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Universidade de Brasília - UnB Página 1 de 12 Disciplina Assistência Farmacêutica e Sistemas de Saúde – AFSS Professor(a) Margô Gomes de Oliveira Karnikowski Aluna: Ana Cláudia Barros e Silva 221036566 Assistir ao filme “História da Saúde no Brasil”, disponível em: https://youtu.be/L7NzqtspLpc. Elaborar uma linha histórica com os principais acontecimentos relatados no filme. HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL No início do século XX, em 1990, foi reconhecido pela luta do direito à saúde, considerado o século da ciência, do progresso, da eletricidade, da engenharia e da medicina. A situação da saúde era uma vergonha nacional. Epidemias e todas as doenças pestilentas, como cólera, varíola, malária, tuberculose, febre amarela e peste nas principais cidades brasileiras (São Paulo – SP e Rio de Janeiro – RJ). Na época, a população pobre só dispunha de atendimento filantrópico nos hospitais de caridade mantidos pela igreja. Os ricos tinham os médicos; e os pobres, por outro lado, se ficassem doentes, tinham as benzedeiras e a caridade. Era dever de todas as mulheres que tinham um sentimento cristão levar a caridade aos pobres, atendendo-os nas doenças, como fazem as irmãs (freiras) nas Santas Casas de Misericórdia. As epidemias manchavam o nome do Brasil nos países estrangeiros. Sem imigrantes, não haveria cultura do café e nem quem trabalhasse nas fábricas. Ou seja, precisavam, no Brasil, da mão de obra dos estrangeiros para expansão do café. Em 1902, o Dr. Oswaldo Cruz foi nomeado diretor geral da Saúde Pública do Instituto Soroterápico Federal, instalado na antiga Fazenda de Manguinhos para produção de vacinas. Realizaram uma campanha organizada como se fosse uma guerra; quem não cooperasse, era considerado um inimigo da saúde pública e como tal seria tratado; os doentes de moléstias contagiosas, eram obrigados à quarentena. O cargo de diretor geral da Saúde Pública corresponde atualmente ao de Ministro da Saúde. A vacina contra a varíola era obrigatória. Contudo, vários cidadãos diziam que ninguém os poderia obrigar. Os militares positivistas também eram contra a vacinação obrigatória; https://youtu.be/L7NzqtspLpc Universidade de Brasília - UnB Página 2 de 12 diziam reconhecer o progresso da ciência, mas consideravam a imposição das campanhas uma contrariedade à liberdade e direitos dos cidadãos. Em 1904, ocorreu protesto nas ruas contra a vacinação obrigatória. Os cartazes diziam “abaixo à vacinação obrigatória”, “abaixo à ditadura sanitária”. Houve um tiroteio em que o Estado (polícia) estava de um lado e a população protestante do outro. Contudo, a revolução contra a vacina foi derrotada. O Dr. Emílio Ribas morava com os doentes de febre amarela em São Paulo. Ele tinha o intuito de provar que a doença não se transmitia pelo convívio com os doentes. Além disso, dirigiu uma obra de saneamento na cidade de Santos – SP. Afirmava-se que o Porto de Santos, a partir de então, não mais seria atingido pelas terríveis epidemias. A indústria cresceu e artigos como tecidos, calçados e chapéus passaram a ser produzidos no Brasil. Em 1917, operários das indústrias têxteis entraram em greve no RJ e SP. A cidade de São Paulo ficou nas mãos dos grevistas. O governador fugiu para o interior. Em 1918, a gripe espanhola matou milhares de pessoas no Brasil. Os médicos não sabiam o que fazer contra a doença. Em 1919, os grevistas fizeram acordo com os patrões e voltaram para o trabalho. Em 1922, os tenentes se revoltaram e tomaram o Forte de Copacabana, no RJ. Em 1923, o deputado Elói Chaves apresentou uma lei que regulamentou as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAP), que seriam financiadas pelas empresas, por seus trabalhadores e pela União. Como legislador, pretendeu diminuir as tensões sociais para que não se repetissem as greves. Os trabalhadores poderiam ter assistência médica e, após, alguns anos de trabalho, aposentarem-se de forma digna. Dr. Geraldo de Paula Souza voltou ao Brasil. Estava nos Estados Unidos da América – EUA, onde cursou Saúde Pública na Johns Hopkins University. Em seguida, iniciou obras no Centro de Saúde, onde a família era o centro da ação. Em 1924, a cidade de São Paulo é bombardeada. Os tenentes queriam reformar o país. Em 1930, os revoltosos chegaram ao RJ e o medo se espalhou na população. Getúlio Vargas tomou posse como presidente em meio a um entusiasmo da população. Dizia ele que governaria com pensamento voltado aos mais pobres e desprotegidos. Universidade de Brasília - UnB Página 3 de 12 Vargas anunciou um decreto aos trabalhadores para centralizar e uniformizar as estruturas de saúde. Em 1932, os cidadãos de São Paulo protestaram para exigir a Constituição prometida em 1930. Getúlio prometeu a Constituinte para 1934. Vargas criou o Instituto de Aposentadoria e Pensões (IAPs) dos Marítimos, logo, todas as categorias profissionais teriam seus IAPs para substituir as Caixas, que são poucas e ineficientes. Assim, os trabalhadores descontariam uma fração mínima de seu salário, para depois ter pleno direito à assistência médica, além de aposentadorias e pensões após uma vida de trabalho produtivo. O presidente nomeou pessoas de sua confiança para presidência do Instituto, mas os trabalhadores participariam conjuntamente com os representantes patronais para administração dos IAPs. Os IAPs arrecadavam muito dinheiro e os empresários achavam um absurdo esse dinheiro ficar parado, porque o país necessitava de recursos para industrialização. Afirmavam que o presidente estava pensando em um regime de capitalização para aumentar a massa de recursos e financiar a indústria. No entanto, os recursos dos IAPs foram sempre aplicados pelo governo no financiamento da industrialização do país. E quem não conseguia pagar as contribuições? Não pagando, não tinha direito a nada. Deveriam, portanto, pagar todos os meses durante 30 anos para ter direito à aposentadoria e assistência médica. Em 1935, uma organização comunista liderada por Luís Carlos Prestes, disfarçados na Aliança Nacional Libertadora – ANL, tentaram um levante militar para tomar o poder. Depois da tentativa de golpe integralista, o presidente Getúlio Vargas decretou, em 1937, estado de sítio, cancelamento das eleições presidenciais, fechamento do Congresso, e anunciou o advento do Estado Novo. Diante a situação especial em que se encontrava o país, o presidente anunciou a criação do Ministério do Trabalho, além de saudar o sistema previdenciário formado pelos IAPs, que se constituíam em um dos mais modernos do mundo. Em 1939, as tropas do ditador alemão Adolf Hitler invadiram a Polônia. Temiam o início de uma nova guerra mundial. Getúlio disse ser um imperativo moral lutar ao lado das nações democráticas. Universidade de Brasília - UnB Página 4 de 12 Em 1942, o Serviço Especial de Saúde Pública – SESP tinha o objetivo de criar condições sanitárias adequadas nos vales do Amazonas e do Rio Doce que garantissem o provimento de matérias-primas cruciais aos esforços militares dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, além do combate à malária para proteger os soldados. Partindo da constatação de que a malária foi o principal problema sanitário enfrentado por tropas norte- americanas nos diversos continentes durante a Segunda Guerra Mundial, existiam as atividades do SESP, isoladamente ou em parceria com outras instituições brasileiras, para o controle da malária nas três maiores bases militares norte-americanas do Brasil, localizadas nas cidades de Belém-PA, Recife-PE e Natal-RN. Sendo assim, as prioridades do SESP tornaram-se as mesmas já identificadas por competências sanitárias do governo brasileiro desde o início do século XX: combater a malária para explorar a produção de borracha e abrir estradas de ferro para integrar o país. Nesse sentido, as políticas de controleda malária no Programa da Amazônia foram implementadas em três etapas, quais sejam: o controle emergencial da malária por meio da atebrina; a pesquisa científica de vetores e epidemiologia; e, o controle da malária a longo prazo. Vieram a estabelecer uma importante rede de unidades sanitárias naquela região, servindo como um instrumento de expansão da autoridade pública, mesmo quando a agência esteve orientada para atender os objetivos militares dos norte-americanos. Para o Brasil, programas como o SESP eram fundamentais, pois faziam parte da saúde pública e tinham comportamento preventivo para combater as epidemias. É uma preocupação mais social. Em 1945, a oposição ao Estado Novo era cada vez maior. O ditador Getúlio Vargas foi deposto. Teriam novas eleições. Foi eleito o general Eurico Gaspar Dutra para presidente; o senador da República Luís Carlos Prestes. Os comunistas elegeram muitos deputados e senadores, mas durou pouco, porque o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi posto na ilegalidade. Ainda em 1945, o Dr. Roberto José criou o Laboratório Saratudo. O modelo dos centros de saúde, nesse período, enfrentou oposição dos médicos especialistas. A influência dos americanos, que se tornou muito forte durante a Segunda Guerra Mundial, fez o Brasil adotar o mesmo modelo de atenção à saúde, baseado em grandes hospitais, onde têm médicos de várias especialidades e grande quantidade de equipamentos ultramodernos. Universidade de Brasília - UnB Página 5 de 12 Em 1950, Getúlio Vargas, deposto como ditador, volta como candidato à presidência e é eleito pelo voto popular. Inaugura-se a TV Tupi para dar início a uma nova fase da telecomunicação brasileira. Depois da criação da Petrobrás (1953), que veio para trazer autonomia e petróleo para o país, Getúlio Vargas anunciou a criação do Ministério da Saúde. No programa de entrevistas “Noite de Gala”, o Dr. Roberto José foi entrevistado e afirmou que o Ministério da Saúde veio para fortalecer as ações em saúde pública: a medicina preventiva. Tais ações são muito diferentes da assistência individual, pois existem várias correntes em saúde pública. Entre elas, os médicos especialistas defendem programas verticais do tipo de doença (ex.: tuberculose, lepra etc.); outros criticam esse modelo e a segregação que ele gera. Vários médicos propuseram modelos como centros de saúde e maior aproximação da medicina com as condições sociais do povo. Ainda, alguns médicos propuseram a criação de um sistema público de saúde para todos, em uma visão municipalista. Carlos Lacerda, jornalista da oposição, acusou o governo Vargas a ser o mais corrupto da história. O presidente Getúlio Vargas cometeu suicídio em 1954, com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete – RJ (capital federal à época). No mesmo ano, Juscelino Kubitschek (JK) lançou sua candidatura à Presidência da República para a eleição de 1955, e seu companheiro de chapa foi João Goulart (Jango). A oposição tentou anular a eleição com a alegação de que JK não havia obtido a maioria absoluta dos votos. No entanto, o general Henrique Lott desencadeou um movimento militar que garantiu a posse de JK e Jango em 31 de janeiro de 1956. Na presidência, JK foi o responsável pela construção de uma nova capital federal, Brasília, executando assim um antigo projeto para promover o desenvolvimento do interior e a integração do país. Durante todo o seu mandato, o país viveu um período de notável desenvolvimento econômico e relativa estabilidade política. Na época, não havia reeleição e, em 1961, JK foi sucedido por Jânio Quadros, seu opositor apoiado pela UDN. Alguns IAPs tinham muito dinheiro e construíram seus próprios hospitais, entretanto algumas empresas não estavam satisfeitas com o atendimento médico fornecido. Surgiu, https://pt.wikipedia.org/wiki/Elei%C3%A7%C3%A3o_presidencial_no_Brasil_em_1955 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Goulart https://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_Teixeira_Lott https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_de_11_de_Novembro https://pt.wikipedia.org/wiki/Bras%C3%ADlia https://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimento_econ%C3%B4mico https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%A2nio_Quadros Universidade de Brasília - UnB Página 6 de 12 então, a ideia da medicina de grupo (empresas cuja finalidade era prestar serviços médicos privados aos empregados das empresas que as contratavam). As vantagens desse novo sistema era uma melhor seleção de mão de obra e ter empregados que faltem menos; era o futuro da assistência médica: as empresas médicas. Em 1962, Tropas foram movimentadas para derrubar João Goulart (Jango). Quando Jânio renunciou, os militares não quiseram no governo seu vice Jango, mas o movimento popular e a adoção do parlamentarismo permitiram sua posse. Um ano depois, em 1963, um plebiscito determinou a volta do presidencialismo, e Jango tentou a realização das reformas de base, entre elas a da saúde. Em 1964, as tropas militares do 2º Exército fizeram o cerco do estado da Guanabara1. Jango, derrubado pelo golpe militar, exilou-se no Uruguai, seguido de Leonel Brizola e outros elementos do governo deposto. Os militares, então, indicaram o marechal (general) Humberto Castello Branco para presidência da República, substituindo Ranieri Mazzilli, que presidiu o país de maneira provisória após a destituição de Jango. Na época, muita gente foi torturada, mas não saia nada nos jornais pois havia censura, além do salário dos trabalhadores estar ruim. A política da ditadura e o arroxo salarial levaram a classe operária e média a completa miséria; o êxodo rural levou para as cidades a populações pobres, o que só faz aumentar a doença e a mortalidade infantil. O governo estava sucateando a saúde pública; serviços que existiam há anos ficaram sem verbas; programas importantes de saneamento básico foram abandonados. O governo ditatorial só dava importância ao que poderia ser passado para a iniciativa privada. A saúde pública, no entanto, era um investimento tipicamente estatal. Em 1966, o governo unificou todo o sistema previdenciário – IAPs e outros órgãos em um sistema único –, que recebem o nome de Instituto Nacional de Previdência Social – INPS. O novo instituto visava concentrar todas as contribuições previdenciárias do país, incluindo os trabalhadores da indústria, do comércio e dos serviços, gerindo todas as 1 A Guanabara foi um estado do Brasil de 1960 a 1975, que existiu no território correspondente à atual localização do município do Rio de Janeiro. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Goulart Universidade de Brasília - UnB Página 7 de 12 aposentadorias, pensões e assistências médicas dos trabalhadores do Brasil. O tamanho da massa de dinheiro gerada dessa forma – INPS – era quase igual ao orçamento da Nação. O governo federal anuncia uma série de grandes obras com o objetivo de funcionar a economia brasileira para uma era de crescimento ininterrupto. Exemplos: abertura da estrada transamazônica, construção da ponte Rio Niterói e a maior usina hidrelétrica do mundo (Usina de Itaipu). O governo federal, através do INPS, criou linhas de financiamento à fundo perdido para que a iniciativa privada construísse hospitais particulares, visando ampliar grandemente o número de leitos hospitalares. Esses hospitais atenderiam os trabalhadores inscritos na Previdência Social. O governo federal anunciou, também, a extensão da previdência aos trabalhadores rurais, tendo, portanto, os homens do campo direito à assistência médica e à aposentadoria. Nessa época utilizou-se o maior orçamento da história sem o controle do governo, financiando hospitais privados, obras como a transamazônica, e permitindo fraudes, porque não havia fiscalização de serviços médicos executados pela rede privada. Apesar da repressão da ditadura, houve reuniões do movimento de saúde naperiferia, grupos de mulheres e pessoas da comunidade de base, alguns estudantes e sanitaristas. Preocupados com a questão da saúde nesse governo, reuniram-se para reivindicar a construção de centros de saúde (postos), creches, além da questão dos ônibus.2 Havia censura das notícias pelo governo ditatorial, até distorcendo possíveis notícias. Por exemplo: havia uma epidemia de meningite com riscos de contaminação; o jornal noticiava da seguinte forma: “segundo fontes do governo, casos isolados de meningite não chegam em hipótese alguma a caracterizar uma epidemia; os boatos alarmistas se devem a uma campanha subversiva e insidiosa, instigada pelos inimigos da democracia”. Em 1978, nasceu o Movimento Popular em Saúde na periferia, onde conquistaram centros de saúde e elegeram conselheiros populares de saúde para avançar na luta. Experiências inovadoras em saúde aconteceram em vários municípios do país (Campinas, 2 À época, os bairros estavam crescendo rapidamente, mas sem estrutura. Tal miséria aumentava as doenças e matavam as crianças. O governo não investia na saúde pública, sucateando-a. O dinheiro só ia onde havia lucro. Universidade de Brasília - UnB Página 8 de 12 Bauru, Niterói, Londrina, Montes Claros etc.), centradas na atenção básica, buscando uma alternativa à assistência hospitalar. O governo federal tomou a iniciativa de criar o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social – SINPAS, que passa a reunir todos os órgãos de assistência médica no Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social – INAMPS, e de todos os órgãos de aposentadoria e pensões no Instituto Nacional de Previdência Social – INPS. A administração dos recursos financeiros do sistema passa a ser controlada pelo Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social – IAPAS. Em 1980, o Movimento Popular em Saúde percebeu que a saúde era uma conquista de sua luta, para uma vida digna e sociedade justa para si e os seus. A saúde passou a ser discutida pelo povo, onde passaram a eleger conselhos populares com o intuito de ter “vez e voz” com o que já foi conquistado e nas políticas de saúde. Pois, não se pode admitir uma política que deixe a saúde em segundo plano, deixando populações inteiras sem assistência, e escondendo as epidemias com ações da censura, enquanto donos de hospitais enriquecem às custas da Previdência Social. Declarações de autoridades ligadas à Previdência Social, deram a entender que o sistema previdenciário estava tecnicamente falido. O IAPAS não possuía mais dos recursos necessários para manter à assistência médica através do INAMPS, nem a aposentadorias e pensões através do INPS. Afirmaram que medidas estavam sendo tomadas, como a diminuição dos gastos dos benefícios e o aumento das contribuições. Entre 1983 e 1984, mais de 1 (um) milhão de pessoas se reuniram em um comício com a bandeira “Diretas Já!”, que representou um movimento político de cunho popular com objetivo da retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da República, durante a ditadura militar. A ditadura estava caindo, mas as classes dominantes não entregaram o poder tão facilmente. O Congresso rejeitou as eleições diretas, continuando indiretas para serem disputadas por Tancredo Neves e Paulo Maluf. A previdência social estava falida e a população não tinha como receber uma assistência médica decente. A saúde não estava falida, apenas a previdência. A estrutura que Vargas criou era mesma: enquanto a economia crescia, tudo ia bem; mas em períodos de crise, quando a economia não crescia, existiam mais pessoas necessitando de atendimento médico e se Universidade de Brasília - UnB Página 9 de 12 aposentando do que entrando para o sistema (ou seja, mais dinheiro saindo e menos entrando). Além da falência da previdência, existia outro motivo para crise da assistência médica: nos anos 70, o governo construiu e equipou centenas de hospitais privados por todo o país utilizando recursos a fundo perdido; ao mesmo tempo, o INAMPS garantiu o pagamento da clientela atendida por eles. Quando os donos dos hospitais se sentiram capitalizados, se descredenciaram do INAMPS, deixando a população sem assistência médica. Em 1986, ocorreu em Brasília a 8ª Conferência Nacional de Saúde. Estavam presentes os movimentos sociais, trabalhadores da saúde e gestores. Foi criado o Sistema Único de Saúde – SUS, público e de qualidade para todos e controlado pela sociedade pelos Conselhos de Saúde. A saúde é uma conquista e a criação do SUS é uma conquista popular. Conquistou-se o SUS na Constituição Federal, garantindo os princípios que orientam o novo sistema de saúde. São princípios do SUS: a universalidade, a integralidade, a equidade e a participação social. Assim, com o SUS, a saúde surge como um direito, e não mais como favor, privilégio ou caridade. É universal para todos, ricos e pobres, com ou sem carteira assinada; é integral, da vacina ao transplante; com equidade, enfrentando as desigualdades sociais, construindo a justiça social; e com participação no debate das políticas e no controle público das ações e dos serviços nos Conselhos e nas Conferências. Os problemas da saúde pública não foram resolvidos, mas uma nova luta se iniciou. Os movimentos continuaram, pois a marca mais importante do SUS é a participação; sem ela, nada teria acontecido. Cada cidade poderia contar com um Conselho de Saúde formado por usuários (metade dos membros), e a outra metade seria dividida igualmente entre os trabalhadores da saúde e os gestores. Eles debatiam, fiscalizavam e controlavam as políticas de saúde e todos os recursos investidos. Quanto às Conferências, eram feitas periodicamente e municipalmente, onde metade eram usuários e a outra metade era a sociedade civil, que debatiam e aprovavam o plano de saúde da cidade. E haviam também os Conselhos e as Conferências estaduais e federais (da União – como foi a 8ª). Sem os Conselhos e Conferências, os municípios ficavam fora do SUS e não recebiam os recursos, e ninguém queria isso. Era fundamental que os movimentos não se deixassem conflitar, mantendo uma vida própria fora dos Conselhos, pautando em independência e participando, então, da luta social. Em 1990, foi aprovada a regulamentação do SUS com as Leis nºs. 8.080 e 8.142. Universidade de Brasília - UnB Página 10 de 12 Em 1992, denúncias de desmandos de corrupção no governo levantaram a possibilidade do impeachment do presidente Fernando Affonso Collor de Mello. Várias manifestações pedindo o impeachment ocuparam as ruas das grandes cidades brasileiras. Ocorreu uma votação na Câmara dos Deputados em Brasília, resultando em condenação à inabilitação, por oito anos, para o exercício da função pública, sem prejuízo às demais sanções judiciais cabíveis. Collor foi tirado, mas a implantação do SUS ainda estava sendo dificultosa. Veio o projeto da Programação Anual de Saúde – PAS3. Em 20 de dezembro de 1994, o público brasileiro foi apresentado à rede mundial de computadores. A Embratel lançou seu serviço experimental para que se pudesse conhecer melhor a internet. A crise na previdência se aprofundou mesmo com a adoção do real e com o fim da inflação. Não parecia haver solução para o rombo na previdência. O Ministério da Saúde lançou o Programa Saúde da Família – PSF, como estratégia de reorientação dos serviços de atenção à saúde, prestando assistência domiciliar à população. Ele poderia resolver os problemas da saúde da família através de uma assistência individual, desde que houvesse uma garantia da assistência clínica individual, da promoção e da prevenção da saúde; caso não acontecesse, corria o risco de repetir o mesmo modelo anterior. Em 1995, por iniciativa do Ministério das Telecomunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia, foi possível a abertura da internet ao setorprivado para exploração comercial junto à população brasileira. Os planos de saúde exigiram autorização do governo para aumentar a mensalidade de seus associados; argumentaram que estavam no vermelho, e que sem o aumento começariam a descredenciar hospitais e médicos. Fernando Henrique Cardoso (FHC) tomou posse como presidente da República. O governo estudou a implantação de uma grande reforma no estado brasileiro com a transferência da gestão de serviços públicos para entidades privadas sem fins lucrativos: as organizações sociais – OS. Uma de suas principais áreas de atuação seria a saúde. Queriam, portanto, terceirizar o SUS e passar a gestão para iniciativa privada. 3 Programação Anual de Saúde (PAS) é o instrumento que operacionaliza as intenções expressas no Plano de Saúde, tem por objetivo anualizar as metas do Plano de Saúde e prever a alocação dos recursos orçamentários a serem executados. Universidade de Brasília - UnB Página 11 de 12 Cidadãos se manifestaram e cobraram do secretário de saúde sobre a questão do novo hospital. O secretário afirmou que estaria pronto para funcionar e seria repassado para uma OS. No entanto, foi questionado, pois para o setor público dificultavam, e para o setor privado facilitavam, garantindo autonomia, salários melhores e orçamento próprio, maior que o da rede, com pouco controle público; melhor seria, portanto, garantir boas condições para a rede pública, que às vezes precisam de autorização para coisas simples (como consertar um telhado), não garantindo orçamento próprio nem possibilidade de contratar mais pessoas, assim como planos de cargos e salários, além de mais autonomia para gestão. Ou seja, dificultavam a “vida do público”, só para mostrar que o privado era melhor. Do mais, as OS já tinham sido questionadas pela justiça por conta das leis e da Constituição. Em 2003 ocorreu a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O governo enviou para o Congresso o Projeto de Reforma da Previdência, após conviver com déficits insuportáveis e praticamente falir. Como a iniciativa privada reagiu ao SUS? O SUS tinha muitos inimigos. Para aqueles que usavam/usam a doença como fonte de lucro, não interessa um sistema público universal e de qualidade. A tragédia que foi o Plano de Assistência à Saúde – PAS, em São Paulo, que destruiu anos de trabalho. Existiam, ainda, outros inimigos, como a falta de responsabilidade de sanitária de algumas autoridades; a terceirização da saúde para as Organizações Sociais de Saúde – OSS; a porta-dupla de alguns hospitais públicos, onde aqueles que podiam pagar ou aqueles que tinham planos de saúde eram atendidos imediatamente com balcões e hotelaria diferenciados, restando aos demais (o povo), a fila de cidadãos de segunda classe. Eram práticas minoritárias, que deveriam receber atenção especial – foram investigadas pelo Ministério Público – MP. Em 2006, 20 anos após a 8ª Conferência Nacional de Saúde, o que foi observado quanto aos avanços e problemas do SUS? O SUS foi e é a mais importante e avançada política social em vigência no Brasil, porque é uma proposta pública, popular e democrática que aponta para a justiça social, desde as ações de saúde voltadas às populações ribeirinhas do Amazonas até o maior sistema público de transplantes do mundo; desde ações com experiências exitosas, e que são referências internacionais; desde a atenção à saúde, até a promoção de pesquisas e novas tecnologias de Universidade de Brasília - UnB Página 12 de 12 ponta; desde a intervenção crítica na formação do profissional até a produção de insumos, vacinas, medicamentos; desde o atendimento de emergência até as ações de maior complexidade, prevenindo epidemias, fazendo vigilância, garantindo a qualidade da água, dos alimentos, dos remédios etc., intervindo sobre inúmeros aspectos do cotidiano. As dificuldades do SUS são imensas: o orçamento é pouco e as necessidades são muitas. Mas, vejamos, o SUS atendia, à época, mais de 1 milhão de pessoas por dia. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, consultando 380 mil pessoas, constatou que, de todas as que procuraram o serviço de saúde público, 98% foram atendidas. Isso é impressionante, mas problemas não faltam. Quais mudanças foram notadas nas políticas de saúde? O Pacto pela Saúde4 foi um grande exemplo disso. Uma revolução do modo de financiamento e nas responsabilidades dos gestores, onde metas a serem atingidas eram pactuadas e acompanhadas através de indicadores de saúde. O SUS já havia chegado nas prefeituras em condições ainda não ideais, mas conseguindo atender à toda a população, garantindo o direito à saúde. Os hospitais se integravam à rede básica, com gestão participativa com um conselho que, em vez de ficar esperando as pessoas adoecerem, tinham o intuito de intervir na saúde da população. O Movimento de Saúde começou nos anos 70. Foi uma luta muito dura, principalmente pra moradores da periferia, gente nascida na pobreza. Mas valeu a pena porque o SUS é uma conquista e um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo. É um projeto que tem o intuito de ajudar a transformar a sociedade. 4 O Pacto pela Saúde é um conjunto de reformas institucionais do SUS pactuado entre as três esferas de gestão (União, Estados e Municípios) com o objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de gestão, visando alcançar maior eficiência e qualidade das respostas do SUS.
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