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_________________________________________ ESPAÇOS VETORIAIS COM PRODUTO INTERNO O principal objetivo aqui é estudar espaços vetorias nos quais tenha sentido falar do �compri- mento�de um vetor e do �ângulo�entre dois vetores. �PRODUTO INTERNO De�nição 0.1 Seja V um espaço vetorial sobre R. Uma função h ; i : V � V ! R é um produto interno sobre V se as seguintes condições são satisfeitas: 1. hu+ v;wi = hu;wi+ hv;wi, para todos u;v;w 2 V . 2. hau;vi = ahu;vi, para todos u;v 2 V e a 2 R. 3. hu;vi = hv;ui, para todos u;v 2 V . 4. hu;ui � 0, para todo u 2 V e hu;ui = 0, u = 0. Observações 0.2 Note que hau+ bv;wi = hau;wi+hbv;wi = ahu;wi+ bhv;wi; 8 a; b 2 R e u;v;w 2 V; Mais geralmente, ha1u1 + � � �+ anun;wi = a1hu1;wi+ � � �+ anhun;wi; 8 ai 2 R e ui;w 2 V: Note, também, que hu; av + bwi = hav + bw;ui = ahv;ui+ bhw;ui; 8 a; b 2 R e u;v;w 2 V: Exemplo 0.3 Sejam V = R3 e u = (x1; x2; x3);v = (y1; y2; y3) 2 V . Então u � v = hu;vi = x1y1 + x2y2 + x3y3 é um produto interno sobre V , o qual é chamado de produto interno usual (canônico). iv Solução. De fato, dados u = (x1; x2; x3);v = (y1; y2; y3);w = (z1; z2; z3) 2 V e a 2 R, temos que u+ v = (x1 + y1; x2 + y2; x3 + y3) e au = (ax1; ax2; ax3): Logo, hu+ v;wi = (x1 + y1)z1 + (x2 + y2)z2 + (x3 + y3)z3 = x1z1 + y1z1 + x2z2 + y2z2 + x3z3 + y3z3 em R = (x1z1 + x2z2 + x3z3) + (y1z1 + y2z2 + y3z3) = hu;wi+ hv;wi: As condições (2) e (3) são análogas a (1): Finalmente, é claro que hu;ui = x21 + x22 + x23 � 0: Agora, para provar que hu;ui = 0) u = 0: Suponhamos, por absurdo, que u 6= 0, digamos x1 6= 0. Então x21 + x 2 2 + x 2 3 = 0) ( x2 x1 )2 + ( x3 x1 )2 = �1; o que é uma contradição, pois o lado esquerdo da última equação é positivo enquanto o lado direito é negativo. Observação 0.4 Mais geralmente, seja V = Rn = f(x1; : : : ; xn) : xi 2 Rg: Então hu;vi = x1y1 + x2y2 + x3y3 + x4y4 + � � �+ xnyn é um produto interno sobre V , o qual é chamado de produto interno usual (canônico). Exemplo 0.5 Seja V = R3 munido com o produto interno usual hu;vi = x1y1 + x2y2 + x3y3. Calcule h(1; 2; 3) ; (1; 0; 0)i = 1:1 + 2:0 + 3:0 = 1 Exemplo 0.6 Seja V = R3 munido com o produto interno hu;vi = �x1y1+2x2y2�x3y3 onde u = (x1; x2; x3);v = (y1; y2; y3). Calcule h(1; 2; 3) ; (1;�1; 1)i = �1:1+2:2 (�1)�3:1 = �1�4�3 = �8 Exemplo 0.7 Seja V = R2 munido com o produto interno usual hu;vi = x1y1 + x2y2. Calcule h(1; 2) ; (1;�2)i = 1:1 + 2 (�2) = �3 Observação 0.8 Um espaço euclidiano é um espaço vetorial V sobre R munido com um produto interno. v De�nição 0.9 Sejam V um espaço euclidiano e u;v 2 V . Dizemos que u e v são ortogonais se hu;vi = 0 e denotamos por u ? v: Sejam � e � subconjuntos de V . Dizemos que � e � são ortogonais se hu;vi = 0; 8 u 2 � e v 2 � e denotamos por � ? �: Exemplo 0.10 Seja V = R3 munido com o produto interno usual e � = f(1; 2; 0) ; (1; 0;�1)g, � = f(1; 0;�1) ; (2; 0;�1) ; (1; 0; 0)g, então � e � são ortogonais? Note que h(1; 2; 0) ; (1; 0;�1)i = 1:1 + 2:0 + 0: (�1) = 1 h(1; 2; 0) ; (2; 0;�1)i = h(1; 2; 0) ; (1; 0; 0)i = h(1; 0;�1) ; (1; 0;�1)i h(1; 2; 0) ; (2; 0;�1)i = Exemplo 0.11 Seja V = R2 munido com o produto interno usual, note que h(1; 0) ; (0; 1)i = 0 Logo e1 = (1; 0) e e2 = (1; 0) são ortogonais Exemplo 0.12 Seja V = Rn com o produto interno usual. Então � = fe1; : : : ; eng é uma base ortogonal de V . Exemplo 0.13 Seja V = R2 com o produto interno hu;vi = x1y1 + x2y2 onde u = (x1; x2);v = (y1; y2) 2 V . Então � = f(2; 1); (�3; 1)g não é uma base ortogonal de V , pois, Exemplo 0.14 Seja V = R4 com o produto interno usual. Mostre que � = f(1; 1; 0;�1); (1; 2; 1; 3); (1; 1;�9; 2); (16;�13; 1; 3)g é uma base ortogonal de V . vi Solução: �NORMA DE UM VETOR Seja V um espaço euclidiano. A norma ou comprimento de um vetor u 2 V é de�nida como kuk = p hu;ui: Note que esta de�nição é possível, pois hu;ui � 0, para todo u 2 V . Seja u 2 V um vetor qualquer. Dizemos que u é um vetor unitário se kuk = 1: Se v 2 V é um vetor não-nulo qualquer, então u = 1 kvkv é um vetor unitário. Neste caso, dizemos que u é a normalização do vetor v. Exemplo 0.15 Considerando V = Rn, munido com o produto interno usual, teremos que para cada u = (x1; x2; � � � ; xn) teremos kuk = p hu; ui = p h(x1; x2; � � � ; xn) ; (x1; x2; � � � ; xn)i = p x21 + x 2 2 ++ � � �+ x2n Exemplo 0.16 Seja V = R3: Note que k(2; 3; 0)k = Note que u = (2; 3; 0) não é unitário. Fazendo v = 1jjujju = Teorema 0.17 Seja V um espaço euclidiano. Então: 1. kuk � 0, para todo u 2 V . 2. kuk = 0 se, e somente se, u = 0. 3. kauk = jaj kuk, para todo u 2 V e a 2 R. 4. ku� vk2 = kuk2 � 2 hu;vi+ kvk2, para todos u;v 2 V . 5. jhu;vij � kuk kvk, para todos u;v 2 V . (Desigualdade de Cauchy-Schwarz) 6. ku� vk � kuk+ kvk, para todos u;v 2 V . (Desigualdade de Minkowski) vii Prova. 3. jjaujj = p hau; aui = 4. Vamos veri�car que ku+ vk2 = kuk2 + 2 hu;vi+ kvk2. Para isso, temos que jju+ vjj = p hu+ v;u+ vi ) jju+ vjj2 = hu+ v;u+ vi = Portanto, jju+ vjj2 = jjujj2 + 2 hu; vi+ jjvjj2 Tendo de�nido o conceito de comprimento em um espaço euclidiano qualquer, é natural per- guntar: se o conceito de ângulo pode ser generalizado? A resposta é verdadeira se nosso corpo é os reais R mas é falsa no corpo dos números complexos C. Seja V um espaço euclidiano. Para quaisquer u;v 2 V � f0g, o ângulo entre u e v é de�nido como o ângulo � tal que 1. 0 � � � �; 2. cos � = hu;vi kuk kvk . Observação 0.18 Pela desigualdade de Cauchy-Schwarz, �1 � hu;vikuk kvk � 1 e, assim, o ângulo � sempre existe e é único. Note ainda que se u e v, forem ortogonais, teremos � = � 2 Exemplo 0.19 Seja V = R4 e u = �p 2; 1; 0; 0 � e v = �p 2; 0; 1 4 ; 1 � . Determine o angulo formado pelos vetores u e v: Solução: Note que Sejam V um espaço euclidiano e � = fu1; : : : ;ung uma base de V . Dizemos que � é uma base ortogonal ou sistema de coordenadas cartesianas para V se hui;uji = 0 se i 6= j Por outro lado, diremos que � é uma base ortonormal ou sistema de coordenadas cartesianas para V se hui;uji = 1 se i = j 0 se i 6= j Exemplo 0.20 � = f(1; 1; 1); (1; 0;�1); (1;�2; 1)g é uma base ortogonal para V = R3 munido com o produto interno usual, pois viii h(1; 1; 1); (1; 0;�1)i = 1:1 + 1:0 + 1 (�1) = 0 h(1; 1; 1); (1;�2; 1)i = 1� 2 + 1 = 0 h(1; 0;�1); (1;�2; 1)i = 1:1 + 0 (�2) + (�1) :1 = 0 Exemplo 0.21 � = n ( 1p 3 ; 1p 3 ; 1p 3 ); ( 1p 2 ; 0; �1p 2 ); ( 1p 6 ; �2p 6 ; 1p 6 ) o é uma base ortononal para V = R3 munido com o produto interno usual, poisD ( 1p 3 ; 1p 3 ; 1p 3 ); ( 1p 2 ; 0; �1p 2 ) E = 1p 6 + 1p 3 :0� 1p 6 = 0 AnalogamenteD ( 1p 3 ; 1p 3 ; 1p 3 ); ( 1p 6 ; �2p 6 ; 1p 6 ) E = D ( 1p 2 ; 0; �1p 2 ); ( 1p 6 ; �2p 6 ; 1p 6 ) E = 0 Além disso,������( 1p 3 ; 1p 3 ; 1p 3 ) ������ =r� 1p 3 �2 + � 1p 3 �2 + � 1p 3 �2 = q 1 3 + 1 3 + 1 3 = 1 ( 1p 2 ; 0; �1p 2 ) = ( 1p 6 ; �2p 6 ; 1p 6 ) = 1 Logo; � é uma base ortonormal Exemplo 0.22 Seja V = Rn com o produto interno usual. Então � = fe1; : : : ; eng é uma base ortonormal de V . Exemplo 0.23 Seja V = R3, temos fe1; e2; e3g é uma base ortonormal. Processo de Ortogonalização de Gram-Schmidt Sejam V um espaço euclidiano e � = fu1; : : : ;ung uma base de V . Então poderemos obter uma base ortogonal � = fv1; : : : ;vng de V a partir da base � como segue: Para iniciar o processo vamos escolher v1 como qualquer um dos vetores u1; : : : ;un, digamos v1 = u1, daí v2 = u2 � hu2;v1i kv1k2 v1 é ortogonal ao vetor v1 Analogamente, v3 = u3 � hu3;v1i kv1k2 v1 � hu3;v2i kv2k2 v2 ix é tal que v1 ? v3;v2 ? v3 Continuando com esse processo vn = un � hun;v1i kv1k2 v1 � hun;v2i kv2k2 v2 � � � � � hun;vn�1i kvn�1k2 vn�1 ou seja, vk = uk � k�1X i=1 huk;vii kvik2 vi; k = 1; : : : ; n: Assim, obtemos uma base ortogonal � = fv1; : : : ;vng Este processo de ortogonalização é conhecido como o processo de ortogonalização de Gram- Schmidt. Conclusão 0.1 A partir de uma base qualquer de V podemos sempre obter uma baseortogonal (ortonormal) de V . Mais geralmente, se � = (u1; : : : ;un; : : :) é um seqüência LI de V , então podemos construir, indutivamente, uma seqüência ortogonal � = (v1; : : : ;vn; : : :) de V tal que [v1; : : :;vk] = [u1; : : :;uk]; 8 k 2 N: Exemplo 0.24 Sejam V = R3 com o produto interno usual e � = f(1; 1; 1); (0; 1; 1); (0; 0; 1)g uma base de V . Determine a partir de � uma base ortonormal de V . Solução. Fazendo u1 = (1; 1; 1), u2 = (0; 1; 1) e u3 = (0; 0; 1). Escolhemos um vetor inicial v1, digamos v1 = u1 = (1; 1; 1): Agora, v2 = u2 � hu2;v1ikv1k2 v1 = (0; 1; 1) � h(0;1;1);(1;1;1)i k(1;1;1)k2 (1; 1; 1) = (0; 1; 1) � 2p 3 2 (1; 1; 1) = (0; 1; 1) � 2 3 (1; 1; 1) = (0; 1; 1)� � 2 3 ; 2 3 ; 2 3 � = ��2 3 ; 1 3 ; 1 3 � Agora, v3 = u3 � hu3;v1ikv1k2 v1 � hu3;v2i kv2k2 v2 = (0; 0; 1)� h(0;0;1);(1;1;1)ik(1;1;1)k2 (1; 1; 1)� h(0;0;1);(�23 ; 1 3 ; 1 3)i k(�23 ; 13 ; 13)k 2 ��2 3 ; 1 3 ; 1 3 � = x (0; 0; 1)� 1 3 (1; 1; 1)� 1 3p 2 9 + 1 9 + 1 9 2 ��2 3 ; 1 3 ; 1 3 � = (0;�1 2 ; 1 2 ): Logo obtemos v1 = (1; 1; 1), v2 = ��2 3 ; 1 3 ; 1 3 � e v3 = (0;�12 ; 1 2 ). Assim, � (1; 1; 1); ��2 3 ; 1 3 ; 1 3 � ; (0;�1 2 ; 1 2 ) é uma base ortogonal. Finalmente, normalizando os vetores u1, u2 e u3, obtemos uma base ortonormal� v1 kv1k ; v2 kv2k ; v3 kv3k � =8<: 1p3(1; 1; 1); 1q6 9 � �2 3 ; 1 3 ; 1 3 � ; 1q 2 4 (0;�1 2 ; 1 2 ) 9=; =� ( 1p 3 ; 1p 3 ; 1p 3 ); 3p 6 � �2 3 ; 1 3 ; 1 3 � ; p 2(0;�1 2 ; 1 2 ) � =(� 1p 3 ; 1p 3 ; 1p 3 � ; � �2p 6 ; 1p 6 ; 1p 6 � ; 0;� p 2 2 ; p 2 2 !) de V . Portanto n� 1p 3 ; 1p 3 ; 1p 3 � ; � �2p 6 ; 1p 6 ; 1p 6 � ; � 0;� p 2 2 ; p 2 2 �o é a base ortonormal procurada. Exemplo 0.25 Sejam R3 com o produto interno usual e a base � = f(1; 0; 1); (1; 1; 0); (2; 1; 1)g de R3. Determine uma base ortonormal para R3, a partir de �
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