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Indaial – 2022 e Privada Prof. Ângelo Jorge Neckel 1a Edição ComuniCação PúbliCa Elaboração: Prof. Ângelo Jorge Neckel Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: N365c Neckel, Ângelo Jorge Comunicação pública e privada. / Ângelo Jorge Neckel – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 190 p.; il. ISBN 978-85-515-0476-5 1. Comunicação. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 380 Caro acadêmico! Bem-vindo à leitura do livro didático da Disciplina de Comunicação Pública e Privada. Neste texto de apresentação são contextualizados brevemente o entendimento sobre os conceitos de Comunicação Pública e Comunicação Privada, suas práticas profissionais e no cotidiano e a relação entre essas duas dimensões. Além disso, é informada uma prévia do conteúdo que estudaremos. Muito se tem falado no conceito e em práticas de Comunicação Pública. São temas de livros, trabalhos acadêmicos e em eventos e estão presentes nos noticiários. No entanto, há disputas de narrativas sobre o que é comunicação pública, tanto de maneira normativa, ou seja, de suas características ideais, quanto de sua aplicabilidade. Os consensos quanto ao que é comunicação pública dizem respeito à comunicação de diferentes atores da sociedade, incluindo o Estado, governos, o mercado, a mídia e a sociedade civil e organizada, acerca de temas de interesse coletivo e de interesse público. São exemplos de temas de interesse público aqueles relacionados à saúde, educação, trabalho, política, cultura, entre outros. A Comunicação Privada, por sua vez, costuma ser associada à comunicação exercida na iniciativa privada, ou seja, por atividades econômicas, políticas e culturais de organizações e sujeitos sem a participação direta do setor público-estatal. Com relação à comunicação mercadológica, a Comunicação Privada diz respeito, em síntese, a estratégias e ferramentas de construção da imagem da organização diante de seus diferentes públicos. Em outro sentido, especificamente aos grupos e indivíduos na sociedade civil, a comunicação privada observa a perspectiva das interações no espaço privado e a interesses particulares. Ao contrário do que se possa supor e apesar de suas diferenças, a Comunicação Pública e a Comunicação Privada são afetadas, cada uma, por lógicas do público e do privado. As lógicas do privado disputam ou se sobressaem frente à Comunicação Pública quando é prejudicada e passa a atender a interesses particulares em detrimento do interesse público, por exemplo. Por outro lado, o mercado em geral e as telecomunicações são regulados em diferentes graus pela legislação. Além disso, a comunicação de empresas cada vez mais leva em conta a necessidade de abordar temáticas de interesse público na busca pelo diálogo com diferentes públicos-consumidores. Questões sobre Comunicação Pública e Comunicação Privada estão presentes tanto no debate público quanto na vida particular dos indivíduos, sendo que a separação entre a vida pública e privada é cada vez menos perceptível. Os conceitos, noções, legislações, práticas, ferramentas comunicacionais e exemplos atrelados às duas dimensões da comunicação serão trabalhados ao longo de três unidades que compõem este livro. APRESENTAÇÃO Na Unidade 1, abordaremos a ‘Comunicação pública, política e a democracia’. Nela, o acadêmico terá contato com conteúdos que permeiam o entendimento sobre as noções de público e privado. Além disso, são tratadas algumas formas e modelos de democracia que se relacionam com o exercício da comunicação pública e da promoção da imagem do Estado, governos e atores políticos. A Unidade 2 apresenta aspectos da comunicação pública da sociedade civil organizada. Os tópicos abrangem primeiro a comunicação de movimentos sociais em busca por visibilidade e reconhecimento de suas pautas. Em seguida, são abordados o panorama da Ciência e da Tecnologia no Brasil, políticas públicas do setor e iniciativas de instituições científicas e universidades para popularização da Ciência. O último tópico traz iniciativas de TVs e rádios comunitárias, incluindo as legislações que as regem, o contexto da radiodifusão comunitária no País, debates propostos, bem como acerca de impeditivos à liberdade de expressão através da violência contra comunicadores. Na Unidade 3, aprenderemos ‘boas práticas de Comunicação pública e privada’. Os tópicos da unidade trabalham estratégias de aproximação entre governo e sociedade através da promoção e garantia de direitos e valores como transparência da administração pública e da proposição do debate com a sociedade para aprovação de leis e políticas públicas. A unidade também apresenta tópico sobre democracia digital e governo digital. Por fim, são trabalhadas características da comunicação privada quando em ações de marketing social e responsabilidade social na relação com temáticas de interesse público. Bom estudo! Ângelo Jorge Neckel Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. 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SUMÁRIO UNIDADE 1 - COMUNICAÇÃO PÚBLICA, POLÍTICA E DEMOCRACIA ................................... 1 TÓPICO 1 - A CONSTITUIÇÃO DO PÚBLICO E DO PRIVADO NA DEMOCRACIA: O ESPAÇO, O DEBATE E A OPINIÃO ....................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 PÚBLICO E PRIVADO: SEPARAÇÃO E IMBRICAÇÕES .......................................................3 3 ESFERA PÚBLICA ...............................................................................................................5 4 OPINIÃO PÚBLICA .............................................................................................................. 7 5 DEBATE PÚBLICO ..............................................................................................................8 5.1 ACONTECIMENTO PÚBLICO ................................................................................................................ 9 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................................11 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 12 TÓPICO 2 - COMUNICAÇÃO PÚBLICA E DEMOCRACIA: CONCEITOS E MODULAÇÕES ........................................................................... 15 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 15 2 COMUNICAÇÃO PÚBLICA E DEMOCRACIA: COMPLEMENTARIDADES ......................... 15 2.1 DEMOCRACIA E SUAS MODULAÇÕES ............................................................................................ 16 2.1.1 Democracia representativa .......................................................................................................17 2.1.2 Democracia participativa .........................................................................................................20 2.1.3 Participação e deliberação .......................................................................................................21 2.2 COMUNICAÇÃO ENQUANTO DEBATE PÚBLICO: AS REDES DE COMUNICAÇÃO PÚBLICA .......................................................................................23 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 25 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 26 TÓPICO 3 - COMUNICAÇÃO POLÍTICA: GOVERNO, SISTEMA PÚBLICO DE COMUNICAÇÃO E IMAGEM PÚBLICA ........................................................ 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 29 2 COMUNICAÇÃO PÚBLICA GOVERNAMENTAL ................................................................ 29 2.1 OS SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO GOVERNAMENTAL ................................................................31 2.2 A PROMOÇÃO DA IMAGEM DO ESTADO ........................................................................................33 2.2.1 Comunicação e propaganda governamental: contexto histórico ................................34 2.2.2 TVs dos três poderes (Legislativo, Judiciário e Executivo) ............................................ 37 3 IMAGEM PÚBLICA DE POLÍTICOS ................................................................................... 42 3.1 O CARISMA POLÍTICO .........................................................................................................................43 3.2 PROPAGANDA POLÍTICA ...................................................................................................................44 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 46 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 53 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 54 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 56 UNIDADE 2 — COMUNICAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL ........................................................ 61 TÓPICO 1 — COMUNICAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS................................................ 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 63 2 MOVIMENTOS SOCIAIS E CIDADANIA ............................................................................ 63 3 TRAJETÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL ................................................. 65 4 PRÁTICAS COMUNICACIONAIS DOS MOVIMENTOS .......................................................67 4.1 NAS RUAS E NAS REDES...................................................................................................................68 4.2 AS MÍDIAS DOS MOVIMENTOS .........................................................................................................71 5 MOVIMENTOS SOCIAIS E ACONTECIMENTOS ................................................................72 5.1 AS JORNADAS DE 2013 ..................................................................................................................... 73 5.2 O MOVIMENTO SECUNDARISTA EM 2015-2016 .......................................................................... 74 5.3 A COMUNICAÇÃO SINDICAL NA PANDEMIA................................................................................. 75 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 77 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................78 TÓPICO 2 - A COMUNICAÇÃO PÚBLICA DE ESTÍMULO À CIÊNCIA ...................................81 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................81 2 PANORAMA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO BRASIL .....................................................81 2.1 CRISE DE INVESTIMENTO ..................................................................................................................82 2.2 O FENÔMENO DA FUGA DE CÉREBROS ........................................................................................83 3 MINISTÉRIO E ÓRGÃOS DE PROMOÇÃO DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA .................... 86 3.1 MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÕES (MTIC) .................................................87 3.2 AGÊNCIAS DE FOMENTO E FUNDAÇÕES DE AMPARO À PESQUISA .................................... 88 3.2.1 A Capes ....................................................................................................................................... 88 3.2.2 O CNPq ........................................................................................................................................90 3.2.3 As fundações de amparo à pesquisa ..................................................................................92 3.3 POLÍTICASPÚBLICAS DO SETOR ...................................................................................................93 4 O PAPEL DAS UNIVERSIDADES NA PROMOÇÃO DA CIÊNCIA ........................................95 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 98 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................99 TÓPICO 3 - TVS E RÁDIOS COMUNITÁRIAS: O TERCEIRO SETOR EM DESTAQUE ......... 101 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 101 2 REGULAMENTAÇÃO DAS RÁDIOS E TVs COMUNITÁRIAS NO BRASIL ........................ 101 3 HISTÓRIA DAS RÁDIOS E TVS COMUNITÁRIAS NO BRASIL .........................................103 4 A COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AS EMISSORAS COMUNITÁRIAS .........................105 5 DEBATE SOBRE DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO ............................................106 5.1 ATAQUES À LIBERDADE DE EXPRESSÃO .................................................................................... 107 5.2 O DESERTO DE INFORMAÇÃO NO BRASIL .................................................................................108 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 110 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 116 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................117 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 119 UNIDADE 3 — BOAS PRÁTICAS DE COMUNICAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA .....................125 TÓPICO 1 — DEMOCRACIA DIGITAL: PANORAMA, MODELOS E PRÁTICA ....................... 127 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 127 2 DEMOCRACIA DIGITAL ................................................................................................... 127 2.1 PRIMEIROS ANOS E ESTUDOS ....................................................................................................... 129 2.2 MODELOS DE DEMOCRACIA DIGITAL ..........................................................................................130 2.2.1 Liberal ..........................................................................................................................................131 2.2.2 Comunitário ..............................................................................................................................131 2.2.3 Deliberativo .............................................................................................................................. 132 2.2.4 Participativo ............................................................................................................................. 132 2.3 DESAFIOS E AMEAÇAS À DEMOCRACIA (DIGITAL) .................................................................. 133 2.3.1 Democracia e internet: a perspectiva dos críticos ......................................................... 134 2.4 GOVERNO DIGITAL ............................................................................................................................138 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 141 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................142 TÓPICO 2 - PRÁTICAS DE APROXIMAÇÃO ENTRE GOVERNO E SOCIEDADE .................145 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................145 2 TRANSPARÊNCIA E ACCOUNTABILITY .........................................................................146 2.1 LEI DA TRANSPARÊNCIA ................................................................................................................146 2.2 LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO (LAI) ......................................................................................... 147 2.2.1 Etapas de acesso à LAI ..........................................................................................................148 2.2.2 Desafios da LAI ........................................................................................................................ 149 2.3 COMPLIANCE .....................................................................................................................................150 2.4 PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA INSTITUCIONAL: PESQUISA E PL ..........................................151 2.4.1 Legislação.................................................................................................................................. 152 3 PANORAMA DA E-PARTICIPAÇÃO .................................................................................152 3.1 INICIATIVAS FEDERAIS ..................................................................................................................... 153 3.2 PRÁTICAS DO LEGISLATIVO ESTADUAL: A COMUNICAÇÃO DA AL DE SANTA CATARINA ...................................................................................................................... 155 3.3 E-PARTICIPAÇÃO EM SÃO PAULO ............................................................................................... 157 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................160 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 161 TÓPICO 3 - A COMUNICAÇÃO PRIVADA: MARKETING SOCIAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL ....................................................................163 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................163 2 CONTEXTUALIZAÇÃO ....................................................................................................163 2.1 MARKETING 1.0: ÊNFASE NOS PRODUTOS .................................................................................164 2.2 MARKETING 2.0: A CONQUISTA DO PÚBLICO CONSUMIDOR ................................................ 166 2.3 MARKETING 3.0: EXIGÊNCIAS SOCIAIS DOS PÚBLICOS ..........................................................167 2.4 MARKETING 4.0: REFLEXÕES DO CONSUMIDOR ......................................................................168 3 O MARKETING SOCIAL E A RESPONSABILIDADE SOCIAL ..........................................169 3.1 CASO MERCUR: RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIOAMBIENTAL ..................................... 171 3.2 CASO IFOOD: RESPONSABILIDADE SOCIAL E SOCIOAMBIENTAL A PARTIR DE GESTÃO DE IMAGEM ............................................................................................... 173 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 175 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................182 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................183 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................185 1 UNIDADE 1 - COMUNICAÇÃO PÚBLICA, POLÍTICA E DEMOCRACIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • distinguir entre as noções de público e de privado; • reconhecer diferentes modelos de democracia; • identificar déficits da qualidade da Comunicação Pública e da própriademocracia; • estabelecer relações entre modelos de democracia e formas de comunicação do Estado; • relacionar modelos de democracia e formas de comunicação governamental; • explicar aspectos contextuais e teóricos da promoção da imagem do Estado e da imagem individual de políticos. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A CONSTITUIÇÃO DO PÚBLICO E DO PRIVADO NA DEMOCRACIA: O ESPAÇO, O DEBATE E A OPINIÃO TÓPICO 2 – COMUNICAÇÃO PÚBLICA E DEMOCRACIA: CONCEITOS E MODULAÇÕES TÓPICO 3 – COMUNICAÇÃO POLÍTICA: GOVERNO, SISTEMA PÚBLICO DE COMUNICAÇÃO E IMAGEM PÚBLICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 A CONSTITUIÇÃO DO PÚBLICO E DO PRIVADO NA DEMOCRACIA: O ESPAÇO, O DEBATE E A OPINIÃO 1 INTRODUÇÃO Neste tópico de abertura da unidade são trabalhadas as noções de público e privado que permeiam os conceitos de Comunicação Pública e de Comunicação Privada. Para melhor compreensão dessas noções é recuperado o contexto da configuração dos públicos no período da Modernidade, demarcado pelo advento de transformações tecnológicas e origem da imprensa no século XVII, que impulsionaram a configuração e ascensão da esfera pública burguesa em países como Inglaterra e França no século seguinte. A partir da noção de público, trata-se brevemente de sentidos atribuídos à expressão, que abrange desde a emancipação do sujeito e de suas pré-condições para a participação racional na vida pública, passando pela ideia de público enquanto sinônimo de publicização, até o papel do Estado e de suas atribuições enquanto ‘coisa pública’. As correspondências ao privado, anterior mesmo à Modernidade, recuperam a noção de proteção de interesses comerciais, da individualidade e da vida privada e da esfera do segredo, orginalmente contraposta à vida pública. O percurso adotado, da formação da esfera pública em direção a um salto histórico até o contemporâneo, visa auxiliar o entendimento de questões como o papel da imprensa na fiscalização do Estado e na proteção de valores democráticos, coletivos e a necessidade de incentivo à formação da opinião pública pautada por informações qualificadas para o debate sobre temas de interesse coletivo, mediados pela construção de acontecimentos midiáticos. 2 PÚBLICO E PRIVADO: SEPARAÇÃO E IMBRICAÇÕES A dicotomia entre os conceitos de público e privado tem origem na sociedade europeia, e seus registros de origem remontam à antiguidade clássica. De acordo com J. B. Thompson (1995), a separação resulta da lei pública destinada ao governo e da lei privada imposta aos homens livres e seus subordinados na Roma antiga. No final da Baixa Idade Média, na transição do feudalismo para o sistema capitalista, o público e o privado passaram a designar, respectivamente, o poder político do soberano do Estado e os assuntos regulados pelo direito civil e relações familiares. Segundo o autor referido, outro sentido que se atribui ao público desde antes da TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 Modernidade é o caráter de publicização, de tornar ou tornar-se visto diante dos olhos dos outros. Em contrapartida, o privado pertenceria à ordem do segredo, ficando escondido. Um exemplo do período é a aparição do monarca diante dos súditos para afirmar o poder publicamente sob a forma de espetáculos, mas sem dar conta das decisões da realeza, caso do rei francês Luís XV, conhecido pela realização de espetáculos políticos aos olhos do povo. FIGURA 1 – LUÍS XV (1710-1774), MONARCA FRANCÊS ABSOLUTISTA FONTE: <https://bit.ly/3Kc8fDT>. Acesso em: 14 fev. 2022. A constituição dos públicos, ou seja, a configuração do espaço público, dá-se ao final do século XVIII, na Modernidade. Sua motivação é fruto da ascensão da burguesia, insatisfeita com o regime absolutista em países como França e Inglaterra, em nome de interesses de expansão de suas riquezas, maior participação política e mobilidade social. A revolução burguesa se expandiu, também, no contexto de novas tecnologias (meios de comunicação e de transporte) e pela consolidação da imprensa ideológica, veículo de manifestação de interesses dos comerciantes e profissionais liberais da época. FIGURA 2 – PRENSA DE TIPOS MÓVEIS FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/prensa-de-impress%c3%a3o-d%c3%bcrer-nurem- berg-3086828/>. Acesso em: 11 fev. 2022. 5 Segundo o sociólogo português João Pissarra Esteves (2016), os públicos possuíam um caráter simbólico, uma vez que formado por indivíduos com certo tipo de interdependências e cujos interesses em comum se davam por determinado nível de concordância, opiniões e juízos intercambiáveis a respeito de um mesmo tema. Nesse sentido é que coube especificamente à imprensa, em um primeiro momento, a ampliação dos públicos, uma vez que permitiam que as ideias circulassem sem a exigência de presença física e por uma porção territorial mais extensa do que a praça pública. 3 ESFERA PÚBLICA A reunião simbólica das manifestações dos públicos, ou seja, de suas linguagens e discursos, configura a esfera pública burguesa. Local de congregação das manifestações dos públicos, a esfera pública pode ser entendida como uma rede invisível, que reúne as opiniões a respeito de temas voltados para o atendimento de vontades coletivas. Apesar de prescindirem de lugar físico, a esfera pública pode se materializar também em discussões ocorridas em arenas territoriais, como por exemplo, em assembleias. FIGURA 3 – SESSÃO DE ABERTURA DOS ESTADOS GERAIS EM 5 DE MAIO DE 1789 FONTE: <https://bit.ly/3NRzhCU>. Acesso em: 13 fev. 2022. Para a formação do que autores como Esteves (2016) e o filósofo alemão Jürgen Habermas (1984 apud GOMES; MAIA, 2008) compreendem como um espírito coletivo presente na democracia deliberativa na modernidade, há uma série de pré-condições normativas para sua efetivação. Um deles, novamente orientado pelo binômio público- privado, é a emancipação do sujeito, garantida pela liberdade individual vinculada à instância do privado. Apenas em condições de liberdade (de se reunir e de dizer) e dotado de razão e consciência, o indivíduo teria condições de sentir e sanar a vontade de aderir ao espírito coletivo e participar da vida pública em defesa do interesse coletivo. 6 FIGURA 4 – JÜRGEN HABERMAS FONTE: <https://bit.ly/37h2iHl>. Acesso em: 16 fev. 2022. De acordo com esses pressupostos, idealmente as opiniões expressas pelos indivíduos na esfera pública precisam respeitar critérios de publicidade, de crítica e de debate. • Publicidade: a publicidade corresponde ao respeito no sentido de tornar público, referindo o acesso amplo e irrestrito dos sujeitos ao debate e à publicização de suas ideias e opiniões através da palavra enunciada. A discussão de temas públicos é destinada a qualquer cidadão na defesa de interesses, vontades e pretensões por meio da retórica argumentativa e em condições de igualdade, não mais impossibilitada pelos privilégios de realeza despótica. Nesse sentido, a participação na esfera pública requer o cumprimento dos valores de argumentação racional responsiva, com posições e contraposições. O principal intuito seria a busca do convencimento da maioria e a disposição de poder ser convencido racionalmente quando em deliberação. Nesse sentido, o simples arbítrio autoritário e o segredo são contrários ao valor de publicidade. • Crítica: a crítica corresponde ao uso da razão e da racionalidade como parâmetros principais para a conversação e tomada de decisões sobre temas de relevância coletiva. Se a publicização condiz com o acesso irrestrito em condição de paridade entre os debatedores, a crítica se relaciona à necessidade de julgamento da razão, da razoabilidade e/ou da habilidade argumentativa. • Debate: o debate, quese dá pela troca de razões de indivíduos privados em público, não só é estruturado pela adoção de posicionamento crítico com vistas a acordos, como estrutura esses elementos. Trata-se, portanto, de uma prática ‘pedagógica’, pois essa forma de comunicação, dialógica e racional, busca o esclarecimento mútuo por meio da competição entre argumentos. A isso Habermas (1984 apud GOMES, 2008) chama de raciocínio público, necessário para a discussão pública, ou, como também considera, ‘comunicação pública’. 7 4 OPINIÃO PÚBLICA Em sua dimensão normativa, a opinião pública resulta da opinião dos processos e reelaborações de debates e conclusões realizados na esfera pública. Assim, a opinião pública se relaciona com o exercício do poder ao formular uma vontade coletiva com força de influência. Um dos aspectos centrais das críticas da teoria deliberacionista de Habermas (1984) no debate acadêmico é a não observância ou perda gradativa dos critérios idealizados para o debate público, isto é, de um distanciamento de parâmetros quando muito atingidos por uma única classe, em uma experiência restrita da Modernidade, situada em período histórico que remonta há alguns séculos. Trata-se de uma crítica ao que Esteves (2016) chama de dimensão fáctica da opinião pública. O autor aponta uma crise da dimensão normativa a partir do século XIX e em consolidação no século XX, causada por dois fatores principais: a democracia de massa e a ascensão dos meios de comunicação de massa e seus reflexos na sociedade. A noção de massa está atrelada a formas de aglutinação de indivíduos, baseadas em relações carentes de vínculos sociais comuns aos públicos. Logo, o papel do indivíduo se restringe ao de um ator passivo, abrindo mão da autonomia e protagonismo enquanto autores de ideias, argumentos e razões. Com isso, os meios de comunicação massivos (TV, rádio, cinema e impresso) se tornam os mediadores privilegiados da aproximação e do distanciamento do Estado frente aos públicos massificados. Como efeito social, o conjunto de adesões deles a determinados temas e ideias apresentadas e propostas por emissores do Estado e da mídia é traduzido em dados quantitativos através de técnicas de sondagem, a exemplo das pesquisas de opinião na democracia de massa (ESTEVES, 2016). A perspectiva sociológica da comunicação proposta por Esteves (2016) ou a herança crítica de Habermas (HERMOSO, 2018) repousam sobre a visada dos efeitos dos meios de comunicação na vida pública. Outro ângulo possível de discussão no contemporâneo é que a sociedade cria e é atravessada por novas tecnologias transformadas em meios, e o monopólio da fala sai do controle das grandes empresas de mídia massiva. Contudo, pesquisas sobre a qualidade da opinião pública apontam outros desafios ou a intensificação deles a despeito de reflexões sobre a apropriação de dados privados no ambiente das redes sociodigitais geridas por grandes empresas de mídia e em estratégias de marketing eleitoral direcionadas após apropriação ilegal de informações pessoais de possíveis eleitores. Isso deixa mais difícil a diferenciação entre as esferas do público e do privado. Frente a esses cenários é que Esteves (2016) considera que a opinião pública possui uma dimensão normativa (no sentido de ‘dever ser’) e uma dimensão ‘fáctica’ (no sentido 8 de ‘como é’ ou de ‘como está’). Por outro lado, há momentos em que são possíveis experiências de opinião pública ou de uma democracia massiva, podendo os indivíduos e grupos se envolverem ou se eximirem da vida pública de acordo com temas que atendam a interesses particulares. A esta altura da leitura, você pode se perguntar: “afinal, se existe um descompasso tão grande em termos da qualidade esperada para a esfera pública, debate público e opinião pública e a qualidade que se constata de fato, qual é a importância do estudo desses conceitos? Esteves e outros pesquisadores de Comunicação Pública, a exemplo de Maria Helena Weber (2017), consideram que a normatividade serve, justamente, de parâmetro para perceber a qualidade e os déficits de democracia, identificar os desafios para a superação de problemas públicos e por meio dessa vigilância contribuir para o debate em sociedade. 5 DEBATE PÚBLICO Vista a importância científica e, em termos gerais, social, da perspectiva da defesa da participação ampla na discussão e conversações sobre questões de interesse público, é necessário pensar nas singularidades e novas dimensões do debate público entre o Estado, a mídia, o mercado e redes de comunicação da sociedade civil. Conforme Weber (2017), os temas de interesse público são ao mesmo tempo abordados e disputados por instituições, redes e cidadãos com interesses que transitam entre o público e o privado, nos meios de comunicação tradicionais e em outros espaços de visibilidade (nas ruas, em cartazes, nos muros, nas redes sociais e na imprensa alternativa). Esses espaços, territoriais e simbólicos, fazem parte de uma dimensão da esfera pública que pode ou não abranger a deliberação dos públicos: a esfera de visibilidade pública (GOMES, 2008). IMPORTANTE Assim como as categorias 'normativo' e 'fáctico' são importantes para a reflexão sobre os públicos, outras instituições sociais também possuem valores ideais que orientam suas práticas, mas que não necessariamente sempre sejam cumpridos. Exemplos disso são a própria política e o jornalismo. Para você se aprofundar nessa questão, recomendamos a leitura do artigo da cientista política Flávia Biroli, intitulado 'Orgulho e preconceito: a "objetividade" como mediadora entre o jornalismo e seu público’. FONTE: <https://www.scielo.br/j/op/a/K4h97Ywr5vhRvz5q4LMxmzS/ abstract/?lang=pt>. Acesso em: 14 jul. 2018. 9 Segundo Gomes (2008, p. 134), em uma “democracia de massa, não há como estabelecer consensos, reconhecer as questões relativas ao bem comum e as posições em disputa eleitoral sem que se passe por um tal meio essencial de sociabilidade”. O autor ressalta que toda a sociedade possui sua própria esfera de visibilidade pública, devidamente protegida contra os ataques de adversários. Há, por exemplo, a esfera de visibilidade pública da realeza, a esfera de visibilidade pública burguesa (a imprensa, na Modernidade), enquanto modos de vigilância ou administração do poder através da exposição. Nem só de debates ou de exposição dos fatos sociais se constitui a esfera pública, sendo que a “associação entre as duas formas de esfera pública é tão intensa que qualquer perda numa das dimensões constitui uma perda de qualidade democrática” (GOMES, 2008, p. 135). Nesse sentido, enquanto a esfera pública deliberativa necessita de visibilidade para se tornar acessível à participação dos debatedores, a esfera de visibilidade pública disponibiliza os temas para debate, apesar de não os produzir: são os acontecimentos públicos tomados como objeto do jornalismo e transformado em produtos midiáticos. 5.1 ACONTECIMENTO PÚBLICO Acontecimentos são fatos da vida social experienciados (vividos, sentidos, presenciados etc.) pelos indivíduos. De acordo com Quéré (2005), o acontecimento irrompe com a normalidade, remetendo tanto ao passado, precisando de referências anteriores para ser interpretado, quanto ao futuro ou futuros possíveis nos quais seus desdobramentos serão percebidos. O acontecimento tem a importância, ou pregnância social atestada quando tomado como objeto da mediação midiática, tornando-se acontecimento jornalístico, precisando, a princípio, atender a uma série de critérios editoriais das empresas jornalísticas sob a forma de valores-notícia. Quando emerge na mídia, o acontecimento adquire uma ‘segunda vida’, de acordo com a metáfora utilizada por Vera França (2012) para designar as disputas em torno dos acontecimentos na imprensa. Por dedução, as versões sobre os acontecimentos são objeto de disputas em diferentes arenas de visibilidade e de discussão pública. A respeito das relaçõesda imprensa com as fontes do poder político e econômico, uma das figuras atribuídas ao jornalista é a de Watchdog, ou ‘cão de guarda’ da democracia, através do monitoramento da vida política por intermédio de investigações, questionamentos e denúncias. Os acontecimentos midiáticos atendem ao critério de publicização de acontecimentos. Todavia, para serem compreendidos como acontecimentos públicos por excelência precisam atentar para outros dois critérios: a visibilização de temas de interesse público e a revelação de problemas que requerem a atuação do Estado. Exemplos disso são acontecimentos envolvendo temas como saúde, trabalho, corrupção, segurança, entre outros: 10 • Problemas públicos: segundo Coelho (2013), os problemas públicos e os embates e agonísticas que o sustentam ocorrem por serem mal determinados, impedindo o controle e organização das experiências na relação com o acontecimento ou por romperem com princípios éticos dos cidadãos. • Interesse público: relativos a temas de interesse coletivo, está presente nos discursos e práticas da democracia (WEBER, 2017). Contudo, por vezes está presente na retórica e nas práticas das democracias, mas prescindindo da participação da sociedade e em favorecimento de interesses particulares de políticos, familiares e agrupamentos afins que se sobressai a razões públicas de organizações do Estado. Portanto, é a partir do amplo acesso, publicidade e qualidade do debate sobre temas de interesse público e acontecimentos correlatos sobre questões que afetam diferentes instâncias da sociedade e que são visibilizados nas mídias que se alcança mais qualidade nas democracias. 11 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • As noções de público e de privado apresentam diferenças históricas desde a antiguidade clássica, mas que estão cada vez mais difíceis de serem discernidas nas sociedades contemporâneas, devido à mescla entre interesses particulares relacionados ao mercado e ao benefício próprio, e à noção de público orientada para a defesa de interesses coletivos e ao caráter das ações do Estado como ‘coisa pública’. • Os critérios ideais de participação na esfera pública respeitam a condições de acesso a informações qualificadas e de igualdade de condições entre os indivíduos envolvidos em discussões racionais sobre temas de interesse do bem coletivo. • As diferenças entre as dimensões normativa e fáctica da opinião pública, posto que, enquanto a normatividade se refere ao atendimento dos valores de participação, visibilidade e racionalidade, a dimensão fáctica caracteriza a o enfraquecimento da autonomia e criticidade dos sujeitos na formação da opinião pública. • A esfera pública possui duas dimensões complementares: a esfera de debate público, que necessita de publicização para envolvimento de seus partícipes, e a esfera de visibilidade pública, que insere no espaço público os temas para o debate da sociedade. • Os fatos transformados em notícias se tornam acontecimentos públicos quando atendem aos critérios de visibilidade de temas de interesse público e de revelação de problemas que convocam a atuação do Estado. RESUMO DO TÓPICO 1 12 1 O sociólogo português Emílio Pissarra Esteves contrapõe as categorias ‘públicos’ e de ‘massa’. A primeira está relacionada com a configuração de uma opinião pública normativa, enquanto a última se relaciona com a dimensão fáctica (real) da esfera pública. A respeito das noções de opinião pública e de opinião das massas a partir de Esteves, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As massas e os públicos são categorias incompatíveis em uma mesma sociedade. b) ( ) O marco de transição de uma opinião pública normativa para uma sociedade massiva se deu antes da revolução com o início da Idade Moderna, no século XV. c) ( ) O processo de massificação da sociedade através da individuação ocorre de modo acelerado com o advento dos meios de comunicação massivos e dos novos meios digitais. d) ( ) Em função da grande oferta de informações em uma sociedade globalizada, o indivíduo massificado possui uma tendência maior para a participação na vida política. 2 Segundo a teoria deliberativa, as conversas e discussões na esfera pública devem obedecer aos parâmetros de publicidade, de crítica e de debate, estando ao alcance de qualquer cidadão com vontade política e livre do uso da violência por qualquer tipo de tirania. Com base nesses pressupostos do debate público, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O debate público necessita de um espaço físico para ser realizado, a exemplo da Ágora, em Atenas, e do Parlamento inglês. b) ( ) O debate público requer o domínio de estratégias retóricas para a imposição de constrangimentos aos interlocutores c) ( ) O uso da razão em busca da aceitação da razoabilidade e validação de argumentos junto a interlocutores é uma condição da participação no debate. d) ( ) O debate público por vezes requer a manutenção dos resultados das deliberações sob sigilo para evitar interferências de indivíduos tecnicamente despreparados para a argumentação. AUTOATIVIDADE 13 3 De acordo com autores da teoria do acontecimento, este passa a ser público quando respeita a três critérios: visibilidade midiática; reunião de problemas públicos que requerem a intervenção do Estado; e a mobilização de tensões sobre o interesse público. A respeito de situações e exemplos que configuram acontecimentos públicos, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) Acidentes e desastres industriais que colocam em disputas judiciais empresas e cidadãos afetados. Exemplo: rompimento de barragens em áreas habitáveis, como em Brumadinho e Mariana (MG). b) ( ) Incidentes com morte que abre investigações para apuração de responsabilidades de associações privadas, segurança pública e Estado. Exemplo: incêndio no Centro de Treinamentos do Clube de Regatas Flamengo (RJ). c) ( ) Visitas diplomáticas entre chefes de estado e ministros para diálogos em tentativas de acordos econômicos. Exemplo: viagens internacionais de presidentes da República a aliados políticos e econômicos. d) ( ) Operações da Polícia Federal contra crimes de corrupção e lavagem de dinheiro tendo como investigados agentes do Estado e do mercado. Exemplo: Operação Satiagraha. 4 De acordo com J. B. Thompson (1995), a instância do privado está presente no mundo ocidental desde a antiguidade clássica. A priori oposto ao conceito de público, os dois conceitos têm as suas fronteiras borradas na modernidade e com o advento de novas tecnologias de comunicação, mas seguem sendo importantes para a avaliação da qualidade da democracia. Disserte sobre quais os principais sentidos atribuídos ao conceito de privado. FONTE: THOMPSON, J. B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vozes, 1995. 5 Conforme Wilson Gomes (2008), a esfera pública abrange não só a deliberação dos públicos, mas também a esfera da visibilidade pública, a partir de espaços territoriais e simbólicos materializados pelos meios de comunicação ao tomar os acontecimentos como objetos de suas emissões. Disserte a respeito da relação de complementaridade das duas dimensões da esfera pública: debate e visibilidade. FONTE: GOMES, W.; MAIA, R. Comunicação e democracia: Problemas & Perspectiva. São Paulo: Paulus, 2008. 14 15 COMUNICAÇÃO PÚBLICA E DEMOCRACIA: CONCEITOS E MODULAÇÕES 1 INTRODUÇÃO O segundo tópico da unidade possui como eixo a perspectiva da comunicação pública como efetivação do debate entre Estado, governos, setores da sociedade civil organizada e atores individuais. O pressuposto da comunicação pública como resultado do debate em sociedade leva em conta parâmetros como o da política em uma perspectiva mais ampla, sem estar restrita às decisões do poder público. Como o debate público guarda uma relação direta com diferentes modelos de democracia, serão estudadas as principais características de modelos como a própria democraciadeliberativa, democracia participativa e representativa. Os diferentes tipos de democracia, por vezes, estão presentes e, em certa medida, complementam-se, embora também possam apresentar tensionamentos entre si. A perspectiva do debate público está em consonância com iniciativas de comunicação de diferentes setores operando como redes que se constituem a partir de acontecimentos que envolvem temas de interesse público. A configuração dessas redes será demonstrada por estudos de Comunicação Pública em face da importância do debate para a qualidade da democracia. Por isso, fazem parte do tópico, ainda, noções introdutórias a respeito das redes de Comunicação Pública, conceito norteador das discussões apresentadas no livro. 2 COMUNICAÇÃO PÚBLICA E DEMOCRACIA: COMPLEMENTARIDADES Comunicação Pública e Democracia são dois eixos que se complementam: não há comunicação pública fora de experiências políticas democráticas, do mesmo modo que não é possível haver democracia em desvinculação com os públicos. E, do mesmo modo que há diversos entendimentos e práticas de Comunicação Pública, em estado de complementaridade ou em correntes teóricas e práticas concorrentes, existem diferentes conceitos e modalidades de democracia. Um exemplo disso e que ficará mais claro durante o tópico, é que o conceito de Comunicação Pública como debate racional na esfera pública é idealmente realizável numa sociedade em que o regime democrático seja deliberativo. Isso não quer dizer que haja uma precedência (do tipo, primeiro a política e a democracia de Estado e depois a comunicação se constitui, as experiências de sociedade), mas, para fim de melhor ilustrar essas relações, abordaremos primeiro algumas das principais formas de democracia. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 16 2.1 DEMOCRACIA E SUAS MODULAÇÕES A origem da democracia no Ocidente remonta à antiguidade clássica, mais precisamente à Grécia Antiga. De origem grega, a palavra se origina de dois vocábulos: demos (povo) e kratos (poder). Logo, o significado original do termo designa o poder exercido pelo povo. Na praça pública de Atenas, capital do país, aqueles que eram considerados cidadãos, os habitantes da cidade dotados de direitos, eram os que podiam participar da democracia. No entanto, a categoria ‘cidadão’ era muito restrita, sendo considerados como tal apenas os homens adultos, atenienses ou filhos de atenienses. A esses cidadãos era garantido o direito à vida pública. Já às crianças, mulheres e escravizados, era reservada a vida doméstica, privada, longe dos domínios da cidade. FIGURA 5 – REPRODUÇÃO DIGITAL DA ÁGORA DE ATENAS FONTE: <https://bit.ly/3uWZNlL>. Acesso em: 16 fev. 2022. A concepção de cidadania grega, com sensíveis alterações, perdurou por longos períodos (antiguidade clássica, Idade Média e primeiros séculos da Idade Moderna). Isso quer dizer que os direitos de cidadania na Europa eram hierarquizados de acordo com as castas que concentravam o poder, sobretudo, a realeza. É apenas na Revolução Francesa, no século XVIII, que os ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade passam a nortear normativamente uma nova visão de cidadania. O período é contemporâneo à queda de regimes políticos absolutistas, à constituição dos Estados-Nação e de uma ideia de centralidade da Europa como principal referente da cultura. Embora tenha havido uma ampliação dos grupos que passaram a ser considerados cidadãos a partir da Revolução Francesa, com a inclusão da ideia de igualdade entre os homens, é apenas nos séculos XIX e XX que o direito ao voto é estendido a todo o povo no Ocidente. As mulheres só conquistaram o direito ao voto em 1893, na Nova Zelândia, o que se estendeu a outros países apenas na primeira metade do século passado. 17 FIGURA 6 – SUFRAGISTAS EM PROTESTO EM SEATTLE (EUA) EM 1916 FONTE: <https://bit.ly/3uoTdpf>. Acesso em: 14 fev. 2022. O contexto de cerceamento dos direitos a outros grupos populacionais recrudesceu ainda mais no período das grandes guerras e com a instauração de ditaduras em todos os continentes no século XX. Nos Estados Unidos, até 1965, havia uma série de impeditivos legais para que pessoas negras exercessem o direito ao voto, devido às leis de segregação racial, cenário que se estendia a outros países de legislação racista. No Brasil, mesmo depois da autorização do voto de pessoas negras, havia a proibição dos votos dos analfabetos até a Constituição de 1988. Falando em períodos ditatoriais, as ditaduras na América do Sul foram superadas há poucas décadas, o que se soma a outros marcos de impedimentos da democracia no século XX: os regimes totalitários no entreguerras e no pós-guerra, conflitos geopolíticos insufladores de massacres étnicos, as colônias nas Américas e no continente africano, entre outros. Portanto, a democracia institucional em outros continentes e em nosso país é um direito historicamente recente e que não é irrestrito, o que também impacta os demais modelos de democracia. A seguir, serão trazidas considerações sobre os modelos de democracia representativa, democracia participativa e democracia deliberativa. 2.1.1 Democracia representativa A democracia representativa é própria dos regimes parlamentarista e republicano e pode ser exercida indiretamente pelos cidadãos por meio das eleições periódicas, proporcionais ou majoritárias. A democracia representativa não necessariamente exclui outras modalidades de democracia, ou a possibilidade de serem complementares. No entanto, algumas vertentes da teoria liberal consideram esta não apenas a melhor forma de democracia, como também a mais factível, devido a mudanças geopolíticas ocorridas no século passado, principalmente. A primeira metade do século XX foi marcada pela instauração de regimes totalitários na Europa. Os horrores da Segunda Guerra, como a perseguição e morte de grupos étnicos e de opositores, evidenciaram o ataque e as impossibilidades dos direitos político de reunião, mobilização e de liberdade de expressão. Logo, as experiências de congregação de indivíduos e públicos preconizados pelas teorias clássicas da democracia ficaram em regime de suspensão. 18 Em função do descrédito das possibilidades factíveis da teoria democrática clássica, autores alinhados ao liberalismo radical passaram a afirmar que havia pouco espaço para a participação democrática dos cidadãos e para o desenvolvimento da coletividade. Partidário dessa ideia, o economista austríaco Joseph Schumpeter, um dos principais teóricos da democracia liberal, considerava a democracia como um método de decisão política, centrada na autogestão do cidadão. Segundo sua teoria (SCHUMPETER, 1961), a democracia se restringiria a um sistema institucional em que políticos competiriam pelos votos do eleitor, ao qual adquiriria o direito de decidir o vencedor da disputa, o que é também conhecido como democracia concorrencial. FIGURA 7 – JOSEPH SCHUMPETER FONTE: <https://bit.ly/3O4yYF9>. Acesso em: 16 fev. 2022. Schumpeter (1961) considerava o sistema concorrencial uma possibilidade de governar melhor e de proteger a população da tirania totalitária. Caberia ao cidadão, então, o papel de produzir um governo através do sistema eleitoral, ou, melhor dizendo, de escolher intermediários responsáveis pela construção de um governo. O autor utiliza a metáfora econômica liberal, do eleitor como um consumidor de bens políticos, sendo o voto e moeda em circulação para aquisição desses bens. As principais críticas de Schumpeter (1961) voltadas para a teoria democrática clássica são: • A impossibilidade de um cidadão idealizado: Schumpeter critica o modelo de democracia liberal em função das exigências de serem interessados, atentos e participantes. Em contrapartida e como resultado de pesquisas empíricas realizadas com cidadãos após a Segunda Guerra, um perfil mais realista dá conta de cidadãos que não se importam por assuntos de política, em certa medida indiferentes à participação, mal informadose tomadores de decisões irracionais, na concepção do autor. • A inaptidão técnica do cidadão: aqui a crítica é contra a noção de que o cidadão pode decidir a respeito de qualquer tema. Para Schumpeter (1961), em sociedades com economias complexas, não mais pautadas apenas pelas instituições família e mercado. Temáticas como inflação, geração de emprego e distribuição de renda seriam de alta complexidade e, por isso, exigiriam elevada competência técnica para discussão e resolução, o que não seria possível ao que entende como cidadão médio. 19 • A imprecisão e disputas em torno da noção de bem comum: a noção de bem comum seria variável de acordo com interesses de grupos, indivíduos e classes diferentes. Por isso, seria inviável o prevalecimento de uma noção de bem comum consensual, o que a inviabilizaria. Logo, não seriam os eleitores que escolheriam o que pertence ou não à ordem do bem comum, e sim os representantes políticos. • Extensão do tamanho de diferentes comunidades: para o autor, “o sistema de democracia representativa é praticamente o único disponível à comunidade de qualquer tamanho” (SCHUMPETER, 1961, p. 338). A afirmação vai ao encontro da ideia de que seria improvável reunir o conjunto de conversas, argumentos e opiniões de grandes contingentes humanos. • Natureza dos partidos políticos: a orientação de um grupo de homens reunidos em um partido teria como objetivo principal, ao invés da busca por um interesse comum, a ação combinada para a luta competitiva pelo poder. FIGURA 8 – VOTO NA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA FONTE: <https://bit.ly/3LIUUUb>. Acesso em: 16 fev. 2022. Como classifica Pipa Norris (2001), a tradição da teoria liberal de Schumpeter compreende a democracia representativa “em termos de características estruturais e institucionais” (NORRIS, 2001, p. 102). Portanto, seria um sistema de hierarquia vertical, do Estado e da estrutura política e seus mecanismos, para os cidadãos. Uma perspectiva quase que oposta à da democracia participativa. Contudo, vale lembrar que nem por isso o sistema de decisão da maioria é garantia de que os representantes políticos tomarão decisões racionais e as melhores para os seus representados. DICA Uma sugestão de multimídia para reforçar o aprendizado sobre democracia representativa é um vídeo da TV da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, intitulado ‘O que é democracia representativa?’ Nele, uma professora de Direito Constituição da universidade, Ana Paula de Barcellos, traz informações e reflete sobre o sistema de representação política. FONTE: TV UERJ. <https://www.youtube.com/watch?v=7C3b1kUvffo>. Acesso em: 13 fev. 2022. 20 2.1.2 Democracia participativa A democracia participativa preconiza a possibilidade direta de participação da população nas decisões do Estado e de governos, resgatando a premissa de que todo poder emana do povo ou em seu nome. Do contrário, um regime sem a participação do cidadão na produção de decisões perderia em legitimidade democrática. Na democracia participativa, o acesso aos representantes do poder político se estenderia para além do período das disputas eleitorais, como forma de fiscalizar o poder público. Idealmente, as opiniões dos cidadãos na democracia participativa seriam ouvidas e discutidas institucionalmente na esfera executiva e legislativa, lançando mão de deliberações sobre os temas discutidos. A institucionalização dessas decisões acarretaria mecanismos de controle dirigidos à administração pública, fazendo com que as opiniões sejam legalmente levadas em conta para a produção de decisões de Estado e governos. Nota-se que o modelo de democracia participativa não defende uma ruptura com o sistema representativo. Antes disso, pensa na aproximação das decisões do Estado e do governo com os anseios dos cidadãos. Thompson (1995) tece críticas à democracia representativa do final do século XX. Em especial, fala de três níveis de problemas: desencanto com a política; profissionalização e burocratização da política; restrição das práticas democráticas. • Desencantamento com a política: a falta de esperança na política institucional foi constatada com base na flutuação no número de abstenções nas eleições representativas, em sondagens de opinião promovidas por institutos de pesquisa e pela diminuição no apoio a partidos políticos. • Profissionalização e burocratização da política: o descontentamento seria resultado da profissionalização e da burocracia que permitiria que políticos privilegiassem as disputas por votos e de discursos vazios, a exemplo de promessas de campanha não cumpridas, em detrimento de problemas apontados pela população. • Restrição das práticas democráticas: tais restrições seriam por esferas da vida social, como família e trabalho, não serem discutidas na relação com a política. Para o Thompson (1995) a solução seria o afastamento de algumas tentações, a exemplo de recorrer a experiências pouco ou nada compatíveis com um contexto de intercomunicações, como a da pólis grega ou da democracia direta de Rousseau, em que o povo seria o autor das leis. 21 2.1.3 Participação e deliberação Em respostas a críticas sobre déficits de democracia nas nações, o cientista político norte-americano Robert Dahl (2001) elaborou o conceito de poliarquia, justamente para aferição de diferentes níveis de democratização nos países desenvolvidos. Partindo do pressuposto de que nenhum regime é perfeitamente democrático, o autor baseia a poliarquia em dois parâmetros: inclusão popular na escolha de representantes; e na disputa política para a escolha desses representantes. Portanto, há uma relação direta entre um sistema institucional e outro, popular, abrindo espaço para a representação política, mas também para o debate público. Um dos exemplos dessa relação é que, caso políticos passem a não tolerar e a retirar direitos constitucionais dos adversários, com isso estariam minando as possibilidades de participação e deliberação entre seus pares e dos eleitores e adeptos. Para ser efetivada, uma poliarquia precisaria respeitar aos seguintes requisitos institucionais (DAHL, 2012): • Dirigentes eleitos: o controle do governo cabe ao dirigente eleito pelos cidadãos, controle caracterizado como representativo. • Eleições: o pleito para escolha de representantes políticos precisa ser livre, justo e frequente. • Liberdade de expressão: garantia constitucional de qualquer indivíduo poder se manifestar sobre o assunto que quiser, livre de constrangimento político. • Fontes alternativas de informação: o cidadão deve ter direito ao acesso de fontes diversificadas e independentes de informação que não estejam sob o controle do Estado, do governo ou de grupos políticos, devendo estar protegidas por lei. • Cidadania inclusiva: todos os cidadãos residentes permanentemente num país devem ter os mesmos direitos que estão ao dispor de outras pessoas. • Autonomia de associação: os cidadãos têm o direito de formar associações consideradas independentes, com o objetivo de terem seus direitos representados. FIGURA 9 – ROBERT A. DAHL FONTE: < https://bit.ly/3uSuckY>. Acesso em: 16 fev. 2022. 22 Baseado também na teoria deliberacionista, Dahl (2001) considera que há critérios que, combinados, resultariam em um sistema político ideal, principalmente para os indivíduos quando em exercício de participação em associações: são eles: participação efetiva; igualdade de votos na etapa decisória; compreensão esclarecida; controle do programa de ação ou controle de agenda; inclusividade. • Participação efetiva: em condições igualitárias, garante que todos os membros de determinada associação tenham as mesmas oportunidades de ouvir e ter os argumentos ouvidos por todos os demais sobre os melhores caminhos para a escolha de ações justificadas. • Igualdade de votos: não havendo consensos, todos devem ter os mesmos direitos de voto e com peso igual. • Compreensão esclarecida: ao encontro da teoria deliberacionista, é condiçãobásica para a participação do cidadão na democracia, de modo a se informar para a troca de razões argumentativas em debate. Deve haver autonomia para possuir a exata noção das implicações de decisões referidas para a própria vida e para a dos demais. • Controle de agenda: é o direito de membros de determinada associação decidirem os assuntos e temas em pauta a serem discutidos, os que são retirados e os acrescidos, no momento que considerarem mais apropriado, o que confere caráter permanente aos critérios anteriores. • Inclusividade: condiz com a aptidão ou impedimento do acesso do indivíduo à deliberação e participação direta. FIGURA 10 – ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM PORTO ALEGRE NOS ANOS 2000 FONTE: <https://angartwork.akamaized.net/?id=148290341&size=640>. Acesso em: 16 fev. 2022. Em suma, as recomendações de Dahl e de outros autores que pensam sobre a democracia representativa visam à diminuição de distância entre governantes e representados, ao encontro de uma democracia horizontal e descentralizada, com aumento das deliberações e de inserção de interesses dos cidadãos nas pautas das discussões e na implementação de leis dos poderes Legislativo e Executivo. 23 Apesar de critérios normativos dos diferentes modelos democráticos referidos estudados na unidade e de sua implicação parcial em diferentes sociedades, os consensos apontam que há democracia quando são respeitados os direitos de expressão, de manifestação e de escolha e retirada, por vias legais, dos representantes políticos. Será abordado na Unidade 3 do livro um tópico sobre democracia digital, incluindo como uma de suas modalidades o governo digital. ESTUDOS FUTUROS 2.2 COMUNICAÇÃO ENQUANTO DEBATE PÚBLICO: AS REDES DE COMUNICAÇÃO PÚBLICA Vimos, no Tópico 1, a importância das noções de público e de privado e de como o elas podem orientar o olhar sobre a relação do debate público para o alcance de uma melhor democracia. Nesse sentido, a união da visibilidade com o debate acessível é indispensável para a efetivação de uma Comunicação Pública, que se dá por afetações mútuas de atores do Estado, mídia, sociedade civil organizada e cidadãos. Quando se trata de questões que emergem na esfera pública em disputa por credibilidade e visibilidade, estamos a falar de redes de comunicação pública (WEBER, 2017; KEGLER, 2017). Os esforços e lutas por visibilidade e reconhecimento de reivindicações consideradas de interesse público (noção sempre em disputa) podem ser compreendidos pela metáfora de rede, uma vez que se dá pela congregação simbólica de vários indivíduos e grupos concernidos e na relação entre diferentes setores, como veremos mais adiante em tópicos sobre Comunicação Pública Governamental e Comunicação da sociedade civil organizada. Autora do conceito, Maria Helena Weber (2017) considera que as redes são espaços de poder, o que se evidencia pela heterogeneidade dos públicos que as compõem, ou seja, apesar de os indivíduos possuírem biografias, visões, opiniões e objetivos diferentes, que incidem sobre as dinâmicas de grupos, mesmo assim, se mantêm ligados por uma série de acordos que objetivam a defesa de pautas coletivas. Essa união é necessária não só para a manutenção da rede, mas para entrar em um jogo de correlações (debates, embates, negociações, acordos) com outras redes que se formam para discussão de temas públicos. Com isso, se envolvem em disputas de visibilidade em que atuam como defensores, apoiadores, críticos, contrários, e assim por diante. 24 FIGURA 11 – PROTESTOS ANTIRRACISTAS DE BRISBANE, AUSTRÁLIA FONTE: <https://bit.ly/35MLjfN>. Acesso em: 15 fev. 2022. Para aparecerem perante os públicos, é importante também que instituições e grupos obtenham reconhecimento através de competências específicas para obtenção de visibilidade, como a capacidade de agendamento ou influência sobre o que a mídia disponibiliza para debate, ou a produção de canais próprios para aproximação com seus públicos ou estruturas compostas por profissionais de comunicação qualificados. Até por esses requisitos, Weber (2007, p. 19) afirma que “é de se esperar que as redes de comunicação do Estado tenham ascendência sobre outras. A respeito de que redes são essas, a autora organizou a seguinte tipologia: • Comunicação social (sociedade civil organizada, entidades de representação, grupos organizados, organizações sociais); • Comunicação política (governo, parlamento, partidos e políticos); • Comunicação do Judiciário (poderes vinculados ao Judiciário e a diferentes esferas jurídicas); • Comunicação científica e educacional (instituições de ensino, centros de pesquisa, agências de fomento); • Comunicação mercadológica (empresas e organizações privadas); • Comunicação religiosa (instituições, grupos, igrejas, seitas que fazem circular discursos esotéricos, espirituais, religiosos); • Sistemas de comunicação midiática (organizações de produção e circulação de produtos jornalísticos, publicitários e de entretenimento) (WEBER, 2007, p. 19, grifo nosso). Ao longo dos próximos tópicos e unidades do livro, haverá desdobramentos a partir de redes de comunicação pública supracitadas. A primeira delas a ser tratada é a Comunicação política, especialmente, a comunicação pública governamental, a ser tratada no próximo tópico. 25 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A democracia não é um conceito fixo, abarcando diferentes modelos com distintos graus de complementaridade. Porém, dentre as semelhanças desses modelos estão a realização de eleições regulares, a defesa da liberdade de expressão e da possibilidade de reunião no espaço público. • As diferenças, complementaridades e tensões entre modelos democráticos costumam respeitar orientações mais próximas ou da legitimidade da democracia no âmbito do exercício do poder político pelo Estado, ou de diferentes modelos que versam sobre graus de participação da população nos processos democráticos. • A poliarquia elabora proposições e categoriais específicas para perceber déficits e existência da qualidade da democracia em países desenvolvidos, a partir da reunião de características ideais de diferentes modelos democráticos, sobretudo o representativo, o participativo e o deliberativo. • A Comunicação Pública pode ser exercida por diferentes setores da sociedade formados por grupos e indivíduos, em disputas por visibilidade e credibilidade na defesa de seus interesses em torno de temas públicos. 26 1 O pensamento teórico de Joseph Schumpeter propõe um sistema de representação política para produção de uma melhor democracia. As formulações do autor se originam após as experiências políticas de governos autoritários na Europa central e no leste europeu na primeira metade do século XX e em crítica ao que considerava fragilidades do modelo participativo e deliberacionista de democracia. Quanto às motivações alegadas por Schumpeter (1961) para suas contraposições às teorias clássicas da democracia, assinale a alternativa INCORRETA: FONTE: SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, socialismo e democracia. Editado por George Allen e Unwin Ltda. Traduzido por Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961. a) ( ) As exigências de posse de informações qualificadas e conhecimentos técnicos do cidadão para a participação política são incompatíveis com a complexidade da sociedade no século XX. b) ( ) A democracia concorrencial é a melhor maneira de proteger a sociedade da tirania. c) ( ) A expressão mais eficaz da democracia é a escolha de representantes responsáveis pela construção de governos. d) ( ) Partidos políticos são instituições formadas por sujeitos políticos cujo principal objetivo é a busca pelo bem comum, o que é menos importante do que a aspiração ao poder político na democracia representativa. 2 Tendo como pressuposto epistemológico a defesa da democracia deliberativa, J. B. Thompson (1995) tece críticas a respeito do que considera aspectosde descrédito da democracia representativa ao final do século XX. As afirmações do autor têm como fonte pesquisas empíricas sobre o que acredita serem aspectos da insatisfação dos cidadãos com políticos e partidos. Com base no pensamento de Thompson, assinale a alternativa INCORRETA: FONTE: THOMPSON, J. B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vozes, 1995. a) ( ) Como solução a uma crise da democracia representativa, Thompson (1995) prega um retorno a modelos clássicos, como a democracia direta expressa pelos debates na Ágora de Atenas e na democracia de Rousseau. b) ( ) O descontentamento com a política dada a ver pelo aumento nos índices de abstenção do voto. c) ( ) A retórica vazia dos políticos profissionais percebida gera desinteresse na política. d) ( ) Há restrição das práticas democráticas por determinados temas terem menos espaço no debate político, a exemplo das esferas sociais da família e do trabalho. AUTOATIVIDADE 27 3 Segundo Maria Helena Weber (2017), a congregação e disputa de diferentes grupos por visibilidade e credibilidade na esfera pública pode ser compreendida pela metáfora de redes de comunicação pública, espaços de poder em que indivíduos se mantêm ligados em nome da defesa de objetivos coletivos. As diferentes redes se contatam e entram em debates quando em discussão a respeito de temas públicos. A respeito das considerações sobre o conceito de redes de comunicação pública, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas. FONTE: WEBER, M. H. Nas redes de comunicação pública, as disputas possíveis de poder e visibilidade. In: WEBER, M. H.; COELHO, M. P.; LOCATELLI, C. (Orgs.). Comunicação pú- blica e política: pesquisa e práticas. Florianópolis: Insular, 2017. p. 23-56. ( ) Empresas e organizações privadas não fazem parte da rede de comunicação pública. ( ) Empresas e organizações privadas fazem parte da rede de comunicação pública. ( ) Governos, parlamentos e partidos pertencem à rede de Comunicação do Judiciário. ( ) Instituições de ensino, centros de pesquisa e agências de fomento são os principais entes do sistema de comunicação midiática. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA. a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) F – V – F – F. c) ( ) V – F – F – F. d) ( ) F – V – V – F. 4 Como proposta alternativa aos modelos de democracia representativa e de democracia participativa e deliberacionista, o cientista político Robert Dahl criou o conceito operacional chamado poliarquia. Disserte sobre qual é o objetivo da proposição de Dahl e suas principais características. 5 Existem diferentes modelos de democracia, com diferenças, semelhanças, incompatibilidades de preceitos e complementaridades. Contudo, ainda assim, esses modelos e modulações possuem em comum o fato de serem democráticos. Disserte a respeito dos critérios obrigatórios da democracia conforme os modelos estudados no tópico. 28 29 TÓPICO 3 - COMUNICAÇÃO POLÍTICA: GOVERNO, SISTEMA PÚBLICO DE COMUNICAÇÃO E IMAGEM PÚBLICA 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Este último tópico da Unidade 1 é voltado para a comunicação política. Os conceitos, noções e setores relacionados são os de comunicação governamental, comunicação de promoção da imagem do Estado e construção da imagem pública de atores políticos individuais, enquanto candidatos ou no exercício de cargos representativos. É importante salientar que a Comunicação Política nem sempre está atrelada à Comunicação Pública; mas, apenas quando, para além de possuir relação indireta com temas de interesse público, atende a critérios como transparência, visibilidade e promoção de questões importantes para a informação e o debate em sociedade. A respeito da Comunicação governamental é recuperado o contexto histórico do conceito, por vezes, confundido como sendo a Comunicação Pública em sua totalidade. Também são descritas as estruturas dos sistemas de comunicação governamental, além das diferentes fases da propaganda de governo, do Estado Novo até a publicização das ações dos três poderes na instância federal: do Legislativo (TV Senado e TV Câmara), Judiciário (TV Tribuna) e no Executivo (atualmente, pela TV EBC). Nesse sentido, teremos contato com algumas das leis que regem o funcionamento da difusão do sistema público de comunicação e com exemplos de acontecimentos que colocam em tensão os interesses público e privado. Finalizando o tópico, a imagem pública de partidos e de políticos tem relação direta com o tema de interesse público, eleições – tanto proporcionais quanto majoritárias. Por trás de propagandas de veiculação de plataformas políticas e discursos verbais, imagéticos e sonoros, estão estratégias de construção, desconstrução, destruição e reconstrução da imagem pública de candidatos, ocupantes de cargos públicos e adversários políticos. Nesse sentido, são abordados processos constitutivos das disputas em torno da imagem pública, além de exemplos de estratégias de promoção de imagem. 2 COMUNICAÇÃO PÚBLICA GOVERNAMENTAL “A Comunicação governamental, em síntese, consiste nas formas de comunicação utilizadas pelo Estado para visibilizar suas ações” (LUZ, 2017, p. 423). Apesar de ser confundida como sendo ‘a’ Comunicação Pública, a Comunicação de UNIDADE 1 30 governo é uma das suas expressões possíveis em regimes democráticos (idem). Em busca de uma maior precisão da expressão, a Comunicação governamental será entendida aqui no sentido de uma ‘rede de comunicação política’ (WEBER, 2017), conforme visto no tópico anterior. Mas por que essa denominação de Comunicação de governo como sendo Comunicação pública? Quais as suas origens? No Brasil, a origem do termo Comunicação Pública era empregada com propósitos antidemocráticos, ligados a disputas de projetos políticos nos anos 1950 e 1960 para alavancar projetos desenvolvimentistas e em contraposição às idealizações de comunicação social vinculadas ao movimento de Teologia da Libertação (BRANDÃO, 2009; LOCATELLI, 2017). Com o golpe militar de 1964 e a instauração da ditadura, o domínio público esteve restrito ao monopólio de um Estado autocrático, em favorecimento de interesses privados, através de práticas fisiologistas para trocas de favores entre políticos e/ou favorecimento a elites econômicas. O período foi marcado por relações particularizadas da máquina pública com a esfera do interesse privado, em que a soma da sobreposição de interesses do mercado e a privação da liberdade de se reunir e de dizer, em função da censura, prejudicaram a constituição do espaço e do debate públicos. Com a abertura do regime e retorno da democracia na década de 1980, organizações da sociedade do civil organizada, mídia, mercado e Estado tentam se desvencilhar da particularização do interesse público na ditadura, o que contribuiu para a tentativa de consolidação da compreensão de comunicação pública, entendida não mais como sinônimo de propaganda política, publicidade do governo, comunicação governamental. Ao mesmo tempo, a Comunicação do poder Executivo e de outros órgãos públicos formada por profissionais com habilitações de comunicação se voltou para o estreitamento de vínculo dos três poderes e de seus representantes para com os a população, com iniciativas pontuais de fomento à cidadania, ao debate e participação social. Segundo esta perspectiva, importa a comunicação estratégica do Estado e da sociedade civil com vistas a constituir uma imagem pública favorável de si e relacionada com a defesa do bem-estar coletivo. Falando em bem-estar coletivo, que também pode ser considerado como defesa do interesse público, não quer dizer que a tensão e conflitos com interesses privados tenham sumido após a redemocratização do país. Uma das grandes diferenças, no entanto, está nos mecanismos de controle da administração pública garantidos por lei. Por isso, por mais que seja necessário aos governos visibilizarem suas ações, “na busca por credibilidade
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