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Meios de cultura e cultivo bacteriano APRESENTAÇÃO Os microrganismos têm seu crescimento diretamente afetado por fatores ambientais, como atmosfera gasosa, temperatura, pH, atividade de água e presença de nutrientes. Na microbiologia clínica, para a realização de um cultivo, todos esses fatores devem ser controlados e ajustados de acordo com as exigências dos microrganismos infecciosos que se deseja isolar. Nesta Unidade de Aprendizagem você estudará como é possível cultivar microrganismos em laboratório e quais as condições que devemos fornecer para uma adequada avaliação do isolamento de microrganismos em microbiologia clínica. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as técnicas de inoculação de materiais em meios de cultura.• Identificar as principais características dos meios de cultura e seu uso.• Listar as condições necessárias para incubação de um meio de cultura.• DESAFIO Infecções gastrointestinais acometem um grande número de indivíduos, especialmente crianças e idosos, sendo uma importante causa de morbidade e mortalidade. Há uma ampla diversidade de agentes causadores de infecções gastrointestinais (bactérias, vírus e parasitas) e em algumas condições esses agentes devem ser investigados. Entre as bactérias, destacam-se a família das enterobactérias (Salmonella, Shigella e Escherichia coli) que são microrganismos anaeróbios facultativos que colonizam o trato gastrointestinal humano, podendo causar infecções, assim como a Campylobacter, que são microrganismos microaerófilos, geralmente encontrados em aves que possuem uma temperatura corporal próxima a 42°C. Um dos exames utilizados para definição da etiologia das infecções gastrointestinais é a cultura de fezes. Nas culturas rotineiras é indicada apenas a pesquisa dos principais patógenos bacterianos, mas deve-se levar em consideração que as fezes são intensamente colonizadas pela microbiota gastrointestinal, havendo até 1012 UFC/g de bactérias contaminantes. Isso torna essencial uma escolha cuidadosa dos meios de cultura, técnicas de inoculação e condições de incubação para isolamento dos patógenos de rotina. Desse modo, há diversas escolhas que devem ser realizadas para um adequado cultivo de amostras de fezes. Explique as seguintes necessidades para esse cultivo: a) Tipos de meios de cultura indicados. b) Técnica de inoculação dos meios. c) Condições de incubação dos meios. INFOGRÁFICO No infográfico estão representadas as principais técnicas de inoculação de amostras em placas de meios na microbiologia clínica. CONTEÚDO DO LIVRO Ao selecionar os meios de cultura e o processo de cultivo bateriano é importante conhecer o potencial de crescimento de cada meio de cultura e adequar ao perfil bacteriano esperado para cada material. Para conhecer mais sobre isso, acompanhe um trecho da obra Técnicas básicas de laboratório clínico, de Barbara Estridge e Anna Reynolds. Boa leitura! ������������ ��� � ��������������� Tradução: Ana Lucia Peixoto de Freitas Professora Adjunta do Departamento de Análises da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mestre em Microbiologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Doutora em Ciências Médicas pela UFRGS Beatriz A. Rosário Graduada em Farmácia Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ex-professora Substituta de Controle de Qualidade da Faculdade de Farmácia da UFRJ Joiza Lins Camargo Chefe da Unidade de Bioquímica e Imunoensaios do Serviço de Patologia Clínica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) Mestre em Bioquímica Clínica pela Universidade de Londres Doutora em Ciências Médicas: Endocrinologia pela UFRGS Simone Martins de Castro Professora Adjunta do Departamento de Análises da Faculdade de Farmácia da UFRGS Farmacêutica-Bioquímica Responsável Técnica do Laboratório de Referência em Triagem Neonatal do RS – HMIPV – PMPA Mestre em Farmacologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Doutora em Ciências Biológicas (Bioquímica) pela UFRGS E82t Estridge, Barbara H. Técnicas básicas de laboratório clínico [recurso eletrônico] / Barbara H. Estridge, Anna P. Reynolds ; tradução: Ana Lucia Peixoto de Freitas ... [et al.] ; revisão técnica: Afonso Luis Barth, Suzane Silbert. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2011. Editado também como livro impresso em 2011. ISBN 978-85-363-2536-1 1. Farmacologia. 2. Laboratório farmacêutico. I. Reynolds, Anna P. II. Título. CDU 615.12 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB-10/Prov-009/10 638 UNIDADE 7 Microbiologia Clínica Básica INTRODUÇÃO Algumas técnicas básicas devem ser dominadas para se trabalhar efetivamente no laboratório de bacteriologia. O profissional deve ser treinado no uso correto de meios de cultura, equipamentos e reagentes antes de começar a trabalhar em bacteriologia. Práticas de trabalho seguras devem ser seguidas quando se trabalha com culturas bacterianas, para evitar a exposição do trabalhador e do ambiente ao organismo. Os técnicos devem estar capacitados em técnicas assépticas, uso de alça bacteriológica, preparação do ma- terial para enviar a laboratórios de referência e técnicas adequa- das de cultivo. A Lição 1-6 sobre segurança biológica deve ser revisada antes de se começar esta lição. TÉCNICA ASSÉPTICA Normalmente se pensa em técnica asséptica como um conjunto de pro- cedimentos para prevenir a dissemi- nação da infecção durante procedimentos cirúrgicos. Porém, no laboratório de bacteriologia, técnicas assépticas incorpo- ram práticas de trabalho para impedir que bactérias infectem os humanos ou contaminem superfícies, além de evitar a con- taminação da cultura bacteriana com organismos indesejados. A técnica asséptica inclui meios físicos e químicos de prevenir contaminação. Meios físicos para prevenir a contaminação Roupa protetora Existem várias maneiras de incorporar técnicas assépticas aos procedimentos do laboratório. O uso de avental de laboratório resistente a fluidos protege o técnico de contaminação, e as man- gas longas protegem a cultura de contaminação. O avental de la- boratório deve ser lavado no hospital ou no laboratório, e não deve ser usado em casa. Uso seguro de equipamento É importante manusear materiais e equipamentos com segu- rança. A alça bacteriológica, usada para transferir bactérias, deve ser esterilizada e esfriada antes e depois de cada uso (Fig. 7-26). Ela deve ser colocada em suporte e nunca deixada sobre a bancada. Pesquisa recente mostrou que a maioria das infecções adqui- ridas no laboratório ocorre por via respiratória. Então, é muito im- portante evitar situações que criem aerossóis de microrganismos infecciosos. Se alças descartáveis plásticas estéreis não podem ser usadas, deve ser tomado cuidado para prevenir formação de aeros- sóis quando a alça bacteriológica é esterilizada. Cabines microbiológicas de segurança Cabines microbiológicas de segurança são câmaras de fluxo la- minar especialmente desenhadas para proteger o trabalhador dos agentes infecciosos. A maioria dos laboratórios tem cabines de classe I ou de classe II. Cabines de classe I protegem o trabalha- dor e o ambiente, mas não protegem a cultura. Cabines de clas- se II protegem o trabalhador, o ambiente e a cultura (Fig. 7-27). Ainda que o trabalho bacteriológico de rotina não exija o uso de cabine de segurança, todo trabalho com fungos, Mycobacterium e certos outros agentes infecciosos deve ser executado usando ca- bine de classe II. quadrante – um quarto de círculo; um quarto de placa de ágar. técnicas assépticas – práticas de trabalho usadas para prevenir a contaminação quando se trabalha com microrganismos. FIGURA 7-26 Esterilização de uma alça bacteriológica usando o incinera- dor elétrico. FIGURA 7-27 Uso de uma cabine de fluxo laminar em laboratório de mi-crobiologia. (De CDC, Atlanta, GA.) 639LIÇÃO 7-5 Técnicas de Cultura para Bactérias As cabines de classe II operam sugando ar do ambiente, ao redor do operador, pela grade frontal do gabinete, que depois passa por um filtro de ar de alta eficiência, chamado de filtro HEPA. O ar filtrado entra na câmara pela parte de cima e é su- gado para baixo, com o fluxo de ar se dividindo quando se apro- xima da superfície de trabalho. Parte do ar é drenada através da grade frontal e o restante pela grade do fundo, fornecendo um meio livre de partículas dentro da cabine. O ar atravessa, então, o filtro exaustor HEPA de volta para a câmara. Ainda assim, os técnicos devem usar técnicas assépticas ao trabalhar com culturas em uma cabine de segurança. Meios químicos para prevenir a contaminação Desinfetantes, substâncias químicas usadas para matar ou con- trolar o crescimento de microrganismos em objetos inanimados, são usados com liberalidade e frequência no laboratório de bacte- riologia. Desinfetantes são efetivos contra a maioria das bactérias, como também alguns vírus e fungos (Tab. 7-17). Desinfetantes chamados bactericidas matam bactérias; aqueles rotulados como bacteriostáticos apenas reduzem a sua velocidade de crescimen- to. Desinfetantes que matam microrganismos em seus estados ativos, vegetativos, podem não ser efetivos contra a fase mais re- sistente de esporo. Já que a desinfecção só reduz o número de microrganismos a um nível mais baixo, em vez de matar todos os microrganismos presentes, os desinfetantes devem ser usados em abundância e com frequência nas superfícies de trabalho. Desinfetantes devem ser aplicados nas bancadas antes de começar um procedimento e depois que o trabalho for completado. Além disso, as áreas de tra- balho devem ser esfregadas com desinfetantes toda vez que ocor- rer derramamento ou esguicho de materiais. A efetividade de um desinfetante é influenciada por sua concentração, pelo número e pelo tipo de microrganismos, pelo pH, pelo tempo de contato e pela temperatura. A presença de substâncias interferentes, como proteínas ou outro material orgânico, pode reduzir a efetividade dos desinfetantes (Tab. 7-18). Antissépticos são substâncias químicas que controlam o crescimento de microrganismos no tecido vivo. Sabões antissép- ticos, géis ou espumas são usados para limpar as mãos antes de vestir luvas, depois de removê-las e em qualquer momento que a mão for contaminada. Os rótulos de desinfetantes e antissépti- cos fornecem informação sobre a efetividade do produto contra vários microrganismos. A Tabela 7-17 lista categorias de desinfe- tantes e antissépticos e os tipos de organismos para os quais eles são efetivos. Esterilização é um método que livra de organismos vivos, inclusive esporos, um material ou uma área. Ela geralmente é executada por autoclavação. Apesar de a esterilização por meio de autoclave ser preferível, materiais que não podem ser sub- metidos ao calor podem ser esterilizados pela exposição a subs- tâncias químicas como aldeídos, peróxidos e gás de óxido de etileno. MEIOS DE CULTURA PARA BACTERIOLOGIA CLÍNICA Meio de cultura bacteriológico é usado para fazer crescer bac- térias no laboratório. O meio pode ser líquido, como um caldo, ou sólido, como tubos ou placas de meios que contêm ágar (Fig. 7-28). Ágar é um derivado de algas usado para solidificar meios líquidos. Em um laboratório clínico, a função dos meios é ajudar a recuperar, crescer, isolar e identificar microrganismos. Um bom meio de múltiplos usos deve permitir o crescimento de uma gran- de variedade de microrganismos e ser econômico. Um meio que cumpre essas exigências é o ágar-sangue de carneiro, comumen- te chamado de ágar-sangue (AS). Este permite o crescimento da maioria dos microrganismos, dos minúsculos micoplasmas até a maioria das leveduras. Meios primários O meio primário é aquele no qual o material coletado do pacien- te é primeiramente inoculado. A escolha desse meio é importante e pode determinar o sucesso na recuperação do agente causador da infecção. O meio primário é escolhido com base no local da infecção, por exemplo. Assim, o meio usado para uma cultura de ferimentos deve ser diferente do usado para uma cultura de secre- ção uretral (Tabs. 7-19 e 7-20). Meios seletivos Um meio seletivo contém ingredientes que inibem o crescimen- to de certos microrganismos, enquanto permitem o crescimento de outros. Dois exemplos de meios seletivos são o MacConkey (MAC), mostrado na Figura 7-29, e o EMB. Usar um meio sele- tivo aumenta as chances de recuperar um organismo particular a partir de uma população bacteriana mista (Tabs. 7-19 e 7-20). TABELA 7-17 Desinfetantes e antissépticos comumente usados em microbiologia NOME QUÍMICO OU NOME COMUM ORGANISMOS CONTRA OS QUAIS É EFETIVO USO Álcool 70 a 90% (isopropanol, etanol) Bactérias, Mycobacterium, alguns vírus Pele e superfícies Tintura de iodo Bactérias, fungos, vírus, protozoários Pele Alvejante com cloro a 10% Especialmente efetivo para vírus Superfícies Fenólicos Maioria das bactérias e vírus; Mycobacterium Superfícies Sais de amônio quaternário Bactérias, alguns fungos Superfícies 640 UNIDADE 7 Microbiologia Clínica Básica Meios indicadores O meio indicador (meio diferencial) detecta a atividade meta- bólica de um microrganismo particular. O meio indicador pode mostrar reações químicas de bactérias, como fermentação de açúcares, por uma mudança de cor na colônia bacteriana ou no meio. Um exemplo de um meio indicador é o MAC, que pro- duz uma cor rosa quando um organismo fermenta a lactose (Fig. 7-29A). Alguns meios, como o EMB e o MAC, contêm ingre- dientes que os fazem funcionar como meios indicadores e meios seletivos. As características do crescimento em meio primário, seletivo e indicador são pistas valiosas para a identificação de um microrganismo (Fig. 7-30). A Tabela 7-20 dá exemplos de meios primário, seletivo e indicador, seus principais constituin- tes e reações. EXECUÇÃO DE TÉCNICAS CULTURAIS No laboratório de bacteriologia, o técnico frequentemente precisa transferir material de cultura de um tipo de meio para outro. O processo de transferir uma população de microrganis- mos para um meio de cultura é chamado inoculação (ou seme- adura). O grupo de microrganismos transferido é chamado de inóculo. A primeira transferência de inóculo é desde o local de infecção para o meio primário. Por exemplo, um swab de gar- TABELA 7-19 Exemplos de materiais comuns, possíveis microrganismos isolados e meios recomendados FONTE ORGANISMOS POTENCIAIS MEIOS C O 2 Urina E. coli AS, EMB ou MAC – Klebsiella Proteus Pseudomonas aeruginosa Enterococcus Garganta Streptococcus pyogenes AS + Escarro Streptococcus pneumoniae AS + Tecidos Staphylococcus sp. AS, Choc, EMB ou MAC, Tio + Streptococcus sp. Enterobacteriacae Bactérias anaeróbias Vaginal/uretral Neisseria gonorrhoeae AS, Choc, TM + Fezes Salmonella SS, HE, EMB ou MAC, selenite + Shigella E. coli patogênica Liquido cerebrospinal Neisseria meningitidis AS, Choc, Tio + Streptococcus pneumoniae Haemophilus influenzae Hmeio + Olhos, ouvido Neisseria gonorrhoeae AS, Choc, TM, EMB ou MAC, Tio + Haemophilus sp Staphylococcus aureus Streptococcus pyogenes Pseudomonas aeruginosa Moraxella sp AS = ágar-sangue; Choc = ágar-chocolate; MAC = MacConkey; SS = Salmonella-Shigella; HE = ágar Hecktoen; TM = Thayer Martin; Tio = tioglicolato; Hmeio = meio para isolamento de Hemophilus. TABELA 7-18 Fatores que afetam a ação de antissépticos e desinfetantes Tempo de contato Temperatura pH Concentração química Número de organismos presentes Presença de matéria orgânica, como proteína e sangue 641LIÇÃO 7-5 Técnicas de Cultura para Bactérias ganta seria inoculado em ágar-sangue de carneiro. O sucesso na recuperação e na identificação do agente causador da doença depende da própria coleta, da transferência do inóculo e do uso de técnica asséptica. Precauções de segurança Técnicos no laboratóriode bacteriologia devem observar as precauções-padrão, lembrando que os espécimes que eles manuseiam podem conter bactérias e outros materiais potencialmente infecciosos. Lavagem das mãos e uso de luvas são importantes ao manusear espécimes. Outros equipamentos de proteção individual (EPIs) devem ser usados quando necessário. Técnica asséptica, métodos físicos de prevenir contaminação e métodos de desinfecção quí- micos devem ser combinados para assegurar que o laboratório de bacteriologia seja um ambiente de trabalho seguro. As superfícies de trabalho devem ser lavadas com desinfe- tante antes e depois de executar cada procedimento. Materiais contaminados nunca devem ser colocados com o lixo geral. Ma- teriais como meios de cultura usados, alças descartáveis, swabs e qualquer outro material que entrou em contato com organismos vivos devem ser empacotados em sacos de descarte, descontami- nados e descartados de acordo com o protocolo da instituição. Isso pode ser feito pelo método de autoclave antes do descarte, através de incineração ou usando um serviço especial de descarte de lixo laboratorial. Avaliação da qualidade A avaliação da qualidade (AQ) é um aspecto impor- tante da bacteriologia. Um programa de qualidade eficaz assegura que os meios não estejam contamina- dos, pois eles permitirão o crescimento de organismos, e que meios indicadores e seletivos estão com suas propriedades ade- quadas. Um programa de AQ também ajudará a assegurar que o isolado seja identificado corretamente. O programa de AQ pode consistir de componentes internos e externos. Programa interno de avaliação da qualidade O programa interno inclui coleta do material, verificação dos meios, qualidade dos reagentes, desempenho dos equipamentos e proficiência dos profissionais. Microrganismos-controle po- dem ser adquiridos comercialmente para satisfazer as exigências do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) para tes- tes de meios de cultura comercialmente preparados, teste de sus- cetibilidade a antibióticos, ajudando a documentar o programa de avaliação de profissional. Um programa de AQ também deve incluir o monitoramento e o registro da temperatura de todas as incubadoras e refrigeradores. Programa externo de avaliação da qualidade Os laboratórios devem estar inscritos em um programa de AQ ou proficiência externo. Esses programas são a forma adequa- da de assegurar que os profissionais estejam capacitados para identificar organismos. Em determinadas datas durante o ano, espécimes bacterianos são enviados para o laboratório para identificação. As agências reguladoras responsáveis pela inspe- ção de laboratórios também oferecem programas de proficiência em microbiologia. FIGURA 7-28 Vários tipos de meios de cultura usados em bacteriologia. TABELA 7-20 Tipos comuns de meios para bacteriologia* TIPO USO INGREDIENTES ATIVOS PROPÓSITO AS Primário Sangue de carneiro ou coelho Permite crescimento de ampla variedade de organismos Choc, MTM Primário Sangue aquecido Libera hemoglobina e fatores de crescimento para organismos fastidiosos EMB Seletivo Eosina e azul de metileno Inibe organismos Gram-positivos EMB Indicador Complexo eosina-azul de metileno Indica fermentação de lactose, sacarose HE Seletivo Sais biliares, fucsina ácida, azul de bromotimol Isola e diferencia Salmonella e Shigella SS Seletivo Sais biliares, vermelho de fenol MAC Seletivo Sais biliares, cristal violeta Inibe organismos Gram-positivos MAC Indicador Vermelho neutro Indica fermentação da lactose AS = ágar-sangue; MAC = MacConkey; Choc = ágar-chocolate; HE = ágar Hecktoen; MTM = meio de Thayer-Martin modificado; SS = Salmonella-Shigella; EMB = eosina azul de metileno. *Estes são apenas alguns exemplos dos meios mais comuns usados em laboratórios pequenos; existem muitos outros tipos para usos especiais. 642 UNIDADE 7 Microbiologia Clínica Básica Coleta e transporte de amostras É importante que as amostras bacterianas sejam corretamente coletadas para assegurar que os resultados da cultura sejam váli- dos. O tipo de swab usado para a coleta deve ser escolhido com cuidado. A maioria dos procedimentos bacteriológicos requer o uso de swabs estéreis feitos de poliéster (dacron) ou rayon, pois o algodão contém ingredientes que são tóxicos para muitos mi- crorganismos. Uma vez que o swab do material seja entregue no laboratório, a semeadura em meios de cultura deve ocorrer o mais rápido possível. Laboratórios pequenos frequentemente enviam espécimes para cultura em um laboratório de referência. As amostras são en- viadas em um meio de transporte que provê o ambiente adequa- do para os microrganismos durante o deslocamento (Fig. 7-31). Os materiais de transporte devem ser estéreis e incluir ingredien- tes que protegerão, por várias horas, o microrganismo contra des- secação. Estão disponíveis meios de transporte para satisfazer as exigências de crescimento de diferentes tipos de microrganismos, incluindo aeróbios e anaeróbios. O laboratório de referência deve fornecer um manual de procedimentos que inclua o uso de vários meios e um guia para seleção desses meios, normalmente baseado no local de infecção ou na fonte do espécime. O laboratório de referência também deve prover o laboratório que envia o material com vários tipos de meios de transporte. Inoculação de meios Durante a inoculação dos meios de cultura, devem ser manti- das condições assépticas. A tampa da placa de Petri deve ser aberta apenas o suficiente para permitir a semeadura com a alça. Caso contrário, a tampa sempre deve ser mantida fechada para evitar contaminação do meio e da cultura. Após esterili- zação, a alça reutilizável deve ser colocada em seu suporte, não sobre o balcão; alças descartáveis devem ser descartadas em re- cipiente de risco biológico apropriado. Os riscos de formação de aerossol são reduzidos por manipulação cuidadosa da alça e uso de alças descartáveis estéreis, que eliminam a necessidade de flambagem. A B FIGURA 7-29 Crescimento bacteriano em meio de cultura primário e em meio seletivo: (A) Escherichia coli, um Gram-negativo e (B) Staphylococcus aureus, um Gram-positivo, ambos inoculados em placa dividida de ágar-san- gue (lado direito da placa) e MAC (lado esquerdo da placa). O ágar-san- gue permite o crescimento de ambos os organismos; o MAC seleciona os Gram-negativos. (Cortesia de Remel, Inc., Lenexa, KS.) FIGURA-30 Crescimento de Salmonella em ágar Hektoen, um meio indica- dor. Note as colônias com centro escuro. (Cortesia de Remel, Inc., Lenexa, KS.) 643LIÇÃO 7-5 Técnicas de Cultura para Bactérias Placas de ágar O primeiro passo na inoculação de uma placa de ágar é rotulá-la com o nome do paciente e o número de identificação. A placa de Petri deve ser rotulada no fundo e não na tampa, já que as tam- pas podem ser acidentalmente trocadas de uma placa para outra. As placas devem ser armazenadas e incubadas com o meio para, cima, para prevenir a condensação na tampa. Inoculando a placa O meio é semeado esfregando o swab do material suavemente sobre um quadrante da placa de ágar-san- gue (Fig. 7-32A). Quando só um swab é coletado, um esfrega- ço pode ser preparado desse mesmo swab. Depois que o swab tenha sido usado para inocular a placa, ele é rolado por uma lâmina de microscópio, para produzir um esfregaço de aproxi- madamente 1,5 a 2,5 cm de comprimento (Fig. 7-32B). Ele deve ser então descartado em um recipiente para material de risco biológico. Semeando para isolamento de colônias Uma alça bacterio- lógica é usada para distribuir o material inoculado na placa para obter colônias isoladas. Isso é realizado transferindo-se menos material de cultura para cada quadrante sucessivo. Deve-se evi- tar pressão acentuada da alça bacteriológica, para evitar rasgar a superfície do ágar. A alça é esterilizada, esfriada e então usada para distribuir o material do primeiro quadrante para o segundo (Fig. 7-33). A seguir, a alça é esterilizada novamente e usada paraespalhar o ma- terial do segundo para o terceiro quadrante, e então do terceiro para o quarto. No quarto quadrante, o procedimento é cuidado- samente terminado, para produzir colônias isoladas da bactéria (Fig. 7-33). Alguns preferem fazer as raias no quarto quadrante na forma de um tornado, aumentando a distância entre as colô- nias que se desenvolverem. Bisel de ágar Tubos com bisel de ágar podem conter meio de transporte, meio de crescimento ou substâncias para testar as reações bioquímicas de bactérias. A parte inclinada é preparada colocando-se os tubos com o meio em ângulo enquanto o ágar solidifica. Colônias são retiradas de uma placa de ágar utilizando uma alça bacteriológica estéril (Fig. 7-34A).* O tubo inclinado é segurado com a outra mão enquanto o quarto e o quinto dedos da mão que segura a alça são usados para remover a tampa do tubo (Fig. 7-34B). A tampa é mantida na mão do profissional até que o tubo seja reca- pado depois que o procedimento for completado. A alça é inserida no tubo e faz-se um ziguezague na parte in- clinada, começando na parte mais distante da inclinação e termi- nando no topo (Fig. 7-35A). A alça é retirada, o tubo é fechado e a alça é esterilizada. Se a alça ou o material de cultura tocar a borda do tubo, esta deve ser esterilizada antes de recapar (Fig. 7-35B). Um bisel de ágar inclinado pode ser inoculado com swab de ma- neira semelhante à descrita anteriormente. Meios indicadores ou seletivos Meios adicionais podem ser necessários para confirmar a iden- tificação de um organismo. Eles são inoculados com a alça bac- teriológica, usando as colônias isoladas que cresceram na placa primária. A tampa da placa é aberta somente para inserir a alça esterilizada e esfriada e apanhar uma ou duas colônias isoladas. * N. de R. T.: Pode-se utilizar também um fio bacteriológico. FIGURA 7-31 Meios de transporte. A B FIGURA 7-32 (A) Inoculando um quadrante de uma placa usando swab; (B) preparando um esfregaço bacteriano usando um swab. 644 UNIDADE 7 Microbiologia Clínica Básica Colônias isoladas pelo espalhamento através das estrias Placa não inoculada Crescimento no primeiro quadrante Espalhamento nas estrias do primeiro crescimento Espalhamento nas estrias do segundo crescimento DCBA FIGURA 7-33 Semeando uma placa de ágar em quatro quadrantes para obter isolamento de colônias. Em cima: (A) inoculação do primeiro quadrante; (B) girar a placa 90° e usar uma alça estéril para estriar no segundo quadrante; (C) girar outros 90°, flambar a alça e estriar no terceiro quadrante; (D) girar outros 90°, flambar a alça e fazer uma estria em padrão de “tornado” no quarto quadrante. Embaixo: crescimento bacteriano em cada quadrante quando semeado como mostrado nas figuras de cima. A B FIGURA 7-34 Transferindo bactérias de uma placa de ágar para um bisel de ágar: (A) seção das colônias de uma placa de ágar; (B) preparação para inocular o bisel. DICA DO PROFESSOR O vídeo descreve a técnica asséptica microbiológica e os cuidados necessários no cultivo bacteriano, relacionando com as informações apresentadas nessa Unidade de Aprendizagem. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) O meio de cultura ágar sal manitol possui na sua composição elevada concentração de sal e vermelho de fenol que permite identificação das bactérias fermentadoras de manitol. Como esse meio de cultura pode ser classificado? A) Apenas enriquecedor. B) Apenas seletivo. C) Apenas diferencial. D) Seletivo e diferencial. E) Enriquecedor e diferencial. 2) Para o adequado cultivo de bactérias, é necessário que as condições ambientais sejam ajustadas para os microrganismos esperados. Ao realizar uma cultura de rotina com incubação de meios de cultura em aerobiose, qual das bactérias abaixo obrigatoriamente NÃO irá se desenvolver nos meios? A) Aeróbias estritas. B) Microaerófilas. C) Aeróbias facultativas. D) Anaeróbias estritas. E) Fermentadoras. 3) Os meios de cultura podem ser classificados de acordo com a consistência e apresentação em tubos ou placas de petri. Selecione a afirmação de apresentação e consistência mais adequada para avaliação da morfologia de uma colônia bacteriana. A) Líquido em tubos. B) Sólido em placas. C) Semissólidos em tubos. D) Sólido em tubos. E) Líquidos em placas. 4) Qual das opções abaixo NÃO é indicada para as técnicas de inoculação de meios por esgotamento? A) Uso de alças bacteriológicas calibradas. B) Utilização de meios sólidos. C) Esterilização da alça bacteriológica entre cada etapa de espalhamento. D) Devem ser realizadas até quatro espalhamentos. E) Utilização de meios em placas. 5) A técnica asséptica é um conjunto de procedimentos que contribuem para reduzir a contaminação dos espaços com microrganismos, assim como impedir a contaminação das culturas com microrganismos indesejados. Abaixo são listados alguns procedimentos. Selecione aquele que você considera NÃO ser adequado numa técnica microbiológica asséptica. A) Flambar alças bacteriológicas. B) Abertura de tubos e placas próxima à chama do bico de Bunsen. C) Colocação das tampas de tubos sobre a bancada de trabalho. D) Limpeza de superfícies com desinfetante antes e após o uso. E) Uso de jalecos e luvas ao realizar os procedimentos. NA PRÁTICA Acompanhe como as profissionais de um laboratório de análises clínicas agiram para solucionar um problema recorrente que podia afetar o resultado final da análise das amostras. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Microscopia de luz e microbiologia Na obra a seguir conheça mais detalhes sobre o meio de cultura necessário para o crescimento de microrganismos e sua interferência no desenvolvimento. HÖFLING, J. F.; GONÇALVES, R. B. Microscopia de luz em microbiologia: morfologia bacteriana e fúngica. Porto Alegre: Artmed, 2008. Descarte de corantes e meios de cultivo utilizados na microbiologia As práticas desenvolvidas em Laboratórios de Análises Clínicas no setor de microbiologia incluem o preparo de meios de cultivo, com diferentes substâncias, e colorações diversas para o estudo morfológico dos microrganismos. Conheça mais sobre estas característica e processos no material a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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