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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 6 – mod XV Infecções das Vias Aéreas Inferiores – IVAI’s Bronquiolite - Infecção viral das VA inferiores que ocorre nos primeiros 2 anos de vida, predominantemente nos lactentes < 1 ano - Definida como o primeiro episódio de sibilância nos lactentes < 2 anos de idade → mas a criança pode ter vários episódios nos primeiros 2 anos de vida. - 1 a cada 3 lactentes desenvolvem bronquiolite no 1º ano de vida 2 a 3% deles necessitam de internação - Incidência é maior nos meses de outono e inverno, e a gravidade é maior em pacientes mais jovens, prematuros ou com doenças congênitas → sibilância recorrente, cardiopatias ou imunodeficiências. FISIOPATOLOGIA - Geralmente o quadro inicia com uma IVAS, ou resfriado comum, com obstrução nasal, rinorreia e tosse progressiva. - Em 3-4 dias há progressão com acometimento em bronquíolos → e aparecimento de dispneia, sinais de esforço respiratório, dificuldade de alimentação ou amamentação e, nos mais novos, apneia. - O vírus causa inflamação nos bronquíolos, com aumento da produção de secreção em vias aéreas, diminuição da drenagem e disfunção dos movimentos ciliares. - Isso leva à obstrução das VA de pequeno calibre, hiperinsuflação pulmonar e atelectasias em lactentes <2a - O VSR é o agente etiológico responsável por até 80% → seguido por rinovírus, adenovírus, metapneumovírus, parainfluenza, influenza, coronavírus e outros. - A infecção causa diretamente infiltrado linfocítico (com edema de mucosa), necrose do epitélio ciliar e aumento do muco → todos levando a obstrução. QUADRO CLÍNICO - Se instala após 3-4 dias do início do resfriado comum → criança passa a ter taquipneia, tosse paroxística, sibilos difusos (principalmente expiratórios + redução de mv globalmente) e estertores subcrepitantes. - Além de retrações intercostais, subcostais, retração de fúrcula e batimento de asa de nariz. - Também pode ter irritabilidade e dificuldade de aceitação da dieta → hipoxemia é comum, mas cianose é rara. - Em lactentes muito jovens < 3 meses, pode ser observada apneia, em decorrência da insuficiência respiratória e imaturidade do centro respiratório. - A febre, quando presente, pode chegar a 38,5 a 39 °C. - Quadro autolimitado, com resolução em 5 a 7 dias mas a tosse pode durar por até 2 semanas. - Insuficiência respiratória → desconforto respiratório grave que coloca em risco imediato a vida do paciente, com necessidade de intervenção imediata e, por vezes, invasiva. - Sinais de insuficiência respiratória são ascendentes → casos leves há tiragem subdiafragmática e intercostal. - Nos moderados associa-se tiragem de fúrcula → satO2 88-92%. - Nos mais graves há batimento de asa de nariz e respiração paradoxal, “balancim” (movimentos assíncronos de tórax e abdome) → satO2 < 88%. - Gemência e alteração da consciência, sonolência ou irritabilidade também são sinais de gravidade. - Algumas crianças apresentam episódios recorrentes de sibilância e desconforto respiratório nos quadros virais subsequentes, por até 6 meses → síndrome pós bronquiolite. - Ocorre por alteração de mobilidade ciliar temporária após o quadro respiratório agudo inicial. COMPLICAÇÃO - As principais são infecções bacterianas secundárias → pcte apresenta melhora parcial / resolução da febre, e na evolução passa a apresentar novamente piora da tosse e desconforto respiratório, febre, má alimentação... - A principal infecção bacteriana envolvida é a pneumonia. • Complicações não infecciosas → desidratação, pneumonia aspirativa e insuficiência respiratória ❖ Fatores De Risco Para Bronquiolite Grave Ou Complicada - Prematuridade (<= 36 semanas), BPN, Idade < 3 meses - Doença pulmonar crônica (principalmente broncodisplasia), doença neuromuscular - Defeito anatômico de via aérea, Cardiopatia congênita, Imunodeficiência - Fatores externos-sociais → pais tabagistas, frequentador de berçário, gemelar, presença de irmão mais velho DIAGNÓSTICO - É clínico → pcte < 2 anos, com histórico de IVAS, e após 3-4º dia de evolução com sinais de desconforto respiratório – taquipneia, tiragens – hipoxemia, má aceitação alimentar e/ou dificuldade na amamentação. - Exame Físico → sibilos e estertores, taquipneia, tiragens, hipoxemia. - A realização de pesquisa viral na secreção de nasofaringe é útil para confirmação diagnóstica. - Pode ser realizada por proteína C reativa (PCR), biologia molecular e, ou imunofluorescência. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 - Achados comuns no RX de tórax nas bronquiolites → só faz se desconforto respiratório mto importante. - Hiperinsuflação pulmonar – aumento do espaço retroesternal, horizontalização dos arcos costais - Infiltrado intersticial peribrônquico - Atelectasias; Condensações (raro) - O hemograma é normal e o PCR costuma ser baixo → pode haver leucocitose com desvio à esquerda e aumento de PCR nos casos de infecção bacteriana secundária. TRATAMENTO - Doença autolimitada: lavagem nasal e inalação com SF 0,9%, além de suporte ventilatório e hidratação se necessário. - O suporte ventilatório de escolha depende do grau de hipoxemia e sua resposta à oferta, bem como à presença de desconforto respiratório e a necessidade de ventilação invasiva ou não invasiva. - A hidratação deve ser feita, preferencialmente VO, ou intravenosa, nos casos em que o paciente apresenta má aceitação por via oral, vômitos ou desconforto respiratório que impeça a ingesta líquida. - O paciente se apresenta taquipneico, com aumento das perdas insensíveis e maior risco de desidratação. - Utilização de beta-2-agonista de curta ação – inalação ou puff – brometo de ipratrópio e inalação com adrenalina não estão indicados de rotina para o tratamento, assim como corticoide não deve ser utilizado. - Pode ser realizada prova terapêutica com beta-2- agonista de curta ação → nos casos em que há resposta à medicação, a mesma pode ser mantida. - Em geral pacientes mais velhos > 1 ano apresentam melhor resposta aos broncodilatadores, já que têm maior quantidade de musculatura lisa peribrônquica. - A fisioterapia respiratória é amplamente utilizada, mas estudos demonstram que não mudam o curso da doença, e reduzem o tempo de internação em poucas horas, não sendo recomendada rotineiramente. - Os estudos também mostram que o uso de antimicrobianos e antivirais não traz nenhum benefício. TRATAMENTO DOMICILIAR vs HOSPITALAR - Pacientes com FR < 60 irpm, sem tiragens ou hipoxemia, em BEG e boa aceitação hídrica e de famílias que compreendem o tratamento → podem ser tratados em domicilio, com lavagem nasal e inalação com soro fisiológico. - Manter hidratação e alimentação habitual, respeitando aceitação → se preciso, em intervalos mais curtos. - Pctes que não se enquadram nestes critérios ou a condição social não permite tto domiciliar adequado → tto hospitalar → há a manutenção de hidratação VO ou IV, monitorização e suporte ventilatório conforme necessidade. - Além de possibilidade de realização de teste de resposta com broncodilatador e fisioterapia respiratória. - Saturação deve ser mantida > 92%. - Paciente com desconforto respiratório importante ou taquipneia > 60 a 70 irpm tem risco de broncoaspiração → alimentação por sonda nasogástrica/hidratação IV até melhora. - Pctes em tto hospitalar devem ser mantidos em isolamento de contato e gotículas, p reduzir risco de transmissão. - Higiene das mãos dos profissionais de saúde e acompanhantes tem papel fundamental nessa prevenção. - Sinais de insuficiência respiratória devem ser tratados de forma rápida e assertiva. Critérios de Admissão Hospitalar da SBP Episódios de Apneia, Sinais de desidratação Criança com piora do estado geral (hipoativa, prostrada, acorda apenas com estímulosprolongados) Desconforto respiratório (gemência, retração torácica, FR < 60, cianose central, satO2 < 92% persistente) Recusa alimentar, ingestão reduzida e/ou sem diurese por 12 horas Presença de comorbidades (displasia, cardiopatia, imunodeficiência, doença neuromuscular etc.) Menor de 3 meses; Prematuridade, especialmente < 32 semanas Condição social ruim; Dificuldade de acesso ao serviço de saúde Incapacidade, falta de confiança para identificar sinais de “alerta”. Critérios de Admissão em UTI PaO2 < 60 mmHg, paCO2 > 50 mmHg e pH < 7,25 mesmo com oxigênio a 50%. Apneias associadas a SatO2 < 90% com oxigênio a 50%. Crianças com episódios muito frequentes e rápidos de apneia – especialmente se < 6 meses. Critérios de Alta FR adequada para idade e ausência de sinais clínicos de desconforto respiratório Saturação de O2 acima de 93% em ar ambiente Ingesta adequada Cuidadores capazes de realizar adequadamente higiene das VAS Cuidadores capazes de entender orientações → evolução, sinais de alerta e possibilidade de retorno. PREVENÇÃO - Evitar o contato com os vírus causadores da bronquiolite. - Evitando o contato com pessoas doentes, não frequentando locais aglomerados e creche nos primeiros meses, e mantendo adequada higiene ambiental e das mãos. - Evitar o tabagismo passivo reduz o riso e a gravidade dos episódios. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 - Aleitamento materno é importante fator protetor. - Um grupo restrito de lactentes têm a indicação do uso de palivizumabe → anticorpo monoclonal recombinante, contra a glicoproteína de superfície do VSR → forma de imunização passiva contra o vírus. - Adm via IM mensal, por até 5 meses, no período de sazonalidade - Grupos de risco → prematuros até 28 semanas e 6 dias IG, menores de um ano de idade Crianças portadoras de cardiopatia congênita com repercussão hemodinâmica Crianças portadoras de doença pulmonar crônica da prematuridade Bebês prematuros nascidos entre 29 e 31 semanas e 6 dias de IG Asma - Se define o quadro asmático a partir dos 2 anos, antes é difícil diferenciar da bronquiolite. - Agentes infecciosos, principalmente vírus podem desencadear crises nos primeiros anos. Ex: VSR e rinovírus, além do vírus influenza, adenovírus e parainfluenza. QUADRO CLÍNICO - Episódios paroxísticos de sibilância associados ou não à dispneia - Mts vezes as queixas são episódios recorrentes de tosse, cansaço aos esforços e dificuldade de atv físicas habituais - Sintomas podem piorar à noite e interferir na qualidade do sono - Nos quadros mais leves há apenas sibilos expiratórios - Quadros mais graves os MV estão diminuídos globalmente, pode haver sibilos inspiratórios ou expiratórios, ou ausência de sibilos – pela pouca entrada de ar nos pulmões. - Nota-se apatia ou desconforto diante de exercício físico ou crises recorrentes de tosse. - Pelo estreitamento dos brônquios e presença constante de muco, o uso da musculatura acessória na respiração faz-se necessário → retrações intercostais e da fúrcula esternal. Pneumonia adquirida na Comunidade - Inflamação dos alvéolos e espaços aéreos terminais, bronquíolos e interstício, em resposta à invasão por agente infeccioso no pulmão, através de aspiração de secreções infectadas das VAS ou disseminação hematogênica. - A maioria é de natureza infecciosa → mas há pneumonias secundárias à aspiração de corpos estranhos, substâncias irritantes e pneumonite induzida por droga ou radiação. - A principal etiologia de pneumonias em crianças < 5 anos é viral. - Pode ser classificada de acordo com a área pulmonar afetada → lobar, lobular, alveolar ou intersticial. - Classificação por agente etiológico nem sempre possível → determinada pela cultura (direciona tratamento). EPIDEMIOLOGIA - As pneumonias têm incidência de 3 a 4% ao ano, em crianças < 4 anos, e de 1 a 2%, em pré-escolares e escolares. - A maioria dos casos é leve e tratada ambulatorialmente, mas casos graves não são raros - Pneumonia bacteriana é causa de 10 a 25% de morte em crianças nos países subdesenvolvidos. - A desnutrição aumenta a incidência, a gravidade e a mortalidade pela doença. - Faz parte do calendário do Programa Nacional de Imunizações a vacina contra pneumococo 10-valente, administrada aos 2, 4 e 6 meses, com reforço aos 15 meses. - A pneumonia aguda é uma das principais causas de morbimortalidade, principalmente em crianças < 5 anos, nos países em desenvolvimento → 4mi de mortes por infecções respiratórias agudas, 2/3 em crianças < 1 ano - No Brasil, os fatores de risco associados à mortalidade em < 1 ano estão fortemente ligados a idade do desmame, peso ao nascer, número de moradores da casa, aplicação da vacina BCG e condições sociais da família Outros Fatores de risco - Diagnóstico precoce, tto adequado, poluição, tabagismo, sazonalidade, contato com paciente com IVAS - Prematuridade, BPN, doenças prévias, corticoterapia, doenças pulmonares que induzem a pneumonias de repetição, como fibrose cística. ETIOLOGIA Bacterianas: Streptococcus pneumoniae, H. influenza tipo B, Staphylococcus aureus e Strepto pyogenes - Os agentes etiológicos das pneumonias bacterianas variam de acordo com a faixa etária - RN < 7 dias → agentes Gram negativos (E. coli e Klebsiella pneumoniae), Streptococcus B (agalactiae) e Listeria são as causas comuns, por estarem presentes no canal de parto. - A infecção pode ser intrauterina, por aspiração no canal de parto ou contato pós-natal - Configura uma das formas da sepse neonatal precoce. - RN de 7 dias a 1 mês de vida → agentes semelhantes aos anteriores, porém o S. aureus e o S. pneumoniae já podem ser responsáveis por alguns → é uma das formas de sepse neonatal tardia. - Lactentes de 1 a 3 meses → agentes variam de acordo com a presença ou ausência de febre. - Chlamydia trachomatis, Ureaplasma urealyticum e P. jirovecii são encontradas na pneumonia afebril do lactente → por tosse “em staccato”, seca e bem marcada, paroxística, taquipneia e hipóxia. - Na febril, os agentes mais comuns são S. pneumoniae, H. influenzae e S. aureus EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 - Também os mais prevalentes em pneumonias de crianças até 6 ou 7 anos. - Escolares e adolescentes → agentes mais prevalentes são S. pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae → geralmente por aspiração de secreções infectadas das VAS - Infecção pelo Mycoplasma causa sintomas graduais de mal-estar, febre baixa, cefaleia e muita tosse, principalmente, na segunda semana da doença. - Deve-se sempre pensar, como ddx diferencial das pneumonias → tuberculose, especialmente, nas situações com dissociação clínico-radiológica, com resposta não satisfatória ao tratamento proposto de maneira correta - E naquelas com importante epidemiologia familiar Virais: VSR, influenza, parainfluenza, adenovírus e rinovírus. Atípicas: Micoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae. - Mais raramente, a pneumonia é causada por processos autoimunes, hipersensibilidade, fungos, drogas, radiação, inalação ou aspiração – líquidos, poeiras, gases ou poluentes. QUADRO CLÍNICO - A pneumonia afebril não é frequente e é mais encontrada em crianças até 3 meses - Intensidade da febre e comportamento do quadro febril podem ajudar na distinção clínica PNEUMONIAS BACTERIANAS - Quadro característico → tosse, febre, taquipneia, retrações do tórax, tiragens subcostais. - Estertores finos, crepitações, dor torácica, hipoxemia e sintomas sistêmicos associados. - Presença de tosse, febre e taquipneia e/ou dispneia fecham o diagnóstico de pneumonia sem a necessidade de exames adicionais com RX, e com indicação de intervenção imediata, antibioticoterapia. - Sibilossão raros na pneumonia bacteriana → presença de sibilância é apontado como o principal achado que diferencia pneumonia de outras patologias. Exame Físico - Além de estertores, pode haver diminuição do MV, aumento do frêmito toracovocal e broncofonia. - Submacicez ou macicez à percussão podem estar presentes quando há derrame pleural, mas também podem estar ausentes quando o derrame pleural é pequeno (locular) ou laminar - Algumas crianças podem apresentar dor abdominal → principalmente, quando envolve os lobos inferiores - Toxemia, palidez e cianose acompanham a prostração e mostram relação com a gravidade do caso. - Taquipneia com ou sem dispneia é o sinal mais encontrado nos casos de PAC → sintoma mais importante no ddx - Quanto menor a criança, mais perceptível será a dificuldade ventilatória. PNEUMONIAS VIRAIS - As manifestações clínicas incluem sintomas respiratórios leves (tosse e coriza), que evoluem com taquipneia e retrações intercostais, subcostais e supraesternais. - Febre pode estar presente desde o início ou quando os sintomas se tornam mais intensos. - Quadros virais podem apresentar febre > 39 °C, mas após a diminuição da temperatura há grande melhora do estado geral → em infecções bacterianas, a prostração se mantém. - Taquipneia persiste mesmo quando T < 36,5 °C, devido a alterações de ventilação e/ou perfusão, e não apenas ao estado hiperdinâmico causado pela febre. - Ausculta torácica pode evidenciar MV diminuídos unilateralmente e estertores e/ou sibilos difusos → pode ser muito semelhante à ausculta pulmonar do quadro bacteriano. - Sibilos são mais comuns nos quadros virais do que bacterianos. DIAGNÓSTICO - Pela frequência das pneumonias e suas associações a outros fatores de risco, que contribuem com o aumento da morbimortalidade, é importante realizar precocemente o ddx, reconhecer as complicações e iniciar o tto - O objetivo inicial norteia a identificação de crianças com pneumonia e a distinção dos casos graves dos não graves - O MS tem adotado uma medida, como norma geral para tratamento, de que o diagnóstico de pneumonia seja feito por síndromes clínicas, tendo como parâmetros os sinais e os sintomas clínicos. - A tosse e/ou, a dispneia são os principais sinais para suspeitar de pneumonia → em seguida, deve-se classificá- la segundo a gravidade, sendo importante parâmetro a taquipneia. - Ausência de taquipneia tem alto valor preditivo negativo → dificilmente é pneumonia. - Elevação da FR pode ocorrer precocemente, mesmo antes dos sinais auscultatórios ou presença de imagem radiológica → deve ser aferida durante 1min - Outros sinais que expressam a gravidade → esforço respiratório e presença de tiragens/retrações subcostais - Para crianças < 2 meses, a presença de convulsões, sonolência, batimentos “de asas de nariz”, gemido respiratório, cianose central, hipotermia e impossibilidade de beber ou mamar determinam maior gravidade. Exames de imagem - O RX de tórax não deve ser feita de rotina para o diagnóstico → realizada em crianças com sinais de gravidade - Dúvida no diagnóstico, pctes hospitalizados, presença de hipoxemia, desconforto respiratório, falha na resposta EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 após 48 a 72h de tto ou em caso de piora progressiva para verificar se há complicações. - RX pode evidenciar infiltrado alveolar ou intersticial na pneumonia → o primeiro está associado à etiologia bacteriana, e o segundo, à viral (mas tem sido questionado, não existindo padrão típico de certeza). - Pode mostrar infiltrados bilaterais difusos, lobares, hiperinsuflação, broncogramas aéreos que chegam à periferia, consolidações → diferenças de penetração entre hemitórax, tbm podem ser achados de pneumonia incipiente. - Podem ser observados “borramento” da silhueta cardíaca na dependência da extensão do acometimento e complicações como a atelectasia. - A ausência de sinais radiológicos como consolidação, derrame pleural e pneumatocele, cavidade no parênquima pulmonar preenchida com ar, não significa que a etiologia não seja bacteriana. - Opacidades lobares mais comuns em bacterianas, intersticial em virais e atípicas. Exames de laboratório - Hemograma de crianças com pneumonia viral tende a ser normal/mostrar discreta leucocitose (> 12.000/mm3), com predomínio de linfócitos + pouca elevação dos marcadores da fase aguda da inflamação. - Nas bacterianas, leucocitose > 15mil, neutrofilia, desvio a esquerda e aumento de VHS e PCR > 20 - Leucopenia (< 5.000/mm3) e anemia são marcadores de mau prognóstico. - Presença de eosinofilia em pneumonia afebril pode sugerir infecção por Chlamydia trachomatis - O diagnóstico laboratorial para identificação do agente pode ser difícil, pela dificuldade da coleta do material de um local que represente o verdadeiro foco infeccioso - Conhecer os principais patógenos envolvidos em cada faixa etária determina a melhor decisão para os antibióticos - Para os casos adquiridos na comunidade, em crianças sem doença de base, a pneumonia por S. pneumoniae deve ser o primeiro agente considerado - Isolamento de bactérias piogênicas com capacidade de invadir a corrente sanguínea pode ser feito pela hemocultura. - A decisão sobre punção pleural é baseada em sinais de desconforto respiratório → sendo analisado o aspecto do líquido, purulento, por exemplo, e enviado para: Identificação etiológica – bacterioscopia, cultura e contraimunoeletroforese Bioquímica pleural e/ou plasmática – proteínas, desidrogenase láctica, glicose Análise do pH → se < 7,2, avaliar a indicação de drenagem pleural Citologia, principalmente no diferencial com exsudatos serosos Adenosina deaminase para tuberculose - A drenagem não é mais obrigatória, mesmo em caso de empiema → tratamento pode ser conservador, com antibioticoterapia em ambiente hospitalar. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 - Indicação → persistência ou recidiva do desconforto respiratório, falha no tto conservador e complicações - Determinação dos patógenos virais demonstrada pela detecção dos antígenos em células da nasofaringe pela técnica da imunofluorescência direta, como o VSR, parainfluenza, influenza e adenovírus TRATAMENTO O ideal seria identificar o agente, mas o tratamento instituído é empírico, orientado pelos agentes mais prováveis da faixa etária e o estado imunológico • Estudos confirmam Streptococcus pneumoniae como agente bacteriano mais frequente em crianças e adolescentes. • A primeira etapa após o diagnóstico é decidir o tipo de tratamento → ambulatorial ou hospitalar em internação. Critérios de Internação Utilizados (além da criança que preenche critério de pneumonia grave): o Lactentes < 2 meses o Presença de hipoxemia (SatO2 < 92% em ar ambiente) o Desconforto respiratório, dispneia, batimento de asa nasal, uso de mm acessórios, FR > 50 irpm em > 2m o Sinais de toxemia, Desidratação moderada o Presença de derrame pleural, pneumatoceles, abscessos pulmonares o Doenças crônicas de base, cardiopatia, fibrose cística, síndrome nefrótica e imunodeficiências primárias o Falha da terapêutica ambulatorial, Incapacidade da família de continuar o tratamento o Crises de apneia, convulsões, alteração do nível de consciência, vômitos o Sinais clínicos gerais de gravidade Cuidados Gerais Para Ambos os Tratamentos o Orientar a dieta respeitando a anorexia que ocorre no curso da doença: o Fracionar pequenas quantidades, Preferir alimentos pastosos ou líquidos o Oferecer na posição semissentada → risco de aspiração o Oferecer alimentos costumeiros para a criança o Fornecer quantidades generosas de líquidos → prevenção de desidratação o Antitérmicos somente se temperatura > 37,8°C, salvo outra indicação, convulsão febril o Manter permeáveisas VAS com aspiração e limpeza cuidadosas da secreção nasal com soro fisiológico o Orientar a família sobre tto e sinais de piora → respiração rápida/difícil, piora do EG, dificuldade em alimentar o Se tratamento ambulatorial → reavaliar em 48h e assegurar boa resposta à terapêutica Caso na reavaliação seja observado diminuição da FR e da temperatura e melhora do estado geral, mantém-se o Antibiótico por 7 a 10 dias → caso apareçam sinais de gravidade, indica-se internação. o Piora da FR e do padrão respiratório, impossibilidade de ingestão de líquidos e piora do estado geral • O tratamento hospitalar da pneumonia é norteado pela presença ou não do derrame pleural e da toxemia • Para casos graves, a duração da antibioticoterapia será variável e dependerá do tipo de patógeno, da resposta inicial à terapêutica, da presença de outros focos infecciosos e das condições imunológicas do paciente. TRATAMENTO AMBULATORIAL - Sempre que possível, o tratamento será ambulatorial e empírico dirigido para S. pneumoniae e H. influenzae B - Amoxicilina é o antibiótico de primeira escolha - Para crianças entre 2 meses e 5 anos, amoxicilina oral 50 mg/kg/dia de 8 em 8 horas ou 12 em 12 horas - Etiologias virais predominam → indicação de antivirais apenas em caso de pneumonia por influenza - Para maiores de 5 anos tambem → porém se houver suspeita de pneumonia atípica (quadro insidioso - M. pneumoniae), pode-se optar por macrolídeos (azitromicina, claritromicina ou eritromicina). EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 - Em caso de suspeita de pneumonia aspirativa, amoxi+clavulanato é escolha - Clindamicina em caso de alergia a penicilina • Pctes com piora clínica devem ser hospitalizados e investigados para etiologia e presença de complicações. TRATAMENTO HOSPITALAR - Pacientes com indicação de internação devem receber tratamento de suporte → analgésicos, antitérmicos, suporte ventilatório, hidratação (se incapacidade de ingesta hídrica adequada via oral) • Início imediato de antibioticoterapia é crucial, geralmente de forma empírica o Escolha em crianças < 2 meses é penicilina cristalina, ou ampicilina + gentamicina o Mesmo com indicação de internação, se a criança for > 2 meses e estiver sem tiragem e boa aceitação via oral, a primeira escolha será amoxicilina VO - Para pneumonias graves, recomenda-se ampicilina ou penicilina cristalina. • Amoxi pode ser associada a inibidores da betalactamase → e pode ser utilizada cefuroxima como 2ª opção • Naqueles < 5 anos e presença de pneumonia extensa, de evolução rápida e comprometimento do estado geral, opta-se pela introdução de oxacilina + cloranfenicol ou cefalosporina de 3ª geração o Possibilidade de S. aureus ou H. influenzae Internação em UTI Indica-se àqueles que apresentem 2+ das indicações: Necessidade de ventilação mecânica Instabilidade hemodinâmica SatO2 < 92% em FiO2 > ou = 50% Alteração do nível de consciência Pneumonia extensa ou com complicações Coqueluche - Definição: tb chamada de “tosse comprida”. É uma infecção respiratória que afeta vias aéreas superiores, traqueia, brônquios e cuja marca clínica é a tosse paroxística. - Possui ↑ transmissibilidade e ↑ índices de morbimortalidade, principalmente em crianças pequenas. ETIOLOGIA - Agente: Bordetella pertussis. Agente ocasional: parapertussis. - Transmissão: homem é o único reservatório natural. Transmissão por gotículas de orofaringe eliminadas na fala, tosse, espirro de pessoas contaminadas. O período de transmissão ocorre desde o quinto dia após o contato com o doente, até a terceira semanada do início da crise paroxística. - Período de maior transmissibilidade: fase catarral. Epidemiologia - ↑ taxa de transmissibilidade, com taxas de ataque próximas a 100% em indivíduos susceptíveis e expostos à aerossóis contaminados. Em indivíduos completamente imunizados, a infecção é subclínica em 80% dos casos. - Nem a doença atual, nem a vacinação completa, garantem a imunidade duradoura e permanente. Após 3-5 anos de vacinação, os títulos de anticorpos começam a declinar e após 10 anos são praticamente inexistentes. CLÍNICA - Há 3 fases: Fase Catarral (1-2 semanas): sintomas leves como febre ↓, rinorreia, espirros, tosse, lacrimejamento. Fase Paroxística (2-6 semanas): intensificação da tosse e desaparecimento dos sintomas catarrais. A tosse é seca, irritativa e intermitente ou paroxística. Durante os acessos de tosse, o pcte coloca a língua para fora, fica com a face avermelhada e cianótica pelo esforço, podendo ser seguida por apneia ou vômitos. A seguir, inspiração forçada com a glote parcialmente fechada, gerando um som de “guincho”. - Os paroxismos de tosse podem ocorrer até 30x em 24h, principalmente a noite. Fase de Convalescença (2-6 semanas): desaparecimento dos paroxismos de tosse e aparecimento de tosse comum, que pode se prolongar por até 3 meses. Infecções respiratórias adjacentes podem afetar o pcte e provocar os paroxismos novamente. - Lactentes jovens (> 3 meses) não apresentam estas fases clássicas -> na fase catarral pode durar poucos dias e não ser percebida, e no lugar da tosse paroxística surgem acessos de engasgos, dificuldade de respirar, pletora facial. - Na coqueluche, os achados de infecção do trato respiratório inferior (taquipneia, dispneia, estertores e sibilos) estão presentes apenas se houver pneumonia associada, que pode ser causada pela própria B. pertussis. Dx - Clínico: tosse prolongada, sem história de febre, faringite, exantema, taquipneia, sibilância ou estertoração. Presença de tosse >= 14 dias paroxística OU com guincho OU associada a vômito. - Em lactentes ↓ de 3 meses, com sufocação, engasgos, apneia, cianose, a coqueluche deve ser suspeitada. - Laboratorial: coleta de material da nasofaringe e isolamente de B. pertussis, realizadas antes do início do atb ou até no máximo 3 dias depois. - Leucograma: leucocitose, com linfocitose. NÃO ocorre eosinofilia. - RX de tórax geralmente é normal, mas pode haver presença de infiltrado peri-hilar. Presença de consolidação sugere pneumonia associada. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8 - Dx diferencial: bronquiolite viral aguda, traqueobronquites, laringites etc. Complicações Respiratórias: pneumonia, ativação de tuberculose latente, atelectasias, pneumotórax Neurológicas: encefalopatias agudas, convulsões, coma, hemorragias intracerebrais, estrabismo e surdez. Outras: hemorragias subconjuntivais, otite média, epistaxe, edema de face, úlcera do frênulo lingual, hérnias etc. TRATAMENTO - Macrolídeos -> drogas de escolha. ↓ a intensidade, duração e período de transmissibilidade da doença. - Azitromicina 1x/dia por 5 dias OU claritromicina. - Em contraindicações de macrolídeos, usa-se SMX-TMP. Quimioprofilaxia - Pctes internados com coqueluche devem ser mantidos com isolamento de gotículas até 5 dias após o inicio do atb, assim como se ausentar de escolas ou creches durante esse período. Tuberculose - Importante problema de saúde pública mundial. No Brasil, SP concentra o maior número de absoluto de casos do país, embora o RJ apresente a maior taxa de incidência. - No ano de 2008, a TB foi a 4 causa de morte por doenças infecciosas e a 1 a causar morte em pctes com AIDS. - Estima-se que 10,7% de todos os casos de TB no mundo afetam crianças, sendo que no Brasil essa taxa aumenta para 15%. Destes, 75% dos são são na forma pulmonar e 25% de forma extrapulmonar. ETIOLOGIA - Agente: Mycobacterium tuberculosis, ou Bacilo de Koch -> é um complexo constituído por várias espécies: M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum e M. microti. - M. bovis: transmitido pelo consumo de leite e derivados não pasteurizados ou fervidose de rebanho bovino infectado. Deve ser sempre lembrado em pctes provenientes de meios rurais. - Seu principal reservatório é o homem, embora o gado possa abrigar o bacilo tb. - Fonte de infecção mais importante: individuo com a forma pulmonar bacilífera da doença. TRANSMISSÃO - O bacilo é disperso no ar através de gotículas de secreção respiratória, eliminadas na fala e espirro. Gotículas pesadas caem e se depositam no solo e roupas, não promovendo contaminação. Gotículas médias ficam retidas na mucosa respiratória e são eliminadas por batimentos mucocilares. Já gotículas pequenas são as principais para transmissão (núcleos de Wells) -> alcançam alvéolos e iniciam sua replicação. - Crianças com TB pulmonar geralmente não são infectantes. PATOGÊNESE - Nem todas as pessoas expostas ao bacilo se tornam infectadas, e nem todos os infectados se tornam doentes. - A infecção pode ocorrer em qualquer idade, mas geralmente se dá na infância. - Bacilo atravessa barreira de via respiratória alcançam alvéolos e iniciam replicação disseminação linfo- hematogênica de poucos bacilos, que alcançam linfonodos, fígado, baço, MO e SNC. - Na terceira semana, o corpo já reconhece o patógeno e promove tentativa de imunização, formando, no pulmão, um nódulo caseoso¸ de 1-2 mm que representa uma reação de linfócitos T e macrófagos contra o bacilo Complexo Primário de Ranke. - 90% dos infectados conseguem bloquear o processo apenas com a formação desse Complexo primário, e não adoecerão. CLÍNICA Forma Primária: doença que se instala após a primo-infecção, podendo se manifestar sob a forma pulmonar, ganglionar ou em outros órgãos em 5% dos pctes. É a forma de TB típica da infância. Forma Pós-primária: ocorre a partir da reativação de algum foco latente, ou a partir da exposição a nova carga bacilar exterior. Forma mais prevalente em adolescentes e adultos. Remissão: a cura espontânea é possível, mas geralmente a maioria dos casos requer tratamento para eliminação do bacilo no organismo, e apesar da cura, podem permanecer sequelas pulmonares- bronquiectasias, hemoptise, infecção de repetição etc. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 9 Dx Baciloscopia: bacilospia de escarro. Método mais fácil e mais barato, sendo o padrão de coloração no Brasil. Para que a baciloscopia seja positiva, são necessários 5.000 a 10.000 bacilos/mL de escarro. - Na infância, a maioria dos casos de TB pulmonares são abacilíferas, ou seja, não expelem o bacilo através da tosse e secreções respiratórias. Por isso, esse exame torna-se pouco útil. Por isso, além do escarro espontâneo podem ser utilizadas outras técnicas para detectar na secreção: escarro induzido, broncoscopia com lavagem broncoalveolar, Cultura: tempo médio de detecção de 3-8 semanas. RX: em até 15% dos casos, o RX pode ser normal. Porém, os possíveis padrões radiológicos são: Linfonodomegalia mediastinal e hilar: forma mais frequente Consolidação parenquimatosa Atelectasia Derrame pleural Padrão miliar ou micronodular: pequenas opacidades difusamente distribuídas no parênquima. TC: reservado para casos de alta suspeita de TB, e o RX pouco útil. PPD (Prova Tuberculínica Cutânea): visa avaliar a presença de infecções por micobatérias, mas não define dx da doença isoladamente. Realizada através da Técnica de Mantoux, que é a inoculação intradérmica de antígeno proteico derivado do M. tuberculosis na face anterior do antebraço. Avalia a resposta após 48-72h após a aplicação, medindo o diâmetro da área demarcada. - Pctes que já tiveram contato com o bacilo desenvolvem no local da inoculação uma pápula avermelhada que representa desencadeamento de uma resposta imune celular. TRATAMENTO - Drogas preconizadas pelo MS: Isoniazida (H), Rifampicina (R), Pirazinamida (Z), Estreptomicina (S), Etambutol (E), Etionamida (Et). - Pctes com dificuldade de engolir os cps: xarope ou suspensão. - Meningoencefalite tuberculosa 🡪 associar corticoide ao esquema anti-TB: Prednisona oral (4 semanas) OU Dexametasona IV em casos graves (4-8semanas) + redução gradual da dose nas próximas 4 semanas. - Deve ser adm a todas as crianças com TB pulmonar com pontuação ≥ 30. Controle de Casos - Qualquer pessoa que tenha contado com um caso e TB pulmonar bacilífera deve realizar Rx de tórax e PPD. Controle dos Neonatos Expostos (Quimioprof. 1ª) - Adiar BCG + Isoniazida por 3 meses + Fazer PPD aos 3 meses - SE PPD reator (>5mm): isoniazida por mais 3 meses. - SE não reator: suspender isoniazida e fazer vacina com BCG. Controle de Infecção Latente (Quimioprofilaxia 2ª) - Tempo entre contaminação e manifestação da doença - Assintomático + Rx normal + PPD reator isoniazida por 6 meses. LITERATURA UTILIZADA - Tratado de Pediatria da SBP 5ª Ed. – 2017 vol 1 e 2 - Medcurso 2019 – Pediatria vol 7 – Distúrbios das vias respiratórias
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