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• Hipóxia, hipercapnia e mudanças de temperatura; • Desbalanço autonômico; • Isquemia; • Substância tóxicas e drogas. Cães e gatos: • Diagnosticados com doenças que causam dilatação atrial → maior chance de desenvolver arritmias supraventriculares, como extrassístoles isoladas, pareadas, bigeminismo ou trigeminismo supraventricular, fibrilação e flutter atrial, além de silencio atrial → devido ao estiramento atrial, capaz de induzir ativação dos canais iônicos transmembrana, liberação de fatores pró-fibróticos e hipertrofia celular, alterando as propriedades eletrofiológicas do tecido; • Animais que apresentam estiramento apenas das câmeras atriais quando acometidos por arritmias ventriculares, tem risco menor de morte súbita do que por CMD; Felinos: • Felinos acometidos por cardiomiopatia hipertrófica → arritmias ventriculares e supraventriculares com elevada frequência e complexidade, devido ao estiramento atrial e desarranjo estrutural do miocárdio; • Anormalidade da frequência, regularidade, local de origem do impulso cardíaco e/ou disturbio de condução deste estimulo, de modo que a sequência de ativação normal dos átrios e ventrículos esteja alterada; • Podem refletir a ocorrência de doenças do sistema cardiovascular ou alterações metabólicas, hormonal ou relacionado ao sistema nervoso. Principais causas de arritmias em cães e gatos: • Doença ou trauma no sistema nervoso central; • Alterações de tônus neural periférico ou mediado por reflexos; • Infecções (virais ou bacterianas); • Trauma; • Condições degenerativas ou fibróticas cardíacas; • Doenças cardíacas congênitas ou adquiridas; • Influência neuro-humoral e endócrina; • Desequilíbrios acidobásicos e/ou eletrólicos; introdução Estudos indicam que Cardiomiopatia dilatada pode causar → arritmias ventriculares → devido ao desarranjo de miócitos ventriculares, fibrose e necrose miocárdica, também pode causar fibrilação atrial por aumento atrial importante; arritmias arritmias 1 • A presença de doença cardíaca estrutural pode aumentar as manifestações clínicas de certos tipos de arritmias, já que existem vários motivos para a queda do DC. Ex.: diminuição do inotropismo em pacientes com CMD → diminuição do volume sistólico e FC elevada → queda do volume diastólico final; • A relação temporal entre as frequências de ativação atrial e ventricular relacionam-se à capacidade do nó atrioventricular de limitar o número de impulsos atriais que efetivamente despolarizam o território ventricular. Taxas de ativações ventriculares mais baixas, decorrentes do retardo fisiológico da condução que ocorre no nó atrioventricular, podem exercer um efeito protetivo nos ventrículos contra frequências atriais muito elevadas, minimizando os efeitos negativos destas sobre o adequado enchimento ventricular na diástole. • Por outro lado, quando há bloqueios atrioventriculares, as frequências ventriculares podem ser muito menores do que as atriais, fazendo com que o animal apresente sinais de baixo débito cardíaco decorrentes de frequências cardíacas muito baixas. Frequência atrial maior que a ventricular em um cão com bloqueio atrioventricular de segundo grau Mobitz tipo 2 – DII, 25 mm/s • Hipercalemia em casos de obstrução uretral, doença renal de curso oligurico ou em lesões ou em lesões de reperfusão → arritmias; • Arritmias podem causar grandes alterações na FC → mudanças no débito cardíaco; • Os distúrbios do ritmo que geram comprometimento hemodinâmico apresentam frequências muito elevadas (ex.: taquicardia ventriculares sustentadas) ou muito reduzidas (ex.: ritmos de escape muito lentos). • FC exageradamente elevadas promovem encurtamento do período de diástole cardíaca, reduzindo a perfusão coronariana, que ocorre durante a diástole, além de impedir que o ventrículo possa receber uma quantidade adequada de sangue, reduzindo o volume diastólico final. • FC muito baixas → diminuição do DC → principalmente em casos de estresse e agitação que demanda maior perfusão tecidual. • Arritmias que causam grandes reduções no DC causando episódios de hipotensão arterial e quadros de pré-sincope, sincope ou convulsão; • No caso de Dobbermans com CMD, as manifestações clínicas podem ser morte súbita desencadeada por arritmias ventricular; • Em outros casos a queda do DC pode gerar diminuição do nível de atividade do animal – pode ser confundida com envelhecimento; • Fatores levados em consideração: doença cardíaca estrutural, relação temporal entre as ativações atrial e ventricular, sequencia de ativação ventricular, a duração do evento arrítmico, taxa de ativação ventricular e a administração de terapia antiarrítmica. Efeitos hemodinâmicos das arritmias cardíacas • neoplásico) e/ou com alterações eletrofisiológicas (condutibilidade ou refratariedade alteradas). Fatores moduladores • São condições teciduais, como pH, ação do sistema nervoso autônomo e isquemia tecidual, que favorecem o aparecimento e a perpetuação das arritmias em situações específicas. Ex.: das arritmias que ocorrem durante o sono, quando o tônus vagal está aumentado, ou durante o estresse, sob o efeito do sistema nervoso simpático. O gatilho • É representado pelo advento de um batimento precoce (extrassístole), qualquer que seja sua origem. Tal batimento determina alteração do período refratário e da excitabilidade de certa porção do tecido, podendo ser responsável pelo surgimento de áreas de bloqueio funcional do estímulo elétrico e levando. • Ex.: ao surgimento de um circuito de reentrada. • Na presença de componentes do triângulo de Coumel, sabe-se que os principais mecanismos arritmogênicos existentes são: o hiperautomatismo, o automatismo anormal, o automatismo deflagrado (pós-potenciais tardios ou precoces), a reentrada e a condução lenta ou bloqueio. Hiperautomatismo • Representa a propriedade de despolarização espontânea que certas células cardíacas apresentam. O marcapasso primário do coração é o nó sinoatrial (sinusal), sendo que o mecanismo exato responsável pelo automatismo destas células é muito discutido. Aventa-se a possibilidade de que isso ocorra devido a uma complexa dinâmica de ativação de correntes iônicas, mediada por voltagem ou por cálcio. • A sequência de ativação ventricular correlaciona-se à sincronia intra e interventricular. Estímulos elétricos que se propagam por vias que não os ramos direito e esquerdo do feixe de His e fibras de Purkinje podem causar prejuízos nas funções sistólica e diastólica, assim como resultar em insuficiência mitral, e, em pacientes com doença estrutural presente, podem incorrer em manifestações clínicas de insuficiência cardíaca (a chamada "Síndrome do QRS largo"). • A duração de um evento arrítmico e sua frequência cardíaca podem estar relacionadas à possibilidade de ocorrência de taquicardiomiopatia. Essa alteração representa uma disfunção ventricular sistólica decorrente de arritmias supraventriculares ou ventriculares persistentes ou repetitivas, com frequência cardíaca elevada, cujas manifestações clínicas são reversíveis com a normalização do ritmo cardíaco em pacientes sem uma doença estrutural cardíaca estabelecida. • Para que uma arritmia ocorra, é necessário que um ambiente com características específicas exista no tecido cardíaco, independentemente dos mecanismos eletrofisiológicos envolvidos. Assim, o surgimento e/ou a manutençãode uma arritmia dependem de uma tríade de fatores, denominada triângulo de Coumel. Os componentes desse conjunto são: o substrato, os fatores moduladores e o gatilho. Substrato • O substrato arritmogênico é representado pelo miocárdio com alterações histológicas (fibrose, necrose e infiltração de tecido adiposo ou neoplásico) e/ou com alterações eletrofisiológicas Mecanismo gênese das arritmias Automatismo deflagrado • Esse mecanismo baseia-se na existência de oscilações nas fases do potencial de ação que antecedem ou sucedem a repolarização celular. Nestas situações, as fases 2, 3 ou 4 do potencial de ação podem sofrer pequenas pós-despolarizações, as quais podem ser suficientes para desencadear uma extrassístole ou uma série delas. • Esse mecanismo não depende da propriedade de automatismo celular, mas, sim, da ocorrência de um potencial de ação prévio, qualquer que seja sua origem, alguns autores questionam o uso da denominação "automatismo deflagrado", sendo possível encontrar na literatura referências a esse mecanismo arritmogênico como atividade deflagrada". Os pós-potenciais: • Ocorrem devido à menor saída de cargas positivas da célula despolarizada, prejudicando a repolarização. Eles podem ser caracterizados como precoces ou tardios. Os pós-potenciais precoces estão relacionados às fases 2 e 3 do potencial de ação, sendo implicado na ocorrência da arritmia torsade de pointes (em pacientes com síndrome do QT longo). Pós-potenciais tardios: • Ocorrem durante a fase 4 do potencial de ação, devido a uma sobrecarga na quantidade de cálcio intracelular, que desencadeia a ativação de diversos canais iônicos, podendo levar a uma nova despolarização celular efetiva. Esse tipo de mecanismo relaciona-se com arritmias secundárias à intoxicação digitálica, por exemplo. • Pode surgir em células atriais, da junção atrioventricular e do sistema His-Purkinje, porém, em situações normais, as células do nó sinoatrial despolarizam espontaneamente numa frequência mais alta do que as anteriores, suprimindo seu automatismo intrínseco por meio de um mecanismo denominado overdrive supression. • Em situações em que as células do nó sinusal deixam de despolarizar espontaneamente ou o fazem em frequências muito baixas (p. ex. em casos de silêncio atrial ou disfunção do nó sinusal) • Ritmo de escape: as células atriais, as da junção atrioventricular ou as do sistema His-Purkinje podem assumir o comando do ritmo cardíaco por meio do automatismo, visto que não estão mais suprimidas pelo nó sinoatrial, gerando os chamados ritmos de escape. Por esse motivo, essas células são denominadas marcapassos subsidiários do coração. • Em algumas situações, o automatismo do marcapasso primário ou dos marcapassos subsidiários do coração é exacerbado, caracterizando o chamado hiperautomatismo. Nestas situações, a velocidade de despolarização dessas células está aumentada, o que gera taquiarritmias. • O hiperautomatismo pode ocorrer em decorrência de uma diminuição do potencial limiar, aumento do potencial diastólico máximo ou aumento da taxa de despolarização na fase 4. Exemplos de arritmias que podem surgir em decorrência do hiperautomatismo: • Taquicardia sinusal, evento fisiológico no qual a exacerbação do automatismo ocorre no próprio nó sinoatrial • Os ritmos juncional e idioventricular acelerado, nos quais o evento ocorre nas células do nó atrioventricular ou nas fibras de Purkinje. Existem dois tipos de reentrada, a anatômica e a funcional. Os circuitos de reentrada anatômicos • Possuem forma, sede e dimensões estáveis. Ex.: é o circuito atrioventricular formado nas taquicardias mediadas por via acessória, como ocorre na síndrome de Wolff-Parkinson-White. Reentradas funcionais • Como ocorre em alguns casos de fibrilação atrial, não há estrutura fixa presente, e o estímulo circula em torno de um tecido que é mantido refratário por ondas de despolarização centrípetas. • A principal diferença entre esses tipos de reentrada é, além da presença de circuito anatômico, a ausência de período excitável nas reentradas funcionais. Condução lenta ou bloqueio • A diminuição da velocidade de condução ou o bloqueio da frente de despolarização são representados pelos bloqueios sinoatriais e/ou atrioventriculares de primeiro, segundo ou terceiro grau. Podem ocorrer, portanto, na região da junção do nó sinusal ao miocárdio atrial ou na junção atrioventricular, seja no nó atrioventricular ou no sistema de His-Purkinje. • Bloqueios de primeiro grau relacionam-se à condução lenta, enquanto aqueles de segundo e terceiro graus dizem respeito aos bloqueios propriamente ditos, nos quais há uma interrupção da passagem da frente de onda em um determinado tecido Reentrada • A reentrada ocorre quando uma mesma frente de onda despolariza os átrios e/ou os ventrículos após o fim do período refratário tecidual, ao invés de extinguir-se após esse período. • Existem alguns fatores essenciais para a instalação e perpetuação de um circuito de reentrada, dentre os quais destacam-se o bloqueio unidirecional da condução, a presença de vias com velocidades de condução diferentes e o gatilho. • A reentrada ocorre quando uma frente de despolarização encontra um obstáculo anatômico ou funcional, contornando-o por vias de condução cujos períodos refratários e velocidades de condução são distintos. O impulso desce por uma via anterógrada com velocidade lenta e encontra um bloqueio de condução unidirecional na via contralateral. Essa frente de despolarização completa o circuito, despolarizando, de maneira retrógrada, a via contendo o bloqueio unidirecional, A reentrada efetiva-se quando o impulso que foi conduzido pela via anterógrada atinge a via retrógrada fora de seu período refratário. Exemplo de mecanismo de reentrada em fibra de Purkinje e miocárdio ventricular com área de bloqueio unidirecional de condução (área hachurada) Ritmos cardíacos normais em cães e gatos Ritmo sinusal • O ritmo sinusal define-se por ser originário exclusivamente do nó sinoatrial (sinusal), de modo que o eixo elétrico da onda P fica entre -18° e +90° no cão e 0° e +90° no gato, e os intervalos RR variam em, no máximo, 10% entre si. Sendo o marcapasso primário do coração, a frequência cardíaca no ritmo sinusal é de 60 a 160 batimentos por minuto (bpm) no cão, podendo chegar a 180 bpm, em raças toy, e a 240 bpm no gato. • É importante frisar que todo complexo QRS deve ser acompanhado de onda P precedente, a não ser que haja bloqueio atrioventricular de segundo grau associado, e que os complexos QRS devem ser de morfologia normal, a não ser que haja aberrância de condução associada. Traçado de felino com ritmo sinusal – 50 mm/s N=1. Arritmia sinusal • A arritmia sinusal é também originária do nó sinoatrial, sendo o ritmo mais comumente encontrado em cães, e pode ser observada em felinos, principalmente quando eles estão em repouso. • Essa arritmia é definida por eletrocardiografia como uma variação gradual no intervalo R-R que excede 10% em cães, ou, ainda, como uma diferença maior que 0,10 s entre ondas P consecutivas em gatos. • A correta identificação das arritmias deve ser feita por meio de uma análise sequencial e sistemática do traçado eletrocardiográfico.• Segundo Bonow, as perguntas a serem respondidas quando da análise eletrocardiográfica são: existem ondas P presentes? Qual é a frequência atrial e ventricular - são as mesmas? Os intervalos P-P e R- R são regulares, irregulares ou regularmente irregulares? Existe uma onda P para todo complexo QRS? Essa onda P vem antes ou após o complexo ORS? O intervalo PR ou RP é regular? Qual seu comprimento? Todas as ondas P e os complexos QRS são iguais em seu formato? As durações de P, PR, QRS e QT são normais? CLASSIFICAÇÃO DAS ARRITMIAS • Existem diversos sistemas propostos para a classificação das arritmias cardíacas, cada qual baseado num critério principal. Alguns autores descrevem as arritmias de acordo com o mecanismo envolvido em sua gênese, sendo a geração e/ou a condução dos impulsos, enquanto outros descrevem um sistema que categoriza as arritmias de acordo com sua origem. • Neste último sistema, classificam-se as arritmias em supraventriculares (englobando o tecido atrial e da junção atrioventricular) e ventriculares (porção abaixo do feixe de His). Para fins didáticos, optou- se pela descrição dos ritmos cardíacos normais em cães e gatos, seguindo-se a descrição das arritmias com base na frequência cardíaca, dividindo-as em bradiarritmias (frequência cardíaca baixa) e taquiarritmias (frequência cardíaca elevada). Diagnóstico das arritmias Classificação das arritmias • Em cães apresenta-se como a variação da amplitude das ondas P de um mesmo traçado, de modo que, em períodos de maior frequência cardíaca, há aumento de sua amplitude. Explicação fisiológica: • Em períodos de domínio vagal: a ativação do nó sinoatrial ocorre principalmente na região posterosuperior dele, de modo que o impulso é conduzido pelas vias internodais posterior e média. • Em períodos de domínio simpático: ocorre na porção anteroinferior do nodo, e a frente de despolarização espalha-se por meio da via internodal anterior, mudando a direção do vetor de despolarização atrial e acarretando modificações da morfologia das ondas P. Taquicardia sinusal • Relaciona-se ao hiperautomatismo das células do próprio nó sinoatrial (sinusal) Pode ser secundária à: • Febre, hipotensão, hipertireoidismo, anemia, ansiedade, exercícios físicos, hipovolemia, embolismo pulmonar, isquemia miocárdica, dor, insuficiência cardíaca congestiva e choque, entre outros. • Existem, ainda, relatos da chamada "taquicardia sinusal inadequada" em cães, síndrome na qual o animal apresenta tal arritmia de maneira persistente sem causa de base identificável. É caracterizada: • Pela presença de ondas P de eixo normal, relacionadas a complexos QRS com duração normal (a não ser que haja distúrbio de condução ventricular associado) e intervalos PR dentro dos limites de normalidade. • Geralmente está associada à respiração e caracteriza-se por aumento da frequência cardíaca na inspiração por estimulação simpática e inibição vagal e ligeira bradicardia durante a expiração, devido a um aumento do tônus vagal e inibição simpática. • Essa variação de ritmo está relacionada à interação entre os sistemas cardíaco, respiratório, nervoso central e autonômico, sendo que seus mecanismos exatos ainda estão sendo elucidados. Acredita-se que sua intensidade seja inversamente proporcional à frequência cardíaca e diretamente proporcional ao volume de ar inspirado. • Existe ainda a arritmia sinusal não respiratória: que não está relacionada aos movimentos de inspiração e expiração, e cujas bases fisiológicas ainda não estão bem esclarecidas, mas alguns autores acreditam que podem indicar um certo grau de disfunção sinusal. Traçado eletrocardiográfico de um cao macho de 12 anos da raça shih-tzu apresentando arritmia sinusal com marcapasso migratória – 50 mm/s, N = 1. Marcapasso migratório • A ocorrência de marcapasso migratório está relacionada à origem da frente de despolarização em diferentes regiões do nó sinoatrial devido à influência do tônus do sistema nervoso autônomo. taquicardias • Dentre as causas sistêmicas da ocorrência desse tipo de arritmia, estão toxemia, uremia, intoxicação digitálica, uso de certos fármacos e estímulo vagal. Característica eletrocardiográfica: • Sua característica eletrocardiográfica mais importante: é a precocidade, determinada pela análise do intervalo entre o batimento sinusal e o ectópico, que deve ser menor que o intervalo PP precedente. • Outra característica eletrocardiográfica importante é a presença de complexos QRS de morfologia estreita (a não ser que haja aberrância de condução ventricular concomitante), detalhe importante na diferenciação dos batimentos ectópicos ventriculares. • O intervalo PR em geral é normal, podendo ser prolongado em casos de ritmo atrial direito inferior, enquanto a morfologia, a polaridade e o eixo elétrico no plano frontal das ondas P podem variar de acordo com o tecido de origem do batimento ectópico. • Os complexos atriais prematuros podem apresentar pausa pós-extra-sistólica compensatória ou não. Pausa pós-extra-sistólica: Compensatória: • Quando o complexo prematuro é tardio e não penetra o nó sinoatrial, apenas interfere na junção sinoatrial, de modo que o intervalo entre o batimento sinusal que antecede tal complexo e o próximo batimento sinusal (intervalos P-P* e P'-P) tem o dobro da duração intervalo PP base. • Por frequência cardíaca maior que 140 bpm em cães de raça gigante, 160 bpm nos de porte médio, 180 bpm naqueles de porte pequeno ou toy e 240 bpm em felinos, sempre com início e final gradual ("aquecimento" e "esfriamento" da taquicardia). Fêmea canina, poodle, de 15 anos de idade, com taquicardia sinusal – 50 mm/s, N = 1. Complexo atrial prematuro • Podem também ser denominados "batimentos ectópicos precoces" ou "extrassístoles". • Estão englobados dentro das extrassístoles supraventriculares Podem originar-se no: • Miocárdio atrial, no seio coronariano, nas veias pulmonares, nas veias cavas ou no ligamento de Marshall, origens que em algumas situações não são diferenciáveis apenas com o uso do eletrocardiograma. Podem ser causados: • Tanto por alterações do próprio miocárdio atrial, sobretudo estiramento atrial, quanto por alterações sistêmicas, podendo estar relacionados a automatismo anormal, reentrada ou atividade deflagrada. Taquicardia atrial • Caracteriza-se por uma série de três ou mais batimentos ectópicos atriais em sequência e pode ser definida como sustentada, quando dura 30 segundos ou mais, ou não sustentada, quando de menor duração. • Em geral, está associada a manifestações clínicas de baixo débito cardíaco quando é sustentada, incessante (dura mais de 12 horas), associada a doença cardíaca preexistente ou de frequência cardíaca alta (condução atrioventricular 1:1). Causas: • São as mesmas dos batimentos ectópicos atriais, e a análise das ondas P do traçado eletrocardiográfico é essencial para seu correto diagnóstico. • A taquicardia atrial pode ser definida como focal ou multifocal. Forma Focal: • Presença de batimentos ectópicos atriais com uma só morfologia de onda P (depende da origem do foco ectópico único), intervalos RR regulares, relação RP' /P'R > 0,7, complexos QRS estreitos (a não ser que haja distúrbio de condução ventricularassociado) e frequência cardíaca de 210 a 330 bpm no cão. Forma multifocal: • Está associada à doença atrial grave ou a alterações pulmonares agudas, tendo como características principais a presença de três ou mais morfologias distintas de onda P', com intervalos P'R também distintos entre si, além de intervalo RR irregular, apresentando frequência cardíaca maior que 180 bpm em cães adultos. Pausas não compensatórias: • Ocorrem quando extrassístoles próximas ao nó sinoatrial não interferem no ciclo sinusal normal e a soma dos intervalos P-P' e P'-P é menor que o dobro do intervalo PP base. • Os complexos atriais prematuros podem apresentar- se de forma isolada ou de maneira alorrítmica, ou seja, que se repete em determinados intervalos. O bigeminismo atrial: • Caracterizado eletrocardiograficamente pela presença de um batimento sinusal seguido de um ectópico, e, após, outro sinusal. O trigeminismo atrial • Consiste na presença de dois batimentos sinusais, seguidos de um ectópico, e assim por diante, enquanto dois complexos atriais prematuros seguidos são denominados pareados. Traçado eletrocardiográfico de fêmea canina, sem definição racial, de 12 anos de idade, com complexo supraventricular prematuro. Notar que a duração do intervalo P-p° é menor que o intervalo PP precedente e que há pausa não compensatória - 50 mm/s, N = 1. Holter 24 horas de cão com complexo juncional prematuro, marcado com um arteristico. Notas que a onda P’ está contida dentro do complexo QRS. Ritmo de base do paciente é juncional e há um complexo ventricular prematuro marcado em vermelho – 25 mm/s, N 1. Taquicardia juncional • São arritmias que obrigatoriamente precisam da região da junção atrioventricular para se manter ou ser iniciadas. • Caracterizam-se: por três ou mais batimentos juncionais prematuros sequenciais, e a frequência cardíaca desses episódios, em cães, é maior que 100 bpm. Quando a frequência fica entre 60 e 100 bpm, o ritmo é denominado apenas ritmo juncional. • Existem dois tipos de taquicardias juncionais descritas na literatura veterinária, quais sejam a taquicardia juncional focal e a não paroxística. Taquicardia juncional Focal: • É mais descrita em cães da raça Labrador Retrievier e está frequentemente associada à dissociação atrioventricular isorrítmica, podendo, no entanto, haver condução ventriculoatrial retrógrada 1:1. • Este tipo de dissociação é caracterizado pela existência de dois marcapassos independentes, porém em sincronia: o nó sinoatrial despolarizando os átrios e o foco juncional despolarizando os ventrículos em uma taxa igual ou similar. Cão com taquicardia supraventricular. Notar fusão das ondas T = P’ = 50 mm/s, N = 1. Complexo juncional prematuro • São batimentos precoces que vêm da região nodal ou transição entre região nodal e feixe de His do nó atrioventricular, das porções baixas dos átrios ou do próprio feixe de His. • Em geral, associam-se ao mecanismo de hiperautomatismo das células dessa região cardíaca, podendo estar associadas à hipopotassemia (hipocalemia), insuficiência cardíaca, intoxicação digitálica, disfunção sinusal, entre outros fatores. • Além de serem definidas por sua precocidade tal qual descrito para os batimentos atriais prematuros, as extrassístoles de origem juncional apresentam alterações na morfologia da onda P' e no intervalo PR. • De acordo com a posição do foco ectópico e da velocidade de condução do estímulo no sentido anterógrado e retrógrado, a onda P' pode apresentar- se antes do complexo QRS, estar contida dentro dele ou vir depois dele, interposta no segmento ST. • Em geral, quando a onda P' aparece antes do complexo QRS, o intervalo P'R é mais curto que o PR sinusal, dada a proximidade da região da junção atrioventricular com o nó sinoatrial. • despolarização, que pode também ter componentes funcionais. Nesse tipo de flutter, o estímulo elétrico percorre o território atrial em sentido anti-horário, enquanto na forma típica inversa, ele o faz no sentido horário. Eletrocardiograficamente: • Caracteriza-se pela presença de ondas F, com morfologia bem definida e em formato de "dente de serra", com intervalos FF regulares, podendo a frequência atrial chegar a mais de 300 bpm, sendo, em geral, menor do que na fibrilação atrial. • Ademais, na forma típica, as ondas F têm polaridade negativa nas derivações DIl, DIII e aVE, enquanto o oposto ocorre na forma típica inversa. É importante destacar que o flutter atrial representa uma atividade elétrica atrial mais organizada que a fibrilação atrial e, portanto, o flutter pode degenerar-se em uma fibrilação atrial e vice-versa. Holter 24h de femea canina com flutter atrial. Notar a presença de ondas F – 25 mm/s, N = 1. Fibrilação atrial • Atividade elétrica atrial rápida e irregular, em consequência de os átrios não contraírem efetivamente. • Representa uma condição na qual o nodo sinoatrial perde o controle sobre o ritmo cardíaco, resultando em atividade elétrica desordenada em diferentes áreas dos átrios. • Representa uma entidade mórbida importante, frequentemente debilitante em cães e gatos. • • Nos momentos em que a frequência do foco juncional supera a do nó sinoatrial, ocorre a ativação retrógrada atrial, de modo que as ondas P' são tipicamente posteriores ao complexo QRS, e seu eixo elétrico é de -80 a -100°. Taquicardia juncional não paroxística: • Pode ser encontrada em indivíduos com miocardite, doença cardíaca grave, intoxicação digitálica, hipopotassemia, isquemia miocárdica ou doença pulmonar obstrutiva crônica. • Caracteriza-se: por início e término graduais, além de frequência cardíaca de 60 a 130 bpm, sendo as ondas P' tipicamente anteriores aos complexos QRS, com eixo elétrico de -80° a -100° e com intervalo P'R menor do que o sinusal. Flutter atrial • Arritmia decorrente de um circuito de macrorreentrada atrial, independente do nó atrioventricular. • É secundário a doenças cardíacas que cursam com remodelamento atrial (cardiomiopatias, valvopatia mixomatosa mitral, PDA, displasia tricúspide, defeito de septo interventricular, estenose pulmonar e dirofilariose, entre outros, apesar de poder ser encontrada em pacientes sem doença cardíaca estrutural). Flutter típico: • A forma mais frequente de flutter atrial é o dependente do istmo cavo-tricuspídeo, na qual o circuito é confinado ao átrio direito. Isso se dá pela presença de uma área de condução lenta na região posterolateral a posteromedial desta câmara, englobando a região de inserção da veia cava caudal, a ponte de Eustachio e o ânulo da valva tricúspide, formando uma barreira anatômica à frente de despolarização, que pode também ter componentes funcionais. Nesse tipo de flutter, o estímulo elétrico Eletrocardiograficamente: • A fibrilação atrial pode ser identificada por três pontos principais: ritmo marcadamente irregular, frequência cardíaca elevada (130 a 260 em cães e 200 a 280 em gatos) e ausência de ondas P, que são substituídas por ondas de atividade elétrica desorganizadas, denominadas ondas f. • A frequência atrial nesses pacientes pode chegar a 400 a 600 bpm, de modo que a condução atrioventricular é limitada fisiologicamente pelo nó sinoatrial, de modo a impedir que a frequência ventricular também se eleve aesses valores, visto que isso poderia ser letal ao animal acometido. Traçado eletrocardiográfico de cão com fibrilação atrial. Notar a irregularidade do ritmo, a ausência de ondas P e a frequência de até 230 bpm - 50 mm/s, N = 1. OUTROS TIPOS DE TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULARES • Outras taquicardias supraventriculares de ocorrência menos frequente são: Taquicardia atrioventricular reciprocante nodal • Depende de um circuito de microrreentrada anatômico, formado no nó atrioventricular – para sua iniclação e manutenção; Causas mais comuns: • Nos cães são a idiopática, que pode ocorrer sobretudo em cães de grande porte, a cardiomiopatia dilatada e a insuficiência valvar crônica de mitral. Com menos frequência, pode-se observar secundária à endocardite, a doenças cardíacas congênitas não tratadas, à dirofilariose com comprometimento pulmonar, ao uso de fármacos arritmogênicos, à neoplasia e ao trauma. • Relacionada a pior prognóstico em cães com valvopatia mitral mixomatosa. • Essa taquiarritmia reflete a presença de alterações cardíacas estruturais importantes, além de causar um esvaziamento prejudicado do átrio esquerdo devido à sua alta frequência cardíaca e, consequentemente, a um aumento da pressão intra-atrial esquerda, agravando o quadro de congestão. Ademais, a alta frequência cardíaca por períodos prolongados pode induzir uma disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, podendo evoluir para taquicardiomiopatia. Acredita-se que todos os mecanismos supracitados de gênese de arritmias sejam válidos, visto que a FA é uma entidade com etiologia múltipla e diversa. Assim, sugere-se que o hiperautomatismo de focos no óstio das veias pulmonares esteja relacionado à ocorrência de FA paroxística e em pacientes com a Síndrome do QT longo, que a atividade deflagrada e os pós- potenciais tardios estejam associados à FA em pacientes com ICC ou com mutações nos receptores de rianodina, e que a reentrada esteja ligada ao advento e perpetuação dessa arritmia na presença de obstáculos estruturais e aumento atrial. Outros tipos de taquicardia supraventriculares Taquicardia mais comum mediada por via acessória: Taquicardia atrioventricular ortodròmica reciprocante • baseia-se na presença de uma via usualmente localizada na região posterosseptal que conduz estímulos de maneira retrógrada. Nesse tipo de taquicardia, os estímulos são conduzidos de maneira anterógrada pelo nó atrioventricular e retrógrada pelo feixe anômalo. Essa disritmia é descrita principalmente em Labradores e Boxers. • Eletrocardiograficamente: caracteriza-se pela presença de ondas P° retrógradas observadas ao final do segmento ST, RP'/P'R $ 0,7, alternância elétrica do complexo QRS, condução ventrículo-atrial1:1, intervalo RR regular, além de início e término súbitos. Complexo ventricular prematuro • Os complexos ou batimentos ventriculares prematuros são definidos por sua precocidade e origem. Tais complexos originam-se no sistema de condução especializado dos ventrículos (feixe de His, ramos ou fibras de Purkinje) ou no miocárdio de trabalho ordinário. • É possível analisar a presença de pausa pós- extrassistólica e a organização dos batimentos ventriculares prematuros, sendo estes classificados como quando provenientes de um só foco, ou polimórficos quando há dois ou mais focos ectópicos. • É importante ressaltar que, devido à alteração da repolarização ventricular, a onda T dos batimentos ventriculares prematuros apresenta-se com duração e amplitude aumentadas, além de polaridade inversa à principal deflexão do complexo QRS. Taquicardias mediadas por via acessória • Dependem de circuitos de reentradas anatômicos, formados pelo nó atrioventricular e por feixes musculares que conectam os átrios e os ventrículos → Sendo estas representadas por feixes musculares congênitos que não regrediram com a formação do esqueleto cardíaco fibroso. • A localização anatômica do feixe é variada e existem trabalhos em cães descrevendo as propriedades anatômicas e eletrofisiológicas desses feixes na espécie. Sabe-se que essas conexões musculares podem conduzir os estímulos de maneira bidirecional ou unidirecional anterógrada (dos átrios para os ventrículos) ou retrógrada (dos ventrículos para os átrios). • Manifestação sugestiva da presença de um feixe anômalo: Pré-excitação ventricular: • Baseia-se na despolarização anterógrada ventricular através da via acessória de maneira mais rápida do que pelo sistema de condução de His-Purkinje. • É importante destacar que a ausência de pré- excitação ventricular não exclui o diagnóstico de feixe acessório, pois está só se manifesta em alguns casos nos quais a via de condução tem a habilidade de conduzir estímulos em sentido anterógrado. • Eletrocardiograficamente: a pré-excitação ventricular manifesta-se pela presença de intervalos PR curtos (menores que 0,06 segundos no cão e 0,05 segundos no gato), evidências de distúrbio da repolarização ventricular (desnivelamentos de ST e/ou ondas T simétricas e apiculadas) e pela evidenciação de onda delta, deixando o complexo QRS com duração aumentada e morfologia bizarra. A onda delta consiste em um entalhe no início do complexo QRS e resulta da fusão das frentes de despolarização ventricular pelo feixe anômalo e pelo sistema de His-Purkinje. • No entanto, sabe-se que, quanto maior a complexidade da arritmia ventricular, maior a chance de que esta reflita uma doença cardíaca ou sistêmica e que possa causar manifestações clínicas ou degenerar para arritmias de caráter maligno. Arritmias ventriculares de maior complexidade, frequentes e com organização alorrítmica: • estão relacionadas a uma grande diversidade de agravos (afecções cardíacas, como cardiomiopatia dilatada, cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito, miocardite, insuficiência cardíaca congestiva, neoplasias cardíacas, pericardite, isquemia etc., além de doenças extracardíacas, como síndrome da dilatação vólvulo-gástrica, neoplasias abdominais ou torácicas, anemia, pancreatite, uremia, trauma torácico, hipertireoidismo etc). A, Be C- (A) Traçado de Holter 24 horas de cão com bigeminismo ventricular - 50 mm/s, N = 1. (B) Traçado de Holter 24 horas de cão com trigeminismo ventricular - 50 mm/s. N=1. (C) Traçado de Holter 24 horas de cão com • Frentes de despolarização oriundas do ventrículo direito resultam em complexos com morfologia de bloqueio de ramo esquerdo, e aquelas oriundas do ventrículo esquerdo geram complexos com características de bloqueio de ramo direito. A e B - (A) Traçado eletrocardiográfico de cão com batimento ectópico ventricular originário do ventrículo direito -50 mm/s, N = 1. (B) Traçado eletrocardiográfico de cão com batimentos ectópicos ventriculares pareados originários do ventrículo esquerdo - 50 mm/s, N = 1. Mecanismos responsáveis: • Podem ser a reentrada, o hiperautomatismo/automatismo anormal ou a atividade deflagrada, esta última principalmente em casos de intoxicação digitálica. • A presença de complexos ventriculares prematuros nem sempre está relacionada a doenças, podendo ser encontrada em corações normais de cães e gatos, desde que tais batimentos sejam isolados e infrequentes ao Holter 24 horas. • O ritmo idioventricular acelerado e a taquicardia ventricular monomórfica são ritmos usualmente regulares,enquanto a taquicardia ventricular polimórfica é geralmente irregular. • Outra característica que pode ajudar a identificar taquicardias ventriculares, diferenciando-as de taquicardias supraventriculares com aberrância de condução, é a presença de dissociação ventricular e de complexos de fusão e de captura. Traçado eletrocardiográfico de cão com ritmo idioventricular acelerado - frequência cardíaca 176 bpm-50 mm/s, N=1. Traçado eletrocardiográfico de cão com episódio de taquicardia ventricular polimórfica - frequência cardíaca máxima 300 bpm. Notar irregularidade do ritmo - 50 mm/s, N = 1. Fibrilação ventricular • É considerada um ritmo terminal, caótico, desorganizado e que usualmente evolui para morte do animal em poucos minutos. A frequência cardíaca pode chegar a 500 a 600 bpm, incorrendo em débito cardíaco praticamente inexistente. Taquicardia ventricular • É considerada a mais preocupante de todas as taquiarritmias, devido à possibilidade de gerar importante comprometimento hemodinâmico. • É definida pela presença de três ou mais complexos ventriculares prematuros, sejam eles monomórficos ou polimórficos, com frequência cardíaca alta, podendo apresentar-se na forma sustentada ou não sustentada, conforme descrito para a taquicardia atrial. • São descritas na literatura também a forma incessante, que dura mais de 12 horas; a paroxística, que apresenta início e término súbitos; a não paroxística e a bidirecional, que se baseiam na variação do eixo elétrico no plano frontal da extrassístole batimento a batimento. Causas: • São as mesmas descritas para os complexos ventriculares prematuros, destacando-se a importância da identificação correta deste tipo de arritmia para o diagnóstico e prognóstico de pacientes acometidos por cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito e cardiomiopatia dilatada, esta última principalmente na raça Dobermann. • Um dos critérios eletrocardiográficos mais importantes a ser analisado no curso de uma taquicardia de QRS largo é a frequência cardíaca. A taquicardia ventricular em cães e gatos caracteriza-se por frequência maior que 180 bpm. Em situações em que a frequência se encontra entre 66 e 180 bpm no cão e 140 e 180 bpm no gato, o ritmo passa a ser denominado ritmo idioventricular acelerado, que é, na maioria das situações, uma arritmia benigna e hemodinamicamente tolerável. Manifestações eletrocardiográficas: • Disfunção do nó sinusal/síndrome do nó doente ou pode ser secundária a algumas condições, como adaptação fisiológica de animais atletas, hipotermia, hipotireoidismo, aumento da pressão intracraniana, lesões em tronco cerebral, doenças metabólicas graves, compressão ocular ou do seio carotídeo e aumento do tônus vagal (associado a doenças do trato gastrintestinal ou respiratório). Parada sinusal e bloqueio sinoatrial • Devido à presença de arritmia sinusal em cães e gatos como um ritmo normal, a diferenciação dos eventos de parada sinusal e bloqueio sinoatrial apenas por meio do eletrocardiograma não é possível em algumas situações. Parada sinusal • Consiste em falha na formação do impulso sinusal no nó sinoatrial, podendo ser secundária ao hipertono vagal ou ser indicativa de disfunção do nó sinusal. Sua característica eletrocardiográfica principal é a presença de um intervalo RR maior que o dobro do intervalo RR anterior; Eletrocardiograficamente: • Define-se pela presença de oscilações da linha de base que podem ser finas ou grosseiras, tornando impossível a identificação dos componentes P, QRS e T do traçado. Ocorre: • Quando diversas áreas de refratariedade diferentes coexistem no tecido miocárdico, incorrendo em uma quebra da frente de despolarização em diversas pequenas frentes. • Em algumas situações, complexos ventriculares prematuros podem ocasionar episódios de taquicardia ventricular ou até mesmo de fibrilação ventricular. Mecanismos envolvidos: • São complexos e não completamente entendidos, mas sabe-se que os três componentes do triângulo de Coumel são essenciais nesses casos. Um dos fatores que aumentam o risco de fibrilação ventricular é o fenômeno R sobre T, no qual a incidência de uma extrassístole ventricular na onda T do batimento anterior ocasiona uma despolarização na fase vulnerável da repolarização, quando as células estão em diferentes estágios de recuperação. Bradicardias Bradicardia sinusal • É um ritmo decorrente da diminuição do automatismo das células do nó sinoatrial. Assim sendo, ela apresenta as mesmas características descritas para o ritmo sinusal, apenas diferindo na frequência cardíaca, que deve ser abaixo de 70 bpm para cães adultos, 60 bpm para raças gigantes, 80 bpm para raças toy e menor que 160 bpm para gatos. Bradicardias • Reforça-se que, no caso de bloqueios sinoatriais de segundo grau e/ou parada sinusal com pausas longas, é comum observar batimentos de escape juncionais ou ventriculares. Silêncio atrial • O silêncio atrial persistente é uma bradiarritmia de origem familial, diagnosticada mais frequentemente em cães das raças Springer Spaniel e Bobtail e raramente em gatos Siameses. Em geral, associa-se com distrofia muscular atrioventricular, na qual o tecido atrial e, eventualmente, ventricular é substituído por tecido fibroso. • Caracteriza-se: pela ausência de despolarização das células do nó sinoatrial, de modo que o ritmo cardíaco é comandado pelos marcapassos subsidiários juncionais ou ventriculares. Eletrocardiograficamente: • Manifesta-se pela ausência de onda P, intervalo RR regular, ritmo menor que 60 para cães e 160 para gatos, não responsivos à atropina. Bloqueio atrioventricular • Ocorrem quando os impulsos atriais sofrem retardo ou falha de condução na sua transmissão para os ventrículos. A localização exata do bloqueio só pode ser definida pelo estudo eletrofisiológico, podendo ser mais proximal ou mais distal, intra-atrial, no nó atrioventricular, no feixe de His ou em seus ramos. Causas: • Diversas causas determinam os bloqueios atrioventriculares, podendo ser observados em corações normais durante a fase do sono por estimulação vagal, em corações doentes com endocardite bacteriana, miocardite, insuficiência cardíaca congestiva, cardiomiopatia hipertrófica, cardiomiopatia dilatada, tumores cardíacos, Eletrocardiográfico de cão com episódio de parada sinusal. Notar que o intervalo PP que contém a pausa é maior que o dobro do intervalo PP anterior, porém não é múltiplo deste - 50 mm/s, N = 1. Bloqueio sinoatrial • Consiste numa falha da condução do impulso sinusal para os átrios e pode ser classificado em primeiro, segundo e terceiro graus, embora apenas os dois últimos sejam identificáveis com acurácia pelo eletrocardiograma em cães e gatos. Bloqueio sinoatrial de primeiro grau: • Consiste no retardo na condução da frente de despolarização do nó sinusal para o tecido atrial subjacente, que não ocasiona alterações eletrocardiográficas detectáveis. O de segundo grau: • É caracterizado por uma efetiva ausência de condução desse estímulo, de maneira que o traçado eletrocardiográfico evidencia presença de um intervalo RR maior que o dobro do intervalo RR anterior e múltiplo deste. O bloqueio sinoatrial de terceiro grau: • Ocorre quando há ausência de despolarização atrial por bloqueio da saída dos estímulos sinusais do nó sinoatrial, sendo indistinguível do silêncio atrial sem a realização de um estudo eletrofisiológico. Nesta situação, oritmo de base será um ritmo de escape juncional ou ventricular. Bloqueios atrioventriculares de segundo grau • Ocorrem quando há falha na transmissão da frente de despolarização dos átrios para os ventrículos, em períodos em que o nó atrioventricular já está teoricamente fora de seu período refratário. Podem ser classificados em tipo I, também chamado Wenckebach ou Mobitz tipo 1, e tipo II, ou Mobitz tipo 2. O bloqueio atrioventricular de segundo grau Mobitz tipo I: • O corre quando há dificuldade de condução progressiva, resultando em falha de condução variável. • O mecanismo eletrofisiológico responsável por este tipo de alteração não é totalmente conhecido, porém acredita-se que a condução decrimental dos estímulos esteja envolvida. • Neste tipo de bloqueio há um prolongamento progressivo do intervalo PR antes do surgimento de uma onda P bloqueada. • Na forma típica: o primeiro batimento após a onda P bloqueada apresenta o intervalo PR mais curto do que o batimento que a precede, enquanto o segundo batimento após a onda P bloqueada apresenta o intervalo PR mais longo do ciclo. Além disso, há diminuição progressiva do intervalo RR antes da onda P não conduzida. • Na forma atípica: que, paradoxalmente, é a mais comum na rotina clínica, visto que ocorre na presença de arritmia sinusal e alterações do tônus vagal, não há a diminuição do intervalo RR e não necessariamente o intervalo PR mais longo do ciclo é o segundo após o bloqueio. No entanto, nessa forma, o intervalo PR do batimento, imediatamente após o bloqueio, deve ser mais curto que o anterior, pois a capacidade de condução nodal é recuperada após a pausa. Traçado eletrocardiográfico de bloqueio atrioventricular • cardiomiopatia dilatada, tumores cardíacos, cardiopatias congênitas, secundariamente ao efeito de medicamentos antiarrítmicos, distúrbios eletrolíticos, hipotireoidismo e doenças autoimunes. A classificação dos bloqueios atrioventriculares é feita com base no eletrocardiograma em: ▪ Bloqueio atrioventricular de primeiro grau; ▪ Bloqueio atrioventricular de segundo grau tipo I ou tipo II; ▪ Bloqueio atrioventricular do tipo 2:1; ▪ Bloqueio atrioventricular de grau avançado; ▪ Bloqueio atrioventricular de terceiro grau (total). Bloqueio atrioventricular de primeiro grau: • Consiste no retardo de condução da frente de despolarização atrial até os ventrículos, sem causar um bloqueio completo. Eletrocardiograficamente: • Manifesta-se pelo prolongamento do intervalo PR (maior que 0,13 segundos em cães e 0,09 segundos em gatos), sendo a onda P de morfologia e eixo sinusais. Em geral, são benignos, não incorrem em manifestações clínicas e não requerem tratamento. Traçado eletrocardiográfico de bloqueio atrioventricular de primeiro grau. Notar que o intervalo PR = 0,14 segundos - 50 mm/s, N = 1. • Nesses casos, o paciente pode apresentar manifestações clínicas de baixo débito cardíaco, como síncope e intolerância ao exercício, de modo que o bloqueio atrioventricular total consiste em uma das maiores indicações de colocação de marcapasso artificial. Traçado de Holter 24 horas de cão com bloqueio atrioventricular de terceiro grau. Notar a presença de ritmo de escape ventricular - 50 mm/s, N = 1. Ritmos de escape • Os ritmos de escape nada mais são do que ritmos comandados por marcapassos cardíacos subsidiários, na ausência de despolarização do marcapasso cardíaco principal. Sabe-se que a frequência de disparo do nó sinusal é maior que a do nó atrioventricular, que é maior do que a do sistema de condução ventricular. Assim, quando, por alguma razão, o nó sinusal deixa de despolarizar em sua frequência adequada, o nó atrioventricular passa a assumir o ritmo cardíaco, e, quando este deixa de despolarizar-se automaticamente, o sistema de condução ventricular assume o controle. • É essencial o correto diagnóstico desses tipos de ritmo, pois o tratamento equivocado de um ritmo de escape, confundindo-o com uma taquicardia juncional ou ventricular, pode levar o animal a óbito ao suprimir o marcapasso vigente e responsável pela efetiva despolarização cardíaca. Traçado eletrocardiográfico de bloqueio atrioventricular de segundo grau Mobitz tipo 1 atípico. Notar o prolongamento do intervalo PR antes da onda P bloqueada - DII, 25 mm/s, N = 1. Bloqueios atrioventriculares de segundo grau tipo II: • Ocorrem quando há intervalo PR constante e falhas de condução dos estímulos para os ventrículos de maneira periódica. • Tais bloqueios são mais preocupantes do que os do tipo I, por progredirem com mais frequência para tipos mais avançados. • Eletrocardiograficamente: caracteriza-se por intervalos PR constantes, sejam normais ou prolongados, e condução atrioventricular variável. Traçado eletrocardiográfico de bloqueio atrioventricular de segundo grau Mobitz tipo 2. Notar ausência de prolongamento do intervalo PR antes da onda P bloqueada - DII, 25 mm/s, N=1. • Quando uma onda P bloqueada se alterna com uma P conduzida num traçado eletrocardiográfico, caracteriza-se o bloqueio atrioventricular denominado tipo 2:1, visto que não há como analisar se há aumento do intervalo PR antes do bloqueio propriamente dito. Bloqueio atrioventricular avançado: • Consiste na presença de duas ou mais ondas P bloqueadas em sequência, podendo haver períodos de ritmo de escape, enquanto o bloqueio atrioventricular total caracteriza-se pelo bloqueio de todas as ondas P sinusais, sendo constantes o ritmo de escape e a dissociação atrioventricular. A e B - (A) Batimento ventricular prematuro. Notar que o intervalo entre o batimento ectópico e o batimento anterior a este é menor que o ciclo RR base - 50 mm/s, N = 1. (B) Batimento de escape ventricular. Notar que o batimento em questão vem após uma pausa no ritmo cardíaco - 50 mm/s, N = 1. Disfunção do nó sinusal e síndrome do nó doente • Representa um distúrbio complexo e multifatorial de formação e condução do impulso elétrico cardíaco no nó sinoatrial. Quando tal disfunção se apresenta associada a manifestações clínicas ou a longos períodos de assistolia, é referida como Síndrome do Nó Doente. • Em cães: sabe-se que existe predisposição de indivíduos de meia-idade a idosos, principalmente fêmeas da raça Schnauzer. Outras raças também apresentam predisposição à Síndrome do Nó Doente, tais como Dachshund, West Highland White Terrier, Cocker Spaniel e Pug. Wess et al. relataram o diagnóstico da Síndrome do Nó Doente em 13 Schnauzers Miniaturas, 10 Cocker Spaniels, dois Labradores e um cão sem definição racial, que foram posteriormente tratados com implantes de marcapassos artificiais. • Jonhson et al., por sua vez, descreveram a afecção em 13 West Highland White Terriers, três Springer Spaniels, um Labrador, um Boxer e um cão sem definição racial. • O principal método de identificação desse tipo de alteração é a frequência cardíaca. Ritmos com batimentos de morfologia juncional, intervalo RR regular e frequência usualmente em torno de 40 a 60 bpm no cão são chamados ritmos de escape juncional. Traçado eletrocardiográfico ilustrando um ritmo de escape juncional - 50 mm/s, N = 1. • Ritmos de escape ventricular são também chamados de ritmos idioventriculares e geralmente têm frequência cardíaca menor que 40 a 50 bpm no cão, menor que 100 bpm nogato e QRS de morfologia bizarra. • Da mesma forma, batimentos ectópicos que interrompem uma pausa no ritmo cardíaco são denominados batimentos de escape e também devem ser diferenciados de batimentos prematuros. TERAPIA ANTIARRÍTMICA • Diante do baixo índice terapêutico da maioria dos fármacos antiarrítmicos e dos resultados do estudo CAST, que mostrou que alguns destes fármacos aumentaram a mortalidade dos pacientes pós-infarto agudo do miocárdio, tais alternativas vêm sendo alvo de pesquisas mais frequentes nos últimos anos, em detrimento dos medicamentos antiarrítmicos. • Apesar de todos os riscos associados a essa classe de medicamentos, na medicina veterinária eles ainda são a única opção de tratamento para quase todos os pacientes com arritmias potencialmente fatais, devendo ser utilizados com o objetivo de aliviar manifestações clínicas associadas, prevenir a degeneração para arritmias malignas e para melhorar a performance cardíaca se esta estiver deteriorada pela taquicardia ou dissincronia inerentes ao ritmo em questão. • De modo geral, o consenso é de que devem ser tratadas as arritmias que incorrem em manifestações clínicas, instabilidade hemodinâmica (avaliada pela pressão arterial, temperatura e perfusão do paciente), risco de morte súbita e risco de desenvolvimento de taquicardiomiopatia. • Na escolha do melhor fármaco a ser utilizado, é preciso levar em consideração o estado clínico do animal, a presença de comorbidades cardíacas ou sistêmicas associadas, medicamentos em uso e lembrar-se de que toda medicação antiarrítmica tem potencial pró-arrítmico. • O objetivo do tratamento nem sempre é restaurar o ritmo cardíaco sinusal, como ocorre na fibrilação associada à cardiopatia estrutural. Em situações em que há fibrilação atrial de curso crônico, com remodelamento atrial, em geral adota-se a estratégia de controle de frequência cardíaca, visto que sua manutenção é mais factível do que a manutenção do • Quando sintomáticos, os animais usualmente apresentam manifestações clínicas secundárias ao baixo débito cardíaco, como diminuição das atividades cotidianas, intolerância ao exercício, pré- síncope e síncope. Futuramente, esses animais podem também desenvolver quadros de insuficiência cardíaca congestiva associada à disfunção. Manifestações eletrocardiográficas: • Que podem caracterizar essa afecção são a bradicardia sinusal; parada sinusal com pausas de 2 a 8 segundos, seguidas de batimentos de escape juncionais, (bloqueios sinoatriais de segundo e terceiro grau); períodos de bradicardia seguidos de ritmo idioventricular acelerado (síndrome bradicardia-taquicardia); períodos de taquicardia supraventricular seguidos de pausa prolongada (síndrome taquicardia-bradicardia). • Ainda existem poucos trabalhos embasando a melhor estratégia terapêutica para a síndrome do nó doente. Estudo recente sugere que animais responsivos ao teste de atropinização podem ter boa resposta terapêutica à terapia medicamentosa com fármacos anticolinérgicos, enquanto aqueles não responsivos podem precisar de implante de marcapasso para aliviar as manifestações clínicas da doença. Traçado de Holter 24 horas de cão com Sin- drome do Nó Doente. Notar parada sinusal prolongada seguida de batimentos de escape juncional. Terapia antiarrítmica A procainamida • Tem efeitos similares aos da quinidina, sendo também utilizada para arritmias supraventriculares e ventriculares, e especificamente com ação inibitória em via acessória de cães com taquicardia atrioventricular ortodrômica reentrante. • Em cães da raça Boxer; observou-se boa redução de arritmias ventriculares com o uso do fármaco, porém sem melhora das manifestações clínicas e à custa de efeitos colaterais acentuados. Subclasse IB • Fármacos deste subgrupo diminuem a despolarização da fase 0 e a velocidade de condução apenas nos tecidos lesados, isso porque possuem afinidade por canais rápidos de sódio inativados. Seus efeitos são mínimos nos tecidos condutores, como nos nodos sinusal e atrioventricular, assim como no músculo atrial e no inotropismo. • Como membros desta classe, os mais comumente utilizados em cardiologia veterinária são a lidocaína (sem vasoconstritor) e o mexiletine - este último, apesar de ser bastante utilizado em outros países por ser extremamente eficaz, ainda não está disponível no Brasil. A lidocaína • É utilizada por via intravenosa principalmente no tratamento emergencial das arritmias ventriculares, sendo bastante eficaz em especial em cães Pastores Alemães com arritmia ventricular hereditária. • Age suprimindo a automaticidade, diminuindo a velocidade de condução e prolongando o período refratário nas células lesadas. • O profissional deve atentar para a possibilidade de intoxicação, que se manifesta com alterações neurológicas, como ataxia, diminuição do nível de consciência e convulsões. • ritmo sinusal após a cardioversão, e visto que trabalhos humanos não comprovaram a superioridade de uma estratégia sobre a outra. Classe i • Formada por fármacos que bloqueiam os canais rápidos de sódio, influenciando na fase O do potencial de ação e diminuindo, assim, a velocidade de condução. • São eficientes em arritmias causadas por mecanismo de reentrada e funcionam melhor em células altamente dependentes dos canais rápidos de sódio, como as de Purkinje e as do miocárdio ventricular, tendo sua eficácia reduzida na presença de hipocalemia. Subdivide-se em: Subclasse IA • Inibem acentuadamente a fase, o do potencial de ação, diminuindo a condutividade e prolongando o período refratário absoluto. Por este motivo, são úteis em suprimir mecanismos de reentrada. São representados pela quinidina e pela procainamida. A quinidina • Pode diminuir a condutividade em vias acessórias, prolongando o seu período refratário, além de ter influência sobre potenciais tardios. Pode aumentar a duração dos intervalos PR e QT e causar alargamento do complexo QRS. • Indicada para: tratamento de arritmias supraventriculares e ventriculares, porém caiu em desuso devido à grande inciência de efeitos colaterais, incluindo efeitos pró-arrítmicos. Classificação dos fármacos antiarrítmicos • Embora a estimulação adrenérgica exagerada não seja a causadora de arritmias, ela pode piorar um quadro preexistente e, nessas circunstâncias, o uso de betabloqueadores pode ser benéfico, pois minimiza os efeitos deletérios dessa condição. • Utilizadas: para tratamento de arritmias de origem supra- ventricular e também ventricular, geralmente em associação com outros antiarrítmicos. • Usado com cautela com animais com insuficiência cardíaca. São representantes desta classe: • O atenolol → utilizado em gatos com cardiomiopatia hipertrófica, com o intuito de, entre outras coisas, diminuir a frequência cardíaca, • O esmolo → disponível na apresentação injetável e bastante utilizado em ambiente de terapia intensiva no tratamento das arritmias ventriculares. Classe Ill • Possuem a capacidade de prolongar o potencial de ação e o período refratário, e, para isso, bloqueiam os canais de potássio, impedindo que o tecido em questão gere novos potenciais de ação antes de repolarizar por completo. • Destacam-se nesta classe de fármacos a amiodarona e o sotalol, ambos amplamente utilizados em cardiologia veterinária.A amiodarona • Antiarrítmico de amplo espectro, engloba características de todas as classes. • Tem interação com alguns fármacos, entre os quais a digoxina, que tem sua concentração sérica aumentada, e, por isso, deve ter sua dose diminuída quando associada a este fármaco. • Estas alterações tendem a desaparecer com a interrupção da administração, porém o uso de anticonvulsivantes pode ser necessário. Subclasse IC • É composta por fármacos que bloqueia canais lentos de sódio e influenciam minimamente na duração do período refratário e do potencial, deprimindo acentuadamente a fase O e a velocidade de condução. Utilizados: • Na medicina humana para tratamento de arritmias supraventriculares, ventriculares e aquelas que envolvam vias acessórias, têm efeito negativo sobre o inotropismo, débito cardíaco e pressão arterial sistêmica, sendo, dessa forma, contraindicados para pacientes congestos e/ou com disfunção sistólica. São representantes desta classe: • Flecainida • Propafenona → possui ação estabilizadora no miocárdio, prolonga a condução no nodo atrioventricular e possui efeitos betabloqueadores. Dose de 3 a 5 mg/kg a cada 8 horas, por via oral em cães com arritmias ventriculares sem IC. Ainda não há comprovação cientifica. Classe II • Formada por agentes que possuem atividade antiadrenérgica, ou seja, os betabloqueadores. Atuam na fase 4 do potencial de ação, deprimindo-a e diminuindo a automaticidade por meio do aumento do limiar de excitação das células dos nodos sinusal e atrioventricular. • Embora uma discreta elevação de enzimas hepáticas antes do tratamento seja motivo de atenção por parte do médico-veterinário, isso não impede o uso da amiodarona, podendo até mesmo haver diminuição daquelas durante o tratamento. • O mesmo vale para a presença de hipotireoidismo ou o seu desenvolvimento durante o tratamento, e apenas o profissional deverá estar atento e realizar controle periódico da função hepática e dos hormônios tireoidianos. O sotalol • Betabloqueador, possui efeitos desta classe em baixas dosagens, porém, em doses mais altas, possui efeitos de classe IlI, e, por isso, está incluso nesta categoria. Apesar de possuir um efeito inotrópico negativo e, por essa razão, requerer cautela na sua utilização em animais com insuficiência cardíaca congestiva, seus efeitos são modestos se comparados com outros betabloqueadores, e aparentemente é bem tolerado mesmo em animais com dilatação atrial e disfunção sistólica. • Sua administração deve se dar preferencialmente sem alimento, pois apresenta melhor absorção nestas condições, atingindo seu pico máximo de ação dentro de 2 a 3 dias. • Utilizado: principalmente no tratamento de arritmias ventriculares, sendo considerado bastante eficaz em diminuir o número de contrações ventriculares prematuras, sua complexidade (foi capaz de reduzir o aparecimento de padrões como bigeminismo e trigeminismo, por exemplo) e a frequência cardíaca. Apesar disso, os animais desse estudo não apresentaram melhora das manifestações clínicas, como síncope. Há indícios de que o sotalol e outros betabloqueadores podem agravar síncopes vasovagais (síncope associada à bradicardia) em cães da raça Boxer, sendo esta uma possível contraindicação do uso do fármaco. • É utilizada: no tratamento tanto de arritmias supraventriculares como nas de origem ventricular, sendo efetiva em ambas as situações. • Na fibrilação atrial, há a possibilidade de diferentes abordagens, tanto aquela que tenta obter a reversão para o ritmo sinusal como aquela que privilegia o controle da frequência cardíaca com diminuição dos efeitos deletérios dos altos valores dela, assumindo que as chances de reversão são pequenas. • Por via oral, a amiodarona apresentou bom controle da frequência cardíaca, o que a torna uma opção viável mesmo em pacientes com disfunção sistólica. A reversão para o ritmo sinusal foi descrita em cães, porém com uso da medicação por via intravenosa. Reações adversas por via intravenosa: • Hipotensão, taquipneia, broncoespasmo, inquietação e alterações cutâneas, como prurido intenso, eritema, edema subcutâneo e urticária. Acredita-se que essas reações sejam decorrentes do veículo utilizado na formação das apresentações de amiodarona que contém polisorbato 80 e álcool benzílico → cautela com o uso IV e que se opte, caso seja possível, por apresentações com veiculos isentos dessas substâncias, ou que o animal seja medicado previamente com anti-histamínicos. Reações adversas por via intravenosa: • Em cães: são observadas alterações hepáticas, gastrintestinais, tireotoxicidade e, ocasionalmente, neutropenia e anemia. O efeito sobre a função hepática é devido ao impacto do fármaco no metabolismo lipídico, levando à lipidose e aumento dos ácidos graxos não esterificados, com consequente toxicidade aos hepatócitos. Cães da raça Dobermann parecem ser mais sensíveis aos efeitos colaterais hepáticos. • Os efeitos adversos são incomuns, porém, em doses altas, podem ocorrer bradicardia e bloqueio atrioventricular, além de haver relatos de possível efeito inotrópico negativo, ainda que não haja confirmação científica em estudo prospectivo. Outros • Alguns fármacos antiarrítmicos não se encaixam na classificação de Vaughan Williams, por exemplo, os digitálicos. Esta classe de medicamentos vem sendo menos utilizada em medicina humana, devido ao benefício clínico limitado e aos efeitos colaterais consideráveis. Em medicina veterinária, no entanto, continuam a ser recomendados, principalmente a digoxina, para a redução de frequência cardíaca na fibrilação atrial. • Por possuir baixo índice terapêutico, é essencial que o cardiólogo conheça bem as particularidades e as interações medicamentosas desse fármaco. Seu mecanismo de ação baseia-se na inibição da Na+K+ ATPase, promovendo aumento da troca de Na+ por Ca,+, aumentando a contratilidade miocárdica, ainda que este efeito inotrópico positivo seja considerado fraco. Além disso, ocorrem efeitos parassimpaticomiméticos, aumentando o tônus vagal nos nodos sinoatrial e atrioventricular, incorrendo em efeito cronotrópico negativo. Adicionalmente, também ocorre diminuição da duração do potencial de ação e do período refratário, o que ilustra o quão complexos são os digitálicos. Digoxina • Tem boa absorção oral, sendo a formulação em elixir mais bem absorvida do que os comprimidos. A meia-vida do fármaco é muito variável entre indivíduos, tanto na espécie humana quanto na espécie canina. Classe iv • Medicamentos desta classe são chamados de bloqueadores de canais de cálcio, cuja principal ação é diminuir o influxo de cálcio por canais lentos (tipo L). De maneira geral, estes fármacos exercem efeitos importantes sobre o nó sinoatrial e o atrioventricular, alem de serem muito utilizados para o tratamento de arritmias supraventriculares. • Por afetarem os canais de cálcio tipo L, os bloqueadores dos canais de cálcio agem em tecido miocárdico, cuja ação é mediada por potenciais de ação do tipo lento, e não agem bem em tecidos mediados por potenciais de ação rápidos, mediados por canais de sódio, como o sistema de condução infranodal e os ventrículos. • Seus principais representantes são o diltiazem e o verapamil. O diltiazem • É mais amplamente empregado na prática clínica, e sua principal indicação é na redução da frequência cardíaca por meio do aumento do período refratário efetivo e funcional do nó atrioventricular,podendo gerar bloqueios atrioventriculares. Assim como ocorre com a maioria dos antiarrítmicos, há falta de trabalhos científicos embasando sua utilização, porém existe evidência de que a combinação de diltiazem e digoxina é superior ao uso de cada fármaco isolado para o controle de frequência na fibrilação atrial. • É metabolizado no fígado e, quando administrado por via oral nos cães, tem pico de ação em duas horas e duração de seis horas, enquanto nos gatos tem pico de concentração plasmática entre 30 e 90 minutos e duração de oito horas. • Portanto, para monitoramento de sua eficácia, recomenda-se a dosagem sérica do fármaco, sendo que a concentração terapêutica varia de 0,8 a 1,5 ng/mL, havendo recomendação de alguns cardiólogos de manutenção deste parâmetro entre 0,9 e 1,0 ng/mL. • Sua excreção é renal, portanto, em pacientes com doença renal crônica o medicamento deve ser utilizado com cuidado. • Os sintomas mais frequentes da intoxicação por digoxina são: anorexia, náusea, êmese, diarreia, alterações neurológicas do SNC e alterações cardíacas, como bradiarritmias e taquiarritmias. • O diagnóstico: desse tipo de quadro é confirmado pela dosagem dos níveis séricos de digoxina, e níveis superiores a 2,5 ng/mL reforçam o diagnóstico. Aliado ao histórico e às manifestações clínicas, o eletrocardiograma pode auxiliar no diagnóstico, podendo apresentar aumento do intervalo PR e da onda T, alterações no segmento ST e bloqueio atrioventricular de primeiro e segundo graus. • Pode haver também hipercalemia em exposições mais agudas. Hipocalemia e uso de medicamentos que inibem a glicoproteína P podem potencializar os efeitos da digoxina e predispor à intoxicação. Fármaco Dose Indicação Outras informações Classe I Lidocaína Cães Bolus de 2 mg/kg/IV lentamente (2 a 5 minutos de infusão), podendo haver repetição até a dose acumulada máxima de 8 mg/kg Gatos Bolus de 0,25 a 0,5 mg/kg/IV lentamente com repetição de 0,15 a 0,25 mg/kg até a dose acumulada máxima de 4 mg/kg Infusão contínua: 10 a 14 mcg/kg/minuto. Arritmias ventriculares (taquiarritmias ventriculares) com comprometimento hemodinâmico. Fibrilação atrial associada a alto tônus vagal (paralisia de larínge). Efeitos colaterais neurológicos Bolus possuem duração de 15 a 20 minutos Propofenona 3 a 4 mg/kg/VO a cada 8h Arritmias supraventriculares, em especial onde há presença de vias acessórias. Taquicardia ventricular Usar com cautela em cães em ICC. Efeitos pró-arrítmicos Classe II Atelanol Cães 0,2 a 1,5 mg/kg/VO a cada 12 a 24h Gatos 6,25 a 12,5 mg/gato/VO a cada 12 a 24h Arritmias supraventriculares Controle da FC na fibrilação atrial Síndrome de pré- excitação ventricular Arritmias pot intoxicação digitálica. Não utilizar em animais com ICC ou propensos a desenvolvê-la (fibrilação atrial por aumento atrial), Efeitos colaterais como fraqueza hipotensão e bradicardia Esmolanol Cães e gatos 0,1 a 0,5 mg/kg/IV lentamente durante 1 minuto Infusão continua: 0,025 a 0,2 mg/kg/minuto Taquicardia supraventricular (taquicardia atrial, flutter atrial, fibrilação atrial) Pode causar hipotensão Não utilizar em animais com ICC Metoprolol Cães Dose inicial de 0,2 mg/kg/VO a cada 8h até 1 mg/kg a cada 8 a 12h Arritmias supraventriculares e ventriculares Cuidado com hipotensão, iniciar com doses baixas e titular até a dosagem efetiva Carvedilol 0,2 a 0,3 mg/kg/VO Arritmias supraventriculares Cuidado com hipotensão, iniciar com doses baixas e titular até a dosagem eletiva Fármaco Dose Indicação Outras informações Classe III Sotalol Cães 1 a 3,5 mg/kg/12h/VO Gatos 10 a 20 mg/gato/12/VO (ou 2 a 4 mg/kg/12h/VO) Arritmias ventriculares Cautela em animais em ICC Amiodarona Cães Arritmias supraventriculares (fibrilação atrial): 8mg/kg/VO12h (dose de ataque) e 4,5 mg/kg/VO/12h (manutenção) Arritmia ventricular; dose de ataque de 10 a 15 mg/kg/VO a cada 12h por 7 dias, seguido por 5 a 7,5 mg/kg/24h Intravenosa: 3 a 5 mg/kg lentamente (durante 10 a 20 minutos, não exceder 10 mg/kg em 1h) Arritmias supraventriculares (controle de FC/reversão para RS) Arritmias ventriculares Efeitos colaterais, principalmente por via intravenosa Classe IV Diltiazem Cães Oral: dose de ataque de 0,5 mg/kg seguido por 0,25 mg/kg a cada 1h até atingir a dose acumulada Arritmias supraventriculares Dosagens para uso com apresentações de liberação normal Efeitos colaterais como bradicardia, hipotensão e fraqueza Corrigir a causa base antes caso taquicardia supraventriculares tenha origem sistêmica (sob risco de parada cardíaca) Na fibrilação atrial, pode-se utilizar a apresentação com liberação prolongada na dosagem de 3 mg/kg/VO a cada 12h em associação com digoxina para controle da FC Outros fármacos Digoxina Cães 0,005 a 0,008 mg/kg/VO a cada 12h (reduzir em 10% caso opte pela apresentação elixir) Gatos 0,007 mg/kg/VO a cada 48h (ou ¼ do comprimeto de 0,125 mg) Arritmias supraventriculares Sinais de intoxicação gastrointestinais, cardiovasculares e neurológicas Efeitos pró-arritmicos (pode induzir variados tipos de arritmias, monitorar ECG) Associar ao diltiazem para controle da FC a fibrilação atrial Sulfato de magnésio 20 a 60 mg/kg em bolus IV (lentamente) Tosade de pointes
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