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RCC Carolina Ferreira -A sobrevida aos tumores, principalmente os sólidos, tem drasticamente durante as 2 últimas décadas, graças aos grupos cooperativos. 70% dos tumores abdominais têm bons resultados e são curados. C/ a ajuda da radioterapia (RT) e da quimioterapia QT, tem sido possível realizar cirurgias menos radicais. -A QT pré-operatória o volume tumoral e a possibilidade de ressecção completa c/ melhores resultados em relação à cura e c/ menos sequelas. Avanços em monitorização intraoperatória, reconstrução da parede torácica, próteses e técnicas de cirurgia minimamente invasivas têm melhorado bastante o prognóstico. A Cirurgia Pediátrica Oncológica é fundamental, pois poucos pacientes são curados sem ser realizada pelo menos 1 intervenção cirúrgica. -À admissão, a criança pode precisar de biópsia p/ dispor-se da certeza diagnóstica e p/ fazer- se o planejamento do tratamento. A biópsia pode ser aspirativa (c/ agulha fina), ou c/ agulha de microbiópsia (ser realizada no serviço de radiologia de intervenção), ou mesmo cirúrgica (retirada de parte do tumor ou mesmo do total). -Quando se opta por iniciar o tratamento com QT, é necessária a introdução de cateter venoso central de longa duração. Podem ser utilizados cateteres c/ 2 vias (externas) ou totalmente implantados (cobertos por pele), c/ controle radioscópico e sob anestesia geral. -Situações em que há necessidade de cirurgia TUMORES DE SUPRARRENAL NEUROBLASTOMA -Resulta da proliferação maligna de células derivadas da crista neural que dão origem ao sistema nervoso simpático. Correspondem a 7% dos tumores malignos na infância. 50% das crianças afetadas abaixo dos 2 anos e 2 terços daquelas acima de 2 anos têm doença disseminada. -Manifestações clínicas: a apresentação clínica é variada, dependendo da localização primária, secreção de catecolaminas e extensão da doença. O local primário + frequente é a adrenal (50%), seguida de paraespinal (25%), mediastino (20%), pelve (5%) e pescoço (5%). Histologicamente, é uma neoplasia de pequenas células redondas azuis, muitas vezes agrupadas, formando pseudorrosetas de Horner-Wright. A apresentação clínica + frequente do neuroblastoma é o do volume abdominal, muitas vezes referido pela família. Também pode ser massa abdominal (50 a 75%), hipertensão, perda de peso, diarreia, febre, dor óssea, RCC Carolina Ferreira opsomioclonia, síndrome de Horner e exoftalmia. A massa abdominal costuma ultrapassar a linha média, c/ superfície bocelada, dura, de limites imprecisos. Quando em localização paravertebral, pode ocorrer invasão do canal medular, levando à paraparesia ou à paraplegia de aparecimento súbito. Em alguns casos, a 1º manifestação é a dor óssea, devido ao acometimento do osso pela metástase do tumor. O diagnóstico e o estadiamento do neuroblastoma são feitos por US de abdome c/ Doppler e/ou tomografia com contraste intravenoso, urografia excretora (sinal “do lírio caído”), Rx de tórax e ossos longos, mielograma, dosagem urinária dos metabólitos das catecolaminas, ácido vanilmandélico (VMA) e ácido homovanílico (HVA) e biópsia da lesão. O VMA e o HVA estão elevados em 80 a 90% dos casos. Outros marcadores são a neuroenolase (elevada em 96% dos pacientes com metástases) e a ferritina sérica. Tomografia: neuroblastoma suprarrenal esquerdo Urografia: neuroblastoma suprarrenal esquerdo (sinal “do lírio caído”) -Prognóstico: apesar da importância dos marcadores no diagnóstico e no acompanhamento, os principais fatores prognósticos são os fornecidos pela análise da biologia molecular do tumor, dos quais o mais importante é a detecção de amplificação do Nmyc (proto-oncogene localizado no braço curto do cromossomo 2). -Tratamento: o discreto sucesso no tratamento do neuroblastoma avançado faz os protocolos diferirem quanto ao uso de QT, RT e cirurgia. Sabe-se que a QT é a pedra fundamental do tratamento inicial, pois melhora as condições de ressecabilidade do tumor. No neuroblastoma inicial, o tratamento cirúrgico é o principal. O tratamento do neuroblastoma nos estádios I e II é cirúrgico; nos estádios III e IV, é controverso (QT e transplante de medula óssea), e no estádio IV-S, pode sofrer regressão espontânea, c/ 90% com fatores prognósticos bons. Sobrevida FEOCROMOCITOMAS -São tumores raros, que podem existir em qualquer localização onde haja tecido cromafim. A maioria dos feocromocitomas aparece no abdome, e, destes, 85% localizam-se na medula RCC Carolina Ferreira adrenal, sendo a minoria maligna (<10%). Grande número dos casos acomete adultos jovens e adolescentes. -Manifestações clínicas: o sintoma + frequente é a hipertensão arterial, que ocorre em 80% dos casos. Podem acontecer também taquicardia, palidez, dor precordial, dor epigástrica, perda de peso, dispneia aos esforços, cefaleia e sintomas relacionados à hiperglicemia. -Diagnóstico: pode ser feito c/ dosagem plasmática de catecolaminas e/ou metabólitos, tomografia e cintilografia c/ iodo-131 ligado à metaiodobenzilguanidina. -Tratamento: requer exploração bilateral da suprarrenal e das cadeias simpáticas. É importante o controle da hipertensão em todas as fases do tratamento, prevenindo-se, dessa forma, de complicações e sequelas, como hemorragia cerebral. No pós-operatório imediato, é importante lembrar que pacientes cronicamente vasoconstritos podem apresentar sintomas de choque hipovolêmico após a retirada do tumor. TUMORES DO CÓRTEX DA SUPRARRENAL -São tumores retroperitoneais, raramente palpáveis, bilaterais em 10% dos casos -Correspondem a adenomas ou carcinomas, sendo o quadro hormonal + frequente nos adenomas. Clinicamente, podem ocorrer síndrome de Cushing, manifestações endócrinas sexuais e, mais raramente, hiperaldosteronismo. -A metástase atinge frequentemente os pulmões, e o recurso diagnóstico + importante é a caracterização do tumor pela tomografia. O tratamento na doença ñ disseminada é cirúrgico, com ressecção da lesão. -Os principais fatores prognósticos são o peso do tumor (< 100 g, c/ melhor prognóstico) e a possibilidade da ressecção completa sem rotura. -O tratamento requer exploração bilateral da suprarrenal e das cadeias simpáticas. É importante o controle da hipertensão em todas as fases do tratamento, prevenindo-se, dessa forma, de complicações e sequelas, como hemorragia cerebral. -No pós-operatório imediato, é importante lembrar que pacientes cronicamente vasoconstritos podem apresentar sintomas de choque hipovolêmico após a retirada do tumor. TUMORES DO CÓRTEX DA SUPRARRENAL -São tumores retroperitoneais, raramente palpáveis, bilaterais em 10% dos casos. Correspondem a adenomas ou carcinomas, sendo o quadro hormonal + frequente nos adenomas. -Clinicamente, podem ocorrer síndrome de Cushing, manifestações endócrinas sexuais e, + raramente, hiperaldosteronismo. -A metástase atinge frequentemente os pulmões, e o recurso diagnóstico + importante é a caracterização do tumor pela tomografia. O tratamento na doença ñ disseminada é cirúrgico, c/ ressecção da lesão. -Os principais fatores prognósticos são o peso do tumor (< 100 g, c/ melhor prognóstico) e a possibilidade da ressecção completa sem rotura. TUMORES RENAIS -De 85 a 90% correspondem a tumores de Wilms. Também podem ocorrer outros tumores, + raros: sarcoma de células claras, tumor rabdoide, carcinoma de células renais e tumor neuroectodérmico primitivo do rim. TUMOR DE WILMS (NEFROBLASTOMA) -Trata-se de tumor maligno derivado do blastema metanéfrico e composto de 3 elementos: blastema, estroma e epitélio. O tumor será designado conforme o tipo de tecidopredominante. O tipo blastematoso é o + agressivo, e o epitelial, o menos destrutivo. RCC Carolina Ferreira -O tumor de Wilms é a neoplasia renal + comum na infância, c/ 85% dos casos diagnosticados antes dos 5 anos, c/ média de 3,5 anos. -A apresentação clínica do tumor de Wilms é a presença de massa abdominal, preferencialmente no flanco (60%), hematúria microscópica (15%), febre, perda de peso, anemia, varicocele à esquerda e hipertensão. Anomalias associadas são hemi-hipertrofia, pseudo- hermafroditismo, aniridia, síndrome de Beckwith-Wiedemann, trissomia do 18 e outras malformações geniturinárias. -Estadiamento está na tabela ao lado -O diagnóstico e o estadiamento são feitos por US de abdome c/ Doppler e/ou TC c/ contraste c/ o intuito de visualizar rim contralateral e verificar se há invasão vascular da veia renal, urografia excretora p/ verificar distorção dos cálices renais ou exclusão renal e radiografia e/ou TC de tórax, a fim de investigar metástase pulmonar, que é a + frequente. -O principal elemento a orientar a terapêutica é o correto estadiamento clínico, cirúrgico e patológico. Em 10% dos casos, a apresentação inicial já é a doença disseminada ou o tumor inoperável. Algumas vezes, o estadiamento correto é realizado após o procedimento cirúrgico. -Tratamento: consiste na ressecção cirúrgica da massa tumoral, no exame do rim contralateral e na biópsia de linfonodos. Dependendo do estadiamento e do protocolo empregado, são realizadas QT e/ou RT adjuvantes pré e/ou pós-operatórias. O prognóstico varia c/ o estadiamento e o tipo histológico. Histologia ñ favorável está relacionada a anaplasia, sarcoma de células claras e tumor rabdoide. No estádio I, 95% dos casos ficam livres de doença e, considerando todos os estádios, 77%. Casos bilaterais têm prognósticos + reservados e comportamento bastante diverso dos unilaterais, sendo considerados por alguns especialistas como outro tipo de tumor. Urografia: tumor de Wilms no rim esquerdo c/ distorção dos cálices. RCC Carolina Ferreira Tomografia: tumor de Wilms no rim esquerdo Tomografia de tumor de Wills bilateral SARCOMA DE CÉLULAS CLARAS -Trata-se do tumor renal produtor de metástases ósseas. Corresponde a 5% dos tumores renais, e a maioria dos casos ocorre dos 2 aos 3 anos. É sempre unilateral, com padrão cístico. -A sua investigação é semelhante à do tumor de Wilms, podendo a imuno-histoquímica ser positiva p/ vimentina, lectinas e alfa-1-antiquimiotripsina. -Esse tumor tem mortalidade de 30 a 40%, e sobrevida de 2 anos em torno de 39 a 49%. TUMOR RABDOIDE -O tumor rabdoide é o menos comum (2%) e o mais letal dos tumores renais.Trata-se de citoplasma intensamente acidofílico, imitando rabdomioblastos. Está associado a condições que predispõem a tumor de Wilms ou a restos nefrogênicos; -Clinicamente, 84% têm hematúria. A imuno-histoquímica é positiva p/ vimentina e citoqueratina. A positividade é variável para marcadores neurais (desmina e actina); -A sobrevida é de quase 0%, sendo muito resistente à QT e RT. CARCINOMA DE CÉLULAS RENAIS -É raro em crianças, com pico de incidência de 9 a 10 anos -A classificação histológica é de extrema importância p/ o prognóstico e a terapêutica. Atualmente, na prática clínica diária, os melhores resultados são obtidos na diferenciação entre CCR de células claras e não claras -O carcinoma de células claras é a variante + comum, representando 70 a 75% de todos os CCRs. Na grande maioria, é do tipo esporádico (95%) e, nos 5% restantes, associados a síndromes hereditárias, como von Hippel-Lindau e esclerose tuberosa -A sobrevida global é de 50% TUMOR NEUROECTODÉRMICO PRIMITIVO DO RIM -Trata-se de doença maligna rara – neoplasia de células redondas e pequenas, de origem neural e que cresce fora do cérebro, da medula e do sistema nervoso simpático -Clinicamente, ocorre em crianças maiores e macroscopicamente corresponde a grande massa tumoral, com áreas de hemorragia e necrose -Imuno-histoquímica: forte expressão da enolase neuronal específica, CD99, vimentina e MIC2; a translocação é frequente – t(21;22). É bastante agressivo, c/ mau prognóstico. POLIPOSE ADENOMATOSA FAMILIAR -A polipose adenomatosa familiar é uma doença hereditária autossômica dominante, responsável por 1% dos casos de câncer colorretal na população. Em aproximadamente 20% dos casos, pode decorrer de mutações genéticas. Geralmente, manifesta-se na puberdade, c/ o aparecimento de pólipos adenomatosos na mucosa colorretal, podendo ser assintomática ou apresentar quadro clínico de sangramento retal, anemia, tenesmo e, + raramente, dor abdominal. RCC Carolina Ferreira -O desenvolvimento de câncer colorretal é regra na polipose adenomatosa familiar e surge, em média, 10 anos após o desenvolvimento dos pólipos. -Manifestações extracolônicas benignas e malignas podem estar associadas. As benignas são pólipos no trato digestivo superior (estômago e duodeno), no intestino delgado, na tireoide, nas suprarrenais, no pâncreas e na hipófise; cistos sebáceos, lipomas, osteomas, dedos hipocráticos, anormalidades dentárias (dentes supranumerários), lesões da retina e tumores desmoides. As malignas são tumores na região periampular, de ductos biliares, gástricos, no íleo, na tireoide, na suprarrenal e no Sistema Nervoso Central (SNC). 0As manifestações extracolônicas + comuns na Polipose Adenomatosa Familiar (PAF) são os osteomas, + frequentes no ângulo da mandíbula, e alterações da pigmentação da retina – hipertrofia congênita do epitélio pigmentar da retina. A associação da PAF a cistos epidermoides e osteomas é conhecida como síndrome de Gardner; com tumores do SNC, como síndrome de Turcot. -A proctocolectomia total c/ ileostomia permanente ñ é o tratamento de escolha p/ o grupo etário pediátrico, porque, além do impacto psicológico e fisiológico no adolescente, pode ocasionar atonia vesical e impotência. + recentemente, o tratamento de escolha que vem sendo adotado p/ o grupo etário pediátrico é a colectomia total, c/ a mucosectomia retal e um procedimento c/ bolsa ileorretal. -O seguimento desses pacientes é fundamental, pois é possível o aparecimento de manifestações extracolônicas, como angioma nasofaríngeo, osteomas, anormalidades dentais, lipomas, tumor periampular e desmoide, pólipos gástricos e adenomas duodenal, jejunal e ileal após a colectomia. A investigação nos familiares é importante por ser herança autossômica dominante. LINFOMA DE HODGKIN -O linfoma de Hodgkin é o tipo + comum de linfoma no pré-adolescente, adolescente e adulto jovem e pouco frequente em crianças, sendo também + comum no sexo masculino e entre indivíduos de raça branca. -Portadores de mononucleose e de HIV têm > probabilidade de desenvolver a doença. A importância p/ o cirurgião está muito + relacionada ao diagnóstico do que ao tratamento. -Classificação morfológica: 1. Predominância linfocitária – melhor prognóstico 2. Esclerose nodular – tipo predominante nos Estados Unidos; 3. Celularidade mista – tipo predominante no Brasil; 4. Depleção linfocitária – pior prognóstico -Quadro clínico: 80% dos pacientes c/ linfoma de Hodgkin apresentam apenas adenopatia cervical indolor. Podem ocorrer outros sintomas sistêmicos, menos frequentemente, como febre, sudorese (em especial noturna), prurido, fadiga, anorexia e perda de peso. A adenopatia também pode ser mediastinal, axilar e inguinal (as 2 últimas formas são menos comuns). De 30 a 40% dos casos têm acometimento esplênico, e 10 a 20%, hepático. RCCCarolina Ferreira -Diagnóstico e estadiamento: o diagnóstico de linfoma de Hodgkin baseia-se na biópsia da lesão. A identificação da célula típica de Reed- Sternberg é essencial p/ a diagnose. No estadiamento, o dado + importante é a disseminação da doença (local ou em + de 1 região, acima e abaixo do diafragma). -Tratamento e prognóstico: a estratégia do tratamento baseia-se no estadiamento. De modo geral, são utilizadas baixas doses de RT c/ poliquimioterapia. O prognóstico é bom, c/ 90% de chance de cura em centros especializados. LINFOMA NÃO HODGKIN DE ABDOME -Trata-se de neoplasia originada de precursores linfócitos em vários estágios de maturação, podendo crescer em qualquer tecido linfoide. -O linfoma ñ Hodgkin de abdome é a neoplasia c/ > velocidade de crescimento, c/ um pico de incidência entre 4 e 11 anos, predominantemente no sexo masculino. -Estadiamento: -Classificação: 1. Indiferenciados (tumores de células pequenas, ñ clivadas – 40%): burkitt, aspecto “em céu estrelado” com grande proliferação e morte celular; o riginados de células B maduras e principalmente no abdome; 2. Linfoblásticos (30 a 35%): principalmente no mediastino anterior e geralmente originados de células T 3. Linfoma de células grandes (15%): originados de células B ou T; grupo bastante heterogêneo. 4. Linfoma anaplásico (10%): originários de células T -Quadro clínico: a sintomatologia depende do sítio primário. 1. Abdome: a) Forma aguda: linfoma funciona como cabeça de invaginação, levando à obstrução; geralmente, correspondente à doença localizada. b) Forma crônica: comprometimento abdominal maciço; dor abdominal crônica; retardo no crescimento ou perda ponderal; massa abdominal presente; fadiga e ascite 2. Mediastino: tosse e dispneia progressiva de curta duração, sem causa aparente; 3. Linfonodos: rápido dos linfonodos cervicais, supraclaviculares e axilares; 4. Rinofaringe: progressivo unilateral da amígdala, abaulamento da mandíbula, amolecimento dos dentes, obstrução nasal progressiva. -Investigação: 1. História e exame físico de todas as cadeias linfonodais superficiais, amígdalas, adenoides e testículos; 2. Exames: hemograma, coagulograma, desidrogenase láctica, ácido úrico, ureia, creatinina, eletrólitos, albumina, sorologias para toxoplasmose, citomegalovírus, HIV, mononucleose, transaminases, fosfatase alcalina, protoparasitológico RCC Carolina Ferreira 3. Biópsia de medula; 4. Liquor c/ citologia; 5. Paracentese, se existir ascite, c/ citologia; 6. Raios X de tórax e abdome; 7. Ultrassonografia ou tomografia de abdome; 8. Biópsia de linfonodo periférico -Prognóstico: 1. Extensão do tumor ao diagnóstico; 2. Sítio: tubo digestório – tem melhor prognóstico porque provoca sintomas precoces; 3. Desidrogenase láctica: > 250 sugere massa tumoral; > 500 sugere mau prognóstico. -Tratamento: é predominantemente ñ operatório e é feito por meio de QT, cujo tempo depende do tipo histológico. O objetivo, nesse caso, é a cura. A cirurgia é indicada: 1. P/ fins diagnósticos; 2. P/ possível ressecção completa do tumor; 3. Em casos de urgência abdominal, como invaginação, perfuração e sangramento gastrintestinal grave. RABDOMIOSSARCOMAS E SARCOMAS DE PARTES MOLES -Os rabdomiossarcomas correspondem a 5% das neoplasias sólidas na infância, e os sarcomas, a 3%. RABDOMIOSSARCOMA -Trata-se de um tumor originário de células mesenquimais primitivas. -O rabdomiossarcoma é o sarcoma de partes moles + frequente na infância e na adolescência, com 2 picos de incidência, de 1 a 5 anos e de 12 a 15 anos. -As principais localizações são cabeça e pescoço (40%), trato geniturinário (30%), extremidades (15%) e tronco (10%). A localização abdominal é menos frequente, mas, quando ocorre, costuma ser a região do trígono vesical. -Rabdomiossarcomas geniturinários costumam apresentar-se por hematúria ou descarga mucossanguinolenta indolor. Em alguns casos, há exteriorização de parte do tumor pela vagina ou pela uretra, semelhante a sagu. Nesses casos, o tipo + frequente é o sarcoma botrioide. -Diagnóstico é sempre confirmado por biópsia. -Tipos histológicos são embrionário (60%), alveolar (20%), indiferenciado (10 a 20%) e pleomórfico (0,5 a 1%). -O tratamento é feito inicialmente c/ QT seguido de cirurgia, o menos mutilante possível, dependendo principalmente do tipo histológico, do local e do estadiamento. SARCOMA DE PARTES MOLES -Acomete principalmente as extremidades e o tronco, e clinicamente se resume à massa indolor de crescimento lento e progressivo. Os principais são: • Fibrossarcoma: apresenta prognóstico bom na criança < de 5 anos; metástase incomum e possui mortalidade < 10% • Neurofibrossarcoma: está associado à neurofibromatose tipo I e possui chance de cura dependente da possibilidade de ressecção completa • Hemangiopericitoma: abaixo de 1 ano, tratamento apenas cirúrgico, c/ bom prognóstico • Lipossarcoma: + frequente em extremidades e no retroperitônio; possui picos de incidência até 2 anos e depois dos 20 anos e seu prognóstico excelente quando ressecção completa. • Leiomiossarcoma: os principais locais que ele acomete são retroperitônio, vasos do tubo digestório, extremidades. Melhor prognóstico quando no intestino grosso. • Sarcoma sinovial: 30% antes dos 20 anos e apresenta prognóstico bom quando ressecção completa • Fibro-histiocitoma maligno: em < de 2 anos, extremidades são a principal localização, seu prognóstico é bom quando ressecção completa. RCC Carolina Ferreira TUMORES HEPÁTICOS BENIGNOS -Representam 30% das neoplasias hepáticas. -Hemangiomas: podem atingir grandes dimensões, porém tendem a regredir após os 2 anos; a conduta é o acompanhamento c/ US. Cirurgia e/ou pulsoterapia podem ser realizadas nas complicações, como insuficiência cardíaca e síndrome de Kasabach-Merritt, que se caracteriza pela associação de tumor vascular c/ trombocitopenia grave e vários graus de coagulopatia de consumo. -Adenomas: são + frequentes em adolescentes que começam a usar anticoncepcionais; achados ocasionais; só provocam sintomas quando atingem grandes proporções. -Hiperplasia nodular focal: predisposição no sexo feminino (80%). -Cistos: achados ocasionais MALIGNOS -Hepatoblastoma (> 65%): é a neoplasia hepática mais frequente na criança. Geralmente, é um tumor único, localizado no lobo direito e que acomete crianças abaixo de 3 anos. É 2 vezes mais frequente em meninos e + comum em crianças c/ hemi-hipertrofia e c/ síndrome de Beckwith-Wiedemann. A alfafetoproteína está em 85 a 90% dos casos. -Hepatocarcinoma (≥ 25%): é o 2º tumor maligno hepático + comum e o carcinoma + frequente na infância. Está associado a cirrose hepática na infância, vírus da hepatite B, drogas, androgênios e anticoncepcionais. Tem pior prognóstico. -Sarcoma hepático (5 a 8%): rabdomiossarcoma dos ductos biliares intra-hepáticos e mesenquimoma. TUMORES TESTICULARES -Correspondem a 2% das neoplasias de meninos, das quais 75% são de células germinativas. O principal fator de risco é a presença de criptorquidia, mesmo que tenha sido operada na época adequada. O diagnóstico baseia-se no achado da massa testicular, confirmada à ultrassonografia. O estadiamento pede tomografia abdominal p/ avaliação de linfonodos retroperitoneais, raios X de tórax, dosagem de proteína e beta-HCG. -Tumor do seio endodérmico: a média de idade é de 2 anos; são 25% dos tumores testiculares da infância; apresenta a alfafetoproteína ; o tratamento é feito c/ orquiectomia c/ clampeamento alto das estruturas do cordão + linfadenectomia -Teratoma: a média de idade é de 3 anos; são 25% dos tumores testiculares da infância e a metástase rara, apesar da histologia desfavorável.-Carcinoma embrionário: a média de idade é de 20 anos; apresenta em estádio avançado, de beta-HCG e alfafetoproteína, o tratamento é feito c/ orquiectomia c/ clampeamento alto das estruturas do cordão + linfadenectomia + QT e RT pós-operatórias. -Gonadoblastoma: a média de idade é de 5 a 10 anos; são 1% dos tumores testiculares da infância; próprio de estados intersexuais c/ cariótipo 46,XY; metástase rara; 30% são bilaterais. Conduta: gonadectomia bilateral. -Tumor de células de Leydig: a maioria benigna; apresenta média de idade de 5 a 10 anos; 10% dos tumores testiculares da infância; clinicamente, apresenta massa tumoral de grandes proporções associada a puberdade precoce e ginecomastia. Tratamento: orquiectomia. -Tumor de células de Sertoli: é raro, possui massa de crescimento progressivo e indolor, c/ possibilidade de ginecomastia. Tratamento: orquiectomia. -Tumores ovarianos: representam 1% das neoplasias malignas pediátricas. Clinicamente, podem apresentar-se como dor abdominal aguda, massa abdominal palpável ou por manifestações endócrinas. O tratamento compreende salpingooforectomia unilateral e, em alguns casos, pan-histerectomia. Determinados casos podem requerer QT pós-operatória. Os + frequentes são: 1. Tumores de células germinativas (de 60 a 80%): teratomas (40%) e disgerminomas RCC Carolina Ferreira 2. Tumores do saco vitelino: tumor de seio endodérmico; carcinoma embrionário e o coriocarcinoma. TERATOMA SACROCOCCÍGEO -Trata-se de um tumor originado de células embrionárias pluripotentes da área do cóccix e composto de tecidos das 3 camadas germinativas, formados por elementos sólidos, císticos ou ambos. O teratoma sacrococcígeo é o tumor + comum no RN. -A prevalência é de 1:35.000 nascidos vivos, c/ > frequência nas meninas, à proporção de 4:1. Quanto + precoce o diagnóstico, > a chance de ser benigno. No RN, 90% são benignos, e, nas crianças > de 1 ano, 80% são malignos. -Diagnóstico: 1. Ultrassonografia morfológica: massa heterogênea, c/ áreas de necrose e obstrução urinária e/ou intestinal pela massa 2. Polidrâmnio (70% dos casos); 3. Hidropisia fetal (25% dos casos); 4. Oligoâmnio (raro, é achado desfavorável, já que denota obstrução urinária pelo tumor) 5. Após o nascimento: o tumor desloca o ânus e a vagina anteriormente; por vezes, pode causar assimetria de glúteo; constipação; sangramento; obstrução urinária; alterações no sistema nervoso periférico; metástases pulmonares e ICC -Classificação de Altmann, c/ base na extensão intrapélvica: 1. Tipo I: 46% e predominantemente externa, c/ mínima extensão intrapélvica 2. Tipo II: 34% e predominantemente externa, c/ grande extensão intrapélvica 3. Tipo III: 8% e visível externamente, mas c/ extensão em especial pélvica e abdominal. 4. Tipo IV: 9%, inteiramente pré-sacro, sem componente externo -Diagnóstico diferencial: meningocele sacral anterior; mielomeningocele; lipoma; cisto dermoide; hemangioma e cordoma -Risco de malignidade: incidência dependente da idade ao diagnóstico e da extensão intrapélvica e o locais de metástases(linfonodos, regiões inguinais, pulmões, vértebras, cérebro e fígado) -Tratamento: a ressecção tumoral deve ser tão precoce quanto possível, e sempre deve ser retirado o cóccix c/ a peça, geralmente na 1º ou 2º semana de vida, p/ evitar complicações como malignização, hemorragia e infecção. Quando necessário, QT pós-operatória. -Fatores de recorrência: ressecção incompleta; ñ retirada do cóccix; ruptura intraoperatória; ñ detecção histológica de componentes malignos do interior do tumor e consequente não realização de QT complementar. RETINOBLASTOMA -É a neoplasia maligna intraocular + comum em crianças, podendo compreender somente 1 olho ou ambos. A doença unilateral é diagnosticada durante o 2º ou 3º ano de vida, enquanto a bilateral se manifesta + precocemente, sendo diagnosticada no 1º ano. A apresentação após o 5º ano é rara. -A forma + comum é a do reflexo ocular branco, ou sinal “do olho do gato”. Seguem-se, em frequência, o estrabismo, o eritema conjuntival e a da acuidade visual. C/ frequência, o tumor é inicialmente identificado pelos pais, que procuram o oftalmologista p/ a confirmação diagnóstica. O tumor pode estender-se além do globo ocular, através do nervo óptico, p/ o espaço subaracnóideo e p/ o cérebro. Por via hematogênica, causa metástases em ossos, medula óssea e fígado. -O retinoblastoma comporta-se como doença de herança autossômica dominante, c/ penetrância incompleta. Todos os tumores bilaterais são hereditários, representando 30% dos casos de retinoblastoma e 15% dos casos c/ doença unilateral. O tratamento inclui diferentes modalidades, como enucleação, RT externa, crioterapia, fotocoagulação (laser), placas radioativas localizadas e quimioterapia sistêmica. -São indicações p/ enucleação: perda de visão com presença de tumor ativo, glaucoma secundário ao tumor e falta de resposta às outras formas de tratamento. RCC Carolina Ferreira -O prognóstico depende, essencialmente, do estádio em que é feito o diagnóstico. Assim, tumores intraoculares em estádio inicial são curáveis em + de 90% dos casos, sendo grande parte c/ preservação da visão. Já os tumores c/ invasão do SNC raramente são curáveis. LEUCEMIAS NA INFÂNCIA -Constituem-se no tipo de câncer + comum na infância, representando 30% de todas as neoplasias infantis e sendo classificadas em agudas e crônicas. -As leucemias agudas são caracterizadas pela expansão anormal de precursores linfoides ou mieloides imaturos, que levam ao acúmulo de células jovens, denominadas blastos. Representam 95% dos casos de leucemias na infância.Morfologicamente, as leucemias agudas são classificadas de acordo c/ a linhagem celular predominantemente envolvida. Dessa forma, podemos dividi-las em Leucemias Linfoides Agudas (LLAs) e Leucemias Mieloides Agudas (LMAs) LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA -Trata-se de uma neoplasia primária da medula óssea, resultante da transformação maligna de um precursor linfoide, o que leva a crescimento desordenado de células linfoides imaturas (blastos). Corresponde a 75% das leucemias infantis, c/ pico de incidência entre 3 e 5 anos, sendo + comum no sexo masculino (2:1) e na raça branca. -Os sinais e sintomas + comuns incluem: febre sem características específicas (50%); dor óssea e/ou articular, manifestando-se como claudicação e recusa à deambulação (45%); palidez e fadiga; sangramentos, como petéquia, epistaxe e gengivorragia; adenomegalias não dolorosas, localizadas ou generalizadas (85%); hepatoesplenomegalia (65%). -Na investigação hematológica, as alterações que podem auxiliar no diagnóstico da LLA são: 1. Hemograma: a) Hemoglobina abaixo de 10 g/dL (80%); b) Leucocitose superior a 10.000/mm3 (80%) ou mesmo superior a 50.000/mm3 (20%); c) Trombocitopenia (75%). 2. Mielograma: o diagnóstico morfológico baseia-se no achado de 25% ou + de blastos linfoides na medula óssea; 3. Imunofenotipagem: subdivide-se em LLA de linhagem B (80% das leucemias infantis) e LLA de linhagem T (17% das leucemias infantis); 4. Coleta do líquido cerebrospinal: leucócitos acima de 5/mm3 c/ presença de blastos, com menos de 5% dos pacientes apresentando doença do SNC ao diagnóstico. -O tratamento quimioterápico inicial visa restaurar a função medular e a normalização dos sinais e sintomas relacionados à doença. A remissão clínica completa é alcançada em 97% dos casos c/ QT combinada. Crianças c/ LLA necessitam de tratamento de manutenção prolongada, em geral, variando de 2,5 a 3 anos. Na invasão do SNC, podem ser usadas a RT ou injeção intratecal de antimetabólitos. O transplante de medula óssea é indicado apenas nos pacientes que ñ apresentam resposta à fase indutória e naquelesque apresentam recaída medular. O prognóstico é bom, c/ aproximadamente 80% das crianças portadoras de LLA c/ chance real de cura. -Leucemia mieloide aguda: é caracterizado pelo acúmulo de células hematopoéticas imaturas (blastos) na medula óssea e em sítios extramedulares, partindo da proliferação anômala de um progenitor da linhagem mieloide. Representa 20% das leucemias infantis, c/ incidência estável desde o nascimento até cerca dos 10 anos, c/ pequeno pico na adolescência. Incide igualmente em ambos os sexos e raças. Os portadores de síndrome de Down têm risco 20 vezes > de desenvolver quadros leucêmicos, sendo a LMA uma doença frequente nesse grupo de pacientes. Os sinais e sintomas genéricos incluem anemia, palidez, fadiga, febre, adenomegalias volumosas (25%), hepatoesplenomegalia de grau variável (50%) e sangramentos, como petéquias, equimoses e gengivorragias. Na investigação hematológica, as alterações que podem auxiliar no diagnóstico da LMA são: 1. Hemograma: a) Os níveis de hemoglobina podem variar de 2,7 a 14 g/dL; RCC Carolina Ferreira b) Leucopenia pode ser observada ou mesmo leucocitose superior a 100.000/mm3 (25%); c) Trombocitopenia (50%). 2. Mielograma: é necessária a presença de, no mínimo, 30% de blastos de características mieloides; 3. Avaliação do líquido cerebrospinal: leucócitos acima de 5/mm3 c/ presença de blastos, c/ 15% dos pacientes apresentando doença do SNC ao diagnóstico. -Tratamento: é igual p/ todas as leucemias, e o 1º passo é induzir a remissão completa; o próximo passo é prevenir a recorrência da doença. O prognóstico ñ é tão bom, com sobrevida global de 45%, elevando-se para 60% nos pacientes c/ doadores compatíveis e que realizaram o transplante de medula óssea. -Leucemia mieloide crônica: rara, ocorre após os 4 anos. Tem início insidioso, c/ leucocitose acima de 100.000/mm3, plaquetose, células mieloides e esplenomegalia maciça. O transplante de medula óssea é o melhor tratamento. Quais são as principais neoplasias de interesse em Cirurgia Pediátrica? Quais são as características das neoplasias sólidas e do linfoma infantil? Existe grande interesse nos tumores originados de células primitivas na infância, os chamados blastomas, que acometem diferentes órgãos, como adrenal, rim, fígado, entre outros. No pré-adolescente, adolescente e adulto jovem é comum o linfoma tipo Hodgkin, sendo importante caracterizar as principais formas de apresentação dessas lesões neoplásicas. O tumor sólido mais frequente na suprarrenal é o neuroblastoma, mas ñ é exclusivo da adrenal. Ele cursa c/ do volume abdominal, hipertensão e perda de peso. O diagnóstico e o estadiamento podem ser feitos por US de abdome c/ Doppler e outros exames, como TC c/ contraste e urografia excretora. O tratamento depende do estadiamento, podendo ser cirúrgico ou c/ QT/transplante de medula óssea. Ainda na suprarrenal, devem ser considerados o feocromocitoma, que é uma neoplasia produtora de catecolaminas relacionada à hipertensão arterial, e também os tumores do córtex, que podem cursar c/ síndrome de Cushing. O tratamento de ambos é cirúrgico. No rim, o principal tumor da infância é o nefroblastoma ou Tumor de Wilms, que cursa com massa abdominal, hematúria macroscópica, febre e perda de peso. O diagnóstico e o estadiamento são feitos por US de abdome ou TC , e o tratamento consiste na remoção cirúrgica e, a depender do estadiamento, em QT e RT adjuvantes. O fígado também é sítio de tumores benignos e malignos na faixa pediátrica. Quanto aos malignos, o hepatoblastoma é o + comum nessa região, e cursa com elevação de alfafetoproteína. É importante lembrar também dos tumores testiculares, retinoblastomas, tumores ovarianos, sarcomas musculares e ósseos e os teratomas sacrococcígeos, que são originados de células embrionárias do cóccix, formando elementos sólidos, císticos ou ambos. O diagnóstico precoce acarreta > chance de benignidade p/ todos os mencionados.
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