Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
@prof.aristocrates @prof.aristocrates Sumário COMO ANALISAR A PROVA: TEMA E TEXTO DE APOIO ............................................... 3 Texto I ..................................................................................................................... 5 Texto I ................................................................................................................... 11 Texto II .................................................................................................................. 12 Texto III ................................................................................................................. 12 MONTANDO O PROJETO DE TEXTO: INTRODUÇÃO ................................................... 17 MONTANDO O PROJETO DE TEXTO: DESENVOLVIMENTO ......................................... 32 MONTANDO O PROJETO DE TEXTO: CONCLUSÃO ..................................................... 53 ARGUMENTOS-CHAVE PARA TODOS OS TEXTOS PARTE 1 ........................................ 66 1. CONSTITUIÇÃO FEDERAL .................................................................................. 66 2. REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS ............................................................................... 69 3. DINÂMICA DO TRABALHO .................................................................................. 72 4. PRÁXIS DE PAULO FREIRE ................................................................................. 73 ARGUMENTOS-CHAVE PARA TODOS OS TEXTOS PARTE 2 ........................................ 75 1. PIERRE BORDIEU E OS COMPORTAMENTOS .......................................................... 76 2. HANNAH ARENDT E A BANALIDADE DO MAL ......................................................... 77 3. JÜRGEN HABERMAS E A POLÍTICA DE CONTENTAMENTO ........................................ 80 4. JEAN-PAUL SARTRE E AS EMOÇÕES .................................................................... 82 CORREÇÃO COMENTADA: DO ZERO AO TOTAL ......................................................... 84 1. INFÂNCIA .......................................................................................................... 84 2. SEGURANÇA PÚBLICA .......................................................................................... 85 3. ECONOMIA ........................................................................................................ 87 4. MEIO AMBIENTE ................................................................................................. 87 5. MINORIAS ......................................................................................................... 88 6. EDUCAÇÃO ........................................................................................................ 90 7. CIDADE ............................................................................................................. 90 8. SAÚDE .............................................................................................................. 91 @prof.aristocrates PASSO 1 COMO ANALISAR A PROVA: TEMA E TEXTO DE APOIO A princípio, analisaremos o que a prova espera de você, como lidar com os textos de apoio e com a realidade da redação. Para que isso aconteça, obviamente, é preciso deixar muito claro, aqui, nesse momento, o que é essa redação e o que significa aquelas toneladas de textos de apoio e recortes que deixam a maioria das pessoas em conflitos sobre o que fazer. Primeiro ponto que você precisa ter com 100% de clareza em relação a qualquer redação dissertativa-argumentativa, de qualquer concurso, de qualquer prova que você faça na vida desse tipo textual, é que a banca está esperando uma defesa. Esse é um dos maiores segredos, a defesa de um ponto de vista, isto é, a defesa de uma opinião, uma tese. Isso vai estar indicado de inúmeras formas na redação, por exemplo, nos trechos: “produção de um texto dissertativo- argumentativo”, “produção de um texto em prosa” etc. Essas expressões, no fim das contas, indicam a exigência da necessidade de expor uma opinião. Nesse tipo de redação, não se deve mostrar uma realidade simplesmente nem contar como determinado campo se desenvolve, mas sim defender um ponto de vista, como: “isso é certo”, “isso é errado”, “deve isso”, “não deve isso”, “procede isso”, “não procede isso”. Logo, nesse tipo de gênero, a banca espera que você julgue um assunto. Então, do início ao fim, da primeira à última linha do seu texto, o seu compromisso é, invariavelmente, com o julgamento. Tenha isso sempre como premissa do texto dissertativo-argumentativo. Tudo que você acumula, em termos de referências, exemplos, produções ao longo desse texto, é utilizado para dar força, sustentar, engrandecer essa opinião que você vai construir. @prof.aristocrates Sobre essa defesa, cabe questionar: qualquer opinião, fato, ponto de vista que eu tenha serve para construção de um texto dissertativo-argumentativo? Bom, aí precisamos de uns extras, de uns entendimentos maiores sobre a realidade das bancas e da prova. A resposta é: não. Sinto te informar que a sua opinião pessoal não é muito valiosa para as provas. Ninguém quer saber de fato o que você pensa sobre o tema, essa é a realidade. Então, o que esperam que você defenda? Aquilo que está alinhado à banca, aquilo que está alinhado à prova, aquilo que está alinhado a alguma demanda científica, seja lá qual for. Ou seja, não é necessariamente a sua opinião que importa. Diante disso, surge o questionamento: mas como eu vou saber dentro do macro universo de cada um dos temas qual é a postura ideal? Que tipo de opinião eu posso vincular na minha redação? Isso aqui vai agradar a banca, zerar ou tangenciar meu texto? Para responder essas perguntas, o maior segredo são os textos de apoio. Basicamente, todas as provas com as quais você vai lidar possuem textos de apoio. Curiosamente, são raros os concursos que não trazem textos de apoio. Além disso, esses concursos têm textos da prova de português que, na verdade, são também textos motivadores para a redação. Ainda, esses textos não estão lá para você copiar informações, até porque a prova não é um concurso de caligrafia. Não é um concurso de quem copia melhor. É posição, é opinião, lembra? O ponto de vista que estiver no texto de apoio é a opinião que a banca espera que você vincule, entendeu? Vejamos, o tema de “assédio moral e sexual” é um dos temas que está no auge dos debates contemporâneos. Mas antes cabe destacar as duas premissas que definem os temas que estão no auge para um debate. A premissa maior é o Senado Federal e a segunda é a Câmara. Os dois determinam quais os temas que estão sendo cotados para boa parte dos concursos, vestibulares e também para o Enem. Os projetos que estão em debate por lá – aqueles projetos que discutem o tema o tempo todo, que estão nas páginas oficiais desses órgãos de poder, na maioria dos casos, na TV Senado e no aplicativo do Senado Federal – são os pontos que você obrigatoriamente precisa @prof.aristocrates entender para saber qual tema pode cair ou não na sua prova. Isso é mais relevante que os materiais que estão na grande mídia, circulando pelos grandes jornais. Siga as páginas dos órgãos de poder, acompanhe pelos aplicativos oficiais, pelos canais produzidos por esses órgãos de justiça. Assim, você vai saber o tema da sua redação em primeira mão. Voltando ao assunto, assédio moral e sexual é um dos grandes projetos em debate. Com isso, há o debate sobre como controlar, esclarecer e, principalmente, criminalizar a prática do assédio. Diante disso, pode-se analisar esses textos de apoio sobre o tema. Texto I Fonte: Portal do MTE. @prof.aristocrates Texto II ASSÉDIO NO TRABALHO DIFICULTA ASCENSÃO DE MULHERES NAS EMPRESASPOR CÁSSIA ALMEIDA, GLAUCE CAVALCANTI E HENRIQUE GOMES BATISTA - 14/01/2018 4:30 / ATUALIZADO 27/01/2018 19:25 RIO E WASHINGTON - Ameaçar deixar uma reunião cheia de homens por causa de piadas machistas. Ouvir de um colega de trabalho “trouxe um paninho para você limpar meu computador”. Ter uma funcionária assassinada pelo marido. As executivas enfrentam casos de assédio em seu dia a dia, seja com elas ou com colegas. As estratégias adotadas por elas se dividem entre se esquivar, criar redes de proteção nas empresas e denunciar. O forte debate sobre o assunto — que ganhou os holofotes na premiação do Globo do Ouro, domingo passado, em Hollywood — está pressionando as companhias a implementarem canais de denúncia para combater os abusos e estimulando a adoção de políticas de equidade de gênero. Enquanto isso, as mulheres ganham voz. — Sofri muito com isso (assédio). Nunca fiz uma denúncia oficial porque sentia que eu, a parte mais fraca, seria prejudicada — conta Maria Fernanda Teixeira, que fez carreira em multinacionais e hoje é CEO da Intergrow, consultoria para programas de governança corporativa, gestão de riscos e compliance. Com base na leitura do texto, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: O assédio silencioso e as facetas da violência institucionalizada no Brasil. Veja só, o primeiro texto é um post do Conselho Nacional de Justiça - CNJ que define o que é assédio. Assim, você já tem representado, nesse post, do que se trata o assunto, não precisando pensar muito. Assim sendo, nesse primeiro texto, por meio da definição de assédio sexual: “Abordagem, não desejada pelo outro, com intenção sexual ou insistência inoportuna de alguém em posição privilegiada que usa dessa vantagem para obter favores sexuais de subalternos ou dependentes”, observa-se as expressões “posição privilegiada” e “subalternos”, as quais apontam uma das abordagens que pode ser explorada no seu texto, isto é, o abuso no ambiente trabalhista. @prof.aristocrates Ademais, há também a definição de assédio moral, indicando, assim, outra vertente a ser abordada sobre o tema “assédio”. Assédio moral “é toda conduta abusiva que, intencional e frequentemente, fira a dignidade e a integridade física ou psíquica de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho”. Do mesmo modo, atente-se ao uso de expressões trabalhistas, como “trabalho” e “emprego”, que novamente indicam uma abordagem do tema voltada ao assédio no ambiente de trabalho. Logo, resta claro que você tem, praticamente, a obrigação de abordar a dimensão do trabalho dentro da sua redação. Dessa forma, com a leitura dos dois textos motivadores, é possível definir o que você deve discutir, ou seja, você não precisa pensar muito para identificar que a banca espera que a questão do assédio no trabalho seja abordada. Em suma, para alcançar uma boa nota e evitar o tangenciamento do tema, você deve obedecer ao que está explicito nos textos de apoio sobre o que se espera que seja abordado. Ainda, se você quiser mencionar outras vertentes, como racismo, homofobia, entre outras, que são realidades que podem ser vinculadas também ao assédio, primeiro verse sobre o abuso sexual e moral no cenário de trabalho. Com isso, se você já tiver versado sobre essa delimitação e tiver sobrado espaço, você tem liberdade para trazer outras linhas argumentativas para complementar a sua redação. Em síntese, recapitulando o que já foi dito, a base da redação é a defesa de um ponto de vista. Todavia, como já foi dito, não é somente a sua opinião, mas sim o ponto de vista, o recorte de discussão, que esses textos de apoio direcionam para você. Então, não se deve pular os textos de apoio na hora de escrever, mesmo que você ache que já domina o assunto, uma vez que, se você desenvolver somente abordagens que não foram delimitadas nos textos de apoio, você poderá comprometer drasticamente a qualidade do seu texto. Isso é um fato inquestionável, com exceção de concursos de nível superior que determinam tópicos vinculados a áreas específicas do concurso, como ocorre, principalmente, nos concursos da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal ou do próprio Senado. Esses são certames diferentes que exigem, muitas vezes, outro tipo textual, por exemplo, a dissertação-expositiva. @prof.aristocrates No mais, no tema de assédio sexual e moral, outros detalhes vinculados à natureza do assédio podem vir vinculados nos outros textos de apoio da redação, por exemplo, a questão da desigualdade salarial, o humor usado de forma controversa e bastante questionável, as famosas “piadinhas”, a ética e a reforma trabalhista, entre outras abordagens. Esses são recortes que, se estiverem delimitados nos textos de apoio, podem ser utilizados para defesa de um ponto de vista sobre o tema. Entretanto, novamente, deve-se ressaltar que você não deve copiar os textos de apoio. Lembre-se, você não está em um concurso de caligrafia, ok? Assim, você deve apenas usar essas ideias, essa linha de defesa para elaborar a sua redação, mas por meio das suas próprias palavras e, preferencialmente, utilizando referências e exemplos próprios. Compreendido esses dois pontos abordados, defesa de um ponto de vista e alinhamento ao texto de apoio, destaca-se a importância de identificar, na sua prova, os recortes específicos dentro de uma área maior. Em todas as provas, invariavelmente, esses recortes estarão presentes na frase temática. Por exemplo, o tema da proposta apresentada acima expõe a questão do assédio, mas com um recorte bem específico: O assédio silencioso e as facetas da violência institucionalizada no Brasil. Nesse caso, se você observar atentamente, não é abordado apenas o assédio puro e simples. Há, na frase tema, um recorte sobre o assédio silencioso e as facetas da violência institucionalizada no Brasil. Fique atento a esses recortes. Na sua redação, você deveria abordar não só o abuso, mas o assédio silencioso, ou seja, a carência de denúncias ou de olhares específicos sobre essa área e sobre o fato dessa violência ser institucionalizada, isto é, normalizada em algumas instituições. Outro recorte é o país onde essa problemática deve ser destacada, quer dizer, o Brasil. Logo, a banca não quer que você exponha o assédio silencioso que acontece na Europa, na Coréia, muitos menos na Índia, mas sim o que acontece no Brasil. Dessa forma, você deve mencionar esse recorte no seu texto. @prof.aristocrates a rg u m e n ta ti v a Assim sendo, uma dica é que, ao receber a prova, você já pegue a sua caneta e marque essa palavras-chave/recortes, risque, faça setas, aponte, desenhe um balão, faça qualquer forma de destaque que te permita delimitar os tópicos que devem ser abordados na sua redação. Ainda, a não menção desses termos no seu texto representam um tangenciamento do tema, o que pode fazer com que a sua nota seja zerada ou cortada, aproximadamente, pela metade. Portanto, é importante que você traga esses recortes dentro do seu texto, pelo menos uma vez em cada parágrafo. Assim, nos parágrafos de introdução e desenvolvimento, deve aparecer as palavras-chave “assédio silencioso”, “violência institucionalizada” e “Brasil”. Não se preocupe se o texto vai ficar feio ou repetitivo, o primordial é não tangenciar o tema, deixando claro para a banca a menção aos tópicos. Além disso, outra dica importante é iniciar a sua redação transcrevendo os recortes do tema, por exemplo: o assédio silencioso representa uma das facetas da violência institucionalizada no Brasil. A cópia da frase-tema é uma forma de garantir que você não tangencie o assunto, permitindo, assim, que você fique dentro das vagas. Atente-se ao esquema abaixo para melhor compreensão do que deve ser feito ao ler a proposta de uma dissertação-argumentativa:D is s e rt a ç ã o - Defesa de um ponto de vista Alinhamento aos textos de apoio Delimitação e inclusão dos recortes do tema na redação @prof.aristocrates Então, de forma resumida, na sua dissertação-argumentativa, você deve identificar o ponto de vista a ser defendido, o qual já foi apontado no texto de apoio, alinhar a sua argumentação aos assuntos destacados nos textos de apoio e, por fim, delimitar e incluir os recortes do tema na sua redação. Realizando esses três passos, você já garante, pelo menos, metade da nota. Além do tema de assédio, você pode se deparar com assuntos mais “espinhosos” na sua prova, principalmente quando envolver uma pergunta. Esse tipo de tema em forma de pergunta pode aparecer com frequência, e você deve tomar cuidado. Com isso, vamos analisar uma proposta de redação em forma de pergunta sobre a obesidade. Mas antes disso, você pode questionar: Por que eu tenho que saber sobre obesidade se eu vou fazer a prova da Polícia Militar? Não se engane, não cai só segurança pública em provas militares nem cai só temas sobre o mercado financeiro em provas de banco. Nesse viés, você precisa entender que a banca cobra temas atuais e de debate, o que justifica o tema “obesidade”, eis que faz parte do universo das atualidades. Assim, você precisa dominar todos os assuntos em destaque na atualidade para tirar uma boa nota na prova. Diante disso, vamos analisar o tema “Obesidade: problema de saúde pública ou construção estética e social?”. Primeiramente, para escrever a sua redação, você precisa responder essa pergunta já no início do seu texto. Caso você não faça isso, você perde ponto não só no entendimento do tema, como também na avaliação da estrutura textual dissertativa-argumentativa, a qual se relaciona diretamente com a defesa de uma opinião, como já foi destacado aqui várias vezes. Logo, se você não decidir entre essas duas áreas que o seu tema menciona, “problema de saúde pública” e “construção estética e social”, você não se posiciona e não se adequa ao gênero textual exigido pela banca. Com isso, surge o questionamento: posso me guiar pelos textos de apoio, como foi explicado anteriormente? Sim, você deve utilizar os textos de apoio para guiar a defesa da sua opinião. Sendo assim, vamos analisar os textos do tema “Obesidade: problema de saúde pública ou construção estética e social?”: @prof.aristocrates Texto I Entrevista da BBC BRASIL com o endocrinologista brasileiro Walmir Coutinho, que preside a World Obesity Federation BBC Brasil – O que significa ter metade das crianças pequenas brasileiras comendo bolachas e boa parte delas bebendo refrigerante e suco artificial? Coutinho – Esses dados dão a medida de uma tendência que outros estudos já haviam mostrado. O consumo excessivo de alimentos e bebidas pouco saudáveis estão hoje é um problema seríssimo no Brasil. E, se continuarmos nesse ritmo de crescimento da obesidade, seremos o país com mais obesos do mundo em 15 anos. BBC Brasil – Olhando o lado da alimentação da criança brasileira, quem são os principais vilões atualmente? Coutinho – Há os vilões invisíveis, especialmente suco de fruta artificial e iogurte. O pai e a mãe acham que estão dando algo saudável para as crianças, mas são produtos que tem muitíssimo açúcar. Fora isso, é preciso lembrar que os alimentos mais baratos são os que mais engordam. BBC Brasil – E como isso é prejudicial? Coutinho – É um fenômeno chamado de transição nutricional, em que as pessoas que conseguem superar a falta de alimentos começam a ter acesso aos produtos mais baratos, que costumam ser altamente industrializados. Sair do supermercado com saquinho de batata frita, salgadinhos, biscoitos e chocolates é mais barato do comprar frutas e verduras. A população de baixa renda também costuma ter menos tempo e infraestrutura para praticar atividade física. BBC Brasil – Quais os principais impactos em alguém que passa pela infância sendo obeso? Coutinho – O impacto na saúde da criança é mais conhecido. A obesidade traz problemas graves como hipertensão arterial muito alta, problemas osteoarticulares em partes do corpo como joelho, coluna e tornozelo, além de asma e diabetes. Mas também há o lado psicológico, que muitas vezes é subvalorizado. As pessoas não se dão conta do impacto psicológico de apelidos dados a essas crianças, do isolamento em que elas vivem e de estereótipos como o menino gordinho que só pode jogar no gol, por exemplo. São situações que causam traumas que podem ser levados para a vida adulta. @prof.aristocrates Publicação em 26.8.15 Texto II “Desde que o pânico sobre o aumento de peso da população emergiu na década de 1990, essa visão negativa das pessoas gordas tem se intensificado”, diz a socióloga australiana Deborah Lupton, professora da Universidade de Sydney e autora de Fat (“Gordo”, não lançado no Brasil). O livro, publicado em 2012, analisa como tem se espalhado um estigma sobre os cidadãos acima do peso, “vistos como pessoas gananciosas, sem autocontrole, desorganizadas, até grotescas”. Na TV, gordos são ridicularizados, sofrendo para fazer dieta e se exercitar em frente às câmeras. Fala-se de uma “epidemia de obesidade”, e gordos recebem olhares de desaprovação, como se fossem emissários da peste negra. Companhias aéreas e marcas de roupas penalizam seus clientes mais pesados. No Brasil, o sobrepeso virou critério de seleção em concursos públicos e se transformou em nota de corte no mercado de trabalho – em uma entrevista, o publicitário e apresentador de TV Roberto Justus decretou que não se deve contratar quem está acima do peso, pois isso seria um sinal inequívoco de desequilíbrio e falta de inteligência. “Muitas campanhas contra a obesidade acabam envergonhando a quem deveriam ajudar, além de incitarem o ódio à gordura”, diz Deborah. Para ficar bem claro: gordura corporal em excesso é, sim, um perigo. “Uns 30% dos obesos podem ter um perfil metabólico e cardiovascular dentro da normalidade. Mas estudos mostram que pacientes com IMC (Índice de Massa Corporal, ou peso dividido pela altura ao quadrado) superior a 30 sempre têm risco aumentado para doenças cardíacas, vasculares, diabetes e câncer”, diz o endocrinologista Lício Veloso, professor da Unicamp e pesquisador de mecanismos da obesidade. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/onde-os-gordos-nao-tem-vez. Texto III Claire Walker Johnson vivia no Queens, em Nova York, e era um mistério para a medicina. Não importa o quanto ela comesse, ela nunca ganhava peso. Entretanto, Claire, de rosto fino e delgado, tinha os mesmos problemas enfrentados por muitas pessoas obesas – diabetes tipo 2, pressão sanguínea elevada, colesterol elevado e, o pior de tudo, um fígado cheio de gordura. http://super.abril.com.br/ciencia/onde-os-gordos-nao-tem-vez @prof.aristocrates Ela e um grupo muito pequeno de pessoas magras deram pistas surpreendentes aos cientistas a respeito de uma das principais questões sobre a obesidade: por que pessoas obesas muitas vezes desenvolvem doenças sérias e muitas vezes mortais? A resposta, ao que tudo indica, tem muito pouco a ver com a gordura. Na verdade, trata-se da capacidade de cada pessoa de armazenar essa gordura. Com isso em mente, os cientistas começam agora a desenvolver tratamentos que protejam às pessoas do excesso de gorduras não armazenadas, livrando-as de problemas médicos complicados. Por trás de todas essas condições e da síndrome metabólica; – ou seja, possuir ao menos três condições associadas à obesidade – está uma capacidade inadequada de armazenar gordura. As pessoas obesas desenvolvem problemas metabólicos porque seu cérebro ordena que elas comam mais que a capacidade do corpo de armazenar gordura. O tecido adiposojá atingiu o limite. Pessoas com lipodistrofia, como Claire, têm tão pouco tecido adiposo que também não conseguem armazenar a gordura que seu corpo produz para guardar as calorias excessivas oriundas dos alimentos consumidos. “As pessoas geralmente pensavam no tecido adiposo como um depósito inerte, uma espécie de gosma branca amorfa” afirmou o Dr. Sam Virtue da Universidade de Cambridge. Na verdade, “trata-se de um órgão muito dinâmico”. Isso também explica porque entre 10 e 20% das pessoas obesas não desenvolvem quaisquer problemas metabólicos, afirma Philipp E. Scherer, diretor do Centro de Diabetes Touchstone, no Centro Médico Southwestern, da Universidade do Texas, em Dallas. Esses obesos saudáveis são como ratos gordos com uma habilidade incomum de expandir o tecido adiposo para armazenar calorias. Nesse primeiro texto, tem-se uma entrevista à BBC Brasil com o endocrinologista Valmir Coutinho, o qual aborda a obesidade como um problema de saúde do início ao fim da entrevista. Além disso, no texto II, observa-se um recorte sobre a origem da obesidade dentro do cenário brasileiro, em que é destacado o fato de essas pessoas serem ridicularizadas por serem gordas. Em contraposição, no último parágrafo deste texto, tem-se também a afirmação de que a gordura corporal em excesso é sim um perigo, eis que estudos mostram que pacientes com IMC superior a trinta @prof.aristocrates sempre têm risco aumentado de desenvolver doenças cardíacas, vasculares, diabetes e câncer. Outrossim, no texto III, estudiosos indicam que obesos, muitas vezes, desenvolvem doenças sérias e, na maioria das vezes, mortais, por causa da dificuldade em armazenar gordura. Com isso, o texto explica que as pessoas obesas desenvolvem problemas metabólicos porque seu cérebro ordena que elas comam mais que a capacidade do corpo de armazenar gordura, o que pode representar um problema de saúde. Diante desses textos motivadores, seguindo a lógica já ensinada, há um direcionamento da banca em defender a questão da obesidade como um problema de saúde pública. Isso quer dizer que é obrigado defender esse posicionamento? Não exatamente, mas é mais seguro você direcionar seu texto para um problema de saúde, tendo em vista que esse foi o foco aparente da banca ao selecionar os textos de apoio. Isso também não quer dizer que o seu posicionamento precisa ser taxativo e extremista. Você pode defender que a obesidade é mais um problema de saúde pública do que uma construção estética ou social. Esse é um posicionamento que deixa relativizada a realidade, isto é, o fato de a obesidade ser um problema de saúde pública não a impede de ser também uma construção estética e social. Assim, você pode defender uma opinião em que a demanda de saúde pública é mais significativa para a obesidade do que as demandas estéticas e sociais. Em síntese, a defesa de um dos tópicos não precisa obrigatoriamente anular o outro. Além disso, nos textos de apoio, é possível identificar direcionamentos sobre gordofobia, o que pode ser utilizado para mencionar que há sim problemas estéticos e sociais, porém a questão de saúde pública predomina. Ainda, para que essa relativização fique explícita, é necessário enfatizar esse posicionamento em toda a redação, isto é, na introdução e no desenvolvimento. Logo, você deve reforçar o seu posicionamento, tendo em mente que você está desenvolvendo uma dissertação com opinião, ponto de vista. Em síntese, para uma boa redação dissertativa-argumentativa, é preciso ter bom senso e equilíbrio. Assim, se você for capaz de @prof.aristocrates relativizar, você conseguirá demonstrar domínio sobre a realidade e uma percepção mais ampla a respeito do tema. No mais, pode-se resumir tudo o que você precisa fazer no passo a passo a seguir: 1º Passo: abra a prova e leia com atenção e cuidado os textos de apoio; 2º Passo: identifique e marque de alguma forma os posicionamentos dos textos; 3º Passo: identifique e marque as palavras-chave da frase temática, isto é, o recorte da redação; 4º Passo: delimite o posicionamento a ser defendido; 5º Passo: avalie e anote os argumentos que podem ser usados; 6 º Passo: utilize, durante toda a sua redação, as palavras-chave selecionadas da frase temática. Por fim, algumas dicas importantes também podem ser acrescentadas: Dica 1 – Quando tiver dúvidas, volte sempre à proposta de redação, para ter certeza de que você não está tangenciando o tema; Dica 2 – Utilize as palavras centrais, mas de preferência alterando a ordem ou parafraseando os elementos; Dica 3 – Leia uma primeira vez os textos de apoio para compreender o tema e releia novamente marcando os pontos e tópicos importantes; Dica 4 – Pratique o hábito da leitura fazendo todo o processo ensinado para que no dia da prova você não perca muito tempo na análise do tema; Assim, seguindo esses passos e dicas, você conseguirá bons resultados em qualquer prova que você faça na vida. @prof.aristocrates ❖ O que você não pode esquecer? - Os projetos que estão em debate no Senado e na Câmera são possíveis temas que podem cair na prova; - A dissertação-argumentativa exige um posicionamento, ou seja, a defesa de uma tese; - O posicionamento da sua redação deve estar claro e explícito em toda a sua dissertação; - O ponto de vista defendido deve ser estabelecido diante do direcionamento da banca presente nos textos de apoio; - Os textos motivadores devem ser lidos com atenção e cuidado para identificação dos posicionamentos que podem ser defendidos; - Os recortes temáticos, palavras-chave da frase temática, obrigatoriamente, devem ser repetidos em toda a sua redação; - A pergunta temática sempre deve ser respondida; - A relativização pode ser utilizada para defender um argumento, ou seja, não é necessário anular um tópico para defender outro. @prof.aristocrates Inclusão dos recortes temáticos Alinhamento aos textos de apoio Defesa de um posicionamento DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA ❖ Esquema dos pontos importantes para elaboração de uma redação dissertativa-argumentativa: PASSO 2 MONTANDO O PROJETO DE TEXTO: INTRODUÇÃO Agora, vamos entender a parte mais importante do texto, a introdução. Isso mesmo, a introdução é o parágrafo mais valioso da sua dissertação, pois é o trecho que determina ao corretor se você entendeu a proposta, se sabe desenvolver uma redação e se tem domínio do conteúdo. Logo, na elaboração da introdução, você deve dedicar o máximo de atenção e cuidado a esse primeiro parágrafo, uma vez que é o primeiro trecho a ser lido pelo corretor ou qualquer outra pessoa. Assim sendo, quando o revisor se depara com a correção, ele já sabe se o candidato tem ou não potencial para construir uma boa redação. Dessa forma, precisamos dar muita atenção à forma como distribuímos as informações na introdução, tendo em vista que o corretor tem um prazo mínimo para corrigir a redação, logo ele já julga o seu texto nas primeiras linhas. Então, para não causar uma péssima primeira impressão, vamos entender o que se espera para esse parágrafo. No esquema a seguir, é possível identificar as quatros informações essenciais para uma introdução perfeita e completa: @prof.aristocrates IN TR O D U Ç Ã O Problematização Contextualização Posicionamento Antecipação dos argumentos @prof.aristocrates A primeira informação importante a ser apontada na sua introdução é o problema que esse tema envolve. Nesse sentido, antes de iniciar a sua redação, você deve identificar a problemática a ser abordada na sua dissertação. Mas você pode questionar: toda redação tem um problema? Sim, toda redação é essencialmente um debate sobre um problema, a qual pode polemizar sobrequestões sociais, comportamentais, econômicas e questões de segurança pública. Assim, invariavelmente, há um problema na sua redação, e ele deve ser a matriz de abertura do seu texto. Sabe-se que um dos maiores pesadelos de quem escreve redação é como iniciar um texto. Os estudantes acreditam que é preciso acrescentar uma palavra ideal ou expressão sofisticada para iniciar a redação. No entanto, muitos se enganam, não é uma expressão, palavra ou matriz sofisticada que tornará o seu texto mais culto ou ideal. A melhor forma de iniciar a sua dissertação é fazer uma abertura com o próprio problema, isto é, a convergência do que os textos de apoio apontam e a frase temática. Para visualizar isso na prática, segue a seguir um trecho de uma introdução com o tema “Universalização do acesso aos serviços de saúde entre a população brasileira” escrita pelo aluno Pedro Henrique Ribeiro de Almeida. Introdução – “No contexto social vigente, é notório o debate da universalização da saúde entre a população brasileira, uma vez que são uma grande quantidade de pessoas, espalhadas por um enorme território e que possuem realidades econômicas distintas. Nesse viés, é necessário ressaltar que a Constituição Federal de 1988 assegura serviços de saúde de qualidade para todos como dever do Estado. Contudo, não é esse o cenário do Brasil nos dias de hoje, já que o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta vários problemas de infraestrutura e de cunho econômico, sobretudo em comunidades periféricas e do interior do país, fazendo com que parcela da população seja desamparada”. Legenda: Palavras-chave Problematização Contextualização Posicionamento @prof.aristocrates Na primeira sentença do parágrafo, destacada de laranja, pode-se observar que o recorte do tema “Universalização do acesso aos serviços de saúde entre a população brasileira” foi transcrito e ampliado por meio de uma breve explicação da problemática. Nesse trecho, o autor menciona brevemente o problema ao destacar que a grande quantidade de pessoas espalhadas por um enorme território possui realidades econômicas distintas. Provavelmente, no texto de apoio do aluno, havia algum texto que mencionasse essa realidade, e ele simplesmente adaptou à sua introdução. Logo, o redator conseguiu fazer uma excelente abertura para sua redação, o que mostra que, para iniciar a introdução, não é necessário malabarismo nem expressões “mágicas”, mas sim levar a problematização do tema para o parágrafo. Então, em síntese, o primeiro passo é problematizar o tema, desenvolvendo, assim, uma demanda de problema em torno do assunto. Nesse viés, ressalta-se que quase todos os temas de redações dissertativas-argumentativas, como concursos, vestibulares e Enem, precisam ser problematizados. Além da problematização, é preciso apresentar um contexto ao tema, isto é, uma informação externa – cinema, literatura, série, sociologia, filosofia, história, fatos reais, leis etc. – a ser acrescentada na realidade da problemática do tema. A exemplo, pode ser mencionado o período histórico em que surgiu o problema, um filme ou livro que retrate esse óbice ou, até mesmo, uma lei brasileira que mencione ou vise solucionar a problematização do assunto. Diante disso, a contextualização se torna tão importante quanto apontar a problemática referente ao assunto, pois é por meio dessas referências que você mostrará para o corretor que você entende em que contexto esse empecilho se encaixa dentro da realidade. Continuando a análise da introdução do aluno Pedro Henrique, mencionada acima, pode-se perceber que houve uma contextualização do tema, no segundo período, na menção do autor à Constituição Federal de 1988. Por meio dessa referência, ele conseguiu explicar que, mesmo com a preservação dos serviços de saúde de qualidade para todos como dever do Estado, esse direito não é plenamente cumprido, eis que o SUS enfrenta vários problemas infraestruturais de cunho econômico. Dessa forma, o autor do texto conseguiu usar a Constituição @prof.aristocrates da República como um dos paradoxos da realidade brasileira, apontando a contradição entre o que a Constituição assegura dentro do nosso modelo democrático e a realidade brasileira. Em síntese, esse paradoxo cabe em diversos temas, uma vez que de um lado há uma Constituição erguida sobre preceitos cidadãos de equidade, de justiça e de liberdade, que assegura os direitos sociais ao trabalho, à moradia, à saúde, à educação e à segurança e, por outro lado, há uma carência na execução desses direitos. Portanto, como uma das sugestões de contexto, esse tipo de contradição pode ser utilizado em diversos temas de redação. Além disso, o aluno Pedro Henrique, na sua introdução, conseguiu apontar duas das informações necessárias para elaboração desse primeiro parágrafo, isto é, a apresentação do problema e o contexto vinculado à Constituição. Além desses dois elementos, o redator aponta também a terceira informação necessária, o posicionamento sobre o tema. Ao ler atentamente o tema da redação “Universalização do acesso aos serviços de saúde entre a população”, é possível observar que a temática não indica um posicionamento, eis que pelo recorte temático não se sabe se essa “universalização” é boa ou não, viável ou não. Todavia, mesmo assim, o aluno conseguiu defender uma tese de que a universalização não tem acontecido da forma necessária. Ainda, do ponto de vista social e econômico, ele contextualiza essa problemática ao defender que a universalização é aprovada por lei, mas não é efetivamente executada por meio do SUS. Logo, como pode ser observado, o redator conseguiu apontar os três elementos necessários para a realização de uma introdução. No mais, se você quiser, você pode acrescentar esses elementos em duas frases ou separar uma informação para cada sentença. Assim, você evita cometer erros de pontuação ao tentar escrever períodos longos, tendo em vista que escrever frases curtas é um dos segredos para não errar a gramática, como no uso da vírgula. Então, você pode escrever uma primeira frase para problematizar o tema, uma segunda para contextualizar e uma terceira para se posicionar. @prof.aristocrates Além desses três elementos essenciais para a introdução, temos a quarta e última informação que não pode faltar no seu parágrafo, os tópicos a serem desenvolvidos na sua redação. Nesse sentido, você precisa apontar, ao final da sua introdução, quais tópicos serão desenvolvidos nos parágrafos de desenvolvimento. Lembrando que, para seleção dos seus argumentos, você deve seguir as linhas argumentativas dos textos motivadores para não tangenciar ao tema. Aí, você pode questionar: quantos argumentos eu posso escolher? Identifiquei 5 tópicos, posso abordar todos? Não, por ser uma redação de 30 linhas, você deve se atentar à qualidade e não à quantidade, ou seja, prefira desenvolver uma pequena quantidade de argumentos bem desenvolvidos do que uma grande quantidade de argumentos superficiais e genéricos, mal desenvolvidos. Para isso, o ideal é que você selecione apenas dois tópicos, os quais devem ser elaborados em parágrafos separados, quer dizer, um tópico para cada parágrafo de desenvolvimento. Ainda, sobre esses tópicos, você pode utilizar um argumento identificado nos textos de apoio e outro de sua escolha. Logo, você não tem a obrigação de usar apenas os textos motivadores para basear a sua argumentação, ok? Voltando à análise da introdução do Pedro Henrique, podemos observar que ele não apontou os tópicos a serem desenvolvidos. Assim, mesmo tendo acrescentado os três elementos essenciais da introdução de forma satisfatória, ele não elaborou um parágrafo completo com as quatro informações necessárias, o que poderia prejudicar sua nota final no que se refere à coesão, ou seja, à organizaçãodo texto. Para compreensão de uma introdução completa, segue a seguir a introdução da aluna Gabriela Gonçalves Caixeta sobre o tema “A cultura da meritocracia na sociedade brasileira contemporânea e sua relação com a desigualdade”: Introdução – “Após as Revoluções Industriais, do século XVIII, devido à mudança da manufatura para a maquinofatura, houve o refinamento do trabalho. Nesse cenário, os trabalhadores mais aptos eram escalados para os @prof.aristocrates cargos. Nesse contexto, até os dias de hoje na sociedade brasileira contemporânea, somente os indivíduos mais preparados são selecionados. Porém, devido a cultura meritocrática, as diferenças nas ferramentas que cada um obteve para se especializar são ignoradas, o que gera uma grande desigualdade. Dito isso, emerge a necessidade de análise de duas realidades: a negligência cultural e a culpabilização da vítima”. Legenda: Palavras-chave Problematização Contextualização Posicionamento Antecipação dos argumentos Em primeira análise, podemos observar que esse tema “A cultura da meritocracia na sociedade brasileira contemporânea e sua relação com a desigualdade” possui três palavras-chave: “cultura da meritocracia”, “sociedade brasileira contemporânea” e “desigualdade”. Ainda, pode-se destacar que, geralmente, a frase temática pode ter entre três e cinco palavras-chave. No que se refere à redação da Gabriela, podemos observar que, diferentemente da introdução anterior do Pedro Henrique, ela não começou com a problematização do tema, mas sim com a contextualização. Então, cabe questionar: a ordem dos fatores altera o produto? Não, mas começar com a problemática pode ser mais aconselhável e seguro para que o corretor já identifique a problematização do tema. Na introdução da aluna, é possível identificar que ela conseguiu contextualizar, problematizar o tema, acrescentar um posicionamento e apontar os argumentos a serem desenvolvidos. Ademais, pode-se perceber que a redatora acrescenta as palavras-chave do tema na problematização e no posicionamento, o que poderia ter sido feito, preferencialmente, na indicação do problema no início do texto, como fez anteriormente o aluno Pedro Henrique em sua introdução. Não obstante, em distinção ao trecho de introdução escrito pelo aluno Pedro Henrique, esse trecho da aluna Gabriela aponta os tópicos @prof.aristocrates dos argumentos a serem desenvolvidos de forma clara e direta, em uma frase que destaca o que será argumentado, isto é, a “negligência cultural” e a “culpabilização da vítima”. Nesse viés, nessa última sentença, ela conseguiu indicar ao corretor os assuntos a serem abordados em cada parágrafo, não deixando margem para confusões no que se refere aos tópicos que serão desenvolvidos. Com isso, essa última frase é um excelente exemplo de como você pode antecipar os argumentos. Assim sendo, a aluna conseguiu, de forma coesa e organizada, apontar os quatro elementos essenciais para uma introdução completa: problematização; contextualização; posicionamento; e antecipação dos argumentos; Diante da explicação acima, o passo a passo a seguir indica a melhor forma de organizar a sua introdução: 1º Passo – Apontar a problematização do tema logo na abertura do parágrafo, utilizando as palavras-chave da frase temática; 2º Passo – Contextualizar a problemática em seguida; 3º Passo – Destacar o posicionamento, o qual pode estar incluído nas sentenças dos elementos anteriores ou separado em uma única frase; 4º Passo – Antecipar os tópicos a serem desenvolvidos. Ainda, se você está com dificuldades para iniciar a sua redação, vejamos um modelo de introdução sobre o tema anterior “A cultura da meritocracia na sociedade brasileira contemporânea e sua relação com a desigualdade”: Introdução – “A realidade vivida em torno da cultura da meritocracia na sociedade brasileira contemporânea tem sido um dos maiores desafios no que se refere à desigualdade. Sua conjuntura se relaciona diretamente com o passado, mais especificamente com a Revolução Francesa, em que foi estabelecido que todos deveriam ascender socialmente através do esforço próprio. Nesse viés, seus efeitos, infelizmente, se alastram e tornam a vida quase impraticável, eis que a classe mais desfavorecida não consegue acender @prof.aristocrates socialmente competindo com as classes privilegiadas. Diante disso, é fundamental a análise da ausência de direitos e da má distribuição de renda”. Legenda: Palavras-chave Problematização Contextualização Posicionamento Antecipação dos argumentos Algumas informações importantes também podem ser acrescentadas para que você elabore uma excelente introdução: Dica 1 – Escreva uma introdução com no máximo 4 frases; Dica 2 – Não deixe o seu parágrafo introdutório maior que os parágrafos de desenvolvimento; Dica 3 – Prefira escrever as frases em ordem direta (sujeito + verbo + complemento); Dica 4 – Defenda o seu ponto de vista sem ferir os direitos humanos (ex.: bandido bom é bandido morto); Dica 5 – Evite generalizações (ex.: com certeza, nunca, todo político é corrupto); Dica 6 – Utilize conjunções e locuções conjuntivas para conectar as sentenças e orações (ex.: diante disso, nesse sentido, logo, portanto, assim, tendo em vista que, uma vez que etc.); Dica 7 – Não invente referências para contextualizar o problema nem use sem ter certeza se faz sentido com o tema; Dica 8 – Pesquise e anote algumas referências que você pode utilizar na hora de escrever a sua redação. Tenha um caderno com várias referências para diversos temas; Dica 9 – Se atualize, leia notícias, artigos, assista filmes e séries, decore algumas leis que podem ser utilizadas em diversos temas; @prof.aristocrates “Debate-se muito, correntemente, que…” “Segundo a historiografia, nota-se que…” "Tendo em vista a atual situação ...., observa-se que..." "Levando em consideração ..., ressalta-se que..." "Historicamente, ...., tendo em vista que. .. " "Certamente/Por certo .... , visto que..." “Atualmente, … é um desafio da sociedade contemporânea, uma vez que...” "Ao passo que a crise .... diminui, ..... aumenta" "Muito se discute sobre...., devido ..... " "Em face do cenário atual, .... " “Ao contrário do que se pensa…” “Comenta-se com frequência a respeito de … , eis que ...” Dica 10 – Antes de iniciar a sua redação, faça um esquema com o que você vai abordar em cada parte, principalmente na introdução. Evite construções batidas e clichês para escrever a sua introdução, mas, se necessário, alguns trechos podem ser utilizados para iniciar esse primeiro parágrafo: Essas são apenas algumas das frases que podem ser utilizadas na sua introdução. Com a prática, você não precisará de frases prontas para iniciar o seu texto. Por fim, se você estiver com dificuldades para contextualizar a sua introdução, algumas estratégias podem ser utilizadas para contextualizar o tema, por exemplo: exemplificação, narração, alusão histórica, citação, definição e comparação. @prof.aristocrates A exemplificação, por exemplo, pode ser apresentada utilizando dados estatísticos ou informações de fontes confiáveis a fim de enriquecer a sua contextualização. Todavia, deve-se tomar cuidado com essa estratégia, eis que a fonte das informações deve ser citada, e não se pode omitir fatores que poderão distorcer o fato. A seguir, segue um exemplo da utilização da exemplificação na introdução: “Os índices de violência contra a mulher na sociedade brasileira são estarrecedores. Segundo o Mapa da Violência, mais de 43 mil mulheres foram assassinadas no Brasil só na última década (contextualização - exemplificação)”. A narração pode ser não-ficcional ou ficcional. Na narração não-ficcional, você pode trazer uma notíciaque leu nos jornais, um episódio da política ou até uma descoberta da Ciência. É importante garantir que a história seja verificável, pois o corretor precisa saber que o fato aconteceu ou, ao menos, encontrar facilmente na internet. Portanto, evite situações que aconteceram no seu bairro ou na sua família. Segue a seguir um exemplo de introdução com a narração de um fato não-ficcional: “Em 2014, no Guarujá, litoral paulista, uma mulher foi amarrada, espancada e morta na rua por dezenas de pessoas que, após lerem boatos na internet, a acusavam de utilizar crianças em rituais de magia negra (contextualização - narração não-ficcional). Essa história, assim como inúmeras outras semelhantes, são resultado da persistência da intolerância religiosa na sociedade brasileira”. Por outro lado, na narração ficcional, você pode escolher a situação de um livro, filme ou série que esteja relacionada ao tema apresentado na proposta e, a partir daí, mostrar como a vida imita a arte e vice-versa. Ou seja, você precisa trazer a situação ficcional para a realidade. Veja um exemplo abaixo: “No seriado ‘Orange is the New Black’, as detentas da prisão Lichfield organizaram uma rebelião para melhorar as condições de educação, alimentação e outros serviços prestados na instituição e obtiveram relativo @prof.aristocrates sucesso em suas demandas (contextualização – narração ficcional). Já na realidade brasileira, rebeliões em presídios não costumam acabar bem”. Como já foi visto, a alusão histórica também pode ser utilizada para contextualizar o tema. Para fazer uma contextualização histórica, destaque pontos da história em que houve a situação abordada no tema. Tome cuidado, sempre, para não fugir do tema. Ademais, cuidado para não usar mais do que 3 ou 4 linhas para o resgate histórico, pois você ainda terá que apresentar as outras informações necessárias na introdução. Vejamos a seguir um exemplo de introdução com alusão histórica: “Ao longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI, o pensamento machista consolidou-se e permaneceu forte. A mulher era vista, na transição entre a Idade Moderna e a Contemporânea, como inferior ao homem, tendo seu direito ao voto conquistado apenas na década de 1930, na Era Vargas (contextualização – alusão histórica). Mas o voto e as conquistas das últimas décadas não eliminaram o problema da violência de gênero”. Outra estratégia é a citação, uma das formas mais conhecidas de contextualizar o tema na introdução. Para que a utilização adequada da citação, é importante que a ideia citada esteja alinhada ao raciocínio que você vai desenvolver e à tese que você vai defender. A citação não é, necessariamente, a frase de um filósofo. Pode ser a fala de um político, de um artista ou até um trecho de uma música. Segue a seguir um exemplo de introdução utilizando a estratégia de citação: “Plano de saúde de pobre, fi, é não ficar doente”. O trecho da música “Boca de Lobo”, do rapper Criolo, mostra o drama da saúde pública no Brasil (contextualização - citação). Enquanto os ministros, senadores e membros do alto escalão do governo usufruem, junto da elite, de hospitais particulares reconhecidos internacionalmente, a população fica à mercê de um sistema de saúde lento e sobrecarregado”. Ademais, a definição pode ser utilizada como uma forma de contextualização do tema. Também chamada de “conceituação”, ela é uma estratégia em que o estudante explica um conceito que seja central para o tema proposto. Nesse caso, além de apresentar o conceito, deve-se mostrar porque ele é importante para o tema que será @prof.aristocrates abordado. No exemplo a seguir, podemos ver na prática essa forma de contextualização: “Isonomia é a noção, em lei, de que todos são iguais. Ruy Barbosa, uma vez, definiu o conceito da seguinte forma: ‘tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades’ (contextualização - definição). As leis, portanto, devem seguir essa diretriz e ser aplicadas de acordo com as transgressões”. Por último, a comparação também é uma forma de apresentar um contexto à problematização. A comparação pode ser com outro país, época ou civilização. Por exemplo, você pode mostrar como o Brasil poderia se inspirar no modelo de outro país para resolução do problema. Entretanto, é importante ter em mente que o que funciona em outro lugar pode não funcionar aqui, pois há características sociais distintas. Outro ponto importante: respeite a Constituição Brasileira e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assim, uma comparação com povos da antiguidade que lidavam de forma diferente com a justiça (pena de morte e justiça com as próprias mãos) pode tirar pontos da sua redação. Vamos ao exemplo: “Enquanto países como Israel, Finlândia, Suécia e Japão investem entre 3 e 4 por cento do PIB em pesquisa e desenvolvimento, esse número no Brasil é de 1,3 por cento (contextualização – comparação). Não à toa, enquanto esses países exportam tecnologia e produtos de alto valor agregado, o Brasil continua em sua posição de exportador de ‘commodities’”. No mais, vejamos um esquema para te ajudar a identificar alguns exemplos de referências a serem utilizados como contexto na sua introdução: @prof.aristocrates I e II Guerra Mundial Guerras Mundiais Períodos históricos Produções escritas e audiovisuais Legislação Estatuto da Criança e do Adolescente Arts. 1º ao 18 Revoluções Revolução Industrial, Revolução Francesa Períodos Período Colonial; Idade Média; Idade Moderna Movimentos literários Realismo; Romantismo; Modernismo Pensadores Filósofos e sociólogos Zygmunt Bauman; Hannah Arendt; Paulo Freire Filmes Bacurau; 1917; A Lista de Schindler; Séries Merlí; Chernobyl; Black Mirror Livros A revolução dos Bichos; A peste; O Homem Invisível Dados estatísticos IBGE; IPEA; CAPES Notícias BBC; G1; UOL Constituição Federal Arts. 3º, 4º, 5º Declaração dos Direitos Humanos Arts. 1º ao 7º Exemplos @prof.aristocrates ❖ O que você não pode esquecer? - A introdução é uma das partes mais importantes do texto, pois é o primeiro trecho a ser lido; - A introdução deve conter três elementos: problematização, contextualização, posicionamento e antecipação dos tópicos; - Preferencialmente, a problematização deve conter as palavras-chave do recorte temático; - Antes de iniciar a sua redação, os elementos a serem abordados devem ser identificados e esquematizados; - Não é preciso uma expressão, palavra ou matriz sofisticada para tornar a sua introdução mais culta ou ideal; - Todo tema precisa ser problematizado ao escrever uma dissertação- argumentativa; - A frase temática pode ter entre três e cinco palavras-chave; - A contextualização é a adição de uma informação externa a ser adicionada à realidade do problema, como cinema, literatura, sociologia, filosofia, história, legislação; - Paradoxos, citações, alusões históricas, narrações, exemplificações, definições e comparações podem ser utilizados como contexto; - Os quatro elementos da introdução (problema, contexto, tese e @prof.aristocrates tópicos) podem ser organizados em frases separadas ou não; - A ordem das informações na introdução não altera o resultado; - Devem ser selecionados, preferencialmente, apenas dois tópicos a serem desenvolvidos; - Um dos tópicos deve ser selecionado do texto motivador e o outro pode ser uma escolha própria. PASSO 3 MONTANDO O PROJETO DE TEXTO: DESENVOLVIMENTO Então, se a introdução é o parágrafo mais importante, o desenvolvimento é tão necessário quanto. Nesse sentido, precisamosentender bem como evoluir o texto, conduzir as ideias e organizar isso tudo dentro do parágrafo. Recapitulando alguns pontos importantes que você precisa se recordar. Assim, cabe relembrar que as matrizes de desenvolvimento do seu texto são basicamente as mesmas que estão no texto de apoio. Além disso, lembre-se que pelo menos um desses parágrafos deve abordar a mesma linha, a mesma posição ou um dos argumentos que esse texto de apoio traz. Ainda, como já foi explicado, não é seu papel copiar esses textos, eis que a redação não é uma prova de copista, mas sim uma prova de produção, de criatividade, que envolve pontos de vista, opiniões etc. Assim sendo, você não deve transcrever as ideias nem as informações dos textos de apoio, mas sim utilizar esses posicionamentos dos textos motivadores para desenvolver os seus argumentos, ok? Diante disso, cabe questionar: posso fazer dois parágrafos com a mesma posição que os textos de apoio? Sim. Posso fazer um parágrafo @prof.aristocrates seguindo os textos de apoio e outro parágrafo seguindo uma outra ideia que eu tenho sobre o assunto? Também pode. Quero mostrar um ponto de vista positivo e um negativo sobre o tema, posso fazer isso? Não é aconselhado, uma vez que a dissertação-argumentativa é o alinhamento de uma posição, um posicionamento, logo não caberia mostrar um ponto positivo e negativo. Então, se você escolheu um posicionamento negativo, você deve defendê-lo até o fim da sua redação. Ainda, cabe lembrar que o alinhamento fixo de uma posição não significa necessariamente um posicionamento rigoroso, extremado, polarizado, mas que pende para um dos lados. Finalmente, vamos ao que interessa. O que deve conter nos parágrafos de desenvolvimento? O primeiro dos aspectos fundamentais é o tópico frasal, uma vez que ele é essencial para indicar o que será desenvolvido e para organizar o seu parágrafo, visando a elaboração de um texto coeso. Como exemplo de uso do tópico frasal para iniciar o seu parágrafo de desenvolvimento, vejamos os parágrafos da aluna Gabriela Gonçalves Caixeta sobre “A cultura da meritocracia na sociedade brasileira contemporânea e sua relação com a desigualdade”: “Após as Revoluções Industriais, do século XIII, devido à mudança da manufatura para a maquinofatura, houve o refinamento do trabalho. Nesse cenário, os trabalhadores mais aptos eram escalados para os cargos. Nesse contexto, até os dias de hoje na sociedade brasileira contemporânea, somente os indivíduos mais preparados são selecionados. Porém, devido a cultura meritocrática, as diferenças nas ferramentas que cada um obteve para se especializar são ignoradas, o que gera uma grande desigualdade. Dito isso, emerge a necessidade de análise de duas realidades: a negligencia cultural e a culpabilização da vítima. Em primeira instância, a negligencia cultural faz com que, na maioria das vezes, muitas pessoas sejam prejudicadas. Sobre o assunto, o filósofo Hegel fala sobre o conceito de “subjetividade Cultural”, no qual diz que um indivíduo é formado através das milhares de influências que ele recebe ao longo da vida. Ou seja, não é possível caracterizá-lo analisando somente um aspecto, como fazem na meritocracia, quando apenas o intelecto é considerado e uma criança que nasceu na favela sem as mínimas condições para estudar, compete com outra, rica, que sempre frequentou escolas privadas. Logo, a cultura @prof.aristocrates meritocrática produz desigualdade e enquanto medidas públicas não forem criadas, a injustiça, infelizmente, prevalecerá. Em segunda instância, a culpabilização da vítima, faz com que, grande parte das vezes, mais desigualdade seja produzida. A respeito desse assunto, o sociólogo Darcy Ribeiro comenta que a democracia tornou-se um projeto falho, uma vez que o que foi prometido, normalmente, não está sendo feito. Nesse sentido, mesmo que a igualdade seja uma cláusula pétrea do artigo 5° da Constituição de 1988, isso não tem sido cumprido pelo Governo, que usa de culturas, como a meritocracia, para colocar sua irresponsabilidade no fracasso pessoal dos menos desfavorecidos nesse processo. Dessa forma, enquanto o Estado não reconhecer sua responsabilidade e gerar políticas públicas, as pessoas continuarão sendo vítimas dessa cultura desigual.” Legenda: Palavras-chave Antecipação dos argumentos Tópico frasal No parágrafo de introdução, já podemos perceber que a aluna citou os dois argumentos a serem desenvolvidos: a negligência cultural e a culpabilização da vítima. Com isso, nos tópicos frasais de cada parágrafo de desenvolvimento, os argumentos citados na introdução, devem ser utilizados para iniciar os parágrafos de desenvolvimento. Se observarmos, no segundo e terceiro parágrafos da aluna Gabriela, vemos a menção à negligência cultural e à culpabilização da vítima, expressões que constituem o tópico frasal desses parágrafos de desenvolvimento. Dessa forma, é possível perceber que essa primeira sentença deve ser simples, curta e objetiva. Ademais, para um tópico frasal completo, além da menção aos tópicos a serem abordados, é necessário que seja apontado os recortes da frase temática, como “cultura da meritocracia”, “sociedade brasileira contemporânea” e “desigualdade”. Ao analisar a redação da Gabriela, podemos perceber que a menção ao tema não foi feita de forma satisfatória, eis que apenas a palavra-chave “desigualdade” foi mencionada no terceiro parágrafo. @prof.aristocrates Em síntese, a criação desses tópicos frasais é essencial para a coesão e organização do seu desenvolvimento, permitindo, assim, que o corretor identifique quais argumentos serão abordados na sua redação. Agora, vamos analisar outra redação na intenção de identificar se o aluno conseguiu apresentar o argumento a ser desenvolvido e relacionar com o tema. Segue a seguir a redação da aluna Giovana Ceccato sobre o tema “Educação ambiental, sustentabilidade e formação crítica: quais os desafios do século para a sobrevivência do planeta”: “A educação ambiental no Brasil encontra sérios desafios em função da ineficiência em formar pessoas críticas e que praticam ações sustentáveis. Embora haja uma Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) nas escolas, há entraves no modo de ensino em relação ao meio ambiente, pois há um imediatismo em resolver os problemas ocasionados às áreas ambientais desde a primeira Revolução Industrial, no século XVII. Tal posicionamento revela uma situação de emergência para resolver os impactos que afligem a sobrevivência do planeta e a ineficácia das Políticas Públicas nesse canário. Dito isso, é urgente analisar o papel do Estado e os efeitos do conservadorismo. É importante ressaltar, em primeiro plano, que a função estatal frente ao ensino ambiental tem sido ineficiente. Nesse sentido, a Conferencia Ambiental de Estocolmo, que ocorreu em 1972, foi a primeira a planejar metas para preservar o meio ambiente e para praticar o desenvolvimento sustentável. No entanto, ainda que seja um marco revolucionário e histórico, alguns países, como o Brasil, não implementaram adequadamente as recomendações impostas. Prova disso são os constantes estudos, como o da Academia Brasileira de Ciência, que revelam a escassez dos recursos naturais, utilizados pelas indústrias, e o baixo incentivo na educação ambiental para conscientizar a sociedade sobre a realidade. Dessa forma, tais pactos se encontram em um contexto de urgência e, cada vez mais, difíceis de serem solucionados Cabe destacar, em segundo plano, que há um conservadorismo na educação brasileira que se encontra em colisão com o ensino sustentável. Nessa perspectiva, nossa didática tradicional, descrita como “educação bancária” pelo pedagogo Paulo Freire, basicamente é o ato de o professor ensinaros alunos através de comunicados que eles deram memorizar e repetir, @prof.aristocrates entretanto, tal método não é eficaz na contemporaneidade devido ao uso da tecnologia e dos meios de comunicação. Isso interfere na formação crítica dos indivíduos perante a questão ambiental, já que esse assunto é passado nas escolas por meio de conceitos e, muitas vezes, não há aulas interativas que proporcionam a atenção dos estudantes. Dessa maneira, tais quesitos dificultam as soluções para conter os impactos ao ambiente”. Legenda: Palavras-chave Antecipação dos argumentos Tópico frasal Comprovação teórico Fechamento do argumento Primeiramente, podemos perceber que a frase temática possui pelo menos 5 palavras-chave: “educação ambiental”, “sustentabilidade”, “formação crítica”, “desafios do século” e “sobrevivência do planeta”. Com isso, pode-se analisar brevemente que a aluna conseguiu apontar os recortes temáticos e destacou os tópicos a serem desenvolvidos na introdução. Além disso, retomando os elementos da introdução, a aluna apresentou as informações necessárias, ou seja, problematização, contextualização, posicionamento e antecipação dos argumentos. Diante disso, pode-se concluir que a introdução da Giovana está completa, sem fórmula “mágica” nem estrutura sofisticada. No que se refere aos tópicos frasais, a base dos parágrafos de desenvolvimento, pode-se observar que a aluna mencionou as palavras-chave do tema e apresentou os argumentos a serem desenvolvidos em cada parágrafo na primeira sentença. Em síntese, tópico frasal é a soma do tópico mencionado na introdução com o assunto maior desse parágrafo e o núcleo do tema. Ademais, não é necessário transcrever todas as palavras do recorte temático no tópico frasal. Pode-se apenas citar uma dessas palavras, uma vez que alguns temas possuem até 5 palavras- chave. @prof.aristocrates Depois do tópico frasal, temos uma das partes mais importantes e necessárias do desenvolvimento do seu argumento, a comprovação do que foi dito. Podemos dizer que a redação funciona mais ou menos como uma defesa de um processo na justiça, isto é, tudo o que você diz, você precisa comprovar. Para comprovação desse argumento, preferencialmente, você pode utilizar um campo teórico, por exemplo, uma matriz de lei, ciência, sociologia, história, filosofia, qualquer área, ou uma situação da realidade que comprove o que foi afirmado. Nesse sentido, para uma argumentação consistente e coesa, você precisa apresentar o tópico a ser desenvolvido e uma forma de comprovar esse tópico. Além disso, é necessário destacar que a referência utilizada para provar o seu argumento precisa vir do seu arcabouço sociocultural. Ou seja, você não deve copiar ou parafrasear as referências dos textos motivadores, mas sim utilizar o seu próprio repertório. Assim, é primordial que você estude os eixos temáticos, os temas mais prováveis, os projetos de lei do Senado e da Câmera, entre outros conteúdos atuais. Lembre-se, você não deve somente identificar os possíveis temas, você precisa pesquisar sobre o assunto, se inteirar, buscar dados e fatos importantes etc. Voltando a análise da redação da Giovana, podemos perceber que, após o tópico frasal, no segundo parágrafo, a aluna apontou a primeira conferência a planejar metas para preservar o meio ambiente e para praticar o desenvolvimento sustentável, a Conferência Ambiental de Estocolmo, que ocorreu em 1972. A partir desse marco revolucionário e histórico, a aluna destaca que essas recomendações impostas não são realizadas, eis que ainda há uma grande escassez dos recursos naturais, utilizados pelas indústrias, além de um baixo incentivo na educação ambiental para conscientizar a sociedade sobre a realidade. Assim, a aluna conseguiu comprovar o seu argumento de que o governo é ineficiente na resolução dos problemas ambientais, cumprindo com a estrutura esperada: tópico frasal e comprovação do argumento. Assim sendo, como já foi destacado, a sua bagagem cultural é essencial para a comprovação do seu tópico. Mas não basta apenas copiar uma frase famosa de um filosofo e acrescentar na sua redação, é necessário relacioná-la ao tópico e utilizar as suas próprias palavras para comprovar a sua argumentação. Assim, em síntese, pode se dizer que argumentar é a soma de um tópico @prof.aristocrates frasal com uma forma de comprovação, sem que seja necessário citações prontas e um linguajar sofisticado e rebuscado. Para encerrar o seu argumento, observa-se que a aluna fechou o seu segundo parágrafo apontando o impacto da ineficiência governamental e a necessidade de resolver a problemática. Logo, um parágrafo de argumento deve conter uma estrutura básica com: tópico frasal, comprovação teórica e finalização. Por fim, vamos analisar o terceiro parágrafo da Giovana para identificar se ela seguiu a estrutura adequada de um parágrafo argumentativo. Se analisarmos esse segundo argumento, podemos perceber que a aluna novamente conseguiu apontar as três partes necessárias, ou seja, o tópico frasal, a comprovação teórica e a finalização do argumento. Logo, ela apresenta dois argumentos bem desenvolvidos, consistentes e fundamentados. No tópico frasal, identificamos que a aluna conseguiu retomar o tópico citado na introdução e relacionar com o tema por meio da palavra-chave “ensino sustentável”. Em sequência, como forma de comprovação do seu argumento a respeito do conservadorismo na educação brasileira, ela explica, a partir do conceito “educação bancária” criado pelo autor Paulo Freire, que a forma de ensino baseada na memorização e repetição não é efetiva, uma vez que o ensino ambiental não deve ser apenas algo teórico, mas também prático. Por fim, ela finaliza com o impacto que esse ensino tem no meio ambiente. Em suma, a aluna conseguiu desenvolver o seu argumento de forma satisfatória. Todavia, ela poderia ter detalhado melhor como essa “educação bancária” é utilizada para o ensino sustentável, destacando, por exemplo, que conceitos como “ecossistema” e “sustentabilidade” são ensinados, mas não são colocados em prática, como projetos de reciclagem. Dessa forma, podemos chegar à conclusão que, na argumentação, é importante agregar detalhes aos exemplos mencionados, dando, assim, consistência ao texto. Entretanto, não se pode confundir qualidade com quantidade, isto é, preferencialmente, não se deve apontar mais de um assunto por parágrafo, mas sim desenvolver de forma consistente e detalhada um único argumento em cada parágrafo de argumentação. @prof.aristocrates Sendo assim, para uma argumentação de qualidade, deve-se acrescentar à sua redação uma explicação consistente e uma exemplificação bem detalhada, não sendo necessário apontar vários exemplos e dados para comprovar o mesmo argumento. Somente assim, você mostrará ao corretor que você tem domínio sobre o assunto. Para compreender melhor como você pode desenvolver a sua redação, vamos analisar 2 formas diferentes de organizar e selecionar o primeiro e segundo argumentos - enumeração e causa/efeito: ➢ Enumeração: A enumeração é uma forma muito utilizada de organizar a sua argumentação. Nela, você pode enumerar dois fatos que comprovam a relevância do que você está defendendo. É importante que você explicite bem que haverá uma ordem de ideias no desenvolvimento com o uso de conectivos de sequência, como “em primeira análise, em segunda análise”, “inicialmente, seguidamente”. “a princípio, além disso” etc. Para isso, você deve citar na introdução que há dois problemas e destrinchá-los em parágrafos diferentes. Segue a seguir um exemplo de argumentos de enumeração: “Em primeira instância, (enumeração) a negligencia cultural faz com que, na maioria das vezes, muitas pessoas sejam prejudicadas.Sobre o assunto, o filósofo Hegel fala sobre o conceito de “subjetividade Cultural”, no qual diz que um indivíduo é formado através das milhares de influências que ele recebe ao longo da vida. Ou seja, não é possível caracterizá-lo analisando somente um aspecto, como fazem na meritocracia, quando apenas o intelecto é considerado e uma criança que nasceu na favela sem as mínimas condições para estudar, compete com outra, rica, que sempre frequentou escolas privadas. Logo, a cultura meritocrática produz desigualdade e enquanto medidas públicas não forem criadas, a injustiça, infelizmente, prevalecerá. Em segunda instância, (enumeração) a culpabilização da vítima, faz com que, grande parte das vezes, mais desigualdade seja produzida. A respeito desse assunto, o sociólogo Darcy Ribeiro comenta que a democracia tornou- se um projeto falho, uma vez que o que foi prometido, normalmente, não esta sendo feito. Nesse sentido, mesmo que a igualdade seja uma cláusula pétrea do artigo 5° da Constituição de 1988, isso não tem sido cumprido pelo Governo, que usa de culturas, como a meritocracia, para colocar sua @prof.aristocrates irresponsabilidade no fracasso pessoal dos menos desfavorecidos nesse processo. Dessa forma, enquanto o Estado não reconhecer sua responsabilidade e gerar políticas públicas, as pessoas continuarão sendo vítimas dessa cultura desigual.” ➢ Causa/efeito Muito comum como estratégia argumentativa, nesse modelo de causa/efeito, você apresenta os motivos, os porquês, as razões de um determinado problema acontecer e, em seguida, as consequências, os resultados e os desdobramentos. Assim, esse tipo de recurso argumentativo busca comprovar a tese defendida a partir da exploração das relações de causa e consequência associadas ao tema debatido. Nesse sentido, alguns conectivos podem ser utilizados para deixar clara a sua intenção de apontar argumentos de causa e efeito, por exemplo: como reflexo disso, com efeito, consequentemente, por consequência etc. Veja a seguir um exemplo desse tipo de argumentação causa/efeito: “Sob essa análise, é necessário salientar que fatores relevantes são causadores dessa problemática. Dentre eles, destaca-se a ausência de informações precisas e contundentes a respeito das doenças mentais (causa), as quais, muitas vezes, são tratadas com descaso e desrespeito. Essa falta de subsídio informacional é grave, visto que impede que uma grande parcela da população brasileira conheça a seriedade das patologias psicológicas, sendo capaz de comprometer a realização de tratamentos adequados, a redução do sofrimento do paciente e a sua capacidade de recuperação. Somada a isso, a veiculação virtual (causa) de uma vida idealizada também contribui para a construção dessa caótica conjuntura, pois é responsável pela crença equivocada de que a existência humana pode ser perfeita, isto é, livre de obstáculos e transtornos. Esse entendimento falho da realidade faz com que os indivíduos que não se encaixem nos padrões difundidos, em especial no que concerne à saúde mental, sejam vítimas de preconceito e exclusão. Evidencia-se, então, que a carência de conhecimento associada à irrealidade digitalmente disseminada arquitetam esse lastimável panorama. @prof.aristocrates Consequentemente, tais motivadores geram incontestáveis e sérios efeitos na vida dos indivíduos que sofrem de algum gênero de doença mental. Tendo isso em vista, o acolhimento insuficiente e a falta de tratamento são preocupantes (efeitos), uma vez que os acometidos necessitam de compreensão, respeito e apoio para disporem de mais energia e motivação no enfrentamento dessa situação, além de acompanhamento médico e psicológico também ser essencial para que a pessoa entenda seus sentimentos e organize suas estruturas psicológicas de uma forma mais salutar e emancipadora. O filme “Toc toc” retrata precisamente o processo de cura de um grupo de amigos que são diagnosticados com transtornos de ordem psicológica, revelando que o carinho fraternal e o entendimento mútuo são ferramentas fundamentais no desenvolvimento integral da saúde. Mostra-se, assim, que a estigmatização de doentes mentais produz a escassez de elementos primordiais para que eles possam ser tratados e curados”. Ainda, há algumas estratégias que podem ser utilizadas para desenvolver os seus argumentos de forma consistente. Vejamos alguns exemplos a seguir: ➢ Exemplificação: Na estratégia de exemplificação, você deve inserir e desenvolver um exemplo específico como foco principal do parágrafo, tendo o propósito de justificar a sua ideia. Esse exemplo deve ser, preferencialmente, de conhecimento geral, ou seja, facilmente verificável. Um exemplo sempre traz força à argumentação, pois mostra casos reais em que a tese se prova verdadeira. O argumento por exemplificação consiste em usar como exemplo um fato concreto, como um evento histórico ou alguma notícia, com o intuito de justificar a sua ideia. Alguns operadores argumentativos para esse tipo de argumento são: por exemplo, a exemplo de, a título de exemplificação, como acontece no caso etc. Veja um exemplo a seguir de argumento desenvolvido com exemplificação: “Além disso, nota-se, ainda, como fatores socioeconômicos também são responsáveis pelos casos. Como exemplo, no ano de 2013 milhares de @prof.aristocrates manifestantes ocuparam as ruas da capital de São Paulo em reivindicação por melhorias e abaixamento dos preços dos transportes públicos (exemplificação). Ainda, a Revolução Francesa é considerada o símbolo de “liberdade, igualdade e fraternidade’, visto que mobilizou as camadas sociais infladas da crise econômica no respectivo país. Assim, é evidente que a política externa e interna influenciam na quantidade de manifestações ocorrentes”. ➢ Citação de autoridade: O argumento de autoridade é o nome dado a uma estratégia argumentativa em que o posicionamento é justificado a partir do comportamento ou fala de outras pessoas importantes. Isso significa que você pode usar, por exemplo, constatações feitas por líderes políticos, filósofos, sociólogos, cientistas e historiadores na construção das suas ideias. No geral, para introduzir argumentos de autoridade, utiliza-se a citação direta, que é quando se coloca a fala do especialista entre aspas, mas também a paráfrase que é quando as ideias são escritas de modo indireto. No caso da paráfrase, ela pode vir acompanhada de conectores como: “segundo”, “de acordo” etc. Não obstante, não se deve esquecer que apenas apontar as citações não é suficiente para uma argumentação consistente. Isto é, para uma argumentação bem fundamentada, você deve relacionar essa citação com o tópico e explicar essa relação. Vejamos um exemplo a seguir: “A princípio, o exercício escasso da empatia na sociedade brasileira contribui com a manutenção do estigma das doenças mentais. Segundo o filósofo prussiano Immanuel Kant, os indivíduos devem agir conforme o dever moralmente correto, levando em consideração a existência do outro e criando uma lei universal (citação de autoridade). Entretanto, esse princípio, chamado de imperativo categórico, não é plenamente executado no Brasil, visto que as práticas preconceituosas contra pessoas com problemas psicológicos contradiz a moral de respeito às diferenças individuais. Nessa perspectiva, serve de exemplo o pensamento errôneo no qual o indivíduo que sofre de certas condições psíquicas, como a bipolaridade, seria incapaz de agir na sociedade, desvalorizando seu caráter. Dessa forma, nota-se que esse desrespeito precisa ser desmotivado”. @prof.aristocrates ➢ Dados estatísticos: Para provar o que se diz, dados estatísticos são comumente utilizados, visto que são fruto de pesquisas feitas por órgãos de reconhecimento
Compartilhar