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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Curso de Medicina Veterinária Luana Cabral de Melo Semiologia do Sistema Endócrino. Nova Iguaçu 2022 INTRODUÇÃO 3 SISTEMA ENDÓCRINO 4 HORMÔNIOS 5 Hormônios que atuam em receptores de superfície de membrana 5 Hormônios peptídicos e protéicos 5 Catecolaminas 5 Eicosanóides 6 Hormônios que atuam em receptores no núcleo celular 6 Hormônios esteróides 6 Hormônios tireoidianos 6 VIAS DE SINALIZAÇÃO 8 TIPOS DE RECEPTORES 9 Receptores acoplados a canais de íons 10 Receptores enzimáticos 10 Sistema adenilato-ciclase-AMPc acoplado à proteína G 10 Sistema fosfolipase C 11 Receptores tiroquinases 12 Receptores de integrina 13 Receptores de núcleo celular 13 EIXO HIPOTÁLAMO-HIPOFISÁRIO 14 Hipotálamo 14 Hipófise 14 Adeno-hipófise 14 Neuro-hipófise 14 Sistema porta hipotálamo-hipofisário 15 GH 15 Funções do GH 16 Regulação do GH 17 Efeitos do GH 17 Ossos e cartilagem 17 Órgãos internos 18 Metabolismo das proteínas 18 Metabolismo dos carboidratos 18 Metabolismo dos lipídios 18 Principais síndromes 19 Tumor hipofisário somatotrópico 19 Acromegalia iatrogênica 19 1 Vacas leiteiras 19 Prolactina 19 GLÂNDULAS ENDÓCRINAS 21 Glândula Tireóide 21 Hipotiroidismo 22 Bócio por deficiência de iodo 22 Bociógenos 22 Tireoidite autoimune 23 Atrofia idiopática da tireoide 23 Secundário a edema hipofisário 23 Hipertireoidismo 23 Doença de Graves 24 ROTEIRO DE EXAME FÍSICO- TIREÓIDE 24 Inspeção geral do paciente 24 Inspeção: 25 Palpação: 25 Glândulas Paratireóide 25 Funções do paratormônio 25 Calcitonina da tireoide 26 Funções da calcitonina 27 Glândulas adrenais 27 Mineralocorticóides 27 Aldosterona 28 Peptídeo natriurético atrial (ANP) 28 Glicocorticóides 28 Cortisol 29 Andrógenos adrenais 30 Hipoadrenocorticismo 30 Hiperadrenocorticismo 31 Diagnóstico 32 Bibliografia consultada 33 2 INTRODUÇÃO O sistema endócrino é formado por tecidos especializados secretores de substâncias químicas responsáveis por regularem a homeostase da maioria das funções biológicas. Essas glândulas são chamadas de endócrinas e a substância secretada por elas de hormônios. Os hormônios transitam pelo corpo através da corrente circulatória atingindo células alvo e se ligando a receptores específicos, sendo responsáveis pelo funcionamento e regulação de diversos órgãos, crescimento e características morfológicas e comportamentais. 3 SISTEMA ENDÓCRINO O sistema endócrino é formado por glândulas endócrinas secretoras de hormônios que podem ser lançados na corrente sanguínea ou interstício de células vizinhas, podendo atuar de forma específica ou em todo corpo. Sua atividade é controlada por um mecanismo de autorregulação chamado feedback que funciona através da detecção dos níveis de cada hormônio. Quando a concentração de hormônio atinge um nível abaixo do necessário para a execução de alguma atividade fisiológica havendo a necessidade das células endócrinas produzirem hormônios temos um feedback positivo, sendo interrompido quando a concentração do hormônio atinge níveis acima dos necessários, dando um feedback negativo. A comunicação entre as células ocorre por dois tipos de sinais fisiológicos: os elétricos e os químicos. Os sinais elétricos ocorrem através de mudanças no potencial de membrana das células e os sinais químicos por moléculas secretadas no meio extracelular que atuam como ligantes de proteínas para iniciar uma resposta celular. A comunicação entre as células podem ser locais por meio de junções comunicantes que criam pontes citoplasmáticas permitindo a transferência de sinais elétricos e químicos pelo citoplasma de células vizinhas, por sinais dependentes de contato que ocorre quando uma molécula se liga à um receptor de membrana na célula-alvo e através de substâncias químicas que se difundem pelo meio extracelular para atuar sobre células adjacentes, ou comunicação de longa distância que pode ocorrer através de impulsos elétricos disparados por neurônios ou por sinais químicos produzidos por células endócrinas lançados na corrente sanguínea. Quando as substâncias químicas secretadas atuam em células vizinhas, temos uma sinalização parácrina, porém quando um sinal químico atua sobre a própria célula temos uma sinalização autócrina. Os hormônios atingem apenas células com receptores de membranas específicos que quando se ligam a eles induzem a modificações na estrutura molecular, permitindo a interação desse receptor com outras células mensageiras gerando reações intracelulares fazendo com que a célula alvo desempenhe sua função. Essas interações intercelulares são mediadas por nucleotídeos cíclicos, elos de conexões entre receptores e outras moléculas intracelulares que precisam de ativação e por isso são chamados de segundo mensageiro. 4 HORMÔNIOS Os hormônios podem ser classificados em endócrinos quando produzidos por células endócrinas e lançados na corrente sanguínea, neurormônios quando produzidos por neurônios e lançados através de impulsos elétricos na corrente sanguínea para atingir células-alvo distantes, citocinas que são hormônios do sistema imune produzidos por células epiteliais especializadas, atuando de forma parácrina e endócrina sistêmica, os feromônios que são produzidos e liberados na superfície das mucosas do corpo, estimulando reações em outros animais. Com base na localização dos receptores em que os hormônios atuam, eles podem se classificar em hormônios atuantes em receptores de superfície celular e hormônios atuantes em receptores no núcleo das células. Hormônios que atuam em receptores de superfície de membrana São grandes e hidrossolúveis, formados por centenas de aminoácidos, atuantes em receptores de superfície de membrana das células-alvo, podendo ser classificados em: Hormônios peptídicos e protéicos São peptídicos quando a cadeia de aminoácidos formadora é menor que 10 e protéicos quando possuem mais de 10 aminoácidos de comprimento. Esses hormônios são chamados de pró-hormônios, transcritos a partir do DNA e armazenados em células endócrinas dentro de vesículas que quando recebem estímulos são clivados e transformados em hormônios verdadeiros. Catecolaminas São neurotransmissores produzidos pelas células da medula adrenal que utiliza a tirosina como substrato para sintetização de noradrenalina, adrenalina e dopamina. 5 Eicosanóides São sintetizados a partir de ácidos graxos insaturados e sua atuação tende a ser mais parácrina que endócrina, difundindo-se entre as células vizinhas para atuar no processo de reparação celular ou difundindo-se por arteríolas próximas para aumentar o fluxo sanguíneo em áreas lesionadas. Hormônios que atuam em receptores no núcleo celular Hormônios esteróides Derivados do colesterol, são produzidos pelo córtex adrenal, pelas glândulas sexuais, pela placenta, pelos rins e por outros tecidos através do sistema de feedback. Por serem hidrossolúveis eles são difundidos no organismo por proteínas carreadoras, sendo uma pequena parte transportada de forma livre no meio extracelular que é responsável pela ação nas células-alvo. Assim, a concentração de hormônios livres na corrente sanguínea está intimamente ligada à concentração de hormônios ligados às proteínas carreadoras. Hormônios tireoidianos São hormônios hidrossolúveis sintetizados a partir do aminoácido tirosina, carreados pela corrente sanguínea através de proteínas carreadoras especiais para atingir células-alvo que possuem receptores tireoidianos em seu núcleo. Os hormônios que tem sua atuação em receptores localizados no núcleo das células quando se ligam aos seus receptores provocam mudanças no formato do receptor, permitindo que ocorra a ligação do complexo em um fragmento de DNA iniciando a transcrição e tradução de determinados genes, como também pode exercer função inibitória, impedindo a transcrição e tradução dos genes através de feedback negativo. 6 PRINCIPAIS GLÂNDULAS DO SISTEMA ENDÓCRINO GLÂNDULA HORMÔNIO SECRETADO TECIDO ALVO AÇÃO HIPOTÁLAMO HORMÔNIOSDA HIPÓFISE Lobo anterior da hipófise estimula ou inibe a secreção dos hormônios HIPOTÁLAMO (produz) LOBO POSTERIOR DA HIPÓFISE (estoca e libera) OXITOCINA ADH (hormônio antidiurético) útero glândulas mamárias Rins (ductos coletores) estimula a contração estimula a ejeção do leite para os ductos estimula a reabsorção de água ADENO-HIPÓFISE LOBO ANTERIOR DA HIPÓFISE GH (Hormônio de crescimento) PROLACTINA TSH (hormônio estimulante da tireóide) ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) geral glândula mamária glândula tiróide cortex adrenal estimula o crescimento por estimular a síntese de proteínas estimula a secreção do leite estimula secreção de hormônios pelas glândulas tireóides; e o aumento de tamanho da tiróide. estimula a secreção de hormônios corticais pela adrenal ADENO-HIPÓFISE ● FSH (hormônio estimulante folicular) ● LH (hormônio luteinizante) gônadas Estimulam funções das gônadas GLÂNDULA TIREÓIDE ● T4 (tiroxina) ● T3 (triiodotiro-xina) - calcitonina geral ossos Estimulam a velocidade do organismo. inibição da remoção de cálcio dos ossos quando o nível de cálcio no sangue diminui 7 VIAS DE SINALIZAÇÃO Todo hormônio é um ligante, ou seja, um “primeiro mensageiro” que se liga a uma proteína receptora e ativa uma resposta em determinada célula-alvo. Essa ligação ativa o receptor que irá ativar uma ou mais moléculas sinalizadoras intracelulares. A última molécula sinalizadora ativada gera uma resposta que terá como resultado a modificação de proteínas existentes ou a sintetização de novas. Os receptores proteicos podem estar localizados no núcleo celular, no citosol ou na membrana como proteínas integrais. O local onde a ligação entre o hormônio e o receptor irá ocorrer depende se a molécula sinalizadora será lipofílica ou lipofóbica. Quando um hormônio se liga a seu receptor, ele provoca uma mudança na conformação da molécula do receptor, particularmente na porção intracelular, desencadeando a produção de um “segundo mensageiro”, que altera a fisiologia da célula. A transdução de sinal é a ligação do hormônio com seu receptor, causando uma cascata de eventos até que haja a modificação na fisiologia da célula-alvo. 8 TIPOS DE RECEPTORES Os receptores podem ser proteínas acopladas à membrana ou uma estrutura, ou mesmo uma célula especializada na transdução de estímulos em sinais elétricos. FIGURA 1 Receptores extracelulares e intracelulares 9 Receptores acoplados a canais de íons São os tipos mais simples de receptores e geralmente são neurotransmissores localizados em neurônios ou células musculares. A ativação do receptor acoplado ao canal faz com que o canal se abra ou feche o que altera a permeabilidade da célula para um determinado íon, produzindo a cascata de eventos intracelulares de forma mais rápida, gerando uma mudança no potencial da membrana da célula que cria um sinal elétrico capaz de alterar as proteínas sensíveis de voltagem. Receptores enzimáticos Possuem duas regiões receptoras sendo uma na face extracelular da membrana e na face citoplasmática, podendo ser partes de uma mesma proteína ou em proteínas separadas. Alguns canais iônicos estão ligados a receptores acoplados à proteína G, que quando se liga ao hormônio, suas vias abrem ou fecham os canais iônicos. Os tipos de ligantes que se ligam aos receptores acoplados à proteína G incluem: hormônios, fatores de crescimento, moléculas odorantes, pigmentos visuais e neurotransmissores. As proteínas G receberam seu nome pelo fato de se ligarem aos nucleotídeos da guanosina e possuem três subunidades, α, β e γ. A Gα geralmente está ligada ao difosfato de guanosina (GDP) e quando uma hormônio se liga ao seu receptor, acarreta na mudança na conformação do segmento interno do receptor, onde a Gα troca o GDP pelo trifosfato de guanosina (GTP) que faz com que ela fique ativa. Quando ativadas, as proteínas G abrem canais iônicos nas membranas que alteram as atividades enzimáticas no lado citoplasmático da membrana. As proteínas G ligadas às enzimas amplificadoras constituem a maior parte dos mecanismos de transdução de sinal conhecidos, sendo duas enzimas amplificadoras as mais comuns para os receptores acoplados à proteína G adenilato-ciclase e a fosfolipase C. Sistema adenilato-ciclase-AMPc acoplado à proteína G Nesse sistema, a adenilato-ciclase é a enzima amplificadora que converte o ATP em uma molécula de segundo mensageiro, o AMP cíclico (AMPc), que irá ativar a proteína-cinase A 10 (PKA), que, por sua vez, fosforila outras proteínas intracelulares como parte da cascata de sinalização. FIGURA 2 - Proteína G sistema adenilato ciclase Sistema fosfolipase C Quando uma molécula sinalizadora ativa a via acoplada à proteína G, a fosfolipase C (PLC) converte o bifosfato de fosfatidilinositol, que é um fosfolipídio de membrana, em duas moléculas de segundos mensageiros derivados de lipídeos: o diacilglicerol (DAG) e o trifosfato de inositol (IP3). O DAG é um diglicerídeo apolar que permanece na porção lipídica da membrana e interage com a proteína-cinase C (PKC), uma enzima ativada por Ca2 associada à face citoplasmática da membrana celular. A PKC fosforila proteínas citosólicas que continuam a cascata sinalizadora. O IP3 é uma molécula mensageira solúvel em água que deixa a membrana e entra no citoplasma, onde se liga a um canal de cálcio no retículo endoplasmático (RE). A ligação do IP3 abre canais de Ca2 , permitindo a difusão de Ca2 do RE para o citosol. O DAG liga-se a uma unidade reguladora da PKC, ativando-a parcialmente. Todavia, só se torna totalmente ativa após a sua ligação a um íon Ca 2+ liberado pelo RE. Uma vez 11 totalmente ativa, pode fosforilar proteínas e enzimas na célula, alterando a fisiologia da célula. FIGURA: 3 Sistema Fosfolipase C Receptores tiroquinases Alguns hormônios quando se ligam aos receptores fazem com que as moléculas possam desempenhar a função de fosforilar resíduos de tirosina. A tirosina-cinase (TK) transfere um grupo fosfato do ATP para uma tirosina de uma proteína. Ligantes para receptores enzimáticos incluem fatores de crescimento, o hormônio insulina e várias citocinas, sendo que a proteína receptora de insulina desempenha sua própria atividade de tirosina-cinase, porém a maioria das proteínas receptoras das citocinas não tem atividade de fosforilação, ativando uma enzima citosólica. 12 Receptores de integrina Os receptores catalíticos são proteínas transmembranas que medeiam o movimento celular durante o desenvolvimento, coagulação sanguínea, cicatrização e reconhecimento na resposta imune. Os receptores extracelulares se ligam às proteínas da matriz extracelular ou a ligantes, e internamente ao citoesqueleto via proteínas de ancoragem. A importância dos receptores de integrina pode ser observada em doenças herdadas, onde o receptor está ausente, e consequentemente o indivíduo possui falhas no processo de coagulação. Receptores de núcleo celular Os receptores de hormônios esteróides e tireoidianos estão localizados no núcleo das células e quando se ligam aos seus receptores provocam uma mudança no complexo, onde na maioria dos casos o receptor se liga à uma proteína que regula o processo de transcrição do DNA, chamada de dímero. O complexo dímero formado pelo hormônio ligado ao receptor e o fator de transcrição possibilita a ligação do complexo a determinados segmentos do DNA, iniciando a transcrição e a tradução de determinados genes. 13 EIXO HIPOTÁLAMO-HIPOFISÁRIO Hipotálamo Área do Sistema Nervoso Central (SNC) que entre em contato com o sistema endócrino, possuindo diversos núcleos que produzem neurormônios reguladores dos hormônios da hipófise, sendo responsável por controlar a temperatura corporal, apetite, comportamento, ritmo biológico e impulsos eferentes do Sistema Nervoso Autônomo (SNA), através de estímulos elétricos que recebe de diversas regiões do cérebro. Hipófise Formada por duas glândulas de origem embrionáriasdiferentes que se fundiram durante seu desenvolvimento, localizada na depressão do osso esfenóide, abaixo do hipotálamo, a glândula pituitária também é chamada de “ glândula mestra” por produzir diversos hormônios essenciais e regular a liberação de outros hormônios, é dividida em duas partes com funcionalidades distintas. Adeno-hipófise É formada por um conjunto de células endócrinas secretoras de diversos hormônios que são liberados na corrente sanguínea. Sua parte distal é chamada de lobo anterior da hipófise, responsável pela produção dos hormônios tireoestimulante, prolactina, GH, ACTH, TSH, FSH, LH. Sua parte intermédia é responsável pela produção de estimulante dos melanócitos, β-endorfinas, encefalinas e o peptídeo do lobo intermediário semelhante à corticotropina. Neuro-hipófise É o local onde os axônios das células nervosas localizadas nos núcleos supraópticos e paraventriculares do hipotálamo terminam e secretam seus neurotransmissores na corrente sanguínea. Esses axônios se estendem ao longo do infundíbulo, formando uma haste hipofisária que suspende a hipófise na sela turca. Os dois principais hormônios liberados por essas terminações axônicas são a oxitocina e o hormônio antidiurético. Por serem 14 liberados no sangue, são frequentemente denominados hormônios, porém, para ser mais preciso, são simplesmente neurotransmissores especiais, que são liberados diretamente nas veias hipofisárias que deságuam na circulação geral. Sistema porta hipotálamo-hipofisário É formado pela conexão do hipotálamo com a adeno-hipófise ligados pelas vênulas porta-hipofisárias. A porção ventral do hipotálamo produz diversos neurormônios que são liberados na área drenada pelo primeiro leito capilar, que leva o sangue para a adeno-hipófise através do segundo leito capilar, onde se difundem no líquido extracelular e podem estimular ou inibir a liberação de hormônios. O hipotálamo processa a informação aferente proveniente da maioria das áreas do organismo e do cérebro e, em seguida, secreta neuro-hormônios de liberação ou inibidores da liberação no sistema porta hipotálamo-hipofisário para controlar a secreção dos hormônios pela adeno-hipófise. Os hormônios adeno-hipofisários são secretados nas veias hipofisárias, que os transportam até a circulação sistêmica geral. Em seguida, eles afetam a secreção dos hormônios das glândulas endócrinas secundárias. FIGURA 4 - Sistema porta hipotálamo-hipofisário 15 GH Conhecido como somatotropina, é produzido na parte distal da adeno-hipófise e é responsável por promover o crescimento dos ossos longos em comprimento e também o acréscimo de proteína na formação muscular, enquanto exerce um efeito lipolítico que reduz as reservas do tecido adiposo. Os receptores de GH podem ser encontrados em muitas células do corpo, sendo os mais importantes localizados no fígado e no tecido adiposo. Esses receptores estão ligados à tirosinoquinases responsáveis pela mediação de suas ações biológicas nos tecidos-alvo. Quando atua sobre o fígado, afeta o metabolismo das proteínas, dos lipídios e dos carboidratos. Funções do GH Sua ação é regulada pelo fator de crescimento semelhante à insulina (IGF) ou somatomedina C, um hormônio de 70 aminoácidos com uma sequência de aminoácidos semelhante àquela da insulina, podendo se ligar a eles e ativá-los. O IGF-1 deixa o fígado e é transportado através da circulação até os receptores de IGF-1 localizados na cartilagem e células ósseas, tecido adiposo, células alveolares da glândula mamária e músculo esquelético. Apresenta meia-vida mais longa no sangue do que o GH, e os níveis sanguíneos são muito mais constantes do que os níveis de GH. Sua sintetização após estimulação do fígado pelo GH não é garantida. A subnutrição, particularmente a falta de proteína na dieta, faz com que o fígado não secrete IGF-1. Há também a produção de um hormônio chamado IGF-2, ou somatomedina A, que é produzida em muitos tecidos, como a cartilagem e o ovário, após estimulação pelo GH, atuando como hormônio parácrino, ligando-se a receptores presentes nas células adjacentes, em lugar de entrar no sangue para atuar como hormônio endócrino. O IGF-2 é produzido pelo fígado fetal em resposta ao GH e liberado na circulação fetal. É fundamental para o desenvolvimento embrionário normal. Os hormônios do crescimento são conhecidos como hormônios com efeito anti-insulina por intensificarem a lipólise pelo tecido adiposo. O GH reduz a captação de glicose por tecido adiposo e músculo ao reduzir a sensibilidade à insulina e diminui a atividade gliconeogênica do fígado e dos rins. O resultado final dessas ações consiste em elevação da concentração de glicose no sangue. Quando o IGF-1 liga-se a receptores de IGF1 nesses tecidos, ele 16 geralmente aumenta a síntese de proteínas dentro do tecido, com consequente acréscimo de proteínas, o que é particularmente importante para o crescimento muscular e a hipertrofia. Além disso, aumenta a proliferação das células como parte do crescimento de um tecido. Essa ação é particularmente importante no crescimento dos ossos longos. Regulação do GH A secreção de GH é regulada principalmente por dois neuro-hormônios, que são produzidos por núcleos do hipotálamo. o hormônio de liberação do hormônio do crescimento (GH-RH), que estimula a secreção de GH pelos somatotropos e um neurohormônio que inibe a liberação de GH pelos somatotropos, o hormônio inibidor da liberação do hormônio do crescimento (GH-IH), ou somatostatina. A dopamina, um neurotransmissor liberado pelo hipotálamo, também pode atuar diretamente sobre os somatotropos, causando redução da secreção de GH, mantendo o equilíbrio entre esses fatores regulados pelo hipotálamo. O hormônio GH é secretado pela adeno-hipófise e induz o fígado a secretar IGF-1, que atua sobre o músculo, o osso e o tecido adiposo, modificando o seu metabolismo. Esses tecidos, bem como muitas outras células do organismo, também podem responder diretamente ao GH por meio da produção de IGF-2. O IGF-2 atua de modo parácrino para modular o metabolismo nas células-alvo. A secreção de GH é estimulada pelo GH-RH produzido no hipotálamo em resposta a determinados fatores, como hipoglicemia, lactação, jejum e exercício físico. O IGF-1 exerce uma ação de retroalimentação sobre o hipotálamo, causando a secreção pelos neurônios hipotalâmicos do GH-IH, que reduz a secreção de GH da adenohipófise. Efeitos do GH Ossos e cartilagem Provoca aumento da divisão celular na zona epifisária da cartilagem em proliferação, estimulando a produção de sulfato de condroitina pelas células cartilaginosas. O GH induz as células hepáticas a secretar IGF-1, que se liga a receptores de IGF-1 e estimula diretamente as células localizadas na zona da cartilagem em proliferação, não sendo o efeito mediado pela sua ação sobre os receptores de GH das células da cartilagem. A deficiência de Gh resulta em 17 nanismo e a secreção excessiva em gigantismo e em adultos, com placa epifisária fechada, o excesso de GH provoca acromegalia, causada por um tumor somatotrópico da adeno-hipófise, que secreta GH de forma descontrolada, podendo afetar os ossos planos da face e o espaço entre os dentes. Órgãos internos A deficiência de GH resulta em pele fina e mole, e o excesso de GH pode levar a hepatomegalia e cardiomegalia. A cardiomegalia pode resultar em insuficiência cardíaca congestiva. Metabolismo das proteínas Quando administrado, aumenta a captação de aminoácidos do sangue e aumenta a taxa de síntese de novas proteínas. O GH, por intermédio do IGF-1, faz com que as células-alvo aumentem a expressão de mRNA codificador de proteína, bem como a atividade dos ribossomos. Metabolismo dos carboidratos O GH é descrito como hormônio diabetogênico, visto que a sua administração resulta em elevação dos níveis de glicemia. Diminui a sensibilidade das células à insulina reduzindo o número de receptores de insulina sobre as células do músculo e do tecido adiposo.Tem efeito glicostático, preservando o glicogênio no músculo, mais provavelmente produzindo um desvio do uso de glicose para o uso de mais lipídios na geração de ATP das células. Metabolismo dos lipídios O GH diminui a síntese de ácidos graxos a partir da glicose pelo tecido adiposo e fígado e aumenta a lipólise e a mobilização das gorduras das reservas corporais. 18 Principais síndromes Tumor hipofisário somatotrópico Observado em gatos idosos, que apresentam níveis de glicemia excessivamente altos, parecidos com o diabetes, porém mantêm a sua massa corporal magra. Apresentam níveis sanguíneos acentuadamente elevados de insulina, o oposto em gatos diabéticos. Com frequência, desenvolvem cardiomegalia e insuficiência cardíaca congestiva posteriormente na evolução da doença. Acromegalia iatrogênica Ocorre em cadelas que recebem altas doses de progestinas sintéticas, para supressão do estro, que induzem as células dentro da glândula mamária a produzir e secretar anormalmente GH. Vacas leiteiras Para aumentar a produção de leite é administrada uma forma recombinante de GH bovino, ação mediada pela estimulação da produção de IGF-1 pelo GH, tendo o IGF-1 dois efeitos. O IGF-1 faz com que a energia produzida pela absorção de nutrientes da dieta seja desviada da formação de triglicerídios no tecido adiposo e repartida para a produção pela glândula mamária de proteínas, lactose e gorduras que serão incorporadas no leite. Isso reduz o depósito no tecido adiposo e impede que as vacas leiteiras se tornem excessivamente obesas no final da lactação Inibe a apoptose das células alveolares. Normalmente, a produção de leite declina com o passar do tempo, devido à perda das células alveolares por apoptose. O hormônio do crescimento promove um nível de produção de leite mais longo e mais alto. Prolactina Produzida na adeno-hipófise, é responsável pela produção de leite nas fêmeas de mamíferos, podendo desempenhar um papel na iniciação da secreção de leite em algumas espécies. A secreção de prolactina ocorre em nível basal, porém quando em condições são apropriadas, como gestação ou parto, o hipotálamo secreta o hormônio de liberação da prolactina, que aumenta a secreção do hormônio pela hipófise. Os níveis de estrogênio no sangue aumentam em cada ciclo do estro, causando a liberação aumentada de prolactina e aumento no 19 desenvolvimento das glândulas mamárias a cada ciclo durante a puberdade. Ocorre também elevação dos níveis de estrogênio, particularmente nos ruminantes, no final da gestação para promover o desenvolvimento do tecido mamário, a fim de iniciar o processo da lactação. O ato da sucção pelos recém-nascidos também atua como estímulo para a secreção de prolactina em algumas espécies, particularmente aquelas que dão à luz ninhadas. Quando os níveis sanguíneos de prolactina estão excessivamente altos, ela exerce uma ação de retroalimentação sobre o hipotálamo, que então secreta o hormônio inibidor da liberação de prolactina no sistema porta hipotálamo-hipofisário, inibindo a secreção de prolactina pelos lactotropos da hipófise. Nos ruminantes, a prolactina é apenas um de vários hormônios necessários para iniciar a produção de leite e mantê-la. Atua com o estrogênio e a progesterona, juntamente com o lactogênio placentário produzido pela placenta fetal no final da gestação, para acelerar o crescimento da glândula mamária. Por ocasião do parto, a secreção de prolactina aumenta acentuadamente. Ela desencadeia a produção aumentada de caseína no aparelho de Golgi das células alveolares da glândula mamária. Nos machos, seu papel não está bem definido, porém a presença de baixos níveis sanguíneos foi associada a uma redução do comportamento sexual nos machos, e níveis muito elevados podem causar baixos níveis de testosterona ao inibir a secreção de LH pela adeno-hipófise. 20 GLÂNDULAS ENDÓCRINAS As glândulas endócrinas estão intimamente ligadas à formação dos aspectos da personalidade do animal, como nas características morfológicas, físicas e humorais. Glândula Tireóide Localizadas na traquéia, as glândulas tireóides possuem folículos que produzem dois hormônios derivados da tirosina, que tem função é regulada pelo TSH produzido pela adeno-hipófise, através do sistema de retroativação inibitória, que por sua vez tem sua ação regulada pelo TRH produzido no hipotálamo. Os principais hormônios secretados pela glândula tireóide são: tiroxina (T4), triiodotironina (T3) e calcitonina. Quando as células foliculares da tireoide são estimuladas a secretar hormônio tireoidiano pelo TSH, a tireoglobulina iodada sofre endocitose para dentro da célula e proteólise, liberando tanto a T4 quanto a T3 . Os átomos de iodo nos resíduos de tirosina iodados da tireoglobulina que não estavam unidos de modo adequado para formar moléculas de T4 ou de T3 são reciclados eficientemente dentro da célula folicular para a iodação de novas moléculas de tireoglobulina. A T3 apresenta meia-vida mais curta no sangue do que a T4 , de modo que os níveis circulantes de T4 tipicamente são nove a dez vezes mais altos do que as concentrações circulantes de T3 . Os hormônios são transportados pelo sangue ligados a uma proteínas carreadoras, sendo a globulina de ligação da tiroxina ou albumina. Os hormônios tireoidianos influenciam diversos aspectos do sistema nervoso relacionados com a maturação e a função do cérebro, incluindo migração de células neurais, diferenciação dos neurônios e velocidade de condução dos potenciais de ação ao longo dos axônios. Quando os níveis de hormônios tireoidianos diminuem, o cérebro detecta essa situação e sinaliza o hipotálamo para secretar TRH. Quando os níveis de T4 e T3 no sangue estão altos o suficiente para o desempenho das funções dos hormônios tireoidianos no cérebro, o hipotálamo interrompe a secreção de TRH. Os hormônios T4 e T3 também exercem um efeito de retroalimentação negativo diretamente sobre a adeno-hipófise e causam redução da secreção de TSH. 21 Hipotiroidismo Provoca redução geral do metabolismo, caracterizado por frequência cardíaca lenta, diminuição da temperatura corporal, infertilidade, ganho de peso e habilidade mental mais lenta, podendo ocorrer em virtude de problemas relacionados com a produção de hormônio tireoidiano, incapacidade do hipotálamo de secretar TRH ou incapacidade de secreção de TSH pela adeno-hipófise. Bócio por deficiência de iodo Caracterizado pelo aumento da glândula tireóide pela deficiência de iodo, o bócio diminui a produção de hormônios tireoidianos, reduzindo a taxa de oxidação de todas as células. Como não há produção de T4 e T3 , tampouco ocorre retroalimentação negativa na produção de TRH pelo hipotálamo. O TSH continua sendo secretado em grandes quantidades. Isso estimula a produção aumentada de tireoglobulina, que se acumula e distende os folículos da tireóide. Quando a deficiência de iodo é grave, a glândula tireoide hiperplásica não consegue compensar a disponibilidade reduzida de iodo. Os animais apresentam inapetência, bradicardia e distúrbios dermatológicos, infertilidade em machos e fêmeas, e aumento da morbidade. Em condições de iodo dietético marginal ou deficiente, a glândula tireóide materna se torna eficiente na captação de iodo da circulação e na reciclagem do iodo dos hormônios tireoidianos, porém resta pouco iodo para a tireóide fetal, desenvolvendo o feto hipotireoidismo. A primeira indicação de deficiência de iodo em um rebanho consiste no bócio em recém-nascidos. Os bezerros e os cordeiros podem nascer sem pelos, fracos ou mortos. A morte fetal pode ocorrer em qualquer estágio da gestação, com mães apresentando aspecto normal. Bociógenos São compostos que interferem na síntese dos hormônios tireoidianos, provocando hipotiroidismo, podendo ser divididos em cianogênicos, que interferem na captação de iodeto pela glândula tireóide, e os glicosídios cianogênicos podem ser encontrados em muitos alimentos como na soja crua, polpa de beterraba,batata-doce, trevo-branco e painço. Quando ingeridos, são metabolizados a tiocianato e isotiocianato, alterando o transporte de iodeto 22 através da membrana basolateral da célula folicular da tireóide, reduzindo a retenção de iodeto, o que pode ser sanado com o aumento do iodo suplementar. As goitrinas tiouracilas encontradas em algumas hortaliças como colza, couve, repolho, nabo, mostarda, …,e os dissulfetos alifáticos encontrados nas cebolas inibem diretamente a tireoide peroxidase, impedindo a formação de monoiodotirosina e di-iodotirosina. No caso das goitrinas, particularmente aquelas do tipo tiouracila, a síntese hormonal não normaliza com um aumento na suplementação dietética de iodo, necessitando que o alimento agressor seja reduzido ou removido da dieta. Tireoidite autoimune É uma condição autoimune onde o sistema imune do cão ataca o tecido folicular normal, assemelhando-se à síndrome de Hashimoto nos humanos, sendo esse distúrbio a causa mais comum de hipotireoidismo em cães. A falta de produção dos hormônios tireoidianos provoca ganho de peso e adelgaçamento da pelagem, sendo a alopecia comumente observada em um padrão simétrico bilateral na região lombar inferior, podendo ocorrer na cauda com perda generalizada de todos os pelos. Os cães com hipotireoidismo também podem desenvolver acantose nigricans ou pele pigmentada preta, particularmente na região da virilha. Atrofia idiopática da tireoide Com o processo de envelhecimento pode ocorrer em alguns animais. Secundário a edema hipofisário Com a diminuição de TSH por tumor, pode ocorrer hipotireoidismo. Hipertireoidismo Associado a um aumento da frequência cardíaca, polifagia e perda de peso, pela presença de tumores da tireoide que secretam quantidades excessivas de hormônios tireoidianos. Com maior incidência em felinos, os sintomas diminuem quando o gato recebe uma dieta com baixo teor de iodo. Os gatos afetados por hipertiroidismo apresentam perda de peso, porém mantém um apetite insaciável, inquietação, taquicardia e em alguns casos há aumento da 23 glândula tireóide à palpação. É um achado ocasional em cães, devido ao desenvolvimento de adenoma benigno ou, mais raramente, carcinoma maligno do tecido folicular da tireoide, resultando em produção excessiva de hormônio tireoidiano. Doença de Graves É raro em animais, porém tem sido diagnosticada em cães, com a formação de um anticorpo muito estranho, pelos linfócitos e secretado na corrente sanguínea. Esse anticorpo tem a capacidade de simular o TSH e se ligar aos receptores de TSH nas células foliculares da tireoide e iniciando a secreção de hormônio tireoidiano. ROTEIRO DE EXAME FÍSICO- TIREÓIDE Inspeção geral do paciente Observar comportamento e postura, agitação, loquacidade, inquietude, ansiedade, podem ser sugestivas de hiperfunção tireoidiana. Deve-se observar a presença de tremores de extremidades, intolerância ao calor ou frio e cansaço fácil. A hipofunção tireoidiana pode estar relacionada a bradipsiquismo, desânimo, rouquidão. Observar hidratação da pele, temperatura, alterações ungueais como descolamento ungueal, unhas de Plummer vs unhas frágeis, com sulcos transversos. Avaliar reflexos. Avaliação de mucosas e manifestações oculares: exoftalmo, proptose, irritação conjuntival, lacrimejamento, edema subpalpebral. Alterações cardiovasculares: frequência cardíaca, ritmo, pulsos. Alterações respiratórias: dispnéia. 24 Inspeção: Observar alterações de forma, volume, mobilidade à deglutição, aderências. Palpação: Observar consistência, textura, mobilidade, presença de nódulos, determinar volume e dimensões, presença de linfonodos. Abordagem anterior: examinador em frente ao paciente, palpação da glândula com os polegares. Abordagem posterior: examinador atrás do paciente, afasta esternocleidomastóideo para expor glândula à palpação da mão contralateral. Flexão do pescoço pode auxiliar na exposição da glândula, por relaxar os músculos do pescoço. Glândulas Paratireóide Nos lobos da glândula tireóide ou imediatamente fora dos lobos em muitas espécies, são encontradas duas a quatro, dependendo da espécie, glândulas paratireoides que produzem o paratormônio e são supridas pelas artérias carótidas. Seu papel fisiológico é regular o nível de íons cálcio e fosfato no plasma sanguíneo. A diminuição da taxa de cálcio no plasma estimula as paratireóides a liberar seu hormônio. Por sua vez, o paratormônio atua sobre as células do tecido ósseo, aumentando o número de osteoclastos promovendo a absorção da matriz óssea calcificada. A elevação do cálcio plasmático deprime a produção de paratormônio. Além de elevar o cálcio, o paratormônio reduz a taxa de íon fosfato no plasma. Este efeito é consequência de um aumento da perda de fosfato na urina. O paratormônio diminui a absorção de fosfato do filtrado glomerular pelos túbulos do néfron aumentando a eliminação de cálcio. Funções do paratormônio Estimula o rim a absorver o cálcio do filtrado glomerular. Aumenta a excreção de fósforo pelo rim. 25 Se liga aos receptores nos osteócitos e estimula o bombeamento de cálcio dos líquidos dentro dos canalículos ósseos para o líquido extracelular e o sangue, sendo designado como osteólise osteocítica. Se liga ao seu receptor nas células osteoblásticas do osso, que respondem ao secretar uma substância, denominada fator ativador dos osteoclastos, que induz a atividade dos osteoclastos de localização próxima. Os osteoclastos movem-se para o osso e começam a secretar ácido e enzimas proteolíticas para digerir a matriz orgânica do osso, liberando cálcio e fósforo do osso, os quais, em seguida, podem entrar no sangue para ajudar a restaurar a concentração sanguínea de cálcio. Se liga ao seu receptor nas células tubulares renais proximais e estimula a enzima que converte a 25-hidroxivitamina D em um hormônio, denominado 1,25-di-hidroxivitamina D. A vitamina D pode ser sintetizada na pele de muitos animais se forem expostos à irradiação ultravioleta (UV) do sol, não ocorrendo em cães e gatos. É transportada no sangue até o fígado, onde sofre hidroxilação na posição C-25 para produzir a 25-hidroxivitamina D, que também é biologicamente inerte. Somente após ter sido hidroxilada em C-1 pela enzima 1αhidroxilase renal, que é ativa apenas quando o PTH atua sobre a célula, é que a vitamina se transforma em hormônio. O hormônio 1,25-di-hidroxivitamina D estimula o transporte ativo do cálcio dietético através do epitélio intestinal. Na ausência de 1,25-di-hidroxivitamina D, a maioria dos animais é incapaz de adquirir cálcio da dieta em quantidade suficiente para sustentar a estrutura normal do osso. Ao regular as concentrações sanguíneas de 1,25-dihidroxivitamina D, o animal pode regular a quantidade de cálcio que entra no sangue proveniente da dieta. Exceções são o cavalo e o coelho, que são fermentadores pós-gástricos. Esses animais dispõem dos mecanismos intestinais para absorver continuamente o cálcio ativado. Eles regulam o cálcio sanguíneo por meio de aumento ou diminuição da perda urinária de cálcio. Por conseguinte, eles excretam qualquer cálcio dietético que não seja necessário. Este é o motivo pelo qual essas espécies frequentemente eliminam urina de coloração branca como giz. Calcitonina da tireoide As células parafoliculares da tireóide secretam um hormônio chamado tireocalcitonina, que é secretado em resposta a níveis sanguíneos elevados de cálcio. Raramente os animais apresentam hipercalcemia de magnitude suficiente para causar secreção de calcitonina, 26 porém, em animais jovens em lactação, existe um curto período de tempo após uma refeição em que o nível sanguíneo de cálcio está ligeiramente elevado, provocando a liberação de calcitonina. Funções da calcitonina Se liga a receptores nos túbulos renais e inibe a reabsorção tubular renal de cálcio, possibilitando a excreção de maiores quantidades de cálcio na urina e consequentemente a redução dos níveis sanguíneos de cálcio. Seliga a receptores presentes nas células osteoclásticas e inibindo a atividade de reabsorção óssea pelos osteoclastos, reduzindo a liberação de cálcio e de fósforo do osso. Glândulas adrenais Localizadas abaixo do peritônio, cranialmente a cada rim, as glândulas apresentam duas camadas distintas, o córtex adrenal e a medula adrenal. O córtex adrenal tem origem no mesoderma embriológico e é dividido em três zonas, sendo a mais externa denominada de glomerulosa, responsável pela produção de mineralocorticóides que atuam na regulação do equilíbrio eletrolítico do organismo, a zona intermediária, chamada de fasciculada, responsável pela produção de glicocorticóides importantes no metabolismo da glicose e cortisol, e a zona mais interna denominada reticular, que além da produção de corticóides, secreta androgênios. Mineralocorticóides Atuam na regulação do metabolismo do sódio, potássio e cloreto. A aldosterona é o principal hormônio produzido pela zona glomerulosa. Sua síntese é regulada pelo hormônio angiotensina e pela concentração extracelular de potássio. Quando ocorre a redução da pressão arterial abaixo do normal ou diminuição da perfusão renal, há aumento na secreção de renina, uma enzima produzida pelo aparelho justaglomerular nos rins, que atua sobre o angiotensinogênio, uma proteína globular sanguínea liberada no sangue pelo fígado. A renina converte o angiotensinogênio em angiotensina I, que em seguida, é convertida em 27 angiotensina II por enzimas encontradas nos capilares dos pulmões. A angiotensina II circula pelo sangue e, quando alcança a zona glomerulosa da adrenal, estimula as células a sintetizar e secretar aldosterona. A angiotensina II exerce efeitos independentes da aldosterona, causando vasoconstrição disseminada, com consequente elevação da pressão arterial. Além disso, provoca constrição das arteríolas eferentes no rim para elevar a pressão arterial, enquanto mantém a perfusão glomerular renal. A elevação na concentração de potássio extracelular também pode estimular diretamente as células da zona glomerulosa a iniciar a produção de aldosterona. Aldosterona Se liga aos seus receptores no núcleo das células e inicia a transcrição e a tradução de várias proteínas que compõem os canais de íons sódio na membrana apical e as bombas de sódio/potássio na membrana basolateral do epitélio tubular, possibilitando a reabsorção ativa do sódio a partir do líquido tubular renal e, em seguida, o seu bombeamento no líquido intersticial, assim como a secreção de potássio no lúmen dos túbulos renais. Estimula a reabsorção tubular renal de sódio no ramo ascendente da alça de Henle, nos ductos coletores e nos túbulos renais distais, modulando a eletroneutralidade. Aumenta a secreção renal de potássio. Estimula a conservação renal de sódio, o qual é acompanhado passivamente pela água, ajudando a determinar o conteúdo corporal total de sódio e de água. Peptídeo natriurético atrial (ANP) Hormônio produzido pelas células musculares cardíacas atriais em resposta a um alto volume sanguíneo, que causa distensão do músculo atrial além dos níveis normais. Exerce os efeitos opostos aos da aldosterona e do sistema renina-angiotensina. Ele aumenta a perda renal de sódio, e a presença de sódio adicional na urina também provoca aumento na perda de água. Glicocorticóides Produzidos pela zona fasciculada, o principal hormônio produzido os mamíferos é o cortisol, porém em anfíbios, répteis, roedores e aves, o principal hormônio produzido é a 28 corticosterona. O cortisol é regulado pelo ACTH, produzido na adeno-hipófise, que se liga à receptores na superfície das células da zona fasciculada da adrenal, estimulando a atividade da adenilil ciclase. O estresse e outros fatores causam a secreção hipotalâmica do hormônio de liberação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH-RH) que entra no sistema porta hipotálamo-hipofisário e que atua sobre os corticotropos da adenohipófise, resultando na secreção de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Em seguida, o ACTH estimula as células da zona fasciculada da adrenal a produzir e secretar cortisol. Em seguida, o cortisol interage com receptores de glicocorticoides presentes no núcleo das célulasalvo e afeta o metabolismo de uma ampla variedade de células. A presença de altas concentrações de cortisol no sangue exerce ação de retroalimentação sobre a adeno-hipófise e o hipotálamo, inibindo a secreção de ACTH e de ACTH-RH, respectivamente. Cortisol Considerado o hormônio do estresse, se liga a receptores nucleares e estimula ou inibe a expressão de genes específicos. O estresse pode surgir internamente, a partir de fatores como dor ou necessidade de combater uma infecção, ou externamente como condições de calor e frio. Durante o estresse, a secreção de cortisol provoca aumento dos níveis de glicemia ao estimular a síntese das enzimas envolvidas na gliconeogênese. Os principais substratos usados na gliconeogênese são os aminoácidos provenientes do músculo. O cortisol também diminui a sensibilidade do tecido adiposo e do tecido linfóide à insulina, de modo que menor quantidade de glicose é removida do sangue por esses tecidos. Ele atua sobre o tecido adiposo para estimular a lipólise, com consequente elevação dos níveis de ácidos graxos no sangue, e também atua sobre o músculo e outros tecidos para estimular a degradação de proteínas, resultando em elevação dos níveis sanguíneos de aminoácidos. É responsável pela inibição e síntese de DNA e diminui a velocidade de crescimento. Potencializador da ação do glucagon e da epinefrina sobre o metabolismo da glicose, podendo representar uma adaptação para desviar a energia e os aminoácidos das atividades de crescimento, a fim de assegurar a disponibilidade desses recursos para manter o corpo durante o período de estresse. Quando em altas concentrações, age como imunossupressor, inibindo a síntese de prostaglandinas produzidas pelos tecidos lesionados e diminui a secreção de histamina pelos mastócitos, diminuindo a fagocitose e suprimindo a formação de anticorpos. Estabiliza as membranas lisossômicas dos granulócitos, impedindo a liberação das enzimas proteolíticas dessas células imunes e consequente dano aos tecidos, provocando a perda da 29 L-selectina dos neutrófilos e linfócitos, impedindo a saída dessas células através das vênulas pós-capilares para a sua migração até um local de infecção, reduzindo a lesão dos tecidos que poderia ocorrer em consequência de uma resposta inflamatória prolongada. A secreção prolongada de cortisol provoca atrofia do timo e linfopenia. Sua secreção excessivamente alta é comumente observada em vacas leiteiras periparturientes, sendo secundário à distocia ou a alguma doença metabólica, como hipocalcemia ou cetose. Esse quadro pode causar imunossupressão de tal modo que a vaca se torna mais suscetível a doenças infecciosas oportunistas, como mastite ou metrite. O cortisol também exerce efeitos psiconeurais, inicialmente provocando euforia e aumento do apetite, porém esses efeitos são posteriormente seguidos de depressão. Ele também inibe a liberação de vasopressina, com excreção de maiores quantidades de água na urina, provocando polidipsia ou poliúria no animal, devido à perda efetiva de água do corpo. Andrógenos adrenais São hormônios que interagem com os receptores de hormônios sexuais masculinos, sendo a testosterona o androgênio mais importante, produzida nos testículos. As células da zona reticular da adrenal produzem desidroepiandrosterona (DHEA) e androstenediona, androgênios não ativos quando comparados com a testosterona, na estimulação dos atributos sexuais masculinos. Esses androgênios sintetizados nas adrenais podem circular para vários tecidos, como adiposo, e sofrer conversão em testosterona. Além disso, podem ser convertidos em estrogênios, os esteróides sexuais femininos. As fêmeas necessitam de pequenas quantidades de testosterona para manter a densidade óssea, a massa muscular e aexpressão do comportamento do estro. A produção adrenal de androgênios pode ser estimulada pelo ACTH, porém parece que a adeno-hipófise secreta um hormônio chamado de hormônio de estimulação dos androgênios adrenais, responsável pelo estímulo das células da zona reticular a sintetizar androgênios adrenais. Hipoadrenocorticismo Conhecido como doença de Addison, ocorre quando as adrenais são incapazes de produzir hormônios em quantidade suficiente para a sua função normal, sendo mais frequente em cães 30 por um distúrbio autoimune, em que o corpo ataca o córtex adrenal, e a lesão resultante diminui a produção de hormônios por todas as três camadas do córtex adrenal. A ausência de mineralocorticóides frequentemente provoca uma perturbação dos eletrólitos sanguíneos, com nível de sódio ligeiramente abaixo do normal e nível de potássio ligeiramente acima do normal. A razão entre sódio e potássio no sangue deve ser superior a 27:1. Nos cães acometidos, essa razão frequentemente é inferior a 24:1, apresentando níveis elevados de ACTH no sangue, visto que não há glicocorticóides produzidos para inibir a síntese de ACTH-RH e de ACTH. A administração de ACTH exógeno, faz com que o animal produza pouco ou nenhum cortisol. A exposição prolongada a altos níveis de ACTH pode induzir escurecimento da pele, visto que a presença de concentrações elevadas de ACTH pode ativar os receptores de hormônio estimulante dos melanócitos. Os cães com hipoadrenocorticismo exibem uma ampla variedade de sintomas, que incluem vômitos, diarréia, letargia, tremores e hipoglicemia. A ausência de mineralocorticóides pode resultar na elevação aguda dos níveis de potássio, interferindo na função normal do músculo cardíaco. A deficiência de aldosterona faz com que não haja reabsorção de sódio, resultando em rápida perda do volume de líquido extracelular. Hiperadrenocorticismo Chamada de doença de Cushing, ocorre quando a glândula adrenal produz quantidades excessivas de glicocorticóides, provocando lipólise e gliconeogênese. O cortisol compromete a reposição normal do músculo corporal, visto que diminui a velocidade de síntese de proteínas e acelera a sua degradação. A musculatura abdominal é um dos primeiros músculos afetados, conferindo ao cão uma aparência barriguda e nos cavalos, a curvatura do dorso, devido à deterioração dos músculos lombares. Os animais afetados apresentam níveis elevados de glicemia, redução na secreção de hormônio antidiurético devido aos altos níveis de cortisol que atuam sobre o hipotálamo, e em consequência, polidipsia e poliúria. É comum a ocorrência de pele fina e hiperpigmentada, bem como infecções cutâneas. Os níveis elevados de cortisol exercem um efeito imunossupressor sobre o animal. A calcificação distrófica da pele constitui uma lesão patognomônica da doença de Cushing. O hiperadrenocorticismo pode ter três causas: tumores hipofisários, sendo a mais comum pela secreção descontrolada de ACTH pelo tumor, tumores adrenais, onde as células da zona 31 fasciculada podem transformar-se em tumores benignos e secretar cortisol de modo descontrolado, ou doença de Cushing iatrogênica quando animais são tratados com quantidades excessivas de glicocorticóides por períodos prolongados. Diagnóstico É possível através do teste de supressão por dexametasona, um glicocorticóide sintético que quando aplicado provoca um declínio rápido e acentuado dos níveis endógenos de cortisol. Nos animais com tumores da hipófise ou das glândulas adrenais, não ocorre alteração nos níveis sanguíneos de cortisol, pois os tumores adrenais e hipofisários perdem a capacidade de responder ao controle de feedback negativo proporcionado por elevação dos glicocorticóides no sangue. 32 Bibliografia consultada Dukes | Fisiologia dos animais domésticos / editor William O. Reece, editores associados Howard H. Erickson, Jesse P. Goff, Etsuro E. Uemura; revisão técnica Luís Carlos Reis, André de Souza Mecawi. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017 Silverthorn ,Dee Fisiologia Humana | Uma abordagem integrada - 7ª edição Tradução autorizada a partir do original em língua inglesa da obra intitulada Human physiology: an integrated approach, 7ª edição, de autoria de Dee Silverthorn, publicado por Pearson Education, Inc., sob o selo Pearson, Copyright © 2016. 33