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GESTÃO DE CUSTOS INDUSTRIAIS Gustavo Antoni Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão Técnica: Henrique Martins Rocha Graduação em Engenharia Mecânica (UERJ) Mestrado em Sistemas de Gestão (UFF) Doutorado em Engenharia Mecânica (UNESP) Pós-doutorado em Projetos/ Desenvolvimento de Novos Produtos (UNESP) A635g Antoni, Gustavo. Gestão de custos industriais / Gustavo Antoni. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 213 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-118-1 1. Indústria - Custos. 2. Indústria - Gestão. I. Título. CDU 657.4:67 Sistema de custeio baseado em atividades Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os objetivos do custeio baseado em atividades. � Listar os critérios e passos para utilização do método ABC. � Realizar o custeio com base em atividades. Introdução Você já se imaginou pagando por algo que não recebeu? Ou observando uma nota fiscal de um produto discriminando um gasto com algo que não é do produto comprado? Trabalhar com rateios gera distorções como essas na formação dos custos dos produtos. O sistema de custeio baseado em atividades – também conhecido por método ABC (activity based costing) – surgiu com o objetivo de minimizar ou eliminar a definição equivocada e distorcida dos custos definidos através dos métodos de custeio que trabalham com rateios. O custeio baseado em atividades consiste na identificação, análise e alocação de custos às atividades da empresa, com o objetivo de melhor gerenciar a lucratividade de cada produto. É a metodologia que permite uma efetiva mensuração dos custos. Custeio baseado em atividades A contabilidade de custos surgiu na revolução industrial (1780-1840), porém, os métodos de custeio foram aprimorados ao longo do tempo. O custeio baseado em atividades – em inglês, ABC (activity based costing) – é um método relativamente novo (UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, 2009), que você vai estudar neste capítulo. Histórico Segundo Wernke (2005, p. 27): Até a década de 1970, pela pequena participação dos custos indiretos no montante dos custos totais das empresas, o seu papel era de pouca relevância. O crescimento dos valores relativos aos custos indiretos nos anos seguintes, porém, implicou que esses passaram a representar sig- nificativa parcela dos gastos totais das organizações. Nessa realidade, os critérios de rateio até então utilizados no custeio por absorção (em geral baseados em medições volumétricas, como números de horas trabalhadas ou quantidade de peças produzidas) começaram a ser considerados inadequados. Isso ocorreu porque dis- torções importantes foram detectadas nos números apresentados pela contabilidade de custos unitários dos produtos fabricados. Essas distorções foram ocasionadas principalmente pelos rateios de custos efetuados na metodologia por absorção. Conforme Silva e Lyra (2014), a metodologia ABC se originou na década de 1960 em estudos realizados na General Electric. No entanto, foi introduzida no Brasil somente na década de 1990. Silva e Lyra (2014) e Dutra (2010) citam que o método ABC surgiu com o objetivo de avaliar com precisão as atividades desenvolvidas em uma empresa, e Wernke (2005) afirma que o método passou a ser difundido para minimizar problemas de alocação de custos indiretos. Gestão de custos industriais202 O custeio baseado em atividades apresenta critérios mais detalhados para atribuição de custos indiretos ao produto e/ou serviço, e, sob certa ótica, parece até um sistema mais justo, mas não é aceito pela legislação brasileira para demonstrativo de resultados. Logo, o método é uma ferramenta gerencial, e a empresa acaba necessitando de dois sistemas de custeio: um para a tomada de decisão e outro para os relatórios contábeis. Fundamentos do método ABC De acordo com Silva e Lyra (2014), o método ABC parte do princípio de que não são os produtos que consomem os recursos da organização, mas as atividades que são consumidas pelos produtos gerados. Sendo assim, as atividades são o fundamento básico desse método. O núcleo de interesse do ABC é o grupo de gastos indiretos (custos e des- pesas, fixo e varáveis), pois os custos diretos recebem o mesmo tratamento do custeio por absorção, isto é, são apropriados ao custo do produto e/ou serviço (DUTRA, 2010). Conforme o autor (DUTRA, 2010, p. 250): “[...] entende-se que todos os recursos são despendidos nas atividades e estas, por sua vez, são consumidas pelos objetos de custo, o que possibilita a análise de cada objeto de custo após a mensuração dos gastos de todas as atividades, sejam eles referentes à produção ou à administração”. Os fundamentos do sistema de custeio baseado em atividades podem ser vistos na Figura 1. 203Sistema de custeio baseado em atividades Figura 1. Quadro esquemático do custeio baseado em atividades. Fonte: Dutra (2010, p. 250). Critérios para custeio baseado em atividades Você vai estudar, agora, os critérios que o custeio baseado em atividades utiliza para trabalhar com os gastos indiretos e alocá-los aos produtos. Continue a leitura para conhecer os direcionadores de custos! Direcionadores de custos No sistema ABC, os custos indiretos são calculados com determinado nível de detalhamento que os faça ser atribuídos a uma tarefa ou atividade em que realmente tenham sido consumidos. Para Silva e Lyra (2014), um direcionador é como uma transação que determina a quantidade de trabalho de uma atividade e o custo atribuído a ela, ou seja, um direcionador é um fator que influencia o nível de atividades e o consumo resultante de recursos, sendo dividido em direcionador de custos de recursos ou direcionador de custos de atividades. Gestão de custos industriais204 Silva e Lyra (2014), afirmam que: A quantidade de cada direcionador que está associado à atividade que se quer custear é denominada “fator de consumo de recursos”. Por exemplo, se o direcionador de custos adotado for o número de empregados, então o fator de consumo de recursos é a quantidade de pessoas empenhadas em cada atividade. Para Nakagawa (1994 apud SILVA; LYRA, 2014), “[...] o direcionador de custos de atividade é o mecanismo utilizado para rastrear e indicar as atividades necessárias para a fabricação de um produto ou execução de um serviço”. A Figura 2 mostra uma visão global do sistema ABC. Nela, você pode ver que a atribuição dos custos indiretos é feita em duas etapas: na primeira, os custos são direcionados às atividades; na segunda, os custos das atividades são atribuídos aos produtos e serviços. Assim, os direcionadores de recursos e atividades são utilizados na primeira e na segunda etapa (SILVA; LYRA, 2014). Figura 2. Visão geral do sistema ABC. Fonte: Adaptada de Silva e Lyra (2014). Usando o custeio baseado em atividades Para que você compreenda melhor o uso do custeio baseado em atividades, confira o exemplo a seguir, que mostra o método em detalhes. 205Sistema de custeio baseado em atividades Considere uma indústria de confecções que trabalha com três produtos: camisas, vestidos e calças. Seu volume de produção e vendas é de, respectivamente, 18 mil unidades, 4.200 unidades e 13 mil unidades. A empresa tem os seguintes departamentos e suas respectivas atividades: Departamento Atividades Compras Comprar materiais Desenvolver fornecedores Almoxarifado Receber materiais Movimentar materiais Administração da produção Programar produção Controlar produção Corte e costura Cortar Costurar Acabamento Acabar Despachar produtos Gestão de custos industriais206 A partir das atividades listadas na primeira tabela, foram levantados os custos das atividades, individualmente, e colocados na tabela a seguir. Departamento Atividades Custos Compras Comprar materiais 16.000 Desenvolver fornecedores 12.000 Total 28.000 Almoxarifado Receber materiais 12.350 Movimentar materiais 16.000 Total 28.350 Administração da produção Programar produção 16.000Controlar produção 13.850 Total 29.850 Corte e costura Cortar 29.000 Costurar 28.600 Total 57.600 Acabamento Acabar 14.000 Despachar produtos 32.200 Total 46.200 207Sistema de custeio baseado em atividades Após, os direcionadores de custos das atividades foram levantados e colocados nesta tabela: Departamento Atividades Direcionadores de custo Compras Comprar materiais N° de pedidos Desenvolver fornecedores N° de fornecedores Almoxarifado Receber materiais N° de recebimentos Movimentar materiais N° de requisições Administração da produção Programar produção N° de produtos Controlar produção N° de lotes Corte e costura Cortar Tempo de corte Costurar Tempo de costura Acabamento Acabar Tempo de acabamento Despachar produtos Tempo de despacho Os direcionadores são escolhidos através do principal responsável pelo custo asso- ciado a uma atividade (p. ex., para Corte e costura, o tempo da atividade é o principal responsável pelo custo). Gestão de custos industriais208 A próxima etapa do método ABC consiste em relacionar os direcionadores de custos a cada produto produzido, como mostra a tabela seguinte: Direcionadores de custo Camisas Vestidos Calças Total N° de pedidos 150 400 200 750 N° de fornecedores 2 6 3 11 N° de recebimentos 150 400 200 750 N° de requisições 400 1500 800 2700 N° de produtos 1 1 1 3 N° de lotes 10 40 20 70 Tempo de corte 2160 h 882 h 2600 h 5642 h Tempo de costura 3240 h 2058 h 7800 h 13098 h Tempo de acabamento 2700 h 2520 h 3900 h 9120 h Tempo de despacho 25 h 50 h 25 h 100 h 209Sistema de custeio baseado em atividades Após o levantamento dos dados, vamos iniciar os cálculos de formação do custo do produto. Primeiramente, calculamos o custo unitário de cada direcionador utilizando esta equação: Para a atividade de comprar materiais, por exemplo, o cálculo é: Após, calculamos o custo da atividade atribuído ao produto através da equação: Para a atividade de comprar materiais para o produto Camisas, por exemplo, o cálculo é: Finalmente, calculamos o custo da atividade por unidade de produto usando a seguinte equação: Para o produto Camisas, o cálculo é: Gestão de custos industriais210 Aplicando os mesmos passos a todos as atividades e todos os produtos, chegamos ao resultado exibido na tabela a seguir. Direcionadores de custo Camisas Vestidos Calças Comprar materiais 0,1778 2,0317 0,3282 Desenvolver fornecedores 0,1212 1,5584 0,2517 Receber materiais 0,1372 1,5683 0,2533 Movimentar materiais 0,1317 2,1164 0,3647 Programar produção 0,2963 1,2698 0,4103 Controlar produção 0,1099 1,8844 0,3044 Cortar 0,6168 1,0794 1,0280 Costurar 0,3930 1,0699 1,3101 Acabar 0,2303 0,9211 0,4605 Despachar produtos 0,4472 3,8333 0,6192 Total 2,6614 17,3328 5,3305 Fonte: Silva e Lyra (2014). 211Sistema de custeio baseado em atividades 1. Assinale a alternativa que contém a correta definição de custeio baseado em atividades. a) O custeio baseado em atividades consiste na identificação, análise e alocação de custos às atividades da empresa. b) O custeio baseado em atividades define como são atribuídos os custos industriais, sejam eles fixos ou variáveis, diretos ou indiretos ao volume de produtos fabricados em um período. c) O custeio baseado em atividades é um método de avaliação de estoques e determina o valor total de custo dos produtos vendidos a ser registrado na demonstração do resultado do exercício (DRE). d) O custeio baseado em atividades é um método de avaliação de resultados das atividades para determinar valor total de custo dos produtos vendidos. e) O custeio baseado em atividades é um método utilizado para minimizar problemas de alocação de custos diretos. 2. Porque o custeio baseado em atividades não é aceito pela legislação? a) Porque a legislação só aceita o custeio por absorção. b) Porque este método apresenta critérios mais detalhados para atribuição de custos indiretos ao produto e/ou serviço. c) Porque este método é uma ferramenta gerencial. d) Porque distribui os custos por atividades, o que não atende à legislação referente à lei das sociedades por ações. e) Porque este método é utilizado para minimizar problemas de alocação de custos indiretos. 3. Qual o núcleo de interesse do método de custeio por atividades? a) Grupo dos gastos indiretos. b) Grupo dos gastos diretos. c) Custos fixos. d) Custos variáveis. e) Preço e lucro dos produtos. 4. O que é um direcionador de custos? a) Um direcionador é como uma transação que determina a quantidade de trabalho de uma atividade e o custo atribuído a ela. b) Um direcionador é um fator que não influencia o nível de atividades e o consumo resultante de recursos. c) É o mecanismo utilizado para rastrear e indicar as atividades necessárias para a fabricação de um produto ou execução de um serviço. d) É o fator de consumo de recursos. e) É um fator que fixa o custo atribuído a um produto. 5. Assinale a alternativa que não representa um tipo de atividade interna da empresa. a) Reclamar b) Comprar. c) Produzir. d) Vender. e) Distribuir. Gestão de custos industriais212 DUTRA, R. G. Custos: uma abordagem prática. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL (Org.). Gestão de custos. Curitiba: IBPEX, 2009. SILVA, J. G; LYRA, M. Q. Método de custeio ABC. Canal Custos Produção no Youtube. 28 mar. 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=D2mAtlouJ2E>. Acesso em: 30 abr. 2017. WERNKE, R. Análise de custos e preços de venda: ênfase em aplicações e casos nacionais. São Paulo: Saraiva, 2005. Para ver as respostas de todos os exercícios deste livro, acesse o link abaixo ou utilize o código QR ao lado. https://goo.gl/zfYf3I Gabaritos 213Sistema de custeio baseado em atividades Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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