumeração dessas funções, contudo, 
exista uma dificuldade em saber quais mereciam e quais não mereciam ser 
mencionadas. Dessa forma, a CDI propôs que o rol de atribuições fosse tratado 
como exemplificativo e não exaustivo, sugestão esta que foi aceita pela 
Conferência. 
4.3 A Convenção de Viena sobre o direito dos tratados (1969) 
 Tal Convenção representa um marco extremamente relevante e de um 
progresso significativo na história da positivação do Direito Internacional, todavia, 
a construção legal do direito que regula os tratados possuiu grandes controvérsias 
conceituais, sendo que algumas dessas perduram até os dias de hoje. 
 Essa Convenção sobre os tratados (1969) aponta o “papel fundamental dos 
tratados, na história das relações internacionais”. Dessa forma, é reconhecida a 
importância dos tratados como uma fonte do direito internacional, utilizado como 
meio de desenvolver a cooperação de forma pacífica entre a nações do mundo, 
sejam quais forem seus sistemas constitucional ou/e sociais. 
4.4 A Convenção de Viena sobre missões especiais (1969) 
 A CDI concluiu, após abordar a questão diplomática, que paralelamente à 
diplomacia tradicional, havia também a diplomacia ad hoc, que tratava de 
enviados de forma itinerantes, conferencias diplomáticas e das missões especiais 
enviadas a outros países, sendo que tais missões possuem um objetivo específico 
e/ou por tempo limitado, possuindo tratamento especial. 
 Desta forma, a Convenção sobre missões especiais que foi realizada pela 
AGNU em Nova York, em 16 de dezembro de 1969, entrou em vigor em 21 de 
junho de 1985. Portanto, ficou definido missões especiais como “Missão 
temporária, representando o estado, enviada por um a outro estado, com o 
consentimento deste, e com o objetivo de tratar de questões específicas ou de 
executar função específica”. 
 Sendo assim, após grandes discussões no âmbito internacional, a 
Convenção de Viena sobre as missões temporárias conceituou e rompeu com as 
divergências a respeito desse conceito. 
 
 
11 
4.5 Convenções de Viena sobre sucessão de estados (1978 e 1983) 
 Sobre as sucessões de Estados, ocorreram duas conferências em Viena, 
a primeira ocorreu em 1977/1978 e a segunda em 1983. O tema foi incluído na 
primeira agenda da CDI, mas não tinha caráter prioritário. 
Todavia, diante do elevado número de novos Estados e levando em 
consideração o peso na cotação na Assembleia Geral do bloco Afro-Asiático, a 
CDI iniciou um estudo do problema com mais profundidade. 
 Para isso, foi criado um subcomitê, que era presidido por Manfred Lachs, 
que opina que a Comissão necessariamente deveria abordar três temas, ou seja, 
a sucessão em matéria de tratados, a sucessão em outras matérias que não sejam 
os tratados e a participação nas organizações internacionais. 
 Tanto na Convenção de 1978 quanto na de 1983 foram tratados assuntos 
uteis para a definição da sucessão de países, uma vez que esta é entendida como 
“substituição de um estado por outro na responsabilidade das relações 
internacionais de determinado território”, e consolidou-se a terminologia de 
“estado predecessor” e “estado sucessor”, identificáveis em todas essas 
situações. 
TEMA 5 – CONVENÇÕES SOBRE ASSUNTOS CIENTÍFICOS, TECNOLÓGICOS E 
SOBRE O MEIO AMBIENTE 
Considerando os significativos progressos realizados pela ciência e 
tecnologia, é necessário mencionar uma série de atos que codificaram as normais 
elaboradas para regular os problemas surgidos em decorrência desses 
progressos, as chamadas convenções sobre assuntos científicos, tecnólogos e 
sobre o meio ambiente. 
Essas convenções possuem características essencialmente técnicas. 
Dessa forma, sua elaboração não ficou a critério da CDI, mas sim de grupos de 
especialistas que, na maioria das vezes, eram vinculados a organizações 
especializadas, como a PNUMA, FAO e/ou a UNESCO. 
Após 1945, o direito internacional que era tridimensional, ou seja, versava 
sobre o mar, espaço aéreo e a terra, passou a regular o espaço ultraterrestre, ou 
seja, os fundos marinhos e o respectivo subsolo da Antártica. 
Assim, na relação dos tratados que vieram em decorrência das novas 
situações surgidas por conta dos avanços tecnológicos, foi criado, a título 
 
 
12 
exemplificativo, o Tratado sobre Princípios Reguladores das Atividades dos 
Estados na Exploração e Uso do Espaço Cósmico, inclusive a Lua e Demais 
Corpos Celestes (1967), o Tratado Proibindo Experiências (testes) com Armas 
Nucleares na Atmosfera, no Espaço Cósmico e Debaixo D’água (1963), o Tratado 
sobre a Proibição da Colocação de Armas Nucleares e outras Armas de 
Destruição Maciça no Fundo do Mar e no Leito do Oceano e seu Subsolo (1971) 
e o Tratado da Antártica de 1959. 
Ressalta-se que as convenções que se destinam à proteção do meio 
ambiente também figuram no meio dos atos surgidos em decorrência do 
progresso da tecnologia e da ciência. 
Inúmeras são essas convenções, e basta aqui apenas mencionar as mais 
importantes, como por exemplo, a Conferência do Rio de Janeiro, de 1992, sobre 
Mudança de Clima e sobre Diversidade Biológica, bem como a Convenção de 
Viena para a Proteção da Camada de Ozônio (1985) e o Protocolo de Montreal 
sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (1987), a Convenção de 
Basileia sobre o Controle dos Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Nocivos 
e sua Colocação (1989), a Convenção para a Prevenção da Poluição Marinha 
pelo Alijamento de Dejetos e outras Matérias (1972), a Convenção sobre o 
Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo 
de Extinção (1973), a Convenção sobre as Zonas Úmidas de Importância 
Internacional (1971) – particularmente como hábitat das aves aquáticas – e o 
Tratado de Cooperação Amazônica (1978). 
5.1 Convenção das Nações Unidas sobre direito do mar (1982) 
 Assinada em Montego Bay, em 10 de dezembro de 1982, a Convenção 
sobre o Direito do Mar merece destaque e um estudo específico, vistoque, ao 
contrário das outras convenções mencionadas, a Convenção do Mar não foi 
resultado de um anteprojeto da CDI, mas sim de reuniões de delegados 
pertencentes a todo mundo e que durou nova anos, ocorridas em Genebra, Nova 
York, Caracas e Kingston, na Jamaica. 
 É claro que a codificação trazida pela Convenção do Mar se trata de 
praticamente uma repetição das Convenções de 1958 sobre o Mar Territorial e 
sobre o alto mar. Contudo, a preocupação principal das delegações que a 
elaboraram não se tratava de cunho legal, e sim econômico e político. 
 
 
13 
 A terceira conferência a respeito do Direito do Mar surgiu do discurso 
realizado por Arvid Pardo, que era delegado de Malta, proferido em 1967 à 
Assembleia Geral das Nações Unidas e que versava, entre outras coisas, dos 
últimos progressos realizados nas pesquisas cientificas relacionadas à exploração 
dos mares, com destaque ao fundo dos oceanos, pois na época se especulava a 
possibilidade de extração de minérios e sobretudos de manganês, níquel, cobre e 
ferro, bem como de outros tantos minérios encontrados em menor quantidade, daí 
o caráter econômico e político de tal Convenção. 
 Esse discurso foi recebido com grande entusiasmo pelos Estados 
componentes das delegações, principalmente aqueles que estavam em 
desenvolvimento acelerado, pois assim, se aprovada, esses países poderiam 
participar da exploração desses lugares que antes não eram explorados e assim 
evitar que as grandes potências monopolizassem a exploração dessas riquezas. 
 Assim, foi em 1970 que houve a aprovação de uma resolução que 
declarava que a área passaria a fazer parte do patrimônio comum da humanidade. 
A UNCLOS (United Nations Conference on the Law of the Seas) atentou-se a três 
principais pontos: a extensão dos limites marítimos dos Estados costeiros e a 
determinação dos direitos dos Estados sem litoral marítimo, os dos Estados 
geograficamente desfavorecidos e a exploração do fundo dos mares e de seu 
subsolo. 
 Contatou-se, mais cedo, que a conferência seguiria discutindo apenas a 
explicação do fundo dos oceanos, uma vez que os outros dois tópicos estariam 
equacionados com a solução dada à questão dos fundos. 
 Assim, com o objetivo de evitar que a conferência elaborasse apenas uma 
convenção aceita por uma maioria ocasional, ficou decidido que seria adotado por 
consenso, ou seja, mediante ao consenso de todas as delegações, o que acabou 
resultando em uma lentidão de seus trabalhos. 
 Dessa forma, a Convenção dos Mares de 1982 tem sido considerada por 
vários doutrinadores como a mais importante no que tange à codificação do direito 
internacional, apesar das inúmeras críticas. 
 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
ALMEIDA, G. A. de. Direitos Humanos e Não Violência. São Paulo: Atlas, 2001. 
ANNONI, D.; VALDES, L. C. O Direito Internacional dos Refugiados e o Brasil. 
Editora Juruá, 2013. 
BARBOSA, L. P.; HORA, J. R. S. da. A Polícia Federal e a Proteção 
Internacional dos Refugiados. Brasília: ACNUR, 2007. 
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. 
_____. Decreto n. 50.215, de 28 de janeiro de 1961. Diário Oficial da União, 
Poder Legislativo, Brasília, DF, 28 jan. 1961. 
_____. Decreto n. 98.602, de 19 de dezembro de 1989. Diário Oficial da União, 
Brasília, DF, 1989. 
_____. Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980. Diário Oficial da União, Brasília, 
DF, 1980. 
_____. Lei n. 9.474/97, de 22 de julho de 1991. Diário Oficial da União, Brasília, 
DF, 1991. 
_______. Lei n. 13.445, de 24 de maio de 2017. Diário Oficial da União, Brasília, 
DF, 2017. 
CONVENÇÃO Relativa ao Estatuto do Refugiado. In: Manual de procedimentos 
e critérios a aplicar para determinar o estatuto de refúgio. Lisboa: ACNUR, 
1966. 
CUNHA, P. F. da. Filosofia do Direito e do Estado. Belo Horizonte: Fórum, 2013. 
DECLARAÇÃO de Cartagena. In: ARAUJO, N.; ALMEIDA, G. A. de (Coord.). O 
Direito Internacional dos Refugiados: Uma perspectiva brasileira. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2001. 
GUERRA, S. C. S. Curso de Direito Internacional Público. 7. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2013. 
JUBILUT, L. L. O Procedimento de Concessão de Refúgio no Brasil. São 
Paulo, 2007. 
 
 
 
15 
MARINUCCI, R.; MILESI, R. Refugiados Realidades e Perspectivas. São Paulo: 
Loyola/IMDG/CSEM, 2003. 
MELLO, C. D. de A. Curso de Direito Internacional Público. v. 1, 15. ed. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2004. 
MOREIRA, J. B. A Questão dos Refugiados no Contexto Internacional (de 
1943 aos dias atuais). 207 f. Dissertação (Mestrado apresentada ao 
Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) – 
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006. 
MURILLO, J. C. Os Legítimos Interesses de Segurança dos Estados e a Proteção 
Internacional de Refugiados. Revista internacional de Direitos Humanos, São 
Paulo, v. 6, n. 10, jun. 2009. 
NOVELINO, M. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. Salvador: Juspodivm, 
2016. 
PORTELA, P. H. G. Direito Internacional Público e Privado. 3. ed. Salvador: 
Juspodivm, 2011. 
PIOVESAN, F. Direitos Humanos e Justiça Internacional. 6. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2015. 
_______. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 6. ed. 
São Paulo. Max Limonad, 2004. 
PUCCINELLI JÚNIOR, A. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2013. 
REBELLO, C. A. B. Acolhimento de Refugiados Palestinos do Campo de 
Ruweished pelo Programa de Reassentamento Solidário do Brasil: custos e 
benefícios para a diplomacia brasileira. Dissertação apresentada ao Ministério das 
Relações Exteriores – Instituto Rio Branco. Brasília, 2008. 
REZEK, F. Direito Internacional Público. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 
ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social. Leme: Edjur, 2017. 
SOUSA, M. T. C. Direito Internacional Humanitário. Curitiba: Juruá, 2011. 
TAVARES, A. R. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. São Paulo: 2014. 
TRINDADE, A. A. C. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
v. 1. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1997.

Mais conteúdos dessa disciplina