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CONTROLE COGNITIVO DO MOVIMENTO

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CONTROLE COGNITIVO DO MOVIMENTO 
 
O controle dos nossos movimentos envolve uma ação integrativa 
harmônica entre vários sistemas, sob grande gerenciamento do Sistema 
Nervoso. Dentre estes, estão os sistemas sensoriais e perceptuais, os sistemas 
de ação motora, que englobam participações dos sistemas musculoesquelético 
e cardiopulmonar, além dos sistemas cognitivos. Os processamentos 
cognitivos influenciam os nossos movimentos? Mais do imaginamos. Sabem 
aqueles movimentos que são considerados como “automáticos”? Não é bem 
assim. Não é porque realizamos movimentos sem estarmos conscientes do 
mesmo ou sem prestar atenção ao mesmo que este movimento torna-se 
automático. O gerenciamento cognitivo permanece. Isto é bem evidente no 
esporte. Os atletas têm absoluto domínio de seus movimentos e das estratégias 
motoras treinadas exaustivamente. Porém, diante de uma competição em 
especial, são necessárias concentração, alerta e atenção para que se tenha o 
máximo desempenho. Então, o movimento não ocorre de forma 
“automática”. Será que basta estarmos conscientes de determinado 
movimento que já estamos diante de um controle cognitivo? Não 
necessariamente. Observe a você mesmo agora. Como estão seus membros 
inferiores? Cruzados, esticados? Está com alguma caneta ou celular por perto? 
Em qual lugar você os deixou? Já parou para pensar como você tomou a 
decisão de realizar estas ações motoras? 
Para começarmos a entender este processo, precisamos ter em 
mente que o ser humano manifesta comportamentos motores que são 
complexos, que são constituídos por ações motoras, que por sua vez são 
constituídas por movimentos. Se vocês estiverem sentados agora, cada qual 
levantará da cadeira de uma forma diferente – leia-se: cada um apresentará 
diferentes estratégias motoras para alcançarem o mesmo objetivo, que é 
realizar a ação motora de levantar da cadeira, por exemplo. Estas estratégias 
motoras complexas, direcionadas a um objetivo e que são moduladas a cada 
segundo, são permeadas por um controle cognitivo muito preciso. A 
elaboração dos planos de ações motoras exige muitos desafios, onde as 
experiências prévias e contexto do ambiente são levados em consideração pelo 
Sistema Nervoso. Vale ressaltar que estas ações devem ser flexíveis e 
adaptativas de forma a lidar com adaptações e eventos inesperados. 
 Este controle cognitivo é conduzido por funções de ordem superior 
que são cruciais para a cognição, emoção e comportamento: as chamadas 
funções executivas. (KOERTS et al., 2011) 
Funções executivas podem ser definidas como “processos 
cognitivos que orquestram atividades direcionadas a um objetivo e alocam a 
atenção entre tarefas competitivas.” (SPRINGER et al., 2006; ROYALL; 
LAUTERBACH; CUMMINGS, 2002). 
Estas funções executivas estão relacionadas a alguns processos 
muito importantes no controle do movimento, tais como: determinação de 
estratégias para se atingir objetivos direcionados; ajustes de planejamento; 
controle de processos de atenção; gerenciamento de tarefas; flexibilidade de 
pensamento; tomadas de decisão. Em suma, podemos associar estas funções 
executivas à habilidade em lidar adequadamente com a novidade e em 
gerenciar objetivos pessoais. 
O controle cognitivo envolve ainda: monitorar as ações de forma 
que se esteja de acordo com a meta e se atinja determinado objetivo; inibir 
desejos pessoais e seguir regras, de forma a se adequar a convenções sociais e 
inibir respostas habituais para se atingir o objetivo proposto. 
 
ANATOMIA DO CONTROLE COGNITIVO 
 
A grande área de gerenciamento do controle cognitivo sobre nossos 
movimentos é dada no córtex pré-frontal, que é constituído por mais da 
metade do lobo frontal em humanos, mas também em outras áreas tanto 
corticais (como o lobo parietal) como subcorticais, como os núcleos da base. 
Essencialmente, o córtex pre-frontal está envolvido no 
comportamento direcionado a um objetivo, recrutamento de informações 
relevantes a tarefa, planejamento motor, monitoramento do movimento, 
simulação de consequências, iniciação, inibição e alternância de 
comportamentos.
 
Anatomia das regiões envolvidas no controle cognitivo dos 
movimentos 
(fonte: netterimages.com) 
 
 
MECANISMOS ENVOLVIDOS NO CONTROLE COGNITIVO 
 
MECANISMOS DE MEMÓRIA 
 
A memória está envolvida no processamento da aquisição de novas 
informações. O processamento de novas informações envolve os processos de 
aquisição da informação, consolidação, armazenamento e posterior 
recuperação da informação, que servirá de base para executar um 
comportamento motor aprendido. 
Existem diversos tipos de memória, que são mediados por 
diferentes mecanismos. Em relação ao controle cognitivo, a memória mais 
influente é a memória dita operacional ou memória de trabalho. O conceito de 
memória operacional foi desenvolvido na intenção de estender o conceito de 
memória de curto prazo e elaborar as formas de processamento da informação 
que são envolvidas quando a informação é retida por um período de segundos 
ou minutos. 
A memória operacional representa um armazenamento de 
capacidade limitada para reter informações por um período curto de tempo 
(“manutenção”) e para a realização de operações mentais dentro do contexto 
deste armazenamento (“manipulação”). 
Memória operacional pode ser definida como “um conceito 
hipotético que refere-se ao arquivamento temporário de informações para o 
desempenho de uma diversidade de tarefas cognitivas”, sendo um sistema de 
capacidade limitada e com múltiplos componentes (HELENE; XAVIER, 
2003). De acordo com Baddeley (2000), a memória operacional é gerenciada 
por um sistema regulador chamado “central executiva”, constituída por um 
sistema de controle de atenção, auxiliado por dois sistemas de suporte 
responsáveis pelo arquivamento temporário e manipulação de informações – 
um de natureza visuo-espacial (memória declarativa visual) e outro de 
natureza fonológica (ligado à linguagem – retenção temporária da informação 
verbal e acústica), além de um quarto componente inserido posteriormente 
pelo mesmo autor, denominado retentor episódico, que teria como função 
resgatar informações evocadas na memória de longa duração para controle 
consciente. Assim, esta central executiva seria responsável por conectar os 
sistemas de suporte à memória de longa duração, além da seleção de 
estratégias e planos. 
Sabe aquela hora em que você tenta memorizar a vaga e o piso do 
shopping onde você parou o carro? Ou memorizar um telefone para adicionar 
na pasta “contatos” do seu celular? Esta é a memória operacional. É esta 
memória que atua de forma importante no gerenciamento cognitivo do 
movimento voluntário, agindo como uma interface entre percepção, memória 
de curto prazo, ação, comportamento orientado a um objetivo, tomadas de 
decisão, entre outros processamentos. A memória operacional requer 
mecanismos para acessar a informação armazenada e formas de mantê-las 
“ativadas”. É necessária para manter informações relevantes à tarefa e 
manipular estas informações de forma a se atingir comportamentos 
direcionados a um objetivo. A memória operacional está envolvida também na 
habilidade em organizar e segregar o timing e a ordem dos eventos motores. 
O maior componente neural da memória operacional é a região 
lateral do córtex pré-frontal. 
 
MECANISMOS DE ATENÇÃO 
 
Segundo Mesulam, “atenção é um termo genérico que pode ser 
designado por uma família inteira de processos que medeiam a escolha entre 
vários eventos mentais ou externos que deverão ter acessos preferenciais aos 
portais estreitos da consciência e ação”. Ainda de acordo com Mesulam, os 
processos relativos à atenção incluem o despertar (o nível mais geral de 
responsividade); orientação (o realinhamento dos órgãos sensoriais); atenção 
seletiva (a preferência por algum estímulo dentre outros); atenção sustentada 
(vigilância)e atenção dividida (prestar atenção simultaneamente em vários 
eventos) (MESULAM, 1989). Esta última é muito considerada do ponto de 
vista comportamental, já que em situações normais do dia-a-dia existem várias 
tarefas que devem ser desempenhadas ao mesmo tempo, e portanto, os 
recursos atencionais deveriam ser gerenciados de modo a compensar a 
competição das várias demandas do ambiente. 
De acordo com Helene e Xavier em 2003, atenção é “um conjunto 
de processos que leva à seleção ou priorização no processamento de certas 
categorias de informação”, e os conceitos referentes aos mecanismos 
atencionais não devem estar distantes dos conceitos de memória. Os dois 
grandes modelos para controle atencional, os “de cima para baixo – top-
down” que oferece uma ação de caráter antecipatório através de previsões 
sobre o ambiente, por meio de um controle voluntário atencional e os “de 
baixo para cima – bottom-up”, adaptados de acordo com mecanismos de 
aprendizagem que levam a modificações no funcionamento (controle 
atencional estímulo-dependente) dependem dos mecanismos de memória 
sobre as experiências passadas e planos de ação. Isto é, cada conjunto de 
circuitaria é dependente do outro, com muitas vias em comum ou situadas em 
regiões cerebrais semelhantes e/ou adjacentes (regiões frontais, pré-frontais) – 
o que gera certa dificuldade em se nomear as habilidades de gerenciamento de 
engajamento atencional – como atenção, memória operacional, entre outras 
(HELENE; XAVIER, 2003; BEDESCHI, C., 2008). 
 
 
 
E OS NOSSOS PACIENTES? 
 
E os nossos pacientes? Os pacientes podem apresentar alterações 
neuromotoras que manifestam-se sem causa aparente, mas que na verdade são 
decorrentes de acometimentos cognitivos. Podem apresentar paralelamente 
aos distúrbios motores outros sinais, tais como: alteração do comportamento, 
apatia, distração, impulsividade, dificuldades em tomar decisões, dificuldades 
em planejar ações, dificuldades em entender as consequências das ações, 
dificuldades em organizar os eventos na memória; dificuldades em recobrar 
eventos das memórias, e em seguir regras. É por esta razão que o 
fisioterapeuta deve estar atento a estes sinais, de forma, a saber, avaliar e 
elaborar estratégias de tratamento que sejam específicos aos aspectos 
cognitivos em consonância aos aspectos motores, pois esta inter-relação é sutil 
e importante. 
 
Para entendermos um pouco mais sobre este controle cognitivo dos 
nossos movimentos, vamos estudar um pouco mais a fundo dois dos 
comportamentos motores mais importantes do ser humano: a marcha e o 
controle postural. 
 
CONTROLE COGNITIVO DA MARCHA 
 
 É importante salientar que a marcha é um comportamento motor 
complexo, que está muito além de locomoção por “alternância de passos”. É 
preciso um controle integrado entre os sistemas nervoso e musculoesquelético, 
que manifestam os movimentos voluntários de segmentos específicos do 
corpo além dos ajustes posturais necessários, antes e durante a marcha. 
De acordo com Takakusaki, 2013, a estrutura básica do controle 
locomotor da marcha é constituída por três processamentos: 
 
Ilustração esquemática dos processos envolvidos no controle da 
marcha. O processo cognitivo requer um processamento de informações 
corticais; as regiões do tronco encefálico (ponte, bulbo e mesencéfalo) estão 
envolvidos no processo automático. Os núcleos da base e cerebelo controlam 
e modulam ambos os processos (retirado de TAKAKUSAKI, 2013). 
 
- VOLICIONAL-COGNITIVO: por meio de comandos oriundos do 
córtex cerebral e com intensa participação da memória operacional para guiar 
os comportamentos futuros 
- EMOCIONAL: sinais oriundos do sistema límbico / hipotálamo 
- AUTOMÁTICO: ativações sequenciais de neurônios no tronco 
encefálico e medula espinhal. Estão envolvidos na geração de movimentos 
rítmicos dos membros e regulação do tônus muscular postural 
 
Notem que a marcha não é considerada um comportamento motor 
automático. Ela é planejada e executada sob intenso controle cognitivo e 
também emocional. É só repararmos na marcha das pessoas, que varia de 
acordo com o humor das mesmas. As pessoas felizes ou otimistas apresentam 
padrões de marcha diferentes das pessoas que estão tristes ou estão 
pessimistas. Além do processamento cognitivo e emocional, temos o 
processamento automático – este sim ocorre de forma a regular os 
movimentos rítmicos de alternância dos membros, e é regulado pela atividade 
harmônica de neurônios especializados do mesencéfalo e também da medula 
espinhal – estes últimos denominados “geradores centrais de padrão” (GCP) . 
O controle da marcha é adaptativo – há necessidade de constante 
recalibração dos padrões de marcha para se caminhar em diferentes terrenos e 
ambientes. Esta modulação neural da marcha é realizada pelo cerebelo pelos 
tratos espinocerebelar (por meio de feedback) e trato olivocerebelar 
(feedforward do córtex cerebral). Outro sistema modulatório da marcha são os 
núcleos da base, influentes em controlar todos os processamentos citados. 
A relação entre os distúrbios da marcha e funções cognitivas de 
ordem superior tem recebido maior atenção nesta última década (AMBONI et 
al., 2012; MARTIN et al.; 2012), pois sabe-se que existem componentes 
cognitivos na generalização e manutenção de um padrão de marcha 
consistente e harmônico, mesmo em indivíduos saudáveis. (SRYGLEY et al., 
2009). Entretanto, sabe-se que a cognição exerce um papel dominante na 
preservação da marcha, em especial quando uma doença degenerativa ou a 
idade avançada alteram as capacidades de automaticidade (LORD; GALNA; 
ROCHESTER, 2013). 
Algumas deficiências em variáveis específicas da marcha são 
associadas a um aumento do declínio cognitivo e à incidência de doenças 
degenerativas, como a Doença de Alzheimer, por exemplo (VERGUESE et 
al., 2007). Um estudo com 422 indivíduos idosos mostrou que deficiências nas 
funções cognitivas, atenção e velocidade de processamento estavam 
relacionadas a baixos desempenhos em medidas absolutas de marcha, como a 
velocidade (MARTIN et al., 2012). 
O declínio cognitivo associado à diminuição da atenção e alerta 
podem influenciar negativamente a marcha e o equilíbrio (EBERSBACH et 
al.; 2013), e os principais fatores para a perda da independência são as 
deficiências na marcha e declínio cognitivo. 
Estudos mostram que baixos desempenhos em três domínios 
cognitivos (atenção, funções executivas e memória operacional) estavam 
associados à lentidão de marcha especialmente em condições de dupla-tarefa, 
o que sugere que estes domínios cognitivos específicos são relevantes na 
manutenção de um padrão normal de marcha na presença de uma demanda 
cognitiva (MONTERO-ODASSO et al., 2009). 
O interessante é considerar que estas interrelações entre alterações 
cognitivas e instabilidade da marcha podem ser causais e, portanto, preditivas 
entre si. Um estudo mostrou lentidão na marcha com início em até 12 anos 
previamente à apresentação de alterações cognitivas em idosos que 
tardiamente apresentariam declínios cognitivos moderados. É o que mostra a 
figura a seguir, retirada de Montero-Odasso, 2012. 
 
 
 
Pela visão A, dita tradicional, a instabilidade de marcha leva a uma 
lentidão da mesma, e posterior tendência à quedas e fraturas; ao passo que os 
acometimentos cognitivos, primeiramente brandos (ou declínio cognitivo leve 
– MCI, em inglês) tornam-se mais acentuados e graves, estabelecendo a 
demência. 
De acordo com a visão B, considerada alternativa, é que a cognição 
também é preditiva para o declínio de mobilidade e quedas, e o declínio da 
mobilidade e a lentidão da marcha também são preditivos para a deterioração 
cognitiva (MONTERO-ODASSO et al., 2012). 
 
De acordo com Yogev-Seligmann, Hausdorff , Giladi , 2008, a 
associação entre cognição e marcha pode ser demonstrada pelos seguintes 
fatores: 
 
(1)pelo alerta do indivíduo à sua destinação; 
(2) pela habilidade em controlar adequadamente os movimentos dos 
membros para produzir a marcha; 
(3) pela habilidade em lidar com ambientes complexos: diretamente 
proporcional ao caráter desafiador da tarefa de locomoção (marcha com 
obstáculos, por exemplo) e à marcha já alterada devido à doença de base. 
 
Algumas funções cognitivas são mais importantes na geração e 
monitoramento da marcha, e estão descritas a seguir: (YOGEV-
SELIGMANN, HAUSDORFF, GILADI , 2008) 
 
 
VOLIÇÃO 
 
A volição está relacionada com a capacidade para um 
comportamento intencional e motivação para a formulação de um objetivo. 
Essencialmente, é a iniciação para a iniciação do movimento. A volição é a 
porta de entrada para a ocorrência do movimento voluntário e está fortemente 
vinculada com a recompensa que pode-se atingir com determinada ação 
motora. Quanto maior a motivação, maior a volição. 
Quando o indivíduo apresenta alterações cognitivas, pode 
apresentar por consequência alterações na volição, e, em decorrência, perda de 
mobilidade devido à motivação reduzida. Há uma diminuição dos 
movimentos, que pode ser confundida com bradicinesia. 
 
AUTO-CONSCIÊNCIA 
 
A auto-consciência está relacionada à habilidade do indivíduo em 
se colocar (psicologicamente e fisicamente) no ambiente físico e na situação 
atual. Está envolvida no reconhecimento dos riscos ambientais e possíveis 
possibilidades de adaptação motora. 
Os pacientes com alterações cognitivas podem por consequência 
apresentar uma marcha cautelosa, com estimação pobre de limitações físicas. 
Estas alterações podem levar a uma incorreta avaliação de perigos no 
ambiente, e consequentemente, aumento do risco de quedas. 
 
PLANEJAMENTO MOTOR 
 
O planejamento motor envolve a identificação e organização dos 
passos e elementos necessários para se levar adiante uma intenção motora. 
Está relacionado também à consideração de alterações das circunstâncias 
presentes, possíveis alternativas, realização de escolhas e controle de 
impulsos. O planejamento ocorre sob forte influência da memória operacional. 
É o planejamento motor que envolve a tomada de decisão durante a realização 
de ações motoras. 
Indivíduos com acometimentos em planejamento apresentam 
alterações nas habilidades de tomadas de decisão durante a marcha em 
ambientes complexos, apresentando escolhas arriscadas ou ineficientes. 
 
INIBIÇÃO DE RESPOSTA 
 
A função de ignorarmos estímulos sensoriais irrelevantes e filtrar as 
distrações para resolver problemas é uma função cognitiva importantíssima na 
realização do ato motor. Está intimamente relacionada à chamada atenção 
seletiva. 
As pessoas que apresentam alterações nestas funções não 
conseguem alocar e engajar as reservas atencionais para a realização dos atos 
motores pretendidos, e por consequência perdem desempenho motor 
principalmente em ambientes complexos e na presença de inúmeros 
distratores. 
 
MONITORAMENTO DE RESPOSTA 
 
O monitoramento da resposta motora é uma função executiva que 
permite comparação de ações em andamento com um plano interno pretendido 
e portanto permite que ocorra a detecção de erros. É de extrema importância a 
participação dos sistemas cerebelares e dos núcleos da base nestas funções – o 
primeiro principalmente na aprendizagem de movimentos novos, e os 
segundos para programas motores previamente aprendidos e armazenados nos 
arquivos de memória. Facilitam a tomada de decisão e o ajuste flexível do 
comportamento motor e são particularmente importantes e influentes durante 
a marcha em ambientes complexos. 
Os indivíduos com prejuízos cognitivos que gerem alterações no 
monitoramento de resposta apresentam alterações de velocidade de marcha e 
consequente aumento do risco de quedas, bem como diminuição também da 
função de inibição atencional. 
 
ENGAJAMENTO ATENCIONAL / DUPLA TAREFA 
 
O engajamento da atenção é uma função cognitiva relacionada à 
habilidade em alocar adequadamente a atenção entre tarefas que são 
desempenhadas simultaneamente. Muitas tarefas do dia a dia envolvem a 
realização de mais de uma tarefa ao mesmo tempo – onde ocorre competição 
pelas reservas atencionais, que são reservas de processamento de informações 
que são necessárias para completar determinada tarefa. Inevitavelmente, 
quando temos duas ou mais tarefas para resolver ao mesmo tempo, perdemos 
desempenho em alguma tarefa – ocorre um processo que denominamos 
“Interferência em dupla tarefa”: quando duas tarefas estão sendo executadas 
ao mesmo tempo, a competição por reservas atencionais disponíveis pode 
causar a diminuição no desempenho de uma ou mais tarefas. Diante do 
exposto, o sistema nervoso não consegue gerenciar as tarefas da mesma forma 
e acaba priorizando algumas, geralmente as tarefas que exigem controle 
postural – as estratégias denominadas “posture first”. (BLOEM et al., 2001). É 
interessante considerar que pesquisas mostram que alterar o foco da atenção 
para a tarefa secundária pode melhorar o controle postural do que focar a 
atenção para a postura. 
Assim, os pacientes que apresentam alterações cognitivas 
invariavelmente apresentarão inabilidade em engajar o foco atencional em 
situações de duas ou mais tarefas, gerando uma queda de desempenho na 
marcha, por exemplo, desaceleração. 
 
CONTROLE COGNITIVO POSTURAL 
 
Outro comportamento motor que sofre alterações decorrentes das 
alterações cognitivas é o controle postural. As alterações cognitivas, 
principalmente os déficits de atenção, causam instabilidade postural e podem 
levar à ocorrência de quedas, em especial em condições de duas ou mais 
tarefas (SIU et al., 2008, 2009). 
As demandas atencionais requeridas variam dependendo da tarefa 
postural, da idade do indivíduo e das habilidades de equilíbrio do mesmo 
(SHYMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2017). Estas demandas atencionais 
também variam em função do contexto sensorial. 
Vale ressaltar que quanto maior a demanda para a estabilidade 
postural, maior a demanda de reservas atencionais para o controle postural. 
A figura abaixo mostra a demanda atencional associada a três 
diferentes tarefas posturais (sedestação, bipedestação e bipedestação com os 
pés unidos) em indivíduos com acidente vascular encefálico (AVE) e 
controles pareados pela idade. O tempo de reação (RT) para uma tarefa 
secundária verbal são maiores nos indivíduos com AVE em todas as três 
condições. Ademais, o RT é menor em sedestação comparando-se com 
bipedestação nos indivíduos com AVE e não nos controles, o que sugere que o 
controle postural é mais dispendioso após AVE. (BROWN et al., 2002; 
SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2017). 
 
 
As tarefas de equilíbrio mais complexas demandam maiores 
recursos atencionais. A figura abaixo mostra a comparação da variação do 
centro de pressão em situações de tarefa única (controle postural) e condições 
de dupla-tarefa em uma criança com desenvolvimento neuromotor típico e 
uma com encefalopatia crônica não progressiva da infância (paralisia cerebral) 
atáxica. A criança com PC apresenta uma variação do centro de pressão maior 
em comparação com a criança com desenvolvimento típico, que torna-se 
ainda mais evidente em condições de dupla-tarefa. (adaptado de REILLY et 
al, 2008; SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2017). 
 
 
 
As figuras abaixo de estudos com posturografia mostram os efeitos 
de uma tarefa secundária na área do centro de pressão durante o equilíbrio em 
bipedestação em indivíduos com Doença de Parkinson (PD) e indivíduos 
saudáveis (NC) sob três condições (tarefa única (“single”), tarefa dupla com 
cálculos (“calc”) e tarefa dupla com sequenciamento de oposição de dedos 
(“seq”). Na figura A, nota-se que não há alteração no centro de pressão dos 
indivíduos saudáveis de acordo com as tarefas, mas os indivíduos com DP 
apresentam aumento da área do centro de pressãonas condições em dupla-
tarefa, em especial a de cálculos. 
 
 
Na figura B, onde temos somente indivíduos com DP, a 
interferência em dupla-tarefa é mais evidente entre os indivíduos com DP que 
são mais instáveis (com tendência a quedas – “fallers”), em comparação com 
DP que apresentam bom equilíbrio (“non-fallers”). (adaptado de MARCHESE 
et al., 2003; SHUMWAY-COOK & WOOLLACOTT, 2017). 
 
 
Para finalizar, esta relação entre cognição e motricidade ocorre de 
forma muito intrínseca e é de extrema importância. O fisioterapeuta deve estar 
comprometido e engajado em avaliar de forma geral as alterações cognitivas 
em diversas condições motoras e posturais, para que possa elaborar estratégias 
de tratamento fisioterapêuticas que sejam constituídas de abordagens 
cognitivo-motoras, para desta forma potencializar o funcionamento do sistema 
nervoso durante a geração e realização do movimento voluntário, desde as 
fases prévias à execução propriamente dita. E esta atuação não está intrínseca 
somente a quem trabalha com Neurologia, e sim a todas as áreas da 
Fisioterapia. 
 
PARA SABER MAIS: 
GAZZANIGA, M.; IVRY, R.B.; MANGUN, G.R. Cognitive 
Neuroscience: The Biology of the Mind. (Quarta Edição), W. W. Norton & 
Company, 2013. 
SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOTT, M.H. Motor Control. 
(Quinta Edição), Lippincott Williams & Wilkins, 2017. 
BEDESCHI, C. Treino de Marcha com Demandas Motoras e 
Cognitivas Integradas em um Contexto Funcional em Pacientes com Doença 
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174-177, 1989. 
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