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Indaial – 2021 Microbiologia aMbiental Prof.a Louise Cristine Franzoi 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.a Louise Cristine Franzoi Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F837m Franzoi, Louise Cristine Microbiologia ambiental. / Louise Cristine Franzoi. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 257 p.; il. ISBN 978-65-5663-477-7 ISBN Digital 978-65-5663-478-4 1. Microbiologia. – Brasil. 2. Meio ambiente. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 576 apresentação Bem-vindos aos nossos estudos referentes à disciplina de Microbiologia Ambiental! Nossa maravilhosa viagem por esta área tão interessante se dá, primeiramente, no aprofundamento da unidade básica da vida: a célula. Desse modo, por meio dos conhecimentos da Biologia Celular, é possível estudar/pesquisar os seres comumente conhecidos por “micróbios”. Veremos a importância desses seres diminutos na manutenção da nossa saúde e na ocorrência de doenças, a exemplo das patologias de veiculação hídrica. Podemos aferir, então, que a Microbiologia Ambiental se constitui no campo de interação entre as ciências ambientais e o estudo dos microrganismos (MO) e as interações com o solo, a água e o ar, além da identificação de MO, considerados indicadores ambientais ligados à questão da poluição, temática contemplada na Unidade 2. Nesse sentido, por meio das metodologias de análises disponíveis, é possível estudar a qualidade desses diferentes ambientes, objetivando o estabelecimento de protocolos e de políticas públicas que visem à qualidade ambiental adequada para a espécie humana e para o ecossistema. Não paramos por aí! A partir desses conhecimentos, é possível delinear estratégias de intervenção que minimizem os impactos ambientais negativos decorrentes das ações antrópicas nos ambientes. Podemos citar, como exemplo, os sistemas de tratamento de efluentes líquidos domésticos e industriais. Essas técnicas empregam os processos biológicos utilizados pelos MO, na remoção da matéria orgânica, além de outros compostos, para que esses materiais tratados possam ser dispostos nos corpos hídricos em consonância com os padrões estabelecidos pela legislação. Esse é o foco da nossa Unidade 3, que também abordará aspectos relativos à biorremediação e à importância na limpeza/descontaminação de solos e de águas contaminados. . Na Unidade 3, trataremos a respeito dos principais instrumentos da legislação ambiental brasileira ligados à microbiologia da água, do solo e do ar, com destaque para os padrões de potabilidade e balneabilidade dos recursos hídricos. Afinal, esses dispositivos legais e o cumprimento contribuem para a conservação dos recursos naturais e para uma gestão ambiental pública e privada, que promova a sustentabilidade ambiental. Bons estudos! Prof.a Louise Cristine Franzoi Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE suMário UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA .......................................................................... 1 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA ..................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 MICROBIOLOGIA: DEFINIÇÕES E ÁREAS DE ESTUDO ....................................................... 3 3 EVOLUÇÃO DA MICROBIOLOGIA ............................................................................................. 8 4 MICRORGANISMOS: CONCEITOS FUNDAMENTAIS E PRINCIPAIS GRUPOS ......... 11 5 MICROSCÓPIO: TIPOS E FINALIDADES ................................................................................. 16 5.1 MICROSCÓPIO ............................................................................................................................ 16 5.2 O MICROSCÓPIO ELETRÔNICO ............................................................................................. 19 6 BIOLOGIA CELULAR: UMA VISITA GUIADA ........................................................................ 22 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 24 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 27 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 28 TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA ......................................................... 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 29 2 MICROBIOLOGIA AMBIENTAL: CONCEITOS ....................................................................... 29 2.1 A MICROBIOTA HUMANA ....................................................................................................... 31 2.2 MICRORGANISMOS CAUSADORES DE DOENÇAS NA ESPÉCIE HUMANA ............. 34 3 MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS ............................................ 42 3.1 AS BACTÉRIAS ............................................................................................................................. 42 3.1.1 Bactérias gram-positivas e gram-negativas...................................................................... 47 3.1.2 A parede celular das arqueobactérias (arqueas) ............................................................. 50 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 53 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 56 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................57 TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO................. 59 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 59 2 REPRODUÇÃO CELULAR BACTERIANA ................................................................................. 59 2.1 OUTROS TIPOS DE REPRODUÇÃO BACTERIANA ............................................................ 63 3 FATORES QUE INTERFEREM NO CRESCIMENTO MICROBIANO .................................. 68 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 78 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 79 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 81 UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS .................. 87 TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO .....89 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 89 2 MEIOS DE CULTURA MICROBIANA ......................................................................................... 89 3 EQUIPAMENTOS ESSENCIAIS À ROTINA DE UM LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA............................................................................................................................ 93 4 TÉCNICAS DE SEMEADURA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO DE POPULAÇÕES MICROBIANAS .................................................................................................... 99 4.1 CONTAGEM EM PLACAS ....................................................................................................... 102 4.2 TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS (NMP) ........................................................................... 106 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 114 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 115 TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA .............................................................................. 117 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 117 2 A QUESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO ............................................................................. 117 2.1 FLORAÇÕES DE ESPÉCIES DE CIANOBACTÉRIAS E CONSEQUÊNCIAS .................. 123 2.2 DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS ..................................................................................... 125 2.3 DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS ........................................................................... 127 2.4 DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS ................................................................................. 129 2.5 DOENÇAS CAUSADAS POR PROTOZOÁRIOS .................................................................. 131 2.6 DOENÇAS CAUSADAS POR HELMINTOS ......................................................................... 132 3 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA .............................................................................. 133 3.1 TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS ........................................................................................ 134 3.2 TÉCNICA COLILERT® ...................................................................................................................................................................................................136 3.3 CONTAGEM DE BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS ............................................................ 139 3.4 DENSIDADE DE CIANOBACTÉRIAS .................................................................................... 141 3.5 AVALIAÇÃO DE CRYPTOSPORIDIUM E DE GYARDIA ................................................... 144 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 149 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 153 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 155 TÓPICO 3 — MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR ........................ 157 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 157 2 MICROBIOLOGIA DO SOLO ..................................................................................................... 157 2.1 COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA EXISTENTE NO SOLO ............................................... 157 2.2 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DO SOLO ..................................... 162 3 MICROBIOLOGIA DO AR ........................................................................................................... 167 3.1 AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DO AR ............................................................................ 169 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 171 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 174 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 175 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 176 UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL .............. 183 TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS .................................................... 185 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 185 2 PARÂMETROS ENVOLVIDOS NO TRATAMENTO BIOLÓGICO DE EFLUENTES DOMÉSTICOS......................................................................................................... 187 3 MICRORGANISMOS ENVOLVIDOS NO TRATAMENTO BIOLÓGICO DE EFLUENTES LÍQUIDOS ................................................................................................................ 190 4 LODOS ATIVADOS ........................................................................................................................ 195 4.1 PROCESSOS ANAERÓBIOS ..................................................................................................... 197 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 206 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 208 TÓPICO 2 — BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS ..............211 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 211 2 CONCEITOS DE BIORREMEDIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO ............................................... 211 3 MICRORGANISMOS EMPREGADOS NO PROCESSO DE BIORREMEDIAÇÃO ........ 216 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 229 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 230 TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA ............................................................ 231 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................231 2 LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA DA ÁGUA.............................................. 231 3 LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA DO SOLO .............................................. 242 4 LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA DO AR .................................................... 244 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 246 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 249 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 250 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 253 1 UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • estudar os principais conceitos da microbiologia e as diferentes áreas de estudo; • observar que todos os organismos (com exceção dos vírus), são formados por uma ou mais células, sendo, a célula, a unidade básica da vida; • verificar a aplicação da microbiologia ambiental à saúde e ao bem-estar antrópicos dentro do contexto ambiental; • analisar a importância dos microrganismos à saúde humana, além da capacidade de alguns de causarem doenças aos seres humanos; • identificar os mecanismos de reprodução bacteriana e os fatores que influenciam no crescimento das bactérias e de outros microrganismos. Esta unidade será dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA TÓPICO 2 – MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA TÓPICO 3 – REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 1 INTRODUÇÃO Iniciamos nossos estudos definindo o termo microbiologia e as diferentes áreas dessa ciência tão fascinante, porém, entendemos que a microbiologia é uma ciência que apresenta relação com outras áreas, a exemplo da biologia celular, pois se debruça sobre o conhecimento desta para estudar os seres comumente denominados de “micróbios”. De forma que possamos adentrar nos estudos referentes à disciplina de Microbiologia Ambiental, é necessário definir alguns conceitos essenciais a partir do espectro da teoria celular e dos desdobramentos. 2 MICROBIOLOGIA: DEFINIÇÕES E ÁREAS DE ESTUDO Ao esmiuçarmos o termo microbiologia, temos a seguinte caracterização: mikros = pequeno; bios = vida; logos = estudo. A partir desse foco, podemos conhecer alguns conceitos trazidos por autores da área. Vamos lá?! O termo microbiologia é empregado para definir a ciência que estuda os microrganismos, um grande e diverso grupo de organismos microscópicos que podem ser encontrados em células únicas ou em agrupamentos celulares. É uma ciência dedicada à “forma, à estrutura, à reprodução, à fisiologia, ao metabolismo e à identificação dos microrganismos. Assim, a microbiologia envolve o estudo de organismos procariotos (bactérias, archaeas) e eucariotos inferiores (algas, protozoários)” (VIEIRA; FERNANDES, 2012, p. 11). Área da ciência que se ocupa em estudar os microrganismos e as atividades, pois preocupa-se com a forma, a estrutura, a reprodução, a fisiologia, o metabolismo e a identificação dos seres microscópicos. Inclui o estudo da distribuição natural, relações recíprocas e com os outros seres vivos, efeitos benéficos e prejudiciais sobre os homens e as alterações físicas e químicas provocadas no meio ambiente (PARUSSOLO, 2020, p. 3). UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 4 Interessante, não é mesmo?! A partir desses conceitos, podemos evidenciar que, em grande parte, a microbiologia trata dos organismos microscópicos unicelulares. Nas assim chamadas formas superiores de vida (por exemplo, a espécie humana, homo sapiens), os organismos são compostos de inúmeras células (pluricelulares), que compõem tecidos altamente especializados e órgãos destinados a exercer funções específicas. Nos indivíduos unicelulares, como o próprio nome já diz, todos os processos vitais são realizados em uma única célula (unicelular). Independentemente da complexidade de um organismo, a célula é, na realidade, a unidade básica da vida (BOSSOLOAN, 2002). Cabe destacar que, no campo de estudo da microbiologia, estão incluídos, também, vírus, seres microscópicos de natureza acelular. Observe a seguir e note a diferença entre organismos unicelulares e pluricelulares: FIGURA 1 – SERES UNICELULARES E PLURICELULARES FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=8czePpvEgBU>. Acesso em: 29 jun. 2020. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 5 Você já se perguntou: o que é uma célula? Pois bem, a célula se constitui como unidade básica fundamental dos seres vivos. É uma entidade/estrutura separada das outras células por uma membrana (e, certas vezes, por uma parede celular), contendo uma diversidade de substâncias químicas e estruturas subcelulares no interior (MADIGAN et al., 2010). Observe o exemplo esquemático de uma célula: ATENCAO MODELO ESQUEMÁTICO DE UMA CÉLULA FONTE: Adaptada de Carvalho (2020) Sejam os organismos unicelulares ou pluricelulares, podemos apontar que existe um nível organizacional entre os elementos que integram esses seres. UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 6 FIGURA 2 – ORGANIZAÇÃO BIOLÓGICA - EXEMPLO DA ESPÉCIE HUMANA FONTE: <https://querobolsa.com.br/enem/biologia/niveis-de-organizacao-dos-seres-vivos>. Acesso em: 29 maio 2020. É importante destacar que o estudo da microbiologia pode ser dividido em microbiologias básica e aplicada. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 7 QUADRO 1 – ÁREAS DA MICROBIOLOGIA ÁREA FOCOS DE ESTUDO EXEMPLOS MICROBIOLOGIA BÁSICA Natureza e propriedades dos microrganismos Morfologia, fisiologia, bioquímica etc. Características fisiológicas Nutrição e condições de crescimento e de reprodução. Atividades bioquímicas Obtenção de energia pelos microrganismos. Características genéticas Hereditariedade e variabilidade das características. Características ecológicas Microrganismos no ambiente e a relação com outros organismos. Potencial patogênico Capacidade de ocasionar doenças dos microrganismos. Classificação Relação taxonômica entre os grupos de microrganismos. MICROBIOLOGIA APLICADA FOCOS DE ESTUDO EXEMPLOS Microbiologia Industrial Emprego dos microrganismos para síntese de substâncias químicas. Antibióticos, enzimas, biometalurgia (explora as atividades químicas de bactérias para extrair minerais, como cobre e ferro). Microbiologia Ambiental Utilização dos microrganismos como agentes. Biodegradação e limpeza ambiental, controle de pragas etc. Microbiologia Médica Estudo dos microrganismos causadores de doenças e da prevenção e controle. Estudo do vírus Sars-CoV-2 (novo coronavírus). Microbiologia dos Alimentos Relacionada às doenças transmitidas por alimentos, controle de qualidade e produção de alimentos. Queijos, bebidas (vinhos, cervejas), pães etc. FONTE: Adaptado de Bossolan (2002) e Vieira e Fernandes (2012) Obviamente que, neste livro didático, focaremos nossas atenções nos estudos referentes à Microbiologia Ambiental e aos desdobramentos, porém, é fundamental que tenhamos ciência da infinidade de áreas e de aplicações da microbiologia em diferentes segmentos da ciência e do cotidiano. UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 8 3 EVOLUÇÃO DA MICROBIOLOGIA A microbiologia passou por inúmeros avanços ao longo dos anos, mas um marco fundamental paraque essa ciência tomasse os rumos atuais se deu quando da invenção do primeiro microscópio, em 1674, pelo alemão Antony Van Leeuwenhoek. O cientista empregou o pequeno instrumento para observar pequenos seres, em amostras de solo, água, saliva e fezes, denominando de “animálculos” (DIAS, 2020). FIGURA 3 – O PRIMEIRO MICROSCÓPIO E O INVENTOR FONTE: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S1676-24442009000200001>. Acesso em: 24 jun. 2020. No mesmo ano, Leeuwenhoek redigiu várias cartas à sociedade real inglesa, descrevendo os seres que ele observava por meio do pequeno microscópio. Essas cartas possibilitaram o início da microbiologia em si, pois foram os documentos de divulgação científica da época que fizeram com que a sociedade fosse informada acerca da existências de seres microscópicos (DIAS, 2020). Posteriormente, o microscópio primitivo de Leeuwenhoek foi aprimorado por Robert Hooke (1635-1703), ganhando mais uma lente e a possibilidade de ampliação de imagem ainda maior. Por consequência, as primeiras observações de Hooke e os estudos de Leeuwenhoek levaram à descoberta das células. A descoberta do microscópio e a constatação da existência dos microrganismos fizeram com que a comunidade científica da época questionasse a respeito da origem dos seres, o que levou ao surgimento das teorias da abiogênese (geração espontânea) e da biogênese (CARVALHO, 2020). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 9 Vamos conhecer os conceitos de abiogênese e de biogênese? A teoria da biogênese (defendida por alguns cientistas), inclusive, Leuwenhoek, atestava que as “sementes” das criaturas microscópicas estão sempre presentes no ar, de onde ganham acesso aos materiais e ali crescem, desde que as condições sejam adequadas ao desenvolvimento. A essa forma de multiplicação dos microrganismos, chamou- se biogênese. Outros cientistas acreditavam que os microrganismos se formavam espontaneamente, a partir da matéria orgânica em decomposição ou da putrefação. Essa forma de multiplicação se chamou de abiogênese, que ficou conhecida como teoria da geração espontânea (CARVALHO, 2020). NOTA As ideias da abiogênese, ou teoria da geração, foram perdendo espaço a partir de demonstrações científicas, como a do médico italiano Francesco Redi (1626-1697). Demonstrou que as larvas encontradas na carne em putrefação eram larvas de ovos de insetos, e não um produto da geração espontânea. No experimento, Redi colocou um pedaço de carne em uma jarra coberta com gaze. Atraídas pelo odor da carne, as moscas depositaram ovos sobre a cobertura, e, destes, emergiram as larvas. Com isso, demonstrou que a vida se origina de outra preexistente, refutando a teoria da abiogênese (CARVALHO, 2010). FIGURA 4 – EXPERIMENTO DE FRANCESCO REDI FONTE: <http://digitalizandoabiologia.weebly.com/a-origem-da-vida.html>. Acesso em: 24 jun. 2020. UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 10 A controvérsia teve fim quando, finalmente, o químico francês Louis Pasteur (1822-1895) realizou um experimento, que também se tornaria famoso na história da biologia. Este preparou um frasco com colo longo, estreito, em pescoço de cisne. Colocou diversas infusões em balões de vidro, em contato com o ar. Em seguida, alongou os pescoços dos balões na chama, de modo que fizessem várias curvas. Ferveu os líquidos (caldo de carne) até que o vapor saísse livremente das extremidades estreitas dos balões. Como resultado, verificou que, após o arrefecimento (refrigeração) dos líquidos, estes permaneciam inalterados em odor e em sabor. No entanto, não se apresentavam contaminados por microrganismos (NÓBREGA; BOSSOLAN, 2017). FIGURA 5 – EXPERIMENTO DE LOUIS PASTEUR FONTE: <https://sites.google.com/site/biologiaparaoensinomedio/experimentos>. Acesso em: 24 jun. 2020. Legenda: note que o ar podia circular livremente por meio dos frascos abertos. Contudo, nenhum microrganismo surgiu na solução. A poeira e os microrganismos se depositavam na área sinuosa, em forma de V do tubo e, portanto, não atingiam o caldo. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 11 Você já ouviu falar do processo de pasteurização? Pois bem, Pasteur descobriu que, aquecendo o vinho a uma temperatura de 56oC, os organismos que alteravam o gosto do vinho eram eliminados. Esse processo ficou conhecido como pasteurização, e, ainda hoje, é amplamente empregado na indústria de alimentos, especialmente, como processo de conservação do leite (NÓBREGA; BOSSOLAN, 2017). NOTA O experimento de Pasteur demonstrou, finalmente, que a teoria de geração espontânea estava equivocada. Podemos evidenciar, então, que a ciência é construída a partir do trabalho de inúmeros cientistas em diferentes áreas, e que o conhecimento científico está sob constante evolução. É fascinante, não é mesmo?! Passemos, agora, ao estudo dos microrganismos em si. Sigamos em frente! 4 MICRORGANISMOS: CONCEITOS FUNDAMENTAIS E PRINCIPAIS GRUPOS Agora que estudamos as áreas de estudo da microbiologia e algumas das suas particularidades, vamos nos aprofundar a respeito dos microrganismos em si. Vamos lá?! Invisíveis a olho nu, comumente conhecidos como “micróbios”, os microrganismos são seres fascinantes, pois, além de hóspedes do nosso organismo, estão presentes em todos os lugares e são parte fundamental à manutenção da vida no planeta Terra. Seres de tamanhos microscópicos variados (vírus 1nm, bactérias 1µm e fungos 100µm de diâmetro). Contudo, alguns, em determinadas fases de crescimento, atingem tamanho macroscópicos, a exemplo dos fungos, conhecidos como cogumelos, que chegam a formar um falso tecido (NASCIMENTO, 2020). Para melhor compreender nosso objeto de estudo, entenderemos algumas das unidades de medida utilizadas no estudo da biologia em geral. Acompanhe: UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 12 QUADRO 2 – UNIDADES DE MEDIDA UNIDADE EQUIVALÊNCIA MICROSCÓPIO Milímetro (mm) 0,001 metro (m) Visível a olho nu Micrômetro (µm) 0,001 milímetro Microscópio óptico Nanômetro (nm) 0,001 µm Microscópio eletrônico Angströn (Å) 0,1 nm Microscópio eletrônico FONTE: <https://theamazingbiology.weebly.com/vestibular/archives/05-2013>. Acesso em: 29 jun. 2020. Para ter uma noção mais clara dessas dimensões, é importante que observe as figuras a seguir: FIGURA 6 – ESCALADA DE TAMANHO DOS ORGANISMOS FONTE: <https://www.indagacao.com.br/2019/03/puc-rs-responda-questao-com-base-na-escala- logaritimica-que-mostra-os-tamanhos-das-estruturas-e-organismos.html>. Acesso em: 29 jun. 2020. Legenda: A = vírus; B = bactéria; C = célula eucariótica. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 13 FIGURA 7 - TAMANHOS E FORMAS RELATIVOS DOS ORGANISMOS FONTE: <https://pt.slideshare.net/filho92/001-intoducao>. Acesso em: 29 jun. 2020. Realmente, a diversidade da vida em formas e tamanhos é impressionante, mas não paramos por aí. Surgiu um termo essencial ao andamento dos nossos estudos: célula eucariótica. Para compreendê-lo, é preciso compará-lo com outro tipo celular existente, a célula procariótica. Esses dois tipos de células se diferenciam em algumas características. As células procarióticas contam com uma estrutura relativamente simples. Nela, o nucleoide (consiste em DNA bacteriano) não é delimitado por uma membrana (carioteca), e se encontra disperso no citoplasma, ou seja, elas não apresentam núcleo organizado ou verdadeiro. Nelas, a maior parte da célula é formada por água, proteínas, íons e demais moléculas. Geralmente, medem de 1 a 2 µm. Podemos citar, como exemplo, as bactérias e as cianobactérias (LODISH et al., 2014). As células eucarióticas apresentam núcleo delimitado (organizado) por membrana (a carioteca), armazenado o material genético (DNA). Além disso, esse tipo celular conta com muitos compartimentos delimitados por membrana, ou organelas. Comumente, essas células apresentam o tamanho entre10 e 100 µm de diâmetro. São formadas por células eucarióticas, todos representantes dos reinos vegetal e animal, algas, além dos fungos (ex.: leveduras, bolores) e do protozoário, seres exclusivamente unicelulares. Citam-se, como exemplo, os protozoários, as algas, os fungos, os animais e os vegetais (LODISH et al., 2014). UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 14 Qual é a característica definidora das células eucariótica e procariótica? ATENCAO FIGURA 8 – CÉLULAS EUCARIÓTICA E PROCARIÓTICA FONTE: <http://wesleibio.blogspot.com/2016/12/celulas-eucariontes-e-procariontes.html>. Acesso em: 29 maio 2020. Legenda: A – célula procariótica; B – célula eucariótica. As células eucarióticas apresentam maior complexidade em estruturas (organelas) quando comparadas às procarióticas, além da diferença de tamanho existente. Note que um fibroblasto humano (célula que compõe o tecido conjuntivo) conta com, aproximadamente, 15 µm de diâmetro, com volume e peso secos de algumas milhares de vezes maiores em comparação a Escherichia coli, uma bactéria intestinal comum (LODISH et al., 2014). As células animais e vegetais apresentam diferenças e similaridades? Na verdade, a célula eucariótica vegetal é, em grande parte, semelhante à célula eucariótica animal. Contudo, a primeira conta com uma parede celular que circunda a membrana plasmática, e duas organelas adicionais: os plastídios (o cloroplasto é o tipo mais conhecido) e o vacúolo, que conferem característica particular à célula vegetal (BIOLOGIA CELULAR, 2011). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 15 FIGURA 9 – CÉLULAS ANIMAL E VEGETAL - MODELOS ESQUEMÁTICOS FONTE: <https://dicasdeciencias.com/2013/03/28/diferencas-entre-as-celulas-animal-e-vegetal/>; <https://blog-mundo-biologia.blogspot.com/2016/01/estruturas-da-celula-vegetal.html>. Acesso em: 28 maio 2020. Legenda: A – Célula animal; B – Célula vegetal. A seguir, será possível evidenciar as características dos principais grupos de microrganismos, cujos conceitos que estudamos até o momento podem ser observados. QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS Microrganismos Características A. Vírus Acelulares, menores e mais simples, em estrutura quando comparados às bactérias; em geral, apresentam apenas um tipo de ácido nucléico (DNA ou RNA), protegido por uma capa proteica. Podem se multiplicar apenas dentro das células vivas, porém, poucos vírus de DNA, como o citomegalovírus e o vírus da hepatite B, podem iniciar a síntese de moléculas de RNA enquanto ainda estão se formando, de modo que a partícula viral contenha os dois tipos de ácidos nucléicos (DNA e RNA). B. Bactérias Procariontes, divididas em dois grupos: Eubactérias e Arqueobactérias. Eubactérias Apresentam diversas formas (esférica, bastonete e espirilo). Aparecem isoladas ou em formas de colônias. Variam de 0,2 – 5,0 µm. São unicelulares e algumas apresentam flagelos. Arqueobactérias (Arqueias) São semelhantes às eubactérias, mas contam com diferenças importantes quanto à composição química Habitam ambientes extremos, como os de altas concentrações salinas, os de acidez e os de temperatura. C. Protozoários Eucariontes, unicelulares, não apresentam parede celular rígida, não contêm clorofila. Alimentam-se por ingestão. Alguns se movem por meio de flagelos ou de cílios, e são amplamente distribuídos na natureza. D. Fungos Eucariontes, com parede celular rígida. Uni ou pluricelulares, não apresentam clorofila. Alimentam-se por absorção. São conhecidos como bolores, leveduras e cogumelos. UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 16 Bolores Fungos multicelulares e produzem estruturas filamentosas (hifas e micélios). Leveduras Fungos unicelulares e apresentam formas variadas (esférica à ovoide; elipsoide a filamentosos). E. Algas Eucariontes apresentam clorofila (realizam fotossíntese) e podem ser uni ou pluricelulares. Contam com parede celular rígida e crescem em diversos ambientes, mas a maioria é aquática. FONTE: Vieria e Fernandes (2012, p. 17) 5 MICROSCÓPIO: TIPOS E FINALIDADES Como já vimos anteriormente, o aprimoramento do microscópio e das técnicas de utilização de corantes para visualizar as estruturas internas celulares possibilitou, aos biólogos da época, examinarem micróbios e finas fatias (pedaços) de tecidos de plantas e de animais (NÓBREGA; BOSSOLAN, 2017). Vimos a importância do microscópio enquanto instrumento fundamental para a rotina laboratorial, o que torna possível a observação de estruturas não visíveis a olho nu. Dependendo do princípio no qual a ampliação é baseada, os microscópios podem ser (VIEIRA; FERNANDES, 2012): • Ópticos: utilizam dois sistemas de lentes, ocular e objetiva, por meio das quais a imagem ampliada é obtida. • Eletrônicos: utilizam um feixe de elétrons para gerar a imagem ampliada. Empregados para observar células procarióticas e eucarióticas, detalhes celulares e vírus. 5.1 MICROSCÓPIO Apesar da grande variabilidade externa dos microscópios, os componentes fundamentais são similares. O microscópio de luz é composto pelas partes mecânica e óptica (BRANCALHÃO; CAVÉQUIA, 2020). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 17 FIGURA 10 – MICROSCÓPIO ÓPTICO FONTE: <http://projetos.unioeste.br/projetos/microscopio/index.php?option=com_ phocagallery&view=category&id=76&Itemid=140>. Acesso em: 18 maio 2020. Cada um dos números da figura representa uma das partes de um microscópio óptico, conforme os autores Vieira e Fernandes (2012) e Brancalhão e Cavéquia (2020): • Componentes mecânicos: 1- Pé: sustenta o microscópio, conferindo estabilidade ao equipamento. 2- Braço ou coluna: haste vertical ou inclinável fixada à base. Sustenta o tubo do microscópio e se articula com a base. 3- Canhão ou tubo: suporte cilíndrico da ocular. Permite a troca e a fixação das objetivas. 4- Revólver ou porta-objetiva: local onde são fixadas as lentes (oculares e objetivas). 5- Platina: mesa em miniatura que contém um orifício central destinado à passagem de luz. Local onde se deposita a lâmina (com a preparação a ser observada). 6- Parafuso macrométrico ou dos grandes deslocamentos: botão giratório que possibilita movimentos amplos da platina em direção às objetivas (e vice- versa). É útil na focalização inicial. 7- Parafuso micrométrico ou de focagem lenta: botão giratório que possibilita movimentos mais delicados da platina. Útil no ajuste final de focalização da lâmina, para focagens mais precisas. 8- Parafuso condensador: localizado na porção inferior da coluna, é destinado a baixar e a levantar o condensador. UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 18 • Componentes ópticos – sistema de iluminação: 9- Fonte de luz: localizada na base do microscópio, fornece os raios luminosos. 10- Condensador: conjunto de lentes situado abaixo da platina que distribui, regularmente, no campo visual do microscópio, a luz refletida pelo espelho ou diretamente da fonte luminosa. 11- Filtros: fabricados com filtro colorido, destinam-se a absorver parte do espectro da radiação luminosa. • Componentes ópticos – sistema de observação: 12- Lentes oculares: aumentam a imagem recebida da objetiva. 13- Lentes objetivas: situadas próximas ao objeto, criam imagens real e invertida. Estas podem oferecer aumentos de 10x, 20x, 40x, 100x. Existem as lentes objetivas a seco (entre a lâmina e a objetiva, existe o ar) e as objetivas de imersão, assim, coloca-se um tipo de óleo (óleo de imersão) nesse meio, cujo objetivo é evitar a dispersão dos raios luminosos, além de possibilitar a entrada de grande quantidade de luz na objetiva. As objetivas de 100x são sempre de imersão. A objetiva de imersão, que fornece grande aumento, é muito empregada nos laboratórios de microbiologia. Dessa forma, é preciso óleo de imersão para assegurar um trajeto doraio luminoso opticamente homogêneo entre a lâmina e a lente objetiva. Depois do uso, deve-se limpar as superfícies ópticas com papel absorvente, com um pouco de xilol, pois restos de óleo podem danificar o sistema óptico do microscópio. NOTA Vamos conhecer o funcionamento do microscópio óptico (MO)? Para saber mais, acesse https://www.youtube.com/watch?v=yLVh0HIdeSs. DICAS A título de curiosidade, conforme a espécie de material que deseja ser observada na amostra, os microscópios apresentam as seguintes tipologias: https://www.youtube.com/watch?v=yLVh0HIdeSs TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 19 QUADRO 4 – COMPARATIVO ENTRE DIFERENTES TIPOS DE MICROSCÓPIOS FONTE: Vieira e Fernandes (2012, p. 20) Legenda: microscópios ópticos: campo claro; campo escuro; fluorescência; contraste de fase. 5.2 O MICROSCÓPIO ELETRÔNICO O advento do microscópio eletrônico (ME) possibilitou a observação direta de aspectos ultraestruturais das células até então desconhecidos. Por meio dessas novas observações, a compreensão a respeito da organização dos tecidos vegetais e animais foi enormemente ampliada, e muitas das nossas ideias a respeito da construção e da função celulares foram radicalmente modificadas (GALLETI, 2003). A utilidade do ME é enorme e oferece uma comprovação fotográfica de organismos e características subcelulares. Os objetos de estudo da ME são os mais diversificados: estudo ultraestrutural de células vegetais e animais, fungos, bactérias, vírus, artrópodes, peças automotivas, papéis, exames de balística etc., ao passo que, na microscopia óptica, é utilizado um feixe de luz para visualizar as estruturas (MICROSCOPIA ELETRÔNICA, 2012). UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 20 Na microscopia eletrônica, é empregado um feixe de elétrons, que sofre refração através de lentes eletrônicos. O ME produz aumentos úteis de 200.000 a 400.000X, apresentando um poder de resolução 100 vezes maior quando comparado ao microscópio óptico (GALLETI, 2003). FIGURA 11 – BACTÉRIA ESCHERICHIA COLI VISTA NOS MICROSCÓPIOS ÓTICO E ELETRÔNICO FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/364653/>. Acesso em: 28 maio 2020. Legenda: à esquerda – observação a partir do MO (com coloração específica); à direita – observação a partir do ME. Você sabia que existem dois tipos básicos de microscópios eletrônicos? Vamos conhecê-los? ATENCAO Um deles é o ME de Transmissão (MET). O feixe de elétrons atravessa a célula (ou a organização molecular do vírus) e forma a imagem em uma tela fluorescente, o que fornece detalhes de moléculas, organelas e estruturas intracelulares. A capacidade de resolução é de até 300 mil vezes (GALETTI, 2003; PLATAFORMA DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA, 2020). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 21 FIGURA 12 – MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE TRANSMISSÃO FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-BvrJc4FmSrE/UIa27tgr4OI/AAAAAAAAAC8/ rnWSWUnBHDA/s1600/5.jpg>; <http://www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start. htm?infoid=2514&sid=32&tpl=printerview>. Acesso em: 29 maio 2020. Legenda: A – Microscópio Eletrônico de Transmissão (MET); B – Células do vírus Zika (esferas escuras). Com relação ao ME de Varredura (MEV), a geração de imagem é realizada com os elétrons que varrem a superfície (topografia) das estruturas biológicas. Dessa forma, o instrumento oferece uma imagem da superfície, com noções de profundidade e de tridimensionalidade, com limite de resolução de 0,3 nm. Contudo, fornece pouca (ou nenhuma) informação da estrutura interna. O poder separador não se iguala ao do microscópio de transmissão, embora sejam adequadas muitas finalidades (GALETTI, 2003; PLATAFORMA DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA, 2020). UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 22 FIGURA 13 – MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA FONTE: <http://ca.iq.usp.br/novo/paginas_view.php?idPagina=16>; <encurtador.com.br/xOX25>. Acesso em: 29 maio 2020. Legenda: A – MEV; B – Bactérias que formam a placa sobre os dentes. Cabe destacar que o emprego de determinado instrumento, seja MO, MET ou MEV, depende do objetivo do estudo (ou levantamento) a ser realizado, pois este deve indicar que equipamento deve ser utilizado de forma que os resultados esperados sejam atingidos. Vamos conhecer algumas imagens da microscopia eletrônica? Por meio do atlas virtual, você poderá observar diversas células e estruturas celulares. Ficou curioso (a)? Acesse o link e aprenda mais: http://www.drjastrow.de/WAI/EM/EMAtlas.html. Você também pode acessar a biblioteca de imagens de células: http://cellimagelibrary.org/home. DICAS 6 BIOLOGIA CELULAR: UMA VISITA GUIADA É hora de colocar em prática os conhecimentos adquiridos no Tópico 1. Vamos lá?! De forma a tornar o nosso estudo mais interativo e dinâmico, existe um recurso disponível de forma online. É possível navegar pelo maravilhoso mundo da biologia celular, ciência básica do estudo da microbiologia. Primeiramente, é necessário que você acesse http://www.celuladidatica. ufpr.br/celulas-virtuais.php. http://www.drjastrow.de/WAI/EM/EMAtlas.html http://cellimagelibrary.org/home http://www.celuladidatica.ufpr.br/celulas-virtuais.php http://www.celuladidatica.ufpr.br/celulas-virtuais.php TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 23 A página é intitulada de “Células Virtuais”. Clique no link, “célula 3D interativa”. Vamos, então, navegar e explorar a nossa célula virtual. Ao longo do caminho, surgem alguns termos novos, de organelas celulares sob as quais não nos aprofundamos neste tópico, mas não se assuste: o intuito desta atividade é possibilitar que você se familiarize com as novas terminologias e reforce os conteúdos já adquiridos. Visualize a figura a seguir e conheça o início do nosso passeio virtual pela célula: FIGURA 14 – TELA INCIAL - CÉLULA 3D FONTE: <http://3d.cl3ver.com/0MKDN>. Acesso em: 29 maio 2020. Na parte superior da tela, é possível clicar nas diferentes estruturas apresentadas, além de obter uma visualização e uma descrição do modelo esquemático apresentado. A partir deste link, é possível conhecer as estruturas: mitocôndria, centríolos, peroxissomo, Complexo de Golgi, membrana plasmática, vesículas, núcleo, citoesqueleto, lisossomos, ribossomos e retículo endoplasmático. Fascinante, não é mesmo?! A partir dos conteúdos já trabalhados neste tópico e da nossa visita guiada pelo interior celular, partimos para os estudos referentes ao Tópico 2. Vamos lá?! Sigamos em frente! UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 24 LEITURA COMPLEMENTAR Colocando a “mão na massa”. Acadêmico, para fixar os conteúdos deste tópico, propomos o seguinte desafio: “esquematizando e modelando células com imagens microscópicas reais”. Para tal atividade, você precisará de: • Imagens de células (a seguir) ou de qualquer outra fonte. • Papel transparente (manteiga, acetato ou transparência de retroprojetor, plástico ou celofane). • Caneta de retroprojetor. • Lápis de cor. • Materiais recicláveis diversos (tampas de garrafas pet, caixas de remédios vazias etc.). • Miçangas diversas ou bolas de amido (bolas de sagu/pérolas de tapioca). • Massa plástica (massa de modelar). Trata-se de criar o seu próprio modelo esquemático de uma célula a partir das informações obtidas neste tópico ou de outras fontes (confiáveis) a serem consultadas. Procedimento: coloque uma folha transparente ou translúcida sobre uma das imagens obtidas por você. Lembre-se de tentar circular, em cores diferenciadas, todas as estruturas que conseguir identificar. CÉLULA E DESENHO/MODELO ESQUEMÁTICO FONTE: <http://www.fiocruz.br/ioc/media/comciencia_03.pdf>. Acesso em: 29 maio 2020. Legenda: A – Imagem de uma célula (parte superior) e modelo esquemático construído. B – Diferentes modelos esquemáticos elaborados. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 25 Empregando uma dasfiguras disponíveis, você pode tentar recobrir cada elemento presente na imagem com massa de modelar da mesma forma e da mesma cor. Assim, você terá um modelo esquemático desenhado e outro elaborado a partir da massa de modelar e/ou outros materiais. É indicado utilizar a folha transparente como suporte (molde), de forma a não sujar a imagem de fundo com a massa. Figuras de células sugeridas para a realização da atividade: CÉLULAS ANIMAIS (HEPATÓCITO) - VISTA SOB MET FONTE: <http://www.fiocruz.br/ioc/media/comciencia_03.pdf>. Acesso em: 29 maio 2020. BACTÉRIAS VISTAS SOB MET FONTE: <http://www.fiocruz.br/ioc/media/comciencia_03.pdf>. Acesso em: 29 maio 2020. UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 26 CÉLULAS DE ELODEA VISTAS SOB MO FONTE: <https://www.nikonsmallworld.com/galleries/2008-photomicrography-competition/ chloroplasts-in-the-leaf-cells-of-elodea-canadensis-canadian-waterweed>. Acesso em: 29 maio 2020. Legenda: Células de Elodea canadensis (espécie de planta aquática). FONTE: COM CIÊNCIA NA ESCOLA - LBC/IOC/FIOCRUZ. Esquematizando e modelando células com imagens microscópicas reais. 2020. Disponível em: http://www.fiocruz.br/ioc/ media/comciencia_03.pdf. Acesso em: 3 maio 2020. 27 Neste tópico, você aprendeu que: • A microbiologia é a ciência que se dedica ao estudo dos microrganismos, um grande e diversificado conjunto de organismos microscópicos que pode ser encontrado em células únicas ou em agrupamentos celulares. Divide-se em microbiologia básica (ex.: atividades bioquímicas dos microrganismos) e microbiologia aplicada (ex.: microbiologia ambiental – biodegradação). • A célula é a unidade básica da vida e todos os seres vivos são constituídos por células. Esses organismos podem ser unicelulares (ex.: protozoários) e pluricelulares (ex.: plantas, animais etc.). • É importante salientar que, no campo de estudo da microbiologia, estão incluídos, também, os vírus, seres microscópicos de natureza acelular. • Com a invenção do primeiro microscópio, pelo alemão Antony Van Leeuwenhoek, no século XVII, a microbiologia tomou os rumos atuais, visto que o equipamento possibilitou observar pequenos organismos, denominados de “animálculos”. • Em virtude do advento do microscópio, por meio da observação dos “pequenos seres”, a comunidade científica da época indagou a respeito da origem desses organismos, o que levou ao surgimento das teorias da abiogênese (geração espontânea) e da biogênese (um ser vivo surge a partir de outro ser preexistente). • Existem dois tipos celulares básicos: as células procarióticas (ex.: protozoários) e as células eucarióticas (ex.: células que formam o organismo de plantas e de animais). As células eucarióticas animais se diferenciam das células eucarióticas vegetais, pois estas últimas aprestam as seguintes estruturas: parede celular, plastídios e vacúolos. • Para o estudo da microbiologia, é importante conhecer a escala de tamanho dos organismos em geral em relação aos seres microscópicos e algumas unidades de medida básicas: milímetro (mm), micrômetro (µm), nanômetro (nm) e angströn (Å). • As características dos principais grupos de microrganismos são vírus, bactérias (eubactérias e arqueobactérias), protozoários, fungos (bolores e leveduras) e algas. • Existem dois tipos de microscópio, o óptico e o eletrônico. Além disso, dois tipos de ME: microscópio eletrônico de transmissão (MET) e microscópio eletrônico de varredura (MEV). A utilização de um ou de mais equipamentos depende do objetivo do estudo/pesquisa que se pretende efetuar. RESUMO DO TÓPICO 1 28 1 Através deste tópico, identificamos a importância do conhecimento das características básicas da célula para o estudo da microbiologia. Dessa forma, a célula apresentada no nosso passeio virtual é: a) ( ) Eucariótica. b) ( ) Procariótica. c) ( ) Probiótica. d) ( ) Viral. 2 A invenção do microscópio foi um marco fundamental, que inaugurou uma nova perspectiva ao estudo da célula em si. Atento a esse fato, um meticuloso cientista desejava visualizar as organelas celulares da bactéria E. coli. Para tal pesquisa, foi necessária a utilização do equipamento: a) ( ) Microscópio óptico de fluorescência. b) ( ) Microscópio eletrônico de transmissão. c) ( ) Microscópio eletrônico de varredura. d) ( ) Microscópio óptico de campo claro. 3 A importância de saber diferenciar os tipos de células e as particularidades é primordial quando se aborda o estudo da célula. Dessa forma, visualize atentamente as figuras a seguir: AUTOATIVIDADE A B PAREDE CELULAR CITOPLASMA NÚCLEO FONTE: <https://www.thinglink.com/scene/1177118794502373377>; <https://carlosmout. files.wordpress.com/2017/01/celula-animal.jpg>. Acesso em: 29 maio 2020. As letras A e B indicam, respectivamente: a) ( ) Célula vegetal e célula animal. b) ( ) Célula vegetal e célula bacteriana. c) ( ) Célula animal e partícula viral. d) ( ) Célula de pele e célula vegetal. 29 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Chegamos aos nossos estudos referentes ao Tópico 2. Primeiramente, traremos alguns conceitos atribuídos à microbiologia ambiental e às subáreas correspondentes. Em seguida, trataremos da importância dos microrganismos no organismo humano, no que se refere aos MO que habitam, além daqueles causadores de inúmeras doenças na espécie humana. Posteriormente, abordaremos a classificação dos MO quanto à morfologia, apresentando alguns exemplos existentes na tão vasta biodiversidade dos seres microscópicos. Finalmente, veremos um tipo de classificação corriqueiramente utilizado nos laboratórios de microbiologia. Com base na composição da parede celular, divide as bactérias em gram-positivas e gram-negativas. Bons estudos! 2 MICROBIOLOGIA AMBIENTAL: CONCEITOS Nesta etapa dos estudos, você já se questionou: mas onde a Microbiologia Ambiental (MA), que, inclusive, nomeia este livro didático, encaixa-se no tão vasto campo de estudo da microbiologia? Para entender a fundo tal campo de estudo, é necessário conhecer alguns conceitos da Microbiologia Ambiental. Vamos lá?! De acordo com a Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM), a Microbiologia Ambiental é definida enquanto uma área da ciência que se dedica ao estudo da fisiologia, genética, interações e funções dos microrganismos no ambiente, e faz uso desse conhecimento com o objetivo maior de manter a qualidade ambiental, além de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade moderna (SBM, 2020, s.p.). 30 UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA Outra definição é apresentada por Dalzoto e Pimentel (2020, s.p.), que conceituam a Microbiologia Ambiental enquanto área dedicada ao “estudo dos microrganismos e das atividades no ambiente para o entendimento do papel na manutenção da biosfera e do uso potencial na remediação de locais que tenham sido modificados”. Nicolau (2014, p. 4) aponta que a “Microbiologia Ambiental é, geralmente, definida como o estudo dos efeitos dos microrganismos aplicados ao ambiente, às atividades humanas, saúde e bem-estar”. Por fim, a Microbiologia Ambiental é a: interface entre as ciências ambientais e a ecologia microbiana. Estuda os microrganismos e as funções na condução de processos nos sistemas naturais, e prioriza os efeitos provocados pela presença e pela atividade desses no meio ambiente. Com os avanços da biologia molecular, aumentou-se a habilidade de detectar, além de identificar microrganismos e atividades no ambiente (MICROBIOLOGIA AMBIENTAL, 2020, s.p.). Por meio desses conceitos, podemos evidenciar que a Microbiologia Ambiental integra parte do cenário científico mundial, como uma área de estudos fundamental e inserida em diversos temas de grande importância, como biorremediação, biocatálise,biocombustíveis, controle biológico, fertilizantes etc. FIGURA 15 – ÁREAS DE ESTUDO DA MICROBIOLOGIA AMBIENTAL FONTE: <https://kasvi.com.br/microbiologia-ambiental-saude-humana-plantas-animais/>. Acesso em: 24 maio 2020. TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA 31 Podemos notar que a MA compreende diversas subáreas de elevada importância, todas com o objetivo de manter a qualidade do meio ambiente, além de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade. 2.1 A MICROBIOTA HUMANA Já verificamos o conceito de microrganismo e os grupos principais, mas qual a importância desses seres microscópicos? Bem, os microrganismos constituem a maior massa de matéria viva do planeta Terra. Estes efetuam processos químicos necessários a outros organismos. Caso não existissem, outras formas de vida não teriam surgido no planeta e não se manteriam (RICOBELO, 2020). O início dos estudos da microbiologia, aliado a doenças e à preocupação com questões de saúde, contribuiu para que a primeira ideia ligada a esses seres (micróbio, germe, bactéria) fosse, exclusivamente, a de agente causador de doenças. Dessa forma, a presença desses diminutos organismos no corpo deve ser constantemente lembrada (NÓBREGA; BOSSOLAN, 2017). No organismo humano, encontra-se grande quantidade de microrganismos, os quais se distribuem em diferentes órgãos e tecidos, podendo-se encontrar dez vezes mais células microbianas do que células humanas (GONÇALVES, 2014 apud CHAVASCO et al., 2017). FIGURA 16 – MICRORGANISMOS PRESENTES NO CORPO HUMANO FONTE: <http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2011/03/bacterias-sao-fundamentais-para-o- equilibrio-do-corpo-explica-medico.html>. Acesso em: 24 maio 2020. 32 UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA Cabe destacar que a distribuição dos microrganismos depende de inúmeros fatores, a exemplo de: umidade, acidez, temperatura e disponibilidade de nutrientes. Esses microrganismos influenciam o sistema imunológico, a resistência aos patógenos e o aproveitamento dos alimentos (GONÇALVES, 2004 apud CHAVASCO et al., 2017). O primeiro contato do organismo humano com os microrganismos ocorre logo no início da vida. Ao longo dos anos, somos progressivamente expostos a diferentes quantidades, espécies e gêneros de MO. Dessa forma, como as impressões digitais, não existem microbiomas idênticos entre si, isso porque, além da herança genética, nossa microbiota é moldada por fatores externos. Fatores, como dieta, estilo de vida, variáveis ambientais e comportamentais, interferem diretamente na estrutura, diversidade e estabilidade da população de microrganismos residente no corpo (CHONG; BLOOMFIELD; O’SULLIVAN, 2018; CONLON; AR, 2014 apud BIOMA 4ME, 2020). “Essas particularidades passam pela melhoria do saneamento básico, urbanização, uso excessivo de antibióticos, menor exposição a infeções na infância, vacinação, sedentarismo etc.” (BERNSTEIN; SHANAHAN, 2008 apud CHAVASCO et al., 2017, p. 6). Como já mencionado, sabe-se que muitos microrganismos podem ocasionar doenças graves. Entretanto, existem aqueles que apresentam grande importância à saúde humana. É o caso das bactérias, que integram a microflora intestinal. Você sabe a origem do termo “flora intestinal”? Pois bem, o termo “flora” se refere aos vegetais. Já os microrganismos (MO) pertencem aos grupos protista e das bactérias, por exemplo. Essa nomenclatura é devida ao fato de os MO terem sido classificados entre as planas na taxonomia do sueco Carl von Linné (1707-1778), conhecido, também, como Lineu. Inclusive, data, do século XVIII, a contribuição de Lineu ao desenvolvimento de um sistema de classificação dos seres vivos, que atingiu uma aplicação universal e estabeleceu grande parte dos grupos de animais e plantas aceitos até a atualidade (ARAÚJO; BOSSOLAN, 2006). ATENCAO Para termos uma ideia da questão em números, no intestino de um adulto saudável, podem ser encontradas mais de 1014 células bacterianas, distribuídas em um elevado número de espécies diferentes (possivelmente, existem mais de 1.000 espécies bacterianas distintas no trato intestinal). A maioria dessas espécies está agrupada nos gêneros Bifidobacterium, Clostridium, Eubacterium, Peptococcus, Ruminococcus e Peptostreptococcus (OLIVEIRA; CARDOSO, 2020). https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Chong CYL%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=29495552 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Bloomfield FH%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=29495552 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=O'Sullivan JM%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=29495552 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Conlon MA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=25545101 TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA 33 FIGURA 17 – A COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA INTESTINAL FONTE: <https://www.biocodexmicrobiotainstitute.com/pt-pt/intestinal>. Acesso em: 24 maio 2020. Em um laboratório, é possível criar animais livres de germes, os chamados “germ-free”, sem nenhum contato com microrganismos, inclusive, no trato digestivo. Ao se estabelecer uma comparação destes com outros “normais”, chegou-se à conclusão de que as bactérias intestinais não são necessárias à sobrevivência do hospedeiro. Entretanto, diversas diferenças foram observadas nesses grupos, dentre elas, em animais livres de germes, foi possível evidenciar, conforme Oliveira e Cardoso (2020): • Anatomia do intestino: animais livres de germe têm o ceco (porção inicial do intestino grosso) distendido, com uma mucosa mais fina e com renovação celular mais lenta. • Diferença na química do intestino grosso: os animais livres de germes não têm muitas enzimas bacterianas, além de não metabolizarem os ácidos biliares. • Diferença no sistema imune: a presença de microflora influencia na função dos macrófagos (tipo de célula do sistema imune), na fagocitose (englobamento de partículas sólidas pela célula), na produção de citocinas e na morte intracelular. A questão da microflora intestinal é um importante e complexo exemplo da importância dos microrganismos para a sobrevivência, estando intimamente ligada a uma vida saudável. 34 UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA Citocinas são moléculas produzidas em resposta a microrganismos e a outros antígenos, que medeiam e regulam reações imunológicas e inflamatórias. Já o antígeno é o nome atribuído a qualquer substância que pode ser especificamente ligada a uma molécula de anticorpo (proteínas que efetuam o reconhecimento de um antígeno). NOTA 2.2 MICRORGANISMOS CAUSADORES DE DOENÇAS NA ESPÉCIE HUMANA Acadêmico, com certeza, você já ouviu falar ou já vivenciou algum caso de intoxicação ou infecção alimentar após a ocorrência de algum evento ou reunião social (casamentos, festas de aniversário), não é mesmo?! Primeiramente, é importante diferenciar os termos infecção e intoxicação alimentar. Vamos conhecê-los?! A infecção alimentar é ocasionada por meio da ingestão de alimentos contendo células viáveis de microrganismos patogênicos. Já a intoxicação alimentar é causada pela ingestão de alimentos que contêm toxinas microbianas formadas (TEIXEIRA, 2020). NOTA Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças transmitidas por alimentos (DTA) são aquelas causadas pela ingestão de alimentos e/ou água contaminados. Mais especificamente, são doenças de natureza infecciosa geradas por ou através do consumo de alimentos ou água contaminados por agentes biológicos, químicos e físicos (FIGUEIREDO et al., 2007 apud TEIXEIRA, 2020; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). Cabe salientar que, considera-se um surto de DTA, “quando duas ou mais pessoas apresentam doença ou sintomas semelhantes após ingerirem alimentos e/ ou água da mesma origem, normalmente, em um mesmo local. Para doenças de alta gravidade, como botulismo e cólera, apenas um caso já é considerado surto” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020, s.p.).http://www.saude.gov.br/botulismo http://www.saude.gov.br/colera TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA 35 As DTA são causadas por grupos de organismos, como bactérias, bolores, leveduras, protozoários e vírus. Alimentos de procedência animal ou vegetal, frescos e processados (a água está inclusa), ao serem contaminados por patógenos e ingeridos, os MO, que geram doenças, invadem os fluídos ou os tecidos do indivíduo infectado, ocasionando doenças ou perturbações fisiológicas, a exemplo de vômitos, febre, diarreia e dores abdominais (TEIXEIRA, 2020). Quais os MO principais, responsáveis pelas DTA? QUADRO 5 – DTA ALIMENTARES E AGENTES CAUSADORES AGENTE CAUSADOR PRINCIPAIS SINTOMAS ALIMENTOS MAIS SUSCETÍVEIS À CONTAMINAÇÃO Salmonella Diarreias, febre, dores abdominais e vômitos, em média, doze a trinta e seis horas Carnes bovinas, aves, suínos, ovos, leite e vegetais crus. Shigella Febre até uma disenteria e convulsões em criança com menos de quatro anos Ostras, camarão e leite. Yersinia Diarreia, febre e dor abdominal Leite cru e pasteurizado, carnes, língua suína e produtos de laticínios. Escherichia: espécie predominante Escherichia coli habita, normalmente, no intestino humano e de alguns animais. A EPEC é um importante microrganismo causador de gastroenterite em crianças. Está associada à capacidade de adesão às microvilosidades do intestino, além da destruição, provocando diarreia, vômitos, febre baixa Principal causa de diarreia bacteriana infantil, nos países em desenvolvimento ou em áreas de saneamento precário. Staphylococcus aureus Vômitos intensos, diarreia, dor abdominal, febre e cefaleia Resulta da contaminação do alimento por um portador humano, pois a manipulação é uma importante forma de contaminação ou transferência de microrganismos de um alimento para outro. Está ligada às condições higiênico-sanitárias dos próprios manipuladores. Bacillus cereus Náuseas e vômitos no prazo de até seis horas após a ingestão do alimento contaminado, ou quadros clínicos do tipo diarreico Produtos alimentares frescos (ex.: hortaliças e derivados de animais). Além disso, alimentos devem ser refrigerados após cozidos, pois esporos de B. cereus podem sobreviver à fervura, germinando e se multiplicando rapidamente em temperatura-ambiente. 36 UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA Rotavírus Doenças diarreicas agudas, atingindo humanos e várias espécies de mamíferos e aves Os rotavírus são eliminados em grande quantidade nas fezes. São transmitidos pela via fecal-oral, através de água, alimentos e objetos contaminados, por pessoa a pessoa e, provavelmente, secreções respiratórias, mecanismos que permitem a disseminação elevada da doença. Norovírus: principais agentes virais entéricos. Diarreia, vômitos e cólica estomacal Somente ocorre em seres humanos e é encontrada no mundo inteiro. É fácil de disseminar e muito comum devido à fácil transmissão. São encontrados nas fezes ou vômito de pessoas infectadas. Podem passar para os alimentos, água ou superfícies pelo contato das mãos da pessoa infectada que não realizar o procedimento de lavagem das mãos adequadamente lavadas após a utilização do banheiro. FONTE: Adaptado de Informes Técnicos Institucionais (2004), Fiocruz (2011), Teixeira (2020) e Ministério da Saúde (2020) Legenda: EPEC (cepa – “tipo” de E.coli causadora de doença): E.coli enteropatogênica clássica; Colite aguda: inflamação do intestino grosso; Cefaleia: dor de cabeça. Vamos visualizar alguns desses MO? FIGURA 18 – ESPÉCIES DE MO CAUSADORAS DE DOENÇAS OBSERVADAS AO MICROSCÓPIO FONTE: <https://www.luciacangussu.bio.br/atlas/salmonella-spp/>; <http://www.laminas-lieder.com. br/bacterias-jogo-basico-25-laminas-preparadas-para-microscopio-mg3000/staphylococcus-aureus- organismo-do-pus/>; <https://www.stepwards.com/?page_id=16585>. Acesso em: 6 set. 2020. Legenda: A – Salmonella enteritidis (uma espécie de Salmonella) vista sob ME; Demais imagens vistas sob microscópio ótico; B – Shiguella sp; C – Staphylococcus aureus; D - Bacillus cereus. TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA 37 Ao observarmos, podemos notar um ponto importante, intimamente ligado ao foco da nossa disciplina: as doenças de veiculação hídrica e a importância da existência de saneamento básico de qualidade. Outro aspecto que merece destaque é a relevância de lavar corretamente as mãos para que se evite a disseminação de doenças. Em termos financeiros, segundo dados da OPA Brasil, os alimentos não seguros também geram dificuldades no desenvolvimento de muitas economias de baixa e de média renda, geradas perdas de 95 bilhões de dólares (US$) em produtividade associada à doença, incapacidade e morte prematura sofrida pelas (os) trabalhadoras (es) (OPAS BRASIL, 2019). Para as Américas, é estimado que 77 milhões de pessoas sofram um episódio de DTA a cada ano, metade desse montante composto por crianças com menos de cinco anos de idade. As informações disponíveis indicam que as doenças transmitidas por alimentos geram de US$ 700 mil a 19 milhões em custos anuais de saúde nos países do Caribe e mais de US$ 77 milhões nos Estados Unidos (OPAS BRASIL, 2019). No Brasil, a vigilância epidemiológica das DTA (VE-DTA) monitora os surtos de DTA e os casos das doenças definidas em legislação específica. De acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), são notificados, em média, por ano, 700 surtos de DTA, com envolvimento de 13 mil doentes e 10 óbitos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020, s.p.). Acadêmico, utilizamos esse exemplo das DTA para demonstrar que as áreas da microbiologia ambiental se complementam, além de apontarem a importância do consumo de água e de alimentos de qualidade, para a saúde e o bem-estar humanos, além dos prejuízos financeiros em decorrência das DTA e de outras enfermidades. Na Unidade 2, aprofundar-nos-emos nos estudos referentes à microbiologia da água e implicações. Sigamos em frente. ESTUDOS FU TUROS Nesta etapa, você já deve ter percebido que as bactérias não são exatamente iguais, pois apresentam, dentre outros aspectos, características morfológicas diferenciadas. Lembre-se: as bactérias são seres unicelulares, procariontes, não apresentam organelas membranosas e podem ser encontradas vivendo de forma isolada ou vivendo sob a forma de colônias. Então, podemos evidenciar que, 38 UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA embora existam milhares de espécies de bactérias, estas podem ser agrupadas em três tipos de morfologia geral: cocos, bacilos e formas espiraladas (CARVALHO, 2010; VIEIRA; FERNANDES, 2012). Vamos conhecer um pouco mais de cada uma dessas morfologias? • Cocos: células, em geral, arredondadas, mas podem apresentar forma ovoide ou achatada em um dos lados quando estão aderidas a outras células. Quando os cocos se dividem para se reproduzir, podem continuar unidos uns aos outros, o que os classifica em: QUADRO 6 – CLASSIFICAÇÃO DOS COCOS ARRANJO DEFINIÇÃO EXEMPLO Diplococos Permanecem em pares após a divisão. Neisseria gonorrhoeae FONTE: <https://microbenotes.com/habitat-and- morphology-of-neisseria-gonorrhoeae/>. Acesso em: 6 maio 2020. Tétrades Dividem-se em dois planos e permanecem em grupamentos de quatro cocos. Deinococcus radiodurans FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=f_ o2iSXIi3I>. Acesso em: 6 maio 2020. Sarcina Agrupamentos de oito cocos em forma cúbica. Sarcina sp. FONTE: <https://www.sciencedirect.com/science/ article/pii/S2214330014200897>. Acesso em: 6 out. 2020. TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA 39 Estreptococos Sofrem divisão e permanecem ligados após esta. Streptococcus thermophilus FONTE: <https://microbewiki.kenyon.edu/index.php/ Streptococcus_thermophilus>. Acesso em: 6 out.2020. Estafilococos Dividem-se em múltiplos planos e formam cachos. Essa conformação lembra os cachos de uva. Staphylococcus aureus FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ Staphylococcus_aureus>. Acesso em: 6 maio 2020. FONTE: Adaptado de Carvalho (2010) e Vieira e Fernandes (2012) • Bacilos (bastonetes): células de formato cilíndrico ou em formato de bastão. Existem diferenças consideráveis em comprimento e largura entre as diversas espécies de bacilos existentes. Existem alguns bacilos com porções terminais quadradas, outras arredondadas e, ainda, outras afiladas ou pontiagudas. QUADRO 7 – TIPOS DE BACILOS (BASTONETES) ARRANJO EXEMPLO Bacilo único Mycobacterium tuberculosis FONTE: <https://www.terra.com.br/noticias/tuberculose-e-doenca- infecciosa-mais-mortal-do-mundo-diz-oms,9782305c502acf51e70c43b0f200 0512h88lom3e.html>. Acesso em: 4 maio 2020. 40 UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA Diplobacilos Bacillus subtilis FONTE: <https://annarenatav3.wordpress.com/2011/04/04/bacteria-gram- positiva-e-gram-negativa/>. Acesso em: 4 out. 2020. Estreptobacilos Streptobacillus moniliformis FONTE: <https://link.springer.com/article/10.4056/sigs.48727>. Acesso em: 4 out. 2020. Cocobacilo Chlamydia trachomatis FONTE: <https://link.springer.com/article/10.4056/sigs.48727>. Acesso em: 4 out. 2020. FONTE: Adaptado de Carvalho (2010), Vieira e Fernandes (2012) e Barbosa, Gomes e Torres (2018) • Formas espiraladas: caracterizadas por células em espiral ou helicoidal. TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA 41 QUADRO 8 – TIPOS DE FORMAS ESPIRALADAS ARRANJO DEFINIÇÃO EXEMPLO Espirilos Apresentam corpo celular rígido e se locomovem com o auxílio de flagelos externos. Aquaspirillum itersonii FONTE: <https://quizlet.com/133442468/microbiology- 17-unknowns-dee-flash-cards/>. Acesso em: 4 out. 2020. Espiroquetas Flexíveis e realizam a locomoção por meio de contrações do citoplasma, podendo realizar várias voltas ao redor do próprio eixo. Treponema pallidum FONTE: <https://aia1317.fandom.com/pt-br/wiki/ Treponema_pallidum_e_s%C3%ADfilis>. Acesso em: 4 out. 2020. Vibrio Unidade celular que tem semelhança com uma vírgula. Vibrio Cholerae FONTE: <https://microbeonline.com/vibrio-cholerae- laboratory-diagnosis-confirmation/>. Acesso em: 4 out. 2020. FONTE: Adaptado de Carvalho (2010), Vieira e Fernandes (2012) e Barbosa, Gomes e Torres (2018) 42 UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA 3 MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS É possível verificar que a MA não apresenta limites bem definidos a respeito de quais grupos de microrganismos podem ser de grande interesse quando se trata da área ambiental. Contudo, existe um consenso, nesse campo da microbiologia, acerca da necessidade de compreender as comunidades e as interações entre microrganismos, além do modo como as populações microbianas podem ser compreendidas no equilíbrio sistêmico (ROCHA, 2020). Neste tópico, realizaremos um estudo mais aprofundado dos domínios Bacteria (bactérias) e Archea (arqueobactérias), dentre os quais estão importantes grupos de microrganismos associados a ciclos biogeoquímicos e processos ambientais de interesses antrópicos (ROCHA, 2020). 3.1 AS BACTÉRIAS As bactérias possuem grande capacidade adaptativa a diversos habitat que, com o potencial metabólico diversificado, conferem, a esse grupo, uma importância ímpar para a microbiologia ambiental (ROCHA, 2020). Você já ouviu falar do termo habitat? Trata-se da área de ocorrência de um organismo, dentro de um certo limite físico, um espaço definido. A dimensão de um habitat pode ser variável e depende do organismo analisado. Para a bactéria E.coli, o habitat pode ser o trato gastrointestinal de humanos, por exemplo. Já o habitat de um peixe pode ser uma área de um rio (ECOLOGIA BÁSICA, 2020). ATENCAO Uma estrutura presente nas células bacterianas fundamental aos nossos estudos é a parede celular. Esta confere proteção e suporte celular. Também é responsável por reduzir o estresse mecânico da célula em condições ambientais desfavoráveis, o que garante a manutenção da estrutura e do volume celular (WOESE; KANDLER; WHEELIS, 1990 apud ROCHA, 2020). Composta, dentre outras substâncias, por um complexo macromolecular, conhecido como mucocomplexo (também chamado de peptidoglicano, mureína, mucopeptídio ou glicopeptídio) (NOGUEIRA; MIGUEL, 2020). Graças à parede celular, as bactérias estão aptas a viver em ambientes com a concentração de solutos extremamente inferior do que as do citoplasma, sem sofrer lise (rompimento). Esse envoltório rígido confere resistência e limita o aumento do volume ocasionado pela entrada de água, o que impede o rompimento da membrana plasmática (BARBOSA; GOMES; TORRES, 2018). TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA 43 Para termos uma noção da resistência da parece celular, esta é capaz de resistir à pressão de até 100 atm (CZONKA, 1989 apud ROCHA, 2020), o que equivale a 76000 mmgH! Incrível, não é mesmo?! A título de comparação, um mergulhador, sem qualquer tipo de auxílio, consegue atingir a profundidade de até 30 m, com a pressão total do ar de 4 atm (3040 mmgH). NOTA Cabe salientar que nem todas as bactérias possuem parede celular. Podemos citar, como exemplo, aquelas pertencentes ao gênero Mycoplasma, cujas algumas espécies são parasitas. Considerados os menores microrganismos de vida livre capazes de autorreplicação, essas bactérias têm predileção por membranas serosas ou mucosas (RAZIN, 2006; CLAYDE, 1986 apud RIZZO et al., 2011). Podemos citar a espécie M. pneumoniae, que coloniza o aparelho respiratório humano, causando pneumonia, afetando, especialmente, pessoas com idades entre os 8 e os 30 anos de idade (MICOPLASMAS, 2005). FIGURA 19 – MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE MYCOPLASMA PNEUMONIE FONTE: <https://www.cdc.gov/pneumonia/atypical/mycoplasma/hcp/disease-specifics.html>. Acesso em: 9 maio 2020. 44 UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA A ausência de parede celular confere, ao gênero Mycoplasma, imunidade à antibióticos (por exemplo, a penicilina), cujo mecanismo de ação está relacionado à inibição da síntese da parede celular (BÉBÉAR; PEREYRE; PEUCHANT, 2011). ATENCAO Sob a ótica da microbiologia ambiental, a parede celular tem importância fundamental na formação de biofilmes. Estes são agregados altamente organizados e unidos por uma matriz polimérica. Em um estudo realizado pelos autores Bucher et al. (2015), ao pesquisarem a formação do biofilme pela bactéria Bacillus subtilis (uma bactéria do solo), puderam verificar que a inibição da síntese de compostos da parede celular (peptideoglicanos, por exemplo) ocasiona obstáculo na formação do biofilme e fixação do agregado celular em uma superfície. A partir desses resultados, os cientistas chegaram à conclusão de que a parede celular do microrganismo gram-positivo está intimamente envolvida no desenvolvimento e na sustentação de biofilmes do meio ambiente (BUCHNER et al., 2015 apud ROCHA, 2020). O biofilme microbiano é definido enquanto uma associação de células microbianas (uma ou mais espécies), fixas a superfícies, bióticas ou abióticas, recoberta por uma complexa matriz extracelular de substâncias poliméricas (polímeros naturais de elevado peso molecular secretados por microrganismos no ambiente). Os biofilmes representam mais de 90% dos contaminantes presentes em sistemas aquosos, industriais, clínicos e ambientais. NOTA TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA 45 FIGURA 20 – ETAPAS DA FORMAÇÃO DE UM BIOFILME TÍPICO FONTE: Stoodley et al. (2002) apud Oliveira e Cardoso (2020) Legenda: Células plactônicas – células livres; EPS - matriz de polímeros extracelulares. Essa matriz age como uma barreira física, impedindo que sanitizantes cheguem aos sítios de ação, como a membrana de bactérias gram-positivas (ESPER, 2011). Conforme
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