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Distúrbios do sistema nervoso – parte 2 APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, estudaremos a demência, a doença de Alzheimer (DA) e a doença vascular encefálica (DVE). Essas são doenças do sistema nervoso e têm sintomas e causas específicas. A DA ocorre por predisposição genética com ou sem associação a fatores ambientais e é resultado de depósitos de placas proteicas nos neurônios e na glia, que interferem na transmissão nervosa. A DVE pode ser isquêmica ou hemorrágica e é uma das principais causas de morte no Brasil. A demência tem várias causas, entre elas a DA e a DVE. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a etiologia da demência e da doença de Alzheimer.• Reconhecer etiologia do acidente vascular encefálico.• Perceber a importância do diagnóstico e da avaliação clínica no tratamento do acidente vascular cerebral. • DESAFIO O acidente vascular cerebral (AVC) é a principal causa de morte no Brasil. É extremamente importante que o paciente que apresenta sintomas de AVC seja encaminhado a uma unidade hospitalar imediatamente. Até três horas depois do evento isquêmico ou hemorrágico, ainda há possibilidade de reverter os déficits causados pelo AVC. Mesmo que os sintomas tenham passado, é crucial a avaliação médica o mais rápido possível. Leia as seguintes questões, pesquise e responda. 1) Existe risco de AVC em mulheres gestantes? Por quê? 2) Existe risco de AVC em recém-nascidos? 3) O que é Rede Brasil AVC e qual seu papel junto ao Ministério da Saúde em relação ao AVC? 4) Existem fatores de risco que podem ser alterados para evitar, tratar ou prevenir o acidente e fatores de risco que não podem ser alterados? Cite três fatores que não podem ser alterados e cinco fatores que podem prevenir, tratar ou evitar o AVC. 5) Cite cinco sintomas evidenciados durante um episódio do acidente. INFOGRÁFICO O infográfico apresenta as doenças neurológicas de Alzheimer, demência e acidente vascular encefálico. CONTEÚDO DO LIVRO Para que tenhamos uma excelente qualidade de vida, é de suma importância que o nosso sistema nervoso esteja funcionando perfeitamente. Qualquer alteração em sua estrutura ou fisiologia é capaz de causar sérios problemas cognitivos. A idade avançada, estilos de vida sedentários e doenças crônicas, são capazes de causar doenças que podem trazer problemas neurológicos que irão afetar o cotidiano e a independência de uma pessoa acometida. No capítulo Distúrbios do sistema nervoso - parte 2, da obra Genética e Patologia, você vai entender melhor como se desenvolvem as demências e a doença de Alzheimer, compreender como ocorre um acidente vascular encefálico, e perceber o quanto é importante um diagnóstico preciso para que o tratamento dessa condição seja adequado. Bons estudos. GENÉTICA E PATOLOGIA Francine Luciano Rahmeier Distúrbios do sistema nervoso — parte 2 Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a etiologia da demência e da doença de Alzheimer. Reconhecer a etiologia do acidente vascular encefálico. Perceber a importância do diagnóstico e da avaliação clínica no tra- tamento do acidente vascular encefálico. Introdução O sistema nervoso é o alicerce de todas as funções de um organismo, e alguns distúrbios causados nesse sistema podem ser capazes de com- prometer funções básicas e complexas, interferindo na qualidade de vida e na autonomia do indivíduo. Neste capítulo, você vai entender o que é a demência e como ela interfere substancialmente em pessoas com a doença de Alzheimer. Ainda, vai conhecer os tipos de acidente vascular encefálico (AVE), uma das maiores causas de internação hospitalar no Brasil. Por fim, você vai compreender o quanto o diagnóstico precoce é importante, se possível, ou pelo menos preciso dessa condição, para que o tratamento possa ser direcionado de forma adequada, de modo que a pessoa consiga recuperar ao menos a sua autonomia. 1 Demência: definição e etiologia A demência é considerada uma síndrome crônica, que abrange diversas ma- nifestações clínicas que afetam principalmente as funções cognitivas e o desempenho em atividades sociais, podendo impactar demasiadamente a independência pessoal (BRASIL, 2017; REISNER, 2016. O principal fator associado a essa condição é o processo de envelhecimento. A partir dos 60 anos, a probabilidade de se desenvolver alguma forma de demência aumenta exponencialmente a cada ano, com uma taxa de incidência de 7,1% em pessoas a partir dos 65 anos, podendo atingir cerca de 20 a 30% das pessoas com 85 anos (BRASIL, 2017; SOUZA et al., 2020). Além da idade, a demência pode ser desencadeada por diversos fatores etiológicos — entre eles, fatores ambientais e genéticos, eventos inflamatórios crônicos e algumas doenças, que podem ser conferidos no Quadro 1. Fatores etiológicos Exemplos Doenças degenerativas primárias Doença de Alzheimer Doença de Alzheimer senil e pré-senil Degeneração do lobo frontotemporal Afasia progressiva primária e não fluente Demências subcorticais Doença de Huntington Parkinson-plus Demência na doença de Parkinson; demência com corpúsculos de Lewy Doenças priônicas Insônia familiar fatal; doença de Creutzfeldt-Jakob Problemas vasculares Grandes vasos: infartos isolados Demência por múltiplos infartos no córtex; infartos no tálamo Microangiopatia (substância branca) Leucodistrofia subcortical difusa Quadro 1. Fatores etiológicos envolvidos no desencadeamento da demência e exemplos de doenças e condições que fazem parte de cada grupamento etiológico (Continua) Distúrbios do sistema nervoso — parte 22 A partir da descoberta do fator etiológico responsável pela produção das demências, podemos classificá-las conforme a seguir. Evolutivas ou progressivas: causadas principalmente por doenças neu- rodegenerativas, inflamatórias ou infecciosas crônicas. A partir do momento em que a demência é instalada, os sinais e sintomas progridem, até causar total falta de independência da pessoa portadora. Estáticas: não progridem, mas também não regridem. São causadas especialmente por problemas vasculares com fatores de risco sob con- trole, sequelas decorrentes de lesões cerebrais ou traumas. Fonte: Adaptado de Gallucci Neto, Tamelini e Forlenza (2005), Hauser e Josephson (2015). Fatores etiológicos Exemplos Lesões Cerebrais focais Tumores cerebrais; esclerose múltipla; hematoma subdural Traumáticas Demência do pugilista; traumatismo craniencefálico Infecciosas Neurossífilis; neurocisticercose; encefalites virais (herpes simples); meningoencefalites Inflamatórias Lúpus eritematoso sistêmico; doenças reumatológicas Desordens tóxico-metabólicas Intoxicações crônicas Por álcool e metais pesados Anóxias e hipóxias Arritmia cardíaca; intoxicação por monóxido de carbono Disfunções metabólicas Tireoidopatias; distúrbios hipofisários-adrenais Deficiências nutricionais Deficiências de vitamina B1 (tiamina), B3 (niacina), B12 (cobalamina) e ácido fólico Quadro 1. Fatores etiológicos envolvidos no desencadeamento da demência e exemplos de doenças e condições que fazem parte de cada grupamento etiológico (Continuação) 3Distúrbios do sistema nervoso — parte 2 Potencialmente reversíveis: com tratamento adequado, os sinais e sinto- mas da demência podem regredir e a pessoa pode voltar a ter uma vida normal. Ocorrem em casos de deficiências nutricionais de vitaminas ou disfunções da tireoide, além de quadros de depressão (UFRGS, 2016). Doença de Alzheimer A doença de Alzheimer é uma das principais causas da demência, correspon- dendo a cerca de 60 a 80% dos casos (SOUZA et al., 2020). Sua prevalência mundial atingiu, até o ano de 2018, 50 milhões de pessoas, e estima-se que até o ano de 2030, essa prevalência atinja os 82 milhões, de acordo com a organização Alzheimer’s Disease International (2018).No Brasil, até 2015, a doença já afetava 1,6 milhão de pessoas (ALZHEIMER’S DISEASE IN- TERNATIONAL, 2015). A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva importante, que inicia com sintomas comuns à maioria das formas de de- mência, com episódios de confusão mental, déficits na memória episódica e incapacidade de consolidar novas habilidades. Conforme a doença avança, as complicações aumentam, trazendo sérios problemas cognitivos, como amnésia, afasia, agnosia e apraxia, comportamentais, como apatia, depressão, insônia, agitação, ansiedade, agressividade e alucinações, e funcionais, como diminui- ção da locomoção e mobilidade, perda de equilíbrio e perda da autonomia para atividades do cotidiano (BRASIL, 2017; GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; TORTORA; DERRICKSON, 2017; UFRGS, 2016). Assista ao vídeo “Diferença entre demência e Alzheimer | Drauzio Comenta #84”, do canal Drauzio Varella no YouTube, para conhecer mais aspectos das demências e da doença de Alzheimer e verificar as diferenças entre elas. Alguns fatores de risco estão relacionados com uma maior probabilidade de desenvolver a doença de Alzheimer, como idade avançada, doenças crônicas (hipertensão), dislipidemias e diabetes, estilo de vida (tabagismo, alcoolismo e abuso de drogas) e doenças relacionadas com declínio cognitivo (doença de Parkinson) (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; UFRGS, 2016). Em Distúrbios do sistema nervoso — parte 24 relação a outros fatores envolvidos no desenvolvimento da doença de Alzhei- mer, o histórico familiar está presente em poucos casos e está relacionado a mutações em genes que codificam a presenilina 1 e 2, a apolipoproteína E e o peptídeo amiloide. Esses genes estão relacionados com hiperprodução ou disfunção dos peptídeos beta-amiloide (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; REISNER, 2016; TORTORA; DERRICKSON, 2017). Independentemente do fator envolvido, em nível cerebral, ocorre uma reação crônica que provoca a perda progressiva do número de neurônios e de sinapses nervosas, especialmente na região do hipocampo, responsável pela formação, consolidação e evocação das memórias, e em regiões corticais envolvidas nos processos cognitivos. Em tese, grande parte desses prejuízos ocorre pela desestabilização dos microtúbulos presentes nos neurônios (que pode ser causada pela hiperfosforilação da proteína tau) e pela deposição de peptídeo beta-amiloide (especialmente a fração 1–42) no espaço extracelular, formando lesões características da doença, conhecidas como emaranhados neurofibrilares e placas senis, respectivamente (REISNER, 2016; TORTORA; DERRICKSON, 2017; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). O Ministério da Saúde do Brasil emitiu a Portaria Conjunta nº. 13, de 28 de novembro de 2017, contendo o “Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da doença de Alzheimer”, que deve ser utilizado em território nacional. Pesquise a portaria na internet para ter acesso ao texto completo. O diagnóstico deve ser feito a partir da avaliação do estado mental do paciente, de seu histórico familiar e do aparecimento de sintomas, além de exames bioquímicos de rotina, como hemograma, glicemia, dosagem de vitaminas do complexo B e marcadores de tireoide. Podem ser feitos também avaliação molecular, em busca de alterações genéticas específicas, exames de neuroimagem e testes neuropsicológicos. Todas essas avaliações são úteis para diferenciar a doença de Alzheimer dos outros tipos de demência (BRASIL, 2017; GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014). O diagnóstico definitivo da doença de Alzheimer, infelizmente, só pode ser feito por meio de avaliação histopatológica do tecido cerebral post-mortem. Então, podem ser observadas uma importante atrofia de tecido cerebral com 5Distúrbios do sistema nervoso — parte 2 dilatação ventricular, a presença de placas amiloides e emaranhados neuro- fibrilares, que são lesões características e específicas da doença, além da redução do número de células neuronais, especialmente neurônios que liberam acetilcolinesterase (Figura 1) (BRASIL, 2017; REISNER, 2016; TORTORA; DERRICKSON, 2017). Figura 1. (a) Imagens de um cérebro normal e de um cérebro com doença de Alzheimer avançada (DA), evidenciando a atrofia cerebral e a dilatação ventricular. (b) Presença de emaranhado neurofibrilar (indicado pela seta) em um neurônio (exame histopatológico cerebral). (c) Placa amiloide no espaço extracelular cerebral, marcada em marrom (exame histopatológico cerebral). Fonte: Adaptada de Reisner (2016). Distúrbios do sistema nervoso — parte 26 2 Doença cerebrovascular: acidente vascular encefálico O AVE é defi nido como uma desordem neurológica súbita que se origina a partir de uma lesão vascular, de consequência extremamente incapacitante e potencialmente fatal. É a segunda maior causa de mortes no mundo, e o Brasil é o país da América Latina com a maior taxa de mortalidade (HAUSER; JOSEPHSON, 2015; LIMA et al., 2019). A probabilidade de ocorrência do AVE aumenta a partir dos 65 anos, e aproximadamente 65% dos casos ocorrem em pessoas nessa faixa etária (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014) Diversos fatores de risco estão associados ao desenvolvimento de um AVE, e alguns deles estão apontados no Quadro 2. Fonte: Adaptado de Brasil (2020) e Greenberg, Aminoff e Simon (2014). Fatores de risco não modificáveis Fatores de risco modificáveis Outros Idade Hipertensão arterial Processos infecciososHistórico de ataques isquêmicos transitórios Sexo Estenose da carótida Processos inflamatórios Fibrilação arterial Raça Obesidade Alcoolismo Diabetes Histórico familiar Uso de contraceptivos (especialmente associado ao fumo) Homocisteína elevada Sedentarismo Doenças cardíacas Anticorpo antifosfolipídeo Etnia Tabagismo Enxaqueca Trauma Quadro 2. Fatores de risco envolvidos no desencadeamento do acidente vascular ence- fálico 7Distúrbios do sistema nervoso — parte 2 Podemos classificar um AVE conforme o tipo de evento que ocorre, podendo ser AVE isquêmico, hemorrágico intraparenquimatoso ou hemorrágico suba- racnóideo (Figura 3). Estes são os principais responsáveis pela perda da força e do controle dos movimentos naturais dos membros superiores e inferiores, além de outras incapacidades neurológicas importantes (UFRGS, 2016). Acidente vascular encefálico isquêmico Também conhecido como infarto cerebral, o AVE isquêmico ocorre pela diminuição ou oclusão do fl uxo sanguíneo para determinado local no encéfalo, o que geralmente ocorre devido à obstrução de alguma artéria importante por algum elemento, o que provoca diminuição da oxigenação no local. Os AVEs isquêmicos são as formas mais comuns de AVE, ocorrendo em mais de 85% de todos os casos e podendo ser desencadeados por diversas causas, como as listadas a seguir (BRASIL, 2020; REISNER, 2016): aterosclerose; eventos trombóticos: aterotrombose, estados hipercoaguláveis; embolia: por êmbolos cardiogênicos, de gordura, de ar, de células neoplá- sicas ou por corpo estranho, que vão até o cérebro e obstruem a artéria; arterites; dissecção arterial; displasia fibromuscular; doença de Moyamoya; arteriopatia cerebral autossômica dominante, com infartos subcorticais e leucoencefalopatia. A gravidade das sequelas é determinada pelo local e pela extensão da área que sofreu a isquemia. Boa parte das isquemias são transitórias e duram cerca de 7 a 10 minutos, e os sinais de déficit neurológico regridem em cerca de 24 horas (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; TORTORA; DERRICKSON, 2017). Apesar de dificilmente desenvolverem sequelas permanentes, pacientes com AVE isquêmico transitório possuem risco de 10 a 15% de apresentarem outra isquemia nos 3 primeiros meses (HAUSER; JOSEPHSON, 2015), e cerca de um terço dos pacientes apresenta outro episódio dentro de 5 anos (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014). Distúrbios do sistema nervoso — parte 28 Caso o fluxo sanguíneo focal for totalmente cessado, o tecido não sobre- vive por mais de 10 minutos,formando uma área de lesão permanente, e, no entorno dessa lesão central, desenvolve-se uma área de penumbra isquêmica. Caso o fluxo não seja reestabelecido, essa área de penumbra, que muitas vezes pode ser recuperada, também se transforma em necrose, e, à medida que as horas passam, essa lesão pode se estender cada vez mais. Fluxos sanguíneos de cerca de 20 mL de sangue ou menos para cada 100 g de tecido geralmente não causam infarto, a não ser que o episódio de oclusão se estenda por mui- tas horas ou dias (HAUSER; JOSEPHSON, 2015). Essas isquemias podem ser únicas, múltiplas (espalhadas em várias áreas diferentes) ou globais (em toda a superfície cerebral, decorrentes de uma parada cardíaca prolongada) (REISNER, 2016) Um acidente isquêmico causa edema e grande influxo de células inflama- tórias para o local, seguido de recrutamento de macrófagos e gliose reativa no entorno da área infartada. Em questão de semanas, essa área necrosada será reabsorvida e restará apenas uma cavidade com presença de líquido (Figuras 2, 3a e 3b) (HAUSER; JOSEPHSON, 2015; REISNER, 2016). Figura 2. Cascata de eventos metabólicos envolvidos em um AVE isquêmico, desde a oclusão da artéria até a morte celular. PARP, poli (ADP-ribose) polimerase; iNOS, óxido nítrico-sintase induzida. Fonte: Hauser e Josephson (2015, p. 202). 9Distúrbios do sistema nervoso — parte 2 Acidente vascular encefálico hemorrágico intraparenquimatoso Representa cerca de 10% de todos os casos de AVE. As hemorragias dentro do parênquima cerebral (Figura 3c) geralmente ocorrem com o rompimento de algum vaso e o consequente extravasamento de sangue para o local, aco- metendo principalmente áreas do cérebro como gânglios da base, ponte, cerebelo, tálamo e substância branca (BRASIL, 2020; REISNER, 2016). Uma hemorragia é capaz de causar uma destruição tecidual local ou em massa, podendo estender-se até os ventrículos cerebrais, além de provocar lesões adjacentes por compressão. A gravidade das sequelas também depende da área e da extensão atingidas, mas AVEs hemorrágicos são mais perigosos do que os isquêmicos e são letais em cerca de 50% dos casos. A causa mais frequente de hemorragia é a hipertensão arterial crônica, mas outros fatores também estão envolvidos (BRASIL, 2020; HAUSER; JOSEPHSON, 2015; REISNER, 2016): hipertensão arterial crônica; radioterapia para tumores de cabeça e pescoço; ferimentos e traumas na cabeça e no pescoço; distúrbios de coagulação do sangue (p. ex., hemofilia) e uso de anticoagulantes; abuso de drogas; hemorragia decorrente de tumores cerebrais; rompimento de aneurisma sacular; angiopatia amiloide cerebral; doenças cardiovasculares crônicas e defeitos cardíacos congênitos; malformação vascular; vasculite, infarto agudo do miocárdio e insuficiência cardíaca. Acidente vascular encefálico hemorrágico subaracnóideo É o tipo de AVE menos frequente, mas que leva a óbito 1/3 dos pacientes acometidos, deixando o restante com sequelas neurológicas graves. Ocorre principalmente pelo rompimento de um aneurisma sacular (Figura 3d) pre- sente em alguma artéria componente do círculo de Willis, situada no espaço Distúrbios do sistema nervoso — parte 210 subaracnóideo. Cerca de 85% desses aneurismas saculares se desenvolvem na artéria carótida interna (circulação anterior), geralmente em pessoas que possuem histórico familiar, malformações nas artérias ou doenças renais policísticas, apesar de a maioria surgir de forma esporádica (CHAVES et al., 2008; HAUSER; JOSEPHSON, 2015; REISNER, 2016). Os efeitos pós- -hemorragia subaracnóidea incluem: aumento da pressão intracraniana; vasoespasmo arterial, que pode levar a isquemias e infartos cerebrais; hidrocefalia aguda, pela presença de sangue em meio ao líquido cefa- lorraquidiano, ou crônica, em consequência de fibrose nas meninges; recidiva da hemorragia nas primeiras 4 semanas. Figura 3. (a) Imagem de cérebro demonstrando edema com escurecimento da coloração da área afetada, decorrente de isquemia recente. (b) Cérebro com área de isquemia antiga. (c) Lesão extensa no hemisfério direito do cérebro, decorrente de hemorragia intraparenqui- matosa. (d) Cérebro acometido por hemorragia subaracnóidea, decorrente do rompimento de um aneurisma sacular. Fonte: Reisner (2016, p. 576–578). 11Distúrbios do sistema nervoso — parte 2 3 Diagnóstico e tratamento do acidente vascular encefálico No caso de AVEs, é de extrema importância que os primeiros sinais e sintomas que surgem após o início da obstrução ou hemorragia sejam reconhecidos e não sejam ignorados. Qualquer pessoa que apresentar o conjunto de sintomas característicos deve ser encaminhada imediatamente a um hospital, ou o sistema de atendimento médico de urgência pode ser acionado, para atendi- mento médico urgente. A rapidez no atendimento de um paciente que esteja sofrendo de AVE é crucial para reduzir a extensão dos danos e salvar a vida dessa pessoa (BRASIL, 2020; HAUSER; JOSEPHSON, 2015). Os primeiros sinais podem ser declínios cognitivos, que são mais graves em casos de AVE hemorrágico. Além dos sinais apresentados a seguir, podem ocorrer náusea, vômito e grande aumento da pressão arterial (BRASIL, 2020; REISNER, 2016). Fraqueza, falta de sensibilidade ou formigamento no rosto e membros, geralmente unilateral. Confusão mental. Fala e compreensão alteradas. Alteração da visão em um ou ambos os olhos. Alteração do equilíbrio, da caminhada e da coordenação motora. Vertigem e tontura. Dor de cabeça intensa e súbita, sem causa aparente (presente na maioria dos eventos hemorrágicos). Assim que o paciente é atendido, deve-se proceder alguns testes e exames, para que seja possível estabelecer um diagnóstico seguro. Isso porque outras condições também são capazes de manifestar quadros semelhantes a um AVE, como convulsões de causas desconhecidas, estados de confusão mental, síncope, hiperglicemia, enxaqueca e tumores cerebrais (CHAVES et al., 2008; HAUSER; JOSEPHSON, 2015). Exame físico: assim que o paciente é atendido, o exame físico é feito por meio da mensuração da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, além do exame oftalmoscópico da retina (para observação da presença de êmbolos) e do exame do pescoço (avaliar presença ou ausência de pulso nas carótidas). Distúrbios do sistema nervoso — parte 212 Avaliação da função cardíaca: por meio dos exames de eletrocardiograma e ecocardiograma, é possível detectar a presença de anomalias que possam indicar algum problema que tenha ocasionado uma embolização (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; HAUSER; JOSEPHSON, 2015). Avaliação do histórico do paciente: é muito útil para se descobrir se há alguma doença ou dano preexistente ao AVE que possa ter desencadeado esse evento, como hipertensão crônica, aterosclerose, acidente com traumatismo craniano, abuso de drogas ou uso de fármacos, doença cardíaca, arritmia, problemas de coagulação, entre outros (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014). Exames de imagem: a tomografi a computadorizada e a ressonância magnética são métodos que tornam capaz a diferenciação de um AVE isquêmico de um hemorrágico. Com os achados nesses exames, é possível determinar se há a presença de isquemia ou extravasamento de sangue, além da localização cerebral e da extensão da lesão (CHAVES et al., 2008; GREENBERG; AMI- NOFF; SIMON, 2014; HAUSER; JOSEPHSON, 2015). Exames vasculares de imagem: a avaliação angiográfi ca permite observar quais vasos estão sendo comprometidos e, a partir disso, realizar a desobstrução ou o reparo. Alguns dos sinais manifestados pelo paciente podem orientar os médicos sobre qual tipo de artéria deve ser investigada. Por exemplo, pacientes com manifestações de afasia só podem ter um AVE que afete a circulação arterial anterior, assim como o nistagmo (movimento anormal dos olhos atri- buído a lesões no tronco cerebral) só pode estar associado a lesões nas artérias da circulação posterior.Dentre os exames disponíveis, temos a angiografi a de subtração digital (com contraste, para avaliar estenose da artéria carótida), ultrassonografi a com doppler e angiorressonância magnética (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; HAUSER; JOSEPHSON, 2015). Exames de sangue: exames de rotina podem fornecer pistas que revelem a origem do AVE, como: hemograma completo com contagem de plaquetas, avaliação de marcadores infl amatórios (velocidade de hemossedimentação, proteína C reativa), teste de VDRL (venereal disease research laboratory, para excluir ou confi rmar a presença de sífi lis), determinação dos níveis de colesterol, triglicerídeos e mensuração da glicemia. Esse último é muito importante, pois um quadro hipoglicêmico ou hiperglicêmico pode mimetizar um quadro de AVE (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; HAUSER; JOSEPHSON, 2015). 13Distúrbios do sistema nervoso — parte 2 O capítulo 13 do livro Neurologia clínica, de Greenberg, Aminoff e Simon (2014), traz em detalhes todos os fatores envolvidos na etiologia, as manifestações, o diagnóstico e o tratamento de AVEs. Com todos os exames suficientes em mãos, o médico pode chegar a um resultado preciso ou provável e iniciar o tratamento para que a isquemia ou hemorragia seja interrompida. No caso de AVE isquêmico, deve ser feito: apoio médico, para que as complicações decorrentes da isquemia e do paciente acamado, como infecções urinárias e respiratórias, não aconteçam — isso inclui o uso de meias de compressão e administração de heparina subcutânea, para evitar a trombose venosa profunda, além de apoio respiratório, se necessário; remoção de parte da calota craniana temporariamente, para diminuir os danos causados pelo edema; administração de fármacos para desintegrar trombos que estejam cau- sando a obstrução, como ativador tecidual de plasminogênio recombi- nante intravenoso (rtPA); remoção mecânica de coágulos que não respondam a rtPA, em até 8 horas após o início do evento isquêmico; administração de drogas antitrombóticas (ácido acetilsalicílico, clo- pidogrel, ticlopidina) e anticoagulantes (heparina, rivaroxaban, var- farina), para evitar a formação de outro trombo, que possa gerar uma nova obstrução (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; HAUSER; JOSEPHSON, 2015). No caso de um AVE hemorrágico, a maioria dos pacientes evolui a óbito, e uma hemorragia intracraniana é algo difícil de ser controlado. O que pode ser feito é a estabilização da pressão intracraniana e o apoio respiratório, se necessário. Ainda, pode-se realizar infusão de concentrados de fatores de coagulação e de plaquetas, em uma tentativa de conter a hemorragia, e dre- nagem do coágulo de sangue formado, dependendo do caso (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; HAUSER; JOSEPHSON, 2015). Além dos trata- Distúrbios do sistema nervoso — parte 214 mentos locais, é importante salientar que condições de risco e doenças pree- xistentes descompensadas, como doença cardiovascular, hipertensão arterial e aterosclerose, que tenham sido a causa primária do AVE, também devem ser tratadas e estabilizadas adequadamente, para que um novo AVE não aconteça (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; HAUSER; JOSEPHSON, 2015). Após a estabilização do quadro e a alta do hospital, o tratamento do pa- ciente deve continuar. Além do uso de fármacos adequados para cada caso, o tratamento também engloba a reabilitação, tendo em vista as sequelas deixadas por um AVE, que variam de um caso para outro e dependem totalmente da extensão e da área cerebral atingida. Algumas sequelas comuns a todos os tipos englobam déficit cognitivo, com dificuldade de locomoção, coordenação motora e equilíbrio, problemas de linguagem (fala e entendimento) e falta de autonomia para atividades do cotidiano. Essa reabilitação abrange fisioterapia para recuperação dos movimentos, fonoterapia, terapia ocupacional e aten- dimento psicológico (GREENBERG; AMINOFF; SIMON, 2014; HAUSER; JOSEPHSON, 2015; UFRGS, 2016). No entanto, melhor do que o tratamento do AVE é a prevenção, diminuindo ao máximo a exposição a fatores de risco associados. Manter uma alimentação adequada, especialmente com pouco consumo de sódio e de açúcar, fazer exercícios físicos regularmente, abolir o consumo de drogas e tabaco, reduzir o consumo de álcool, manter um consumo hídrico adequado, controlar o peso e frequentar um médico para a realização de exames gerais de rotina são atitudes que diminuem o risco de se desenvolver um AVE. Por se tratar de uma doença tão incapacitante, a prevenção e o controle dos fatores de risco são temas abordados em campanhas do Ministério da Saúde em vários estados brasileiros (BRASIL, 2020). Navegue pelo site oficial da Rede Brasil AVC, uma organização não governamental criada com a finalidade de melhorar a assistência a pacientes com AVE em todo o Brasil. Nele, você encontra muitas informações e notícias sobre o assunto, por meio de vídeos e infográficos que auxiliam no reconhecimento precoce de um AVE. 15Distúrbios do sistema nervoso — parte 2 ALZHEIMER’S DISEASE INTERNATIONAL. World Alzheimer report 2015: the global impact of dementia: an analysis of prevalence, incidence, cost and trends. London, 2015. Dis- ponível em: https://www.alz.co.uk/research/world-report-2015. Acesso em: 7 jun. 2020. ALZHEIMER’S DISEASE INTERNATIONAL. World Alzheimer report 2018: the state of the art of dementia research: new frontiers. London, 2018. Disponível em: https://www. alz.co.uk/research/world-report-2018. Acesso em: 7 jun. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. AVC: o que é, causas, sintomas, tratamentos, diagnóstico e prevenção. Brasília, DF, 2020. Disponível em: https://saude.gov.br/saude-de-a-z/ acidente-vascular-cerebral-avc. Acesso em: 3 maio 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria conjunta nº 13, de 28 de novembro de 2017. Aprova o protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da doença de Alzheimer. Brasília, DF, 2017. Disponível em: https://saude.gov.br/images/pdf/2017/dezembro/08/465660-17-10- MINUTA-de-Portaria-Conjunta-PCDT-Alzheimer-27-11-2017---COMPLETA.pdf. 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VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO, A. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. Leituras recomendadas REDE BRASIL AVC. O que é o AVC? Porto Alegre, 2020. Disponível em: http://www. redebrasilavc.org.br/para-pacientes-e-falimiares/o-que-e-avc/. Acesso em: 7 jun. 2020. SANTOS, C. S.; BESSA, T. A.; XAVIER, A. J. Fatores associados à demência em idosos. Ciênc Saúde Coletiva, v. 25, n. 2, p. 603–611, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ csc/v25n2/1413-8123-csc-25-02-0603.pdf. Acesso em: 7 jun. 2020. VARELLA, D. Diferença entre demência e Alzheimer | Drauzio Comenta #84. [S. l.]: YouTube, 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PTt1pwJf0qs&vl=pt. Acesso em: 8 jun. 2020. 17Distúrbios do sistema nervoso — parte 2 DICA DO PROFESSOR O vídeo explica a patologia das seguintes doenças relacionadas ao sistema nervoso: doença de Alzheimer, demência e doença vascular cerebral. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Sobre o acidente vascular encefálico, é correto afirmar: A) O AVC hemorrágico resulta da obstrução embólica ou trombótica dos vasos sanguíneos. B) Ataques isquêmicos transitórios são breves e reversíveis. C) Infartos lacunares são extensas lesões que provocam deficiências motoras. D) Se a artéria vertebral sofrer lesão, a área atingida será o corpo caloso anterior. E) Hemorragia epidural é o mesmo que hemorragia subaracnóidea. 2) As alternativas têm relação com a demência, EXCETO: A) Meningite crônica. B) Estado lacunar. C) Encefalopatia arteriosclerótica subcortical. D) Doença de Binswanger. E) Herpes-zóster. 3) Indique a alternativa correta quanto à doença de Alzheimer (DA). A) É uma doença que tem cura. B) Não tem relação com a demência. C) É uma doença essencialmente cognitiva, não apresenta alterações motoras. D) As alterações estruturais, como formação de emaranhados neurofibrilares intraneuronais, existem somente na DA e não estão presentes em outras doenças neurológicas. E) Astrocitose reativa e proliferação da micróglia são alterações estruturais presentes na DA. 4) Entre as áreas mais intensamente afetadas na doença de Alzheimer, está o(a): A) Hipocampo. B) Hipotálamo. C) Glândula pineal. D) Tronco encefálico. E) Medula espinal. 5) Qual o principal peptídeo envolvido na DA? A) Natriurético. B) Peptídeo C. C) Beta-amiloide. D) De colágeno. E) Peptídeo bioativos de soroproteínas. NA PRÁTICA O filho de um paciente que tem Alzheimer pergunta a você: se meu pai tem essa doença, eu também terei? Você poderá responder que a doença tem marcadores genéticos, mas pode não ser hereditária, isto é, a predisposição existe no indivíduo, mas a doença pode não se desenvolver. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: AVC no mundo e o papel do Brasil no contexto mundial - TV Rede Brasil AVC. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Radiologia Básica Chen, Michael Y. M.; Pope, Thomas L.; Ott, David J. Existem tratamentos alternativos para o AVC? - TV Rede Brasil AVC Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Anatomia e Fisiologia Marieb, Elaine N.; Hoehn, Katja Risco de AVC em gestantes. - TV Rede Brasil AVC. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Fisiologia Humana - Uma Abordagem Integrada Silverthorn, Dee Unglaub Corpo Humano - Fundamentos de Anatomia e Fisiologia Tortora, Gerard J.; Derrickson, Bryan Casos Clínicos em Medicina Interna [Série Lange - Casos Clínicos] Toy, Eugene C.; Patlan Jr., John T.
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