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Fundamentos Metodológicos do Ensino de Ciências Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Wanderli Cunha de Lima Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Conteúdos • Conteúdos Conceituais, Procedimentais e Atitudinais; • Os Currículos de Ciências no Ensino Fundamental; • Os Conteúdos de Ciências no Ensino Infantil; • Objetivos, Competências e Habilidades no Ensino de Ciências. • Compreender como a seleção e o desenvolvimento de conteúdos direciona a atuação docente, infl uenciando o aprendizado. OBJETIVO DE APRENDIZADO Conteúdos Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Conteúdos Conteúdos Conceituais, Procedimentais e Atitudinais Na Educação Escolar, o desenvolvimento do trabalho pedagógico está imbuído do ensino de conteúdos. Podemos dizer que se entende por conteúdo os conheci- mentos específicos que devem ser trabalhados nas diferentes áreas do ensino. Tra- dicionalmente, o ensino de conteúdos – também na área de Ciências – limitava-se ao ensino dos conteúdos conceituais. Atualmente, a proposta de ensino visa a uma formação global do indivíduo. Desta forma, além da aprendizagem de conteúdos conceituais, prevê-se também o ensino de conteúdos atitudinais e procedimentais. Todo o processo de aprendizagem deve assegurar, segundo a Base Nacional Comum Curri- cular (BNCC), o desenvolvimento de dez competências gerais. Documento este já conhecido, tanto em seus aspectos introdutórios, quanto aos específicos das Ciências da Natureza, para nos aprofundarmos no tema desta Unidade sobre conteúdos, vejamos o que a BNCC define como competência: Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocio- nais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. (BRASIL, 2017, p. 8) Ex pl or No tocante ao ensino de Ciências, a BNCC enfatiza esta necessidade ao afirmar ser “[...] importante destacar que aprender Ciências da Natureza vai além do apren- dizado de seus conteúdos conceituais” (BRASIL, 2017, p. 357). Essa mudança de enfoque, orientada desde a primeira implementação de orien- tação curricular oficial, objetiva que essas três dimensões sejam contempladas, a fim de que os alunos se tornem capazes de produzir e usufruir da vida em sociedade (BRASIL, 2001a). Nessa perspectiva, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), já afirmavam que: [...] uma mudança de enfoque em relação aos conteúdos curriculares: ao invés de um ensino em que o conteúdo seja visto como fim em si mesmo, o que se propõe é um ensino em que o conteúdo seja visto como um meio para que os alunos desenvolvam as capacidades que lhes permitam produzir e usufruir dos bens culturais, sociais e econômicos. (BRASIL, 2001a, p. 73) Com o advento da BNCC, este documento relembra que, de acordo com a LDBEN, os “[...] conteúdos curriculares estão a serviço do desenvolvimento das competências na Educação” (BRASIL, 2017, p. 11). Ainda na linha de argumenta- ção desse documento, tais competências devem se fundir para consolidar os direi- tos de aprendizado e desenvolvimento que a referida lei visa garantir. Wartha e Bertoldo (2019), ao analisarem a BNCC, notaram que o ensino por competências – que é explicitado em todo o documento – contrapõem-se ao ensino 8 9 de conceitos e à transmissão de conteúdo. Vimos, aqui, que desde os PCN a neces- sidade de contraposição ao ensino tradicional já era almejada. Em acordo com a nossa argumentação, Wartha e Bertoldo (2019, p. 80) apontam que: Assim, os próprios documentos oficiais exigem a ruptura no atual mo- delo pedagógico de Ensino de Ciências. Portanto, urge a necessidade de buscarmos condições para que este novo paradigma se faça presente nas salas de aula de Ciências. Portanto, desenvolver um trabalho que privilegie essas três dimensões dos con- teúdos a serem ensinados traz ao professor um papel fundamental em sala de aula, tornando-o uma figura-chave no desenvolvimento das atividades, pois, nessa pos- tura de ensino, estará atento a alguns pontos, tais como a autonomia e cooperação dos/entre os alunos, o papel do erro, a forma de avaliação e as inter-relações que ocorrem em sala de aula – professor-aluno; aluno-aluno. Portanto, as suas atitu- des tendem a se diferenciar da dos professores que assumem o ensino tradicional (CARVALHO et al., 2009). A esse respeito, Coll (1992) destaca a importância de se ensinar e aprender, na escola, outras coisas que podem ser consideradas tanto ou mais importantes que os fatos e conceitos, referindo-se ao ensino de determinadas estratégias ou habilidades que possibilitem aos alunos resolver problemas ou selecionar informações perti- nentes em situações novas ou inesperadas – ou, ainda, saber trabalhar em equipe, respeitando e valorizando as características individuais dos demais colegas. Os conteúdos conceituais consistem naqueles que são construídos no decorrer dos tempos pela humanidade, incluindo os fatos, conceitos e princípios. Segundo Zabala (1998), os fatos são aprendidos de forma memorística e possuem caráter concreto e decisivo. Para esse autor, as novas informações são incorporadas como inéditos conhecimentos aos já existentes na estrutura cognitiva, ou seja, dá-se por aproximações sucessivas. Os PCN já faziam referência a essa aprendizagem me- morística, mas ressaltam que não é um processo mecânico. A aprendizagem de conceitos permite organizar a realidade, mas só é possível a partir da aprendizagem de conteúdos referentes a fatos (no- mes, imagens, representações), que ocorre, num primeiro momento, de maneira eminentemente mnemônica. A memorização não deve ser en- tendida como processo mecânico, mas antes como recurso que torna o aluno capaz de representar informações de maneira genérica – memória significativa – para poder relacioná-las com outros conteúdos. (BRASIL, 2001a, p. 74) Mneumônica: significa a arte e técnica de desenvolver a memória. Ex pl or Para Pozo (1998), é preciso que se estabeleçam relações significativas entre os fatos, para que seja possível a construção dos conceitos e princípios. Daía quan- tidade de informação, os materiais utilizados e o grau de organização interna dos 9 UNIDADE Conteúdos alunos são condições para a aprendizagem memorística. Logo, os professores de- vem levar em consideração a idade dos estudantes e a sua respectiva capacidade de memória, ao propor o ensino de conteúdos conceituais. Dependendo da diversidade presente nas atividades realizadas, os alunos buscam informações (fatos), notam regularidades, realizam produtos e generalizações que, mesmo sendo sínteses parciais, permitem verificar se o conceito está sendo aprendido. [...]. Aprender conceitos permite atribuir significados aos conceitos aprendidos e relacioná-los a outros. (BRASIL, 2001a, p. 74) Figura 1 Fonte: Getty Images Portanto, a aprendizagem dos conteúdos conceituais vai se ampliando e se trans- formando ao longo da escolaridade. Segundo os PCN, a aprendizagem dos conceitos está diretamente relacionada ao procedimento, já que este expressa o saber fazer de forma ordenada para se atingir uma meta. “Assim, os conteúdos procedimentais sempre estão presentes nos projetos de ensino, pois uma pesquisa, um experimento, um resumo, uma ma- quete são proposições de ações presentes na sala de aula” (BRASIL, 2001a, p. 75). São os conteúdos procedimentais que mostram o que o aluno deve saber fazer, por conseguinte, são desenvolvidos em sala de aula a partir de ações que mobilizam os alunos. “Eles são apreendidos, principalmente, mediante a realização contínua das ações que compõem o procedimento em situações significativas”. (PORTO; RAMOS; GOULART, 2009, p. 66), podendo ser compreendido no ato de obser- var, experimentar, questionar sobre o assunto em questão, organizar e registrar informações de diferentes linguagens etc. [...] como: formular perguntas e suposições sobre o assunto em estudo; organizar e registrar informações por meio de desenhos, quadros, es- quemas, listas e pequenos textos; comunicar, de modo oral, escrito e por meio de desenhos, perguntas, suposições, dados coletados e conclusões; 10 11 realizar observações, atividades práticas e experimentos; analisar esque- mas, desenhos e fotos, consultar glossários e dicionários; realizar pes- quisas em diferentes portadores de textos incluindo consultas à internet. (PORTO; RAMOS; GOULART, 2009, p. 66) Figura 2 Fonte: Getty Images No entanto, os PCN já alertavam para o fato de, muitas vezes, esses conteúdos serem abordados de maneira equivocada, acreditando-se não haver a necessidade da intervenção do professor, sendo considerados como um aprendizado espontâ- neo, dependente somente das habilidades individuais de cada um. Os conteúdos procedimentais, nessa perspectiva, deixam de ser tratados como objeto de ensino e, muitas vezes, ensina-se um procedimento acreditando estar ensinando conceitos (BRASIL, 2001a, p. 75): É preciso analisar os conteúdos referentes a procedimentos não do ponto de vista de uma aprendizagem mecânica, mas a partir do pro- pósito fundamental da Educação, que é fazer com que os alunos cons- truam instrumentos para analisar, por si mesmos, os resultados que obtêm e os processos que colocam em ação para atingir as metas a que se propõem. Quando o professor ensina procedimentos, está ensinando o aluno a pensar e produzir conhecimento, o que é de fundamental importância, pois favorece a reto- mada de conhecimentos que foram tradicionalmente esquecidos no processo de ensino (BRASIL, 2001a). Importante! No texto original dos PCN é utilizada a expressão excluídos do ensino, referindo-se aos processos de revisão de texto escrito, à argumentação construída, entre outros fatores. Importante! 11 UNIDADE Conteúdos São compreendidos como conteúdos atitudinais aqueles que correspondem às nor- mas, atitudes e aos valores atribuídos ao conhecimento construído, ou seja, que “[...] mostram como o indivíduo deve ser” (PORTO; RAMOS; GOULART, 2009, p. 66). Figura 3 Fonte: Adaptado de Getty Images A escola é um ambiente socializador e gerador de atitudes, portanto, “[...] os con- teúdos atitudinais permeiam todo o conhecimento escolar” (BRASIL, 2001a, p. 76). Do ponto de vista pedagógico, a aprendizagem de valores e atitudes é pouco ex- plorada, em função de sua complexidade. Mas a escola transmite valores explícita e implicitamente, sendo necessária a adoção de uma postura crítica em relação a esses valores transmitidos mediante as atitudes cotidianas (BRASIL, 2001a, p. 76): [...] a não-compreensão de atitudes, valores e normas como conteúdos escolares faz com que estes sejam comunicados, sobretudo de forma inadvertida – acabam por ser aprendidos sem que haja uma deliberação clara sobre esse ensinamento. [...] Ensinar e aprender atitudes requer um posicionamento claro e constante sobre o que e como se ensina na escola. Esse posicionamento só pode ocorrer a partir do estabeleci- mento das intenções do projeto educativo da escola, para que se pos- sam adequar e selecionar conteúdos básicos, necessários e recorrentes. (BRASIL, 2001a, p. 76) Os conteúdos atitudinais interferem na formação do cidadão e, apesar de muitas pesquisas apontarem para a importância da informação na modificação de valores e atitudes, é necessária uma prática constante, coerente e sistemática para que haja a aprendizagem de atitudes (BRASIL, 2001a). 12 13 Os conteúdos procedimentais e atitudinais devem ser contemplados de maneira integrada no ensino, e isso “[...] não implica o aumento na quantidade de conteú- dos a serem trabalhados, porque já estão presentes no dia a dia da sala de aula” (BRASIL, 2001a, p. 77). Portanto, não requer a aplicação de atividades específicas, mas da modificação na forma de se trabalhar com os conteúdos de modo a privile- giar as três dimensões: conceitual, procedimental e atitudinal. O equilíbrio entre os tipos de conteúdos, já determinado nos PCN, ganhou destaque com a BNCC, que tem como conceito fundante a Educação Integral. Zabala e colaboradores (2016, p. 27, grifo nosso) assim explica: Desta maneira, a tipologia de conteúdos pode nos servir de instrumento para definir as diferentes posições sobre o papel que deve ter o ensino. Portanto, num ensino que propõe a formação integral à presença dos diferentes tipos de conteúdos estará equilibrada; [...]. Ex pl or Assim, a tipologia de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, embo- ra não esteja, atualmente, expressa claramente na BNCC – contrariamente ao ob- servado nos PCN –, tem grande valor formativo docente, pois tal leitura subsidiará a concepção dos projetos inicialmente proposta pelos PCN e atualmente encampada pela BNCC, dentro da proposta de um ensino por investigação. Os Currículos de Ciências no Ensino Fundamental Importante! Os materiais curriculares, assim denominados “[...] todos aqueles instrumentos que pro- porcionam ao educador referências e critérios para tomar decisões, tanto no planeja- mento como na intervenção direta no processo de ensino-aprendizagem e em sua ava- liação” (ZABALA et al., 2016, p. 152), podem influenciar fortemente a prática docente: Deste ponto de vista, a noção de materiais curriculares se amplia e pode incluir propostas para a elaboração de projetos educativos e curriculares da escola; propostas relativas ao ensino em determinadas matérias ou áreas, ou em determinados níveis, ciclos ou etapas; propostas para o ensi- no destinado a alunos com necessidades educativas especiais; descrições de experiências de inovação educativa; materiais para o desenvolvimento de unidades didáticas; avaliações de experiências e dos próprios materiais curriculares etc. (ZABALA et al., 2016, p. 152) Importante! Na área de Ciências, os documentos oficiais para o Ensino Fundamental – PCN e, posteriormente, a BNCC – representam verdadeiros marcos nas movimentações metodológicas para a prática docente. 13 UNIDADE Conteúdos No tocante à organização, ambas apresentam os conteúdos seriados organizados em blocos temáticos, no intento de que os assuntos nãosejam tratados isoladamente, independente da série a que se destinam, em uma tentativa de quebrar as barreiras disciplinares clássicas da Ciência – Biologia, Física, Química, Geologia e Astronomia. Enquanto os PCN dividiam o conteúdo em quatro blocos temáticos – Ambiente; Ser Humano e Saúde; Recursos Tecnológicos; e Terra e Universo (BRASIL, 2001a) –, na BNCC somente foram mantidos três blocos, agora denominados Unidades Temáticas: Matéria e Energia, Vida e Evolução e Terra e Universo. Quais blocos temáticos deixaram de ser destaque na BNCC, em comparação aos PCN? No seu entendimento, isto pode ser visto como uma diminuição da importância destes temas?Ex pl or Essa forma de organização visa favorecer o trabalho interdisciplinar das Ciências Naturais, além de considerar a realidade da comunidade escolar – “[...] do contexto social e da vivência cultural de alunos e professores” (BRASIL, 2001b, p. 44). Na BNCC, tais unidades temáticas são subdivididas em objetos de conhecimento – os con- teúdos, conceitos e processos – listados para cada ano de escolarização. Já para cada objeto de conhecimento listado são indicadas as habilidades a serem desenvolvidas. Isso garante, na concepção do documento, o desenvolvimento das competências específicas da área de Ciências (BRASIL, 2017). O processo de implementação da BNCC exigiu que Estados e Municípios elaborassem os seus currículos. No Estado de São Paulo, por exemplo, o Currículo Paulista foi publicado em 2019. Acesse o link a seguir e se familiarize com este documento – a área de Ciências da Natureza está na página 375. Disponível em: http://bit.ly/2TC4EY2 Ex pl or Não é nossa intenção fazer uma descrição detalhada de cada uma das uni- dades temáticas da BNCC em Ciências da Natureza; o que propomos é uma compre- ensão de como as habilidades relacionadas aos seus objetos de conhecimento estão organizadas, dando indícios de como se pode compor o currículo e/ou o plano de trabalho no ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental. As três unidades temáticas, conforme já exposto, mantêm-se ao longo dos nove anos do Ensino Fundamental. Qual seria a diferença, então, de tratar um objeto de conhecimento como “corpo humano” – da unidade temática Vida e Evolução – entre o primeiro e quarto ano? A resposta é simples: gradativamente, eleva-se o grau de com- plexidade da habilidade a ser desenvolvida. Vejamos: no primeiro ano está estipulado, para corpo humano, que o aluno deverá: “Localizar, nomear e representar graficamen- te (por meio de desenhos) partes do corpo humano e explicar suas funções”. (BRASIL, 2017, p. 333). Ora, estes verbos, localizar, nomear e representar, indicam que o alu- no deve apontar, mostrar a localização e desenhar – por exemplo – partes do corpo humano – algo tranquilo e tradicional de ser feito em aula de Ciências para esse ano. 14 15 Todavia, o objeto de conhecimento mais similar a “corpo humano”, dentro de Vida e Evolução, retornará apenas na proposta da BNCC, no quarto ano, na forma de “nu- trição do organismo”. Agora, para este objeto do conhecimento, a habilidade solicitada será: “Selecionar argumentos que justifiquem por que os sistemas digestório e respira- tório são considerados corresponsáveis pelo processo de nutrição do organismo, com base na identificação das funções desses sistemas” (BRASIL, 2017, p. 341). Note que “selecionar argumentos” é habilidade bem mais complexa que “locali- zar, nomear e representar”. Para selecionar argumentos o aluno deverá ter desen- volvido outras habilidades, tais como a leitura e busca por informações. Habilidades estas que deverá ter desenvolvido nos anos precedentes. Selecione um objeto de conhecimento dentro de uma das unidades temáticas de Ciências da Natureza e faça o mesmo procedimento exemplificado nos parágrafos anteriores, veri- ficando se percebeu o aumento na complexidade das habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos. Lembre-se de ter como limite o 5º ano, pois a partir do 6º ano é o licenciado em Ciências – físico, químico ou biólogo – que assumirá as aulas dessa área de conhecimento. Ex pl or Enquanto os PCN apresentavam-se menos diretivos em relação às habilidades específicas a serem desenvolvidas para cada conteúdo e, em suma, caracterizou-se como um documento fundante de orientações mais amplas, a BNCC, de nossa per- cepção, configura-se como um passo adiante nesse ponto – o de direcionar a prática educativa: ao deixar claro quais são as habilidades a serem desenvolvidas para cada objeto de conhecimento, tende a facilitar o trabalho de planejamento do professor para a proposição de aulas mais envolventes de Ciências no Ensino Fundamental. Os Conteúdos de Ciências no Ensino Infantil É importante lembrar aqui que, em relação à orientação curricular anterior para essa fase da Educação Básica, no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) também houve mudanças na organização dos blocos temáticos ou arranjos curriculares. No RCNEI, os conteúdos “[...] estão organizados em cinco blocos: Organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar; Os lugares e suas paisagens; Ob- jetos e processos de transformação; Os seres vivos e fenômenos da natureza”. Essa organização tem por objetivo “[...] contemplar as principais dimensões contidas neste eixo de trabalho, oferecendo visibilidade às especificidades dos diferentes co- nhecimentos e conteúdos” (BRASIL, 1998, p. 180). Importante! A BNCC, por sua vez, indicou alguns conteúdos relacionados ao conhecimento científico, que estão distribuídos entre os cinco “campos de experiências”, assim denominados os arranjos curriculares de acolhimento das crianças para a sua introdução ao nosso patrimônio cultural. Importante! 15 UNIDADE Conteúdos Figura 4 Fonte: Getty Images Inicialmente, destacamos a justificativa de inserção desses conteúdos, explicita- dos mais claramente em um dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento da Educação Infantil que norteiam a BNCC: Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elemen- tos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a Ciência e a tecnologia. (BRASIL, 2017, p. 38, grifos nossos) É do campo de experiências denominado Espaços, tempos, quantidades, re- lações e transformações que citamos um exemplo claro de habilidades relacio- nado a uma cultura ou a um saber científico que, segundo a BNCC, já deve ser propiciado no Ensino Infantil: Portanto, a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a insti- tuição escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano. (BRASIL, 2017, p. 43) Notamos, no comparativo entre essas orientações, menor ênfase no trabalho com conhecimentos prévios dos alunos nas fundamentações metodológicas da BNCC, embora esta última, como vimos, orienta também o professor a buscar uma conexão com as curiosidades próprias dessa faixa etária. No entanto, compreendemos como importante que o professor mantenha a indicação de que o trabalho a ser desenvolvido na área de Ciências Naturais na Educação Infantil deve primar pela ampliação das experiências e da construção de 16 17 conhecimentos diversificados sobre os meios social e natural, por parte das crian- ças, tal como já preconizava o RCNEI: Nesse sentido, refere-se à pluralidade de fenômenos e acontecimentos — físicos, biológicos, geográficos, históricos e culturais —, ao conhecimento da diversidade de formas de explicar e representar o mundo, ao contato com as explicações científicas e à possibilidade de conhecere construir novas formas de pensar sobre os eventos que as cercam. É importante que as crianças tenham contato com diferentes elementos, fenômenos e acontecimentos do mundo, sejam instigadas por questões significati- vas para observá-los e explicá-los e tenham acesso a modos variados de compreendê-los e representá-los. (BRASIL, 1998, p. 166) Outra orientação do RCNEI – ao nosso ver relevante – para a formação docente se relaciona a um sentimento de não consolidação, ou seja, o Ensino Infantil deve ser visto como uma etapa de apresentação, de início de aprendizado, ou ainda de acolhimento para a escolarização: Contudo, o professor precisa ter claro que esses domínios e conhecimentos não se consolidam nesta etapa educacional. São construídos, gradativamente, à medida que as crianças desenvolvem atitudes de curiosidade, de crítica, de refutação e de reformulação de explicações para a pluralidade e diversidade de fenômenos e acontecimentos do mundo social e natural. (BRASIL, 1998, p. 173) Ex pl or Concluímos que a BNCC, no tocante ao ensino de Ciências para o Ensino In- fantil, inovou em conceituar a abordagem dos campos de experiência, como forma de arranjo curricular, não segmentando o conhecimento em fase tão inicial. No en- tanto, conforme exposto, o documento mais recente não faz alguns apontamentos que, na nossa opinião, deveriam ser mantidos. Cumpre, adicionalmente, destacarmos para algo interessante, lembrado pelo documento mais recente: a preocupação com a fase de transição do Ensino Infantil para o Ensino Fundamental. Tal preocupação não estava claramente exposta no RNCEI. Na BNCC, houve a preocupação com a: i) manutenção dos registros da vida escolar do aluno, para que norteiem as ações pedagógicas no ciclo seguinte; e ii) explicitação das sínteses das aprendizagens que deverão nortear os anos iniciais do Ensino Fundamental (BRASIL, 2017). Veja os aprendizados relacionados aos saberes científicos que estão inseridos nas sínteses das aprendizagens do Ensino Infantil, acessando a BNCC. Para tanto, consulte as páginas 54 e 55 deste documento. Disponível em: https://bit.ly/3cME5XB Ex pl or Agora que exploramos como os conteúdos estão organizados no ensino de Ci- ências, podemos compreender a discussão sobre o que se espera dos alunos em relação aos quais. 17 UNIDADE Conteúdos Objetivos, Competências e Habilidades no Ensino de Ciências É necessário destacar que, em especial nos dois primeiros anos da Es- colaridade Básica, em que se investe prioritariamente no processo de alfabetização das crianças, as habilidades de Ciências buscam propiciar um contexto adequado para a ampliação dos contextos de letramento. (BRASIL, 2017, p. 331) No conceito de Zabala e colaboradores (2016), as competências devem ser de- senvolvidas visando aos objetivos do ensino. Assim, no Brasil, todas as competên- cias para o Ensino Básico já estão definidas, a partir da leitura da LDBEN, com a implementação da BNCC. Importante! Na BNCC tais competências estão claramente expostas, orientando-nos a propiciar situa- ções cuja vivência possibilitará aos alunos, em síntese, que atuem: • Na definição de problemas, ou seja, em questões que desafiem os alunos a encon- trarem soluções práticas, manipulando habilidades; • No levantamento, na análise e representação de dados coletados para a resolu- ção planejada de problemas; • No processo para a comunicação em forma oral, escrita ou multimodal tanto dos dados e resultados decorrentes da investigação do problema, quanto das reflexões decorrentes do processo investigativo em si e ainda das implicações cotidianas destas reflexões; • Nas ações para propor, planejar e avaliar intervenções para problemas cotidianos, vi- sando o desenvolvimento da qualidade de vida, individual, coletiva e socioambiental. Importante! Não é nossa pretensão elencar todas as situações descritas na BNCC como ne- cessárias para a aprendizagem em Ciências, considerando a extensão do documen- to original. Pretendemos, apenas, exemplificar algumas situações de aprendizagem que estão relacionadas ao delineamento de objetivos para o planejamento do traba- lho docente, a fim de lhe auxiliar na compreensão do documento. Sobre as situações de aprendizagem e as competências específicas da área de Ciências da Natureza da BNCC, acesse diretamente o documento oficial. Recomendamos a opção de do- wnload de todo o arquivo em Portable Document Format (PDF). As situações de aprendiza- gem e as competências específicas de Ciências da Natureza estão descritas nas páginas 323 e 324, respectivamente, deste arquivo. Disponível em: https://bit.ly/2U4hTzZ Ex pl or 18 19 Ademais, um exemplo de como essas situações de aprendizagem defendidas pela BNCC po- dem passar da teoria para a prática ocorre na aula filmada pelo Laboratório de Pesquisa em Ensino de Física (Lapef) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE/ USP), entre outras disponíveis. Note como a sequência didática proposta compreende uma investigação com intenso envolvimento dos alunos, auxiliando-os no desenvolvimento das competências esperadas pela BNCC. Disponível em: http://bit.ly/2IKjxl3 Ex pl or As situações de aprendizagem e as competências específicas da BNCC devem ser desenvolvidas seguindo os objetivos norteadores do letramento científico: [...] o acesso à diversidade de conhecimentos científicos produzidos ao longo da história, bem como a aproximação gradativa aos princi- pais processos, práticas e procedimentos da investigação científica. (BRASIL, 2017, p. 321, grifos nossos) Sobre conhecimentos científicos, seriam os conteúdos elencados no documento sobre o qual já discorremos. Quanto à expressão processos, práticas e procedi- mentos da investigação científica, como se configuraria na prática? Então vamos lá, uma vez determinado qual seria o objeto de conhecimento a ser trabalhado, o professor: • Atuaria em sua área dentro de situações de aprendizagem já apontadas; • Elaboraria uma sequência didática, na forma de projeto, por exemplo, obser- vando quais habilidades devem ser desenvolvidas sobre aquele objeto. Para estabelecermos qual será a sequência didática, precisamos compreender primeiro o que são estas habilidades dentro das Ciências da Natureza: As unidades temáticas estão estruturadas em um conjunto de habilida- des cuja complexidade cresce progressivamente ao longo dos anos. Essas habilidades mobilizam conhecimentos conceituais, linguagens e alguns dos principais processos, práticas e procedimentos de investigação envol- vidos na dinâmica da construção de conhecimentos na Ciência. Assim, quando é utilizado um determinado verbo em uma habilidade, como “apresentar” ou “relatar”, este se refere a procedimentos comuns da Ciência, neste caso relacionados à comunicação, que envolvem também outras etapas do processo investigativo. A ideia implícita está em relatar de forma sistemática o resultado de uma coleta de dados e/ou apresentar a organização e extrapolação de conclusões, de tal forma a considerar os contra-argumentos apresentados, no caso de um debate, por exemplo. Da mesma forma, quando é utilizado o verbo “observar”, tem-se em men- te o aguçamento da curiosidade dos alunos sobre o mundo, em busca de questões que possibilitem elaborar hipóteses e construir explicações sobre a realidade que os cerca. (BRASIL, 2017, p. 330) Assim, será de grande importância na formação do professor para a atuação no ensino de Ciências que compreenda os significados destes verbos que descrevem as habilidades no documento oficial. 19 UNIDADE Conteúdos Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites MultiRio A página da MultiRio – empresa municipal de multimeios, vinculada à Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro –, disponibiliza vários tipos de mídias não somente para conteúdos de Ciência, mas para todas as áreas de conhecimento escolar. http://bit.ly/2VTCOYWLivros Para entender a Terra GROTZINGER, J.; JORDAN, T. Para entender a Terra. 6. ed. Porto Alegre, RS: Bookman, 2013. Como chegamos até aqui: a história das inovações que fizeram a vida moderna possível JOHNSON, S. Como chegamos até aqui: a história das inovações que fizeram a vida moderna possível. Rio de Janeiro: Zahar, 2015. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos LEONARD, A. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. Biologia de Campbell REECE, J. B. et al. Biologia de Campbell. 10. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2015. Vídeos D-23 - Ensino de Ciências: objetivos e conteúdos A questão da influência das orientações curriculares oficiais sobre a prática docente: no vídeo da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) os pesquisadores Nélio Bizzo e Jorge Megid discutem, principalmente, sobre as mudanças provocadas pela implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do ensino de Ciências. Embora não contemple a BNCC, vale assistir porque discute temas ainda atuais como, por exemplo, o processo de seleção de conteúdos – que a implementação da BNCC também provocou – e como esta seleção pode influenciar o processo de ensino-aprendizagem. https://youtu.be/yL_HarAcLvU 5º Vídeo - As Habilidades na BNCC: Taxonomia de Bloom Sobre a taxonomia de Bloom, assista ao vídeo explicativo destes conceitos. Embora destinado ao Ensino Médio, o material é aplicável a todos os níveis de escolarização. https://youtu.be/riO_DvOE8Hs 20 21 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular: Ciências da Natureza. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov. br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 28 out 2019. ______. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução. v. 1. 3. ed. Brasília, DF, 2001a. ______. Parâmetros curriculares nacionais: Ciências Naturais. v. 4. 3. ed. Brasília, DF, 2001b. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fun- damental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, DF, 1998. CARVALHO, A. M. P. de et al. Ciências no Ensino Fundamental: o conhecimen- to físico. São Paulo: Scipione, 2009. COLL, C. Los contenidos em la Educación Escolar. In: Los contenidos en la re- forma. Madrid: Santillana, 1992. p. 9-18. PORTO, A.; RAMOS, L.; GOULART, S. Um olhar comprometido com o ensino de Ciências. Belo Horizonte, MG: Fapi, 2009. POZO, J. I. A aprendizagem e o ensino de fatos e conceitos. Porto Alegre, RS: Artmed, 1998. WARTHA, E. J.; BERTOLDO, T. A. T. Da necessidade de uma ruptura kuhniana no ensino de Ciências. Ciências & Ideias, v. 10, n. 2, p. 73-83, 2019. ZABALLA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre, RS: Artmed, 1998. ______. et al. Didática geral. Porto Alegre, RS: Artmed, 2016. 21
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