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Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos APRESENTAÇÃO A água é um recurso essencial para os seres vivos e para o meio ambiente como um todo. Embora exista água em abundância no planeta, apenas um percentual muito pequeno representa água potável e disponível para o consumo. Esse percentual é o que se chama de recursos hídricos. Existem diferentes tipos de ecossistemas compostos por água doce e cada um deles tem suas peculiaridades. Dado o aumento da população mundial, bem como do consumo e poluição das águas, a preservação dos recursos hídricos passou a ser uma preocupação para diversos governos. Medidas que visam conservar tais recursos começaram a ser amplamente adotadas. Além disso, atualmente, se faz necessário o monitoramento constante da qualidade das águas, de modo a se garantir sua disponibilidade para os mais diversos usos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá a reconhecer os tipos de recursos hídricos que podem ser encontrados na natureza, bem como os ecossistemas e ambientes associados a eles. Você também identificará algumas ações que podem ser tomadas a fim de conservar os recursos hídricos e quais estratégias são empregadas para a avaliação da poluição hídrica. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os diferentes tipos de recursos hídricos e seus ecossistemas.• Definir as principais metodologias utilizadas para conservação dos recursos hídricos.• Identificar as estratégias para avaliar a poluição hídrica.• DESAFIO As usinas hidrelétricas são a principal forma de geração de energia elétrica no Brasil. Elas são encontradas em diferentes regiões do país, sendo implementadas com base nas características do relevo e dos rios. Veja o seguinte caso: Para melhor compreensão do prefeito e sua equipe sobre o impacto da poluição na pesca e em outras atividades da população local, você elabora um breve relatório, respondendo as seguintes perguntas: a) Qual(is) parâmetro(s) da água do rio você avaliou para verificar que o potencial de sobrevivência dos peixes estava afetado devido à poluição? Quais foram os resultados desses parâmetros? b) Qual(is) parâmetro(s) da água do rio você avaliou para verificar que esses peixes provavelmente estavam impróprios para o consumo? Como esse(s) parâmetro(s) pode(m) afetar a qualidade da carne dos peixes? c) De que forma o consumo de peixes contaminados pode impactar a saúde humana? d) Quais outras atividades de subsistência da população local, além da pesca, você percebeu que foram impactadas pela contaminação da água e para qual fim essas atividades usavam a água do rio? INFOGRÁFICO Os recursos hídricos são encontrados em diferentes tipos de ecossistemas aquáticos de água doce, como rios, lagos e estuários. Cada um conta com uma biodiversidade característica. Os impactos ambientais mais comuns em rios, por exemplo, podem não ser necessariamente os mesmos que aqueles dos lagos. Neste Infográfico, você verá algumas características de ecossistemas aquáticos, como sua biodiversidade e organização, além de entender os impactos mais comuns que afetam esses ecossistemas. CONTEÚDO DO LIVRO As águas superficiais e subterrâneas são fundamentais para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. A disponibilidade desse recurso, no entanto, não é uniforme entre as regiões, nações e continentes. Os recursos hídricos podem ser impactados de diferentes formas, seja pelo uso das bacias hidrográficas, dos solos, pela produção e descarte inadequado de resíduos, entre outras. Dessa forma, a adoção de medidas para a conservação desses recursos é fundamental, tanto devido à demanda para seu uso, quanto à alta taxa de sua poluição. O monitoramento e o tratamento das águas são necessários para o controle da qualidade das águas subterrâneas e superficiais. No Capítulo Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos, da obra Ecologia e análises ambientais, você compreenderá melhor o que são os recursos hídricos e como eles se organizam nos diferentes ecossistemas. Além disso, entenderá quais medidas podem ser adotadas para conservar tais recursos. Finalmente, aprenderá quais são as estratégias utilizadas para investigar a poluição hídrica. Boa leitura. ECOLOGIA E ANÁLISES AMBIENTAIS Julia do Amaral Gomes Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os diferentes tipos de recursos hídricos e seus ecossistemas. Definir as principais metodologias utilizadas para a conservação dos recursos hídricos. Identificar as estratégias para avaliar a poluição hídrica. Introdução Os recursos hídricos abrangem qualquer porção de água doce presente na superfície ou no subsolo que possa ser obtida e disponibilizada para uso humano. Essa água pode estar presente, por exemplo, em rios, lagoas, etc. O equilíbrio desses ecossistemas aquáticos é bastante importante para a manutenção da biodiversidade e garantia do abastecimento público. Diversas ações humanas podem prejudicar a qualidade da água, sendo necessária a criação de políticas e medidas para a conservação de tal recurso, bem como constante monitoramento de sua qualidade e possíveis fontes poluidoras. Neste capítulo, você aprenderá sobre como se dá a disponibilidade de água no planeta e como os recursos hídricos se organizam em seus diferentes ecossistemas. Além disso, vai conhecer medidas adotadas para a conservação dos recursos hídricos e examinar de que forma podemos avaliar a qualidade da água e a eventual poluição hídrica. 1 Os recursos hídricos e seus ecossistemas A água é um insumo essencial à vida, sendo insubstituível para os diferentes tipos de atividades humanas, bem como para a manutenção do equilíbrio do meio ambiente. O crescimento acelerado da população mundial vem acar- retando um aumento na demanda desse insumo. Além disso, as atividades humanas contribuem de diferentes formas para a poluição da água, seja pelo descarte de esgotos domésticos ou não domésticos (lixo industrial, por exem- plo), atividades ligadas à agropecuária, entre outras (SETTI et al., 2000; BITTENCOURT; PAULA, 2014). Cerca de 70% da superfície da Terra é coberta por água. A água disponível no planeta se distribui em cerca de 2,5% de água doce e 97,5% de água salgada. Dentre o montante de água doce, 68,7% representam geleiras e calotas polares, 30,1% representam aquíferos e apenas 0,4% são águas superficiais (Figura 1) (BITTENCOURT; PAULA, 2014). Figura 1. Distribuição da água na biosfera. A água doce representa apenas 2,5% do total, sendo que sua maior parte ainda está armazenada em geleiras e aquíferos. Fonte: Pinto-Coelho e Havens (2016. p. 13). Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos2 Os recursos hídricos consistem em água doce, cuja distribuição pode ser dividida em superficial ou subterrânea. A água subterrânea se distribui em reservatórios chamados aquíferos. Existem diferentes tipos de aquíferos, dependendo da espécie de rocha que os compõem, podendo ser classificados em aquíferos porosos, fraturados e cársticos (BITTENCOURT; PAULA, 2014). A disponibilidade hídrica não se dá de forma igual entre os diferentes continentes e regiões. Isso se deve, de forma geral, ao nível de precipita- ções nesses locais, sua localização geográfica e concentração populacional. O Brasil abriga 12% do total mundial de recursos hídricos (água doce dispo- nível) (BITTENCOURT; PAULA, 2014). Os recursos hídricos para consumo são aproveitados principalmente na agropecuária, na indústria e nos domicílios. O consumo varia dependendo do país e de sua respectiva distribuição setorial. De maneira geral, a agricultura é a atividade que mais utiliza água. A Figura 2 mostra uma estimativa de como a água é utilizada no Brasil. Figura 2. Recursos hídricos consumidosno Brasil (2018). Fonte: Brasil (2019, documento on-line). Os ecossistemas aquáticos de água doce podem ser divididos em rios, lagos, estuários, aquíferos e geleiras, os quais serão analisados caso a caso a seguir. 3Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos Rios Os rios contribuem pouco para os estoques totais de água presentes no mundo. No entanto, sua importância em âmbito ecológico se dá pelo trans- porte de sedimentos, nutrientes e carbono que transportam em seu leito. Tais materiais são necessários para a manutenção da vida na região da plataforma continental dos mares. Além disso, eles fertilizam estuários. Em relação ao carbono, os rios representam importantes canais reguladores dos fl uxos de carbono, sendo uma via de retorno do carbono ao oceano (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). Os rios também cumprem papel importante na alteração dos ecos- sistemas terrestres. Eles podem modificar os ambientes terrestres em três dimensões: lateral, longitudinal e vertical. Na dimensão lateral, por exemplo, durante as cheias, os rios saem de sua margem principal e trans- portam sedimentos, nutrientes e seres vivos. Muitos processos de disper- são e reprodução ocorrem nesse período. Na dimensão longitudinal, da nascente até a foz, um rio sofre muitas mudanças físicas e biológicas e, consequentemente, também a fauna que o compõe. Na dimensão vertical, a água do rio interage com fatores geológicos e geomorfológicos do solo (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). O Brasil conta com as maiores bacias hidrográficas do mundo, abrigando rios com grande extensão e volume d’água. Tais rios são utilizados para as mais variadas atividades, como abastecimento, irrigação, geração de energia elétrica, transporte de cargas e pessoas, entre outras. O rio Amazonas é o maior rio do mundo em volume d’água. Sua bacia hidrográfica, além do Brasil, percorre outros oito países. Outros importantes rios do Brasil são os rios Iguaçu, São Francisco, Araguaia, Paraná, Paraguai, Tapajós e Paraíba do Sul (BRASIL, [2020?]). Lagos As maiores quantidades de água doce superfi cial do planeta estão arma- zenadas em lagos. A maioria deles é encontrada no Hemisfério Norte. Os lagos podem estar associados tanto com a origem quanto com o destino fi nal de importantes rios. Representam centros de biodiversidade e reser- vatórios de abastecimento público, além de serem comumente utilizados Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos4 para navegação e lazer. Lagos, diferente de reservatórios, são ecossistemas naturais. Isso signifi ca que são o resultado de um longo processo evolutivo, com diversos eventos ecológicos e biogeoquímicos. É possível perceber uma ligação entre suas características morfológicas, da bacia hidrográ- fi ca, do solo e do clima. Da mesma forma, lagos diferem bastante de rios quanto ao tempo de detenção, taxa de renovação das águas, velocidade de sedimentação de partículas em suspensão e estrutura dos habitats da zona litorânea (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). No Brasil, os principais complexos lacustres são os lagos amazônicos, lagos do Pantanal mato-grossense e lagos e lagunas costeiras, que se distribuem ao longo de todo o litoral brasileiro, como a Laguna dos Patos, no Rio Grande do Sul, por exemplo (APRILE et al., 2001). Estuários e águas costeiras As áreas costeiras formam um conjunto de ecossistemas diferentes, como praiais arenosas e dunas, manguezais, restingas, barreiras de recifes, lagunas, enseadas e baías, costões rochosos, deltas, estuários, entre outros. Tais ecossistemas são caracterizados pela grande diversidade de espécies, servindo inclusive para a reprodução de diferentes tipos da animais. Além disso, desempenham funções reguladoras, atuando como sistemas-tampão, pois são propensos a sofrer oscilações provenientes dos ciclos de marés ou tormentas vindas dos oceanos e, dessa forma, impedem que tais efeitos se propaguem pelo continente. Embora sejam altamente adaptados, tais ecossistemas apresentam uma importante fragilidade ambiental, pois são facilmente perturbados pelas atividades urbanas (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). Os estuários são locais de encontro entre a água doce dos rios e a água salgada do mar. Neles ocorrem grandes flutuações de salinidade, tempe- ratura, marés, entre outros fatores. Sua fauna é adaptada a tais condições. Os estuários fazem parte dos ecossistemas mais produtivos do planeta. A importância da produção e consumo de carbono, bem como da ciclagem e exportação de biomassa e nutrientes, não se dá apenas nos estuários em si, já que seus processos biológicos afetam e são essenciais para todos os ecossis- temas que se localizam no seu entorno (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). 5Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos Um estuário possui as seguintes regiões: foz do rio, com seus nutrientes e sedimentos trazidos pela agua doce; uma área formada por ilhas, que separa o estuário do mar aberto; regiões mais rasas no decorrer da costa, que abrigam comunidades de plantas, como manguezais e restingas; áreas abertas, que abrigam uma comunidade de plânctons, que são a base da teia alimentar para outros animais. Devido ao posicionamento desses locais em regiões valorizadas para diferentes usos humanos, seus ecossistemas estão em constante risco. Eles são utilizados especialmente para a obtenção/exploração de alimento, transporte, recreação e turismo. No Brasil, a região Nordeste, por exem- plo, abriga diversos estuários, os quais sofrem constantes impactos em função do seu uso (CABRAL; SASSI; COSTA, 2005; PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). Aquíferos Os aquíferos consistem em formações geológicas subterrâneas que armazenam água doce. A água é proveniente de precipitações que levam as águas dos mares para os continentes. Essa água se infi ltra, é armazenada e fl ui através dos poros da rocha subjacente. A porosidade da rocha é o fator determinante para a quantidade de água que é armazenada na rocha (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). É possível dividir a crosta terrestre em dois compartimentos: a zona freática, também chamada de saturada, e a zona não saturada. A zona freática possui todos os espaços ocupados por água e a pressão da água é maior que a pressão atmosférica. Já a zona nã o saturada possui espaços sem água. O limite entre essas zonas é chamado de lençol freático. É possível ainda dividir os aquíferos em duas grandes categorias: aquíferos confinados (de baixa permeabilidade) e nã o confinados (mais permeáveis e geralmente conectados a nascentes) (Figura 3). Eles são encontrados em diferentes profundidades, sendo os de menor profundidade mais acessíveis ao uso humano e com maior velocidade de recarga. O aquífero Guarani, por exemplo, localizado nas fronteiras en- tre Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, representa o maior reservatório subterrâneo de água doce transfronteiriço (BITTENCOURT; PAULA, 2014; PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos6 Figura 3. Aquíferos confinados e não confinados. Fonte: Brasil (2007, documento on-line). Dentre os problemas mais comuns que afetam a qualidade da água dos aquíferos, podemos destacar as altas concentrações de nutrientes, como ni- trogênio e fósforo. Tais nutrientes são provenientes especialmente de esgotos domésticos, efluentes agrícolas e da atmosfera (as queimadas, por exemplo, injetam milhares de toneladas de nitrogênio na atmosfera). A pecuária intensiva e a irrigação agrícola são as atividades que mais poluem os aquíferos. Na gestão dos aquíferos de maneira sustentável, os principais desafios encontrados são (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016): prevenção e controle da entrada de sais nos aquíferos; monitoramento e controle da poluição por nitratos; controle e menor uso dos aquíferos para a irrigação; identificação, construção e gestão de reservatórios de agua subterrânea; gestão eficaz e proteção de aquíferos transnacionais, como o aquífero Guarani.Geleiras e calotas polares As geleiras são encontradas em todos os continentes, formadas por gelo denso. Fatores como latitude, altitude, inclinação do terreno, taxa de exposição ao sol, ventos, entre outros, afetam a deposição de neve nas geleiras. Elas estão 7Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos em movimento e afetam a geomorfologia e a paisagem das regiões onde se encontram (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). Diversos países, inclusive o Brasil, possuem paisagens que são resultados da ação abrasiva e erosiva do gelo das geleiras. Diversos lagos importantes também se originaram pela ação erosiva das geleiras. Rios, inclusive da Bacia Amazônica, são alimentados por águas provenientes das geleiras. Dessa forma, o impacto da diminuição das geleiras é muito maior que apenas a extinção de mamíferos que habitam as regiões polares, pois inúmeras outras espécies sofrem risco (PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). Os chamados rios voadores são cursos d’água atmosféricos, ou seja, massas de ar ricas em vapor d’água que migram de uma região para outras. No Brasil, tais rios voadores migram da Bacia Amazônica para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A Floresta Amazônica é a geradora desses rios voadores. Ela recebe massas de ar provenientes do Oceano Atlântico, as quais se condensam na forma de chuva. A evapotranspiração da floresta, aliada à alta temperatura, forma massas de ar úmidas que então migram para as regiões citadas, e até mesmo para outros países. Essa umidade se transforma em chuva e garante um adequado regime pluvial nessas regiões. O clima e o nível de rios e lagoas também é diretamente influenciado por essas massas de ar e, consequentemente, chuvas. Esse é um dos motivos para a grande importância da Floresta Amazônica em âmbito mundial, especialmente na América Latina, devido à sua influência no regime de chuvas, manutenção dos níveis hídricos e equilíbrio do clima (FENÔMENO..., [201-?]). 2 Conservação dos recursos hídricos Garantir que a qualidade da água permaneça dentro de limites considerados naturais é imprescindível para manter a diversidade e abundância dos seres vivos. Quando há alta densidade demográfi ca, ocupação do solo e desenvolvi- mento industrial, é necessário atenção para a proteção dos recursos hídricos, visando o seu aproveitamento racional. Nas últimas décadas, alguns países assumiram o compromisso de, por meio de medidas legais, econômicas e políticas, controlar as diversas formas de uso dos recursos hídricos (SETTI et al., 2000; BITTENCOURT; PAULA, 2014; INSTITUTO BRASILEIRO DE ANÁLISES SOCIAIS E ECONÔMICAS, 2016). Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos8 A fim de se combater o desequilíbrio hídrico e os conflitos de uso da água, além de promover meios adequados para uma gestão descentralizada e participativa, foi instituída no Brasil a Política Nacional de Recursos Hídricos e estabelecido o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, por meio da Lei nº. 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Em 2000, a Agência Nacional de Águas (ANA) foi instituída pela Lei nº. 9.984, de 17 de julho de 2000, com missão de implementar e coordenar a gestão dos recursos hídricos e regular o acesso a água, propiciando seu uso sustentável (SETTI et al., 2000; PINTO- -COELHO; HAVENS, 2016). Uma grande carência do Brasil em termos de recursos hídricos encontra-se na área do saneamento. Os fundamentos do saneamento básico estão na Lei nº. 11.445/2007, sendo o Plano Nacional de Saneamento Básico estabelecido por meio do Decreto nº. 6.942 de 2009. Podemos entender o saneamento básico como um conjunto de medidas adotadas para garantir a qualidade da água. Essas medidas incluem, por exemplo, o lançamento dos esgotos na rede pública e seu tratamento, coleta de lixo e seu depósito em aterros sanitários, tratamento da água a fim de garantir sua quantidade e qualidade para consumo, controle de vetores, entre outras (SETTI et al., 2000; BITTENCOURT; PAULA, 2014; PINTO-COELHO; HAVENS, 2016). Na América Latina, muitos parques e áreas protegidas também foram criados a fim de proteger mananciais hídricos. As Unidade de Conserva- ção (UCs), estipuladas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) — Lei nº. 9.985/2000 — garantem a manutenção e recuperação da diversidade biológica e dos recursos hídricos (INSTITUTO BRASILEIRO DE ANÁLISES SOCIAIS E ECONÔMICAS, 2016). A regulamentação das formas de uso da água, o controle do desperdício, a diminuição da degradação, o saneamento básico e ações de proteção e recuperação de mananciais, nascentes, rios, lagos, entre outros são medidas fundamentais para a conservação dos recursos hídricos. Uma boa gestão dos recursos hídricos exige um adequado desempenho de técnicas, polí- ticas e medidas administrativas integradas. A organização das unidades territoriais em bacias hidrográficas facilita os processos administrativos. Dessa forma, os recursos hídricos do Brasil são administrados com base em 12 regiões hidrográficas. O Plano de Recursos Hídricos orienta como deve ser o gerenciamento de uma bacia hidrográfica (BITTENCOURT; PAULA, 2014; INSTITUTO BRASILEIRO DE ANÁLISES SOCIAIS E ECONÔMICAS, 2016). 9Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos Principais métodos utilizados para conservar os recursos hídricos É possível conservar os recursos hídricos basicamente de três modos: preve- nindo que sejam contaminados, controlando a contaminação ou recuperando as águas contaminadas. A prevenção contra a poluição tem como objetivo a redução geral dos volumes de resíduos. Quando as ações tomadas para evitar que a poluição entre nos corpos d’água são inefi cazes ou insufi cientes, é neces- sário adotar medidas de recuperação e tratamento da água (BRASIL, 2011). A educação ambiental e as campanhas de conscientização são também cruciais para a conservação dos recursos hídricos, pois levam conhecimento às comunidades e geram apoio à proteção e melhoria da qualidade da água. Nesse sentido, promovem a alteração de comportamentos individualizados, fortalecimento da fiscalização, conscientização sobre os impactos da qualidade da água, entre outras mudanças (BRASIL, 2011). Eis alguns exemplos de medidas adotadas nas indústrias para a conservação das águas (BRASIL, 2011; BITTENCOURT; PAULA, 2014): redução, substituição ou eliminação de componentes químicos tóxicos; tratamento de efluentes a serem lançados em corpos d’água, sendo esses tratamentos físicos, como o gradeamento, peneiração, entre outros, ou químicos, como coagulação, desinfecção, entre outros, com a finalidade de remover os sólidos em suspensão; reuso direto, indireto ou reciclagem interna da água, como a reutilização de uma água de menor pureza para limpeza de setores e processos de troca térmica. Vejamos agora algumas medidas de conservação da água adotadas na agricultura (BRASIL, 2011): substituição de produtos químicos por rotação de culturas, cobertura com matéria orgânica capaz de fixar nitrogênio, compostagem, plantio direto e manejo integrado de pragas pelo uso de insetos benéficos; uso de sistemas de irrigação por gotejamento e de microaspersão, para redução de perdas de água pela evaporação e percolação pro- funda; construção de curvas de nível e terraços, que são espécies de canais ou aterros, para diminuir a erosão e o escoamento superficial. Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos10 Por fim, eis algumas medidas de conservação da água adotadas para o consumo humano (BRASIL, 2011; BITTENCOURT; PAULA, 2014): drenagem e esgotamento sanitário na rede pública, bem como tratamento desse esgoto; coleta e descarte adequado do lixo em aterros sanitários; armazenamento, transporte, separação, tratamento e descarte final de resíduos; tratamento da água para abastecimento em quantidade e qualidade adequadas; combate à pobreza; medidas de proteção ambiental, como prevenção e controle do desma- tamento,delimitação de Áreas de Preservação Permanente (APPs), criação de UCs, entre outras; controle de vetores de doenças; reciclagem. Muitas medidas de conservação adotadas pela indústria e pela agricultura são baseadas em políticas e leis de conservação da água. As medidas citadas em relação à conservação da água devido ao consumo público são medidas que se enquadram no conceito de saneamento básico. Um exemplo de ação do governo para o auxílio no saneamento ambiental é o Programa de Acele- ração do Crescimento (PAC), que promove, entre outras coisas o programa Minha Casa, Minha Vida, que auxilia famílias de baixa renda na aquisição de habitações, permitindo assim que essa população tenha melhores condições de saúde e saneamento de maneira geral. Além disso, são promovidas ações de saneamento vinculadas ao eixo Cidade Melhor, que auxilia na criação de obras de esgotos, manejo de resíduos sólidos, entre outras ações, em diversos municípios brasileiros (BITTENCOURT; PAULA, 2014). 3 Estratégias de avaliação da poluição hídrica Há padrões de qualidade da água tanto para o consumo dos seres humanos quanto para outros usos, como atividades da agricultura, indústria, entre outras. Alguns fatores podem alterar esses padrões de qualidade, como temperatura, pH, nível de oxigênio na água, presença de sedimentos, nutrientes ou produtos naturais ou sintéticos (óleos, pesticidas, metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos [PAHs] e bifenilos policlorados [PCBs], entre outros) (BITTENCOURT; PAULA, 2014). 11Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos Dentre as principais atividades que podem afetar a qualidade da água, podemos destacar: agricultura, uso urbano, silvicultura, hidrelétricas, mine- ração e indústrias. Como consequências, podemos citar a erosão do solo e sedimentação de partículas na água, poluição com agrotóxicos, contaminação por microrganismos patogênicos, eutrofização, entre outras. Para avaliar as condições da água em reservatórios ou corpos d’água, é realizada a identificação e quantificação de parâmetros físicos, químicos e biológicos. Vejamos a seguir os principais parâmetros usados na rede nacional de monitoramento da qualidade das águas (BITTENCOURT; PAULA, 2014). Físico-químicos: ■ condutividade elétrica; ■ temperatura do ar e da água; ■ turbidez; ■ oxigênio dissolvido; ■ pH; ■ sólidos totais dissolvidos, sólidos em suspensão; ■ alcalinidade total; ■ cloreto total; ■ transparência; ■ demanda bioquímica de oxigênio (água doces) ou carbono total (águas salobras e salinas). Microbiológicos: ■ coliformes termotolerantes. Biológicos: ■ clorofila a; ■ fitoplâncton – qualitativo e quantitativo. Nutrientes: ■ fósforo (fósforo solúvel reativo, fósforo total); ■ nitrogênio (nitrato, nitrogênio amoniacal, nitrogênio total). Os padrões de qualidade da água devem atender à legislação municipal, estadual e federal, que especificará a frequência com que as coletas serão realizadas, bem como os parâmetros para a realização da análise das coletas. As coletas e análises são desenvolvidas por meio de normas e métodos pa- dronizados, reconhecidos a nível nacional e internacional, a fim de permitir comparações entre laboratórios e assegurar os resultados obtidos (BITTEN- COURT; PAULA, 2014). Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos12 Como a qualidade da água varia ao longo do tempo, é preciso haver uma rotina de monitoramento. Dentre os componentes que podem afetar a qualidade da água, alguns fornecem dados que permitem o mapeamento de sua fonte geradora. Um exemplo é a identificação de metais pesados, que leva a supor que, possivelmente, está sendo desenvolvida alguma atividade metalúrgica próxima ao ponto amostrado. No Brasil, o monitoramento da qualidade da água é feito por diversos órgãos estaduais, tanto do meio ambiente quanto de recursos hídricos, bem como por companhias de saneamento e empresas elétricas. As águas subterrâneas não possuem uma rede de monitoramento em âmbito nacional. As informações relativas à sua qualidade geralmente são provenientes de trabalhos de univer- sidades ou estados (BITTENCOURT; PAULA, 2014). Visite o site do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEA, s.d.) e saiba mais sobre o Global Environment Monitoring System for Freshwater (GEMS/Water), um projeto criado para coletar dados globais sobre a condição e tendência da qualidade da água doce do planeta. Indicadores de qualidade da água O Índice de Qualidade das Águas (IQA) foi criado em 1970, nos Estados Unidos, pela National Sanitation Foundation (NSF). Desde então, foi adaptado por técnicos de agências de saneamento, institutos de pesquisa e universi- dades, sendo hoje o principal índice de qualidade da água usado no Brasil (BITTENCOURT; PAULA, 2014). Existe também o Índice de Qualidade da Água Bruta para fins de Abaste- cimento Público (IAP). A maioria de seus parâmetros avalia a contaminação proveniente de esgotos domésticos. O IAP apresenta três grupos de parâmetros: o IQA e mais dois parâmetros, que juntos formam o Índice de Substancias Tóxicas e Organolépticas (ISTO) (BITTENCOURT; PAULA, 2014): IQA: temperatura, pH, demanda bioquímica de oxigênio e oxigênio dissolvido, coliformes termotolerantes, nitrogênio, fósforo e resíduo totais e turbidez. 13Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos Parâmetros relativos à presença de substâncias tóxicas: cádmio, chumbo, mercúrio, níquel, cromo total, teste de mutagenicidade e potencial de formação de trialometanos. Parâmetros que afetam a qualidade organoléptica dá água: ferro, cobre, alumínio zinco, manganês e fenóis. Dentre os parâmetros utilizados para compor o IQA, temos (BITTEN- COURT; PAULA, 2014): Temperatura: afeta a tensão superficial da água, sua viscosidade e a proliferação e reprodução de seres aquáticos. É importante salientar que a temperatura varia ao longo do dia e das estações; entretanto, a liberação de efluentes com altas temperaturas causa mudanças bruscas e, consequentemente, impactos significativos nos corpos d’água. pH: afeta a vida aquática e deve, para sua preservação, se manter entre 6 e 9. Demanda bioquímica de oxigênio (DBO): representa a quantidade necessária de oxigênio para oxidar, via decomposição microbiana ae- róbica, a matéria orgânica presente na água. Valores altos de DBO ocorrem por lançamentos de esgotos domésticos, com altas cargas orgânicas, e levam à diminuição de oxigênio disponível, provocando mortandade de peixes. Oxigênio dissolvido: tem seu nível dependente da quantidade con- sumida por bactérias para a oxidação da matéria orgânica versus a quantidade produzida pelo corpo d’água (organismos e processos). Se o oxigênio diminui, o corpo d’água pode se tornar anaeróbico, causando maus odores e morte de diversos seres aquáticos. Despejos orgânicos tendem a alterar bastante a disponibilidade de oxigênio dissolvido no corpo d’água. Coliformes fecais: representam, na verdade, bactérias do grupo coli- forme e servem como indicadores da contaminação da água por fezes humanas ou animais. Nitrogênio total: considerado um nutriente que, em excesso leva, junto com o fósforo, à eutrofização dos corpos d’água, prejudicando a vida aquática, o abastecimento público e atividades recreacionais. Tem como fontes principais os esgotos lançados, efluentes industriais e fertilizantes. Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos14 Fósforo total: pode advir de diferentes fontes, como despejos do- mésticos, industriais, excrementos animais, fertilizantes, detergentes, entre outros. Resíduos totais: são os resíduos sólidos que restam mesmo após eva- poração e secagem de uma amostra de água. Tais resíduos podem causar assoreamento dos rios, aumentando o risco de enchentes, além de prejudicar a vida aquática, ao destruir seu habitat. Turbidez: representa o grau de atenuação que um feixe de luz sofre quandoatravessa a água. Tal atenuação corre quando há absorção e disseminação da luz por meio de sólidos suspensos. Em caso de erosão do solo, mineração, lançamento de esgotos e efluentes industriais nos corpos d’água, por exemplo, a quantidade de sólidos aumenta significa- tivamente, com consequente aumento também da turbidez. A turbidez afeta atividades de recreação, a preservação de certos seres aquáticos, o uso da água em indústrias, etc. Existe um índice que avalia a qualidade da água quanto ao seu enriqueci- mento de nutrientes, proliferação de algas e aumento de macrófitas, chamado Índice do Estado Trófico. Ele classifica os corpos d’água em diferentes níveis de trofia. Entre outros índices que podem ser utilizados para representar a qualidade da água, podemos citar o Índice de Balneabilidade e o Índice de Proteção da Vida Aquática (BITTENCOURT; PAULA, 2014). No Brasil, a ANA é responsável por avaliar a quantidade e qualidade da água no território brasileiro. Junto aos de pontos de monitoramento, a agência avalia os parâmetros pH, oxigênio dissolvido, condutividade e temperatura. O moni- toramento é realizado tendo como objetivos (BITTENCOURT; PAULA, 2014): avaliar a evolução da qualidade da água; diagnosticar a qualidade da água em trechos específicos do curso d’água; verificar a qualidade da água para um uso específico (como consumo humano); observar se os requisitos legais estão sendo cumpridos. O Quadro 1 ilustra como a qualidade da água pode ser classificada a partir do valor do IQA e da sua aplicação. Quando a qualidade de água não está ́ adequada para o abastecimento, ela pode ser destinada a outros usos. 15Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos Fonte: Adaptado de Bittencourt et al. (2014) e ANA (2019). Valor do IQA Classes Significado 79–100 Ótima Água própria para abastecimento público após tratamento convencional. 51–79 Boa 36–51 Razoável 19-36 Ruim Água imprópria para abastecimento público, mesmo após o tratamento convencional, sendo preciso tratamentos avançados.0–19 Péssima Quadro 1. Classificação da qualidade das águas Metodologias de análise de parâmetros da qualidade da água A etapa da coleta das amostras é extremamente importante para o monitora- mento da água, uma vez que afeta a confi abilidade e interpretação dos resulta- dos. Coletas em rios, lagos e reservatórios, por exemplo, são feitas geralmente com garrafas de Van Dorn, feitas em PVC. Em poços, os coletores usados são geralmente tubos plásticos chamados bailers. Os instrumentos de coleta variam de acordo com a fonte da coleta (PARRON; MUNIZ; PEREIRA, 2011). Exame microbiológico Os microrganismos patogênicos que podem contaminar a água incluem vírus, bactérias, protozoários e helmintos. Em relação às bactérias, elas podem causar gastroenterites e diarreias. Em relação à qualidade da água, são avaliadas as bactérias do grupo coliforme, e entende-se por coliformes totais o conjunto de bactérias desse grupo. Coliformes termotolerantes são as bactérias do grupo coliforme que fermentam a lactose. A E. coli é uma bactéria do grupo coliforme que fermenta lactose e manitol (BRASIL, 2013). O método de Tubos Múltiplos (TM), também conhecido como método do Número Mais Provável (NMP), e o método de Membrana Filtrante (MF) são largamente utilizados. O NMP é um método quantitativo de análise que permite determinar o número mais provável de microrganismos em uma amostra. Subdivide-se a amostra em alíquotas e avalia-se a presença de micror- ganismos (crescimento positivo). Isso permite estimar, mediante um cálculo Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos16 de probabilidade, a densidade de microrganismos na água. A MF baseia-se na filtragem de bactérias em uma membrana a partir de um volume de água. Elas são transferidas para placas de Petri, cultivadas, incubadas e analisadas em relação à sua quantidade (BRASIL, 2013; SILVA et al., 2017). O método de Substrato Cromogênico-Fluorogênico Definido também é comumente usado. Ele é baseado na atividade de enzimas específicas dos coliformes (ß-galactosidade) e de E. coli (ß-glucoronidase). Meios de cultura com substrato cromogênicos são hidrolisados pelas enzimas e alteram a cor no meio. Se a cor amarela aparecer, isso significa que há presença de coliformes totais. Se a cor azul aparecer sob luz ultravioleta de 365 nm, há presença de E. coli. A maior precisão e a determinação simultânea e mais rápida, sem ensaios confirmatórios, são outras vantagens dessa técnica (BRASIL, 2013). Por sua vez, a técnica de filtração, separação imunomagnética e microscopia de imunofluorescência é uma metodologia que serve para a identificação de protozoários como a Giardia sp. e Cryptosporidium sp. na água (BRASIL, 2013). Análises físico-químicas da água Existem diferentes tipos de parâmetros físico-químicos da água que podem ser avaliados. Alguns são comumente avaliados para a análise da água destinada ao abastecimento, por exemplo. Outros são mais gerais. Diversas análises de parâmetros físico-químicos da água são feitas por titulação ou por análises colorimétricas (BRASIL, 2013). São alguns exemplos de análises comumente realizadas para avaliar parâ- metros físico-químicos da água, incluindo os parâmetros do IQA (PARRON; MUNIZ; PEREIRA, 2011; BRASIL, 2013): análise da temperatura da água por meio de termômetros; análise do pH por meio de aparelhos potenciômetros ou colorímetros; análise de oxigênio dissolvido por meio de oxímetro; análise da demanda bioquímica de oxigênio por meio do teste de DBO, que consiste em um bioensaio que mede o consumo de oxigênio pelos microrganismos; análise da turbidez por método nefelométrico; análise da presença de metais pesados na água por espectrofotômetro de absorção atômica; análise de nitrogênio total e fósforo total por meio de digestão por persulfato e avaliação da concentração por espectrofotômetro; 17Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos análise da alcalinidade total por titulação com ácido sulfúrico — a alcalinidade mede a capacidade que a água tem de neutralizar ácidos, sendo que a alcalinidade total é calculada por meio da concentração de hidróxidos, carbonatos e bicarbonatos; análise de gás carbônico livre por titulação com hidróxido de sódio; análise de cloretos por titulação com nitrato de prata; análise de dureza total da água por titulação com ácido etilenodiami- notetracético (EDTA); análise de fluoretos pelo método do eletrodo específico para íons fluoretos; análises de cloro residual livre e da cor da água por método de com- paração visual. Existem inúmeras outras metodologias que podem ser aplicadas para a análise desses e de outros parâmetros da água. A escolha das metodologias depende do laboratório, mas é recomendado o cumprimento das recomenda- ções do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, que agrupa técnicas reconhecidas e aprovadas em relação à análise da qualidade da água (STANDARD..., 2020). Os resultados da análise dos parâmetros da água dependem do tipo de parâmetro avaliado e do tipo de aparelho ou metodologia aplicada para a avaliação. Na análise de turbidez pelo método nefelométrico, por exemplo, é utilizado o aparelho turbidímetro (Figura 4). Figura 4. Avaliação da turbidez: (a) turbidímetro; (b) um dos métodos de avaliação da dispersão da luz que atravessa a amostra de água no aparelho. Fonte: Splabor (2018, documento on-line). Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos18 O turbidímetro expressa o resultado na turbidez da água em UNT. A UNT é uma medida baseada na leitura das amostras de água e no fator de diluição, obedecendo à seguinte fórmula (CORREIA et al., 2008): UNT = A (B + C) onde A é a leitura da turbidez da amostra, B corresponde aos mililitros de água de diluição e C é igual aos mililitros de amostra. O monitoramento da qualidade da água é realizado constantemente nasdiferentes regiões sob coordenação da ANA. Em 2020, foi publicado o Relatório da Qualidade da Água Superficial do Estado do Rio Grande do Sul, realizado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (RIO GRANDE DO SUL, 2020). Diferentes regiões hidrográficas do estado foram incluídas, com diversos pontos de amostragem em cada região. Parâmetros físico-químicos e biológicos foram avaliados e os resultados mostraram que o fósforo total e o microrganismo E. coli foram os fatores que mais comprometeram a qualidade da água. Tais resultados permitem o melhor entendimento das possíveis fontes de poluição, bem como a elaboração de estratégias de intervenção. APRILE, F. M. et al. Tipologia dos ecossistemas lacustres costeiros do Estado do Espírito Santo, Brasil. Bioikos, v. 15, n. 1, p. 17–21, 2001. Disponível em: https://seer.sis.puc-cam- pinas.edu.br/seer/index.php/bioikos/article/view/917/894. Acesso em: 26 jun. 2020. BITTENCOURT, C.; PAULA, M. A. S. Tratamento de água e efluentes: fundamentos de saneamento ambiental e gestão de recursos hídricos. São Paulo: Érica, 2014. BRASIL. Agência Nacional de Águas. Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2019: informe anual. Brasília, DF: ANA, 2019. Disponível em: http://conjuntura.ana.gov.br/. Acesso em: 26 jun. 2020. BRASIL. Agência Nacional de Águas. GEO Brasil: recursos hídricos: resumo executivo. Brasília, DF: MMA; ANA, 2007. Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/wfa/sa/GEO%20 Brasil%20Recursos%20H%C3%ADdricos%20-%20Resumo%20Executivo.pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. 19Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos BRASIL. Agência Nacional de Águas. Programa das Nações Unidas para o Meio Am- biente. Cuidando das águas: soluções para melhorar a qualidade dos recursos hídricos. Brasília, DF: ANA, 2011. Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sge/ CEDOC/Catalogo/2013/CuidandoDasAguas-Solucao2aEd.pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. BRASIL. Agência Nacional de Águas. Rios do Brasil. Brasília, DF, [2020?]. Disponível em: https://www.ana.gov.br/panorama-das-aguas/divisoes-hidrograficas/rios-do-brasil. Acesso em: 26 jun. 2020. BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Manual prático de análise de água. 4. ed. Brasília, DF: Funasa, 2013. Disponível em: http://www.funasa.gov.br/site/wp-content/files_mf/ manual_pratico_de_analise_de_agua_2.pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. CABRAL, A. L.; SASSI, R.; COSTA, C. F. Os estuários do nordeste do Brasil e o desenvol- vimento sustentável: usos múltiplos e impactos do rio Timbó, como um estudo de caso. Tropical Oceanography, v. 33, n. 2, p. 199–206, 2005. CORREIA, A. et al. Análise da turbidez da água em diferentes estados de tratamento. In: ENCONTRO REGIONAL DE MATEMÁTICA APLICADA E COMPUTACIONAL, 8., 2008. Anais eletrônicos... Disponível em: http://www.dimap.ufrn.br/~sbmac/ermac2008/ Anais/Resumos%20Estendidos/Analise%20da%20turbidez_Aislan%20Correia.pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. FENÔMENO dos rios voadores. In: EXPEDIÇÃO rios voadores. [S. l., 201-?]. Disponível em: http://riosvoadores.com.br/o-projeto/fenomeno-dos-rios-voadores/. Acesso em: 26 jun. 2020. INSTITUTO BRASILEIRO DE ANÁLISES SOCIAIS E ECONÔMICAS. Água: bem público em unidades de conservação. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: https://www.icmbio. gov.br/portal/images/stories/pdf22_-_%C3%81gua_-_Bem_p%C3%BAblico_em_UCs. pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. PARRON, L. M.; MUNIZ, H. de F.; PEREIRA, C. M. Manual de procedimentos de amostragem e análise físico-química de água. Colombo: Embrapa Florestas, 2011. (Documentos, 232). Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/57612/1/ Doc232ultima-versao.pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. PINTO-COELHO, R. M.; HAVENS, K. Gestã o de recursos hí dricos em tempos de crise. Porto Alegre: Artmed, 2016. RIO GRANDE DO SUL. Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Ro- essler. Relatório da qualidade da água superficial do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2020. Disponível em: http://www.fepam.rs.gov.br/noticias/arq/2020_QUALI- DADE_AGUA_SUPERFICIAL_RS.pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. SETTI, A. A. et al. Introdução ao gerenciamento de recursos hídricos. 2. ed. Brasília, DF: Agência Nacional de Energia Elétrica, Superintendência de Estudos e Informações Hidrológicas, 2000. Disponível em: https://www2.aneel.gov.br/biblioteca/downloads/ livros/Introducao_Gerenciamento.pdf. Acesso em: 26 jun. 2020. Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos20 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. SILVA, N. et al. Manual de métodos de análise microbiológica de alimentos e água. 5. ed. São Paulo: Blucher, 2017. SPLABOR. Turbidímetro: qual a função, procedimentos e boas práticas. [S. l.], 2018. Disponível em: http://www.splabor.com.br/blog/turbidimetro/aprendendo-mais- -turbidez-definicao-metodos-e-boas-praticas-de-laboratorio/. Acesso em: 26 jun. 2020. STANDARD Methods for the Examination of Water and Wastewater. [S. l.], 2020. Dispo- nível em: https://www.standardmethods.org/. Acesso em: 01 jun. 2020. Leitura recomendada UNEA. Monitoring water quality. [S. l., 2020?]. Disponível em: https://www.unenviron- ment.org/explore-topics/water/what-we-do/monitoring-water-quality. Acesso em: 26 jun. 2020. 21Detecção de poluição e conservação de recursos hídricos DICA DO PROFESSOR Uma bacia hidrográfica é uma área que capta naturalmente a água das chuvas e as converge em um ponto específico. A organização da hidrografia no Brasil é diferente da organização político- administrativa. Dessa forma, para melhor gestão dos recursos hídricos, o território nacional é organizado em doze regiões hidrográficas, que abrigam as principais bacias hidrográficas e outras bacias menores. O monitoramento da qualidade da água é realizado pela Agência Nacional das Águas e pelas unidades federais. Esse monitoramento avalia diferentes parâmetros da água e é fundamental para a identificação de locais críticos de poluição hídrica e para a adoção de medidas de conservação. Nesta Dica do Professor, você verá as características de uma bacia hidrográfica e quais são as regiões hidrográficas do Brasil e suas principais diferenças. Veja também como é realizado o monitoramento da qualidade da água no Brasil. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Os recursos hídricos podem ser encontrados em diferentes tipos de ecossistemas de água doce. Cada um desses ecossistemas tem características específicas. Em relação aos diferentes ecossistemas de água doce, é correto afirmar que: A) Os rios são ecossistemas que podem alterar os ecossistemas terrestres adjacentes através de 2 dimensões — vertical e longitudinal. B) Os lagos e reservatórios são ecossistemas naturais que têm uma biodiversidade muito semelhante. C) O derretimento das geleiras traz prejuízos à biodiversidade de diferentes ecossistemas. D) Os estuários são regiões onde os rios costumam nascer e, portanto, abrigam uma enorme diversidade. E) Os aquíferos confinados são geralmente ligados às nascentes. 2) Existem diferentes tipos de parâmetros da água que podem ser avaliados para monitorar sua qualidade. Em relação à alteração desses parâmetros e suas consequências, considere as seguintes afirmações: I. O pH pode ser considerado ácido, neutro ou básico e, para a preservação da vida aquática, o ideal é que ele esteja com valores entre 6 e 9. II. O oxigênio dissolvido é um parâmetro da qualidade da água que é afetado principalmente pela contaminação da água com resíduos de mineração. III. Quando microrganismos, como E. coli, aumentam sua proliferação noscorpos d’água, eles são responsáveis pela eutrofização da água. IV. A erosão do solo e o lançamento de esgotos tornam os corpos d’água turvos, e um dos parâmetros que é afetado nesse contexto é a turbidez da água. Assinale a alternativa correta: A) As afirmações I e II estão corretas. B) As afirmações I, III e IV estão corretas. C) As afirmações I e III estão corretas. D) As afirmações II, III e IV estão corretas. E) As afirmações I e IV estão corretas. A quantidade e a qualidade dos recursos hídricos sofre grande influência de variáveis 3) naturais e da ação do homem. São fatores que afetam a quantidade e/ou qualidade da água disponível em uma região: A) Nível de chuvas, impacto antrópico, densidade populacional e temperatura do meio ambiente. B) Densidade populacional, nível de chuvas, impacto antrópico e tipo de terreno e de rochas. C) Biodiversidade, tipo de terreno e de rochas, nível das chuvas e densidade populacional. D) Densidade populacional, biodiversidade, temperatura do meio ambiente e nível de chuvas. E) Temperatura do meio ambiente, tipo de terreno e de rochas, biodiversidade e nível de chuvas. 4) Existem diferentes estratégias e medidas que podem ser adotadas de modo a conservar os recursos hídricos, garantindo seu uso para o consumo humano e animal e a outras tantas atividades. Qual alternativa representa a estratégia de conservação ou preservação dos recursos hídricos mais ampla e almejada/implementada por gestores? A) Tratamento de rios poluídos e degradados. B) Saneamento básico. C) Monitoramento da pluviosidade nas diferentes regiões. D) Tratamento de resíduos sólidos. E) Educação ambiental. 5) Diversos tipos de análises são realizados a fim de se investigar os diferentes parâmetros da qualidade da água. Análises por titulação e análises colorimétricas são exemplos de metodologias empregadas para a investigação de alguns parâmetros. Em relação aos diferentes tipos de análises empregados para a avaliação da água, considere as seguintes afirmativas: I. A titulação com EDTA é usualmente empregada para a análise de cloretos na água. II. A cor da água e o cloro residual livre podem ser avaliados por métodos de comparação visual. III. A nefelometria analisa a intensidade da difração da luz na água, sendo, portanto, utilizada para avaliar a turbidez da água. IV. A titulação com ácido sulfúrico avalia a acidez total da água. Quais delas são verdadeiras: A) As afirmações III e IV são verdadeiras. B) As afirmações I, III e IV são verdadeiras. C) As afirmações II e III são verdadeiras. D) As afirmações I e III são verdadeiras. E) As afirmações I, II e IV são verdadeiras. NA PRÁTICA O tratamento da água inclui uma série de procedimentos químicos e físicos que são realizados para que as condições da água se tornem adequadas ao consumo. Esse tratamento elimina a contaminação da água e evita que haja transmissão de doenças. Neste Na Prática, você verá o relato de um caso de um profissional que trabalha em uma estação de tratamento de água e reconhece um erro que pode afetar a qualidade final da água e causar doenças na população que consome essa água. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Relatório mundial das Nações Unidas sobre desenvolvimento dos recursos hídricos 2019: Não deixar ninguém para trás, resumo executivo Confira um relatório da UNESCO, de 2019, sobre o acesso à água potável. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Usos múltiplos da água Veja o vídeo da ANA, que explica as diferentes formas que a água de um rio pode ser utilizada pela população e a importância de sua gestão, a fim de garantir o uso para todos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Despoluição de águas ainda é desafio para o Brasil; conheça os principais projetos Leia esta reportagem sobre projetos de recuperação de rios brasileiros. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Análise bacteriológica das águas de irrigação de horticulturas Neste artigo científico, foi investigada a qualidade das águas utilizadas na irrigação de cinco horticulturas e a atividade de três sanitizantes na diminuição desses microrganismos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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