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Oficina de Produção e Revisão de Textos

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LIN
A
 SA
N
TO
S Z
A
TE
R
A
Código Logístico
I000197
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-65-5821-052-8
9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 5 2 8
Oficina de produção e 
revisão de textos 
Luciana Carolina Santos Zatera
IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora 
e do detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: flaticon.com
rassco/Shutterstock
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Z44o
Zatera, Luciana Carolina Santos
Oficina de produção e revisão de textos / Luciana Carolina Santos 
Zatera. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2021.
116 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-052-8
1. Língua portuguesa - Composição e exercícios. 2. Análise do discur-
so. 3. Comunicação escrita. I. Título.
21-71885 CDD: 469.8
CDU: 811.134.3’42
Luciana Carolina 
Santos Zatera
Mestra em Educação e graduada em Letras – 
Português pela Pontifícia Universidade Católica do 
Paraná (PUCPR). Graduada em Pedagogia e História 
pelo Centro Universitário Internacional (Uninter). 
Atua como professora no ensino superior. Ministra 
as disciplinas de Metodologia do Ensino de Língua 
Portuguesa, Alfabetização e Letramento, Literatura 
Infantil, Didática, entre outras. Atua também na educação 
básica, especialmente com os anos iniciais do ensino 
fundamental, em escola da rede privada de ensino.
SUMÁRIO
1 Texto, escrita e interação 9
1.1 Noções de texto 9
1.2 As muitas vozes presentes nos textos 16
1.3 Modalidades e funções dos textos 20
1.4 Variação, norma e níveis de linguagem 23
2 Práticas sociocomunicativas de escrita 29
2.1 Gêneros e tipos textuais 29
2.2 Fatores de textualidade 32
2.3 Coesão e coerência 39
2.4 Progressão textual 45
3 O texto e sua estrutura 50
3.1 Planejamento da escrita 50
3.2 Parágrafo e tópico frasal 53
3.3 Vocabulário 57
3.4 Argumentação 62
4 Prática de textos acadêmicos 67
4.1 Paráfrase 67
4.2 Resumo 71
4.3 Artigo científico 76
5 Revisando o próprio texto 84
5.1 Pontuação 84
5.2 Concordância nominal e verbal 88
5.3 Regência e crase 91
5.4 Dúvidas frequentes de escrita 94
 Resolução das atividades 100
APRESENTAÇÃOVídeo
A produção de textos escritos, especialmente em ambientes acadêmicos, 
é uma atividade que exige prática constante, pois escrever com clareza, 
coesão e coerência, com vistas a atingir um interlocutor específico, supera 
a realização de exercícios gramaticais descontextualizados ou a escrita de 
redações escolares, distantes do uso efetivo da linguagem.
Por essa razão, esta obra se configura como uma oficina de produção e 
revisão textual, porque propõe, além de algumas reflexões teóricas acerca 
do enfoque discursivo de linguagem, práticas de produção de texto voltadas 
à interação social, principalmente no âmbito acadêmico.
No primeiro capítulo, conceituamos texto como unidade de sentido e 
produto de criação coletiva. Quando consideramos a escrita com foco na 
interação, ela se configura como um ato dialógico, pois os textos são sempre 
carregados de diferentes vozes. Além disso, abordamos as modalidades e 
as funções dos textos, questões de norma, variação e níveis de linguagem, 
tendo em vista que são conteúdos pertinentes à produção textual escrita.
Nessa mesma linha, o segundo capítulo versa sobre as práticas 
sociocomunicativas de escrita, desde a escolha feita pelo produtor com 
relação ao gênero textual que melhor atende à situação de interação até 
os fatores de textualidade, que dizem respeito a propriedades inerentes 
aos textos e são fundamentais para que as produções escritas apresentem 
informatividade, aceitabilidade, intencionalidade, coesão, coerência etc. 
Desse modo, considerando a necessidade de planejar a escrita, o terceiro 
capítulo aborda as competências linguísticas necessárias para a produção 
textual, especialmente quando o objetivo é escrever gêneros acadêmicos. 
Por isso, propomos a elaboração de variados tipos de parágrafos, pois em 
textos bem escritos, com ideias articuladas, é possível ter clareza do plano 
de redação usado pelo redator, isto é, de seu raciocínio. Na sequência, 
tratamos da argumentação, por acreditarmos que todo texto possui uma 
base argumentativa, pois utilizamos recursos linguísticos para apresentar e 
defender nossas opiniões acerca dos acontecimentos do mundo.
A prática de textos acadêmicos é o tema do quarto capítulo, no qual 
destacamos dois gêneros textuais: o resumo e o artigo científico. Para a 
produção desses textos, a escrita de paráfrases é essencial. Portanto, com 
base em diferentes procedimentos, propomos essa atividade, a fim de 
valorizar a produção do conhecimento, por meio da pesquisa, e evitar o plágio.
Por fim, o quinto capítulo é destinado à revisão textual. Por essa razão, 
ressaltamos alguns tópicos gramaticais necessários à escrita padrão da 
língua, como pontuação, concordância verbo-nominal, regência e ortografia. 
Esse e os outros capítulos contam com muitos exemplos (que extrapolam 
conceitos e definições acerca dos conteúdos abordados) e, especialmente, 
atividades variadas, que têm o objetivo de propor a você, leitor desta obra, 
a prática de escrita.
Texto, escrita e interação 9
1
Texto, escrita e interação
Em sua trajetória escolar, com certeza muitas das atividades solicitadas pe-
las professoras e professores constituíam-se de produções de texto, correto? 
E não é somente no ambiente escolar que isso ocorre... Na interação cotidiana 
entre amigos e familiares, por meio de e-mails, mensagens via smartphones, 
redes sociais... E no seu trabalho? Você utiliza muito a escrita? Quais os gêne-
ros textuais mais usados por você?
É evidente que, nas sociedades letradas, a escrita é uma atividade de ex-
trema importância, visto que é um meio de comunicação e interação entre os 
sujeitos. Nas instituições de ensino, isso se torna ainda mais evidente, pois 
são lugares não somente de uso da escrita, mas também de seu aprendizado.
Na escola e no meio acadêmico temos a oportunidade de praticar a es-
crita de textos dos mais diferentes tipos e refletir sobre seus usos, normas e 
variações. A própria noção de texto pode ser um bom caminho para iniciar-
mos a nossa conversa. Neste capítulo, ainda, vamos verificar que os textos são 
constituídos por diferentes vozes e possuem funções e modalidades distintas. 
Pronto para começar?
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• conceber o texto como unidade de sentido com base no enfoque discur-
sivo e interacionista de linguagem, compreendendo-o como produto de 
criação coletiva; 
• identificar as diferentes vozes presentes nos textos, marcadas ou não;
• reconhecer as diferentes modalidades (jornalística, científica, literária 
etc.) e funções dos textos (metalinguística, fática, poética etc.); 
• selecionar a variedade linguística e o nível de linguagem adequados a 
cada contexto comunicativo de escrita, utilizando a norma culta em tex-
tos escritos, quando ela se fizer necessária.
Objetivos de aprendizagem
1.1 Noções de texto 
Vídeo Você já parou para pensar em alguns motivos pelos quais nós escrevemos? 
Hoje, você já escreveu? Qual foi seu objetivo ao escrever? Talvez tenha escrito na 
agenda os seus compromissos da semana ou tenha mandado uma mensagem 
para seu namorado ou sua namorada, confirmando o encontro de hoje à noite. 
Quem sabe tenha produzido um relatório de estágio para entregar à professora, 
na faculdade. Enfim, temos muitas razões para escrever, e outras pessoas talvez 
10 Oficina de produção e revisão de textos
tenham ainda mais: um médico que escreve uma receita aopaciente; um profes-
sor que escreve os tópicos da aula no quadro para os alunos copiarem; um fun-
cionário do cartório que redige um atestado de óbito; um juiz de futebol que faz 
anotações em uma súmula...
Perceba que em todos os exemplos citados tratamos de textos essencialmente 
escritos, ou seja, que utilizam unicamente a linguagem verbal como código. Mas 
será que a definição de texto se restringe a enunciados que contêm letras, sílabas, 
palavras e frases? Para ampliar nossa reflexão acerca de uma possível definição de 
texto, observe com atenção:
Texto 1
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
Fonte: WATERHOUSE, J. W. Eco e Narciso. 1903. óleo sobre tela: 1.092 x 1.892 mm. Walker Art Gallery, Londres, Inglaterra.
Texto 2
“Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho”
(SAMPA, 1978)
Texto 3
“Zangados com Narciso por ele ter repelido Eco de forma tão grosseira, os 
deuses enviaram para a Terra uma poça d’água esplêndida, que cintilava à luz 
do sol. Narciso parou de caçar para beber um pouco daquela água tão mara-
vilhosa. Quando se curvou sobre a água, deu de cara com o rosto mais lindo 
que já havia visto. Ajoelhou-se à beira da poça e ficou admirando a bela face. 
Sua própria beleza o enfeitiçara. [...] Os dias se passaram, e nada de Narciso 
tirar os olhos daquele belo rosto, pelo qual se apaixonava cada vez mais. [...] 
Narciso, que não dormia e não se alimentava mais, definhou rapidamente até a 
morte. [...] Naquele exato lugar nasceu uma linda flor, que os gregos chamam 
de narciso”.
(HEATHER, 2013, p. 75).
Texto, escrita e interação 11
Os três textos apresentados tratam do mesmo tema, mas de modo diferente. O 
texto 1 é uma obra de arte e contém apenas imagens; por isso, podemos chamá-lo 
de texto não verbal. Ele será lido e compreendido plenamente por aqueles que 
conhecem o mito de Narciso – narrado no texto 3 –, ao perceberem que a perso-
nagem lembra a Grécia Antiga e que ela olha para um lago, onde vê refletida sua 
imagem. Há, ainda, na cena, a presença da personagem Eco, que era apaixonada 
pelo belo rapaz. Toda essa leitura se faz possível porque a imagem é um texto: 
tem significado dentro de determinado contexto e faz sentido para um leitor com 
conhecimento de mundo suficiente para entendê-lo.
O texto 2 apresenta um trecho da canção “Sampa”, de Caetano Veloso. O verso 
“é que Narciso acha feio o que não é espelho” se refere claramente ao mito grego de 
Narciso para exprimir o sentimento do eu poético ao se deparar com a cidade de São 
Paulo, tão estranha a ele, um baiano, que já vivia há algum tempo no Rio de Janeiro.
Os textos 2 e 3 são essencialmente verbais, pois fazem uso apenas da escri-
ta. Contudo, você poderia ouvir a música “Sampa” cantada por Caetano Veloso ou 
assistir a um vídeo do cantor interpretando-a. Ainda assim, estaríamos tratando 
de um texto verbal (falado/oral), composto de diferentes semioses (áudio, vídeo, 
escrita – a legenda, por exemplo – etc.).
Ao analisar esses três textos, já podemos tirar algumas conclusões relaciona-
das ao conceito da palavra texto ou ter algumas noções sobre o que é um texto. 
A primeira, segundo Terra (2019, p. 3), é de que “trata-se de um produto cultural 
que transmite um sentido por meio de uma expressão qualquer”.
Mas por que os textos são um produto cultural? Porque são criações humanas, ela-
boradas por indivíduos (eu, você, professores, médicos, advogados, escritores, youtu-
bers, donas de casa, estudantes, blogueiros etc.) e sempre destinadas a alguém – a um 
público-leitor –, portanto servem para comunicação entre as pessoas (TERRA, 2019).
Além dessa definição preliminar de texto, podemos elencar algumas proprieda-
des dos textos. Vamos acompanhar?
Quadro 1
Propriedades dos textos
Propriedades dos textos Exemplo
O significado de uma parte do texto não é au-
tônomo, mas depende de outras partes com as 
quais se relaciona.
Na música “Sampa”, o trecho que cita Narciso não pode ser lido 
isoladamente. É preciso relacionar o sentido de “olhar somente 
para si mesmo” ao estranhamento do eu poético quando se depa-
ra com a cidade de São Paulo, tão diferente de sua cidade natal.
Os textos possuem coerência de sentido. O sig-
nificado de um texto não é resultado de uma “co-
lagem” de partes, mas de uma combinação que 
gera sentidos.
No texto 1 (imagem), não é possível ler apenas que há um moço 
diante de um lago, olhando para seu reflexo. É preciso reconhecer 
as pistas (como a vestimenta da personagem, a presença de Eco 
na cena) e saber que se trata de uma obra de arte inspirada no 
mito de Narciso.
Um texto é produzido por um sujeito em de-
terminado tempo e espaço; por isso, revela as 
concepções de um grupo social em determinada 
época.
Os gregos acreditavam que os deuses e deusas tinham poderes 
sobrenaturais e governavam a vida dos mortais. Além disso, criaram 
mitos para explicar fenômenos naturais ainda não desvendados 
pela ciência. Por essa razão, um mito, nessa época, tinha um sig-
nificado muito diferente. Hoje, lemos os mitos gregos como textos 
ficcionais.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Platão; Fiorin, 1996, p. 14-18.
Caetano Veloso nasceu 
em 1942, em Santo Amaro 
da Purificação (BA). Liderou 
o movimento chamado Tro-
picalismo, responsável pela 
renovação do cenário musi-
cal brasileiro. É um cantor e 
compositor aclamado pela 
crítica porque suas canções 
possuem grande valor 
intelectual e poético.
Biografia
Assista ao vídeo e ouça a 
música “Sampa”, cantada 
por Caetano Veloso e 
Gilberto Gil, no canal 
CaetanoeGilVEVO. Vale a 
pena acompanhar toda 
a letra da música para 
descobrir como o com-
positor constrói essa bela 
homenagem à cidade de 
São Paulo.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=t4pl079t548. 
Acesso em: 8 jul. 2021.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=t4pl079t548
https://www.youtube.com/watch?v=t4pl079t548
12 Oficina de produção e revisão de textos
Essas propriedades são comuns a textos verbais (escritos e falados), não ver-
bais e mistos, ou seja, os que contêm imagens e palavras. No entanto, nesta obra, 
vamos priorizar os textos escritos, para que você os pratique, principalmente os 
gêneros acadêmicos, a fim de constatarmos que a escrita não é um dom ou uma 
graça dada a alguns privilegiados. Assim como aprendemos a ler lendo, aprende-
mos a escrever escrevendo!
Há várias maneiras de se conceber a escrita, e isso se altera de acordo com a 
ideia que temos de linguagem, de texto e de quem escreve, como apontam Koch e 
Elias (2010).
Figura 1
Diferentes modos de concepção da escrita
• Sistema pronto, centrado na linearidade; o código é transparente.
• Quem escreve deve se apropriar do sistema e de suas regras.
• O texto é produto a ser decodificado pelo leitor.Foco na 
língua
• Escrita como representação do pensamento individual do autor.
• O texto é produto lógico e deve ser captado pelo leitor do modo como 
foi mentalizado pelo autor.
• A escrita revela as intenções do autor, sem considerar experiências e 
conhecimentos do leitor.Foco no 
escritor
• A produção textual exige, por parte do escritor, ativação de 
conhecimentos e mobilização de estratégias.
• O produtor pensa de modo não linear no que vai escrever e em seu 
leitor; escreve; lê e reescreve, em um movimento constante.
• A escrita é concebida na interação escritor-leitor: intenções do 
escritor + conhecimentos/experiências do leitor.
Foco na 
interação
Fonte: Elaborada pela autora com base em Koch; Elias, 2010, p. 32-34.
Acreditamos que o terceiro modo de compreender a escrita seja o mais ade-
quado para as intenções deste livro, que contempla práticas de escrita, pois, ao 
compreender a produção de textos como um ato interacional ou dialógico, en-
tendemos que escritores e leitores são “atores/construtores sociais, sujeitos ati-
vos que – dialogicamente – se constroem e são construídos pelo texto” (KOCH; 
ELIAS, 2010, p. 34).
Sendo assim, podemos reafirmaro que já construímos com relação ao concei-
to de texto até aqui e, ainda, acrescentar que texto é todo evento comunicativo 
caracterizado por aspectos linguísticos, cognitivos, sociais e interacionais.
Se a definição para texto é tão abrangente como essa apresentada, podemos 
concluir que, para escrever, não basta termos em mente o conteúdo do que ire-
mos redigir, ou seja, colocar no papel (ou na tela) tudo o que queremos “trans-
Texto, escrita e interação 13
mitir” ao leitor. É preciso levar em consideração várias estratégias que auxiliam 
o escritor a produzir seu texto, tais como:
iM
Ai
in
fo
gr
ap
hi
c/
Sh
ut
te
rs
to
ck
Quem é o 
interlocutor?
Qual o conteúdo a 
ser tratado?
Qual gênero 
textual será 
adequado 
para o ato de 
comunicação?
O que dizer e o 
que não dizer, 
isto é, quais 
informações novas 
precisam estar 
claras e quais já 
são conhecidas do 
leitor?
Como estabelecer 
interação com o 
leitor, de modo a 
garantir o objetivo 
do texto?
Considerando esses e outros aspectos no momento da escrita, percebemos que 
essa é uma atividade que exige planejamento, prática, revisão e reescrita. Escrever de-
manda, como afirmam Koch e Elias (2010, p. 36), a elaboração de um “projeto de dizer”, 
pois exige o uso de estratégias “linguísticas, textuais, pragmáticas, cognitivas, discursi-
vas e interacionais, vendo e revendo, no percurso da atividade, a sua produção”.
Para que esse projeto de dizer seja elaborado, é necessário que o escritor ative 
alguns conhecimentos enquanto produz seu texto, a saber: conhecimento linguístico, 
conhecimento enciclopédico, conhecimento textual e conhecimento interacional.
O conhecimento linguístico, de acordo com Koch (2011), é responsável pela 
articulação som-sentido e compreende o conhecimento da gramática, da ortogra-
fia e do léxico da língua. Certamente precisamos desse tipo de conhecimento, que 
adquirimos ao longo de nossa escolarização, para grafar um texto, obedecendo 
às convenções linguísticas, especialmente em interações que exigem o uso da 
norma-padrão.
O conhecimento enciclopédico, também conhecido como conhecimento de 
mundo, refere-se aos saberes adquiridos por meio da experiência ou pelo conhe-
cimento sobre os fatos do mundo. É ativado por meio da memória do escritor, 
pressupondo que seu leitor compartilhe desse conhecimento. Para exemplificar, 
leia as frases a seguir, retiradas de uma crônica inspirada em memes que circulam 
nas redes sociais denominados Enfim, a hipocrisia.
“O Mar Vermelho é azul, azul da cor do mar [...].
Os Três Mosqueteiros eram quatro [...].
O voto é um direito. Obrigatório [...].
31 de março de 1964 caiu em primeiro de abril.
[...]
Enfim... a hipocrisia.”
(CARDOSO, 2021)
14 Oficina de produção e revisão de textos
A lista continua com constatações muito engraçadas, que mostram como o 
sentido dos enunciados depende de negociações sociais e atribuição de sentido 
por parte do leitor. Como exemplo de conhecimento de mundo, vamos destacar 
a seguinte frase: “31 de março de 1964 caiu em primeiro de abril”. Nesse caso, 
o conhecimento enciclopédico foi utilizado pelo escritor para construir o humor 
da frase. O leitor também precisa acionar seu conhecimento de mundo para 
compreendê-la. Um leitor sem esse conhecimento não é capaz de compreender 
o enunciado, pois a frase se refere ao golpe militar que ocorreu no Brasil, em 31 
de março de 1964. Há, contudo, uma informação extraoficial de que os militares 
teriam dado o golpe no dia 31 para evitar que o fato ocorresse no dia 1 de abril, 
conhecido como o dia da mentira. O autor da crônica pressupôs que seu leitor 
conhecesse esse fato e, assim, fosse capaz de interpretar o texto e compreender 
o humor presente na frase.
O conhecimento textual diz respeito ao conhecimento que temos dos 
“modelos” de textos que circulam socialmente, ou seja, dos gêneros textuais. 
É indispensável que o escritor domine o modo de organização do gênero em 
questão, além de outros aspectos, como conteúdo, estilo, função social, supor-
te etc., necessários à produção textual. Por exemplo, ao produzir um resumo 
para um artigo científico, o autor deve saber que um texto como esse é com-
posto, normalmente, de objetivo, referencial teórico, metodologia e resulta-
dos da pesquisa.
 Realize a atividade 1 para conhecer a estrutura de resumos de artigos científicos.
Além disso, segundo Koch e Elias (2010), a intertextualidade faz parte do 
conhecimento textual, pois um texto sempre se refere a outros textos, explícita 
ou implicitamente. Por isso, a escrita exige a retomada de outros textos, uma 
vez que todo texto se constitui como uma resposta a um outro ou, como afirma 
Bakhtin (2000, p. 320), é “um elo na cadeia da comunicação verbal e não pode 
ser separado dos elos anteriores que o determinam”.
Temos, ainda, o conhecimento interacional, que se refere a práticas intera-
cionais variadas, construídas socialmente e necessárias àquele que produz um 
texto. Com base nesses conhecimentos, segundo Koch e Elias (2010, p. 44-49), 
o produtor será capaz de:
 • escrever de acordo com um propósito comunicativo;
 • determinar a quantidade de informação necessária para que o leitor con-
siga reconstruir o objetivo da produção de texto;
 • selecionar o gênero textual e a variante linguística adequados à situação 
comunicativa;
 • assegurar a compreensão da escrita para conquistar a aceitação do leitor, 
em relação ao objetivo desejado.
Para exemplificar esse tipo de conhecimento, analise o texto a seguir. Trata-
-se de um curriculum vitae. Fazendo uso de seus conhecimentos prévios sobre 
esse gênero textual, procure responder às seguintes questões:
Quer dicas sobre como ela-
borar um bom currículo? 
Acesse o link a seguir e 
saiba o que deve e o que 
não deve constar em um 
currículo.
Disponível em: http://g1.globo.
com/concursos-e-emprego/
noticia/2013/07/veja-como-montar-
um-curriculo-para-conseguir-o-
primeiro-emprego.html. Acesso em: 
8 jul. 2021.
Curiosidade
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2013/07/veja-como-montar-um-curriculo-para-conseguir-o-primeiro-emprego.html
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2013/07/veja-como-montar-um-curriculo-para-conseguir-o-primeiro-emprego.html
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2013/07/veja-como-montar-um-curriculo-para-conseguir-o-primeiro-emprego.html
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2013/07/veja-como-montar-um-curriculo-para-conseguir-o-primeiro-emprego.html
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2013/07/veja-como-montar-um-curriculo-para-conseguir-o-primeiro-emprego.html
Texto, escrita e interação 15
a. Qual o propósito comunicativo (ou objetivo) de um curriculum vitae?
b. A quantidade de informações contida nesse exemplo de curriculum vitae é 
adequada ao objetivo do texto? Sobraram ou faltaram informações? Quais?
c. Você considera que a produtora do texto atingiu o propósito comunicativo de 
um curriculum vitae? Justifique sua resposta.
Figura 2
Exemplo de currículo
Ana Maria Souza
Fone residencial: (36) 4444-4444
E-mail: anamaria_souza@email.com.br
Data de nascimento: 01/04/2002
CPF: 000000000-01
RG: 1000000-0
Objetivo profissional: secretária
Qualificações: comunicativa, extrovertida, dinâmica, possui muita facilidade 
para o trabalho em equipe. Alguns a consideram extremamente sincera e interati-
va. Utiliza computadores com destreza, para editar, formatar e buscar informações 
na internet.
Período escolar: representante de turma, costumava apresentar vários trabalhos 
orais e participar como líder em vários eventos. Ótimo rendimento escolar. Jamais foi 
chamada à diretoria para reclamações.
Língua estrangeira: consegue ler, compreender e se expressar oralmente e por 
escrito na língua inglesa, pois aprendeu e desenvolveu capacidades de expressão e 
comunicação nessa língua; por isso, tem o nível intermediário.
Oradora da turma: foi oradora de sua turma no ensino médio, o que revelou sua 
capacidade de enfrentar grandes desafiose destreza para falar em público.
Formação acadêmica:
Ensino Médio – Colégio Estadual João Marcondes – Concluído em dez./2010.
Curso de Inglês – Inovação (jan./2008 a dez./2012).
Fonte: Elaborada pela autora com base em Pernambuco, 2015.
Podemos reconhecer esse texto como um curriculum vitae, pois há alguns ele-
mentos em sua organização que o identificam como tal, como o nome do produtor 
no início do texto, dados pessoais (telefone, e-mail, data de nascimento), objetivo 
profissional, qualificações, formação acadêmica etc.
O currículo é um documento que apresenta, de modo sucinto, dados da forma-
ção escolar e profissional de uma pessoa, com o objetivo de fornecer informações 
precisas ao leitor para que ele analise, em uma etapa preliminar, se o candidato 
à vaga para determinado emprego vai ou não prosseguir no processo de seleção. 
O currículo pode ser visto como um “cartão de visitas” ampliado, capaz de fazer 
com que o leitor deseje saber mais sobre o candidato. Por isso, as informações nele 
contidas devem ser objetivas, numa linguagem clara e impessoal.
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16 Oficina de produção e revisão de textos
No exemplo, podemos verificar que há excesso de informações nos tópicos 
apresentados, por exemplo, impressões pessoais sobre a candidata ou a afirmação 
de que seu comportamento na escola onde estudou foi exemplar. No tópico língua 
estrangeira, bastaria colocar o nível de proficiência no inglês, ou seja, intermediário. 
O fato de ser oradora da turma poderia ser suprimido, já que a boa oralidade pode 
ser colocada no item qualificações.
Além disso, de acordo com os modelos de currículo atuais, não é necessário colo-
car os números dos documentos pessoais. O excesso de informações e o uso de al-
guns trechos de cunho pessoal acabam por comprometer o propósito comunicativo 
do texto, que é informar de maneira sucinta as principais qualificações, a formação 
acadêmica e a experiência profissional. Portanto, esse currículo poderia passar por 
uma revisão, a fim de melhor atender ao objetivo comunicativo, especialmente no 
tocante a algumas características composicionais do gênero textual em questão.
 Realize a atividade 2 para praticar a produção de um currículo.
Portanto, além de dominar algumas noções de texto e conhecer suas proprieda-
des, é importante lembrar que a produção de textos demanda o domínio de vários 
conhecimentos para que o processo interativo atinja os objetivos desejados.
1.2 As muitas vozes presentes nos textos 
Vídeo Diante de uma concepção interacionista de língua, que a considera viva, histó-
rica, social e objeto de interlocução entre sujeitos, o processo de produção textual 
deve ser compreendido como um ato dialógico, no qual os textos são carregados 
de diferentes vozes. Os estudiosos de Bakhtin chamam esse fenômeno de dialo-
gismo ou polifonia. Para Platão e Fiorin (1996, p. 29), os textos são heterogêneos, pois 
sempre se constituem de outros textos, isto é, todos são
atravessados, ocupados, habitados pelo discurso do outro. Um texto remete 
a duas concepções diferentes: aquela que defende e aquela em oposição à 
qual ele se constrói. Nele, ressoam duas vozes, dois pontos de vista. Sob as 
palavras de um discurso, há outras palavras, outro discurso, outro ponto de 
vista social.
Como exemplo da heterogeneidade constitutiva da linguagem, analise o tex-
to a seguir, um filtro colocado no perfil de uma pessoa nas redes sociais.
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NCIA SALVACIÊ
NCIA SALVA
#SALVEACIÊ
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An
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Alguns estudiosos de 
Bakhtin consideram os 
termos dialogismo e polifo-
nia como sinônimos. Brait 
(2003) afirma que polifonia 
ou dialogismo se refere 
a diferentes vozes instaura-
das num discurso.
Barros (2003), contudo, 
diferencia os dois termos: 
dialogismo diz respeito ao 
espaço interacional entre “o 
eu” e “o outro”. Já polifonia 
é entendida em contrapo-
sição à ideia de monofonia. 
As vozes são polifônicas 
quando se mostram ou 
se deixam escutar, e são 
monofônicas quando 
se ocultam ou, quando 
o diálogo é mascarado, 
apenas uma voz se faz 
ouvir. Segundo a autora 
(2003, p. 6), “os textos são 
dialógicos porque resultam 
do embate de muitas vozes 
sociais; podem, no entanto, 
produzir efeitos de polifonia 
[...] ou de monofonia”.
Saiba mais
Gabriele
Realce
Texto, escrita e interação 17
Quando alguém adiciona um filtro como esse em seu perfil em uma rede social, 
está assumindo claramente um posicionamento – nesse caso, a defesa da ciên-
cia, da pesquisa e das universidades, que produzem conhecimento. Essa ação se 
tornou comum na atualidade, devido aos ataques que o campo das ciências vem 
sofrendo por parte de determinados setores da sociedade que disseminam notí-
cias falsas, sem cunho científico, negando os avanços da ciência, como é o caso dos 
grupos antivacina.
Nas palavras de Platão e Fiorin (1996, p. 29), “para constituir sua concepção so-
bre um dado tema, o falante leva sempre em conta a de outro, que, de certa forma, 
está, pois, também presente no discurso construído”. Desse modo, quem utiliza 
esse perfil em uma rede social não somente defende a ciência, mas também se co-
loca em oposição aos grupos ou pessoas que a negam, mesmo que isso não esteja 
explícito no texto.
 Realize a atividade 3 para praticar a identificação de heterogeneidade 
constitutiva.
Além da heterogeneidade constitutiva, Terra (2019, p. 7) cita a heterogenei-
dade mostrada (subdividida em marcada e não marcada), que se refere a “ou-
tras vozes manifestadas e presentes no texto, portanto, localizáveis na cadeia do 
discurso”. Nos textos acadêmicos, fazemos uso constante desse recurso, já que é 
comum citarmos falas de autores que ratificam nosso ponto de vista. Em notícias 
ou reportagens, os autores citam falas ou depoimentos de outras pessoas, com o 
objetivo de garantir a veracidade dos fatos, como no trecho a seguir.
Na última terça-feira [...] duas onças-pintadas foram resgatadas após serem vítimas de um 
incêndio na região da Serra do Amolar, em Mato Grosso do Sul. Uma delas morreu horas depois. 
[...]
“A Serra do Amolar interliga diversas áreas preservadas, por isso é fundamental para os ani-
mais”, explica o veterinário Diego Viana, pesquisador do Instituto Homem Pantaneiro.
Fonte: Lemos, 2020.
Nesse caso, a heterogeneidade mostrada foi “marcada” no texto, de modo ex-
plícito, e o recurso utilizado foi o discurso direto, ou seja, o veterinário explica com 
suas próprias palavras a importância da Serra do Amolar. Essa voz foi destacada 
pelo uso das aspas; então, é possível identificar claramente o enunciador. Em ou-
tros gêneros textuais, como os literários, é comum também marcar essas falas com 
o travessão.
A outra voz, que narra o fato, é a do autor na notícia. Ele utiliza o verbo de dizer 
explica, depois da fala do veterinário.
Entretanto, o autor da notícia poderia ter utilizado o discurso indireto, ou seja, 
ele poderia expressar com suas palavras o que o veterinário disse, fazendo uso 
de um verbo de elocução seguido da conjunção integrante que, mas sem o uso de 
aspas ou travessão.
Verbos de dizer ou 
verbos de elocução são 
usados para indicar a 
fala do outro. Exemplos: 
falar, dizer, perguntar, 
responder, afirmar, con-
cordar, expor etc.
Importante
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18 Oficina de produção e revisão de textos
O veterinário Diego Vianna, pesquisador do Instituto Homem Pantaneiro, explicou que a Serra 
do Amolar interliga diversas áreas preservadas, por isso é fundamental para os animais.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Lemos, 2020.
Há ainda outro tipo de heterogeneidade mostrada, chamada por Terra (2019, 
p. 13) de não marcada, que ocorre quando diferentes vozes “se mesclam sem 
que haja identificação formal de quem diz o quê”. Por isso, ela é semelhante à 
heterogeneidade constitutiva. O discurso indireto livre, a intertextualidade e a 
ironia são diferentes formas de a heterogeneidade não marcada se manifestar 
nos textos.
Vejamos um exemplo de discurso indireto livre, primeiramente.Trata-se 
de um trecho do conto “O menino que escrevia versos”, de Mia Couto, que 
narra a história de um menino que fora levado ao médico pelos pais porque 
andava a escrever poemas. Isso era motivo de estranhamento por parte da 
mãe e condenação por parte do pai, que, “mecânico de nascença e preguiçoso 
por destino”, lia apenas “motores e chaparias” e acreditava que tal prática era 
“coisa de maricas”.
O pai logo sentenciaria: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, 
perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-refrega com 
as meninas, se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: 
mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda 
em ponto morto?
Fonte: Couto, 2009, p. 132.
Nesse trecho, percebemos a presença de duas vozes: a do narrador e a do 
pai do menino, personagem do conto. No entanto, a voz do pai não foi marcada 
pelo discurso direto nem pelo discurso indireto. Não há aspas, travessão, verbo 
de dizer e uso da conjunção que para demarcar a voz do pai.
O narrador faz uso do discurso indireto livre para revelar os pensamentos 
ou opiniões do pai com relação ao comportamento do menino. Segundo Platão 
e Fiorin (1996, p. 60), “nessa forma de citação do discurso alheio, misturam-se 
duas vozes”. Não há demarcação nítida do início e do final da fala das perso-
nagens e do narrador. Assim, a voz da personagem se mistura à do narrador 
e “seus pensamentos vão surgindo nem relatados pelo narrador, nem falados 
pela personagem” (PLATÃO; FIORIN, 1996, p. 60).
No início do parágrafo, verificamos que o narrador narra em terceira pessoa 
a ação da personagem, ao dizer “o pai logo sentenciaria”. Mas as próximas ora-
ções parecem revelar pensamentos do pai, como em: “havia que tirar o miúdo 
da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más compa-
nhias”. Esse tom de reprovação do pai é distinto de outros trechos do conto, que 
apresentam com clareza a voz do narrador e a voz do menino:
Mia Couto, escritor premia-
do e biólogo moçambi-
cano, nasceu em 1955. 
Escreve romances, contos, 
poemas e crônicas. Suas 
obras são traduzidas e pu-
blicadas em vários países.
Biografia
Assista à entrevista A 
língua, a literatura e a vida 
em Moçambique, publicada 
pelo canal do Nexo Jornal, 
para conhecer Mia Couto, 
brilhante escritor de língua 
portuguesa.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=iQzUy7HQzeI. 
Acesso em: 8 jul. 2021.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=iQzUy7HQzeI
https://www.youtube.com/watch?v=iQzUy7HQzeI
Texto, escrita e interação 19
Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita 
para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:
— Dói-te alguma coisa?
— Dói-me a vida, doutor.
O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreenderia [...]. O médico voltou a 
erguer os olhos e a enfrentar o miúdo:
— E o que fazes quando te assaltam essas dores?
— O que melhor sei fazer, excelência.
— E o que é?
— É sonhar.
(COUTO, 2009, p. 132-133)
A heterogeneidade não marcada pode se manifestar por meio da intertextualida-
de, que, de acordo com Koch e Elias (2010, p. 102), refere-se ao fato de todo texto se 
reportar a outro(s) já produzido(s), “que faz(em) parte da memória social dos leitores”.
Como exemplo, leia o texto a seguir, retirado de um post em redes sociais, de 
autoria de Allê Barbosa.
“Queriam que ela fosse do lar,
mas ela era do ler,
com essa liberdade,
ela era de onde quisesse ser.”
(BARBOSA, 2019)
Conforme Terra (2019), ocorre intertextualidade quando há imitação de um tex-
to por outro. Há, portanto, duas vozes: a voz do texto-fonte e a voz que o imita. “No 
texto imitante, as duas vozes estão diluídas, uma está presente na outra, não estão 
marcadas” (TERRA, 2019, p. 15).
É o que ocorre no texto supracitado. O post remete a uma reportagem da re-
vista Veja, cuja manchete era “Marcela Temer: bela, recatada e do lar” (LINHARES, 
2016), referindo-se à esposa do vice-presidente do Brasil na época, Michel 
Temer. A reportagem gerou polêmica pelo fato de o discurso utilizado, tanto no 
título como no conteúdo do texto, ir na contramão do empoderamento femini-
no, propagado na sociedade brasileira do século XXI. Por isso, vários posts circu-
laram nas redes sociais dialogando em forma de paródia 1 com essa manchete. 
O texto de Allê Barbosa faz uso desse recurso, pois brinca com a semelhança fo-
nética entre lar e ler e relaciona o ato da leitura à prática da liberdade, desejada 
por muitas mulheres brasileiras.
Para exercitar a escrita, que tal criar uma frase, assim como fez Allê Barbosa, parodiando o 
trecho da manchete “bela, recatada e do lar”? Para isso, você fará uso da intertextualidade, 
dialogando com esse texto de maneira crítica ou humorística.
Atividade reflexiva
Allê Barbosa nasceu em 
Ipiaú, interior da Bahia. 
É músico e escritor. Tocou 
com grandes artistas bra-
sileiros e ficou conhecido 
nacionalmente por sua 
música “Jeito Carinhoso”, 
de 2010.
Biografia
Paródia é um tipo de in-
tertextualidade em que se 
imita um texto, “subverten-
do-o, com efeitos críticos 
ou de humor”. É preciso, 
porém, que o leitor reco-
nheça o texto parodiado 
para que o objetivo do 
autor seja atingido (TERRA, 
2019, p. 15).
1
20 Oficina de produção e revisão de textos
Terra (2019) cita, ainda, a ironia como um recurso de heterogeneidade não mar-
cada utilizada nos textos. Para compreender esse conceito, leia o trecho de uma 
crônica que conta a história de Praxedes e Aristarco, dois gramáticos que traba-
lham num jornal, mas têm posicionamentos divergentes com relação à gramática.
Para que os dois não se matem, o chefe pôs cada um num horário. Praxedes, mais liberal [...] 
trabalha nos suplementos do jornal, que admitem uma linguagem mais solta. Aristarco, orto-
doxo [...] assume as vírgulas dos editoriais e das páginas de política e economia. [...]
Sempre estiveram a um passo do quebra-pau. Hoje, para festa dos ignorantes e dos mutilado-
res do idioma, parece que finalmente vão dar esse passo.
Fonte: Drewnick, 1988, p. 2.
A divertida crônica prossegue com uma discussão entre os gramáticos, contudo 
vale observar, no trecho citado, a presença de ironia na voz do narrador, que consi-
dera uma bobagem a briga entre os dois gramáticos. O trecho “Hoje, para festa dos 
ignorantes e dos mutiladores do idioma” é irônico, pois o narrador não considera 
que as pessoas que não dominam a gramática normativa sejam ignorantes, mas 
essa seria a opinião dos próprios gramáticos, personagens da crônica. O título e o 
subtítulo da crônica reforçam essa ideia e contêm ironia: “Santos nomes em vãos: 
drama verídico e gerado por virgulazinhas mal postas, cúmplices de tantas reti-
cências”. Os gramáticos, no clímax da narrativa, xingam um ao outro com palavras 
eruditas e chegam a se agredir fisicamente, simplesmente porque divergem em 
algumas questões gramaticais.
Na produção escrita, portanto, devemos considerar todos esses modos de or-
ganização das diferentes vozes presentes nos textos, que ocorrem explícita ou im-
plicitamente. Em textos acadêmicos, como resumos ou artigos científicos, muitas 
dessas vozes são demarcadas.
1.3 Modalidades e funções dos textos 
Vídeo Já sabemos que quando falamos de texto, não estamos nos referindo apenas 
aos enunciados escritos. Os textos podem ser também orais, não verbais ou híbri-
dos, formados por diferentes semioses.
Além disso, os textos apresentam diversas modalidades: podem possuir cará-
ter mais prático (avisos, bilhetes, mensagens, e-mails), estético (textos literários), 
informativo (notícia, reportagem, texto científico) etc. Enfim, como afirma Andrade 
(2011, p. 3), “para cada contexto, em determinadas circunstâncias, usa-se uma dife-
rente modalidade de texto”.
Para compreender essa questão, é importante conhecermos as funções da 
linguagem, estudadas especialmente porRoman Jakobson (1896-1982), famo-
so linguista russo. Ele se preocupou em estabelecer “correlação entre as funções 
da linguagem e os elementos envolvidos no processo de comunicação”, segundo 
Andrade (2011, p. 3). Em todo processo de comunicação há os seguintes elementos 
Texto, escrita e interação 21
presentes: emissor, destinatário, mensagem, código, meio e contexto. Por meio de 
um esquema, temos a figura a seguir.
Figura 3
Elementos da comunicação e funções da linguagem
EMISSOR/
ENUNCIADOR
(função expressiva)
MENSAGEM
(função poética)
CANAL/MEIO
(função fática)
CÓDIGO
(função metalinguística)
CONTEÚDO/
REFERENTE
(função referencial)
DESTINATÁRIO/
RECEPTOR
(função conativa)
Fonte: Elaborada pela autora com base em Almeida; Almeida, 2008, p. 141; Andrade, 2011, p. 3.
O emissor comunica uma mensagem ao destinatário, fazendo uso de um có-
digo (sistema de signos comum aos dois). Essa mensagem possui um conteúdo 
e será transmitida por um canal (telefonema, WhatsApp, e-mail, notícia, crônica, 
receita médica etc.).
Nesse processo, frequentemente, há predominância de alguma das funções da 
linguagem, ainda que todos os elementos estejam presentes no ato comunicativo. 
Vamos acompanhar, no quadro a seguir, como isso ocorre.
Quadro 2
Funções da linguagem
Comunicação 
centrada no(a)
Funções da 
linguagem Exemplos
Enunciador Expressiva ou emotiva
Textos escritos em primeira pessoa: depoimen-
tos, memórias, autobiografias, poemas, entre-
vistas etc.
Destinatário Conativa ou apelativa
Propagandas, discursos políticos ou religiosos, 
livros de autoajuda etc.
Referente/conteúdo Referencial Textos jornalísticos, científicos, didáticos etc.
Mensagem Poética ou estética Textos em verso ou prosa poética etc.
Código Metalinguística
Verbetes de dicionário, livros didáticos, textos 
que tratam da escrita, vídeos que tenham filmes 
como tema etc.
Canal Fática
Conversas descompromissadas (Olá, tudo bem? 
Que frio, hein? Que trânsito!)
Fonte: Elaborado pela autora com base em Andrade, 2011, p. 3.
22 Oficina de produção e revisão de textos
Conhecidas as funções da linguagem, podemos voltar a tratar das modalidades 
de textos, como o texto jornalístico, o científico, o literário, o publicitário etc. Para 
isso, vamos ler alguns fragmentos para que você verifique a qual dessas modalida-
des cada texto pertence e a função da linguagem predominante.
Texto 1
MUNDO
22 DE JUNHO DE 2020
Malala comemora formatura na Universidade de Oxford, no Reino Unido
A jovem, de 22 anos, ficou conhecida por lutar pela educação e direitos das mulheres
A paquistanesa Malala Yousafzai, de 22 anos, graduou-se na Universidade de Oxford, no Rei-
no Unido, neste semestre. A jovem, que estudou filosofia, política e economia na instituição, 
celebrou a conquista nas redes sociais em 19 de junho. Malala postou fotos da comemoração, 
com direito a bolo e banho de tinta com papel picado. “É difícil explicar minha alegria e gratidão 
agora”, escreveu na legenda. 
Fonte: MALALA..., 2020.
Modalidade: texto jornalístico.
Função da linguagem predominante: referencial.
Justificativa: o mais importante é o conteúdo, a notícia, a informação.
Características da linguagem: linguagem objetiva, informações precisas, dados concretos.
Malala Yousafzai, ativista 
pelos direitos humanos 
das mulheres, nasceu 
em 1997, em uma região 
muito conservadora do 
Paquistão. Ficou conhecida 
mundialmente após ser ba-
leada por talibãs, quando 
tinha 5 anos, ao sair da 
escola. Em 2009, usando 
um pseudônimo, passou 
a escrever em seu blog 
sobre as dificuldades de 
ser mulher e estudar sob 
o domínio do Talibã. Aos 
17 anos, recebeu o Prêmio 
Nobel da Paz.
Biografia
Texto 2
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já me não dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Fonte: Pessoa, 1990, p. 31.
Modalidade: texto literário.
Função da linguagem predominante: emotiva.
Justificativa: o enunciador é o mais importante; o eu poético usa a primeira pessoa.
Características da linguagem: linguagem poética, expressiva, subjetiva.
 Realize a atividade 4 para praticar a identificação da modalidade e da função 
dos textos.
Texto, escrita e interação 23
Há outras modalidades de textos que você poderá encontrar em seu dia a dia 
na mídia, no espaço escolar ou acadêmico, enfim, nas relações sociais. Além das di-
ferenças observadas com relação às funções da linguagem, faz-se necessário abor-
dar outras questões na construção dos textos: a variação, a norma e os níveis de 
linguagem. É o que veremos a seguir!
1.4 Variação, norma e níveis de linguagem 
Vídeo Para iniciarmos a reflexão sobre variação e norma, leia com atenção o fragmen-
to de texto a seguir.
Toda língua varia
— Vamos bem devagar para as coisas ficarem claras — propõe Irene. — Você certamente já 
ouviu um português falar, não é?
— Já — responde Sílvia.
— Já percebeu as muitas diferenças que existem entre o modo de falar do português e o modo 
de falar nosso, brasileiro.
[...]
— Essas e outras diferenças — prossegue Irene — também existem, em grau menor, entre 
o português falado no Norte-Nordeste do Brasil e o falado no Centro-Sul, por exemplo. Dentro 
do Centro-Sul existem diferenças entre o falar, digamos, do carioca e o falar do paulistano. 
E assim por diante.
Irene faz uma pequena pausa. Toma um gole de chá e continua:
— Até agora, falamos das variedades geográficas: a variedade portuguesa, a variedade bra-
sileira, a variedade brasileira do Norte, a variedade brasileira do Sul, a variedade carioca, a va-
riedade paulistana... Mas a coisa não para por aí. A língua também fica diferente quando é 
falada por um homem ou por uma mulher, por uma criança ou por um adulto, por uma pessoa 
alfabetizada ou por uma não alfabetizada, por uma pessoa de classe alta ou por uma pessoa 
de classe média ou baixa, por um morador da cidade e por um morador do campo e assim por 
diante. Temos então, ao lado das variedades geográficas, outros tipos de variedades: de gênero, 
socioeconômicas, etárias, de nível de instrução, urbanas, rurais etc.
Fonte: Bagno, 2010, p. 19-20.
Nesse texto, o linguista Marcos Bagno conceitua e exemplifica algumas das va-
riações existentes em uma língua, sendo possível dizer que não há uma única lín-
gua portuguesa, e sim diferentes usos da língua.
Já sabemos que fala e escrita são atividades discursivas diferentes, então cada 
uma tem suas características próprias. É comum pensarmos que a fala é desor-
ganizada e que a escrita é mais elaborada, mas isso não é verdade. Temos situa-
ções mais formais ou menos formais nas duas modalidades. Por exemplo, o uso 
da oralidade será diferente ao participarmos de uma entrevista de emprego e ao 
gravarmos uma mensagem de áudio para um amigo, assim como uma mensagem 
de texto enviada ao consultório médico será mais formal do que um comentário 
sobre um meme em uma rede social.
24 Oficina de produção e revisão de textos
Portanto, segundo Terra (2019, p. 35), não é possível dizer que um desses dois 
diferentes sistemas “é mais correto ou melhor que o outro. A língua escrita é ape-
nas posterior à língua falada e tanto uma como outra apresentam variações”.
Desse modo, podemos afirmar que a norma culta não é a única variedade 
possível; ela é apenas uma das muitas que existem. Não é melhor nem pior; é ape-
nas diferente. Além disso, como destaca Terra (2019, p. 44), a “norma culta também 
sofre variações, de modo que o que hoje se caracteriza por ser um uso culto apre-
senta diferenças em relação a usos passados”.
Se todas as variedades são válidas, qual delas deve ser usada na escrita de tex-
tos? A resposta pode ser “todas elas”, dependendo da situação.
Vamos verificar um exemplo de como é possível que a interação seja realizada 
com eficácia em uma variedade popular, desprestigiada socialmente e, por isso, 
estigmatizada. O fragmento de texto foi retirado do roteiro do filme Cidade de Deus. 
O diálogo entre aspersonagens se passa no bairro de mesmo nome, no Rio de 
Janeiro, na década de 1960.
Busca-Pé, o narrador da história, tem nas mãos uma câmera fotográfica profissional. É negro 
e tem aproximadamente 18 anos. Ao lado dele, está o amigo Barbantinho. Eles caminham por 
uma rua do conjunto.
BARBANTINHO: Aí, Busca-Pé... Tu acha mesmo que os cara vão te dá emprego no jornal se tu 
consegui tirá essa foto?
BUSCA-PÉ: Eu tenho que arriscá.
[...]
BARBANTINHO: Na boa, Busca-Pé. Eu acho que os cara do jornal tão de sacanagem. Eles nunca 
vão te dá emprego.
BUSCA-PÉ: Pô, Barbantinho. Se consegui essa foto, eu vô ficá na moral com os cara, tá 
entendendo?
BARBANTINHO: Tu tá falando dum jeito que parece até que a gente tá num episódio da Missão 
Impossível.
BUSCA-PÉ: Pior é que é.
Fonte: CIDADE..., 2001.
O modo como as personagens falam revela a existência da variação sociocul-
tural, relacionada ao nível de escolaridade e ao grupo social a que pertencem os 
falantes. Há também a questão de que as personagens são jovens e têm seu jeito 
particular de falar, evidenciado no uso de gírias.
A situação de comunicação apresentada mostra que há entendimento entre os 
falantes e que o uso de uma variante não padrão, nesse caso, foi perfeitamente 
adequado ao contexto. A frase “Eu acho que os cara do jornal tão de sacanagem” 
apresenta inadequação apenas do ponto de vista da gramática normativa – no 
caso, desvio de concordância nominal em “os cara” e redução do verbo estão para 
a forma tão.
Texto, escrita e interação 25
Vale lembrar que a variedade utilizada pelas personagens do filme não seria 
adequada para a escrita de um texto científico, um texto jornalístico (notícia, re-
portagem), um artigo acadêmico. Nesses casos, a única norma admitida seria a 
chamada norma culta.
Contudo, é equivocado pensar que existem apenas dois tipos de variedade: 
uma culta e uma popular. Há vários níveis de linguagem, originados das especi-
ficidades das interações sociais e que, segundo Köche, Boff e Pavani (2015, p. 9), 
“variam de acordo com o arranjo que se dá à sintaxe, ao vocabulário e à pronúncia”. 
Vamos acompanhar os níveis de linguagem apresentados pelas autoras, partindo 
do nível mais informal para o mais elaborado.
Quadro 3
Níveis da linguagem escrita
Níveis de 
linguagem
Corresponde à 
linguagem Exemplos
Linguagem familiar Pessoal
Uso cotidiano da língua. Notas para uso próprio, recados, 
bilhetes.
Linguagem popular Informal
Desvios da linguagem padrão, gírias, clichês, formas abre-
viadas, sentenças fragmentadas, construções simples.
Linguagem comum Semiformal
Linguagem simples, mas sem desvios. Sintaxe acessível 
ao leitor comum, vocabulário de uso frequente. Usada 
em jornais, revistas, notícias, cartas comerciais etc.
Linguagem cuidada Formal
Vocabulário preciso e rico, sintaxe elaborada, linguagem 
culta e padrão. Livros didáticos, artigos científicos, corres-
pondências oficiais etc.
Linguagem oratória Hiperformal
Cultiva efeitos sintáticos, rítmicos e sonoros. Poemas épi-
cos, textos literários como os de Machado de Assis.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Travaglia, 1996, p. 51-58; Köche; Boff; Pavani, 2015, p. 10-12.
É fundamental lembrar que demos destaque à escrita no Quadro 3. Se fôsse-
mos abordar a oralidade, teríamos ainda outros níveis, já que a fala é outra mo-
dalidade da língua. Além disso, conforme apontam Köche, Boff e Pavani (2015), 
as diferenças entre os níveis de linguagem se baseiam em critérios distintos, que 
podem ser socioculturais (escolaridade, idade, grupo a que o falante pertence etc.) 
ou situacionais (um e-mail profissional terá nível de linguagem diferente se compa-
rado a uma mensagem para um amigo, mesmo que escritos pela mesma pessoa).
 Realize a atividade 5 para praticar a identificação dos níveis de linguagem 
dos textos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escrita de textos exige, muito mais do que simplesmente a materialização das nos-
sas ideias em forma de letras, palavras e frases, a ativação de vários conhecimentos, 
alguns linguísticos, outros extralinguísticos.
Toda escrita revela a intenção do autor, que deve prever o perfil do leitor para saber o 
que dizer e o que não dizer em seu texto. Além disso, durante o planejamento da escrita, 
o produtor precisa decidir qual gênero usar e qual o conteúdo e objetivo de seu texto, 
sem esquecer o nível de linguagem mais adequado à situação comunicativa.
26 Oficina de produção e revisão de textos
ATIVIDADES
1. O texto a seguir é um exemplo de resumo de artigo científico. Leia-o e procure 
identificar cada uma das partes que o constitui (objetivo, referencial teórico, 
metodologia e resultados da pesquisa), escrevendo nos retângulos.
Fonte: Adaptado de Neves, 2012, p. 335.
2. Como você reescreveria o currículo da Figura 2 para que o propósito comunicativo 
fosse atendido, ou seja, para que suas informações fossem mais objetivas? Tome 
como base a sugestão de currículo para estágio, primeiro emprego e aprendiz 
(disponível em: http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/modelos-de-curriculo.
html. Acesso em: 14 jun. 2021) e reescreva o texto suprimindo as informações que 
estão sobrando e acrescentando informações necessárias ao gênero textual.
3. Observe o texto não verbal a seguir. Levando em conta a heterogeneidade 
constitutiva da linguagem, responda: quais são os dois discursos presentes no 
texto?
Vídeo
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/modelos-de-curriculo.html
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/modelos-de-curriculo.html
Texto, escrita e interação 27
Se
ns
ve
ct
or
/S
hu
tte
rs
to
ck
4. Agora é sua vez. Leia o trecho de texto a seguir e identifique a qual modalidade 
o texto pertence. Escreva também qual é a função da linguagem predominante 
(justificando sua escolha) e procure elencar algumas características do texto com 
relação à linguagem usada.
DÚVIDAS ANIMAIS
8 DE ABRIL DE 2021
Por que algumas raças de cachorro, como chow chow, têm a língua de outra cor?
[...]
Existem duas explicações para essa característica, uma mitológica e outra científica.
[...]
Cientificamente, sabe-se que a língua do chow chow é azul por causa de um pigmento da pele 
(substância que define a cor) chamado de melanina. Uma característica genética faz com que a 
língua dos cachorros dessa espécie tenha mais melanina do que a de outros cães, o que muda a 
coloração e deixa a língua azulada ou roxa.
Fonte: Domenichelli, 2021.
• Modalidade:
• Função da linguagem predominante:
• Justificativa:
• Características:
5. O trecho de texto a seguir é de Plínio Marcos, grande dramaturgo brasileiro. Esse 
texto foi escrito, gravado por ele em um vídeo e apresentado aos presidiários da 
casa de detenção em São Paulo. O objetivo era orientar os detentos sobre os 
cuidados para evitar o contágio pelo vírus da Aids.
Você deverá reescrever o texto como se os leitores fossem estudantes do ensino 
médio de uma escola particular de uma capital brasileira. O texto será publicado 
no site da escola, na página de informações sobre saúde. Portanto, você passará o 
trecho da linguagem popular para a linguagem comum.
Atenção, malandragem! [...] Te liga aí: aids é uma praga que rói até os mais fortes, e rói devaga-
rinho. Deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pega essa praga está ralado de verde e 
amarelo [...]. Num tem doutor que dê jeito, nem reza brava, nem choro, nem vela [...]. Pegou aids, 
foi pro brejo! [...] Aids passa pelo esperma e pelo sangue, entendeu? [...] Aids não toma conheci-
mento de macheza, pega pra lá e pega pra cá, pega em homem, pega em bicha, pega em mulher 
[...]! Então te cuida! Sexo, só com camisinha.
Fonte: Plínio Marcos, 2021.
28 Oficina de produção e revisão de textos
REFERÊNCIAS
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BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 17. ed. São Paulo: Contexto, 2010.BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BARBOSA, A. Facebook: Biblioteca ICBS – UFRGS. Porto Alegre, 8 mar. 2019. Disponível em: https://www.
facebook.com/bibicbs/photos/queriam-que-ela-fosse-do-lar-mas-ela-era-do-ler-com-essa-liberdade-ela-
era-de-on/2206276162958523/. Acesso em: 8 jul. 2021.
BARROS, D. Polifonia, dialogismo e enunciação. In: BARROS, D. L. P.; FIORIN, J. L. (org.). Dialogismo, polifonia 
e intertextualidade: em torno de Bakhtin. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003.
BRAIT, B. As vozes bakhtinianas e o diálogo inconcluso. In: BARROS, D. L. P.; FIORIN, J. L. (org.). Dialogismo, 
polifonia e intertextualidade: em torno de Bakhtin. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 
2003.
CARDOSO, A. Lista crônica: as palavras e as coisas. Disponível em: https://m.facebook.com/story.
php?story_fbid=3985548204817885&id=100000882357373. Acesso em: 8 jul. 2021.
CIDADE de Deus. Roteiro: Bráulio Mantovani. Baseado no romance de Paulo Lins. 2001. Disponível em: 
http://www.roteirodecinema.com.br/banco/cidadededeus12.pdf. Acesso em: Acesso em: 8 jul. 2021.
COUTO, M. O menino que escrevia versos. In: COUTO, M. O fio das missangas: contos. São Paulo: 
Companhia da Letras, 2009.
DOMENICHELLI, G. Por que algumas raças de cachorro, como chow chow, têm a língua de outra cor? 
Jornal Joca, 8 abr. 2021. Disponível em: https://www.jornaljoca.com.br/duvida-animal-por-que-alguns-
cachorros-como-o-chow-chow-tem-a-lingua-de-outra-cor/. Acesso em: 8 jul. 2021.
DREWNICK, R. Santos nomes em vãos. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 6 mar. 1988. Caderno 2, p. 2.
HEATHER, A. Mitologia grega: uma introdução para crianças. São Paulo: Panda Books, 2013.
KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estratégias de produção textual. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
KÖCHE, V. S.; BOFF, O. M. B.; PAVANI, C. F. Prática textual: atividades de leitura e escrita. 11 ed. Petrópolis: 
Vozes, 2015.
LEMOS, V. Incêndios no Pantanal: por que o fogo ainda ameaça o ecossistema mesmo após a 
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Pragmáticos: informatividade; situacionalidade; aceitabilidade. Recife: Secretaria de Educação 
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TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São 
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SAMPA. Compositor: Caetano Veloso. Intérprete: Caetano Veloso. Rio de Janeiro: Philips, 1978. 1 CD 
(3 min.).
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https://www.facebook.com/bibicbs/photos/queriam-que-ela-fosse-do-lar-mas-ela-era-do-ler-com-essa-liberdade-ela-era-de-on/2206276162958523/
https://www.facebook.com/bibicbs/photos/queriam-que-ela-fosse-do-lar-mas-ela-era-do-ler-com-essa-liberdade-ela-era-de-on/2206276162958523/
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54848995
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https://veja.abril.com.br/brasil/marcela-temer-bela-recatada-e-do-lar/
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https://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/view/2314/2008
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https://www1.educacao.pe.gov.br/cpar/ProfessorAutor/L%C3%ADngua%20Portuguesa/L%C3%ADngua%20Portuguesa%20%20I%20%201%C2%BA%20ano%20%20I%20%20M%C3%A9dio/Fatores%20Pragm%C3%A1ticos%20informatividade;%20situacionalidade;%20aceitabilidade.ppt
https://www1.educacao.pe.gov.br/cpar/ProfessorAutor/L%C3%ADngua%20Portuguesa/L%C3%ADngua%20Portuguesa%20%20I%20%201%C2%BA%20ano%20%20I%20%20M%C3%A9dio/Fatores%20Pragm%C3%A1ticos%20informatividade;%20situacionalidade;%20aceitabilidade.ppt
https://www1.educacao.pe.gov.br/cpar/ProfessorAutor/L%C3%ADngua%20Portuguesa/L%C3%ADngua%20Portuguesa%20%20I%20%201%C2%BA%20ano%20%20I%20%20M%C3%A9dio/Fatores%20Pragm%C3%A1ticos%20informatividade;%20situacionalidade;%20aceitabilidade.ppt
https://www1.educacao.pe.gov.br/cpar/ProfessorAutor/L%C3%ADngua%20Portuguesa/L%C3%ADngua%20Portuguesa%20%20I%20%201%C2%BA%20ano%20%20I%20%20M%C3%A9dio/Fatores%20Pragm%C3%A1ticos%20informatividade;%20situacionalidade;%20aceitabilidade.ppt
Práticas sociocomunicativas de escrita 29
2
Práticas sociocomunicativas 
de escrita
Interagimos em sociedade por meio de diferentes enunciados orais e escritos 
produzidos historicamente. Esses enunciados são chamados de gêneros textuais e 
estão presentes desde a conversa familiar e informal até os textos mais formais, 
como uma palestra proferida em um congresso internacional. 
Como afirma Bakhtin (2000), os gêneros nos são dados assim como a língua 
nos é dada. Então, desde criança, quando você, provavelmente, ouvia contos de 
fada, aprendia não somente as palavras, as frases ou o ritmo da fala, mas tam-
bém as características peculiares desse gênero, como o fato de iniciar com “era 
uma vez”; conter uma situação inicial estável; depois, um conflito que rompia com 
essa estabilidade; um herói que conseguia superar os problemas; presença de 
elementos mágicos; e final feliz.
Assim ocorre com a aprendizagem de outros gêneros, usados no cotidiano. 
Contudo, em âmbito escolar ou acadêmico, temos a oportunidade de aprender 
a produzir outros gêneros textuais, que não são tão familiares a nós, principal-
mente os públicos.
Além da escolha adequada do gênero, de acordo com a situação comunicati-
va, ainda precisamos estar atentos aos fatores de textualidade, como a coesão e 
a coerência. É sobre isso que vamos estudar neste capítulo!
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• selecionar o gênero textual e o suporte adequados à intenção 
sociocomunicativa de escrita; 
• considerar os fatores de textualidade ao produzir textos escritos; 
• utilizar os principais recursos coesivos ao elaborar textos escritos, estabele-
cendo relações entre as partes do texto e criando uma unidade de sentido, 
ou seja, textos coerentes; 
• acrescentar informações novas aos textos, garantindo progressão constan-
te e evitando repetições desnecessárias.
Objetivos de aprendizagem
2.1 Gêneros e tipos textuais
Vídeo Antes de apresentarmos a definição de gêneros textuais e distingui-los de tipos 
de textos, lançamos a você um desafio: tente reconhecer a quais gêneros perten-
cem os dois textos a seguir.Para isso, utilize seus conhecimentos prévios sobre os 
gêneros textuais, observando a estrutura, o título e o conteúdo de cada um.
30 Oficina de produção e revisão de textos
Texto 1
Férias melhores, com boas leituras
Ler aquilo de que se gosta é um dos grandes prazeres da vida. É bálsamo para as horas de 
tédio ou de ausência de companhia. O dia termina em conflitos? Ofensas? Socorra-se em 
Montesquieu: “Jamais sofri qualquer mágoa que uma hora de boa leitura não tenha curado” [...]
Vivemos em um mundo com abundância de livros, revistas e jornais. Ademais, grandes clás-
sicos da literatura podem ser baixados na internet. Os livros digitais se consolidaram e repre-
sentam uma alternativa ao livro físico. Aqueles têm o apelo de uma maior praticidade, pois um 
e-book tem capacidade para armazenar milhões de páginas.
Fonte: Venturi, 2014.
Texto 2
A ciência em sete revoluções
Não existe uma fórmula geral para se traduzir conceitos científicos de forma que fiquem acessí-
veis para o público em geral. Nesse assunto, só há duas certezas: que entender os conceitos e 
teorias da Ciência moderna é muito importante para todos nós, e que o público não só quer 
como pode fazê-lo. Nisto consiste a resposta dada, da primeira à última página, às três per-
guntas que abrem o texto do livro “As sete maiores descobertas científicas da História e seus 
autores”, de David Eliot Brody e Arnold R. Brody, traduzido por Laura Teixeira Motta e publicado 
pela Companhia das Letras em 1999. O objetivo da obra é transmitir ao leitor a essência das 
principais teorias e conceitos da Ciência [...].
Ao leitor que se aventurar por essas páginas, deve ser dito que, na pág. 166, os autores invocam 
vários raciocínios completamente defeituosos. Um exemplo ocorre quando eles tentam ilustrar 
com aplicações numéricas o fenômeno da “dilatação do tempo” – uma alteração no correr do 
tempo observada entre referenciais que se movem muito velozmente um em relação ao outro.
Fonte: Belisário, 2000.
É possível que você tenha reconhecido os dois textos como pertencentes a de-
terminados gêneros textuais, mesmo não sabendo nomeá-los com tanta precisão. 
Isso significa que interagimos por meio deles em nosso dia a dia, e de maneira ade-
quada, em várias situações de comunicação. Koch e Elias (2010) denominam esse 
conhecimento genérico que temos dos gêneros textuais, de sua caracterização e 
função de competência metagenérica. Por isso, sabemos não ser adequado contar 
uma piada em um velório ou dar uma aula de português em um churrasco com os 
amigos, por exemplo. Vamos, então, conferir cada um dos gêneros apresentados 
nos textos 1 e 2 e observar suas características no quadro a seguir.
Quadro 1
Gêneros textuais
Gênero textual Função social Construção composicional Conteúdo temático
Artigo de 
opinião
Circula em jornais, revistas e sites. O 
autor busca a aderência do leitor com 
relação à sua opinião sobre determi-
nado assunto, normalmente polêmico.
Apresenta tese (opinião defendida pelo 
autor) e argumentos utilizados para sus-
tentá-la. Há vários tipos de argumentos, 
como dados concretos, comparação, 
exemplificação, autoridade etc.
Pode ter temas variados, mas 
normalmente os escolhidos 
são os que geram polêmica ou 
temas atuais que estão em alta 
na sociedade.
(Continua)
Práticas sociocomunicativas de escrita 31
Gênero textual Função social Construção composicional Conteúdo temático
Resenha 
acadêmica
Circula em periódicos científicos e em 
sites, importante na divulgação de tra-
balhos na comunidade acadêmica e 
de obras em diferentes veículos. Exige 
do resenhista conhecimento sobre o 
assunto e maturidade intelectual para 
fazer avaliações e emitir juízo de valor.
Apresenta o conteúdo e analisa a forma 
da obra, apresentando avaliação crítica 
referente à obra resenhada.
Normalmente, contém informações so-
bre o autor; resumo da obra; metodo-
logia e suporte teórico usados; crítica e 
indicação do resenhista.
Expõe o conteúdo de obras 
que circulam no meio acadê-
mico-científico, com base em 
apreciação crítica.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Medeiros, 2019.
Agora que você já observou exemplos de gêneros textuais e algumas de suas 
características, é mais fácil compreender alguns conceitos. Vamos a eles!
Bakhtin (2000, p. 279) definiu gêneros do discurso como “tipos relativamente 
estáveis de enunciados”, ou seja, “modos de dizer” (orais, escritos, multissemióti-
cos) que usamos em nosso dia a dia para interagirmos em sociedade. Esses tipos 
de enunciados não são totalmente estáveis, visto que sofrem modificações com o 
passar do tempo e de acordo com o uso que fazemos deles. Por exemplo, a carta 
pessoal é um gênero textual pouco usado atualmente, devido ao avanço da tec-
nologia digital. Hoje temos meios mais eficientes e rápidos que substituíram esse 
gênero, como o e-mail, as mensagens via celular etc.
Ao mesmo tempo, os gêneros têm certa estabilidade, pois, se não fosse assim, 
teríamos de criar um gênero novo cada vez que precisássemos interagir. Há, em 
circulação, formas previamente definidas, às quais recorremos cada vez que preci-
samos falar ou escrever.
Vejamos um exemplo. Se você precisa registrar por escrito observações acerca 
do estágio que realizou para o curso de licenciatura, escolherá o gênero relatório 
para escrever essas observações. Não produzirá um artigo de opinião ou uma re-
senha para realizar essa tarefa.
Há gêneros mais maleáveis (os literários, por exemplo) e outros mais rígidos 
(como os documentos oficiais). Todavia, os gêneros apresentam três características 
comuns, citadas por Bakhtin (2000): conteúdo temático, construção composicional 
e estilo. O conteúdo temático se refere àquilo que pode ser dito em determinado 
gênero, conforme exemplificado no Quadro 1. A construção composicional diz 
respeito à organização do texto, isto é, à forma de dizer o que diz, também ilustrada 
nesse quadro. Já o estilo se relaciona à seleção que o autor faz dos recursos dispo-
nibilizados pela língua para produzir seu texto.
Além dessas características, é importante destacar a função social dos gêne-
ros textuais, conforme os exemplos do Quadro 1, pois, como afirma Marcuschi 
(2002), os gêneros se caracterizam por suas funções comunicativas e devem ser 
compreendidos em seus contextos de uso.
Marcuschi (2002) colabora, ainda, para a distinção entre tipos e gêneros tex-
tuais, uma vez que é muito comum a confusão entre esses dois termos. Tipos são 
sequências textuais por meio das quais se constrói um texto. Os tipos textuais, 
segundo o autor, são bastante restritos. Há narração, descrição, injunção, expo-
sição e argumentação. Já os gêneros são praticamente incontáveis, devido à sua 
imensa variedade.
32 Oficina de produção e revisão de textos
O texto “Férias melhores, com boas leituras”, presente nesta seção, é um ar-
tigo de opinião. Se considerarmos que ele é construído predominantemente por 
sequências argumentativas, podemos dizer que se trata de uma dissertação, cons-
truída em torno de uma opinião evidenciada pelo autor, a saber: a leitura é uma 
atividade muito prazerosa e útil para a vida moderna. Para sustentar essa opinião, 
o autor faz uso principalmente de argumentos de autoridade: “socorra-se em 
Montesquieu: ‘Jamais sofri qualquer mágoa que uma hora de boa leitura não tenha 
curado’”. O tempo predominante nesse tipo de texto é o presente do indicativo (é, 
vivemos, podemos, está provado). Além disso, Köche, Boff e Pavani (2015, p. 41) ba-
seiam-se em Delforce (1992) para explicar que
dissertar [...] é demonstrar o que se pensa com uma opinião progressivamen-
te construída, examinando-se, antes, todas as opiniões-resposta que a per-
gunta possibilita, avaliando-se sua pertinência e validade. Na dissertação, não 
se apresenta imediatamente uma resposta à questão formulada, como em 
uma entrevista.
É importante lembrar, contudo, que os gêneros textuais são tipologicamente 
heterogêneos, como afirmam as autoras, pois os textos são construídos porva-
riadas sequências, mesmo que uma delas seja predominante. Assim, dificilmente 
encontraremos um texto constituído por apenas um tipo textual.
2.2 Fatores de textualidade
Vídeo Já sabemos que, ao escrever, elegemos sempre um gênero textual para dizer o 
que queremos. Além disso, a escrita exige planejamento, visto que sempre temos 
um objetivo a atingir durante o ato comunicativo. Para que alcancemos sucesso 
nesse projeto de dizer, devemos observar os fatores de textualidade que, além 
de aspectos gramaticais e semânticos, envolvem “fatores pragmáticos, caracteriza-
dores das propriedades de um texto. A textualidade é uma dessas propriedades; é 
ela que faz com que um texto seja visto como texto, e não como um amontoado de 
frases desconexas” (MEDEIROS; TOMAZI, 2017, p. 160).
Figura 1
Fatores de textualidade
Am
m
us
/S
hu
tte
rs
to
ck
Coerência
Coesão
Intencionalidade
Aceitabilidade
Informatividade
Situacionalidade
Intertextualidade
Fonte: Elaborada pela autora com base em Beaugrande; Dressler, 1981.
Vamos conceituar, nesta seção, os fatores relacionados ao processo sociocomu-
nicativo, que são a intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, situacionalida-
de e intertextualidade.
Práticas sociocomunicativas de escrita 33
2.2.1 Intencionalidade
A palavra intencionalidade lembra intenção, ou seja, está relacionada ao objetivo de 
quem produz um texto, pois todo enunciado é carregado de intenções. Se escreve-
mos um poema, podemos ter como objetivo fazer com que o leitor se emocione, por 
exemplo. Se produzimos um artigo de opinião acerca de um tema polêmico, como 
a descriminalização das drogas, queremos manifestar nosso posicionamento e, ao 
mesmo tempo, convencer os leitores de que estamos certos. Para Koch (2015, p. 51):
a intencionalidade refere-se aos diversos modos como os sujeitos usam 
textos para perseguir e realizar suas intenções comunicativas, mobilizando, 
para tanto, os recursos adequados à concretização dos objetivos visados; 
em sentido restrito, refere-se à intenção do locutor de produzir uma mani-
festação linguística coesa e coerente, ainda que essa intenção nem sempre 
se realize integralmente.
Vamos ler o texto a seguir para observar o fator pragmático da intencionalidade.
Figura 2
Campanha de vacinação contra o sarampo
Fonte: Portal..., 2020.
A intenção do cartaz é bastante evidente: é preciso vacinar contra o sarampo, 
especialmente as crianças. Para atingir o objetivo proposto, o produtor do cartaz 
não se limitou a informar: “leve seu filho para vacinar contra o sarampo”. Essa frase, 
dita de modo tão direto, talvez não surtisse tanto efeito quanto o uso das palavras 
“dor, sofrimento, sequelas, morte”, isto é, as possíveis consequências de se contrair 
a doença. O trecho “contra o arrependimento não existe vacina” reforça a ideia de 
que é necessário vacinar antes que seja tarde demais.
Além disso, a imagem da criança com a feição triste e tomada pelas marcas 
do sarampo reforçam a intenção da propaganda em mostrar os problemas que a 
doença pode causar para convencer o público-alvo (principalmente pais e mães) 
a levarem seus filhos para vacinar. Ainda, é interessante observarmos que quem 
Você sabia que há 
diferença entre os termos 
publicidade e propagan-
da? Apesar de muitas 
vezes esses termos serem 
tratados como sinônimos, 
podemos apontar algumas 
diferenças entre eles. 
Enquanto a publicidade 
tem como objetivo vender 
um produto ou serviço, 
a propaganda tem a 
finalidade de divulgar uma 
ideia a fim de influenciar 
opiniões. De toda forma, 
o mais importante não é a 
distinção dos dois termos, 
mas reconhecer em ambos 
o caráter persuasivo, ao 
sensibilizar ou atrair o 
leitor para aderir à ideia 
ou consumir o produto e, 
para isso, fazem uso de di-
versos recursos (imagens, 
textos verbais, sons, efeitos 
especiais) para atrair o 
público-alvo.
Saiba mais
34 Oficina de produção e revisão de textos
segura o celular com a foto da criança é a conhecida personagem Zé Gotinha, mas-
cote da vacinação no Brasil. Ele não está feliz, como de costume em campanhas 
contra a poliomielite, para acolher as crianças. Está com os olhos assustados e seu 
semblante revela preocupação.
O discurso da propaganda foi construído desse modo devido ao crescimen-
to de casos de sarampo no país, visto que muitos pais deixam de levar seus 
filhos aos postos de saúde para tomar as vacinas. Assim, os recursos verbais e 
não verbais utilizados no texto da propaganda revelam a intenção do emissor – 
nesse caso, uma campanha do Ministério da Saúde – em atingir o objetivo que 
se tem em vista.
 Realize a atividade 1 para praticar a intencionalidade na produção textual.
2.2.2 Aceitabilidade
A aceitabilidade é um fator de textualidade que se refere ao receptor do texto. 
Assim como o produtor tem a tarefa de produzir um texto relevante para seu públi-
co, o receptor também deseja receber um texto que corresponda às suas expectati-
vas. De acordo com Medeiros e Tomazi (2017, p. 162), o produtor espera que o seu 
interlocutor reaja ao que o texto expressa. Além disso, “a aceitabilidade por parte 
do leitor exerce influência sobre o que se pode dizer e como dizer”.
Há algumas estratégias que devem ser utilizadas pelo produtor a fim de atingir a 
aceitabilidade. Essas estratégias dizem respeito ao princípio de cooperação, como 
representado a seguir.
Figura 3
Princípio da cooperação
Cooperação
Maneira/modo: 
evitar obscuridade, 
ambiguidade e 
prolixidade. 
Relação: apenas o que 
é pertinente ao assunto 
tratado
Qualidade: verdade das 
informações 
Quantidade: informação 
em quantidade 
suficiente
Fonte: Elaborada pela autora com base em Medeiros; Tomazi, 2017.
Práticas sociocomunicativas de escrita 35
Assim, para que haja aceitabilidade por parte do leitor, é necessário que o 
texto tenha quantidade suficiente de informações, nem pouco, nem em dema-
sia, pois muita informação causa o desinteresse do interlocutor; que as informa-
ções sejam verídicas, ou seja, é preciso saber do que se fala; que trate apenas 
daquilo que é pertinente ao assunto abordado; e que apresente eficácia comu-
nicativa, sendo compreensível e conciso.
Vejamos alguns exemplos. Os dois fragmentos de textos a seguir tratam do 
mesmo tema, porém o público-leitor é diferente. Observe as diferenças quanto à 
variação lexical, que interfere na aceitabilidade do leitor.
Texto 1
Combustão é um processo de oxidação rápida autossustentada, acompanhada da liberação de 
luz e calor, de intensidade variáveis. Os principais produtos da combustão e seus efeitos à vida 
humana são: gases (CO, HCN, CO
2
, HCl, SO
2
, NOx etc., todos tóxicos); calor [...]; chamas [...]; e 
fumaça [...]. Para que ocorra a combustão são necessários: material oxidável (combustível); 
material oxidante (comburente); fonte de ignição (energia); e reação em cadeia.
Fonte: Riscos..., 2021.
Texto 2
Incêndios e queimadas têm relação direta com o fogo. E para que haja fogo é preciso três in-
gredientes: o combustível (que é o material que vai pegar fogo), o comburente (geralmente é o 
oxigênio do ar, que alimenta o fogo) e a ignição ou o gatilho (que é o que inicia o processo). Se 
faltar um desses ingredientes, não há fogo.
Fonte: Libonati; Garcia, 2020.
Os dois textos explicam o que é necessário para que haja fogo. No entanto, o 
primeiro, publicado no site da Universidade Rural do Rio de Janeiro e destinado 
à comunidade acadêmica, utiliza termos técnicos, como combustão, oxidação, oxi-
dável, oxidante e autossustentada, e as siglas dos elementos químicos. O segundo 
texto foi publicado em uma revista científica que tem crianças como público-alvo. 
A palavra ingredientes, no lugar de produtos de combustão, já mostra o uso de um 
vocabulário mais acessível à criança.
Alguns termos que aparecem no texto 2 são os mesmos usados no texto 1, 
como combustível, comburente e ignição. Contudo, no texto destinado a crianças, 
foram usados parênteses para a ampliação vocabular, ou seja, para explicar

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