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Autores: Prof. Alexandre Saramelli Profa. Divane Alves da Silva Colaborador: Prof. Franklin de Oliveira Lacerda Contabilidade Gerencial Professores conteudistas: Alexandre Saramelli / Divane Alves da Silva © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Alexandre Saramelli Bacharel em Contabilidade pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, mestre em Controladoria pela mesma universidade e doutorando em Epistemologia e História da Ciência na Universidade Nacional Três de Febrero, na Argentina. Atuou em empresas nacionais e internacionais de médio e grande porte como contador em áreas de custos e orçamentos e foi consultor em sistemas de controladoria da desenvolvedora alemã SAP. Atualmente, é professor adjunto na Universidade Paulista e consultor empresarial. Entusiasta de tecnologia da informação e ambientes altamente informatizados, é um incentivador da pesquisa, difusão e uso eficiente e intensivo das modernas ferramentas de gestão, “transferência de conhecimento”, ensino a distância e audiovisual. É autor de materiais para ensino a distância, redige livros didáticos e atividades de apoio educacional e instrucional, elabora avaliações e grava aulas em estúdio audiovisual, além de ser radialista e apresentador de televisão com DRT. Divane Alves da Silva Graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis Tibiriçá (1990) e em Filosofia, Bacharelado e Licenciatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009). Mestre em Contabilidade pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1998), com especializações em: Controladoria e Contabilidade Gerencial, pela Faculdade Santana São Paulo (1992); Didática do Ensino Superior, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1996); Formação de Professores em Educação a Distância (EaD), pela Universidade Paulista (2011). É doutoranda em Epistemologia e História da Ciência na Universidade Nacional Três de Febrero, na Argentina. Possui livros editados sobre a área contábil, além de participações em congressos, tanto na área contábil quanto na educacional, inclusive sobre os assuntos relacionados à modalidade de ensino a distância (EaD). Atuou em funções empresariais na área técnica: controller, contadora, auditora e consultora. Em relação à área acadêmica, atualmente, ocupa funções de coordenadora e professora adjunta para o curso de Ciências Contábeis, nas modalidades a distância da Universidade Paulista – UNIP. Para a EaD, além da coordenação, atua como conteudista de livros didáticos e realiza gravações de aulas. É professora também de pós-graduação (lato sensu) para diversos cursos e disciplinas correlatas à formação nas seguintes instituições de Ensino Superior: Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade Paulista – UNIP, Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU. É credenciada pela Fundação para o Desenvolvimento Administrativo – Fundap, atuando como consultora/docente para elaboração e aplicação de cursos de capacitação para servidores públicos estaduais, todos na modalidade a distância (EaD). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S586a Silva, Divane Alves da. Contabilidade gerencial. / Divane Alves da Silva, Alexandre Saramelli. – São Paulo: Editora Sol, 2019. 80 p. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-206/19, ISSN 1517-9230. 1. Contabilidade gerencial. 2. Método de custeio. 3. Decisões táticas. I.Título. CDU 657.1 U502.64 – 19 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Carla Moro Virgínia Bilatto Sumário Contabilidade Gerencial APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 NOÇÕES PRELIMINARES ............................................................................................................................... 11 1.1 Caracterização da contabilidade gerencial ................................................................................ 11 1.1.1 Diferenças entre contabilidade gerencial e a contabilidade financeira ............................11 2 ATITUDES E CARACTERÍSTICAS DO CONTADOR GERENCIAL ......................................................... 13 3 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE DE CUSTOS .............................................................................. 14 3.1 Revisão da terminologia .................................................................................................................... 14 3.2 Elementos formadores do custo .................................................................................................... 15 3.2.1 Processo industrial ................................................................................................................................. 15 3.2.2 Insumos industriais ................................................................................................................................ 15 3.3 Classificação e comportamento dos custos .............................................................................. 16 3.3.1 Classificação dos custos ....................................................................................................................... 16 3.3.2 Comportamento dos custos ............................................................................................................... 16 3.4 Sistemas de acumulação de custo ................................................................................................ 17 3.4.1 Custeamento por ordem ou sob encomenda .............................................................................. 17 3.4.2 Custeamento por processo ou produção contínua .................................................................. 18 4 MÉTODOS DE CUSTEIO .................................................................................................................................. 20 4.1 Custeio por absorção .......................................................................................................................... 21 4.2 Custeio direto ou variável ................................................................................................................. 25 4.3 Custeio por absorção ou direto? Qual é o melhor método de custeio? ....................... 29 4.4 Custeio Baseado em Atividades (ABC) ......................................................................................... 30 4.5 Custos indiretos de fabricação, departamentos e serviços, atividades e direcionadores de custos ..........................................................................................................................30 4.6 Esquema básico do custeio ABC .................................................................................................. 31 4.7 Exemplo comparativo: Custeio Baseado em Atividades (ABC) e o custeio por absorção .................................................................................................................................................. 32 Unidade II 5 RELAÇÕES CUSTO/VOLUME/LUCRO ......................................................................................................... 38 5.1 Margem de contribuição ................................................................................................................... 38 5.2 Ponto de equilíbrio .............................................................................................................................. 40 6 VARIANTES DE PONTO DE EQUILÍBRIO ................................................................................................... 43 6.1 Ponto de equilíbrio operacional ou contábil ............................................................................. 43 6.2 Ponto de equilíbrio econômico ....................................................................................................... 44 6.3 Ponto de equilíbrio financeiro......................................................................................................... 46 Unidade III 7 ALAVANCAGEM OPERACIONAL ................................................................................................................. 51 7.1 Utilização da margem de contribuição e da alavancagem operacional para maximização do lucro...................................................................................................................... 54 8 ANÁLISE DE CUSTOS E DECISÕES TÁTICAS ........................................................................................... 55 8.1 Margem de contribuição e fatores escassos ............................................................................. 56 8.1.1 Margem de contribuição sem fatores limitantes ...................................................................... 56 8.1.2 Limitação da capacidade de produção .......................................................................................... 57 8.1.3 Decisões táticas: comprar x produzir, investir x alugar, decisão sobre substituição de equipamentos ..................................................................................................................... 61 8.2 Lucro empresarial e variações de preço ...................................................................................... 64 8.2.1 Variações de preço em operações simples: custos originais, custos originais corrigidos e o custo de reposição ............................................................................................................... 64 8.2.2 Variações de preços nas demonstrações contábeis: a correção dos balanços .............. 69 7 APRESENTAÇÃO Neste livro aborda-se a contabilidade gerencial, ou seja, os mesmos dados da contabilidade preparada para usuários internos da entidade, mas com dados e informações que são usados exclusivamente no âmbito interno da organização e que, muitas vezes, trazem dados e informações confidenciais, de interesse apenas dos gestores. Esses dados e informações, por sua vez, são usados para a tomada de decisões. A contabilidade gerencial tem como base de apoio a contabilidade de custos; muitos, inclusive, dizem que a contabilidade de custos “é a mãe da contabilidade gerencial”. Sabendo disso, o objetivo desta disciplina, de acordo com o Plano Pedagógico do Curso, é o de tratar de resguardar os conceitos de contabilidade de custos para demonstrar a variação de custo/volume/lucro, viabilizando analisar o custo para tomada de decisões e interpretar os custeios utilizados para auxílio na tomada de decisão: custeio ABC, RKW, GECON. Nesse sentido, a disciplina Contabilidade Gerencial não é uma simples revisão de “contabilidade de custos” no sentido metodológico, mas o seu uso e aplicação em um contexto gerencial. Mais especificamente, o estudo abordará como objetivos gerais, de acordo com o Plano Pedagógico do Curso, as seguintes competências: • avaliar os fundamentos teóricos da contabilidade gerencial, unindo-os à prática empresarial, evidenciando o conjunto mínimo de ferramentas necessárias ao controle e gerenciamento das organizações; • desenvolver o entendimento estratégico da contabilidade nas decisões gerenciais; • atuar gerencialmente a partir de demonstrações contábeis, facilitando o desenvolvimento da aptidão de tomada de decisões. Elaborou-se um texto de fácil compreensão e relativamente curto. É importante que o aluno seja alertado, ao contrário do que se diz incorretamente no mercado, que a contabilidade gerencial não é uma contabilidade “particular” feita de acordo com qualquer critério ou preferências e conveniências do gestor. A contabilidade gerencial, como qualquer aplicação da contabilidade, também se utiliza dos mesmos conceitos, normas e princípios da contabilidade financeira, para usuário externo. A diferença é que se trata de uma contabilidade mais detalhada, com dados muitas vezes especificados por áreas ou departamentos (centros de custos). Pode (e frequentemente o é) ser alvo de auditorias internas e externas. Mais do que decorar regras e metodologias estáticas, é preciso entender o “porquê“ e não simplesmente o “como fazer”. O conteúdo a ser abordado aplica-se sem distinção a empresas de qualquer porte e/ou ramo, entretanto, sabe-se que as grandes empresas têm maior ocorrência dessas operações. Sabe-se também que a contabilidade gerencial é utilizada com mais ênfase na área industrial, tendo ainda dificuldades para seu uso na área de serviços. Neste livro incentiva-se o uso também para a importante área de serviços e para atividades inovadoras, como a economia criativa. 8 Nesta disciplina há também o intuito de orientar o aluno em relação ao processo de convergência contábil internacional, um grande esforço dos contadores e que está em pleno andamento. Há espaço para lidar com a cultura corporativa, os jargões jurídicos e os jargões das áreas contábil/financeira e administrativa, ajudando o estudante a se acostumar com esse ambiente e se inserir com maior facilidade no mercado de trabalho. Para a elaboração deste livro-texto, seguiram-se orientações do Conselho Federal de Contabilidade e da Fundação Brasileira de Contabilidade (Proposta Nacional de Conteúdo para os Cursos de Graduação em Ciências Contábeis), do Ministério da Educação (Resolução CNE/CES 10/2004 e Parecer CNE/CES 269/2004). Além disso, foram seguidas as orientações da Organização das Nações Unidas – ONU, da United Nations Conference on Trade and Development – UNCTAD, da International Accounting Standards Board – Iasb, com as Normas Internacionais de Contabilidade, e da International Federation of Accountants – IFAC, com as Normas Internacionais de Educação Contábil. INTRODUÇÃO Olá, aluno (a), Muitos profissionais da contabilidade costumam dar mais atenção para a contabilidade financeira e para a contabilidade tributária. É natural que isso ocorra porque essa é a parte mais visível da nossa profissão. Há empresários e profissionais de outras áreas que, incorretamente, costumam até dizer que o contador seria uma espécie de “fiscal do governo” dentro das empresas. Mal sabem que a contabilidade pode e deve ser usada para a tomada de decisões, sendo que os que sabem bem utilizá-la conseguem obter muito sucesso. Mas como exatamente ocorre isso? Nesta disciplina você irá começar a entender o uso gerencial da contabilidade. Iremos retomar o estudo de aspectos da contabilidade de custos, mas não com a preocupação de entender apenas os processos de custos, mas como as informações geradas nesse processo são usadas pelosgestores e pelo próprio contador. Imagino que neste momento você deve estar se perguntando: vamos aprender contabilidade gerencial estudando “na prática” contabilidade de custos? A resposta a essa indagação é: sim, exatamente isso. E é muito simples de explicar: a contabilidade de custos é a “mãe da contabilidade gerencial”, é a partir dos dados de custos que as decisões são tomadas. Aliás, a própria contabilidade de custos surgiu como uma forma de oferecer informações aos gestores. É muito importante que você seja esclarecido(a) desde já que a contabilidade gerencial não é uma contabilidade feita ao bel prazer da empresa. É uma contabilidade que segue todas as normas e princípios de qualquer aplicação da contabilidade. A diferença é que, enquanto a contabilidade financeira divulga dados “fechados” para a sociedade, a contabilidade gerencial normalmente é aberta por cada área ou departamento da empresa. Assim, por exemplo, o gerente da produção pode ter informações inerentes a sua área de atuação. Por isso, nesta disciplina, você também terá contato com as leis e regulamentos que envolvem a contabilidade, em especial as leis n. 6.404/76, n. 11.638/07 e n. 11.941/09, as normas contábeis publicadas 9 pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), normas e regulamentos publicados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). É claro que há momentos em que a empresa utiliza dados fictícios e/ou não baseados na rigidez das normas contábeis em alguns trabalhos, como os orçamentos. Contudo, mesmo esses trabalhos necessitam de uma contabilidade confiável para que haja uma referência para os gestores. Por que estudar esse assunto? E uma pergunta que ouvimos frequentemente: pequenas e médias empresas precisam de contabilidade gerencial? A contabilidade gerencial pode ser uma excelente e altamente remunerada opção de trabalho. Vemos que, de fato, é nas grandes empresas que mais se necessita de contabilidade gerencial, mas as pequenas empresas também reconhecem a sua importância. O contador que conhece contabilidade gerencial será sempre muito bem-valorizado. Na área pública, o mesmo acontece. Pode-se dizer que até há bem poucos anos, pouca ou nenhuma importância era dada ao tema. Agora, com o uso das Normas Internacionais da Contabilidade, também a área pública necessita da contabilidade gerencial. A intenção deste estudo, dentro do contexto do nosso curso de Ciências Contábeis da UNIP Interativa não é o de esgotar o assunto, uma vez que em breve você se envolverá em disciplinas mais avançadas, o objetivo ao final deste estudo é que você crie habilidades para lidar com esse assunto. Importante ainda comentar que este assunto também é muito explorado no teste de proficiência do CFC e em concursos públicos, lembrando que o objetivo não é o de prepará-lo(a) para concursos, mas sim o de que você se desenvolva profissionalmente. Ser um(a) controller atualmente é uma excelente opção, bem-remunerada e de prestígio, mas é necessário estar preparado(a). Bom (e entusiasmado) estudo! CC TB - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 1/ 01 /2 01 5 11 CONTABILIDADE GERENCIAL Unidade I 1 NOÇÕES PRELIMINARES 1.1 Caracterização da contabilidade gerencial A contabilidade gerencial caracteriza-se a partir de diversas técnicas utilizadas em várias áreas da contabilidade, tais como financeira, custos, análise de balanços etc., mas de uma forma mais analítica, conforme aponta Iudícibus (2008), uma vez que tem como principal papel auxiliar os gerentes das entidades nos mais diversos processos decisórios. Pode-se assim dizer que a contabilidade gerencial está voltada para administração interna das organizações, utilizando-se, portanto, de conceitos da administração de produção, financeira e da estrutura organizacional como um todo. Em outras palavras, é a contabilidade em ação, pois busca dados do passado para planejar o futuro das empresas. Em termos gerais, considera-se a contabilidade gerencial como uma importante ferramenta para as decisões internas das organizações, enquanto a contabilidade financeira (ou societária) atende aos usuários externos de quaisquer entidades. Portanto, a contabilidade gerencial é o processo de identificar, mensurar, reportar e analisar informações sobre os eventos econômicos das empresas. Um exemplo de informação gerencial contábil é o relatório de despesas do departamento comercial de uma empresa; outro exemplo é o relatório de custos para se produzir um determinado bem, e assim por diante. A informação gerencial contábil é uma das fontes informacionais primárias para a tomada de decisão e controle nas empresas. Sistemas gerenciais contábeis produzem informações que ajudam funcionários, gerentes e executivos a tomar melhores decisões e aperfeiçoar os processos e desempenhos de suas empresas. 1.1.1 Diferenças entre contabilidade gerencial e a contabilidade financeira Dentre as diferenças a seguir apontadas, destaca-se como a principal o tipo de usuário: a contabilidade gerencial atende aos usuários internos, e a contabilidade financeira atende aos externos à organização. A contabilidade gerencial deve fornecer informações econômicas para a clientela interna: operadores/ funcionários, gerentes intermediários e executivos seniores. As empresas são muito reservadas na elaboração de seus sistemas de contabilidade gerencial. Os administradores devem usar essa discrição para desenhar sistemas que forneçam informações que ajudem os funcionários a tomar boas decisões, não apenas sobre seus recursos organizacionais (financeiros, físicos e humanos), mas também sobre 12 Unidade I seus produtos, serviços, processos, fornecedores e clientes. As informações geradas pela contabilidade gerencial podem auxiliar os funcionários a aprenderem como fazer o seguinte: • melhorar a qualidade das operações; • reduzir os custos operacionais; • aumentar a adequação das operações às necessidades dos clientes. A contabilidade financeira lida com a elaboração e a comunicação de informações econômicas de uma empresa dirigidas a uma clientela externa: acionistas, credores (bancos, debenturistas e fornecedores), entidades reguladoras e autoridades governamentais tributárias. Apesar de a ênfase ser o usuário externo, a informação contábil-financeira também é usada por administradores e funcionários, ou seja, por usuários internos. O processo contábil-financeiro está restrito aos requisitos obrigatórios de elaboração de relatórios por parte das autoridades externas, tais como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Comitê de Pronunciamento Contábil (CPC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Receita Federal do Ministério da Fazenda, dentre outras. Logo, a contabilidade financeira é direcionada por regras, regulamentos ditados por tais entidades. Contudo, pode-se perguntar: quando se inicia a contabilidade gerencial? É quando se elaboram as demonstrações contábeis? Não há respostas prontas, uma vez que os dados contábeis são praticamente os mesmos, as fontes de informações são as mesmas, mas são os usuários dessas informações que determinarão qual é a “contabilidade” a ser empregada, gerencial (usuários internos) ou financeira (usuários externos). Quadro 1 − Quadro comparativo entre contabilidade financeira e contabilidade gerencial Fator Financeira Gerencial Usuários dos relatórios Externos e internos Interno Objetivos dos relatórios Facilitar a análise financeira para as necessidades dos usuários externos Objetivo especial de facilitar o planejamento, o controle, a avaliação de desempenho e a tomada de decisão internamente Forma dos relatórios Balanço patrimonial Demonstração do resultado Demonstração mutação do PL Demonstração fluxo de caixa Demonstração valor adicionadoOrçamentos Contabilidade por responsabilidade Relatórios de desempenho Relatórios de custo Relatórios especiais não rotineiros para facilitar a tomada de decisão Frequência dos relatórios Anual, trimestral e, ocasionalmente, mensal Quando necessário pela administração, geralmente mensal Custos ou valores utilizados Históricos e ajustados a valor presente Históricos e esperados (previstos) Bases de mensuração usadas para quantificar os dados Moeda corrente Várias bases: moeda corrente, forte, medidas físicas, índices etc. Restrições nas informações fornecidas Princípios contábeis geralmente aceitos Nenhuma restrição, exceto os determinados pela administração 13 CONTABILIDADE GERENCIAL Características da informação fornecida Deve ser objetiva (sem viés), verificável, relevante e a tempo Deve ser relevante e a tempo, podendo ser subjetiva, possuindo, por exemplo, menos precisão Perspectiva dos relatórios Orientação histórica e ajustada a valor presente Orientado para o futuro, a fim de facilitar o planejamento, o controle e a avaliação de desempenho antes do fato (para impor metas), acoplado com uma orientação histórica para avaliar os resultados reais (para controle posterior do fato) Fonte: Padovese (2012, p. 15). De acordo com o quadro, podemos observar que a contabilidade gerencial é totalmente dirigida à administração da empresa, e a contabilidade financeira atende às exigências predefinidas pelos órgãos regulamentadores, ou seja, trata-se de uma contabilidade universal, enquanto a gerencial é exclusiva. 2 ATITUDES E CARACTERÍSTICAS DO CONTADOR GERENCIAL De acordo com Iudícibus (2008, p. 22), dentre as características que distinguem um contador gerencial de um contador financeiro, está o conhecimento de como [...] “tratar”, refinar e apresentar de maneira clara, resumida e operacional, dados esparsos contidos nos registros da contabilidade financeira, de custos etc., bem como juntar tais informes com outros conhecimentos não especificamente ligados à área contábil, para suprir a administração em seu processo decisório. O autor cita como exemplo um contador que atua na área de custos: de maneira tradicional, irá apenas apurar as variações entre o custo orçado (custo-padrão) e real de um determinado período e lançá-las no relatório; já um contador com “mentalidade gerencial”, além de apurar as variações (os dados são imprescindíveis para a tomada de decisão), irá buscar as causas de tais variações, os motivos, as áreas da produção que possam explicar as divergências apontadas entre o orçamento e o gasto realizado para a produção de determinado produto. Enfim, a descoberta dessas causas permitirá ao gestor ajustar os procedimentos futuros que levem ao alcance do orçamento preparado pela empresa. É importante ressaltar que o que difere o contador gerencial, ou melhor, de “mentalidade gerencial”, são suas atitudes, seu conhecimento técnico que ultrapassa a contabilidade, tais como sólidos conhecimentos em estatística, marketing, finanças, recursos humanos, psicologia e sociologia aplicada às organizações, economia, área tributária, tecnologia da informação, ou seja, aquele que possa realmente tratar os dados vindos da contabilidade financeira e transformá-los em informações que atendam às necessidades dos usuários internos da organização, que seja um controlador da empresa. Portanto, um contador financeiro pode exercer o papel de contador gerencial se possuir tais características. 14 Unidade I Assim, o papel do contador gerencial, ou controller, é o de assessoria aos gestores das outras áreas, os quais, por sua vez, é que tomarão as decisões. O departamento de contabilidade tem a responsabilidade de fornecer relatórios úteis e em tempo hábil aos gestores da empresa, e cabe ao controller, ou contador gerencial, a responsabilidade do tratamento dos dados apurados na contabilidade financeira. 3 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE DE CUSTOS 3.1 Revisão da terminologia Ao longo desses semestres estudados, empregamos a palavra “custos” em vários momentos, provavelmente sem ter percebido seus vários significados; por exemplo: o custo de aquisição dos estoques foi de, o custo das mercadorias vendidas foi de, o custo financeiro dos empréstimos equivale a. Devemos esclarecer que o sentido original da palavra “custo”, aplicado à contabilidade, refere-se claramente à fase em que os fatores de produção são retirados do estoque e colocados no processo produtivo; logo, usar a terminologia “custo”, como “custos administrativos” ou “o custo para aquisição dos estoques foi alto”, à luz da teoria contábil, está incorreto. Deveríamos substituir, respectivamente, por “despesas administrativas” e o “gasto para aquisição dos estoques foi alto”. E assim, custo dos produtos vendidos (apuração feita somente no momento da venda dos produtos acabados) deveria ser despesa dos produtos acabados, uma vez que a terminologia “custo” refere-se somente aos itens que compõem o processo produtivo; assim, após o produto acabado, teríamos “despesas”, e não mais “custos”. Para completar a justificativa da correta aplicação do termo “custo”, deparamo-nos com a formação do resultado do período, ou seja, o confronto entre receitas e despesas. Desta forma, utilizar despesa dos produtos vendidos em vez de custo dos produtos vendidos seria o mais indicado. Para ilustrar a revisão sobre as terminologias a serem empregadas pela contabilidade gerencial, tomando-se como base a área de custos, Martins (2003, p. 24-26) aponta: • gastos: são todas as ocorrências de pagamentos ou recebimentos de ativos, custos ou despesas. Significa receber os serviços e produtos para consumo para todo processo operacional, bem como os pagamentos efetuados e recebimentos de ativos. Como se pode verificar, gastos são ocorrência de grande abrangência e generalização; • investimentos: são os gastos efetuados em ativo ou despesas e custos que serão imobilizados ou diferidos. São gastos ativados em função de sua vida útil ou benefícios futuros; • custos: são os gastos, não investimentos, necessários para fabricar os produtos da empresa. São os gastos efetuados pela empresa que farão nascer os seus produtos. Portanto, podemos dizer que os custos são os gastos relacionados aos produtos, posteriormente ativados quando os produtos, objetos desses gastos, forem gerados. De modo geral, são os gastos ligados à área industrial da empresa; 15 CONTABILIDADE GERENCIAL • despesas: são os gastos necessários para vender e enviar os produtos. De modo geral, são os gastos ligados às áreas administrativas e comerciais. O custo dos produtos, quando vendidos, transforma-se em despesas; • pagamentos: são os atos financeiros de pagar uma dívida, um serviço ou um bem ou direito adquirido. É a execução financeira dos gastos e investimentos da empresa; • perdas: são fatos ocorridos em situações excepcionais que fogem à normalidade das operações da empresa. São considerados não operacionais e não fazem parte dos custos de produção dos produtos. São eventos econômicos negativos ao patrimônio empresarial, não habituais e eventuais, tais como deterioração anormal de ativos, perdas de créditos excepcionais, capacidade ociosa anormal etc.; • prejuízos: são a resultante negativa da soma das receitas menos as despesas de um período. Decorrem da apuração do resultado de um período em que as despesas suplantam as receitas desse período. 3.2 Elementos formadores do custo 3.2.1 Processo industrial A fabricação dos produtos é um processo de transformação de matéria-prima e materiais em produtos finais ou acabados. Os materiais adquiridos dos fornecedores, a princípio, ficam estocados no departamento denominado de almoxarifado e, quando necessários para a fabricação dos produtos, são requisitados pelo setor industrial.O processamento se dá pela manipulação dos materiais utilizando mão de obra, instalações e equipamentos, consumindo outros recursos necessários à produção e ao seu controle. Após a fabricação, os produtos são entregues diretamente aos clientes, ou mantidos em estoque para futura venda. 3.2.2 Insumos industriais Os elementos formadores dos estoques industriais são: • materiais consumidos para o produto e o processo industrial; • mão de obra industrial; • gastos gerais de fabricação; • depreciação das instalações e equipamentos industriais. 16 Unidade I 3.3 Classificação e comportamento dos custos 3.3.1 Classificação dos custos Os custos são classificados em diretos ou indiretos. Contudo, a classificação é determinada a partir da atividade operacional da empresa; em outras palavras, o mesmo material ora será classificado como custo direto ora como indireto. 3.3.1.1 Custos diretos Custos diretos são os custos que podem ser fisicamente identificados e mensurados para a fabricação de um determinado produto ou linha de produto. E ainda, quando se tratar de matérias- primas, estas não podem ser substituídas; caso contrário, teríamos um novo produto. Dessa forma, relacionando-se então com os produtos finais, os custos diretos são os gastos industriais que podem ser alocados direta e objetivamente aos produtos e oscilam com o volume de produção; logo, os custos diretos são também custos variáveis. 3.3.1.2 Custos indiretos Custos indiretos são os gastos industriais que não podem ser alocados de forma direta ou objetiva aos produtos ou a outro segmento ou atividade operacional; caso sejam atribuídos aos produtos, serviços ou departamentos, será por meio de critérios de distribuição ou alocação. São também denominados custos comuns. O desafio da empresa está em determinar o critério de rateio mais adequado para a distribuição dos custos indiretos aos produtos. Os custos indiretos podem ser fixos e variáveis. 3.3.2 Comportamento dos custos O comportamento dos custos está ligado ao aumento e/ou à redução dos gastos durante o processo de fabricação. Os custos são classificados em fixos e variáveis, mas é importante ressaltar que qualquer custo está sujeito à mudança. 3.3.2.1 Custos fixos São considerados como custos fixos aqueles que tendem a se manter constantes durante o processo de produção, ou seja, independentemente do volume produzido, o seu valor será o mesmo; por exemplo: aluguel do prédio. Apesar de classificação como custos fixos, alguns gastos podem ser alterados, tomando-se como base o intervalo entre as produções; a falta de material, por exemplo, poderá elevar o gasto com a manutenção da máquina por deixá-la muito tempo desligada. 17 CONTABILIDADE GERENCIAL 3.3.2.2 Custos variáveis Os custos variáveis são aqueles que sofrem alterações de acordo com o volume produzido; quanto mais se produzir, mais se gasta. Um dos exemplos de custos variáveis são os materiais utilizados no processo industrial: quanto maior o volume produzido, mais se gastará com matéria-prima. Entretanto, é importante verificar que nem todos os custos diretos são variáveis. Por exemplo, a contratação de mão de obra para produzir um volume previamente determinado de produtos: este gasto será classificado como custo direto fixo. É direto por ser mensurável e identificado com a produção, mas é fixo por não se alterar de acordo com o volume produzido. 3.3.2.3 Custos semivariáveis ou semifixos São considerados custos semivariávies aqueles que têm dentro de si uma parcela fixa e uma parcela variável; gastos com energia elétrica são um bom exemplo, uma vez que se paga uma parcela mínima pelo serviço de energia elétrica – esta é a parte fixa – e, a partir daí, torna-se um custo variável – quanto mais se gasta, mais se paga. 3.4 Sistemas de acumulação de custo É o sistema de acumulação de custos que vai determinar o tipo de custeamento do produto, ou seja, como será a coleta e o processamento das informações para se chegar à formação do gasto para a fabricação de determinado produto. Basicamente, o sistema de acumulação de custos é composto por: • custeamento por ordem ou sob encomenda; • custeamento por processo ou produção contínua. Segundo Martins (2003, p. 144), existem dois fatores que determinam o tipo de custeio, por ordem (sob encomenda) ou por processo (produção contínua): a forma de a empresa trabalhar é a conveniência contábil- administrativa. Quanto à forma, a principal responsável pela distinção, quando a produção é de itens iguais e de forma contínua e, ainda, se passam a ser estocados para posterior venda, é a produção contínua. No caso de a produção ser específica, ou seja, de acordo com modelo, tamanho exigido pelo cliente e ocorrendo primeiro a venda para depois iniciar o processo de produção, é uma produção sob encomenda. Em relação à conveniência contábil-administrativa, Martins (2003, p. 145) considera que, se um produto demorar muito tempo para ser fabricado, poderia iniciar seu custeamento sob a forma de produção e depois transformar este custeamento em produção sob encomenda. 3.4.1 Custeamento por ordem ou sob encomenda No custeamento por ordem, os custos são acumulados numa conta específica para cada ordem ou encomenda. Martins (2003, p. 145) afirma que essa conta só poderá receber custos quando a ordem 18 Unidade I estiver encerrada. Se terminar um período contábil e o produto estiver ainda em processamento, não há encerramento, permanecendo os custos até então incorridos na forma de bens em elaboração, no ativo; quando a ordem for encerrada, será transferida para estoque de produtos acabados ou para custo dos produtos vendidos, conforme a situação. 3.4.2 Custeamento por processo ou produção contínua Para o custeamento por processo, a maneira de atribuir os custos aos produtos difere totalmente do custeamento sob encomenda: enquanto que este tem os custos alocados em cada produto fabricado, o custeamento por processo divide os custos totais pelo número de unidades fabricadas num determinado período, chegando ao custo unitário de cada processo. No caso de iniciar-se um lote de produção e por quaisquer motivos não concluí-lo no mesmo período (mês, trimestre ou ano), estes custos serão levados para o período seguinte, registrados na conta de estoques como produtos em elaboração e, no período seguinte, terão sua produção concluída. Contudo, para apurarmos quanto de custos estes produtos semiacabados levam de um período para o produto, recorremos ao cálculo de custos denominado de equivalentes de produção. 3.4.2.1 Unidades equivalentes de produção Conforme mencionado, o equivalente de produção ocorre a partir do sistema de acumulação de custos por processo ou produção contínua, em que, no lote de produção iniciado em um determinado período, não é possível sua conclusão neste mesmo período – por falta de material, de mão de obra ou qualquer outro motivo –, mas sobre as unidades iniciadas uma parcela de custo deverá ser apurada, e também o estoque de produtos em elaboração ou semiacabados, valor este que fará parte dos estoques registrados no balanço patrimonial do mesmo período. Martins (2003, p. 153) apresenta um exemplo sobre o cálculo de equivalente de produção que foi adaptado para ilustrar tal situação: 1º mês: • custos de produção do período (diretos e indiretos): $5.000.000; • unidades produzidas: 20.000 (iniciadas e acabadas no período). O custo unitário será então a média: $5.000.000 = $250/un. 20.000 un. Como a quantidade de 20.000 unidades foi iniciada e concluída no mesmo mês, não há a apuração do equivalente de produção e teremos somente o estoque de produtos acabados de $5.000,00 19 CONTABILIDADE GERENCIAL 2º mês: • custos de produção do período (diretos e indiretos): $5.544.000; • unidades iniciadas no período:23.000; • unidades acabadas: 21.000; • unidades em elaboração: 2.000 (a serem concluídas no 3º mês em diante). Observação É muito importante que o contador (ou controller) tenha um excelente conhecimento sobre os processos de trabalho. Por exemplo, dependendo do perfil da empresa, 2000 unidades em elaboração podem ser um absurdo, ou o número pode ser razoável. Conhecendo o processo, o contador ajuda a evitar falhas ou até mesmo fraudes! O equivalente de produção é apurado a partir da informação do responsável da área industrial sobre o montante de custos (matéria-prima, mão de obra e custos indiretos de fabricação) que envolvem os produtos que foram iniciados e não concluídos no período. Esta informação, geralmente, é apresentada em forma de percentual. Para este exemplo, o equivalente de produção é de 50%. Cálculo do equivalente de produção: • 21.000 un. acabadas no período; • 2.000 un. semiacabadas, considerando o equivalente de produção de 50%, teremos então 1.000 “prontas”; • total do equivalente de produção: 21.000 + 1.000 = 22.000 O custo unitário será então a média: $5.544.000 = $252/un. 22.000 un. Agora teremos dois tipos de estoques, o de produtos acabados e o de produtos em elaboração: • Estoque dos produtos acabados: 21.000 un. x $252/un. = $5.292.000 • Estoques dos produtos em elaboração: 2.000 un. x 0,50 x $252 = $252.000 • Total = $5.544.000 20 Unidade I 3.4.2.2 Diferenças básicas entre o custeio por ordem e por processo Como já vimos, o sistema de acumulação de custos está ligado ao processo produtivo da empresa. Padovese (2000, p. 236) elenca algumas características que diferenciam os sistemas produtivos e que levam também às diferenças que os sistemas de custeamento apresentam. Quadro 2 Quanto Sistema Por ordem Por processo a) Ao produto fabricado Produtos heterogêneos Produtos homogêneos b) Ao processo de produção Intermitente Contínuo c) Ao tempo de produção Produção mais demorada por unidade de produto Produção mais rápida por unidade de produto d) Ao volume de produção Pequenos volumes Grandes volumes e) Ao destino de produção Cliente específico ou estoque Estoque f) À forma de controlar a produção Através das ordens Através do processo (depto. centro de custo) g) Ao momento da apuração do custo No encerramento da ordem No final do período definido como de apuração de custo h) Ao cálculo do custo unitário Custo total da ordem dividido pelas unidades produzidas nestas Custo do processo dividido pelas unidades produzidas e equivalentes em processo no final do período Assim, pode-se considerar que a principal diferença entre o custeamento por ordem e por processo gira em torno do tipo de produto usado como objetivo de custo. O custeamento por ordem é encontrado em indústrias, por exemplo, a indústria gráfica, em que cada unidade ou lote de produto tende a ser peculiar e de fácil identificação. O custeamento por processo é encontrado onde há uma produção em massa de unidades idênticas numa sequência de vários processos, como numa indústria automobilística, pois são necessários vários processos numa sequência preestabelecida. 4 MÉTODOS DE CUSTEIO Segundo Padovese (2000), as duas metodologias de apuração do custo dos produtos, custeamento por absorção e o custeamento direto ou variável são as consideradas clássicas na Teoria de Contabilidade de Custos. Elas foram desenvolvidas baseadas nos conceitos de custos com comportamentos diferentes em relação à quantidade produzida, ou seja, nos custos fixos e variáveis, e também utilizando os critérios de alocação dos custos indiretos fixos aos produtos. Entendemos que o grande desafio na formação do custo de produção por produto está em conseguir um critério de alocação dos custos indiretos de fabricação aos produtos que venha a corresponder com o gasto efetivo em sua formação. Sabemos que este desafio é praticamente impossível de resolver, uma vez que, sendo custos indiretos, não há como medir seu gasto nem identificá-lo ao produto em si. Sendo assim, surge outro método para custear os produtos: o Custeio Baseado em Atividades (ABC), que 21 CONTABILIDADE GERENCIAL vem minimizando os impactos dos custos indiretos aos produtos por meio da apuração dos gastos das atividades que envolvem toda a fabricação de um determinado produto. Desse modo, destacamos os três métodos de custeamento: custeio por absorção, custeio direto ou variável e o Custeio Baseado em Atividades (ABC). 4.1 Custeio por absorção A formação do custeio por absorção contempla a soma dos custos diretos e indiretos do período. Contudo, se não for vendida toda a produção no mesmo período de sua formação, o Custos dos Produtos Vendidos (CPV) será apurado proporcionalmente às unidades vendidas, ficando o restante na unidade a ser registrada no ativo como estoque de produtos acabados. Isso significa dizer que os custos de produção (diretos e indiretos) só serão reconhecidos quando houver a venda efetiva dos produtos acabados, caso contrário, os custos de produção passam a ser considerados como investimentos no momento que incorporarão o estoque de produtos acabados da empresa. Ao utilizarmos o custeio por absorção por produto, teremos que alocar tanto os custos diretos quanto os indiretos ao produto. A alocação dos custos diretos ocorrerá por meio de mensuração; já os custos indiretos só serão alocados por meio de um critério de rateio escolhido pela empresa. A partir dos dados a seguir, Padovese (2000) apresenta um exemplo em que são apurados o lucro por unidade de produto, o lucro total por produto e o lucro total do período por meio do custeio por absorção (os mesmos dados serão utilizados no para apurarmos o custeio direto ou variável). Observação Muitos contadores se referem ao custeio por absorção pela sigla “RKW”. Essa é uma sigla usada em uma planilha de custos divulgada por um órgão de fomento à indústria alemã, ainda antes da Segunda Guerra Mundial, o Reichkuratoriumwirstchaftkleit (RKW). Os contadores brasileiros gostaram muito dessa planilha e a adotaram, entretanto, o conceito de custeio por absorção é mais amplo. Exemplo: uma determinada empresa fabrica dois produtos, A e B. A partir dos dados, apurar: I − lucro por unidade de produto; II − lucro total por produto; e III − lucro total do período. 22 Unidade I Tabela 1 $/un. Distribuição dos custos Produto A Produto B Custos diretos Matéria-prima Materiais auxiliares Mão de obra direta Total dos custos diretos 460,00 36,00 200,00 696,00 1.140,00 72,00 300,00 1.512,00 Outras informações Custos indiretos de fabricação: • salários departamentos de apoio à produção: $200.000,00/mês; • despesas dos departamentos de apoio à produção: $90.000,00/mês; • depreciações das máquinas e equipamentos $150.000.00/mês. Quantidades produzidas no mês: • A = 625 un. e B = 250 un. Quantidade de horas de mão de obra direta por produto: • A = 4 h/un. e B = 6 h/un. Critérios de rateio adotados para a distribuição dos custos indiretos de fabricação aos produtos: • salários e despesas dos departamentos de apoio à produção: à base do total de horas/mod.; • depreciações: à base da quantidade produzida. Despesas operacionais: • despesas administrativas: 3,5% sobre o preço de venda por unidade de produto; • despesas comerciais: 2,5% sobre o preço de venda por unidade de produto; • comissões sobre vendas por unidade de produto: A = R$204,00 e B = R$450,00. Preço de venda por unidade de produto: A = $1.700,00 e B = $3.750,00. 23 CONTABILIDADE GERENCIAL Resolução Etapas para apurar o lucro por unidade de produto: I − Lucro por un. = (Preço de venda un. – Custos e despesas por un.): Em seguida, apresentaremos passo a passo como apuraro lucro por unidade de produto, ou seja, para o produto A e o produto B: 1. Cálculo do rateio dos custos indiretos de fabricação aos produtos: Salários e despesas dos departamentos de apoio à produção, critério de rateio adotado à base do total de horas/mod. Produto A = 4h x 625 un. = 2.500 horas → 62,5% Produto B = 6h x 250 un. = 1.500 horas → 37,5% Total de horas = 4.000 → 100% Salário dos departamentos de apoio à produção, por unidade de produto: Produto A = 62,5% de R$200.000,00 → $125.000,00/625 un. = $200,00 Produto B = 37,5% de R$200.000,00 → $75.000,00/250 un. = $300,00 Despesas dos departamentos de apoio à produção, por unidade de produto: Produto A = 62,5% de R$90.000,00 → $56.250,00/625 un. = $90,00 Produto B = 37,5% de R$90.000,00 → $33.750,00/250 un. = $135,00 Depreciações das máquinas e equipamentos, critério de rateio adotado à base da quantidade produzida: Produto A = 625 un. → 71,4% Produto B = 250 un. → 28,6% Total = 875 → 100% Depreciações das máquinas e equipamentos, por unidade de produto: Produto A = 71,4% de R$150.000,00 → $107.100,00/625 un. = $171,36 Produto B = 28,6% de R$150.000,00 → $42.900,00/250 un. = $171,60 24 Unidade I 2. Distribuição das despesas administrativas e comerciais por unidade de produto: Despesas administrativas: 3,5% sobre o preço de venda por unidade de produto. Produto A = 3,5% de $1.700,00 → $59,50 Produto B = 3,5% de $3.750,00 → $131,25 Despesas comerciais: 2,5% sobre o preço de venda por unidade de produto. Produto A = 2,5% de $1.700,00 → $42,50 Produto B = 2,5% de $3.750,00 → $93,75 Tabela 2 $/un. Distribuição dos custos Produto A Produto B 1. Custos diretos Matéria-prima Materiais auxiliares Mão de obra direta Total dos custos diretos 2. Custos indiretos de fabricação Salário dos departamentos de apoio à produção Despesas dos departamentos de apoio à produção Depreciações das máquinas e equipamentos Total dos custos indiretos de fabricação 3. (1+2) Total dos custos de produção 460,00 36,00 200,00 696,00 200,00 90,00 171,36 461,36 1.157,36 1.140,00 72,00 300,00 1.512,00 300,00 135,00 171,60 606,60 2.118,60 Tabela 3 $/un. Distribuição das despesas Produto A Produto B Despesas administrativas Despesas comerciais Comissões sobre vendas Total das despesas 59,50 42,50 204,00 306,00 131,25 93,75 450,00 675,00 Tabela 4 $/un. Lucro por unidade de produto Produto A Produto B Preço de venda ( - ) Custo de produção ( - ) Despesas ( = ) Lucro Lucro em percentual sobre o preço de venda 1.700,00 (1.157,36) (306,00) 236,64 13,92% 3.750,00 (2.118,60) (675,00) 956,40 25,50% 25 CONTABILIDADE GERENCIAL Resolução II − Apuração do lucro total por produto: Tabela 5 Produto A $ Preço de venda: 1.700,00 x 625 un. ( - ) Custo de produção: 1.157,00 x 625 un. ( - ) Despesas: 306,00 x 625 un. ( = ) Lucro 1.062.500,00 (723.125,00) (191.250,00) 148.125,00 Tabela 6 Produto B $ Preço de venda: 3.750,00 x 250 un. ( - ) Custo de produção: 2.118,60 x 250 un. ( - ) Despesas: 675,00 x 250 un. ( = ) Lucro 937.500,00 (529.625,00) (168.750,00) 239.125,00 Resolução III − Apuração do lucro total do período: Tabela 7 Produto A Produto B Total Preço de venda ( - ) Custo de produção ( - ) Despesas ( = ) Lucro do período 1.062.500,00 723.125,00) (191.250,00) 148.125,00 937.500,00 (529.625,00) (168.750,00) 239.125,00 2.000.000,00 (1.252.750,00) (360.000,00) 387.250,00 4.2 Custeio direto ou variável O custeamento pelo método direto ou variável considera, na formação do custo do produto, apenas os custos diretos, ou seja, o efetivo gasto na formação do produto. Os custos indiretos de fabricação são vistos, neste sistema de custeio, como despesas do período. No sistema de custeio pelo método direto/variável obtém-se a margem de contribuição, e sua finalidade é “cobrir” os gastos do período, ou seja, os custos indiretos de fabricação, bem como as despesas gerais do período. A margem de contribuição é formada tomando como base os itens variáveis, aqueles que acompanham o volume não só de produção como o de venda também; assim, temos: 26 Unidade I Margem de contribuição = Preço de venda – Custos e despesas variáveis Para fins de ilustração e comparação na formação do custeio, utilizaremos os mesmos dados fornecidos para a formação do custeio por absorção, conforme Padovese (2000). Exemplo: uma determinada empresa fabrica dois produtos, A e B. A partir dos dados, apurar: I − margem de contribuição por unidade de produto; II − margem de contribuição total por produto; III − lucro total do período. Tabela 8 $/un. Distribuição dos custos Produto A Produto B Custos diretos Matéria-prima Materiais auxiliares Mão de obra direta Total dos custos diretos 460,00 36,00 200,00 696,00 1.140,00 72,00 300,00 1.512,00 Outras informações Custos indiretos de fabricação: • salários departamentos de apoio à produção: $200.000,00/mês; • despesas dos departamentos de apoio à produção: $90.000,00/mês; • depreciações das máquinas e equipamentos: $150.000.00/mês. Quantidades produzidas no mês: • A = 625 un. e B = 250 un. Despesas operacionais: • despesas administrativas: 3,5% sobre o preço de venda; • despesas comerciais: 2,5 % sobre o preço de venda; • comissões sobre vendas por unidade de produto: A = $204,00 e B = $450,00. 27 CONTABILIDADE GERENCIAL Preço de venda por unidade de produto: • A = $1.700,00 e B = $3.750,00 Resolução I − Apuração da margem de contribuição por unidade de produto: Tabela 9 $/un. Margem de contribuição por unidade de produto Produto A Produto B Preço de venda ( - ) Custo diretos ( - ) Despesas variáveis: comissões sobre vendas ( = ) Margem de contribuição Margem de contribuição em percentual sobre o preço de venda 1.700,00 (696,00) (204,00) 800,00 47,06% 3.750,00 (1.512,00) (450,00) 1.788,00 47,68% O produto B é o mais rentável. Sendo assim, é o que mais contribuirá para a amortização dos gastos fixos do período (custos indiretos de fabricação e despesas gerais). Observação Observe que aqui temos 0,62% de variação entre o produto A e o produto B. Essa variação pode ser insignificante ou um absurdo de alta, dependendo do produto ou do perfil da empresa. Cabe ao contador definir que postura terá em face das variações. Resolução II − Margem de contribuição total por produto: Tabela 10 Produto A $ Preço de venda: 1700,00 x 625 un. ( - ) Custo diretos: 696,00 x 625 un. ( - ) Despesas variáveis: comissões sobre vendas: 204,00 x 625 un. ( = ) Margem de contribuição total 1.062.500,00 (435.000,00) (127.500,00) 500.000,00 28 Unidade I Tabela 11 Produto B $ Preço de venda: 3.750,00 x 250 un. ( - ) Custo diretos: 1.512,00 x 250 un. ( - ) Despesas variáveis: comissões sobre vendas: 450,00 x 250 un. ( = ) Margem de contribuição total 937.500,00 (378.000,00) (112.500,00) 447.000,00 Resolução III − Lucro total do período: Tabela 12 Produto A $ Despesas gerais Despesas administrativas: 3,5% de 1.062.500,00 Despesas comerciais: 2,5% de 1.062.000,00 37.187,50 26.550,50 63.738,00 Tabela 13 Produto B $ Despesas gerais Despesas administrativas: 3,5% de 937.500,00 Despesas comerciais: 2,5% de 937.500,00 32.812,50 23.437,50 56.250,00 Tabela 14 Produto A Produto B Total Preço de venda ( - ) Custo diretos ( - ) Despesas variáveis: comissões vendas ( = ) Margem de contribuição (- ) Custos indiretos de fabricação Salários departamentos apoio à produção Despesas departamentos apoio à produção Depreciações máquinas e equipamentos ( - ) Despesas gerais Despesas administrativas Despesas comerciais ( = ) Lucro do período 1.062.500,00 (435.000,00) (127.500,00 ) 500.000,00 - - - - - 937.500,00 (378.000,00) (112.500,00) 447.000,00 - - - - - 2.000.000,00 (813.000,00) (240.000,00) 947.000,00 (200.000,00) (90.000,00) (150.000,00) (70.000,00) (49.988,00) 387.012,00 (*) (*) O lucro do período apurado pelo custeio por absorção foi de $387.250,00, e pelo custeio direto ou variável foi de $387.012,00; a diferença de $238,00 refere-se ao arredondamento utilizado na distribuição dos custos indiretos aos produtos. 29 CONTABILIDADE GERENCIAL Observação Normalmente, a margem de contribuição é uma análise muito usada em indústrias. A área de serviços costuma utilizar com ênfase a análise do ponto de equilíbrio. 4.3 Custeio por absorção ou direto? Qual é o melhor método de custeio? Tanto o método de custeio por absorção quanto o direto têm vantagens e desvantagens; note que, no sistema por absorção, os custos fixos precisam de um critério de rateio para a formação do custo de produção por produto, enquanto que no custeio direto a formação do custo por produto considera somente as variáveis, uma vez que são somente elas que formam o produto. Contudo, quando se apura o lucro total do período, não há divergências entre os dois métodos (o arredondamento não é considerado para esta análise); então qual é o melhor método para escolher? A princípio, a escolha do sistema de custeio terá que atender às necessidades da gestão empresarial; assim, a tomada de decisão será pautada sobre a informação vinda de tais sistemas. Portanto, não há melhor método, mas sim aquele que supre as exigências empresariais. Por outro lado, o custeio por absorção é exigido pela legislação brasileira para fins tributários; logo, deixa de ser uma opção e passa a ser uma obrigação. Entretanto, para fins gerenciais, o custeio direto é de grande valia por apresentar a margem de contribuição, que, entre várias aplicações, possibilita à empresa analisar a potencialidade que o produto tem de cobrir os gastos fixos (custos indireto de fabricação mais as despesas gerais) da entidade. Para fins de estudo, Padovese (2000) apresenta algumas vantagens e desvantagens do custeamento direto. Quadro 3 Vantagens Desvantagens ●• os custos dos produtos são mensuráveis objetivamente, pois não sofrerão processos arbitrários (rateio dos custos indiretos de fabricação); • é mais fácil para os gerentes industriais entenderem o custeamento dos produtos sob o custeio direto, pois os dados são próximos da fábrica e de sua responsabilidade, possibilitando a correta avaliação de desempenho setorial; • o custeamento direto é totalmente integrado com o custo- padrão e orçamento flexível, possibilitando um controle adequado dos custos; ●• formação da margem de contribuição que contribui com a análise custo-volume-lucro; ●• o custeamento direto possibilita mais clareza no planejamento do lucro e na tomada de decisão. • a exclusão dos custos indiretos de fabricação para valoração dos estoques causa sua subavaliação; não permitido, portanto, pela legislação tributária brasileira; ●• na prática, a separação de custos entre direto e indireto e também sua mensuração não é tão clara como parece, pois existem custos semivariáveis, dificultado, assim, o valor dos custos diretos; ●• o custeamento direto é um conceito de custeamento e análise de custos para decisões de curto prazo, entretanto, subestima os custos indiretos de fabricação, e estes fazem parte do parque fabril. Portanto, analisar somente os custos diretos não seria o ideal. 30 Unidade I 4.4 Custeio Baseado em Atividades (ABC) De acordo com o exposto, podemos verificar que a principal diferença entre os dois métodos de custeio – absorção e o direto – está na alocação dos custos indiretos de fabricação aos produtos, para assim formar o custo de produção (custos diretos mais custos indiretos de fabricação). Lembramos que os custos diretos, por serem passíveis de mensuração, terão sua alocação aos produtos de acordo com seu gasto efetivo; já os custos indiretos dependerão de um critério de rateio, e a cada critério de rateio adotado surge um novo custo de produção por produto e, automaticamente, um novo lucro por produto. Vimos que a utilização do custeamento direto ou variável reduz, parcialmente, a arbitrariedade sobre a formação do custo de produção por produto, mas não resolve a situação, pois apresentamos o custo de produção por produto somente com os custos diretos, ou seja, aqueles que realmente formam o produto, ficando os custos indiretos vistos como despesas do período. Entretanto, o impasse não está resolvido, uma vez que os custos indiretos de fabricação, de alguma maneira, são necessários na produção. Então, como alocá-los aos produtos? Após diversas pesquisas norte-americanas, surge um novo método de custeamento, denominado Custeio Baseado em Atividades (ABC), ou Activity Based Cost, que procura aprimorar o custeamento dos produtos por meio de mensurações dos custos indiretos de fabricação sobre as atividades geradoras desses custos e, assim, proceder à acumulação diferenciada ao custo dos diversos produtos da empresa. Vale lembrar que os custos diretos ou variáveis não causam quaisquer dificuldades para o modelo de custeamento determinado pela empresa; por absorção, direto ou baseado em atividades, eles serão sempre mensuráveis e alocados aos produtos de acordo com gasto efetivo de cada um. Padovese (2000) define o custo por atividade como um método de custeamento que identifica um conjunto de custos para cada evento ou transação (atividade) na organização que age como um direcionador de custos. Os custos indiretos de fabricação são então alocados aos produtos e serviços na base do número desses eventos ou transações que o produto ou serviço tem gerado ou consome como recurso. 4.5 Custos indiretos de fabricação, departamentos e serviços, atividades e direcionadores de custos Apesar de os departamentos de produção também possuírem custos indiretos, são os de serviços que concentram a maior parte (departamentos de serviços são aqueles que dão suporte à produção, neles nada é fabricado). Sendo assim, o custeamento por atividades busca, primeiro, identificar as atividades relevantes de cada departamento, para depois conhecer seu gasto, e, seguida uma nova etapa, alocar estes custos indiretos das atividades aos produtos. Padovese (2000) ilustra tal situação de acordo com o seguinte exemplo: departamentos de serviços que servem aos departamentos de produção e seus respectivos direcionadores de atividades. 31 CONTABILIDADE GERENCIAL Quadro 4 Departamentos de serviços Direcionadores de atividades Compras Ordens de compras Energia Consumo de energia (kWh) Capacidade instalada das máquinas Depreciação Horas de máquinas Pessoal e recrutamento Números de empregados Turnover Recebimento e expedição Unidades manuseadas Quantidade de embarques Quantidade de recebimentos M² ocupados pelos materiais Manutenção Horas de máquinas ou horas/homens trabalhadas Quantidade de atendimentos Pessoal e equipamentos ocupados à disposição de cada produto Planejamento e controle de produção Quantidade de ordens controladas Horas de análise trabalhadas Engenharias Horas de análise trabalhadas Quantidade de partes projetadas Quantidade de processos desenvolvidos Pessoal ocupado à disposição de cada linha de produto Almoxarifado e movimentação de materiais M² ocupados Quantidade de itens estocadosVolume manuseado Equipamento à disposição das linhas de produtos Quilometragem percorrida 4.6 Esquema básico do custeio ABC Padovese (2000) mostra, na figura a seguir, que o custeio ABC é definido comumente como um método de custeamento que atribui primeiro os custos para atividades e depois para os produtos, baseado no uso das atividades de cada produto. O custeamento baseado em atividades é fundamentado no seguinte conceito: produtos consomem atividades e atividades consomem recursos. Recursos Atividades Direcionadores de custos (cost drivers) Produtos ou outros objetos Figura 1 32 Unidade I 4.7 Exemplo comparativo: Custeio Baseado em Atividades (ABC) e o custeio por absorção Sabemos que, para a formação do custeio por absorção por produto, é necessária a escolha de um critério de rateio para alocação dos custos indiretos de fabricação aos produtos, a fim de apurar o custo de produção por produto (custos diretos mais custos indiretos de fabricação); no exemplo considerado por Padovese (2000) para formação do custo de produção por produto, a escolha do critério de rateio foi à base total de mão de obra direta consumida pelos produtos. Tabela 15 Dados gerais Produto A Produto B Total Quantidade produzida Horas de mão de obra direta necessárias por unidade de produto Total de horas necessárias para o volume de produção Custo por hora Total dos custos de mão de obra direta Mão de obra direta por unidade (+) Materiais diretos por unidade (=) Custo variável total por unidade Custos indiretos de fabricação Taxa de absorção dos custos indiretos de fabricação sobre custo direto de mão de obra 5.000 un. 3 h 15.000 h $4 $60.000 $12 $28 $40 - - 20.000 un. 2 h 40.000 h $4 $160.000 $8 $22 $30 - - 70.000 un. - - - $220.000 - - - $770.000 3,50% Tabela 16 Custeio por absorção Produto A Produto B Total Custo unitário dos produtos Custo direto: Mão de obra direta por unidade (+) Materiais diretos por unidade (=) Custo variável total por unidade (+) Custos indiretos de fabricação ( = ) Custo unitário total $12 $28 $40 $42 82 $8 $22 $30 $28 $58 $20 $50 $70 $70 $140 33 CONTABILIDADE GERENCIAL Tabela 17 Custeio Baseado em Atividades (ABC) Produto A Produto B Total Atividades identificadas nos custos indiretos de fabricação Preparação de máquinas Ordens de recebimentos e produção Horas de máquinas trabalhadas Total Quantidade de eventos ou transações Preparação de máquinas Ordens de recebimentos e produção Horas de máquinas trabalhadas Distribuição do total dos custos por produtos e custo unitário por atividade Preparação de máquinas ($30/un.) Ordens recebimentos e produção ($190/un.) Horas-máquinas trabalhadas ($10,00/un.) Total Quantidade produzida Custo unitário dos produtos Custo direto Mão de obra direta por unidade (+) Materiais diretos por unidade (=) Custo variável total por unidade (+) Custos indiretos de fabricação (*) ( = ) Custo unitário total - - - - 3.500 400 14.000 105.000 76.000 140.000 321.000 5.000 un. $12 $28 $40 $64 $104 - - - - 2.500 600 26.000 75.000 114.000 260.000 449.000 20.000 un. $8 $22 $30 $22 $52 $180.000 $190.000 $400.000 $770.000 6.000 1.000 40.000 - - - - - $20 $50 $70 $86 $156 (*) Produto A = $321.000/5.000 un. = $64 e Produto B = $449.000/20.000 un. = $22. Tabela 18 Quadro comparativo por sistema de custeio Produto A Produto B Total Custeio por absorção Custeio Baseado em Atividades (ABC) Variação $82 $104 27% $58 $52 - 10% $140 $156 11% Apesar de os custos indiretos de fabricação sempre serem alocados aos produtos por meio de um critério de rateio, pelo custeamento ABC é notório que os custos são distribuídos de uma forma mais apurada, ou seja, a partir de uma análise das atividades relevantes exercidas em cada departamento em relação aos produtos fabricados. O método de custeamento por atividades permite, portanto, não só uma melhor distribuição dos custos indiretos de fabricação aos produtos, mas também um melhor controle nos gastos dos custos e, consequentemente, uma melhor formação do custo de produção por produto para a tomada de decisão, quer na formação do preço de venda quer em quaisquer outras análises sobre o produto. 34 Unidade I Saiba mais Uma interessante reflexão sobre os mais usados métodos de custeio pode ser encontrada no seguinte livro: MARTINS, E.; ROCHA, W. Métodos de custeio comparados: custos e margens analisados sob diferentes perspectivas. São Paulo: Atlas, 2010. Resumo Em uma analogia intencionalmente simples, mas muito apropriada, esta unidade foi uma espécie de “maleta de ferramentas” básicas para a formação de dados utilizados para a contabilidade de custos, em preparação ao uso que esses dados terão pelos gestores. Da mesma forma como um médico não sai de casa sem um estetoscópio, um medidor de pressão arterial e um kit básico de medicamentos, capazes de salvar uma vida se necessário for, o contador não pode prescindir desse conhecimento. Estudamos os conceitos básicos de custos, e especial atenção deve ser dada aos métodos de custeio. Na prática, o sistema de “custeio por absorção” é o mais usado pelos contadores brasileiros, sendo quase uma unanimidade ou uma obrigação. O custeio por absorção, basicamente, é o método de custos de origem alemã RKW (Reichkuratoriumwirstchaftkleit), que foi desenvolvido ainda antes da Segunda Guerra Mundial como forma de aprimorar a indústria alemã frente ao fordismo. Difundido entre os contadores brasileiros, tem sido o preferido há muitos anos. O método de custeio ABC foi uma tentativa dos professores Robert S. Kaplan e David P. Norton de aproximar a tradicional e (segundo eles à época) arraigada contabilidade de custos, que já desde o século XIX praticamente não sofria alterações, da moderna sociedade do conhecimento. Não chega a ser usado de forma ampla e frequente, como o custeio por absorção, mas é inegável que traz avanços e produz informações de excelente qualidade, tendo talvez a sua complexidade de cálculos como um fator negativo. Sabemos que além dos métodos aqui estudados, há empresas brasileiras que utilizam outros, como o método israelense da Teoria das Restrições, o brasileiro Gecon, desenvolvido na USP (Universidade de São Paulo), 35 CONTABILIDADE GERENCIAL ou métodos ainda mais avançados que chegam ao país com modernos sistemas de gestão empresarial estrangeiros comprados pelas empresas brasileiras ou multinacionais que estão instaladas aqui. Há também um esforço acadêmico de tentar comparar os diversos métodos para evidenciar seus aspectos positivos e negativos, entretanto, no dia a dia empresarial, o método de custos é uma escolha já formada, o contador deve muitas vezes não se preocupar exatamente com o melhor método, mas fazer acontecer o método já em uso. Ao aprender os principais métodos estudados neste livro-texto, você está apto(a) a entender os principais métodos de custos e, se for o caso de se deparar com outro método de custos, de entendê-lo. A nossa preocupação foi a de prepará-lo(a) para adquirir o conhecimento que é exigido do aluno em teses de suficiência, concursos e avaliações de seleção de pessoal. Durante anos, os métodos de custeio têm navegado em um mar detranquilidade, até por conta da legislação fiscal. Mas com a entrada das novas normas internacionais, é esperado que aconteça um avanço também em questão de métodos de custeio. Esteja atento(a). E com essa nossa “caixa de ferramentas” em mãos, vamos analisar dados gerenciais? Como fazer isso? Vamos à segunda unidade. Exercícios Questão 1. (Fundep/IF-SP 2014, adaptada) Segundo Iudícibus (1998), o campo da contabilidade gerencial está em contínua evolução, sendo sua aplicação voltada especificamente para determinada função dentro da empresa. Considerando–se as características da contabilidade gerencial, assinale a alternativa incorreta. A) A contabilidade gerencial pode ser caracterizada pela utilização das várias técnicas e procedimentos contábeis em um grau de detalhamento menos analítico do que a contabilidade financeira. B) Por meio da utilização das várias técnicas e procedimentos contábeis, a contabilidade gerencial busca auxiliar os gerentes das entidades em seu processo decisório. C) A contabilidade gerencial está voltada única e exclusivamente para a administração da empresa, procurando gerar informações válidas para processo decisório do administrador. 36 Unidade I D) A contabilidade gerencial também se vale, em suas aplicações, de outros campos de conhecimento não circunscritos à contabilidade, tais como: administração da produção, da estrutura organizacional, bem como da administração financeira. E) A contabilidade gerencial tem como base de apoio a contabilidade de custos; muitos, inclusive, dizem que a contabilidade de custos “é a mãe da contabilidade gerencial”. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: a contabilidade gerencial apresenta um grau de detalhamento maior, uma vez que caracteriza-se a partir de diversas técnicas utilizadas em várias áreas da contabilidade, tais como financeira, custos, análise de balanços etc., mas de uma forma mais analítica. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a contabilidade gerencial alia as informações de custos com informações mais analíticas advindas de diversas áreas para dar suporte à tomada de decisão dos administradores. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a contabilidade gerencial busca dar suporte à tomada de decisão dos responsáveis das entidades. A contabilidade financeira, por exemplo, gera informações públicas para o mercado. D) Alternativa incorreta. Justificativa: uma vez que a contabilidade gerencial tem como principal papel auxiliar os gerentes das entidades nos mais diversos processos decisórios, ela faz uso de informações de outras áreas – com base na contabilidade de custos –, para auxiliar os gestores. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a contabilidade gerencial tem como base a contabilidade de custos, mas com dados e informações que são usados exclusivamente no âmbito interno da organização. Questão 2. (FCC/Prefeitura de Macapá-AP 2018, adaptada) Em uma situação hipotética, o Hospital “Rainha da Paz” necessita determinar o custo direto total de seus centros de custo. Para isso utilizará o “custeio por absorção”. Para o cumprimento dessa tarefa, foram definidos os centros de custos, como apresentado na Planilha a seguir. 37 CONTABILIDADE GERENCIAL Tabela 19 Centro de Custos Classificação M² RH Ponto de Luz Tomada Ponto de água Número de ramais Diretoria Administrativa Administrativo 40 5 6 17 1 3 Departamento de Pessoal I 15 7 4 22 1 1 Laboratório II 250 10 70 127 10 3 Serviço de Nutrição III 50 2 22 27 5 1 Clínica Médica IV 150 53 65 193 14 1 Clínica Obstétrica V 100 20 40 97 6 2 Total 605 97 207 500 37 11 Para que seja possível iniciar o sistema de apuração dos custos, os itens I a V são classificados, respectivamente, como: A) Administrativo, intermediário, intermediário, final, final. B) Intermediário, final, intermediário, final, final. C) Intermediário, intermediário, final, intermediário, intermediário. D) Administrativo, final, intermediário, final, final. E) Administrativo, final, final, intermediário, intermediário. Resolução desta questão na plataforma.
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