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Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6389-5
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Sociologia Jurídica
IESDE BRASIL S/A
2018
Andrea Cristina Martins
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M341s Martins, Andrea Cristina
Sociologia jurídica / Andrea Cristina Martins. - 1. ed. - 
Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2018. 
118 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6389-5
1. Sociologia jurídica. I. Título.
17-46198 CDU: 34:316.334.4
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Gilmanshin/iStockPhoto
Andrea Cristina Martins
Doutora e mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta 
Grossa (UEPG) e graduada em Direito pela mesma instituição. É professora universitária e 
advogada atuante na área de consultoria e assessoria ao terceiro setor.
Sumário
Apresentação 7
1 As relações entre a sociedade e o Direito 9
1.1 O estudo da sociedade: a Sociologia 9
1.2 O Direito como fato social 12
1.3 A Sociologia Jurídica 14
2 Os clássicos da Sociologia 21
2.1 A sociologia de Émile Durkheim: a divisão social do trabalho e a 
solidariedade 21
2.2 A sociologia de Max Weber: a busca do sentido da ação 25
2.3 A sociologia de Marx: a importância do trabalho na sociedade capitalista 27
3 Entendendo as transformações da sociedade contemporânea 35
3.1 O que é a modernidade? 35
3.2 A existência da pós-modernidade 38
3.3 A pós-modernidade e o Direito 43
4 Grupos sociais e hegemonia 47
4.1 O que são grupos sociais? 47
4.2 Hegemonia e Estado ampliado 51
4.3 A contra-hegemonia 54
5 Direito e ideologia 59
5.1 Ideologia como falseamento da realidade 59
5.2 As várias perspectivas da ideologia 63
5.3 O papel dos intelectuais e a ideologia 66
6 Controle social, violência e política 71
6.1 O controle social e o Direito 71
6.2 As várias faces da violência 74
6.3 A relação da política com a violência 80
7 Democracia e globalização 85
7.1 A importância da democracia no Estado de Direito 85
7.2 O papel do cidadão 89
7.3 Os impactos da globalização na democracia 93
8 Mudança social e justiça 99
8.1 O que são movimentos sociais? 99
8.2 Relação entre movimentos sociais e as mudanças sociais 102
8.3 A justiça como valor social 105
Gabarito 111
Apresentação
Ao longo da sua formação jurídica, os estudantes do curso de Direito dedicam-se inten-
sivamente ao estudo das disciplinas denominadas dogmáticas, as quais tratam das normas ju-
rídicas, seu processo legislativo, as possibilidades de interpretação, sua aplicação prática. Mas, 
além dessas, há também as disciplinas não dogmáticas, assim denominadas porque não focam 
apenas nas normas jurídicas e subsidiam o estudante com conhecimentos de outras ciências 
que são afins do Direito.
O quão importantes são as disciplinas não dogmáticas para a compreensão do Direito? 
Pode-se aqui utilizar a analogia criada pelo professor Manuel Hespanha, ao afirmar que é possível 
comparar o estudo do Direito a uma floresta. As disciplinas dogmáticas estudam as árvores que 
compõem essa floresta, e, por isso, é preciso estudar cada ramo do Direito em disciplinas especí-
ficas, individualmente, para compreender suas particularidades. Mas, também, é preciso estudar 
as relações entre essas árvores, para que se possa compreender o conjunto formado por elas, posto 
que uma floresta não é apenas a reunião de várias árvores, mas a interação existente entre elas. 
No entanto, destaca o professor, para compreender esse complexo inter-relacionamento, é preciso 
olhá-lo de fora, sair da floresta para conhecer seu tamanho, suas relações com outros ecossistemas, 
os rios que a cortam, seu clima e todo seu entorno. Em sua analogia, explica o professor, são as dis-
ciplinas não dogmáticas que fazem essa função. Ao estudar Sociologia, Antropologia, Economia, 
Política, Psicologia, o estudante de Direito tem a possibilidade de compreender o Direito de modo 
mais amplo, entender sua complexidade e, dessa maneira, melhor entender como o Direito se for-
ma, se transforma e se relaciona com a sociedade e com os indivíduos.
Nesta obra, o objetivo é apresentar a relação do Direito com a sociedade, buscando apresen-
tar autores, teorias e explicações sobre como ocorre essa relação. Assim, o livro busca trazer um 
olhar mais crítico sobre o estudo do Direito, mostrando suas complexas relações com a sociedade, 
compreendendo-a como uma pluralidade de interesses diversos e o Direito como fruto dessa tensa 
disputa existente na sociedade.
1
As relações entre a sociedade e o Direito
Neste capítulo serão analisadas as relações existentes entre a sociedade e o Direito. Para tanto, 
estes são os questionamentos que irão nortear este estudo: há interferência do Direito na constitui-
ção da sociedade? Existem relações entre os fenômenos sociais e a construção das normas jurídicas?
Tais questões permitirão identificar a existência de uma relação dialética de interferências 
recíprocas entre as relações sociais e as normas jurídicas. O entendimento dessas interferências per-
mitirá compreender que a sociedade se constitui a partir das influências que sofre do seu processo 
histórico, cultural, político, econômico, religioso etc. Este estudo também possibilitará o entendi-
mento do Direito como sendo constituído por diversos fatores específicos de cada sociedade.
Para promover reflexão, análise e pesquisa sobre essas relações existentes entre a sociedade e 
o Direito, serão também analisados o conceito e os objetivos da Sociologia Jurídica.
1.1 O estudo da sociedade: a Sociologia
Para tratar da relação entre a sociedade e o Direito, faz-se necessário, pri-
meiramente, entender o que constitui uma sociedade. Pode-se dizer que ela é com-
preendida como um agrupamento social que desenvolve relações sociais, compar-
tilha valores, conhecimentos, tradições, constrói instituições econômicas, políticas, 
religiosas e jurídicas com o intuito de atender às necessidades do grupo e promover 
uma convivência social civilizada. Em essência, uma sociedade é formada por indivíduos que pro-
duzem cultura, orientando-se por valores e regras e se agrupando de diferentes formas. Uma socie-
dade também se estratifica, cria instituições e mecanismos de controle e estabelece diferenciações 
entre seus integrantes.
No seu mais importante sentido, entendemos por ‘sociedade’ uma espécie de 
contextura formada entre todos os homens e na qual uns dependem dos ou-
tros, sem exceção; na qual o todo só pode subsistir em virtude da unidade 
das funções assumidas pelos coparticipantes, a cada um dos quais se atribui, 
em princípio, uma tarefa funcional; e onde todos os indivíduos, por seu turno, 
estão condicionados, em grande parte, pela sua participação no contexto ge-
ral. Assim, o conceito de sociedade define mais as relações entre os elementos 
componentes e as leis subjacentes nessas relações do que, propriamente, os ele-
mentos e suas descrições comuns. (HORKHEIMER; ADORNO, 1977, p. 263)
De acordo com o conceito citado, verifica-se a complexidade que envolve o estudo da socie-
dade, sendo importante destacar o elemento de interdependência entre os seus membros. A vida 
em sociedade envolve uma coparticipação entre os indivíduos, que dividem e partilham as tarefas 
comuns, e é esse um dos elementos centrais na caracterização de uma sociedade. A Sociologia é a 
ciência que estuda a complexidade de uma organização social, como comenta Giddens: “a socio-
logia é o estudo científico da vida humana, de grupos sociais, de sociedades inteiras e do mundo 
Vídeo
Sociologia Jurídica10
humano. É uma atividade fascinante e instigante,pois seu tema de estudo é o nosso próprio com-
portamento como seres sociais” (GIDDENS, 2012, p. 19).
Assim, a sociedade, objeto da Sociologia, deve ser entendida de forma ampla e diversificada, 
com sua complexidade, em que os indivíduos desenvolvem relações sociais, afetivas, econômicas, 
religiosas, entre outras.
Para Giddens (2012), os estudos sociológicos permitem identificar uma riqueza das relações 
sociais e verificar aquelas mais profundas existentes na sociedade, demonstrando a dinâmica dessas 
relações, interpretando fatos e instituições e demonstrando as tensões existentes no interior da socie-
dade. Ainda segundo o autor, a Sociologia também tem outras funções, ela “nos ensina que aquilo que 
consideramos natural, inevitável, bom ou verdadeiro pode não ser, e que as coisas que consideramos 
como normais são profundamente influenciadas por fatos históricos e processos sociais” (GIDDENS, 
2012, p. 19). A Sociologia também permite compreender a sociedade com base na produção do co-
nhecimento científico, e não em opiniões pessoais ou experiências individuais.
Mas quais são os objetos que podem ser estudados pela Sociologia? Giddens (2012) traz um 
exemplo sobre as possibilidades de estudo da Sociologia a partir de um fato do cotidiano: tomar 
café. A Figura 1 retrata uma cena com pessoas tomando café. O que cada um de nós pode refletir 
com base nela? É possível uma pesquisa sociológica sobre o uso do café?
Figura 1 – O consumo do café na sociedade atual.
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Giddens (2012) aponta cinco possibilidades de investigação sociológica ao tratar do consu-
mo do café na sociedade contemporânea:
1. O café, além de uma bebida, representa também um valor simbólico. Para muitas pes-
soas, o dia começa com o consumo de uma xícara de café. Isso também pode estar rela-
cionado a um processo de socialização, em que pessoas querem se conhecer, ou trocar 
As relações entre a sociedade e o Direito 11
ideias, constituindo um processo de interação social, que pode ser objeto sociológico 
de pesquisa.
2. Como bebida, o café contém substâncias estimulantes para o cérebro, como a cafeína, 
que proporciona a muitas pessoas uma dose extra de energia no seu dia. O uso continua-
do do café pode gerar um hábito que corresponde a um vício. Apesar de ser uma droga 
socialmente aceita, pode também ser um objeto de estudo para a Sociologia, pelas razões 
do uso e difusão dessa bebida e pelas consequências que pode causar nas pessoas.
3. Ao beber uma xícara de café, um indivíduo contribui para um longo processo produti-
vo e econômico. Produção, transporte e distribuição do café fazem parte de uma grande 
cadeia econômica, geradora de riquezas que impactam as sociedades envolvidas nesse 
ciclo econômico, também podendo ser objeto da Sociologia, pois essas relações são 
locais e globais.
4. O consumo do café, apesar de globalizado atualmente, não foi sempre assim. Sua origem 
vem do Oriente Médio, mas foi com a expansão para o Ocidente, mais ou menos há 200 
anos, que o produto foi sendo amplamente difundido. A maior parte do café produzido 
hoje no mundo vem de regiões como América do Sul e África, que foram colonizadas 
pelos europeus. Assim, também é possível analisar sociologicamente o café pelas rela-
ções econômicas, produtivas, históricas e culturais envolvendo diferentes povos.
5. E, finalmente, o consumo do café na sociedade globalizada em que vivemos pode ser 
estudado por meio de temas atuais, como os direitos humanos, a sustentabilidade, 
a produção orgânica e o comércio justo. A Sociologia pode estudar as relações entre o 
processo de globalização e o aumento da consciência de problemas globais.
Esses exemplos demonstram que a Sociologia, como ciência, pode estudar e pesquisar por 
meio de muitos enfoques diferentes um mesmo fenômeno ou fato social. No entanto, para que real-
mente produza ao final de uma pesquisa um conhecimento científico, faz-se necessário o uso de 
métodos sistemáticos de pesquisa, com adoção de critérios, definição de formas de coleta e análise 
dos dados, para então poder chegar a um resultado válido.
Uma pesquisa científica deve seguir etapas. Inicialmente, é necessário definir o tema para 
que se possa delinear com maior precisão o objeto a ser pesquisado. Depois define-se o problema, 
isto é, qual é a pergunta-chave que se procura responder com a realização da pesquisa. A seguir, 
o investigador deve estudar sua pergunta de partida com leituras e entrevistas exploratórias. Após 
essa fase, é possível definir a problemática da pesquisa e assim construir um modelo de análise, que 
será composto de uma fase de observação, incluindo a coleta de dados. Só então é possível seguir 
para a próxima etapa, que constitui a análise das informações, e chegar à fase final, que é a conclu-
são da pesquisa (QUIVY; CAMPENHOUDT, 1998).
Realizar pesquisas sociológicas permite, em primeiro lugar, conhecer as diferenças culturais 
existentes no mundo e uma ampliação das perspectivas de como olhar o mundo. Também pos-
sibilita uma maior autocompreensão, pois, quanto mais os indivíduos se conhecerem, souberem 
como e por que agem na sociedade, mais poderão contribuir e influenciar nas mudanças sociais 
(GIDDENS, 2012).
Sociologia Jurídica12
O dinamismo e a transitoriedade das relações sociais existentes na contemporaneidade con-
tribuem para a ampliação dos estudos sociológicos, pois a sociedade transforma-se cada vez mais 
rapidamente, exigindo mais estudos sobre as causas e consequências dessas transformações.
1.2 O Direito como fato social
Após a análise sobre como se constitui uma sociedade e como ela pode ser 
estudada pela Sociologia, é preciso questionar como se constitui o Direito.
É possível entender o Direito apenas como um conjunto de normas e regras 
que organizam a sociedade. No entanto, essa visão sobre o Direito é muito restrita, 
pois não responde a questões fundamentais, como: por que cada sociedade tem 
normas jurídicas próprias que podem diferir de outras sociedades? Por que as normas jurídicas 
mudam com o transcorrer do tempo?
Para responder a essas questões, é preciso compreender o Direito como fruto das relações 
de uma sociedade. De acordo com Bobbio (2008, p. 3), a sociedade e o Direito estão relacionados, 
porque é possível compreender a vida social envolta em uma densa rede de regras de conduta, 
que se tornam parte da vida, são naturalizadas nas relações sociais. O autor compara a vida em 
sociedade com a trajetória de um pedestre no trânsito: há placas proibindo certas condutas, ou-
tras prescrevendo comportamentos. Também é possível fazer uma comparação entre as placas de 
trânsito com as normas jurídicas ao indicar comportamentos e orientar as condutas.
Ainda de acordo com Bobbio (2008), o conceito de Direito deve conter três elementos essen-
ciais: a) remeter-se ao conceito de sociedade; b) conter a ideia de ordem social; e c) abranger a ideia 
de estrutura, de algo distinto da sociedade, mesmo fazendo parte da unidade social.
Assim, fica claro que há uma relação intrínseca entre a sociedade e o Direito, conforme afir-
ma Rosa (2001, p. 57): “a norma jurídica, portanto, é um resultado da realidade social. Ela emana 
da sociedade, por seus instrumentos e instituições destinados a formular o Direito, refletindo o 
que a sociedade tem como objetivos, bem como suas crenças e valorações, o complexo de seus 
conceitos éticos e finalísticos”.
Grossi (2005) também entende o Direito como decorrente da sociedade. O autor afirma que 
essa compreensão desmistifica a imagem do Direito como um instrumento do poder, como sendo 
apenas organizador ou ordenador da sociedade; ela desloca o sujeito produtor das normas jurídicas 
do Estado para a sociedade. Outra ideia que decorre desse resgate à formação do Direito com base 
nas relações sociais é a de que, na sociedade, há coexistência de sujeitos diferentes, com interesses 
e necessidades diversas, o que enriquece a compreensão do Direito.
Dessa forma, é possível entenderque o Direito foi criado como fruto das relações existentes 
em uma sociedade, com base em valores. Assim, verifica-se que os fatos e as relações sociais sur-
gem antes na sociedade e só posteriormente podem se constituir em normas jurídicas.
Um exemplo dessa relação entre os fatos sociais e a produção das normas jurídicas é a Lei 
n. 11.705 (BRASIL, 2008), que fez alterações no Código de Trânsito Brasileiro e na Constituição 
Federal, tornando mais severas as punições àqueles que dirigem sob o uso de bebidas alcoólicas – e 
Vídeo
As relações entre a sociedade e o Direito 13
incluindo restrições às propagandas sobre elas. Na época da criação dessa lei, podia-se identificar 
na sociedade a necessidade de regras como essa, pois os dados sobre as mortes no trânsito decor-
rentes do uso de bebidas alcóolicas eram muito altos. Na própria exposição de motivos que seguiu 
a aprovação da lei, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou o número dessas mortes, além 
do aumento do consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens e o volume de recursos públicos 
gastos com acidentes de trânsito em virtude desse problema.
Assim, é possível verificar que havia fatos concretos na sociedade que justificaram mudan-
ças legislativas. Após a aprovação da lei, houve alterações positivas, como a diminuição desses aci-
dentes, o aumento do uso de táxis por pessoas que ingeriram bebida alcoólica e precisavam voltar 
para casa, a contratação de veículos pelos estabelecimentos comerciais para levar seus clientes para 
casa e até a criação do que ficou conhecido como “motorista da rodada”, em que uma pessoa do 
grupo de amigos não ingeria bebida alcóolica para poder dirigir ao final do evento.
No ano passado, 5,5% da população dessas cidades declararam que dirigiam 
após o consumo de qualquer quantidade de álcool, contra os 7% do ano de 2012. 
Os homens (9,8%) continuam assumindo mais a infração do que as mulheres 
(1,8%). Apesar disso, desde o endurecimento da lei seca, menos homens têm 
assumido os riscos da mistura álcool/direção: a queda foi de 22,2%, entre 2012 
e 2015, na população masculina. (BRASIL, 2016)
Esses exemplos permitem verificar o movimento dialético de interferência entre os fatos 
sociais na formação da legislação e a influência das normas jurídicas na organização social. No en-
tanto, é preciso agregar mais um elemento para essa análise. O Direito decorre das relações sociais 
e se transforma em norma jurídica por meio de um processo legislativo estatal que ocorre de forma 
tensa e disputada pela diversidade de interesses de pessoas e grupos no processo legislativo, para 
que se aprovem, ou não, as normas jurídicas.
Um exemplo sobre essas disputas existentes na sociedade por interesses divergentes e 
que se reproduzem no processo legislativo pode ser analisado na Lei n. 12.546 (BRASIL, 2011), que 
estabeleceu novas regras para comercialização, publicidade e consumo do cigarro. A alteração 
mais conhecida foi a proibição de fumar em espaços fechados, exigindo que estabelecimentos fizes-
sem alterações para não permitir o consumo do cigarro em seus espaços internos e também que as 
pessoas mudassem seu comportamento. Cabe destacar que esse movimento de proibição já vinha 
acontecendo no país e diversos municípios e estados da federação brasileira tinham leis próprias 
antes da criação da lei federal.
Como consequência dessa lei, há pesquisas que apontam uma correlação entre a proibição 
do consumo em lugares fechados e a diminuição do uso do cigarro, conforme dados do Portal 
Planalto (BRASIL, 2015):
A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas 
por Inquérito Telefônico (Vigitel 2014), apresentada nesta quinta-feira (28) pelo 
Ministério da Saúde, revela queda de 30,7% no número de fumantes no Brasil 
nos últimos nove anos. A regulamentação da Lei Antifumo, a política de preço 
mínimo de cigarros e a proibição de fumódromos e de propagandas de produtos 
derivados do tabaco em todo o território nacional estão entre as ações do gover-
no federal de controle do tabagismo.
Sociologia Jurídica14
É importante destacar que a aprovação dessa lei não aconteceu sem disputas. Mas como 
identificar no processo legislativo essas tensões existentes? É possível inferir que a indústria do 
cigarro não tinha interesse na restrição do consumo e da publicidade do seu produto, porém isso 
era algo que existia na sociedade, e foram esses interesses que predominaram, ocorrendo, então, 
a aprovação da lei.
É interessante observar que, no exemplo de lei citado primeiramente, não houve a proibição 
por completo da propaganda de bebidas alcoólicas na televisão; o que a lei estabeleceu foram horá-
rios diferenciados para sua inserção. No entanto, no caso do cigarro, a proibição das propagandas 
na televisão foi completa, o que demonstra as tensões e a forma de disputa dos interesses de cada 
grupo e a definição do conteúdo das normas jurídicas.
Dessa forma, é possível compreender que as normas jurídicas não decorrem automaticamente 
de necessidades ou valores contidos na sociedade, pois eles podem ser conflitantes. Há disputas e 
tensões para a incorporação desses interesses de cada grupo social no Direito. Para que isso aconteça, 
é preciso haver um processo de organização desses grupos e a movimentação no sentido de novas 
propostas legislativas e de convencimento da importância e necessidade dessas alterações.
Um exemplo disso pode ser a ausência de lei no Brasil que regulamente o casamento entre 
pessoas do mesmo sexo. Pode-se questionar por que ela não existe. Apesar de o movimento LGBT 
no Brasil ter se organizado e de ter propostas legislativas sobre a possibilidade do casamento entre 
pessoas do mesmo sexo há muitos anos, verifica-se que também há uma organização de algumas 
representações religiosas contrárias a essa regulamentação legal. Cabe destacar que, no ano de 
2011, o Supremo Tribunal Federal, em uma decisão progressista, reconheceu a união estável entre 
casais homossexuais, assegurando direitos como pensão e herança.
Por fim, é possível identificar outra função para o Direito: o papel emancipador e transfor-
mador da sociedade, pois as normas jurídicas, ao serem criadas com base nas demandas sociais 
e serem eficazes no contexto societário, podem gerar mudanças que contribuem para ampliar o 
patamar civilizador.
1.3 A Sociologia Jurídica
Após a identificação da correlação entre a sociedade e o Direito, cabe ques-
tionar: há uma ciência que estude essas relações sob a ótica do Direito?
Inicialmente, a Sociologia Jurídica foi entendida por muitos autores como 
uma subdivisão da Sociologia. Para Cavalieri Filho (2009),
a Sociologia jurídica tem se firmado como uma ciência autônoma, posto que 
tem objeto de análise próprio e inconfundível: o estudo do Direito como um 
fato social concreto, integrante de uma superestrutura social. [...] A finalidade 
da sociologia jurídica é estabelecer uma relação funcional entre a realidade 
social e as diferentes manifestações jurídicas, sob forma de regulamentação 
da vida social, fornecendo subsídios para suas transformações, no tempo e no 
espaço. (CAVALIERI FILHO, 2009, p. 58)
Vídeo
As relações entre a sociedade e o Direito 15
É também necessário diferenciar a Sociologia Jurídica de outras ciências jurídicas (Quadro 1). 
Muitas vezes, há confusão entre os objetos de estudo da Sociologia Jurídica com a Filosofia do Direito 
e a própria Ciência do Direito. No entanto, há distinções importantes entre essas várias ciências, pois 
cada uma tem seu objeto próprio de análise, mesmo tendo o Direito como base para seus estudos.
Quadro 1 – Diferenças entre Sociologia Jurídica, Ciência do Direito e Filosofia do Direito
Sociologia Jurídica Fato Eficácia Ser
Ciência do Direito Norma Vigência Dever ser
Filosofia do Direito Valor Fundamento Poder ser
Fonte: Cavalieri Filho, 2009, p. 65.
Nessa comparação, verifica-se que a Sociologia Jurídica tem por objeto de estudo o fato 
social e analisa o Direito formado por normas jurídicasdecorrentes da organização social e investi-
gando sua eficácia. A esfera de análise da Sociologia Jurídica se dá no campo da realidade concreta: 
o que são as normas, como se formaram, quais suas influências e tensões, quais seus objetivos, o 
que transformaram.
Diferindo da Sociologia Jurídica, a Ciência do Direito tem suas pecualiaridades. Para os 
cientistas jurídicos, o objeto de estudo é a constituição das normas – em seus trâmites e regu-
lamentações legais – e a dimensão de análise delas se dá pela sua vigência, e assim o estudo se 
dá pelo dever ser. As normas jurídicas, como uma abstração que organiza e regulamenta fatos, 
instituições e pessoas, têm uma proposição, são criadas para atingir um objetivo.
No entendimento de Sabadell (2010, p. 61), a “Sociologia jurídica examina a influência dos 
fatores sociais sobre o Direito e a incidência deste na sociedade, ou seja, os elementos de interde-
pendência entre o social e o jurídico, realizando uma leitura externa do sistema jurídico”.
O objeto de análise da Sociologia Jurídica busca responder a três questões centrais 
(SABADELL, 2010):
1. Por que se cria uma norma ou um inteiro sistema jurídico?
2. Quais são as consequências do Direito na vida social?
3. Quais são as causas da decadência do Direito, que se manifesta por meio do desuso e 
da abolição de certas normas ou mesmo mediante a extinção de determinado sistema 
jurídico?
Já a Filosofia do Direito tem como objeto de estudo o Direito como valor e sua dimensão de 
análise é o fundamento que constitui o Direito.
[...] a Filosofia do Direito preocupa-se também com os fundamentos do Direito, 
queremos dizer que constituem igualmente objeto dessa disciplina os problemas 
relacionados com o ideal do direito, a natureza do que é jurídico, suas causas e 
seus princípios últimos, seu conteúdo ético a seu mundo axiológico, investigan-
do ainda as ideologias ou correntes de pensamento que acabaram prevalecen-
do e servindo de fundamento aos principais institutos jurídicos. (CAVALIERI 
FILHO, 2009, p. 63)
Sociologia Jurídica16
No Brasil, a teoria tridimensional do Direito, criada por Miguel Reale1, foi um marco de opo-
sição à teoria dominante da época, a teoria pura do Direito, elaborada pelo alemão Hans Kelsen2, 
que entendia o Direito formado apenas pela norma, tendo essa a sua única fonte de formação.
Para Reale (2002), o Direito pode ser apreciado sob três perspectivas diferentes: valor, 
norma e fato social.
1) o Direito como valor do justo, estudado pela Filosofia do Direito na parte 
denominada Deontologia Jurídica, ou, no plano empírico e pragmático, pela 
Política do Direito;
2) o Direito como norma ordenadora de conduta, objeto da Ciência do Direito 
ou Jurisprudência; e na Filosofia do Direito no plano epistemológico;
3) o Direito como fato social e histórico, objeto da História, da Sociologia e 
da Etnologia do Direito; e da Filosofia do Direito, na parte da Culturologia 
Jurídica. (REALE, 2002, p. 509)
A teoria tridimensional do Direito faz uma crítica à abordagem positivista do Direito, que o 
entende como sendo formado apenas pela norma jurídica. Para a teoria tridimensional, a norma é 
formada pela influência que sofre dos valores, perpassada pelos fatos sociais, conforme represen-
tação da Figura 2:
Figura 2 – Processo de formação da norma jurídica
Co
mp
lex
o a
xio
lóg
ico Proposições normativas
V1V2V3Vn
P
N
F
Complexo fático
Fonte: Reale, 2002, p. 553.
Na Figura 2, verifica-se que a norma jurídica (N) é uma agregação do complexo de valores 
(complexo axiológico) contidos na sociedade, que se refletem no conjunto dos fatos sociais (F), 
gerando novas proposições legais, que, por sua vez, ao percorrerem um processo legislativo (P), 
transformam-se em norma jurídica (N). Portanto, para Reale (2002, p. 569), “a norma jurídica é 
uma forma de integração fático-axiológica, dependendo dos fatos e valores de que se origina e dos 
fatos e valores supervenientes”.
Esse processo de integração entre valor e fato, na produção das normas jurídicas pode ser 
representado na Figura 3, que demonstra o processo e a formação de uma norma. Importante 
1 Miguel Reale (1910-2006) foi um jurista, filósofo, poeta e professor universitário, com grande e importante produção 
científica e filosófica sobre o Direito. Suas principais obras foram: Filosofia do Direito (1953), Pluralismo e liberdade (1963), 
Teoria tridimensional do Direito (1968) e Paradigmas da cultura contemporânea (1996). Foi também supervisor da comissão 
que elaborou o novo Código Civil (2002).
2 Hans Kelsen (1881-1973) foi um jurista austríaco, um dos mais influentes da Filosofia do Direito. Suas principais 
obras foram: A democracia, Jurisdição constitucional, Teoria geral das normas, Teoria geral do Estado e, sua obra mais famo-
sa, Teoria pura do Direito.
As relações entre a sociedade e o Direito 17
destacar que a formação da norma jurídica deixa claro que o Direito não é algo estanque, dado, 
concluído, mas sim fruto de uma integração e de uma dinâmica com a sociedade, ficando nítidas 
as causas das mudanças legislativas que passa cada sociedade e também por que cada sociedade 
possui um ordenamento jurídico diferente. Há uma tensão entre os valores e fatos presentes na 
sociedade, e é a partir dessas tensões que as normas vão se constituindo.
Figura 3 – Processo do normativismo concreto
v1
N1 N2 N3 Nn
V2 V3 vn
F1 F2 F3 Fn
Fonte: Reale, 2002, p. 569.
Existe um dinamismo na produção das normas, em que se incidem valores (V1) e fatos (F1) 
que se transformam em outros valores (V2, V3, Vn) e outros fatos (F2, F3, Fn) e assim sucessivamente 
em outras normas (N1 N2, N3, Nn). Tem-se um modelo explicativo para as transformações que ocor-
rem no ordenamento jurídico, fruto das alterações sociais. Alguns exemplos dessas transformações 
recentes são: as normas de Direito de família que tratam da fertilização in vitro; as normas de Direito 
contratual que disciplinam as compras realizadas via internet; as normas de Direito do trabalho que 
regulamentam o teletrabalho etc.
Considerações finais
Neste capítulo, foram analisadas as relações entre a sociedade e o Direito. Foi possível identi-
ficar que as ciências da Sociologia e do Direito têm objetos de pesquisa diferentes e que a Sociologia 
Jurídica tem por campo de análise a relação entre os fatos sociais e a formação do Direito, tendo, 
dessa forma, um objeto de pesquisa diferente das outras ciências.
Também ficou claro que o Direito é um fato social e que sua formação é decorrente das 
reivindicações e das necessidades oriundas da sociedade. Mas essa transformação das demandas 
sociais em norma jurídica não acontece de forma neutra e impassível, pois o processo legislativo é 
fruto de tensa e disputada luta por interesses.
 Ampliando seus conhecimentos
No texto a seguir, Bauman e May (2010) tratam sobre a importância da Sociologia como 
forma de compreensão da sociedade e do papel de cada indivíduo no contexto social.
Aprendendo a pensar com a sociologia
(BAUMAN; MAY, 2010, p. 11-12)
A sociologia engloba um conjunto disciplinado de práticas, mas também representa con-
siderável corpo de conhecimento acumulado ao longo da história. Percorrer com o olhar a 
seção de sociologia das bibliotecas revela um conjunto de livros que representa essa área de 
conhecimento como uma tradição de publicação. Essas obras fornecem considerável volume 
Sociologia Jurídica18
de informação para novatos na área, queiram eles se tornar sociólogos ou apenas ampliar seu 
conhecimento a respeito do mundo em que vivem. São espaços em que os leitores podem se 
servir de tudo aquilo que a sociologia é capaz de oferecer e, com isso, consumir, digerir, dela se 
apropriar e nela se expandir. Essa ciência configura-se, assim, uma via de constante fluxo, e os 
novatos acrescentam ideias e estudos da vida social às estantes originais.
A sociologia, nesse sentido, é um espaço de atividade contínua que compara o aprendizado 
com novas experiências e amplia o conhecimento,mudando, nesse processo, a forma e o con-
teúdo da própria disciplina.
Isso parece fazer sentido. Afinal, quando nos perguntamos “o que é a sociologia?”, podemos 
nos referir a uma coleção de livros em uma biblioteca, que dão conta do conteúdo da disciplina 
– esse é um modo aparentemente óbvio de pensar sobre a matéria, posto que, se alguém nos 
perguntar “o que é um leão?”, podemos pegar um livro sobre animais e indicar uma imagem 
específica. Nesse sentido, estamos apontando para a ligação entre palavras e objetos. Assim, 
portanto, palavras referem-se a objetos, que se tornam referentes para essas palavras, e, então, 
estabelecemos conexões entre uns e outras em condições específicas. Sem essa capacidade 
comum de compreensão, seria impossível a comunicação mais banal, aquela que não costu-
mamos sequer questionar. Isso, entretanto, não é suficiente para um entendimento de maior 
profundidade, mais sociológico, dessas conexões.
Esse processo, contudo, não nos possibilita conhecer o objeto em si. Temos então de acrescen-
tar algumas perguntas, por exemplo: de que maneira esse objeto é peculiar? De que forma ele 
se diferencia de outros, para que se justifique o fato de podermos a ele nos referir por um nome 
diferente? Se chamar um animal de leão é correto mas chamá-lo de tigre não, deve haver algo 
que leões tenham e tigres não, deve haver distinções entre eles. Só descobrindo essas diferen-
ças podemos saber o que caracteriza um leão – o que é bem diferente de apenas saber a que 
objeto corresponde a palavra “leão”. É o que acontece com a tentativa de caracterizar a maneira 
de pensar que podemos chamar de sociológica. Satisfaz-nos o fato de a palavra “sociologia” 
representar certo corpo de conhecimentos e certas práticas que utilizam esse conhecimento 
acumulado. Entretanto, o que faz esses conteúdos e essas práticas serem exatamente “socioló-
gicos”? O que os torna diferentes de outros corpos de conhecimento e de outras disciplinas que 
têm seus próprios procedimentos?
Atividades
1. A Sociologia foi concebida como ciência diante da necessidade de se analisar a forma 
como se constitui e se organiza a sociedade. Explique quais as funções dos estudos so-
ciológicos para os indivíduos e para a sociedade.
2. De que modo as normas jurídicas interferem na sociedade?
3. Foi estudado neste capítulo que o Direito é um fato social. Explique o porquê.
4. Qual o objeto de estudo da Sociologia Jurídica?
As relações entre a sociedade e o Direito 19
Referências
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BAUMAN, Zygmunt; MAY, Tim. Aprendendo a pensar com a Sociologia. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2010.
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reduzem-em-mais-de-30-por-cento-numero-de-fumantes-no-brasil>. Acesso em: 16 out. 2017.
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ministerio-da-saude,568699>. Acesso em: 19 dez. 2017.
2
Os clássicos da Sociologia
Este capítulo tem por objetivo analisar o pensamento dos três principais sociólogos clássicos: 
Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, no que tange às relações da sociedade com o Direito.
Estudar esses três pensadores contribuirá para a percepção da sociedade com base em enfo-
ques diferentes, permitindo uma ampliação das formas de se interpretar os fatos sociais e o Direito.
Compreender como esses autores analisaram a sociedade, cada um em seu tempo histórico, 
também possibilitará o entendimento das alterações sociais ao longo do tempo e da forma como a 
Sociologia avançou para poder analisar tais transformações. Estudar os conceitos e categorias cria-
das por esses autores será fundamental para o estudo da Sociologia Jurídica, que se utiliza desses 
conhecimentos para o estudo do Direito como um fato social.
2.1 A sociologia de Émile Durkheim: a divisão social do trabalho 
e a solidariedade
Émile Durkheim (1858-1917) é considerado o pai da Sociologia francesa, em 
virtude da importância de sua obra. Foi professor de Ciências Sociais no curso cria-
do por ele na Universidade de Bordeaux e, posteriormente, foi nomeado professor 
da primeira cadeira de Sociologia na França, na Universidade de Sorbonne.
Figura 1 – Retrato de Émile Durkheim
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Suas principais obras são: Da divisão social do trabalho (1893), em que o autor estabelece o 
objeto de estudo da Sociologia; As regras do método sociológico (1895), na qual ele lança as bases 
metodológicas da nova ciência; e O suicídio (1987), obra em que aplicou o método em uma mo-
nografia considerada modelo de pesquisa social, utilizando a estatística para estudo do suicídio 
como um fato social.
Vídeo
Sociologia Jurídica22
Conceitos como fato social, solidariedade, crime, anomia, que são muito importantes para o 
estudo da Sociologia e do Direito, foram amplamente estudados por Durkheim.
Sua obra tem dois grandes traços fundamentais: a preocupação com a autonomia da 
Sociologia e a dicotomia entre o indivíduo e a sociedade, buscando explicar o condicionamento 
social dos indivíduos.
Um dos grandes objetivos de Durkheim foi a consolidação da Sociologia como uma ciência 
autônoma, definindo um objeto de estudo específico, diferente das demais ciências. Em sua obra 
As regras do método sociológico, dedicou-se a determinar o objeto de estudo para a Sociologia, 
isto é, o fato social.
Para Durkheim (2002, p. 11), “é fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de 
exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, uma existência própria, indepen-
dente das manifestações individuais que possa ter”. O fato social é todo fenômeno social coerci-
tivo, exterior aos indivíduos e que representa uma generalidade no grupo social. Desse conceito, 
extraem-se os três elementos essenciais que compõem essa categoria:
• coerção;
• exterioridade; e
• generalidade.
O primeiro elemento que compõe o fato social é a coerção. Sacadura Rocha (2009, p. 67) 
explica que “todoser humano é obrigado a seguir um conjunto de regras e normas que o grupo 
social ao qual pertence lhe impõe”. Essas regras definidas pelo grupo são importantes para que o 
indivíduo tenha parâmetros de convivência social, servindo, também, como critérios definidores 
sobre o comportamento aceito pelo grupo, pois por meio dessas normas, o grupo perpetua valores 
que ajudam no processo de socialização do indivíduo no grupo social.
O segundo elemento do fato social é a exterioridade. Para Durkheim, os fatos sociais são 
anteriores e exteriores ao indivíduo. Um indivíduo, ao nascer em uma sociedade, encontra já de-
finidos os valores, as regras e as instituições que servirão como indicadores de conduta. Mesmo 
entendendo que o mundo exterior influencia o comportamento do indivíduo com um caráter con-
servador de valores, ideias e instituições, Durkheim não deixa de acreditar na possibilidade de 
mudança na sociedade, sendo que essas mudanças devem ser fruto da ação de grupos sociais e não 
de indivíduos isolados.
O terceiro elemento que compõe o fato social é a generalidade. Para que um fato seja um ob-
jeto para o estudo da Sociologia, deve ter uma representação quantitativa na sociedade, isto é, não 
pode ser um fato ocasional ou isolado, mas estar presente na sociedade anterior e, posteriormente, 
aos indivíduos.
Sendo o fato social o objeto da Sociologia, Durkheim também se dedica à forma como se deve 
estudar esse objeto. O estudo do fato social deve ser analisado com neutralidade pelo investigador, res-
guardando a objetividade na análise, isto é, os fatos sociais devem ser estudados como um objeto exte-
rior, distinto do investigador. Afirma Durkheim (2002) que o primeiro corolário de um investigador é 
afastar sistematicamente todas as suas pré-noções do objeto pesquisado.
Os clássicos da Sociologia 23
Dessa forma, a pesquisa sociológica, para Durkheim (2002), deve seguir três princípios:
1. a compreensão de que a sociedade é regida por leis naturais;
2. o entendimento de que a sociedade pode ser estudada pelos mesmos métodos das ciên-
cias da natureza; e
3. a percepção de que a análise da sociedade deve limitar-se à análise e observação dos 
fenômenos de forma neutra, objetiva, livre de julgamentos de valor.
A segunda frente de estudos de Durkheim foi a oposição entre o indivíduo e a sociedade a 
qual pertence, pois o autor tinha uma preocupação com a integração da sociedade. Ele viveu um 
momento de grande instabilidade na França e isso gerou nele a preocupação com a continuidade 
e manutenção das relações sociais. Para tanto, o autor se dedicou a responder uma questão funda-
mental: o que mantém a integração dos indivíduos em uma sociedade?
Para responder a esse questionamento, temos o conceito de solidariedade, entendido como:
acreditar que todos em uma comunidade devem exercer uma determinada ati-
vidade importante e útil para o grupo, a partir da qual a relação de confiança se 
estabelece e o respeito ao trabalho exercido por determinado indivíduo o insere 
de forma eficiente na sociedade, permitindo-lhe estabelecer relações humanas 
efetivas que, por outro lado e ao mesmo tempo, acaba dando morfologia ao 
grupo, vale dizer, a solidariedade dá o caráter social ao indivíduo, por sua vez, 
pela sua atividade útil e aceita como tal, influencia a própria forma da sociedade 
a que pertence. (ROCHA, 2009, p. 73)
Assim, a solidariedade – que é essa relação de confiança entre os indivíduos de um grupo, 
essa importância dada pelos indivíduos à atividade produtiva de outro agente social, o reconheci-
mento da necessidade desse trabalho para o grupo – é o elemento vinculador entre os indivíduos e 
a causa da manutenção desses vínculos sociais.
Para Durkheim, a solidariedade é impactada pela divisão social do trabalho. Uma sociedade, 
para ser considerada como tal, nasce a partir do momento que ocorre uma divisão social do tra-
balho. O fenômeno da divisão do trabalho em uma sociedade marca um momento de transição da 
barbárie para a civilização e do estabelecimento do conceito de solidariedade.
Dessa forma, a solidariedade será diferente conforme se dá a divisão social do trabalho. Para 
Durkheim, em uma sociedade pré-capitalista, em que há pouca divisão social do trabalho, há uma 
vinculação entre os indivíduos denominada solidariedade mecânica, marcada pela semelhança en-
tre seus indivíduos e por uma maior influência dos valores e regras sociais no comportamento de 
cada um, pois nessas sociedades há maior identificação dos indivíduos com a família, a tradição, 
os costumes.
Já nas sociedades mais complexas, em especial nas sociedades capitalistas de cunho indus-
trial, em que há maior divisão social do trabalho, há uma outra forma de vinculação entre os indi-
víduos, denominada por Durkheim de solidariedade orgânica. De acordo com Rocha (2009), nesse 
tipo de sociedade as características são profundamente alteradas. Ele destaca as principais:
• O conhecimento é repartido por inúmeros trabalhadores fabris, enquanto os meios de 
produção são propriedade do dono do capital.
Sociologia Jurídica24
• A educação é deslocada da família e da Igreja para o Estado.
• Os valores tradicionais e religiosos são trocados por valores laicos.
• A especialização é a marca na divisão social do trabalho, gerando maior interdependência 
entre as pessoas.
Esse tipo de sociedade, marcada pela solidariedade orgânica, tem por característica princi-
pal a diferenciação entre os indivíduos e uma maior valorização das mercadorias, mais do que o 
próprio trabalho em si.
Para Rocha (2009), nas sociedades capitalistas, de solidariedade orgânica, há um risco de 
desintegração da solidariedade, pois ela passa a ser desvalorizada em função de uma maior va-
lorização das mercadorias produzidas. “O problema social se agrava sempre que a comunidade 
valoriza mais a riqueza material do que o trabalho humano: a verdadeira riqueza de uma comu-
nidade, aquela que mantém o grupo sobrevivendo em paz e respeito mútuos, é a que privilegia o 
trabalho material e intelectual de todos os seus membros” (ROCHA, 2009, p. 75).
Durkheim também associa as sociedades com tipos diferentes de solidariedade à existência 
de diferentes tipos de Direito. Nas sociedades em que o estágio da divisão social do trabalho é a 
solidariedade mecânica, há o predomínio de um tipo específico de Direito: o Direito repressivo, em 
que prevalece o Direito público e a justiça tem por função principal a retribuição.
A Justiça Retributiva caracteriza-se por se restringir a uma visão de indeni-
zação à vítima; a vítima é indenizada materialmente, e como parte dessa in-
denização, no âmbito social mais abrangente, a sociedade se sente indenizada 
se o infrator for severamente punido e pagar seu delito com exclusão social, 
que vai da reclusão e isolamento social, inclusive da família, até a perda de 
bens materiais, e, em muitos casos, a perda da própria vida. (ROCHA, 2009, 
p. 87-88)
Já nas sociedades capitalistas, com divisão social do trabalho, marcada pela solidariedade 
orgânica, há outro tipo de Direito: o restitutivo, no qual predomina o Direito privado, e a justiça 
presente nessa outra ordem social é a justiça restaurativa, caracterizada não apenas por punir o 
delituoso, mas compreender as causas do fato social. Nesse tipo de justiça, o Poder Judiciário e o 
próprio sistema penal têm um papel importante de inclusão do infrator na sociedade.
Essas conclusões são importantes para o estudo do Direito, como, por exemplo, no estudo 
da anomia. Para Durkheim, a anomia é a ausência de regulação social decorrente do desregramen-
to dos indivíduos pela perda da influência dos valores morais da sociedade sobre os indivíduos. 
O autor identifica uma crise moral na sociedade, decorrente da fragilidade da coesão social e que 
pode ser recuperada pela capacidade do Estado de fiscalizar e participar ativamente no estímulo da 
regulamentação das profissões e na organização da educação.
Esse diagnóstico de Durkheim é muito importante para o estudoda Sociologia Jurídica, ao 
relacionar o papel do Estado com uma crise moral na sociedade.
Os clássicos da Sociologia 25
2.2 A sociologia de Max Weber: a busca do sentido da ação
Maximillian Carl Emil Weber (1864-1920) foi um intelectual alemão, jurista 
e economista, considerado um dos fundadores da Sociologia. Suas principais obras 
são: A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904-1905) e Economia e socie-
dade (1922).
Figura 2 – Retrato de Max Weber
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Para Max Weber, o estudo da sociedade deve ser feito levando-se em consideração que as so-
ciedades, a cada período histórico, resultam de uma diversificação de fatores. Diverge de Durkheim, 
que entendia ser possível para as ciências sociais identificar constância e leis deterministas para a 
compreensão da formação e manutenção das sociedades, o que para Weber não é possível.
A investigação da sociedade, para Weber, deve orientar-se pela conduta dos indivíduos. 
Para tanto, o método utilizado pelo autor foi o método compreensivo, no qual buscava compreen-
der e capturar o sentido das ações sociais realizadas individualmente. Para Weber (2000, p. 6), 
compreensão significa “apreensão interpretativa do sentido ou da conexão de sentido”. Dessa for-
ma, em seu método ele busca compreender o sentido das ações, mas também explicá-las, pois 
“sentido” é algo subjetivamente pretendido pelo indivíduo.
No método compreensivo, Weber utiliza o conceito de ação social. Mas o que é uma ação 
social? Para Weber (2000, p. 3), a ação social significa uma ação que, em relação ao sentido visado 
pelo agente, ou agentes, refere-se ao comportamento de outros, orientando-se por estar em seu 
curso. Isto é, uma ação social é a conduta humana dotada de sentido, uma ação com uma justifica-
tiva subjetivamente elaborada. A expressão os outros, contida no conceito de ação social, significa 
um indivíduo ou uma multiplicidade de indivíduos, mesmo que indeterminada.
Weber (2000) identifica quatro tipos de ação social:
1. De modo racional referente a fins – Nesse tipo de ação, há uma racionalidade do in-
divíduo na escolha dos melhores meios para atingir um fim, isso é, há uma elaboração 
racional dos meios e das possíveis consequências dessas ações. É possível identificar esse 
Vídeo
Sociologia Jurídica26
tipo de ação quando o indivíduo pensa da seguinte forma: “Vou estudar durante o curso 
de Direito porque quero ser um advogado”.
2. De modo racional referente a valores – Quando a ação é orientada por valores éticos, 
estéticos ou religiosos, o indivíduo elabora racionalmente sua ação, mas o objetivo alme-
jado não é apenas alcançar um fim, mas distinguir quais os meios que serão utilizados 
para obter o que se pretende. Na escolha desses meios, estão os valores éticos defendi-
dos pelo indivíduo que quer atingir um objetivo, mas que não desrespeita seus valores. 
Esse tipo de ação é possível ser identificado quando o indivíduo pensa, por exemplo, 
da seguinte forma: “Vou separar os resíduos sólidos que produzo, porque acredito na 
necessidade de um planeta sustentável”.
3. De modo afetivo – Na ação movida pelas emoções, o indivíduo tem por base seus sen-
timentos. Pode-se identificar esse tipo de ação quando o indivíduo pensa, por exemplo: 
“Vou comprar um presente para minha namorada porque a amo”.
4. De modo tradicional – Nesse tipo de ação, o indivíduo age movido por tradições, costu-
mes, valores e cultura arraigados e devido a padrões de comportamento já inseridos em 
seus hábitos. Esse tipo de ação é possível de ser identificado quando o indivíduo pensa, 
por exemplo: “Na minha família, todos os domingos, almoçamos juntos”.
A ação social gera efeitos no meio social, e esses efeitos podem fugir ao controle ou à previ-
são daquele que a realiza, pois, apesar de o agente ter um sentido para sua ação, não é possível ter 
um prognóstico das consequências dessas ações.
Assim, não há uma classificação rígida das ações, mas apenas da intenção que está contida 
na ação. Uma mesma ação social pode ser direcionada por sentidos diferentes, quando realizada 
por indivíduos diferentes. Por exemplo, quando o indivíduo vai escolher sua profissão, ele pode 
decidir cursar a faculdade de Direito porque quer exercer a profissão de advogado (o sentido de 
sua ação está racionalmente direcionado a um fim), ou pode fazer o mesmo curso com a intencio-
nalidade de aprender sobre a sociedade e seu ordenamento jurídico para depois optar por uma das 
carreiras jurídicas (o sentido de sua ação está relacionado racionalmente ao valor do estudo), ou 
porque gosta muito da área e entende que essa é sua aptidão (o sentido de sua ação está relacionado 
aos seus sentimentos), ou, ainda, pode cursar essa faculdade porque seus pais e avós também cur-
saram a faculdade de Direito (o sentido de sua ação está ligado à tradição da sua família).
Weber (2000) também estuda as relações sociais, que acontecem quando dois indivíduos 
orientam suas ações pelas perspectivas que têm um do outro, mas não necessariamente colocam o 
mesmo sentido em suas ações. “Por relação social entendemos o comportamento reciprocamente 
referido quanto a seu conteúdo de sentido por uma pluralidade de agentes e que se orienta por essa 
referência” (WEBER, 2000, p. 16).
Um exemplo de relação social é a relação entre professor e aluno, em que o professor quer 
ensinar e o aluno quer aprender. Mas, também, pode ocorrer de o professor querer ensinar, mas o 
aluno querer apenas o título ao final do curso. Mesmo havendo essa inadequação das expectativas 
das ações de um indivíduo em relação ao outro, ainda há uma relação social.
Os clássicos da Sociologia 27
Assim, é possível entender que uma relação social é apenas uma probabilidade de que a res-
posta esperada venha a acontecer entre os indivíduos envolvidos. Para Weber, essa relação também 
acontece na relação entre o indivíduo e a lei. Para o autor, essa é uma relação subjetiva, pois cada 
indivíduo pode fazer uma interpretação diversa e ter um sentido para sua ação com base nas nor-
mas jurídicas. Isso possibilita uma análise do Direito como um conjunto organizado e sistemático 
de normas, de forma subjetiva e não objetiva. Rocha (2009, p. 110) explica em outras palavras: “se 
a base desse ordenamento jurídico é o conjunto de leis que pretendem ordenar um determinado 
grupo social, e se a relação entre a lei e o indivíduo é desse tipo probabilístico, o Direito deve ser 
considerado ‘subjetivo’ e não ‘objetivo’”.
Mas se o Direito é compreendido como subjetivo, então como garantir a aplicação das nor-
mas jurídicas? Para Weber, é o Estado que exerce o domínio sobre os cidadãos pelo uso da violência 
controlada em troca de favores e interesses. Esse tipo de dominação foi denominada por Weber de 
dominação racional legal, e é caracterizada pela relação entre Estado e cidadão pelo exercício do 
poder racional pelo Estado, entendido como útil e necessário aos cidadãos com base nas leis.
Weber identifica também dois outros tipos de dominação, a dominação tradicional e a do-
minação carismática. A primeira é caracterizada pela presença de um líder que domina a socieda-
de com base na tradição e nos costumes dessa sociedade. Já a dominação carismática se dá pela 
presença de uma liderança personalíssima. Esse líder se utiliza desse poder influenciador para 
controlar a sociedade.
Assim, percebe-se a importância do estudo de Max Weber para a Sociologia Jurídica, pois 
esse autor realizou o estudo das relações entre o indivíduo, o Direito e o Estado, de forma que 
até hoje esses modelos explicativos são utilizados para a análise do Direito. Categorias como 
burocracia, empresa, poder e dominação também foram estudadas por Weber e mantêm sua re-
levância na atualidade.
2.3 A sociologia de Marx: a importância do trabalho 
na sociedade capitalista
Karl Heinrich Marx (1818-1883) foi um filósofo e intelectual alemão, consi-
derado um dos fundadores da Sociologia devido a sua profunda e complexa obra. 
Sua análise sobre asociedade capitalista tem ainda nos dias atuais repercussões 
em pesquisas nas áreas da Sociologia, do Direito, da Economia, da Filosofia, da 
Teologia e da Política.
Marx teve uma intensa produção de textos e livros, sendo suas principais obras: Manuscritos 
econômicos-filosóficos (1844, publicados apenas em 1930); A crítica da filosofia do direito de Hegel 
(1844); A ideologia alemã (1845-46); Manifesto do Partido Comunista (1848); Trabalho assalariado 
e capital (1849); Contribuição à crítica da economia política (1859); Salário, preço e lucro (1865); 
e O capital (1867).
Vídeo
Sociologia Jurídica28
Figura 3 – Retrato de Karl Marx
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Em sua investigação, Marx entende que o real é o guia fundamental para se pensar na his-
tória e acontece a partir de contradições. Essas contradições históricas não ocorrem naturalmente, 
elas são provocadas pelas diferenças econômicas de classes.
Marx dedicou grande parte de sua vida à busca da compreensão das particularidades do sis-
tema produtivo capitalista. Ele entendia que a humanidade construiu diversos sistemas produtivos 
por meio da luta de classes, e que o capitalismo é uma dessas etapas de desenvolvimento histórico 
da humanidade.
Na realização de sua pesquisa, Marx utilizou o método dialético e produziu um denso e 
complexo modelo explicativo, que contemplou as múltiplas determinações que incidem sobre o 
capitalismo, suas origens e suas consequências.
O método dialético propicia ao pesquisador ir além da aparência e buscar a essência do 
objeto pesquisado pela captura da sua estrutura e dinâmica. Realizando uma síntese, o pesquisador 
reproduz no plano ideal a essência do objeto pesquisado (PAULO NETTO, 2011, p. 22). No que diz 
respeito à epistemologia1, de acordo com Faria (2015), Marx se utiliza do materialismo histórico, 
cuja realidade deve ser analisada dentro de seu processo de formação histórica, que, na verdade, 
não é estática, mas um movimento no qual devem ser encadeadas as relações.
[...] Marx elabora uma obra multi e interdisciplinar, complexa e substancial, 
onde disciplinas como Sociologia, Filosofia, Economia, Política, Antropologia, 
Psicologia, Religião, Ética, e mesmo ciências naturais como a Biologia, se apre-
sentam imbrincadas contribuindo de forma sistêmica para a defesa de suas 
teses. (ROCHA, 2009, p. 120)
1 Cabe esclarecer que a epistemologia é entendida “como o estudo crítico do conhecimento científico, técnico e fi-
losófico”, buscando “responder como o conhecimento é produzido (construído, obtido, desenvolvido), organizado, 
sistematizado e transmitido (explicitado, divulgado, exposto)” (FARIA, 2015, p. 60).
Os clássicos da Sociologia 29
Ao analisar a sociedade, Marx identifica duas estruturas: infraestrutura e superestrutura.
1. A infraestrutura é a realidade material, em que ocorrem as relações entre os indivíduos. 
Essa estrutura subdivide-se em:
a. forças produtivas que são formadas das relações dos indivíduos com a natureza na 
busca pela sobrevivência;
b. relações sociais de produção que são formadas pelos vínculos estabelecidos entre 
os indivíduos proprietários e os não proprietários, e entre os não proprietários e os 
meios de produção.
2. A superestrutura é a realidade imaterial, refere-se ao nível ideológico e político da so-
ciedade. O nível ideológico é formado por ideias e pensamentos advindos da educação, 
filosofia, religião, moral, artes e ciências. O nível jurídico-político é formado pelo Estado 
e pelo Direito e tem uma função de controle e dominação.
Para detalhar essa síntese da organização social, faz-se necessário explorar alguns conceitos-
-chaves. Ao tratar sobre as forças produtivas, Marx está analisando a importância do trabalho em 
uma organização social. Para ele, o trabalho é uma necessidade, é a ação humana que transforma 
a natureza e que tem a finalidade de suprir as necessidades materiais. Partindo do conceito de 
práxis2, Marx analisa a centralidade do trabalho no processo de humanização. Na sociedade capi-
talista, o trabalho assume a forma assalariada, marcado pela divisão de classes e pela legitimidade 
da propriedade privada. Assim, o trabalho assalariado assume a característica de um processo de 
dominação de classe e de subordinação do trabalho ao capital.
Com base na análise das relações sociais de produção, pode-se identificar as duas principais 
classes que compõem o modo de produção capitalista. Marx produziu diversos textos em que trata 
das classes sociais, mas não conclui sua teoria de classes. Para a presente obra, interessa destacar 
que as classes são definidas pelo lugar que ocupam no processo produtivo. Há duas principais 
classes sociais no capitalismo porque há duas grandes posições a serem ocupadas no processo pro-
dutivo: quem é dono dos meios de produção é considerado parte da classe burguesa; quem vende 
sua força de trabalho é considerado parte da classe proletária.
A relação estabelecida entre os burgueses proprietários dos meios de produção e o pro-
letariado dono apenas da sua força de trabalho se dá de forma desigual, gerando o conflito 
entre classes.
Nessa relação conflituosa, há o surgimento de uma taxa de exploração, denominada por 
Marx de mais-valia, que é o valor apropriado pelo capitalista na produção das mercadorias. Essa 
apropriação acontece porque o capitalista, ao contratar o proletário, paga a este uma remuneração 
mínima, com vistas apenas à sua sobrevivência, mas esse valor é inferior ao lucro gerado pelo ca-
pitalista na produção das mercadorias. Esse excedente não pago ao proletário é apropriado pelo 
2 “A práxis na sua essência e universalidade é a revelação do segredo do homem como ser ontocriativo, como ser que 
cria a realidade (humano-social) e que, portanto, compreende a realidade humana e não humana, a realidade na sua to-
talidade. A práxis do homem não é a atividade prática contraposta à teoria; é determinação da existência humana como 
elaboração da realidade” (KOSIK, 1976, p. 202).
Sociologia Jurídica30
burguês na forma de mais-valia. A produção da mais-valia está associada à produção das mercado-
rias, base para a comercialização, tendo como principal objetivo a obtenção do lucro.
Mas o que é o lucro? Para Marx (2013), o estudo da origem do lucro está associado ao pro-
cesso de produção e não ao processo de troca ou circulação das mercadorias.
É no processo de produção que se cria a mais-valia, pois ela acontece a partir do tempo de 
trabalho executado pelo proletário, mas que não lhe é pago. Por isso, para Marx, o capital é fruto 
de uma relação social, pois o acréscimo do valor utilizado na produção só aumenta por meio dessa 
relação de exploração da força de trabalho proletária.
Assim, é importante diferenciar o lucro da mais-valia. O lucro é o excedente do capital inves-
tido inicialmente no processo de produção; no entanto, a mais-valia se dá apenas pela exploração 
da força de trabalho não paga ao trabalhador.
[...] o mais-valor efetivo é determinado pela relação entre o trabalho excedente 
e o trabalho necessário, ou entre a porção do capital – a porção do trabalho 
objetivado – que se troca por trabalho vivo e a porção do trabalho objetivado 
pela qual ela é substituída. Mas o mais-valor na forma do lucro é medido em 
relação ao valor total do capital pressuposto no processo de produção. (MARX, 
2011, p. 624)
Assim, o lucro depende da relação entre trabalho necessário e seu excedente não pago ao 
trabalhador (mais-valor). A geração da mais-valia, para Marx (2013), pode acontecer de duas 
formas: mais-valia absoluta e mais-valia relativa. A primeira acontece pelo aumento da jornada 
de trabalho. O capitalista empregador aumenta o tempo que o trabalhador proletário fica à sua dis-
posição produzindo, mas não aumenta o valor de seu salário. A mais-valia relativa acontece quando 
o capitalista empregador intensifica a produção sem aumentar a jornada de trabalho; dessa forma, 
o trabalhador proletário trabalha mais e produz mais, mas não há aumento no valordo salário.
A existência das mercadorias é parte fundamental dos estudos de Marx, pois a mercadoria é 
um dos elementos básicos da economia capitalista.
Para Marx (2013), uma mercadoria pode ter um valor de uso e um valor de troca. A diferença 
é que o valor de uso da mercadoria está relacionado ao seu conteúdo, como aquela mercadoria pode 
satisfazer necessidades humanas; já o valor de troca está associado à capacidade que uma mercadoria 
tem de poder ser trocada por outra mercadoria. É pela possibilidade de trocar mercadorias por outras 
que o sistema econômico vai se tornando mais complexo; pois como é possível medir a grandeza do 
valor de cada mercadoria? Para o presente estudo, o importante é saber que, para que essas trocas 
entre mercadorias aconteçam, é necessária outra mercadoria: o dinheiro.
Assim, pode-se entender a origem do valor, de acordo com Marx (2013), pela análise de 
duas formas:
a. forma de valor relativa – uma mercadoria trocada por outra mercadoria, ou uma merca-
doria sendo trocada por várias mercadorias;
b. forma de valor equivalente – todas as mercadorias podem ser trocadas por dinheiro.
Assim, as mercadorias funcionam como medida de valor, seja em seu próprio elemento ma-
terial, seja na forma de dinheiro. Na sociedade capitalista, o dinheiro passa a ser uma mercadoria 
Os clássicos da Sociologia 31
amplamente desejada, pois assim pode-se adquirir qualquer outra mercadoria posta no mercado, 
já que no mercado mundial a mercadoria dinheiro passa a funcionar como forma de pagamento.
A complexidade da análise de Marx sobre a sociedade capitalista está presente no estudo da 
mercadoria, pois esta, além de ser a base da economia capitalista, serve também para o estudo da alie-
nação do trabalhador. Para Marx (2013, p. 146), “uma mercadoria aparenta ser, à primeira vista, uma 
coisa óbvia, trivial. Sua análise resulta em que ela é uma coisa muito intrincada, plena de sutilezas 
metafísicas e melindres teológicos”. Explorando um pouco mais essas ideias:
O caráter misterioso da forma-mercadoria consiste, portanto, simplesmente no 
fato de que ela reflete aos homens os caracteres sociais de seu próprio trabalho 
como caracteres objetivos dos próprios produtos do trabalho, como proprieda-
des sociais que são naturais a essas coisas e, por isso reflete também a relação 
social dos produtos com o trabalho total como uma relação social entre os obje-
tos, existente à margem dos produtores. (MARX, 2013, p. 147)
Dessa forma, o autor explica que a mercadoria, apesar de ser produzida pelo trabalhador, 
assume uma característica misteriosa que parece ganhar vida própria: assim, a mercadoria torna-se 
desejo de aquisição pelo próprio trabalhador, criando um ciclo que se autoalimenta. O trabalhador 
produz as mercadorias, cujo valor é fruto do seu trabalho somado ao mais-valor do empregador 
capitalista, e o trabalhador, ao adquirir essas mercadorias, contribui para o retorno do lucro ao 
capitalista. Esse processo, que o autor denominou de fetichismo da mercadoria, envolve os indiví-
duos na sociedade capitalista fazendo parte da própria formação da subjetividade do indivíduo e 
marcando profundamente o indivíduo em seu psiquismo.
Marx e Engels (2005) apontam que a divisão do trabalho leva o trabalhador à alienação, 
que pode acontecer de várias formas no sistema capitalista:
1. Alienação dos meios de produção – o trabalhador não possui os meios de produção e 
não tem recursos para comprá-los; possui apenas sua força de trabalho.
2. Alienação do processo produtivo – o trabalhador não sabe fazer o produto completa-
mente. Ele conhece apenas uma parcela do processo produtivo, pois a produção passa a 
ser intensivamente dividida, parcelada. Cada trabalhador domina apenas uma parte da 
produção de determinado produto.
3. Alienação da compreensão – o trabalhador está direcionado a sua sobrevivência, pois 
precisa trabalhar para sobreviver, e assim se aliena na compreensão do funcionamento 
do sistema capitalista.
Marx, ao estudar sobre a alienação, faz uma crítica sobre a posição dos proletários em so-
ciedade, pois, apesar de serem fundantes para o sistema capitalista funcionar, não percebem essa 
essencialidade e, assim, sofrem um processo de exploração. Tendo por base a análise da superestru-
tura, é possível explorar os conceitos de Estado, Direito e ideologia na teoria marxista.
Para Marx, o Estado e o Direito representam os interesses da classe dominante, isso é, a clas-
se burguesa, que, na sociedade capitalista, além de ter o domínio econômico, tem também o domí-
nio político, e, dessa forma, incorpora no Estado e no Direito seus interesses, buscando controlar 
as contradições e divergências inerentes a uma sociedade conflituosa como a capitalista.
Sociologia Jurídica32
A sociedade do modo de produção capitalista sofre a dominação econômica da 
classe dominante, a burguesia. Esta não pode manter e conter as contradições 
sociais senão recorrendo a um aparelho repressivo, o Estado. A classe econo-
micamente dominante é pois também a classe politicamente dominante; ela 
investe o aparelho de Estado (administração, exército, política, justiça, etc.) e 
fá-lo funcionar no sentido dos seus interesses. (MIAILLE, 1994, p. 134)
Mas a classe burguesa utilizará também de outros meios para a manutenção de sua domina-
ção, a ideologia. Para Marx, de acordo com Chaui3 (1989, p. 94), a ideologia “consiste precisamente 
na transformação das ideias da classe dominante em ideias dominantes para a sociedade como um 
todo, de modo que a classe que domina no plano material (econômico, social e político) também 
domina o plano espiritual (das ideias)”.
Assim, a ideologia é um processo de inversão da realidade, ou, dito de outra forma, é um 
falseamento da realidade, é a criação de uma situação, em que as aparências da realidade são en-
ganadoras: “em toda ideologia, a humanidade e suas relações aparecem de ponta-cabeça, como 
ocorre em uma câmara escura, tal fenômeno resulta de seu processo histórico de vida, da mesma 
maneira pela qual a inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida diretamente 
físico” (MARX; ENGELS, 2005, p. 51).
Como todas as relações sociais são fruto da realidade concreta, a consciência dos indivíduos 
também se forma nesse processo. Para Marx e Engels (2005, p. 52), “os homens ao desenvolverem 
sua produção material e relações materiais, transformam, a partir de sua realidade, também o seu 
pensar e os produtos de seu pensar”.
Isso significa que a forma de pensar dos indivíduos está relacionada diretamente com a 
sociedade à qual pertencem, e, para poder mudar tal forma de pensamento, é necessário alterar 
a realidade concreta. Por isso, Marx acreditava que a revolução da classe proletária era a única 
forma de rompimento com o modo de produção capitalista, pois o capital é gerado pela relação 
entre proletários e burgueses, e, assim, se os proletários rompessem com essa relação, poderia ser 
criada uma nova forma de organização social, menos desigual e sem exploração.
Os estudos de Marx são fundamentais para a análise da sociedade capitalista, por isso sua 
relevância na disciplina de Sociologia Jurídica. Categorias centrais da Sociologia e do Direito, 
como trabalho, classes sociais, consciência de classe, estrutura social, Estado e Direito foram 
estudadas por Marx. No estudo do Direito, em especial do Direito do Trabalho, as categorias 
estudas por Marx são imprescindíveis para uma análise e compreensão mais aprofundada da 
sociedade e do próprio Direito.
3 Marilena Chaui é uma filósofa brasileira, que tem uma ampla produção acadêmica e que estuda o tema do poder, 
da violência e da estrutura da sociedade brasileira, além dos temas clássicos da Filosofia. É professora da Faculdade 
de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Suas principais obras são: A ideologia da competência; 
A nervura do Real; Brasil: mito fundador e sociedade autoritária; Boas-vindas à Filosofia; Desejo, paixão e ação na ética de 
Espinosa;Espinosa: uma filosofia da liberdade; Introdução à História da Filosofia (v. I e II); Manifestações ideológicas do auto-
ritarismo brasileiro; Convite à filosofia; O que é ideologia; O ser humano é um ser social; Política em Espinosa.
Os clássicos da Sociologia 33
Considerações finais
Neste capítulo, foram estudadas as principais ideias de três autores clássicos da Sociologia: 
Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. O objetivo foi identificar as categorias centrais do estudo 
de cada autor e fazer uma relação com temas do Direito.
Importante destacar que o estudo desses três autores possibilita uma diversificação na aná-
lise de temas centrais para a Sociologia Jurídica, como o Direito, a justiça e o Estado, pois cada um 
desses autores apresenta uma análise diferente sobre esses temas.
Ampliando seus conhecimentos
O texto a seguir procura demostrar uma conexão entre os pensadores estudados neste ca-
pítulo: Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, fazendo uma breve correlação entre as ideias 
centrais desses três autores.
O livro da sociologia
(THORPE et al., 2015, p. 31)
A análise de Marx sobre como o capitalismo criou as classes socioeconômicas no mundo 
industrial baseada em algo mais que pura teorização e, como tal, foi um dos primeiros estudos 
“científicos” da sociedade a oferecer uma explicação completa da sociedade moderna em ter-
mos econômicos, políticos e sociais. No processo, ele apresentou vários conceitos que se tor-
naram centrais no pensamento sociológico posterior, especialmente na área das classes sociais, 
como o conflito e a consciência de classe e as noções de exploração e alienação.
Na geração que sucedeu a de Marx, tanto Émile Durkheim quanto Max Weber frequente-
mente considerados junto com Marx, os “fundadores” da sociologia moderna, ofereceram 
uma visão alternativa à dele.
Durkheim reconheceu que a indústria moldou a sociedade moderna, porém defendeu 
que era a própria industrialização, em vez do capitalismo, que estava na raiz de todos os 
problemas sociais.
Weber, por outro lado, aceitou o argumento de Marx de que existem razões econômicas por 
trás do conflito de classes, mas achava que a divisão de Marx da sociedade entre burgue-
sia e proletariado, puramente baseada na economia, era simples demais. Ele acreditava que 
havia causas culturais e religiosas, assim como econômicas, para o crescimento do capitalismo, 
e que elas se refletiam nas classes com base no prestígio e no poder, além do status econômico.
Atividades
1. Ao estudar o pensamento de Émile Durkheim, qual relação é possível fazer entre a divisão 
social do trabalho e o Estado?
2. No estudo sobre Max Weber, explique por que o autor entende que o Direito tem um caráter 
subjetivo.
Sociologia Jurídica34
3. Karl Marx analisa a sociedade capitalista tendo o trabalho como seu elemento central. Expli-
que como o autor entende o papel do Direito e do Estado na sociedade capitalista burguesa.
4. Os três autores estudados tratam sobre o papel do Estado na sociedade, no entanto, cada um 
faz essa análise sob perspectivas diferentes. Explique quais são essas diferenças.
Referências
CHAUI, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1989.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002.
FARIA. Epistemologia, metodologia e teoria em estudos organizacionais. Texto para discussão na disciplina de 
Epistemologia, Metodologia e Teoria em Estudos Organizacionais do Curso de Doutorado em Administração 
do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2015.
KOSIK, Karel. A dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
MARX, Karl. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. 
São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 2011.
______. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2013. v. 1.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: M. Claret, 2005.
MIAILLE, Michel. Introdução crítica ao Direito. Lisboa: Estampa, 1994.
PAULO NETTO, José. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
ROCHA, José Manuel de Sacadura. Sociologia Jurídica: fundamentos e fronteiras. Rio de Janeiro: Elsevier, 
2009.
THORPE, Christopher et al. O livro da sociologia. São Paulo: Globo Livros, 2015 (Coleção As Grandes Ideias 
de Todos os Tempos, v. 8).
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Ed. da UnB, 2000.
3
Entendendo as transformações da 
sociedade contemporânea
Você já parou para pensar sobre por que tudo está se transformando tão rápido na sociedade 
contemporânea? Já pensou se essas transformações impactam as relações sociais e o Direito?
Este capítulo tem por objetivo abordar o tema da modernidade, explicando suas origens e 
consequências. Nele será analisada a discussão sobre a existência da pós-modernidade, trazendo os 
principais pensadores sobre o tema. Por fim, será analisada a existência de uma relação do Direito 
com a pós-modernidade.
3.1 O que é a modernidade?
Para o estudo da modernidade, faz-se necessário inicialmente entender a di-
ferença entre a modernidade e o período moderno, ou Idade Moderna.
O período histórico intitulado Moderno é o período da história ocidental 
que teve início em 1453, com a tomada de Constantinopla pelo Império Otomano, 
e terminou em 1789, com a Revolução Francesa. Já a modernidade é o projeto de 
mundo que foi criado com base em três princípios: racionalidade, liberdade e felicidade. Essa con-
cepção de mundo foi sendo desenvolvida em função da alteração na forma de pensar do ser huma-
no, com base nas grandes transformações nas áreas social, econômica, política e cultural.
Para Giddens (1991, p. 11), a “modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organi-
zação social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que se tornaram mais ou menos 
mundiais em sua influência”.
O que isso significa? Que a partir do século XVII, na Europa, começou uma série de mudan-
ças na sociedade que deram origem a uma nova forma de organização da sociedade, baseada em 
novos tipos de relação social, diferindo do período histórico anterior ligado às tradições e às crenças.
É importante destacar que no século XVII a Europa foi marcada por uma multiplicação de 
ideias, pensamentos e anseios associados à noção de progresso e racionalidade e que propiciaram 
o surgimento da modernidade. Destaca Bittar (2005) que a modernidade está associada a ideias 
como: ciência, saber, razão, ordem, técnica, sujeito, soberania, Estado, indústria, negócio, indi-
vidualismo, competição, liberalismo, entre outras. Essas ideias representam uma ruptura com as 
ideias presentes no período medieval da história, marcado por ideias como religião, fé, crença em 
divindades e obediência.
Mas como ocorreu essa transformação nos ideais presentes na Europa nesse período? 
Como ocorreu essa passagem de um grupo de ideias existentes para um novo conjunto de ideias? 
Bittar (2005) aponta uma série de fatores que envolvem aspectos sociais, econômicos, culturais e 
Vídeo
Sociologia Jurídica36
políticos, os quais foram importantes para essa transformação da sociedade antiga e o surgimento 
da modernidade. São eles:
• Intensificação do comércio com o Oriente, com a criação de rotas de comércio e de bur-
gos em que aconteciam essas trocas. Abertura de contato com povos que possuíam conhe-
cimentos e formas de viver diferentes do modelo medieval europeu. Descoberta de novas 
terras nas Américas, com o contato de novas culturas e povos.
• Diminuição da interferência da Igreja na determinação dos costumes.
• Surgimento de uma nova classe social urbana, que posteriormente iria se afirmar como 
a burguesia mercantil. Surgimento de novos artistas, intelectuais, pintores, escultores 
subvencionados pelos mecenas que não tinham vinculação com o pensamento religioso.
• Retorno das ideias clássicas gregas nas artes e no conhecimento. Crescentepapel das ciên-
cias e sua interferência na vida social e política. Abertura das primeiras universidades 
europeias, como Bologna e Paris, que difundiram o pensamento dialético e escolástico. 
Desenvolvimento da ciência e da medicina, o que contribuiu para o aprimoramento de 
novas técnicas de tratamento das doenças e epidemias. Surgimento de uma preocupação 
metodológica-racionalista para a demonstração das evidências científicas, tendo como 
maior representante Descartes.
Assim, houve intensa transformação social, marcada por uma expansão do comércio que 
permitiu o contato com novos povos e culturas e também uma mudança de ordem econômica e 
produtiva, que posteriormente deu origem a um novo modo de produção, o capitalismo.
Dentre os elementos apontados por Bittar (2005), deve-se destacar a importância do surgi-
mento de uma nova classe social, a burguesia, que teve seu poder econômico ampliado, acarretan-
do em impactos na organização política da sociedade da época. A burguesia pressionou pelo fim 
da monarquia e pela criação de um Estado-nação, baseado em um sistema republicano em que 
fosse possível agir com mais liberdade. Ela também teve um papel importante como incentivadora 
e financiadora da produção cultural, subvencionando artistas e pensadores que contribuíram para 
a mudança na esfera cultural e intelectual da época.
Em conjunto com essas transformações, também houve o aumento da produção do conhe-
cimento, com a criação das primeiras universidades europeias, a expansão da ciência, com bases 
metodológicas para sua criação e o resgate das ideias gregas clássicas. Todos esses elementos são 
causa da diminuição da interferência da Igreja na sociedade e na política, possibilitando a constru-
ção de uma nova forma de viver e de pensar.
Assim, o surgimento da modernidade possibilitou uma desconexão entre o período me-
dieval, marcado pela dualidade entre a fé e a razão, e uma nova ordem social, tendo como marca 
o uso da razão, o avanço da ciência e do progresso. “Se tudo está para a razão, com a razão e em 
função da razão, a ordenação racional é o sistema que tudo penetra, determinando as condições 
para a preeminência do projeto moderno” (BITTAR, 2005, p. 53).
Giddens (1991), ao tratar sobre a modernidade, traz um novo conceito: a descontinuidade. 
Esse termo serve para explicar que a história humana não é homogênea em seu desenvolvimento. 
Entendendo as transformações da sociedade contemporânea 37
No transcorrer da história há descontinuidades, e a modernidade é uma forma de desprendimento 
das formas tradicionais anteriores.
Para Giddens (1991), há três fatores principais que vão contribuir para a construção da mo-
dernidade com base no conceito das descontinuidades:
1. O ritmo das mudanças – na modernidade a rapidez das mudanças acontece em con-
dições extremas e está relacionada diretamente com o desenvolvimento da tecnologia. 
Cabe lembrar que as mudanças em outros períodos históricos aconteciam em ritmo 
muito mais lento.
2. O escopo das mudanças – com a modernidade as mudanças passam a acontecer em 
diferentes áreas do planeta, são colocadas em interconexão, ocorrendo em todas essas 
regiões. Essa descontinuidade está relacionada ao processo de globalização.
3. As características das instituições modernas – algumas formas sociais só passaram a 
existir na modernidade como o Estado-nação, dependência por atacado de fontes de 
energia, transformação dos produtos em mercadorias e o trabalho assalariado. Cabe re-
lembrar que o Estado-nação surge no período moderno da história. Nos períodos his-
tóricos anteriores não existia uma instituição com as configurações do Estado-nação, 
ou Estado moderno. É também nesse período histórico que o sistema produtivo se 
transforma radicalmente: a produção de bens, que em outros momentos históricos era 
voltada para a subsistência dos indivíduos ou do grupo social, passa a ser realizada para 
ser vendida no mercado. Para isso, os bens se transformam em mercadorias, a produção 
passa a depender por atacado de fontes energéticas. No campo do trabalho, passa a se 
constituir o trabalho na modalidade assalariado, baseado na criação do sujeito de direito 
livre para contratar.
Esses elementos de descontinuidade, apontados por Giddens (1991), marcam uma nova for-
ma de viver, pois viver na modernidade é viver em um ritmo mais intenso de mudanças e com 
maior liberdade, em um contexto mais amplo de atuação. Além disso, o surgimento de novas ins-
tituições como o Estado-nação, as mercadorias e a forma de trabalho assalariado serão fatores de 
grande impacto nessa nova organização social e que terão reflexos diretos no sistema jurídico.
O aparecimento do Estado, a configuração do direito, a criação do espírito das 
leis do mercado, a ideologização da ordem liberal, a afirmação do modelo capi-
talista, o surgimento da nação como fonte de segurança e estabilidade territo-
riais, a crença na ideia de progresso são características marcantes daquilo que se 
chama de modernidade. (BITTAR, 2005, p. 56-57)
Tratando dessa separação ou descontinuidade entre momentos históricos, Bauman (2001) re-
lacionou a cultura tradicional pré-moderna com a cultura da modernidade, denominando a primeira 
de “cultura selvagem” e a segunda de “cultura jardim”. Nessa comparação, o autor explica que a cul-
tura selvagem, tradicional, tinha por característica ser autogerida e autorreprodutora, tendo como 
figura o guarda-caça1. Na análise do autor, a classe dominante pré-moderna tinha uma função de 
1 O guarda-caça era o servo que existia nas grandes propriedades rurais e que tinha a função de manter os locais e os 
animais de forma adequada para a utilização de seus senhores. Também tinha a importante função de vigiar e fiscalizar 
as áreas para manter afastados caçadores clandestinos.
Sociologia Jurídica38
guarda-caça em relação às classes inferiores. No entanto, com a passagem para a modernidade surge 
uma nova figura: o jardineiro. Ele tinha a função de supervisão, vigilância e cuidado, pois um jardim 
precisa de atenção para que não volte ao estado selvagem. Mesmo um bom projeto de jardim precisa 
de dedicação, visto que não é um projeto que se autorreproduz, pois está em constante ameaça. Na 
modernidade, o Estado faz o papel do jardineiro em uma cultura jardim, mantendo o controle e a 
supervisão da sociedade, para que esta não volte à cultura selvagem. Para o autor, foi a incapacidade 
do guarda-caça de acreditar na capacidade humana (pois a classe dominante pré-moderna entendia 
que as pessoas eram naturalmente religiosas, não precisando de qualquer tipo de padronização ou de 
ajuste) que possibilitou a transformação da cultura selvagem em cultura jardim.
Figura 1 – Natureza selvagem
ph
ot
on
aj
/iS
to
ck
ph
ot
o
Figura 2 – Jardim
vk
yr
yl
/iS
to
ck
ph
ot
o
Percebe-se nessas figuras que um jardim precisa de cuidados e manutenção periódicos e 
constantes, diferindo da natureza selvagem, na qual não há necessidade de dedicação e diligência. 
Para que um jardim permaneça com seus contornos definidos e planejados pelo seu criador, e para 
que mantenha seu aspecto de harmonia, é preciso um jardineiro que faça o trabalho de cuidar e 
manter esse espaço. Essa analogia feita por Bauman (2001) serve para compreender a figura do 
Estado nessa nova organização social.
3.2 A existência da pós-modernidade
A sociedade atual vive uma crise? A percepção de uma crise vem alcançando 
diversos aspectos na vida social, em especial a partir da década de 1960, e leva ao 
questionamento sobre a realização das ideias da modernidade. Será que todos os 
ideais contidos no projeto civilizatório da modernidade foram efetivados? Houve a 
superação da modernidade? Há uma pós-modernidade?
Há divergência entre os autores sobre a existência da pós-modernidade. No entanto, 
há uma convergência entre os que concordam sobre existir um período de mudanças e insta-
bilidade, tendo como característica central o desaparecimento das grandes marcas culturais da 
modernidade(BITTAR, 2005).
Para Rouanet (1993), as promessas feitas no projeto civilizatório da modernidade, de liber-
dade, progresso e racionalidade, não se cumpriram e, dessa forma, não se pode falar em um novo 
projeto, a pós-modernidade. Para o autor, esse processo de mudanças deveria levar a um convite à 
revisão da racionalidade da modernidade.
Vídeo
Entendendo as transformações da sociedade contemporânea 39
Para Bittar (2005), as últimas décadas do século XX apresentaram questionamentos sobre as 
crenças da modernidade; como exemplo, podemos citar:
a. O forte abalo na supervalorização da ideia da ordem como garantidora do progresso 
na falência do sistema carcerário, na presença de desvios políticos como em regimes 
totalitários e ditatoriais; no uso da bomba atômica, no uso de recursos naturais, na má 
distribuição de riquezas; no monopólio da produção por poucas empresas. Realmente, 
na contemporaneidade foi possível criar uma sociedade em que a ordem está presente? 
Pode-se questionar se há ordem no sistema prisional brasileiro? Há ordem em uma so-
ciedade, como a brasileira, que tem por característica a desigualdade social? Há ordem 
no uso dos recursos naturais do planeta?
b. Existe uma crítica a partir do entendimento da ideia de razão instrumental baseada na for-
malidade, isso é, interessa para a racionalidade instrumental como as ideias e princípios 
podem ser utilizados para a obtenção de um fim. Essa forma de racionalidade não tem 
um fim em si mesma, mas é meio para algum fim, o que pode gerar alienação e não re-
flexão. Quais são essas necessidades que a sociedade contemporânea tem buscado saciar? 
Não está havendo um incentivo ao consumismo de bens descartáveis? Não está havendo 
uma forma de uso do poder e de manipulação dos indivíduos pela razão instrumental?
c. Há também a discordância da crença na justiça do mercado, pois a ideia da meritocracia 
baseada no conceito de que o mercado se autorregula e que é capaz de justiça e igualdade, 
não tem sido verificada na realidade concreta. Dessa forma, a crítica serve para mostrar a 
ideia de justiça social que aos poucos vem substituindo a ideia de livre mercado. A ideia 
do liberalismo econômico conseguiu gerar uma sociedade mais justa? Todos os indiví-
duos em uma sociedade têm acesso aos bens de mercado? Como está acontecendo essa 
distribuição dos bens em uma sociedade?
d. O critério de aposta no investimento da indústria – com um perfil de trabalhadores de baixa 
qualificação, má remuneração, excesso de horas de trabalho, baixa interação nas políticas 
empresariais – vem sendo criticada e substituída por um investimento em serviços, em que 
há uma mão de obra mais intelectual, bem qualificada, com maior interação nas políti-
cas empresariais. Essa alteração na forma de trabalho gera mudanças no quadro societal, 
com o surgimento de novas formas de trabalho, como o teletrabalho (trabalho a distância). 
As novas formas de trabalho estão possibilitando melhorias nas condições de vida e traba-
lho dos indivíduos? Ou essas novas formas de trabalho estão precarizando as relações de 
trabalho? Quem está sendo beneficiado com essas novas formas de trabalho?
e. O Estado passa a ser questionado sobre sua insuficiência em relação à prestação das 
atividades sociais e no progressivo desaparecimento da dicotomia sociedade civil-Esta-
do para uma nova realidade, com o surgimento da tripartição sociedade civil-Estado-
-Terceiro Setor. Desse modo está ocorrendo uma expansão dos poderes da sociedade 
e uma colaboração mais intensa entre essas três instituições. O papel do Estado seria o 
de protetor e cuidador da sociedade? Está o Estado cumprindo com seu papel? Quem 
o Estado está protegendo? Está gerando uma sociedade mais igualitária, justa e livre?
Sociologia Jurídica40
Esses questionamentos trazidos por Bittar (2005) sobre a realização dos ideais da moderni-
dade possibilitam uma profunda reflexão sobre a continuidade da existência da modernidade ou o 
surgimento de uma nova forma de viver e pensar, denominada pós-modernidade.
No tocante à existência da pós-modernidade, a seguir serão apresentadas as ideias de alguns 
pensadores sobre o tema.
Cornelius Castoriardis (1922-1997), de origem grega, teve sua formação intelectual na 
França, em filosofia, economia e psicanálise. Suas principais obras foram: Instituição imaginária da 
sociedade, Encruzilhadas do labirinto e Socialismo ou barbárie.
Para Castoriardis, a pós-modernidade se caracteriza pela decadência das crenças da mo-
dernidade. Ele a define como “pós-qualquer-coisa”, pois, na sua compreensão, a pós-moder-
nidade não traz um novo projeto de mundo nem o gérmen dessa mudança, mas apenas um 
incômodo às pessoas, que se sentem inertes e estáticas. Dessa forma, o que caracteriza a pós- 
-modernidade é estar no mundo sem qualquer pretensão de sentido. A fragmentação que não per-
mite identificação e personificação é o que alimenta o homem pós-moderno. Para um novo projeto 
de autonomia são necessários objetivos políticos e atitudes humanas, os quais o autor entende que 
são raros nesse momento histórico.
Ulrich Beck (1944-2015), sociólogo alemão, tem por principais obras: Modernização reflexi-
va, O que é globalização? e Sociedade de risco.
Para Beck, Guiddens e Lasch (1997), a mudança que está acontecendo na sociedade con-
temporânea é marcada pela transição de uma sociedade industrial para uma sociedade pós-indus-
trial, em que predomina o processo de destradicionalização2. Esse período é denominado pelos 
autores como modernização reflexiva. A expressão reflexiva não significa que a modernidade se 
tornou autocompreensiva, mas sim refratária, instaurando uma nova fase da própria modernidade. 
Esse movimento é marcado por um processo de desincorporação seguido por uma reincorporação 
de formas sociais industriais. “‘Modernização reflexiva’ significa a possibilidade de uma (auto) 
destruição criativa para toda uma era [...]” (BECK; GUIDDENS; LASH; 1997, p. 12).
Dessa forma, a modernização reflexiva é marcada por um dinamismo social que está aca-
bando com as formações de classe, ocupação, papéis dos sexos, família nuclear, setores empre-
sariais, gerando um processo de autodestruição, em que um tipo de modernização destrói outro 
e o modifica. Assim, nesse processo pós-moderno há movimentos creacionistas e também de 
decomposição (BECK; GUIDDENS; LASH; 1997).
Nesse processo de modernização reflexiva há dois fenômenos que acontecem ao mesmo tem-
po: o processo de individualização e o de globalização. Para Beck, Guiddens e Lash (1997, p. 15), 
o processo de modernização decorre da obsolescência da sociedade industrial, mas o outro lado 
dessa obsolescência é a sociedade de risco. O conceito de sociedade de risco designa “uma fase no 
2 Independentemente da sua doutrina (católica, protestante, evangélica ou qualquer outra que mantenha uma estru-
tura organizada), a Igreja, como forma de controle formal, refere-se à entidade institucional, com a sua hierarquia, regras 
e modos de agir com seus seguidores. Já a religião, como forma de controle informal, direciona-se aos indivíduos por 
meio dos valores, das crenças, dos dogmas, mas é desvinculada do formalismo institucional da Igreja.
Entendendo as transformações da sociedade contemporânea 41
desenvolvimento da sociedade moderna, em que os riscos sociais, políticos, econômicos e individuais 
tendem cada vez mais a escapar das instituições para o controle e a proteção da sociedade industrial”. 
Assim, para o autor, o desenvolvimento da tecnologia gera maior bem-estar à sociedade, mas tam-
bém riscos que não havia em outras épocas da história e que são imprevisíveis e incontroláveis.
Nessa sociedade de risco, o reconhecimento da eventualidade das ameaças geradas pelo de-
senvolvimento técnico e industrial acarreta a necessidade de autorreflexão sobre a coesão social e 
a análise sobre os fundamentos da racionalidade. Assim, a sociedade se torna reflexiva, o que gera 
também um problema e um tema para ela própria analisar(BECK; GUIDDENS; LACH; 1997).
Zygmunt Bauman (1925-2017), sociólogo polonês, tem como principais obras: Modernidade 
líquida, Sociedade líquida, Modernidade e ambivalência, O mal-estar da pós-modernidade, Vidas 
desperdiçadas, Globalização: as consequências humanas e Vida em fragmentos: sobre a ética 
pós-moderna.
Bauman é o grande pensador contemporâneo da modernidade e crítico da pós-moder-
nidade pela forma como explica o contexto atual da humanidade. É o criador da denominação 
modernidade líquida. Mas por que líquida?
O sociólogo se utiliza de uma metáfora para explicar a transitoriedade da sociedade. Dessa 
forma, esse conceito é assim denominado por assimilar-se aos aspectos físicos do líquido, que sofre 
constantemente mudanças pelas tensões a que é exposto, além de não ter uma forma definida; já o 
conceito de sociedade sólida se relaciona à ideia desse estado físico, que tem como característica a 
estabilidade em virtude das ligas de seus átomos. Nesse sentido, tem uma forma definida e perdura 
por muito tempo. Nesta, o tempo é irrelevante, enquanto naquela, é primordial.
Assim, Bauman (2001) se utiliza dessa metáfora para explicar a natureza dessa nova fase 
da história da modernidade, em que as coisas e as relações são passageiras e flexíveis. A fluidez 
da modernidade acarreta uma profunda alteração na relação entre tempo e espaço. Enquanto na 
modernidade o tempo era projetado a longo prazo, havendo maior certeza na forma do uso desse 
tempo, na modernidade líquida o tempo também se torna “líquido”, é o momento da instantanei-
dade, as programações são feitas a curto prazo. A mesma coisa ocorre com o espaço: enquanto na 
modernidade havia um espaço fixo, rígido, definido, na modernidade líquida o espaço é macro, 
podendo ser qualquer espaço; as barreiras devem ser abertas, as pessoas podem ser nômades e 
extraterritoriais, havendo inclusive os espaços virtuais que perdem a materialidade.
O famoso quadro A persistência da memória3, de Salvador Dali, pode ser utilizado como 
uma representação da modernidade líquida, em que tudo está derretendo, o tempo e espaço são 
fluídos e sem forma. Bauman (2001), ao tratar dessa dicotonia entre o tempo e o espaço, estabele-
ceu uma relação que denominou de modernidade pesada, ou era do hardware, e modernidade leve, 
ou era do software. É possível elencar algumas características de cada uma dessas eras para que se 
possa compreender melhor a ideia do autor.
3 A tela pode ser visualizada no site do MoMA (The Museum of Modern Art). Disponível em: <https://www.moma.org/
collection/works/79018>. Acesso em: 25 jul. 2018.
Sociologia Jurídica42
Quadro 1 – Era da modernidade pesada ou era do hardware x era da modernidade leve ou era do software
Modernidade pesada ou
era do hardware
Modernidade leve ou
era do software
Obsessão pelo volume. Viagem à velocidade da luz.
Máquinas pesadas. Espaço pode ser atravessado.
Grandes muros nas fábricas. Cancelamento da diferença entre “longe” e “perto”.
Equipes cada vez maiores. Equipes enxutas.
Conservação da mão de obra e manutenção 
da subordinação.
Manter afastada a mão de obra humana, forçar 
sua saída.
Conquista do espaço, do território como valor 
supremo.
Irrelevância do espaço disfarçada de aniquilação 
do tempo.
Importância das fronteiras.
Espaço não impõe mais limites à ação e 
seus efeitos.
Riqueza e poder estavam enraizados no território. O capital viaja rápido e leve.
Os impérios preenchiam os espaços do globo. Instantaneidade como desvalorização do espaço.
Lógica do poder e do controle fundada na separa-
ção entre o “dentro” e o “fora”.
Volume e tamanho passam a ser riscos.
Progresso relacionado ao crescimento do 
tamanho e à expansão espacial.
Downsizing (diminuição de tamanho).
Fonte: Elaborado pela autora com base em Bauman, 2001.
Esses elementos trazidos pelo autor demonstram a mudança que aconteceu na relação entre 
o tempo e o espaço, entre a rigidez da era pesada da modernidade para a liquidez da era leve da 
pós-modernidade. Importante notar que na era pesada da modernidade, os elementos centrais são 
a delimitação, o controle e o uso do espaço, enquanto na era da modernidade leve o que prevalece 
é a expansão do território, sem a preocupação com as fronteiras e a instantaneidade das relações e 
do uso do tempo.
Essas alterações se refletem no campo da produção, da formação da sociedade, do trabalho, 
da política e até nas relações afetivas4. Ou seja, no campo da produção das mercadorias a rapidez 
das transformações é intensa e contínua e cada vez mais essas mudanças acontecem em menor pe-
ríodo de tempo; na organização da família é possível identificar o quanto foram alteradas as formas 
de constituição familiar; no campo laboral também as mudanças têm acontecido de forma signifi-
cativa, novas formas de trabalho têm surgido e novas profissões têm sido criadas para adequar-se 
às novas necessidades sociais.
Por fim, todas essas características da modernidade leve acarretam muita incerteza e 
instabilidade na sociedade e na vida dos indivíduos. Nesse período da modernidade líquida, 
os principais referenciais humanos, como família, classe, nacionalidade, política, estão derreten-
do e, dessa forma, o indivíduo vai ficando isolado, tornando-se responsável por seus atos e pelo 
seu destino. Essa rapidez e liquidez da pós-modernidade exacerba a individualidade, gerando 
consequências como a incerteza e a insegurança nos indivíduos, pois eles vivem em um mundo 
4 Bauman é também autor de um livro intitulado Amor líquido, em que discute o conceito de liquidez nas relações afetivas.
Entendendo as transformações da sociedade contemporânea 43
líquido, no qual o consumo é incentivado, além de volátil e passageiro, em que até as relações 
pessoais se tornam frágeis.
Cabe questionar agora se essa leveza e liquidez presente na sociedade contemporânea se 
reflete também no sistema jurídico.
3.3 A pós-modernidade e o Direito
Inicialmente faz-se necessário relembrar que a modernidade tinha em seu 
projeto a ideia de ordem, que na esfera jurídica se refletia na ideia de um direito 
positivo, uma lei forte, um Estado centralizador e uma exegese literal da lei.
Nesse contexto histórico, Hans Kelsen (1881-1973) criou a Teoria Pura do 
Direito como uma forma de explicar o sistema jurídico por meio da norma jurí-
dica. Kelsen foi um retrato de sua época. Para Bittar (2005, p. 182), ele “é uma espécie de síntese 
do espírito jurídico-ideológico da modernidade, que vê na ambiguidade o perigo da desestrutu-
ração no caos”. Bittar (2005) afirma que o sistema jurídico para Kelsen tinha por características: 
ser unitário, orgânico, fechado, completo e autossuficiente.
No entanto, a teoria kelseniana passa a ter problemas para responder questões sobre a socie-
dade contemporânea atual, marcada por maior flexibilidade e diversidade das normas jurídicas e 
pela existência de outras formas de realização da justiça. O fluxo de mudanças que acontece na so-
ciedade contemporânea (de forma cada vez mais rápida) vai impactar a necessidade de alterações 
no Direito. Dessa forma, cabe questionar: a pós-modernidade impacta o Direito?
É possível identificar no sistema jurídico algumas alterações decorrentes desse processo de 
pós-modernidade, marcado pela rapidez das mudanças e pela diminuição do poder do Estado 
como organizador e controlador da sociedade.
Para Bittar (2005), é possível identificar algumas identidades que passam a compor uma 
perspectiva de ação de um Direito pós-moderno que:
1. valoriza a liberdade e inclusão na vida das pessoas, sobrepondo-se à ideia antiga do 
Direito como instrumento do poder do Estado e como regulador da vida das pessoas 
– o conceito é de um Direito defensor de ideais sociais;
2. coloca-se como espaço de uma ética plural, de construção permanente da sociedade, e 
não como um espaço de centralização e unificador de valores morais majoritários. Nesse 
espaço, abre-se mais o campo da diversidade, o respeito às diferenças, à heterogeneida-
de,à responsabilidade difusa e microssistêmica de comunidades autossustentadas;
3. amplia e incorpora a concepção de direitos humanos a todos os indivíduos, defende o 
valor do multiculturalismo, respeita as diferenças culturais, conjuga ideias como a tole-
rância, o respeito e a autodeterminação dos povos;
4. considera a existência de consenso do valor da dignidade da pessoa humana, como uma 
espécie de ética mínima entre os povos, sendo esse valor um definidor das ações políti-
cas e jurídicas nos ordenamentos nacionais e na legislação internacional;
Vídeo
Sociologia Jurídica44
5. acredita mais no poder da tutela dos casos concretos e menos na generalidade da lei, 
representante de uma abstração e universalidade. O arcabouço jurídico passa a ser mais 
aberto e facultado à livre interpretação dos atores do sistema jurídico;
6. coloca-se ao lado das reivindicações de justiça social, marcado por processos de acessi-
bilidade, participação, corresponsabilidade decisória, por meio de instrumentos que fa-
cilitem o acesso aos conhecimentos e à informação, como os processos de transparência;
7. aposta no flexível, como forma de tratar a complexidade dos fenômenos sociais, diferen-
ciando-se do Direito moderno, que era fruto de uma cultura da rigidez;
8. prioriza a eficiência de um número reduzido de normas, evitando a ampliação e banali-
zação de normas de Direito positivo na concepção de um sistema jurídico concentrador 
e sistematizador;
9. coloca-se na oposição de grandes categorias modernas que orientam a conduta, como 
ideias dicotômicas público/privado, empregado/empregador, Estado/sociedade civil, 
mas trabalha com ideias de complementação de ações, baseadas em parcerias, convênio, 
coordenação de interesses convergentes;
10. adota uma linguagem jurídica incentivadora e motivadora e não mais utiliza uma lin-
guagem coercitiva, proibitiva, limitadora. Dessa forma, o Direito passa a ter um caráter 
de agente de transformação social;
11. alinha-se com uma conduta engajada e transformadora e não mais com as condutas 
passivas, ou relacionadas à cidadania reduzida à sua esfera eleitoral, ou ao Estado como 
mero gestor das relações econômicas, ou, ainda, com a jurisdição exercida apenas após 
a provocação das partes;
12. integra a pluralidade das fontes jurídicas, não se limitando à lei, como defendido pelo 
Direito moderno.
Com essas possibilidades de ação de um Direito pós-moderno trazidas por Bittar (2005), 
pode-se identificar grandes mudanças que implicaram em um Direito mais ágil e colaborativo, em 
que há mais presença da participação social de forma plural e diversificada e menos interferência 
do Estado como uma entidade repressora e controladora. Esse Direito pós-moderno poderá de-
senvolver formas de conciliar interesses divergentes, de construir novas análises mais interdiscipli-
nares dos fatos concretos, de maior participação cidadã, de utilização mais abrangente de outras 
fontes do Direito, além da lei, e de decisões que busquem ampliar o conceito de justiça social.
Considerações finais
Neste capítulo identificou-se o processo de formação da modernidade, com base em diver-
sos fatores que alteraram a sociedade, a política, a ciência, a cultura e o Direito, criando um projeto 
civilizatório baseado em ideais como a individualidade, a autonomia e a universalidade.
No entanto, verifica-se que esse projeto está em discussão pelo fato de estarem ocorrendo 
mudanças significativas na sociedade contemporânea, marcada pelas alterações nas relações entre 
espaço e tempo, acarretando efeitos nas várias áreas da sociedade.
Entendendo as transformações da sociedade contemporânea 45
Também abordou-se como esse processo de mudança da modernidade para a pós-moderni-
dade influencia a formação do Direito, tornando-o mais flexível e mais adaptativo às necessidades 
de participação e colaboração da sociedade.
Ampliando seus conhecimentos
Este breve texto abaixo é um trecho da obra Modernidade líquida, de Zygmunt Bauman, 
que trata sobre as transformações dessa nova era da modernidade.
Modernidade líquida
(BAUMAN, 2001, p. 9-11)
[...] Lembremos, no entanto, que tudo isso seria feito não para acabar de uma vez por todas 
com os sólidos e construir um admirável mundo novo livre deles para sempre, mas para 
limpar a área para novos e aperfeiçoados sólidos; para substituir o conjunto herdado de 
sólidos deficientes e defeituosos por outro conjunto, aperfeiçoado e preferivelmente per-
feito, e por isso não mais alterável. Ao ler o Ancien Régime de Tocqueville, podemos nos 
perguntar até que ponto os “sólidos encontrados” não teriam sido desprezados, condenados 
e destinados à liquefação por já estarem enferrujados, esfarelados, com as costuras abrindo; 
por não se poder confiar neles. Os tempos modernos encontraram os sólidos pré-modernos 
em estado avançado de desintegração; e um dos motivos mais fortes por trás da urgência 
em derretê-los era o desejo de, por uma vez, descobrir ou inventar sólidos de solidez dura-
doura, solidez em que se pudesse confiar e que tornaria o mundo previsível e, portanto, 
administrável. Os primeiros sólidos a derreter e os primeiros sagrados a profanar eram 
as lealdades tradicionais, os direitos costumeiros e as obrigações que atavam pés e mãos, 
impediam os movimentos e restringiam as iniciativas. Para poder construir seriamente uma 
nova ordem (verdadeiramente sólida!) era necessário primeiro livrar-se do entulho com 
que a velha ordem sobrecarregava os construtores. “Derreter os sólidos” significava, antes e 
acima de tudo, eliminar as obrigações “irrelevantes” que impediam a via do cálculo racional 
dos efeitos; como dizia Max Weber, libertar a empresa de negócios dos grilhões dos deve-
res para com a família e o lar e da densa trama das obrigações éticas; ou, como preferiria 
Thomas Carlyle, dentre os vários laços subjacentes às responsabilidades humanas mútuas, 
deixar restar somente o “nexo dinheiro”. Por isso mesmo, essa forma de “derreter os sólidos” 
deixava toda a complexa rede de relações sociais no ar – nua, desprotegida, desarmada e 
exposta, impotente para resistir às regras de ação e aos critérios de racionalidade inspirados 
pelos negócios, quanto mais para competir efetivamente com eles. Esse desvio fatal deixou o 
campo aberto para a invasão e dominação (como dizia Weber) da racionalidade instrumen-
tal, ou (na formulação de Karl Marx) para o papel determinante da economia: agora a “base” 
da vida social outorgava a todos os outros domínios o estatuto de “superestrutura” – isto é, 
um artefato da “base”, cuja única função era auxiliar sua operação suave e contínua.
O derretimento dos sólidos levou à progressiva libertação da economia de seus tradicionais 
embaraços políticos, éticos e culturais. Sedimentou uma nova ordem, definida principalmente 
em termos econômicos. Essa nova ordem deveria ser mais “sólida” que as ordens que subs-
tituía, porque, diferentemente delas, era imune a desafios por qualquer ação que não fosse 
econômica. A maioria das alavancas políticas ou morais capazes de mudar ou reformar a nova
Sociologia Jurídica46
ordem foram quebradas ou feitas curtas ou fracas demais, ou de alguma outra forma ina-
dequadas para a tarefa. Não que a ordem econômica, uma vez instalada, tivesse colonizado, 
reeducado e convertido a seus fins o restante da vida social; essa ordem veio a dominar a 
totalidade da vida humana porque o que quer que pudesse ter acontecido nessa vida tornou-se 
irrelevante e ineficaz no que diz respeito à implacável e contínua reprodução dessa ordem. [...]. 
Atividades
1. O que é a modernidade? Defina-a incorporando algumas de suas características centrais.
2. Explique o que define a pós-modernidade, para Bauman.
3. De acordo com as ideias de Ulrich Beck, qual a relação entre o conceito de modernidade 
reflexiva e a sociedade de risco?
4. O Direito tem sofrido os impactos da pós-modernidade? Justifique sua resposta com base 
nos autores estudados neste capítulo.
Referências
BAUMAN, Zigmunt. Modernidadelíquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
______. Legisladores e intérpretes: sobre modernidade, pós-modernidade e intelectuais. Rio de Janeiro: 
Zahar, 2010.
BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na 
ordem social moderna. São Paulo: Ed. da Unesp, 1997.
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. O direito na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Forense universitária, 2005.
GIDDENS, Antony. As consequências da modernidade. São Paulo: Ed. da Unesp, 1991.
ROUANET, Sergio. P. Mal-estar da humanidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
4
Grupos sociais e hegemonia
Você já parou para pensar como as pessoas se organizam em uma sociedade? Já pensou se 
essas organizações impactam na formação do Direito?
O objetivo deste capítulo é compreender o que são grupos sociais, como se formam e como 
se organizam na sociedade. Serão estudadas as diferenças entre os diversos grupos sociais e sua 
relação com a construção do Direito.
Também será analisado o conceito de hegemonia. Você conhece esse conceito? Neste ca-
pítulo, terá a oportunidade de explorá-lo e relacioná-lo com os grupos sociais e a formação das 
normas jurídicas.
4.1 O que são grupos sociais?
A sociedade se compõe por indivíduos que compartilham ideias, valores, 
sentimentos afins e que se organizam em grupos de acordo com seus interesses.
No convívio social, os indivíduos podem interagir tanto entre si quanto 
com um grupo social, podendo, ainda, haver a interação entre os próprios grupos 
sociais – esses processos são denominados interação social.
Interação social é “a ação recíproca de ideias, atos ou sentimentos entre pessoas, entre grupos 
e entre grupos e pessoas” (DIAS, 2010, p. 109). Nessa interação social, os indivíduos são ao mesmo 
tempo sujeito e objeto na relação social, portanto, as ações acontecem entre ambos, há uma reciproci-
dade. É nessa interação com outros indivíduos que cada um avalia, modifica e define suas condutas.
A interação social é um dos processos mais elementares da vida em sociedade, pois é uma 
fonte de socialização, que se refere à “aquisição das maneiras de agir, pensar e sentir próprias dos 
grupos, da sociedade e da civilização em que o indivíduo vive” (DIAS, 2010, p. 116).
O indivíduo, por meio das interações sociais que estabelece ao longo da vida, define seus 
valores, crenças, comportamentos e também sua identidade e sua posição no grupo e na sociedade.
Assim, pode-se afirmar que a interação social é a base da estrutura social. Apesar da com-
plexidade do estudo e da conceituação de estrutura, esse conceito se relaciona à ideia de posição 
e sustentação. Logo, a estrutura social pode ser definida como um conjunto de “padrões relativa-
mente estáveis e duradouros em que estão organizadas as relações sociais e que formam a estrutura 
básica daquilo que denominamos ‘sociedade’” (DIAS, 2010, p. 148). Assim, pode-se dizer que essas 
posições formam uma rede, não podendo, portanto, ser identificadas como unidades isoladas.
Para ilustrar esse conceito, basta compará-lo a um time de futebol durante um jogo (Figura 1), 
em que há uma estrutura que se fundamenta nas relações que se estabelece. Dessa forma, cada jogador 
tem uma posição dentro da equipe, e existem várias posições para que se possa alcançar o objetivo 
Vídeo
Sociologia Jurídica48
pretendido. Embora haja uma diversidade nas posições, cada uma está relacionada a uma atividade es-
pecífica. No conjunto, elas estão associadas às habilidades de cada jogador, que pode ser substituído por 
outro jogador, e mesmo com todas essas relações e possibilidades de mudanças, a estrutura da equipe 
permanece. Assim também acontece na sociedade.
Figura 1 – Estratégias de um jogo de futebol: exemplo de relações e estruturas sociais.
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Nesse processo constante de interação social que vivem os indivíduos dentro de uma socie-
dade, há a formação dos grupos sociais. Mas como é possível conceituar grupo social?
Segundo Pérsio Santos Oliveira (2003, p. 67), ele “é toda reunião de duas ou mais pessoas 
associadas pela interação. Devido à interação social, os grupos mantêm uma organização e são 
capazes de ações conjuntas para alcançar objetivos comuns a todos os seus membros”.
Com base nesse conceito, é possível identificar os principais elementos caracterizadores de 
um grupo social:
• Pluralidade de indivíduos – ser formado por mais de um indivíduo.
• Interação social – possuir uma reciprocidade entre os indivíduos. O grupo social é basea-
do nas relações e influências entre seus integrantes, além das relações estabelecidas por 
meio da comunicação.
• Organização – constituir uma estrutura, criando regras e normas para seu funcionamento 
que não precisam ser necessariamente formais, mas compreendidas por todos.
• Objetividade e exterioridade – existir fora do indivíduo, de forma que o grupo se mante-
nha independentemente de o indivíduo estar nele ou não.
• Objetivo comum – existir um interesse em comum entre seus integrantes. Essa é a causa 
ou motivo que move os indivíduos a unirem-se em um grupo.
• Consciência grupal – adquirir um sentimento de compartilhamento, de pertencimento 
ao grupo.
Grupos sociais e hegemonia 49
• Continuidade – permanecer no tempo; não é um fenômeno momentâneo, efêmero, 
há uma perpetuidade nas ações de um grupo social.
São exemplos de grupos sociais: família, grupos de amigos, grupos religiosos, equipes de 
trabalho, sindicatos, clubes recreativos etc.
Diante da observação dos elementos caracterizadores de um grupo social, percebe-se a im-
portância da continuidade no tempo, visto que as formações sociais que não têm esse elemento 
de perpetuidade não podem ser consideradas como grupos sociais, mas sim agregações, que se 
constituem de “qualquer conjunto físico de pessoas que estão ao mesmo tempo no mesmo lugar, 
que interagem pouco ou nada e que não se sentem pertencer a um grupo” (DIAS, 2010, p. 163).
As agregações, ou agregados sociais, podem ser divididas em três tipos:
• Multidão – é caracterizada pela ausência de organização, pelo anonimato de seus inte-
grantes, pela presença de um objetivo em comum e pela proximidade física. Exemplos: 
indivíduos que se reúnem em um protesto político.
• Massa – é formada por um agrupamento de indivíduos relativamente separados e desco-
nhecidos um do outro e que têm em comum a formação de opiniões. Exemplo: telespec-
tadores de um mesmo programa televisivo.
• Público – é um agrupamento de pessoas que pode ser físico ou virtual e que tem como 
caraterística a resposta espontânea a um mesmo estímulo. Exemplo: plateia em uma 
peça teatral.
Entre as diversas possibilidades de classificar os grupos sociais, a mais utilizada pelos auto-
res é a divisão em grupos primários e secundários. Os grupos primários são aqueles em que os 
indivíduos têm uma relação de intimidade, em número restrito de integrantes, com um interesse 
em comum – o principal exemplo é a família. Já os grupos secundários se caracterizam por um 
número ilimitado de pessoas; as relações entre seus integrantes são impessoais e suas reuniões não 
são permanentes – um exemplo é um grupo de estudo.
Quadro 1 – Características dos grupos primários e secundários
Grupos primários Grupos secundários
Membros se conhecem intimamente.
Não há necessariamente um conhecimento profundo entre 
seus integrantes.
Contatos sociais são íntimos e pessoais.
Contatos sociais são impessoais, limitados e não perma-
nentes.
Grupos pequenos. Grupos com tamanho flexível.
Relacionamentos informais e descontraídos. Suas reuniões têm um objetivo prático e determinado.
Em geral, seus membros são insubstituíveis. Em geral, seus membros são substituíveis.
Fonte: Dias, 2010, p. 168-169.
Embora haja diferenças entre os grupos, eles são fundamentais no processo de socialização 
de um indivíduo. É por meio das vivências e das experiências de cada um desses grupos que o in-
divíduo definirá sua autoidentidade e identidade social.
Sociologia Jurídica50Uma forma de relacionar os grupos sociais com a formação do Direito é compreendê-los por 
meio de outra classificação que eles podem ter e que está relacionada aos interesses existentes na 
sociedade, qual seja, a divisão entre grupos convergentes ou divergentes.
• Os grupos convergentes se caracterizam pela existência de um comportamento intragru-
pal, isto é, pela presença de vários grupos que interagem devido ao compartilhamento de 
pelo menos um interesse em comum.
• Já os grupos divergentes têm por características a existência de dois grupos convergentes, 
mas divergentes entre si.
Figura 2 – Representação de um grupo convergente
Grupo 1
Interesse 
A
Grupo 6
Grupo 5 Grupo 3
Grupo 2
Grupo 4
Fonte: Elaborada pela autora.
A Figura 2 representa vários grupos, com diferentes formações, convergindo para um único 
interesse. Cada um deles pode ter interesses distintos, mas pelo menos um deve estar correla-
cionado ao dos demais grupos. Por exemplo, para a aprovação de uma lei, vários grupos podem 
convergir para um interesse único. Existe uma lei que aprovou o feminicídio como um crime, 
Lei n. 13.104/2015 (BRASIL, 2015), que inclui uma qualificadora no homicídio, se ele for cometido 
“contra a mulher por razões da condição de sexo feminino”. Para aprovação dessa lei, vários grupos 
convergiram seus interesses, como grupos de feministas, de defensores dos direitos humanos, de 
defesa dos direitos da mulher, de combate à violência doméstica e familiar, do Ministério Público, 
entre outros, em prol do objetivo comum, a aprovação da lei.
Figura 3 – Representação de dois grupos divergentes entre si
Grupo 1
Interesse 
A
Grupo 6
Grupo 5 Grupo 3
Grupo 2
Grupo 4
Grupo 7
Interesse 
B
Grupo 12
Grupo 11 Grupo 9
Grupo 10
Grupo 8
Fonte: Elaborada pela autora.
Grupos sociais e hegemonia 51
A Figura 3 demonstra dois grupos convergentes, mas que entre si são divergentes em seus 
interesses. Um exemplo desse tipo de divergência no plano da aprovação de uma lei pôde ser visto 
na votação do projeto de lei do Código Florestal, que acabou sendo aprovado. A Lei n. 12.651/2012 
(BRASIL, 2012) refletiu uma grande disputa entre dois grandes grupos de interesses divergentes, 
ambos formados por grupos divergentes, mas que em prol de um objetivo comum, uniram-se: um 
grupo ficou conhecido como ambientalistas e defendia a maior proteção das florestas brasileiras, 
e o outro, denominado ruralistas, defendia o uso do solo também para outras finalidades, como a 
agricultura e a pecuária.
4.2 Hegemonia e Estado ampliado
Após análise dos grupos sociais dentro de uma sociedade e sua importância 
no processo de disputa legislativa, nesta parte do capítulo será abordado o conceito 
de hegemonia.
Você sabe o que é hegemonia?
O autor mais conhecido no estudo desse conceito é Antonio Gramsci (Figura 
4), um italiano que viveu de 1891 a 1937 e que por vinte anos foi preso político do regime fascista 
italiano, quando escreveu grande parte de suas obras. Suas principais obras são: Cadernos do cár-
cere, Concepção dialética da história, Escritos políticos e Os intelectuais e a organização da cultura.
Figura 4 – Retrato de Antonio Gramsci
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ed
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on
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O pesquisador Benedetto Fontana (2003, p. 120) afirma que “Gramsci usa a hegemonia para 
indicar um sistema de alianças entre vários grupos, em que o grupo dominante exerce o poder 
graças à sua capacidade de transformar os interesses particulares em gerais e universais.”
Vídeo
Sociologia Jurídica52
Assim, um grupo dominante utiliza-se da sua capacidade de persuasão e influência para 
fazer com que seu interesse se torne o do grupo. Dessa forma, o grupo que influencia acaba se 
tornando superior aos outros grupos.
Explica Fontana (2003, p. 114) que, no entendimento de Gramsci, a hegemonia se caracteri-
za por essa supremacia de um grupo ou classe sobre outros grupos ou classes, mas que essa relação 
se dá por meios diferentes da violência ou coerção.
Cabe então um questionamento: se a hegemonia se estabelece por outros meios que não a 
violência e a coerção, como isso ocorre?
Pela capacidade de formação de alianças e pactos, criando um sistema de relações consen-
suais entre os diversos grupos, sendo que um destes é o líder desse processo. Esse sistema permite 
que diversos grupos formem um único interesse, baseado em um acordo entre o líder e os demais 
(GRAMSCI, 2000).
Para Fontana (2003), três elementos constituem o conceito gramsciano de hegemonia: 
poder, conhecimento e transformação dos interesses (Figura 5).
Figura 5 – Elementos caracterizadores do conceito de hegemonia
Poder
ConhecimentoTransformação dos 
interesses
Fonte: Elaborada pela autora.
A capacidade de transformar interesses particulares em interesses gerais pressupõe conhe-
cimento das características dos grupos com os quais se almeja fazer alianças e do que se pretende 
alcançar, gerando poder para o grupo líder. Para Anita Helena Schlesener (2001, p. 19), “o exercício 
do poder ocorre pela combinação de domínio e direção [...]”. Essa capacidade de controle e de co-
mando é que caracteriza o conceito de hegemonia.
A relação entre o conceito de hegemonia e os demais grupos está associada à ideia de Estado, 
que Gramsci explica ao afirmar que:
O Estado é certamente concebido como um organismo próprio de um grupo, 
destinado a criar as condições favoráveis à expansão máxima desse grupo, mas 
este desenvolvimento e esta expansão são concebidos e apresentados como a 
força motriz de uma expansão universal, de um desenvolvimento de todas as 
energias ‘nacionais’, isto é, um grupo dominante é coordenado concretamente 
com os interesses gerais dos grupos subordinados e a vida estatal é concebida 
como uma contínua formação e superação de equilíbrios instáveis (no âm-
bito da lei) entre os interesses do grupo fundamental e os interesses dos gru-
pos subordinados, equilíbrios em que os interesses do grupo fundamental e os 
Grupos sociais e hegemonia 53
interesses dos grupos subordinados, equilíbrios em que os interesses do grupo 
dominante prevalecem, mas até um determinado ponto, ou seja, não até o es-
treito interesse econômico-corporativo. (GRAMSCI, 2000, p. 42)
Dito de outra forma, o Estado é formado por uma disputa constante entre interesses do 
grupo hegemônico e dos grupos subalternos, mas nessa disputa há um “certo equilíbrio de com-
promisso”. Por exemplo, no campo legislativo há um equilíbrio, mas isso não é constante, é variável 
conforme forem as disputas entre os interesses dos grupos envolvidos.
Assim, pode-se entender o Estado a partir dessa disputa por interesses, em que o grupo do-
minante quer permanecer no controle, nem que para isso seja preciso fazer concessões às pressões 
dos grupos subordinados, construindo uma relação de equilíbrio, mas também de disputa.
[...] a hegemonia é uma relação ativa, cambiante, evidenciando os conflitos 
sociais, os modos de pensar e agir que se expressam na vivência política; con-
forme se desenvolvem e se inter-relacionam as forças em luta, tem-se o for-
talecimento das relações e domínio, o equilíbrio entre coerção e consenso 
ou ampliação da participação política e da organização da sociedade civil. 
(SCHLESENER, 2001, p. 19)
Mas o entendimento de Gramsci sobre o Estado é uma ideia diversa do conceito tradicional 
de Estado. Para o autor (2000, p. 254-255), “por ‘Estado’ deve-se entender, além do aparelho de 
governo, também o aparelho ‘privado’ de hegemonia ou sociedade civil”.
Assim, o Estado tem um conceito ampliado, formado pela sociedade política mais a socie-
dade civil.
Figura 6 – Estado ampliado
Estado 
ampliado
Sociedade 
política
Sociedade 
civil
Fonte: Elaborada pela autora.
Agora, faz-se necessário compreender o que Gramsci entende por sociedade civil. Ela é 
formada pelo conjunto de organismos denominados aparelhos privados de hegemonia, pois são 
compostos por indivíduos particulares, que nascem da organização política dos cidadãos, a partir 
das disputas de interesses diversosna sociedade, por exemplo, os sindicatos, as escolas, partidos 
políticos, meios de comunicação, igrejas. Assim, é na sociedade civil que ocorrem as disputas, 
contradições e lutas, mas também é onde ocorrem os consensos.
Esses aparelhos privados são responsáveis por elaborar as diferentes concepções de mundo 
pelas quais a sociedade se representa e se organiza em grupos. Já a sociedade política é composta 
pelos aparelhos administrativo-burocrático e político-militar. “A sociedade política tem a função 
de controlar, de assegurar legalmente a disciplina dos grupos que não consentem, nem ativa, nem 
Sociologia Jurídica54
passivamente aos objetivos dominantes; a coerção é exercida principalmente pelos momentos de 
crise, quando fracassa o consenso espontâneo” (SCHLESENER, 2001, p. 19).
Dessa forma, fica mais claro porque Gramsci utiliza a expressão Estado ampliado, pois vai 
além do conceito liberal de Estado como apenas uma esfera política. Para o autor, no Estado estão 
presentes as instituições administrativas, burocráticas, militares e políticas, jutamente com os apa-
relhos privados de hegemonia, ou seja, a sociedade civil organizada.
O processo hegemônico pode acontecer em âmbito nacional e/ou internacional. Da mesma 
forma que ocorre uma disputa de transformação de interesses particulares em interesse geral den-
tro de uma nação, isso também pode ocorrer entre nações diferentes.
Gramsci (2000) aponta os elementos caracterizadores de uma nação hegemônica:
• Extensão do território – nesse elemento, deve-se considerar também a posição geográfica.
• Força econômica – nesse elemento, há de se distinguir a capacidade industrial e agrícola 
(força produtiva) e a capacidade financeira.
• Força militar – esse elemento sintetiza o valor da extensão territorial (e sua população) e 
do potencial econômico.
Há também um elemento imponderável, que trata de sua posição ideológica no mundo em 
um determinado momento histórico. Tais elementos, para Gramsci (2000), são calculados em uma 
perspectiva de guerra, pois dispor de todos eles dá segurança de vitória, além da disponibilidade 
para realizar pressão diplomática, que pode potencializar a capacidade de uma grande potência 
obter uma vitória, sem precisar necessariamente combater em uma guerra.
Essa hegemonia obtida por uma nação é muito importante; de acordo com Fontana (2003, 
p. 21), a nação hegemônica pode “conseguir os próprios fins num conflito sem recorrer à guerra 
– ou seja através de métodos diplomáticos, econômicos, ideológicos ou morais/intelectuais – é a 
marca distinta de uma potência hegemônica”.
O próprio Gramsci afirma que a superioridade de uma nação hegemônica pode ser um dife-
rencial para a realização, ou não, de um conflito: “dispor de todos os elementos que dão segurança 
de uma vitória (numa guerra) significa dispor de um potencial de pressão diplomática de grande 
potência, isto é, significa obter uma parte dos resultados de uma guerra vitoriosa sem necessidade 
de combater” (GRAMSCI, 2000, p. 55).
Dessa forma, percebe-se a importância da compreensão do conceito de hegemonia para 
entender a formação do poder e das normas jurídicas dentro de um Estado, assim como para en-
tender que essas disputas por interesse também acontecem no plano internacional.
4.3 A contra-hegemonia
Após o estudo do conceito de hegemonia e sua importância na compreen-
são do conceito de Estado e na formação das normas jurídicas, é possível ques-
tionar: os grupos subalternos aceitam a superioridade do grupo hegemônico sem 
questionamentos?
Vídeo
Grupos sociais e hegemonia 55
É possível relacionar o conceito de hegemonia com o processo de globalização. Ao 
tratar sobre a hegemonia entre nações, conclui-se que as nações hegemônicas determinam 
seus interesses particulares como interesses globais. Sobre esse tema, o professor e sociólogo 
Boaventura de Souza Santos (2002) trabalha ideias que reúnem esse questionamento inicial da 
existência de uma passividade dos grupos subalternos perante o grupo hegemônico e a relação 
desse tema com a democracia.
Santos (2002) utiliza-se do conceito de hegemonia de Gramsci para tratar sobre a demo-
cracia na sociedade contemporânea. Para ele, as doutrinas relacionadas à democracia podem ser 
divididas em hegemônicas e contra-hegemônicas.
Os processos hegemônicos, segundo ele, são orientados para a acumulação e 
apropriação capitalistas, e a sua hegemonia assenta-se na identificação dos in-
teresses do bloco no poder com interesses gerais, ou seja, em um consenso que 
favorece os grupos dominantes. Os processos contra-hegemônicos, por sua vez, 
agrupam os diversos movimentos locais, por vezes articulados globalmente, que 
lutam contra os efeitos perversos da globalização hegemônica e são orientados 
para a solidariedade e o bem comum. (MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 12)
Assim, os processos contra-hegemônicos organizam-se porque entendem que o Estado não 
conseguiu construir sociedades baseadas na liberdade e na igualdade, pois ignoraram o ideal de 
soberania do povo.
Ainda de acordo com Santos (2002 apud MIRANDA; MERLADET, 2012), esses proces-
sos contra-hegemônicos possuem algumas características centrais:
• a expansão do conceito de opressão, sendo que a exclusão social diz respeito não apenas a 
uma classe, e sim a toda a humanidade, e, por isso, as lutas emancipatórias devem ser plurais;
• a exigência de equivalência entre a igualdade e a diferença; os indivíduos têm o direito 
de expressar a sua pluralidade em condições iguais de direitos e dignidade e têm de ser 
tratados como diferentes quando a igualdade os oprime;
• a valorização da via democrática, participativa, de todos os grupos e indivíduos, mesmo 
os que se encontram na base da hierarquia social, visando à conquista do poder e para a 
realização de inovações no Estado, como a construção de vias mais diretas;
• a construção de um novo conceito, baseado na participação do cidadão pertencente aos 
grupos subalternos, em todo o mundo, buscando ações de combate à opressão em todas 
as estruturas de desigualdade de poder.
Esses processos contra-hegemônicos buscam discutir e (re)significar a democracia com base 
em maior participação social, dando mais legitimidade a uma democracia participativa. A democra-
cia passa a ser vista como uma forma de exercício do poder popular, mesmo dos grupos subalter-
nos.“Significa também criar novas formas de representação, que sejam capazes de incluir agendas 
de identidades específicas, de minorias na nação como, por exemplo, o reconhecimento de movi-
mentos sociais como novos e legítimos atores políticos” (MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 18).
Sociologia Jurídica56
Para finalizar, nas palavras de Estanque (2006),
uma das contribuições dos movimentos sociais novos ou renovados da atuali-
dade tem sido a de ampliar os espaços onde se dão relações horizontais e dialó-
gicas entre as pessoas, espaços onde se desenvolve uma cultura cívica, ou uma 
cidadania social para o século XXI, mais ativa, participativa, politizada e crítica, 
capaz de interpelar os poderes instalados.
Assim, os grupos podem se organizar na busca pela hegemonia, mas os grupos subalternos, 
que não são hegemônicos, também podem se organizar em um processo de luta contra a hegemo-
nia, isso é, formar um processo contra-hegemônico.
Considerações finais
Neste capítulo, foi analisado como os grupos se formam e se organizam em uma sociedade. 
Também abordou-se como esses grupos sociais podem influenciar na formação das normas jurídicas.
O conceito de hegemonia foi estudado e relacionado com o Estado, a sociedade e os grupos 
sociais, verificando-se sua abrangência nos âmbitos nacional e internacional. Também foi possível 
destacar a existência do processo de contra-hegemonia.
Ampliando seus conhecimentos
O texto abaixo é um trecho do capítulo intitulado “Hegemonia e contra hegemonia na 
América Latina”, de autoria de Daniel Campione, o qual faz parte do livro Ler Gramsci, entender a 
realidade, organizado por Carlos Nelson Coutinhoe Andrea de Paula Teixeira.
Hegemonia e contra-hegemonia na América Latina
(CAMPIONE, 2003, p. 53-54)
O conceito de hegemonia “vulgarizou-se” com grande frequência, dando lugar a uma dupla 
simplificação. Por um lado, estabeleceu-se uma contraposição binária entre hegemonia e dita-
dura, pela qual uma não existiria se existisse a outra. Por outro lado, a partir do reconheci-
mento bem mais que metafórico do par base-estrutura, passou-se a tratar a hegemonia como 
uma categoria referida exclusivamente à “superestrutura” e, no interior dela, à esfera ideoló-
gico-cultural, ou à “sociedade civil” (por sua vez interpretada equivocadamente como con-
traposta ao estatal). Uma releitura minimamente atenta do pensamento gramsciano permite 
desbaratar esse esquema.
Os componentes de hegemonia e de coerção coexistem no tempo e no espaço, como compo-
nentes da “supremacia” de uma classe que passa a ser dirigente sem deixar de ser “dominante” 
(isto é, dotada de poder coercitivo) e exerce seu poder sobre um espaço social mais amplo que 
o dos aparatos estatais formalmente reconhecidos como tais, dando lugar à configuração de 
uma sociedade em que, como disse o próprio Gramsci, há democracia na relação com alguns 
setores sociais e ditadura em face de outros.
A distinção que Gramsci efetua entre sociedade civil e sociedade política tem uma finalidade 
heurística, como caminho para analisar os diferentes mecanismos de um campo e de outro, 
mas não assimila, como o faz a teoria liberal, sociedade política a Estado e sociedade civil a 
não Estado: “deve-se notar que na noção geral de Estado entram elementos que devem ser 
Grupos sociais e hegemonia 57
remetidos à noção de sociedade civil (no sentido, seria possível dizer, de que Estado + socie-
dade política + sociedade civil, isto é, hegemonia couraçada de coerção)” (CC, 3,24).
Em Gramsci, a hegemonia tem múltiplas dimensões. Está claro, porém, em primeiro lugar, que 
a “direção intelectual e moral” parte de grupos sociais com papel determinado na vida econô-
mica, para “hegemonizar” outros grupos que desempenham papéis igualmente determinados. 
Em segundo lugar, é igualmente claro que a catarse – que eleva a classe ao plano ético-político 
– se assenta no campo econômico-corporativo, o que supõe uma série de sacrifícios e compro-
missos, por sua vez instáveis, dinâmicos, que não podem desconhecer o papel fundamental, 
originado no mundo da produção, da classe que aspira a ser “dirigente”.
Outro arco de complexidades é proporcionado pela possibilidade de que se produza uma hege-
monia alternativa, ou contra hegemonia. O grupo subalterno só pode se converter em hege-
mônico passando do plano econômico-corporativo ao plano ético-político (combinação na 
qual o termo “ético” indica bem mais a dimensão intelectual e moral, e “político” indica o con-
trole do aparato do Estado). Desse modo, ele pode apresentar seus interesses num plano “uni-
versal”, mas não tem como excluir aquele necessário embasamento econômico-corporativo.
Atividades
1. Explique a correlação existente entre um grupo convergente e um grupo divergente.
2. Para Gramsci, o que é a hegemonia? Como esse conceito pode ser utilizado na análise da 
formação das normas jurídicas?
3. Explique o que é o Estado ampliado no entendimento de Gramsci.
4. Para Santos (2002), qual a relação entre a contra-hegemonia e a democracia?
Referências
BRASIL. Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 28 
maio 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm>. 
Acesso em: 19 dez. 2017.
______. Lei n. 13.104, de 9 de março de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 10 mar. 
2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/lei/L13104.htm>. Acesso 
em: 19 dez. 2017.
CAMPIONE, Daniel. Hegemonia e contra-hegemonia na América Latina. In: COUTINHO, Carlos 
Nelson; TEIXEIRA, Andréa de Paula (Org.). Ler Gramsci, entender a realidade. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 2003. p. 51-66.
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
ESTANQUE, Elísio. A questão social e a democracia no século XXI: participação cívica, desigualdades so-
ciais e sindicalismo. Revista Finisterra, Lisboa, v. 55-56-57, 2006.
FONTANA, Benedetto. Hegemonia e nova ordem mundial. In: COUTINHO, Carlos Nelson; TEIXEIRA, 
Andréa de Paula. Ler Gramsci, entender a realidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2000. v. 3.
Sociologia Jurídica58
MIRANDA, Isabella Gonçalves; MERLADET, Fábio André Diniz. Uma apresentação crítica dos conceitos 
de globalização hegemônica e contra hegemônica à luz das novas manifestações populares internacionais. 
Primeiros Estudos, São Paulo, n. 3, p. 7-24, 2012.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2003.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Fórum Social Mundial: manual de uso. São Paulo: Cortez, 2002.
SCHLESENER, Anita Helena. Hegemonia e cultura: Gramsci. Curitiba: Ed. da UFPR, 2001.
5
Direito e ideologia
Este capítulo tem por objetivo possibilitar uma discussão sobre a ideologia. Esse tema per-
mite um espaço de reflexão sobre questões como: o que é ideologia? Existe ideologia na sociedade 
atual? Como se forma uma ideologia? Há relação entre a ideologia e o Direito?
Essas e outras questões serão estudadas em conformidade com importantes autores, permi-
tindo a obtenção de respostas e aprofundamento sobre o tema.
5.1 Ideologia como falseamento da realidade
Para começar este estudo, é preciso questionar: o que é ideologia?
De acordo com Marilena Chaui (2008, p. 25), ideologia é um termo inven-
tado por Destutt de Tracy, em 1801, na obra Elementos de ideologia, entendendo-a 
como a ciência da gênese das ideias, “tratando-as como fenômenos naturais que 
exprimem a relação do corpo humano, enquanto organismo vivo, com o meio am-
biente”. Tracy e o médico Cabanis elaboram um modelo explicativo para a formação das ideias 
por meio das faculdades sensíveis: querer (vontade), julgar (razão), sentir (percepção) e recordar 
(memória).
Esses autores ficaram conhecidos como ideólogos, mas eram pensadores críticos que que-
riam explicar a formação de todas as ideias humanas por meio de estudos materialistas, concretos, 
e não com explicações “invisíveis” ou espirituais.
O objetivo do instituto era realizar a ambição do Iluminismo: assessorar os 
governantes na tarefa de legislar uma nova ordem social, uma ordem racional. 
E o método proposto para isso era recorrer a um conhecimento científico 
preciso da maneira como se formam as ideias na mente humana de modo a 
garantir que apenas ideias corretas surgissem, ideias com a chancela da razão. 
(BAUMAN, 2000, p. 114)
Chaui (2008) faz uma síntese histórica da origem da ideologia, mostrando que os pensa-
dores ideólogos apoiaram Napoleão Bonaparte em sua tomada do poder francês, porque acre-
ditavam que ele seria um governante liberal e que daria continuidade aos ideais da Revolução 
Francesa. Em seu governo, Bonaparte nomeou diversos ideólogos como senadores ou tribunos, os 
quais, ao perceberem que ele estava restituindo o poder monárquico, o que criticavam, passaram 
a se opor ao líder político. Diante da perda do apoio deles, Bonaparte excluiu-os do senado, fe-
chou a Academia que coordenavam e decretou a fundação da nova Universidade Francesa, na qual 
nomeou para os cargos somente pensadores que eram opositores dos ideólogos. Em 1812, num 
discurso ao Conselho de Estado, Napoleão declarou: “Todas as desgraças que afligem nossa bela 
França devem ser atribuídas à ideologia, essa tenebrosa metafísica que, buscando com sutilezas as 
causas primeiras, quer fundar sobre suas bases a legislação dos povos, em vez de adaptar as leis ao 
Vídeo
Sociologia Jurídica60
conhecimento do coração humano e às lições da história”. Após esses fatos, os termos ideologiae 
ideólogo passaram a ter um caráter pejorativo.
Na obra Curso de filosofia positiva, Augusto Comte (1798-1857) utilizou a palavra ideolo-
gia com dois significados diferentes: o primeiro retomando o conceito original, isto é, a ideologia 
como uma atividade filosófica-científica que busca a formação das ideias na relação entre o corpo 
humano e a natureza, tendo por base as sensações; e o segundo entendendo a ideologia como o 
conjunto das ideias de uma época, como uma “opinião geral” (CHAUI, 2008).
Na obra As regras do método sociológico, Émile Durkheim se refere à ideologia como os conhe-
cimentos da sociedade que não estavam de acordo com os critérios da objetividade (DURKHEIM, 
2002). Lembrando que, para esse autor, no estudo da Sociologia deveria haver uma separação entre 
as pré-noções do pesquisador em relação ao objeto pesquisado, pois esses preconceitos são conhe-
cimentos subjetivos, individuais e que não podem interferir em uma pesquisa científica.
Foi na obra A ideologia alemã, de Karl Marx e Friedrich Engels, que a palavra ideologia foi 
utilizada com um significado diferente e mais abrangente, para se referir ao processo pelo qual 
as ideias da classe dominante tornam-se ideias dominantes de todas as classes sociais, ou seja, 
“a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual 
dominante” (MARX; ENGELS, 2005, p. 78).
Para Marx e Engels, a produção das ideias dominantes em uma sociedade deriva da classe 
que é dominante, ou seja, daquela que é a proprietária dos meios de produção.
De acordo com Chaui (2008), é possível resumir da seguinte forma o pensamento desses 
autores, para que fique mais claro:
• Em uma sociedade capitalista, há uma divisão de classes. Para Marx, essa divisão acontece 
em duas classes centrais: burguesia e proletariado. Nessa sociedade, o predomínio é da 
classe burguesa, que define as ideias que serão dominantes na sociedade.
• Para que as ideias da classe dominante se tornem dominantes, é preciso que a divisão en-
tre as classes não esteja clara na sociedade. Para tanto, faz-se necessário que todos sejam 
vistos com características humanas comuns.
• Para que essas características supostamente comuns sejam percebidas dessa forma, é preciso 
que sejam transformadas em ideias comuns. Assim, a classe dominante, além de criar as 
ideias dominantes, precisa disseminá-las na sociedade, o que pode acontecer por meio de 
instituições como a escola, a Igreja, os costumes, os meios de comunicação, entre outros.
• Como tais ideias não expressam a realidade concreta, mas apenas a aparência das coisas, é 
possível que essas ideias sejam consideradas apenas em sua abstração, independentes da reali-
dade, e, dessa forma, pode-se inverter a realidade, considerando-a como fruto da construção 
das ideias abstratas.
Esse é o processo de produção de ideologias, pois a classe dominante consegue produzir 
ideias e disseminá-las para que se tornem comuns a todos, isto é, se tornem universais e abstratas.
Nesse ponto, é possível questionar: como essas ideias comuns se transformam em ideias 
dominantes e quais os objetivos desse processo?
Direito e ideologia 61
Para responder a essas questões, Chaui (2008) relaciona as principais determinações no pro-
cesso de formação da ideologia, entendendo determinações como as características intrínsecas de 
uma realidade que foram sendo produzidas pelo processo de criação dessa mesma realidade.
As principais determinações que constituem o fenômeno da ideologia são:
1. a ideologia é resultado da divisão social do trabalho e, em particular, da 
separação entre trabalho material/manual e trabalho espiritual/intelectual;
2. essa separação dos trabalhos estabelece a aparente autonomia do trabalho 
intelectual face ao trabalho material;
3. essa autonomia aparente do trabalho intelectual aparece como autonomia 
dos produtores desse trabalho, isto é, dos pensadores;
4. essa autonomia dos produtores do trabalho intelectual aparece como auto-
nomia dos produtos desse trabalho, isto é, das ideias;
5. essas ideias que aparecem como autônomas são as ideias da classe domi-
nante de uma época, e tal autonomia é produzida no momento em que se 
faz uma separação entre os indivíduos que dominam e as ideias que domi-
nam, de tal modo que a dominação de homens sobre homens não seja per-
cebida porque aparece como dominação das ideias sobre todos os homens;
6. a ideologia é, pois, um instrumento de dominação de classe e, como tal, 
sua origem é a existência da divisão da sociedade em classes contraditórias 
e em luta;
7. a divisão da sociedade em classes realiza-se como separação entre proprie-
tários e não proprietários das condições e dos produtos do trabalho, como 
divisão entre exploradores e explorados, dominantes e dominados, e, por-
tanto, realiza-se como luta de classes. Esta não deve ser entendida apenas 
como os momentos de confronto armado entre as classes, mas como o con-
junto de procedimentos institucionais, jurídicos, políticos, policiais, peda-
gógicos, morais, psicológicos, culturais, religiosos, artísticos, usados pela 
classe dominante para manter a dominação. E como todos os procedimen-
tos dos dominados para diminuir ou destruir essa dominação. A ideologia 
é um instrumento de dominação de classe;
8. se a dominação e a exploração de uma classe forem perceptíveis como vio-
lência, isto é, como poder injusto e ilegítimo, os explorados e dominados 
sentem-se no justo e legítimo direito de recusá-la, revoltando-se. Por esse 
motivo, [...] é função da ideologia dissimular e ocultar a existência das divi-
sões sociais como divisões de classes, escondendo, assim, sua própria origem;
9. por ser o instrumento encarregado de ocultar as divisões sociais, a ideolo-
gia deve transformar as ideias particulares da classe dominante em ideias 
universais, válidas igualmente para toda a sociedade;
10. a universalidade dessas ideias é abstrata, pois no concreto existem ideias 
particulares de cada classe. Por ser uma abstração, a ideologia constrói uma 
rede imaginária de ideias e de valores que possuem base real (a divisão 
Sociologia Jurídica62
social), mas de tal modo que essa base seja reconstruída de modo invertido 
e imaginário;
11. a ideologia é uma ilusão, necessária à dominação de classe. [...] Assim, por 
exemplo, quando os homens admitem que são desiguais porque Deus ou a 
Natureza os fez desiguais, estão tomando a desigualdade como causa de sua 
situação social e não como tendo sido produzida pelas relações sociais e, 
portanto, por eles próprios, sem que o desejassem e sem que o soubessem;
12. porque a ideologia é ilusão, isto é, abstração e inversão da realidade, ela per-
manece sempre no plano imediato do aparecer social. [...] A aparência social 
não é algo falso e errado, mas é o modo como o processo social aparece para 
a consciência direta dos homens. Isto significa que uma ideologia sempre 
possui uma base real, só que essa base está de ponta-cabeça: é a aparência 
social. Assim, por exemplo, a sociedade burguesa aparece em nossa experiên-
cia imediata como estando formada por três tipos diferentes de proprietários: 
o capitalista, proprietário do capital; o dono da terra, proprietário da renda 
da terra; e o trabalhador, proprietário do salário. Se todos são proprietários, 
embora de coisas diferentes, então todos os homens dessa sociedade são 
iguais e possuem iguais direitos. Enquanto não ultrapassarmos essa aparên-
cia e procurarmos o modo como realmente e concretamente são produzidos 
esses proprietários pelo sistema capitalista, não poderemos compreender 
que o salário não é a propriedade do trabalhador, mas é o trabalho não pago 
pelo capitalista, que a renda não vem da terra, mas de sua transformação em 
capital pelo trabalho não pago do camponês ou dos mineiros, e que, final-
mente, só o capital é efetivamente propriedade. Enquanto não tivermos essa 
compreensão histórica do processo real, a ideia de igualdade não só pare-
cerá verdadeira, mas ainda possuirábase real, ou seja, a maneira pela qual os 
homens aparecem no modo de produção capitalista. É neste sentido que se 
deve entender a ideologia como ilusão, abstração e inversão;
13. A ideologia não é um “reflexo” do real na cabeça dos homens, mas o modo 
ilusório (isto é, abstrato e invertido) pelo qual representam o aparecer social 
como se tal aparecer fosse a realidade social. Se a ideologia fosse um sim-
ples “reflexo invertido” da realidade na consciência dos homens, a relação 
entre o mundo e a consciência não seria dialética (isto é, contraditória ou 
de negação interna), mas seria mecânica ou de causa e efeito [...]. (CHAUI, 
2008, p. 92-97)
Você já parou para pensar em algum exemplo de ideologia presente na sociedade atual? 
Já pensou que a ideia de empreendedorismo pode ser uma ideologia?
Por exemplo, o caso de um trabalhador que nos dias atuais se torna um empreendedor vi-
sando à sua colocação e sobrevivência no mercado de trabalho, precavendo-se das profundas alte-
rações que este vem sofrendo e que tem afetado diretamente os assalariados.
Conforme visto, a ideologia tem a função de encobrir a divisão de classes e evitar o conflito 
existente entre elas. Ao difundir a ideia do empreendedorismo, há a propagação de um sentimento 
de autonomia e liberdade, que deve ser incorporado nas relações de trabalho, transmitindo a ideia 
Direito e ideologia 63
de flexibilidade dessas relações. Assim, o trabalhador, ao internalizá-las, e ao se tornar um em-
preendedor, não compreende que está ocultando a divisão de classes, pois ser empreendedor pode 
dar a aparência de ele ser um membro da classe burguesa. Mas, na realidade, ele é um trabalhador 
em outra forma de trabalho, que não a assalariada.
No entanto, a ideia repassada à sociedade é que todos podem ser empreendedores e obter 
sucesso em suas atividades, mas isso interessa à classe dominante como uma forma de controle da 
classe trabalhadora, que, ao se tornar empreendedora, deixa de reivindicar como classe trabalha-
dora, não luta por melhores salários, menor jornada de trabalho, melhores condições de trabalho, 
pois esses indivíduos não se entendem mais como trabalhadores, e sim como empreendedores. 
Mas, se o trabalhador fizer uma análise mais profunda do mundo do trabalho e se questionar sobre 
a ideia de empreendedorismo, pode romper com essa aparência e chegar à percepção de que é uma 
ideologia, com uma aparência de realidade – é uma realidade invertida.
5.2 As várias perspectivas da ideologia
Além da concepção originária e marxista da ideologia, há também outros 
pensadores que se dedicaram a esse estudo.
Louis Althusser (1918-1990) foi um pensador que nasceu na Argélia, quan-
do esta ainda era uma colônia francesa. Ainda jovem, foi morar na França, onde se 
formou em Filosofia. Suas principais obras são: Os aparelhos ideológicos do Estado, 
Para Marx, Ler o Capital e O futuro dura muito tempo.
Esse autor associou o conceito de ideologia ao de Estado. Para Althusser (1970), é preciso 
distinguir o poder do Estado e os aparelhos do Estado. Os aparelhos do Estado compreendem 
dois corpos: o corpo das instituições que formam os aparelhos repressivos do Estado e o corpo 
das instituições que representam os aparelhos ideológicos do Estado. Esses aparelhos têm a fun-
ção de reprodução da força de trabalho, não apenas no aspecto da qualificação, mas também na 
sujeição ao sistema produtivo existente.
a. Aparelhos repressivos de Estado (ARE): são constituídos por governo, administração, 
polícia, exército, tribunais, prisões, entre outros. Esses aparelhos são denominados de re-
pressivos, porque atuam com base na violência.
b. Aparelhos ideológicos de Estado (AIE): são constituídos por instituições distintas e 
especializadas:
• AIE religioso – o sistema das diferentes igrejas;
• AIE escolar – o sistema das diferentes escolas públicas e privadas;
• AIE familiar – além de ser considerado um aparelho ideológico do Estado, a famí-
lia também é importante na reprodução da força de trabalho e como uma unidade 
de consumo;
• AIE jurídico – o Direito faz parte tanto dos aparelhos repressivos como dos apare-
lhos ideológicos do Estado;
• AIE político – o sistema político de que fazem parte os diferentes partidos;
Vídeo
Sociologia Jurídica64
• AIE sindical – os sindicatos;
• AIE da informação – o conjunto dos meios de comunicação;
• AIE cultural – Letras, Belas Artes e desportos.
Conforme a relação citada, percebe-se a pluralidade dos aparelhos ideológicos do Estado, e 
o conjunto deles forma uma unidade.
No que tange às diferenças entre os dois tipos de aparelhos do Estado, pode-se verificar que 
os aparelhos repressivos podem ter caráter público, enquanto a maioria dos aparelhos ideológicos 
têm caráter privado. A diferença fundamental está em que os aparelhos repressivos funcionam pela 
violência e os aparelhos ideológicos pela ideologia (ALTHUSSER, 1970).
Para Althusser (1970), os aparelhos repressivos funcionam massivamente pela violência, 
mas têm também um caráter ideológico, enquanto os aparelhos ideológicos funcionam predomi-
nantemente pela ideologia, mas também podem ter um caráter de violência. Assim, há um duplo 
funcionamento, um prevalecente e um secundário.
Um exemplo desse duplo funcionamento dos aparelhos ideológicos do Estado é a polícia. 
A polícia atua de forma preponderante pelo uso da violência, mas também pelos valores que proje-
ta na sociedade, assegurando sua coesão e reprodução. Outro exemplo é a escola, que atua de forma 
prioritária pelo uso da ideologia, mas também faz uso da repressão, com métodos de punição e 
exclusão como forma de preparar seus alunos.
Esse autor afirma ainda que a ideologia deve ser entendida como um sistema de lógica e de 
representações (ideias, conceitos, imagens etc.) que possuem existência e papel histórico, devendo 
ser pensada a partir de instituições reais.
Em sua teoria geral, seria na ideologia que os homens representam o mundo 
para si mesmos, porém este nunca é tal como ele existe efetivamente, mas sim 
um mundo marcado pela intervenção humana. O que é nele representado é 
sua relação com as condições reais de existência, e não as condições reais de 
existência efetivamente. É esta relação que está no centro de toda representação 
ideológica. Os indivíduos pouco compreendem o quão material é a relação deles 
com o real. (CÉSAR, 2013)
Dessa forma, para Althusser (1970) fica evidente a relação entre o Direito e a ideologia, pois 
o autor inclui o sistema jurídico como aparelho ideológico e repressivo do Estado. Cabe então 
questionar: como é possível verificar o papel ideológico do Direito na sociedade?
Partindo da premissa de que o Direito tem por papel a organização da sociedade e o disci-
plinamento do comportamento dos indivíduos, e se no Direito são incorporados os interesses da 
classe dominante, pode-se concluir que as normas jurídicas vão organizar e disciplinar comporta-
mentos com base nos interesses da classe dominante.
Portanto, para o autor, o Direito não é neutro, mas tem em sua essência uma função dentro 
da superestrutura da sociedade que é de repasse e sedimentação de determinadas formas de pensar 
e agir.
Direito e ideologia 65
Outro autor que estudou o tema da ideologia foi o filósofo, jornalista, crítico literário e po-
lítico italiano Antonio Gramsci (1891-1937). Suas principais obras foram: Cadernos do cárcere, 
Concepção dialética da história, Escritos políticos e Os intelectuais e a organização da cultura.
No estudo da ideologia, Gramsci teve como ponto de partida a realidade concreta, na qual, 
além das condições materiais, devem ser levadas em consideração as tensões menos visíveis e exis-
tentes nas diversas organizações políticas.
Gamsci afirma que a ideologia é socialmente coletiva, porque os indivíduos necessitam de 
um mecanismo balizador de conduta e ela é “o terreno sobre o qual os homens se movimentam, 
adquirem consciência de sua posição, lutam etc.” (GRAMSCI, 1978, p. 377).
De acordo com Semeraro (2001, p. 101),“Gramsci não consegue imaginar uma população 
inteira mergulhada em uma névoa ideológica homogênea e paralisante”. Logo, difere da concepção 
marxista e da althusseriana, pois entende a ideologia como as ideias presentes na sociedade, nas 
mais diversas áreas da vida social. Esse estudo ainda afirma que a ideologia para Gramsci é a mani-
festação concreta de como as pessoas entendem o mundo; essas ideologias podem se tornar tanto 
instrumento de dominação quanto instrumento de promoção dos grupos subalternos. Partindo 
das reflexões de Marx, Gramsci aponta que a ideologia da classe dominante se torna vulgar no 
senso comum do cidadão médio. Sendo assim, o poder não é exercido necessariamente pela força 
física ou violência, mas pela aceitação dessas ideias pelos indivíduos por meio da internalização da 
concepção de mundo da classe dominante.
Assim, as ideologias podem se tornar tanto instrumento de dominação como de promoção 
dos grupos subalternos, pois Gramsci (1978) rejeitou explicitamente uma noção negativa de ideo-
logia (dominação, alienação).
O autor propõe a seguinte distinção entre as ideologias:
1. Ideologias arbitrárias, desejadas, planejadas – é necessário deixar a ideologia clara e 
combatê-la, pois “é expressão direta de uma hegemonia que visa naturalizar o sistema 
e universalizar a crença na sua inevitabilidade” (SEMERARO, 2001, p. 101). Essas ideo-
logias, por serem representação de grupos hegemônicos que buscam a perpetuação no 
poder, criam de forma dissimulada ideias que vão se perpetuar na sociedade, sem, 
no entanto, representar uma imposição.
2. Ideologias historicamente orgânicas – são aquelas reconhecidas pelos indivíduos e que 
independem de um ponto de vista particular de um grupo. Essas ideologias constituem 
o campo em que se realizam os avanços da ciência. Esse é um conhecimento que é cons-
truído e se amplia baseado em uma crítica, que se corrige de forma continuada; por 
isso a ciência é também uma ideologia histórica (KONDER, 2002). Para Gramsci (1978, 
p. 328), as ideologias historicamente orgânicas são “uma concepção do mundo implici-
tamente manifesta na arte, no Direito, na atividade econômica e em todas as manifesta-
ções da vida individual e coletiva”.
Sociologia Jurídica66
Assim, como afirma Gramsci (1978), é por meio da ideologia que uma classe pode exercer 
sua hegemonia sobre outras, assegurando a aprovação da maioria dos indivíduos em uma socieda-
de. A ideologia “organiza a ação pelo modo segundo o qual se materializa nas relações, instituições 
e práticas sociais e informa todas as atividades individuais e coletivas” (p. 377). No entanto, para o 
autor, é possível alterar esse quadro de domínio ideológico de uma classe sobre outra. Para tanto, é 
necessário que haja um movimento intelectual de transformação.
5.3 O papel dos intelectuais e a ideologia
Para Gramsci, os intelectuais têm um papel fundante na formação da ideologia 
e na construção das ideias (que serão predominantes ou não na sociedade), mas, 
acima de tudo, na possibilidade de transformação e de mudanças, pois
é necessário aprender a criar um distanciamento crítico do saber “acumulado” e 
“repassado” oficialmente, visto não como óbvio e natural, mas descoberto como 
organizado e administrado por uma classe que visa precisos objetivos políticos. 
A partir desta consciência, as classes populares e seus intelectuais, passam a de-
marcar os elementos de ruptura e de superação em relação às concepções domi-
nantes, a operar uma nova síntese na medida em que adquirem “uma progressiva 
consciência da própria personalidade histórica”. (SEMERARO, 2001, p. 96)
Dessa forma, cada um tem a possibilidade de criar novas ideias e produzir conhecimentos 
que podem se tornar hegemônicos, ou não, em uma sociedade.
Compreendendo que todos podem ser intelectuais, Gramsci (2000) faz uma distinção entre 
duas categorias:
1. Intelectual tradicional – acredita estar desvinculado das classes sociais, pois se entende 
como pensador autônomo e independente. “Os intelectuais são os ‘prepostos’ do grupo 
dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo 
político [...]” (GRAMSCI, 2001, p. 21). Por exemplo: os filósofos, os cientistas e os teóricos.
2. Intelectual orgânico – é proveniente da classe social que o gerou, tornando-se seu espe-
cialista, organizador e homogeneizador. Pode pertencer à classe dominante ou às classes 
subalternas. São exemplos: os intelectuais políticos e os dirigentes de organizações sin-
dicais e de movimentos sociais.
Sobre os intelectuais tradicionais, Gramsci (2001) afirma a sua necessidade por conta da 
relação destes com as classes dominantes, ao reconhecer sua importância no desenvolvimento do 
conhecimento e de técnicas voltadas para a manutenção dessas classes no poder.
Formam-se assim, historicamente, categorias especializadas para o exercício da 
função intelectual; formam-se em conexão com todos os grupos sociais, mas 
sobretudo em conexão com os grupos sociais mais importantes, e sofrem ela-
borações mais amplas e complexas em ligações com o grupo social dominante. 
Uma das características mais marcantes de todo grupo que se desenvolve no 
sentido do domínio é sua luta pela assimilação e pela conquista “ideológica” dos 
intelectuais tradicionais, assimilação e conquista que são tão mais rápidas e efi-
cazes quanto mais o grupo em questão for capaz de elaborar simultaneamente 
seus próprios intelectuais orgânicos. (GRAMSCI, 2001, p. 18-19)
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Direito e ideologia 67
Gramsci também reconhece a importância dos intelectuais nas classes subalternas, pois 
acredita que a intelectualidade presente nessa classe pode ser a forma de organização e luta de 
seus interesses particulares.
A partir desta consciência, as classes populares e seus intelectuais passam a de-
marcar os elementos de ruptura e de superação em relação às concepções domi-
nantes, a operar uma nova síntese, na medida em que adquirem “uma progressiva 
consciência da própria personalidade histórica”. O “novo intelectual” (que nunca é 
um indivíduo isolado, mas um inteiro grupo social), enquanto trabalha para ana-
lisar criticamente e “desorganiza” os projetos dominantes, se dedica a promover 
uma “nova inteligência social” capaz de pensar a produção, a ciência, a cultura, a 
sociedade na ótica das classes trabalhadoras. (SEMERARO, 2001, p. 97)
Para Schlesener (2001, p. 3), a presença de ideias hegemônicas em uma sociedade, seja na 
esfera política ou cultural, se dá nos meios intelectuais. Em cada grupo social nascido dentro das 
estruturas econômicas de uma sociedade também são criadas uma ou mais camadas de intelec-
tuais, que “dão à classe homogeneidade ideológica e política, unificando e dando coerência à ação 
econômica, social e política”.
Tal atuação se desenvolve no seio da sociedade civil e da sociedade política; 
como elaboradores das ideologias, ao mesmo tempo que dão ao grupo que 
representam consciência de sua função histórica, conseguem o consentimento 
“espontâneo” das massas pela formação de uma concepção de mundo vivida no 
cotidiano e veiculada nas instituições da sociedade civil; como “comissionários” 
da classe dominante, exercem uma atividade coercitiva e disciplinar através dos 
mecanismos da sociedade política.” (SCHLESENER, 2001, p. 3)
Assim, Gramsci (2001) afirma que caberia aos intelectuais orgânicos homogeneizar a classe 
e elevá-la à consciência de sua própria função histórica, por meio da investigação de sua inserção 
no modo de produção, isto é, caberia aos intelectuais orgânicos realizar a passagem de uma con-
cepção de senso comum acrítico para um senso comum renovado, composto por um pensamento 
crítico e transformador.
O intelectual orgânico do proletariado é um persuasor permanente, pois é por meio de sua 
atuação política que poderá mostrar as contradições que existem na sociedade e agir para desmis-
tificar o poder e as relações de dominação, despertando a consciência crítica e autônoma, criando 
uma nova concepção demundo (SCHLESENER, 2001, p. 3).
Gramsci reconhece que o proletariado, como classe, é pobre de elementos or-
ganizativos e quando forma seus intelectuais orgânicos, o faz árdua e lentamen-
te; suas possibilidades de organização política são reduzidas e, muitas vezes, 
não consegue superar o nível econômico-corporativo; enfrentar a formidável e 
bem organizada estrutura ideológica da classe dominante é tarefa difícil e nem 
sempre fadada ao sucesso. As perspectivas de mudança se colocam a partir de 
próprio esforço das classes dominadas em criar meios de organização política 
e cultural, em romper a influência da classe dominante tomando progressiva-
mente “consciência da sua própria personalidade histórica”, em buscar o apoio 
de classes politicamente aliadas”. (SCHLESENER, 2001, p. 3)
Sociologia Jurídica68
Dessa forma, para que uma sociedade se construa de uma maneira realmente democrática, 
deve não apenas existir o operário manual, qualificado, especialista para o trabalho, mas também 
se construir uma nova forma de pensar a sociedade. Para isso, é necessário que esse especialista 
esteja inserido na vida prática como um organizador e disseminador dessas novas ideias e assim 
tornar-se um dirigente. Esse novo intelectual será formado em um esforço da sociedade de criar 
uma nova escola que propicie a compreensão dialética da sociedade e sua história, pois ao invés 
de se formar apenas operários, como nas escolas tradicionais, as novas escolas formarão operários 
qualificados, cidadãos que serão os governantes da sociedade (GRAMSCI, 2001).
O modo de ser do novo intelectual não pode mais consistir na eloquência, motor 
exterior e momentâneo dos afetos e das paixões, mas numa inserção ativa na ida 
prática, como construtor, organizador, “persuasor permanente”, já que não apenas 
orador puro – mas superior ao espírito matemático abstrato; da técnica-trabalho, 
chega à técnica-ciência e à concepção humanista histórica, sem a qual permane-
ce “especialista” e não se torna “dirigente” (especialista + político). (GRAMSCI, 
2001, p. 53).
Dessa forma, o dirigente é entendido por Gramsci como uma forma mais abrangente de 
cidadania, pois se cada indivíduo pode ser um dirigente, é porque ele tem a possibilidade de con-
cretamente se tornar um autodirigente e, conjuntamente com os demais indivíduos, construir uma 
sociedade realmente democrática, na ação e no pensar, tendo, nesse processo, um papel fundamen-
tal: a construção de uma nova educação, mais crítica e mais participativa.
Considerações finais
Neste capítulo, foi analisada a ideologia e como ela é formada em uma sociedade. Esse tema 
foi abordado com base em vários autores que se dedicaram ao seu estudo.
Cabe destacar a formação de ideias que não correspondem à realidade concreta, mas mos-
tram uma realidade invertida, tendo como propósitos o controle e a dominação. E o Direito, sendo 
um fenômeno que se origina da sociedade, também é impactado por essas ideologias. Essas in-
fluências podem acontecer no âmbito jurídico desde a sua formação, tanto nos projetos de elabo-
ração das normas jurídicas, como também em seu processo interpretativo.
Ampliando seus conhecimentos
O texto a seguir é parte do capítulo intitulado “Crítica e ideologia”, da obra Cultura e demo-
cracia: o discurso competente e outras falas, de autoria de Marilena Chaui.
Crítica e ideologia
(CHAUI, 2006, p. 30-31)
Nesse primeiro nível de conceituação podemos dizer que a ideologia faz com que as ideias 
(as representações sobre o homem, a nação, o saber, o poder, o progresso, etc.) expliquem as 
relações sociais e políticas, tornando impossível perceber que tais ideias só são explicáveis 
pela própria forma da sociedade a da política. Na ideologia, o modo imediato do aparecer 
Direito e ideologia 69
(o fenômeno) social é considerado como o próprio ser (a realidade social). O aparecer social 
é constituído pelas imagens que a sociedade e a política possuem para seus membros, ima-
gens consideradas como a realidade concreta do social e do político. O campo da ideologia 
é o campo do imaginário, não no sentido da irrealidade ou da fantasia, mas no sentido de 
conjunto coerente e sistemático de imagens e representações tidas como capazes de explicar e 
justificar a realidade concreta. Em suma: o aparecer social é tomado como o ser do social. Esse 
parecer não é uma “aparência” no sentido de que seria falso, mas é uma aparência no sentido 
de que é a maneira pela qual o processo oculto, que produz e conserva a sociedade, se mani-
festa para os homens.
O passo seguinte é dado pela ideologia no momento em que ultrapassa a região em que é 
pura e simplesmente a representação imediata da vida e da prática sociais para tornar-se um 
discurso sobre o social e um discurso sobre a política. É o momento no qual pretende fazer 
coincidir as representações elaboradas sobre o social e o político com aquilo que o social e 
o político seriam em sua realidade. Nesse passo, realiza seu passe de mágica: a elaboração 
do imaginário (o corpo das representações sociais e políticas) será vinculada à justificação 
do poder separado, isto é, à legitimação do Estado moderno. Somente se levarmos em conta 
o advento e a natureza do Estado moderno, poderemos compreender a função implícita ou 
explícita da ideologia ou, para usar os termos clássicos, a tentativa de fazer com que o ponto 
de vista particular da classe que exerce a dominação apareça para todos os sujeitos sociais e 
políticos como universal e não como interesse particular de uma classe determinada. Para 
entendermos a ideologia, que fala sobre as coisas, sobre a sociedade e sobre a política, pre-
tendendo dizer o que são em si e pretendendo coincidir com elas, precisamos vinculá-las ao 
advento da figura moderna do Estado, enquanto um poder que se representa a si mesmo como 
instância separada do social e, na qualidade de separado, proporciona à sociedade aquilo que 
lhe falta primordialmente.
O que falta primordialmente à sociedade? Falta-lhe unidade, identidade e homogeneidade. 
O social histórico é o social constituído pela divisão em classes e fundado pela luta de classes. 
Essa divisão, que faz, portanto, com que a sociedade seja, em todas as suas esferas, atravessada 
por conflitos e por antagonismos que exprimem a existência de contradições constituídas do 
próprio social, é o que a figura do Estado tem como função ocultar. Aparecendo como um 
poder uno, indiviso, localizado e visível, o Estado moderno pode ocultar a realidade social, 
na medida em que o poder estatal oferece a representação de uma sociedade, de direito, 
homogênea, indivisa, idêntica a si mesma, ainda que, de fato, esteja dividida. A operação 
ideológica fundamental consiste em provocar uma inversão entre o “de direito” e o “de fato”. 
Isto é, no real, de direito e de fato, a sociedade está internamente dividida e o próprio Estado é 
uma das expressões dessa divisão. No entanto, a operação ideológica consiste em afirmar que 
“de direito” a sociedade é indivisa, sendo prova da indivisão a existência de um só e mesmo 
poder estatal que dirige toda a sociedade e lhe dá homogeneidade. Por outro lado, a ideologia 
afirma que “de fato” (e infelizmente) há divisões e conflitos sociais, mas a causa desse “fato 
injusto” deve ser encontrada em “homens injustos” (o mau patrão, o mau trabalhador, o mau 
governante, as más alianças internacionais etc.). Assim, a divisão constitutiva da sociedade de 
classe reduz-se a um dado empírico e moral.
Atividades
1. No entendimento de Chaui, como se dá o processo de formação de uma ideologia e quais são 
os principais aspectos de sua formação?
Sociologia Jurídica70
2. Para Althusser, como é possível entender a relação entre o Direito e a ideologia?
3. De acordo com o pensamento de Gramsci, quais as diferenças entre a ideologia arbitrária e 
a ideologia historicamente orgânica?
4. No pensamento de Gramsci, os intelectuais têm um papel relevante no que se refere à ideo-
logia. Explique qual o papel dos intelectuais orgânicosem uma sociedade.
Referências
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BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
CESAR, Guillermo Rojas de Cerqueira. O conceito de ideologia e a ideologia do direito em Althusser. RCD 
- Revista Crítica do Direito, v. 47, n. 2, abr./maio 2013.
CHAUI, Marilena. O que é ideologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2008.
______. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 2006.
DURIGUETTO, Maria Lúcia. A questão dos intelectuais em Gramsci.  Serviço Social e Sociedade,  São 
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DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002.
GRAMSCI, Antônio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
______. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. v. 1.
______. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. v. 2.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Trad. Frank Müller. 3. ed. São Paulo: M. Claret, 2005.
SCHLESENER, Anita Helena. Hegemonia e cultura: Gramsci. Curitiba: Ed. da UFPR, 2001.
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VIDAL, Marcelo Furtado. Ideologia e interpretação na teoria pura do direito de Hans Kelsen. Revista do 
Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Belo Horizonte,v. 32, n. 62, p. 129-144, jul./dez. 2000.
6
Controle social, violência e política
Temas como o controle social e a violência estão constantemente nas mídias. Por isso, com-
preender a relação entre eles é fundamental para uma melhor análise do Direito.
Você já pensou sobre o que é controle social? Quais os mecanismos que existem na socie-
dade para o exercício do controle social? O que é a violência? A violência é a mesma coisa que o 
poder? Quais as formas de violência?
Este capítulo tem como objetivos possibilitar a reflexão e o estudo sobre o que é o controle 
social e como ele acontece na sociedade, além de levantar algumas considerações acerca da vio-
lência. Por fim, será realizada uma análise sobre as possíveis relações entre a política e a violência.
6.1 O controle social e o Direito
Ao estudar o Direito, é comum encontrar a afirmação de que ele é uma 
forma de controle social. Tal ideia pode ser verificada em diversas obras de 
Sociologia Jurídica – como Dias (2009) e Brandão (2003). Mas você já parou para 
pensar o que é controle social?
Pode-se chamar de controle social “qualquer estrutura ou processo que sirva 
para impedir ou reduzir a transgressão das normas, padrões e conduta ou desvios do comporta-
mento social considerado normal, isto é, desejável pelo grupo” (BRANDÃO, 2003, p. 170). Dessa 
forma, verifica-se que em uma sociedade composta por indivíduos com interesses diferentes, a 
possibilidade de conflitos e de desacordos é grande; portanto, faz-se necessário, para a própria 
manutenção e ordem social, criar formas de controle para a permanência da sociedade em um 
patamar de harmonia e convivência social.
Adelino Brandão (2003, p. 170) também afirma que o controle social pode ser entendido 
como “um conjunto de valores e normas por meio das quais as tensões e conflitos entre indi-
víduos e grupos são minorados ou resolvidos, a fim de manter a solidariedade e integração do 
grupo considerado”.
Nesse sentido, o controle social pode se dar pelas normas, em especial as jurídicas, que têm 
entre suas características a coercitividade. Ao serem elaboradas pelo Estado, elas podem ser im-
postas à sociedade e, diante de seu descumprimento, são passíveis de aplicação de penalidades que, 
se for necessário, envolvem a utilização da força estatal.
O controle social também pode acontecer por via dos valores e hábitos de uma sociedade, 
como, por exemplo: moral, educação, religião, opinião pública, costumes, tabus e superstições.
Logo, é possível classificar as formas de controle social em formais e informais:
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Sociologia Jurídica72
• Formais – institucionalizadas, acontecem de maneira sistemática, organizada, por meio 
de instituições formais como o Estado, o Poder Judiciário, a polícia, a Igreja1 e o Direito.
• Informais – acontecem sem uma sistematização ou vinculação a uma instituição formal; 
são acordados de maneira espontânea pelos indivíduos, efetivam-se na família, na crítica 
da comunidade, nas regras de boas maneiras, nos grupos profissionais ou estudantis etc.
6.1.1 Controle social formal
Em todas as sociedades, as normas exercem uma função importante de organização e 
controle social. Nas sociedades modernas, as normas jurídicas assumem um papel de relevância, 
pois são emanadas de uma instituição forte, o Estado. Ser emanado de uma instituição demons-
tra uma característica do Direito moderno: ser codificado e possuir uma autonomia individual. 
Esses traços têm como finalidade facilitar o conhecimento e a aplicação das normas jurídicas. 
Essa unificação do Direito adquiriu o caráter de reação contra a multiplicidade, obscuridade e 
dubiedade das normas.
Dessa forma, a codificação do Direito tornou-o mais rígido e menos permeável às mudan-
ças, institucionalizando-o e atribuindo como funções principais a integração e regulação. A função 
integradora do Direito supervisiona o funcionamento das demais instituições sociais, resolvendo 
possíveis conflitos. A função de regulação se dá porque o Direito serve como um modelo para as 
condutas e comportamentos dentro de uma sociedade.
De acordo com Reinaldo Dias (2009), a função de controle social do Direito pode ocorrer 
de diferentes formas:
a. Incentivar as condutas desejáveis – o Direito pode, por meio de suas normas, pro-
mover condutas e comportamentos desejados pelo Estado e que sejam predominantes 
na sociedade.
b. Desencorajar (inibir) a manifestação de uma conduta indesejável – nesse caso, o 
Direito tem uma função de prevenção, antecipando ou impedindo condutas na sociedade.
c. Repressão às condutas indesejáveis – o Direito, ao reprimir condutas consideradas inde-
sejáveis na sociedade, pune o indivíduo que as praticou.
Assim, o Direito exerce seu controle por meio de instrumentos como a persuasão e a 
orientação, que impactam no comportamento dos indivíduos e na organização da sociedade, 
representando o exercício do poder.
Cabe destacar que, nas sociedades modernas, com a criação do Estado de Direito, a legiti-
midade do poder se fundamentou na submissão à legalidade: “quem exerce o poder político deve 
estar autorizado para tanto pelo ordenamento jurídico; trata-se da legitimidade baseada na origem 
do poder; outro aspecto que deve ser considerado é que esse poder deve ser exercido de forma 
arbitrária, trata-se assim da legalidade no exercício do poder” (DIAS, 2009, p. 219).
1 A Igreja como forma de controle formal refere-se à entidade institucional que funciona com a sua hierarquia, regras 
e formas de agir com seus seguidores, e isso acontece independentemente da doutrina, seja ela católica, protestante, 
evangélica, ou qualquer outra que mantenha uma estrutura organizada. No entanto, ao referir-se à religião como forma 
de controle informal, tem-se o direcionamento dos indivíduos por meio dos valores, das crenças, dos dogmas, mas des-
vinculados do formalismo institucional.
Controle social, violência e política 73
Destaca ainda Dias (2009) que não se pode confundir a legalidade com a legitimidade: 
enquanto a primeira está relacionada a um determinado ordenamento jurídico, a segunda está 
relacionada ao poder, com determinado sistema de valores.
Assim, pode-se relacionar a legitimidadecom outra função básica do Direito, que é a possi-
bilidade de garantir a segurança jurídica dentro de uma sociedade. A lei é uma forma de controle 
social, pois tem como função impedir ou diminuir a existência de conflitos dentro de uma socie-
dade. Para Brandão (2003), há duas formas de conciliar ou de resolver conflitos entre indivíduos e 
grupos dentro de uma sociedade: pelo uso da força ou pela regulação legal. Dessa forma, se a opção 
for pela primeira, o controle da sociedade se dará pela força, o que pode não corresponder a um 
ideal de justiça; assim, a segunda opção é mais adequada às sociedades democrática e de Direito.
6.1.2 Controle social informal
Para Brandão (2003), nas sociedades modernas, o controle social informal pode acontecer 
por meio de instrumentos como:
• Crenças religiosas – a religião sempre teve um papel importante nas sociedades como for-
ma de controle social. Na sociedade moderna, admite-se que as religiões criam uma certa 
ética de valores pela qual se institui um sistema de prêmios e castigos como uma forma 
de controle do comportamento individual e grupal. Assim, se houver descumprimento 
dessas normas instituídas, os indivíduos serão punidos não só neste mundo, mas também 
em uma esfera extraterrena.
• Sugestão – no início do processo de socialização, os indivíduos, em suas famílias, passam 
pelo processo de imitação dos comportamentos de seus familiares. Portanto, vão consti-
tuindo seus costumes, hábitos, afinidades e valores.
• Persuasão – consiste em um esforço de convencimento de outros indivíduos por meio 
da pressão e dos argumentos lógicos racionais. É uma forma de controle direto sobre 
indivíduos e grupos. Na sociedade atual, está muito presente nas propagandas publici-
tárias e políticas.
• Apelo emocional – é uma forma de controle social que pode ser instrumentalizada por 
meio das artes. Música, artes plásticas, cinema, teatro, esportes que influenciam a imagi-
nação coletiva e suas formas de agir e pensar. Os discursos de lideranças sociais também 
podem ser usados como uma forma de controle social, especialmente de lideranças polí-
ticas em sociedades autoritárias.
• Cerimônia, ritual, liturgia – são formas de controle social que existem há muito tempo e têm 
a função de integrar o indivíduo ao grupo, à organização e à sociedade. São exemplos desses 
grupos a maçonaria, o conclave do papa, o tribunal do júri, as assembleias legislativas.
• Recompensa – essa forma de controle está associada a um desejo fundamental básico: o 
reconhecimento. Os indivíduos têm essa necessidade de serem reconhecidos e dessa forma 
se integrarem em um grupo social. Como exemplo, pode-se citar: aplausos, premiações, 
promoções e atribuições de status.
Sociologia Jurídica74
• Humor, sátira, ridículo – essas formas de controle assumem feições diferentes depen-
dendo da situação. São modos de conservação dos valores sociais, tanto quanto meios 
de combate àqueles considerados como indesejáveis. Os indivíduos têm medo de serem 
expostos à situação de humor, serem satirizados ou passarem por situações que os expo-
nham ao ridículo. É também uma forma de alívio da tensão coletiva.
• Ameaça e advertência – podem funcionar aos fins que objetivam, mas também gerar 
outra consequência não prevista. Por exemplo, um Estado pode punir um indivíduo que 
comete alguma irregularidade, mas, se não houver essa punição, isso gera como conse-
quência a impunidade, que acarretará em outras consequências não desejadas, como a 
repetição do ato por outros indivíduos ou a desorganização do grupo.
Logo, sabendo-se que o controle social pode acontecer de diversas maneiras informais, cabe 
agora compreender como ele é classificado. O controle social informal externo é aquele que emana 
da organização de grupos sociais existentes na sociedade, por exemplo, a família; já o controle social 
informal interno é aquele que emana do próprio indivíduo, de sua organização mental. Esta última 
forma de controle social é a mais eficiente, pois o indivíduo internaliza as normas e valores sociais 
e ele mesmo exige seu cumprimento; isto é, o controle e o domínio é exercido pelo indivíduo sobre 
si mesmo.
6.2 As várias faces da violência
É possível relacionar a violência ao poder do Estado? Você já pensou sobre 
esse tema? Para Chaui (2006), existe uma vinculação entre a violência e o Estado.
Etimologicamente, a palavra violência deriva da palavra latina vis, que signi-
fica força, vigor, potência, emprego da força física em intensidade. Para os clássicos 
greco-romanos, a palavra violência significava desvio, isto é, o desvio do curso natu-
ral das coisas pelo uso da força externa.
Para Chaui (2006), a palavra violência pode ter vários significados: a) uso da força para ir 
contra a natureza de alguém, desnaturar; b) força contra a espontaneidade, coagir, constranger; 
c) violação da natureza, violar; d) transgressão contra ações definidas como justas; e) ato de bru-
talidade, abuso físico ou psíquico.
Dessa forma, percebe-se que a violência é compreendida como o uso da força contra alguém, 
forçando-o a fazer algo que não faria se não fosse forçado a fazer. Chaui (2006, p. 342) afirma que “a 
violência se opõe à ética, porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e liberdade, 
como se fossem coisas, irracionais, insensíveis mudos, inertes ou passivos”.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002), a violência significa: “Uso intencional 
da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa ou contra um 
grupo ou uma comunidade, que resulta ou tenha grande possibilidade resultar em lesão, morte, 
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.
Assim, pode-se inferir que a violência é uma força externa que obriga alguém a fazer algo 
que não gostaria, acarretando danos de várias ordens.
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Controle social, violência e política 75
A violência, como visto, é algo abrangente e complexo, que pode acontecer de diversas for-
mas, seja ela física, moral, psíquica, patrimonial, sexual. No Brasil, a Lei n. 11.340 (BRASIL, 2006), 
que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, em seu artigo 7º, 
define que são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integri-
dade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause 
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o 
pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, compor-
tamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, 
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, 
chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qual-
quer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a 
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante 
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou 
a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer 
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou 
à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que 
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure 
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de 
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, 
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calú-
nia, difamação ou injúria. (BRASIL, 2006)
As diversas formas de violência acontecem muitas vezes concomitantemente, não apenas 
contra a mulher, mas também contra a criança,o adolescente, o idoso, os homossexuais e demais 
grupos. Para Sacramento e Rezende (2006), a violência é um fenômeno multideterminado e, por 
isso, um fenômeno complexo e de natureza polissêmica, isto é, ela está presente em muitos contex-
tos sociais.
E no Brasil? Como acontece a violência? Como é possível estudar a violência na socie-
dade brasileira?
Para Chaui (2006), na sociedade brasileira, mesmo com a presença constante dos altos níveis 
de violência, há um mito de que o brasileiro não é violento. Foi criada uma imagem de um povo 
generoso, alegre, solidário, que respeita a diversidade e que não é racista, sexista ou machista. Isso 
acontece por meio da elaboração de uma narrativa que se aplica de forma reiterada na sociedade, 
operando com base em antinomias, isto é, as contradições sociais não se transformam com base em 
mudanças na sociedade, mas são transferidas para uma solução imaginária, que nega a realidade 
concreta. Isso também faz parte do mito, porque se incorpora ao imaginário das pessoas como se 
fosse verdade, como a própria realidade, produzindo comportamentos, ideias, ações e valores que 
se reiteram na sociedade. Por fim, é um mito, pois tem a função apaziguadora e repetidora, assegu-
rando à sociedade uma conversação histórica.
Sociologia Jurídica76
Essas imagens têm a função de oferecer uma imagem unificada da violência, 
que seria como que o núcleo delas. Chacina, massacre, guerra civil tácita e in-
distinção entre crime e polícia pretendem ser o lugar onde a violência se situa 
e se realiza; fraqueza da sociedade civil, debilidade das instituições e crise ética 
são apresentadas como impotentes para coibir a violência, que, portanto, estaria 
situada noutro lugar. As imagens indicam a divisão em dois grupos: de um lado, 
estão os grupos portadores de violência, e, de outro, os grupos impotentes para 
combatê-la. (CHAUI, 2006, p. 347, grifos do original)
A autora ainda afirma que é preciso questionar: como é possível, na sociedade brasileira, 
a manutenção desse mito da não violência, mesmo em uma realidade na qual a violência é parte 
estrutural da sociedade? De acordo com Chaui, são criados mecanismos na sociedade para a manu-
tenção desses mitos. Mas quais seriam esses mecanismos?
• Mecanismo da exclusão – é criada a ideia de que se há violência na sociedade brasileira, 
ela é praticada por indivíduos que não fazem parte da nação brasileira, criando uma divi-
são entre os nós-brasileiros-não-violentos e eles-não-brasileiros-violentos.
• Mecanismo da distinção – cria-se a ideia da separação entre o essencial e o acidental, isto 
é, a violência, quando ocorre no Brasil, é um acidente, deve ser vista como um fenômeno 
efêmero, passageiro, que se localiza em um determinado tempo e lugar e que, portanto, 
pode ser superado.
• Mecanismo jurídico – nesse mecanismo, a violência fica restrita à criminalidade, ao cam-
po da delinquência, sendo o crime, a violação à propriedade privada. Esse mecanismo 
cria a possibilidade de distinção entre os violentos e os não violentos, posto que os vio-
lentos são aqueles que cometem os crimes, legitimando a ação policial contra pessoas e 
grupos estereotipados pela sociedade como praticantes de crimes.
• Mecanismo sociológico – esse mecanismo permite explicar a violência pelo deslocamen-
to dentro do Brasil, com a migração de diferentes indivíduos, isto é, os migrantes tendem 
a praticar atos de violência, pois perderam suas antigas formas de sociabilidade, e, assim 
que incorporados na sociedade, esses atos de violência deixarão de existir. Dessa forma, 
esse mecanismo gera a exclusão dos pobres e desadaptados e reforça a ideia da violência 
como transitória e temporária.
• Mecanismo da inversão do real – esse mecanismo é gerado pela produção de ideias que 
permitem dissimular comportamentos e valores violentos como sendo não violentos. Como 
o caso do machismo, que, em vez de ser tratado como um ato de violência, é visto pelo viés 
de uma inversão do real, como um ato de proteção à natural fragilidade feminina.
Sendo assim, para Chaui (2006), esses mecanismos têm a função de demonstrar à socie-
dade a violência como algo temporário e circunstancial e não como um problema estrutural da 
sociedade. No entanto, esses mecanismos que são conservados por ideologias das classes domi-
nantes têm por base um elemento real da sociedade brasileira, que é o autoritarismo social. Para 
a autora, é possível identificar, de forma sintética, os principais traços do autoritarismo estrutural 
dessa sociedade:
Controle social, violência e política 77
• Estruturada no modelo do núcleo familiar, em que se impõe o repúdio ao princípio liberal 
da igualdade formal e a dificuldade de lidar pelo princípio socialista da igualdade real, 
gerando a ideia da diferença como desigualdade e a ideia da inferioridade natural.
• Com a manutenção da estrutura das relações familiares de mando e obediência, há a 
dificuldade de estabelecer e efetivar o princípio jurídico da igualdade e de lutar contra a 
opressão social e econômica. Há, no plano jurídico, reflexos, baseados nessas característi-
cas de mando e obediência, na forma da constituição das normas jurídicas, que em vez de 
estabelecer direitos iguais para todos, estabelece situações de privilégio e de conservação 
do poderio político e econômico presentes na sociedade brasileira.
• A não distinção entre o público e o privado, uma característica muito presente na rea-
lidade da política brasileira, em que seus representantes utilizam-se dos bens públicos 
(incluindo recursos públicos em geral) como se fossem seus bens particulares. “Do pon-
to de vista dos direitos sociais, há um encolhimento do público; do ponto de vista dos 
interesses econômicos, uma ampliação do privado [...]” (CHAUI, 2006, p. 354).
• Existência de uma forma peculiar de evitar as contradições sociais e políticas, criando 
uma imagem de uma sociedade pacífica e ordeira. As contradições e os conflitos são vis-
tos como perigo, crise, desordem e devem, assim, ser reprimidos.
• Bloqueio das discordâncias entre grupos antagônicos na esfera pública. Assim, ações são 
efetivadas para que os meios de comunicação de massa monopolizem as informações, 
colocando a discordância como uma forma de ignorância ou atraso.
• Naturalização das desigualdades econômicas e sociais. Na sociedade brasileira, as formas 
de desigualdade são vistas como algo natural, que fazem parte da sociedade, gerando 
grande dificuldade de alteração da realidade.
• Fascínio pelos signos de prestígio e poder, com uso de títulos honoríficos que são aceitos e 
difundidos na sociedade brasileira sem qualquer relação de pertinência de sua atribuição, 
mas como uma forma de poder e de manutenção de um status social. O exemplo mais co-
mum é a expressão doutor, utilizada larga e comumente na sociedade ao se referir a uma 
pessoa considerada de uma classe social superior.
Dessa forma, é possível perceber que a sociedade brasileira é marcada por uma violência es-
trutural, isto é, na estrutura da organização administrativa e política há mecanismos que reforçam 
e contribuem para a existência e manutenção da violência.
Um autor que também debruçou-se sobre essa temática e precedeu os estudos de Chaui foi 
o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). Suas principais obras são: O Nascimento da clíni-
ca (1963); As palavras e as coisas (1966); Arqueologia do saber (1969); A ordem do discurso (1970); 
Vigiar e punir (1975); História da sexualidade (primeira parte publicada em 1976); Nascimento da 
biopolítica (1978-1979); Microfísica do poder (1979).
Na obra intitulada Vigiar e punir, publicada originalmente em 1975, Foucault buscou uma 
resposta para a seguinte questão: por que a sociedade ocidental considera a troca das execuções 
públicas e torturas pela prisão como uma forma de ressocialização do indivíduo criminoso?
Sociologia Jurídica78
Foucault (2000) fez uma análise histórica, investigando as mudanças que ocorreram nas 
sociedades. A alteração do regimemonárquico absolutista para um regime republicano foi um dos 
elementos analisados, no qual o governo passa a controlar a vida dos cidadãos e “o nascimento 
da prisão”. Para o autor, sistemas punitivos muito severos e violentos tornam o sistema instável e 
imprevisível, além de pouco eficiente. Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a ideia de eficiência foi 
ganhando força com a expansão das indústrias na Europa. Dessa forma, o Estado, além de punir, 
deveria vigiar seus cidadãos, inclusive os que se encontravam presos, buscando alcançar o máxi-
mo de eficiência. “Vigiar favorece o processo produtivo: o modo como o operário trabalha, sua 
prontidão, zelo, aptidão, conduta, fica tudo facilmente controlável” (ARAÚJO, 2001, p. 77). Assim, 
Foucault (2000) denomina essa sociedade de sociedade disciplinar, em que se fabricam indivíduos 
dóceis e úteis à sociedade.
O modelo de vigilância utilizado por Foucault é uma obra arquitetônica denominada panóptico 
– ou pan-óptico – (Figuras 1 e 2), criada por Jeremy Benthan em 1875, mas nunca executada na prática. 
O termo panóptico deriva do grego, significa “tudo que se vê”, pois as celas dos presídios eram dispostas 
todas para uma torre de controle, na qual apenas um guarda poderia controlar e vigiar todos os deten-
tos. Esse modelo arquitetônico inspirou a construção posterior de diversos presídios.
Figura 1 – Planta da estrutura do panóptico idealizado por Bentham
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Desenho do arquiteto inglês Willey Reveley, 1791.
Controle social, violência e política 79
Figura 2 – Presídio modelo abandonado em Cuba
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Para Foucault (2000), a disciplina não acontece apenas nos presídios, mas também nas 
escolas, nas Forças Armadas, nas indústrias e outras instituições como forma de criar sujeitos 
obedientes e voltados à sociedade moderna.
De acordo com Araújo (2001, p. 71-72), os pressupostos teóricos que guiam Foucault são:
• a punição não é só uma sanção derivada da repressão, mas tem uma função social;
• a punição não deriva só das regras do Direito, mas é um entre outros procedimentos de 
poder existentes em táticas políticas;
• o surgimento das ciências humanas pode ser buscado nos saberes que se fizeram necessá-
rios para conhecer a alma do criminoso;
• o corpo passou a ser sujeitado a espaços e técnicas disciplinares que permitiram dar 
origem a um indivíduo como objeto de saber para um discurso com estatuto científico;
• o poder que existe na normalização, na punição, no adestramento dos corpos não é de 
natureza jurídica nem pertence às instâncias institucionais.
Logo, para Foucault, a punição não deriva apenas do Direito, mas está presente na sociedade 
de outras formas e tem por finalidade a docilização dos corpos e o seu aproveitamento para uma 
determinada constituição social, em que são necessários indivíduos submissos a regras para que 
possa haver a manutenção de determinado modelo produtivo.
A obra Vigiar e punir (FOUCAULT, 2000) é dividida em quatro partes:
1. O suplício – forma de espetáculo punitivo, no qual o cerimonial da pena tinha tam-
bém por finalidade não somente a exposição dos crimes e dos criminosos como for-
ma de constrangimento e amedrontamento da população, mas também como uma 
forma de ritual político.
2. A punição – o direito de punição desloca-se da figura do soberano e da sua capacidade 
de vingança à defesa da sociedade. Para tanto, há um processo de mitigação da pena, 
com base em princípios como a moderação, a proporção e a não arbitrariedade.
Sociologia Jurídica80
3. A disciplina – controla as atividades do corpo, aumentando as forças para que sejam 
mais úteis em termos econômicos e diminuindo no que diz respeito aos atos políticos 
e de obediência. Para tanto, faz-se necessário criar mecanismos de vigilância e sanções 
aos indivíduos.
4. A prisão – incorpora-se no sistema da justiça com base em alguns princípios, como o 
isolamento, trabalho como forma de requalificação, ajustamento e docilização do preso 
e também como uma forma de modulação da pena.
Por fim, cabe questionar: há relação entre as várias formas de violência e o exercício da política?
6.3 A relação da política com a violência
Para Chaui (2006, p. 356), na sociedade brasileira “o autoritarismo e a vio-
lência transparecem, por fim, na política”. Os partidos políticos, por exemplo, são 
uma das representações dessa relação de violência, pois são grupos privilegiados da 
sociedade que mantêm com seus correligionários quatro formas de relação: coop-
tação, favor e clientelismo, tutela e promessa salvacionista.
No entanto, essa autora entende a possibilidade de exercício ético da política como forma 
de poder modificar esse cenário e alerta para a dificuldade de alteração dos quadros de violência 
na sociedade brasileira devido a sua complexidade nas relações que envolvem os valores éticos, 
o sistema econômico e a realidade social e política.
Essa realidade, associada às ideias de autoritarismo, privilégio e indistinção entre o público 
e o privado, gera uma grande dificuldade de criar uma sociedade realmente democrática, em que a 
ideia de cidadania é baseada na criação de direitos como fruto de uma criação social e da atividade 
participativa e democrática de todos os indivíduos e grupos sociais.
Para aprofundar esse estudo da relação entre violência e política, faz-se importante a análise 
do pensamento de Hannah Arendt2 sobre o tema, na qual elabora o conceito de violência em con-
junto com o conceito de poder.
Para a autora, o poder corresponde “à habilidade humana de não apenas agir, mas de agir 
em uníssono, em comum acordo. O poder jamais é propriedade de um indivíduo, pois pertence a 
um grupo e existe apenas enquanto o grupo se mantiver unido” (1985, p. 24). Essa é a essência do 
conceito de poder, pois este existe apenas quando há a legitimação de um grupo, e, por meio de tal 
legitimação, há o exercício do poder por aquele que foi legitimado.
Perissinotto (2004), ao tratar do conceito de poder de Hannah Arendt, afirma que, para a 
existência deste em uma sociedade, são necessárias quatro condições:
1. ser um fenômeno do campo da ação humana;
2. ser um fenômeno do campo da ação coletiva;
2 Hannah Arendt (1906-1975) foi uma filósofa judia alemã que, em virtude das perseguições durante a Segunda Guerra 
Mundial (foi presa em um campo de concentração), buscou refúgio nos Estados Unidos, lecionando em diversas universi-
dades até se mudar para Nova York, onde morreu aos 69 anos de idade. Suas principais obras são: As origens do totalita-
rismo (1951), A condição humana (1958) e Eichmann em Jerusalém (1963).
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Controle social, violência e política 81
3. surgir na medida da existência de um grupo; e
4. ter o poder de legitimar alguém a falar pelo grupo.
Assim, o poder é um elemento construído por um grupo, sem o qual não existiria, pois este 
produz aquele e define quem irá exercê-lo.
E qual a relação do poder com a violência? Para Arendt (1985, p. 33), poder e violência se 
opõem: “onde um domina de forma absoluta, o outro está ausente. A violência aparece onde o 
poder esteja em perigo, mas se deixar que percorra o seu curso natural, o resultado será o desa-
parecimento do poder”. Assim, para Arendt a violência é um instrumento que pode ser utilizado 
quando o poder está em risco.
Assim, o poder é o exercício de uma ação política do grupo e dos indivíduos, e, para a cons-
tituição ou desconstituição desse poder, faz-se necessário o exercício da política.
Por fim, fica clara a relação feita pela autora: se o poder é uma ação coletiva de legitimação 
para alguém agir em nome do grupo, e esse grupo não legitima mais esse seu representante, isto é, 
o grupo não quer mais ser representado por essa pessoa, não há mais poder. No entanto, esse re-
presentante pode não querer respeitar a vontade do grupo e, para se manter no poder, pode usar da 
violência como um instrumento de manutenção nessa função que lhe foi delegada pelo grupo, mas 
que, com ouso da violência, não é mais poder. Para Arendt (1985), quando um desses elementos 
existe de forma absoluta, o outro não existirá.
Considerações finais
Neste capítulo foi possível analisar os conceitos de controle social, em suas diferentes for-
mas, verificando o quanto estão presentes na sociedade e a sua relação com o Direito.
Também foi estudado o conceito de violência e sua relação com a política. Analisou-se o 
conceito de poder e violência para duas filósofas, Marilena Chaui e Hannah Arendt. Para Chaui, 
a sociedade brasileira é estruturalmente violenta por não possibilitar o exercício da autonomia 
dos seus cidadãos, e para alterar esse quadro se faz necessário o exercício da política; para Arendt, 
o poder é concedido pelo grupo a alguém que o representa, e a violência é um instrumento de que 
esse representante pode utilizar quando não houver mais o poder legitimado pelo grupo.
Ampliando seus conhecimentos
O trecho a seguir foi extraído do livro Vigiar e punir, de Michel Foucault.
Vigiar e punir
(FOUCAULT, 2000, p. 166)
O panóptico de Benthan é a figura arquitetural dessa composição. O princípio é conhecido: 
na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas 
que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica e dividida em celas, cada 
uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, 
Sociologia Jurídica82
correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse 
a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar 
um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, 
pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas 
cativas na cela da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozi-
nho, perfeitamente individualizado e constantemente visível. O dispositivo panóptico orga-
niza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconhecer imediatamente. Em suma, 
o princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções – trancar, privar de luz e 
esconder – só se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de 
um vigia captam melhor a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha. 
O que permite em primeiro lugar – como efeito negativo – evitar aquelas massas compactas, 
fervilhantes, pululantes, que eram colocadas nos locais de encarceramento, os pintados por 
Goya ou descritos por Howard. Cada um em seu lugar, está bem trancado em sua cela de onde 
é visto de frente pelo vigia; mas os muros laterais impedem que entre em contato com seus 
companheiros. É visto, mas não vê; objeto de uma informação, nunca sujeito em uma comuni-
cação. A disposição de seu quarto, em frente da torre central, impõe-lhe uma visibilidade axial; 
mas as divisões do anel, essas celas bem separadas, implicam uma invisibilidade lateral. E esta 
é a garantia da ordem. Se os detentos são condenados não há perigo de complô, de tentativa 
de evasão coletiva, projetos de novos crimes para o futuro, más influências recíprocas; se são 
doentes, não há perigo de contágio; loucos, não há risco de violências recíprocas; crianças, não 
há “cola”, nem barulho, nem conversa, nem dissipação. Se são operários, não há roubos, nem 
conluios, nada dessas distrações que atrasam o trabalho, tornam-no menos perfeito ou provo-
cam acidentes. A multidão, massa compacta, local de múltiplas trocas, individualidades que se 
fundem, efeito coletivo, é abolida em proveito de uma coleção de individualidades separadas. 
Do ponto de vista do guardião, é substituída por uma multiplicidade enumerável e controlável; 
do ponto de vista dos detentos, por uma solidão sequestrada e olhada.
Atividades
1. O Direito é uma forma de controle social? Justifique sua resposta.
2. De acordo com o pensamento de Marilena Chaui, qual a relação entre a violência e a socie-
dade brasileira?
3. No pensamento de Michel Foucault, qual a finalidade da vigilância na sociedade? Justifique 
sua resposta.
4. No entendimento de Hannah Arendt, qual a relação entre poder, violência e política?
Referências
ARAÚJO, Inês Lacerda. Foucault e a crítica do sujeito. Curitiba: Ed. da UFPR, 2001.
ARENDT, Hannah. Da violência. Trad. de Maria Cláudia D. Trindade. Brasília, DF: Ed. da UnB., 1985.
BRANDÃO, Adelino. Iniciação à Sociologia do Direito: teoria e prática. São Paulo: J. Oliveira, 2003.
Controle social, violência e política 83
BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 8 ago. 
2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso 
em: 19 dez. 2017.
CHAUI, Marilena. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 2006.
DIAS, Reinaldo. Sociologia do Direito: abordagem do fenômeno jurídico como fato social. São Paulo: 
Atlas, 2009.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 2000.
OMS – Organização Mundial da Saúde. Informe mundial sobre la violencia y salud. Genebra: OMS, 2002.
PERISSINOTTO, Renato M. Hannah Arendt, poder e a crítica da “tradição”.  Lua Nova, São Paulo, n. 61,  
p. 115-138, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64452004000100007&script=sci 
_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 26 jul. 2018.
SACRAMENTO, Lívia de Tartari; REZENDE, Manuel Morgado. Violências: lembrando alguns conceitos.  
Aletheia, Canoas, n. 24, p. 95-104, dez. 2006. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script= 
sci_arttext&pid=S1413-03942006000300009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 26 jul. 2018.
7
Democracia e globalização
Neste capítulo, será analisado o conceito de democracia e sua relação com o Estado de 
Direito, buscando aprofundar a análise das relações dos cidadãos na sociedade.
Também será abordada a relação entre a democracia e a globalização. Dessa forma, serão 
buscadas respostas para questionamentos como: a globalização impacta na democracia? Vive-se na 
sociedade contemporânea uma crise da democracia? Qual a importância da democracia?
7.1 A importância da democracia no Estado de Direito
Inicialmente, serão analisados alguns conceitos fundamentais. O que 
é Estado? O que é o Estado de Direito? E o que é o Estado democrático de 
Direito? Quais as diferenças entre esses conceitos?
Cabe destacar que o Estado moderno ou Estado-nação pode ser definido 
como: “a reunião de pessoas numa sociedade política e juridicamente organizada, 
dotada de soberania, dentro de um território, sob um governo, para a realização do bem comum 
do povo” (MARTINS, 2009, p. 48). Desse conceito, destacam-se os três elementos centrais de 
constituição do Estado: território, povo, soberania.
De acordo com Mendes, Coelho e Branco (2008), pode-se elencar alguns desses aspectos 
fundantes do Estado moderno:
• o Estado não é uma criação divina, é apenas uma comunidade a serviço do interesse 
comum de todos os indivíduos;
• os objetivos e as tarefas do Estado limitam-se a garantir a liberdade e a segurança das 
pessoas e da propriedade, possibilitando o autodesenvolvimento dos indivíduos;
• a organização do Estado e a regulação das suas atividades obedecem a princípios ra-
cionais: reconhecimento da cidadania, liberdade civil, igualdade jurídica, garantia da 
propriedade, governo responsável, independência dos juízes, domínio da lei, represen-
tação popular.
Percebe-se, então, que o Estado é uma organização social, em que indivíduos se organizam, 
buscando a obtenção de determinados fins, em especial, a proteção e a liberdade. De acordo com 
Martins (2009, p. 51), as finalidades do Estado são:
• assegurar a vida humana em sociedade, pelo fato de que o homem não vive isoladamente 
e necessita de normas que disciplinem comportamentos;
• assegurar o bem comum do povo;
• garantir a ordem interna, assegurar a soberania na ordem internacional, fazer as regrasde 
conduta, distribuir justiça.
Vídeo
Sociologia Jurídica86
Essas ideias que norteiam as finalidades do Estado têm sua origem em uma concepção 
liberal de Estado, que serviu de suporte para os direitos do homem, e na conversão dos súditos 
em cidadãos. “O liberalismo deve ser compreendido como movimento econômico-político, tendo 
como base a classe burguesa, ao propugnar, na esfera econômica, o princípio do abstencionismo 
estatal, e, na esfera política, sufrágio, câmaras representativas, respeito à oposição e separação de 
poderes” (SOARES, 2008, p. 80).
O liberalismo clássico deu forma ao Estado Liberal e aos seus princípios estruturais, como a 
concepção do individualismo e a construção do Estado de Direito. “A construção do Estado liberal de 
direito deixou um legado: o império do princípio da legalidade, a despersonificação da soberania e a 
luta pelos direitos e liberdade do homem” (SOARES, 2008, p. 83).
No Estado liberal, pretendia-se legitimar a vontade geral, com a participação do povo, por 
meio do sufrágio. Assim, o direito, que teria a função de vincular o cidadão ao Estado e regular 
as instituições públicas, deveria advir também da vontade geral. No entanto, foi ocorrendo um 
dualismo na sociedade: de um lado a sociedade civil, com cidadãos passivos, e, de outro lado, 
uma sociedade política, a qual decidia e tinha poder (SOARES, 2008).
No entanto, é preciso destacar que ser o Estado apenas um Estado de Direito pode levar a 
deformações no sentido de que, ao entender que o Direito é o conjunto das normas jurídicas ela-
boradas pelo Poder Legislativo, então o Estado passaria a ser um Estado Legislativo, ou Estado da 
Legalidade. Se seguir uma concepção mais formalista do Direito – e o Estado rege-se pelas leis –, 
então pode-se também constituir um Estado de Direito, mas recair meramente em um Estado 
formal de Direito, que pode servir também para regimes autoritários ou ditatoriais (SILVA, 2012).
[...] se o Direito acaba se confundindo com o mero enunciado formal da lei, 
destituída de qualquer conteúdo, sem compromisso com a realidade políti-
ca, social, econômica, ideológica enfim (o que, no fundo esconde uma ideo-
logia reacionária), todo Estado acaba sendo Estado de Direito, ainda que seja 
ditatorial. Essa doutrina converte o Estado de Direito em mero Estado legal. 
Em verdade, destrói qualquer ideia de Estado de Direito. (SILVA, 1992, p. 104)
Dessa forma, não basta o Estado ser de Direito. É preciso questionar: como alcançar os 
objetivos que um Estado se propõe? Quem serão os governantes? Como deverão ser elaboradas as 
leis? Como reivindicar no caso de esses objetivos não estarem sendo cumpridos? Essas questões 
são essenciais para a compreensão de que um Estado pode ter essas finalidades, mas sem a 
participação popular. Por isso a importância da criação do Estado democrático de Direito. Este 
não é o somatório do Estado de Direito com o Estado Democrático, é mais do que isso, é a criação 
de um novo conceito de Estado. O qualificador democrático torna o Estado democrático, e não 
apenas o Direito; dessa forma, sendo o Estado democrático, essa característica se irradia para toda 
a estrutura e instituições do Estado.
Para Canotilho (2002, p. 231), o Estado democrático de Direito é “o Estado limitado pelo 
direito e o poder político estatal legitimado pelo povo. O direito é o direito interno do Estado; 
o poder democrático é o poder do povo que reside no território ou pertence ao Estado”.
Democracia e globalização 87
Assim, constata-se a incorporação dentro do Estado do seu elemento humano, que é o povo. Um 
Estado democrático de Direito precisa da participação do povo para ser efetivamente democrático.
O Estado democrático de Direito, que significa a exigência de reger-se por nor-
mas democráticas, com eleições, periódicas e pelo povo, bem como o respeito 
das autoridades públicas aos direitos e garantias fundamentais, proclamado no 
caput do artigo, adotou, igualmente o parágrafo único, o denominado prin-
cípio democrático, ao afirmar que “todo poder emana do povo, que o exer-
ce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta 
Constituição”. (MORAES, 2008, p. 17)
No ordenamento jurídico brasileiro, o Estado democrático de Direito está previsto expres-
samente no art. 1o da Constituição Federal, conforme transcrição a seguir: “Art. 1o A República 
Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito 
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos [...]” (BRASIL, 
1988, grifos nossos).
Para Streck e Morais (2000, p. 90) e Silva (2012, p. 124), o Estado democrático de Direito é 
norteado por alguns princípios:
• Constitucionalidade: o Estado deve estar respaldado na supremacia da Constituição Federal, 
que vincula o legislador e os governantes e todos os atos estatais à Constituição.
• Organização democrática da sociedade: a sociedade deve organizar-se com base em 
uma democracia participativa, representativa e pluralista, a qual é a garantia da vigência e 
da eficácia dos direitos fundamentais.
• Legalidade: por meio de ordenação racional, vinculativamente prescrita, de regras, for-
mas e procedimentos que excluem o arbítrio e a prepotência dos governantes, sendo a 
medida do próprio Direito. No ordenamento jurídico brasileiro, esse princípio está dis-
posto expressamente na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5o, II.
• Sistema de direitos fundamentais: compreende os direitos individuais, coletivos, sociais 
e culturais. No sistema jurídico brasileiro, está previsto de forma ampla na Constituição 
de 1988, nos títulos II, VII e VIII.
• Justiça social: esse princípio visa à criação de mecanismos corretivos das desigualdades, 
por meio das normas jurídicas e de políticas públicas sociais. No Brasil, está previsto na 
Constituição Federal de 1988 como um princípio de ordem econômica (art. 170) e social 
(art. 193).
• Igualdade: esse princípio articula-se com o ideal de uma sociedade justa. No ordenamen-
to jurídico brasileiro, está disposto na Constituição Federal no caput e inciso I do art. 5o.
• Divisão dos poderes ou de funções: tendo por base a unidade do poder do Estado, mas 
com a divisão em órgãos distintos e harmônicos com o propósito de evitar a concentra-
ção do poder e o seu uso indevido. No Brasil, está disposto expressamente no art. 2o da 
Constituição Federal.
Sociologia Jurídica88
• Segurança e certeza jurídicas: tem por objetivo a garantia da segurança jurídica para 
os cidadãos e para as instituições, para, assim, possibilitar a existência de uma sociedade 
democrática de Direito.
Dessa forma, fica claro que esses princípios norteadores do Estado democrático de Direito 
estão presentes no ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, também é necessário compreen-
der quais os fundamentos, prescritos no artigo 1o da Constituição Federal brasileira, desse Estado 
Democrático de Direito:
Art. 1o A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático 
de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político. (BRASIL, 1988)
Cabe destacar que, para Silva (2010, p. 37), fundamento significa “aquilo sobre o qual repousa 
certa ordenação ou conjunto de conhecimento, aquilo que dá a alguma coisa sua existência ou sua 
razão de ser, aquilo que legitima a existência de alguma coisa”. Assim, esses fundamentos contidos 
no art. 1o da Constituição são as bases para a legitimação da própria existência do Estado brasileiro.
Soberania – Representa o poder de autodeterminação de uma nação. No caso brasileiro, 
o Estado é reconhecido internacionalmente como um país independente, devendo ter seu or-
denamento jurídico e sua estrutura política e social respeitados pelos demais países do mundo. 
A soberania também estáprevista na Constituição Federal no art. 3o, inciso I, como objetivo do 
Estado, e no art. 4o, inciso I, como base das relações internacionais.
Cidadania – De acordo com Silva (1992, p. 36), “a cidadania prevista constitucionalmente 
é um valor cuja efetividade depende precipuamente dos respectivos titulares: trata-se de um valor 
ínsito ao princípio democrático, mas cuja manutenção depende de permanente reafirmação por 
parte daqueles”. Mas entender a cidadania apenas como a participação de todos nas decisões po-
lítico-governamentais pode ser uma visão incompleta sobre a cidadania. Destaca o autor que, no 
Brasil, nem todos os direitos de cidadania são efetivos, pois há direitos que são apenas esporádica 
e escassamente efetivados.
Dignidade da pessoa humana – Pressupõe a autonomia da pessoa, a sua autodeterminação, 
isto é, a pessoa é um fim em si mesma, não podendo servir de meio para outras pessoas. Esse fun-
damento tem origem nas ideias de Kant, que em sua obra Fundamentos da metafísica dos costumes 
entendia que os seres racionais deveriam ser denominados de pessoas, porque sua natureza já os 
designa como um fim em si mesmo: “age de tal maneira que possas usar a Humanidade, tanto em 
tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca sim-
plesmente como meio” (KANT, 2003, p. 59). Dessa forma, afirma Silva (2010, p. 39) que “isso, em 
suma, quer dizer que só o ser humano, o ser racional, é pessoa. Todo ser humano, sem distinção, é 
pessoa, ou seja, um ser espiritual, que é, ao mesmo tempo, fonte e imputação de todos os valores, 
consciência e vivência de si próprio”.
Democracia e globalização 89
Dessa forma, no ordenamento jurídico brasileiro, a dignidade da pessoa humana é um valor 
organizativo, sendo o núcleo essencial dos direitos fundamentais. Para Miranda (2000, p. 166), 
a dignidade da pessoa humana constitui “a fonte ética, que confere unidade de sentido, de valor e 
de concordância prática ao sistema dos direitos fundamentais”.
Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa – Esses valores estão relacionados à ordem 
econômica do país, “estão precisamente na sua função de criar riquezas, de prover a sociedade de 
bens e serviços e, enquanto atividade social, fornecer à pessoa humana bases de sua autonomia e 
condição de vida digna” (SILVA, 2010, p. 41). Para que possa haver a reprodução e manutenção do 
sistema econômico e produtivo, faz-se necessário assegurar como um dos fundamentos do Estado 
a liberdade do trabalho, que deve ser um valor social – posto que o trabalho não é apenas um di-
reito, mas um dever do cidadão, de forma a garantir sua subsistência, assim como contribuir para 
a formação da sociedade. A livre iniciativa é um dos pressupostos de uma economia moderna, 
baseada na produção voltada para o mercado e, assim, dependente de liberdade de ação por parte 
daqueles que pretendem exercer alguma atividade econômica.
Pluralismo político – Esse princípio está diretamente relacionado com o princípio democrá-
tico e com a dignidade da pessoa humana, pois, não há uma verdadeira democracia sem o respeito 
à pluralidade de ideias, opiniões e interesses. Assim, o pluralismo político é fundamental para que 
haja uma vida política livre e dinâmica em uma sociedade, pois, de acordo com Silva (2010), é o lia-
me que vincula a liberdade dos indivíduos com a multiplicidade dos meios de vida, de pensar e com-
preender a sociedade. Cabe destacar que o pluralismo político também está contido no Preâmbulo 
da Constituição Federal de 1988, ao dispor que o Estado democrático brasileiro é fundado em “va-
lores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos” (BRASIL, 1988).
A democracia que o Estado Democrático de Direito realiza há de ser um pro-
cesso de convivência social, numa sociedade livre, justa e solidária (art. 3o, II), 
em que o poder emana do povo, que deve ser exercido em proveito do povo, 
diretamente ou por representantes eleitos (art. 1o, parágrafo único); participati-
va, porque envolve a participação crescente do povo no processo decisório e na 
formação dos atos de governo, pluralista porque respeita a pluralidade de ideias, 
culturas e etnias e pressupõe assim o diálogo entre opiniões e pensamentos di-
vergentes e a possibilidade de convivência de formas de organização e interesses 
diferentes da sociedade [...]. (SILVA, 1992, p. 109)
Logo, pode-se constatar a importância da construção de uma sociedade baseada nos funda-
mentos democráticos de organização do Estado e do Direito, posto que incorpora no poder o povo, 
que é seu fundamento e seu principal objeto de existência.
7.2 O papel do cidadão
Conforme analisado no capítulo anterior, para que um Estado seja verdadei-
ramente democrático, é preciso que haja a participação do povo. No ordenamento 
jurídico brasileiro, esse parâmetro balizador está expressamente disposto no pará-
grafo único do art. 1o da Constituição Federal, que dispõe: “Art. 1o Parágrafo único. 
Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou 
diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988).
Vídeo
Sociologia Jurídica90
Mas, afinal, o que isso significa? O que se pode extrair desse texto legal? Diversos significa-
dos estão contidos nesse importante dispositivo constitucional.
“Todo o poder emana do povo” – Isso significa que o poder vem de seu elemento humano: 
o povo. De acordo com Silva (2010), esse dispositivo constitucional consagra o princípio da sobe-
rania popular, que é o próprio fundamento de um Estado democrático.
Um Estado é criado originalmente para proteger e garantir uma boa qualidade de vida para 
seus integrantes, mas, em um Estado democrático, o poder para a criação e estruturação desse 
Estado deve vir de seu povo.
“que o exerce por meio de representantes eleitos” – O povo exerce esse poder ao eleger 
seus representantes para esse fim. Essa é a característica da sociedade em que a democracia é re-
presentativa, pois em sociedades mais complexas, como as modernas, há maior dificuldade de 
exercício direto do poder pelo povo. Segundo Silva (2010), para a existência de uma democracia 
representativa se pressupõe um conjunto de instituições que possibilitem o exercício da soberania 
popular no processo político, assim constituindo os direitos políticos, que qualificam os cidadãos 
como agentes políticos. Essa participação popular, em uma democracia representativa, deve ser 
periódica, formal e realizada por meio de suas instituições.
“ou diretamente” – Mas também é possível o exercício do poder diretamente pelo povo, 
quando a democracia acontece de forma direta. “O princípio participativo caracteriza-se pela 
participação direta e pessoal da cidadania na formação dos atos de governo” (SILVA, 2010, p. 43). 
O sistema jurídico brasileiro prevê formas de participação direta do povo, como, por exemplo, na 
realização de plebiscitos e referendos.
“nos termos desta Constituição” – Essa especificação contida nesse dispositivo legal sig-
nifica que, mesmo o poder sendo do povo, ele deve ser exercido de acordo com o que está 
contido na Constituição Federal; assim, o “poder do povo também se submete à Constituição” 
(SILVA, 2010, p. 44).
Neste ponto da análise, surgem alguns questionamentos: povo é a mesma coisa que cidadão? 
Quem é o povo? Quem é o cidadão?
Cidadão, de acordo com Silva (1992, p. 37), “é todo membro da sociedade nacional, indepen-
dentemente de raça, credo religioso, convicções políticas, condição econômica ou social, e do pró-
prio gozo dos direitos políticos: a todos assistem iguais (art. 5o, caput da CF) direitos de cidadania”.
A ideia essencial da cidadania está relacionada ao princípio democrático (SILVA, 2010). 
Mas a democracia é um conceito histórico que vai se constituindo ao longo do tempo. Ao analisar 
a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, pode-se verificar que há uma distinção 
entre direitos do homem (entendidos como os direitos individuais) e direitos do cidadão (comoos 
direitos políticos). Dessa forma, o cidadão surge como o nacional protegido por uma ordem jurí-
dica específica. No entanto, esse entendimento foi sofrendo alterações, e passou-se a compreender 
que a expressão cidadão inclui o homem como seu elemento, posto que, na sociedade atual, pra-
ticamente todos os homens são cidadãos também. Desse modo, o povo, que é a base do regime 
democrático, “compreende a totalidade dos que possuem status da nacionalidade, os quais devem 
Democracia e globalização 91
agir, conscientes de sua cidadania ativa, segundo ideias, interesses e representações de natureza 
política” (SOARES, 2008, p. 154).
Verifica-se, assim, que o exercício da cidadania é feito pelo povo, que é a soma de todos os 
indivíduos que possuem o status de cidadão de um país, sendo aqueles que têm direitos relativos 
àquela ordem jurídica, mas também aqueles que, pelo exercício de seus direitos políticos, podem 
construir e reconstruir novos direitos e a própria organização social.
Na sociedade brasileira, como pode ser exercida a cidadania? Vários são os mecanismos para 
efetivação da cidadania, como:
• Mecanismos jurídicos – dentro do ordenamento jurídico brasileiro, existem vários tipos 
de ações judiciais que podem ser utilizadas pela população para o exercício da cidadania. 
Por exemplo: a) ação popular, prevista no art. 5o, LXXIII, da Constituição Federal, que serve 
para anular ato lesivo ao patrimônio público, ao meio ambiente ou ao patrimônio histórico 
ou cultural; b) projeto de lei de iniciativa popular, prevista no art. 14, III, da Constituição, 
e que serve para a população poder apresentar projetos de lei de seu interesse por meio da 
mobilização popular; c) ação civil pública, responsabilidade por danos causados ao meio 
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico 
e paisagístico, regulamentada na Lei n. 7.347 (BRASIL, 1985). Também há as previsões 
constitucionais de exercício direto da cidadania, como o referendo e o plebiscito.
• Mecanismos judiciais – a cidadania pode ser exercida por meio do Poder Judiciário. 
Os cidadãos que entenderem que seus direitos estão sendo violados podem mover ações 
judiciais, buscando o cumprimento das leis e a efetivação de seus direitos. Existem no Brasil 
os Juizados Especiais, em que o cidadão pode registrar diretamente reclamações, sem a pre-
sença de advogados – para isso, o valor da ação não pode ultrapassar 20 salários-mínimos. 
Essa é uma forma simplificada e direta de exercício dos direitos pelo próprio cidadão.
• Mecanismos extrajudiciais – há também previsões legais no sistema jurídico brasileiro 
de resolução de conflitos extrajudiciais, como, por exemplo, a mediação e a arbitragem. 
Na primeira, as partes em conflito escolhem um mediador, que auxiliará a chegar a um 
acordo sobre o assunto; na segunda, as partes envolvidas em um conflito escolhem um 
árbitro que decidirá sobre o assunto. A arbitragem está regulamentada na Lei n. 9.307 
(BRASIL, 1996), alterada pela Lei n. 13.129 (BRASIL, 2015); e a mediação está regula-
mentada pela Lei n. 13.140 (BRASIL, 2015).
• Mecanismos sociais e políticos – também existem possibilidades de exercício da cida-
dania por meio de denúncias, repasse de informações, mobilizações da mídia, das redes 
sociais, rádios comunitárias e passeatas. Os cidadãos também podem se organizar formal-
mente em organizações não governamentais e em partidos políticos, para o exercício de 
seus direitos e para a conquista de novos direitos.
• Mecanismos institucionais – nas sociedades democráticas, existem instituições que têm 
por finalidade a defesa dos cidadãos, como, por exemplo: o Ministério Público (cabe des-
tacar que uma das finalidades constitucionais do Ministério Público é a defesa do regime 
democrático e dos direitos individuais e sociais indisponíveis – art. 127 da Constituição 
Sociologia Jurídica92
Federal); os Conselhos de Direitos; os órgãos de classe, como a Ordem dos Advogados 
do Brasil (OAB); os Sindicatos; os partidos políticos; as universidades; e o Sistema 
Interamericano de Direitos Humanos. Os cidadãos podem procurar essas instituições 
para esclarecimentos, denúncias ou exercício de seus direitos.
Apesar da grande variedade de meios disponíveis para o exercício da cidadania, quantos des-
ses mecanismos você já conhecia? Quantos você já acessou? Por que muitas pessoas não acessam 
esses mecanismos? Será que verdadeiramente você é um cidadão? Qual o seu papel na sociedade?
A cidadania deve ser entendida como um exercício realizado pelos cidadãos, e não como 
um conceito estático. Para Bauman (2001), o indivíduo, ao exercer seu papel na sociedade, realiza 
a verdadeira política, isto é, participa da pólis, da cidade, contribuindo com sua construção e pos-
sibilitando mudanças.
Existe um abismo entre o indivíduo de direito e o indivíduo de fato que busca 
ganhar controle sobre suas decisões e seu destino. Sendo que esse abismo não 
pode ser transposto por esforços individuais, para que ocorra essa transposição 
é necessário o exercício da política, com P maiúsculo. Esse abismo cresceu em 
virtude do esvaziamento do espaço público. (BAUMAN, 2001, p. 48-49)
O que Bauman (2001) alerta é que está havendo na sociedade atual um esvaziamento da 
esfera pública de atuação da política pelo cidadão, e esse fenômeno tem contribuído para uma 
menor participação cidadã. Esse fato decorre do esvaziamento da esfera pública e da expansão da 
esfera individual de cada pessoa na sociedade. Mas por que isso acontece? Porque na sociedade 
moderna, líquida, há um processo de individualização, em que as pessoas passam a se preocupar e 
a se identificar na sociedade com base em seus interesses particulares, perdendo o interesse pelas 
lutas coletivas.
Se o indivíduo é o pior inimigo do cidadão, e se a individualização anuncia 
problemas para a cidadania e para a política fundada na cidadania, é porque os 
cuidados e preocupação dos indivíduos enquanto indivíduos enchem o espaço 
público até o topo, afirmando-se como os únicos ocupantes legítimos e expul-
sando tudo mais do discurso público. (BAUMAN, 2001, p. 46)
Logo, afirma Bauman (2012), o poder é a capacidade de fazer e a política é a capacidade 
de decidir o que fazer. Dessa afirmação cabe um questionamento chave para pensar o papel do 
cidadão: o que o cidadão na sociedade atual está fazendo com seu poder? Está utilizando essa ca-
pacidade para fazer? Pode-se afirmar que os cidadãos estão fazendo política? Estão utilizando sua 
capacidade de decidir o que fazer?
7.3 Os impactos da globalização na democracia
É possível que a intensificação do processo de globalização na sociedade te-
nha afetado o exercício da democracia?
Inicialmente é preciso entender o que é a globalização. Para Giddens (2012, p. 
102), a globalização “refere-se ao fato de que estamos vivendo em um mesmo mundo, 
de modo que os indivíduos, grupos e nações se tornam cada vez mais interdependentes”.
Vídeo
Democracia e globalização 93
De acordo com Ianni (2002, p. 36), o mundo passou por grandes transformações após a 
Segunda Guerra Mundial, quando se iniciou “um amplo processo de mundialização das relações, 
dos processos e estruturas de dominação e apropriação, antagonismos e integração”. Dessa for-
ma, verifica-se que o mundo vem passando por transformações que se refletem nesses processos 
dialéticos de integração e desintegração, de aproximação e distanciamento; ao mesmo tempo em 
que os países e os indivíduos se tornam cada vez mais interdependentes, também há um processo 
de individualização. Assim, além das questões individuais, inclusive no que tange ao exercício da 
política, pode-se perceber questões estruturais que impactam na democracia.
No entendimento de Santos (2002), a globalização na atualidade acontece em várias esfe-
ras: há uma globalização econômica, uma social, uma política e outra cultural. É um fenômeno 
multifacetado, com várias dimensões que o tornam mais complexo. As principais característicasdelas são:
• Globalização econômica – tem por elemento central a economia, que passa a ser domi-
nada por um sistema financeiro e pelo investimento em escala global. Mas também há 
processos de produção flexível e multilocal, baixos custos de transporte, preeminência de 
agências financeiras multinacionais, revolução das tecnologias de informação e de comu-
nicação e desregulação das economias nacionais. Todos esses fatores contribuem para que 
ocorra um processo de globalização da economia, que acarreta consequências em outras 
esferas, como a social e a política.
• Globalização social – a grande novidade no processo de globalização social é a presença 
das empresas multinacionais que, ao concentrarem capital e o processo produtivo, contri-
buem de forma categórica para a geração de grandes desigualdades em esfera mundial. Ao 
mesmo tempo em que há concentração de riquezas em uma pequena parcela da população, 
há também uma acentuada falta de recursos para grande parte da população mundial.
• Globalização política – o sistema mundial moderno é formado por Estados hegemôni-
cos ou por instituições internacionais que exercem influência sobre a autonomia política 
e a soberania dos Estados periféricos ou semiperiféricos. Assim, no campo político, há o 
surgimento de organizações supranacionais que deverão se relacionar com os Estados, e 
isso irá gerar conflitos e impactos na ordem interna desses Estados, inclusive afetando o 
processo democrático.
• Globalização cultural – foi facilitada pela intensificação e ampliação dos meios de comu-
nicação e disseminação cultural. É preciso destacar que essa globalização da cultura está 
ligada à sua capacidade de mercadorização, isto é, a cultura se expande no mundo pelo 
fato de se transformar em mercadoria.
O processo de globalização, então, é um processo em expansão, que não ocorre em apenas 
uma dimensão, mas é plural e diversificado, atingindo a economia, a política, a sociedade e a cultu-
ra. “A verdade é que a globalização não é jamais um processo histórico-social de homogeneização” 
(IANNI, 2002, p. 128).
É possível, então, indagar: quais são as consequências da globalização? No entendimento de 
Faria (2002), são diversas essas consequências, inclusive na esfera jurídica.
Sociologia Jurídica94
• Caráter paradoxal das inovações científico-tecnológicas – quanto maiores forem as 
inovações tecnológicas e a velocidade de sua expansão, maior será a ampliação da diver-
sidade de bens e serviços ofertados no mercado, gerando grandes mudanças produtivas, 
econômicas e sociais. Assim, quanto maior for a imprevisibilidade das consequências 
dessas mudanças, maior será a geração de dúvidas, incerteza e perigos, em especial no 
que diz respeito ao bem-estar social, à segurança econômica e ao meio ambiente. No âm-
bito jurídico, as consequências desse avanço da internacionalização da produção e do ca-
pital estão ligadas a essas forças transnacionais que são difíceis de serem identificadas e, 
dessa forma, responsabilizadas, indo contra a ideia de cidadania, que está relacionada a 
ideia de Estado-nação, colocando em xeque normas e mecanismos jurídicos e imputação 
da culpabilidade e de punição, inclusive as formas indenizatórias pelos danos causados.
• Crescente redução da margem de autonomia das políticas macroeconômicas nacionais 
– à medida que o comércio mundial cresce e a produção vai se tornando global, há um 
maior acirramento da concorrência, também ocorrendo processos de maior oferta de cré-
dito internacional, gerando também maior risco sistêmico. Há uma tendência de dolari-
zação da economia, que acarreta um aparente processo de harmonização internacional. 
Dessa forma, um dos símbolos do Estado-nação, que é a moeda, também sofre impactos. 
As economias internas vão se tornando dependentes de ajustes estruturais e de políticas 
cambiais e fiscais recessivas, forçando que essas decisões não sejam mais realizadas na 
esfera político-democrática, mas no campo econômico.
• Aumento em progressão geométrica de diferenciação socioeconômica – os sistemas 
administrativo, técnico, científico, produtivo, comercial e financeiro vão se tornando cada 
vez mais especializados, promovendo um processo de intensa diferenciação em todas es-
sas áreas. Na esfera jurídica, essa ampla especialização gera uma alta complexidade do 
sistema jurídico, o que dificulta sua atuação e efetivação.
• Fragmentação da produção – a nova divisão social do trabalho, caracterizada pela ampla 
flexibilidade da gestão e da automação, provoca a substituição das grandes plantas fabris de 
caráter taylorista/fordista, por fábricas flexíveis e enxutas, multifuncionais e fragmentadas. 
A flexibilidade produtiva facilita a relocalização das plantas produtivas, gerando inclusive 
impactos nos governos locais, que acontecem principalmente em termos de renúncia 
fiscal, quando os governos locais abdicam de parte de recursos fiscais para favorecer a 
exploração do trabalho ao capital. É possível questionar: por que os governos locais não se 
recusam a fazer esse tipo de negociação? Porque não querem perder a oportunidade de ter 
essas grandes organizações em seus territórios e também temem o isolamento comercial, 
tecnológico e financeiro.
Diante do policentrismo decisório que hoje caracteriza a economia globalizada, 
com suas hierarquias altamente flexíveis, entidades nacionais e supranacionais 
híbridas e estruturas de comando diferenciadas e diversificadas, e do crescente 
predomínio da lógica financeira sobre a economia real, o Estado-nação [...] 
vem sendo progressivamente substituído pelo ‘mercado’, enquanto instância de 
coordenação da vida social. (FARIA, 2002, p. 69)
Democracia e globalização 95
Para finalizar, percebe-se que essa ingerência do mercado na organização dos Estados tem 
afetado os processos democráticos e políticos e acarretado alterações individuais, sendo possível 
afirmar que os cidadãos vão se tornando cada vez mais consumidores. Dessa forma, as lidas co-
letivas exercidas pelo poder político dos cidadãos na busca por se construir uma sociedade mais 
justa e igualitária vão sendo substituídas por demandas individuais, voltadas para o consumo de 
bens e serviços.
Considerações finais
Dessa forma, após estudar os avanços na construção de um Estado democrático de Direito, 
com a participação efetiva dos cidadãos na sociedade, discutiu-se sobre a globalização que vem im-
pactando a ordem interna dos Estados, afetando os processos democráticos e tornando o sistema 
jurídico mais complexo e com mais dificuldades de efetivação de suas normas pelas instituições 
estabelecidas para esse fim.
Cabe destacar uma análise crítica sobre a relação entre o capitalismo e a democracia. 
Segundo Wood (2010), nas sociedades capitalistas há uma divisão estrutural entre a esfera polí-
tica e a esfera econômica. Em virtude dessa separação, o Estado cria mecanismos que reduzem 
a democracia a uma dimensão formal, jurídico-política, para que não haja repercussão na esfera 
econômica. Dessa forma, na democracia liberal há um resguardo da esfera econômica, que não 
fica sujeita às decisões democráticas.
Ampliando seus conhecimentos 
O texto a seguir é um trecho do livro de Ellen Meiksins Wood, intitulado Democracia 
contra capitalismo, em que a autora faz uma análise crítica sobre a relação entre a democracia e 
o capitalismo.
Democracia contra capitalismo
(WOOD, 2010, p. 27-28)
Ficamos então com mais perguntas que respostas. Como poderia a cidadania, nas condições 
atuais e com um corpo inclusivo de cidadãos, recuperar a importância que já teve? Qual o 
significado, numa democracia capitalista moderna, de não apenas preservar os ganhos do libe-
ralismo, das liberdades civis e da proteção da “sociedade civil”, não apenas para inventar con-
cepções mais democráticas de representação e novos modos de autonomia, mas também para 
recuperar os poderes perdido da “economia”? O que seria necessário para recuperar a demo-
cracia da separação formal entre o “político” e o “econômico”,quando o privilégio político foi 
substituído pela coerção econômica, qual o significado da extensão da cidadania – e isso quer 
dizer não somente maior igualdade de “oportunidades”, ou direitos passivos de bem-estar, mas 
também a responsabilidade democrática ou independência ativa – na esfera econômica?
Seria possível imaginar uma forma de cidadania democrática que penetrasse o domínio 
lacrado pelo capitalismo moderno? Seria possível que o capitalismo sobrevivesse a essa exten-
são da democracia? O capitalismo é compatível com a democracia em seu sentido literal? Se 
Sociologia Jurídica96
persistirem as suas dificuldades atuais, continuará o capitalismo sendo compatível com o libe-
ralismo? Poderá o capitalismo se apoiar na sua capacidade de garantir a prosperidade material, 
e será ele capaz de triunfar junto com a democracia liberal, ou sua sobrevivência em tempos 
difíceis vai depender da redução dos direitos democráticos?
Seria a democracia liberal, na teoria e na prática, adequada para enfrentar as condições do 
capitalismo moderno, para não falar do que existe fora e além dele? A democracia liberal 
parece o fim da história por haver ultrapassado todas as alternativas imagináveis ou por ter 
exaurido sua própria capacidade, enquanto esconde outras possibilidades? Ela realmente 
superou todos os rivais ou apenas ocultou da vista temporariamente?
A tarefa que o liberalismo estabelece para si mesmo é, e continuará a ser, indispensável. Enquanto 
houver Estados, haverá a necessidade de controlar seu poder e proteger os poderes e as organi-
zações independentes que existem fora do Estado. Quanto a isso, qualquer tipo de poder social 
precisa ser cercado pela proteção da liberdade de associação, de comunicação, de diversidade de 
opiniões, de uma esfera privada inviolável etc. Qualquer futura democracia continuará a receber 
lições sobre esses temas da tradição liberal, tanto na teoria como na prática. Mas o liberalismo 
– até mesmo como ideal, para não falar de sua realidade carregada de imperfeições – não está 
equipado para enfrentar as realidades do poder numa sociedade capitalista, muito menos para 
abranger um tipo mais inclusivo de democracia do que o que existe hoje.
Atividades
1. Qual a importância social da constituição de um Estado democrático de Direito?
2. Qual a relação entre o Estado democrático de Direito e o exercício da cidadania?
3. De acordo com Santos (2002), como acontece o fenômeno da globalização?
4. Estabeleça uma relação entre o processo de globalização, o Estado democrático de Direito e 
o ordenamento jurídico nacional.
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Democracia e globalização 97
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8
Mudança social e justiça
Você já parou para pensar se uma sociedade pode ser alterada? Como essas mudanças 
podem acontecer?
Neste capítulo, será estudado o conceito de mudança social e como podem acontecer essas 
alterações em uma coletividade. Também será analisado o conceito de movimentos sociais, seus 
elementos principais e seus reflexos na sociedade.
Para finalizar, será abordado o conceito de justiça social como um valor presente na socie-
dade, importante para possibilitar as transformações sociais.
8.1 O que são movimentos sociais?
Estudar os movimentos sociais possibilita alguns questionamentos: Como é 
possível definir movimentos sociais? Por que eles surgem? Quais suas característi-
cas? O que os diferencia de outras ações coletivas?
Primeiramente, é preciso lembrar que as sociedades não são estáticas, elas estão 
em constante processo de mudança. Para Antonio Carlos Gil (2011), as mudanças sociais 
são tão importantes para o estudo das sociedades quanto o estudo da ordem, mas algumas mudanças vão 
acarretar alterações significativas na sociedade, enquanto outras são mais particulares. Joel M. Charon 
(2000, p. 198) afirma que “falamos em mudança social quando um padrão social (estrutura, cultura, insti-
tuições) é significativamente diferente do que foi no passado”. No Brasil, é possível citar como uma grande 
mudança social a publicação da Lei Áurea (BRASIL, 1988a), que libertou os escravos, gerando uma nova 
forma de organização social com base no trabalho livre que se intensificou no país.
Pode-se citar diversos fatores que contribuem para que as mudanças ocorram no seio de 
uma sociedade:
• Cultura – a cultura é fruto do conhecimento acumulado da humanidade e, dessa forma, 
é construída e modificada ao longodos tempos, criando padrões que orientam compor-
tamentos dentro de uma sociedade.
• Conflito – as sociedades mantêm um padrão de ordem em suas estruturas, mas também 
há tensões entre indivíduos e instituições que podem gerar conflitos, resultando, muitas 
vezes, em pressões que acarretam mudanças.
• Ideias – novas formas de pensar podem gerar novos comportamentos.
• Demografia – Assim como a alteração populacional, os movimentos migratórios tam-
bém possibilitam grandes mudanças sociais.
• Sistema econômico – a economia é um fator importante que influencia na organi-
zação e no desenvolvimento da sociedade, tanto nas crises quanto nos momentos 
de desenvolvimento.
Vídeo
Sociologia Jurídica100
• Tecnologia – as inovações tecnológicas estão acontecendo de forma cada vez mais acele-
rada, possibilitando mudanças dentro da sociedade.
• Direito – o sistema normativo de uma sociedade também sofre as influências advindas 
da sociedade, mas, uma vez constituídas as normas jurídicas, estas também são fatores de 
influência na ocorrência de mudanças sociais.
• Forças políticas – as sociedades são organizadas por indivíduos e grupos diferentes que 
se organizam na busca de diversos interesses. Dessa forma, essa diversidade de forças po-
líticas dentro de uma sociedade transforma a sua estrutura e organização.
Assim sendo, verifica-se que as mudanças são parte de uma sociedade e os fatores que irão 
contribuir para sua existência podem ser muito variados, impactando de formas diferentes uma 
determinada sociedade. 
Uma das formas de gerar mudanças dentro de uma sociedade são os movimentos sociais. 
O sociólogo britânico Anthony Giddens (2012, p. 713) afirma que esses movimentos são “tenta-
tivas coletivas de promover um interesse comum ou garantir um objetivo comum fora das insti-
tuições estabelecidas”. O autor destaca a esfera de atuação dos movimentos sociais que acontecem 
no âmbito da sociedade civil. Já a professora Maria da Glória Gohn (2000) esclarece que é preciso 
não generalizar e considerar como movimentos sociais todas as ações que ocorrem na esfera não 
institucional, mas esses movimentos atuam na esfera pública não governamental, onde podem dar 
visibilidade às suas ações.
De acordo com Alain Touraine (1996), as ações coletivas surgem por não encontrarem res-
postas no sistema político existente, seja por sua limitação, seja por sua paralização, mas, também, 
podem surgir devido a interesses e objetivos de transformar a ordem política existente. “Por um 
lado, as mobilizações coletivas aparecem como um resíduo que não pode ser tratado pelas institui-
ções; por outro, manifestam uma progressão radical ou revolucionária dirigidas contra instituições 
que protegem interesses dominantes que só podem ser derrubados pela violência” (TOURAINE, 
1996, p. 83-84).
No entanto, alerta Touraine (1996) que há diferenças entre os movimentos sociais e as ações 
coletivas. As ações coletivas podem ter origem não democrática, enquanto os movimentos sociais 
e a democracia são indissociáveis, posto que apenas em uma sociedade democrática os indivíduos 
podem formar movimentos sociais baseados na liberdade de escolha política de cada um e na pos-
sibilidade de buscar um bem comum junto à defesa de interesses particulares. Assim, para o autor, 
a ideia de movimentos sociais deve ser oposta à ideia de violência, mesmo porque a própria de-
mocracia deve se opor à violência e possibilitar a ação plural dos indivíduos na sociedade, criando 
espaços de respeito à diversidade.
Dessa forma, Gohn (2000) acredita que para a análise dos movimentos sociais é preciso di-
ferenciá-los de outros conceitos. Os grupos de interesses caracterizam-se por terem uma vivência 
anterior à sua organização, que os identifica em suas demandas, mas um movimento social pres-
supõe a existência de uma identidade posterior à reunião dos indivíduos para uma luta coletiva. 
Por exemplo, um grupo de indivíduos que não possuem moradia têm uma realidade comum, mas, 
para serem parte de um movimento social, precisam criar uma identidade a partir da demanda em 
Mudança social e justiça 101
comum, criando e renovando suas ideias, ações e valores. As formas de atuação realizadas por um 
grupo, como uma passeata, não caracterizam um movimento social, posto ser algo esporádico e 
momentâneo; os movimentos sociais são mais amplos, pois têm uma continuidade na organização 
e na elaboração de demandas que perduram no tempo.
Assim, de acordo com Gohn (2000, p. 13), os movimentos sociais podem ser definidos como:
ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais perten-
centes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e 
criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estrutu-
ram-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de 
conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e políti-
co-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interes-
ses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade 
e é construída a partir da base referencial.
Desse conceito, pode-se extrair os elementos que compõem um movimento social:
• Ação coletiva – os movimentos sociais são formações coletivas nas quais indivíduos com 
interesses e identidade sobre um determinado assunto unem-se, de forma organizada, 
com o propósito de alcançar seus objetivos.
• Caráter sociopolítico – os movimentos sociais decorrem de interesses e conflitos perten-
centes a determinada sociedade, e, ao serem organizados, adquirem um caráter político, 
pois têm a intenção de transformar ou alterar um determinado quadro social.
• Diversidade de atores – um movimento social tem uma pluralidade de atores que o cons-
titui, pois, se houvesse apenas interesses de um grupo ou classe social, o movimento es-
taria vinculado a intenções particulares – sendo que, em realidade, ele é mais amplo em 
seus interesses e reivindicações.
• Politização das demandas – entendendo a política como organização e exercício do po-
der em uma polis (cidade), as demandas advindas dos movimentos sociais são politizadas, 
pois passam a ser o exercício do poder por seus integrantes, que dispõem de maior cons-
ciência de sua cidadania.
• Identidade – com a organização do movimento, de seus interesses e demandas, há a for-
mação de uma identidade social, pois seus integrantes passam a criar uma unidade e ser 
reconhecidos pelo discurso e práticas que desenvolvem.
• Princípio da solidariedade – a solidariedade é um elemento importante dentro dos movi-
mentos sociais, pois eles não são homogêneos e harmônicos (mesmo dentro dos movimen-
tos sociais há disputas e divergências). É justamente a solidariedade que cria a unidade e 
possibilita a ligação entre os diversos atores e as possíveis divergências existentes.
Assim, “os movimentos geram uma série de inovações nas esferas pública e privada, partici-
pando direta ou indiretamente da luta política de um país e contribuindo para o desenvolvimento 
e transformação da sociedade civil e política” (GOHN, 2000, p. 13). Mas cabe questionar: quais são 
as etapas de constituição de um movimento social?
Sociologia Jurídica102
Para Gohn (1997), um movimento social segue as etapas descritas na Figura 1.
Figura 1 – Etapas de surgimento de um movimento social
consolidação e/ou institucionalização do movimento
situação de carências ou ideias e conjunto de metas a atingir
formulação das demandas por um pequeno número de pessoas
aglutinação de pessoas em torno das demandas
transformação das demandas em reivindicações
organização elementar do movimento
formulação de estratégias
práticas coletivas, como reuniões e assembleias
encaminhamento das reivindicações
práticas de difusão
negociação com os opositores ou intermediários
Fonte: Elaborada pela autora com base em Gohn, 1997.
Assim sendo, pode-se verificar que os movimentos sociais são decorrentes das necessida-
des de alteração dentro deuma sociedade. Os indivíduos organizam-se por conta dessas neces-
sidades e reivindicam seus objetivos conjuntamente, podendo assim alcançá-los.
8.2 Relação entre movimentos sociais e as mudanças sociais
No Brasil, na década de 1980, os movimentos sociais foram importantes na 
contribuição para a transformação da sociedade em um país democrático.
Por um lado, a constituição dos espaços públicos representa o saldo positivo 
das décadas de luta pela democratização, expresso especialmente – mas não 
só – pela Constituição de 1988, que foi fundamental na implementação destes 
Vídeo
Mudança social e justiça 103
espaços de participação da sociedade civil na gestão da sociedade. Por outro 
lado, o processo de encolhimento do Estado e da progressiva transferência de 
suas responsabilidades sociais para a sociedade civil, que tem caracterizado os 
últimos anos, estaria conferindo uma dimensão perversa a essas jovens expe-
riências. (DAGNINO, 2004, p. 97)
Já na década de 1990, em virtude dos ideários neoliberais incorporados na estrutura do 
governo nacional, a concepção de um Estado mínimo ganha força, e esse esvaziamento do Estado 
deixa um espaço livre na sociedade que passa a ser ocupado por indivíduos especializados em de-
terminadas áreas sociais, posteriormente denominado Terceiro Setor.
No entanto, cabe esclarecer que essa nova forma de associativismo não são movimentos 
sociais, mas articulam-se com diversos movimentos sociais, conforme sejam convergentes os inte-
resses e objetivos das organizações não governamentais e dos movimentos sociais.
As organizações não governamentais, a partir da década de 1990, perdem parte de sua 
autonomia devido à ligação com o Estado, criando uma outra forma de atuação da sociedade 
civil organizada. Inclusive o Estado passa a regulamentar essas organizações, em especial com a 
Lei n. 9.790 (BRASIL, 1999), que regula as Organizações Sociais de Interesse Público.
Como o tema deste capítulo são os movimentos sociais e sua relação com as mudanças 
sociais, é importante destacar aqui que “os movimentos sociais surgem com o objetivo de trazer 
mudanças em uma questão pública, como a expansão dos direitos civis para um segmento da po-
pulação” (GIDDENS, 2012, p. 714).
Ao mesmo tempo que na sociedade surgem os movimentos sociais que buscam mudanças 
na esfera pública, também surgem os movimentos que são contrários a esses interesses e que bus-
cam a conservação da sociedade. Um exemplo desse tipo de ação e reação existente na sociedade 
brasileira é a divergência em relação à ampliação do direito ao aborto. Enquanto há movimentos 
sociais que buscam a expansão do direito de realizá-lo, há outros movimentos que são contrários a 
isso e, muitas vezes, inclusive, querem uma diminuição das regras já existentes na sociedade, pro-
pondo e defendendo um fluxo de restrição de direitos.
A disputa política entre projetos políticos distintos assume então o caráter de 
uma disputa de significados para referências aparentemente comuns: participa-
ção, sociedade civil, cidadania, democracia. Nessa disputa, onde os deslizamen-
tos semânticos, os deslocamentos de sentido, são as armas principais, o terreno 
da prática política se constitui num terreno minado, onde qualquer passo em 
falso nos leva ao campo adversário. Aí a perversidade e o dilema que ela coloca, 
instaurando uma tensão que atravessa hoje a dinâmica do avanço democrático 
no Brasil. (DAGNINO, 2004, p. 97)
No entendimento de Giddens (2012, p. 715), “os movimentos sociais estão entre as formas 
mais poderosas de ação coletiva. Campanhas persistentes e bem organizadas podem trazer resul-
tados dramáticos”.
Remo Mutzenberg (2011) explica que os movimentos sociais podem ser classificados em 
três grandes grupos:
Sociologia Jurídica104
1. Diversidade e direitos – nesses movimentos sociais estão os grupos que têm por ob-
jetivos a luta por respeito à diversidade e a conquista de direitos relacionados à plura-
lidade em seus diversos aspectos, como a questão da saúde, dos direitos reprodutivos, 
da violência, do trabalho. Incluem-se nessa categoria os movimentos pelo respeito à 
diversidade de gênero, como o movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e 
transexuais), os movimentos de direitos da mulher, que são compostos por uma diversi-
dade de mulheres (trabalhadoras, camponesas, afro-descentes, indígenas, entre outras), 
os movimentos identitários e culturais, em especial o movimento negro, que ativamente 
se organiza para a conquista de direitos e respeito à cultura, como no caso da aprovação 
de diversas normas jurídicas relacionadas às cotas raciais para acesso às universidades 
públicas, por exemplo.
Figura 2 – Movimento feminista
je
nt
ak
es
pi
ct
ur
es
/iS
to
ck
ph
ot
o
2. Lutas por habitabilidade, trabalho e equipamentos e serviços coletivos – nesse grupo 
de movimentos sociais estão incluídos os movimentos que lutam por conquista de mo-
radia, trabalho, saúde, equipamentos públicos eficientes e propriedade da terra. Exercem 
esse movimento as associações de moradores, associações de pais e professores, os con-
selhos comunitários e os sindicatos.
3. Globalização e antiglobalização – os movimentos sociais que estão incluídos nesse 
grupo são aqueles relacionados à expansão do sistema neoliberal no mundo, incorpo-
rando em seus debates a questão do capitalismo, o processo de globalização e seus efei-
tos, como o aumento da desigualdade social e a desproteção ao meio ambiente. Estão 
nesse grupo os movimentos conhecidos como o Fórum Social Mundial e o Occupy.
Mudança social e justiça 105
Figura 3 – Movimento Occupy
M
er
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to
ck
ph
ot
o
Assim, verifica-se a importância desses movimentos como formas de reivindicação e mu-
dança social baseadas em interesses advindos da sociedade e da organização de indivíduos que 
exercem sua cidadania de forma ativa.
8.3 A justiça como valor social
Após o estudo sobre os movimentos e as mudanças sociais, faz-se necessário 
analisar o valor da justiça, pois está presente nos movimentos que buscam uma 
sociedade mais justa.
Mas o que é uma sociedade justa? É possível construir uma sociedade justa? 
Quais as características dessa sociedade?
Jonh Kenneth Galbraith (1996) afirma que uma sociedade justa é aquela que é alcançável, 
isto é, aquela que é possível de ser construída por seus integrantes, pois em todas as sociedades há 
barreiras que estão postas, muitas vezes pela própria natureza, mas, ao mesmo tempo, uma socie-
dade não pode abrir mão de determinados objetivos. “Na sociedade justa, todos os cidadãos devem 
desfrutar de liberdade pessoal, de bem-estar básico, de igualdade racial e étnica, da oportunidade 
de uma vida gratificante” (GALBRAITH, 1996, p. 4).
Da análise do autor, pode-se identificar alguns elementos necessários ao desdobramento de 
uma reflexão mais aprofundada.
• Uma sociedade alcançável – essa característica permite a reflexão sobre o atributo da 
sociedade ser dinâmica. Se uma sociedade for justa, pode-se inferir que seja algo pron-
to, estático. Mas ao caracterizá-la como alcançável, permite entendê-la em movimento, 
em processo de construção. Também permite compreender as limitações que cada so-
ciedade possui, podendo analisar a justiça pela ótica das possibilidades, das potências 
existentes dentro da sociedade.
Vídeo
Sociologia Jurídica106
• Valores – mesmo uma sociedade sendo dinâmica e estando em processo de construção e 
aperfeiçoamento, os valores estão relacionados à ética – que pode ser considerada um con-
junto de valores que têm por finalidade orientar as ações dos indivíduos e possibilitar um 
aperfeiçoamento das relações sociais, visando a uma convivência harmoniosa entre seus 
integrantes. Assim, uma sociedade baseada em valores éticos é uma sociedade ética. No 
conceito trazido por Galbraith, estão inclusos alguns valores, como a liberdade e a igual-
dade. No ordenamento jurídico brasileiro, em especial na Constituição Federal (BRASIL, 
1988), esses dois valores fazem parte da categoriade direitos fundamentais (art. 5º, caput 
e inciso I).
• Vida gratificante – uma vida gratificante pode ser considerada uma vida boa de ser vivi-
da, isto é, uma vida digna, em que cada indivíduo tenha oportunidades de exercitar suas 
potencialidades e viver com qualidade de vida e segurança. No ordenamento jurídico 
brasileiro, a dignidade da pessoa humana assume a natureza de fundamento da República 
Federativa Brasileira (art. 1° CF).
Agnes Heller (1998) explica que, para a construção de uma vida boa, esta deve estar rela-
cionada à ideia de justiça, que é a sua base. De acordo com essa autora, a vida boa é constituída de 
três elementos:
a. Certeza/retidão/honestidade – a condição para uma vida boa é uma condição moral, a 
retidão. Assim, o ponto de partida é o conceito de pessoa correta. A escolha existencial 
pela retidão/honestidade é uma escolha racional e moral. “A escolha constitui uma resolu-
ção de ser o que somos”. Dessa forma, as escolhas boas, com base naquilo que é o bem, são 
aquelas escolhas que refletem em uma vida boa. As pessoas honestas e boas (certas) são 
aquelas que agem buscando a criação do melhor mundo moral possível, que é o melhor 
mundo sociopolítico possível.
Quadro 1 – Máximas proibitivas e máximas imperativas
Máximas proibitivas Máximas imperativas
Não escolha normas que não podem ser tornadas 
públicas.
Reconheça igualmente todas as pessoas como livres e 
racionais.
Não escolha normas cuja observância envolve, 
em princípio, o uso de pessoas como simples meio.
Reconheça todas as necessidades humanas, exceto 
aquelas cuja satisfação envolve o uso de outras pessoas 
como simples meios, por razão de princípio.
Não escolha normas em que nem todo mundo é livre 
para escolher.
Respeite pessoas igualmente segundo as virtudes e 
méritos (morais).
Não escolha normas como normas morais, cujas 
observâncias não são um objetivo por si mesmo.
Mantenha a dignidade humana em todas as suas ações.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Heller, 1998, p. 400.
b. Desenvolvimento de dons e talentos e exercício dos talentos – para a construção de 
uma sociedade justa, é preciso que haja o desenvolvimento e o exercício dos talentos de 
seus integrantes. De acordo com Heller (1998), esse processo é o processo de construção 
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do próprio “eu”: cada um se autocompõe baseado nas possibilidades, na sociedade e nas 
escolhas que faz. Para a autora (1998, p. 420), o melhor mundo sociopolítico possível é 
aquele que oferece a possibilidade ótima para que os indivíduos possam desenvolver seus 
talentos, de acordo com três argumentos:
1. diferentes modos de vida permitem diferentes talentos; a pessoa é livre para abando-
nar um caminho e tomar outro, dependendo de suas necessidades;
2. uma vez que nesse universo nenhum modo de vida envolve dominação, e o intercur-
so social entre os caminhos de vida também não envolve dominação, não pode exis-
tir qualquer dom cujo desenvolvimento em predicado não seja permitido. A pessoa 
honesta pode desenvolver, e praticar, qualquer talento que tenha;
3. cada ambiente permite o desenvolvimento de virtudes intelectuais, e, simultanea-
mente, o elemento intelectual de “observar honestidade” será menos exigente e, 
principalmente, será restrito pela certeza de discurso prático e boa phronesis.
c. Profunda ligação em emoções pessoais – para Heller, a expressão ligação profunda é 
aquela que transcende a determinação social. As pessoas honestas são unidas por ligação 
de solidariedade universal, sob a égide da bondade. “Ser honesto é oferecer a mão a cada 
ser humano [...]” (HELLER, 1998, p. 428).
Heller (1998) conclui que a bondade está para além da justiça, pois entende que encerra em 
si a virtude da justiça e o seu exercício. Mas é possível questionar: como pode se dar esse exercício 
da justiça?
Otfried Hoffe (2005) explica que, para que se possa constituir uma sociedade boa para se vi-
ver, esta deve ter por base uma democracia qualificada, em que os cidadãos não são apenas objetos 
do Direito e do Estado, mas também são seus sujeitos. Assim, é preciso que os indivíduos deixem a 
posição de súditos para exercer a condição de cidadão. “Na sociedade cívica, o Estado deixa de se 
apresentar como uma unidade entre detentores de cargos públicos e seus súditos, para formar uma 
unidade entre indivíduos livres e iguais” (HOFFE, 2005, p. 226).
Em uma sociedade cívica, quatro virtudes são necessárias, conforme apresenta o quadro 
a seguir:
Quadro 2 – Virtudes cívicas em uma democracia qualificada
Virtudes cívicas Descrição
Senso de direito e coragem civil
Baseado em uma tríade jurídica: viver honestamente, não ferir ninguém e deixar 
ou atribuir a cada um o que é seu.
Senso de justiça e tolerância
O senso de justiça pode ser identificado em três campos de atividade: 1) instituir 
um Estado justo (sem privilégios e com o reconhecimento dos indivíduos como li-
vres e iguais); 2) desenvolvimento de instituições do Estado e organização de uma 
legislação que conduza aos princípios constitucionais; 3) aplicação do Direito e 
da Justiça em casos individuais.
O senso de tolerância é a base para o reconhecimento da equidade, haja vista que 
nas sociedades existem realidades antagônicas e paralelas, isto é, há um pluralis-
mo na sociedade que precisa ser respeitado. A tolerância deve ser ativa buscando 
a alteridade.
phronesis: sabe-
doria prática.
(Continua)
Sociologia Jurídica108
Virtudes cívicas Descrição
Senso cívico
Refere-se ao engajamento do indivíduo em prol da existência e do bem-estar do 
Estado em benefício da democracia. Para tanto, há quatro critérios universais: 
1) nenhum indivíduo será capaz de eliminar todas as necessidades existentes 
na face da Terra (senso cívico democrático formal e mínimo); 2) aquele que não 
ajudar, quando chegar a sua vez, passará por oportunista (senso cívico participa-
tivo); 3) cortejar a menor necessidade de um indivíduo próximo com a maior ne-
cessidade de um indivíduo distante de nós (senso cívico nacionalista e seu efeito 
externo); 4) nenhuma obrigação jurídica deverá ser violada.
Senso comunitário
Resistir à estatização da sociedade, limitar a burocratização, ampliando a mar-
gem de ação dos cidadãos.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Heller, 1998, p. 217-252.
Dessa forma, para se alcançar uma sociedade em que a justiça social seja um de seus va-
lores centrais, é preciso a intensificação de valores entre seus integrantes. Nas palavras de Hoffe 
(2009), deve-se desenvolver as virtudes cívicas que possibilitem o exercício da solidariedade entre 
os integrantes de uma sociedade. Também se faz fundamental a participação desses indivíduos no 
exercício dessas virtudes de forma coletiva e democrática, pois, assim, haverá o envolvimento de 
um número maior de indivíduos, uma maior contribuição de ideias e uma maior propagação 
de novas ideias e comportamentos.
Considerações finais
Por fim, é possível questionar: e o Brasil, conseguirá ser uma sociedade justa?
Sim, será possível construir uma sociedade justa, mas, para isso, será necessária uma trans-
formação nos valores dos indivíduos, para que possam identificar a importância da solidariedade 
entre seus integrantes. Olhar além dos interesses particulares e verificar que todos os integrantes 
de uma sociedade são importantes e devem ser respeitados em sua dignidade. Alterar a forma 
de pensar e incorporar virtudes cívicas nas decisões de cada um pode possibilitar uma profunda 
transformação na sociedade brasileira. Basta começar.
Ampliando seus conhecimentos 
O trecho a seguir foi extraído do livro Fórum Social Mundial: manual de uso, de autoria de 
Boaventura de Sousa Santos, sociólogo e professor titular da Universidade de Coimbra em Portugal 
e um dos idealizadores e realizadores do Fórum Social Mundial.
A novidade do Fórum Social Mundial
(SANTOS, 2004, p. 6)
O Fórum Social Mundial (FSM) é um fenômeno social e político novo. O fato de ter antece-
dentes não diminui a sua novidade, antespelo contrário. O FSM não é um evento. Nem é uma 
mera sucessão de eventos, embora procure dramatizar as reuniões formais que promove. Não 
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é uma conferência acadêmica, embora para ele convirjam os contributos de muitos investi-
gadores. Não é um partido ou uma internacional de partidos, apesar de nele participarem 
militantes e activistas de muitos partidos de todo o mundo. Não é uma organização não 
governamental ou uma confederação de organizações não governamentais, muito embora a 
sua concepção e organização devam bastante às organizações não governamentais. Não é um 
movimento social, apesar de muitas vezes se autodesignar como o movimento dos movimen-
tos. Embora se apresente enquanto agente da transformação social, o FSM rejeita a noção 
de um sujeito histórico e não atribui prioridade a qualquer ator social específico nesse pro-
cesso de transformação social. Não assume uma ideologia claramente definida, tanto naquilo 
que rejeita como naquilo que defende. Considerando que o FSM se autoconcebe enquanto 
luta contra a globalização neoliberal, será essa uma luta contra uma forma de capitalismo ou 
contra o capitalismo em geral? Tendo em conta que o FSM se encara como sendo uma luta 
contra a discriminação, a exclusão e a opressão, será que o sucesso dessa luta pressupõe um 
horizonte pós-capitalista, socialista e anarquista, ou, pelo contrário, pressupõe que nenhum 
horizonte seja especificamente definido? Atendendo a que a ampla maioria das pessoas que 
participam no FSM se identifica como apoiante de uma política de esquerda, quantas defini-
ções de “esquerda” cabem no FSM? E o que pensar daqueles que recusam ser definidos como 
de esquerda ou de direita por considerarem que esta dicotomia é um particularismo nortecên-
trico ou ocidental-cêntrico, e procuram definições políticas alternativas? As lutas sociais que 
encontram expressão no FSM não se ajustam adequadamente a nenhuma das vias de trans-
formação social sancionadas pela modernidade ocidental: reforma e revolução. Para além do 
consenso sobre a não-violência, as suas formas de luta são extremamente diversas e estão 
distribuídas num contínuo entre o polo da institucionalidade e o polo da insurreição. Mesmo 
o conceito de não violência está aberto às interpretações mais díspares. Finalmente, o FSM 
não está estruturado de acordo com qualquer dos modelos de organização política moderna, 
seja ele o do centralismo democrático, o da democracia representativa ou o da democracia 
participativa. Ninguém o representa ou está autorizado a falar e, muito menos, a tomar deci-
sões em seu nome, ainda que ele seja concebido como um fórum que facilita as decisões dos 
movimentos e das organizações que nele participam.
Atividades
1. Quais as principais características de um movimento social? Explique-as com suas pró-
prias palavras.
2. Pode-se afirmar que o surgimento do Terceiro Setor no Brasil suprimiu os movimentos 
sociais? Justifique sua resposta.
3. Qual a relação entre os movimentos sociais e as mudanças sociais?
4. Para Gailbraith (1996), o que é preciso para a construção de uma sociedade justa?
Referências
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Sociologia Jurídica110
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TOURAINE, Alain. O que é a democracia? Petrópolis: Vozes, 1996.
Gabarito
1 As relações entre a sociedade e o Direito
1. O objeto de estudo da Sociologia é a sociedade compreendida como um grupo social, diver-
sificado, complexo, dinâmico e com objetivos próprios. As pesquisas sociológicas permitem 
uma ampliação do conhecimento sobre as relações sociais, possibilitando sair da esfera do 
senso comum, permitindo explicações diferentes sobre um mesmo fenômeno social, o que 
possibilita uma ampliação das visões sobre uma mesma sociedade. Ao ampliar esse conhe-
cimento, os indivíduos podem adquirir uma maior compreensaão sobre si mesmos, propor-
cionando uma oportunidade de transformação pessoal e social.
2. A norma jurídica é criada pela relação estabelecida entre o Direito as relações sociais. 
Consequentemente, a norma obedece a esse mesmo processo alterando comportamentos, 
mudando instituições, suprindo necessidades sociais.
3. Nesse capítulo o Direito foi estudado como um fato social, visto que as normas jurídicas 
são fruto das necessidades e transformações que ocorrem na sociedade. Portanto, entender 
o Direito apenas como o conjunto de normas imperativas que a organizam não explica por 
que as normas jurídicas são diferentes para cada uma delas e que em uma mesma sociedade 
as normas jurídicas são alteradas ao longo do tempo. Assim, pode-se compreender que há 
interferência na formação das normas jurídicas da cultura, do conhecimento, dos valores, 
das instituições de cada sociedade, e, quando há mudanças nesse contexto social, surgem 
novas demandas na ordem jurídica. Dessa forma, é possível afirmar que o Direito é fruto da 
sociedade e, por isso, é um fato social.
4. O campo de estudo da Sociologia Jurídica é a constituição da norma, em seus trâmites e 
regulamentações legais, e a dimensão de análise dessas normas se dá pela sua vigência.
2 Os clássicos da Sociologia
1. Ao estudar o pensamento de Émile Durkheim, fica claro que, para o autor, a divisão social 
do trabalho interfere na organização da sociedade. Portanto, quanto maior for a divisão so-
cial do trabalho, há maior especialização e maior individualização das pessoas, interferindo 
na coesão social, pois os indivíduos passam a agir movidos mais pelos interesses pessoais, 
havendo uma crise da solidariedade entre as pessoas. Dessa forma, o papel do Estado se 
torna fundamental para a manutenção da coesão social, fiscalizando e participando na re-
gulamentação das profissões e na organização da educação.
Sociologia Jurídica112
2. No estudo de Max Weber há uma preocupação em compreender o sentido dado pelos indi-
víduos às suas ações. Para tanto, o autor define ação social como a ação humana dotada de 
sentido, tendo uma justificativa subjetivamente elaborada. Para o autor, há grande impor-
tância na busca da compreensão de como as ações têm um sentido no âmbito social. Para 
tanto, a relação social estabelecida pelos indivíduosna sociedade é explicada por Weber 
como ações orientadas em função das perspectivas que um indivíduo tem em relação ao 
outro, mas que não tem necessariamente o mesmo sentido em suas ações. Assim, o Direito 
também deve ser analisado por essa perspectiva, e deve-se compreender a relação do indiví-
duo com a lei, pois cada indivíduo pode fazer uma interpretação e um sentido para sua ação 
com base nas normas do Direito.
3. Karl Marx analisa a sociedade capitalista tendo o trabalho como seu elemento central, por-
que o autor entende que nessa etapa do desenvolvimento histórico a sociedade divide-se em 
duas grandes classes: a burguesa e a proletária, em que a primeira é proprietária dos meios 
de produção e a segunda é proprietária da força de trabalho. É por meio dessa relação de 
exploração que se estabelece entre as duas classes que há a produção das mercadorias e a 
geração da mais-valia para a classe burguesa. A classe burguesa, para manter essa infraestru-
tura social, precisa também de uma superestrutura que tem a finalidade de controle. Nessa 
superestrutura da sociedade estão o Direito e o Estado, como elementos de poder e domina-
ção, pois o Estado e o Direito passam a representar os interesses da classe burguesa, que tem, 
além do poder econômico, o poder político.
4. Para os três autores, o Estado tem um papel central de controle. No entanto, para cada um 
deles, Durkheim, Weber e Marx, há um entendimento diferente para essa função. Para Dur-
kheim, o papel de controle do Estado serve para a manutenção da coesão social. Para Weber, 
o Estado tem a função de controle, exercendo uma dominação por meio da racionalidade 
legal, pois, se o Direito pode ser interpretado de diversas formas, é o Estado que deve ter esse 
domínio e também o monopólio da violência. Para Marx, o Estado representa os interesses 
da classe burguesa e tem a finalidade de controle social, pois é necessário à classe dominante 
manter uma infraestrutura social que represente seus interesses econômicos.
3 Entendendo as transformações da sociedade contemporânea
1. De acordo com Giddens, a modernidade é um novo estilo de vida e de organização social 
que surge na Europa a partir do século XVII. Essa nova forma de organização social carac-
teriza-se pela incorporação e desenvolvimento de ideias relacionadas a razão, progresso, 
ciência, sujeito, Estado. Importante destacar que a modernidade está relacionada a um 
momento histórico de ruptura com a sociedade tradicional, com maior liberdade de pen-
samento e ação e a superação de limitações territoriais e econômicas. É na modernidade 
que instituições importantes como o Estado, a produção de mercadorias, o trabalho na 
forma assalariada vão começar a ter sua existência.
Gabarito 113
2. Para Bauman, a pós-modernidade é marcada pela ideia de fluidez, liquidez, incerteza, inse-
gurança. Entende o autor que a modernidade líquida se refere ao tempo atual que a sociedade 
contemporânea está vivendo. É um período em que as marcas da denominada modernidade 
pesada, isso é, a ideia de solidez, segurança, certeza, estão sendo retiradas. É no período da 
modernidade líquida que os principais referenciais humanos como família, classe, naciona-
lidade, política estão derretendo e, dessa forma, o indivíduo vai ficando isolado, tornando-se 
responsável por seus atos e seu destino, gerando consequências como a incerteza e a insegu-
rança, pois, quando se vive em mundo líquido, onde o consumo é incentivado, mas também 
é volátil, passageiro, até as relações pessoais se tornam frágeis.
3. Para Ulrich Beck, a modernização reflexiva é caracterizada pela obsolescência da sociedade 
industrial e pela sociedade de risco. Entende o autor que a modernização é reflexiva porque 
é uma fase de destruição e ao mesmo tempo de criação de uma nova modernidade. No en-
tanto, esse processo de destruição gera riscos que podem fugir ao controle de instituições 
como o Estado.
4. Sim, o Direito tem sofrido os impactos da pós-modernidade. Esses impactos acontecem 
porque a sociedade está em processo de transformação cada vez mais acelerado, e, como o 
Direito é fruto dessa sociedade, precisará também ser alterado para não perder sua função 
social, tornando-se mais diversificado, participativo, cidadão, interdisciplinar e voltado para 
a realização da justiça social.
4 Grupos sociais e hegemonia
1. Um grupo convergente é aquele que reúne diversos grupos com interesses particulares, 
mas que têm pelo menos um interesse em comum – por isso, são convergentes, isto é, têm 
um interesse que está conectando todos esses grupos. Forma-se uma relação intragrupal 
entre esses diversos grupos. Já os grupos divergentes são formados por diversos grupos 
convergentes, mas que são divergentes entre si; isso significa que há interesses em comum 
dentro dos grupos convergentes, mas que entre os grupos há interesses distintos, forman-
do uma relação intergrupal.
2. Para Gramsci, a hegemonia é um processo que se forma quando um grupo ou classe consegue 
transformar um interesse particular em um interesse geral. Nesse processo, o grupo líder for-
ma pactos e alianças utilizando-se de meios diferentes da coerção e da violência. Esse conceito 
de hegemonia pode ser utilizado para a análise da formação das normas jurídicas, pois dentro 
das casas legislativas e dentro da sociedade há disputas por interesses diversos, que se apresen-
tam na construção e aprovação de um projeto de lei. No entanto, é o grupo hegenômico que 
consegue obter um resultado favorável, conseguindo que seu interesse prevaleça.
3. Para Gramsci, o Estado deve ser entendido de forma mais ampla que o conceito liberal de 
Estado, criando o conceito de Estado ampliado. Esse Estado ampliado é formado pela socie-
Sociologia Jurídica114
dade política e pela sociedade civil. A primeira é composta pelos aparelhos administrativo-
-burocrático e político-militar; e a segunda é formada por aparelhos privados de hegemonia.
4. Para Santos, na contemporaneidade, o Estado não conseguiu produzir uma sociedade mais 
justa, igualitária e participativa, pois os grupos hegemônicos produziram uma sociedade 
voltada para os interesses econômicos e corporativos. Dessa forma, o autor faz uma crítica, 
ao afirmar que a própria sociedade se organiza em processos contra-hegemônicos para bus-
car a construção de uma nova forma de organização social baseada em princípios democrá-
ticos de participação social, incluindo só grupos subaltermos para que haja uma ampliação 
dos processos participativos e da cidadania.
5 Direito e ideologia
1. Para Chaui, a ideologia é formada por um processo que tem origem na divisão do trabalho den-
tro de uma sociedade. Nessa divisão do trabalho há, em especial, a divisão entre o trabalho in-
telectual e material. O trabalho intelectual, dessa forma, adquire uma aparente autonomia, que 
irá se refletir na suposta autonomia dos produtores do trabalho intelectual. Assim, o produto do 
trabalho intelectual adquire na sociedade uma certa autonomia, apresenta-se na sociedade como 
ideias abstratas, que explicam a sociedade, mas a explicam de forma invertida, pois tais ideias 
têm base na realidade concreta, mas são demonstradas sob uma óptica invertida. Assim, a autora 
afirma que a ideologia é fruto das ideias da classe dominante, sendo um instrumento de domina-
ção que tem como função ocultar a divisão entre as classes e possibilitar a perpetuação da classe 
dominante sem a necessidade da força física.
2. Althusser entende que não é possível estudar a ideologia sem sua vinculação com o Esta-
do. Para o autor, o Estado é composto por dois corpos: os aparelhos repressivos do Estado 
e os aparelhos ideológicos do Estado. O Direito pertence às instituições que compõem os 
aparelhos ideológicos do Estado, tendo por função a reprodução da força de trabalho, não 
apenas no aspecto da qualificação, mas também na sujeição ao sistema produtivo existente. 
No entanto, o Direito também pertence aos aparelhos repressivos do Estado, pois faz parte 
da superestruturado Estado.
3. Para Gramsci, as ideologias fazem parte das sociedades, não apenas como uma forma de 
controle e de dominação da classe dominante sobre as demais classes, mas como as ideias 
que existem em uma sociedade. Com essa compreensão, o autor afirma existirem duas for-
mas de ideologia na sociedade: as ideologias arbitrárias e as ideologias historicamente orgâ-
nicas. A diferença entre elas é que a primeira, a arbitrária, tem a função de criação de uma 
hegemonia da classe dominante sobre as demais classes, devendo, dessa forma, haver uma 
luta contra esse tipo de ideologia. Já as ideologias historicamente orgânicas são as ideias 
existentes em uma sociedade, independentes de grupos e classes, assim possibilitando que 
dentro dessas ideologias historicamente orgânicas surjam novas ideias e novas formas de 
pensar e agir, o que permite um dinamismo na sociedade e a possibilidade de mudanças.
Gabarito 115
4. Para Gramsci, os intelectuais são fundamentais no processo de mudanças sociais. Para o 
autor, todos os indivíduos são intelectuais, mesmo que nem todos assumam esse papel na 
sociedade. Para ele, é possível dividir os intelectuais em dois tipos: os intelectuais tradicio-
nais e os intelectuais orgânicos. Os primeiros acreditam estar desvinculados das classes a 
que pertencem, mas nem sempre estão. Os segundos são provenientes das classes de origem, 
por isso, são orgânicos. Esses intelectuais orgânicos têm a função de pensar a sua classe. 
A importância apontada a esses intelectuais, pelo autor, refere-se, em especial, aos intelec-
tuais orgânicos da classe proletária, pois eles poderiam romper com o senso comum e gerar 
novas ideias que possibilitem a mudança dentro da sociedade. Dessa forma, esses intelec-
tuais, por meio de uma prática política, poderiam desmistificar ideias presentes na socieda-
de e criar, ao mesmo tempo, uma consciência crítica e transformadora na sociedade.
6 Controle social, violência e política
1. Sim, o Direito faz parte de uma das formas formais de controle social dentro de uma socie-
dade. Entendendo o controle social como estruturas para impedir ou reduzir transgressões 
às normas de uma sociedade, pode-se afirmar que o Direito é uma forma de controle social.
2. Para Marilena Chaui, a violência é todo ato que se opõe à liberdade de agir dos indivíduos, 
tratando-os como se fossem coisas em vez de tratá-los como seres racionais e autônomos. 
Para a autora, a sociedade brasileira tem uma pluralidade de mecanismos que impedem 
ou dificultam o exercício da autonomia e da liberdade dos seus integrantes, dessa forma 
constituindo-se como uma sociedade violenta.
3. Para Michel Foucault, a vigilância na sociedade gera uma sociedade disciplinar que tem por 
finalidade criar sujeitos mais dóceis e úteis à sociedade. Dessa forma, a disciplina tem por obje-
tivo o controle das atividades dos indivíduos e de seus corpos para um ajustamento às normas 
da sociedade.
4. Para Hannah Arendt, o poder é a habilidade de agir em uníssono, isto é, agir em um gru-
po. Assim, o poder não pertence a uma pessoa, mas ao grupo que o concede, legitimando 
alguém a exercê-lo em nome dos demais. A violência, por sua vez, é um instrumento que 
pode ser utilizado por aquele indivíduo que não tem mais legitimidade em seu grupo, isto 
é, não tem mais poder. Por fim, a política relaciona-se com esses conceitos, pois se o poder 
é um agir em grupo, logo é um ato de política, isto é, a forma de constituição do poder e 
de escolha de seus representantes efetiva-se pelo exercício da política.
7 Democracia e globalização 
1. Quando uma sociedade constitui um Estado democrático de Direito, significa que houve a 
compreensão da necessidade de democratizar a estrutura do Estado, isto é, que as institui-
ções estatais devem se constituir com base no princípio democrático. Dessa forma, o Estado 
passa a incorporar em sua estrutura e funcionamento o processo democrático e, assim, o 
Sociologia Jurídica116
povo pode estar presente no próprio Estado. Lembrando que um Estado democrático de 
Direito é aquele que tem sua estrutura e seu sistema jurídico limitado pelo poder popular. 
Por fim, a criação de um Estado democrático de Direito significa ter em seu bojo a partici-
pação popular, o que dá ao Estado maior legitimidade popular e maior controle à população, 
evitando os excessos de seus governantes.
2. Compreendendo um Estado democrático de Direito como aquele que tem em suas institui-
ções e estrutura o princípio democrático e a democracia como o poder exercido pelo povo, 
tem-se uma ligação entre esses dois conceitos, o povo. Se o poder é do povo, então, para 
que haja efetivamente o exercício desse poder, é preciso que o povo, como o conjunto dos 
cidadãos de um Estado, exerça seu poder, isto é, exerça sua cidadania. Por meio do exercício 
da cidadania, o Estado e o Direito passam a ter sua constituição e efetividade ligados a essa 
atuação dos cidadãos.
3. Para Boaventura de Souza Santos, a globalização é um fenômeno plural e complexo, pois 
acontece em diversas dimensões: a) a globalização econômica, aquela relacionada a uma 
economia dominada por um sistema financeiro e pelo investimento em escala global e por 
processo de transformação produtiva; b) a globalização social, tendo por característica de 
novidade a presença das empresas multinacionais que concentram capital e o processo pro-
dutivo e contribuem para a geração de grandes desigualdades em esfera mundial; c) a glo-
balização política, na qual há grande influência sobre a autonomia política e a soberania dos 
Estados periféricos ou semiperiféricos; d) a globalização cultural, caracterizada pela intensi-
ficação e ampliação dos meios de comunicação, a disseminação cultural relacionada com a 
capacidade de transformação da cultura em mercadorias.
4. Conforme estudado, o processo de globalização não é uniforme nem homogêneo. Há um 
movimento de processo de concentração. Tem havido uma grande concentração de capital 
nas empresas transnacionais que impactam a produção de bens e a prestação de serviços no 
mundo, afetando diretamente a organização dos Estados, que perdem parte de sua autono-
mia. Contribui para essa diminuição do poder dos Estados a criação de entidades suprana-
cionais que passam a regular e orientar políticas que anteriormente eram realizadas pelos 
Estados. Dessa forma, o processo de globalização impacta a soberania dos Estados no que 
tange à sua forma de organização e de definição de políticas públicas, e, assim, os processos 
democráticos que deveriam ser a base para a constituição dos Estados e do Direito são im-
pactados pela ordem externa ao Estado.
8 Mudança social e justiça 
1. Um movimento social é uma ação coletiva que tem caráter sociopolítico, formado por indi-
víduos diferentes, mas que possuem um interesse em comum e se organizam para alcançar 
objetivos afins. Assim, um movimento social tem por características: a) ser uma ação cole-
tiva, isto é, ser a união de diversas pessoas que atuam de forma conjunta; b) ter um caráter 
sociopolítico, visto que deriva de demandas sociais e tem sua atuação no seio da sociedade, 
Gabarito 117
e esse exercício conjunto é uma ação política que visa a objetivos que são as mudanças so-
ciais; c) possuir diversidade de atores, sendo formado por diferentes pessoas; d) politizar as 
demandas, ou seja, os interesses particulares passam a ser organizados com finalidades co-
letivas; e) ter identidade – a participação de indivíduos diferentes em um movimento social, 
mas com um objetivo em comum, com uma demanda coletiva, forma uma identidade entre 
seus membros; f) ter solidariedade – a união de indivíduos diferentes, com demandas em 
comum, em um movimento social, acontece pela incorporação do princípio da solidarieda-
de, pois quem não é solidário dificilmente se mobilizará para a luta coletiva na busca pela 
transformação de uma sociedade.
2. Não, os movimentos sociais são diferentes do Terceiro Setor. O Terceiro Setor no Brasil 
ganhou força na décadade 1990, quando houve a incorporação das ideias neoliberais, em 
especial, o entendimento do Estado como um Estado mínimo, isto é, um Estado que atue 
apenas nas áreas essenciais e deixe ao mercado e à sociedade as demais áreas. Dessa forma, 
o Terceiro Setor se expandiu e passou a desenvolver, em parceria com o Estado, ações que 
antes eram desenvolvidas apenas pelo Estado. Ele atua em colaboração com os movimentos 
sociais, mas não se equiparam e não têm a mesma finalidade na sociedade.
3. Os movimentos sociais têm relação com as mudanças sociais, pois os indivíduos, ao se orga-
nizarem em torno de demandas coletivas e buscarem de diferentes formas as reivindicações 
e a difusão de suas ideias e demandas, acabam por possibilitar mudanças sociais ou evitar 
determinadas mudanças contrárias às suas demandas.
4. Para Galbraith (1996), uma sociedade justa é aquela que é possível de ser construída por 
seus integrantes, posto que todas as sociedades têm barreiras que dificultam ou impedem a 
construção de uma sociedade justa. Mas, para que isso aconteça, é preciso a incorporação de 
valores éticos, com base em princípios como os da solidariedade, da liberdade e da igualda-
de. Também se faz necessária a busca por uma vida gratificante, isto é, por uma vida que seja 
boa de ser vivida, que respeite princípios como o da dignidade da pessoa humana.
Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6389-5
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