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Indaial – 2021 Saúde Coletiva e PolítiCaS PúbliCaS em Saúde Prof.a Adriana Lobo Müller Prof.a Ana Célia Teixeira de Carvalho Schneider Prof.a Marina Steinbach Prof.a Rosana Mara da Silva 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.a Adriana Lobo Müller Prof.a Ana Célia Teixeira de Carvalho Schneider Prof.a Marina Steinbach Prof.a Rosana Mara da Silva Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M958s Müller, Adriana Lobo Saúde coletiva e políticas públicas em saúde. / Adriana Lobo Müller; Ana Célia Teixeira de Carvalho Schneider; Marina Steinbach; Rosana Mara da Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 232 p.; il. ISBN 978-65-5663-396-1 ISBN Digital 978-65-5663-397-8 1. Saúde mental. – Brasil. I. Müller, Adriana Lobo. II. Schneider, Ana Célia Teixeira de Carvalho. III. Steinbach, Marina. IV. Silva, Rosana Mara da. V. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 150 aPreSentação A saúde é uma construção coletiva, pautada em leis e diretrizes. Quando analisamos a história do Brasil e a organização que houve até a VIII Conferência Nacional de Saúde, que lançou bases para a Constituição Brasileira e permitiu a construção das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), compreende-se a complexidade de um sistema público de saúde com acesso universal, pautado na equidade e integralidade do acesso. A saúde no Brasil expressa o esforço de toda uma trajetória para garantir o acesso universal de seus cidadãos aos cuidados em saúde que necessitam para ter uma vida mais longa, produtiva e feliz. É importante reforçar que a estruturação de um sistema pauta na construção histórica de um país, embasado no conjunto de políticas econômicas e sociais mais amplas (emprego, moradia, saneamento, boa alimentação, educação, segurança etc.), que se integram à política de saúde que tem por objetivo qualidade do cuidado em saúde prestado aos seus cidadãos. Os principais dispositivos que regem o SUS são: • Lei n° 8.080/90: que organiza e rege o SUS, foi promulgada em 1990, dois anos após a sua inserção no sistema normativo nacional com a Constituição Federal. • Lei n° 8.142/90 e a NOB/SUS 01/96, além da Resolução n° 333/2003, que normatizou as transferências de recursos financeiros entre os órgãos intergovernamentais e a participação popular e o controle social no SUS. • Constituição Federal 1988, que traz em seu Capítulo sobre a saúde toda a base discutida e aprovada na VIII Conferência Nacional de Saúde (1986). É importante entender um sistema de saúde pela sua constituição histórica, social e legislativa, para que se possa compreender e analisar o processo de prestação do cuidado a população e as suas diversas formas de prestar esse cuidado e normatizar a saúde num país. Bons estudos! Prof.a Adriana Lobo Müller Prof.a Ana Célia Teixeira de Carvalho Schneider Prof.a Marina Steinbach Prof.a Rosana Mara da Silva Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 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LEMBRETE Sumário UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS ............................................................................... 1 TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL .................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL .......................................................................... 4 2.1 PERÍODO COLÔNIA/IMPÉRIO (1500 A 1889) ......................................................................... 4 2.2 PRIMEIRA REPÚBLICA OU REPÚBLICA VELHA (1889 A 1930) ......................................... 5 2.3 SEGUNDA REPÚBLICA OU ERA VARGAS (1930 A 1945) .................................................... 7 2.4 REDEMOCRATIZAÇÃO OU DESENVOLVIMENTISTA (1945 A 1963) ............................... 8 2.5 REGIME MILITAR (1964 A 1984) ................................................................................................. 9 2.6 NOVA REPÚBLICA (1985 A 2005) ............................................................................................. 11 3 CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A 8ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE ...................... 14 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 18 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 19 TÓPICO 2 — O SUS ............................................................................................................................. 23 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 23 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ............................................................................................ 23 2.1 Papel do SUS ................................................................................................................................. 24 2.2 ESTRUTURA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ......................................................... 25 2.2.1 Ministério da Saúde ............................................................................................................. 25 2.2.2 Secretaria Estadual de Saúde (SES) ................................................................................... 25 2.2.3 Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ............................................................................... 26 2.2.4 Aspectos operacionais do SUS ........................................................................................... 26 2.3 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO SUS ....................................................................................... 27 2.3.1 Princípios do SUS ................................................................................................................27 3 LEGISLAÇÃO SUS .......................................................................................................................... 31 3.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ....................................................................................... 31 3.2 LEI N° 8.080: LEI ORGÂNICA DA SAÚDE ............................................................................. 32 3.3 LEI N° 8.142 ................................................................................................................................... 33 4 PSF/ESF/SAÚDE DA FAMÍLIA ..................................................................................................... 35 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 40 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 41 TÓPICO 3 — SUS E POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................................................. 43 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 43 2 APS: ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE .................................................................................... 44 3 REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE (RAS) ......................................................................................... 45 3.1 COMPONENTES RAS ................................................................................................................. 46 4 POLÍTICAS PÚBLICAS.................................................................................................................... 48 4.1 POLÍTICA NACIONAL DA ATENÇÃO BÁSICA – PNAB .................................................. 48 4.1.1 NASF .................................................................................................................................... 50 4.2 POLÍTICA NACIONAL HUMANIZAÇÃO – PNH ............................................................... 51 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 53 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 55 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 56 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 57 UNIDADE 2 — AS LEGISLAÇÕES DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ................................. 61 TÓPICO 1 — A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 – QUANDO TUDO COMEÇOU ....... 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 63 2 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 ........................................................................................................... 64 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 70 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 71 TÓPICO 2 — LEI No 8.080/90 .............................................................................................................. 73 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 73 2 LEI N° 8080 – A PRIMEIRA LEI ORGÂNICA DO SUS ............................................................. 74 3 LEI N° 8080 – TÍTULO II – DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ............................................... 75 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 93 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 94 TÓPICO 3 — LEI N° 8.142/90 NORMATIZAR AS TRANSFERÊNCIAS DE RECURSOS FINANCEIROS ENTRE OS ÓRGÃOS INTERGOVERNAMENTAIS E A PARTICIPAÇÃO POPULAR E CONTROLE SOCIAL NO SUS ........................ 97 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 97 2 LEI No 8.142/90 .................................................................................................................................... 97 3 O QUE É A OUVIDORIA-GERAL DO SUS? ............................................................................. 104 3.1 COMO FALAR COM A OUVIDORIA-GERAL DO SUS? .................................................... 104 3.2 QUANDO PROCURAR A OUVIDORIA DO SUS? ............................................................... 105 3.3 SISTEMA NACIONAL DE OUVIDORIAS DO SUS ............................................................. 105 4 CONTROLE SOCIAL E O SUS ..................................................................................................... 106 5 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO SUS ....................................................................................... 109 6 A NORMA OPERACIONAL BÁSICA/SUS ............................................................................... 115 7 RESOLUÇÃO 333/2003 ................................................................................................................... 117 8 COMPETÊNCIA DOS CONSELHOS DE SAÚDE ................................................................... 119 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 122 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 124 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 127 UNIDADE 3 — SAÚDE COLETIVA E POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE DA MENTE ..... 129 TÓPICO 1 — CONCEPÇÃO DE LOUCURA AO LONGO DA HISTÓRIA ........................... 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 131 2 BREVE HISTÓRIA DA LOUCURA ............................................................................................. 132 3 REFORMAS PSIQUIÁTRICAS INTERNACIONAIS .............................................................. 137 3.1 COMUNIDADE TERAPÊUTICA ............................................................................................. 138 3.2 PSICOTERAPIA INSTITUCIONAL ......................................................................................... 138 3.3 PSIQUIATRIA DE SETOR ......................................................................................................... 139 3.4 PSIQUIATRIA COMUNITÁRIA OU PREVENTIVA ............................................................ 140 3.5 ANTIPSIQUIATRIA ................................................................................................................... 142 3.6 PSIQUIATRIA DEMOCRÁTICA ITALIANA ......................................................................... 142 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 146 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 147 TÓPICO 2 — REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA ......................................................... 149 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 149 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DAREFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA ......................... 150 2.1 A LOUCURA NO BRASIL COLONIAL E REPÚBLICA ...................................................... 150 2.2 LIGA BRASILEIRA DE HIGIENE MENTAL (LBHM) .......................................................... 152 2.3 A INDÚSTRIA DA LOUCURA ............................................................................................... 153 2.4 MOVIMENTO DE TRABALHADORES DE SAÚDE MENTAL (MTSM) .......................... 154 2.5 CONFERÊNCIAS NACIONAIS DE SAÚDE MENTAL (CNSM) ........................................ 154 2.5.1 I Conferência Nacional de Saúde Mental (CNSM) ....................................................... 155 2.5.2 II Conferência Nacional de Saúde Mental ...................................................................... 156 2.5.3 III Conferência Nacional de Saúde Mental .................................................................... 156 2.5.4 IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial ........................................... 157 2.6 MOVIMENTO NACIONAL DA LUTA ANTIMANICOMIAL (MNLM) .......................... 158 3 LEI N° 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001 – LEI DA REFORMA PSIQUIÁTRICA ............... 159 4 PORTARIA N° 336, DE 19 DE FEVEREIRO DE 2002 – CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) ................................................................................................................ 160 5 ESTRATÉGIAS DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO .............................................................. 163 5.1 SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO (SRT) .................................................................. 163 5.2 PROGRAMA DE VOLTA PARA CASA .................................................................................. 164 6 REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (RAPS) ........................................................................ 165 7 A NOVA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL ............................................................................... 167 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 170 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 171 TÓPICO 3 — POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL NO ÂMBITO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ............................................................................................... 175 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 175 2 O QUE SÃO DROGAS ................................................................................................................... 176 3 PROIBICIONISMO, GUERRA ÀS DROGAS E REDUÇÃO DE DANOS .......................... 177 4 HISTÓRIA DAS LEGISLAÇÕES DAS DROGAS NO BRASIL ............................................ 182 4.1 POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS (PNAD) ............................................................. 184 4.2 SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS (SISNAD) .......... 185 4.3 POLÍTICA NACIONAL SOBRE O ÁLCOOL ......................................................................... 186 5 REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA E O CAMPO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ..................................................................................................................... 187 5.1 A POLÍTICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA A ATENÇÃO INTEGRAL A USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ................................................................... 189 5.2 POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE ............................ 190 6 A NOVA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL E SEUS EFEITOS NO CAMPO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ................................................................................................... 192 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 195 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 197 TÓPICO 4 — POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE MENTAL PARA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ................................................................................................... 199 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 199 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ................................................................................................................... 199 2.1 LIGA BRASILEIRA DE HIGIENE MENTAL E O CAMPO DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ....................................................................................................................... 200 2.2 CÓDIGO DE MENORES DE 1927 ............................................................................................ 203 2.3 FUNDAÇÃO NACIONAL DO BEM-ESTAR DO MENOR (FUNABEM) ......................... 203 2.4 CÓDIGO DE MENORES DE 1979 ............................................................................................ 204 3 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) ............................................ 206 4 III CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL (2001) ............................................. 208 5 CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INFANTOJUVENIL – CAPS I ......................... 209 6 FÓ RUM NACIONAL DE SAÚDE MENTAL INFANTOJUVENIL .............................. 211 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 214 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 221 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 222 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 225 1 UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a história da Saúde Pública no Brasil; • associar o contexto histórico com a construção da saúde no Brasil; • conhecer a estruturação do Sistema Único de Saúde (SUS), avaliando a sua constituição e prestação do cuidado à população; • analisar a história da saúde coletiva no Brasil. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL TÓPICO 2 – O SUS TÓPICO 3 – SUS E POLÍTICAS PÚBLICAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO A Constituição de 1988 permitiu, ao Brasil, estabelecer garantias fundamentais da saúde, educação e condicionantes sociais. Permitiu institucionalizar direitos fundamentais, como a saúde, previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no artigo XXV, que define que todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de lhe assegurar, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive, alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis. Pode-se afirmar que o direito à saúde é indissociável e se define de forma igualitária para todas as pessoas. Ao se analisar o contexto brasileiro, em relação ao direito à saúde, historicamente, faz parte do movimento da Reforma Sanitária, que originou o Sistema Único de Saúde (SUS), através da Constituição Federal de 1988. Segundo o artigo 196, “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticassociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”. A criação de um sistema de acesso universal à saúde permitiu a construção da linha de cuidado com conceitos de longitudinalidade, territorialização, integralidade, equidade, universalização, regionalização, hierarquização, descentralização e participação popular, permitindo uma tomada de responsabilidade por parte do Estado no cuidado à saúde, tendo acesso à Atenção Primária em Saúde e permitindo, à pessoa, todos os cuidados em relação à saúde. Contudo, antes da criação do SUS, a saúde era direcionada apenas para os trabalhadores que contribuíam, ou seja, a assistência à saúde não era direcionada a todos. UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS 4 2 HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Começaremos a estudar a saúde pública a partir da sua história. Ao analisarmos o contexto do Brasil, sabemos que a saúde pública tem sido marcada por sucessivas reorganizações administrativas e muitas normas. Quando analisamos a sua instalação desde o período colonial até a década de 1930, pode- se compreender que essas ações não tinham organização institucional. A Era Getúlio permitiu iniciar uma série de organizações e transformações na área da saúde, o que culminou na criação do Ministério da Saúde, na sua separação entre Saúde e Previdência Social, no capítulo sobre Saúde na Constituição 1988 e Sistema Único de Saúde. 2.1 PERÍODO COLÔNIA/IMPÉRIO (1500 A 1889) Esse período foi marcado pela existência de diversas doenças transmissíveis, trazidas, inicialmente, pelos colonos portugueses e, posteriormente, pelos escravos africanos e diversas etnias estrangeiras. As mais frequentes eram as doenças sexualmente transmissíveis, a lepra (hanseníase), tuberculose, cólera e varíola (BRASIL, 2014a), além da grande prevalência de doenças tropicais, como a febre amarela, malária e leishmaniose. Não havia uma política de saúde, as medidas eram tomadas visando diminuir os problemas de saúde pública que afetavam a produção econômica e prejudicavam o comércio internacional, como saneamento dos portos, onde escoavam as mercadorias; urbanização e infraestrutura nos centros urbanos de maior interesse econômico; e campanhas para conter as epidemias frequentes e prejudiciais à produção, que afetavam a imagem brasileira nos países com os quais era mantido o comércio internacional. Essas intervenções eram realizadas de forma pontual e, logo, o governo as abandonava quando não havia mais caso (PAIM et al., 2012; AGUIAR, 2011). A assistência médica era direcionada às classes dominantes, sendo exercida pelos raros médicos que vinham da Europa. Aos demais, restavam apenas os recursos da medicina popular. Nesse contexto, surgiram as primeiras Casas de Misericórdia, que se destinavam ao abrigo dos doentes, órfãos, indigentes e viajantes, com o objetivo de cuidar dessas pessoas (PAIM, 2012 et al.; AGUIAR, 2011). No Brasil, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia surgiu ainda no período colonial, instalando-se em Santos desde 1543, seguindo pela Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Olinda e São Paulo, sendo a primeira instituição hospitalar do país destinada a atender aos enfermos dos navios dos portos e moradores das cidades. Nesse período, entretanto, não se pode destacar a prática TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL 5 como científica, porque esses saberes só emergiram no país a partir da vinda da Corte Portuguesa e da criação das faculdades de Medicina e de Direito (SCMP, 2020). As dez primeiras Santas Casas do Brasil (SCMP, 2020) foram: 1539 – Santa Casa de Misericórdia de Olinda (PE) 1543 – Santa Casa da Misericórdia de Santos (SP) 1549 – Santa Casa de Misericórdia de Salvador (BA) 1582 – Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (RJ) 1551 – Santa Casa de Misericórdia de Vitória (ES) 1599 – Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (SP) 1602 – Santa Casa de Misericórdia de João Pessoa (PB) 1619 – Santa Casa de Misericórdia de Belém (PA) 1657 – Santa Casa de Misericórdia de São Luís (MA) 1792 – Santa Casa de Misericórdia de Campos (RJ) FIGURA 1 – ANTIGA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE OLINDA (PRIMEIRO HOSPITAL DO BRASIL) FONTE: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=45304234>. Acesso em: 6 nov. 2020. 2.2 PRIMEIRA REPÚBLICA OU REPÚBLICA VELHA (1889 A 1930) O contexto social e econômico do Brasil durante a Primeira República se caracterizava pela organização do Estado moderno, em que predominavam grupos vinculados à exportação do café e à pecuária. Com o crescente quadro de crescimento da produção industrial, houve a exigência de grande de mão de obra, levando o governo a adotar políticas de incentivo à imigração europeia. As condições de saúde da população eram semelhantes ao do período anterior, com predomínio das doenças, como a febre amarela, cólera, tuberculose, varíola, sífilis e peste bubônica (ao redor dos portos) (BRASIL, 2014a). No interior do Brasil, havia o predomínio da malária e da doença de Chagas. As condições UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS 6 de saneamento básico eram precárias e com ações e programas de saúde e infraestrutura ainda visando às áreas fundamentais para a economia (economia agrária exportadora, área dos portos). Dois modelos de assistência à saúde adotados no Brasil no período: Modelo Assistencialista/Previdenciário: o objetivo era curativo e as intervenções eram sobre o corpo por meio de medicamentos e/ou procedimentos. As ações eram baseadas na assistência médica, voltada para trabalhadores formalmente inseridos em setores da economia. Marco: Criação das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs), 1923. As revoltas populares da época pressionavam o Estado por ações mais efetivas na saúde. Em 1923, o chefe de polícia e deputado federal, Eloy Chaves, propôs uma lei que regulamentava a formação de CAPs para algumas organizações trabalhistas, como os ferroviários e os marítimos. Com essa lei, a saúde continuava restrita aos que podiam pagar e aos assegurados por ela. Modelo Sanitarista/Campanhista: o objetivo era prevenir as doenças através de campanhas de vacinação e higiene, além de intervenções nos espaços urbanos de cunho estatal. Marcos: • 1903: Reforma Oswaldo Cruz, proposta por Oswaldo Cruz para combater a febre amarela no Rio de Janeiro. • 1904: Criado o Serviço de Profilaxia da Febre Amarela e aprovação da lei que obriga a vacinação antivariólica. • 1907: Febre amarela é erradicada no Rio de Janeiro. FONTE: Brasil (2014a) NOTA FIGURA 2 – OSWALDO CRUZ FONTE: Brasil (2014a) TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL 7 Assista ao vídeo: Revolta da Vacina. Com esquetes teatrais e depoimentos médicos, pesquisadores e historiadores, este documentário apresenta a história da varíola, da vacina e da Revolta Popular de 1904, ocorrida no Rio de Janeiro, abordando as questões sociais, políticas e culturais que envolveram a campanha de vacinação do governo de Rodrigues Alves em plena República Velha. Realização: Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) Direção: Eduardo Vilela Thielen Ano de produção: 1994 Distribuição: VideoSaúde Distribuidora Acesse: http://twixar.me/mGym; ou http://twixar.me/GGym. DICAS 2.3 SEGUNDA REPÚBLICA OU ERA VARGAS (1930 A 1945) A economia do Brasil tem um novo polo, o direcionamento para os centros urbanos, com grande investimento no setor industrial na região Centro-Sul. Essa política promoveu o êxodo rural, especialmente, da região Nordeste para os centros econômicos, contribuindo para os processos de urbanização precária e proliferação de favelas nas grandes cidades (PAIM, 2012). A saúde pública vê, através do crescimento acelerado da indústria, o crescimento das condições precárias de trabalho. Dessa forma, além de endemias e epidemias, a inserção no processo produtivo industrial, somada à falta de moradia e saneamento adequados, trouxe acidentesde trabalho, doenças profissionais, estresse, desnutrição e verminoses. Marcos importantes: • 1933: as CAPs são transformadas em Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs). Criados não mais por empresas, mas por categorias profissionais (IAPM, IAPB, IAPC, IAPTEC e IAPI). UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS 8 • 1942: Criação do Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), durante a Segunda Guerra Mundial, instituído pelo Estado Novo em associação com o governo americano. De início, pretendia-se que fosse uma agência provisória, responsável por políticas sanitárias pontuais em regiões (Amazônia e Bacia do Rio Doce) produtoras de matérias-primas estratégicas para o esforço de guerra. O órgão, no entanto, existiu por 48 anos, só se extinguindo em 1990. FIGURA 3 – SERVIÇO ESPECIAL DE SAÚDE PÚBLICA (SESP) FONTE: <https://agencia.fiocruz.br/obra-analisa-trajet%C3%B3ria-de-%C3%B3rg%C3%A3o- criado-na-segunda-guerra>. Acesso em: 6 nov. 2020. 2.4 REDEMOCRATIZAÇÃO OU DESENVOLVIMENTISTA (1945 A 1963) O Brasil observa uma redução dos casos de tuberculose, malária e outras doenças transmitidas por insetos, o que, para alguns, deu-se pelo resultado das campanhas sanitárias e, para outros, pelo desenvolvimento do período (PAIM, 2012; AGUIAR, 2011). A assistência médica se expande em todos os IAPs, generalizando, aos poucos, os direitos, conforme capacidade reivindicativa e de organização. Contudo, a implantação de serviços de atenção médica tinha, como marca, o clientelismo, favorecido pelo vínculo entre os sindicatos e IAPs ao Estado. 1950: II Conferência Nacional de Saúde traz legislação referente à higiene e à segurança do trabalho. 1953: Ministério da Saúde é criado independente da área da educação. 1958: Criação do Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (Samdu). 1960: Criação da Fundação Sesp: interiorização das ações de saúde pública. 1963: III Conferência Nacional de Saúde. Descentralização na área da saúde – Início de proposição de um sistema integrado de saúde. TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL 9 Dois grupos começaram a discutir propostas de políticas de saúde (PAIM et al., 2012): • Os que defendiam a manutenção do modelo sanitarista campanhista e a prática higienista da Fundação Sesp. • Os que desenvolviam a corrente de opinião do sanitarismo desenvolvimentista, com o argumento da relação entre o nível de saúde da população e o grau de desenvolvimento econômico do país. Defendiam a articulação das ações de promoção com as ações preventivas e curativas, de acordo com as necessidades da população. 2.5 REGIME MILITAR (1964 A 1984) Com o Golpe Militar, há uma importante redução das ações de saúde pública no país, fato que proporciona o reaparecimento de diversas doenças preveníveis que estavam sob controle (BRASIL, 2014a). Implantou-se um sistema de saúde caracterizado pelo predomínio financeiro das instituições previdenciárias e pela burocracia, que priorizava a mercantilização da saúde. Marcos importantes: • 1966: Unificação dos IAPs, com a criação do Instituto Nacional de Previdência e Assistência Social (INPS), responsável pelos benefícios previdenciários e assistência médica aos segurados e familiares. O INPS passou a ser o grande comprador dos serviços privados de saúde. É ampliada a chamada medicina de grupo. • 1971: Ampliação da assistência médica da previdência com a inclusão dos trabalhadores rurais, empregadas domésticas e trabalhadores autônomos. INPS/Inamps Período em que o Ministério da Saúde estava voltado para a vigilância sanitária orientada para o controle de endemias, enquanto ocorria a concentração dos serviços hospitalares em grandes centros. A criação do INPS, em 1966, configurou uma medida de racionalização administrativa sem alterar a tendência do período anterior de expansão dos serviços, em particular, da assistência médica e da cobertura previdenciária. A função de capitalização, até então, atribuição da previdência social, passou para outros mecanismos de poupança compulsória, como FGTS, PIS e Pasep. Dessa forma, centralizada e unificada no INPS, a previdência passou a ter funções assistencial e redistributiva, ainda que estivesse limitada ao contingente de trabalhadores com carteira assinada. O Instituto Nacional de NOTA UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS 10 Assistência Médica da Previdência (Inamps) tinha a responsabilidade de prestar assistência à saúde dos associados, o que justificava a construção de grandes unidades de atendimento ambulatorial e hospitalar, como também contratação de serviços privados nos grandes centros urbanos, onde estava a maioria dos beneficiários. A assistência à saúde desenvolvida pelo Inamps beneficiava apenas os trabalhadores da economia formal, com “carteira assinada”, e seus dependentes, ou seja, não havia o caráter universal, que passa a ser um dos princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa forma, o Inamps aplicava, nos estados, por meio das superintendências regionais, recursos para a assistência à saúde de modo mais ou menos proporcional ao volume de recursos arrecadados e de beneficiários existentes. Portanto, quanto mais desenvolvida a economia do estado, com maior presença das relações formais de trabalho, maior o número de beneficiários e, consequentemente, maior a necessidade de recursos para garantir a assistência a essa população. FONTE: SOUZA, R. R. O sistema público de saúde brasileiro. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. Disponível em: https://dms.ufpel.edu.br/sus/files/media/INPS.pdf. Acesso em: 6 nov. 2020. Pontos importantes na década de 1970: • Previdência Social alcança a maior expansão em número de leitos, cobertura e volume de recursos arrecadados. • Forma de contratação e pagamento de empresas privadas para prestação de assistência aos segurados favoreceram o processo de corrupção. • Construção de hospitais e clínicas com recursos da previdência e de faculdades particulares de medicina com enfoque na medicina curativa. • 1976: Criação do Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS) para extensão da cobertura dos serviços de saúde prioritariamente nas zonas rurais e pequenas cidades. • 1978: Começa a ser difundido, na América Latina, o conceito de Atenção Primária à Saúde, além dos princípios da medicina comunitária (desmedicalização, autocuidado de saúde, atenção primária realizada por não profissionais de saúde, participação da comunidade, implantação de programas vinculados à medicina curativa na formação dos estudantes de medicina). Crise INAMPS. • 1981: Criação do Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP), que propõe mudança do modelo assistencial (melhor qualidade da atenção, ampliação de serviços, descentralização e hierarquização por nível de complexidade). Vários sanitaristas entraram para áreas estratégicas do INAMPS. • 1983: Criado o Programa de Ações Integradas de Saúde, cujo objetivo era articular todos os serviços que prestavam assistência à saúde da população de uma região, além de integrar ações preventivas e curativas. Para isso, havia repasse de recursos do INAMPS para os governos estaduais para a construção de Unidades Básicas de Saúde e contratação e capacitação de profissionais. • 1984: algumas conquistas na área da saúde ainda foram obtidas pelo movimento da Reforma Sanitária, com o apoio de alguns parlamentares, movimentos de saúde, trabalhadores da saúde, acadêmicos e entidades, como o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES) e a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO). TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL 11 Esses acontecimentos se devem ao fortalecimento dos movimentos sociais e de saúde que se organizaram nos diversos espaços (universidades, sindicatos, comunidades e associações). Do contexto dos anos 1970 e 1980, nasceu o projeto da Reforma Sanitária, com a perspectiva de reformulação do sistema de saúde brasileiro, com acriação de um sistema único de saúde, acabando com o duplo comando do Ministério da Saúde e INAMPS, que executavam ações de forma contrária (AGUIAR, 2011; PAIM et al., 2012). 1978: Crise do Inamps O Inamps era o principal responsável pelo financiamento da atenção médica. Com o fim do chamado milagre econômico, a partir dos anos 80, aprofundou-se a crise da previdência. O Inamps passou a viver dificuldades financeiras por conta tanto da ampliação dos seus beneficiários quanto da estagnação das suas receitas, afetadas pela crise econômica iniciada em 1980 (BAPTISTA, 2007). FONTE: BAPTISTA, T. W. F. História das políticas de saúde no Brasil: a trajetória do Direito à saúde. In: MATTA, G. C.; MOURA, A. L. Políticas de saúde: a organização e a operacionalização do Sistema Único de Saúde. Rio de Janeiro: EPSJV/FIOCRUZ, 2007. Disponível em: https:// www.arca.fiocruz.br/handle/icict/26570. Acesso em: 6 nov. 2020. NOTA Dentre os principais problemas que conformaram a crise do Inamps (BRASIL, 2014a), é possível ressaltar: • serviços inadequados à realidade; • insuficiente integração dos diversos prestadores; • recursos financeiros insuficientes e cálculo imprevisto; • desprestígio dos serviços próprios; • superprodução dos serviços contratados; • rede de saúde ineficiente e desintegrada; • desorganização e sobreposição de serviços indutores de fraudes e corrupção. 2.6 NOVA REPÚBLICA (1985 A 2005) Com a situação política vigente no Brasil, abertura de um regime militar e com o Movimento Diretas Já, culminando com as eleições presidenciais, diversas entidades e movimentos sociais se mobilizam e estimulam a participação popular no processo de discussão da nova Carta Constitucional, o que foi favorável para se colocar a saúde na agenda política e difundir as propostas da Reforma Sanitária. UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS 12 Marcos importantes: • 1986: VIII Conferência Nacional de Saúde. Cria espaço para o debate dos problemas do sistema de saúde e de propostas de reorientação da assistência médica e de saúde pública. Criação do Conselho Nacional de Administração da Saúde Previdenciária (Conasp); iniciam-se as Ações Integradas em Saúde (AIS) e o Sistema Único Descentralizado de Saúde (Suds). • 1988: Constituição 1988 – Capítulo Saúde (art. 196 – 200). O SUS na Constituição de 1988 Após mais de uma década de luta do movimento da reforma sanitária brasileira, o direito à saúde no Brasil entra no texto constitucional, amparando, legalmente, toda a população brasileira no acesso aos serviços e às ações de saúde. O texto da saúde na Constituição surge no capítulo da Seguridade Social, ao lado da Previdência Social e da Assistência Social, caracterizando o espectro da proteção social brasileira. A Constituição de 1988 funda o SUS, terminando com quase um século de separação entre as ações de saúde pública e de atenção à saúde, que passam a ser planejadas e executadas de forma integrada com direção única em cada esfera do governo. FONTE: Brasil (2014a). NOTA • 1990: Criação e regulamentação do SUS • Lei n° 8.080/90 – Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Define os princípios e diretrizes do SUS. • Lei n° 8.142/90 – Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Com essas novas leis, o cuidado com a saúde passou a ser mais abrangente, permitindo os processos de descentralização e integralidade, ampliando o cuidado à população. Saúde para todos, acesso universal. • 1991: inicia o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs). • 1992: inicia o Programa Médico de Família em Niterói (RJ). • 1994: inicia o Programa Saúde da Família (PSF) no Brasil. TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL 13 • 1996: Evolução das Normas Operacionais Básicas do SUS – NOB/SUS –; Da versão NOB91 à NOB96. NOB 96 – Reorientação do modelo de atenção por meio da Atenção Básica em Saúde (financiamento para a atenção básica e saúde da família) (BRASIL, 2014a). • 1998: Implantação do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). • 1999-2000: Criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Evidencia o desenvolvimento institucional, por meio dessas agências reguladoras, tanto no campo epidemiológico e das práticas de saúde, como no acompanhamento dos planos de saúde (BRASIL, 2014a). • A partir de 2000: Houve a criação de diferentes programas, políticas e protocolos, como Samu, Proesf, PNH, Brasil Sorridente, Farmácia Popular do Brasil etc. Essas iniciativas enfocam políticas de saúde específicas, como ciclos de vida, gestão da clínica e linhas de cuidado. DICAS Título: Caminhos da Saúde Pública no Brasil Organizador: Jacobo Finkelman Editora Fiocruz Ano: 2002 328 p. Sinopse: Publicado como parte das comemorações do centenário da Organização Pan- Americana da Saúde (Opas) no Brasil, este livro reúne textos de diversas personalidades da saúde pública nacional, relatando a rica história a respeito dos desafios e das lutas que mudaram os perfis demográficos e epidemiológicos do país no decorrer no século XX. A obra traz, também, um relato do trabalho realizado pela Opas, desde sua fundação, em 1902, quando as doenças infecciosas eram seu foco de atenção, até os dias de hoje, em que o espectro de doenças se tornou mais complexo. Além do percurso histórico detalhado, o livro apresenta contribuições para o entendimento do processo de consolidação da saúde como um direito do cidadão e um dever do Estado, no Brasil, sendo capaz, no decorrer dos anos, de incorporar, na organização dos programas de saúde, os elementos teóricos-conceituais emergentes que sustentaram a evolução dos paradigmas na área. Acesse mais em: http://books.scielo.org/id/sd. UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS 14 3 CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A 8° CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE A partir de 1985, crescia um amplo movimento político setorial que teve, como pontos culminantes, a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde (VIII CNS 1986); os trabalhos técnicos desenvolvidos pela Comissão Nacional de Reforma Sanitária (CNRS), criada pelo Ministério da Saúde, em atendimento à proposta da VIII CNS; e o projeto legislativo de elaboração da Carta Constitucional de 1988, com um capítulo dedicado à saúde. Foram lançadas as diretrizes para a construção de um sistema descentralizado e único. Saúde é vista como dever do Estado. A da 8ª Conferência Nacional de Saúde teve cinco dias de debates, mais de quatro mil participantes, 135 grupos de trabalho e objetivos muito claros: contribuir para a formulação de um novo sistema de saúde e subsidiar as discussões sobre o setor na futura Constituinte. Foram realizadas entre 17 e 21 de março de 1986, foi um dos momentos mais importantes na definição do Sistema Único de Saúde (SUS) e debateu três temas principais: ‘A saúde como dever do Estado e direito do cidadão’, ‘A reformulação do Sistema Nacional de Saúde’ e ‘O financiamento setorial’. A VIII Conferência Nacional de Saúde (1986) foi o principal marco desse processo de formulação de um novo modelo de saúde pública universal, visando romper com a cisão estrutural entre saúde pública e medicina curativa individual, e com a intensa privatização que então caracterizava o sistema de saúde brasileiro. Reunindo um amplo espectro de alianças, a VIII CNS contou com a participação de milhares de representantes de diversas entidades da sociedade civil, profissionais de saúde, usuários do sistema e prestadores de serviços de saúde públicos (PONTE, 2010). O reconhecimento da saúde como direito inerente à cidadania, o consequente dever do Estado na promoção desse direito, a instituição de um sistema único de saúde, tendo, como princípios, a universalidade e integralidade da atenção; a descentralização,com comando único em cada esfera de governo, como forma de organização; e a participação popular, como instrumento de controle social, foram teses defendidas na VIII CNS e na CNRS, que se incorporaram ao novo texto constitucional (MATTA, 2007). Em 1988, foi aprovada a Constituição, que, no contexto, estabelece a saúde como “Direito de todos e dever do Estado”, e relata, na Seção II: “as necessidades individuais e coletivas são consideradas de interesse público e o atendimento um dever do Estado; a assistência médico-sanitária integral passa a ter caráter universal e se destina a assegurar a todos o acesso aos serviços; esses serviços devem ser hierarquizados segundo parâmetros técnicos e a sua gestão deve ser descentralizada”. TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL 15 Um ponto importante que a Constituição trouxe, além do custeio do Sistema de Saúde, que é mantido, essencialmente, por recursos dos governos municipais, estaduais e da União, são as ações governamentais submetidas a órgãos colegiados oficiais, os Conselhos de Saúde, com representação paritária entre usuários e prestadores de serviços. Um ponto importante da Constituição Federal de 1988 foi a definição do conceito de saúde, incorporando novas dimensões. Para se ter saúde, é preciso ter acesso a um conjunto de fatores, como alimentação, moradia, emprego, lazer e educação. O artigo 196 cita que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Com esse artigo, fica definida a universalidade da cobertura do Sistema Único de Saúde. O SUS faz parte das ações definidas na Constituição como sendo de “relevância pública”, sendo atribuídos, ao poder público, a regulamentação, a fiscalização e o controle das ações e dos serviços de saúde (BRASIL, 2014a). Conforme a Constituição Federal de 1988, o SUS é definido, pelo artigo 198, do seguinte modo: As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada, e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I- Descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II- Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III- Participação da comunidade. Parágrafo único – O Sistema Único de Saúde será financiado com recursos do orça mento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes (BRASIL, 2012). NOTA A concepção do SUS estava baseada na formulação de um modelo de saúde voltado para as necessidades da população, procurando resgatar o compromisso do Estado para com o bem-estar social, especialmente, no que refere à saúde coletiva, se consolidando como um dos direitos da cidadania. Procederam-se negociações para a promulgação da lei complementar, esta que daria bases operacionais à reforma e iniciaria a construção do SUS no Brasil. Ainda, permitiria o acesso universal à saúde para a população brasileira. UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS 16 FIGURA 4 – ULYSSES GUIMARÃES, PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE, SEGURA UM EXEMPLAR DA NOVA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA FONTE: Ponte (2010, p. 238) A História da Saúde Pública no Brasil – 500 Anos na Busca de Soluções. Essa história começa com a chegada dos colonizadores portugueses, quando os problemas sanitários ficaram mais graves e começamos a busca de soluções para as questões de saúde dos brasileiros. Brasil Colônia, Brasil Império, Brasil República, um passeio pela história da saúde pública no país, sempre marcada pelas diferenças sociais e pela falta de prioridade nos investimentos do governo. Apesar dos muitos avanços e conquistas, continuamos na busca de soluções. Produção: Vibe Films Direção: Sylvia Jardim Distribuição: VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz Ano da produção: 2015 Acesse: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/16186 ou https://www.youtube.com/watch ?v=7ouSg6oNMe8. A História da Saúde Pública no Brasil – 500 Anos na Busca de Soluções. DICAS TÓPICO 1 — HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA NO BRASIL 17 Direito à saúde A saúde consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no artigo XXV, que define que todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de lhe assegurar, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive, alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis. Ou seja, o direito à saúde é indissociável do direito à vida, que tem, por inspiração, o valor de igualdade entre as pessoas. No contexto brasileiro, o direito à saúde foi uma conquista do movimento da Reforma Sanitária, refletindo na criação do Sistema Único de Saúde (SUS), pela Constituição Federal de 1988, cujo artigo 196 dispõe que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”. No entanto, o direito à saúde não se restringe apenas a poder ser atendido no hospital ou em unidades básicas. Embora o acesso a serviços tenha relevância, como direito fundamental, o direito à saúde gera, também, a garantia ampla de qualidade de vida, em associação a outros direitos básicos, como educação, saneamento básico, atividades culturais e segurança. “A criação do SUS está diretamente relacionada à tomada de responsabilidade por parte do Estado. A ideia do SUS é maior do que simplesmente disponibilizar postos de saúde e hospitais para que as pessoas possam acessar quando precisem, a proposta é que seja possível atuar antes disso, através dos agentes de saúde, estes que visitam frequentemente as famílias para serem antecipados os problemas, além de conhecer a realidade de cada família, encaminhando as pessoas para os equipamentos públicos de saúde” (GUIA DE DIREITOS). FONTE: <https://pensesus.fiocruz.br/direito-a-saude>. Acesso em: 6 nov. 2020. IMPORTANT E 18 Neste tópico, você aprendeu que: • A Constituição de 1988 permitiu, ao Brasil, estabelecer garantias fundamentais de saúde, educação e condicionantes sociais. Com isso, se institucionalizaram direitos fundamentais, como a saúde, previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. • Do movimento da Reforma Sanitária originou o Sistema Único de Saúde (SUS), através da Constituição Federal de 1988, tendo como base a 8ª Conferência Nacional de Saúde. • O artigo 196 menciona que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”. • Antes da criação do SUS, a saúde era direcionada apenas para os trabalhadores que contribuíam, ou seja, a assistência à saúde não era direcionada a todos. RESUMO DO TÓPICO 1 19 1 Para realizar um processo adequado de aprendizagem, é preciso construir o conhecimento, assim, uma das ferramentas utilizadas é o mapa mental, ou “mapa da mente”, nome dado para um tipo de diagrama, sistematizado. Para construir um mapa mental: 1- Inicie, no centro da folha, com uma imagem do assunto. 2- Use imagens, símbolos e dimensões em todo o mapa mental. 3- Selecione as palavras-chave e as escreva usando letras minúsculas ou maiúsculas. 4- Coloque cada palavra/imagem sozinha e na sua própria linha. 5- As linhas devem estar conectadas a partir da imagem central. 6- As linhas centrais são mais grossas, orgânicas e se afinam à medida que irradiam para fora do centro. 7- Faça as linhas do mesmo comprimento que a palavra/imagem que suportam. 8- Use várias cores em todo o mapa mental, para a estimulação visual e, também, para codificarou agrupar. 9- Desenvolva seu próprio estilo pessoal ao criar seus mapas mentais. 10- Use ênfases e mostre associações no seu mapa mental. 11- Mantenha o mapa mental claro, usando hierarquia radial, ordem numérica ou contornos para agrupar ramos. FONTE: <https://www.mapamental.org/dicas/o-que-e-mapa-mental/>. Acesso em: 6 nov. 2020. Faça um mapa mental da linha do tempo da história da saúde pública no Brasil. 2 A Saúde como Política Pública: em que consistem as políticas públicas relacionadas à saúde no Brasil? As políticas públicas de saúde correspondem a todas as ações de governo que regulam e organizam as funções públicas do Estado para o ordenamento setorial. Referem-se tanto a atividades governamentais executadas diretamente pelo aparato estatal quanto àquelas relacionadas à regulação de atividades realizadas por agentes econômicos. Configuram uma agenda vasta de temas, que expressam não apenas o leque e a abrangência dos problemas que exigem solução política, mas, principalmente, os anseios da sociedade, o contexto e os resultados da disputa entre os diferentes atores sociais. A partir da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que instituiu a Seguridade Social como o padrão de proteção social a ser institucionalizado no país, e, neste âmbito, a saúde como direito de todos e dever do Estado, as políticas de saúde vêm sendo amplamente discutidas e definidas com vistas ao reordenamento setorial necessário ao cumprimento dos preceitos constitucionais. AUTOATIVIDADE 20 Vale lembrar, ainda, que a concepção ampliada de saúde adotada na Constituição, e o entendimento de que a garantia desse direito exige, do Estado, políticas econômicas e sociais orientadas à redução de riscos de doenças e outros agravos, não apenas ampliam o espectro das políticas públicas relacionadas à saúde, mas exigem, dos formuladores das políticas de saúde, a interlocução com outros setores. Pode-se afirmar que as políticas públicas setoriais e o debate político estão predominantemente referidos, na história recente, ao processo de reconfiguração das atividades governamentais relativas à saúde, particularmente, no que se refere à organização, implementação e financiamento do Sistema Único de Saúde e às possibilidades e limites da efetivação dos princípios e diretrizes constitucionais em toda a sua extensão. FONTE: LUCCHESE, P. T. R. Políticas públicas em saúde pública. São Paulo: BIREME/OPAS/ OMS, 2004, p. 90. A partir da reflexão exposta, elabore um mapa mental com base nos conhecimentos adquiridos ao longo deste tópico. 3 A VIII Conferência Nacional de Saúde (1986) foi o principal marco desse processo de formulação de um novo modelo de saúde pública universal, visando romper com a cisão estrutural entre saúde pública e medicina curativa individual, e com a intensa privatização que então caracterizava o sistema de saúde brasileiro (PONTE, 2010). Analise as alternativas e assinale a CORRETA: a) ( ) A VIII CNS não teve a participação de representantes de diversas entidades da sociedade civil, profissionais de saúde, usuários do sistema e prestadores de serviços de saúde públicos. b) ( ) A VIII Conferência Nacional de Saúde foi um evento realizado somente para prestadores de serviços em saúde. c) ( ) Durante a VIII Conferência foram lançadas as diretrizes para a construção de um sistema descentralizado e único. d) ( ) A Saúde não foi um tema desse evento. e) ( ) Um dos pontos discutidos fora em relação a nova reformulação do INAMPS. 4 Descreva o papel da 8ª Conferência de Saúde para a constituição do Sistema Único de Saúde. 5 O ano de 1990 foi descrito como o ano de criação e regulamentação do SUS. Sobre esse tema, SUS, assinale a alternativa CORRETA: ( ) Lei n° 8.080/90 – Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Define os princípios e diretrizes do SUS. 21 ( ) Lei n° 8.142/90 – Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. ( ) As leis n° 8.080/90 e n° 8.142/90 referem no seu texto apenas sobre o financiamento do SUS. ( ) No ano de 1991 inicia o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs). ( ) No ano de 2002 inicia o Programa Saúde da Família (PSF) no Brasil. a) ( ) V – V – V – V – F. b) ( ) V – V – F – V – F. c) ( ) F – F – V – F – V. d) ( ) V – F – V – F – V. e) ( ) F – V – F – V – F. 22 23 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 O SUS 1 INTRODUÇÃO O desejo da constituição de um único sistema de saúde foi construído com o envolvimento de um amplo movimento político pela reforma do setor saúde, a Reforma Sanitária, envolvendo diferentes atores sociais, como intelectuais da área da saúde pública, profissionais da saúde com atuação nas áreas de pesquisa, formação de recursos humanos, serviços e formulação de políticas, movimentos populares pela saúde e movimento sindical. Decorreu nos anos 1970 e 1980, dando bases para um movimento cada vez mais forte que questionava o sistema de saúde governamental. As propostas que davam bases à nova proposição se caracterizavam pela democratização do sistema, com participação popular, universalização dos serviços, defesa do caráter público do sistema de saúde e descentralização. Ao mesmo tempo, o agravamento da crise da Previdência Social demonstrava a necessidade de uma separação, com isso, lançaram-se as bases para o Sistema Único de Saúde (SUS), através da Constituição Federal de 1988. 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) Após mais de uma década de luta do movimento da reforma sanitária brasileira, o direito à saúde, no Brasil, entra no texto constitucional, amparando, legalmente, toda a população brasileira no acesso aos serviços e às ações de saúde (BRASIL, 2014a). Um grande avanço para a saúde pública no Brasil foi o texto da saúde na Constituição de 1988, quando surge no capítulo da Seguridade Social ao lado da Previdência Social e da Assistência Social, caracterizando o espectro da proteção social para a população brasileira. 24 UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS FIGURA 5 – VIII CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE LANÇA O TEXTO INICIAL SOBRE A SAÚDE PARA A CONSTITUIÇÃO DE 1988 FONTE: Ponte (2010, p. 243) A Constituição de 1988 funda o SUS, terminando com quase um século de separação entre as ações de saúde pública e de atenção à saúde, que passam a ser planejadas e executadas de forma integrada com direção única em cada esfera de governo (BRASIL, 2014a). A criação e a regulamentação do SUS se dão por duas leis, as quais se denominam como Leis Orgânicas da Saúde: • Lei n° 8.080/90 – Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Define os princípios e diretrizes do SUS. • Lei n° 8.142/90 – Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Vamos falar dessas leis mais adiante. ESTUDOS FU TUROS 2.1 PAPEL DO SUS O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país (BRASIL, 2020a). TÓPICO 2 — O SUS 25 O SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público de saúde, sem discriminação, permitiu o acesso de todos os brasileiros ao cuidado da saúde. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando à prevenção e à promoção da saúde. A gestão das ações e dos serviçosde saúde deve ser solidária e participativa entre os três entes da Federação: a União, os Estados e os Municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tanto ações quanto os serviços de saúde. Engloba a atenção primária, média e alta complexidades, os serviços de urgência e emergência, a atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica (BRASIL, 2020a). 2.2 ESTRUTURA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) Um ponto importante é entender como é a composição do Sistema Único de Saúde (SUS), além de como funciona a interação entre Municípios, Estados, Distrito Federal e a União. Sua composição é dada pelo Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e Secretaria Municipal de Saúde, conforme determina a Constituição Federal, sendo que cada ente tem as suas responsabilidades na gestão e organização da saúde para a população. 2.2.1 Ministério da Saúde Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura: Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobras, Inca, Into e oito hospitais federais (BRASIL, 2020a). 2.2.2 Secretaria Estadual de Saúde (SES) Participa da formulação das políticas e ações de saúde, presta apoio aos Municípios em articulação com o Conselho Estadual e participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), para aprovar e implementar o plano estadual de saúde (BRASIL, 2020a). 26 UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS 2.2.3 Secretaria Municipal de Saúde (SMS) Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços de saúde em articulação com o Conselho Municipal e a esfera estadual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde. 2.2.4 Aspectos operacionais do SUS • Comissão Intergestores Tripartite (CIT) É uma comissão formada por gestores federais, estaduais e municipais que negociam e pactuam em relação aos aspectos operacionais do SUS. • Comissão Intergestores Bipartite (CIB) É o fórum de negociação entre o Estado e os Municípios na implantação e operacionalização do Sistema Único de Saúde, SUS. Como colegiado bipartite, a CIB é composta paritariamente por nove representantes da Secretaria de Estado da Saúde e por nove do Conselho de Secretários Municipais de Saúde, COSEMS. • Conselho Nacional de Secretário da Saúde (CONASS) O Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS) é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, que se pauta pelos princípios que regem o direito público, e que congrega os secretários e seus substitutos legais – gestores oficiais das Secretarias de Estado de Saúde dos Estados e do Distrito Federal. Tem sede e foro na Capital da República. O CONASS constitui um organismo da direção do Sistema Único de Saúde (SUS), com mandato de representar politicamente os interesses comuns dos secretários de saúde dos Estados e do Distrito Federal, perante as demais esferas de governo e outros parceiros, em torno de estratégias comuns de ação entre os gestores estaduais de saúde (CONASS, 2020). • Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tratar de matérias referentes à saúde (BRASIL, 2020a). • Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) São reconhecidos como entidades que representam os entes municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que dispuserem seus estatutos (BRASIL, 2020a). TÓPICO 2 — O SUS 27 DICAS 2.3 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO SUS O Sistema Único de Saúde (SUS), criado pela constituição de 1988, é um conjunto de todas as ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta ou indireta, que pode ser complementado pelos serviços de saúde ofertados pela iniciativa privada. 2.3.1 Princípios do SUS • Universalidade A saúde é um direito de cidadania de todas as pessoas, e cabe, ao Estado, assegurar esse direito, sendo que o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente do sexo, raça, ocupação, ou outras características sociais ou pessoais (BRASIL, 2020a). O CONASS disponibiliza o Guia Di gital de Apoio à Gestão Estadual do SUS. FONTE: <http://www.conass.org.br/guiainformacao/>. Acesso em: 9 nov. 2020. Gestão Pública Administração Pública Planejamento e oCiclo Orçamentário Gestão Financeira Regulação Informações para a gestão do SUS 28 UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 2012). A universalidade do Sistema Único de Saúde (SUS) se apresenta não apenas como o direito à saúde garantido mediante políticas públicas, mas aponta para o direito à vida e à igualdade de acesso sem distinção de raça, sexo, religião ou qualquer outra forma de discriminação do cidadão brasileiro. • Equidade O objetivo desse princípio é diminuir desigualdades. Apesar de todas as pessoas possuírem direito aos serviços, as pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades distintas. Em outras palavras, equidade significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior (BRASIL, 2020a). FIGURA 6 – EQUIDADE FONTE: <https://cartaodosus.info/principios-do-sus/>. Acesso em: 9 nov. 2020. • Integralidade Este princípio considera as pessoas como um todo, atendendo a todas as suas necessidades. Para isso, é importante a integração de ações, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. Juntamente, o princípio da integralidade pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, para assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e qualidade de vida dos indivíduos (BRASIL, 2020a). A Constituição afirma que o atendimento integral deve priorizar as ações preventivas, sem prejuízo das ações de assistência. Isso significa afirmar que o usuário do SUS tem o direito a serviços que atendam às necessidades, ou seja, da vacina ao transplante, com prioridade para o desenvolvimento de ações preventivas (BRASIL, 2014a). IGUALDADE EQUIDADE TÓPICO 2 — O SUS 29 • Princípios organizativos – Descentralização No SUS, a diretriz da descentralização corresponde à distribuição de poder político, de responsabilidades e de recursos da esfera federal para a estadual e a municipal. Ou seja, estamos falando de uma desconcentração do poder da União para os Estados e Municípios, tendo, como objetivo, a consolidação dos princípios e diretrizes do SUS. Em cada esfera do governo, há uma direção do SUS: na União, o Ministério da Saúde; nos Estados e Distrito Federal, as secretarias estaduais de saúde ou órgão equivalente; e, nos Municípios, as Secretarias Municipais de Saúde (BRASIL, 2014a). • Princípios organizativos – Regionalização e hierarquização Essa diretriz diz respeito a uma organização do sistema que deve focar na noção de território, a partir da qual se determinam perfis populacionais, indicadores epidemiológicos, condições de vida e suporte social que devem nortear as ações e serviços de saúde de uma região. Essa concepção aproxima a gestão municipal dos problemas de saúde, das condições de vida e da cultura que estão presentes nos distritos ou regiões que compõem o município. A lógica proposta é: quanto mais perto da população, maior será a capacidade de o sistema identificar as necessidades de saúde, e melhor será a forma de gestão do acesso e dos serviços para a população (BRASIL, 2014a). A regionalização deve sernorteada pela hierarquização dos níveis de complexidade requerida pelas necessidades de saúde das pessoas. Um ponto importante é a orientação da rede de ações e serviços de saúde, orientada pelo princípio da integralidade. • Princípios organizativos – Participação da comunidade A participação da comunidade se tornou uma diretriz da organização e da operacionalização do SUS em todas as suas esferas de gestão, confundindo-se com um princípio. Para isso, devem ser criados os Conselhos e as Conferências de Saúde, que visam formular estratégias, controlar e avaliar a execução da política de saúde (BRASIL, 2020a). 30 UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS Conselhos de Saúde O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (nacional, estadual ou municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive, nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões são homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. Cabe, a cada Conselho de Saúde, definir o número de membros, que obedecerá a uma composição: 50% de entidades e movimentos representativos de usuários; 25% de entidades representativas dos trabalhadores da área da saúde; e 25% de representação do governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos. FONTE: Ponte (2010) e Brasil (2020a) NOTA O Que É o SUS: e-book interativo Autores: Jairnilson Silva Paim e outros Ano: 2015 Acesso aberto, 93 páginas Sinopse: O livro O Que É o SUS – um dos títulos mais procurados da Editora Fiocruz, já tendo sido reimpresso cinco vezes – busca esclarecer o que é, o que não é, o que faz, o que deve fazer e o que pode fazer o SUS. Pela importância do tema e da obra, O Que É o SUS foi selecionado para se transformar no primeiro e-book interativo da Editora Fiocruz, no âmbito do primeiro edital da Faperj, especialmente dedicado às editoras universitárias. O objetivo do projeto não era mudar o suporte do papel para a tela, mas oferecer uma nova experiência de leitura, em que vídeos, áudios, galerias de fotos, infográficos e outros recursos ora complementassem, ora substituíssem partes do texto original, criando uma nova textualidade eletrônica. O resultado é fruto de uma construção coletiva e, antes, do consentimento do autor, o professor da Ufba Jairnilson Silva Paim, que, generosamente, seguiu "o exemplo de João Ubaldo Ribeiro, de não interferir na transformação de seus livros em filmes, novelas ou minisséries, pois, além de outras linguagens, na realidade, tais iniciativas expressam novas criações". Uma nova criação que, assim como o livro de 2009, busca contribuir para a consolidação, o fortalecimento e a expansão do SUS. FONTE: <http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/15/>. Acesso em: 9 nov. 2020. DICAS TÓPICO 2 — O SUS 31 3 LEGISLAÇÃO SUS Os fundamentos do SUS estão expressos na seção II do capítulo II do título VIII da Constituição Federal de 1988, que trata da Seguridade Social. Essa seção estabelece os direitos dos usuários, os deveres do Estado e as diretrizes da organização do sistema; como será financiado esse sistema; a participação da iniciativa privada e de empresas de capital estrangeiro na assistência à saúde; as atribuições do sistema; e a admissão de agentes comunitários de saúde e de combate às endemias (BRASIL, 2015). O alicerce legal do SUS é formado por três documentos, segundo Ponte (2010), que expressam os elementos essenciais da organização: 1- a Constituição Federal de 1988, na qual a saúde é um dos setores que estruturam a seguridade social, ao lado da previdência e da assistência social, em especial na seção II, artigos 196 a 200; 2- a Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, também conhecida como Lei Orgânica da Saúde, que dispõe, principalmente, sobre a organização e regulação das ações e serviços de saúde em todo o território nacional; 3- a Lei n° 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que estabelece o formato da participação popular no SUS e dispõe sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. 3.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 A Constituição Federal de 1988 define o conceito de saúde, incorporando novas dimensões, ou seja, para se ter saúde, é preciso ter acesso a um conjunto de fatores, como alimentação, moradia, emprego, lazer e educação. A partir desse conceito ampliado, vê-se a concepção de saúde além da ausência de doença, e norteia a necessidade de se constituir um sistema que abranja todos os cuidados necessários. O artigo 196 cita que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Com esse artigo, fica definida a universalidade da cobertura do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2007). No artigo 198 da Constituição Federal de 1988: As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada, e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I- Descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II- Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; 32 UNIDADE 1 — SAÚDE PÚBLICA, SUS E APS III- Participação da comunidade Parágrafo único – O Sistema Único de Saúde será financiado com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes (BRASIL, 2012). O texto constitucional demonstra, claramente, que a concepção do SUS estava baseada na formulação de um modelo de saúde voltado para as necessidades da população, procurando resgatar o compromisso do Estado para com o bem- estar social, especialmente, no que refere à saúde coletiva, consolidando-o como um dos direitos da cidadania (BRASIL, 2007). 3.2 LEI N° 8.080: LEI ORGÂNICA DA SAÚDE A Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. A lei regula, em todo o território nacional, as ações e os serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas, de direito público ou privado (BRASIL, 1990). A Lei n° 8.080/90 institui o Sistema Único de Saúde, constituído pelo conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta, e das fundações mantidas pelo poder público. Um ponto importante é a definição que a iniciativa privada pode participar do Sistema Único de Saúde em caráter complementar, ou seja, quando há a necessidade de complementar um serviço existente. O caráter complementar é definido no artigo 199 da Constituição Federal de 1988, que prevê que as instituições privadas podem participar de forma complementar ao Sistema Único de Saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o SUS são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal de 1988, obedecendo, ainda, a princípios organizativos e doutrinários (BRASIL, 2007), como: • universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; • integralidade de assistência, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; • equidade; • descentralização político-administrativa com direção única em cada esfera
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