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Quem Sou? Advogada, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Direito Tributário. Apaixonada pela produção de conteúdo jurídico online. Entusiasta na confecção de materiais jurídicos práticos para estudantes e profissionais do Direito. https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ 1 [Pensar Criminalista]: Vamos relembrar a retroatividade da lei penal? Olá, amigos! Hoje vamos revisar um conteúdo bastante importante: a retroatividade da lei penal. A retroatividade consiste na extensão, a fatos pretéritos, dos efeitos de uma lei. https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ Quem Sou? Advogada, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Direito Tributário. Apaixonada pela produção de conteúdo jurídico online. Entusiasta na confecção de materiais jurídicos práticos para estudantes e profissionais do Direito. https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ 2 Em matéria criminal, a irretroatividade da lei penal é um direito fundamental insculpido no inciso XL do artigo 5º da nossa Constituição Federal: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. O Direito Penal, dado o seu caráter de ultima ratio e a sua disciplina pelo princípio da legalidade, somente pode ser utilizado nas hipóteses expressamente previstas em lei anterior à prática do fato. Essa é a regra da anterioridade penal, insculpida no artigo 1º do nosso Código Penal. (...) a irretroatividade da lei penal justifica-se, ainda, porque se pudesse a lei ser aplicada a um caso mais antigo que ela, haveria um “fantasma do Estado de Polícia” e a lei não satisfaria a necessidade de ser uma norma de determinação. Além disso, restaria abalada gravemente a segurança jurídica inerente ao princípio, no sentido de permitir o conhecimento prévio das regras do jogo a partir do texto escrito em vigor. (ESTEFAM, 2021) Dessa maneira, por exemplo, não pode o sujeito responder por um crime se à época da prática da conduta não havia em vigor uma lei penal que a considerava criminosa. É preciso dizer, porém, que a irretroatividade penal não se limita à hipótese de criação de uma nova lei incriminadora de conduta até então atípica (novatio legis incriminadora). Também falamos em irretroatividade da lei penal nos casos em que, por exemplo, a nova lei • aumenta a pena de conduta típica já existente • altera o regime de cumprimento de pena, tornando-o mais gravoso https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ Quem Sou? Advogada, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Direito Tributário. Apaixonada pela produção de conteúdo jurídico online. Entusiasta na confecção de materiais jurídicos práticos para estudantes e profissionais do Direito. https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ 3 • determina uma situação agravante ou que conduza a uma causa de aumento de pena • aumenta prazo prescricional ou traz a revogação de uma causa de extinção da punibilidade Mas, observe: a própria norma constitucional que traz a regra da irretroatividade penal, também estabelece a sua exceção: a possibilidade de a lei retroagir na hipótese de ser benéfica ao réu (novatio legis in mellius). Em respeito à disciplina constitucional, o artigo 2º do Código Penal determina que “ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. O parágrafo único do mesmo dispositivo legal ainda aponta que “a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”. A retroatividade benéfica da lei penal (...) justifica-se como medida de isonomia. Não teria sentido que alguém cumprisse pena depois de uma lei considerar a conduta pela qual foi condenado como penalmente irrelevante, sob pena de, em não sendo assim, conviverem, ao mesmo tempo, alguém cumprindo pena pelo fato enquanto outros o praticam sem sofrer qualquer consequência penal. (ESTEFAM, 2021) https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ Quem Sou? Advogada, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Direito Tributário. Apaixonada pela produção de conteúdo jurídico online. Entusiasta na confecção de materiais jurídicos práticos para estudantes e profissionais do Direito. https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ 4 Assim sendo, por exemplo, caso o sujeito seja condenado por um crime e posteriormente uma nova lei surja para extinguir aquele crime do ordenamento jurídico (abolitio criminis), essa nova lei será aplicada ao sujeito condenado. Aqui, devemos atentar que os efeitos da abolitio criminis serão diversos, conforme o momento da criação da nova lei. Observe: • Caso a abolitio criminis seja verificada ainda no curso do inquérito, a autoridade policial deverá encerrá-lo de imediato e lavrar o relatório representando pelo arquivamento da investigação. • No caso de processos em andamento, a retroatividade da abolitio criminis, nos termos do inciso III do artigo 107 do Código Penal, é causa de extinção da punibilidade, podendo ser reconhecida de ofício pelo magistrado. • Observada durante a execução da pena, a abolitio criminis permite que seja cessada a execução. • Agora, sendo o caso de pena cumprida, a abolitio criminis apenas poderá permitir que sejam imediatamente cessados eventuais efeitos condenatórios da sentença ainda vigentes. Note, no entanto, que apesar do destaque dado à abolitio criminis, ela não é a única hipótese em que se pode falar na retroatividade da lei penal. Também verificamos a aplicação da nova lei penal a fatos pretéritos quando, por exemplo, a nova lei reduzir uma pena ou o prazo prescricional do crime, determinar a configuração de uma atenuante ou causa de diminuição de pena. https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ Quem Sou? Advogada, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Direito Tributário. Apaixonada pela produção de conteúdo jurídico online. Entusiasta na confecção de materiais jurídicos práticos para estudantes e profissionais do Direito. https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ 5 Para finalizar, precisamos destacar a distinção da retroatividade da norma penal conforme a sua natureza estritamente processual ou híbrida. Neste aspecto, destacamos as lições do professor André Estefam sobre o tema: No caso de normas de caráter estritamente processual, é de lembrar, seguem a regra contida no art. 2º do CPP (tempus regit actum); isto é, o ato processual deve ser praticado de acordo com a lei vigente ao seu tempo, independentemente de ser ela mais ou menos rigorosa que a anterior. Assim, por exemplo, a norma que suprime um recurso tem natureza puramente processual, de modo que se a decisão for proferida depois da revogação da norma, mesmo que o processo se tenha iniciado antes, o recurso suprimido não poderá ser interposto. Em se tratando, contudo, de normas mistas ou híbridas, isto é, aquelas que possuem aspectos processuais e penais, não retroagirão, salvo se benéficas, respeitando-se, contudo, a coisa julgada. É o caso, por exemplo, de uma lei que passe a estabelecer uma condição de procedibilidade até então não exigida para determinado crime (como a exigência de representação nos crimes de lesão corporal dolosa leve e lesão corporal culposa, que passou a ser necessária com o advento da Lei n. 9.099/95 – art. 88). De igual modo, o acordo de não persecução penal (art. 28-A do CPP)190, que, https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ Quem Sou? Advogada, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Direito Tributário.Apaixonada pela produção de conteúdo jurídico online. Entusiasta na confecção de materiais jurídicos práticos para estudantes e profissionais do Direito. https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ 6 embora seja medida de cunho pré-processual, e, portanto, anterior à denúncia, aplica-se aos processos que estavam em andamento quando entrou em vigor a Lei, conquanto não tenha sido prolatada sentença. (ESTEFAM, 2021) (Destaquei) Abraço e até a próxima! Referências: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm > ________. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm > ________. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto- Lei/Del3689Compilado.htm > ________. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689Compilado.htm Quem Sou? Advogada, especialista em Direito Penal, Processo Penal e Direito Tributário. Apaixonada pela produção de conteúdo jurídico online. Entusiasta na confecção de materiais jurídicos práticos para estudantes e profissionais do Direito. https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ 7 providências. Disponível em < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm > ESTEFAM, André. Direito penal – volume 1: parte geral - arts. 1º a 120. 10. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. GRECO, Rogério. Curso de direito penal: volume 1: parte geral: arts. 1º a 120 do Código Penal. 24. ed. Barueri [SP]: Atlas, 2022. https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/ https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm https://www.linkedin.com/in/anna-paula-cavalcante-g-figueiredo/
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