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A filosofia Grega Márcio Tadeu Girotti Introdução A filosofia grega é momento clássico da filosofia, onde se desenvolveram as principais ideias, conceitos, princípios que orientaram toda a teoria do conhecimento que se volta para o ser humano para a natureza, para o universo. Na Grécia antiga vimos aparecer os pensamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles, que influenciaram todo o campo do saber sistematizando a forma de pensar e conhecer. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender como se estabeleceu a filosofia na Grécia; • conhecer o pensamento filosófico grego a partir dos principais filósofos; • compreender a origem de toda a filosofia e sua corrente de pensamento: racionalista e empirista. 1 O pensamento filosófico da Grécia Antiga: Platão, Sócrates e Aristóteles O momento filosófico da Grécia clássica (V e VI a.C.) é representado pelos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates (470-399 a.C.) nada deixou registrado. Sabemos de sua filosofia por meio de Platão, seu discípulo. Sócrates passava seu tempo dialogando e participava de banquetes como momen- tos de profunda reflexão. Condenado por corromper a juventude com suas ideias, foi condenado à morte ingerindo cicuta (veneno que paralisa os músculos), mas o seu pensamento prevaleceu nos diálogos de Platão. Platão (428-347 a.C.) escrevia em forma de Diálogos, tendo por destaque o mito da caverna, que mostra a principal forma da sua teoria de conhecimento. A metáfora pode ser interpretada pelo viés epistemológico (conhecimento) ou político (poder). Como representante do racionalismo, fundou em Atenas uma Academia, onde suas teorias eram propagadas, revelando-se de grande importância para o desenvolvimento da metafísica. Discípulo de Platão, Aristóteles (384-322 a.C.) inicia seu pensamento seguindo o mestre. Afastou-se posteriormente constituindo sua própria teoria do conhecimento, voltando-se para o ensinamento a partir do mundo da experiência. Representou, por sua vez, a corrente de pensa- mento empirista. Fundou em Atenas uma academia do saber: o Liceu. Esses pensadores fundaram as bases do pensamento ocidental, que influenciaria todo o conhecimento posterior: como a matemática, a física, metafísica e a antropologia. FIQUE ATENTO! Sócrates não deixou nada escrito, mas seu pensamento sobreviveu nas obras de seus discípulos e historiadores da época. 2 Sócrates: dialética e maiêutica O método socrático, partindo da constatação de sua própria ignorância, o sei que nada sei, consiste em: • dialética - interroga o sujeito com perguntas que fazem a desconstrução das certezas sobre determinado conhecimento, levando o sujeito à ignorância do saber; • maiêutica - a partir da ignorância, com perguntas, dialogando, faz com que o sujeito profira novas ideias, como um parto de ideias. Figura 1 – Diálogos Fonte: Dean Drobot/Shutterstock.com Sócrates destruía o saber constituído a fim de reconstruí-lo na busca pela definição de con- ceitos. Sempre por meio de diálogos, perguntava sobre questões referentes à moral: o que é a coragem, a covardia, a justiça? Desta forma, buscava saber o que é a essência do conceito, ou seja: o conceito em si. Por sua influência, principalmente entre os jovens, Sócrates não era bem visto pelo governo, sendo condenado à morte por corromper a juventude. Ficou a cargo de Platão zelar pelo pensa- mento socrático e registrar esse saber em suas obras. SAIBA MAIS! Sócrates não ficou triste por sua morte. Ela afirmava que sua alma estaria livre do corpo para conviver com as de grandes seres humanos, às voltas com as ideias perfeitas desse mundo de sombras. Fazendo referência ao mundo das ideias de Platão, o mundo inteligível, repleto de formas perfeitas. 3 Platão e o mito da caverna As obras de Platão são escritas em forma de diálogos, um dos principais é a obra “A Repú- blica”, onde, no livro VII, encontramos a principal referência para a teoria do conhecimento de Pla- tão: o mito da caverna. Platão imagina uma caverna onde estão acorrentados os homens (sic) desde a infância, de tal forma que, não podendo se voltar para a entrada, apenas enxergam o fundo da caverna. Aí são projetadas as sombras das coisas que passam às suas costas, onda há uma foguei- ra. Se um desses homens (sic) conseguisse se soltar das correntes para contemplar à luz do dia, os verdadeiros objetos, quando regressasse, relatando o que viu aos seus antigos companheiros, esses o tomariam por louco, não acreditando em suas palavras (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 121). O mito representa a forma de conhecimento por meio da divisão do mundo em sensível e inteligível. O primeiro representa o mundo que temos acesso pelos sentidos, o fundo da caverna, ou seja, um mundo de sombras, ilusório. O mundo inteligível é o mundo das ideias, o mundo da verdade, das formas perfeitas, os arquétipos dos objetos que vemos no mundo sensível, que são as sombras dessas ideias perfeitas, que estão fora da caverna. Figura 2 – Platão Fonte: Anastasios71/Shutterstock.com Os objetos do mundo sensível são contemplados porque participam da ideia de objeto em si, do mundo perfeito. Aqui temos a teoria da participação, que se complementa com a teoria da reminiscência (rememoração). Para Platão, a alma residia no mundo das ideias, contemplando as formas perfeitas. Ao ocupar o corpo, já no mundo sensível, esquece tudo o que contemplou. Quando observa objetos pelos olhos do corpo, a alma relembra o que outrora havia contemplado, rememora a ideia do objeto que observa no mundo sensível, adquirindo seu conhecimento. Esse movimento é a dialética, a alma eleva-se da multiplicidade de coisas do mundo sensível às ideias imutáveis do mundo das ideias. Representa, assim, o conhecimento racionalista. EXEMPLO Um gato é gato enquanto participa da ideia perfeita de gato. Há, no mundo das ideias, a ideia perfeita de gato; enquanto no mundo sensível, este que podemos ver, contém somente a sombra dessa ideia perfeita de gato. Vemos uma cópia e não a ideia em si. SAIBA MAIS! Acessando o link a seguir, você pode observar uma charge animada. Ela relaciona o mito da caverna aos dias atuais com referência aos conceitos de ideologia e de alienação. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=XoU4YAhJzLY>. 4 A interpretação política do mito O mito da caverna pode ser interpretado pelo viés da política. Aquele que se solta da caverna tem a missão de orientar os outros que a ela continuam presos, surgindo a questão: como influen- ciar os seres humanos que não querem ou não podem enxergar? Platão afirmava que o governo deveria ser gerenciado pela sabedoria e não pelo poder. Deve- ria existir o Rei Filósofo, pois cabe ao sábio ensinar e governar, como uma necessidade da ação política, transformando os seres humanos e a sociedade, tendo uma ação dirigida pelo modelo ideal de contemplação. A partir do mito da caverna, Platão imagina uma cidade ideal. Um modelo de como deveria ser a cidade, onde o Estado cuidaria da educação das crianças, eliminando-se a forma da proprie- dade, evitando a cobiça e o poder. A educação seria igual para todos até os vinte anos. Depois disso as pessoas seriam separadas por suas habilidades, trabalhando na subsistência, na defesa e no governo da cidade. O governo seria digno daqueles mais notáveis, detentores da arte de pensar, estudantes da filosofia, com caráter puro e de justiça. Esses manteriam a cidade coesa, com senso de justiça vivendo nos preceitos da virtude. Esse modelo de governo exclui a democracia, pois não assegura igual direito ao poder, man- tendo somente a característica da divisão igualitária dos bens e o poder para aquele que possui a arte de governar. Assim, a melhor forma de governo seria a aristocracia. Não da riqueza, mas do saber, onde o poder é confiadoaos melhores, aos sábios. Onde reis tornam-se filósofos ou filóso- fos tornam-se reis. FIQUE ATENTO! O mito da caverna é uma alegoria que exemplifica a teoria do conhecimento de Platão. Não a representa como um todo, podendo ser interpretada tanto pelo viés do conhecimento (epistemologia), quanto pelo viés político. 5 Aristóteles e as quatro causas Aristóteles afirma que o ser humano é um composto de Substância e Acidente. Segundo o filósofo, a substância é aquilo que é em si, que possui atributos que são essenciais, aqueles que são necessários, pois, sem esses atributos, a substância não seria substância. Outros atributos, que também compõem o Ser, são considerados acidentes, atributos que não compõem a essência da substância, são qualidades externas ao Ser, que, fazendo ou não parte do Ser, não fazem dife- rença, não modificam a essência da substância. Figura 3 – A escola de Atenas Fonte: Viacheslav Lopatin/Shutterstock.com Além disso, Aristóteles trata da transformação dos seres, recorrendo às noções de forma e matéria. Forma é o que faz com que uma coisa seja o que é; já a matéria é um princípio indetermi- nado pelo qual o mundo físico é composto, aquilo do que algo foi feito. Portanto, matéria e forma são indissociáveis. A forma é a essência, enquanto a matéria é uma potência, um vir a ser, que poderá ter ou não uma forma. Esse princípio de forma e matéria conjuga-se aos conceitos de Ato e Potência, que tratam do devir: um mármore pode se transformar em estátua. O ser existente é o ato, o perfeito, enquanto a potência é a ausência de perfeição, aquilo que poderá vir a possuir uma forma. O movimento que passa da potência ao ato mostra a teoria das quatro causas, que conjuga: forma, matéria, causa eficiente e causa final. Na estátua, por exemplo, a pedra bruta é a matéria, a forma é aquilo que o escultor irá imprimir na pedra, o trabalho de esculpir é a causa eficiente, e a causa final é o resultado, a estátua pronta. Figura 4 – As quarto causas na composição de uma estátua Fonte: QQ7/Shutterstock.com Com isso, Aristóteles fundamenta a sua teoria por vias de um conhecimento que se volta para o mundo sensível, para o conhecimento empírico. EXEMPLO O homem é uma substância, que possui atributos essenciais e um deles é ser ra- cional. Ele pode ser belo, atributo que não é essencial, é acidente, não influencia a essência de homem. FIQUE ATENTO! As quatro causas exemplifica a teoria de Aristóteles, conjugando os aspectos da es- sência-acidente, forma e matéria, potência e ato. Ou seja, não é uma teoria isolada. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer a origem do pensamento filosófico; • entender o pensamento clássico da filosofia com Sócrates, Platão e Aristóteles. Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003. SOUZA, Maurício de. Mito da caverna. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=- XoU4YAhJzLY>. Acesso em: 13 jan. 2017.
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