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Direito Diplomático - Wladimir Brito

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Prévia do material em texto

Wladimir Brito
Direito Diplomático
1colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
2 DIREITO DIPLOMÁTICO
Biblioteca Diplomática
Série A: Autores Portugueses
Conselho Editorial
Presidente: Professor Doutor Armando Marques Guedes
Professor Doutor Jorge Braga de Macedo
Embaixadora Margarida Figueiredo
General José Manuel Freire Nogueira
Professora Doutora Cristina Montalvão Sarmento
Professor Doutor António José Telo
3colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
Wladimir Brito
Direito Diplomático
4 DIREITO DIPLOMÁTICO
Ficha técnica
Título
Direito Diplomático
Autor
Wladimir Brito
Coordenação Editorial
IDI - MNE
Edição
Colecção Biblioteca Diplomática do MNE – Série A
Ministério dos Negócios Estrangeiros, Portugal
Design Gráfico
Risco, S.A.
Fotografia
Miguel Valle de Figueiredo
Paginação, Impressão e Acabamento
Europress, Lda.
Tiragem
1000 exemplares
Data
Dezembro de 2007
Depósito Legal
268110/07
ISBN
978-972-9245-84-8
5colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
Índice
Prefácio 9
CAPÍTULO I – Evolução Histórica e Fontes 15
1.1. Introdução 15
1.2. Brevíssima descrição da evolução Histórica das
Missões Diplomáticas Permanentes 18
1.2.1. Introdução 18
1.2.2. Na antiguidade clássica greco-romana 19
1.2.3. Na Idade Média 21
1.2.4. Da idade moderna ao século XIX 22
1.2.5. Século XIX 25
1.2.6. Século XX: os períodos essenciais 26
1.3. Conceito e fontes do Direito Diplomático 29
1.3.1. Conceito 29
1.3.2. Fontes do Direito Diplomático 30
CAPÍTULO II – As Missões Diplomáticas permanentes 37
2.1. Missões Permanentes: Conceito 37
2.2. Início da Missão Diplomática permanente 38
2.2.1. Introdução 38
2.2.2. A instalação da Missão Diplomática 39
2.3. Nomeação do chefe da Missão, do pessoal diplomático
e do pessoal administrativo 40
2.3.1. Introdução 40
2.3.2. Os requisitos da nomeação 41
2.3.2.1. O Agrément. Sua Natureza Jurídica 42
2.3.2.2. A Nacionalidade 46
6 DIREITO DIPLOMÁTICO
2.3.3. A nomeação dos membros do pessoal diplomático
da Missão 47
2.3.4. Nomeação dos membros do pessoal administrativo,
técnico e do serviço da Missão 48
2.3.5. Natureza jurídica da nomeação 49
2.4. Instalação da Missão 52
2.5. O Acreditamento 53
2.5.1. Questões gerais 53
2.5.2. Múltiplo Acreditamento 54
2.5.3. O Acreditamento e a representação comum 55
2.6. Categoria dos Agentes Diplomáticos 56
2.6.1. Introdução 56
2.6.2. Categoria dos Agentes Diplomáticos 58
2.6.3. Direito de Legação 61
CAPÍTULO III – Prerrogativas: Imunidades, Inviolabilidade e
Privilégios 67
3.1. Introdução 67
3.2. Prerrogativa Rationae Rei ou Prerrogativa do Local da
Missão, seus arquivos e bens 75
3.3. Prerrogativa Rationae Personae ou Prerrogativa do
Agente Diplomático 80
3.3.1. Imunidades e privilégios dos Agentes Diplomáticos 80
3.3.2. Privilégios dos Agentes Diplomáticos 87
3.3.3. Facilidades 94
3.4. Os membros da família do Agente Diplomático e as
prerrogativas 95
3.5. As prerrogativas dos Agentes Diplomáticos nos Terceiros
Estados 96
3.6. Início e termo das prerrogativas diplomáticas 97
3.7. Deveres dos Agentes Diplomáticos 99
3.8. Violação dos deveres: suas consequências 102
3.9. Prerrogativas dos outros membros da Missão 103
7colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
3.10. Deveres dos outros membros do pessoal da Missão 106
3.11. A imunidade do Estado 107
3.12. Funções da Missão Diplomática 109
3.13. Retirada da Missão 111
CAPÍTULO IV – Missões Especiais 115
4.1. Introdução 115
4.2. Funções da Missão Especial 118
4.3. Designação dos Membros da Missão 119
4.4. Composição da Missão Especial 120
4.5. Nacionalidades dos Membros da Missão Especial 121
4.6. Sede da Missão Especial 122
4.7. Início das Funções da Missão 123
4.8. Órgão do estado receptor competente para tratar
dos assuntos oficiais 123
4.9. Prerrogativas da Missão e dos Membros da Missão 124
4.10. Termo das funções da Missão Especial 125
CAPÍTULO V – Relações Diplomáticas e Organizações Internacionais 127
5.1. Introdução 127
5.2. Representação das Organizações Internacionais junto
dos Estados e de outras Organizações Internacionais 130
5.3. Delegações ou Missões Permanentes 130
5.4. Representação dos Estados junto das Organizações
Internacionais 132
5.5. Prerrogativas dos Membros da Missão: Imunidades
e Privilégios 134
5.6. A questão da sede das Organizações Internacionais 137
Bibliografia 141
Anexos 143
8 DIREITO DIPLOMÁTICO
9colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
Prefácio
É com gosto que prefacio a primeira edição de um trabalho tão imprescin-
dível quão inovador em Portugal. Trata-se de uma monografia breve, mas
muito rica, sobre um tema – a regulação jurídico-internacional das rela-
ções diplomáticas entre Estados, Organizações Internacionais, e outros
sujeitos do Direito Internacional – cada vez mais actual e submetido a
mudanças cada vez mais aceleradas: o chamado Direito Diplomático. O
prazer que sinto por ter um papel nesta publicação reflecte, pelo menos
em parte, um sentimento de quasi-paternidade: foi incitado por mim que
Wladimir Brito, o primeiro português a concluir com êxito as suas provas
de doutoramento em Direito Internacional Público, se emprenhou na
transformação em livro daquilo que eram notas mais esparsas que redigira
para apoio aos alunos da Escola de Direito da Universidade do Minho,
onde lecciona. Mas esta não é, infelizmente, a única fonte da alegria que
sinto por colaborar no esforço de dar à estampa um trabalho desta
natureza; acrescenta-se-lhe uma outra, menos agradável: uma sensação
de alívio.
Com efeito, a publicação do presente estudo, da autoria do Professor
Doutor Wladimir Brito, que versa o Direito Diplomático que lhe dá o título,
respondeu a vários tipos de pressões, colmatando falhas que julgo graves.
Das muitas lacunas patentes no panorama intelectual português no que
diz respeito ao “internacional”, a inexistência de um enquadramento téc-
nico-jurídico “doméstico” sobre o lugar e o papel normativos que discipli-
nam a Diplomacia tem sido porventura uma das mais gritantes. De facto
não pode senão ser sentida como confrangedora a ausência de quaisquer
trabalhos de fundo posteriores ao volume do Embaixador José Calvet de
Magalhães, intitulado Manual Diplomático. Direito Diplomático e Prática
Diplomática, editado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros há mais de
vinte anos, em 1985 (e re-editado em 2001). A lacuna torna-se particular-
10 DIREITO DIPLOMÁTICO
mente dolorosa se lhe associarmos o facto de que ocorre num País como
o nosso, senhor de uma diplomacia com alguns pergaminhos, e que tanto
fez para ajudar à criação do sistema internacional alargado de Estados em
que hoje em dia vivemos. Uma situação que é, para dizer o mínimo,
alarmante, tanto para o exercício da diplomacia portuguesa, quanto para
o delinear da nossa política externa. Radica aqui, a transmutação da minha
alegria em alívio: na sensação de que uma missão importante se vê
cumprida – um sentimento neste caso mesclado com tristeza retrospecti-
va quanto a um estado de coisas que tenho por lamentável.
Porquê esta rarificação? Podemos ser tentados a ver nela a expressão
de uma especial complexidade deste ramo dos estudos jurídicos. Efectiva-
mente, embora o Direito Diplomático não tenha a intrincação nem a
extensão de, por exemplo, um Direito da Educação, a verdade é que
apresenta – no que diz respeito ao design interno, por assim dizer, que
preside à sua arquitectura – dificuldades fascinantes de ordem conceptual.
Parece fácil equacioná-las, e logo na Introdução que redigiu, Wladimir
Brito traça as suas linhas mestras: é certo, por um lado, que as regras e
princípios que dão corpo ao Direito Diplomático têm na sua base os
princípios “sacrossantos” da soberania e da igualdade entre os Estados,
gizados em Münster e Osnabruck na fase derradeira da terrível Guerra dos
Trinta Anos e consagrados, em 1648, na Paz de Westphalia; princípios
esses que desenham as fronteiras externas que, em última instância, ou
seja, em termoslógico-formais, confinam o espaço nocional em que tais
regras se desenvolvem e em que essas relações são estabelecidas. Mas, por
outro lado, tais princípios e regras têm sido arquitectados com o intuito,
senão de os ultrapassar, pelo menos de os tornar permeáveis a alguma
flexibilidade em relação ao Mundo real, um realismo que ponha em
perspectiva estas ficções jurídicas de igualdade e soberania. Como W. Brito
escreveu, “as relações diplomáticas implicam, sob um ponto de vista
jurídico, a criação de mecanismos geradores do concurso de competên-
cias entre Estados – e outros sujeitos do Direito Internacional – num
mesmo território, o que não deixa de atingir, de certo modo, ‘à la limite’ o
11colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
poder soberano – a soberania – do Estado sobre o seu território. De facto,
a instalação de um serviço público de um Estado no território de outro,
subtraído completamente à jurisdição deste último, não deixa de ser um
fenómeno contrário [o itálico é meu] à ideia da soberania, e, em
consequência, algo que gera problemas relativos ao pleno exercício do
poder soberano de um Estado sobre o seu território”. Sem manifestar
grandes preocupações com a fundamentação factual dessa necessidade –
um tema que, creio, seria suficiente para uma monografia à parte – o Autor
conclui que, “[p]or essa razão, a questão das relações diplomáticas implica
necessariamente a conciliação do princípio da soberania territorial com as
exigências das relações internacionais ou, por outras palavras, com a
criação e o reforço de relações amigáveis e de cooperação entre os sujeitos
do direito internacional, o que só através do estabelecimento de relações
diplomáticas pode ser plena e satisfatoriamente realizada”. Sejam quais
forem os seus motivos, há, evidentemente, uma solução para esta exigên-
cia, e essa foi a que, historicamente, se viu assumida.
Vale seguramente a pena detalhá-la, indo mais longe do que Wladimir
Brito foi na sua presente obra: em nome da precedência do princípio da
igualdade sobre o da soberania, e face às tensões patentes nos domínios
supra-estaduais e à periculosidade delas (os Estados, por algum motivo,
desde há muito são caracterizados, tant bien que mal, como tendo de
conviver numa “anarquia internacional” alarmante) gerou-se o reconheci-
mento de que alguma porosidade tem de ser permitida neste segundo
princípio, o da soberania, para que, pela via da reciprocidade, o primeiro,
o da igualdade, em última análise prevaleça. Outras soluções decerto
haveria, para resolver o conundrum fundacional do Direito Diplomático,
chame-se-lhe assim; não foram, porém, as escolhidas.
A hipótese segundo a qual a ausência de trabalhos de fôlego relativos
ao Direito Diplomático ancorariam nas dificuldades de ordem conceptual
que este apresenta não me parece, no entanto, particularmente convin-
cente, já que dificuldades constituem tanto barreiras quanto desafios. Em
todo o caso, sublinhe-se, o problema é bem mais extenso do que à
12 DIREITO DIPLOMÁTICO
primeira vista pode parecer. Para o entender, basta que restituamos a
questão ao quadro maior de que é parcela – foi apenas nos anos 90 do
passado século XX que tiveram lugar, nas Faculdades de Direito portugue-
sas, as primeiras provas públicas de doutoramento na área de um Direito
Internacional Público de que, com mão segura, Frei Serafim de Freitas e
Francisco Suarez, os dois de certo modo nossos conterrâneos1, são gené-
rica e indiscutivelmente reconhecidos como estando entre dos mais ilus-
tres Pais Fundadores. Uma das consequências mais imediatas deste autên-
tico vácuo é apreciável: embora a disciplina de Direito Internacional tenha
vindo desde há anos a ser ministrada por um ou outro académico formado
em Universidades estrangeiras e por juspublicistas de safra local nele
interessados, o ensino do Direito Diplomático em Portugal foi, até há meia
dúzia de anos, inexistente. A primeira instituição portuguesa de Ensino
Superior público onde a disciplina foi incluída, de maneira não autónoma,
no programa de estudos da disciplina de Direito Internacional foi a do
Minho, no ano lectivo de 1991-1992, no quadro da Licenciatura em Rela-
ções Internacionais; o introdutor desse ensino foi, naturalmente, o Profes-
sor Doutor Wladimir Brito; a primeira vez que uma Faculdade de Direito
decidiu introduzir, no currículo utilizado para formar futuros juristas, a
disciplina autónoma de Direito Diplomático e Consular – a Faculdade de
Direito da Universidade Nova de Lisboa, já , pasme-se, no século XXI – para
a reger foi preciso recorrer a um especialista espanhol, um jurista, aliás, de
notável qualidade. A uma lacuna técnico-científica genérica séria, vemo-
-nos assim na contingência de ter de agregar uma carência instrumental
perigosa nas implicações que pode gerar: as de uma perpetuação de
dependências e a de consequentes subalternizações em domínios nos
quais importa sobremaneira evitá-las a ambas.
1 Embora este último, um teólogo-jurista, não fosse português, cá se formou e
trabalhou. Francisco Suarez nasceu em Granada e foi feito Catedrático de Teologia, em
Coimbra, por Filipe II, em 1596; como não era doutorado, os lentes de Coimbra obrigaram-
-no a fazê-lo, o que levou a cabo na Universidade de Évora. Só então foi empossado como
Catedrático e exerceu essas funções até 1617, ano da sua morte.
13colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
Mas o extraordinário não termina aqui. Com recuo retrospectivo, é
decerto curiosa a constatação de que é com aparente sobranceria que
damos conta de uma parcela essencial do labor imprescindível para a
nossa inserção jurídico-política externa, ao mesmo tempo que apostamos
na criação-aprofundamento de laços jurídicos com os Estados lusófonos –
decerto como expressão de uma história comum e partilhada, mas tam-
bém num esforço bem-vindo levado a cabo com o intuito de ampliar o
nosso peso internacional específico. Esta conjuntura paradoxal constitui,
seguramente, um dos muitos domínios académico-políticos em que com
mais nitidez se exprime aquilo que durante a Monarquia Constitucional e
a Primeira República foi apelidado como o nosso “atraso histórico”. E, nesse
contexto, não pode deixar de ser delicioso que o livro que tenho a honra
de prefaciar seja produto do labor universitário de um português de
origem cabo-verdiana, Wladimir Brito.
Trata-se de um produto de qualidade. No curto volume introdutório
que se segue, sempre de olhos postos no jurídico, o Autor conduz-nos
pelos meandros do estabelecimento de missões diplomáticas permanen-
tes na Época Moderna, um processo que divide em quatro fases: numa
primeira parte, discute as fontes do Direito Diplomático (uma questão
mais complexa do que pode parecer, visto este Direito se encontrar
umbilicalmente ligado a dois tipos de ordens jurídicas, a internacional e as
nacionais). Numa segunda, pormenoriza a mecânica normativa que rege
a criação e funcionamento das já referidas missões diplomáticas perma-
nentes. De seguida, numa terceira parte, vasculha os fundamentos e a
alçada das prerrogativas, imunidades, inviolabilidade e privilégios a que
os diplomatas e a acção diplomática estão sujeitos – não se excisando a
discutir as erosões a que se têm visto sujeitos. Passa depois, num quarto
passo, à regulamentação das missões especiais, e conclui, num quinto e
último, com um tema que, só por si merece uma monografia à parte, o
Direito Diplomático relativo às Organizações Internacionais. O tom é colo-
quial e o texto que o suporta tem um traçado claro e enxuto. Mais do que
um esforço manualístico, o trabalho de Wladimir Brito constitui um esboço
14 DIREITO DIPLOMÁTICO
de enquadramento histórico-sociológico da ratio da rápida progressão do
Direito Diplomático contemporâneo; em resultado, e sem embargo da
sistematização cuidada que o Autor lhe imprime, o carácter geral do
volume é ensaístico. A vantagem de um estudo deste tipo é calculável em
termos sobretudo pedagógicos: vale, na justamedida em que, por se tratar
de uma reconstrução racional deste ordenamento normativo e da sua
dinâmica, este, em resultado, se torna mais inteligível.
Queria terminar com uma nota de esperança construtivista. A utilida-
de de um qualquer trabalho, seja ele de investigação ou outro, não é
apenas mensurável pela riqueza intrínseca daquilo que é empreendido:
resulta também da sua capacidade para desencadear seguimentos que
mostre poder ter, do efeito catalizador, ou de fermentação se se preferir,
que venha a exibir. A qualidade e limpidez do curto estudo de Wladimir
Brito agora apresentado – ambas coisas raras em Portugal, sobretudo no
domínio da produção jurídica internacional pública – estão acima de
quaisquer dúvidas, como o mostra a mais cursória das leituras. Estou certo
que a presente publicação irá dar azo a muitas outras mais, no tipo de
diálogo académico que sabemos ser o único garante de um futuro intelec-
tual melhor e mais responsável. O meu Amigo, o Professor Wladimir Brito,
está de parabéns; estamo-lo todos nós.
Professor Doutor Armando Marques Guedes
Presidente do Instituto Diplomático
Professor da Faculdade de Direito
da Universidade Nova de Lisboa
15colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
1.1. Introdução
1 – Tal como acontece com as demais relações entre Estados, e entre
estes e outros sujeitos do Direito Internacional, as relações diplomáticas
também se encontram submetidas a um conjunto de regras e princípios
jurídicos, quer de natureza convencional, quer costumeira. É claro que estas
regras e princípios têm na sua base os princípios da soberania e da igualda-
de entre os Estados, que são, em última análise, os marcos em cujos limites
essas regras se desenvolvem e em que tais relações são estabelecidas.
Na verdade, as relações diplomáticas implicam, sob um ponto de
vista jurídico, a criação de mecanismos geradores do concurso de compe-
tências entre Estados – e outros sujeitos do Direito Internacional – num
mesmo território, o que não deixa de atingir, de certo modo, “à la limite” o
poder soberano – a soberania – do Estado sobre o seu território. De facto,
a instalação de um serviço público de um Estado no território de outro,
subtraído completamente à jurisdição deste último, não deixa de ser um
fenómeno contrário à ideia da soberania, e, em consequência, algo que
gera problemas relativos ao pleno exercício do poder soberano de um
Estado sobre o seu território. Por essa razão, a questão das relações
diplomáticas implica necessariamente a conciliação do princípio da sobe-
rania territorial com as exigências das relações internacionais ou, por
outras palavras, com a criação e o reforço de relações amigáveis e de
cooperação entre os sujeitos do direito internacional, o que só através do
estabelecimento de relações diplomáticas pode ser plena e satisfatoria-
mente realizada.
Evolução Histórica e Fontes
Capítulo I
16 DIREITO DIPLOMÁTICO
Pelo exposto, poderemos ver que no mundo actual é irrealista defen-
der uma concepção absoluta da soberania, hoje completamente ultrapas-
sada.
Relativamente ao princípio da igualdade, a questão que, hoje, as
relações diplomáticas levantam, de forma crescentemente preocupante,
num mundo constituído por Estados com distintos regimes políticos,
sociais e económicos, com dimensões territoriais desiguais e com diferen-
tes influências na cena político-económica e militar internacional, numa
palavra, de Estados fortes e fracos, é a de tais relações serem transforma-
das e utilizadas como instrumentos de pressão dos Estados (ou blocos)
fortes sobre os Estados fracos.
A estes problemas a sociedade internacional procurou dar res-
posta com o estabelecimento de um conjunto de regras e princípios
vectores das relações internacionais, as quais embora não sejam suficien-
tes para solucionar todo esse complexo problemático, são, contudo, um
passo importantíssimo para a resolução pacífica dos conflitos interna-
cionais.
Finalmente, importa dizer aqui que a proliferação e diversidade dos
sujeitos do direito internacional, decorrentes não só da emergência de
novos Estados na sociedade internacional, mas também da multiplicação
das organizações internacionais, tornam, ainda, mais complexos todos os
problemas que as relações diplomáticas colocam na actualidade.
Não é aqui possível tratar em profundidade todas essas questões,
cujo estudo interessa para uma melhor compreensão da evolução das
relações diplomáticas. Contudo, iremos abordar sumariamente algumas
delas.
2 – Imporá agora dizer que é nesse conjunto de regras e princípios,
numa palavra, nesse conjunto de normas que regulam as relações interna-
cionais, que temos de procurar aquelas que disciplinam as relações diplo-
máticas enquanto “relaciones oficiales y formales de los Estados u otros
sujetos de derecho internacional, a través de unos organos específicos pró-
17colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
prios para las relaciones exteriores de los mismos (…)”1 e, essencialmente,
enquanto relações pacíficas, pacificidade essa que caracteriza as relações
diplomáticas e as distingue das relações bélicas, que são a outra dimensão
das relações internacionais.
Por outro lado, é no âmbito dessas relações diplomáticas que se
localiza aquilo a que se chama a diplomacia2, que pode ser entendida
numa tripla dimensão3 a saber, toda ela regulada pelo Direito Diplomático:
a) A objectiva, para significar o conjunto complexo e plural de activi-
dades pacíficas desenvolvidas pelos sujeitos do Direito Internacio-
nal com capacidade para estabelecer relações diplomáticas – Esta-
do e Organizações Internacionais Governamentais – com vista a
realizar os seus interesses específicos e os da comunidade interna-
cional.
b) A subjectiva, enquanto conjunto de pessoas – Agentes ou Pessoal
Diplomático – oficialmente investidas no poder (função) de repre-
sentar aqueles sujeitos do Direito Internacional nas suas relações
internacionais, em nome deles negociar os seus interesses e no
interesse deles informá-los das questões relevantes ocorridas nos
países em que desenvolvem a sua actividade e da comunidade
internacional, em geral.
c) Orgânico, conjunto de serviços externos e internos – serviços diplo-
máticos e locais da missão – criados por esses sujeitos e instalados
1 Eduardo Vilariños Pintos, Curso de Derecho Diplomático y Consular, Ed. Tecnos,
Madrid, 2003, p.ª 26.
2 De acordo com Ian Brownlie a diplomacia, na sua acepção mais lata, “compreende
todos os meios pelos quais os Estados estabelecem ou mantêm relações mútuas, comuni-
cam uns com os outros ou interagem política ou juridicamente, sempre através dos seus
representantes autorizados”, Cfr. IAN BROWNLIE “Princípios de Direito Internacional Público,
Ed. Gulbenkian, Lisboa, 1997, p.ª 367.
3 Em sentido próximo, veja-se Stanislaw Edward Nahlik, Development of Diplomatic
Law. Selected Problems, in Recueil des Cours de l’Académie de Droti International, Tomo
222, 1990-III, Ed. Martinus Nijhoff, Dordrecht/ Boston/ London, 1991, p.ª 201 e segs.
18 DIREITO DIPLOMÁTICO
nos seus respectivos territórios e, por acordo prévio entre eles, por
cada um no território do outro para apoiar material e fisicamente
as actividades desenvolvidas pelos Agentes Diplomáticos.
É com essa tripla natureza que a diplomacia ou, se quisermos ser mais
precisos, as relações diplomáticas, constituem o objecto do Direito Diplo-
mático e são por isso por esse direito reguladas, como se verá mais à
frente.
1.2. Brevíssima descrição da evolução Histórica das Missões
Diplomáticas Permanentes
1.2.1. Introdução
A História da diplomacia e do Direito que a disciplina revela-nos que
originariamente a actividade diplomática era desenvolvida por missões
especiais ad hoc encarregadas de tratar, num dado período de tempo, de
assuntos específicos de um Império ou Reino noutro Império ou Reino.
Assim, podemos dizer que os povos antigos só conheciam a diplomacia ad
hoc feita por emissários que em nome dos respectivos monarcasou
imperadores negociavam os seus interesses, celebrando tratados de paz,
de protecção dos lugares sagrados, de repartição de cursos ou lençóis de
águas, etc.. Já nessa altura esses emissários eram considerados e tratados
como pessoas sagradas a quem eram reconhecidos privilégios e
inviolabilidade pessoal, sendo por regra os únicos estrangeiros num dado
território a quem eram dispensadas essas prerrogativas.
Os povos antigos, como, por exemplo, os chineses e os indianos,
atribuíam grande importância à diplomacia e às práticas diplomáticas, o
que levava a que na China, diz-nos EduardoVilariño Pintos4, no “siglo III a.c.
los embajadores chinos estaban obligados a presentar por escrito informes
4 EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho Diplomático e Consular, cit.º p.ª 52.
19colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
minuciosos sobre el cumplimiento de su misión”, enquanto o Código Manú,
na Índia, dispensava muita atenção ao Direito Diplomático e à diplomacia
que concebia como a arte de evitar a guerra e de assegurar a paz.
Estamos obviamente numa época em que a diplomacia era essen-
cialmente de emissários, que na Grécia clássica eram conhecidos como
Kyrikes, Presbeis, ou Angeloi, enquanto em Roma eram denominados de
legati, e eram eles que desenvolviam toda a actividade diplomática nego-
ciando e celebrando tratados.
1.2.2. Na antiguidade clássica greco-romana
Quer na Grécia, quer em Roma não existiam missões diplomáticas
permanentes, continuando a ser totalmente desconhecida a figura de
embaixador ou da missão permanente. Nesse período os representantes
dos impérios ou reinos não permaneciam por muito tempo em território
estrangeiro, dado que se limitavam a executar as missões de que eram
encarregados, regressando, de imediato, aos seus territórios de origem. As
missões tinham, assim, um carácter temporário e específico, eram missões
ad hoc, mesmo quando se prolongavam por algum tempo. Mas, apesar
disso não deixaram de dar grande importância à diplomacia, sendo, na
opinião de Vilariños Pintos5, os gregos que, apesar da limitada dimensão
da sua diplomacia, pela primeira vez, dão às relações diplomáticas uma
certa estabilidade formal, o que obviamente, adverte este professor espa-
nhol, não podia ser entendido como diplomacia ou missão permanente.
Na Grécia os diplomatas eram designados pelos conselhos ou pelas
assembleias a quem cabia a responsabilidade das relações internacionais
sendo os emissários escolhidos em função do assunto a tratar6.
5 EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho Diplomático e Consular, cit.º p.ª 5.
6 Diz-nos EDUARDO VILARIÑO PINTOS, que “la asemblea pública era normalmente la
institucion soberana del estado y las responsable de la politica exterior y de la diplomacia,
20 DIREITO DIPLOMÁTICO
Já em Roma a diplomacia não tinha a importância de que gozava na
Grécia, mas também não deixava de ser um instrumento das relações
exteriores dos romanos. Inicialmente, cabia aos fetiales a responsabilidade
pela diplomacia, exactamente porque também eram eles que se pronun-
ciavam sobre a guerra e a paz com os outros povos. Eram, portanto, os
fetiales que estavam encarregados não só de designar os enviados roma-
nos, como de receber os “diplomatas” dos outros povos. Mais tarde, a
responsabilidade pelas relações internacionais passa para o Senatus órgão
encarregado da política externa do Império, cabendo-lhe designar os seus
emissários, legati, bem como receber os que lhes eram enviados pelos
outros povos.
Roma sempre respeitou os enviados diplomáticos que eram conside-
rados como personificação dos respectivos monarcas e povos, o que
levava Cícero a dizer que “legatorum divino humanoque vallatum est
proesidio, cujus tam sactum et venerabile nomen debet ut non modo inter
sociorum jura, sed et hostium tela incolume versetur” e a violação dos privi-
légios e inviolabilidades desses enviados eram comummente aceite como
causa justificativa da ruptura de ralações diplomáticas e da declaração de
guerra7.
As missões especiais romanas eram normalmente formadas por vá-
rios membros e dirigidas por um princeps legationis que foram criando
uma prática diplomática que sobreviveu à queda do Império Romano do
Ocidente em 476 e que foi adoptado pelos povos invasores. Estes denomi-
navam os seus enviados de legati, nuntii ou missi.
los nombriamentos de los enviados y la resoluciones sobre diplomacia solían ser previa-
mente acordadas por un comité de cinco consejeros a modo de resolucion preliminar; ante
la asemblea, dada su condición de institución soberana y por su funciones, actuaban los
enviados extranjeros y daban cuenta de su misión los enviados próprios”, in Curso de
Derecho Diplomático y Consular, cit.º p.ª 53.
7 No mesmo sentido veja-se CHARLES MORTON, Les Privilèges et Immunités
Diplomatiques, Lausanne, 1927, p.ª 11.
21colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
1.2.3. Na Idade Média
É claro que a actividade diplomática ao longo da antiguidade produ-
ziu naturalmente certas regras jurídicas de carácter costumeiro, quer
relativas a relações diplomáticas, quer ao tratamento dispensado aos
enviados especiais (diplomatas), criando um direito diplomático de carác-
ter costumeiro que na Idade Média continua a dominar, embora agora
novos conceitos e novas práticas vão ser adoptadas. De facto, as comple-
xas e frequentemente conflituais relações entre os povos do mundo
greco-ortodoxas e eslavo-bizantinas, que integravam o império romano
do oriente, encabeçado pelo Imperador de Bizâncio, o papel do Papado no
mundo medievo e, mais tarde, as relações entre os Veneza, Nápoles e
Milão vão contribuir decisivamente para o aperfeiçoamento das práticas e
do direito diplomático, abrindo caminho para a o aparecimento do concei-
to de missão permanente
Assim em Bizâncio, o Imperador, nas suas relações com outros povos,
não só dotavam os seus enviados especiais, com cartas credenciais –
prokuratorikon – como recebiam com grande cerimónia os enviados de
outros povos, estabelecendo para o efeito, regras protocolares cuidadosa-
mente elaboradas. Por outro lado, apesar de não terem estabelecido as
representações permanentes, as embaixadas eram rodeadas de um certo
aparato exterior e as comunicações diplomáticas eram feitas por notas –
sacra ou pragmatika. Curiosamente, embora ainda se não possa falar de
missão permanente, o Papa, com vista a assegurar as relações de natureza
dominantemente religiosa e a política eclesiástica e, com ela, a própria
autoridade papal, tinha um enviado permanente, denominado por
apocrisiariou reesponsales8, em Constantinopla.
O Papado também mantinha uma intensa actividade diplomática e
junto e vários príncipes cristãos também com os mesmos objectivos,
8 Cfr. SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Estudos de Direito Internacional, Organização da
Sociedade Internacional, (Lições de Direito Internacional 1909-1910), Coimbra 1910, p.ª 425.
22 DIREITO DIPLOMÁTICO
mantinha enviados, denominados legatii ou responsales, enviados que nos
finais da Idade Média tinham distintas denominações com as quais se
assinalavam as distintas categorias desses enviados. Assim, diz-nos Vilariños
Pintos9 os legati eram os representantes pessoais do Papa e exerciam as
mais elevadas funções de natureza dominantemente eclesiática, os nuncius,
de categoria inferior, tinham menos poderes e eram encarregados de
assuntos de natureza temporal.
Por seu lado as Repúblicas italianas, nomeadamente as de Veneza,
Nápoles e Milão, devido às intensas relações político-económicas e diplo-
máticas que entre si mantinham, também contribuíram decisivamente
para a evolução das práticas e do direito diplomático, e abriram caminho
para o aparecimento das missões permanentes, ainda no quadro de um
direito diplomático de natureza costumeiro que será a dominante até ao
século XIX10.
1.2.4. Da idade moderna ao século XIX
No início da Idade Moderna, uma nova forma de organização política
começa a emergir na Europa e a impor-se em todos os países.É o Estado
moderno que nasce e com ele necessariamente uma nova forma de
diplomacia. Na verdade, esse Estado começou desde logo a reclamar uma
nova forma de diplomacia capaz de assegurar com permanência e sem
soluções de continuidade as relações internacionais bi ou multilaterais.
Reclamando para si o monopólio dessas relações, o Estado soberano
também exigia o reconhecimento no mundo das relações internacionais
da igualdade entre todos os Estados. A sociedade internacional composta
9 Cfr. EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho Diplomático e Consular, cit.º
p.ª 54 e 55.
10 Cfr. WLADIMIR BRITO, Direito Internacional Público – Parte Histórica e Fontes,
Ed. CECRI, Braga, 1994.
23colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
exclusivamente por esses Estados passou a sentir a necessidade de uma
diplomacia permanente como instrumento capaz de assegurar a repre-
sentação internacional do Estado, a estabilidade das relações interestatais
e com ela a paz. É assim que se começa a institucionalizar a diplomacia e
as missões permanentes.
De facto, é com a grande actividade diplomática dos Estados Italianos
que nasce a figura dos embaixadores residentes, que, na opinião de
CALVET DE MAGALHÃES é inaugurada pelo Senhor de Milão, Giangaleazo
Visconti, “que durante mais de sete anos, ou seja, de Maio de 1425 a Julho de
1432, manteve um embaixador residente junto da corte de Sagismundo (1368-
1437), rei da Hungria e imperador do Santo Império Romano”11 e que a partir
dos século XV os diversos Estados Italianos – Veneza, Nápoles, Milão –
passam a trocar embaixadores permanentes ou residentes, acontecendo
até que a Santa Sé passa a receber tais diplomatas12.
Institucionalizada a missão permanente, esta, pela sua nova natureza,
não só vai dar origem a novas práticas diplomáticas, como provoca pro-
fundas transformações no Direito Diplomático que exigem a sua consa-
gração em texto escrito, como veremos. Na verdade, no que se refere às
transformações provocadas pela diplomacia permanente, podemos dizer
que uma das mais decisivas é a formação de um corpo estável e perma-
11 JOSÉ CALVET DE MAGALHÃES, Manual Diplomático – Direito Diplomático e Prática
Diplomática – Ed. do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lisboa, 1985, pág. 21 e segs.
Entende EDUARDO VILARIÑOS PINTOS que “aun cuando documentalmente parece
corresponder a Milán el establecimiento de las primeras misiones diplomáticas permanen-
tes en el sentido moderno, es a Venecia a quien se debe la configuración y la más completa
organización de la nueva forma de diplomacia, sobre cuyo modelo se producirá su desarrollo
en etapas posteriores”. Assim conclui esse autor “daí que Venecia sea considerada como
‘escuela y prueba de embajadores’ y la diplomacia permanente – y aun la moderna diploma-
cia, en general – como creación veneciana”. EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho
Diplomático e Consular, cit.º p.ª 57.
12 Para maior desenvolvimento confronte JOSÉ CALVET DE MAGALHÃES, Manual
Diplomático, cit., p. 21 e ss. Cfr. ainda PAUL REUTER, Institution International, Ed. PUF, Paris,
1956, p. 35-40.
24 DIREITO DIPLOMÁTICO
nente de agentes diplomáticos de que vai resultar a sua profissionalização.
A partir de agora, a diplomacia (permanente) é, sob o ponto de vista
subjectivo, um conjunto de pessoas que fazem da diplomacia a sua
profissão e que, por isso mesmo, passam a assumir-se um corpo de
profissionais das relações internacionais interestatais13.
Por outro lado, sob o ponto de vista da actividade diplomática –
dimensão objectiva da diplomacia –, esta assume novas formas, pois deixa
de ser uma actividade meramente representativa e negocial para passar a
ser também uma actividade informativa. Na verdade, os agentes diplomá-
ticos ampliam as suas funções, passando a ter a função de informar os seus
respectivos Estados sobre as questões que ocorrem no Estado receptor e
que são consideradas relevantes para as relações interestatais, bem como
sobre as questões mais relevantes para as relações internacionais. O
diplomata passa agora a ser um observador atento e permanente da vida
pública do Estado receptor onde exerce as suas funções e também da vida
internacional.
Podemos assim dizer que a dimensão subjectiva da diplomacia assu-
me agora a sua configuração moderna e apresenta-se como um corpo
profissionalizado de agentes de um Estado preparado para, de forma
especializada, exercerem tarefas específicas no domínio das relações inter-
nacionais. Trata-se de um corpo permanente que reclama um novo esta-
tuto, por já não se satisfazer com aquele que lhe era oferecido pelo direito
13 Importa esclarecer que esse corpo não se confunde com o que tradicionalmente se
denomina por corpo diplomático. O corpo diplomático também pode significar o conjunto
de todos os enviados que são acreditados por um Estado junto dos demais Estados e
Organizações Internacionais. Nesse sentido se fala de corpo diplomático português, espa-
nhol, belga ou chinês. Noutro sentido significa todos os agentes diplomáticos de vários
Estados acreditados pelos seus respectivos Estados junto de um outro. Neste sentido temos
o corpo diplomático junto do Estado português. Este corpo diplomático é representado nos
momentos e cerimónias solenes pelo seu decano que é o diplomata mais antigo e da mais
elevada categoria. Nos países católicos o decano é normalmente o núncio, independente-
mente da data da sua chegada ao país.
25colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
internacional geral ou costumeiro e que regulava a sua actividade. Mas,
reclama-o com o apoio dos Estados, que também reconhecem essa neces-
sidade na medida em que a diplomacia permanente coloca agora ques-
tões, como, por exemplo, o da honra e precedências, imunidades e privi-
légios, que lhes dizem directamente respeito, pois atingem o próprio
estatuto internacional do Estado no domínio das relações interestatais.
Contudo, todas essas matérias continuarão a ser reguladas pelo cos-
tume internacional até ao Congresso de Viena de 1815, como se verá de
seguida.
1.2.5. Século XIX14
De facto, só no Congresso de Viena de 1815 é que se manifesta a
intenção de substituir tais normas costumeiras por um direito escrito,
intenção que se concretizará nesse Congresso com a aprovação do Regu-
lamento das Categorias entre os Agentes Diplomáticos, o que só é possível
por já se poder falar de uma nova diplomacia nascida da afirmação do
Estado Nacional moderno quer interna quer internacionalmente e da
consagração da missão permanente clássica.
É claro que esse Regulamento é a manifestação do consenso político-
-internacional da época, na exacta medida em que a monarquia europeia
reunida em Viena não conseguiu senão aceitar a compilação nesse texto
das questões relativas à categoria e à hierarquia dos Agentes Diplomáti-
cos, para efeitos de honras e precedências15. Esse Regulamento com
apenas sete artigos resolve o sério problema das honras e precedências
14 Cfr. GEORGES BOUSQUET, Agents Diplomatiques et Consulaire, Paris, 1985, p. 1 e 9.
15 Para maior desenvolvimento, cfr. GERHARD VON GLAHN, Law Among Nation, (5.ª
ed.), Collier MacMillan Publishors, London, 1986. Ver, ainda, GEORGES BOUSQUET, Agents
Diplomatique et Consulaire, Paris, 1983, p. 1 e 9, onde se faz um breve resumo da evolução
histórica das relações diplomáticas francesas até aos finais do século XIX.
26 DIREITO DIPLOMÁTICO
que vinha causando sérios incidentes interestatais e é, mais tarde em
1818, completado com o Protocolo de Aix-la-Chapelle.
Apesar do seu reduzido âmbito, esse Regulamento constitui um
marco intransponível na história do Direito Diplomático na medida em
que é, sem dúvida, o ponto de partida para o posterior desenvolvimento
desse direito em direcção à sua codificação, que só virá a acontecer em
1961.
De qualquer forma, podemos agora dizer que no século XIX, era de
ouro do estatismo nas relações internacionais, fica definitivamente consa-
grado pela prática diplomática e pelo direito costumeirodiplomático que
os agentes diplomáticos são representantes dos Estados (e não dos res-
pectivos monarcas), que não podem fazer espionagem, devendo a activi-
dade de informação ser exercida por meios legítimos e internacionalmen-
te permitidos, que a diplomacia é organizada com um serviço da Adminis-
tração Pública estatal e que os diplomatas são um corpo de funcionários
do Estado com formação especializada. Para além disso, a prática e o
direito costumeiro consagram ainda que deve ser através das respectivas
diplomacia que os Governos devem desenvolver a suas negociações inter-
nacionais.
1.2.6. Século XX: os períodos essenciais16
No século em que as Organizações Internacionais se afirmam como
importantes instituições internacionais com papel decisivo nas relações
internacionais e ainda como verdadeiros sujeito do Direito Internacional,
a diplomacia sofre novo impulso provocado por essa nova configuração
da sociedade internacional e tem de responder a novas questões, que essa
sociedade e as novas relações internacionais, agora também entre Estados
16 Cfr. PHILIPPE CAHIER, Droit Diplomatique, citado, p. 14 e ss., para uma visão mais
completa desta fase.
27colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
e Organizações Internacionais, lhe coloca. Para além disso, a Primeira
Guerra Mundial dela exige novas práticas e revela a necessidade de um
Direito Diplomático codificado, ao mesmo tempo que a criação da Socie-
dade das Nações contribui para renovar a clássica prática diplomática.
A questão da codificação do Direito Diplomático entra na ordem do
dia para ser tratada em quatro fases essenciais, a saber:
1. A primeira que recobre os anos de 1927-1930;
2. A segunda que se inicia em 1930 e acaba a 1954;
3. A terceira que compreende os anos de 1954 a 1961;
4. E a última que abrange o período compreendido entre 1961 e 1975.
Por brevidade, vamos aqui analisar sumariamente essas quatro fases,
remetendo para obras especializadas na história das relações diplomáticas o
estudo mais aprofundado dessas fases da evolução do Direito Diplomático.
1) – PRIMEIRA FASE: 1927 A 1930
Até 1927 a codificação possível foi a de Viena de 1815-1818. Em 1927,
o Comité de Peritos da S.D.N. para a Codificação do Direito Internacional
considerava que a questão dos privilégios e imunidades diplomáticas
estava suficientemente madura (“sufficiently ripe”), para ser regulada, e
que era inadmissível deixar perpetuar esta questão. Contudo, a Assembleia
da S.D.N. rejeitava as conclusões do Comité, por entender que a celebra-
ção de um Acordo Universal seria prejudicial, recusando-se, assim, a incluir
esta questão no programa de codificação de 1930.
Entretanto, em 1928, em Havana, (VI Conferência dos Estados Ameri-
canos) foi adoptada por doze Estados Americanos, uma Convenção sobre
os Agentes Diplomáticos, a qual foi ratificada pelos referidos Estados, e
somente assinada pelos Estados Unidos da América do Norte, que a não
ratificou com o fundamento de nela não estarem incluídas normas relati-
vas à garantia de asilo diplomático.
Apesar de ter um carácter estritamente regional esta Convenção não
deixa de ser um passo importante na Codificação do Direito Diplomático.
28 DIREITO DIPLOMÁTICO
2) – SEGUNDA FASE: 1930 A 1954
Os incidentes da guerra fria e as frequentes violações das regras
relativas às relações diplomáticas, levou a que a ONU retomasse essa
questão das relações diplomáticas, e que, em 1952, a Assembleia Geral
votasse um Resolução [R-685 (VII), de 5 de Dezembro] na qual solicitava à
Comissão de Direito Internacional (C.D.I.) prioridade no estudo da
codificação das relações e imunidades diplomáticas.
Isto depois de a mesma Assembleia Geral, em 1949, ter rejeitado
conceder prioridade a esta questão, que a C.D.I. tinha incluído nos seus
quarenta tópicos de Codificação.
De qualquer forma, em 1954, a C.D.I. iniciou os seus estudos sobre as
relações e imunidades diplomáticas, de que vai sair, em 1959, uma propos-
ta ou projecto de Convenção.
3) – TERCEIRA FASE: 1954 A 1961
Em 1959, a Assembleia Geral delibera convocar uma Conferência de
Codificação que se deveria reunir em Viena, em homenagem ao Congres-
so de Viena de 1815, para tratar da questão da Codificação do Direito
Diplomático, votando a Resolução 1450 (XIV), de 7 de Dezembro.
Reunida em Neue Hafburg, de 2 de Março a 14 de Abril de 1961, com
a presença de oitenta e um Estados e de vários observadores, a Conferên-
cia adoptou várias resoluções e preparou os seguintes instrumentos:
- Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas;
- Protocolo Adicional Relativo à Aquisição de Nacionalidade;
- Protocolo Relativo à Resolução Obrigatória dos Conflitos.
A 18 de Abril de 1961, a Conferência votou por unanimidade a
Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, que foi assinada por
setenta e cinco Estados.
Apesar de a Convenção – com 53 artigos e dois protocolos – ser o
produto de um compromisso nos termos dos quais o Regime Costumeiro
existente não deveria ser subvertido, e de, no parágrafo final do seu
29colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
preâmbulo, se afirmar que as regras costumeiras continuariam a reger as
questões não reguladas expressamente na Convenção, esta não deixou de
adoptar novas e inéditas soluções com o objectivo de responder não só às
aspirações dos novos Estados, como também às transformações técnicas,
nomeadamente, no campo das telecomunicações.
4) – QUARTA FASE: 1961 A 1975
Em 1969, a Convenção foi completada com uma outra Convenção
sobre as Missões especiais – Convenção de Nova Iorque sobre as Missões
Especiais, de 16 de Dezembro de 1969. A Convenção surge, assim, como
um corpo coerente de normas e, nessa medida, como um verdadeiro
Código do Direito Diplomático.
Finalmente, em 1975, a questão importante da representação dos
Estados nas suas relações com as Organizações Internacionais foi regulada
pela Convenção de Viena, do mesmo ano, que veio a resolver em parte, o
delicado problema do direito de legação “passivo” das Organizações Inter-
nacionais.
Do exposto resulta que o direito das relações diplomáticas aparece
como um dos mais antigos ramos do Direito Internacional formalmente
codificados e, consequentemente, como regras do direito internacional
mais firmemente estabelecidas.
1.3. Conceito e fontes do Direito Diplomático
1.3.1. Conceito
A doutrina tem apresentado diversos conceitos de Direito Diplo-
mático, mas todos eles têm de comum o facto de, em última análise,
considerarem que esse direito tem por objecto as relações exteriores dos
Estados.
30 DIREITO DIPLOMÁTICO
Assim, para NASCIMENTO E SILVA o Direito Diplomático “é simples-
mente a parte do Direito Internacional Público, devidamente desenvolvida,
que trata do agente diplomático”17, enquanto que para PHILIPPE CAHIER
tal direito regula as relações entre os órgãos dos sujeitos do direito
internacional encarregados das relações exteriores desses sujeitos18.
Quanto a nós, entendemos que o conceito de Direito Diplomático
deve revelar toda a dimensão do seu objecto, que, em nossa opinião,
não recobre apenas os Agentes Diplomáticos, nem a mera relação entre
os órgãos dos sujeitos do direito internacional encarregados das suas
relações exteriores como defendem aqueles prestigiados internaciona-
listas.
Assim, para nós, o Direito Diplomático é um conjunto de regras e
princípios jurídicos reguladores das relações pacíficas entre os sujeitos do
direito internacional –maxime Estados e Organizações Internacionais –,
bem como das formas e garantias jurídicas de representação e defesa dos
interesses destes sujeitos no exterior19.
1.3.2. Fontes do Direito Diplomático
Por fonte de direito entende-se os modos de formação e revelação
do direito.
Certamente que o Direito Diplomático tem, tal como qualquer direito,
as suas fontes, as quais deverão ser explicitadas, para que se possa com-
preender as formas de que se reveste este direito.
17 NASCIMENTO E SILVA, Direito Diplomático, in Boletim daSociedade Brasileira de
Direito Internacional, Ano 7, Janeiro-Dezembro de 1951, n.º 13 e 14, p. 79.
18 PHILIPPE CAHIER, Droit Diplomatique, Paris, 1964, p. 5/6.
19 Para Silvestre Pinheiro Ferreira o Direito Diplomático regula a organização e o
funcionamento das missões diplomáticas. Cfr. SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Estudos de
Direito Internacional, Organização da Sociedade Internacional, (Lições de Direito Interna-
cional 1909-1910), Coimbra 1910, p.ª 445.
31colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
Como teremos a oportunidade de ver ao longo deste estudo, o
Direito Diplomático encontra-se ligado a duas ordens jurídicas, a saber:
a internacional e a nacional.
É que na verdade esse direito dirige-se pois aos sujeitos do Direito
Internacional – maxime Estados, Organizações Internacionais – nas suas
relações internacionais, para os obrigar a adoptar certos comportamentos,
e, por outro, dirige-se a esses mesmos sujeitos para, internamente, adap-
tarem as suas legislações às regras do Direito Internacional.
No primeiro caso, o Direito Diplomático surge como regras gerais
válidas para os sujeitos do Direito Internacional, enquanto que ao segun-
do as regras daquele direito são especiais, diz-nos PHILIPPE CAHIER.
Em qualquer dos casos, o Direito Diplomático tem as suas fontes, os
seus modos específicos de se revelar, que são as seguintes:
a) O costume;
b) Os Tratados: bilaterais e multilaterais;
c) As leis internas dos Estados;
d) As normas jurídicas das Organizações Internacionais;
e) A jurisprudência;
f ) A doutrina.
A) O COSTUME
Conhecemos já o conceito de costume e sabemos que, no âmbito do
Direito Internacional, este tem exercido um importante papel. Por outro
lado, sabemos também que durante séculos e, ainda agora, o costume foi
e, em certa medida, continua a ser, a principal fonte do Direito Interna-
cional, pelas razões já explicadas noutro lugar20.
No que se refere ao Direito Diplomático, este foi sendo criado, ao
longo dos séculos, pela prática reiterada e uniforme dos Estados, que
foram aceitando as regras desse direito. Assim se formou o Direito Diplo-
20 Cfr. WLADIMIR BRITO, Direito Internacional – Parte Histórica e Fontes – cit.º.
32 DIREITO DIPLOMÁTICO
mático tradicional, todo ele emergente e assente em regras costumeiras
que foram sendo aceites pelos Estados, e que tinham na sua base um
princípio que nenhum Estado punha em causa: o princípio da reciproci-
dade.
É claro que, tal como acontece em todo o Direito Internacional, a
tendência é a de o costume ceder lugar ao direito escrito – convencio-
nal – que não só o fixa, codificando-o, como introduz inovações importan-
tes, o que tem vindo a acontecer com o Direito Diplomático, em especial
desde 1961, com a sua codificação na Convenção de Viena de 1961.
Desta crescente dominância do direito escrito sobre o costumeiro
não resulta necessariamente que o costume deixe de ser uma fonte do
Direito Diplomático. Na verdade, ainda hoje, apesar da predominância dos
Tratados, o costume continua a exercer um importante papel no campo
do Direito Diplomático, regulando várias relações jurídico-diplomáticas
entre os sujeitos do Direito Internacional, o que se explica não só pela sua
flexibilidade e maleabilidade que lhe permitem adaptar-se às novas cir-
cunstâncias, como ainda, pelo facto de o próprio direito escrito produzir
novos costumes crescentemente aceites pela comunidade internacional
como regras de direito.
Assim se explica que as relações diplomáticas entre os Estados que
não são partes na Convenção de Viena de 61 e noutras Convenções
relativas às relações diplomáticas – Convenção de New York de 69 e a
Convenção de Viena 75 – continuem a ser reguladas pelo direito costumei-
ro. Mesmo para os Estados partes nessas Convenções o costume continua
a ser fonte das normas que regulam algumas das suas relações, nomeada-
mente aquelas que não estão expressamente previstas nas disposições
dessas convenções – cfr. os Preâmbulos da Convenção de Viena de 61 e da
Convenção de New York de 69.
B) OS TRATADOS
No Direito Diplomático a importância dos Tratados tem crescido com a
persistente codificação desse direito, assumindo, assim, um importante papel.
33colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
O Tratado é hoje outra importante fonte daquele Direito. De facto, o
Direito Diplomático assenta em vários tratados bilaterais e multilaterais
que estabelecem os diversos conjuntos de regras jurídicas reguladoras das
relações jurídico-diplomáticas entre os sujeitos do Direito Internacional.
Torna-se, contudo, pertinente distinguir aqui os Tratados bilaterais
dos multilaterais.
1) Tratados bilaterais
Estes Tratados têm normalmente por objecto o estabelecimento das
relações diplomáticas e a instituição de missões diplomáticas entre os
sujeitos do Direito Internacional com capacidade jurídico-internacional
para o efeito, bem como a alteração da categoria das missões.
Para além desse objecto, podem ainda os sujeitos de Direito Interna-
cional acordar por Tratados bilaterais diversas outras questões relativas às
suas relações diplomáticas. Assim, por exemplo, o artigo 47º da Conven-
ção de Viena, permite que os Estados, por convénio, concedam reciproca-
mente um tratamento mais favorável do que o estipulado na Convenção,
enquanto os artigos 17º e 41º permitem que por acordo entre os Estados
se estabeleça qual o Departamento do Estado receptor que deverá rece-
ber a notificação relativa à ordem de prevalência dos membros do pessoal
diplomático e com que Departamento do Estado receptor deverão ser
tratados os assuntos oficiais.
Faz-se notar que, regra geral, verifica-se a tendência nos tratados
bilaterais de muitas questões serem regulamentadas por remissão para os
princípios e regras do Direito Internacional comummente aceites pelas
nações, o que significa o reenvio da regulamentação dessas questões ou
para o direito comum ou para o direito convencional aceite pela genera-
lidade das nações, ou seja para os Tratados multilaterais.
2) Tratados multilaterais
Estes tratados que são as mais importantes fontes do Direito Diplo-
mático tem como objecto, regra geral, codificar o costume relativo àquele
34 DIREITO DIPLOMÁTICO
Direito, embora normalmente com inovações. Por outro lado, estes trata-
dos podem estabelecer tratamento especial para as missões dos Estados
partes.
Escusado será dizer que a elaboração e a celebração destes Tratados,
regra geral, são mais complexas e difíceis do que a dos Tratados bilaterais,
não só devido à maior amplitude do seu objecto, como ainda por neles
participar um maior número de Estados, cada um com os seus interesses
específicos.
Regra geral, a celebração destes Tratados é precedida de diversos
projectos elaborados por especialistas, ou por Comissões, nomeadamen-
te, pela Comissão de Direito Internacional, projectos que depois são
apresentados aos Estados para estudo e propostas de modificação, as
quais são posteriormente analisadas pela Comissão para efeitos de as
adoptar ou não no projecto final.
De qualquer forma, uma vez celebrado o Tratado, este passa a ser
fonte do Direito Diplomático.
C) LEIS INTERNAS
As leis internas e as normas jurídicas das Organizações Internacionais
são também uma importante fonte do Direito Diplomático, pois, na verda-
de, através delas são regulados um conjunto de questões relativas àquele
direito. Com efeito, a legislação interna dos Estados e das Organizações
Internacionais não só executam as normas jurídico-internacionais – como
por exemplo, adaptando a estas normas a ordem jurídica interna – como,
ainda, integram as lacunas existentes no Direito Diplomático, ampliam ou
restringem o campo de aplicação desse direito – como acontece com a
concessão de tratamento especial aos diplomatas, mais ou menos favorá-
vel do que o previsto no Direito Diplomático –, desde que não contrarie ou
viole o conteúdo deste Direito.
Regra geral, as leis internas visam garantir e salvaguardar o princípio
da reciprocidade,pedra angular do Direito Diplomático, que todos os
35colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
sujeitos do Direito Internacional procuram respeitar e fazer respeitar por
corresponder aos seus interesses. Acontece, contudo, que a legislação
interna, na generalidade dos casos, trata as questões relativas ao Direito
Diplomático de forma dispersa e assistemática. De facto, tais questões
tanto são reguladas por vezes no Código Penal, como nos Códigos
de Processo Penal e Civil, outras vezes na legislação fiscal e aduaneira,
etc., o que torna mais difícil o estudo do estatuto jurídico – privilégios
especiais – (interno) dos diplomatas.
Sendo certo que a legislação interna de cada Estado é, sob o ponto de
vista jurídico-internacional, um acto jurídico unilateral, podemos dizer
que as leis internas são fontes indirectas do Direito Diplomático.
D) A JURISPRUDÊNCIA
As decisões dos tribunais, quer nacionais quer internacionais, são
uma fonte do Direito Diplomático na medida em que não só auxiliam a
interpretação das regras jurídicas desse Direito, como podem contribuir
para integrar as lacunas nele existentes e para reconhecer a existência de
Costumes relativos às relações diplomáticas ou favorecer a própria criação
dessas regras.
E) A DOUTRINA
A doutrina exerceu um importante papel na criação e no aperfeiçoa-
mento do Direito Internacional. Até ao século XVIII era a doutrina que
esclarecia o sentido das normas jurídicas relativas às relações diplomáticas
e revelava quais as normas que deviam ser aplicadas. Para além disso, a
doutrina, tem exercido um importante papel na Codificação do Direito
Diplomático.
Sendo certo que modernamente a doutrina não é propriamente
uma fonte de revelação e de criação do Direito Diplomático, não é
menos certo que ainda hoje desempenha um papel importantíssimo no
campo desse direito, precisamente porque ainda continua a influenciar
36 DIREITO DIPLOMÁTICO
grandemente o “legislador” internacional, quando este decide codificar ou
produzir qualquer tipo de Tratado sobre questões relativas às relações
diplomáticas.
37colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
2.1. Missões Permanentes: Conceito
A Missão diplomática tanto pode ser entendido no sentido subjectivo,
como no orgânico. No sentido subjectivo, a missão diplomática é o conjun-
to de pessoas que se dedicam à actividade diplomática, sendo, portanto,
nesse sentido entendido como o conjunto de agentes diplomáticos e de
pessoal da missão. Organicamente, a missão é o conjunto de serviços
periféricos do Estado no exteriores que têm como objectivo prosseguir a
actividade diplomática, lato sensu. Nesse sentido, a missão diplomática é
formada pelos serviços com sede nos locais da missão nos vários Estados,
serviços esses cuja existência, diz-nos Eduardo Vilariño Pintos, “es indepen-
diente de las personas que en cada momento prestan sus servicios a ellos,
es decir, preexisten y subsisten a su componente personal”21. Internacional-
mente, o conceito de missão refere mais à actividade diplomática e ao seu
sentido subjectivo, do que ao seu sentido orgânico, exactamente porque
foi essa a opção da Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas22.
Sob o ponto de vista do direito (administrativo) interno e do direito
internacional a missão permanente é um serviço (periférico) externo do
As Missões Diplomáticas permanentes
Capítulo II
21 EDUARDO VILARIÑOS PINTOS, Curso de Derecho Diplomático y Consular, cit.º, p.ª
169/170.
22 Cfr. De acordo com PHILIPPE CAHIER, a missão diplomática permanente é um
serviço público do Estado de envio instalado de forma permanente no território do Estado
receptor, com o objectivo de assegurar as relações diplomáticas entre os dois sujeitos do
Direito Internacional. Cfr. PHILIPPE CAHIER, Le Droit Diplomatique , Ed. Librairie Droz, Paris
1964, p.ª 55.
38 DIREITO DIPLOMÁTICO
Estado integrado no Ministério dos Negócios Estrangeiros, e, portanto, a
Administração Central, que tem como função não só representar o Estado
de envio junto do Estado receptor como, ainda, defender ou proteger os
seus interesses colectivos e promover as relações – económicas, políticas,
culturais, científicas e outras – entre os dois Estados. Esse serviço público
é constituído não só pelo local da missão, seus bens e arquivos, como
ainda, por um conjunto de pessoal, que são os membros da missão e os
membros do pessoal da missão e que, no direito interno, regra geral23, são
agentes administrativos – funcionários ou não – do Estado de envio.
Para o direito internacional, esse pessoal, desde que tenha a qualida-
de de diplomata, é Agente Diplomático e goza de imunidades e privilégios
consagrados para cada uma das várias categorias pelo Direito Diplomáti-
co, que também são extensivos ao próprio local da missão, seus bens e
arquivos e aos familiares dos Agentes Diplomáticos.
Faz-se notar que, relativamente ao pessoal diplomático, o Direito Inter-
nacional não faz depender a sua qualificação como Agentes Diplomáticos do
facto de serem ou não considerados pelo direito interno dos Estados de
envio como Agentes Administrativos desse Estado. Para o Direito Interna-
cional basta que sejam membros do pessoal da missão com a qualidade de
diplomatas para que lhes seja atribuída a categoria de Agentes Diplomáticos.
2.2. Início da Missão Diplomática permanente
2.2.1. Introdução
A Missão diplomática permanente inicia a sua actividade com a
nomeação e aceitação do Chefe da Missão. Importa esclarecer, desde já,
23 Regra geral, dado que há casos em que não se parte da qualidade de funcionário
para se nomear um indivíduo como Agente Diplomático. Assim, acontece com os Embaixa-
dores “políticos” ou com Diplomatas de Missões Especiais, uns e outros escolhidos para o
exercício das funções por razões de ordem política, técnica ou outra.
39colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
que nos termos da alínea a) do artigo 1.º da Convenção, entende-se por
Chefe da Missão “a pessoa singular encarregada pelo Estado acreditante de
agir nessa qualidade”.
O Chefe da Missão é, assim, em última análise, o legítimo represen-
tante do Estado de envio junto do Estado receptor, que dirige superior-
mente a missão diplomática.
Na linguagem corrente é o Embaixador ou o Núncio, embora a
Convenção no seu artigo 14.º divida os Chefes da Missão em três catego-
rias, a saber:
a) Embaixadores ou Núncios;
b) Enviados, Ministros ou Internúncios;
c) Encarregados de negócios.
As duas primeiras categorias são acreditadas perante Chefes de
Estado do Estado receptor, enquanto a terceira categoria é acreditada
perante o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado receptor.
Logicamente, a missão inicia-se com a nomeação do Chefe da Missão
e demais pessoal desta e, em seguida, com a sua instalação. São estes
problemas que iremos estudar de seguida.
2.2.2. A instalação da Missão Diplomática
A missão diplomática permanente, quer seja entendida como o servi-
ço público externo do Estado de envio, a que nos referimos, que se
encontra instalado de forma permanente no território do(s) Estado(s)
receptor(es), que é designado, regra geral, por Embaixada ou Legação
diplomática, quer seja entendida como o conjunto de pessoas que se
dedicam à actividade diplomática, sendo, portanto, nesse sentido enten-
dido como o conjunto de agentes diplomáticos e de pessoal da missão, só
pode ser instalada no território do Estado receptor após ter havido um
acordo entre este Estado e o de envio e está condicionado a certos
formalismos, de entre os quais o mais importante é o acreditamento.
40 DIREITO DIPLOMÁTICO
É bom advertir desde já que, se é certo que a instalação de missões
permanentes pressupõe o prévio estabelecimento de relações diplomáti-
cas entre os Estados de envio e o receptor, não é menos certo que este
facto não implica necessariamente aquele outro, ou seja, o estabelecimen-
to de missões diplomáticas. Daí que muitas vezes se assista à celebração
de dois acordos, um relativo ao estabelecimento de relaçõesdiplomáticas
e outro ao estabelecimento de missões diplomáticas. Outras vezes, contu-
do, estas duas questões são resolvidas num único acordo.
Na verdade, a instalação de missões diplomáticas em território de
Estados estrangeiros tem, necessariamente, na sua base um acordo prévio
(art. 2.º da Convenção), nos termos do qual, por mútuo consenso, cada um
dos Estados acordantes concede ao outro ou outros a faculdade de
instalar missões no seu território.
Pode até acontecer que a um dos Estados seja concedida “faculdade
de manter uma missão diplomática no outro Estado sem que haja reciproci-
dade”. Tais casos, embora restritos, ocorrem na vida internacional, diz-nos
CALVET MAGALHÃES.
2.3. Nomeação do chefe da Missão, do pessoal diplomático e do
pessoal administrativo
2.3.1. Introdução
Nos termos do artigo 4.º da Convenção “o Estado acreditante deverá
certificar-se de que a pessoa que pretende nomear como chefe da missão
perante o Estado acreditador obteve o agrément daquele Estado”. Esta dis-
posição reflecte um princípio internacionalmente consagrado pelo costu-
me segundo o qual nenhum Estado é obrigado a aceitar, como Chefe da
Missão, um indivíduo proposto pelo Estado do envio sem que previamen-
te dê o seu acordo – agrément ou placet – na linguagem jurídico-
-internacional.
41colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
“Este princípio, diz-nos CALVET DE MAGALHÃES, hoje perfeitamente
definido e aceite, nem sempre foi reconhecido em todas as épocas e por
todos os países, tendo-se firmado nos usos tradicionais no final do século
XIX”. Na verdade, desde sempre foi reconhecido aos Estados o direito de
recusar o acreditamento de indivíduos que, por qualquer razão, não preten-
dam receber nos seus territórios, cabendo, assim, a cada Estado a decisão de
acreditar ou não tais indivíduos.
Por essa razão surgiu e desenvolveu a prática internacional, aceite por
todos os Estados, segundo a qual estes, antes de nomearem um indivíduo
como Chefe de Missão, devem perguntar ao Estado receptor se este é ou
não persona grata.
Tal prática – verdadeiro costume internacional – tem como objec-
tivo evitar certos incidentes e/ou embaraços entre os Estados de envio e
de recepção, pelo que essa acção é rodeada de grande sigilo ou, na
linguagem dos autores anglo-saxónicos, de “confidence”.
Acontece que durante muito tempo alguns peritos puseram em
dúvida a legitimidade desta prática, defendendo que ela não constituía
uma regra absoluta. Assim aconteceu em Portugal no século XIX, como
nos informa CALVET DE MAGALHÃES24 e com os Estados Unidos que a ela
só aderiu em 1885.
2.3.2. Os requisitos da nomeação
Relativamente ao Chefe da Missão, diz-nos o artigo 4.º da Convenção
que “o Estado acreditante deverá certificar-se que a pessoa que pretende
nomear como Chefe da Missão perante o Estado acreditador obteve o
agrément daquele Estado”, enquanto o artigo 8.º estabelece que “os mem-
bros do pessoal diplomático deverão, em princípio, ter a nacionalidade do
Estado acreditante”.
24 Cfr. CALVET DE MAGALHÃES, Manual de Direito Diplomático, cit.º. Há uma nova
Edição desse Manual feita em 2001.
42 DIREITO DIPLOMÁTICO
Estas normas exigem, portanto, dois requisitos para a nomeação, que
são:
– agrément do Estado “acreditador”, requisito intuitu personae que
tem de ser obrigatoriamente preenchido e que tem uma natureza
certificativa da aceitabilidade da pessoa indigitada para o cargo.
Por essa razão, a nomeação depende em absoluto da sua verifica-
ção prévia.
– A nacionalidade é um requisito não obrigatório, mas desejável. Que-
remos com isso dizer que a nacionalidade é um requisito facultativo,
que os Estados tradicionalmente, preenchem, embora esteja na livre
disponibilidade dos Estados acreditador e acreditante dispensar, por
acordo, o seu preenchimento. Por essa razão, como veremos mais à
frente, podemos dizer que a sua não verificação, desde que aceite por
acordo pelos Estados, não impede a nomeação.
2.3.2.1. O Agrément. Sua Natureza Jurídica
a) – O Agrément ou Placet
Com efeito, com o agrément não se visa obter um prévio acordo do
Estado receptor para a prática em abstracto do acto de nomeação, mas
sim para a prática de uma dada e concreta nomeação, ou seja, para a
designação, através do acto de nomeação, de uma determinada pessoa.
O agrément ou placet recai, portanto, sobre o perfil concreto e bem
definido de uma personalidade – daquela que, em concreto, o Estado de
envio pretende nomear como Embaixador e que indicou ao Estado recep-
tor. E terá de ser assim, visto que se aquele consentimento prévio tivesse
por objectivo autorizar o Estado de envio a praticar um acto jurídico
formalmente assente no seu direito interno e emanação da sua vontade
soberana, verificar-se-ia uma ingerência condicionante na soberania des-
se Estado, sem qualquer justificação válida jurídico-internacionalmente.
43colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
Tratando-se, como se trata, de um consentimento que é dado por
causa da pessoa a nomear não se pode falar propriamente em ingerência
mas sim no respeito recíproco entre os Estados, visto que nenhum Estado
tem o direito de obrigar outro a aceitar no seu território pessoas (estran-
geiros) que, por qualquer razão, não sejam do agrado do Estado receptor.
Daí que, para se evitar a situação de o Estado de envio ver recusada a
aceitação do Chefe da Missão que pretende nomear e, consequentemente,
incidentes ou, até mesmo, conflitos entre os Estados, a Convenção tenha
codificado esse costume internacional, que se consolidou nos finais do
século XIX, corolário do princípio segundo o qual nenhum Estado pode
obrigar outro a aceitar como Chefe de Missão uma pessoa que não seja do
seu agrado, pelo que assiste sempre ao Estado receptor o direito de
recusar o acreditamento.
De acordo, com o artigo 4.º, o Estado de envio deverá solicitar e obter
previamente o consentimento do Estado receptor, o que significa que
antes da nomeação deverá haver um processo próprio para se requerer e
se obter o agrément. Este processo despido, na prática, de formalismos,
não se encontra regulado pela Convenção, mas a praxis internacional
estabeleceu os seus trâmites gerais que praticamente todos os Estados
aceitam.
Segundo CALVET DE MAGALHÃES, os pedidos de agrément devem
ser, em regra, feitos através da missão diplomática do Estado acreditante
junto ao Estado receptor e só excepcionalmente, quando razões pondero-
sas assim o aconselhem, através da missão diplomática do Estado receptor
junto do Estado acreditante. O pedido é feito pessoalmente pelo Chefe da
Missão cessante, ou pelo seu substituto, ao mais alto nível possível do
respectivo Ministério dos Negócios Estrangeiros, entregando-se nessa
diligência um memorandum com o curriculum vitae do Chefe da Missão
que se pretende designar25.
25 ibidem, pág. 55.
44 DIREITO DIPLOMÁTICO
Significa isso que a prática impõe que:
a) O pedido seja feito no território do Estado receptor;
b) Pessoalmente pelo representante do mais alto grau – o Embaixa-
dor do Estado de envio (ou seu substituto) – e ao mais alto nível;
c) O Estado de envio forneça ao Estado receptor todos os elementos
necessários para o estudo do perfil do Chefe da Missão a nomear,
o que é feito através da entrega do curriculum vitae deste e de um
memorandum.
Feito o pedido, o Estado acreditador não dispõe de qualquer prazo para
responder, mas deve informar o Estado acreditante da sua decisão. Contu-
do, uma demora excessiva – e entende-se por excessiva uma demora para
além de trinta dias – da resposta deve ser interpretada como recusa.
Faz-se notar que a recusa do agrément pode ou não ser acompanhada
de explicações, não sendo obrigatória, portanto, qualquer justificação.
Aliás, tradicionalmente, nenhuma explicação é dada ao Estado que solicita
o agrément, tradição que o n.º 2 do artigo 4.º da Convenção consagra
quando preceitua que “o Estado acreditador não está obrigado a dar ao
Estado acreditante as razões da recusa do agrément”26.b) – Natureza Jurídica do Agrément
O Estado – acreditante –, antes de nomear o seu Chefe de Missão,
estabelece o artigo 4.º citado, deverá obter o prévio consentimento do
Estado acreditador. Significa isso que o Estado receptor terá de praticar
um acto através do qual ele manifesta o seu consentimento em admitir
uma determinada pessoa no seu território para aqui exercer as funções de
Embaixador do Estado de envio. Com a prática deste acto o Estado
26 Durante muito tempo os EUA e o Reino Unido defenderam que não só o Estado
recusante tinha o dever de explicar as razões da sua recusa como, ainda, que estas podiam
ser aprovadas ou rejeitadas pelos Estados que solicitavam o agrément. Esta atitude veio a
ser abandonada por aqueles dois países. Cfr. GERHARD VON GLAHN (1986: 444)
45colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
acreditador declara, portanto, que permite a entrada em funções da
pessoa a designar.
O agrément é, assim, um acto pelo qual o Estado acreditador declara
expressamente que aceita uma dada pessoa para exercer o cargo de Chefe da
Missão e permite a sua entrada em funções no seu território. Com a prática deste
acto o Estado acreditador preenche o requisito indispensável à nomeação do
Embaixador, verificando-se, assim, a condição necessária para o efeito.
É claro que o agrément não deixa de ser um acto político cujo objecto
é a pessoa a designar como Chefe da Missão. Na verdade, o Estado
receptor antes de conceder o seu agrément analisa o perfil político do
nomeando, quer sob a óptica da sua prática sócio-política, quer sob o
ponto de vista da sua actividade político-diplomática, o que deve fazer
com confidencialidade e a máxima reserva.
Foi com base nessa análise que, por exemplo, o Irão não concedeu em
1979 o agrément ao diplomata norte-americano Walter Cutler por este ter
sido Embaixador dos USA no Zaire aquando da intervenção norte-ameri-
cana neste país. Também, em 1984, os USA recusaram o agrément a Nora
Astorga com o fundamento no facto de ele ter participado no assassínio
do general da Guardia Civil nicaraguense Reynaldo Perez Verga.
Mas, mais do que um acto político, interessa-nos saber qual a nature-
za jurídica desse acto, começando por relembrar que o agrément é dado
em razão da pessoa a nomear, pelo que é sempre um acto intuitu personae.
De seguida, faz-se notar que é um acto praticado por um único sujeito do
Direito Internacional para produzir efeitos fora do território desse sujeito,
ou seja na esfera jurídica de um outro que não participou na sua prática.
Finalmente, através desse acto o Estado que o pratica obriga-se a adoptar
certo comportamento, qual seja o de permitir que uma dada pessoa – a
designada para o cargo de Embaixador – entre no seu território para aí
exercer as funções próprias desse cargo.
Posto isto, podemos dizer que o agrément é um acto jurídico formal-
mente interno mas materialmente internacional que, embora com
dúvidas (podemos admitir que) assume a forma de promessa.
46 DIREITO DIPLOMÁTICO
Em nossa opinião, esse acto jurídico unilateral apresenta-se como um
acto-condição no sentido que DUGUIT atribui a esses actos, visto que a sua
prática condiciona uma outra, a nomeação de acordo com o direito interno
e, ainda, a investidura de certa pessoa no exercício de certo cargo27.
2.3.2.2. A Nacionalidade
O Chefe da Missão é um membro da missão que tem a categoria
de diplomata, pelo que, embora não esteja recoberto pela disposição
do artigo 8.º, entendemos que se lhe aplica o princípio-regra nela contido.
Aliás, não se poderia entender de outro modo, sob pena de se admitir
que a Convenção, numa questão desta importância, tenha deixado de fora
o mais importante membro da missão – o Chefe desta – para se limitar a
regular a nacionalidade dos restantes membros.
Pelo exposto, temos de concluir que o princípio regra é aplicável a
todos os diplomatas, incluindo, obviamente, ao Chefe da Missão o que,
aliás, se infere do disposto no artigo 6.º. De facto, quando aí se estabelece
que o Chefe da Missão poderá não ter a nacionalidade do Estado por ele
representado, implicitamente se reconhece que, em princípio, deverá ser
nacional do Estado acreditante, sendo este o princípio-regra.
Na verdade, ao se admitir no artigo 6.º que dois ou mais Estados
possam acreditar a mesma pessoa como Chefe da Missão perante outro
Estado, desde que a isso não se oponha o Estado acreditador, a Convenção
abre a possibilidade de um Estado poder nomear um estrangeiro como
Chefe da sua Missão junto de outro, possibilidade que é condicionada pela
aceitação pelo Estado receptor não só da pessoa nomeada, como, ainda,
da qualidade de estrangeiro relativamente ao Estado de envio da pessoa
designada por este para Chefe da Missão.
27 Para maior desenvolvimento, veja-se EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Direito
Diplomático e Consular, cit.º, p.ª 211 e segs.
47colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA
Com esta excepção, a Convenção pretende evitar a limitação à sobe-
rania dos Estados em sede da escolha do seu representante máximo junto
de outros Estados, por um lado e, por outro, tem em atenção o facto de
existirem sujeitos do Direito Internacional que não podem atribuir uma
nacionalidade aos seus Agentes Diplomáticos, como acontece, por exem-
plo, com a Santa Sé e a Ordem de Malta, entre outros.
A nacionalidade não é, assim, em nosso entender, um requisito essen-
cial, embora a prática internacional, segundo a qual os Estados, normal-
mente, designam os seus nacionais para os representar como Chefes da
Missão, faça aparentar a essencialidade desse requisito.
2.3.3. A nomeação dos membros do pessoal diplomático da
Missão
Quanto ao pessoal diplomático, a Convenção no seu artigo 7.º esta-
belece a liberdade de nomeação. Esta regra, que dispensa o prévio pedido
de agrément, tem, contudo, alguns limites. De facto, o artigo 7.º condiciona
essa liberdade ao respeito pelas disposições dos artigos 5.º, 8.º, 9.º e 11.º
da Convenção, nos termos dos quais:
a) Nenhum membro do pessoal diplomático deverá ser nomeado
para exercer funções em dois ou mais Estados sem o consenti-
mento de todos – cfr. artigo 5.º;
b) Nenhum membro do pessoal diplomático poderá ter a nacionali-
dade do Estado acreditador, salvo se este consentir – cfr. artigo 8.º,
n.º 2 – pelo que deverá ter, em princípio, a nacionalidade do
Estado de envio – cfr. artigo 8.º, n.º 1;
c) Na nomeação dos membros do pessoal diplomático deverá o
Estado de envio ter em conta a lotação da missão, que tanto pode
ser estabelecida por acordo, como por um critério de razoabilidade
e de normalidade, critério que deverá atender aos interesses dos
Estados e à amplitude das necessidades e da função que a missão
terá de exercer – cfr. artigo 11.º.
48 DIREITO DIPLOMÁTICO
A estas limitações acresce uma outra que se refere aos adidos milita-
res, navais e aéreos. Quanto a estes membros da missão, o artigo 7.º da
Convenção estabelece que “o Estado acreditador poderá exigir que os seus
nomes lhe sejam previamente submetidos para efeitos de aprovação”. Signi-
fica isso que a nomeação está aqui condicionada à obtenção prévia do
consentimento do Estado acreditador, e que tal consentimento só deve
ser solicitado se e quando este Estado o exigir.
Aqui, neste aspecto, está a diferença entre o agrément exigido para a
nomeação do Chefe da Missão e o exigido para estes adidos. Na verdade,
enquanto para o Chefe da Missão o Estado de envio deverá sempre pedir,
prévia e independentemente de qualquer exigência do Estado de recep-
ção, o agrément, no caso dos adidos, o Estado de envio só terá de solicitar
e de aguardar o consentimento do Estado receptor se este previamente
lhe exigir a identificação do adido.
A liberdade da nomeação não é, portanto, ampla ou plena, antes tem
a limitá-la alguns requisitos que terão de ser primeiramente respeitados
para que ela possa ser exercida.
É óbvio que tal liberdade, mesmo que correctamente exercida, não
limita a faculdade de o Estado acreditador

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