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Wladimir Brito Direito Diplomático 1colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 2 DIREITO DIPLOMÁTICO Biblioteca Diplomática Série A: Autores Portugueses Conselho Editorial Presidente: Professor Doutor Armando Marques Guedes Professor Doutor Jorge Braga de Macedo Embaixadora Margarida Figueiredo General José Manuel Freire Nogueira Professora Doutora Cristina Montalvão Sarmento Professor Doutor António José Telo 3colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Wladimir Brito Direito Diplomático 4 DIREITO DIPLOMÁTICO Ficha técnica Título Direito Diplomático Autor Wladimir Brito Coordenação Editorial IDI - MNE Edição Colecção Biblioteca Diplomática do MNE – Série A Ministério dos Negócios Estrangeiros, Portugal Design Gráfico Risco, S.A. Fotografia Miguel Valle de Figueiredo Paginação, Impressão e Acabamento Europress, Lda. Tiragem 1000 exemplares Data Dezembro de 2007 Depósito Legal 268110/07 ISBN 978-972-9245-84-8 5colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Índice Prefácio 9 CAPÍTULO I – Evolução Histórica e Fontes 15 1.1. Introdução 15 1.2. Brevíssima descrição da evolução Histórica das Missões Diplomáticas Permanentes 18 1.2.1. Introdução 18 1.2.2. Na antiguidade clássica greco-romana 19 1.2.3. Na Idade Média 21 1.2.4. Da idade moderna ao século XIX 22 1.2.5. Século XIX 25 1.2.6. Século XX: os períodos essenciais 26 1.3. Conceito e fontes do Direito Diplomático 29 1.3.1. Conceito 29 1.3.2. Fontes do Direito Diplomático 30 CAPÍTULO II – As Missões Diplomáticas permanentes 37 2.1. Missões Permanentes: Conceito 37 2.2. Início da Missão Diplomática permanente 38 2.2.1. Introdução 38 2.2.2. A instalação da Missão Diplomática 39 2.3. Nomeação do chefe da Missão, do pessoal diplomático e do pessoal administrativo 40 2.3.1. Introdução 40 2.3.2. Os requisitos da nomeação 41 2.3.2.1. O Agrément. Sua Natureza Jurídica 42 2.3.2.2. A Nacionalidade 46 6 DIREITO DIPLOMÁTICO 2.3.3. A nomeação dos membros do pessoal diplomático da Missão 47 2.3.4. Nomeação dos membros do pessoal administrativo, técnico e do serviço da Missão 48 2.3.5. Natureza jurídica da nomeação 49 2.4. Instalação da Missão 52 2.5. O Acreditamento 53 2.5.1. Questões gerais 53 2.5.2. Múltiplo Acreditamento 54 2.5.3. O Acreditamento e a representação comum 55 2.6. Categoria dos Agentes Diplomáticos 56 2.6.1. Introdução 56 2.6.2. Categoria dos Agentes Diplomáticos 58 2.6.3. Direito de Legação 61 CAPÍTULO III – Prerrogativas: Imunidades, Inviolabilidade e Privilégios 67 3.1. Introdução 67 3.2. Prerrogativa Rationae Rei ou Prerrogativa do Local da Missão, seus arquivos e bens 75 3.3. Prerrogativa Rationae Personae ou Prerrogativa do Agente Diplomático 80 3.3.1. Imunidades e privilégios dos Agentes Diplomáticos 80 3.3.2. Privilégios dos Agentes Diplomáticos 87 3.3.3. Facilidades 94 3.4. Os membros da família do Agente Diplomático e as prerrogativas 95 3.5. As prerrogativas dos Agentes Diplomáticos nos Terceiros Estados 96 3.6. Início e termo das prerrogativas diplomáticas 97 3.7. Deveres dos Agentes Diplomáticos 99 3.8. Violação dos deveres: suas consequências 102 3.9. Prerrogativas dos outros membros da Missão 103 7colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3.10. Deveres dos outros membros do pessoal da Missão 106 3.11. A imunidade do Estado 107 3.12. Funções da Missão Diplomática 109 3.13. Retirada da Missão 111 CAPÍTULO IV – Missões Especiais 115 4.1. Introdução 115 4.2. Funções da Missão Especial 118 4.3. Designação dos Membros da Missão 119 4.4. Composição da Missão Especial 120 4.5. Nacionalidades dos Membros da Missão Especial 121 4.6. Sede da Missão Especial 122 4.7. Início das Funções da Missão 123 4.8. Órgão do estado receptor competente para tratar dos assuntos oficiais 123 4.9. Prerrogativas da Missão e dos Membros da Missão 124 4.10. Termo das funções da Missão Especial 125 CAPÍTULO V – Relações Diplomáticas e Organizações Internacionais 127 5.1. Introdução 127 5.2. Representação das Organizações Internacionais junto dos Estados e de outras Organizações Internacionais 130 5.3. Delegações ou Missões Permanentes 130 5.4. Representação dos Estados junto das Organizações Internacionais 132 5.5. Prerrogativas dos Membros da Missão: Imunidades e Privilégios 134 5.6. A questão da sede das Organizações Internacionais 137 Bibliografia 141 Anexos 143 8 DIREITO DIPLOMÁTICO 9colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Prefácio É com gosto que prefacio a primeira edição de um trabalho tão imprescin- dível quão inovador em Portugal. Trata-se de uma monografia breve, mas muito rica, sobre um tema – a regulação jurídico-internacional das rela- ções diplomáticas entre Estados, Organizações Internacionais, e outros sujeitos do Direito Internacional – cada vez mais actual e submetido a mudanças cada vez mais aceleradas: o chamado Direito Diplomático. O prazer que sinto por ter um papel nesta publicação reflecte, pelo menos em parte, um sentimento de quasi-paternidade: foi incitado por mim que Wladimir Brito, o primeiro português a concluir com êxito as suas provas de doutoramento em Direito Internacional Público, se emprenhou na transformação em livro daquilo que eram notas mais esparsas que redigira para apoio aos alunos da Escola de Direito da Universidade do Minho, onde lecciona. Mas esta não é, infelizmente, a única fonte da alegria que sinto por colaborar no esforço de dar à estampa um trabalho desta natureza; acrescenta-se-lhe uma outra, menos agradável: uma sensação de alívio. Com efeito, a publicação do presente estudo, da autoria do Professor Doutor Wladimir Brito, que versa o Direito Diplomático que lhe dá o título, respondeu a vários tipos de pressões, colmatando falhas que julgo graves. Das muitas lacunas patentes no panorama intelectual português no que diz respeito ao “internacional”, a inexistência de um enquadramento téc- nico-jurídico “doméstico” sobre o lugar e o papel normativos que discipli- nam a Diplomacia tem sido porventura uma das mais gritantes. De facto não pode senão ser sentida como confrangedora a ausência de quaisquer trabalhos de fundo posteriores ao volume do Embaixador José Calvet de Magalhães, intitulado Manual Diplomático. Direito Diplomático e Prática Diplomática, editado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros há mais de vinte anos, em 1985 (e re-editado em 2001). A lacuna torna-se particular- 10 DIREITO DIPLOMÁTICO mente dolorosa se lhe associarmos o facto de que ocorre num País como o nosso, senhor de uma diplomacia com alguns pergaminhos, e que tanto fez para ajudar à criação do sistema internacional alargado de Estados em que hoje em dia vivemos. Uma situação que é, para dizer o mínimo, alarmante, tanto para o exercício da diplomacia portuguesa, quanto para o delinear da nossa política externa. Radica aqui, a transmutação da minha alegria em alívio: na sensação de que uma missão importante se vê cumprida – um sentimento neste caso mesclado com tristeza retrospecti- va quanto a um estado de coisas que tenho por lamentável. Porquê esta rarificação? Podemos ser tentados a ver nela a expressão de uma especial complexidade deste ramo dos estudos jurídicos. Efectiva- mente, embora o Direito Diplomático não tenha a intrincação nem a extensão de, por exemplo, um Direito da Educação, a verdade é que apresenta – no que diz respeito ao design interno, por assim dizer, que preside à sua arquitectura – dificuldades fascinantes de ordem conceptual. Parece fácil equacioná-las, e logo na Introdução que redigiu, Wladimir Brito traça as suas linhas mestras: é certo, por um lado, que as regras e princípios que dão corpo ao Direito Diplomático têm na sua base os princípios “sacrossantos” da soberania e da igualdade entre os Estados, gizados em Münster e Osnabruck na fase derradeira da terrível Guerra dos Trinta Anos e consagrados, em 1648, na Paz de Westphalia; princípios esses que desenham as fronteiras externas que, em última instância, ou seja, em termoslógico-formais, confinam o espaço nocional em que tais regras se desenvolvem e em que essas relações são estabelecidas. Mas, por outro lado, tais princípios e regras têm sido arquitectados com o intuito, senão de os ultrapassar, pelo menos de os tornar permeáveis a alguma flexibilidade em relação ao Mundo real, um realismo que ponha em perspectiva estas ficções jurídicas de igualdade e soberania. Como W. Brito escreveu, “as relações diplomáticas implicam, sob um ponto de vista jurídico, a criação de mecanismos geradores do concurso de competên- cias entre Estados – e outros sujeitos do Direito Internacional – num mesmo território, o que não deixa de atingir, de certo modo, ‘à la limite’ o 11colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA poder soberano – a soberania – do Estado sobre o seu território. De facto, a instalação de um serviço público de um Estado no território de outro, subtraído completamente à jurisdição deste último, não deixa de ser um fenómeno contrário [o itálico é meu] à ideia da soberania, e, em consequência, algo que gera problemas relativos ao pleno exercício do poder soberano de um Estado sobre o seu território”. Sem manifestar grandes preocupações com a fundamentação factual dessa necessidade – um tema que, creio, seria suficiente para uma monografia à parte – o Autor conclui que, “[p]or essa razão, a questão das relações diplomáticas implica necessariamente a conciliação do princípio da soberania territorial com as exigências das relações internacionais ou, por outras palavras, com a criação e o reforço de relações amigáveis e de cooperação entre os sujeitos do direito internacional, o que só através do estabelecimento de relações diplomáticas pode ser plena e satisfatoriamente realizada”. Sejam quais forem os seus motivos, há, evidentemente, uma solução para esta exigên- cia, e essa foi a que, historicamente, se viu assumida. Vale seguramente a pena detalhá-la, indo mais longe do que Wladimir Brito foi na sua presente obra: em nome da precedência do princípio da igualdade sobre o da soberania, e face às tensões patentes nos domínios supra-estaduais e à periculosidade delas (os Estados, por algum motivo, desde há muito são caracterizados, tant bien que mal, como tendo de conviver numa “anarquia internacional” alarmante) gerou-se o reconheci- mento de que alguma porosidade tem de ser permitida neste segundo princípio, o da soberania, para que, pela via da reciprocidade, o primeiro, o da igualdade, em última análise prevaleça. Outras soluções decerto haveria, para resolver o conundrum fundacional do Direito Diplomático, chame-se-lhe assim; não foram, porém, as escolhidas. A hipótese segundo a qual a ausência de trabalhos de fôlego relativos ao Direito Diplomático ancorariam nas dificuldades de ordem conceptual que este apresenta não me parece, no entanto, particularmente convin- cente, já que dificuldades constituem tanto barreiras quanto desafios. Em todo o caso, sublinhe-se, o problema é bem mais extenso do que à 12 DIREITO DIPLOMÁTICO primeira vista pode parecer. Para o entender, basta que restituamos a questão ao quadro maior de que é parcela – foi apenas nos anos 90 do passado século XX que tiveram lugar, nas Faculdades de Direito portugue- sas, as primeiras provas públicas de doutoramento na área de um Direito Internacional Público de que, com mão segura, Frei Serafim de Freitas e Francisco Suarez, os dois de certo modo nossos conterrâneos1, são gené- rica e indiscutivelmente reconhecidos como estando entre dos mais ilus- tres Pais Fundadores. Uma das consequências mais imediatas deste autên- tico vácuo é apreciável: embora a disciplina de Direito Internacional tenha vindo desde há anos a ser ministrada por um ou outro académico formado em Universidades estrangeiras e por juspublicistas de safra local nele interessados, o ensino do Direito Diplomático em Portugal foi, até há meia dúzia de anos, inexistente. A primeira instituição portuguesa de Ensino Superior público onde a disciplina foi incluída, de maneira não autónoma, no programa de estudos da disciplina de Direito Internacional foi a do Minho, no ano lectivo de 1991-1992, no quadro da Licenciatura em Rela- ções Internacionais; o introdutor desse ensino foi, naturalmente, o Profes- sor Doutor Wladimir Brito; a primeira vez que uma Faculdade de Direito decidiu introduzir, no currículo utilizado para formar futuros juristas, a disciplina autónoma de Direito Diplomático e Consular – a Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, já , pasme-se, no século XXI – para a reger foi preciso recorrer a um especialista espanhol, um jurista, aliás, de notável qualidade. A uma lacuna técnico-científica genérica séria, vemo- -nos assim na contingência de ter de agregar uma carência instrumental perigosa nas implicações que pode gerar: as de uma perpetuação de dependências e a de consequentes subalternizações em domínios nos quais importa sobremaneira evitá-las a ambas. 1 Embora este último, um teólogo-jurista, não fosse português, cá se formou e trabalhou. Francisco Suarez nasceu em Granada e foi feito Catedrático de Teologia, em Coimbra, por Filipe II, em 1596; como não era doutorado, os lentes de Coimbra obrigaram- -no a fazê-lo, o que levou a cabo na Universidade de Évora. Só então foi empossado como Catedrático e exerceu essas funções até 1617, ano da sua morte. 13colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Mas o extraordinário não termina aqui. Com recuo retrospectivo, é decerto curiosa a constatação de que é com aparente sobranceria que damos conta de uma parcela essencial do labor imprescindível para a nossa inserção jurídico-política externa, ao mesmo tempo que apostamos na criação-aprofundamento de laços jurídicos com os Estados lusófonos – decerto como expressão de uma história comum e partilhada, mas tam- bém num esforço bem-vindo levado a cabo com o intuito de ampliar o nosso peso internacional específico. Esta conjuntura paradoxal constitui, seguramente, um dos muitos domínios académico-políticos em que com mais nitidez se exprime aquilo que durante a Monarquia Constitucional e a Primeira República foi apelidado como o nosso “atraso histórico”. E, nesse contexto, não pode deixar de ser delicioso que o livro que tenho a honra de prefaciar seja produto do labor universitário de um português de origem cabo-verdiana, Wladimir Brito. Trata-se de um produto de qualidade. No curto volume introdutório que se segue, sempre de olhos postos no jurídico, o Autor conduz-nos pelos meandros do estabelecimento de missões diplomáticas permanen- tes na Época Moderna, um processo que divide em quatro fases: numa primeira parte, discute as fontes do Direito Diplomático (uma questão mais complexa do que pode parecer, visto este Direito se encontrar umbilicalmente ligado a dois tipos de ordens jurídicas, a internacional e as nacionais). Numa segunda, pormenoriza a mecânica normativa que rege a criação e funcionamento das já referidas missões diplomáticas perma- nentes. De seguida, numa terceira parte, vasculha os fundamentos e a alçada das prerrogativas, imunidades, inviolabilidade e privilégios a que os diplomatas e a acção diplomática estão sujeitos – não se excisando a discutir as erosões a que se têm visto sujeitos. Passa depois, num quarto passo, à regulamentação das missões especiais, e conclui, num quinto e último, com um tema que, só por si merece uma monografia à parte, o Direito Diplomático relativo às Organizações Internacionais. O tom é colo- quial e o texto que o suporta tem um traçado claro e enxuto. Mais do que um esforço manualístico, o trabalho de Wladimir Brito constitui um esboço 14 DIREITO DIPLOMÁTICO de enquadramento histórico-sociológico da ratio da rápida progressão do Direito Diplomático contemporâneo; em resultado, e sem embargo da sistematização cuidada que o Autor lhe imprime, o carácter geral do volume é ensaístico. A vantagem de um estudo deste tipo é calculável em termos sobretudo pedagógicos: vale, na justamedida em que, por se tratar de uma reconstrução racional deste ordenamento normativo e da sua dinâmica, este, em resultado, se torna mais inteligível. Queria terminar com uma nota de esperança construtivista. A utilida- de de um qualquer trabalho, seja ele de investigação ou outro, não é apenas mensurável pela riqueza intrínseca daquilo que é empreendido: resulta também da sua capacidade para desencadear seguimentos que mostre poder ter, do efeito catalizador, ou de fermentação se se preferir, que venha a exibir. A qualidade e limpidez do curto estudo de Wladimir Brito agora apresentado – ambas coisas raras em Portugal, sobretudo no domínio da produção jurídica internacional pública – estão acima de quaisquer dúvidas, como o mostra a mais cursória das leituras. Estou certo que a presente publicação irá dar azo a muitas outras mais, no tipo de diálogo académico que sabemos ser o único garante de um futuro intelec- tual melhor e mais responsável. O meu Amigo, o Professor Wladimir Brito, está de parabéns; estamo-lo todos nós. Professor Doutor Armando Marques Guedes Presidente do Instituto Diplomático Professor da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa 15colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 1.1. Introdução 1 – Tal como acontece com as demais relações entre Estados, e entre estes e outros sujeitos do Direito Internacional, as relações diplomáticas também se encontram submetidas a um conjunto de regras e princípios jurídicos, quer de natureza convencional, quer costumeira. É claro que estas regras e princípios têm na sua base os princípios da soberania e da igualda- de entre os Estados, que são, em última análise, os marcos em cujos limites essas regras se desenvolvem e em que tais relações são estabelecidas. Na verdade, as relações diplomáticas implicam, sob um ponto de vista jurídico, a criação de mecanismos geradores do concurso de compe- tências entre Estados – e outros sujeitos do Direito Internacional – num mesmo território, o que não deixa de atingir, de certo modo, “à la limite” o poder soberano – a soberania – do Estado sobre o seu território. De facto, a instalação de um serviço público de um Estado no território de outro, subtraído completamente à jurisdição deste último, não deixa de ser um fenómeno contrário à ideia da soberania, e, em consequência, algo que gera problemas relativos ao pleno exercício do poder soberano de um Estado sobre o seu território. Por essa razão, a questão das relações diplomáticas implica necessariamente a conciliação do princípio da sobe- rania territorial com as exigências das relações internacionais ou, por outras palavras, com a criação e o reforço de relações amigáveis e de cooperação entre os sujeitos do direito internacional, o que só através do estabelecimento de relações diplomáticas pode ser plena e satisfatoria- mente realizada. Evolução Histórica e Fontes Capítulo I 16 DIREITO DIPLOMÁTICO Pelo exposto, poderemos ver que no mundo actual é irrealista defen- der uma concepção absoluta da soberania, hoje completamente ultrapas- sada. Relativamente ao princípio da igualdade, a questão que, hoje, as relações diplomáticas levantam, de forma crescentemente preocupante, num mundo constituído por Estados com distintos regimes políticos, sociais e económicos, com dimensões territoriais desiguais e com diferen- tes influências na cena político-económica e militar internacional, numa palavra, de Estados fortes e fracos, é a de tais relações serem transforma- das e utilizadas como instrumentos de pressão dos Estados (ou blocos) fortes sobre os Estados fracos. A estes problemas a sociedade internacional procurou dar res- posta com o estabelecimento de um conjunto de regras e princípios vectores das relações internacionais, as quais embora não sejam suficien- tes para solucionar todo esse complexo problemático, são, contudo, um passo importantíssimo para a resolução pacífica dos conflitos interna- cionais. Finalmente, importa dizer aqui que a proliferação e diversidade dos sujeitos do direito internacional, decorrentes não só da emergência de novos Estados na sociedade internacional, mas também da multiplicação das organizações internacionais, tornam, ainda, mais complexos todos os problemas que as relações diplomáticas colocam na actualidade. Não é aqui possível tratar em profundidade todas essas questões, cujo estudo interessa para uma melhor compreensão da evolução das relações diplomáticas. Contudo, iremos abordar sumariamente algumas delas. 2 – Imporá agora dizer que é nesse conjunto de regras e princípios, numa palavra, nesse conjunto de normas que regulam as relações interna- cionais, que temos de procurar aquelas que disciplinam as relações diplo- máticas enquanto “relaciones oficiales y formales de los Estados u otros sujetos de derecho internacional, a través de unos organos específicos pró- 17colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA prios para las relaciones exteriores de los mismos (…)”1 e, essencialmente, enquanto relações pacíficas, pacificidade essa que caracteriza as relações diplomáticas e as distingue das relações bélicas, que são a outra dimensão das relações internacionais. Por outro lado, é no âmbito dessas relações diplomáticas que se localiza aquilo a que se chama a diplomacia2, que pode ser entendida numa tripla dimensão3 a saber, toda ela regulada pelo Direito Diplomático: a) A objectiva, para significar o conjunto complexo e plural de activi- dades pacíficas desenvolvidas pelos sujeitos do Direito Internacio- nal com capacidade para estabelecer relações diplomáticas – Esta- do e Organizações Internacionais Governamentais – com vista a realizar os seus interesses específicos e os da comunidade interna- cional. b) A subjectiva, enquanto conjunto de pessoas – Agentes ou Pessoal Diplomático – oficialmente investidas no poder (função) de repre- sentar aqueles sujeitos do Direito Internacional nas suas relações internacionais, em nome deles negociar os seus interesses e no interesse deles informá-los das questões relevantes ocorridas nos países em que desenvolvem a sua actividade e da comunidade internacional, em geral. c) Orgânico, conjunto de serviços externos e internos – serviços diplo- máticos e locais da missão – criados por esses sujeitos e instalados 1 Eduardo Vilariños Pintos, Curso de Derecho Diplomático y Consular, Ed. Tecnos, Madrid, 2003, p.ª 26. 2 De acordo com Ian Brownlie a diplomacia, na sua acepção mais lata, “compreende todos os meios pelos quais os Estados estabelecem ou mantêm relações mútuas, comuni- cam uns com os outros ou interagem política ou juridicamente, sempre através dos seus representantes autorizados”, Cfr. IAN BROWNLIE “Princípios de Direito Internacional Público, Ed. Gulbenkian, Lisboa, 1997, p.ª 367. 3 Em sentido próximo, veja-se Stanislaw Edward Nahlik, Development of Diplomatic Law. Selected Problems, in Recueil des Cours de l’Académie de Droti International, Tomo 222, 1990-III, Ed. Martinus Nijhoff, Dordrecht/ Boston/ London, 1991, p.ª 201 e segs. 18 DIREITO DIPLOMÁTICO nos seus respectivos territórios e, por acordo prévio entre eles, por cada um no território do outro para apoiar material e fisicamente as actividades desenvolvidas pelos Agentes Diplomáticos. É com essa tripla natureza que a diplomacia ou, se quisermos ser mais precisos, as relações diplomáticas, constituem o objecto do Direito Diplo- mático e são por isso por esse direito reguladas, como se verá mais à frente. 1.2. Brevíssima descrição da evolução Histórica das Missões Diplomáticas Permanentes 1.2.1. Introdução A História da diplomacia e do Direito que a disciplina revela-nos que originariamente a actividade diplomática era desenvolvida por missões especiais ad hoc encarregadas de tratar, num dado período de tempo, de assuntos específicos de um Império ou Reino noutro Império ou Reino. Assim, podemos dizer que os povos antigos só conheciam a diplomacia ad hoc feita por emissários que em nome dos respectivos monarcasou imperadores negociavam os seus interesses, celebrando tratados de paz, de protecção dos lugares sagrados, de repartição de cursos ou lençóis de águas, etc.. Já nessa altura esses emissários eram considerados e tratados como pessoas sagradas a quem eram reconhecidos privilégios e inviolabilidade pessoal, sendo por regra os únicos estrangeiros num dado território a quem eram dispensadas essas prerrogativas. Os povos antigos, como, por exemplo, os chineses e os indianos, atribuíam grande importância à diplomacia e às práticas diplomáticas, o que levava a que na China, diz-nos EduardoVilariño Pintos4, no “siglo III a.c. los embajadores chinos estaban obligados a presentar por escrito informes 4 EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho Diplomático e Consular, cit.º p.ª 52. 19colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA minuciosos sobre el cumplimiento de su misión”, enquanto o Código Manú, na Índia, dispensava muita atenção ao Direito Diplomático e à diplomacia que concebia como a arte de evitar a guerra e de assegurar a paz. Estamos obviamente numa época em que a diplomacia era essen- cialmente de emissários, que na Grécia clássica eram conhecidos como Kyrikes, Presbeis, ou Angeloi, enquanto em Roma eram denominados de legati, e eram eles que desenvolviam toda a actividade diplomática nego- ciando e celebrando tratados. 1.2.2. Na antiguidade clássica greco-romana Quer na Grécia, quer em Roma não existiam missões diplomáticas permanentes, continuando a ser totalmente desconhecida a figura de embaixador ou da missão permanente. Nesse período os representantes dos impérios ou reinos não permaneciam por muito tempo em território estrangeiro, dado que se limitavam a executar as missões de que eram encarregados, regressando, de imediato, aos seus territórios de origem. As missões tinham, assim, um carácter temporário e específico, eram missões ad hoc, mesmo quando se prolongavam por algum tempo. Mas, apesar disso não deixaram de dar grande importância à diplomacia, sendo, na opinião de Vilariños Pintos5, os gregos que, apesar da limitada dimensão da sua diplomacia, pela primeira vez, dão às relações diplomáticas uma certa estabilidade formal, o que obviamente, adverte este professor espa- nhol, não podia ser entendido como diplomacia ou missão permanente. Na Grécia os diplomatas eram designados pelos conselhos ou pelas assembleias a quem cabia a responsabilidade das relações internacionais sendo os emissários escolhidos em função do assunto a tratar6. 5 EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho Diplomático e Consular, cit.º p.ª 5. 6 Diz-nos EDUARDO VILARIÑO PINTOS, que “la asemblea pública era normalmente la institucion soberana del estado y las responsable de la politica exterior y de la diplomacia, 20 DIREITO DIPLOMÁTICO Já em Roma a diplomacia não tinha a importância de que gozava na Grécia, mas também não deixava de ser um instrumento das relações exteriores dos romanos. Inicialmente, cabia aos fetiales a responsabilidade pela diplomacia, exactamente porque também eram eles que se pronun- ciavam sobre a guerra e a paz com os outros povos. Eram, portanto, os fetiales que estavam encarregados não só de designar os enviados roma- nos, como de receber os “diplomatas” dos outros povos. Mais tarde, a responsabilidade pelas relações internacionais passa para o Senatus órgão encarregado da política externa do Império, cabendo-lhe designar os seus emissários, legati, bem como receber os que lhes eram enviados pelos outros povos. Roma sempre respeitou os enviados diplomáticos que eram conside- rados como personificação dos respectivos monarcas e povos, o que levava Cícero a dizer que “legatorum divino humanoque vallatum est proesidio, cujus tam sactum et venerabile nomen debet ut non modo inter sociorum jura, sed et hostium tela incolume versetur” e a violação dos privi- légios e inviolabilidades desses enviados eram comummente aceite como causa justificativa da ruptura de ralações diplomáticas e da declaração de guerra7. As missões especiais romanas eram normalmente formadas por vá- rios membros e dirigidas por um princeps legationis que foram criando uma prática diplomática que sobreviveu à queda do Império Romano do Ocidente em 476 e que foi adoptado pelos povos invasores. Estes denomi- navam os seus enviados de legati, nuntii ou missi. los nombriamentos de los enviados y la resoluciones sobre diplomacia solían ser previa- mente acordadas por un comité de cinco consejeros a modo de resolucion preliminar; ante la asemblea, dada su condición de institución soberana y por su funciones, actuaban los enviados extranjeros y daban cuenta de su misión los enviados próprios”, in Curso de Derecho Diplomático y Consular, cit.º p.ª 53. 7 No mesmo sentido veja-se CHARLES MORTON, Les Privilèges et Immunités Diplomatiques, Lausanne, 1927, p.ª 11. 21colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 1.2.3. Na Idade Média É claro que a actividade diplomática ao longo da antiguidade produ- ziu naturalmente certas regras jurídicas de carácter costumeiro, quer relativas a relações diplomáticas, quer ao tratamento dispensado aos enviados especiais (diplomatas), criando um direito diplomático de carác- ter costumeiro que na Idade Média continua a dominar, embora agora novos conceitos e novas práticas vão ser adoptadas. De facto, as comple- xas e frequentemente conflituais relações entre os povos do mundo greco-ortodoxas e eslavo-bizantinas, que integravam o império romano do oriente, encabeçado pelo Imperador de Bizâncio, o papel do Papado no mundo medievo e, mais tarde, as relações entre os Veneza, Nápoles e Milão vão contribuir decisivamente para o aperfeiçoamento das práticas e do direito diplomático, abrindo caminho para a o aparecimento do concei- to de missão permanente Assim em Bizâncio, o Imperador, nas suas relações com outros povos, não só dotavam os seus enviados especiais, com cartas credenciais – prokuratorikon – como recebiam com grande cerimónia os enviados de outros povos, estabelecendo para o efeito, regras protocolares cuidadosa- mente elaboradas. Por outro lado, apesar de não terem estabelecido as representações permanentes, as embaixadas eram rodeadas de um certo aparato exterior e as comunicações diplomáticas eram feitas por notas – sacra ou pragmatika. Curiosamente, embora ainda se não possa falar de missão permanente, o Papa, com vista a assegurar as relações de natureza dominantemente religiosa e a política eclesiástica e, com ela, a própria autoridade papal, tinha um enviado permanente, denominado por apocrisiariou reesponsales8, em Constantinopla. O Papado também mantinha uma intensa actividade diplomática e junto e vários príncipes cristãos também com os mesmos objectivos, 8 Cfr. SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Estudos de Direito Internacional, Organização da Sociedade Internacional, (Lições de Direito Internacional 1909-1910), Coimbra 1910, p.ª 425. 22 DIREITO DIPLOMÁTICO mantinha enviados, denominados legatii ou responsales, enviados que nos finais da Idade Média tinham distintas denominações com as quais se assinalavam as distintas categorias desses enviados. Assim, diz-nos Vilariños Pintos9 os legati eram os representantes pessoais do Papa e exerciam as mais elevadas funções de natureza dominantemente eclesiática, os nuncius, de categoria inferior, tinham menos poderes e eram encarregados de assuntos de natureza temporal. Por seu lado as Repúblicas italianas, nomeadamente as de Veneza, Nápoles e Milão, devido às intensas relações político-económicas e diplo- máticas que entre si mantinham, também contribuíram decisivamente para a evolução das práticas e do direito diplomático, e abriram caminho para o aparecimento das missões permanentes, ainda no quadro de um direito diplomático de natureza costumeiro que será a dominante até ao século XIX10. 1.2.4. Da idade moderna ao século XIX No início da Idade Moderna, uma nova forma de organização política começa a emergir na Europa e a impor-se em todos os países.É o Estado moderno que nasce e com ele necessariamente uma nova forma de diplomacia. Na verdade, esse Estado começou desde logo a reclamar uma nova forma de diplomacia capaz de assegurar com permanência e sem soluções de continuidade as relações internacionais bi ou multilaterais. Reclamando para si o monopólio dessas relações, o Estado soberano também exigia o reconhecimento no mundo das relações internacionais da igualdade entre todos os Estados. A sociedade internacional composta 9 Cfr. EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho Diplomático e Consular, cit.º p.ª 54 e 55. 10 Cfr. WLADIMIR BRITO, Direito Internacional Público – Parte Histórica e Fontes, Ed. CECRI, Braga, 1994. 23colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA exclusivamente por esses Estados passou a sentir a necessidade de uma diplomacia permanente como instrumento capaz de assegurar a repre- sentação internacional do Estado, a estabilidade das relações interestatais e com ela a paz. É assim que se começa a institucionalizar a diplomacia e as missões permanentes. De facto, é com a grande actividade diplomática dos Estados Italianos que nasce a figura dos embaixadores residentes, que, na opinião de CALVET DE MAGALHÃES é inaugurada pelo Senhor de Milão, Giangaleazo Visconti, “que durante mais de sete anos, ou seja, de Maio de 1425 a Julho de 1432, manteve um embaixador residente junto da corte de Sagismundo (1368- 1437), rei da Hungria e imperador do Santo Império Romano”11 e que a partir dos século XV os diversos Estados Italianos – Veneza, Nápoles, Milão – passam a trocar embaixadores permanentes ou residentes, acontecendo até que a Santa Sé passa a receber tais diplomatas12. Institucionalizada a missão permanente, esta, pela sua nova natureza, não só vai dar origem a novas práticas diplomáticas, como provoca pro- fundas transformações no Direito Diplomático que exigem a sua consa- gração em texto escrito, como veremos. Na verdade, no que se refere às transformações provocadas pela diplomacia permanente, podemos dizer que uma das mais decisivas é a formação de um corpo estável e perma- 11 JOSÉ CALVET DE MAGALHÃES, Manual Diplomático – Direito Diplomático e Prática Diplomática – Ed. do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lisboa, 1985, pág. 21 e segs. Entende EDUARDO VILARIÑOS PINTOS que “aun cuando documentalmente parece corresponder a Milán el establecimiento de las primeras misiones diplomáticas permanen- tes en el sentido moderno, es a Venecia a quien se debe la configuración y la más completa organización de la nueva forma de diplomacia, sobre cuyo modelo se producirá su desarrollo en etapas posteriores”. Assim conclui esse autor “daí que Venecia sea considerada como ‘escuela y prueba de embajadores’ y la diplomacia permanente – y aun la moderna diploma- cia, en general – como creación veneciana”. EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho Diplomático e Consular, cit.º p.ª 57. 12 Para maior desenvolvimento confronte JOSÉ CALVET DE MAGALHÃES, Manual Diplomático, cit., p. 21 e ss. Cfr. ainda PAUL REUTER, Institution International, Ed. PUF, Paris, 1956, p. 35-40. 24 DIREITO DIPLOMÁTICO nente de agentes diplomáticos de que vai resultar a sua profissionalização. A partir de agora, a diplomacia (permanente) é, sob o ponto de vista subjectivo, um conjunto de pessoas que fazem da diplomacia a sua profissão e que, por isso mesmo, passam a assumir-se um corpo de profissionais das relações internacionais interestatais13. Por outro lado, sob o ponto de vista da actividade diplomática – dimensão objectiva da diplomacia –, esta assume novas formas, pois deixa de ser uma actividade meramente representativa e negocial para passar a ser também uma actividade informativa. Na verdade, os agentes diplomá- ticos ampliam as suas funções, passando a ter a função de informar os seus respectivos Estados sobre as questões que ocorrem no Estado receptor e que são consideradas relevantes para as relações interestatais, bem como sobre as questões mais relevantes para as relações internacionais. O diplomata passa agora a ser um observador atento e permanente da vida pública do Estado receptor onde exerce as suas funções e também da vida internacional. Podemos assim dizer que a dimensão subjectiva da diplomacia assu- me agora a sua configuração moderna e apresenta-se como um corpo profissionalizado de agentes de um Estado preparado para, de forma especializada, exercerem tarefas específicas no domínio das relações inter- nacionais. Trata-se de um corpo permanente que reclama um novo esta- tuto, por já não se satisfazer com aquele que lhe era oferecido pelo direito 13 Importa esclarecer que esse corpo não se confunde com o que tradicionalmente se denomina por corpo diplomático. O corpo diplomático também pode significar o conjunto de todos os enviados que são acreditados por um Estado junto dos demais Estados e Organizações Internacionais. Nesse sentido se fala de corpo diplomático português, espa- nhol, belga ou chinês. Noutro sentido significa todos os agentes diplomáticos de vários Estados acreditados pelos seus respectivos Estados junto de um outro. Neste sentido temos o corpo diplomático junto do Estado português. Este corpo diplomático é representado nos momentos e cerimónias solenes pelo seu decano que é o diplomata mais antigo e da mais elevada categoria. Nos países católicos o decano é normalmente o núncio, independente- mente da data da sua chegada ao país. 25colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA internacional geral ou costumeiro e que regulava a sua actividade. Mas, reclama-o com o apoio dos Estados, que também reconhecem essa neces- sidade na medida em que a diplomacia permanente coloca agora ques- tões, como, por exemplo, o da honra e precedências, imunidades e privi- légios, que lhes dizem directamente respeito, pois atingem o próprio estatuto internacional do Estado no domínio das relações interestatais. Contudo, todas essas matérias continuarão a ser reguladas pelo cos- tume internacional até ao Congresso de Viena de 1815, como se verá de seguida. 1.2.5. Século XIX14 De facto, só no Congresso de Viena de 1815 é que se manifesta a intenção de substituir tais normas costumeiras por um direito escrito, intenção que se concretizará nesse Congresso com a aprovação do Regu- lamento das Categorias entre os Agentes Diplomáticos, o que só é possível por já se poder falar de uma nova diplomacia nascida da afirmação do Estado Nacional moderno quer interna quer internacionalmente e da consagração da missão permanente clássica. É claro que esse Regulamento é a manifestação do consenso político- -internacional da época, na exacta medida em que a monarquia europeia reunida em Viena não conseguiu senão aceitar a compilação nesse texto das questões relativas à categoria e à hierarquia dos Agentes Diplomáti- cos, para efeitos de honras e precedências15. Esse Regulamento com apenas sete artigos resolve o sério problema das honras e precedências 14 Cfr. GEORGES BOUSQUET, Agents Diplomatiques et Consulaire, Paris, 1985, p. 1 e 9. 15 Para maior desenvolvimento, cfr. GERHARD VON GLAHN, Law Among Nation, (5.ª ed.), Collier MacMillan Publishors, London, 1986. Ver, ainda, GEORGES BOUSQUET, Agents Diplomatique et Consulaire, Paris, 1983, p. 1 e 9, onde se faz um breve resumo da evolução histórica das relações diplomáticas francesas até aos finais do século XIX. 26 DIREITO DIPLOMÁTICO que vinha causando sérios incidentes interestatais e é, mais tarde em 1818, completado com o Protocolo de Aix-la-Chapelle. Apesar do seu reduzido âmbito, esse Regulamento constitui um marco intransponível na história do Direito Diplomático na medida em que é, sem dúvida, o ponto de partida para o posterior desenvolvimento desse direito em direcção à sua codificação, que só virá a acontecer em 1961. De qualquer forma, podemos agora dizer que no século XIX, era de ouro do estatismo nas relações internacionais, fica definitivamente consa- grado pela prática diplomática e pelo direito costumeirodiplomático que os agentes diplomáticos são representantes dos Estados (e não dos res- pectivos monarcas), que não podem fazer espionagem, devendo a activi- dade de informação ser exercida por meios legítimos e internacionalmen- te permitidos, que a diplomacia é organizada com um serviço da Adminis- tração Pública estatal e que os diplomatas são um corpo de funcionários do Estado com formação especializada. Para além disso, a prática e o direito costumeiro consagram ainda que deve ser através das respectivas diplomacia que os Governos devem desenvolver a suas negociações inter- nacionais. 1.2.6. Século XX: os períodos essenciais16 No século em que as Organizações Internacionais se afirmam como importantes instituições internacionais com papel decisivo nas relações internacionais e ainda como verdadeiros sujeito do Direito Internacional, a diplomacia sofre novo impulso provocado por essa nova configuração da sociedade internacional e tem de responder a novas questões, que essa sociedade e as novas relações internacionais, agora também entre Estados 16 Cfr. PHILIPPE CAHIER, Droit Diplomatique, citado, p. 14 e ss., para uma visão mais completa desta fase. 27colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA e Organizações Internacionais, lhe coloca. Para além disso, a Primeira Guerra Mundial dela exige novas práticas e revela a necessidade de um Direito Diplomático codificado, ao mesmo tempo que a criação da Socie- dade das Nações contribui para renovar a clássica prática diplomática. A questão da codificação do Direito Diplomático entra na ordem do dia para ser tratada em quatro fases essenciais, a saber: 1. A primeira que recobre os anos de 1927-1930; 2. A segunda que se inicia em 1930 e acaba a 1954; 3. A terceira que compreende os anos de 1954 a 1961; 4. E a última que abrange o período compreendido entre 1961 e 1975. Por brevidade, vamos aqui analisar sumariamente essas quatro fases, remetendo para obras especializadas na história das relações diplomáticas o estudo mais aprofundado dessas fases da evolução do Direito Diplomático. 1) – PRIMEIRA FASE: 1927 A 1930 Até 1927 a codificação possível foi a de Viena de 1815-1818. Em 1927, o Comité de Peritos da S.D.N. para a Codificação do Direito Internacional considerava que a questão dos privilégios e imunidades diplomáticas estava suficientemente madura (“sufficiently ripe”), para ser regulada, e que era inadmissível deixar perpetuar esta questão. Contudo, a Assembleia da S.D.N. rejeitava as conclusões do Comité, por entender que a celebra- ção de um Acordo Universal seria prejudicial, recusando-se, assim, a incluir esta questão no programa de codificação de 1930. Entretanto, em 1928, em Havana, (VI Conferência dos Estados Ameri- canos) foi adoptada por doze Estados Americanos, uma Convenção sobre os Agentes Diplomáticos, a qual foi ratificada pelos referidos Estados, e somente assinada pelos Estados Unidos da América do Norte, que a não ratificou com o fundamento de nela não estarem incluídas normas relati- vas à garantia de asilo diplomático. Apesar de ter um carácter estritamente regional esta Convenção não deixa de ser um passo importante na Codificação do Direito Diplomático. 28 DIREITO DIPLOMÁTICO 2) – SEGUNDA FASE: 1930 A 1954 Os incidentes da guerra fria e as frequentes violações das regras relativas às relações diplomáticas, levou a que a ONU retomasse essa questão das relações diplomáticas, e que, em 1952, a Assembleia Geral votasse um Resolução [R-685 (VII), de 5 de Dezembro] na qual solicitava à Comissão de Direito Internacional (C.D.I.) prioridade no estudo da codificação das relações e imunidades diplomáticas. Isto depois de a mesma Assembleia Geral, em 1949, ter rejeitado conceder prioridade a esta questão, que a C.D.I. tinha incluído nos seus quarenta tópicos de Codificação. De qualquer forma, em 1954, a C.D.I. iniciou os seus estudos sobre as relações e imunidades diplomáticas, de que vai sair, em 1959, uma propos- ta ou projecto de Convenção. 3) – TERCEIRA FASE: 1954 A 1961 Em 1959, a Assembleia Geral delibera convocar uma Conferência de Codificação que se deveria reunir em Viena, em homenagem ao Congres- so de Viena de 1815, para tratar da questão da Codificação do Direito Diplomático, votando a Resolução 1450 (XIV), de 7 de Dezembro. Reunida em Neue Hafburg, de 2 de Março a 14 de Abril de 1961, com a presença de oitenta e um Estados e de vários observadores, a Conferên- cia adoptou várias resoluções e preparou os seguintes instrumentos: - Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas; - Protocolo Adicional Relativo à Aquisição de Nacionalidade; - Protocolo Relativo à Resolução Obrigatória dos Conflitos. A 18 de Abril de 1961, a Conferência votou por unanimidade a Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, que foi assinada por setenta e cinco Estados. Apesar de a Convenção – com 53 artigos e dois protocolos – ser o produto de um compromisso nos termos dos quais o Regime Costumeiro existente não deveria ser subvertido, e de, no parágrafo final do seu 29colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA preâmbulo, se afirmar que as regras costumeiras continuariam a reger as questões não reguladas expressamente na Convenção, esta não deixou de adoptar novas e inéditas soluções com o objectivo de responder não só às aspirações dos novos Estados, como também às transformações técnicas, nomeadamente, no campo das telecomunicações. 4) – QUARTA FASE: 1961 A 1975 Em 1969, a Convenção foi completada com uma outra Convenção sobre as Missões especiais – Convenção de Nova Iorque sobre as Missões Especiais, de 16 de Dezembro de 1969. A Convenção surge, assim, como um corpo coerente de normas e, nessa medida, como um verdadeiro Código do Direito Diplomático. Finalmente, em 1975, a questão importante da representação dos Estados nas suas relações com as Organizações Internacionais foi regulada pela Convenção de Viena, do mesmo ano, que veio a resolver em parte, o delicado problema do direito de legação “passivo” das Organizações Inter- nacionais. Do exposto resulta que o direito das relações diplomáticas aparece como um dos mais antigos ramos do Direito Internacional formalmente codificados e, consequentemente, como regras do direito internacional mais firmemente estabelecidas. 1.3. Conceito e fontes do Direito Diplomático 1.3.1. Conceito A doutrina tem apresentado diversos conceitos de Direito Diplo- mático, mas todos eles têm de comum o facto de, em última análise, considerarem que esse direito tem por objecto as relações exteriores dos Estados. 30 DIREITO DIPLOMÁTICO Assim, para NASCIMENTO E SILVA o Direito Diplomático “é simples- mente a parte do Direito Internacional Público, devidamente desenvolvida, que trata do agente diplomático”17, enquanto que para PHILIPPE CAHIER tal direito regula as relações entre os órgãos dos sujeitos do direito internacional encarregados das relações exteriores desses sujeitos18. Quanto a nós, entendemos que o conceito de Direito Diplomático deve revelar toda a dimensão do seu objecto, que, em nossa opinião, não recobre apenas os Agentes Diplomáticos, nem a mera relação entre os órgãos dos sujeitos do direito internacional encarregados das suas relações exteriores como defendem aqueles prestigiados internaciona- listas. Assim, para nós, o Direito Diplomático é um conjunto de regras e princípios jurídicos reguladores das relações pacíficas entre os sujeitos do direito internacional –maxime Estados e Organizações Internacionais –, bem como das formas e garantias jurídicas de representação e defesa dos interesses destes sujeitos no exterior19. 1.3.2. Fontes do Direito Diplomático Por fonte de direito entende-se os modos de formação e revelação do direito. Certamente que o Direito Diplomático tem, tal como qualquer direito, as suas fontes, as quais deverão ser explicitadas, para que se possa com- preender as formas de que se reveste este direito. 17 NASCIMENTO E SILVA, Direito Diplomático, in Boletim daSociedade Brasileira de Direito Internacional, Ano 7, Janeiro-Dezembro de 1951, n.º 13 e 14, p. 79. 18 PHILIPPE CAHIER, Droit Diplomatique, Paris, 1964, p. 5/6. 19 Para Silvestre Pinheiro Ferreira o Direito Diplomático regula a organização e o funcionamento das missões diplomáticas. Cfr. SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Estudos de Direito Internacional, Organização da Sociedade Internacional, (Lições de Direito Interna- cional 1909-1910), Coimbra 1910, p.ª 445. 31colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Como teremos a oportunidade de ver ao longo deste estudo, o Direito Diplomático encontra-se ligado a duas ordens jurídicas, a saber: a internacional e a nacional. É que na verdade esse direito dirige-se pois aos sujeitos do Direito Internacional – maxime Estados, Organizações Internacionais – nas suas relações internacionais, para os obrigar a adoptar certos comportamentos, e, por outro, dirige-se a esses mesmos sujeitos para, internamente, adap- tarem as suas legislações às regras do Direito Internacional. No primeiro caso, o Direito Diplomático surge como regras gerais válidas para os sujeitos do Direito Internacional, enquanto que ao segun- do as regras daquele direito são especiais, diz-nos PHILIPPE CAHIER. Em qualquer dos casos, o Direito Diplomático tem as suas fontes, os seus modos específicos de se revelar, que são as seguintes: a) O costume; b) Os Tratados: bilaterais e multilaterais; c) As leis internas dos Estados; d) As normas jurídicas das Organizações Internacionais; e) A jurisprudência; f ) A doutrina. A) O COSTUME Conhecemos já o conceito de costume e sabemos que, no âmbito do Direito Internacional, este tem exercido um importante papel. Por outro lado, sabemos também que durante séculos e, ainda agora, o costume foi e, em certa medida, continua a ser, a principal fonte do Direito Interna- cional, pelas razões já explicadas noutro lugar20. No que se refere ao Direito Diplomático, este foi sendo criado, ao longo dos séculos, pela prática reiterada e uniforme dos Estados, que foram aceitando as regras desse direito. Assim se formou o Direito Diplo- 20 Cfr. WLADIMIR BRITO, Direito Internacional – Parte Histórica e Fontes – cit.º. 32 DIREITO DIPLOMÁTICO mático tradicional, todo ele emergente e assente em regras costumeiras que foram sendo aceites pelos Estados, e que tinham na sua base um princípio que nenhum Estado punha em causa: o princípio da reciproci- dade. É claro que, tal como acontece em todo o Direito Internacional, a tendência é a de o costume ceder lugar ao direito escrito – convencio- nal – que não só o fixa, codificando-o, como introduz inovações importan- tes, o que tem vindo a acontecer com o Direito Diplomático, em especial desde 1961, com a sua codificação na Convenção de Viena de 1961. Desta crescente dominância do direito escrito sobre o costumeiro não resulta necessariamente que o costume deixe de ser uma fonte do Direito Diplomático. Na verdade, ainda hoje, apesar da predominância dos Tratados, o costume continua a exercer um importante papel no campo do Direito Diplomático, regulando várias relações jurídico-diplomáticas entre os sujeitos do Direito Internacional, o que se explica não só pela sua flexibilidade e maleabilidade que lhe permitem adaptar-se às novas cir- cunstâncias, como ainda, pelo facto de o próprio direito escrito produzir novos costumes crescentemente aceites pela comunidade internacional como regras de direito. Assim se explica que as relações diplomáticas entre os Estados que não são partes na Convenção de Viena de 61 e noutras Convenções relativas às relações diplomáticas – Convenção de New York de 69 e a Convenção de Viena 75 – continuem a ser reguladas pelo direito costumei- ro. Mesmo para os Estados partes nessas Convenções o costume continua a ser fonte das normas que regulam algumas das suas relações, nomeada- mente aquelas que não estão expressamente previstas nas disposições dessas convenções – cfr. os Preâmbulos da Convenção de Viena de 61 e da Convenção de New York de 69. B) OS TRATADOS No Direito Diplomático a importância dos Tratados tem crescido com a persistente codificação desse direito, assumindo, assim, um importante papel. 33colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA O Tratado é hoje outra importante fonte daquele Direito. De facto, o Direito Diplomático assenta em vários tratados bilaterais e multilaterais que estabelecem os diversos conjuntos de regras jurídicas reguladoras das relações jurídico-diplomáticas entre os sujeitos do Direito Internacional. Torna-se, contudo, pertinente distinguir aqui os Tratados bilaterais dos multilaterais. 1) Tratados bilaterais Estes Tratados têm normalmente por objecto o estabelecimento das relações diplomáticas e a instituição de missões diplomáticas entre os sujeitos do Direito Internacional com capacidade jurídico-internacional para o efeito, bem como a alteração da categoria das missões. Para além desse objecto, podem ainda os sujeitos de Direito Interna- cional acordar por Tratados bilaterais diversas outras questões relativas às suas relações diplomáticas. Assim, por exemplo, o artigo 47º da Conven- ção de Viena, permite que os Estados, por convénio, concedam reciproca- mente um tratamento mais favorável do que o estipulado na Convenção, enquanto os artigos 17º e 41º permitem que por acordo entre os Estados se estabeleça qual o Departamento do Estado receptor que deverá rece- ber a notificação relativa à ordem de prevalência dos membros do pessoal diplomático e com que Departamento do Estado receptor deverão ser tratados os assuntos oficiais. Faz-se notar que, regra geral, verifica-se a tendência nos tratados bilaterais de muitas questões serem regulamentadas por remissão para os princípios e regras do Direito Internacional comummente aceites pelas nações, o que significa o reenvio da regulamentação dessas questões ou para o direito comum ou para o direito convencional aceite pela genera- lidade das nações, ou seja para os Tratados multilaterais. 2) Tratados multilaterais Estes tratados que são as mais importantes fontes do Direito Diplo- mático tem como objecto, regra geral, codificar o costume relativo àquele 34 DIREITO DIPLOMÁTICO Direito, embora normalmente com inovações. Por outro lado, estes trata- dos podem estabelecer tratamento especial para as missões dos Estados partes. Escusado será dizer que a elaboração e a celebração destes Tratados, regra geral, são mais complexas e difíceis do que a dos Tratados bilaterais, não só devido à maior amplitude do seu objecto, como ainda por neles participar um maior número de Estados, cada um com os seus interesses específicos. Regra geral, a celebração destes Tratados é precedida de diversos projectos elaborados por especialistas, ou por Comissões, nomeadamen- te, pela Comissão de Direito Internacional, projectos que depois são apresentados aos Estados para estudo e propostas de modificação, as quais são posteriormente analisadas pela Comissão para efeitos de as adoptar ou não no projecto final. De qualquer forma, uma vez celebrado o Tratado, este passa a ser fonte do Direito Diplomático. C) LEIS INTERNAS As leis internas e as normas jurídicas das Organizações Internacionais são também uma importante fonte do Direito Diplomático, pois, na verda- de, através delas são regulados um conjunto de questões relativas àquele direito. Com efeito, a legislação interna dos Estados e das Organizações Internacionais não só executam as normas jurídico-internacionais – como por exemplo, adaptando a estas normas a ordem jurídica interna – como, ainda, integram as lacunas existentes no Direito Diplomático, ampliam ou restringem o campo de aplicação desse direito – como acontece com a concessão de tratamento especial aos diplomatas, mais ou menos favorá- vel do que o previsto no Direito Diplomático –, desde que não contrarie ou viole o conteúdo deste Direito. Regra geral, as leis internas visam garantir e salvaguardar o princípio da reciprocidade,pedra angular do Direito Diplomático, que todos os 35colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA sujeitos do Direito Internacional procuram respeitar e fazer respeitar por corresponder aos seus interesses. Acontece, contudo, que a legislação interna, na generalidade dos casos, trata as questões relativas ao Direito Diplomático de forma dispersa e assistemática. De facto, tais questões tanto são reguladas por vezes no Código Penal, como nos Códigos de Processo Penal e Civil, outras vezes na legislação fiscal e aduaneira, etc., o que torna mais difícil o estudo do estatuto jurídico – privilégios especiais – (interno) dos diplomatas. Sendo certo que a legislação interna de cada Estado é, sob o ponto de vista jurídico-internacional, um acto jurídico unilateral, podemos dizer que as leis internas são fontes indirectas do Direito Diplomático. D) A JURISPRUDÊNCIA As decisões dos tribunais, quer nacionais quer internacionais, são uma fonte do Direito Diplomático na medida em que não só auxiliam a interpretação das regras jurídicas desse Direito, como podem contribuir para integrar as lacunas nele existentes e para reconhecer a existência de Costumes relativos às relações diplomáticas ou favorecer a própria criação dessas regras. E) A DOUTRINA A doutrina exerceu um importante papel na criação e no aperfeiçoa- mento do Direito Internacional. Até ao século XVIII era a doutrina que esclarecia o sentido das normas jurídicas relativas às relações diplomáticas e revelava quais as normas que deviam ser aplicadas. Para além disso, a doutrina, tem exercido um importante papel na Codificação do Direito Diplomático. Sendo certo que modernamente a doutrina não é propriamente uma fonte de revelação e de criação do Direito Diplomático, não é menos certo que ainda hoje desempenha um papel importantíssimo no campo desse direito, precisamente porque ainda continua a influenciar 36 DIREITO DIPLOMÁTICO grandemente o “legislador” internacional, quando este decide codificar ou produzir qualquer tipo de Tratado sobre questões relativas às relações diplomáticas. 37colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 2.1. Missões Permanentes: Conceito A Missão diplomática tanto pode ser entendido no sentido subjectivo, como no orgânico. No sentido subjectivo, a missão diplomática é o conjun- to de pessoas que se dedicam à actividade diplomática, sendo, portanto, nesse sentido entendido como o conjunto de agentes diplomáticos e de pessoal da missão. Organicamente, a missão é o conjunto de serviços periféricos do Estado no exteriores que têm como objectivo prosseguir a actividade diplomática, lato sensu. Nesse sentido, a missão diplomática é formada pelos serviços com sede nos locais da missão nos vários Estados, serviços esses cuja existência, diz-nos Eduardo Vilariño Pintos, “es indepen- diente de las personas que en cada momento prestan sus servicios a ellos, es decir, preexisten y subsisten a su componente personal”21. Internacional- mente, o conceito de missão refere mais à actividade diplomática e ao seu sentido subjectivo, do que ao seu sentido orgânico, exactamente porque foi essa a opção da Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas22. Sob o ponto de vista do direito (administrativo) interno e do direito internacional a missão permanente é um serviço (periférico) externo do As Missões Diplomáticas permanentes Capítulo II 21 EDUARDO VILARIÑOS PINTOS, Curso de Derecho Diplomático y Consular, cit.º, p.ª 169/170. 22 Cfr. De acordo com PHILIPPE CAHIER, a missão diplomática permanente é um serviço público do Estado de envio instalado de forma permanente no território do Estado receptor, com o objectivo de assegurar as relações diplomáticas entre os dois sujeitos do Direito Internacional. Cfr. PHILIPPE CAHIER, Le Droit Diplomatique , Ed. Librairie Droz, Paris 1964, p.ª 55. 38 DIREITO DIPLOMÁTICO Estado integrado no Ministério dos Negócios Estrangeiros, e, portanto, a Administração Central, que tem como função não só representar o Estado de envio junto do Estado receptor como, ainda, defender ou proteger os seus interesses colectivos e promover as relações – económicas, políticas, culturais, científicas e outras – entre os dois Estados. Esse serviço público é constituído não só pelo local da missão, seus bens e arquivos, como ainda, por um conjunto de pessoal, que são os membros da missão e os membros do pessoal da missão e que, no direito interno, regra geral23, são agentes administrativos – funcionários ou não – do Estado de envio. Para o direito internacional, esse pessoal, desde que tenha a qualida- de de diplomata, é Agente Diplomático e goza de imunidades e privilégios consagrados para cada uma das várias categorias pelo Direito Diplomáti- co, que também são extensivos ao próprio local da missão, seus bens e arquivos e aos familiares dos Agentes Diplomáticos. Faz-se notar que, relativamente ao pessoal diplomático, o Direito Inter- nacional não faz depender a sua qualificação como Agentes Diplomáticos do facto de serem ou não considerados pelo direito interno dos Estados de envio como Agentes Administrativos desse Estado. Para o Direito Interna- cional basta que sejam membros do pessoal da missão com a qualidade de diplomatas para que lhes seja atribuída a categoria de Agentes Diplomáticos. 2.2. Início da Missão Diplomática permanente 2.2.1. Introdução A Missão diplomática permanente inicia a sua actividade com a nomeação e aceitação do Chefe da Missão. Importa esclarecer, desde já, 23 Regra geral, dado que há casos em que não se parte da qualidade de funcionário para se nomear um indivíduo como Agente Diplomático. Assim, acontece com os Embaixa- dores “políticos” ou com Diplomatas de Missões Especiais, uns e outros escolhidos para o exercício das funções por razões de ordem política, técnica ou outra. 39colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA que nos termos da alínea a) do artigo 1.º da Convenção, entende-se por Chefe da Missão “a pessoa singular encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade”. O Chefe da Missão é, assim, em última análise, o legítimo represen- tante do Estado de envio junto do Estado receptor, que dirige superior- mente a missão diplomática. Na linguagem corrente é o Embaixador ou o Núncio, embora a Convenção no seu artigo 14.º divida os Chefes da Missão em três catego- rias, a saber: a) Embaixadores ou Núncios; b) Enviados, Ministros ou Internúncios; c) Encarregados de negócios. As duas primeiras categorias são acreditadas perante Chefes de Estado do Estado receptor, enquanto a terceira categoria é acreditada perante o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado receptor. Logicamente, a missão inicia-se com a nomeação do Chefe da Missão e demais pessoal desta e, em seguida, com a sua instalação. São estes problemas que iremos estudar de seguida. 2.2.2. A instalação da Missão Diplomática A missão diplomática permanente, quer seja entendida como o servi- ço público externo do Estado de envio, a que nos referimos, que se encontra instalado de forma permanente no território do(s) Estado(s) receptor(es), que é designado, regra geral, por Embaixada ou Legação diplomática, quer seja entendida como o conjunto de pessoas que se dedicam à actividade diplomática, sendo, portanto, nesse sentido enten- dido como o conjunto de agentes diplomáticos e de pessoal da missão, só pode ser instalada no território do Estado receptor após ter havido um acordo entre este Estado e o de envio e está condicionado a certos formalismos, de entre os quais o mais importante é o acreditamento. 40 DIREITO DIPLOMÁTICO É bom advertir desde já que, se é certo que a instalação de missões permanentes pressupõe o prévio estabelecimento de relações diplomáti- cas entre os Estados de envio e o receptor, não é menos certo que este facto não implica necessariamente aquele outro, ou seja, o estabelecimen- to de missões diplomáticas. Daí que muitas vezes se assista à celebração de dois acordos, um relativo ao estabelecimento de relaçõesdiplomáticas e outro ao estabelecimento de missões diplomáticas. Outras vezes, contu- do, estas duas questões são resolvidas num único acordo. Na verdade, a instalação de missões diplomáticas em território de Estados estrangeiros tem, necessariamente, na sua base um acordo prévio (art. 2.º da Convenção), nos termos do qual, por mútuo consenso, cada um dos Estados acordantes concede ao outro ou outros a faculdade de instalar missões no seu território. Pode até acontecer que a um dos Estados seja concedida “faculdade de manter uma missão diplomática no outro Estado sem que haja reciproci- dade”. Tais casos, embora restritos, ocorrem na vida internacional, diz-nos CALVET MAGALHÃES. 2.3. Nomeação do chefe da Missão, do pessoal diplomático e do pessoal administrativo 2.3.1. Introdução Nos termos do artigo 4.º da Convenção “o Estado acreditante deverá certificar-se de que a pessoa que pretende nomear como chefe da missão perante o Estado acreditador obteve o agrément daquele Estado”. Esta dis- posição reflecte um princípio internacionalmente consagrado pelo costu- me segundo o qual nenhum Estado é obrigado a aceitar, como Chefe da Missão, um indivíduo proposto pelo Estado do envio sem que previamen- te dê o seu acordo – agrément ou placet – na linguagem jurídico- -internacional. 41colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA “Este princípio, diz-nos CALVET DE MAGALHÃES, hoje perfeitamente definido e aceite, nem sempre foi reconhecido em todas as épocas e por todos os países, tendo-se firmado nos usos tradicionais no final do século XIX”. Na verdade, desde sempre foi reconhecido aos Estados o direito de recusar o acreditamento de indivíduos que, por qualquer razão, não preten- dam receber nos seus territórios, cabendo, assim, a cada Estado a decisão de acreditar ou não tais indivíduos. Por essa razão surgiu e desenvolveu a prática internacional, aceite por todos os Estados, segundo a qual estes, antes de nomearem um indivíduo como Chefe de Missão, devem perguntar ao Estado receptor se este é ou não persona grata. Tal prática – verdadeiro costume internacional – tem como objec- tivo evitar certos incidentes e/ou embaraços entre os Estados de envio e de recepção, pelo que essa acção é rodeada de grande sigilo ou, na linguagem dos autores anglo-saxónicos, de “confidence”. Acontece que durante muito tempo alguns peritos puseram em dúvida a legitimidade desta prática, defendendo que ela não constituía uma regra absoluta. Assim aconteceu em Portugal no século XIX, como nos informa CALVET DE MAGALHÃES24 e com os Estados Unidos que a ela só aderiu em 1885. 2.3.2. Os requisitos da nomeação Relativamente ao Chefe da Missão, diz-nos o artigo 4.º da Convenção que “o Estado acreditante deverá certificar-se que a pessoa que pretende nomear como Chefe da Missão perante o Estado acreditador obteve o agrément daquele Estado”, enquanto o artigo 8.º estabelece que “os mem- bros do pessoal diplomático deverão, em princípio, ter a nacionalidade do Estado acreditante”. 24 Cfr. CALVET DE MAGALHÃES, Manual de Direito Diplomático, cit.º. Há uma nova Edição desse Manual feita em 2001. 42 DIREITO DIPLOMÁTICO Estas normas exigem, portanto, dois requisitos para a nomeação, que são: – agrément do Estado “acreditador”, requisito intuitu personae que tem de ser obrigatoriamente preenchido e que tem uma natureza certificativa da aceitabilidade da pessoa indigitada para o cargo. Por essa razão, a nomeação depende em absoluto da sua verifica- ção prévia. – A nacionalidade é um requisito não obrigatório, mas desejável. Que- remos com isso dizer que a nacionalidade é um requisito facultativo, que os Estados tradicionalmente, preenchem, embora esteja na livre disponibilidade dos Estados acreditador e acreditante dispensar, por acordo, o seu preenchimento. Por essa razão, como veremos mais à frente, podemos dizer que a sua não verificação, desde que aceite por acordo pelos Estados, não impede a nomeação. 2.3.2.1. O Agrément. Sua Natureza Jurídica a) – O Agrément ou Placet Com efeito, com o agrément não se visa obter um prévio acordo do Estado receptor para a prática em abstracto do acto de nomeação, mas sim para a prática de uma dada e concreta nomeação, ou seja, para a designação, através do acto de nomeação, de uma determinada pessoa. O agrément ou placet recai, portanto, sobre o perfil concreto e bem definido de uma personalidade – daquela que, em concreto, o Estado de envio pretende nomear como Embaixador e que indicou ao Estado recep- tor. E terá de ser assim, visto que se aquele consentimento prévio tivesse por objectivo autorizar o Estado de envio a praticar um acto jurídico formalmente assente no seu direito interno e emanação da sua vontade soberana, verificar-se-ia uma ingerência condicionante na soberania des- se Estado, sem qualquer justificação válida jurídico-internacionalmente. 43colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Tratando-se, como se trata, de um consentimento que é dado por causa da pessoa a nomear não se pode falar propriamente em ingerência mas sim no respeito recíproco entre os Estados, visto que nenhum Estado tem o direito de obrigar outro a aceitar no seu território pessoas (estran- geiros) que, por qualquer razão, não sejam do agrado do Estado receptor. Daí que, para se evitar a situação de o Estado de envio ver recusada a aceitação do Chefe da Missão que pretende nomear e, consequentemente, incidentes ou, até mesmo, conflitos entre os Estados, a Convenção tenha codificado esse costume internacional, que se consolidou nos finais do século XIX, corolário do princípio segundo o qual nenhum Estado pode obrigar outro a aceitar como Chefe de Missão uma pessoa que não seja do seu agrado, pelo que assiste sempre ao Estado receptor o direito de recusar o acreditamento. De acordo, com o artigo 4.º, o Estado de envio deverá solicitar e obter previamente o consentimento do Estado receptor, o que significa que antes da nomeação deverá haver um processo próprio para se requerer e se obter o agrément. Este processo despido, na prática, de formalismos, não se encontra regulado pela Convenção, mas a praxis internacional estabeleceu os seus trâmites gerais que praticamente todos os Estados aceitam. Segundo CALVET DE MAGALHÃES, os pedidos de agrément devem ser, em regra, feitos através da missão diplomática do Estado acreditante junto ao Estado receptor e só excepcionalmente, quando razões pondero- sas assim o aconselhem, através da missão diplomática do Estado receptor junto do Estado acreditante. O pedido é feito pessoalmente pelo Chefe da Missão cessante, ou pelo seu substituto, ao mais alto nível possível do respectivo Ministério dos Negócios Estrangeiros, entregando-se nessa diligência um memorandum com o curriculum vitae do Chefe da Missão que se pretende designar25. 25 ibidem, pág. 55. 44 DIREITO DIPLOMÁTICO Significa isso que a prática impõe que: a) O pedido seja feito no território do Estado receptor; b) Pessoalmente pelo representante do mais alto grau – o Embaixa- dor do Estado de envio (ou seu substituto) – e ao mais alto nível; c) O Estado de envio forneça ao Estado receptor todos os elementos necessários para o estudo do perfil do Chefe da Missão a nomear, o que é feito através da entrega do curriculum vitae deste e de um memorandum. Feito o pedido, o Estado acreditador não dispõe de qualquer prazo para responder, mas deve informar o Estado acreditante da sua decisão. Contu- do, uma demora excessiva – e entende-se por excessiva uma demora para além de trinta dias – da resposta deve ser interpretada como recusa. Faz-se notar que a recusa do agrément pode ou não ser acompanhada de explicações, não sendo obrigatória, portanto, qualquer justificação. Aliás, tradicionalmente, nenhuma explicação é dada ao Estado que solicita o agrément, tradição que o n.º 2 do artigo 4.º da Convenção consagra quando preceitua que “o Estado acreditador não está obrigado a dar ao Estado acreditante as razões da recusa do agrément”26.b) – Natureza Jurídica do Agrément O Estado – acreditante –, antes de nomear o seu Chefe de Missão, estabelece o artigo 4.º citado, deverá obter o prévio consentimento do Estado acreditador. Significa isso que o Estado receptor terá de praticar um acto através do qual ele manifesta o seu consentimento em admitir uma determinada pessoa no seu território para aqui exercer as funções de Embaixador do Estado de envio. Com a prática deste acto o Estado 26 Durante muito tempo os EUA e o Reino Unido defenderam que não só o Estado recusante tinha o dever de explicar as razões da sua recusa como, ainda, que estas podiam ser aprovadas ou rejeitadas pelos Estados que solicitavam o agrément. Esta atitude veio a ser abandonada por aqueles dois países. Cfr. GERHARD VON GLAHN (1986: 444) 45colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA acreditador declara, portanto, que permite a entrada em funções da pessoa a designar. O agrément é, assim, um acto pelo qual o Estado acreditador declara expressamente que aceita uma dada pessoa para exercer o cargo de Chefe da Missão e permite a sua entrada em funções no seu território. Com a prática deste acto o Estado acreditador preenche o requisito indispensável à nomeação do Embaixador, verificando-se, assim, a condição necessária para o efeito. É claro que o agrément não deixa de ser um acto político cujo objecto é a pessoa a designar como Chefe da Missão. Na verdade, o Estado receptor antes de conceder o seu agrément analisa o perfil político do nomeando, quer sob a óptica da sua prática sócio-política, quer sob o ponto de vista da sua actividade político-diplomática, o que deve fazer com confidencialidade e a máxima reserva. Foi com base nessa análise que, por exemplo, o Irão não concedeu em 1979 o agrément ao diplomata norte-americano Walter Cutler por este ter sido Embaixador dos USA no Zaire aquando da intervenção norte-ameri- cana neste país. Também, em 1984, os USA recusaram o agrément a Nora Astorga com o fundamento no facto de ele ter participado no assassínio do general da Guardia Civil nicaraguense Reynaldo Perez Verga. Mas, mais do que um acto político, interessa-nos saber qual a nature- za jurídica desse acto, começando por relembrar que o agrément é dado em razão da pessoa a nomear, pelo que é sempre um acto intuitu personae. De seguida, faz-se notar que é um acto praticado por um único sujeito do Direito Internacional para produzir efeitos fora do território desse sujeito, ou seja na esfera jurídica de um outro que não participou na sua prática. Finalmente, através desse acto o Estado que o pratica obriga-se a adoptar certo comportamento, qual seja o de permitir que uma dada pessoa – a designada para o cargo de Embaixador – entre no seu território para aí exercer as funções próprias desse cargo. Posto isto, podemos dizer que o agrément é um acto jurídico formal- mente interno mas materialmente internacional que, embora com dúvidas (podemos admitir que) assume a forma de promessa. 46 DIREITO DIPLOMÁTICO Em nossa opinião, esse acto jurídico unilateral apresenta-se como um acto-condição no sentido que DUGUIT atribui a esses actos, visto que a sua prática condiciona uma outra, a nomeação de acordo com o direito interno e, ainda, a investidura de certa pessoa no exercício de certo cargo27. 2.3.2.2. A Nacionalidade O Chefe da Missão é um membro da missão que tem a categoria de diplomata, pelo que, embora não esteja recoberto pela disposição do artigo 8.º, entendemos que se lhe aplica o princípio-regra nela contido. Aliás, não se poderia entender de outro modo, sob pena de se admitir que a Convenção, numa questão desta importância, tenha deixado de fora o mais importante membro da missão – o Chefe desta – para se limitar a regular a nacionalidade dos restantes membros. Pelo exposto, temos de concluir que o princípio regra é aplicável a todos os diplomatas, incluindo, obviamente, ao Chefe da Missão o que, aliás, se infere do disposto no artigo 6.º. De facto, quando aí se estabelece que o Chefe da Missão poderá não ter a nacionalidade do Estado por ele representado, implicitamente se reconhece que, em princípio, deverá ser nacional do Estado acreditante, sendo este o princípio-regra. Na verdade, ao se admitir no artigo 6.º que dois ou mais Estados possam acreditar a mesma pessoa como Chefe da Missão perante outro Estado, desde que a isso não se oponha o Estado acreditador, a Convenção abre a possibilidade de um Estado poder nomear um estrangeiro como Chefe da sua Missão junto de outro, possibilidade que é condicionada pela aceitação pelo Estado receptor não só da pessoa nomeada, como, ainda, da qualidade de estrangeiro relativamente ao Estado de envio da pessoa designada por este para Chefe da Missão. 27 Para maior desenvolvimento, veja-se EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Direito Diplomático e Consular, cit.º, p.ª 211 e segs. 47colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Com esta excepção, a Convenção pretende evitar a limitação à sobe- rania dos Estados em sede da escolha do seu representante máximo junto de outros Estados, por um lado e, por outro, tem em atenção o facto de existirem sujeitos do Direito Internacional que não podem atribuir uma nacionalidade aos seus Agentes Diplomáticos, como acontece, por exem- plo, com a Santa Sé e a Ordem de Malta, entre outros. A nacionalidade não é, assim, em nosso entender, um requisito essen- cial, embora a prática internacional, segundo a qual os Estados, normal- mente, designam os seus nacionais para os representar como Chefes da Missão, faça aparentar a essencialidade desse requisito. 2.3.3. A nomeação dos membros do pessoal diplomático da Missão Quanto ao pessoal diplomático, a Convenção no seu artigo 7.º esta- belece a liberdade de nomeação. Esta regra, que dispensa o prévio pedido de agrément, tem, contudo, alguns limites. De facto, o artigo 7.º condiciona essa liberdade ao respeito pelas disposições dos artigos 5.º, 8.º, 9.º e 11.º da Convenção, nos termos dos quais: a) Nenhum membro do pessoal diplomático deverá ser nomeado para exercer funções em dois ou mais Estados sem o consenti- mento de todos – cfr. artigo 5.º; b) Nenhum membro do pessoal diplomático poderá ter a nacionali- dade do Estado acreditador, salvo se este consentir – cfr. artigo 8.º, n.º 2 – pelo que deverá ter, em princípio, a nacionalidade do Estado de envio – cfr. artigo 8.º, n.º 1; c) Na nomeação dos membros do pessoal diplomático deverá o Estado de envio ter em conta a lotação da missão, que tanto pode ser estabelecida por acordo, como por um critério de razoabilidade e de normalidade, critério que deverá atender aos interesses dos Estados e à amplitude das necessidades e da função que a missão terá de exercer – cfr. artigo 11.º. 48 DIREITO DIPLOMÁTICO A estas limitações acresce uma outra que se refere aos adidos milita- res, navais e aéreos. Quanto a estes membros da missão, o artigo 7.º da Convenção estabelece que “o Estado acreditador poderá exigir que os seus nomes lhe sejam previamente submetidos para efeitos de aprovação”. Signi- fica isso que a nomeação está aqui condicionada à obtenção prévia do consentimento do Estado acreditador, e que tal consentimento só deve ser solicitado se e quando este Estado o exigir. Aqui, neste aspecto, está a diferença entre o agrément exigido para a nomeação do Chefe da Missão e o exigido para estes adidos. Na verdade, enquanto para o Chefe da Missão o Estado de envio deverá sempre pedir, prévia e independentemente de qualquer exigência do Estado de recep- ção, o agrément, no caso dos adidos, o Estado de envio só terá de solicitar e de aguardar o consentimento do Estado receptor se este previamente lhe exigir a identificação do adido. A liberdade da nomeação não é, portanto, ampla ou plena, antes tem a limitá-la alguns requisitos que terão de ser primeiramente respeitados para que ela possa ser exercida. É óbvio que tal liberdade, mesmo que correctamente exercida, não limita a faculdade de o Estado acreditadorvir a declarar qualquer mem- bro do pessoal diplomático da missão persona non grata mesmo antes de ter chegado ao seu território – cfr. artigo 9.º. De tudo quanto se acaba de dizer, podemos concluir que relativa- mente aos restantes membros do pessoal diplomático o requisito mais importante para as suas nomeações é o da nacionalidade, embora, como já tivemos a oportunidade de ver, não seja uma condição absoluta. 2.3.4. Nomeação dos membros do pessoal administrativo, técnico e do serviço da Missão Nos termos do artigo l.º da alínea c) são membros do pessoal da missão os membros do pessoal diplomático e os do pessoal administrativo, técnico e do pessoal de serviço da missão – veja-se as alíneas f ), g) e h) do artigo l.º 49colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA sobre a definição destes últimos. Relativamente ao pessoal administrativo, técnico e de serviço da missão valem as regras do artigo 7.º já explicadas a propósito da nomeação dos membros do pessoal diplomático. No que se refere à nacionalidade desses membros do pessoal da missão, tendo em conta as disposições da Convenção relativas aos privilégios e imunidades, nomeadamente o artigo 37.º, n.º 2, tudo leva a crer que estes, de uma forma mais ampla, poderão ter a nacionalidade do Estado receptor. É claro que dessas disposições não se pode concluir que as regras do artigo 7.º sejam aplicáveis a esses membros de uma forma diferente daquelas que se observa quanto aos restantes membros da missão, mas somente que, relativamente aqueles – nomeadamente, técnicos, pessoal administrativo e de serviço da missão, etc. – que são recrutadas de entre nacionais do Estado receptor, a nomeação não poderá ser feita sem o consentimento deste Estado. 2.3.5. Natureza jurídica da nomeação a) Internamente, a nomeação de que estamos a falar é, antes de mais, um acto jurídico de provimento do indivíduo na qualidade de Agente Administrativo. Trata-se, portanto, de um acto interno e, regra geral, encontra o seu fundamento no direito interno, embora seja condicionado pelo Direito Internacional que impões a prática de um acto internacional, o agrément. É que, regra geral, o Agente Diplomático é em primeiro lugar um Agente Administrativo – normalmente funcionário do Ministério dos Negócios Estran- geiros28 – e é essa qualidade que lhe permite ser nomeado Agente Diplomá- tico e, nessa medida, exercer funções nos serviços externos do Estado. 28 Não necessariamente, pois nada impede que o nomeado não seja um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, nem de qualquer outro Ministério ou ente público- -adminsitrativo. Pode, portanto, o nomeado não estar investido na qualidade de funcionário ou, mais genericamente, de Agente Administrativo. Mas, tem de ser sempre nomeado para o cargo de Chefe da Missão ou para membro do pessoal diplomático por esse Ministério. 50 DIREITO DIPLOMÁTICO Internacionalmente, a competência para nomear deriva de normas jurídicas internacionais, pois tal competência é conferida ao Estado por uma Convenção Internacional – a Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, de 1961. b) Com efeito, a Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas quando se refere à designação do Chefe da Missão e dos restantes mem- bros do pessoal diplomático utiliza, para ambos os casos a expressão verbal nomear – cfr. artigos 4.º e 7.º. Significa isso que para a Convenção tal designação assume a forma de nomeação, quer quando ela diz respeito ao Chefe da Missão, quer quando se refere aos restantes membros do pessoal diplomático. Isto apesar dos distintos regimes jurídicos que a Convenção estabelece para a designação daquele e destes. Importa, assim, ver a natureza jurídica da nomeação ou, melhor, e mais especificamente, qual a natureza jurídica de que, nesses casos, se reveste a figura da nomeação. c) Sob o ponto de vista doutrinal é muito escassa a literatura relativa a esta questão pelo que a tarefa de definir a natureza jurídica da figura torna-se mais difícil. De qualquer forma, vamos partir para a definição da nomeação sem nos preocuparmos com os distintos regimes jurídicos que a Convenção consagra para a designação das duas categorias de Agentes Diplomáticos, lato sensu, acima referidas. A nomeação, sob o ponto de vista do Direito Internacional, é um acto jurídico unilateral derivado, com efeitos essencialmente internacionais, nos termos do qual um Estado, no exercício de competências que lhe são conferidas conjuntamente pelo direito interno e pelo Direito Internacional, provê um indivíduo na qualidade de Agente Diplomático. Dessa definição resulta que a nomeação é: – Um acto jurídico unilateral, posto que é um acto praticado por um só sujeito do Direito Internacional – um Estado – e a ele imputado, nos limites da sua capacidade e competência jurídico-internacio- 51colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA nal. O facto de estar condicionado à prévia obtenção do agrément não lhe retira essa sua natureza, embora tal condicionalismo – o agrément – tenha como efeito conferir ab initio ao acto uma dimen- são internacional que lhe permite produzir efeitos na esfera das relações internacionais. – Um acto jurídico derivado, dado que não é praticado no exercício autónomo de competência interna do Estado, mas sim no exercício da competência que lhe é conferida por normas do direito interna- cional. Deve-se dizer que o acto de nomeação que estamos a tratar tem na sua base uma competência conferida a um Estado por uma Convenção de que é parte, a qual condiciona a prática de tal acto e o recurso ao direito interno para o seu exercício a certos requisitos prévios, como por exemplo o pedido de agrément. De facto, não é possível a nomeação de um Agente Diplomático sem a existência de uma Convenção por meio da qual dois Estados estabeleçam relações diplomáticas e acordem na troca de missões diplomáticas ou, quando menos, sem que por acordo dois Estados estabeleçam a troca de missões diplomáticas. – Com efeitos essencialmente internacionais, posto que a nomea- ção de Agentes Diplomáticos vai produzir, em primeira linha, efei- tos no território de Estados estrangeiro. Na verdade, tal acto visa legitimar o exercício de funções por aqueles Agentes, não em território nacional, mas sim em território estrangeiro. Isto não signi- fica que o referido acto não tenha efeitos internos. Contudo, esses efeitos aparecem aqui subordinados, dado que o Agente Diplomático, enquanto tal, é essencialmente um servidor do Estado a que pertence no estrangeiro e a sua própria vinculação à administração pública tem em vista a sua colocação no estrangei- ro para aí, em nome ou no interesse do seu Estado, exercer as suas funções. – Um acto praticado no exercício de competências conferidas a um Estado conjuntamente pelo direito interno e pelo direito 52 DIREITO DIPLOMÁTICO internacional. De facto, o Estado, para efeitos internos, socorre-se de normas jurídicas que ele próprio editou no exercício da sua competência legislativa interna para proceder à prática desse acto jurídico, ou seja para prover um dado indivíduo na qualidade de Agente Administrativo, investindo-o nas funções de Agente Diplo- mático. Para efeitos internacionais o Estado baseia-se em normas convencionais para designar os seus Agentes Diplomáticos. A nomeação aparece-nos, assim, como um acto jurídico unilateral condicionado (por um outro acto jurídico unilateral, o agrément) formal- mente interno e materialmente internacional – para usar a classificação de SILVA CUNHA – praticado no exercício de competências conferidas a um Estado conjuntamente pelo direito interno e pelo direito internacio- nal. 2.4. Instalação da Missão É usual a instalação da sede da Missão na capital do Estado receptor, ou onde se encontra a sede do Governo desse Estado, mas, como nos diz CALVET DE MAGALHÃES, “quando por qualquer razão, a sede do Governo muda de cidade, a sede da missão diplomática deverá também transferir-se para essa cidade,quer essa mudança seja temporária, como no caso da República da África do Sul, quer essa mudança tenha carácter permanente como nos casos do Brasil e do Paquistão”. Este princípio tem todavia algu- mas excepções decorrentes ou da exiguidade do território do Estado receptor, como acontece com a Santa Sé, ou da do acreditamento por um Estado de um Chefe de Missão em mais de um Estado. Em ambos os casos a sede da missão pode ficar instalada fora do território do Estado recep- tor. Mas para além da Missão, esta pode abrir “escritórios” em localidades distintas daquela em que tem a sua sede (art. 12.º da Convenção). Nesse 53colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA caso, tais “escritórios” só podem ser instalados, nos termos daquele disposi- tivo legal, com o consentimento prévio do Estado acreditador. Relativamente às missões junto das Organizações Internacionais a questão da sua instalação está prevista no artigo 18.º da Convenção de Viena de 1975 nos termos do qual a sede das missões será instalada no local da sede da Organização, salvo se as regras da Organização permiti- rem a sua instalação em local diferente, e o Estado hospedeiro da Organi- zação der o seu consentimento. Ao Estado de envio deverá ser concedida a maior facilidade possível na aquisição ou na localização de locais desti- nados à missão. Este princípio é consagrado pelo artigo 21.º da Convenção de Viena de 1961 e pelo artigo 21.º da Convenção de 1975, que apesar de falarem somente na aquisição, não podem deixar de querer referir-se a outras formas juridicamente válidas de obter um local para a instalação da missão, tal como a locação, por exemplo. Creditado o Chefe da Missão, aceite e instalado o restante pessoal diplo- mático desta, pode dizer-se que se inicia a actividade diplomática da missão. 2.5. O Acreditamento29 2.5.1. Questões gerais O Chefe da Missão antes de entrar no exercício efectivo das suas funções no território do Estado receptor tem de cumprir uma formalidade que é a de apresentar as suas cartas credenciais. A credencial, diz-nos Silvestre Pinheiro Ferreira, “é uma carta em que o chefe do estado ou o ministro enuncia o fim geral da missão, indica o nome, os títulos e o carácter do agente diplomático e termina por pedir que lhe seja concedi- 29 Para maior desenvolvimento, veja-se, entre outros, EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Direito Diplomático e Consular, cit.º, p.ª 221 e segs. 54 DIREITO DIPLOMÁTICO do acolhimento favorável e que se preste inteiro credito ao que ele disser em nome do seu governo”30. Através dessas cartas o Estado de envio acredita o Chefe da Missão junto do Estado receptor, fixa os seus poderes e faz com que este último Estado o reconheça como seu representante. As cartas credenciais são entregues ao Chefe do Estado receptor em audiência previamente solicitada através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde são entregues”cópias figuradas” dessas cartas, para usarmos a expressão do artigo 13.º da Convenção. Entregue as cartas, o Chefe do Estado receptor aceita o acreditamento do Embaixador. Pelo que se acaba de expor, verifica-se que não é o Estado receptor que acredita o Chefe da Missão, mas sim o seu Estado de origem. O Chefe do Estado receptor aceita o acreditamento. O acreditamento é, assim, um acto praticado pelo Estado de envio através do qual leva ao conhecimento do Estado receptor a nomeação de uma dada pessoa para o cargo de Chefe da Missão e os poderes que lhe são conferidos para exercer as suas funções. Trata-se, portanto, de um acto unilateral formalmente interno e materialmente internacional do tipo notificação. 2.5.2. Múltiplo Acreditamento Nos termos do artigo 5.º da Convenção, um Chefe da Missão pode ser acreditado junto de dois ou mais Estados simultaneamente. Para o efeito, torna-se necessário antes de mais notificar o facto aos “Estados acreditadores interessados” para deles obter o consentimento. Trata-se do 30 SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Lições de Direito Internacional, cit.º, p.ª 467. No mesmo sentido, veja-se, ANTÓNIO DA ROZA GAMA LOBO, Direito das Gentes, Lisboa, 1853, p.ª 227. Vicente Ferrer Neto Paiva dizia que “credenciaes, ou cartas de crença, são os diplomas, pelos quaes os embaixadores se acreditam como mandatários do seu governo juncto ao governo d’outro paiz; são como a sua procuração geral”, in VICENTE FERRER NETO PAIVA, Philosofia de Direito, cit.º, p.ª 91. 55colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA múltiplo acreditamento, que, em última análise, é uma múltipla repre- sentação. Este acreditamento múltiplo só é possível se nenhum dos “Estados acreditadores” a ele se opuser (cfr. o artigo 5.º citado). Contudo, a prática internacional não é segura neste aspecto e tendo em conta a natureza flexível do artigo 5.º alguns sectores da doutrina admitem que o consen- timento dos diversos “Estados acreditadores” pode ser tácito. Nos termos do mesmo artigo 5.º, n.º 3, é possível que um Chefe de Missão represente, simultaneamente, o seu Estado junto de outros Esta- dos e de uma Organização Internacional. No caso de múltipla representação, o Estado, nos termos do n.º 2 do artigo 5.º da Convenção, “poderá estabelecer uma missão diplomática dirigida por um Encarregado de Negócios ad interim em cada um dos Estados onde o Chefe da Missão não tenha a sua residência permanente”. Na opinião de CALVET DE MAGALHÃES, “estas disposições destinam- -se a facilitar a representação dos Estados que não possuam número suficien- te de pessoas habilitadas para o desempenho dessas funções ou ainda por motivos de economia que obriguem certos Estados a limitar o número dos seus chefes de missão diplomática”31. Faz-se notar que o múltiplo acreditamento tornou-se uma regra geral desde a Segunda Guerra Mundial devido à prática pelos Estados nascidos das descolonizações, prática que a Convenção teve de consagrar. 2.5.3. O Acreditamento e a representação comum Nos termos do artigo 6.º da Convenção “dois ou mais Estados poderão acreditar a mesma pessoa como chefe da missão perante outro Estado, a não ser que o Estado acreditador a isso se oponha”. Com esta disposição, diz-nos NGUYEN QUOC DIHN a Convenção ressuscitou um costume que tinha 31 CALVET DE MAGALHÃES, Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª56. 56 DIREITO DIPLOMÁTICO caído em desuso32. De qualquer forma o artigo 6.º acaba por consagrar a representação comum. Normalmente essa representação é adoptada por Estados ligados por fortes interesses comuns – como aconteceu, por exemplo, com as Repúbli- cas da Guiné-Bissau e de Cabo Verde logo após a independência de ambas e até ao golpe de Estado de Nino Vieira. Faz-se notar que não se deve confundir a representação comum com aqueles casos em que um Estado que, por razões várias, não tenha um representante seu junto de um outro Estado – o que acontece com frequência nos casos de ruptura de relações diplomáticas – encarrega um terceiro Estado de assegurar a defesa dos seus interesses e dos seus nacionais. Neste caso, o Chefe da Missão do terceiro Estado não é acredi- tado pelo Estado que lhe pede para defender os seus interesses e os dos seus nacionais. Assim aconteceu, por exemplo, com os USA que encarre- gou a Suiça de defender os seus interesses em Havana, em 1972. Nesse ano, a Suiça – a Embaixada deste país em Havana – representava os interesses de nove Estados, incluindo os USA. 2.6. Categoria dos Agentes Diplomáticos 2.6.1. Introdução A questão da categoria dos agentes diplomáticos está intimamente ligada à das precedências entre os Chefes da Missão. Na verdade, antes da instituição das missões permanentes, a distinção entre os Agentes Diplo- máticos – maxime os Embaixadores – dependia essencialmente do poder (força) e da importância que cada Estado – leia-se, cada monarca – ocupava na cena política internacional. 32 NGUYEN QUOC DIHN, PATRICK DAILLIER e ALAIN PELLET, Droit International Public Ed. Librairie Général de Droit et Jurisprudence, Paris, 1987, p.ª 658. 57colecçãoBIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Com efeito, o problema das precedências deu origem a diversos conflitos diplomáticos, dado que cada Estado, em especial os mais pode- rosos, disputava sistematicamente o primeiro lugar ou a mais alta catego- ria na lista de precedências. Na Idade Média era ao Papa que cabia fixar a ordem de precedências entre os diversos Embaixadores, que eram alinhados em conformidade com o papel que os respectivos Estados exerciam na altura na cena política internacional. Contudo, nem sempre a ordenação feita pelo Sumo Pontífice foi pacífica, dela tendo resultado fortes conflitos. Daí que se tenha, posteriormente adoptado a “técnica” do alternat, segundo a qual “uma cópia separada de cada tratado ou documento era fornecida a cada plenipotenciário que assinava a sua cópia em primeiro lugar”33. Essa “técnica”, apesar de satisfazer os desejos pessoais de cada Chefe de Missão, era demasiado complicada, o que levou o Congresso de Viena a pôr fim a esse expediente, designando uma comissão para estudar o assunto. Nesse Congresso foi adoptado o sistema segundo o qual a precedên- cia dos representantes diplomáticos deveria ser estabelecida de acordo com a antiguidade, que era determinada pela data da notificação oficial da chegada à sede da missão. Este critério mais sensato foi mais tarde, na Conferência de Aix-de-la- Chapelle, aperfeiçoado com a regra segundo a qual a assinatura dos tratados eram postas pela ordem alfabética. Foram essas regras produzi- das pela Convenção de Viena e pela Conferência de Aix-de-la-Chapelle que vieram a ser adoptadas pela Convenção de Viena de 1961 no seu artigo 13.º onde se prescreve que “a ordem de entrega das credenciais ou de sua cópia figurada será determinada pela data e hora da chegada do Chefe da Missão” e pelo artigo 16.º que estabelece que “a precedência dos chefes da missão, dentro de cada classe, estabelecer-se-á de acordo com a data e hora em que tenham assumido as funções, nos termos do artigo 13.º”. 33 CALVET DE MAGALHÃES Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 59. 58 DIREITO DIPLOMÁTICO 2.6.2. Categoria dos Agentes Diplomáticos Inicialmente, aceitava-se que os representantes dos monarcas deveriam ocupar o mais alto grau da hierarquia dos Agentes Diplomáti- cos. Mais tarde apareceram os Ministros, também designados por enviados, que posteriormente foram subdivididos em enviados ordinári- os e extraordinários. A pouco e pouco os enviados extraordinários come- çaram a ser considerados como uma categoria distinta da dos Embaixa- dores e dos Ministros residentes. Tudo isto até, aproximadamente ao século XVII. No século XVII foram reconhecidas três categorias de Agentes Diplo- máticos, a saber: os Embaixadores, os Enviados extraordinários e os Ministros residentes. Nos fins do século XVII foi criada uma nova catego- ria, a do Encarregado de Negócios, que passou a ocupar o último grau da escala hierárquica. No Congresso de Viena foi adoptado (em 19 de Março de 1815) o RÉGLÉMENT SUR LE RANG ENTRE LES AGENTS DIPLOMATIQUES completa- do mais tarde pelo PROTOCOLO DE AIX-DE-LA-CHAPELLE, de 21 de No- vembro de 1818, no qual foram definidas as seguintes categorias34: a) Os Embaixadores, de entre os quais figurava o Núncio (este, representante do Papa)35; 34 Veja-se a sumária descrição das precedências feita por VICENTE FERRER NETO PAIVA na sua Philosophia de Direito, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1857, p.ª 88 e segs.. Veja- -se ainda SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Lições de Direito Internacional, cit.º, p.ª 452 e segs. 35 Informa-nos BARBAS-HOMEM que “a selecção dos embaixadores foi objecto de atenção pela doutrina, em especial, nos tratados de prudência gorvernativa” “Invocando Plutarco, Vera y Zuñiga recomendou que para embaixadores fossem sempre escolhidos os melhores de entre os melhores. Benavente y Benavides aponta esta como uma das coisas a que o príncipe devem dedicar a maior atenção” “A doutrina aconselhava que os embaixadores fossem designados de entre três tipos de pessoas, eclesiásticos, nobres e juristas”, diz-nos BARBAS-HOMEM. Cfr. ANTÓNIO PEDRO BARBAS-HOMEM, História das Relações Internacionais, Ed. Almedina, Coimbra, 2003, p.ª 256. 59colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA b) Os Ministros – nesta categoria estão incluídos os Enviados extra- ordinários, Ministros plenipotenciários e os internúncios papais; c) Os Ministros residentes; d) Os Encarregados de Negócios. As três primeiras categorias eram acreditados junto dos Chefes de Estado, enquanto a última era acreditada junto do Ministro dos Negó- cios Estrangeiros. Os Encarregados de Negócios podiam ainda ser, segundo GEORGES BOUSQUET, ad hoc, que são os originariamente enviados nesta qualidade pelos seus governos, e ad interim, que são aqueles que substituem os ministros do seu país durante a ausência destes36. A Convenção de Viena de 1961 veio a adoptar esta classificação, quando no seu artigo 14.º estabelece que: “Os Chefes da Missão dividem-se em três classes: a) Embaixadores ou Núncios acreditados perante os Chefes de Estado e outros chefes de missão de categoria equivalente; b) Enviados, Ministros ou Internúncios acreditados perante Chefes de Estado; c) Encarregados de Negócios acreditados perante Ministros dos Negó- cios Estrangeiros” Faz-se notar que o número 3 do artigo 16.º estabelece que “o presente artigo não afecta a prática que exista ou venha a existir no Estado acreditador com respeito à precedência do representante da Santa Sé”. Esta disposição visa salvaguardar “a praxe de certos países concederem sempre a primazia ao representante da Santa Sé qualquer que fosse a data do início das suas funções”37, o que decorre da tradição católica de vários países europeus. Assim, o Embaixador Papal – o Núncio – consuetudinariamente, aparece 36 CALVET DE MAGALHÃES Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 60. 37 GEORGES BOUSQUET, Agents Diplomatiques et Consulaire, Paris, 1883, p.ª 19. 60 DIREITO DIPLOMÁTICO como o decano dos Embaixadores e, nessa qualidade, como porta-voz destes nas cerimónias oficiais. Quanto aos Ministros esclarece-se que são Agentes Diplomáticos de segunda classe e que tecnicamente não são verdadeiramente represen- tantes dos Chefes dos respectivos Estados. Contudo, os Ministros, tal como os Internúncios, são actualmente equiparados aos Embaixadores em cer- tos casos – no de serem os porta-vozes dos respectivos Chefes de Estado. No que se refere aos Encarregados de Negócios, estes, nos termos do artigo 19.º da Convenção de Viena, continuam a ser classificados em duas categorias, a saber: a de Encarregados de Negócios ad interim e a de Encarregados de Negócios ad hoc. Em Portugal, até 6 de Maio de 1992, esteve em vigor o Regulamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros – Dec. Lei n.º 47478 de 31 de Dezembro de 1966 .-.que estabelece que na falta ou impedimento do Chefe da Missão este seria substituído pelo “Conselheiro da Embaixada ou pelo secretário mais graduado e mais antigo que gerirá a missão como Encarregado de Negócios”. De acordo com esta disposição legal, diz-nos CALVET DE MAGALHÃES, “nas missões diplomáticas portuguesas só poderá assumir as funções de Encarregado de Negócios interino um funcionário do quadro diplomático, embora possa haver na missão outros membros incluí- dos na lista diplomática e, por conseguinte, cabendo na designação de mem- bros de pessoal diplomático referido no artigo 19.º da Convenção de Viena de 1961”38. Hoje, a questão da chefia das missões (e dos consulados) encon- tra-se regulada nos artigos 37.º a 39.º do Estatuto da Carreira Diplomá- tica – Dec.- Lei 79/92 de 6 de Maio – e deve ser exercida por Embaixador ou Ministro Plenipotenciário (n.º 1 do artigo 37.º) e a título excepcional pode ser exercida pelo Conselheiro de Embaixada (n.º 2 do artigo 32.º)39. 38 CALVET DE MAGALHÃES, Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 62. 39 Em Portugal, o Estatuto da Carreira Diplomática – Dec. – Lei 79/92 de 6 de Maio, no seuartigo 3.º, consagra as seguintes categorias da carreira diplomática: Embaixador; Ministro Plenipotenciário; Conselheiro de Embaixada; Secretário de Embaixada; Adido de Embaixada. 61colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 2.6.3. Direito de Legação Silvestre Pinheiro Ferreira, nas suas Lições de 1902-1903 e de 1909- -1910, ensinava que o direito de legação é um dos atributos fundamentais da soberania e que esse direito “apresenta na história das relações internacionaes duas phases características, uma das missões temporárias, em que os estados apenas se enviavam ministros públicos ou agentes diplomáticos para fins especiais e determinados, realizados os quaes findava a missão e o ministro ou ministros regressavam ao seu país, e outra de missões permanentes, em que os estados passaram a conservar junto uns dos outros uma representação constante e a enviar agentes diplomá- ticos por tempo indeterminado e com competência geral para defende- rem os seus direitos, advogarem os seus interesses e imprimirem a neces- sária regularidade às suas mutuas relações”40. Dessas duas fases estudare- mos aqui exclusivamente a segunda, dado que compreendida esta fica explicada a natureza e o exercício desse direito na primeira fase. Importa dizer desde já que, na verdade, como defende Silvestre Pinheiro Ferreira41, o exercício do direito de legação – a que este autor também denomina e bem de direito de representação – é condição do próprio desenvolvimento das relações internacionais e que, por isso, nenhum Estado não deve renunciar a exercer esse direito, como também não deve impedir outro de o exercer, posto que a renúncia seria a auto- -exclusão do Estado renunciante da comunidade das nações, isto, é da sociedade internacional. Posto isto, podemos agora dizer que a doutrina é unânime em definir o direito de legação como a faculdade ou o poder de enviar e de receber 40 SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Lições de Direito Internacional, Coimbra 1903, p.ª 424. 41 Cfr. SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Estudos de Direito Internacional, Organização da Sociedade Internacional, (Lições de Direito Internacional 1909-1910), Coimbra 1910, p.ª 424. 62 DIREITO DIPLOMÁTICO missões diplomáticas. Esse direito assume, portanto, uma dupla dimen- são, a saber: uma traduz-se no direito de legação passivo e outra no direito de legação activo. Por direito de legação passivo entende-se a faculdade ou o poder de receber missões diplomáticas de Estados estrangeiros, e por direito de legação activo a faculdade ou o poder de enviar missões diplo- máticas para Estados estrangeiros. A questão que o direito de legação coloca foi correctamente formu- lada por Silvestre Pinheiro Ferreira quando pergunta se “existirá para os estados que gozam de direito de legação passivo a obrigação de receber os agentes diplomáticos para junto delles enviados”42. Esta questão tem a ver necessariamente com o recurso ao conceito de direito passivo para significar o dever de receber legação diplomática. Na verdade, vários autores defendem que não existe obrigação de legação passiva no sentido de um Estado não ser obrigado a receber legação diplomática de outro Estado e que, em consequência, não existe o direito de exigir a um outro que este receba os seus representantes. Contudo, essa posição não é unânime. De facto, Silvestre Pinheiro Ferreira entende que àquela pergunta a resposta não pode deixar de ser positiva, visto que se um Estado “recusas- ses de receber os agentes diplomáticos dos outro, não só se exporia a medidas de retorsão, mas collocar-se-ia fóra da sociedade internacional e fora da protecção do direito internacional”., entendo que há uma obriga- ção jurídica de receber legação diplomática. Com efeito, não se entenderia com que fundamento um Estado que celebrou Tratado a estabelecer relações diplomáticas com outro poderia recusar receber a legação por este enviada depois de cumpridas todas as formalidades convencionalmente ou costumeiramente consagradas para a nomeação dos Chefe da Missão e dos membros da desta. Este dever de receber traduz-se juridicamente numa obrigação que o Estado assume e 42 SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Estudos de Direito Internacional, Organização da Sociedade Internacional, (Lições de Direito Internacional 1909-1910), Coimbra 1910, p.ª 420 63colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA que lhe é imposta pelo Tratado por ele celebrado. Contudo, essa obrigação não implica, como muito bem adverte Silvestre Pinheiro Ferreira, que o Estado tenha de aceitar no seu território agente diplomático por ele considerado persona non grata. Uma coisa é, portanto, a obrigação jurídica de receber legação, outra bem diferente é, na concretização dessa obriga- ção, impor-se ao Estado o dever de receber pessoas que por razões várias ele entenda não lhe ser grata. Dito de outro modo, a obrigação jurídica de receber legação, não anula o direito reconhecido aos Estados de rejeitar a nomeação de personalidades que lhe desagradem para integrarem a missão diplomática que se pretende enviar para o seu território43. Em nossa opinião, é essa confusão e a hipervalorização da soberania que levam certos autores como Quoc Dihn, Patrick Daillier e Alain Pellet a defenderem, com fundamento no art.º 2.º da Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas44, a inexistência de uma obrigação de legação. Contudo, essa mesma doutrina esquece que do mútuo consenso de que resulta o Tratado de estabelecimento de relações diplomáticas nascem direitos e obrigações recíprocas entre os sujeitos do Direito Internacional, que devem ser respeitadas pelas partes, sob pena de se pôr em crise aquele consenso. E de entre esses direitos, estão o de enviar missões diplomáticas e o de rejeitar personalidades indigitadas para as missões a receber, e de entre essas obrigações está a de receber missões enviadas pelo outro Estado. É claro que quer aqueles direitos, quer aquelas obrigações não são perfeitos45, dado que, como sabemos já, nenhum sujeito do Direito 43 No mesmo sentido veja-se, por todos e de entre os mais antigos publicistas portugueses, ANTÓNIO DA ROZA GAMA LOBO, Direito das Gents, Lisboa, 1853, p.ª 227 44 NGUYEN QUOC DIHN, PATRICK DAILLIER e ALAIN PELLET, Direito Internacional Público, Ed. Calouste Gulbenkian, Lisboa 1997, p.ª 662. De acordo com este artigo 2.º “o estabelecimento de relações diplomáticas entre os Estados e o envio de missões diplomáticas permanentes faz-se por mútuo consenso”. 45 Em sentido próximo EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho Doplomático y Consular, cit.º, p.ª 37/38. 64 DIREITO DIPLOMÁTICO Internacional – máxime os Estados – pode impor a outro ou outros o dever de receber no seu território missões diplomáticas e, em consequên- cia, o incumprimento das obrigações não acarreta sanções coerciva- mente aplicáveis. Mas, apesar dessas imperfeições, tais direitos e obriga- ções não perdem a natureza de direitos e obrigações, embora por terem uma natureza imperfeita nenhum Estado pode obrigar outro a exercer esse direito de legação activa, nem a renunciar ao seu exercício, como também não pode exigir reciprocidade no exercício desse direito, isto é, um Estado que o exerça, enviando para o território de outro uma missão diplomática, não pode exigir a este que envie para o seu território uma sua missão. Assim, se é certo que esses direitos e essa obrigação, nomeadamente o relativo ao envio e à recepção de missões diplomáticas, nascem do mútuo consenso, não é menos certo que, acordado pela via pactícia o estabelecimento de relações diplomáticas, os sujeitos do Direito Interna- cional – os Estados e as Organizações Internacionais, a Santa Sé e outros com capacidade jurídico-internacional para o efeito – ficam, por esse facto, vinculados aos direitos e obrigações decorrentes daquele pacto. Assim, ficam vinculados ao direito de enviar e de instalar no território de Estado estrangeiro, as suas missões e de exigir a observância das normas da Convenção de Viena, bemcomo ao dever ou à obrigação de receber e de permitir a instalação no seu território de missões diplomáticas estran- geiras, desde que cumpridos os procedimentos prévias estabelecidos convencionalmente, nomeadamente o do prévio pedido e da prévia con- cessão do agrément. Tudo isto porque, repita-se, o exercício daquele direito e o cumprimento daquela obrigação ficam condicionados ao res- peito recíproco não só do acordo consensualmente celebrado, como das normas e princípios da Convenção de Viena de 1961. Deste modo, o Estado receptor só fica obrigado a receber a missão se o Estado de envio também assumir a obrigação de receber a missão daquele outro Estado. Receber a missão, sublinhe-se, e não este ou aquele Agente Diplomático, pois pode perfeitamente aceitar receber 65colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA no seu território o serviço público, autorizando a instalação da missão, mas negando a concessão do agrément a este ou àquele agente diplo- mático46. Tudo isto para dizer que não podemos concordar com a expressão (infeliz, a nosso ver) de direito de legação passivo, dado que do que se trata é de uma verdadeira obrigação – embora imperfeita – de receber legação. Somos assim de opinião que deve distinguir-se aquele direito dessa obrigação e, em conformidade, defini-los diversamente, pelo que deverá dizer-se que o direito de legação é a faculdade de enviar para o território de Estado estrangeiro missões diplomáticas, e que a obrigação de rece- ber legação é o dever de receber missões diplomáticas cujos Chefe e demais membros não tenham sido considerados persona non grata no sentido amplo e comum dessa expressão. É que na verdade não conhecemos qualquer figura jurídica de “direito passivo” e só o Direito Internacional decidiu instituí-la e adoptá-la, consa- grando-a incorrectamente, com o fundamento de não ser possível obrigar nenhum Estado a receber missões diplomáticas. Esquece-se, deste modo, que em sede do Direito Internacional a imperfeição dos direitos e deve- res é ainda a regra que dificulta a plena efectivação prática das suas normas na maior parte dos casos, e que a soberania não pode ser hoje assumida como uma soberania absoluta que gerou, e gera, a inexistência de outras obrigações para os Estados que não sejam aquelas por eles assumidas voluntariamente, tanto mais que, aqui, os Estados, por mútuo consenso, assumem tais obrigações. Por outro lado, no caso de legação, é preciso não perder de vista que os Estados, por mútuo consenso, assumem a obrigação de receber mis- sões, que devem cumprir, pois só assim se respeita os princípios jurídico- internacionais fundamentais, nomeadamente o da pacta sunt servanda e o da boa-fé. 46 Tal recusa, embora possa pôr em crise as relações diplomáticas, não implica neces- sariamente o incumprimento da obrigação de receber a Missão. 66 DIREITO DIPLOMÁTICO Por todas estas razões, entendemos que, apesar de a praxe interna- cionalista e de a própria doutrina terem consagrado as expressões direito de legação activa e passiva, quando entendidas correctamente não afec- tam o direito de legação nem as relações diplomáticas. O que se exige aqui é um maior rigor técnico e, nessa medida, a adopção das expressões direito e obrigação de legação. 67colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3.1. Introdução47 A) Desde a antiguidade todas as nações sempre manifestaram um enorme respeito pelos representantes dos povos estrangeiros, aos quais era reconhecido um carácter sagrado, como pode ver-se no Digesto onde se diz “sancti habentur legati”48. Esse respeito e o reconhecimento da necessidade de assegurar ao Estado de envio que aos seus Agentes Diplomáticos seria garantida a independência necessária ao exercício das suas funções levou a que as nações dispensassem um tratamento especial àqueles Agentes, concedendo-lhes um conjunto de prerrogativas diplo- máticas49 – imunidades, privilégios e facilidades – consideradas como indispensáveis para o bom exercício das suas funções50. Prerrogativas Imunidades, Inviolabilidade e Privilégios Capítulo III 47 Para maior desenvolvimento, veja-se por todos o estudo aprofundado desse maté- ria feita por STANISLAW EDWARD NAHLIK, Development of Diplomatic Law. Selected Problems, in Recueil des Cours de l’Académie de Droit International, Tomo 222, 1990-III, p.ª 191e segs. . 48 CÍCERO já dizia que “legatorum divino humanoque vallatum est proesidio, cujus tam sactum et venerabile nomen debet ut non modo inter sociorum jura, sed et hostium tela incolume versetur”. Nesse sentido afirmava MONTESQUIEU que “le droit des gens a voulu que les princes s’envoyassent des ambassadeurs, et la raison, tirée de la nature des choses, n’a pas permis que ces ambassadeurs dépendissent du souverain chez qui ils sont envoyés, ni de ses tribunaux. Ils sont la parole du prince qui les envoie et cette parole doit être libre; aucun obstacle ne doit les empecher d’agir”. Cfr. De l’Esprit des Lois, Liv. XXVI, Cap. XXI. 49 No mesmo sentido veja-se SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Estudos de Direito Internacional, cit.º, p.ª 451. 50 Segundo ANTÓNIO PEDRO BARBAS-HOMEM, “Os privilégios dos embaixadores foram expressamente reconhecidos pela legislação portuguesa (decreto de 4 de Janeiro de 68 DIREITO DIPLOMÁTICO Estas prerrogativas têm natureza diversa e traduzem-se num con- junto de garantias e de vantagens especiais asseguradas ao Estado de envio e atribuídas aos Agentes Diplomáticos (e seus familiares) quer pelo direito internacional, quer pela comitas gentium (praxes que correspondem a regras de cortesia internacional) e, como dissemos concretizam-se em imunidades, privilégios – inviolabilidade pessoal do Agente Diplomático, inviolabilidade dos locais e arquivos da missão, isenções várias, direitos e liberdades especiais – e facilidades reconhecidos àqueles Agentes. Estas figuras têm distintos significados no Direito Internacional. Com efeito, enquanto as imunidades e os privilégios têm como fonte o Direito Internacional, as facilidades ou vantagens não decor- rem daquele direito, mas sim de normas de cortesia internacional. Impor- ta acentuar, contudo, que as imunidades e os privilégios, apesar de serem originárias da mesma fonte, são figuras distintas. Assim, enquanto as imunidades significam dispensa de jurisdição – a não aplicação da jurisdição civil, penal e administrativa àqueles que dela beneficiam – e integram as mais importantes garantias especiais, os privilégios mais não são do que um tratamento especial, imposto pelo Direito Internacional, que os Estados são obrigados a conceder aos Agen- tes Diplomáticos51. Por seu lado, as facilidades traduzem-se num conjun- to de vantagens especiais atribuídas àqueles Agentes por simples corte- sia internacional e normalmente no quadro da reciprocidade. B) Essas importantes prerrogativas foram explicadas com base nas seguintes teorias52: 1646 e Lei de D. João V, de 11 de Dezembro de 1748 sobre os privilégios dos embaixadores (…)”. Cfr. ANTÓNIO PEDRO BARBAS-HOMEM, História das Relações Internacionais, Ed. Almedina, Coimbra, 2003, p.ª 256. 51 Nesse sentido, veja-se, entre outros, JAROSLAV ZOUREK, Les Statut et les Fonctions dês Consuls, in Recueil des Cours de l’Académie de Droit International, Tomo 106, 1962-II, p.ª 365 e segs. 52 Para além das teorias analisadas no texto, importa dizer que uma certa corrente da doutrina italiana, nomeadamente, a de FIORE, chegou a advogar a desnecessidade das 69colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 1. A teoria da extraterritorialidade, cuja paternidade, na opinião generalizada, é atribuída a Grócio53 a quem se reconhece a formula- ção do princípio da extraterritorialidade, para explicar essas prer- rogativas. Durante muito tempo foi com fundamento nesse princí- pio que os antigos publicistas54 justificavam essas prerrogativas. Trata-se, é claro, de uma ficção jurídica “en vertu de laquelle, diz-nos G. BOUSQUET, les ministres public sont censés, pendant le cours de leurs mission, comme lessouverains pendant le cours d’un voyage a l’étranger continuer leur residence sur le territoire de leur propre pays”55. O princípio da extraterritorialidade, aparecia, assim, como a fórmula exacta de explicar a concessão de tais prerrogativas. Contu- do, tal princípio sofre inúmeras excepções e só por si não explica completamente o problema da concessão de imunidades e privilé- gios. Daí que, a justo título, tenha sido muito criticado e, de seguida, prerrogativas diplomáticas, por entenderem que são inúteis nos Estados modernos, em virtude do respeito que estes têm por todos os estrangeiros e da boa organização da justiça que impede decisões iníquas. Esta posição não colheu o apoio internacional, pelo que não foi sufragada por nenhuma Convenção. Curiosamente, entre nós, SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, um dos mais prestigiados internacionalistas portugueses de todos os tempos, entendia que o actual (na época dele, em 1902) sistema de imunidades não deveria ser considerado cientificamente legítimo, pelo que “em relação a cada uma das immunidades, em que elas, a nosso pensar, se ajustam ou se desviam daquelles princípos”, defendendo por exemplo, que os agentes diplomáticos não deviam gozar da imunidade de jurisdição, mas já devia ser concedida imunidade local exclusivamente à casa da missão e benefícios fiscais. In Estudos de Direito Internacional, cit.º, p.ª 464. 53 Contudo, Stanislaw Edwars Nahlik defende que o verdadeiro pai desse princípio foi o jurista francês Pierre Ayrault que em 1587 e, mais tarde na reedição, de 1642 da sua obra L’Ordre, Formalité et Instruction Judiciaire, tinha-o formulado. Cfr STANISLAW EDWARD NAHLIK, Development of Diplomatic Law, cit.º p.ª 222. 54 Entre outros veja-se, GROTIUS, De Jure Belli ac Pacis, Livro III, De Jure Belli et Pacis, Ed. Cambrige University Press, Cambrige e SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Lições de Direito Internacional, cit.º 492. 55 GEORGES BOUSQUET, Agents Diplomatiques et Consulaires, 1883, Paris, p.ª 28 70 DIREITO DIPLOMÁTICO abandonada a teoria que com base nele procurava explicar estas questões, para em lugar dela surgir uma outra, fundada no carácter representativo dos Agentes Diplomáticos e da Missão56. 2. A teoria do fundamento representativo da imunidade, de certo modo, já defendida, nos finais do século passado, e de acordo com a qual os privilégios e as imunidades são concedidos aos Agentes Diplomáticos e às Missões, inicialmente, por estes serem os repre- sentantes do monarca, e mais tarde do Estado de envio, cuja dignidade e independência devem ser respeitadas, pois só assim o Estado receptor pode manifestar o seu respeito pela dignidade e independência do Estado de envio. Para certos autores, como Stanislaw Eward Nahlik, esta é a teoria mais antiga e ela concebia o representante do monarca como o seu “alter ego”, pelo que de acordo com o adágio latino “par in parem non habet imperium”, o Estado receptor não podia subme- ter o Agente Diplomático à sua autoridade. Contudo, na opinião de Nahlik “some writers seem to think that this theory has lost its main ground with the disappearance of nearly all absolute rulers; some other, to the contrary, that the only difference between the old conception and the new consist in the fact that the sovereignty of the nation and that, therefore, the envoy of the sovereign State can claim the ‘representative’ character in exactly the same degree the one formerly attributed to the envoys of a monarch”57. Mas, inde- pendentemente dessas posições, certos autores entendem que esta teoria é favorável ao Estado de envio, visto que nela há uma delimitação precisa do carácter representativo58. 56 Para maior desenvolvimento, veja-se L. STRISOWER, L’Éxtraterritorialitè, in Receueil des Cours de l’Académie de Droit International, Vol. I, 1923, p.ª 233 e segs. e STANISLAW EDWARD NAHLIK, Development of Diplomatic Law, cit.º p.ª 222. 57 STANISLAW EDWARD NAHLIK, Development of Diplomatic Law, cit.º p.ª 221/222. 58 NGUYEN QUOC DIHN NGUYEN QUOC DIHN, PATRICK DAILLIER e ALAIN PELLET, Droit International Public Ed. Librairie Général de Droit et Jurisprudence, Paris, 1987, p.ª 660 e segs. 71colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3. A teoria funcional, que é a mais moderna, é atribuída a Emmerich Vattel, embora ao que aprece o seu primeiro autor tenha sido Cornelis Bynnershoeck. De acordo com esta teoria, os privilégios e as imunidades encontram os seus fundamentos exclusivamente na necessidade de salvaguardar a independência do exercício da função diplomática. Na verdade, faz-se notar que tradicionalmente e segundo o direito costumeiro tais privilégios e imunidades eram reconhecidos aos Agentes Diplomáticos, não como um conjunto de prerrogativas pessoais, ou seja, atribuídas a um grupo de pesso- as individualmente consideradas, mas sim como prerrogativas fun- cionais, ou seja, concedidas à missão para que esta possa desem- penhar plenamente as suas funções no território de terceiro Esta- do59. Na opinião de EDUARDO VILARIÑOS PINTOS, esta a teoria que hoje serve de fundamento ao que ele denomina de “status diplomático”60. C) De qualquer forma, quer se adopte o fundamento funcional, quer o representativo, o ponto é que as imunidades – bem como os restantes privilégios – são prerrogativas concedidas ao Estado que as exerce através dos seus agentes ou, como diz BRIERLY, elas dizem respeito ao próprio Estado estrangeiro e não ao seu agente, por ser, na opinião deste autor “um privilégio concedido a um Estado estrangeiro”61, o que acaba por ser confirma- do pela Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, de 1961. 59 Cfr. GEORGES BOUSQUET, Agents Diplomatiques et Consulaires, cit.º. p.ª 28 e CALVET DE MAGALHÃES, Manuel Diplomático – Direito Diplomático e Prática Diplomática, Lisboa , 2001, p.ª 84. 60 EDUARDO VILARIÑOS PINTOS, Curso de Derecho Diplomático y Consular, cit.º, p.ª 235. 61 BRIERLY, Direito Internacional, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1979, p.ª 244 e 273. Sobre os fundamentos representativo e funcional da imunidade, veja-se, entre outros, MICHAEL AKEHURST, Introdução ao Direito Internacional, Ed. Almedina, Coimbra, 1985, p.ª 142. 72 DIREITO DIPLOMÁTICO Na verdade, a Convenção logo no seu Preâmbulo começa por reco- nhecer que “a finalidade de tais privilégios e imunidades não é beneficiar indivíduos, mas sim a de garantir o eficaz desempenho das funções das missões diplomáticas, em seu carácter de representantes dos Estados” para, de seguida, estabelecer no seu artigo 32º que “o Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos seus agentes diplomáticos e das pessoas que gozam de imunidade nos termos do artigo 37º” o que confirma a tese acima defendida por BRIERLY, e que também adoptamos. Com esta disposição fica claro que a imunidade e os demais privilégios são prerrogativas concedidas ao Estado e não aos seus Agentes, pelo que a Convenção de Viena acima referida só reconhece ao Estado (e nunca aos Agentes Diplomáticos) o direito de renunciar “à imunidade de jurisdição dos seus agentes ...”. Com efeito só aquele que goza – que é titular – de um direito pode a ele renunciar, o que quer dizer que a Convenção ao atribuir ao Estado o direito de renunciar à imunidade de jurisdição reconhece que o titular dessa prerrogativa é o Estado e não os seus agentes. Face a estas teorias a Convenção de Viena de 1961 acabou por adoptar uma solução de compromisso entre as teorias representativa e funcional – solução que já no século passado era advogada por BOUSQUET62 – combinando, assim, o carácter representativo com a natu- reza funcional da imunidade63. Na opinião de NGUYEN QUOC DINH, PATRIC DAILLIER E ALAIN PELLET esta opção da Convenção, demonstra a natureza compromissória desta, pois o recurso à teoria de carácter 62 BOUSQUET admite um duplo fundamento das prerrogativas: “les prerrogatives diplomatiques prennent leurs sources dans le caractére même de les ambassadeurs et dans les necessitésde sa mission”. Cfr BOUSQUET, Agents Diplomatiques et Consilaire, cit.º, p.ª 28, 63 Na opinião de STANISLAW EDWARD NAHLIK “The solution adopted by the 1961 Convention and repeated, mutatis mutandi, in 1969 Convention can be regarded as a combination of all the three traditional theories, even if a particular stress has been put on the ‘functional’ conception”. Cfr. STANISLAW EDWARD NAHLIK, Development of Diplomatic Law, cit.º, p.ª 224. 73colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA representativo permite eventualmente fazer recuar os limites que a teoria funcionalista impõe64 com a busca de conciliação entre as necessidades do Estado de envio e os direitos do Estado receptor, o que pode conduzir a limitações das imunidades e dos privilégios. Na opção da Convenção resulta ainda que tais prerrogativas não são “benesses atribuídas gratuitamente pelos Estados receptores a uma classe de indivíduos por simples homenagem ou para vantagem pessoal dos beneficiários. São antes tratamentos especiais necessários para o exer- cício das funções especiais que lhes incumbe e que devem ser gozadas dentro desse espírito”65, o que significa que apesar de tais prerrogativas serem inerentes ao carácter representativo dos Agentes Diplomáticos, estes, ao exercê-las, não devem perder de vista a natureza funcional das mesmas. D) Os privilégios e as imunidades constituem prerrogativas de distin- ta natureza, o que, como se verá a seguir, a doutrina tem procurado apurar e a Convenção, de certo modo, consagra. De facto, sob o ponto de vista da doutrina, certos autores entendem que juridicamente ou jurídico-internacionalmente as imunidades encon- tram o seu fundamento directamente no Direito Internacional, enquanto os privilégios dependem exclusivamente do direito interno dos Estados. Por essa razão, as imunidades impõem-se aos Estados e, nessa medida, atingem a sua soberania, limitando-a, enquanto os privilégios em nada afectam a soberania, dado que os Estados podem concedê-los de acordo com a sua própria vontade e no quadro da sua competência interna, alargando-os ou restringindo-os. Assim, para certos autores como, por exemplo, VERDROSS, quer as imunidades, quer os privilégios têm como fundamento o Direito Internacional e não se deve confundir a inviolabilidade com as imuni- 64 NGUYEN QUOC DIHN, NGUYEN QUOC DIHN, PATRICK DAILLIER e ALAIN PELLET, Droit International Public Ed. Librairie Général de Droit et Jurisprudence, Paris, 1987, p.ª 661. 65 CALVET DE MAGALHÃES (1985 Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 69. 74 DIREITO DIPLOMÁTICO dades por serem conceitos diferentes66. Com efeito, para este autor, a inviolabilidade impõe ao Estado receptor uma acção, um facere, que se traduz numa protecção especial contra actos ilícitos, enquanto a imu- nidade (extraterritorialidade) impõe ao Estado uma abstenção, um non facere. Por seu lado, a Convenção de Viena de 1961 adoptou uma solução segundo a qual as imunidades e os privilégios são duas categorias distin- tas. Deste modo, enquanto as imunidades – todas as imunidades – encon- tram o seu fundamento último no Direito Internacional, os privilégios tanto podem ser uma emanação directa daquele direito, como da vontade dos Estados que, de acordo com o seu direito interno, pode ampliá-los ou restringi-los. Assim, acontece, por exemplo, com as isenções fiscais que são um privilégio concedido pelo próprio Direito Internacional, enquanto a isenção dos direitos aduaneiros foi durante muito tempo uma norma de cortesia. Importa finalmente dizer que, tal como defende STANISLAW EDWARD NAHLIK67, as prerrogativas – imunidades, inviolabilidades e privilégios – podem ser pessoais e materiais, isto é, ratione personae e rationae rei, decorrendo dessa classificação que: a) São pessoais (rationae personae) as inviolabilidades da pessoa do diplomata, a imunidade de jurisdição, as isenções fiscais e outros privilégios de natureza pessoal. b) São materiais (rationae rei) a inviolabilidade dos locais da missão, dos arquivos, corespondência e mala diplomática, comunicação, dos meios de transporte, uso da bandeira e outras facilidades concedidas para o exercício da missão. 66 Na verdade, segundo este autor (1982: 311), as imunidades protegem o diplomata contra uma vis justa siva judicialis, enquanto que a inviolabilidade protege-o contra uma conduta punível, ou seja, uma vis injusta. 67 Cfr. STANISLAW EDWARD NAHLIK, Development of Diplomatic Law, cit.º, p.ª 248 e segs. 75colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Posto isto podemos agora passar ao estudo de cada uma das imuni- dades e dos privilégios previstos na Convenção de Viena, começando pelos concedidos às Missões. 3.2. Prerrogativa Rationae Rei ou Prerrogativa do Local da Missão, seus arquivos e bens A – A inviolabilidade e os privilégios das Missões A) As inviolabilidades e os privilégios reconhecidos às Missões Diplo- máticas abrangem não só os locais da Missão, como os bens móveis, arquivos e documentos nelas existentes. Os Estados não podem, portan- to, por qualquer forma, violar os locais da Missão, nem os documentos e arquivos desta. Também não podem, por qualquer forma, ofender os direitos sobre os bens da Missão de que esta é titular. Para além dessa obrigação, o artigo 22º, nº 2, ao estabelecer que “o Estado acreditador tem a obrigação especial de adoptar todas as medidas apropriadas para proteger os locais contra qualquer intrusão ou dano e evitar perturbações que afectem a tranquilidade da missão ou ofensas à sua dignidade”, impõe aos Estados a obrigação de garantir a protecção da Missão e aos bens mobiliários nela existentes e, em consequência, o dever de tomar todas as medidas (policiais e outras) necessárias à protec- ção dos locais da Missão, de modo a garantir efectivamente a sua inviolabilidade. Estas regras fundamentais relativas à inviolabilidade dos locais da Missão e dos bens móveis, documentos e arquivos tradicionalmente con- sagradas pelo direito costumeiro e, posteriormente, pela Convenção de Viena, impõem aos Estados receptores dois deveres de conteúdo diverso ou, seja, um dever de non facere, quando o obriga a abster-se da prática de actos ou factos de que resultem ou possam resultar a violação dos locais da Missão, seus bens móveis, documentos e arquivos, e um dever de facere 76 DIREITO DIPLOMÁTICO quando o obriga a adoptar todas as medidas indispensáveis à protecção da Missão e dos bens referidos. 1. Inviolabilidade dos locais da Missão Nos termos do artigo 22º da Convenção “os locais da missão são invioláveis. Os agentes do Estado acreditador não poderão neles penetrar sem o consentimento do Chefe da missão”. Esta inviolabilidade dos locais da missão, historicamente consagrada pelo direito comum ou geral e hoje formalmente reconhecida pela Convenção, é uma regra absoluta e fundamental, visto que tem em vista proteger a própria essência da função diplomática. Daí que ela deva ser respeitada pelos Estados em qualquer circunstância, não podendo, portanto, nenhum Estado exi- mir-se ao cumprimento das suas obrigações tendentes a garantir tal inviolabilidade. Para certos autores, a inviolabilidade não pode ser entendida como extraterritorialidade, dado que todos os actos ocorridos na missão “são considerados como passados no território do Estado receptor, e não do Estado emissor”68, enquanto outros entendem que se trata de uma verdadeira extraterritorialidade (derivada), pelo que o edifício da missão deve ser considerado território do Estado de envio. Para os defensores da primeira tese os locais da missão não gozam de extraterritorialidade dado que os criminosos que nele se refugiam devem ser entregues à polícia do Estado receptor e o Estado de envio não está autorizado a efectuar detenções nos locais da missão. Para aqueles que defendem a tese contrária, a questão da obrigação da entrega dos crimi- nosos não abala a extraterritorialidade da missão, visto que trata-se de um problema que tem a ver com a limitação dodireito de asilo. É que, defendem esses autores, o direito internacional não admite um direito geral de asilo nos edifícios da missão, mas só excepcionalmente reconhe- 68 MICHAEL AKEHURST, Introdução ao Direito Internacional, Ed. Almedina, Coimbra, 1985, p.ª144. 77colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA ce o direito de asilo, dentro de apertados limites e por motivos humanitá- rios, a refugiados políticos69. Entendemos que a segunda tese – a que reconhece a extraterrito- rialidade da missão – é a mais correcta. Na verdade, a proibição de penetração de agentes do Estado receptor nos locais da missão, a inviolabilidade da mala e correio diplomático, dos bens, arquivos e docu- mentos da missão, a isenção de todos os impostos sobre os locais da missão e a especial obrigação de os proteger, numa palavra, todas as prerrogativas concedidas pela Convenção aos locais da missão, revelam a extraterritorialidade destes, limitada somente pelas regras relativas ao asilo. Esta limitação entende-se, dado que o costume de conceder asilo político não é ainda consensual, pois não existe unanimidade entre os Estados sobre esta questão, pelo menos no que diz respeito às modalida- des de asilo70. Posto isto, resta-nos dizer que a inviolabilidade dos locais da missão traduz-se num conjunto de direitos e deveres que importa analisar. Com efeito, e no que se refere aos deveres, a inviolabilidade impõe ao Estado receptor os seguintes deveres: a) O dever de protecção dos locais da missão, que consiste numa especial obrigação de tomar todas as medidas necessárias “para proteger os locais contra qualquer intruso ou dano e evitar perturba- ções que afectem a tranquilidade da missão ou ofensa à sua dignida- de” (nº 2 do artigo 22º). b) O dever de não permitir a penetração de agentes seus no interior da missão sem o consentimento do Chefe da missão (nº 1 do citado artigo). 69 Veja-se VERDROSS, Derecho Internacional Publico, Ed. Aguilar, Madrid, 982, p.ª 314 e 315 70 NGUYEN QUOC DIHN NGUYEN QUOC DIHN, PATRICK DAILLIER e ALAIN PELLET, Droit International Public Ed. Librairie Général de Droit et Jurisprudence, Paris, 1987, p.ª 663. 78 DIREITO DIPLOMÁTICO c) O dever de isentar de impostos e taxas nacionais, com excepção daqueles que incidem sobre serviços prestados (artigo 23º). Faz-se notar que nos termos do artigo 28º da Convenção “os direitos e emolumentos que a missão perceba em razão de actos oficiais” estão também isentos de imposto. d) O dever de dar todas as facilidades para o desempenho das funções da missão (artigo 25º). e) O dever de não fazer busca, requisição e de não promover embargo ou medidas executórias nos locais da missão (artigo 22º, nº 3). No que se refere ao Estado de envio, ou mais concretamente aos Agentes Diplomáticos deste Estado, estes têm o dever de não utilizar os locais da missão para fins diferentes daquele a que se destinam e de forma incompatível com o exercício das funções da missão, bem como o de exercer licitamente as diversas funções da missão. Quanto aos direitos do Estado de envio, este tem todos os direitos correlativos àqueles deveres. B. Privilégios das missões Ainda, no quadro das prerrogativas concedidas às missões, estas gozam ainda do privilégio de: a) Livre comunicação para todos os fins oficiais da missão (artigo 27º). “Deste princípio da livre comunicação derivam vários corolários, diz- -nos CALVET DE MAGALHÃES, como a liberdade dos meios de comunicação, a inviolabilidade das malas diplomáticas e dos correios diplomáticos ... ”71. b) O uso da bandeira e do escudo nacionais (artigo 20º) que é um direito tradicionalmente reconhecido pela prática internacional. 71 CALVET DE MAGALHÃES Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 46. 79colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Deste direito resulta que no interior das missões tal uso não pode ser limitado. Contudo, a exposição da bandeira e do escudo nacio- nais na via pública deverá obedecer às normas relativas ao uso desses símbolos nacionais editadas pelo Estado receptor72. c) Facilidades para o exercício das funções da missão (artigo 25º) que implica a não aposição de obstáculos por parte do Estado receptor. d) Inviolabilidade dos bens móveis, arquivos e documentos. Nos termos do artigo 24º da Convenção “os arquivos e documentos da missão são invioláveis em qualquer momento e onde quer que se encontrem”. Com esta disposição a Convenção protege os arquivos e documentos onde quer que se encontrem, ou seja, quer estejam dentro da missão, quer estejam em trânsito do local da missão para outro local. Na verdade, à missão deve ser assegurada a livre circulação dos seus documentos dentro e para fora do Estado receptor, pelo que a inviolabilidade constitui uma garantia dessa liberdade, que, em última análise, acaba por ser a liberdade de comunicação, que a Convenção consagra no artigo 27º. É neste quadro que se estabelece a inviolabilidade da correspondên- cia e da mala diplomática, bem como do correio diplomático e a livre comunicação, por qualquer forma, para todos os fins oficiais. Desta inviolabilidade resulta que o arquivo, os documentos, a mala e a correspondência diplomáticas não podem ser objecto de medidas judi- ciais ou policiais que impeçam a sua livre circulação, nomeadamente buscas, requisição, embargos ou medidas executórias, e o correio diplo- mático não pode ser preso ou detido (artigo 27º). De entre os bens móveis da missão incluem-se os automóveis e outros veículos por ela utilizados no exercício das suas funções, que também gozam da inviolabilidade referida. 72 CALVET DE MAGALHÃES, Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 46. 80 DIREITO DIPLOMÁTICO 3.3. Prerrogativa Rationae Personae ou Prerrogativa do Agente Diplomático 3.3.1. Imunidades e privilégios dos Agentes Diplomáticos A – Introdução a) Importa relembrar que nos termos da Convenção os Agentes Di- plomáticos, embora integrem a categoria de membros da Missão, constituem uma categoria à parte formada pelo Chefe da Missão e os membros do pessoal da missão que tiverem a categoria de diplomatas – cfr. artigo 1º alínea b), d) e e). Na verdade, a Conven- ção, para efeitos de imunidades e privilégios, distingue os Agentes Diplomáticos dos outros membros do pessoal da missão – pessoal administrativo, técnico e de serviço – como teremos oportunidade de ver. b) Relativamente às imunidades e privilégios poderemos dizer que nas primeiras estão incluídas todas aquelas prerrogativas que impõem ao Estado receptor uma obrigação de non facere, enquan- to nas segundas integram-se as prerrogativas concedidas pelo Estado receptor aos Agentes Diplomáticos. Nesta perspectiva as inviolabilidades surgem como uma categoria especial, diríamos, dos privilégios concedidos aos diplomatas que im- põem ao Estado receptor uma obrigação de facere. Posto isto, podemos passar à análise das várias prerrogativas. B – Imunidades dos Agentes Diplomáticos 1) Introdução O Agente Diplomático goza de imunidade de jurisdição civil, crimi- nal e administrativa, o que significa que não pode ser submetido ao 81colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA poder judicial do Estado receptor. Assim, diz-nos VERDROSS, “non pueden dictarse contra ellos, en principio, actos de jurisdición civil o penal ni actos administrativos”73. No âmbito dessa imunidade os Agentes Diplomáticos não podem ser testemunhas, nem contra eles podem ser praticados actos de autotutela – excepto, obviamente, a legítima defesa – os quais representam uma forma de execução coactiva de direitos. Como pode ver-se, nesta sede, o diplomata é tratado como se, sob o ponto de vista jurisdicional, estivesse fora do território do Estado receptor. A imunidade jurisdicional é absoluta, o que quer dizer que o Agente Diplomático goza dela quer esteja ou não no exercício das suas funções. É claro que esta regra tem excepções. Na verdade, o diplomata não goza de imunidade de jurisdição civil quando contra ele seja proposta uma acção real que tenhacomo causa pedir factos relativos a imóveis situados no território do Estado receptor e que lhe pertençam, ou acções sucessórias, por exemplo. Estas excepções só vêm confirmar que as imunidades não são conce- didas à pessoa do diplomata como uma vantagem individual, mas sim como um tratamento especial atribuído ao Agente para o exercício das suas funções, ou seja quando pratica actos em nome e no interesse do seu Estado – actos de Estado74. 2) As Modalidades das Imunidades Jurisdicionais Podemos agora passar ao estudo das diversas modalidades de juris- dição, que, como sabemos, são as seguintes: imunidade de jurisdição 73 VERDROSS, Derecho Internacional Publico, Ed. Aguilar, Madrid, 1982, p.ª: 312. Segundo CALVET DE MAGALHÃES, Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 73, esta prerro- gativa constitui como que um desenvolvimento da ideia de inviolabilidade pessoal do agente diplomático. 74 Sobre a teoria do acto de Estado, veja-se, entre outros, MICHAEL AKEHURST, Introdução ao Direito Internacional, cit.º, p.ª 147. 82 DIREITO DIPLOMÁTICO civil, imunidade de jurisdição criminal, imunidade de jurisdição admi- nistrativa e imunidade da obrigação de testemunhar. Esta última imu- nidade encontra-se, obviamente, implícita nas outras, mas é importante destacá-la, visto que não deixa de constituir uma categoria autónoma, pois, casos há em que o diplomata, não sendo parte em qualquer proces- so, pode ter conhecimento de factos que interessem ao esclarecimento da verdade num dado pleito e, por essa razão, bem poderia, caso não gozasse dessa imunidade, ser chamado a depor perante um Tribunal do Estado receptor e a incorrer em determinadas sanções no caso de recusa. a) – Imunidade de jurisdição civil A Convenção de Viena de 1961 estabelece no seu artigo 31º que o Agente Diplomático: “goza também da imunidade da sua (do Estado receptor) jurisdi- ção civil (...) salvo se se tratar de: Uma acção real sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditador, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditante para fins da missão; Uma acção sucessória na qual o agente diplomático figura, a título privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário; Uma acção referente a qualquer actividade profissional ou comercial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditador fora das suas funções oficiais”. A regra geral contida no corpo do artigo isenta o diplomata da submissão aos Tribunais cíveis do Estado receptor em todos os casos em que ele tenha de figurar como representante do seu Estado. Esta regra tem, contudo, as excepções acima referidas que são aplicáveis em todos os casos em que o diplomata seja demandado por questões de natureza estritamente pessoal, figurando nessa qualidade no processo. Relativamente às acções reais – que tenham por objecto imóveis – dentro da excepção estabelecida pela Convenção existe uma excepção a 83colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA essa excepção, que visa anulá-la, remetendo para a regra geral. Trata-se daqueles casos em que o diplomata adquire em nome próprio, mas por incumbência do seu Estado, um imóvel para os fins da missão. Nesse caso ele terá de provar que agiu por conta e no interesse do seu Estado e que o imóvel se destina, não para o uso privado dele, mas sim para os fins da missão. A última excepção visa aqueles casos em que o Agente Diplomático, apesar da proibição estabelecida pelo artigo 42º da Convenção, exerce ou exerceu uma profissão ou uma actividade comercial por conta própria. Nestes casos, não pode o Agente gozar de qualquer imunidade jurisdicional. Em todos os casos em que se aplica a imunidade de jurisdição civil esta é extensível às execuções cíveis. b) – Imunidade de jurisdição penal Relativamente à jurisdição penal, a Convenção consagra no seu artigo 31º que “o agente goza de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditador”. Trata-se de uma regra absoluta que em nenhuma circunstância deve ser violada pelo Estado receptor. Dela decorre que o agente diplomático, em caso nenhum, pode ser preso, detido, julgado ou interrogado por autoridades judiciais ou policiais, nem pode ser objecto de qualquer procedimento criminal. Face à prática por um diplomata de um acto de natureza criminal, o Estado receptor poderá considerá-lo persona non grata e obrigá-lo a deixar o seu território. Por outro lado, o Agente Diplomático que pratique uma infracção criminal poderá vir a ser sujeito, no seu país, a um processo disciplinar e até a um processo crime, sendo então aí punido por factos praticados em território estrangeiro – cfr. o artigo 31º nº 4 da Convenção. No caso de se tratar de um diplomata nacional do Estado receptor ou que nele tenha residência permanente dispõe o artigo 38º que: 84 DIREITO DIPLOMÁTICO “ ... o agente diplomático que seja nacional do referido Estado (o receptor) ou nele tenha a sua residência permanente gozará de imuni- dade de jurisdição e de inviolabilidade apenas quanto aos actos oficiais praticados no desempenho das suas funções”. Nestes casos, sempre que o diplomata pratique um feito criminal fora do exercício das suas funções não poderá gozar de qualquer imunidade. c) – Imunidade de jurisdição administrativa Quanto a esta imunidade são aplicáveis as regras acima indicadas relativamente à jurisdição civil, pelo que remetemos para essa parte deste estudo. d) – Imunidade da obrigação de testemunhar Diz-nos o artigo 31º da Convenção que: “o agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como testemunha”. Desta norma resulta que em qualquer processo o Agente Diplomático não pode ser obrigado a testemunhar. Contudo: “se o agente diplomático, com autorização do seu Governo, en- tende dever testemunhar numa determinada causa a correr junto de um tribunal do Estado receptor, poderá fazê-lo livremente em face da regra absoluta do mesmo número 2 do artigo 31º da Convenção e o Estado receptor não terá qualquer fundamento para em virtude do exercício de um direito consagrado em Convenção Internacional apli- car o instituto de persona non grata”75. É óbvio que o Agente só poderá prestar depoimento como testemu- nha depois de o Estado que ele representa ter renunciado à imunidade. A imunidade da obrigação de testemunhar é também, como as restantes imunidades, uma regra absoluta que não pode ser violada pelo Estado receptor. 75 CALVET DE MAGALHÃES, Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 76. 85colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3) Renúncia à imunidade de jurisdição a) Como já tivemos a ocasião de dizer as imunidades são concedidas aos Estados, que as exercem através dos seus representantes diplomáticos. Por essa razão, o artigo 32º da Convenção consagra a possibilidade de o Estado renunciar à imunidade de jurisdição dos seus Agentes Diplomá- ticos, o que significa que não é admissível a renúncia feita por estes. Renunciando à imunidade, o Estado aceita que ele próprio ou os seus Agentes fiquem sujeitos à jurisdição do Estado receptor, e que fique submetido à tutela jurisdicional deste Estado os seus interesses ou o dos seus Agentes. Faz-se notar, contudo, que a renúncia à imunidade não pode ser interpretada em sentido lato, mas sim em sentido estrito, dado que ela pode pôr em crise a soberania do Estado. É que, na verdade, e dizemo-lo com BRIERLY, a renúncia “implica a submissão de um Estado soberano à soberania de outro”76. Daí que a Convenção disponha que a renúncia tem de ser sempre expressa, devendo, portanto, revestir a forma de uma manifestação inequívoca da vontade de um Estado se submeter à jurisdi- ção de outro. b) A renúncia pode assumir duas formas, a saber: a expressa e a tácita. A renúncia expressa encontra-se prevista no nº 2 do artigo 32º e traduz-se, como já dissemos, na manifestação da vontade de um Estado, normalmente feita através de um acto unilateral, em se submeter à juris- dição do Estado receptor, aceitando, deste modo,o Estado renunciante em submeter a tutela dos seus interesses ou dos seus Agentes aos Tribu- nais do Estado receptor. Assinale-se, contudo, que a renúncia expressa à imunidade de jurisdi- ção não implica renúncia à imunidade de execução da sentença. Para que 76 BRIERLY, Direito Internacional, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1979, p.ª 273. 86 DIREITO DIPLOMÁTICO esta possa ser executada o Estado terá de, também, renunciar expressa- mente a esta imunidade77 – cfr. o nº 4 do artigo 32º. Nestes casos, deverá o Estado em causa empregar todos os seus esforços para chegar a uma solução equitativa da questão, diz-nos o nº 5 do artigo 31º da Convenção de Viena de 1975. Quanto à renúncia tácita é o nº 3 do artigo 32º que a ela se refere quando preceitua que: “se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunida- de nos termos do artigo 37º inicia uma acção judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma reconvenção directamente ligada à acção principal”. Assim, a propositura de uma acção por um Agente Diplomático ou por um Estado constitui justa presunção de que este renunciou tacitamen- te à imunidade jurisdicional, o mesmo se passando nos casos em que o Agente intervém num processo. Neste último caso, presume-se que o Agente encontra-se devidamente autorizado pelo seu Estado a submeter- -se à jurisdição do Estado receptor. Esta disposição – nº 3 do artigo 32º – diz-nos CALVET DE MAGA- LHÃES, levanta o problema de “saber se um agente diplomático é ou não livre de propor uma acção judicial, sem o consentimento prévio do seu Gover- no, sabendo-se de antemão que isso implica a supressão da sua imunidade de jurisdição quanto às acções reconvencionais ligadas à acção principal”. Entendemos, tal como este autor, que “o agente diplomático necessita do consentimento prévio do Estado que representa para interpor uma acção num Tribunal do estado receptor”78, dado que é inadmissível que um Agen- te, por via indirecta, venha a exercer um direito que só cabe ao Estado. 77 BRIERLY, Direito Internacional, cit.º, p.ª 275. 78 BRIERLY, Direito Internacional, cit.º p.ª 275. 87colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3.3.2. Privilégios dos Agentes Diplomáticos A) Introdução Diversos são os privilégios concedidos aos Agentes Diplomáticos, e como já tivemos a oportunidade de assinalar todos eles encontram o seu fundamento no Direito Internacional. Assim, ao contrário do que pensam certos autores, e dizemo-lo com GUGGENHEIM79, as isenções fiscais não decorrem da comitas gentium, mas tem o seu fundamento no Direito Internacional. De entre esses privilégios o mais importante é sem dúvida o da inviolabilidade pessoal do Agente Diplomático, dado que ela rela- ciona-se directamente com a própria essência da função diplomática e com a liberdade do exercício dessa função. Posto isto, vejamos agora, separadamente, cada um desses privilé- gios, começando pela inviolabilidade pessoal do Agente Diplomático. B) As Modalidades dos Privilégios 1) – A inviolabilidade pessoal do Agente Diplomático Nos termos do artigo 29º da Convenção de Viena, “a pessoa do agente é inviolável. Não poderá ser objecto de qualquer forma de detenção ou prisão. O Estado acreditador tratá-lo-á com o devido respeito e adoptará todas as medidas adequadas para impedir qualquer ofensa à sua pessoa, liberdade ou dignidade”. Historicamente, esta regra foi sempre reconhecida por todas as na- ções, como um princípio fundamental da própria instituição diplomática, que as levava a atribuir um carácter sagrado aos embaixadores. É claro que, por diversas vezes, sucederam-se violações a esse princípio da inviolabilidade mas sempre aconteceu que, passados esses períodos con- turbados geradores dessas violações, a regra impunha-se naturalmente. 79 PAUL GUGGENHEIM (1953: 505). 88 DIREITO DIPLOMÁTICO A inviolabilidade significa, por um lado, que a pessoa do diplomata não pode ser violentada com a prática de actos ou factos que possam ameaçar a sua integridade física ou a sua vida ou, ainda, que possam pôr em perigo a sua liberdade pessoal, atentar contra a sua dignidade e o respeito que lhe é devido; por outro lado, a inviolabilidade também implica a não sujeição do diplomata a obrigações de carácter administrativo que o direito interno do Estado receptor impõe à generalidade dos indivíduos. Voltando ao texto do artigo 29º, começaremos por dizer que nele se consagra uma regra absoluta que não pode sofrer outras limitações que não sejam aquelas consagradas pelo próprio Direito Internacional. Por outro lado, dessa regra resulta para o Estado receptor a obrigação de garantir a protecção da pessoa do diplomata, por forma a evitar que contra ela sejam praticados actos de violência física e moral que possam fazer perigar a sua integridade física ou a sua vida e que possam atentar contra a sua honra, dignidade e respeito. Assim, o Estado receptor não pode recusar protecção aos Agentes Diplomáticos, a qual é devida inde- pendentemente de qualquer solicitação directa destes. Acresce que da inviolabilidade pessoal do Agente Diplomático resulta a inviolabilidade da sua residência, dos seus documentos e correspon- dência e dos seus bens, que também devem ser objecto de protecção especial por parte do Estado receptor e que não podem ser sujeitos a busca, requisição, embargos ou qualquer medida executória – cfr. o artigo 30º da Convenção. Faz-se notar que a inviolabilidade pessoal subsiste mesmo no caso de ruptura de relações diplomáticas, de guerra e de início das hostilidades, enquanto o Agente permanecer no território do Estado receptor. A regra do artigo 29º sofre a excepção estabelecida pelo artigo 38º, segundo o qual “ ... o agente diplomático que seja nacional do referido Estado (o receptor) ou nele tenha residência permanente gozará da imunidade de jurisdição e de inviolabilidade apenas quanto aos actos oficiais praticados no desempenho das suas funções”. 89colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA De acordo com esta disposição, o Agente Diplomático – quer seja Chefe da Missão ou membro do pessoal diplomático – quer seja nacional do Estado receptor ou nele tenha residência permanente só goza da inviolabilidade pessoal relativamente aos actos praticados no exercício das suas funções oficiais. Contudo, este mínimo de inviolabilidade pode ser, em qualquer mo- mento, ampliado pelo Estado receptor até ao máximo de inviolabilidade consagrado no artigo 29º, pois o próprio artigo 38º abre essa possibilidade quando em situações desta natureza permite ao Estado receptor conceder outros privilégios aos Agentes que são seus nacionais ou que tenham residência permanente no seu território. Finalmente, importa dizer que o Agente Diplomático, apesar de gozar da inviolabilidade pessoal, tem o dever de respeitar as leis e os regula- mentos do Estado receptor. 2) – Isenção de direitos fiscais Nos termos do artigo 34º da Convenção, “O agente diplomático gozará de isenção de todos os impostos e taxas, pessoais ou reais, nacionais, regio- nais ou municipais, com as excepções seguintes: a) Os impostos indirectos que estejam normalmente incluídos no pre- ço das mercadorias ou dos serviços; b) Os impostos e taxas sobre os bens privados situados no território do Estado acreditador, a não ser que o agente diplomático os possua em nome do Estado acreditado e para os fins da missão; c) Os direitos de sucessão percebidos pelo Estado acreditador, salvo o disposto no parágrafo 4 do artigo 39º; d) Os impostos e taxas sobre rendimentos privados que tenham a sua origem no Estado acreditador e os impostos sobre o capital referen- te a investimentos em empresas comerciais situadas no Estado acreditador; e) Os impostos e taxas que incidam sobre a remuneração relativa a serviços específicos; 90 DIREITO DIPLOMÁTICO f ) Os direitos de registo, hipoteca, custas judiciais e impostos de selo relativos a bens imóveis, salvo o disposto no artigo 23º “ – cfr. oartigo 34º. O princípio geral contido no artigo 34º é o de que o Agente Diplomá- tico está isento de todos os impostos, quer sejam de carácter real ou pessoal, quer sejam de âmbito nacional, regional ou local. Contudo, este princípio sofre as excepções a que se referem as alíneas a), b), c), d), e) e f ) daquele artigo, nos termos das quais os Agentes Diplomáticos não estão isentos dos impostos indirectos – tais como os impostos sobre o consumo, regra geral incluídos nos preços de bens e de serviços – dos impostos que incidam sobre bens imóveis, desde que estes sejam propriedade privada do Agente, os impostos sobre os rendimentos privados ou sobre os investimentos privados realizados no território do Estado receptor e, ainda, do imposto sucessório. Estas excepções respeitam quase que exclusivamente aos impostos que incidem sobre bens, rendimentos, aplicação de capitais privados do Agente, o que constitui uma clara demarcação entre a actividade oficial e a privada do Agente e reflecte o princípio segundo o qual os privilégios não são concedidos para benefício pessoal do Agente. É claro que a isenção fiscal pode ser alargada pois a Convenção não interdita a sua ampliação. Só que, regra geral, o alargamento está normal- mente condicionado ao princípio da reciprocidade, ou seja, desde que os Estados acordem conceder, reciprocamente, maiores isenções. 3) – Isenção de direitos aduaneiros Durante muito tempo a isenção dos direitos aduaneiros tinha o seu fundamento na comitas gentium, ou seja, nas regras de cortesia interna- cional. Contudo, a sua total generalização levou a Comissão do Direito Internacional a propor a sua consagração na Convenção, proposta que foi aceite, pelo que as bases dessa isenção passaram a ser jurídicas. Assim, veio o artigo 36º da Convenção estabelecer que: 91colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA “De acordo com as leis e regulamentos que adopte, o Estado acreditador permitirá a entrada livre de pagamento de direitos adua- neiros, taxas e outros encargos conexos que não constituam despesas de armazenagem, transporte e outras relativas a serviços análogos: a) Dos objectos destinados ao uso oficial da missão; b) Dos objectos destinados ao uso pessoal do agente diplomático ou dos membros da sua família que com ele vivam, incluindo os objectos destinados à sua instalação.” Nos termos desta disposição legal, o Agente Diplomático goza de isenção dos direitos aduaneiros relativamente aos bens indicados nas alíneas a) e b) do artigo citado. Nos termos do mesmo artigo, o Agente está ainda isento do pagamento de taxas e de outros encargos fiscais conexos com os direitos aduaneiros, desde que estes não se refiram aos custos dos serviços, da armazenagem e transporte dos bens. É claro que a disposição legal citada não isenta o Agente Diplomático de cumprir as leis e regulamentos internos do Estado receptor, ou seja todas as formalidades legalmente estabelecidas para a obtenção ou reco- nhecimento oficial da isenção. No mesmo artigo levanta-se a questão da inspecção da bagagem do Agente Diplomático, o que se compreende dado que este pode transpor- tar na sua bagagem quer objectos abrangidos pela isenção, quer os que não estejam abrangidos por ela. Para se resolver de forma digna essa questão, a Convenção estabelece no nº 2 do artigo 36º que “A bagagem pessoal do agente diplomático não está sujeita a inspecção, salvo se existirem motivos sérios para crer que a mesma contém objectos não previstos nas isenções mencionadas no parágra- fo 1 deste artigo, ou objectos cuja importação ou exportação é proibi- da pela legislação do Estado acreditador ou sujeitos aos seus regula- mentos de quarentena. Nesse caso, a inspecção só poderá ser feita na presença do Agente Diplomático ou do seu representante autorizado”. 92 DIREITO DIPLOMÁTICO Como decorre desta disposição, a regra geral é a de que a bagagem não pode ser sujeita a inspecção, regra que só sofre excepções quando as autoridades do Estado receptor estejam séria e fundadamente convencidas de que nela são transportados objectos não abrangidos pelas isenções. Nesse último caso, a bagagem poderá ser revistada na presença do Agente Diplomático ou de um seu representante. 4) – Isenção de prestação de seguro social Também relativamente a esta prestação o Agente Diplomático encon- tra-se isento de acordo com o disposto no artigo 33º onde se preceitua que: “Salvo o disposto no parágrafo 3 deste artigo, o agente diplomá- tico está, no tocante aos serviços prestados ao Estado acreditante isento das disposições de seguro social que possam vigorar no Estado acreditador. 2. A isenção prevista no parágrafo 1 deste artigo aplicar-se-á também aos criados particulares que se acham ao serviço exclusivo do agente diplomático que: a) Não sejam nacionais do estado acreditador nem nele tenham residência permanente; b) Estejam protegidos pelas disposições sobre seguro social vigen- tes no Estado acreditante ou em terceiros Estados.” De acordo com o parágrafo 1 desta disposição, o Agente Diplomático está pessoalmente isento de seguro social ou, melhor, das normas rela- tivas a esse seguro. O mesmo acontece, nos termos do parágrafo 2, com os seus criados particulares, desde que estes não sejam nacionais do Estado receptor ou desde que nele não tenham residência permanente e “estejam protegidos pelas disposições sobre seguro social vigentes no Estado acreditante ou em terceiro Estado”. Sendo os criados particulares nacionais do Estado receptor, o Agente Diplomático terá de observar as regras relativas ao seguro social esta- 93colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA belecidas para a generalidade das entidades patronais – cfr. o nº 3 do citado artigo. Com essa norma a Convenção procura garantir a protecção social dos criados particulares dos Agentes Diplomáticos, isentando-os da prestação de seguro social somente naqueles casos em que se pressupõem que aqueles criados estão protegidos pelas regras da segurança social do Estado de envio ou de terceiros Estados, e impondo a obrigação da prestação naqueles casos em que os criados são nacionais do Estado receptor. Para além disso, permite ainda ao Agente submeter-se volunta- riamente às normas da segurança social do Estado receptor, desde que tal submissão seja por estas permitida e, ainda, que os Estados celebrem acordos bi ou multilaterais sobre o seguro social – cfr. os parágrafos 4 e 5 do mesmo artigo. 5) – Isenção de prestações pessoais “O Estado acreditador deverá isentar os agentes diplomáticos de toda a prestação pessoal, de todo o serviço público, seja qual for a sua natureza, de obrigações militares, tais como requisições, contribuições e alojamento”. (artigo 35º) Segundo CALVET DE MAGALHÃES, “esta disposição em rigor poderia considerar-se supérflua em virtude das prerrogativas de inviolabilidade e isenção fiscal consagradas na Convenção. A disposição foi no entanto consi- derada conveniente em virtude de, em casos de emergência, dever considerar- -se como suspensas as prerrogativas diplomáticas. Com uma disposição desta natureza ficou bem claro face à Convenção de Viena de 1961 que em caso algum se poderão ignorar as prerrogativas diplomáticas convencionalmente asseguradas”80. 80 CALVET DE MAGALHÃES, Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 89. 94 DIREITO DIPLOMÁTICO 6) – Liberdade de circulação e de trânsito Este privilégio de que já falámos noutro local, para onde remetemos, encontra-se consagrado no artigo 26º da Convenção, que impõe ao Esta- do receptor a obrigação de garantir aos Agentes Diplomáticos a liberdade de circulação e de trânsito em todo o seu território, com excepção das zonas cujo acesso seja proibido ou regulamentado por motivos de segu- rança nacional. O objectivo dessa disposição é o de permitir ao Agente Diplomático o livre exercício das suas funções no território do Estado receptor, o qual terá de ser necessariamente conciliado com a necessidade de segu- rança e de defesanacionais desse Estado. 7) – O uso da bandeira e do escudo nacionais Já tivemos a oportunidade de falar deste privilégio que o artigo 20º da Convenção consagra, não sendo agora necessário acrescentar mais nada sobre esta questão. Assim, limitamos a remeter para a parte deste estudo onde esta questão foi tratada. 3.3.3. Facilidades Relativamente às facilidades a Convenção de Viena de 1961 consa- gra as seguintes facilidades: – facilidade na obtenção de alojamento adequado para os membros da missão – artigo 21º; – facilidade para que as pessoas que gozam de privilégios e imunida- des, e não sejam nacionais do Estado receptor, possam deixar, em caso de guerra o território deste Estado o mais depressa possível – artigo 44º. 95colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3.4. Os membros da família do Agente Diplomático e as prerrogativas A Convenção, no seu artigo 31º, equipara para efeitos de imunidades e de privilégios os membros da família do Agente Diplomático a este. Com efeito nos termos do artigo 37º “os membros da família de um Agente Diplomático que com ele vivam gozarão dos privilégios e imunidades mencionados nos artigos 29º a 36º, desde que não sejam nacionais do estado receptor”. Com esta disposição a Convenção impõe dois requisitos que terão de ser preenchidos para que os membros da família dos Agentes Diplomáti- cos possam gozar dos mesmos privilégios e imunidades. Estes requisitos são os seguintes: 1. Viverem com o Agente Diplomático, ou seja que habitem de forma permanente e estável com o Agente Diplomático. 2. Serem nacionais do Estado de envio, o que significa que os nacio- nais do Estado receptor, qualquer que seja o seu grau de parentes- co com o Agente Diplomático não gozarão das imunidades e privilégios acima referidos. Relativamente à questão de saber quem pode ser considerado mem- bro da família do Agente Diplomático, somos de opinião que o parentesco terá de ser definido pela lei do Estado de que é originário o Agente Diplomático, pois a Convenção não define qualquer critério para a deter- minação do parentesco. Relativamente às facilidades, nomeada e especi- ficamente a relativa à saída do território em caso de conflito armado, a Convenção não restringe a concessão dessa facilidade só aos membros da família nacionais do Estado de envio, permitindo, portanto, que ela seja concedida mesmo aos que são nacionais do Estado receptor. 96 DIREITO DIPLOMÁTICO 3.5. As prerrogativas dos Agentes Diplomáticos nos Terceiros Estados Durante muito tempo a opinião generalizada era a de que as imuni- dades, os privilégios ou as facilidades concedidas por terceiros Estados a Agentes Diplomáticos em trânsito pelo território desses Estados não resul- tavam de um dever jurídico destes, mas sim de normas de cortesia internacional. Por essa razão, o facto de um terceiro Estado autorizar a passagem pelo seu território a Agentes Diplomáticos não implicava que aquele Estado ficasse obrigado a conceder quaisquer prerrogativas ao Agente em trânsito. Face a esta corrente de pensamento, a Convenção decidiu tomar posição sobre esta questão estabelecendo no seu artigo 40º que: “Se o agente diplomático atravessa o território ou se encontra no território de um terceiro Estado que lhe concedeu visto no passaporte, quando esse visto for exigido, a fim de assumir ou reassumir o seu posto ou regressar ao seu país, o terceiro Estado conceder-lhe-á a inviolabilidade e todas as outras imunidades necessárias para lhe permitir o trânsito ou o regresso. Essa regra será igualmente aplicável aos membros da família que gozem de privilégios e imunidades, quer acompanhem o Agente Diplomático, quer viajem separadamente para reunir-se a ele ou regressar ao seu país”. Como pode ver-se do artigo transcrito, a Convenção não se pronuncia sobre a questão de saber se o terceiro Estado é ou não obrigado a conceder passagem ao Agente Diplomático, questão que gerava alguma discussão, por ser generalizada a opinião segundo a qual o terceiro Estado não tinha o dever de conceder passagem. Contudo, a Convenção vem atribuir um carácter jurídico à concessão por terceiros Estados de certas prerrogativas ou, se quisermos, das prerrogativas mínimas indispensáveis para que a dignidade e o respeito pela pessoa e função do Agente fique salvaguardada durante o trânsito pelo território daquele Estado. 97colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Nos termos do artigo citado, as prerrogativas mínimas concedidas pelo terceiro Estado ao Agente Diplomático e seus familiares são a inviolabilidade pessoal e as imunidades de jurisdição necessárias para permitir o trânsito sem incómodos ou ofensa à dignidade e ao respeito que lhes são devidos enquanto representantes de um Estado. Para que o Agente possa beneficiar dessas prerrogativas necessário é que ele se faça munir de um visto no seu passaporte quanto tal visto seja exigido pelo Estado ou Estados terceiros por onde ele terá de transitar para assumir ou reassumir o seu posto ou para regressar ao seu país. Faz-se notar finalmente, que essas prerrogativas são concedidas por causa das funções e quando o Agente Diplomático se encontra a exercê- las, pois delas não beneficia – salvo se por motivo de cortesia o Estado terceiro decidir concedê-las – o Agente Diplomático que transita pelo território de um Estado por motivos particulares ligados à sua vida ou actividade privadas. 3.6. Início e termo das prerrogativas diplomáticas A) início das funções Preceitua o artigo 39º que “toda a pessoa que tenha direito a privilégios e imunidades gozará dos mesmos a partir do momento em que entrar no território do Estado acreditador para assumir o seu posto ou, no caso de já se encontrar no referido território, desde que a sua nomeação tenha sido notifi- cada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros ou ao Ministério que se tenha convindo” De acordo com o texto desta disposição legal são dois os momentos a partir do qual os Agentes Diplomáticos e seus familiares começam a gozar das imunidades, privilégios e facilidades. Um, que se refere aos Agentes Diplomáticos e seus familiares que não residam permanentemente no território do Estado receptor, é a partir da 98 DIREITO DIPLOMÁTICO data da entrada do Agente Diplomático ou seus familiares no território do Estado receptor; outro, que é estabelecido para os casos em que o Agente Diplomático tenha residência permanente no território do Estado recep- tor, é a partir da data da notificação da nomeação do Agente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros ou a outro Ministério que, por acordo, tenha sido indicado para receber tal notificação. A consagração destes dois momentos é compreensível, dado que as prerrogativas são concedidas para serem gozadas no território do Estado receptor e daí que só após a entrada nesse território das pessoas que dela beneficiam se torna possível exercê-las plenamente. Por outro lado, resi- dindo o Agente Diplomático de forma permanente no território do Estado receptor é óbvio que, não gozando ele enquanto residente de quaisquer prerrogativas, estas só lhe podem aproveitar a partir da data do conheci- mento oficial de que aquele residente foi nomeado Agente Diplomático e colocado no território do Estado receptor para aí exercer as suas funções. Faz-se notar – e é bom sublinhá-lo – que o que conta para o início do gozo das prerrogativas não é a data do acreditamento, mas sim da chega- da ou da notificação. De facto, mesmo relativamente ao Agente Diplomá- tico que não resida permanentemente no território do Estado receptor torna-se necessário que este seja previamente notificado da data da chegada àquele território e é nesta data que ele inicia as suas funções. Daí que se compreenda que o início do gozo das prerrogativas seja, para os Agentes não residentes, o da data da chegada – e não a do acreditamento, que necessariamente é posterior. Contudo, a Convenção tem o cuidado de consagrar a subsistência das imunidades – só destas – relativamente aosactos praticados no exercício das suas funções pelo Agente Diplomático, o que tem em vista evitar que este possa vir a ser demandado judicialmente, após o termo das suas funções, por actos praticados no exercício destas, com o fundamento de o autor do acto já não gozar de imunidades. Se assim não fosse as imunidades perderiam o seu sentido e alcance, acabando por na prática funcionar como uma simples moratória. 99colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3.7. Deveres dos Agentes Diplomáticos A) Deveres gerais de conduta81 Com razão diz STANISLAW EDWARD NAHLIK que “the problems of the duties of diplomats toward the receiving State – in comaprison with their privileges – has been rather neglected”82. Por isso mesmo torna-se importante estudar, mesmo que sumariamente esses deveres para melhor se compreender o “Estatuto do Diplomata”. Na verdade, todos os Agentes Diplomáticos estão submetidos a um conjunto de deveres internacionais que terão de ser por eles rigorosamen- te observados por forma a evitar embaraços e conflitos entre os Estados. Por outro lado, a observância de tais deveres contribui decisivamente para a dignificação não só das funções, como ainda da própria pessoa do Agente Diplomático. Um dos principais deveres do Agente Diplomático é o de não utilizar as prerrogativas de que goza para fins diferentes daqueles para que foram concedidas. A violação deste dever constitui uma grave infracção não só sob o ponto de vista internacional, como sob o nacional, dado que o Estado receptor pode reagir declarando o Agente Diplomático persona non grata, enquanto o Estado de origem poderá instaurar um processo disciplinar ou de outra natureza contra o Agente. Para além desse dever de carácter geral, relacionado com o acima referido, outro se impõe ao Agente Diplomático. Trata-se de um dever geral de conduta, segundo o qual o Agente Diplomático deve manter, durante o período de tempo em que exercer as suas funções um compor- tamento irrepreensível, de modo a não pôr em crise a sua dignidade, bem como a do Estado que representa. 81 Para maior desenvolvimento, veja-se STANISLAW EDWARD NAHLIK, Development of Diplomatic Law, cit., p.ª 293 e segs.. 82 STANISLAW EDWARD NAHLIK, Development of Diplomatic Law, cit., p.ª 293. 100 DIREITO DIPLOMÁTICO B) Deveres específicos De entre estes deveres destacamos os seguintes: 1 – O dever de respeitar as leis do Estado receptor O art. 41º da Convenção determina que “sem prejuízo dos seus privilé- gios e imunidades, todas as pessoas que gozam desses privilégios e imunida- des deverão respeitar as leis e os regulamentos do Estado acreditador ...”. Esta disposição na opinião de CALVET DE MAGALHÃES deve ser entendida em toda a sua amplitude, pois “cobrem todas as leis do país em que o Agente Diplomático exerce as suas funções e todos os regulamentos, inclusive os que regulam o tráfego e o estacionamento de viaturas”83. Significa isso que o Agente Diplomático, apesar das imunidades e dos privilégios de que goza, não está isento de respeitar as leis e os regula- mentos do Estado receptor, qualquer que seja a matéria objecto dessa legislação. Exceptua-se, contudo, os casos em que o Agente Diplomático em virtude das prerrogativas que lhe são concedidas não seja obrigado a observar algumas normas jurídicas do Estado receptor. 2 – O dever de não ingerência nos assuntos internos do Estado receptor Nos termos do mesmo artigo 41º o Agente Diplomático tem “também o dever de não se imiscuir nos assuntos internos do referido Estado (receptor)”. Esta disposição consagra um princípio geral do Direito Internacional, segundo o qual os Estados devem abster-se de se imiscuírem nos assuntos internos dos outros, princípio fundamental para a manutenção de rela- ções não conflituosas entre os Estados. 83 CALVET DE MAGALHÃES, Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 87. Para maior desenvolvimento, veja-se STANISLAW EDWARD NAHLIK, Development of Diplomatic Law, cit., p.ª 297 e segs.. 101colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3 – O dever de tratarem todos os assuntos oficiais através do Ministério dos Negócios Estrangeiros De acordo com o nº 2 do artigo 41º “todos os assuntos oficiais tratados com o Estado acreditador confiados à missão pelo Estado acreditante deverão sê-lo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Estado acreditador ou, por seu intermédio, com outro Ministério em que se tenha convindo”. A Convenção estabelece, assim, como princípio regra que o Ministé- rio competente para tratar de todos os assuntos oficiais com os Agentes Diplomáticos é o dos Negócios Estrangeiros, admitindo, contudo, a possi- bilidade de tais assuntos serem tratados por outro Ministério, desde que os Estados tenham nisso acordado. A atribuição de tal competência ao Ministério dos Negócios Estran- geiros tem como objectivo concentrar num único órgão governamental do Estado Estrangeiro o tratamento da política externa do Estado, por forma a permitir a boa coordenação dessa política pela entidade governa- mental vocacionada a realizar essa política. A Convenção reafirma, assim, o estatuto especial que o Direito Internacional atribui ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e ao respectivo Ministro. Em conformidade com a disposição legal citada, os Agentes Diplomá- ticos ficam constituídos no dever de tratar com aquele Ministério todos os assuntos oficiais, dever que terão de respeitar para que os objectivos que a Convenção visa com tal preceito possam ser atingidos, evitando-se assim a descoordenação das relações entre os Estados. O facto de os Agentes Diplomáticos e os próprios órgãos governa- mentais nem sempre respeitarem tal disposição e de muitas vezes trata- rem assuntos oficiais com outros Ministérios ou Departamentos não signi- fica que tal dever não exista ou que seja um dever menor. Contudo, a sua violação quase não tem consequências práticas dado que são os próprios órgãos do Governo do Estado receptor e o Estado de envio, através do seu representante, que o violam. 102 DIREITO DIPLOMÁTICO 4 – Proibição do exercício de qualquer actividade profissional ou comercial O Agente Diplomático, de acordo com o artigo 42º, não pode exercer por conta própria qualquer actividade profissional ou comercial. Esta proibição é inderrogável e da sua violação podem resultar graves consequências para o Agente. Na verdade, não deixa de ser incompatível com o exercício de funções de representação diplomática de um Estado o exercício, em proveito próprio, de actividades lucrativas no território do Estado receptor. Para além disso, pode até ser perigosa a conjugação dessas duas actividades, visto que o Agente Diplomático sempre poderá ser tentado a usar em proveito próprio as prerrogativas que lhe são concedidas, pondo assim em risco as relações entre os Estados. No caso de o Agente Diplomático, em violação do disposto no artigo 42º, exercer actividades lucrativas por conta própria, o Estado receptor poderá retirar-lhe a imunidade de jurisdição relativamente às questões conexas com as referidas actividades – cfr. o artigo 30º – para além de poder adoptar posição mais severa em relação ao infractor. 3.8. Violação dos deveres: suas consequências A violação dos deveres acima referidos pelo Agente Diplomático, para além de poder provocar graves embaraços ou até conflitos sérios entre os Estados, acarreta para ele as seguintes consequências, que acabam por ser verdadeiras sanções internacionais: a) Perda da imunidade jurisdicional relativamente a actos que tenha praticado fora das suas funções no exercício de actividade profis- sional ou comercial por conta própria. b) Pedido de retirada do Agente Diplomático do território do Estado receptor feito por este ao Estado de origem do Agente, com a marcação de um prazo para o efeito. 103colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA c) Declaração do Agente como persona non grata, caso em que o Estado de envio deverá fazer cessar as funções do Agente Diplomático e retirá-lo do territóriodo Estado receptor – cfr. o artigo 9º. Neste último caso, que se traduz na sanção internacional de maior gravidade, o Estado receptor, por isso mesmo, deverá reunir provas con- cretas e irrefutáveis antes de decidir, devendo, portanto, ser muito caute- loso por forma a evitar melindres e conflitos. Isto apesar de não ser obrigado a justificar a sua decisão. Faz-se notar finalmente que, nos termos do artigo 9º, só podem ser declaradas persona non grata o Chefe da Missão e os membros desta com a qualidade de diplomatas – cfr. artigo 9.º n.º 1 da Convenção. 3.9. Prerrogativas dos outros membros da Missão A) Os outros membros da Missão são todos aqueles que não tenham a qualidade de diplomatas, ou mais especificamente: o pessoal adminis- trativo e técnico, pessoal de serviço e da Missão – cfr. alíneas a) e c) do artigo 1.º da Convenção. A Convenção não deixa de se preocupar com estes membros do pessoal da Missão no que se refere às imunidades e privilégios, conferin- do-lhes, contudo, neste aspecto, um estatuto diferente daquele que reco- nhece aos Agentes Diplomáticos. B) Na verdade, nos termos do nº 2 do artigo 37º “Os membros do pessoal administrativo e técnico da missão, assim como os membros de suas famílias que com eles vivem, desde que não sejam nacionais do Estado acreditador nem nele tenham residência permanente, goza- rão dos privilégios e imunidades mencionados nos artigos 29º a 35º, com a ressalva de que a imunidade de jurisdição civil e administrativa 104 DIREITO DIPLOMÁTICO do Estado acreditador, mencionada no parágrafo 1 do artigo 31º não se estenderá aos actos por eles praticados fora do exercício das suas funções; gozarão também dos privilégios mencionados no parágrafo 1 do artigo 36º, no que respeita aos objectos importados para a primeira insta- lação” Esta disposição convencional regula especificamente os privilégios e imunidades atribuídos aos membros do pessoal da missão que não sejam nem diplomatas, nem nacionais do Estado receptor – o que não signi- fica, note-se, que sejam necessariamente nacionais do Estado de envio, pois podem ter a nacionalidade deste Estado ou a de terceiro Estado. Relativamente a estes membros do pessoal da Missão o artigo cita- do confere-lhes todas as prerrogativas concedidas aos Agentes Diplo- máticos pelos artigos 29º a 35º. Contudo, a Convenção estabelece certos limites, que restringem, em certos casos, o âmbito dessas prer- rogativas e, consequentemente, do exercício delas pelos seus benefi- ciários. Na verdade, no que se refere às imunidades de jurisdição civil e administrativa, estas só se aplicam, conforme dispõe o nº 2 do artigo 37º, aos actos praticados pelos membros do pessoal administrativo e técnico no exercício das suas funções. Quanto à isenção dos direitos aduaneiros esta só se aplica aos objec- tos importados para a primeira instalação. Com excepção desses casos, em tudo o mais este pessoal goza de privilégios e imunidades idênticas aos dos Agentes Diplomáticos. C) Os membros do pessoal administrativo e técnico que sejam nacionais do Estado receptor têm o seu estatuto definido no nº 2 do artigo 38º onde se diz que “Os demais membros da missão e os criados particulares que sejam nacionais do Estado acreditador ou nele tenham a sua resi- dência permanente gozarão apenas dos privilégios e imunidades, que 105colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA lhes forem reconhecidos pelo referido Estado. Todavia, o Estado acreditador deverá exercer a sua jurisdição sobre tais pessoas de ma- neira a não interferir demasiadamente com o desempenho das fun- ções da missão” Este preceito vem limitar de forma ainda mais acentuada a con- cessão de prerrogativas a este pessoal nacional do Estado receptor, dado que deixa ao critério deste conceder-lhes ou não imunidades e privilégios, critério que obviamente terá de assentar nas suas leis inter- nas. Precisamente por isso, a Convenção faz ao Estado receptor uma recomendação que é a de exercer a sua jurisdição sobre esse pessoal de modo a não perturbar excessivamente o desempenho das funções oficiais da missão. D) No que se refere aos membros do pessoal de serviço e aos criados particulares dos membros da Missão, a Convenção também distingue os que não são nacionais do Estado receptor daqueles que têm a nacionalidade deste Estado – cfr. o nº 3 do artigo 37º e o nº 2 do artigo 38º citados. Quanto aos membros do pessoal de serviço84 que não sejam nacio- nais do Estado receptor, estes só gozarão de imunidades relativamente aos actos praticados no exercício das suas funções e, ainda, do privilégio da isenção de pagamento de taxas e de impostos sobre os salários que receberem pelos serviços prestados e estão isentos do seguro social. Os criados particulares que não sejam nacionais do Estado recep- tor estão isentos de impostos e taxas sobre os seus salários e só gozam de 84 Os membros do pessoal de serviço são, entre outros, “os empregados no serviço doméstico da missão (como mordomos, criados, cozinheiros, jardineiros, etc.)” – cfr. CALVET DE MAGALHÃES, Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 94. 106 DIREITO DIPLOMÁTICO privilégios e imunidades se o Estado receptor lhes conceder tais prerroga- tivas. De qualquer forma, a jurisdição do Estado receptor sobre este pessoal deverá ser exercida por forma “a não interferir demasiadamente com o desempenho das funções da missão”, diz-nos o nº 4 do artigo 37º. Os membros do pessoal da missão e os criados particulares que sejam nacionais do Estado receptor “gozarão apenas dos privilégios e imunidades que lhes forem reconhecidos pelo referido Estado”, impondo-se a este Estado a obrigação de exercer a jurisdição sobre esse pessoal nos termos acima referidos – cfr. o nº 2 do artigo 38º. 3.10. Deveres dos outros membros do pessoal da Missão Estes membros estão sujeitos a todos os deveres de que falámos quando nos referimos aos Agentes Diplomáticos, pelo que remetemos para essa parte do nosso estudo. No caso de violarem os deveres gerais de conduta e os espe- ciais acima referidos, estes membros do pessoal da Missão para além de outras sanções que eventualmente lhes possam ser aplicadas estão sujeitos às mesmas consequências (ou sanções) a que nos referimos atrás. Só que este pessoal não pode ser declarado persona non grata, dado que a Convenção relativamente a esta categoria fala de pessoa não aceitável, o que, em última análise, mais não é do que mera alteração de terminologia. Na verdade, os efeitos práticos a nível indivi- dual da declaração de persona non grata e de pessoa não aceitável são os mesmos. 107colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3.11. A imunidade do Estado Pode parecer estranho vir agora falar da imunidade do Estado85 depois de tudo o que acabámos de dizer sobre as imunidades e privilé- gios. Contudo, a questão é pertinente visto que por vezes se levanta o problema de saber se num dado processo um Estado pode ou não ser parte, entendendo-se aqui por Estado não só o Governo, mas também a própria Administração desse Estado. Por outro lado, hoje, a multiplicação das actividades estatais e a intervenção cada vez mais forte dos Estados na economia põe o proble- ma de distinguir os actos estatais praticados jure imperii e aqueles que são praticados jure gestionis, distinção importante para se determinar em que qualidade o Estado age ou pratica certos actos e, conse- quentemente, para se poder saber se é ou não de conceder imunidade jurisdicional. É no quadro desta distinção que os Tribunais terão de decidir se, num dado processo judicial, o Estado goza ou não, nesse caso concreto de imunidade. Por essa razão, certos autores como IAN BROWNLIE, defendem que essa imunidade assenta no princípio par in parem non habet jurisdictionem e no princípio da não ingerência, pelo que, na opinião desse autor, essa imunidade, em última análise, reconduz à questão da “não justiciabilidade”, ou seja a de o Tribunal nacional não ter competência para julgar umEstado86. Relativamente aos actos praticados jure imperii, pensamos, que nenhuma dúvida se levanta no reconhecimento da imunidade do Esta- 85 Sobre esta questão veja-se EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho Diplo- mático y Consular, cit.º, p.ª 259 e segs., onde trata esta imunidade sob o ponto de vista do Status da Missão Diplomática e da imunidade de execução. Veja-se ainda MALCOM N. SHAW, International Law, Cambridge, 1991, p.ª430 e segs. , onde trata essa questão também com recurso à jurisprudência. 86 Cfr. IAN BROWNLIE, Princípios de Direito Internacional, cit.º p.ª 344e segs. 108 DIREITO DIPLOMÁTICO do, por este estar aqui a exercer o seu poder soberano, ou seja a agir como sujeito de Direito Internacional ao qual a Convenção de Viena de 1961 confere as imunidades jurisdicionais de que falámos. Já é diferente a situação do Estado quando ele se dedica a actividades económicas e comerciais em tudo idênticas àquelas que os particulares exercem ou, para empregar a expressão utilizada por BRIERLY, activida- des de “carácter privado”. Nestes casos, embora a doutrina e a jurispru- dência internacionais não sejam ainda unânimes e a prática dos Estados seja divergente, podemos dizer que é crescente a tendência de não se considerar cobertos pelas imunidades os actos comerciais dos Estados quando tenham um “carácter privado”. Com efeito, os Tribunais, embora reconhecendo que os actos são públicos por terem sido praticados por um Estado, entendem, contudo, que tais actos não se enquadram nas actividades soberanas típicas de qualquer Estado. Daí que a jurisprudência comece a ser no sentido de não considerar tais actos praticados jure gestionis coberto pelas imunidades. Para fundamentarem tal orientação os Tribunais defendem a tese segundo a qual o Estado ao celebrar contratos com particulares – por exemplo, contratos de transporte marítimo, aéreo ou ferroviário – não está a praticar qualquer acto soberano, pelo que, implicitamente, nesses casos, renuncia às imunidades. Faz-se notar que por não existir qualquer norma internacional reguladora desta matéria87, têm sido os Tribunais que, no uso 87 Sob os auspícios do Conselho da Europa surgiu a Convenção Europeia sobre a Imunidade dos Estados, cujo objectivo é estabelecer, nas relações entre os Estados, regras comuns relativas à amplitude da imunidade de jurisdição de que goza um Estado junto de um tribunal de outro Estado e tendentes a assegurar a execução das decisões judiciais proferidas contra um Estado. Esta Convenção, já ratificada por vários Estados europeus, consagra os princípios acima enunciados. As suas normas foram já aplicadas por tribunais suíços, como se pode ver no estudo de MATHIAS-CHARLES KRAFFT, La Convention Europeénne sur l’Imunité des États, in Scheizerisches Jahrbuch für Internationales Recht, vol. XLII, 1986, pág. 16 e seguintes. 109colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA da sua liberdade de decidir, tem vindo a resolver essa questão, restringindo, nesses casos, com as suas decisões, a concessão de imunidades. Os Estados gozam, ainda, de imunidades relativamente a bens de que sejam proprietários ou possuidores, como já tivemos a ocasião de ver quando estudámos as imunidades do local da Missão. Limitamo-nos aqui a acrescentar que essa imunidade se estende a quaisquer bens de que o Estado seja proprietário ou possuidor e que pode ser invocada em qual- quer processo que tenha por objecto privá-lo do gozo de bens ou direi- tos88. 3.12. Funções da Missão Diplomática A Missão Diplomática, tradicionalmente, tem como finalidade última a defesa dos interesses nacionais. Esta finalidade genérica, que podere- mos designar de função geral da Missão89, leva a que o Agente Diplomá- tico, em especial o Chefe da Missão, deva conhecer o mais profundamente possível, o país – ou, se quisermos ser mais explícitos, a situação económi- ca, política, social e cultural do país – onde exerce as suas funções. Tradicionalmente, a principal função da Missão era a negociação, pois o Chefe da Missão era o intermediário em todas as negociações entre o seu Estado e o Estado receptor, cabendo-lhe, portanto, a função de negociar os Tratados de paz, de comércio, navegação, as convenções postais, monetá- rias etc. Hoje, contudo, as relações entre os Estados são mais complexas e variadas, abrangendo distintos sectores da vida, o que gera novas neces- sidades e provoca um considerável alargamento da função da Missão. Na 88 Sobre a controvérsia sobre o fundamento e o âmbito dessa imunidade, veja-se, IAN BROWNLIE, Princípios de Direito Internacional, cit.º, p.ª 346 e segs. 89 Para maior desenvolvimento, veja-se EDUARDO VILARIÑO PINTOS, Curso de Derecho Diplomático y Consular, cit.º, p.ª 137 e segs. . 110 DIREITO DIPLOMÁTICO verdade, hoje, a Missão tem por função não só negociar, como também representar, proteger, informar e promover o seu Estado junto do Estado receptor. Deste modo podemos dizer que actualmente as funções da Missão são as seguintes: a) A de representar o seu Estado junto do Estado receptor; b) A de proteger os interesses do seu Estado e dos nacionais deste no território do Estado receptor, protecção que não deverá exceder os limites impostos pelo direito internacional; c) A de negociar com o Governo do Estado receptor; d) A de informar o seu Estado sobre todos os assuntos que tenham relevância para a defesa dos interesses deste. Esta função deve ser exercida através de meios legítimos90. e) A de promover as relações amistosas entre o Estado de envio e o receptor e a incrementação das relações comerciais, económicas, culturais, científicas, técnicas e outras de interesse para os dois Estados. Estas cinco funções encontram-se consagradas pelo artigo 3º da Convenção que as indica como funções da Missão. A enumeração das funções feita neste artigo é meramente exemplificativa, pelo que a Missão pode ter outras funções, desde que do exercício delas não resulte violação das normas e princípios do Direito Internacional. Faz-se notar, ainda, que o artigo 3º não pretende hierarquizar a importância das funções, limitan- do-se a enumerá-las de uma forma que nem sequer tem em conta a maior ou menor importância de cada função. Como resulta do nº 2 do artigo 3º a Missão tem também uma função consular, a qual pela sua especificidade será objecto de estudo noutro lugar. 90 Para maior desenvolvimento, veja-se, entre outros, CALVET DE MAGALHÃES Manual de Direito Diplomático, cit.º, p.ª 22 e segs. e, ainda, PHILIPPE CAHIER, Le Droit Diplomatique, cit.º p.ª 131 e segs. 111colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3.13. Retirada da Missão A) A retirada da Missão91 pode ser motivada por diversas razões de entre as quais a ruptura das relações diplomáticas. Na verdade, um Estado pode retirar a sua Missão do território de outro por razões de ordem económica ou política sem que tal retirada signifique uma ruptura nas relações diplomáticas. Assim, podemos dizer que a retirada da Missão permanente não é sinónimo de ruptura das relações diplomáticas, apesar de ambas as situa- ções serem tratadas no mesmo artigo da Convenção – artigo 45º. Quere- mos com isto dizer que pode haver retirada da Missão por suspensão, supressão e por extinção desta. 1 – Suspensão da Missão A suspensão da Missão pode ser provocada por uma guerra de que resulte a ocupação do território do Estado onde ela se encontra sediada e a transferência do Governo do Estado ocupado para o território de um terceiro Estado. Neste caso, a Missão deixa de estar em condições de repre- sentar o seu Estado junto do Estado receptor, o que leva o Estado de envio a suspender temporária ou definitivamente a Missão, sem que esta suspen- são implique a ruptura das relações diplomáticas entre os dois Estados. 2 – Supressão da Missão A supressão da Missão Diplomática é normalmente provocada por razões económicas ou de escassez de pessoal e dela não resulta o corte de relações diplomáticas entre os dois Estados. Estas subsisteme são assegu- radas pela banda do Estado que suprimiu a sua Missão por um terceiro Estado ou através do múltiplo acreditamento. 91 Sobre esta matéria veja-se SILVESTRE PINHEIRO FERREIRA, Lições de Direito Diplo- mático, cit.º, p.ª 498 e segs.. 112 DIREITO DIPLOMÁTICO Nestes dois casos, a reinstalação da Missão não implica um novo acordo diplomático, nem se torna necessário novo acreditamento do Chefe da Missão, desde que, obviamente, no caso da supressão da Missão as relações sejam asseguradas pelo mecanismo do múltiplo acreditamento. 3 – Extinção da Missão A extinção resulta na generalidade dos casos, de uma ruptura das relações diplomáticas, da guerra, do não reconhecimento do Estado de envio pelo Estado receptor, da perda da personalidade jurídico-interna- cional do Estado de envio ou do receptor. Extingue-se, assim, a actividade da Missão, ou melhor, a Missão do Estado de envio junto do Estado receptor e a deste junto daquele são extintas. Os casos mais frequentes de extinção da Missão é o da ruptura das relações diplomáticas. Também nestes casos os efeitos são os mesmos, ou seja, é extinta a Missão do Estado que tomou a iniciativa de romper as relações diplomáticas, como também a Missão do outro Estado. É claro que no caso de ruptura, o restabelecimento das relações diplomáticas terá de ser feito por meio de um novo acordo. B) Exceptuando as diferenças acabadas de apontar, em todos estes casos a situação jurídica em que se colocam o Estado de envio e o receptor é a mesma. Com efeito nos termos do citado artigo 45º: “em caso de ruptura das relações diplomáticas entre dois Estados, ou se uma Missão é retirada definitiva ou temporariamente: a) O Estado acreditador está obrigado a respeitar e a proteger, mesmo em caso de conflito armado, os locais da missão, bem como os seus bens e arquivos; b) O Estado acreditante poderá confiar a guarda dos locais da missão, bem como dos seus bens e arquivos, a um terceiro Estado aceite pelo Estado acreditador; 113colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA c) O Estado acreditante poderá confiar a protecção de seus inte- resses e os dos seus nacionais a um terceiro Estado aceite pelo Estado acreditador”. Como resulta do artigo citado, ao Estado receptor, em todos os casos nele apontados, que abrangem a suspensão, a supressão e a ruptura das relações diplomáticas, são impostos deveres que ele não pode violar, mesmo em caso de conflito armado entre os dois Estados, com vista a proteger os bens, arquivos e documentos do Estado de envio, enquanto a este são concedidas faculdades com o objectivo de lhe permitir salvaguar- dar os seus interesses e o dos seus nacionais, bem como os seus bens, arquivos e documentos. 114 DIREITO DIPLOMÁTICO 115colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 4.1. Introdução A) De acordo com MARESCA, “les missions spéciales constituent, historiquement, l’origine de la diplomatie”, o que aliás, salientamos já na parte relativa à evolução histórica da diplomacia e do Direito Diplomático. Contudo, com a diplomacia permanente, embora não tivesse perdido a sua influência e importância nas relações internacionais, continuou a ser regulada pelo costume, pois nenhuma preocupação codificadora foi reve- lada pela sociedade internacional até 196092. De facto, em 1960, a Comissão do Direito Internacional ocupou-se de diplomacia ad hoc, mas a falta de tempo não lhe permitiu um estudo profundo desta questão. De qualquer forma, nessa altura a Comissão procurou definir este tipo de diplomacia, dizendo que por missão espe- cial se devia entender uma missão oficial de representantes de um Estado enviados por este para o território de outro para aí realizar uma tarefa especial. Este conceito de missão especial defendido pela Comissão assentava na ideia que ela fazia da diplomacia ad hoc. Na verdade, para a Comissão esta diplomacia mais não era do que uma das formas de que se podia revestir as relações entre os Estados, na qual se integravam os enviados itinerantes, os enviados às conferências interna- cionais e, finalmente, as missões especiais. Missões Especiais Capítulo IV 92 Cfr. GERALDO NASCIMENTO SILVA, Les Relations Diplomatiques et Consulaire,in Droit International. Bilan et Perspective, (Mohammed BEDJAOUI, Redacteur Générale) Tomo 1, Ed. Pedone, Paris, 1997, p.ª 462 116 DIREITO DIPLOMÁTICO A Conferência de Viena de 1961, apesar de não se ter ocupado na especialidade desta questão, limitando-se a fazer declarações gerais sobre este tipo de diplomacia, não deixou de reconhecer a sua importância para as relações entre os Estados93. Só mais tarde, em 1969, é que a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou a Convenção de Nova York sobre as Missões Especiais, estabelecendo-se, assim, o regime jurídico-internacio- nal dessas Missões. Nesta Convenção a Missão Especial é definida logo no artigo 1º, nos seguintes termos: “Missão especial é uma missão temporária, representando um Estado, enviada por um Estado a outro com o consentimento deste último, para tratar de questões específicas ou desempenhar determinadas tarefas”. Como pode ver-se, quer neste conceito, quer naquele outro defendi- do pela Comissão, a tónica dominante característica de toda e qualquer missão especial é a de que o membro da missão é um representante de um Estado mandatado para tratar de questões ou de tarefas específicas. Aliás, parece-nos que este aspecto foi historicamente o que sempre carac- terizou este tipo de missão94. B) Face a este conceito de Missão Especial adoptado pelo artigo 1º da Convenção de Nova York de 1969 – a partir de agora denominada Conven- ção de 1969 – importa ver quais as espécies de Missões Especiais que ele comporta. Entendemos que, atenta a amplitude da definição consagrada pelo referido artigo 1º, as quatro categorias de Missões Especiais indicadas por PHILIPPE CAHIER (1964: 362 e seg.s) constituem as espécies de Missões que aquele artigo prevê, e que são as seguintes: 93 Importância que a Conferência de Havana de 1928 já tinha revelado quando adoptou a Convenção de Havana do mesmo ano, na qual se estabelecia que as suas disposições eram aplicáveis aos agentes diplomáticos extraordinários e às missões espe- ciais, criando, assim, o primeiro precedente sobre esta matéria. 94 Sobre a Missão Especial e para maior desenvolvimento, veja-se, EDUARDO VILARIÑOS PINTOS, Curso de Derecho Diplomático y Consular, cit.º, p.ª 147 e segs. 117colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 1. Representações temporárias ou permanentes instaladas por um Estado no território de um outro para tratar de assuntos específicos. Assim, por exemplo, as Representações comerciais ou culturais. 2. As Missões Especiais constituídas por delegações compostas por várias pessoas, quer para representar o Estado numa cerimónia, quer para negociar tratados ou acordos, quer, ainda, para discutir uma questão concreta. 3. Funcionários pertencentes a qualquer ramo da Administração Pública de um Estado enviados por este para outro Estado para discutir uma questão de interesse comum aos dois Estados. 4. Delegados de um Estado a uma Conferência Internacional95. A estas quatro categorias de Missões Especiais apresentadas por PHILIPPE CAHIER pode, ainda, acrescentar-se uma outra, a dos enviados itinerantes, que pode constituir uma Missão formada por um único repre- sentante de um dado Estado, como uma delegação composta por várias pessoas. Todas estas categorias integram a chamada diplomacia ad hoc, que é o género de onde emergem as mais variadas espécies de Missões Especiais. É claro que estas quatro categorias não recobrem necessaria- mente todas as espécies de Missões Especiais, dado que a ideia de Missão Especial é demasiado ampla e assume uma infinidade de formas. Em nossa opinião, o essencial para caracterizar uma Missão Especial é que o Estado de envio lhe atribua essa natureza, mandatando-a para realizar uma tarefa específica, e que o Estado receptor consinta ou admita o estatuto atribuído à Missão,pois não é a duração desta que serve de critério para aferir a natureza ou não de diplomacia ad hoc da Missão96. 95 Para maior desenvolvimento, veja-se PHILIPPE CAHIER, Le Droit Diplomatique, Ed. Librairie Droz, Paris, 1964, p.ª 364 e seg.s. Veja-se, ainda, GERALDO NASCIMENTO SILVA, Les Relations Diplomatiques et Consulaire,in Droit International. Bilan et Perspective, (Mohammed BEDJAOUI, Redacteur Générale) Tomo 1, Ed. Pedone, Paris, 1997, p.ª 462. 96 É que, na verdade, pode haver missões especiais de natureza permanente ou, pelo menos, de longa duração, como acontece com as missões comerciais, por exemplo. 118 DIREITO DIPLOMÁTICO C) Importa dizer que o envio ou a recepção de Missões Especiais não está condicionada à existência de relações diplomáticas entre os Estados. Com efeito, nos termos do artigo 2º: “A existência de relações diplomáticas ou consulares, não é neces- sária para o envio ou a recepção de uma missão especial”. Significa isto que os Estados, mesmo que não tenham relações diplo- máticas ou consulares podem acordar, por qualquer via o envio e a recepção de Missões Especiais – cfr. o artigo 2º da Convenção de 1969. Esta disposição consagra, portanto, uma enorme abertura em relação a estas Missões, precisamente porque o Direito Internacional reconhece a enorme importância delas na resolução pacífica dos conflitos internacionais, e a sua potencialidade de gerar as relações entre os Estados. É que, efectivamente, muitas vezes os Estados utilizam essas Missões quer para resolver os seus ou certos conflitos internacionais ou, ainda, para prepararem as condições necessárias para o estabelecimento ou reatamento de relações diplomáticas. Daí a necessidade sentida de criar um regime jurídico suficientemente flexível capaz de permitir a realização dos objectivos dessas Missões. 4.2. Funções da Missão Especial Nos termos do artigo 2º da Convenção de 1969 “As funções de uma missão especial serão definidas por mútuo acordo entre o Estado que a envia e o Estado receptor”. A Convenção deixa aos Estados interessa- dos a tarefa de definir as funções da Missão Especial, o que se compre- ende se nos lembrarmos que estas Missões, pela sua natureza, podem ter de prosseguir os mais variados fins, não sendo, portanto, possível estabelecer, à partida, nem mesmo sob a forma exemplificativa, as suas funções. 119colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Entendemos que qualquer tentativa no sentido de enumerar as funções destas Missões teria como consequência frustar os objectivos que elas visam alcançar e a própria razão de ser das Missões Especiais. Assim, a Convenção de 1969 ao deixar ao critério dos Estados a definição das funções das Missões Especiais adoptou a atitude que, em nossa opinião, é a mais correcta, respeitando, deste modo, a natureza dessas Missões. 4.3. Designação dos Membros da Missão A Convenção de New York de 1969 estabelece no seu artigo 8º a liberdade de designação dos membros das missões especiais, condicionando-a somente à prévia informação ao Estado receptor do número de membros e da composição da missão especial, nomeadamente os nomes e categorias das pessoas que pretende desig- nar. Faz-se notar que aqui, em nossa opinião, dada a especial natureza da missão, os membros desta não necessitam de ser nomeados pelo Estado de envio, bastando a escolha e a indigitação das personalidades que irão integrar a missão. Acresce, por outro lado, que a informação prévia dos nomes e categorias dos membros da missão não tem como objectivo, tal como acontece na designação dos membros do pessoal diplomático das missões permanentes, a obtenção do agrément por parte do Estado recep- tor, mas somente dar-lhe a conhecer o nome e a categoria das personali- dades designadas para integrarem a missão e o número de membros desta97. É claro que, o Estado receptor pode, sem necessidade de qualquer justificação, “recusar a receber qualquer pessoa como membro da missão 97 Cfr. PHILIPPE CAHIER Le Droit Diplomatique, cit.º, p.ª 368. 120 DIREITO DIPLOMÁTICO especial” – artº 8º, nº 3 –, o que é a consagração do princípio de que já falámos, segundo o qual nenhum Estado pode impor (ou exigir) a outro a recepção no seu território de pessoas – ou representantes – que este, por razões várias, não queira receber. 4.4. Composição da Missão Especial “A missão especial pode ser constituída por um ou mais represen- tantes do Estado que envia, de entre os quais pode ser designado um Chefe” (artigo 9º , nº 1 da Convenção de New York). Entre esses representantes podem ser incluídos pessoal diplomáti- co, administrativo e técnico, bem como pessoal auxiliar – nº 2 do arti- go 9º. Como pode ver-se a Convenção admite que a missão especial possa ser constituída por um único membro, o que permite o envio de agentes para, durante um certo período de tempo, tratar de certos assuntos, como acontece, por exemplo, com o envio de um funcionário de um Estado para tratar com um colega seu de outro Estado um assunto concreto. Obvia- mente que nestes casos ao funcionário deverá ser concedido pelo seu Estado uma categoria diplomática especial, devendo este facto ser comu- nicado ao Estado receptor, para que este lhe possa assegurar os privilégios e imunidades, numa palavra, um estatuto privilegiado compatível com as funções que ele vai exercer. Por outro lado, as missões especiais nos termos do artigo 9º poderão ter uma composição mais complexa, nela incluindo pessoal diplomático, técnico, administrativo e auxiliar. Estas missões mais complexas, em nossa opinião, tanto podem ter como objectivo a realização de uma tarefa específica e de curta duração – negociar ou celebrar um tratado, por exemplo –, como uma actividade complexa e temporariamente longa – 121colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA como acontece com missões comerciais –, e são chefiadas por uma perso- nalidade previamente designada e indicada ao Estado receptor, que lhe deverá conceder os privilégios, imunidades e facilidades atribuídos pelo direito internacional aos Chefes de Estado em visita oficial – artigo 21º da Convenção. 4.5. Nacionalidades dos Membros da Missão Especial O princípio regra estabelecido pelo artigo 10º é o de que os membros da missão deverão ter a nacionalidade do Estado que os envia. Tal princípio tem, tal como acontece nas missões permanentes, excepções. Na verdade, nas missões especiais podem ser integradas pessoas com a nacionalidade do Estado receptor, mas nesse caso, a designação dessas pessoas deve ser feita depois de este último Estado ter dado o seu consentimento, o qual poderá ser retirado a qualquer momento – cfr. o artigo 10º, nº 2. Por outro lado, nacionais de um terceiro Estado poderão integrar missões especiais do Estado de envio. Nesses casos, o Estado receptor poderá não só exigir que lhe seja solicitado prévio consentimen- to, como ainda, poderá a qualquer altura retirar esse consentimento – cfr. nº 3 do citado artigo 10º. Como pode ver-se, a questão da nacionalidade tem na Convenção de New York um tratamento semelhante àquele que a Convenção de Viena dá para a nacionalidade dos membros das missões permanentes. Constituída a Missão especial, o envio desta para o território do Estado receptor deverá ser previamente notificada a este. Como sabe- mos já, a notificação é um acto unilateral. Assim, através desse acto o Estado de envio deverá comunicar ao Estado receptor, qual a consti- tuição da missão, a data da sua chegada e saída do território deste último Estado, o local onde ficarão instalados os seus membros e a residência particular destes, a designação do Chefe da Missão, o pessoal 122 DIREITO DIPLOMÁTICO residente no Estado receptor que contrataram para trabalharem para a missão, etc. – cfr. artigo 11º. É claro que todos estes actos ou factos não são notificados de uma única vez, ou ao mesmo tempo, ao Estado receptor, dado que alguns deles terão de ser praticados depois da instala- ção da Missão, enquanto outros são conhecidosmesmo antes da partida para o território do Estado receptor. Estes últimos deverão ser notificados com antecedência – caso da chegada, da constituição da Missão, da designação do Chefe desta –, enquanto que os primeiros – caso da contratação e despedimento de pessoal residente no território do Estado receptor, localização das instalações da Missão e residência particular dos seus membros, algumas vezes só conhecidos depois da chegada da Mis- são – deverão ser notificados depois da chegada desta e logo que tenham ocorrido. Todas as notificações deverão ser feitas ao Ministério dos Negócios Estrangeiros do Estado receptor ou outro departamento deste Estado, desde que assim seja acordado – cfr. artigo 11º, nº 1. 4.6. Sede da Missão Especial A Sede da Missão Especial deverá ser num local escolhido por acordo entre os Estados, e à falta deste, a Missão deverá sediar-se na localidade onde o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Estado recep- tor tiver a sua sede – artigo 17º da Convenção de New York. Contudo, nos termos do citado artigo, se a Missão exercer as suas funções em diversas localidades, os respectivos Estados poderão concordar na existência de várias sedes, uma das quais poderá ser escolhida como sede principal. Nos termos desta disposição legal a regra é a de que a sede da Missão deverá ser escolhida por acordo. Na falta deste, funcionará a regra geral segundo a qual a Missão deverá situar-se na cidade onde se encontra sediado o governo do Estado receptor, pois, normalmente, é nessa 123colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA cidade que se localiza o Ministério dos Negócios Estrangeiros desse Governo. 4.7. Início das Funções da Missão Atendendo à natureza dessas missões, a Convenção de New York não exige que a Missão inicie as suas funções com a apresentação de cartas credenciais ou de plenos poderes, mas somente que entre em contacto com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Estado receptor ou com outro Departamento deste Estado previamente escolhido por acordo – cfr. artigo 13º. Com esta disposição a Convenção pretende facilitar e simplifi- car os trâmites necessários ao início da função da Missão, reduzindo-os às formalidades mínimas necessárias para o efeito. Entendemos, contudo, que o contacto oficial com o Ministério dos Negócios Estrangeiros a que se refere o artigo 13º não pode redu- zir-se à simples notificação da chegada, mas terá de ser um contacto efectivo entre os membros da missão ou entre o seu Chefe e aquele Ministério ou o Departamento escolhido, por acordo, para o efeito. Tal contacto, regra geral, inicia-se com a recepção da Missão por um Representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Esta- do receptor, seguido de um encontro entre o Chefe da Missão e a autoridade designada por aquele Ministério para representar o Estado receptor. 4.8. Órgão do estado receptor competente para tratar dos assuntos oficiais Nos termos do artigo 15º da Convenção “Todos os assuntos oficiais com o Estado receptor confiados pelo Estado que envia a missão serão 124 DIREITO DIPLOMÁTICO tratados com ou através do Ministério dos Negócios Estrangeiros ou outro Departamento do Estado receptor, conforme o acordado”. Significa isso que a Missão deverá dirigir-se sempre a esses órgãos para tratar qual- quer assunto oficial, devendo sempre evitar a violação dessa regra, por forma a não provocar a descoordenação e a confusão nas relações oficiais entre os Estados. Tal como acontece com a Convenção de Viena de 1961, a Convenção de New York quis consagrar de forma clara e inequívoca essa regra, precisamente porque o Direito Internacional confere ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e ao seu Ministro um estatuto especial, posto que internacionalmente aquele Ministro é considerado como o representante do seu Estado nos assuntos internacionais, e o seu Ministério, o órgão estatal competente para executar e coordenar toda a política externa do Estado. 4.9. Prerrogativas da Missão e dos Membros da Missão Relativamente aos privilégios, imunidades e facilidades que devem ser concedidos à Missão Especial podemos dizer que a Convenção de New York seguiu de perto as normas da Convenção de Viena de 1961, pelo que remetemos para o estudo que fizemos desta matéria a propósito das missões permanentes. Obviamente que a Convenção de New York não podia perder de vista a natureza especial dessas missões, pelo que a concessão de prerrogativas tem em conta esta natureza e a própria duração das funções da Missão, delas fazendo depender, em muitos casos, a extensão das prerrogativas a conceder à Missão e aos seus membros. 125colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 4.10. Termo das funções da Missão Especial As funções da Missão Especial cessam quando os seus objectivos são alcançados, por acordo entre os Estados, por acto unilateral dos Estados ou pelo decurso do prazo acordado – cfr. artigo 20º. Estabelece assim a Convenção de New York os diversos momentos em que terminam ou cessam as funções da Missão, tendo em conta não só a sua especial natureza e duração como os interesses dos Estados. É, portan- to, ampla a possibilidade de fazer cessar as funções de uma Missão Especial, pelo que qualquer dos Estados pode por acto unilateral dar por terminadas as funções da Missão. Contudo, faz-se notar, que o corte de relações diplomáticas não constitui motivo para a cessação dessas Mis- sões – nº 2 do artigo 20º –, o que se compreende. 126 DIREITO DIPLOMÁTICO 127colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 5.1. Introdução A) A doutrina contemporânea, diz-nos CHARLES ROUSSEAU, enten- de por Organizações Internacionais, as colectividades compostas de Esta- dos que são criadas por via convencional para prosseguirem fins comuns por meio de órgãos que lhes são próprios e através de uma vontade juridicamente distinta da dos Estados membros e superior à destes Esta- dos. Trata-se, portanto, de entidades jurídico-internacionais, criadas por Estados, com uma vontade autónoma expressa por órgãos próprios e permanentes e que prosseguem certos fins previamente estabelecidos. Desta ideia de Organizações Internacionais resultam duas características essenciais desses entes jurídico-internacionais, a saber: 1. A primeira é a de que elas são criadas por Estados através de Tratados, nos quais estão previstos os seus fins, os seus órgãos, as suas atribuições e competências; 2. A segunda, é a de que elas exercem as suas actividades ou prosse- guem os seus fins através de órgãos permanentes que exprimem a vontade própria e distinta dos seus membros. B) Dotadas de personalidade e de capacidade jurídico-internacional, as Organizações Internacionais estão aptas a exercer as suas actividades, estabelecendo relações (internacionais) com Estados e com outras Orga- nizações Internacionais, relações que obviamente são regulamentadas pelo Direito Internacional. Relações Diplomáticas e Organizações Internacionais Capítulo V 128 DIREITO DIPLOMÁTICO No quadro dessas relações, as Organizações Internacionais terão de resolver os inúmeros problemas com os seus parceiros através de meios pacíficos o que as obriga a ter de definir previamente as políticas que deverão adoptar em cada caso. Significa tudo isto que as Organizações Internacionais têm de definir e de conduzir uma política externa, utilizan- do os meios (pacíficos) que estão ao seu alcance e negociando com outros sujeitos do Direito Internacional – maxime os Estados e outras Organiza- ções Internacionais. Podemos, assim, dizer que esta actividade das Organizações Interna- cionais gera a necessidade da diplomacia ou seja da criação de uma diplomacia própria e, nessa medida, autónoma da dos seus membros. Esta diplomacia não pode deixar de estar submetida às regras do Direito Diplomático, sendo certo, contudo, que, por vezes, se tornam necessárias regras específicas, dado que a diplomacia das Organizações não é absolu- tamente coincidente com a diplomacia tradicional dos Estados. C) Mas, secada Organização Internacional cria um sistema diplomá- tico capaz de lhe permitir relacionar-se com os Estados e outras Organiza- ções, tal sistema tem de ser estruturado por forma a poder responder à acção diplomática dos Estados e de outras Organizações no seio delas. Queremos com isto dizer que há também a diplomacia dos Estados – por vezes intensa, como acontece, por exemplo na ONU – junto das Organiza- ções e que cada Organização desenvolve junto das outras uma actividade diplomática. Em todos esses casos, a diplomacia tem em vista levar a Organização a adoptar o ponto de vista dos Estados, pressionando-os neste ou naquele sentido – caso da diplomacia dos Estados junto da Organização Internaci- onal –, levar os Estados membros da Organização a assumir a defesa de certas posições de um dado Estado (membros ou não da organização) – diplomacia dos Estados junto dos Estados membros da Organização e outras organizações a aceitarem as (ou a participarem nas) políticas delineadas pela Organização com vista à prossecução dos seus fins – 129colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA diplomacia das Organizações junto dos Estados ou de outras Organiza- ções. D) Precisamente porque as Organizações Internacionais são sujeitos do Direito Internacional com uma diplomacia própria e com certo grau de especificidade relativamente à diplomacia tradicional, a Comissão do Direi- to Internacional (CDI) em 1963 começou a examinar a questão das relações entre os Estados e as Organizações Internacionais ou entre estas últimas. Contudo, a tarefa não era fácil, por várias razões. Desde logo, porque se levantaram certas dificuldades em equiparar as relações entre os Esta- dos e entre estes e as Organizações; a seguir, porque a questão de direito de legação das Organizações revestia-se de certas particularidades um tanto melindrosas dado que punha problemas – em especial no que se referia ao “direito de legação passivo” das Organizações – de várias espé- cies; finalmente, a velha questão da soberania reaparecia para causar algumas dificuldades a um sujeito do Direito Internacional que não podia ser verdadeiramente considerado como um ente soberano no sentido clássico dessa expressão. São, portanto, estas questões relativas à soberania e ao direito de legação que vão criar algumas dificuldades, pois delas dependeria a resolução dos problemas relativos ao direito de legação – “activo e passi- vo” – e aos privilégios e imunidades, que, como sabemos, são as pedras angulares de todo o direito diplomático. Por essas razões, a C.D.I. decidiu numa primeira fase conduzir os seus trabalhos por forma a resolver a questão da representação dos Estados junto das Organizações, de que resultou a Convenção de Viena de 14 de Março de 1975 – a partir de agora designada por Convenção de 75. Ficou, assim, por regulamentar, unicamente, a questão da representação das Organizações Internacionais junto dos Estados e de outras organizações. Contudo, como estas representações podem ter um carácter permanente ou de missão especial, podemos dizer que o problema poderá ter duas soluções distintas. 130 DIREITO DIPLOMÁTICO 5.2. Representação das Organizações Internacionais junto dos Estados e de outras Organizações Internacionais Relativamente às missões especiais das Organizações, normalmente constituídas pelos seus representantes ou funcionários internacionais, somos de opinião que, neste caso, são aplicáveis a estas missões as regras da diplomacia ad hoc de que já falamos. No que se refere às missões permanentes das Organizações junto dos Estados, elas são raras, e, normalmente são criadas pela Organização junto dos seus próprios membros, para no território destes desenvolver certas actividades específicas, – nomeadamente as de coordenação, infor- mação, representação, etc.. O estatuto dessas missões, regra geral, é fixado por convenção, onde são reguladas as questões relativas ao agrément, privilégios e imunidades, etc, ou por acordos especiais que lhes atribui estatuto semelhante ao dos diplomatas ou, ainda, por lei interna, como acontece, por exemplo, com a delegação permanente da União Europeia nos Estados Unidos da América, à qual foi atribuída um estatuto idêntico ao dos diplomatas. Em todos esses casos, o princípio rector dessas Convenções, Acordos ou leis internas, é o da especialidade da Organização. 5.3. Delegações ou Missões Permanentes A) As relações diplomáticas entre as Organizações Internacionais e os Estados são estabelecidas através de delegações permanentes ou de repre- sentantes dos Estados junto das Organizações; por outro lado, tais relações também são estabelecidas através do envio de missões temporárias com- postas por funcionários ou peritos das Organizações para o território dos Estados ou para a sede ou delegação de outras Organizações. Raramente as Organizações Internacionais enviam delegações permanentes para territó- rio dos Estados ou para a sede ou delegações de outras Organizações. 131colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA De qualquer forma, no exercício da sua actividade diplomática, qual- quer que seja a forma de que esta se revista, as Organizações agem, em especial relativamente às delegações permanentes dos Estados, como os Estados nas suas relações com as missões diplomáticas de outros Estados. B) As missões permanentes dos Estados junto das Organizações Internacionais tiveram uma evolução paralela à destas Organizações. Sur- gem nos primeiros anos de existência da Sociedade das Nações e vão-se desenvolvendo a pouco e pouco até à Segunda Guerra Mundial, momento a partir do qual se multiplicaram aceleradamente. No início, precisamente porque não se previa a necessidade de uma legação permanente dos Estados junto das Organizações (legação dos Estados que era, normalmente, constituída por representantes dos Esta- dos junto das Organizações enviadas especialmente para as reuniões destas), o estatuto dessas delegações praticamente era inexistente. A partir do momento em que os Estados começam a sentir a necessidade de criar missões permanentes junto das Organizações – na altura essencial- mente junto da S.D.N. – e em que se começa a multiplicar o número dessas missões e das Organizações, o seu estatuto começa a ser melhor definido. É claro que tal estatuto não era fixado nos Tratados constitutivos das Organizações, mas essencialmente nos “Accords de Siége”, para usarmos a expressão francesa, onde a questão dos privilégios e imunidades eram regulamentados. É no quadro dessa evolução, iniciada com a criação da S.D.N. e desenvolvida com o aparecimento da O.N.U. e com a criação por esta Organização de instituições especializadas, que a Convenção de 75 vem regulamentar de forma mais aperfeiçoada o estatuto dessas missões. A Convenção de 75 estabelece, assim, regras sobre a representação dos Estados junto das Organizações, sendo, contudo, omissa quanto à questão da representação das Organizações junto dos Estados ou de outras Organizações, como já tivemos a oportunidade de ver. 132 DIREITO DIPLOMÁTICO 5.4. Representação dos Estados junto das Organizações Internacionais A) A Convenção de 75 começa por distinguir as missões permanentes das delegações enviadas para os órgãos das Organizações ou para as Conferências sob os auspícios destas. Na opinião de NGUYEN QUOC DINH “si cette distinction n’est pas discutée, les régles prévues sont en revanche trés controversées et l’alignement sur les régles retenues pour les Conventions de 1961 sur les relations diplomatiques (pour les missions permanentes) et de 1969 sur les missions spéciales (pour les delegations) a étè contesté, d’autant plus que, lorsqu’il y a difference, c’est pour alourdir les obligations des États hötes et diminuer leur pouvoir de controle” (1987: 667). Relativamente às missões permanentes, o artigo 5º da Conven- ção de 75 reconheceu aos Estados membros o direito de estabelecer junto das Organizações, missões permanentes, enquanto aos Estados não membrosé atribuída a faculdade de enviarem missões permanentes de observadores, desde que sejam admitidas pelas regras da Organização. O estatuto dessas missões e dos seus membros é, de uma forma geral, idêntico ao das missões e dos Agentes Diplomáticos, embora adaptado, obviamente, à especificidade própria dessas missões, à necessidade de salvaguardar os interesses do Estado hospedeiro da Organização, ao ca- rácter não soberano das Organizações Internacionais. Em conformidade com essa especificidade do estatuto das missões permanentes existem algumas diferenças entre este estatuto e o das missões e Agentes Diplomáticos, como passamos a demonstrar sucinta- mente. B) Assim, no que se refere ao Chefe da Missão as especificidades são as seguintes: 133colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 1 – Nomeação do Chefe da Missão Nos termos do artigo 9º da Convenção de 75 a nomeação do Chefe da Missão é feita livremente, não estando sujeita ao prévio agrément das Organizações. A única condição estabelecida para tal nomeação é a de o Chefe da Missão ter, em princípio, a nacionalidade do Estado de envio. 2 – Nacionalidade do Chefe da Missão O artigo 73º da Convenção de 75 estabelece que, em princípio, os Chefes da Missão deverão ter a nacionalidade do Estado de envio, e só com o consentimento do Estado hospedeiro poderão ter a nacionalidade deste. Este consentimento pode ser retirado a qualquer momento. 3 – Substituição do Chefe da Missão A Convenção de 75 é mais permissiva nesta matéria do que a Conven- ção de Viena de 61. Na verdade, nos termos do artigo 16º “Se o posto de Chefe da Missão vagar, ou se o Chefe da Missão estiver impedido de exercer as suas funções, o Estado de envio pode designar um chefe de missão interino cujo nome é notificado à Organização e por esta ao Estado hospedeiro”. Verifica-se, portanto, uma maior liberdade de designação do substitu- to do Chefe da Missão junto das Organizações Internacionais. C) No que se refere ao pessoal diplomático encontramos as seguin- tes especialidades: 1 – Nomeação do pessoal diplomático O pessoal diplomático é livremente nomeado, com a condição de não exceder a lotação da missão e de, no caso de terem a nacionalidade do Estado hospedeiro, ser necessário o prévio consentimento deste – artigo 9º, 14º e 73º da Convenção. 2 – Nacionalidade do pessoal diplomático A regra é a mesma que a Convenção de 75 estabelece para os Chefes da Missão – artigo 73º. 134 DIREITO DIPLOMÁTICO 5.5. Prerrogativas dos Membros da Missão: Imunidades e Pri- vilégios A) Quanto às imunidades e privilégios, a Convenção de 75 segue de perto as normas da Convenção de Viena de 61, embora atribua a tais prerrogativas um carácter eminentemente funcional. Regra geral, tais prerrogativas estão consagradas nos Acordos de Sediamento, limitando os Tratados constitutivos a referir-se a eles de uma forma genérica sem definir a sua extensão. Contudo, em certos aspectos, aquela Convenção estabelece regras específicas tendo em conta a natureza da missão e das Organizações Internacionais. Assim, no que se refere a: 1 – Inviolabilidade pessoal dos membros da missão A Convenção estabelece no seu artigo 28º a obrigação do Estado hospedeiro de adoptar as medidas necessárias para punir aqueles que atentarem contra os membros das missões ou a dignidade destes. 2 – Renúncia à imunidade de jurisdição Sobre esta questão a Convenção de 75, cria uma regra que não existe na Convenção de 61, ao estabelecer no seu artigo 5º que quando o Estado de envio não renunciar à imunidade de jurisdição de um seu agente diplomático, deverá “empregar todos os seus esforços para chegar a uma solução equitativa da questão”. Para além dessa recomendação dirigida ao Estado de envio, a Con- venção de 75 perceitua que, no caso de infracção grave e manifesta da legislação do Estado hospedeiro ou de ingerência grave e manifesta nos assuntos deste Estado por uma pessoa que beneficia de imunidade de jurisdição, deve o Estado de envio, sempre que não renuncie à imunidade de jurisdição, pôr fim às funções que o infractor exerce na missão ou garantir a sua saída do território do Estado hospedeiro. 135colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3 – Prerrogativas dos membros da família dos membros da Mis- são Aqui a Convenção de 75 estabelece regras mais restritivas, dado que no seu artigo 36º, nº 1, perceitua que os membros da família que vivam com o membro da missão gozam dos privilégios e imunidades a estes concedidos, excluindo a concessão dessas prerrogativas aos membros da família que tenham a nacionalidade do Estado hospedeiro ou que tenham residência permanente no território deste. B) Quanto aos outros membros da missão: pessoal administrativo, técnico e de serviço, as especialidades contidas na Convenção de 75 dizem respeito aos privilégios e imunidades dos membros da missão nacionais do Estado hospedeiro ou neste residentes. De facto, estes membros da missão só beneficiam de privilégios e imunidades relativa- mente aos actos oficiais praticados no exercício das suas funções na missão, podendo o Estado hospedeiro sobre eles exercer a sua jurisdição, embora de forma a não perturbar excessivamente o exercício das funções desta – Cfr. artigo 37º, nº 2. C) Importa finalmente dizer que outro aspecto que a Convenção de 75 regula de forma diferente da Convenção de 61 é o relativo ao de instituto de persona non grata. Com efeito, nesta Convenção não existe nenhum preceito que permi- ta ao Estado hospedeiro declarar como persona non grata um membro da missão. Na verdade, esses membros da missão não estão acreditados junto do Estado hospedeiro, mas sim da Organização, pelo que aquele Estado não tem legitimidade para produzir uma declaração de persona non grata relativamente a qualquer membro da missão. Mas, esse facto poderia causar graves inconvenientes, quer nas rela- ções entre o Estado hospedeiro e a Organização, quer entre aquele Estado e o de envio, pois é regra que nenhum Estado é obrigado a admitir no seu território uma pessoa que para ele é indesejável. Daí que a Convenção, 136 DIREITO DIPLOMÁTICO para obviar, de certo modo, a este inconveniente, tenha estabelecido que “nenhuma disposição do artigo 77º poderá ser interpretada como impedindo o Estado hospedeiro de tomar as medidas que são necessárias à sua própria protecção ...” – artigo 77º, nº 4. Com base nesta disposição, o Estado hospedeiro poderá tomar tais medidas, mas, previamente, deverá consul- tar o Estado de envio sobre a “maneira apropriada” de resolver a questão e, em caso de divergência de opinião, deverá ser seguido o processo de consultas e conciliação a que se referem os artigos 84º e 85º da Conven- ção. É claro que a Convenção deixa uma ampla margem de liberdade ao Estado hospedeiro, quando não explicita quais são as “medidas necessári- as”, o que permite a este Estado adoptar aquelas que entender adequadas. Estas medidas podem consistir, na opinião de CALVET DE MAGALHÃES, na fixação de um prazo para retirada do agente, na cessação das suas funções na missão e, no caso de não cumprimento, na retirada das prerrogativas diplomáticas do Agente. Para se evitar esses inconvenientes e os conflitos que poderão ser gerados por infracções cometidas pelos Agentes Diplomáticos do Estado de envio, este deve adoptar as medidas indicadas no nº 2 do artigo 77º, sempre que um agente seu, no exercício das suas funções, infrinja grave- mente as leis do Estado hospedeiro. Isto apesar de aquela disposição legal dizer apenas respeito às infracções praticadas pelos Agentes fora do exercício das suas funções. D) No que se refere à Missão, as diferenças entre a Convenção de 61 e a de 75 decorrem do facto de, em certas questões, ser necessária a intervenção do Estado hospedeiro no sentido de dar o seu consentimento para a prática de certos actos, como acontece com o de instalar a missão ou escritórios desta em local diferente da sede da Organização – artigo 18º da Convenção de 75 –,o de salvaguardar a segurança deste Estado – caso da lotação da missão –, o de garantir a inviolabilidade dos locais da missão – artigo 23º – e o de conceder à missão as facilidades necessárias para o desempenho das suas funções – artigo 20º. 137colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA E) Em tudo o resto, a Convenção de 75 segue de perto a de 61, sendo, portanto, idênticos os preceitos de uma e de outra, pelo que remetemos para o estudo que fizemos da Convenção de 61 a propósito das Missões Diplomáticas Permanentes. 5.6. A questão da sede das Organizações Internacionais As Organizações Internacionais não têm território, pelo que terão de estabelecer as suas sedes no território de um Estado membro, o que tem como consequência, a obrigação do Estado – conhecido na doutrina por Estado hospedeiro – de não entravar a actividade da Organização nele sediada, de permitir a instalação de missões permanentes e de delegações dos Estados membros ou não da Organização junto da sede desta, bem como de todas as pessoas convidadas a participar nos seus trabalhos. Tudo isto pode criar algumas dificuldades, pois nenhum Estado é obrigado a admitir no território pessoas por ele consideradas indesejáveis. Contudo, a regra é a de que o Estado hospedeiro não deve opor-se, senão em casos excepcionais, ao acesso à sede da Organização de pessoas por esta autorizadas a participar nos seus trabalhos, embora não seja obriga- do a conceder-lhes prerrogativas (privilégios e imunidades). É claro que a Organização só pode instalar a sua sede – ou delegações desta – no território de um Estado com o consentimento deste. Daí que a regra seja a de se celebrar previamente um acordo de sediamento da Organização, no qual se consagra não só a possibilidade de a Organização instalar a sua sede no território do Estado hospedeiro, como também o estatuto das missões, delegações e pessoas que terão de trabalhar na orga- nização – funcionários e outros. Precisamente porque a Organização tem a sua sede no território de um Estado é que o problema do direito de legação das Organizações Internacionais levanta algumas questões importantes. Com efeito, é preciso não esquecer que estas Organizações não são entes soberanos no sentido clássico do termo e não têm território próprio. 138 DIREITO DIPLOMÁTICO Estas duas características acabam por produzir efeitos pertinentes em sede do direito de legação. Na verdade, as relações diplomáticas desses sujeitos do Direito Inter- nacional são estabelecidas com os Estados membros ou não da Organiza- ção e com outras Organizações, que para se fazerem representar junto de uma Organização Internacional terão de enviar as suas missões ou os seus representantes para território de um terceiro Estado, o hospedeiro da Organização. Assim, o direito de legação “passivo”98, põe em relação três entidades – e não duas como no direito diplomático clássico –, a saber: a Organização, os Estados e as outras Organizações de envio e o Estado hospedeiro. Significa isto que o exercício desse direito gera o inter-rela- cionamento de três categorias de interesses, todas elas importantes. Por um lado, o Estado hospedeiro não pode ser obrigado a receber no seu território pessoas que considera indesejáveis, pelo que há que salva- guardar os seus interesses; por outro, os Estados ou outras Organizações de envio têm interesse legítimo em enviar os seus representantes para a sede da Organização para aí exercerem as suas funções; finalmente, a Organização necessita de funcionários – muitos deles não nacionais do Estado hospedeiro – e a sua actividade só tem razão de ser quando os Estados membros se encontram representados junto dela, o que significa que tem interesse que o Estado hospedeiro permita a entrada e estadia no seu território de Agentes dos Estados membros e de nacionais destes que exercem funções burocráticas no seio da Organização. Tudo isto torna complexo o exercício do “direito de legação passivo”, pois não só implica a salvaguarda dos interesses do Estado hospedeiro, bem como também a sua segurança, os interesses das Organizações e o dos Estados membros. Todos esses problemas têm a ver essencialmente com as prerrogativas a conceder nos membros das missões permanentes junto das Organizações 98 Expressão com a qual não estamos de acordo, conforme já explicitado nestas lições, e aqui utilizada por mera comodidade. 139colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA e a estas, bem como com a natureza jurídica dessas prerrogativas que, como se sabe, são imprescindíveis para o exercício de qualquer função diplomá- tica. Relativamente a esta questão das prerrogativas, podemos dizer que o Pacto das Sociedades das Nações estabelecia no seu artigo 7º, nº 4 que os representantes dos membros da Sociedade e seus Agentes gozam no exercício das suas funções das imunidades e privilégios diplomáticos. Esta norma era bastante inovadora, se nos lembrarmos que é com esta Socieda- de que surgem, praticamente, as missões permanentes junto das Organiza- ções Internacionais, disposição que, por estar contida no próprio tratado constitutivo da Organização – S.D.N. –, impunha-se ao Estado hospedeiro, o que, de certo modo, violentava os seus interesses. Talvez por isso, na Carta das Nações Unidas tais prerrogativas já não são consideradas ou classifica- das como diplomáticas, limitando-se no nº 2 do artigo 105º desta Carta a estabelecer que “Os representantes dos membros das Nações Unidas e os funcionários da Organização gozarão, igualmente, dos privilégios e imunida- des necessárias ao exercício independente das suas funções relacionadas com a Organização”, o mesmo acontecendo com a própria Organização. A indicação concreta dessas prerrogativas, bem como o âmbito delas só foram estabelecidas no Acordo de Sediamento das Nações Unidas, ou seja por Acordo entre a ONU e os Estados Unidos da América99. De qualquer forma, num caso e noutro as prerrogativas têm uma base estri- tamente funcional. Voltando ao “direito de legação passivo”, hoje, apesar de todas as dificuldades, a Convenção de Viena acabou por consagrar este “direito” no seu artigo 5º, embora procurando salvaguardar os interesses do Estado hospedeiro – Cfr. artigos 77º, 84º e 85º. Quanto ao “direito de legação activo” não existem normas jurídicas que o consagrem expressamente na Convenção de 75. Contudo, como já 99 Para maior desenvolvimento, veja-se, por todos, GERHARD VON GLAHN, Law Among Nations, pág. 466 e seg.s. 140 DIREITO DIPLOMÁTICO tivemos a oportunidade de ver, esse direito tanto pode ser exercido através do envio de missões permanentes das Organizações – o que é raro – como de missões especiais. O estatuto dessas últimas terá de ser procu- rado na Convenção sobre as Missões Especiais de que já falámos, enquan- to o das primeiras – as missões creditadas junto dos Estados membros – é estabelecido por acordo, por lei interna ou, em nossa opinião, pelo costume, sempre que não existam normas expressas. 141colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Akehurst, Michael (1985), Introdução ao Direito Internacional, Ed. Almedina, Coimbra Bousquet, Georges (1883), Agents Diplomatiques et Consulaires, Paris Brierly, J. L. (1979), Direito Internacional, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa Brownlie, Ian (1977), Princípios de Direito Internacional Público, Ed. Calouste Gulbenkian, Lisboa Cahier, Philippe (1964), Le Droit Diplomatique, Ed. Librairie Droz, Paris Daillier, Patrick, Dinh, Nguyen Quoc e Pellet, Alain (1999), Direito Internaci- onal Público, Ed. 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Aguilar, Madrid Zoureck, Jaroslav (1962), Le Statut et les Fonctions des Consul, in Recueil des Cours de l’Académie de Droit International, Tomo 106, II 143colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Reglement du 19 mars 1815 sur le rang entre les Agents Diplomatiques Pour prévenir les embarras qui se sont souvent présentés, et qui pourraient naître encore des prétentions de présence entre les différents agents diplomatiques, les Plénipotentiaires des Puissances signataires du traité de Paris sont convenus des articles qui suivent, et ils croient devoir inviter ceux des autres Têtes Couronnées à adopter le même règlement. Art. 1. Les employés diplomatiques sont partagés en trois classes : Celle des ambassadeurs, Légats ou Nonces ; Celle des Envoyés, Ministres ou autres accrédités auprès des Souverains; Celle des Chargés d’affaires, accrédités auprès des Ministres chargés des Affaires Etrangères. Art. 2. Les Ambassadeurs, Légats ou Nonces ont seuls le caractère représentatif. Art. 3. Les employés diplomatiques en mission extraordinaire n’ont, à ce titre, aucune supériorité de rang. Art. 4. Les employés diplomatiques prendront rang entre eux dans chaque classe, d’après la date de la notification officielle de leur arrivée. Le présent Anexos 144 DIREITO DIPLOMÁTICO règlement n’apportera aucune innovation relativement aux représentants du Pape. Art. 5. Il sera déterminé, dans chaque Etat, un mode uniforme pour la réception des Employés diplomatiques de chaque classe. Art. 6. Les liens de parenté ou d’alliance de famille entre les Cours ne donnent aucun rang à leurs employés diplomatiques. Il en est de même des alliances politiques. Art. 7. Dans les actes ou traités entre plusieurs Puissances qui admettent l’alternat, le sort décidera, entre les Ministres, de l’ordre qui devra être suivi dans les signatures. Le présent règlement est inséré au protocole des Plénipotentiaires des huit Puissances signataires du traité de Paris dans leur séance du 19 mars 1815. (Autriche) Prince de Metternich, Baron de Wessemberg. (Espagne) P Gomez Labrador. (France) Prince de Talleyrand, Duc de Dalberg, La Tour du Pin, Comte Alexis de Noailles. (Grande-Bretagne) Clancarty, Cathcart, Stewart, Lieutenant-Général. (Portugal) Comte de Palmella, Saldanha, Lobo. (Prusse) Prince de Hardenberg, Baron de Humbolt. (Russie) Comte Rasoumoffsky, Comte de Stackelberg, Comte de Nesselrode. (Suède) Comte de Loewenhielm. 145colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas A Convenção de Viena sobre relações diplomáticas foi concluída em 18 de Abril de 1961, no termo da Conferência das Nações Unidas sobre relações e imunidades diplomáticas, realizada em Neue Hofburg, na capi- tal austríaca, em Março e Abril de 1961. Foi depositada, junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, e entrou em vigor no dia 24 de Abril de 1964, de harmonia com o disposto no seu artigo 51º. Em Portugal, a Convenção foi aprovada para adesão em 27 de Março de 1968, tendo o respectivo instrumento de adesão sido depositado na sede daquela Organização, em 11 de Setembro do mesmo ano. Nestas circunstâncias, e nos termos do parágrafo 2 do artigo 51º, a Convenção entrou em vigor relativamente a Portugal no dia 11 de Outu- bro de 1968. Decreto-Lei N.º 48 295, de 27 de Março de 1968 Usando da faculdade conferida pela 2.ª parte do n.º 2.º do artigo 109.º da Constituição, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte: Artigo único. É aprovada para adesão a Convenção sobre Relações Diplo- máticas, celebrada em Viena aos 18 dias de Abril de 1961, cujo texto em lín- guas francesa e portuguesa é o que segue em anexo ao presente decreto-lei. Publique-se e cumpra-se como nele se contém. Paços do Governo da República, 27 de Março de 1968. – AMÉRICO DEUS RODRIGUES THOMAZ – António de Oliveira Salazar – António Jorge Martins da Mota Veiga – Manuel Gomes de Araújo – Alfredo Rodrigues dos Santos Júnior – Mário Júlio de Almeida Costa – Ulisses Cruz da Aguiar Cortês – Joaquim da Luz Cunha – Fernando Quintanilha Mendonça Dias – Alberto Marciano Gorjão Franco Nogueira – José Albino Machado Vaz – Joaquim Moreira da Silva Cunha – Inocêncio Galvão Teles – José Gonçalo da Cunha Sottomayor Correia de Oliveira – Carlos Gomes da Silva Ribeiro – José João Gonçalves de Proença – Francisco Pereira Neto de Carvalho. 146 DIREITO DIPLOMÁTICO Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas Os Estados Partes na presente Convenção. Considerando que, desde tempos remotos, os povos de todas as nações têm reconhecido o estatuto dos agentes diplomáticos; Conscientes dos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas relativos à igualdade soberana dos Estados, a manutenção da paz e da segurança internacional e ao desenvolvimento das relações de amizade entre as nações; Persuadidos que uma convenção internacional sobre relações, privilé- gios e imunidades diplomáticas contribuirá para o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações, independentemente da diversidade dos seus regimes constitucionais e sociais; Reconhecendo que a finalidade de tais privilégios e imunidades não é beneficiar indivíduos, mas sim a de garantir o eficaz desempenho das funções das missões diplomáticas, em seu carácter de representantes dos Estados; Afirmando que as normas de direito internacional consuetudinário devem continuar regendo as questões que não tenham sido expressa- mente reguladas nas disposições da presente Convenção; Convieram no seguinte: ARTIGO 1.º Para os efeitos da presente Convenção: a) «Chefe de missão» é a pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade; b) «Membros da missão» são o Chefe da missão e os membros do pessoal da missão; c) «Membros do pessoal da missão» são as membros do pessoal diplomático, do pessoal administrativo e técnico e do pessoal de serviço da missão, d) «Membros do pessoal diplomático» são os membros do pessoal da missão que tiverem a qualidade de diplomata; 147colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA e) «Agente diplomático» é tanto o chefe da missão como qualquer membro do pessoal diplomático da missão; f ) «Membro do pessoal administrativo e técnica» são os membros do pessoal da missão empregados no serviço administrativo e técnico da missão; g) «Membros do pessoal de serviço» são os membros do pessoal da missão empregados no serviço doméstico da missão; h) «Criado particular» é a pessoa do serviço doméstico de um mem- bro da missão que não seja empregado do Estado acreditante; i) «Locais damissão» são os edifícios, ou parte dos edifícios e terrenos anexos, seja quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da missão, inclusivé a residência do chefe da missão. ARTIGO 2.º O estabelecimento de relações diplomáticas entre Estados e o envio de missões diplomáticas permanentes efectuam-se por consentimento mútuo. ARTIGO 3.º As funções de uma missão diplomática consistem, nomeadamente, em: a) Representar o Estado acreditante perante o Estado acreditador; b) Proteger no Estado acreditador os interesses do Estada acreditante e de seus nacionais, dentro dos limites estabelecidos pelo direito interna- cional; c) Negociar com o Governo do Estado acreditador; d) Inteirar-se por todos os meios lícitos das condições existentes e da evolução dos acontecimentos no Estado acreditador e informar a esse respeito o Governo do Estado acreditante; e) Promover relações amistosas e desenvolver as relações econó- micas, culturais e científicas entre o Estado acreditante e o Estado acreditador. 148 DIREITO DIPLOMÁTICO 2. Nenhuma disposição da presente Convenção poderá ser interpre- tada como impedindo o exercício de funções consulares pela missão diplomática. ARTIGO 4.º O Estado acreditante deverá certificar-se de que a pessoa que preten- de nomear como chefe de missão perante o Estado acreditador obteve o agrément daquele Estado. 2. O Estado acreditador não está obrigado a dar ao Estado acreditante as razões da recusa do agrément. ARTIGO 5.º O Estado acreditante poderá, depois de haver feito a devida notifica- ção aos Estados acreditadores interessados, nomear um chefe de missão ou designar qualquer membro do pessoal diplomático perante dois ou mais Estados, a não ser que um dos Estados acreditadores a isso se oponha expressamente. 2. Se um Estado acredita um chefe de missão perante dois ou mais Estados, poderá estabelecer uma missão diplomática dirigida por um encarregado de negócios ad ínterim em cada um dos Estados onde o chefe da missão não tenha a sua residência permanente. 3. O chefe da missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da missão poderá representar o Estado acreditante perante uma organização internacional. ARTIGO 6.º Dois ou mais Estados poderão acreditar a mesma pessoa como chefe de missão perante outro Estado, a não ser que o Estado acreditador a isso se oponha. ARTIGO 7.º Sob reserva das disposições dos artigos 5.º, 8.º, 9.º e 11.º, o Estado acreditante poderá nomear livremente os membros do pessoal da missão. 149colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA No que respeita aos adidos militar, naval ou aéreo, o Estado acreditador poderá exigir que os seus nomes lhe sejam previamente submetidos para efeitos de aprovação. ARTIGO 8.º Os membros do pessoal diplomático da missão deverão, em princí- pio, ter a nacionalidade do Estado acreditante. 2. Os membros do pessoal diplomático da missão não poderão ser nomeados de entre pessoas que tenham a nacionalidade da Estado acreditador, excepto com o consentimento do referido Estado, que poderá retirá-lo em qualquer momento. 3. O Estado acreditador pode reservar-se o mesmo direito a nacionais de terceiro Estado que não sejam igualmente nacionais do Estado acreditante. ARTIGO 9.º O Estado acreditador poderá a qualquer momento, e sem ser obriga- do a justificar a sua decisão, notificar ao Estado acreditante que o chefe de missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da missão é persona non grata ou que outro membro do pessoal da missão não é aceitável. O Estado acreditante, conforme o caso, retirará a pessoa em questão ou dará por terminadas as suas funções na missão. Uma pessoa poderá ser decla- rada non grata ou não aceitável mesmo antes de chegar ao território do Estada acreditador. 2. Se o Estado acreditante se recusar a cumprir, ou não cumpre dentro de um prazo razoável, as obrigações que lhe incumbem nos termos do parágrafo 1 deste artigo o Estado acreditador poderá recusar-se a reco- nhecer tal pessoa como membro da missão. ARTIGO 10.º Serão notificados ao Ministério dos Negócios Estrangeiros do Estado acreditador, ou a outro Ministério em que se tenha convindo: 150 DIREITO DIPLOMÁTICO a) A nomeação dos membros da missão, a sua chegada e partida definitiva ou o termo das suas funções na missão; b) A chegada e partida definitiva de pessoas pertencentes à família de um membro da missão e, se for o caso, o facto de uma pessoa vir a ser ou deixar de ser membro da família de um membro da missão; c) A chegada e a partida definitiva dos criados particulares ao serviço das pessoas a que se refere a alínea a) deste parágrafo e, se for o caso, o facto de terem deixado o serviço daquelas pessoas; d) A admissão e a despedida de pessoas residentes no Estado acreditador como membros da missão ou como criados particulares com direito a privilégios e imunidades. 2. Sempre que possível, a chegada e a partida definitiva deverão também ser previamente notificadas. ARTIGO 11.º Não havendo acordo explícito acerca do número de membros da missão, o Estado acreditador poderá exigir que o efectivo da missão seja mantido dentro dos limites que considere razoáveis e normais, tendo em conta as circunstâncias e condições existentes nesse Estado e as necessi- dades da referida missão. 2. O Estado acreditador poderá igualmente, dentro dos mesmos limites e sem discriminação, recusar-se a admitir funcionários de uma determinada categoria. ARTIGO 12.º O Estado acreditante não poderá, sem o consentimento expresso e prévio do Estado acreditador, instalar escritórios que façam parte da missão em localidades distintas daquela em que a missão tem a sua sede. ARTIGO 13.º Considera-se que o chefe de missão assumiu as suas funções no Estado acreditador a partir do momento em que tenha entregado as suas 151colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA credenciais ou tenha comunicado a sua chegada e apresentado as cópias figuradas das suas credenciais ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, ou ao Ministério em que se tenha convindo, de acordo com a prática obser- vada no Estado acreditador, a qual deverá ser aplicada de maneira unifor- me. 2. A ordem de entrega das credenciais ou de sua cópia figurada será determinada pela data e hora da chegada do chefe da missão. ARTIGO 14.º Os chefes de missão dividem-se em três classes: a) Embaixadores ou núncios acreditados perante Chefes de Estada e outros chefes de missão de categoria equivalente; b) Enviados, ministros ou internúncios acreditados perante Chefes de Estado; c) Encarregados de negócios acreditados perante Ministros dos Ne- gócios Estrangeiros. 2. Salvo em questões de precedência e etiqueta, não se fará nenhuma distinção entre chefes de missão em razão da sua classe. ARTIGO 15.º Os Estados, por acordo, determinarão a classe a que devem pertencer os chefes de suas missões. ARTIGO 16.º A precedência dos chefes de missão, dentro de cada classe, estabele- cer-se-á de acordo com a data e hora em que tenham assumido as suas funções, nos termos do artigo 13.º. 2. As modificações nas credenciais de um chefe de missão, desde que não impliquem mudança de classe, não alteram a sua ordem de precedência. 3. O presente artigo não afecta a prática que exista ou venha a existir no Estado acreditador com respeito à precedência do representante da Santa Sé. 152 DIREITO DIPLOMÁTICO ARTIGO 17.º O chefe de missão notificará ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, ou a outro Ministério em que as partes tenham convindo, a ordem de precedência dos membros do pessoal diplomático da missão. ARTIGO 18.º O cerimonial a observar em cada Estado para a recepção dos chefes de missão deverá ser uniforme a respeito de cada classe. ARTIGO 19.º Em caso de vacatura do posto de chefe de missão, ou se um chefe de missão estiver impedido de desempenhar as suas funções, um encarrega- do de negócios ad interim exercerá provisoriamente a chefia da missão. O nome do encarregado de negócios ad interim será comunicadoao Minis- tério dos Negócios Estrangeiros do Estado acreditador, ou ao Ministério em que as partes tenham convindo, pelo chefe de missão ou, se este não puder fazê-lo, pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros acreditante. 2. No caso de nenhum membro do pessoal diplomático estar presen- te no Estado acreditador, um membro do pessoal administrativo e técnico poderá, com o consentimento do Estado acreditador, ser designado pelo Estado acreditante para encarregar-se dos assuntos administrativos cor- rentes da missão. ARTIGO 20.º Tanto a missão como o seu chefe terão o direito de usar a bandeira e o escudo do Estada acreditante nos locais da missão, inclusive na residên- cia do chefe de missão, bem como nos seus meios de transporte. ARTIGO 21.º O Estado acreditador deverá facilitar a aquisição em seu território, de acordo com as suas leis, pelo Estado acreditante, dos locais necessários à missão ou ajudá-la a consegui-los de outra maneira. 153colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 2. Quando necessário, ajudará também as missões a obterem aloja- mento adequado para os seus membros. ARTIGO 22.º Os locais da missão são invioláveis. Os agentes do Estado acreditador não poderão neles penetrar sem o consentimento do chefe de missão. 2. O Estado acreditador tem a obrigação especial de adoptar todas as medidas apropriadas para proteger os locais contra qualquer intrusão ou dano e evitar perturbações que afectem a tranquilidade da missão ou ofensas a sua dignidade. 3. Os locais da missão, o seu mobiliário, demais bens neles situados, assim como os meios de transporte da missão, não poderão ser objecto de busca, requisição, embargo ou medida de execução. ARTIGO 23.º O Estado acreditante e o chefe de missão estão isentos de todos os impostos e taxas nacionais, regionais ou municipais sobre os locais da missão de que sejam proprietários ou inquilinos, exceptuados os que representem o pagamento de serviços específicos que lhes sejam presta- dos. 2. A isenção fiscal a que se refere este artigo não se aplica aos impostos e taxas cujo pagamento, em conformidade com a legislação do Estado acreditador, incumba às pessoas que contratem com o Estado acreditante ou com o chefe de missão. ARTIGO 24.º Os arquivos e documentos da missão são invioláveis em qualquer momento e onde quer que se encontrem. ARTIGO 25.º O Estado acreditador dará todas as facilidades para o desempenho das funções da missão. 154 DIREITO DIPLOMÁTICO ARTIGO 26.º Salvo o disposto nas leis e regulamentos relativos a zonas cujo acesso é proibido ou regulamentado por motivos de segurança nacional, o Esta- do acreditador garantirá a todos os membros da missão a liberdade de circulação e trânsito em seu território. ARTIGO 27.º O Estado acreditador permitirá e protegerá a livre comunicação da missão para todos os fins oficiais. Para comunicar-se com o Governo e demais missões e consulados do Estado acreditante, onde quer que se encontrem, a missão poderá empregar todos os meios de comunicação adequados, inclusivé correios diplomáticos e mensagens em código ou cifra, Não obstante, a missão só poderá instalar e usar uma emissora de rádio com o consentimento do Estado acreditador. 2. A correspondência oficial da missão é inviolável. Por correspondência oficial entende-se toda a correspondência relativa à missão e suas funções. 3. A mala diplomática não poderá ser aberta ou retida. 4. Os volumes que constituam a mala diplomática deverão ter sinais exteriores visíveis que indiquem o seu caracter e só poderão conter documentos diplomáticos e objectos destinados a uso oficial. 5. O correio diplomático, que deverá estar munido de um documento oficial que indique a sua condição e o número de volumes que constituem a mala diplomática, será, no desempenho das suas funções, protegido pelo Estado acreditador. Gozará de inviolabilidade pessoal e não poderá ser objecto de qualquer forma de prisão ou detenção. 6. O Estado acreditante ou a missão poderão designar correios diplo- máticos ad hoc. Em tal caso, aplicar-se-ão as disposições do parágrafo 5 deste artigo, mas as imunidades nele mencionadas deixarão de se aplicar, desde que o referido correio tenha entregado ao destinatário a mala diplomática que lhe fora confiada. 7. A mala diplomática poderá ser confiada ao comandante de aerona- ve comercial que tenha de aterrar num aeroporto de entrada autorizada. 155colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA O comandante deverá estar munido de um documento oficial que indique o número de volumes que constituem a mala, mas não será considerado correio diplomático. A missão poderá enviar um dos seus membros para receber a mala diplomática, directa e livremente, das mãos do comandan- te da aeronave. ARTIGO 28.º Os direitos e emolumentos que a missão perceba em razão da, prática de actos oficiais estarão isentos de todos os impostos ou taxas. ARTIGO 29.º A pessoa do agente diplomático é inviolável, Não poderá ser objecto de qualquer forma de detenção ou prisão. O Estado acreditador tratá-la-á com o devido respeito e adoptará todas as medidas adequadas para impedir qualquer ofensa à sua pessoa, liberdade ou dignidade. ARTIGO 30.º A residência particular do agente diplomático goza da mesma inviolabilidade e protecção que os locais da missão. 2. Os seus documentos, a sua correspondencia e, sob reserva do disposto no parágrafo 3 do artigo 31.º, os seus bens gozarão igualmente de inviolabilidade. ARTIGO 31.º O agente goza de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditador. Goza também de imunidade da sua jurisdição civil e administrativa, salvo se se trata de: a) Uma acção real sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditador, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditaste para os fins da missão; b) Uma acção sucessória na qual o agente diplomático figura, a título privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, adminis- trador, herdeiro ou legatário; 156 DIREITO DIPLOMÁTICO c) Uma acção referente a qualquer actividade profissional ou comer- cial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditador fora das suas funções oficiais. 2. O agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como testemunha. 3. O agente diplomático não está sujeito a nenhuma medida de execução, a não ser nos casos previstos nas alíneas a), b) e c) do parágrafo 1 deste artigo e desde que a execução possa realizar-se sem afectar a inviolabilidade de sua pessoa ou residência. 4. A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditador não o isenta da jurisdição do Estado aereditante. ARTIGO 32.º O Estado acreditante pode renunciar a imunidade de jurisdição dos seus agentes diplomáticos e das pessoas que gozam de imunidade nos termos do artigo 37.º. 2. A renúncia será sempre expressa. 3. Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição nos termos do artigo 37.º inicia uma, acção judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma reconvenção directamente ligada à acção principal. 4. A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante as acções cíveis ou administrativas não implica renúncia à imunidade quanto as medidas de execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária. ARTIGO 33.º Salvo o disposto no parágrafo 3 deste artigo, o agente diplomático está, no tocante aos serviços prestados ao Estado acreditante, isento das disposições de seguro social que possam vigorar no Estado acreditador. 2. A isenção prevista no parágrafo 1 deste artigo aplicar-se-á também aos criados particulares que se acham ao serviço exclusivo do agente diplomático que: 157colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA a) Não sejam nacionais do Estado acreditador nem nele tenham residência permanente; e b) Estejam protegidos pelas disposições sobre seguro social vigentes no Estado acreditante ou em terceiro Estado. 3. O agente diplomático que empregue pessoas a quem não se apliquea isenção prevista no parágrafo 2 deste artigo deverá respeitar as obrigações impostas aos patrões pelas disposições sobre seguro social vigentes no Estado acreditador. 4. A isenção prevista nos parágrafos 1 e 2 deste artigo não exclui a participação voluntária no sistema de seguro social do Estado acreditador, desde que tal participação seja admitida pelo referido Estado. 5. As disposições deste artigo não afectam os acordos bilaterais ou multilaterais sobre seguro social já concluídos e não impedem a celebra- ção ulterior de acordos de tal natureza. ARTIGO 34.º O agente diplomático gozará de isenção de todos os impostos e taxas, pessoais ou reais, nacionais, regionais ou municipais, com as excep- ções seguintes: a) Os impostos indirectos que estejam normalmente incluídos no preço das mercadorias ou dos serviços; b) Os impostos e taxas sobre bens imóveis privados situados no território do Estado acreditador, a não ser que o agente diplomático os possua em nome do Estado acreditado e para os fins da missão; c) Os direitos de sucessão percebidos pelo Estado acreditador, salvo o disposto no parágrafo 4 do artigo 39.º; d) Os impostos e taxas sobre rendimentos privados que tenham a sua origem no Estado acreditador e os impostos sobre o capital referentes a investimentos em empresas comerciais situadas no Estado acreditador; e) Os impostos e taxas que incidam sobre a remuneração relativa a serviços específicos; f ) Os direitos de registo, de hipoteca, custas judiciais e impostos do selo relativos a bens imóveis, salvo o disposto no artigo 23.º. 158 DIREITO DIPLOMÁTICO ARTIGO 35.º O Estado acreditador deverá isentar os agentes diplomáticos de toda a prestação pessoal, de todo serviço público, seja qual for a sua natureza, e de obrigações militares, tais como requisições, contribuições e aloja- mento militar. ARTIGO 36.º De acordo com as leis e regulamentos que adopte, o Estado acreditador permitirá a entrada livre de pagamento de direitos aduaneiros, taxas e outros encargos conexos que não constituam despesas de armazenagem, transporte e outras relativas a serviços análogos: a) Dos objectos destinados ao uso oficial da missão; b) Dos objectos destinados ao uso pessoal do agente diplomático ou dos membros de sua família que com ele vivam, incluindo os objectos destinados à sua instalação. 2. A bagagem pessoal do agente diplomático não está sujeita a inspecção, salvo se existirem motivos sérios para crer que a mesma con- tém objectos não previstos nas isenções mencionadas no parágrafo 1 deste artigo, ou objectos cuja importação ou exportação é proibida pela legislação do Estado acreditador, ou sujeitos aos seus regulamentos de quarentena. Nesse caso, a inspecção só poderá ser feita na presença do agente diplomático ou do seu representante autorizado. ARTIGO 37.º Os membros da família de um agente diplomático que com ele vivam gozarão dos privilégios e imunidades mencionados nos artigos 29.º a 36.º, desde que não sejam nacionais do Estado acreditador. 2. Os membros do pessoal administrativo e técnico da missão, assim como os membros de suas famílias que com eles vivam, desde que não sejam nacionais do Estado acreditador nem nele tenham residência per- manente, gozarão dos privilégios e imunidades mencionados nos artigos 29.º a 35.º, com a ressalva de que a imunidade de jurisdição civil e 159colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA administrativa do Estado acreditador, mencionada no parágrafo 1 do artigo 31.º, não se estenderá aos actos por eles praticados fora do exercício de suas funções; gozarão também dos privilégios mencionados no pará- grafo 1 do artigo 36.º, no que respeita aos objectos importados para a primeira instalação. 3. Os membros do pessoal de serviço da missão que não sejam nacionais do Estado acreditador nem nele tenham residência permanente gozarão de imunidades quanto aos actos praticados no exercício de suas funções, de isenção de impostos e taxas sobre os salários que perceberem pelos seus serviços e da isenção prevista no artigo 33.º. 4. Os criados particulares dos membros da missão que não sejam nacionais do Estado acreditador nem nele tenham residência permanente estarão isentos de impostos e taxas sobre os salários que perceberem pelos seus serviços. Nos demais casos, só gozarão de privilégios e imuni- dades na medida reconhecida pelo referido Estado. Todavia, o Estado acreditador deverá exercer a sua jurisdição sobre tais pessoas de modo a não interferir demasiadamente com o desempenho das funções da mis- são. ARTIGO 38.º A não ser na medida em que o Estado acreditador conceda outros privilégios e imunidades, o agente diplomático que seja nacional do referido Estado ou nele tenha residência permanente gozará da imunida- de de jurisdição e de inviolabilidade apenas quanto aos actos oficiais praticados no de empenho de suas funções. 2. Os demais membros do pessoal da missão a os criados particulares que sejam nacionais do Estado acreditador ou nele tenham a sua residên- cia permanente gozarão apenas dos privilégios e imunidades que lhes forem reconhecidos pelo referido Estado Todavia, o Estado acreditador deverá exercer a sua jurisdição sobre tais pessoas de maneira a não interferir demasiadamente com o desempenho das funções da missão. 160 DIREITO DIPLOMÁTICO ARTIGO 39.º Toda a pessoa que tenha, direito a privilégios e imunidades gozará dos mesmos a partir do momento em que entrar no território do Estado acreditador para assumir o seu posto ou, no caso de já se encontrar no referido território, desde que a sua nomeação tenha sido notificada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros ou ao Ministério em que se tenha convindo. 2. Quando terminarem as funções de uma pessoa que goze de privi- légios e imunidades, esses privilégios e imunidades cessarão normalmen- te no momento em que essa pessoa deixar o pais ou quando transcorrido um prazo razoável que lhe tenha sido concedido para tal fim, mas perdu- rarão até esse momento, mesmo em caso de conflito armado. Todavia, a imunidade subsiste no que diz respeito aos actos praticados por tal pessoa no exercício das suas funções como membro da missão. 3. Em caso de falecimento de um membro da missão, os membros de sua família continuarão no gozo dos privilégios e imunidades a que têm direito até à expiração de um prazo razoável que lhes permita deixar o território do Estado acreditador. 4. Em caso de falecimento de um membro da missão que não seja nacional do Estado acreditador nem nele tenha residência permanente, ou de membro de sua família que com ele viva, o Estado acreditador permitirá que os bens móveis do falecido sejam retirados do pais, com excepção dos que nele foram adquiridos e cuja exportação seja proibida no momento do falecimento. Não serão cobrados direitos de sucessão sobre os bens móveis cuja situação no Estado acreditador era devida unicamente à presença do falecido no referido Estado, como membro da missão ou como membro da família de um membro da missão. ARTIGO 40.º Se o agente diplomático atravessa o território ou se encontra no território de um terceiro Estado, que lhe concedeu visto no passaporte, quando esse visto for exigido, a fim de assumir ou reassumir o seu posto 161colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA ou regressar ao seu pais, o terceiro Estado conceder-lhe-á a inviolabilidade e todas as outras imunidades necessárias para lhe permitir o trânsito ou o regresso. Essa regra será igualmente aplicável aos membros da família que gozem de privilégios e imunidades, quer acompanhem o agente diplomá- tico, quer viajem separadamente para reunir-se a ele ou regressar ao seu país. 2. Em circunstâncias análogas às previstas no parágrafo 1 deste artigo, os terceiros Estados não deverão dificultar a passagem através do seu território dos membros do pessoal administrativo e técnico ou de serviço da missão e dos membros de suas famílias. 3. Os terceiros Estados concederão a correspondência e a outras comunicaçõesoficiais em trânsito, inclusive às mensagens em código ou cifra, a mesma liberdade e protecção concedidas pelo Estado acreditador. Concederão aos correios diplomáticos a quem um visto no passaporte tenha sido concedido, quando esse visto for exigido, bem como às malas diplomáticas em trânsito, a mesma inviolabilidade e protecção a que se acha obrigado o Estado acreditador. 4. As obrigações dos terceiros Estados em virtude dos parágrafos 1, 2 e 3 deste artigo serão aplicáveis também as pessoas mencionadas, respec- tivamente, nesses parágrafos, bem como às comunicações oficiais e às malas diplomáticas que se encontrem no território do terceiro Estado por motivo de força maior. ARTIGO 41.º Sem prejuízo de seus privilégios e imunidades, todas as pessoas que gozem desses privilégios e imunidades deverão respeitar as leis e os regulamentos do Estado acreditador. Têm também o dever de não se imiscuir nos assuntos internos do referido Estado. 2. Todos os assuntos oficiais tratados com o Estado acreditador con- fiados à missão pelo Estado acreditante deverão sê-lo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Estado acreditador ou por seu intermédio, ou com outro Ministério em que se tenha convindo. 162 DIREITO DIPLOMÁTICO 3. Os locais da missão não devem ser utilizados de maneira incompa- tível com as funções da missão, tais como são enunciadas na presente Convenção, ou em outras normas de direito internacional geral ou em acordos especiais em vigor entre o Estado acreditante e o Estado acreditador. ARTIGO 42.º O agente diplomático não exercerá no Estado acreditador nenhuma actividade profissional ou comercial em proveito próprio. ARTIGO 43.º As funções de agente diplomático terminarão, nomeadamente: a) Pela notificação do Estado acreditante ao Estado acreditador de que as funções do agente diplomático terminaram; b) Pela notificação do Estado acreditador ao Estado acreditante de que, nos termos do parágrafo 2 do artigo 9.º, se recusa a reconhecer o agente diplomático como membro da missão. ARTIGO 44.º O Estado acreditador deverá, mesmo no caso de conflito armado, conceder facilidades para que as pessoas que gozem de privilégios e imunidades, e não sejam nacionais do Estado acreditador, bem como os membros de suas famílias, seja qual for a sua nacionalidade, possam deixar o seu território o mais depressa possível. Se necessário, deverá colocar à sua disposição os meios de transporte indispensáveis para tais pessoas e seus bens. ARTIGO 45.º Em caso de ruptura das relações diplomáticas entre dois Estados, ou se uma missão é retirada definitiva ou temporariamente: a) O Estado acreditador está obrigado a respeitar e a proteger, mesmo em caso de conflito armado, os locais da missão, bem como os seus bens e arquivos; 163colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA b) O Estado acreditante poderá confiar a guarda dos locais da missão, bem como dos seus bens e arquivos, a um terceiro Estado aceite pelo Estado acreditador; c) O Estado acreditante poderá confiar a protecção de seus interesses e os dos seus nacionais a um terceiro Estado aceite pelo Estado acreditador. ARTIGO 46.º Com o consentimento prévio do Estado acreditador e a pedido de um terceiro Estado nele não representado, o Estado screditante poderá assu- mir a protecção temporária dos interesses do terceiro Estado e dos seus nacionais. ARTIGO 47.º Na aplicação das disposições da presente Convenção o Estado acreditador não fará nenhuma discriminação entre Estados. 2. Todavia, não será considerada discriminação: a) O facto de o Estado acreditador aplicar restritivamente uma das disposições da presente Convenção quando a mesma for aplicada de igual maneira à sua missão no Estado acreditante; b) O facto de os Estados, em virtude de costume ou convénio, se concederem reciprocamente um tratamento mais favorável do que o estipulado pelas disposições da presente Convenção. ARTIGO 48.º A presente Convenção ficará aberta para, assinatura de todos os Estados Membros das Nações Unidas ou de uma organização especializa- da, bem como dos Estados Partes no Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça e de qualquer outro Estado convidado pela Assembleia geral das Nações Unidas a tomar-se Parte na Convenção da maneira seguinte: até 31 de Outubro de 1961, no Ministério Federal dos Neg6cios Estrangeiros da Áustria, e, depois, até 31 de Março de 1962, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. 164 DIREITO DIPLOMÁTICO ARTIGO 49.º A presente Convenção será ratificada. Os instrumentos de ratificação serão depositados perante o secretário-geral das Nações Unidas. ARTIGO 50.º A presente Convenção permanecerá aberta à adesão de todo o Estado pertencente a qualquer das quatro categorias mencionadas no artigo 48.º. Os instrumentos de adesão serão depositados perante o secretário-geral das Nações Unidas. ARTIGO 51.º A presente Convenção entrará em vigor no trigésimo dia que se seguir à data do depósito, perante o secretário-geral das Nações Unidas, do vigésimo segundo instrumento de ratificação ou adesão. 2. Para cada um dos Estados que ratificarem a Convenção ou a ela aderirem depois do depósito do vigésimo segundo instrumento de ratifi- cação ou adesão, a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia após o depósito, por esse Estado, do instrumento de ratificação ou adesão. ARTIGO 52.º O secretário-geral das Nações Unidas comunicará a todos os Estados pertencentes a qualquer das quatro categorias mencionadas no artigo 48.º: a) As assinaturas apostas a presente Convenção e o depósito dos instrumentos de ratificação ou adesão, nos termos dos artigos 48.º, 49.º e 50.º; b) A data em que a presente Convenção entrará em vigor, nos termos do artigo 51.º. ARTIGO 53.º O original da presente Convenção, cujos textos em inglês, chinês, espanhol, francês e russo fazem igualmente fé, será depositado perante o 165colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA secretário-geral das Nações Unidas, que enviará cópia certificada confor- me a todos os Estados pertencentes a qualquer das quatro categorias mencionadas no artigo 48.º. Em fé do que os plenipotenciários, devidamente autorizados pelos respectivos Governos, assinaram a presente Convenção. Feito em Viena aos 18 dias do mês de Abril de 1961. 166 DIREITO DIPLOMÁTICO Convention on Special Missions Opened for signature at New York on 16 December 1969, entered into force on 21 June 1985 The States Parties to the present Convention, Recalling that special treatment has always been accorded to special missions, Having in mind the purposes and principles of the Charter of the United Nations concerning the sovereign equality of States, the maintenance of international peace and security and the development of friendly relations and cooperation among States, Recalling that the importance of the question of special missions was recognized during the United Nations Conference on Diplomatic Intercourse and Immunities and in resolution I adopted by the Conference on 10 April 1961, Considering that the United Nations Conference on Diplomatic Intercourse and Immunities adopted the Vienna Convention on Diplomatic Relations, which was opened for signature on 18 April 1961, Considering that the United Nations Conference on Consular Relations adopted the Vienna Convention on Consular Relations, which was opened for signature on 24 April 1963, Believing that an international convention on special missions would complement those two Conventions and would contribute to the development of friendly relations among nations, whatever their constitutional and social systems, Realizing that the purpose of privileges and immunities relating to special missions is not to benefit individuals but to ensure the efficient performance of the functions of special missions as missions representing the State, Affirming that the rules of customary international law continue to govern questions not regulated by the provisions of the present Convention,167colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Have agreed as follows: Article 1 Use of terms For the purposes of the present Convention: a) a “special mission” is a temporary mission, representing the State which is sent by one State to another State with the consent of the latter for the purpose of dealing with it on specific questions or of performing in relation to it a specific task; b) a “permanent diplomatic mission” is a diplomatic mission within the meaning of the Vienna Convention on Diplomatic Relations; c) a “consular post” is any consulate-general, consulate, vice-consulate or consular agency; d) the “head of a special mission” is the person charged by the sending State with the duty of acting in that capacity; e) a “representative of the sending State in the special mission” is any person on whom the sending State has conferred that capacity; f ) the “members of a special mission” are the head of the special mission, the representatives of the sending State in the special mission and the members of the staff of the special mission; g) the “members of the staff of the special mission” are the members of the diplomatic staff, the administrative and technical staff and the service staff of the special missions; h) the “members of the diplomatic staff” are the members of the staff of the special mission who have diplomatic status for the purposes of the special mission; i) the “members of the administrative and technical staff” are the members of the staff of the special mission employed in the administrative and technical service of the special mission; j) the “members of the service staff” are the members of the staff of the special mission employed by it as household workers or for similar tasks; 168 DIREITO DIPLOMÁTICO k) the “private staff” are persons employed exclusively in the private service of the members of the special mission. Article 2 Sending of a special mission A State may send a special mission to another State with the consent of the latter, previously obtained through the diplomatic or another agreed or mutually acceptable channel. Article 3 Functions of a special mission The functions of a special mission shall be determined by the mutual consent of the sending and the receiving State. Article 4 Sending of the same special mission to two or more States A State which wishes to send the same special mission to two or more States shall so inform each receiving State when seeking the consent of that State. Article 5 Sending of a joint special mission by two or more states Two or more States which wish to send a joint special mission to another State shall so inform the receiving State when seeking the consent of that State. Article 6 Sending of special missions by two or more States in order to deal with a question of common interest Two or more States may each send a special mission at the same time to another State with the consent of that State obtained in accordance with article 2, in order to deal together, with the agreement of all of these States, with a question of common interest to all of them. 169colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Article 7 Non-existence of diplomatic or consular relations The existence of diplomatic or consular relations is not necessary for the sending or reception of a special mission. Article 8 Appointment of the members of the special mission Subject to the provisions of articles 10, 11 and 12, the sending State may freely appoint the members of the special mission after having given to the receiving State all necessary information concerning the size and composition of the special mission, and in particular the names and designations of the persons it intends to appoint. The receiving State may decline to accept a special mission of a size that is not considered by it to be reasonable, having regard to circumstances and conditions in the receiving State and to the needs of the particular mission. It may also, without giving reasons, decline to accept any person as a member of the special mission. Article 9 Composition of the special mission 1. A special mission shall consist of one or more representatives of the sending State from among whom the sending State may appoint a head. It may also include diplomatic staff, administrative and technical staff and service staff. 2. When members of a permanent diplomatic mission or of a consular post in the receiving State are included in a special mission, they shall retain their privileges and immunities as members of their permanent diplomatic mission or consular post in addition to the privileges and immunities accorded by the present Convention. 170 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 10 Nationality of the members of the special mission 1. The representatives of the sending State in the special mission and the members of its diplomatic staff should in principle be of the nationality of the sending State. 2. Nationals of the receiving State may not be appointed to a special mission except with the consent of that State, which may be withdrawn at any time. 3. The receiving State may reserve the right provided for in paragraph 2 of this article with regard to nationals of a third State who are not also nationals of the sending State. Article 11 Notifications 1. The Ministry of Foreign Affairs of the receiving State, or such other organ of that State as may be agreed, shall be notified of: a) the composition of the special mission and any subsequent changes therein; b) the arrival and final departure of members of the mission and the termination of their functions with the mission; c) the arrival and final departure of any person accompanying a member of the mission; d) the engagement and discharge of persons resident in the receiving State as members of the mission or as private staff; e) the appointment of the head of the special mission or, if there is none, of the representative referred to in paragraph 1 of article 14, and of any substitute for them; f ) the location of the premises occupied by the special mission and of the private accommodation enjoying inviolability under articles 30, 36 and 39 as well as any other information that may be necessary to identify such premises and accommodation. 2. Unless it is impossible, notification of arrival and final departure must be given in advance. 171colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Article 12 Persons declared ‘non grata’ or not acceptable 1. The receiving State may, at any time and without having to explain its decision, notify the sending State that any representative of the sending State in the special mission or any member of its diplomatic staff is persona non grata or that any other member of the staff of the mission is not acceptable. In any such case, the sending State shall, as appropriate, either recall the person concerned or terminate his functions with the mission. A person may be declared non grata or not acceptable before arriving in the territory of the receiving State. 2. If the sending State refuses, or fails within a reasonable period, to carry out its obligations under paragraph 1 of this article, the receiving State may refuse to recognize the person concerned as a member of the special mission. Article 13 Commencement of the functions of a special mission 1. The functions of a special mission shall commence as soon as the mission enters into official contact with the Ministry of Foreign Affairs or with such other organ of the receiving State as may be agreed. 2. The commencement of the functions of a special mission shall not depend upon presentation of the mission by the permanent diplomatic mission of the sending State or upon the submission of letters of credence or full powers. Article 14 Authority to act on behalf of the special mission 1. The head of the special mission or, if the sending State has not appointed a head, one of the representatives of the sending State designated by the latteris authorized to act on behalf of the special mission and to address communications to the receiving State. The receiving State shall address communications concerning the special 172 DIREITO DIPLOMÁTICO mission to the head of the mission, or, if there is none, to the representative referred to above, either direct or through the permanent diplomatic mission. 2. However, a member of the special mission may be authorized by the sending State, by the head of the special mission or, if there is none, by the representative referred to in paragraph 1 of this article, either to substitute for the head of the special mission or for the aforesaid representative or to perform particular acts on behalf of the mission. Article 15 Organ of the receiving State with which official business is conducted All official business with the receiving State entrusted to the special mission by the sending State shall be conducted with or through the Ministry of Foreign Affairs or with such other organ of the receiving State as may be agreed. Article 16 Rules concerning precedence 1. Where two or more special missions meet in the territory of the receiving State or of a third State, precedence among the missions shall be determined, in the absence of a special agreement, according to the alphabetical order of the names of the States used by the protocol of the State in whose territory the missions are meeting. 2. Precedence among two or more special missions which meet on a ceremonial or formal occasion shall be governed by the protocol in force in the receiving State. 3. Precedence among the members of the same special mission shall be that which is notified to the receiving State or to the third State in whose territory two or more special missions are meeting. 173colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Article 17 Seat of the special mission 1. A special mission shall have its seat in the locality agreed by the States concerned. 2. In the absence of agreement, the special mission shall have its seat in the locality where the Ministry of Foreign Affairs of the receiving State is situated. 3. If the special mission performs its functions in different localities, the States concerned may agree that it shall have more than one seat from among which they may choose one as the principal seat. Article 18 Meeting of special missions in the territory of a third State 1. Special missions from two or more States may meet in the territory of a third State only after obtaining the express consent of that State, which retains the right to withdraw it. 2. In giving its consent, the third State may lay down conditions which shall be observed by the sending States. 3. The third State shall assume in respect of the sending States the rights and obligations of a receiving State to the extent that it indicates in giving its consent. Article 19 Right of the special mission to use the flag and emblem of the sending State 1. A special mission shall have the right to use the flag and emblem of the sending State on the premises occupied by the mission, and on its means of transport when used on official business. 2. In the exercise of the right accorded by this article, regard shall be had to the laws, regulations and usages of the receiving State. 174 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 20 End of the functions of a special mission 1. The functions of a special mission shall come to an end, inter alia, upon: a) the agreement of the State concerned; b) the completion of the task of the special mission; c) the expiry of the duration assigned for the special mission, unless it is expressly extended; d) notification by the sending State that it is terminating or recalling the special mission; e) notification by the receiving State that it considers the special mission terminated. 2. The severance of diplomatic or consular relations between the sending State and the receiving State shall not of itself have the effect of terminating special missions existing at the time of such severance. Article 21 Status of the Head of State and persons of high rank 1. The Head of the sending State, when he leads a special mission, shall enjoy in the receiving State or in a third State the facilities, privileges and immunities accorded by international law to Heads of State on an official visit. 2. The Head of the Government, the Minister for Foreign Affairs and other persons of high rank, when they take part in a special mission of the sending State, shall enjoy in the receiving State or in a third State, in addition to what is granted by the present Convention, the facilities, privileges and immunities accorded by international law. Article 22 General facilities The receiving State shall accord to the special mission the facilities required for the performance of its functions, having regard to the nature and task of the special mission. 175colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Article 23 Premises and accommodation The receiving State shall assist the special mission, if it so requests, in procuring the necessary premises and obtaining suitable accommodation for its members. Article 24 Exemption of the premises of the special mission from taxation 1. To the extent compatible with the nature and duration of the functions performed by the special mission, the sending State and the members of the special mission acting on behalf of the mission shall be exempt from all national, regional or municipal dues and taxes in respect of the premises occupied by the special mission, other than such as represent payment for specific services rendered. 2. The exemption from taxation referred to in this article shall not apply to such dues and taxes payable under the law of the receiving State by persons contracting with the sending State or with a member of the special mission. Article 25 Inviolability of the premises 1. The premises where the special mission is established in accordance with the present Convention shall be inviolable. The agents of the receiving State may not enter the said premises, except with the consent of the head of the special mission or, if appropriate, of the head of the permanent diplomatic mission of the sending State accredited to the receiving State. Such consent may be assumed in case of fire or other disaster that seriously endangers public safety, and only in the event that it has not been possible to obtain the express consent of the head of the special mission or, where appropriate, of the head of the permanent mission. 2. The receiving State is under a special duty to take all appropriate steps to protect the premises of the special mission against any intrusion 176 DIREITO DIPLOMÁTICO or damage and to prevent any disturbance of the peace of the mission or impairment of its dignity. 3. The premises of the special mission, their furnishings, other property used in the operation of the special mission and its means of transport shall be immune from search, requisition, attachment or execution. Article 26 Inviolability of archives and documents The archives and documents of the special mission shall be inviolable at all times and wherever they may be. They should, when necessary, bear visible external marks of identification. Article 27 Freedom of movement Subject to its laws and regulations concerning zones entry into which is prohibited or regulated for reasons of national security, the receiving State shall ensure to all members of the special mission such freedom of movement and travel in its territory as is necessary for the performance of the functions of the special mission. Article 28 Freedom of communication 1. The receiving State shall permit and protect free communication on the part of the special mission for all official purposes. In communicating with the Government of the sending State, its diplomatic missions, its consular posts and its other special missions or with sections of the same mission,wherever situated, the special mission may employ all appropriate means, including couriers and messages in code or cipher. However, the special mission may install and use a wireless transmitter only with the consent of the receiving State. 2. The official correspondence of the special mission shall be inviolable. Official correspondence means all correspondence relating to the special mission and its functions. 177colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3. Where practicable, the special mission shall use the means of communication, including the bag and the courier, of the permanent diplomatic mission of the sending State. 4. The bag of the special mission shall not be opened or detained. 5. The packages constituting the bag of the special mission must bear visible external marks of their character and may contain only documents or articles intended for the official use of the special mission. 6. The courrier of the special mission, who shall be provided with an official document indicating his status and the number of packages constituting the bag, shall be protected by the receiving State in the performance of his functions. He shall enjoy personal inviolability and shall not be liable to any form of arrest or detention. 7. The sending State or the special mission may designate couriers ad hoc of the special mission. In such cases the provisions of paragraph 6 of this article shall also apply, except that the immunities therein mentioned shall cease to apply when the courrier ad hoc has delivered to the consignee the special mission’s bag in his charge. 8. The bag of the special mission may be entrusted to the captain of a ship or of a commercial aircraft scheduled to land at an authorized port of entry. The captain shall be provided with an official document indicating the number of packages constituting the bag, but he shall not be considered to be a courrier of the special mission. By arrangement with the appropriate authorities, the special mission may send one of its members to take possession of the bag directly and freely from the captain of the ship or of the aircraft. Article 29 Personal inviolability The persons of the representatives of the sending State in the special mission and of the members of its diplomatic staff shall be inviolable. They shall not be liable to any form of arrest or detention. The receiving State shall treat them with due respect and shall take all appropriate steps to prevent any attack on their persons, freedom or dignity. 178 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 30 Inviolability of the private accommodation 1. The private accommodation of the representatives of the sending State in the special mission and of the members of its diplomatic staff shall enjoy the same inviolability and protection as the premises of the special mission. 2. Their papers, their correspondence and, except as provided in paragraph 4 of article 31, their property shall likewise enjoy inviolability. Article 31 Immunity from jurisdiction 1. The representatives of the sending State in the special mission and the members of its diplomatic staff shall enjoy immunity from the criminal jurisdiction of the receiving State. 2. They shall also enjoy immunity from the civil and administrative jurisdiction of the receiving State, except in the case of: a) a real action relating to private immovable property situated in the territory of the receiving State, unless the person concerned holds it on behalf of the sending State for the purposes of the mission; b) an action relating to succession in which the person concerned is involved as executor, administrator, heir or legatee as a private person and not on behalf of the sending State; c) an action relating to any professional or commercial activity exercised by the person concerned in the receiving State outside his official functions; d) an action for damages arising out of an accident caused by a vehicle used outside the official functions of the person concerned. 3. The representatives of the sending State in the special mission and the members of its diplomatic staff are not obliged to give evidence as witnesses. 4. No measures of execution may be taken in respect of a representative of the sending State in the special mission or a member of its diplomatic staff 179colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA except in the cases coming under subparagraphs (a), (b), (c) and (d) of paragraph 2 of this article and provided that the measures concerned can be taken without infringing the inviolability of his person or his accommodation. 5. The immunity from jurisdiction of the representatives of the sending State in the special mission and of the members of its diplomatic staff does not exempt them from the jurisdiction of the sending State. Article 32 Exemption from social security legislation 1. Subject to the provisions of paragraph 3 of this article, representatives of the sending State in the special mission and members of its diplomatic staff shall, in respect of services rendered for the sending State, be exempt from social security provisions which may be in force in the receiving State.2. The exemption provided for in paragraph 1 of this article shall also apply to persons who are in the sole private employ of a representative of the sending State in the special mission or of a member of its diplomatic staff on condition: a) that such employed persons are not nationals of or permanently resident in the receiving State; and b) that they are covered by the social security provisions which may be in force in the sending State or a third State. 3. Representatives of the sending State in the special mission and members of its diplomatic staff who employ persons to whom the exemption provided for in paragraph 2 of this article does not apply shall observe the obligations which the social security provisions of the receiving State impose under employers. 4. The exemption provided for in paragraphs 1 and 2 of this article shall not preclude voluntary participation in the social security system of the receiving State where such participation is permitted by that State. 5. The provisions of this article shall not affect bilateral or multilateral agreements concerning social security concluded previously and shall not prevent the conclusion of such agreements in the future. 180 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 33 Exemption from dues and taxes The representatives of the sending State in the special mission and the members of its diplomatic staff shall be exempt from all dues and taxes, personal or real, national, regional or municipal, except: a) indirect taxes of a kind which are normally incorporated in the price of goods or services; b) dues and taxes on private immovable property situated in the territory of the receiving State, unless the person concerned holds it on behalf of the sending State for the purposes of the mission; c) estate, succession or inheritance duties levied by the receiving State, subject to the provisions of article 44; d) dues and taxes on private income having its source in the receiving State and capital taxes on investments made in commercial undertakings in the receiving State; e) charges levied for specific services rendered; f ) registration, course or record fees, mortgage dues and stamp duty, subject to the provisions of article 24. Article 34 Exemption from personal services The receiving State shall exempt the representatives of the sending State in the special mission and the members of its diplomatic staff from all personal services, from all public service of any kind whatsoever, and from military obligations such as those connected with requisitioning, military contributions and billeting. Article 35 Exemption from customs duties and inspection 1. Within the limits of such laws and regulations as it may adopt, the receiving State shall permit entry of, and grant exemption from all customs duties, taxesand related charges other than charges for storage, cartage and similar services, on: 181colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA a) articles for the official use of the special mission; b) articles for the personal use of the representatives of the sending State in the special mission and the members of its diplomatic staff. 2. The personal baggage of the representatives of the sending State in the special mission and of the members of its diplomatic staff shall be exempt from inspection, unless there are serious grounds for presuming that it contains articles not covered by the exemptions mentioned in paragraph 1 of this article, or articles the import or export of which is prohibited by the law or controlled by the quarantine regulations of the receiving State. In such cases, inspection shall be conducted only in the presence of the person concerned or of his authorized representative. Article 36 Administrative and technical staff Members of the administrative and technical staff of the special mission shall enjoy the privileges and immunities specified in articles 29 to 34, except that the immunity from civil and administrative jurisdiction of the receiving State specified in paragraph 2 of article 31 shall not extend to acts performed outside the course of their duties. They shall also enjoy the privileges mentioned in paragraph 1 of article 35 in respect of articles imported at the time of their first entry into the territory of the receiving State. Article 37 Service staff Members of the service staff of the special mission shall enjoy immunity from the jurisdiction of the receiving State in respect of acts performed in the course of their duties, exemption from dues and taxes on the emoluments they receive by reason of their employment, and exemption from social security legislation as provided in article 32. 182 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 38 Private staff Private staff of the members of the special mission shall be exempt from dues and taxes on the emoluments they receive by reason of their employment. In all other respects, they may enjoy privileges and immunities only to the extent permitted by the receiving State. However, the receiving State must exercise its jurisdiction over these persons in such a manner as to interfere unduly with the performance of the functions of the special mission. Article 39 Members of the family 1. Members of the families of representatives of the sending State in the special mission and of members of its diplomatic staff shall, if they accompany such members of the special mission, enjoy the privileges and immunities specified in articles 29 to 35 provided that they are not nationals of or permanently resident in the receiving State. 2. Members of the families of members of the administrative and technical staff of the special mission shall, if they accompany such members of the special mission, enjoy the privileges and immunities specified in article 36 provided that they are not nationals of or permanently resident in the receiving State. Article 40 Nationals of the receiving State and persons permanently resident in the receiving State 1. Except in so far as additional privileges and immunities may be granted by the receiving State, the representatives of the sending State in the special mission and the members of its diplomatic staff who are nationals of or permanently resident in the receiving State shall enjoy only immunity from jurisdiction and inviolability in respect of official acts performed in the exercise of their functions. 183colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 2. Other members of the special mission and private staff who are nations of or permanently resident in the receiving State shall enjoy privileges and immunities only to the extent granted to them by that State. However, the receiving State must exercise its jurisdiction over those persons in such a manner as not to interfere unduly with the performance of the functions of the special mission. Article 41 Waiver of immunity 1. The sending State may waive the immunity from jurisdiction of its representatives in the special mission, of the members of its diplomatic staff, and of other persons enjoying immunity under articles 36 to 40. 2. Waiver must always be express. 3. The initiation of proceedings by any of the persons referred to in paragraph 1 of this article shall preclude him from invoking immunity from jurisdiction in respect of any counter-claim directly connected with the principal claim. 4. Waiver of immunity from jurisdiction in respect of civil or administrative proceedings shall not be held to imply waiver of immunity in respect of the execution of the judgement, for which a separate waiver shall be necessary. Article 42 Transit through the territory of a third State 1. If a representative of the sending State in the special mission or a member of its diplomatic staff passes through or is in the territory of a third State while proceeding to take up his functions or returning to the sending State, the third State shall accord him inviolability and such other immunities as may be required to ensure his transit or return. The same shall apply in the case of any members of his family enjoying privileges or immunities who are accompanying the person referred to in this paragraph, 184 DIREITO DIPLOMÁTICO whether travelling with him or travelling separately to join him or to return to their country. 2. In circumstances similar to those specified in paragraph 1 of this article, third States shall not hinder the transit of members of the administrative and technical or service staff of the special mission, or of members of their families, through their territories. 3. Third States shall accord to official correspondence and other official communications in transit, including messages in code or cipher, the same freedom and protection as the receiving State is bound to accord under the present Convention. Subject to the provisions of paragraph 4 of this article, they shall accord to the couriers and bags of the special mission in transit the same inviolability and protection as the receiving State is bound to accord under the present Convention. 4. The third State shall be bound to comply with its obligations in respect of the persons mentioned in paragraphs 1, 2 and 3 of this article only if it has been informed in advance, either in the visa application or by notifica- tion, of the transit of those persons as members of the special mission, members of their families or couriers, and has raised no objection to it. 5. The obligations of third States under paragraphs 1, 2 and 3 of this article shall also apply to the persons mentioned respectively in those paragraphs, and to the official communications and the bags of the special mission, when the use of the territory of the third State is due to force majeure. Article 43 Duration of privileges and immunities 1. Every member of the special mission shall enjoy the privileges and immunities to which he is entitled from the moment he enters the territory of the receiving State for the purpose of performing his functions in the special mission or, if he is already in its territory, from the moment when his appointment is notified to the Ministry of Foreign Affairs or such other organ of the receiving State as may be agreed. 185colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 2. When the functions of a member of the special mission have come to an end, his privileges and immunities shall normally cease at the moment when he leaves the territory of the receiving State, or on the expiry of a reasonable period in which to do so, but shall subsist until that time, even in case of armed conflict. However, in respect of acts performed by such a member in the exercise of his functions, immunity shall continue to subsist. 3. In the event of the death of a member of the special mission, the members of his family shall continue to enjoythe privileges and immunities to which they are entitled until the expiry of a reasonable period in which to leave the territory of the receiving State. Article 44 Property of a member of the special mission or of a member of his family in the event of death 1. In the event of the death of a member of the special mission or of a member of his family accompanying him, if the deceased was not a national of or permanently resident in the receiving State, the receiving State shall permit the withdrawal of the movable property of the deceased, with the exception of any property acquired in the country the export of which was prohibited at the time of his death. 2. Estate, succession and inheritance duties shall not be levied on movable property which is in the receiving State solely because of the presence there of the deceased as a member of the special mission or of the family of a member of the mission. Article 45 Facilities to leave the territory of the receiving State and to remove the archives of the special mission 1. The receiving State must, even in case of armed conflict, grant facilities to enable persons enjoying privileges and immunities, other than nationals of the receiving State, and members of the families of such 186 DIREITO DIPLOMÁTICO persons, irrespective of their nationality, to leave at the earliest possible moment. In particular it must, in case of need, place at their disposal the necessary means of transport for themselves and their property. 2. The receiving State must grant the sending State facilities for removing the archives of the special mission from the territory of the receiving State. Article 46 Consequences of the cessation of the functions of the special mission 1. When the functions of a special mission come to an end, the receiving State must respect and protect the premises of the special mission so long as they are assigned to it, as well as the property and archives of the special mission. The sending State must withdraw the property and archives within a reasonable period of time. 2. In case of the absence or severance of diplomatic or consular relations between the sending State and the receiving State and if the functions of the special mission have come to an end, the sending State may, even if there is an armed conflict, entrust the custody of the property and archives of the special mission to a third State acceptable to the receiving State. Article 47 Respect for the laws and regulations of the receiving State and use of the premises of the special mission 1. Without prejudice to their privileges and immunities, it is the duty of all persons enjoying these privileges and immunities under the present Convention to respect the laws and regulations of the receiving State. They also have a duty not to interfere in the internal affairs of that State. 2. The premises of the special mission must not be used in any manner incompatible with the functions of the special mission as envisaged in the present Convention, in other rules of general international law or in any special agreements in force between the sending and the receiving State. 187colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Article 48 Professional or commercial activity The representatives of the sending State in the special mission and the members of its diplomatic staff shall not practise for personal profit any professional or commercial activity in the receiving State. Article 49 Non-discrimination 1. In the application of the provisions of the present Convention, no discrimination shall be made as between States. 2. However, discrimination shall not be regarded as taking place: a) Where the receiving State applies any of the provisions of the present Convention restrictively because of a restrictive application of that provision to its special mission in the sending State; b) Where States modify among themselves, by custom or agreement, the extent of facilities, privileges and immunities for their special missions, although such a modification has not been agreed with other States, provided that it is not incompatible with the object and purpose of the present Convention and does not affect the enjoyment of the rights or the performance of the obligations of third States. Article 50 Signature The present Convention shall be open for signature by all States Members of the United Nations or of any of the specialized agencies or of the International Atomic Energy Agency or Parties to the Statute of the International Court of Justice, and by any other State invited by the General Assembly of the United Nations to become a Party to the Convention, until 31 December 1970 at United Nations Headquarters in New York. 188 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 51 Ratification The present Convention is subject to ratification. The instruments of ratification shall be deposited with the Secretary-General of the United Nations. Article 52 Accession The present Convention shall remain open for accession by any State belonging to any of the categories mentioned in article 50. The instruments of accession shall be deposited with the Secretary-General of the United Nations. Article 53 Entry into force 1. The present Convention shall enter into force on the thirtieth day following the date of deposit of the twenty-second instrument of ratification or accession with the Secretary-General of the United Nations. 2. For each State ratifying or acceding to the Convention after the deposit of the twenty-second instrument of ratification or accession, the Convention shall enter into force on the thirtieth day after deposit by such State of its instrument of ratification or accession. Article 54 Notification by the depositary The Secretary-General of the United Nations shall inform all States belonging to any of the categories mentioned in article 50: a) of signatures to the present Convention and of the deposit of instruments of ratification or accession in accordance with articles 50, 51 and 52; b) of the date on which the present Convention will enter into force in accordance with article 53. 189colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Article 55 Authentic texts The original of the present Convention, of which the Chinese, English, French, Russian and Spanish texts are equally authentic, shall be deposited with the Secretary-General of the United Nations, who shall send certified copies thereof to all States belonging to any of the categories mentioned in article 50. IN WITNESS WHEREOF the undersigned, being duly authorized thereto by their respective Governments, have signed the present Convention, opened for signature at New York on 16 December 1969. 190 DIREITO DIPLOMÁTICO Vienna Convention on the Representation of States in their Relations with International Organizations of a Universal Character Done at Vienna on 14 March 1975 The States Parties to the present Convention, Recognizing the increasingly important role of multilateral diplomacy in relations between States and the responsibilities of the United Nations, its specialized agencies and other international organizations of a univer- sal character within the international community, Having in mind the purposes and principles of the Charter of the United Nations concerning the sovereign equality of States, the mainte- nance of international peace and security and the promotion of friendly relations and cooperation among States, Recalling the work of codification and progressive development of international law applicable to bilateral relations between States which was achieved by the Vienna Convention on Diplomatic Relations of 1961, the Vienna Convention on Consular Relations of 1963, and the Convention on Special Missions of 1969, Believing that an international convention on the representation of States in their relations with international organizations of a universal character would contribute to the promotion of friendly relationsand cooperation among States, irrespective of their political, economic and social systems, Recalling the provisions of Article 105 of the Charter of the United Nations, Recognizing that the purpose of privileges and immunities contained in the present Convention is not to benefit individuals but to ensure the efficient performance of their functions in connection with organizations and conferences, Taking account of the Convention on the Privileges and Immunities of the United Nations of 1946, the Convention on the Privileges and 191colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Immunities of the Specialized Agencies of 1947 and other agreements in force between States and between States and international organizations, Affirming that the rules of customary international law continue to govern questions not expressly regulated by the provisions of the present Convention, Have agreed as follows: Part I. Introduction Article 1 Use of terms 1. For the purposes of the present Convention: (1) “international organization” means an intergovernmental organi- zation; (2) “international organization of a universal character” means the United Nations, its specialized agencies, the International Atomic Energy Agency and any similar organization whose membership and responsibili- ties are on a worldwide scale; (3) “Organization” means the international organization in question; (4) “organ” means: (a) any principal or subsidiary organ of an international organiza- tion, or (b) any commission, committee or subgroup of any such organ, in which States are members; (5) “conference” means a conference of States convened by or under the auspices of an international organization; (6) “mission” means, as the case may be, the permanent mission or the permanent observer mission; (7) “permanent mission” means a mission of permanent character, representing the State, sent by a State member of an international organi- zation to the Organization; 192 DIREITO DIPLOMÁTICO (8) “permanent observer mission” means a mission of permanent character, representing the State, sent to an international organization by a State not a member of the Organization; (9) “delegation” means, as the case may be, the delegation to an organ or the delegation to a conference; (10) “delegation to an organ” means the delegation sent by a State to participate on its behalf in the proceedings of the organ; (11) “delegation to a conference” means the delegation sent by a State to participate on its behalf in the conference; (12) “observer delegation” means, as the case may be, the observer delegation to an organ or the observer delegation to a conference; (13) “observer delegation to an organ” means the delegation sent by a State to participate on its behalf as an observer in the proceedings of the organ; (14) “observer delegation to a conference” means the delegation sent by a State to participate on its behalf as an observer in the proceedings of the conference; (15) “host State” means the State in whose territory: (a) the Organization has its seat or an office, or (b) a meeting of an organ or a conference is held; (16) “sending State” means the State which sends: (a) a mission to the Organization at its seat or to an office of the Organization, or (b) a delegation to an organ or a delegation to a conference, or (c) an observer delegation to an organ or an observer delegation to a conference; (17) “head of mission” means, as the case may be, the permanent representative or the permanent observer; (18) “permanent representative” means the person charged by the sending State with the duty of acting as the head of the permanent mission; (19) “permanent observer” means the person charged by the sending State with the duty of acting as the head of the permanent observer mission; 193colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA (20) “members of the mission” means the head of mission and the members of the staff; (21) “head of delegation” means the delegate charged by the sending State with the duty of acting in that capacity; (22) “delegate” means any person designated by a State to participate as its representative in the proceedings of an organ or in a conference; (23) “members of the delegation” means the delegates and the mem- bers of the staff; (24) “head of the observer delegation” means the observer delegate charged by the sending State with the duty of acting in that capacity; (25) “observer delegate” means any person designated by a State to attend as an observer the proceedings of an organ or of a conference; (26) “members of the observer delegation” means the observer del- egates and the members of the staff; (27) “members of the staff” means the members of the diplomatic staff, the administrative and technical staff and the service staff of the mission, the delegation or the observer delegation; (28) “members of the diplomatic staff” means the members of the staff of the mission, the delegation or the observer delegation who enjoy diplomatic status for the purpose of the mission, the delegation or the observer delegation; (29) “members of the administrative and technical staff” means the members of the staff employed in the administrative and technical service of the mission, the delegation or the observer delegation; (30) “members of the service staff” means the members of the staff employed by the mission, the delegation or the observer delegation as household workers or for similar tasks; (31) “private staff” means persons employed exclusively in the private service of the members of the mission or the delegation; (32) “premises of the mission” means the buildings or parts of build- ings and the land ancillary thereto, irrespective of ownership, used for the purpose of the mission, including the residence of the head of mission; 194 DIREITO DIPLOMÁTICO (33) “premises of the delegation” means the buildings or parts of buildings, irrespective of ownership, used solely as the offices of the delegation; (34) “rules of the Organization” means, in particular, the constituent instruments, relevant decisions and resolutions, and established practice of the Organization. 2. The provisions of paragraph 1 of this article regarding the use of terms in the present Convention are without prejudice to the use of those terms or to the meanings which may be given to them in other interna- tional instruments or the internal law of any State. Article 2 Scope of the present Convention 1. The present Convention applies to the representation of States in their relations with any international organization of a universal character, and to their representation at conferences convened by or under the auspices of such an organization, when the Convention has been accepted by the host State and the Organization has completed the procedure envisaged by article 90. 2. The fact that the present Convention does not apply to other international organizations is without prejudice to the application to the representation of States in their relations with such other organizations of any of the rules set forth in the Convention which would be applicable under international law independently of the Convention. 3. The fact that the present Convention does not apply to other conferences is without prejudice to the application to the representation of States at such other conferences of any of the rules set forth in the Convention which would be applicable under international law inde- pendently of the Convention. 4. Nothing in the present Convention shall preclude the conclusion of agreements between States or between States and international organiza- tions making the Convention applicable in whole or in part to interna- 195colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA tional organizations or conferences other than those referred to in para- graph 1 of this article. Article 3 Relationship between the present Convention and the relevant rules of international organizationsor conferences The provisions of the present Convention are without prejudice to any relevant rules of the Organization or to any relevant rules of procedure of the Conference. Article 4 Relationship between the present Convention and other interna- tional agreements The provisions of the present Convention: (a) are without prejudice to other international agreements in force between States or between States and international organizations of a universal character, and (b) shall not preclude the conclusion of other international agree- ments regarding the representation of States in their relations with inter- national organizations of a universal character or their representation at conferences convened by or under the auspices of such organizations. Part II. Missions to International Organizations Article 5 Establishment of missions 1.Member States may, if the rules of the Organization so permit, establish permanent missions for the performance of the functions men- tioned in article 6. 2. Non-member States may, if the rules of the Organization so permit, establish permanent observer missions for the performance of the func- tions mentioned in article 7. 196 DIREITO DIPLOMÁTICO 3. The Organization shall notify the host State of the institution of a mission prior to its establishment. Article 6 Functions of the permanent mission The functions of the permanent mission consist, inter alia, in: (a) ensuring the representation of the sending State to the Organiza- tion; (b) maintaining liaison between the sending State and the Organiza- tion; (c) negotiating with and within the Organization; (d) ascertaining activities in the Organization and reporting thereon to the Government of the sending State; (e) ensuring the participation of the sending State in the activities of the Organization; (f ) protecting the interests of the sending State in relation to the Organization; (g) promoting the realization of the purposes and principles of the Organization by cooperating with and within the Organization. Article 7 Functions of the permanent observer mission The functions of the permanent observer mission consist, inter alia, in: (a) ensuring the representation of the sending State and safeguarding its interests in relation to the Organization and maintaining liaison with it; (b) ascertaining activities in the Organization and reporting thereon to the Government of the sending State; (c) promoting cooperation with the Organization and negotiating with it. 197colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Article 8 Multiple accreditation or appointment 1. The sending State may accredit the same person as head of mission to two or more international organizations or appoint a head of mission as a member of the diplomatic staff of another of its missions. 2. The sending State may accredit a member of the diplomatic staff of the mission as head of mission to other international organizations or appoint a member of the staff of the mission as a member of the staff of another of its missions. 3. Two or more States may accredit the same person as head of mission to the same international organization. Article 9 Appointment of the members of the mission Subject to the provisions of articles 14 and 73, the sending State may freely appoint the members of the mission. Article 10 Credentials of the head of mission The credentials of the head of mission shall be issued by the Head of State, by the Head of Government, by the Minister for Foreign Affairs or, if the rules of the Organization so permit, by another competent authority of the sending State and shall be transmitted to the Organization. Article 11 Accreditation to organs of the Organization 1. A member State may specify in the credentials issued to its perma- nent representative that he is authorized to act as a delegate to one or more organs of the Organization. 2. Unless a member State provides otherwise, its permanent repre- sentative may act as a delegate to organs of the Organization for which there are no special requirements as regards representation. 198 DIREITO DIPLOMÁTICO 3. A non-member State may specify in the credentials issued to its permanent observer that he is authorized to act as an observer delegate to one or more organs of the Organization when this is permitted by the rules of the Organization or the organ concerned. Article 12 Full powers for the conclusion of a treaty with the Organization 1. The head of mission, by virtue of his functions and without having to produce full powers, is considered as representing his State for the purpose of adopting the text of a treaty between that State and the Organization. 2. The head of mission is not considered by virtue of his functions as representing his State for the purpose of signing a treaty, or signing a treaty ad referendum, between that State and the Organization unless it appears from the practice of the Organization, or from other circum- stances, that the intention of the parties was to dispense with full powers. Article 13 Composition of the mission In addition to the head of mission, the mission may include diplo- matic staff, administrative and technical staff and service staff. Article 14 Size of the mission The size of the mission shall not exceed what is reasonable and normal, having regard to the functions of the Organization, the needs of the particular mission and the circumstances and conditions in the host State. Article 15 Notifications 1. The sending State shall notify the Organization of: 199colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA (a) the appointment, position, title and order of precedence of the members of the mission, their arrival, their final departure or the termina- tion of their functions with the mission, and any other changes affecting their status that may occur in the course of their service with the mission; (b) the arrival and final departure of any person belonging to the family of a member of the mission and forming part of his household and, where appropriate, the fact that a person becomes or ceases to be such a member of the family; (c) the arrival and final departure of persons employed on the private staff of members of the mission and the termination of their employment as such; (d) the beginning and the termination of the employment of persons resident in the host State as members of the staff of the mission or as persons employed on the private staff; (e) the location of the premises of the mission and of the private residences enjoying inviolability under articles 23 and 29, as well as any other information that may be necessary to identify such premises and residences. 2. Where possible, prior notification of arrival and final departure shall also be given. 3. The Organization shall transmit to the host State the notification referred to in paragraphs 1 and 2 of this article. 4. The sending State may also transmit to the host State the notifica- tion referred to in paragraphs 1 and 2 of this article. Article 16 Acting head of mission If the post of head of mission is vacant, or if the head of mission is unable to perform his functions, the sending State may appoint an acting head of mission whose name shall be notified to the Organization and by it to the host State. 200 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 17 Precedence 1. Precedence among permanent representatives shall be determined by the alphabetical order of the names of the States used in the Organiza- tion. 2. Precedence among permanent observers shall be determined by the alphabetical order of the names of the States used in the Organization. Article 18 Location of the mission Missions should be established in the locality where the Organization has its seat. However, if the rules of the Organization so permit and with the prior consent of the host State, the sending State may establish a mission or an office of a mission in a locality other than that inwhich the Organization has its seat. Article 19 Use of flag and emblem 1. The mission shall have the right to use the flag and emblem of the sending State on its premises. The head of mission shall have the same right as regards his residence and means of transport. 2. In the exercise of the right accorded by this article regard shall be had to the laws, regulations and usages of the host State. Article 20 General facilities 1. The host State shall accord to the mission all necessary facilities for the performance of its functions. 2. The Organization shall assist the mission in obtaining those facili- ties and shall accord to the mission such facilities as lie within its own competence. 201colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Article 21 Premises and accommodation 1. The host State and the Organization shall assist the sending State in obtaining on reasonable terms premises necessary for the mission in the territory of the host State. Where necessary, the host State shall facilitate in accordance with its laws the acquisition of such premises. 2. Where necessary, the host State and the Organization shall also assist the mission in obtaining on reasonable terms suitable accommoda- tion for its members. Article 22 Assistance by the Organization in respect of privileges and immunities 1. The Organization shall, where necessary, assist the sending State, its mission and the members of its mission in securing the enjoyment of the privileges and immunities provided for under the present Convention. 2. The Organization shall, where necessary, assist the host State in securing the discharge of the obligations of the sending State, its mission and the members of its mission in respect of the privileges and immunities provided for under the present Convention. Article 23 Inviolability of premises 1. The premises of the mission shall be inviolable. The agents of the host State may not enter them, except with the consent of the head of mission. 2. (a) The host State is under a special duty to take all appropriate steps to protect the premises of the mission against any intrusion or damage and to prevent any disturbance of the peace of the mission or impairment of its dignity. (b) In case of an attack on the premises of the mission, the host State shall take all appropriate steps to prosecute and punish persons who have committed the attack. 202 DIREITO DIPLOMÁTICO 3. The premises of the mission, their furnishings and other property thereon and the means of transport of the mission shall be immune from search, requisition, attachment or execution. Article 24 Exemption of the premises from taxation 1. The premises of the mission of which the sending State or any person acting on its behalf is the owner or the lessee shall be exempt from all national, regional or municipal dues and taxes other than such as represent payment for specific services rendered. 2. The exemption from taxation referred to in this article shall not apply to such dues and taxes payable under the law of the host State by persons contracting with the sending State or with any person acting on its behalf. Article 25 Inviolability of archives and documents The archives and documents of the mission shall be inviolable at all times and wherever they may be. Article 26 Freedom of movement Subject to its laws and regulations concerning zones entry into which is prohibited or regulated for reasons of national security, the host State shall ensure freedom of movement and travel in its territory to all mem- bers of the mission and members of their families forming part of their households. Article 27 Freedom of communication 1. The host State shall permit and protect free communication on the part of the mission for all official purposes. In communicating with the 203colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Government of the sending State, its permanent diplomatic missions, consular posts, permanent missions, permanent observer missions, spe- cial missions,delegations and observer delegations, wherever situated, the mission may employ all appropriate means, including couriers and mes- sages in code or cipher. However, the mission may install and use a wireless transmitter only with the consent of the host State. 2. The official correspondence of the mission shall be inviolable. Official correspondence means all correspondence relating to the mission and its functions. 3. The bag of the mission shall not be opened or detained. 4. The packages constituting the bag of the mission must bear visible external marks of their character and may contain only documents or articles intended for the official use of the mission. 5. The courier of the mission, who shall be provided with an official document indicating his status and the number of packages constituting the bag, shall be protected by the host State in the performance of his functions. He shall enjoy personal inviolability and shall not be liable to any form of arrest or detention. 6. The sending State or the mission may designate couriers ad hoc of the mission. In such cases the provisions of paragraph 5 of this article shall also apply, except that the immunities therein mentioned shall cease to apply when the courier ad hoc has delivered to the consignee the mis- sion’s bag in his charge. 7. The bag of the mission may be entrusted to the captain of a ship or of a commercial aircraft scheduled to land at an authorized port of entry. He shall be provided with an official document indicating the number of packages constituting the bag, but he shall not be considered to be a courier of the mission. By arrangement with the appropriate authorities of the host State, the mission may send one of its members to take posses- sion of the bag directly and freely from the captain of the ship or of the aircraft. 204 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 28 Personal inviolability The persons of the head of mission and of the members of the diplomatic staff of the mission shall be inviolable. They shall not be liable to any form of arrest or detention. The host State shall treat them with due respect and shall take all appropriate steps to prevent any attack on their persons, freedom or dignity and to prosecute and punish persons who have committed such attacks. Article 29 Inviolability of residence and property 1. The private residence of the head of mission and of the members of the diplomatic staff of the mission shall enjoy the same inviolability and protection as the premises of the mission. 2. The papers, correspondence and, except as provided in paragraph 2 of article 30, the property of the head of mission or of members of the diplomatic staff of the mission shall also enjoy inviolability. Article 30 Immunity from jurisdiction 1. The head of mission and the members of the diplomatic staff of the mission shall enjoy immunity from the criminal jurisdiction of the host State. They shall also enjoy immunity from its civil and administrative jurisdiction, except in the case of: (a) a real action relating to private immovable property situated in the territory of the host State, unless the person in question holds it on behalf of the sending State for the purposes of the mission; (b) an action relating to succession in which the person in question is involved as executor, administrator, heir or legatee as a private person and not on behalf of the sending State; (c) an action relating to any professional or commercial activity exer- cised by the person in question in the host State outside his official functions. 205colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 2. No measures of execution may be taken in respect of the head of mission or a member of the diplomatic staff of the mission except in cases coming under subparagraphs (a), (b) and (c) of paragraph 1 of this article, and provided that the measures concerned can be taken without infringing the inviolability of his person or of his residence.3. The head of mission and the members of the diplomatic staff of the mission are not obliged to give evidence as witnesses. 4. The immunity of the head of mission or of a member of the diplomatic staff of the mission from the jurisdiction of the host State does not exempt him from the jurisdiction of the sending State. Article 31 Waiver of immunity 1. The immunity from jurisdiction of the head of mission and mem- bers of the diplomatic staff of the mission and of persons enjoying immu- nity under article 36 may be waived by the sending State. 2. Waiver must always be express. 3. The initiation of proceedings by any of the persons referred to in paragraph 1 of this article shall preclude him from invoking immunity from jurisdiction in respect of any counterclaim directly connected with the principal claim. 4. Waiver of immunity from jurisdiction in respect of civil or adminis- trative proceedings shall not be held to imply waiver of immunity in respect of the execution of the judgement, for which a separate waiver shall be necessary. 5. If the sending State does not waive the immunity of any of the persons mentioned in paragraph 1 of this article in respect of a civil action, it shall use its best endeavours to bring about a just settlement of the case. Article 32 Exemption from social security legislation 1. Subject to the provisions of paragraph 3 of this article, the head of mission and the members of the diplomatic staff of the mission shall with 206 DIREITO DIPLOMÁTICO respect to services rendered for the sending State be exempt from social security provisions which may be in force in the host State. 2. The exemption provided for in paragraph I of this article shall also apply to persons who are in the sole private employ of the head of mission or of a member of the diplomatic staff of the mission, on condition: (a) that such employed persons are not nationals of or permanently resident in the host State; and (b) that they are covered by the social security provisions which may be in force in the sending State or a third State. 3. The head of mission and the members of the diplomatic staff of the mission who employ persons to whom the exemption provided for in paragraph 2 of this article does not apply shall observe the obligations which the social security provisions of the host State impose upon em- ployers. 4. The exemption provided for in paragraphs 1 and 2 of this arti- cle shall not preclude voluntary participation in the social security system of the host State provided that such participation is permitted by that State. 5. The provisions of this article shall not affect bilateral or multilateral agreements concerning social security concluded previously and shall not prevent the conclusion of such agreements in the future. Article 33 Exemption from dues and taxes The head of mission and the members of the diplomatic staff of the mission shall be exempt from all dues and taxes, personal or real, national, regional or municipal, except: (a) indirect taxes of a kind which are normally incorporated in the price of goods or services; (b) dues and taxes on private immovable property situated in the territory of the host State, unless the person concerned holds it on behalf of the sending State for the purposes of the mission; 207colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA (c) estate, succession or inheritance duties levied by the host State, subject to the provisions of paragraph 4 of article 38; (d) dues and taxes on private income having its source in the host State and capital taxes on investments made in commercial undertakings in the host State; (e) charges levied for specific services rendered; (f ) registration, court or record fees, mortgage dues and stamp duty, with respect to immovable property, subject to the provisions of article 24. Article 34 Exemption from personal services The host State shall exempt the head of mission and the members of the diplomatic staff of the mission from all personal services, from all public service of any kind whatsoever, and from military obligations such as those connected with requisitioning, military contributions and billeting. Article 35 Exemption from customs duties and inspection 1. The host State shall, in accordance with such laws and regulations as it may adopt, permit entry of and grant exemption from all customs duties, taxes and related charges other than charges for storage, cartage and similar services, on: (a) articles for the official use of the mission; (b) articles for the personal use of the head of mission or a member of the diplomatic staff of the mission, including articles intended for his establishment. 2. The personal baggage of the head of mission or a member of the diplomatic staff of the mission shall be exempt from inspection, unless there are serious grounds for presuming that it contains articles not covered by the exemptions mentioned in paragraph 1 of this article, or articles the import or export of which is prohibited by the law or controlled 208 DIREITO DIPLOMÁTICO by the quarantine regulations of the host State. In such cases, inspection shall be conducted only in the presence of the person enjoying the exemption or of his authorized representative. Article 36 Privileges and immunities of other persons 1. The members of the family of the head of mission forming part of his household and the members of the family of a member of the diplo- matic staff of the mission forming part of his household shall, if they are not nationals of or permanently resident in the host State, enjoy the privileges and immunities specified in articles 28, 29, 30, 32, 33, 34 and in paragraphs 1(b) and 2 of article 35. 2.Members of the administrative and technical staff of the mission, together with members of their families forming part of their respective households who are not nationals of or permanently resident in the host State, shall enjoy the privileges and immunities specified in articles 28, 29, 30, 32, 33 and 34, except that the immunity from civil and administrative jurisdiction of the host State specified in paragraph 1 of article 30 shall not extend to acts performed outside the course of their duties. They shall also enjoy the privileges specified in paragraph 1 (b) of article 35 in respect of articles imported at the time of final installation. 3.Members of the service staff of the mission who are not nationals of or permanently resident in the host State shall enjoy immunity in respect of acts performed in the course of their duties, exemption from dues and taxes on the emoluments they receive by reason of their employment and the exemption specified in article 32. 4. Private staff of members of the mission shall, if they are not nationals of or permanently resident in the host State, be exempt from dues and taxes on the emoluments they receive by reason of their employment. In other respects, they may enjoy privileges and immunities only to the extent admitted by the host State. However, the host State must exercise its jurisdiction over those persons in such a manner as 209colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA not to interfere unduly with the performance of the functions of the mission. Article 37 Nationals and permanent residents of the host State 1. Except in so far as additional privileges and immunities may be granted by the host State, the head of mission or any member of the diplomatic staff of the mission who is a national of or permanently resident in that State shall enjoy only immunity from jurisdiction and inviolability in respect of official acts performed in the exercise of his functions. 2. Other members of the staff of the mission who are nationals of or permanently resident in the host State shall enjoy only immunity from jurisdiction in respect of official acts performed in the exercise of their functions. In all other respects, those members, and persons on the private staffwho are nationals of or permanently resident in the host State, shall enjoy privileges and immunities only to the extent admitted by the host State. However, the host State must exercise its jurisdiction over those members and persons in such a manner as not to interfere unduly with the performance of the functions of the mission. Article 38 Duration of privileges and immunities 1. Every person entitled to privileges and immunities shall enjoy them from the moment he enters the territory of the host State on proceeding to take up his post or, if already in its territory, from the moment when his appointment is notified to the host State by the Organization or by the sending State. 2. When the functions of a person enjoying privileges and immunities have come to an end, such privileges and immunities shall normally cease at the moment when he leaves the territory, or on the expiry of a reaso- nable period in which to do so. However, with respect to acts performed 210 DIREITO DIPLOMÁTICO by such a person in the exercise of his functions as a member of the mission, immunity shall continue to subsist. 3. In the event of the death of a member of the mission, the members of his family shall continue to enjoy the privileges and immunities to which they are entitled until the expiry of a reasonable period in which to leave the territory. 4. In the event of the death of a member of the mission not a national of or permanently resident in the host State or of a member of his family forming part of his household, the host State shall permit the withdrawal of the movable property of the deceased, with the exception of any property acquired in the territory the export of which was prohibited at the time of his death. Estate, succession and inheritance duties shall not be levied on movable property which is in the host State solely because of the presence there of the deceased as a member of the mission or of the family of a member of the mission. Article 39 Professional or commercial activity 1. The head of mission and members of the diplomatic staff of the mission shall not practise for personal profit any professional or commer- cial activity in the host State. 2. Except insofar as such privileges and immunities may be granted by the host State, members of the administrative and technical staff and persons forming part of the household of a member of the mission shall not, when they practise a professional or commercial activity for personal profit, enjoy any privilege or immunity in respect of acts performed in the course of or in connection with the practise of such activity. Article 40 End of functions The functions of the head of mission or of a member of the diplomatic staff of the mission shall come to an end, inter alia: 211colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA (a) on notification of their termination by the sending State to the Organization; (b) if the mission is finally or temporarily recalled. Article 41 Protection of premises, property and archives 1. When the mission is temporarily or finally recalled, the host State must respect and protect the premises, property and archives of the mission. The sending State must take all appropriate measures to termi- nate this special duty of the host State as soon as possible. It may entrust custody of the premises, property and archives of the mission to the Organization if it so agrees, or to a third State acceptable to the host State. 2. The host State, if requested by the sending State, shall grant the latter facilities for removing the property and archives of the mission from the territory of the host State. Part III. Delegations to Organs and to Conferences Article 42 Sending of delegations 1. A State may send a delegation to an organ or to a conference in accordance with the rules of the Organization. 2. Two or more States may send the same delegation to an organ or to a conference in accordance with the rules of the Organization. Article 43 Appointment of the members of the delegation Subject to the provisions of articles 46 and 73, the sending State may freely appoint the members of the delegation. 212 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 44 Credentials of delegates The credentials of the head of delegation and of other delegates shall be issued by the Head of State, by the Head of Government, by the Minister for Foreign Affairs or, if the rules of the Organization or the rules of procedure of the conference so permit, by another competent authority of the sending State. They shall be transmitted, as the case may be, to the Organization or to the conference. Article 45 Composition of the delegation In addition to the head of delegation, the delegation may include other delegates, diplomatic staff, administrative and technical staff and service staff. Article 46 Size of the delegation The size of the delegation shall not exceed what is reasonable and normal, having regard, as the case may be, to the functions of the organ or the object of the conference, as well as the needs of the particular delegation and the circumstances and conditions in the host State. Article 47 Notifications 1. The sending State shall notify the Organization or, as the case may be, the conference of: (a) the composition of the delegation, including the position, title and order of precedence of the members of the delegation, and any subse- quent changes therein; (b) the arrival and final departure of members of the delegation and the termination of their functions with the delegation; (c) the arrival and final departure of any person accompanying a member of the delegation; 213colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA (d) the beginning and the termination of the employment of persons resident in the host State as members of the staff of the delegation or as persons employed on the private staff; (e) the location of the premises of the delegation and of the private accommodation enjoying inviolability under article 59, as well as any other information that may be necessary to identify such premises and accommodation. 2. Where possible, prior notification of arrival and final departure shall also be given. 3. The Organization or, as the case may be, the conference shall transmit to the host State the notifications referred to in paragraphs 1 and 2 of this article. 4. The sending State may also transmit to the host State the notifica- tions referred to in paragraphs 1 and 2 of this article. Article 48 Acting head of delegation 1. If the head of delegation is absent or unable to perform his functions, an acting head of delegation shall be designated from among the other delegates by the head of delegation or, in case he is unable to do so, by a competent authority of the sending State. The name of the acting head of delegation shall be notified, as the case may be, to the Organization or to the conference. 2. If a delegation does not have another delegate available to serve as acting head of delegation, another person may be designated for that purpose. In such case credentials must be issued and transmitted in accordance with article 44. Article 49 Precedence Precedence among delegations shall be determined by the alpha- betical order of the names of the States used in the Organization. 214 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 50 Status of the Head of State and persons of high rank 1. The Head of State or any member of a collegial body performing the functions of Head of State under the constitution of the State con- cerned, when he leads the delegation, shall enjoy in the host State or in a third State, in addition to what is granted by the present Convention, the facilities, privileges and immunities accorded by international law to Heads of State. 2.The Head of Government, the Minister for Foreign Affairs or other person of high rank, when he leads or is a member of the delegation, shall enjoy in the host State or in a third State, in addition to whatis granted by the present Convention, the facilities, privileges and immunities accorded by international law to such persons. Article 51 General facilities 1. The host State shall accord to the delegation all necessary facilities for the performance of its tasks. 2. The Organization or, as the case may be, the conference shall assist the delegation in obtaining those facilities and shall accord to the delega- tion such facilities as lie within its own competence. Article 52 Premises and accommodation If so requested, the host State and, where necessary, the Organization or the conference shall assist the sending State in obtaining on reasonable terms premises necessary for the delegation and suitable accommodation for its members. Article 53 Assistance in respect of privileges and immunities 1. The Organization or, as the case may be, the Organization and the conference shall, where necessary, assist the sending State, its delegation 215colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA and the members of its delegation in securing the enjoyment of the privileges and immunities provided for under the present Convention. 2. The Organization or, as the case may be, the Organization and the conference shall, where necessary, assist the host State in securing the discharge of the obligations of the sending State, its delegation and the members of its delegation in respect of the privileges and immunities provided for under the present Convention. Article 54 Exemption of the premises from taxation 1. The sending State or any member of the delegation acting on behalf of the delegation shall be exempt from all national, regional or municipal dues and taxes in respect of the premises of the delegation other than such as represent payment for specific services rendered. 2. The exemption from taxation referred to in this article shall not apply to such dues and taxes payable under the law of the host State by persons contracting with the sending State or with a member of the delegation. Article 55 Inviolability of archives and documents The archives and documents of the delegation shall be inviolable at all times and wherever they may be. Article 56 Freedom of movement Subject to its laws and regulations concerning zones entry into which is prohibited or regulated for reasons of national security, the host State shall ensure to all members of the delegation such freedom of movement and travel in its territory as is necessary for the performance of the tasks of the delegation. 216 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 57 Freedom of communication 1. The host State shall permit and protect free communication on the part of the delegation for all official purposes. In communicating with the Government of the sending State, its permanent diplomatic missions, consular posts, permanent missions, permanent observer missions, special missions, other delegations, and observer delegations, wherever situated, the delegation may employ all appropriate means, including couriers and messages in code or cipher. However, the delega- tion may install and use a wireless transmitter only with the consent of the host State. 2. The official correspondence of the delegation shall be inviolable. Official correspondence means all correspondence relating to the delega- tion and its tasks. 3. Where practicable, the delegation shall use the means of commu- nication, including the bag and the courier, of the permanent diplomatic mission, of a consular post, of the permanent mission or of the permanent observer mission of the sending State. 4. The bag of the delegation shall not be opened or detained. 5. The packages constituting the bag of the delegation must bear visible external marks of their character and may contain only documents or articles intended for the official use of the delegation. 6. The courier of the delegation, who shall be provided with an official document indicating his status and the number of packages constituting the bag, shall be protected by the host State in the performance of his functions. He shall enjoy personal inviolability and shall not be liable to any form of arrest or detention. 7. The sending State or the delegation may designate couriers ad hoc of the delegation. In such cases the provisions of paragraph 6 of this article shall also apply, except that the immunities therein mentioned shall cease to apply when the courier ad hoc has delivered to the consignee the delegation’s bag in his charge. 217colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 8. The bag of the delegation may be entrusted to the captain of a ship or of a commercial aircraft scheduled to land at an authorized port of entry. He shall be provided with an official document indicating the number of packages constituting the bag, but he shall not be considered to be a courier of the delegation. By arrangement with the appropriate authorities of the host State, the delegation may send one of its members to take possession of the bag directly and freely from the captain of the ship or of the aircraft. Article 58 Personal inviolability The persons of the head of delegation and of other delegates and members of the diplomatic staff of the delegation shall be inviolable. They shall not be liable, inter alia, to any form of arrest or detention. The host State shall treat them with due respect and shall take all appropriate steps to prevent any attack on their persons, freedom or dignity and to prosecute and punish persons who have committed such attacks. Article 59 Inviolability of private accommodation and property 1. The private accommodation of the head of delegation and of other delegates and members of the diplomatic staff of the delegation shall enjoy inviolability and protection. 2. The papers, correspondence and, except as provided in paragraph 2 of article 60, the property of the head of delegation and of other delegates or members of the diplomatic staff of the delegation shall also enjoy inviolability. Article 60 Immunity from jurisdiction 1. The head of delegation and other delegates and members of the diplomatic staff of the delegation shall enjoy immunity from the criminal jurisdiction of the host State, and immunity from its civil and administra- 218 DIREITO DIPLOMÁTICO tive jurisdiction in respect of all acts performed in the exercise of their official functions. 2. No measures of execution may be taken in respect of such persons unless they can be taken without infringing their rights under articles 58 and 59. 3. Such persons are not obliged to give evidence as witnesses. 4. Nothing in this article shall exempt such persons from the civil and administrative jurisdiction of the host State in relation to an action for damages arising from an accident caused by a vehicle, vessel r aircraft, used or owned by the persons in question, where those damages are not recoverable from insurance. 5. Any immunity of such persons from the jurisdiction of the host State does not exempt them from the jurisdiction of the sending State. Article 61 Waiver of immunity 1. The immunity from jurisdiction of the head of delegation and of other delegates and members of the diplomatic staff of the delegation and of persons enjoying immunity under article 66 may be waived by the sending State. 2. Waiver must always be express. 3. The initiation of proceedings by any of the persons referred to in paragraph 1 of this article shall preclude him from invoking immunity from jurisdiction in respect of any counterclaim directly connected with the principal claim. 4. Waiver of immunity from jurisdiction in respect of civil or adminis- trative proceedings shall not be held to imply waiver of immunity in respect of the execution of the judgement, for which a separate waiver shall be necessary. 5. If the sending State does not waive the immunity of any of the persons mentioned in paragraph 1 of this article in respect of a civil action, it shall use its bestendeavours to bring about a just settlement of the case. 219colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Article 62 Exemption from social security legislation 1. Subject to the provisions of paragraph 3 of this article, the head of delegation and other delegates and members of the diplomatic staff of the delegation shall with respect to services rendered for the sending State be exempt from social security provisions which may be in force in the host State. 2. The exemption provided for in paragraph 1 of this article shall also apply to persons who are in the sole private employ of the head of delegation or of any other delegate or member of the diplomatic staff of the delegation, on condition: (a) that such employed persons are not nationals of or permanently resident in the host State; and (b) that they are covered by the social security provisions which may be in force in the sending State or a third State. 3. The head of delegation and other delegates and members of the diplomatic staff of the delegation who employ persons to whom the exemption provided for in paragraph 2 of this article does not apply shall observe the obligations which the social security provisions of the host State impose upon employers. 4. The exemption provided for in paragraphs 1 and 2 of this arti- cle shall not preclude voluntary participation in the social security system of the host State provided that such participation is permitted by that State. 5. The provisions of this article shall not affect bilateral or multilateral agreements concerning social security concluded previously and shall not prevent the conclusion of such agreements in the future. Article 63 Exemption from dues and taxes The head of delegation and other delegates and members of the diplomatic staff of the delegation shall be exempt, to the extent practica- 220 DIREITO DIPLOMÁTICO ble, from all dues and taxes, personal or real, national, regional or munici- pal, except: (a) indirect taxes of a kind which are normally incorporated in the price of goods or services; (b) dues and taxes on private immovable property situated in the territory of the host State, unless the person concerned holds it on behalf of the sending State for the purposes of the delegation; (c) estate, succession or inheritance duties levied by the host State, subject to the provisions of paragraph 4 of article 68; (d) dues and taxes on private income having its source in the host State and capital taxes on investments made in commercial undertakings in the host State; (e) charges levied for specific services rendered; (f ) registration, court or record fees, mortgage dues and stamp duty, with respect to immovable property, subject to the provisions of article 54. Article 64 Exemption from personal services The host State shall exempt the head of delegation and other del- egates and members of the diplomatic staff of the delegation from all personal services, from all public service of any kind whatsoever, and from military obligations such as those connected with requisitioning, military contributions and billeting. Article 65 Exemption from customs duties and inspection 1. The host State shall, in accordance with such laws and regulations as it may adopt, permit entry of and grant exemption from all customs duties, taxes and related charges other than charges for storage, cartage and similar services, on: (a) articles for the official use of the delegation; (b) articles for the personal use of the head of delegation or any other delegate or member of the diplomatic staff of the delegation, imported in 221colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA his personal baggage at the time of his first entry into the territory of the host State to attend the meeting of the organ or conference. 2. The personal baggage of the head of delegation or any other delegate or member of the diplomatic staff of the delegation shall be exempt from inspection, unless there are serious grounds for presuming that it contains articles not covered by the exemptions mentioned in paragraph 1 of this article, or articles the import or export of which is prohibited by the law or controlled by the quarantine regulations of the host State. In such cases, inspection shall be conducted only in the presence of the person enjoying the exemption or of his authorized representative. Article 66 Privileges and immunities of other persons 1. The members of the family of the head of delegation who accom- pany him and the members of the family of any other delegate or member of the diplomatic staff of the delegation who accompany him shall, if they are not nationals of or permanently resident in the host State, enjoy the privileges and immunities specified in articles 58, 60 and 64 and in paragraphs 1 (b) and 2 of article 65 and exemption from aliens’ registration obligations. 2.Members of the administrative and technical staff of the delegation shall, if they are not nationals of or permanently resident in the host State, enjoy the privileges and immunities specified in articles 58, 59, 60, 62, 63 and 64. They shall also enjoy the privileges specified in paragraph 1 (b) of article 65 in respect of articles imported in their personal baggage at the time of their first entry into the territory of the host State for the purpose of attending the meeting of the organ or conference. Members of the family of a member of the administrative and technical staff who accom- pany him shall, if they are not nationals of or permanently resident in the host State, enjoy the privileges and immunities specified in articles 58, 60 and 64 and in paragraph 1 (b) of article 65 to the extent accorded to such a member of the staff. 222 DIREITO DIPLOMÁTICO 3.Members of the service staff of the delegation who are not natio- nals of or permanently resident in the host State shall enjoy the same immunity in respect of acts performed in the course of their duties as is accorded to members of the administrative and technical staff of the delegation, exemption from dues and taxes on the emoluments they receive by reason of their employment and the exemption specified in article 62. 4. Private staff of members of the delegation shall, if they are not nationals of or permanently resident in the host State, be exempt from dues and taxes on the emoluments they receive by reason of their employment. In other respects, they may enjoy privileges and immunities only to the extent admitted by the host State. However, the host State must exercise its jurisdiction over those persons in such a manner as not to interfere unduly with the performance of the tasks of the delegation. Article 67 Nationals and permanent residents of the host State 1. Except insofar as additional privileges and immunities may be granted by the host State the head of delegation or any other delegate or member of the diplomatic staff of the delegation who is a national of or permanently resident in that State shall enjoy only immunity from jurisdic- tion and inviolability in respect of official acts performed in the exercise of his functions. 2. Other members of the staff of the delegation and persons on the private staff who are nationals of or permanently resident in the host State shall enjoy privileges and immunities only to the extent admitted by the host State. However, the host State must exercise its jurisdiction over those members and persons in such a manner as not to interfere unduly with the performance of the tasks of the delegation. 223colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Article 68 Duration of privileges and immunities 1. Every person entitled to privileges and immunities shall enjoy them from the moment he enters the territory of the host State for the purpose of attending the meeting of an organ or conference or, if already in its territory, from the moment when his appointment is notified to the host State by the Organization, by the conference or by thesending State. 2. When the functions of a person enjoying privileges and immunities have come to an end, such privileges and immunities shall normally cease at the moment when he leaves the territory, or on the expiry of a rea- sonable period in which to do so. However, with respect to acts performed by such a person in the exercise of his functions as a member of the delegation, immunity shall continue to subsist. 3. In the event of the death of a member of the delegation, the members of his family shall continue to enjoy the privileges and immunities to which they are entitled until the expiry of a reasonable period in which to leave the territory. 4. In the event of the death of a member of the delegation not a national of or permanently resident in the host State or of a member of his family accompanying him, the host State shall permit the withdrawal of the movable property of the deceased, with the exception of any property acquired in the territory the export of which was prohibited at the time of his death. Estate, succession and inheritance duties shall not be levied on movable property which is in the host State solely because of the presence there of the deceased as a member of the delegation or of the family of a member of the delegation. Article 69 End of functions The functions of the head of delegation or of any other delegate or member of the diplomatic staff of the delegation shall come to an end, inter alia: 224 DIREITO DIPLOMÁTICO (a) on notification of their termination by the sending State to the Organization or the conference; (b) upon the conclusion of the meeting of the organ or the confer- ence. Article 70 Protection of premises, property and archives 1. When the meeting of an organ or a conference comes to an end, the host State must respect and protect the premises of the delegation so long as they are used by it, as well as the property and archives of the delegation. The sending State must take all appropriate measures to terminate this special duty of the host State as soon as possible. 2. The host State, if requested by the sending State, shall grant the latter facilities for removing the property and the archives of the delega- tion from the territory of the host State. Part IV. Observer Delegations to Organs and to Conferences Article 71 Sending of observer delegations A State may send an observer delegation to an organ or to a confer- ence in accordance with the rules of the Organization. Article 72 General provision concerning observer delegations All the provisions of articles 43 to 70 of the present Convention shall apply to observer delegations. 225colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA Part V. General Provisions Article 73 Nationality of the members of the mission, the delegation or the observer delegation 1. The head of mission and members of the diplomatic staff of the mission, the head of delegation, other delegates and members of the diplomatic staff of the delegation, the head of the observer delega- tion, other observer delegates and members of the diplomatic staff of the observer delegation should in principle be of the nationality of the sending State. 2. The head of mission and members of the diplomatic staff of the mission may not be appointed from among persons having the nationality of the host State except with the consent of that State, which may be withdrawn at any time. 3. Where the head of delegation, any other delegate or any member of the diplomatic staff of the delegation or the head of the observer delegation, any other observer delegate or any member of the diplomatic staff of the observer delegation is appointed from among persons having the nationality of the host State, the consent of that State shall be as- sumed if it has been notified of such appointment of a national of the host State and has made no objection. Article 74 Laws concerning acquisition of nationality Members of the mission, the delegation or the observer delegation not being nationals of the host State, and members of their families forming part of their household or, as the case may be, accompanying them, shall not, solely by the operation of the law of the host State, acquire the nationality of that State. 226 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 75 Privileges and immunities in case of multiple functions When members of the permanent diplomatic mission or of a consular post in the host State are included in a mission, a delegation or an observer delegation, they shall retain their privileges and immunities as members of their permanent diplomatic mission or consular post in addi- tion to the privileges and immunities accorded by the present Convention. Article 76 Cooperation between sending States and host States Whenever necessary and to the extent compatible with the inde- pendent exercise of the functions of the mission, the delegation or the observer delegation, the sending State shall cooperate as fully as possible with the host State in the conduct of any investigation or prosecution carried out pursuant to the provisions of articles 23, 28, 29 and 58. Article 77 Respect for the laws and regulations of the host State 1. Without prejudice to their privileges and immunities, it is the duty of all persons enjoying such privileges and immunities to respect the laws and regulations of the host State. They also have a duty not to interfere in the internal affairs of that State. 2. In case of grave and manifest violation of the criminal law of the host State by a person enjoying immunity from jurisdiction, the sending State shall, unless it waives the immunity of the person concerned, recall him, terminate his functions with the mission, the delegation or the observer delegation or secure his departure, as appropriate. The sending State shall take the same action in case of grave and manifest interference in the internal affairs of the host State. The provisions of this paragraph shall not apply in the case of any act that the person concerned performed in carrying out the functions of the mission or the tasks of the delegation or of the observer delegation. 227colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA 3. The premises of the mission and the premises of the delegation shall not be used in any manner incompatible with the exercise of the functions of the mission or the performance of the tasks of the delegation. 4. Nothing in this article shall be construed as prohibiting the host State from taking such measures as are necessary for its own protection. In that event the host State shall, without prejudice to articles 84 and 85, consult the sending State in an appropriate manner in order to ensure that such measures do not interfere with the normal functioning of the mis- sion, the delegation or the observer delegation. 5. The measures provided for in paragraph 4 of this article shall be taken with the approval of the Minister for Foreign Affairs or of any other competent minister in conformity with the constitutional rules of the host State. Article 78 Insurance against third-party risks The members of the mission, of the delegation or of the observer delegation shall comply with all obligations under the laws and regula- tions of the host State relating to third-party liability insurance for any vehicle, vessel or aircraft used or owned by them. Article 79 Entry into the territory of the host State 1. The host State shall permit entry into its territory of: (a) members of the mission and members of their families forming part of their respective households, and (b) members of the delegation and members of their families accom- panying them, and (c) members of the observer delegation and members of their fami- lies accompanying them. 2. Visas, when required, shall be granted as promptly as possible to any person referred to in paragraph 1 of this article. 228 DIREITO DIPLOMÁTICO Article 80 Facilities for departure The host State shall, ifrequested, grant facilities to enable persons enjoying privileges and immunities, other than nationals of the host State, and members of the families of such persons irrespective of their nation- ality, to leave its territory. Article 81 Transit through the territory of a third State 1. If a head of mission or a member of the diplomatic staff of the mission, a head of delegation, other delegate or member of the diplomatic staff of the delegation, a head of an observer delegation, other observer delegate or member of the diplomatic staff of the observer delegation passes through or is in the territory of a third State which has granted him a passport visa if such visa was necessary, while proceeding to take up or to resume his functions, or when returning to his own country, the third State shall accord him inviolability and such other immunities as may be required to ensure his transit. 2. The provisions of paragraph 1 of this article shall also apply in the case of: (a) members of the family of the head of mission or of a member of the diplomatic staff of the mission forming part of his household and enjoying privileges and immunities, whether travelling with him or travel- ling separately to join him or to return to their country; (b) members of the family of the head of delegation, of any other delegate or member of the diplomatic staff of the delegation who are accompanying him and enjoying privileges and immunities, whether travelling with him or travelling separately to join him or to return to their country; (c) members of the family of the head of the observer delegation, of any other observer delegate or member of the diplomatic staff of the observer delegation, who are accompanying him and enjoy privileges and 229colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA immunities whether travelling with him or travelling separately to join him or to return to their country. 3. In circumstances similar to those specified in paragraphs 1 and 2 of this article, third States shall not hinder the passage of members of the administrative and technical or service staff, and of members of their families, through their territories. 4. Third States shall accord to official correspondence and other official communications in transit, including messages in code or cipher, the same freedom and protection as the host State is bound to accord under the present Convention. They shall accord to the couriers of the mission, of the delegation or of the observer delegation, who have been granted a passport visa if such visa was necessary, and to the bags of the mission, of the delegation or of the observer delegation in transit the same inviolability and protection as the host State is bound to accord under the present Convention. 5. The obligations of third States under paragraphs 1, 2, 3 and 4 of this article shall also apply to the persons mentioned respectively in those paragraphs and to the official communications and bags of the mission, of the delegation or of the observer delegation when they are present in the territory of the third State owing to force majeure. Article 82 Non-recognition of States or governments or absence of diplomatic or consular relations 1. The rights and obligations of the host State and of the sending State under the present Convention shall be affected neither by the non- recognition by one of those States of the other State or of its government nor by the non-existence or the severance of diplomatic or consular relations between them. 2. The establishment or maintenance of a mission, the sending or attendance of a delegation or of an observer delegation or any act in application of the present Convention shall not by itself imply recognition 230 DIREITO DIPLOMÁTICO by the sending State of the host State or its government or by the host State of the sending State or its government. Article 83 Non-discrimination In the application of the provisions of the present Convention no discrimination shall be made as between States. Article 84 Consultations If a dispute between two or more States Parties arises out of the application or interpretation of the present Convention, consultations between them shall be held upon the request of any of them. At the request of any of the parties to the dispute, the Organization or the conference shall be invited to join in the consultations. Article 85 Conciliation 1. If the dispute is not disposed of as a result of the consultations referred to in article 84 within one month from the date of their inception, any State participating in the consultations may bring the dispute before a conciliation commission constituted in accordance with the provisions of this article by giving written notice to the Organization and to the other States participating in the consultations. 2. Each conciliation commission shall be composed of three mem- bers: two members who shall be appointed respectively by each of the parties to the dispute, and a Chairman appointed in accordance with paragraph 3 of this article. Each State Party to the present Convention shall designate in advance a person to serve as a member of such a commission. It shall notify the designation to the Organization, which shall maintain a register of persons so designated. If it does not make the designation in advance, it may do so during the conciliation procedure up to the moment 231colecção BIBLIOTECA DIPLOMÁTICA at which the Commission begins to draft the report which it is to prepare in accordance with paragraph 7 of this article. 3. The Chairman of the Commission shall be chosen by the other two members. If the other two members are unable to agree within one month from the notice referred to in paragraph 1 of this article or if one of the parties to the dispute has not availed itself of its right to designate a member of the Commission, the Chairman shall be designated at the request of one of the parties to the dispute by the chief administrative officer of the Organization. The appointment shall be made within a period of one month from such request. The chief administrative officer of the Organization shall appoint as the Chairman a qualified jurist who is neither an official of the Organization nor a national of any State party to the dispute. 4. Any vacancy shall be filled in the manner prescribed for the initial appointment. 5. The Commission shall function as soon as the Chairman has been appointed even if its composition is incomplete. 6. The Commission shall establish its own rules of procedure and shall reach its decisions and recommendations by a majority vote. It may recommend to the Organization, if the Organization is so authorized in accordance with the Charter of the United Nations, to request an advisory opinion from the International Court of Justice regarding the application or interpretation of the present Convention. 7. If the Commission is unable to obtain an agreement among the parties to the dispute on a settlement of the dispute within two months from the appointment of its Chairman, it shall prepare as soon as possible a report of its proceedings and transmit it to the parties to the dispute. The report shall include the Commission’s conclusions upon the facts and questions of law and the recommendations which it has submitted to the parties to the dispute in order to facilitate a settlement of the dispute. The two months time limit may be extended by decision of the Commission. The recommendations in the report of the Commission shall not be 232 DIREITO DIPLOMÁTICO binding on the parties to the dispute unless all the parties to the dispute have accepted them. Nevertheless, any party to the dispute may declare unilaterally that it will abide by the recommendations in the report so far as it is concerned. 8. Nothing in the preceding paragraphs of this article shall preclude the establishment of any other appropriate procedure for the settlement