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FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA PROFESSORA Dra. Meire Aparecida Lóde Nunes Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Acesse o seu livro também disponível na versão digital. Google Play App Store 2 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; NUNES, Meire Aparecida Lóde. Fundamentos de Rítmica e Dança. Meire Aparecida Lóde Nunes. Maringá - PR.:Unicesumar. Reimpresso 2022. 212 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Educação Física. 2. Rítmica. 3.Dança. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1869-1 CDD - 22ª Ed. 792.8 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha Catalográfica Elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo. Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Victor Augusto Thomazini, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Hellyery Agda, Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock. Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência autores Dra. Meire Aparecida Lóde Nunes Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2015). Mestra em Educação (2010) e Especialista em Educação Física Infantil (1996) pela mesma universidade.Graduada em Educação Física pela UEM (1994). Atualmente é professora adjunta da Universidade Estadual do Paraná (Unespar - campus de Paranavaí). Tem experiência na área de Educação Física (Fundamentos da Educação Física; Dança). Desenvolve pesquisas em História da Educação com ênfase em iconografia medieval. Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo disponível no seguinte endereço: <http://lattes.cnpq.br/7589708901294641>. apresentação do material FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Meire Aparecida Lóde Nunes Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a) ao livro de Fundamentos de Rítmica e Dança. A nossa proposta consiste em apresentar a fundamentação básica necessária ao de- senvolvimento de práticas pedagógicas que envolvem atividades rítmicas e de dança. Assim, são muitos os conteúdos que se inserem neste tema e, por isto, selecionamos aqueles que consideramos fundamentais para que você possa estabelecer, com clareza, os princípios norteadores de suas práticas pedagógicas. Para os conteúdos serem aprendidos de forma gradual, eles foram organizados em dois grupos: primeiramente, trabalharemos a rítmica e, posteriormente, as questões referentes à dança. Na Unidade 1, a proposta consiste em tratarmos do universo da rítmica, em entender o seu significado e a sua relação com o ritmo. O estudo segue pela investigação do ritmo, mas, para isto, questões como o movimento, o som e a estrutura musical serão abordados. O foco do estudo na Unidade 2 se desloca para a dança. Nos questionamos sobre a sua essência e como ela pode ser entendida: arte por ser uma linguagem não-verbal ou atividade física por se materializar pelo movimento corporal? Esta indagação conduz à reflexão de qual perspectiva a Educação Física deve assumir para atender às necessidades da sociedade contemporânea. A Unidade 3 tem como objetivo apresentar algumas questões relevantes da História da Dança e, para tanto, primeiramente, será exposta a importância dos estudos históricos. Esta conscientização é indispensável para entender a dança como um registro de como os seres humanos pensavam e se organizavam socialmente em diferentes períodos históricos. É com este olhar que faremos uma incursão da dança na Pré-história, na Antiguidade, na Idade Média, no Renascimento, na Modernidade e chegaremos aos dias atuais com a Dança Contemporânea. A proposta da Unidade 4 é investigar a função educativa da dança. A educação é considerada em seu sentido amplo, podendo ser compreendida como um pro- cesso de formação humana e, neste sentido, aplicada em ambiente formal, não formal e informal. Neste percurso, perceberemos que são escassos os estudos, dentro da tradição acadêmica, que a considerem como um elemento relevante na constituição do ser humano em sua totalidade. Isto pode ter ocasionado uma fragilidade no reconhecimento dos aspectos intelectuais presentes na dança, considerando-a apenas como atividade virtuosística ou recreativa. Para ampliar essa reflexão, investigamos a possibilidade de estabelecermos um elemento central no trabalho com a dança por meio da origem do movimento dançante. Por último, a Unidade 5 de nosso curso propõe-se a tratar dos desafios atuais da dança na sociedade contemporânea. A organização social atua di- retamente nos objetivos e conteúdos presentes nas práticas dos professores e profissionais de Educação Física e, inclusive, na abertura de novos espaços para a área. Procuramos compreender como o estilo de vida produzido em uma sociedade globalizada e tecnológica afeta a saúde das pessoas e eleva o status da Educação Física no campo da promoção da saúde. Na esteira deste pensamento, veremos como a dança está presente nesse contexto. Desta forma, convido você a iniciar os estudos sobre Rítmica e Dança, mas ressalto que as questões aqui apresentadas correspondem somente ao início de uma longa jornada que requer muita dedicação para construir o conhecimento qualitativo nessa área. Bons estudos! sumário UNIDADE I O UNIVERSO DA RÍTMICA 14 Rítmica e Ritmo 20 Ritmo e Movimento Corporal 26 Ritmo e Som 30 Elementos da Música Aplicados às Atividades Rítmicas 39 Considerações Finais 48 Referências 50 Gabarito UNIDADE II A DANÇA 56 Dança e Linguagem Corporal 62 Dança: Arte ou Atividade Física 68 Dança: Construção do Conhecimento na Área da Educação Física 74 Considerações Finais 83 Referências 86 Gabarito UNIDADE III DANÇA: REGISTRO HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DOS HOMENS E DAS SOCIEDADES 92 A Dança como Registro Histórico 94 Dança: Quando Tudo Começou 100 A Dança na Antiguidade Ocidental 106 A Dança na Idade Média e no Renascimento: da Proibição à Arte 120 O Mundo Moderno Expresso na Arte de Dançar: Dança Moderna e Contemporânea 127 Considerações Finais 135 Referências 138 Gabarito UNIDADE IV DANÇA E FORMAÇÃO HUMANA 144 Dança, Educação e Formação Humana: Fragilidades Herdadas do Pensamento Clássico 152 A Origem do Movimento Dançante como Aspecto Norteador para a Dança na Educação Física 157 Dança, Educação Física e Saúde 161 Considerações Finais 169 Referências 170 Gabarito UNIDADE V DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA: DESAFIOS PRESENTES NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 176 Dança e Educação Física na Sociedade Contemporânea 190 A Formação dos Professores e Profissionais de Educação Física e o Ensino da Dança 200 Considerações Finais 207 Referências 210 Gabarito 211 CONCLUSÃO GERAL Professor Dra. Meire Aparecida Lóde Nunes Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Rítmica e ritmo • Ritmo e movimento corporal • Ritmo e som • Elementos da música aplicados às atividades rítmicas Objetivos de Aprendizagem • Aproximar os alunos dos principais conteúdos acerca da temática rítmica inserida no contexto da Educação Física e investigar a relação e a distinção entre rítmica e ritmo. • Refletir acerca da importância do conceito de corpo para o desenvolvimento do trabalho rítmico. • Apresentar as qualidades do som. • Estudar os elementos musicais necessários ao desenvolvimento das atividades rítmicas. O UNIVERSO DA RÍTMICA unidade I INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! A primeira unidade do livro de Funda-mentos de Rítmica e Dança tem como finalidade compre-ender o universo da rítmica. Este conteúdo é importante para todos os(as) alunos(as), profissionais e professores(as) de Educação Física, pois trabalhamos com o movimento, que é o prin- cípio do ritmo. Portanto, os conteúdos aqui abordados não se limitam à dança, mas englobam todo movimento. Iniciamos o estudo da rítmica buscando entender os conceitos dela e do ritmo. Estes termos são muito próximos, mas possuem sentidos di- ferentes. Esta investigação nos possibilitará entender e identificar a pre- sença do ritmo em diferentes situações do cotidiano, o que torna possível classificá-lo conforme as suas características. Logo depois, direcionaremos a nossa atenção ao ritmo corporal, mas, para isto, revisitaremos a compreensão construída historicamente sobre o corpo para melhor compreendê-la hoje, na perspectiva fenomenológica. A fenomenologia nos permite entender o corpo não como distinto da mente, como a tradição nos apresenta, mas sim, corpo e mente em uma perspec- tiva totalizante. Essa compreensão é importante para o estudo da Rítmica, sistema de ensino musical criado por Émile Jaques-Dalcroze (1865-1950) que muito influenciou e ainda influencia o ensino da ginástica e da dança. Estudaremos, ainda, o ritmo e o som, apresentando as distinções en- tre som e ruído e as definições dos elementos que compõem o que é en- tendido por qualidades do som. Em seguida, conheceremos os elementos da estrutura musical, que se aplicam às atividades rítmicas de forma geral e, especificamente, à dança. Neste momento, a intenção é possibilitar a identificação do pulso, da fra- se e do período musical, elementos indispensáveis para o estudo de uma música antes do iníciode uma montagem coreográfica. Finalizamos a unidade chamando a sua atenção para a reflexão sobre a relação entre música e dança como conteúdo da Educação Física escolar, questão que será retomada em todo o desenvolvimento de nosso curso. 14 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Olá, caro(a) aluno(a). Neste tópico, o nosso objeti- vo é nos aproximarmos do universo da rítmica. No entanto, para isto, entendemos serem necessários, primeiramente, alguns esclarecimentos. Então, pen- saremos sobre as seguintes questões: • O que é rítmica? • Rítmica é o mesmo que ritmo? E aí, conseguiu responder as questões? Faremos uma experiência. Pergunte a três pessoas – podem ser familiares ou amigos – se elas sabem as respos- tas. Confira se estas que você obteve foram parecidas com as da professora na Figura 1. Rítmica e Ritmo EDUCAÇÃO FÍSICA 15 Os alunos responderam o que é rítmica? Não, eles fala- ram onde ela se encontra, mas as respostas foram escla- recedoras, possibilitando a construção de um conceito que diferencie rítmica de ritmo? Acreditamos que não. Muitas vezes, usamos palavras ou termos natu- ralmente, sem sabermos os seus significados. Este é um dos nossos objetivos, nesta unidade, e o de nos- sa disciplina como um todo: sair do senso comum e construir conceitos sobre os elementos que com- põem o nosso tema, ou seja, a rítmica e a dança. Isto é importante para eliminarmos alguns “pré-concei- tos”, que podem se transformar em preconceitos e atrapalhar a aplicabilidade destes conteúdos na Educação Física. Figura 1 - Conceito de rítmica Fonte: a autora. 16 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Assim, você observará que sempre chamaremos a atenção à necessidade de entendermos os conceitos para não ficarmos apenas nas definições que, por se- rem objetivas, podem proporcionar apenas o conhe- cimento superficial sobre o assunto tratado. Todavia é importante entendermos que todo conceito se articu- la com as definições, mas amplia-se estabelecendo ar- gumentos que deem sentido intelectual mais amplo. ENTENDA A DIFERENÇA ENTRE DEFINIÇÃO E CONCEITO Conceito Em geral, todo processo que torne possível a descrição, a classificação e a previsão dos objetos cognoscíveis. Assim entendido, esse termo tem significado generalíssimo e pode incluir qualquer espécie de sinal ou procedi- mento semântico, seja qual for o objeto a que se refere, abstrato ou concreto, próximo ou distante, universal ou individual etc. Definição Declaração da essência. Fonte: Abbagnano (2003, p. 164-235). SAIBA MAIS Voltemos às nossas questões! Estudaremos algu- mas definições de rítmica. “Ciência ou arte dos ritmos, [...] Estudo da expressão musical em suas relações com o tempo. Parte da antiga gramática, que estudava o ritmo dos versos gregos e latinos” (MICHAELIS, [2019], on-line)1. O que a leitura dessa definição nos sugere como elemento principal ou objeto de estudo da rítmica? Antes de responder, veremos a segunda definição. O elemento que apareceu na primeira se repete na segunda? A Rítmica, antes de mais nada, é uma experiên- cia pessoal de música, ritmo, sensibilidade, mo- vimento e expressão. Seus encantos não podem ser descritos. Como obra de arte viva, é preciso estar disposto a entregar-se a ela com a inteire- za do corpo (MADUREIRA, 2008, p. 12). Se você identificou o ritmo na primeira citação, verá que ele se repete na segunda. No entanto, po- demos verificar que o ritmo aparece relacionado a outros elementos, dos quais destacamos sensibili- dade, movimento e expressão. Este conjunto nos induz a pensar na rítmica com uma experiência corporal. Vejamos como esta inferência se apre- senta na terceira citação. A rítmica pode ser uma ordem e sistematiza- ção do ritmo espontâneo, pois ela apresenta diversos aspectos, como a música, a dança, a ginástica e o ritmo, o que reúne todas as possi- bilidades rítmicas espontâneas, permitindo sua organização, desenvolvimento e enriquecimen- to (BRAIT, 2006, p. 52). Mesmo as três referências sendo de áreas distintas – a primeira é de um dicionário, a segunda, de um autor que estuda um sistema de ensino de música, e a terceira, de um autor da área da Educação – fica evidente a existência da relação intrínseca entre a rítmica e o ritmo. Porém nos parece que o ritmo está submetido à rítmica; ele é o objeto de estudo da rítmica. Portanto, esta é uma grande área que engloba o ritmo e que pode ser sintetizada como “ciência do ritmo”. No entanto essa ciência não é res- trita, ela constitui-se por meio de um processo que requer a experiência do ser humano como um todo. Agora que compreendemos o que é a rítmica, te- mos condições de responder a nossa segunda ques- tão. Lembra-se qual era? EDUCAÇÃO FÍSICA 17 RÍTMICA É O MESMO QUE RITMO? Não! Mas podemos dizer que todas as atividades que possuem ritmo são rítmicas! Está confuso(a)? Talvez isto se deva ao fato de estarmos frente a outro problema: o que é ritmo? Ele é um termo que faz parte de nosso vocabulá- rio. Usamos em várias situações em nosso cotidiano, sendo comum ouvirmos as pessoas dizendo “eu não tenho ritmo” para justificar o não “saber” ou não “querer” dançar. Analisando este exemplo, podemos entender que o ritmo se relaciona com a música, e o movimento, com a dança. Correto? Sim. Corretíssimo! Mas o ritmo não se resume apenas a esta relação. Observe as imagens da Figura 2. Figura 2 - Tipos de ritmo: pássaros, semáforo e soldados Essas imagens apresentam cenas muito distintas umas das outras. Mas o que elas têm em comum? Em todas há a presença do movimento! Se você está se perguntando qual a relação entre ritmo – que fa- lávamos anteriormente – e movimento, a resposta é: não existe ritmo sem movimento. Isto fica claro ao nos remetermos à etimologia da palavra ritmo, que tem as suas raízes na palavra grega rhytmos, cujo sig- nificado é fluir ou mover-se. Essa relação entre ritmo e movimento faz com que o primeiro esteja presente em todo o universo. O ritmo é um fenômeno cósmico, infinito, presente no universo e no ser. No ser humano é a integração das forças estruturais: corpo/ mente-espírito/emoção de significado e ex- pressão, pois é este que dá emoção, que torna viva, colorida, pessoal, a expressão da emo- ção que sente o ser naquele momento parti- cular (NANNI, 1998 apud GARCIA; HAAS, 2003, p. 27). Podemos entender que, para Nanni (1998), o ritmo é o regulador da vida, é por meio dele que o ser hu- mano se move e expressa a sua singularidade, tanto no que se refere à sua estrutura fisiológica como à emocional e à intelectual. Jeandot (1993) nos auxilia nessa compreensão ao mencionar que: O ritmo vital é marcado por tensões e relaxa- mentos energéticos sucessivos, condicionados no dia a dia por nossa movimentação e por nos- so ritmo fisiológico. Essa noção rítmica instin- tiva que mescla elementos sensoriais e afetivos, constitui a base de nosso senso de equilíbrio e harmonia, essencial para que nos situemos no mundo e percebamos seus limites e contornos (p. 26). 18 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Por meio da compreensão dos excertos de Nanni (1998) e Jeandot (1993), podemos inferir que todos os seres humanos possuem ritmo. Esta afirmação é importante para nos distanciarmos do senso co- mum que induz a afirmações como “eu não tenho ritmo”. No entanto, é admissível que algumas pes- soas tenham ritmos diferentes para desempenhar atividades distintas. Sobre esta questão, Fahlbusch (1990, p. 90) explica que: O ritmo do homem é natural, pois todos nas- cem com ritmo, apenas uns o têm mais de- senvolvido que outros. Na distribuição do movimento, pode-se fazer com os mesmos ele- mentos, o mesmo ritmo; e com o mesmo movi- mento e mesmos elementos, ritmos diferentes. O ritmo pode ser ainda individual ou grupal. Como ritmo individual, no movimento, deve- -se entender a interação de forças e contrações musculares que atuam no mesmo movimen- to. A dança apresenta exemplos de ritmo gru- pal, cuja sincroniase alcança por meio, de um modo geral, de estímulos acústicos. O autor indica a existência de dois tipos de ritmos, o individual e o grupal, mas é possível identificarmos outras classificações de acordo com as suas caracte- rísticas. Vejamos algumas delas. Figura 3 - Ritmo individual Individual: cada um de nós tem o seu próprio ritmo, que pode, inclusive, nos caracterizar. O ritmo individual pode ser identificado no caminhar e cor- rer; na leitura e na escrita; em nosso “relógio bioló- gico”, o qual indica as nossas necessidades de comer e dormir, por exemplo; nos movimentos fisiológicos como batidas do coração e corrente sanguínea. Além destes exemplos, temos ainda o ritmo de aprendiza- do, que pode ser diferente em cada indivíduo. Grupal ou coletivo: o ritmo grupal ou coletivo é aquele em que as pessoas executam os seus movi- mentos individuais obedecendo a um mesmo ritmo – o do grupo. Garcia e Hass (2003) atribuem a este ritmo a denominação de externo, e explicam que ele se relaciona com a capacidade humana de se adap- tar a uma indicação externa, grupal. Portanto, para os autores, “está basicamente relacionado com o que ocorre em nível exterior, modificando, muitas vezes, o ritmo interior do ser humano” (p. 31). Podemos observá-lo na marcha dos soldados, em apresentações de ginástica em conjunto e em espetá- culos de dança. O balé é um ótimo exemplo de ritmo grupal, pois é exigido o sincronismo total do “corpo de baile”. Enfim, todas as atividades e os movimentos sin- cronizados requerem o ritmo grupal que, por sua vez, necessita da adaptação do ritmo individual ao do grupo. Figura 4 - Ritmo coletivo EDUCAÇÃO FÍSICA 19 Mecânico: é aquele ritmo que, via de regra, não sofre alterações. Pelo fato de se caracterizar pela uniformidade é, geralmente, produzido por má- quinas. O movimento dos ponteiros do relógio é um ótimo exemplo para observarmos o ritmo mecânico, mas também podemos ouvi-lo em um metrônomo – aparelho que marca batidas sonoras por minutos – o qual estudaremos mais à frente. O importante é entendermos que o ritmo mecânico é determinado, constante, mais comum nas má- quinas, entretanto, também pode ser produzido por humanos. Natural: na natureza, podemos observar vários ritmos. Como vimos, ritmo é uma substituição de movimentos, os quais podem ser agrupados em ci- clos. O movimento dos ventos pode ser visualizado no ritmo da movimentação dos galhos e das folhas das árvores. O movimento de translação da Terra é percebido pelo ritmo/movimento da troca das es- tações do ano. Em suma, “[...] é considerado como sendo o ritmo dos crescimentos, dos fenômenos da natureza animal, vegetal e universal (atômico e astronômico)” (GARCIA; HASS, 2003, p. 33). Além desses que são os mais evidentes no coti- diano, Garcia e Hass (2003) identificam, ainda, os ritmos: disciplinado, que se refere a movimentos predeterminados; espontâneo, entendido pelas au- toras como as reações espontâneas frente a situações esperadas ou inesperadas; refletido, que é entendido como o estudo da medida do ritmo, ou métrica. Todos esses ritmos são importantes para a atu- ação do(a) professor(a) e profissional de Educação Física. Contudo, para a sistematização de nossos estudos, nos concentraremos em dois aspectos: os ritmos provocados por movimentos desenvolvidos pelo nosso corpo e os ritmos sonoros, provocados por movimentos externos ao corpo. Figura 5 - Ritmo mecânico Figura 6 - Ritmo natural A sociedade contemporânea tem como carac- terística a “velocidade”. Tudo acontece muito rápido! No entanto, muitas pessoas têm os seus ritmos individuais lentos. Como inserir essas pessoas nas exigências contemporâ- neas sem desrespeitar a sua individualidade rítmica? REFLITA 20 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Ritmo e Movimento Corporal EDUCAÇÃO FÍSICA 21 Para abordarmos o ritmo corporal, é necessário re- tomarmos o conceito de corpo construído historica- mente. Vamos lá! Desde a Antiguidade Clássica, podemos consta- tar a divisão entre corpo e mente. Platão (428/427- 348/347 a. C.) entendia que o objetivo da vida do filó- sofo era a busca pela verdade e, neste processo, o corpo era um obstáculo. O pensamento de Platão acerca do corpo pode ser observado no diálogo Fédon, no qual Sócrates, condenado à morte, espera a sua execução sem demonstrar nenhuma aflição. A sua tranquilida- de inquieta os seus amigos, eles o questionam e obtêm, como resposta do mestre, a reflexão sobre o objetivo da vida do filósofo. Sócrates explica que o filósofo pas- sa a vida buscando a verdade e, nesta trajetória, a sua ação “[...] se diferencia dos demais homens: no empe- nho de retirar quanto possível a alma na companhia do corpo” (PLATÃO, 1972, Fédon, IX). A justificativa para este distanciamento é de que a alma, [...] raciocina melhor, precisamente, quando nenhum empecilho lhe advém de nenhuma parte, nem do ouvido, nem da vista, nenhum sofrimento, nem sobretudo dum prazer — mas sim, quando se isola o mais que pode em si mesma, abandonando o corpo à sua sorte, quando, rompendo tanto quanto lhe é possível qualquer união, qualquer contato com ele, an- seia pelo real? (PLATÃO, Fédon, X). Podemos entender que, para Platão, todas as sen- sações provenientes do corpo prejudicam o exer- cício do pensamento e, consequentemente, a fina- lidade do filósofo: alcançar a verdade. Portanto, ele entende que “[...] enquanto tivermos corpo e nossa alma se encontra atolada em sua corrupção, jamais poderemos alcançar o que almejamos. E o que queremos, declaremo-lo de uma vez por to- das, é a verdade” (PLATÃO, Fédon, XI). Esse pensamento fez com que o filósofo grego estabelecesse uma hierarquia entre espírito e corpo, sendo o primeiro superior, e o segundo, inferior. Esta ideia permanece na Idade Média, mas, neste período, ela recebe uma interpretação cristã. Para o cristão, a inferioridade do corpo era atri- buída a duas questões centrais: o ser humano se aproxima de Deus pelo desenvolvimento de seu in- telecto e se distancia Dele por meio do pecado. Nes- te sentido, o corpo era entendido como o veículo do pecado, principalmente da gula e da luxúria. Em relação a esta, Tomás de Aquino (1225-1274) men- ciona que: o prazer sexual, finalidade da luxúria, é o mais intenso dos prazeres corporais e, assim, a luxú- ria é o mais capital e tem, como mostra Gre- gorio (mor. XXXI, 45), oito filhas: ‘cegueira da mente, irreflexão, inconstâncias, precipitação, amor de si, ódio de Deus, apego ao mundo, e desespero em relação ao mundo futuro’. Há um fato evidente: quando a alma se volta veemente para um ato de uma faculdade infe- rior, as faculdades superiores se debilitam e se desorientam em seu agir. No caso da luxúria, por causa da intensidade do prazer, a alma se ordena às potências inferiores – à potência con- cupiscível e ao sentido do tato. E é assim que, necessariamente, as potências superiores, isto é, a razão e a vontade, sofrem uma deficiência (TOMÁS DE AQUINO, 2004, p.108). Fica evidente que o prazer sexual, promovido pelo corpo, deveria ser evitado por afastar o ser huma- no do caminho reto da razão, o qual o conduziria a Deus. O corpo inferiorizado, condenado e castiga- do durante a Idade Média permanece com o mesmo status na Idade Moderna, não mais por meio de ar- gumentos teológicos, mas pela luz da razão. 22 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA A Modernidade é uma época marcada por mui- tos acontecimentos, como o desenvolvimento cientí- fico e, neste período, viveram grandes homens, como Galileu Galilei (1564-1642) e Isaac Newton (1642- 1727), mas é com Descartes (1596-1650) que vemos a continuação e a efetivação do pensamento dualis- ta. Descartes, considerado o pai da filosofia moder- na, estruturou o seu método de pensar por meio da dúvida. Ao duvidar, inclusive da própria existência, ele desenvolve o seguinte raciocínio: se estou duvi- dando, estou pensando; se estou pensando, eu existo (cogito ergo sum – penso, logoexisto). Por meio des- ta reflexão, efetiva-se a distinção entre as partes que compõem o ser humano e também a sua hierarquia: a mente é pensante e, inclusive, pensa sobre o corpo, por isto, é superior. Ao corpo cabe obedecer! Tal ideia pôde ser observada quando Descar- tes(2005) se pôs a questionar os atributos da alma e se depara com o pensar: [...] noto aqui que o pensamento é um atributo que me pertence. Só ele não pode ser despren- dido de mim. Eu sou, eu existo: isto é certo; mas por quanto tempo? A saber, durante o tempo em que penso; pois talvez pudesse ocorrer, se eu cessasse de pensar, que cessasse ao mesmo tempo de ser ou de existir. Não admiro agora nada que não seja necessariamente verdadeiro: não sou, então, precisamente falando, senão uma coisa que pensa, ou seja, um espírito, um entendimento ou uma razão, que são termos cujo significado era-me anteriormente desco- nhecido (p. 46). Esta retomada da compreensão do corpo nos diferentes momentos históricos é importante para percebermos o quanto o dualismo influenciou e continua influen- ciando o nosso modo de pensar e agir. Mesmo estabe- lecida há séculos atrás, tal forma de pensar se reflete na contemporaneidade e pode ser percebida em nossa linguagem no dia a dia. Por exemplo, após um treina- mento intenso, o atleta se queixa: “estou com o meu corpo todo dolorido”. Esta questão é importante para pensarmos quem são o sujeito e o objeto do movimen- to. No exemplo anterior, quem é o sujeito? Eu, a mente, e o objeto, o corpo. Assim, na perspectiva dualista, po- deríamos inferir que a mente é o sujeito, e o corpo, o objeto de toda a ação humana. Em oposição, podemos encontrar a fenomenologia. Adepto desta perspectiva filosófica, Merleau-Ponty (1908-1961) menciona: Durante muito tempo, acreditou-se encontrar no condicionamento periférico uma maneira se- gura de localizar as funções psíquicas “elemen- tares” e de distingui-las das funções “superio- res”, menos estritamente ligadas à infraestrutura corporal. Uma análise mais exata mostra que os dois tipos de funções se entrecruzam. O elemen- tar não é mais aquilo que, por adição, constituirá o todo, nem, aliás, uma simples ocasião para o todo se constituir. O acontecimento elementar já está revestido de um sentido, e a função su- perior só realizará um modo de existência mais integrado ou uma adaptação mais aceitável, utilizando e sublimando as operações subordi- nadas. Reciprocamente, “a experiência sensível é um processo vital, assim como a procriação, a respiração ou o crescimento”. A psicologia e a fisiologia não são mais, portanto, duas ciências paralelas, mas duas determinações do compor- tamento, a primeira concreta, a segunda, abstra- ta (1999, p. 31). Por meio do excerto apresentado, podemos perce- ber que Merleau-Ponty rompe com a ideia de se- paração ou inferioridade das experiências sensíveis (corporais). Isto é possível porque a perspectiva fe- nomenológica “[...] repõe as essências na existência, e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra maneira senão a partir de sua ‘facti- cidade’” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 1). EDUCAÇÃO FÍSICA 23 Nesta perspectiva, não há mais a fragmentação entre corpo e alma, o primeiro passa a fazer parte da totalidade, o que nos possibilita entendê-lo como sensível e inteligível, possuidor da essência em si mesmo. Os pensadores fenomenológicos entendem que todo o conhecimento é proveniente da percep- ção que temos do mundo: O próprio cientista deve aprender a criticar a ideia de um mundo exterior em si, já que os próprios fatos lhe sugerem abandonar a ideia do corpo como transmissor de mensagens. O sensível é aquilo que se apreende com os sentidos, mas nós sabemos agora que este “com” não é simplesmente instrumental, que o aparelho sensorial não é um condutor, que mesmo na periferia, a impressão fisiológica se encontra envolvida em relações antes consi- deradas como centrais (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 32). Para compreender melhor a corrente filosófica desenvolvida no século XIX, leia o fragmento do prefácio do livro Fenomenologia da Percepção de Maurice Merleau-Ponty: “[...] É uma filosofia transcendental que coloca em suspenso, para compreendê-las, as afirmações da atitude natural, mas é também uma filosofia para a qual o mundo já está sempre ‘ali’, antes da reflexão, como uma presença inalienável, e cujo esforço todo consiste em reencontrar este contato ingênuo com o mundo, para dar-lhe, enfim, um estatuto filosófico. É a ambição de uma filosofia que seja uma ‘ciência exata’, mas é também um relato do espaço, do tempo, do mundo ‘vividos’. É a tentativa de uma descrição direta de nossa experiência tal como ela é [...]. Fonte: adaptado de Merleau-Ponty (1999). SAIBA MAIS É o corpo que possibilita o homem ser homem - ser o que é -, pois o eu é resultado da consciência e das experiências que o indivíduo tem do/no mundo. Para Merleau-Ponty (1999), o ser humano é a fusão entre alma e corpo que se evidencia em ato, como fica evidente no seguinte excerto: Eu não sou o resultado ou o entrecruzamen- to de múltiplas causalidades que determinam meu corpo ou meu “psiquismo”, eu não posso pensar-me como uma parte do mundo, como simples objeto da biologia, da psicologia e da sociologia, nem fechar sobre mim o universo da ciência. Tudo aquilo que eu sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma vi- são minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não pode- riam dizer nada. Todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido (p. 3). 24 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Você pode estar se perguntando: por que nos repor- tarmos às concepções dualista e fenomenológica de corpo para estudarmos o ritmo? A resposta é simples: ao adotarmos a perspectiva dualista, entendemos o ritmo como uma ação mecânica, produzida pelo ob- jeto corpo. Se aceitarmos a perspectiva fenomenoló- gica do corpo, entendemos que pensamentos, emo- ções e ações não são desvinculados e, neste sentido, o ritmo passa a ser uma ação produzida pelo ser huma- no, em sua totalidade. Esta ideia é muito importante porque influenciou um método de ensino musical que não se ateve ao universo da música, mas se es- tendeu à ginástica e à dança. Estamos nos referindo à Rítmica, método de educação musical desenvolvido pelo compositor Émile Jaques-Dalcroze (1865-1950). Desde as duas últimas décadas do século XX, Jaques-Dalcroze vem sendo continuamente ci- tado e discutido pela historiografia como per- sonagem central da modernidade na dança, ao lado de François Delsarte e Rudolf Laban. Os estudos sobre as origens da ginástica moderna também elegeram Dalcroze como grande ins- pirador dos movimentos rítmicos e expressivos novecentistas (MADUREIRA, 2008, p. 22). Dalcroze sempre alimentou o desejo de ser compo- sitor, mas dificuldades financeiras o conduziram à carreira de professor no mesmo conservatório que havia estudado. A criação, necessária ao composi- tor, não foi abandonada em sua trajetória docente, ao contrário, foi a base de sua ação como educador e que resultou em um novo sistema de ensino musical. Ao deparar-se com as dificuldades de seus alunos Dalcroze pôs-se a investigar a “[...] relação música- ritmo-movimento-expressão que culminaram na criação de um sistema completo de educação musical denominado Ginástica Rítmica ou simplesmente Rítmica” (MADUREIRA, 2008, p. 23). Para ele, a Rítmica consistia em um sistema de educação musical totalmente baseado no ritmo, considerado como princípio da vida, que tinha como finalidade recuperar a liberdade natural dos corpos. O seus fundamentos filosóficos, no que se refere aos princípios educativos, eram provenientes de Platão, que considerava a música e a ginástica in- dispensáveis à formação do indivíduo grego. Uma educação meramente ginástica cultiva de- mais a dureza e a fereza do homem; uma exces- siva educação musical torna o homem muito mole e delicado. Quem deixaros sons da flauta derramarem-se constantemente na sua alma co- meçará a abrandar como o ferro duro e a pôr- -se em condições de ser trabalhado; mas com o tempo se amolecerá e se converterá em papa, até que sua alma fique completamente sem nervo. Quem, pelo contrário, submeter-se ao esforço da ginástica e comer abundantemente, sem em nada cultivar música e a filosofia, sentirá, a princípio, crescer em si a coragem e o orgulho, graças à sua energia corporal, e ficará cada vez mais valente. Mas, ainda que se suponha que a sua alma abri- gava de início algum desejo natural de aprender, à força de não se alimentar com nenhuma ciência nem investigação, acabará por ficar cega e surda. Um tal homem se converterá em misólogo, em inimigo do espírito e das musas; já não consegui- rá persuadir ninguém nem se deixar persuadir pela palavra, e o único recurso de que disporá para alcançar o que se propuser será a força bru- ta, exatamente como um bruto qualquer. Foi por isso que um deus deu aos homens a ginástica e a música, formando a unidade indivisível da pai- deía, não como educação separada do corpo e do espírito, mas como forças educadoras da parte corajosa e da parte da natureza humana que as- pira à sabedoria. Quem as souber combinar na harmonia própria será mais favorito das musas que aquele herói mítico da pré-história que, pela primeira vez, soube combinar as cordas da lira (PLATÃO apud JAEGER, 2001, p. 799-800). EDUCAÇÃO FÍSICA 25 Sob a inspiração desta concepção de educação, Dal- croze propôs um sistema de ensino musical que, a nosso ver, ultrapassa o objetivo de formar músicos e atua diretamente na formação integral do ser hu- mano. Uma pessoa que sente o seu corpo por intei- ro percebe o próprio ritmo e expressa, por meio de movimentos ordenados, os seus sentimentos, cons- tituindo-se um indivíduo com maior probabilidade de entender o mundo onde vive, bem como se situar e exercer o seu papel social. Veja o que Dalcroze fez após retirar seus alunos de suas carteiras e adotar a marcha como princípio para sua técnica de ensino musical. O próximo passo foi ornamentar as marchas com movimentos dos braços. Para cada tem- po do compasso havia um gesto correspon- dente. Dalcroze apropriou-se das convenções preestabelecidas da regência, em especial para os compassos básicos (binário, ternário e quaternário), alongando um pouco mais os movimentos do braço até a extensão ou flexão total dos cotovelos. Dalcroze não ne- gligenciou os compassos divididos em 5, 6, 7, 8 e 9 tempos, pouco usuais no ensino de música, criando para estes novas sequências de movimento. As pernas, que inicialmente marcavam a pulsação de modo automático, também so- freram alterações. Dalcroze criou, para cada tempo do compasso, uma gestualidade das pernas inspirando-se nos movimentos do ballet clássico, nas flexões de joelhos (demi- -pliés) e nos desenhos realizados pelo chão (ronds de jambe). Fonte: adaptado de Madureira (2008, p. 66). SAIBA MAIS 26 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Ritmo e Som EDUCAÇÃO FÍSICA 27 O ritmo está presente nos mundos orgânico e inor- gânico. A sua existência é condicionada ao movi- mento. No entanto, por que quando falamos de rit- mo, pensamos quase que imediatamente em música e não no movimento em si? Podemos responder esta questão dizendo: porque música é movimento! As músicas são compostas por sons, seja instru- mental ou vocal. Então, podemos afirmar que som é movimento? Sim! Artaxo e Monteiro (2003, p. 17) definem o som como: “tudo que impressiona o ór- gão auditivo, resultante do choque de dois corpos que produzem a vibração do ar”. Em consonância com Artaxo e Monteiro, Jean- dot (1993, p. 12) menciona que “o som depende do movimento e não existe na ausência dele. Em termos físicos, o som é uma vibração que chega a nossos ouvidos na forma de ondas que percorrem o ar que nos rodeia”. Para pensarmos melhor sobre o som, considera- remos as seguintes questões: • O som é tudo que impressiona o órgão au- ditivo. • O som é resultante de dois corpos que produ- zem a vibração do ar. A primeira questão se refere ao que ouvimos, ou seja, tudo o que chega ao nosso órgão auditivo (ou- vido). Quando, por exemplo, um sino bate, o seu movimento produz vibrações que se tornam ondas sonoras e se propagam pelo ar até o nosso ouvido externo, passando pelo médio e interno, até serem decodificadas pelo nosso cérebro como som. Em nosso dia a dia, estamos ouvindo sons o tempo todo. O ouvido é o órgão do sentido que nunca para de trabalhar, mesmo quando não pres- tamos atenção, os nossos ouvidos estão capturan- do sons. Inclusive quando dormimos – quantas vezes você já acordou no meio da noite por ter ouvido um barulho? Por isto, a audição é o senti- do que mais nos propicia interação com o mundo exterior. Figura 7 - Como o som chega ao ouvido A maioria das pessoas usa a visão para realizar a maior parte de sua comunicação com o mundo exterior. Entretanto, enquanto a visão possibili- ta um campo de apenas 180º de abrangência, a audição proporciona para o indivíduo um cam- po de 360º. Um exemplo claro que ilustra essa característica é a seguinte: se uma pessoa acena atrás de mim, sem emitir um único som, certa- mente não saberei que estou sendo chamado. No entanto, basta um único chamado audível para que eu possa identificar a informação, independente do lugar que essa pessoa estiver ocupando em relação ao meu posicionamento (GREGUOL; COSTA, 2013, p.133-134). Dentre todos esses sons que chegam aos nossos ou- vidos e nos permitem interagir socialmente, alguns são mais agradáveis do que outros e existem, ainda, aqueles que são totalmente desagradáveis, causado- res de desconforto. Estes últimos são os ruídos. 28 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA A natureza oferece dois grandes modos de expe- riência da onda complexa que faz som: frequência regulares, constantes, estáveis, como aquelas que produzem o som afinado, com altura definida, e frequências irregulares, inconstantes, instáveis, como aquelas que produzem barulhos, manchas, rabiscos sonoros, ruídos (WISNIK, 1989, p. 26). Assim, podemos entender que os ruídos são re- sultantes de vibrações irregulares, por exemplo, quando arrastamos pelo chão uma cadeira ou uma mesa. Em suma, são sons sem harmonia, sem uma ligação agradável e, por isto, não causam prazer, contrariamente, são irritantes. Além de entendermos as diferenças entre som e ruído, também é importante sabermos que o pri- meiro possui alguns elementos conhecidos como “qualidades do som”. São eles: altura, duração, tim- bre e intensidade. Vejamos cada um. A altura pode ser pensada conforme a seguinte si- tuação: normalmente, quando temos dificuldade em ouvir uma música ou um programa na televisão, au- mentamos o volume do aparelho para que o som fique mais alto. Correto? Nesse caso, o termo ‘alto’ se refere ao volume e não a altura do som. A altura do som: É determinada pela frequência dos sons, isto é, número de vibrações que cada onda sonora emite em determinado intervalo de tempo. Um som é mais grave quanto menor for o número de vibrações, ou seja, quanto menor for a frequência da onda sonora. Quanto maior for essa frequência, mais agudo ele será (ARTAXO; MONTEIRO, 2003, p. 21). Wisnik (1989, p. 21) nos auxilia a compreender a di- ferença entre som grave e agudo mencionando que: [...] o som grave (como o próprio nome suge- re) tende a ser associado ao peso da matéria, com os objetos mais presos à terra pela lei da gravidade, e que emitem vibrações mais len- tas, em oposição à ligeireza leve e lépida do agudo (o ligeiro, como no francês léger, está associado à leveza). Podemos identificar os sons agudos e graves ob- servando as nossas próprias vozes. No senso co- mum, associamos o agudo ao fino e o grave ao grosso, portanto, poderíamos dizer que, geralmen- te, os homens têm voz grave, e as mulheres, agu- da. Cientificamente, esta análise é feita a partir dafrequência de vibrações que as partículas que pro- pagam o som executam por segundo (Hz). A voz humana possui a frequência entre 85 Hz e 1.100 Hz, as vozes com frequência mais próxima de 85 Hz são graves (baixas), e as que se aproximam de 1.100 Hz são agudas (altas). t s t s Frequência baixa --- som grave Frequência alta --- som agudo F qu n i a x - om r v F e u c - om a ud Figura 8 - Frequência de som grave e agudo Fonte: Áudio Escola (2011, on-line)2. EDUCAÇÃO FÍSICA 29 A duração do som é o período em que ele se esten- de, o qual pode ser longo ou curto. Esta qualidade do som é bem importante na relação entre ele e o movimento, pois, para estabelecermos harmonia, é indicado que o movimento tenha a mesma duração do som. O timbre refere-se à diferenciação dos sons e nos possibilita identificá-los, é chamado, geralmen- te, de a “cor” do som. Podemos, por exemplo, saber que Maria está próxima de nós sem vê-la, apenas por ouvir a sua voz. O mesmo ocorre quando ou- vimos música e identificamos o som da guitarra, da bateria e dos demais instrumentos, mesmo que “[...] estejam produzindo a mesma nota com a mes- ma altura e a mesma intensidade. O timbre depen- de da forma como a energia se distribui entre as várias frequências que determinam a vibração do som” (JEANDOT, 1993, p. 23). A intensidade se relaciona com a energia des- prendida na produção do som, assim, podemos produzir sons fortes e fracos. Como explica Wis- nik (1989, p. 25): “[...] a intensidade é uma infor- mação sobre um certo grau de energia da fonte sonora”. Em consonância, Jeandot (1993, p. 23) afirma que “a intensidade depende principalmen- te da energia emitida pela fonte sonora. Quanto mais força for imprimida pelo agente sonoro, mais alto será o som”. Conseguir identificar a intensida- de dos sons é importante para identificarmos os compassos, já que estes são detectados pelos tem- pos fortes e fracos. Concluímos a importância das qualidades do som com a seguinte passagem: Através das alturas e durações, timbres e intensi- dades, repetidos e/ou variados, o som se diferen- cia ilimitadamente. Essas diferenças se dão na conjugação dos parâmetros e no interior de cada um (as durações produzem as figuras rítmicas; as alturas, os movimentos melódicos-harmôni- cos; os timbres, a multiplicação colorística das vozes; as intensidades, as quinas e curvas de for- ça na sua emissão (WISNIK, 1989, p. 26). Você sabe a diferença entre ouvir, escutar e entender? Usamos esses termos no dia a dia quase como sinônimos. Mas eles têm sentidos bem distintos. Jeandot (1993) expli- ca essas diferenças da seguinte forma: para ouvir, basta estarmos expostos ao mundo sonoro e possuirmos o aparelho auditivo em funcionamento. Nunca cessamos de ouvir, de receber as impressões dos ruídos, dos sons. A escuta envolve interesse, motivação, aten- ção. É uma atitude mais ativa que o ouvir, pois selecionamos, no mundo sonoro, aquilo que nos interessa. Desta maneira, podemos perceber, na música, os seus elementos cons- tituintes, como a tonalidade, os timbres, o andamento, o ritmo etc. A escuta envolve também a ação de entender e compreender, ou seja, de tomar consciência daquilo que se captou. Fonte: adaptado de Jeandot (1993). SAIBA MAIS 30 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Elementos da Música Aplicados às Atividades Rítmicas EDUCAÇÃO FÍSICA 31 Dentro da complexidade dos elementos que podem ser abordados sobre o assunto sons e ritmos, o nos- so interesse se concentra nos sons musicais, pois é em consonância com a música que a maioria das atividades rítmicas se desenvolvem. Jeandot (1993) explica que, mesmo antes de nascermos, o universo musical já faz parte de nossas vidas: Na verdade, antes mesmo de nascer, ainda no útero da materno, a criança já toma contato com um dos elementos fundamentais da músi- ca – o ritmo -, através das pulsações do coração de sua mãe. Antes ainda de começar a falar, podemos ver o bebê cantar, gorjear, experimentando os sons que podem ser produzidos com a boca. Obser- vando uma criança pequena, podemos vê-la cantarolando um versinho, uma melodia, ou emitindo algum som repetitivo e monótono, balanceando-se de uma perna a outra, ou ainda para frente e para trás, como que reproduzindo o movimento do acalanto. Essa movimentação bilateral desempenha papel importante em to- dos os meios de expressão que se utilizam do ritmo, seja a música, a linguagem verbal, a dan- ça etc. (JEANDOT, 1993, p. 18). É importante ressaltar, no entanto, que o nosso in- teresse não é a música especificamente, mas sim, entender alguns elementos presentes nela que são importantes no desenvolvimento das atividades rít- micas. Dentre esses elementos, iniciamos apresen- tando a métrica. Por métrica entendemos medida. Assim, é pela métrica que realizamos a contagem musical. Ela re- presenta a objetividade, pois divide o tempo musical em partes iguais, repetindo-as sempre, ou seja, mede o tempo entre a repetição de um movimento e outro. Mas como fazemos essa medição? Por meio do pul- so, ou pulsação. O pulso, ou pulsação, é a batida/ marcação da música. Quando começamos a nos movimentar ao escutar uma música, os nossos movimentos são di- recionados pela batida dela. É por meio do pulso que conseguimos identificar outros elementos da música, como andamento e compasso. O andamento é a velocidade da música, ou seja, o espaço de tempo entre as batidas. O andamento de uma música é medido por um aparelho chamado metrônomo. Este foi inventado no século XIX por Johann Nepomuk Maezel para medir os batimen- tos por minutos (BPM) e até hoje é muito utilizado. Atualmente, o modelo mecânico foi substituído por digitais, podendo ser instalados, inclusive, em com- putadores e celulares. Figura 9 - Metrônomo mecânico Por meio do metrônomo, o andamento pode ser classificado como vagaroso, moderado e rápido (Ta- bela 1). 32 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Tabela 1 - Andamento Vagaroso Batimentos por Minuto (bpm) Grave Muito lento 40 - 60Lento Lento Largo Pausado Larghetto Pausado, mas não tanto quanto o largo. 66 - 76 Adágio De um modo calmo, sem pressa Moderado Andante De um modo fluente, como quem caminha 76 - 108 Moderato Moderado 108 - 120 Allegretto Um pouco rápido Rápido Allegro Rápido 120 - 168 Vivace Vivo Presto Muito rápido 168 - 208 Prestíssimo O mais rápido possível Fonte: Artaxo e Monteiro (2003, p. 25). Ao observarmos a tabela, podemos concluir que va- garoso/lento é o andamento que apresenta os BPMs entre 40 e 76; moderado entre 76 e 120; e rápido, 120 a 208. Por compasso, podemos entender “[...] a pulsa- ção rítmica da música que se repete regularmente, dividindo-a em partes iguais, em sequências de 2, 3, 4 ou mais tempos” (ARTAXO; MONTEIRO, 2003, p. 23). Quando a divisão é de 2 tempos, chama-se compasso binário, de 3 tempos, ternário, e de 4 tem- pos, quaternário. Mas, como essa divisão é feita? Por meio dos predicados forte e fraco. Vejamos os exem- plos na Figura 10 e na Figura 11: Figura 10 - Compasso binário Fonte: a autora. Figura 11 - Compasso ternário Fonte: a autora. http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Largo_%28andamento%29&action=edit&redlink=1 http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Larghetto&action=edit&redlink=1 http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Moderato&action=edit&redlink=1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Allegro_ma_non_troppo http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Presto_%28andamento%29&action=edit&redlink=1 http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Prestissimo&action=edit&redlink=1 EDUCAÇÃO FÍSICA 33 Na primeira imagem, podemos contar as palmas de duas em duas; na segunda, de três em três; portan- to, correspondem, respectivamente, aos compassos binários e ternários. Mas e o quaternário? Para iden- tificá-lo, é preciso, além das palmas fortes e fracas, inserirmos uma palma “meio forte”, ou intermediá- ria. Veja a Figura 12. Figura 12 - Compasso quaternário Fonte:a autora. Nestes exemplos, estamos usando palmas para re- presentar as batidas, mas existem símbolos especí- ficos que são utilizados para fazer a escrita musical. Eles são chamados de “figuras do ritmo” que, além de nos possibilitar a leitura do compasso, têm a fun- ção de registrar a duração do som. Veja a explicação de Artaxo e Monteiro (2003, p. 22, grifo nosso) so- bre as figuras do ritmo: “a duração do som musical faz o ritmo da música, ou seja, o ritmo é a sequên- cia de durações, diferentes e repetidas regularmente, sendo formado por figuras do ritmo ou por valores musicais”. Podemos perceber, portanto, que existem diferentes durações dos sons. Isto fica claro na expli- cação de Jeandot (1993, p. 24, grifos do autor): A duração do som pode ser longa, como o som prolongado de um apito, ou como a nota sustentada num instrumento. Pode ser ainda curta ou breve, quando o início e o fim da emissão se confundem, como acontece, por exemplo, quando tocamos brevemente a borda de uma mesa. O som de duração in- termediária é chamado som formado. Nele se percebem o toque inicial, sua continuação e seu término, como o toque de martelo nas lâminas do metalofone. Assim, para identificarmos a duração do som, bas- ta olharmos para as figuras apresentadas no quadro a seguir: ESCRITA MUSICAL SOM SILÊNCIO Figuras -representação- Figuras -nome- Duração Pausas -nome- Pausas -representação- semibreve 4 pulsações pausa de semibreve mínima 2 pulsações pausa de mínima semínima 1pulsação pausa de semínima cocheia 0,5 pulsações pausa de colcheia Fonte: Carvalho ([2017], on-line)3. Quadro 1 - Escrita musical 34 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Ao observarmos o quadro, podemos verificar que a semibreve é a figura de maior duração, com 4 tem- pos (batidas/pulsações). Perceba que a mínima cor- responde à sua metade, ou seja, 2 tempos. O mesmo ocorre com a semínima, 1 tempo, e assim sucessiva- mente. Desta forma, podemos inferir que o valor de cada figura corresponde à metade da anterior. Assim como temos as figuras que identificam a duração do som, também existem as que marcam a duração do silêncio. Observe que, quando conversa- mos, existe um intervalo entre uma palavra e outra, as chamadas pausas, as quais também são expressas por figuras, denominadas “figuras negativas” e rece- bem o mesmo nome das positivas, ou seja, das que registram o som. Agora que já conhecemos as figuras rítmicas, voltaremos aos compassos. Lembre-se que eles orga- nizam os tempos. Conforme a organização, os com- passos podem ser binários, ternários e quaternários, certo? Desta forma, observe a Figura 13: Figura 13 - Compasso binário Fonte: a autora. O que esta fração na Figura 13 significa? O numera- dor da fração (parte superior) indica como o com- passo será dividido. Neste caso, a divisão se dará de 2 em 2 tempos (pulsos), isto significa que é um com- passo binário. O denominador indica a figura rítmi- ca do compasso que, neste caso, será a semínima, a qual corresponde a 1 pulso. Mas como sabemos que o número 4 indica a semínima? A semibreve tem uma duração de 4 tempos, portanto, é considerada uma figura inteira e recebeu como referência o número 1; a mínima equivale à metade da semibreve, ou seja, precisamos de duas mínimas para termos o mesmo tempo da semibreve. O número correspondente da mínima é o 2. Você, portanto, já entendeu a lógica das atribuições numéricas, não é mesmo? Então, por que a semínima recebe como referência o número 4? Porque é preciso 4 semínimas para corresponder o tempo da 1 semibreve. Observe o quadro a seguir e veja como ocorre essa atribuição numérica para as demais figuras. EDUCAÇÃO FÍSICA 35 Veja estes exemplos de compassos: Compasso ternário Quadro 2 - Valores das notas musicais Compasso quaternário Fonte: Darezzo ([2015], on-line)4. Figura 14 - Compasso ternário e quaternário Fonte: a autora. 36 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA Além desses compassos, que são os simples, exis- tem os compostos. No entanto, não nos aprofunda- remos neste estudo, pois estaríamos entrando em questões específicas da teoria musical e nos distan- ciando de nosso propósito. Todavia é importante saber que os compassos compostos podem resultar no que chamamos, no universo da dança, de “con- tagem quebrada”, ou seja, quando não conseguimos contar até 8 em uma música. Um exemplo é o com- passo composto 6/8, em que a contagem vai até 6. Isto ficará mais claro quando tratarmos de frase musical ou coreográfica. O domínio das figuras rítmicas positivas e nega- tivas é importante, principalmente no processo de montagem coreográfica, pois podemos determinar a duração de cada movimento por meio da notação das figuras. Agora, vamos fazer um exercício práti- co? Decore a seguinte sequência de exercícios: Figura 15 - Sequência de exercícios Fonte: a autora. EDUCAÇÃO FÍSICA 37 Execute-os de acordo com a notação no Quadro 3: Quadro 3 - Sequência de exercícios práticos Exercício 1 Exercício 2 Exercício 3 Semibreve (4t) Mínima (2t) Mínima (2t) 8t Exercício 4 Exercício 5 Semínima (1) Pausa da semínima (1) Semibreve (4t) Pausa da mínima (2) 8t Exercício 6 Semibreve (4) Pausa da semibreve (4) 8t Fonte: a autora. Você já conseguiu decorar a sequência e executá- -la, obedecendo o tempo determinado pelas figuras do ritmo, então executaremos a mesma sequência, mas com o direcionamento sonoro. Para isso, será preciso um metrônomo, o qual poderá ser encon- trado em versões on-line ou em vídeos. Execute essa sequência de acordo com os andamentos, lembra? Vagaroso (40 a 76 BPM); moderado (76 a 120 BPM) e rápido (120 a 208 BPM). Esse exercício é indicado para observar o ritmo individual dos alunos e esta- belecer um ritmo grupal para o desenvolvimento de atividades coletivas. Agora, trocaremos o metrônomo por uma músi- ca que você gosta. Primeiro escute a música identifi- cando a sua pulsação e, depois, execute a sequência de acordo com as suas batidas. Repita quantas vezes for necessário, até dominar a execução. Observaremos novamente o Quadro 3. Veja que, na última coluna, há uma soma de 8T. O que isto significa? Esses 8T significam 8 tempos (bati- das/pulsações) e são usados para indicar as frases musicais. A frase musical, assim como na língua falada ou escrita, é composta por início/meio/fim. Não existe regra em relação ao seu tamanho, mas, ge- ralmente, elas são construídas em 8 tempos. A identificação das frases musicais é muito impor- tante na dança, pois, geralmente, inicia-se a exe- cução dos movimentos simultaneamente com o início das frases e o mesmo ocorre em relação ao seu término. As frases são agrupadas em períodos, os quais costumam ser formados por 8 compassos, que pode corresponder a 4 frases e a 32 tempos, se o compasso for quaternário. 38 FUNDAMENTOS DE RÍTMICA E DANÇA A identificação das frases e dos períodos mu- sicais é muito importante para a montagem coreo- gráfica. Antes de iniciar a criação dos movimentos, é indicado o estudo da música para conhecer, por exemplo, a quantidade de frases que compõem a in- trodução ou o refrão. Vamos praticar! Escolha uma música que você gosta. Escute-a procurando identificar as frases e os períodos musicais. Anote as suas observações. Não existe uma única forma de fazer as anotações, mas sugerimos fazer da seguinte maneira: para cada frase musical, escolha um símbolo, por exem- plo, um traço ( I ), e toda vez que perceber mudan- ças significativas (instrumental, vocal, refrão etc.) mude de linha. Para finalizarmos a nossa abordagem da música, é importante saber que, além do ritmo, ela possui outros dois elementos: melodia e harmonia. Pode- mos compreender o que é melodia por meio da ex- plicação de Artaxo e Monteiro (2003, p. 20): Em música, a melodia consiste na emissão li- near de sons apoiados noritmo. Uma sucessão de sons não constituiu melodia; é necessário possuir, como característica essencial, a can- tabilidade, que nos permite poder cantar uma linha melódica. Toda melodia é apresentada por combinações de tons altos e baixos, graves e agudos, fortes e fracos, de intensidade alta ou baixa, criando variedade imensa de ritmos. Um tom sozinho não cria melodia. Uma frase me- lódica só acontece com uma sucessão sonora. Harmonia se refere à combinação de sons. Artaxo e Monteiro (2003, p. 20) explicam que: “é a combina- ção simultânea de dois sons ou mais”. Para Garcia e Haas (2003, p. 57), harmonia “refere-se à combi- nação de diferentes notas que soam simultaneamen- te, formando um acorde; realça o sentimento que o compositor expressou ao compor a música”. Ritmo, melodia e harmonia possibilitam, então, a construção musical. A música faz parte da consti- tuição do nosso próprio eu. Ouvimos música quan- do estamos tristes ou alegres; para passar o tempo, trabalhar ou descansar; com amigos ou sozinho(a). A música dialoga com os nossos sentimentos, des- perta desejos e sentimentos, reaviva recordações, estimula o pensar, o agir e o criar. Por isso, a música é tão importante quando o nosso interesse são ativi- dades rítmicas, as quais podem ser entendidas como a expressão da relação entre gesto corporal e som. Jeandot (1993, p. 14) explica que existe um vínculo entre o surgimento da música ao: [...] interesse do homem primitivo pelos mo- vimentos e pelos gestos por eles produzidos e pelos sons oriundos da natureza. “A satisfação de exercitar seus músculos, o prazer de gritar, de bater sobre os objetos sem dissociar o gesto de seu efeito, pode ser a origem simultânea da dança, do canto, da música”. Essa abordagem recupera a relação música-corpo. Seria a músi- ca a arte do gesto? Por meio da passagem de Jeandot (1993), podemos entender que não existe dissociação entre música/ dança, som/corpo. Esta ideia é importante para refletirmos acerca do objeto da Educação Física, o movimento corporal, o qual não é simplesmente executado pelo corpo, mas reflete o ser em sua to- talidade. Nesta perspectiva, as atividades rítmicas possibilitam o conhecimento do ser humano e a participação na construção social/humana dos su- jeitos que a praticam. 39 considerações finais Chegamos ao final de nossa primeira unidade e agora, você está inseri-do(a) no universo da Rítmica!Ao trabalharmos os seus principais elementos, neste momento, você deve ser capaz de diferenciar a rítmica do ritmo, não é mesmo? A rítmica é a ciência do ritmo, o qual não existe sem movimentos e se caracteriza pela sucessão regular destes. No entanto, a forma como essa sucessão ocorre possibilita a classifica- ção do ritmo, por exemplo, em individual ou coletivo. Além disso, vimos como é importante termos claro o conceito de corpo, pois ele conduzirá as nossas ações frente aos nossos alunos. Neste caso específico, é a nossa compreensão de corpo que nos levará a entender se o ritmo é produzido mecanica- mente, como em um relógio, ou como reflexo do que somos em nossa totalidade. Pudemos verificar como isto se efetiva na prática com a Rítmica de Dalcroze que, por meio da visualização do ritmo mecanizado produzido por seus alunos de mú- sica, sistematizou um método de ensino que não expressa a dissociação entre ritmo e o ser. A proposta de Dalcroze foi tão importante que não se limitou ao ensino da música, mas influenciou as práticas de ginástica e dança. O estudo do som nos propiciou entender as suas qualidades, as quais são impor- tantes para pensarmos a música. Mesmo que o estudo da teoria musical não seja o in- tuito de nossa abordagem, alguns de seus elementos são importantes para trabalhar- mos com música nos diferentes campos de atuação do(a) professor(a) e profissional de Educação Física. Dentre eles, destacamos como imprescindíveis a percepção e a contagem musical, necessárias nas montagens coreográficas e nas aulas de ginástica. Contudo a percepção e a contagem não se limitam a essas duas disciplinas, elas po- dem ser aplicadas com outros objetivos, em outros conteúdos da Educação Física. Desta forma, esperamos que tenha ficado claro a importância de, dia a dia, nos aproximarmos dos conteúdos da rítmica para que a Educação Física contribua com o processo de formação do ser humano em sua totalidade. 40 atividades de estudo 1. Muitas vezes, empregamos palavras ou termos naturalmente, sem sabermos o seu significado. No entanto, para sairmos do senso comum, que pode levar à cria- ção de preconceitos que atrapalham a aplicação de alguns conteúdos da Educa- ção Física, é preciso ultrapassarmos o uso cotidiano dos termos. É necessário um estudo sobre conceitos. Pensando sobre dois conceitos – rítmica e ritmo – que estão sempre presentes quando o assunto é dança, leia as assertivas a seguir. I - Existe uma relação intrínseca entre a rítmica e ritmo, em que este está sub- metido àquela, sendo ele, o ritmo, o objeto de estudo dela, a rítmica. Assim, podemos afirmar que a rítmica é uma grande área que engloba o ritmo, a qual pode ser sintetizada como “ciência do ritmo”. II - Não existe ritmo sem movimento. O ritmo está presente em todo o universo e, consequentemente, em todos os seres humanos, sendo compreendido como uma sucessão de impulsos energéticos que determinam o movimen- to e o repouso. Desta forma, a argumentação de que a falta de ritmo é um empecilho para a execução da dança é falsa, pois todos os seres humanos o possuem. III - O ritmo está relacionado à mecânica do movimento, não sofrendo interfe- rência afetiva/emocional em sua execução. Por isto, o desenvolvimento da dança justifica-se na Educação Física, cujo objeto de estudo é o movimento humano, por melhorar o desempenho físico, podendo acarretar em melhor qualidade de vida aos alunos. IV - Sobre a classificação dos ritmos, os autores identificam a existência de vários deles, como: individual, grupal (ou coletivo), mecânico, natural, disciplinado, espontâneo e refletido. Quando pensamos em dança, o desenvolvimento de atividades que estimulem o ritmo coletivo e o refletido são muito importan- tes, pois a maioria das coreografias são executadas em grupo, o que requer que os dançarinos adaptem os seus ritmos individuais aos do grupo ou à métrica musical, fundamento do ritmo refletido. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas I. d) Apenas I, II e IV. e) I, II, III e IV. 41 atividades de estudo 2. A retomada da compreensão do corpo nos diferentes momentos históricos é importante para percebermos o quanto o dualismo influenciou e ainda influen- cia o nosso modo de pensar/agir e, consequentemente, como compreendemos quem é o sujeito e o objeto do movimento. Sobre esta questão, leia as assertivas a seguir. I - Para Platão, todas as sensações prejudicam o pensamento e, consequente- mente, a obtenção da verdade, fato que estabelece a inferioridade do corpo em relação ao espírito. A fenomenologia rompe com a ideia de separação ou inferioridade das experiências sensíveis, e o corpo passa a fazer parte da totalidade do ser humano (inteligível e sensível). Neste sentido, todo o conhe- cimento é proveniente da percepção que temos do mundo. II - Aceitando a perspectiva dualista, entendemos o ritmo como uma ação mecâ- nica, produzida pelo objeto corpo; na perspectiva fenomenológica, emoções e ações não são desvinculadas e, neste sentido, o ritmo é uma ação pro- duzida pelo ser humano em sua totalidade. Esta segunda perspectiva pode ser aproximada ao método musical, a Rítmica, desenvolvido pelo compositor Émile Jaques-Dalcroze (1865-1950). III - O método musical de Dalcroze influenciou a dança e a ginástica por consi- derar que os seus alunos não teriam bom desempenho se permanecessem “sentados em suas carteiras”, ou seja, por entender que o corpo deveria o primeiro “instrumento a ser tocado”. Esta concepção pode ser considerada atual para a EducaçãoFísica pelo conhecimento corporal ser superior ao in- telectual, refutando o pensamento dos filósofos antigos, como Platão, que desconsideravam o conhecimento sensível. IV - A Rítmica tinha como finalidade a recuperação da liberdade natural dos cor- pos. Dalcroze se opunha ao ritmo mecanizado e, por isto, utilizava, em suas aulas, exercícios que proporcionam a sua dissociação, por exemplo: marchas em que os braços regiam os tempos de um compasso enquanto as pernas seguiam outro. Assim, Dalcroze pretendia que os seus alunos não se tornas- sem escravos do automatismo. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas I. d) Apenas I, II e IV. e) I, II, III e IV. 42 atividades de estudo 3. O ritmo está presente no mundo orgânico e inorgânico, a sua existência está condicionada ao movimento. É este o responsável pela produção dos sons, como nos mostra Jeandot (1993, p.12), “o som depende do movimento e não existe na ausência dele. Em termos físicos, o som é uma vibração que chega a nossos ouvi- dos na forma de ondas que percorrem o ar que nos rodeia”. Sobre este assunto, leia as assertivas a seguir. I - O ouvido nunca para de trabalhar, inclusive, quando dormimos. No entanto, há uma diferença entre o ouvir, escutar e entender: estamos escutando o tempo todo, mas não temos consciência de tudo que chega ao nosso órgão auditivo; ouvimos somente o que nos interessa, ou seja, ouvir é quando se- lecionamos sons que nos interessam e neles depositamos a nossa atenção; entender é quando temos consciência, é um ato intelectual. II - O som possui alguns elementos conhecidos como “qualidades do som”. São eles: altura, que é determinada pela frequência dos sons e nos possibilita diferenciar o grave do agudo; a duração, que se refere ao período em que se estende o som (longo ou curto); o timbre é a diferenciação dos sons que nos possibilita identificá-los; a intensidade relaciona-se com a energia (fraca ou forte) despendida na produção do som. III - Os principais elementos musicais para o desenvolvimento das atividades rít- micas são: métrica, ou medida da música, que nos possibilita estabelecer uma contagem musical; o pulso, ou pulsação, que é a batida/marcação da música e nos permite identificar outros elementos, como andamento e compasso; o andamento é a velocidade da música, o espaço de tempo entre as batidas, e pode ser medido por um aparelho chamado metrônomo; o compasso é a pulsação da música que se repete regularmente e a divide em partes iguais, ou seja, em compassos binário, ternário e quaternário. IV - Existem símbolos que são utilizados para fazer a escrita musical. Eles são chamados de “figuras do ritmo” que, além de nos possibilitar a leitura do compasso, têm a função de registrar a duração do som. Cada símbolo recebe uma denominação – semibreve, mínima, semínima, colcheia etc. –atribuída de acordo com os seus tempos de duração: semibreve tem a duração de 4 pulsos, mínima de 6 pulsos, semínima de 8 pulsos, e assim sucessivamente. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas I. d) Apenas II, III e IV. e) I, II, III e IV. 43 atividades de estudo 4. Entende-se que a retomada da compreensão do conceito de corpo, nos diferen- tes momentos históricos, é importante para pensarmos o sujeito e o objeto do movimento. Em relação a esta questão, discorra sobre a perspectiva cartesiana e fenomenológica de corpo e como elas influenciam a prática pedagógica de rítmica. 5. Ao montar uma coreografia de dança, o professor organizou as frases musicais (8 tempos/pulsos) de forma que o primeiro movimento sempre era executado em 2T; o segundo movimento, em 1T; o terceiro e quarto, em 1T; e o quinto, em 4T. Represente os tempos das frases coreográficas por meio das figuras do ritmo e das suas respectivas denominações. 44 LEITURA COMPLEMENTAR A música na vida humana A vida é som. Continuamente estamos cercados de sons e ruídos oriundos da natureza e das várias formas de vida que ela produz. O homem fala e canta há incalculáveis milhares de anos e, graças ao seu ouvido maravilhosamente construído que se parece a uma harpa com infinidade de cordas, percebe sons e ruídos, embora apenas uma parte insignificante da imensidão de tudo quanto soa. Todas as crianças, sem exceção, nascem com capacidade musical, voz e ouvido: crianças da cidade, do interior, das zonas frias, dos trópicos, das montanhas, das planícies, brancas, pardas, pretas, amarelas, vermelhas. A própria natureza é que nos dá a música; o que dela fazemos varia, conforme o temperamento, a educação, o povo, a raça e a época. A natureza está cheia de sons, de música: há milhões de anos, antes que houvesse ouvido humano. Para captá-la, borbulhavam as águas, ribombavam os trovões, sussurravam as folhas ao vento. Quem sabe quantos outros sons se não propagaram! Talvez cantassem os raios do sol nas montanhas que se aqueciam todas as manhãs, como ainda hoje cantam misteriosamente nas colunas egípcias de Memnon; durante tempos sem fim deve ter res- soado o órgão natural da gruta de Fíngal, muito antes que, os celtas lhe chamassem “llaimh bin”, gruta da música, e muito antes, ainda, que um compositor romântico, Mendelssohn, transferisse aqueles sons naturais para a moderna orquestra. E o estranho “ouvido de Dio- nísio”, da Sicília, aumentou, com certeza, todos os sons que o penetravam muito, muito antes que um ser humano lá se achasse para comprovar o milagre. A terra a abrir-se na mocidade, as fontes a jorrar, os vulcões e as montanhas a explodir, as águas do dilúvio a subir, tudo deve ter constituído gigantesca sinfonia que ninguém nos descreveu. O homem nasceu num mundo repleto de sons. O trovão, amedrontando-o, tornou-se sím- bolo dos poderes celestiais. No ulular dos ventos percebia ele a voz dos demônios. Os habitantes do litoral conheciam o mau ou bom humor dos deuses pelo bramir das águas. Os ecos eram oráculos e as vozes dos animais, revelações. Religião e música mantiveram-se inseparavelmente ligadas nos antigos tempos da humanidade. 45 LEITURA COMPLEMENTAR Grande foi sempre a influência da música sobre a mente humana. O homem primitivo dispõe apenas de poucas palavras. Quase somente o que ele vê é que tem nome, para ex- primir o júbilo, a tristeza, o amor, os instintos belicosos, a crença nos poderes supremos e a vontade de dançar. Para ele é parte da vida, a música, desde a canção do berço até a canção de morte desde a dança ritual até a cura dos doentes pela melodia e pelo ritmo. O efeito da música sobre o homem diminui no decorrer dos milênios; apesar disso, podem ser encontrados nos tempos históricos e até nos presentes interessantes exemplos do seu poder. Davi toca harpa para afugentar os maus pensamentos do Rei Saul; Farinelli, com o auxílio da música, cura a terrível melancolia de Filipe V. Timóteo provoca, por meio de certa melodia, a fúria de Alexandre, o Grande, e acalma-o por meio de outra. Os sacerdotes celtas educam o povo com a música; somente eles conseguem abrandar os costumes selvagens. Diz-se que Terpandro, tocando flauta, abafou a revolta dos lacedemônios. Santo Agostinho conta que um pastor foi, em virtude das suas melodias eleito imperador. E a história do caça- dor de ratos de Hameln é um exemplo conhecidíssimo do efeito da música sobre o homem e o animal. Na literatura moderna, deparam-se nas numerosas obras de psicologia profunda em que as mais fortes excitações sentimentais são provocadas pela influência da música. [...] A vida é som, dissemos. A vida é movimento, e o som se origina do movimento. A acústica, é verdade, discerne fundamentalmente duas classes de sons: os sons propriamente ditos e os ruídos, conforme forem as vibrações uniformes, ou não. A música, segundo a antiga teoria, deve ocupar-se apenas dos primeiros. Mas não é tão fácil traçar claramente o limite. Muitos são os instrumentos que apenas produzem ruídos,