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AULA 14 - IED PROCESSUAL

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AULA 14 – PROCESSO (CONT.) + TEORIA DO FATO JURÍDICO PROCESSUAL
1. A capacidade postulatória: 
Trata-se da aptidão técnica para postular em juízo. 
A capacidade postulatória é concedida, como regra, a advogados, membros do Ministério Público e membros da Defensoria Pública.
A ausência de capacidade postulatória não enseja, necessariamente, a extinção do processo em a análise do mérito. As consequências da ausência da capacidade postulatória são as mesmas da ausência da capacidade processual (art. 76 – CPC/15). Desse modo, o juiz dá um prazo para o vício ser sanado – extingue-se o processo no caso do autor e segue com revelia caso o réu não sane o vício pelo qual é responsável. 
Art. 4º - Estatuto da OAB: São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas.
Art. 104 – NCPC: O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente.
§ 1º Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de caução, exibir a procuração no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual período por despacho do juiz.
§ 2º O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o advogado pelas despesas e por perdas e danos.
pelas despesas e por perdas e danos.
Art. 37 – NCPC:
Parágrafo único. Os atos, não ratificados no prazo, serão havidos por inexistentes, respondendo o advogado por despesas e perdas e danos.
2. Objetivos:
· Intrínseco: Formalismo processual (o formalismo exacerbado tem sido abandonado, contudo, a obediência a determinadas regras processuais se faz de suma importância);
A citação é a forma pela qual o réu tem conhecimento de que há uma ação contra si, o motivo determinante e, desse modo, terá a oportunidade de se defender. Essa citação é imprescindível (vide o livro O processo, de Franz Kafka). Alguns doutrinadores afirmam que a citação válida é um pressuposto de existência em virtude da gravidade inerente ao seu vício, podendo ser anulado a qualquer tempo. Diana Rios considera tal argumento insuficiente e, portanto, adere à perspectiva de que a citação trata-se de um pressuposto de validade processual inerente ao seu formalismo (visão majoritária). 
· Extrínseco: Fora do processo.
· Positivo: A ausência do pressuposto extingue o processo sem a análise do mérito (impossibilidade de sanar). Trata-se do interesse de agir, uma vez que sem este, não há processo; 
· Negativo: A presença do pressuposto extingue o processo sem a análise do mérito (pressupostos insanáveis) – Litispendência, coisa julgada, convenção de arbitragem e perempção; 
São exemplos de pressupostos extrínsecos negativos:
· Litispendência: Ingresso de uma nova ação para tratar de LIDE pendente (em tramitação no Judiciário). Ex: Diana não pode entrar com uma ação Y contra Thiago sendo que há uma ação X Diana v Thiago pautada na mesma causa de pedir. Extingue-se o processo sem a análise do mérito; 
· Coisa julgada: Impossibilidade de recurso – imutabilidade da decisão. Extingue-se o processo sem a análise do mérito;
· Convenção de arbitragem: Trata-se de um negócio jurídico por meio do qual se firma a arbitragem – há uma renúncia das partes à via do Judiciário. Ex: A e B estipularam uma convenção de arbitragem para resolver futuros conflitos sobre determinada questão. A, ao constatar a concretização de um conflito, ingressa com uma ação no Judiciário. O juiz, ao constatar a presença da convenção de arbitragem, extingue o processo sem a análise do mérito (salvo renúncia de ambas as partes em relação à arbitragem); 
· Perempção: É a perda do direito ativo de demandar o réu sobre o mesmo objeto da ação – perda do prazo definido pela lei. Extingue-se o processo sem a análise do mérito. 
3. Teoria dos fatos jurídicos processuais – plano da existência: 
O fato jurídico ocorre quando uma norma incide no mundo dos fatos, produzindo efeitos para o direito (vide a doutrina de Marco Bernardes de Mello).
O fato jurídico processual é definido por quatro correntes:
· 1ª corrente: É importante a sede (local) em que o fato é praticado. O fato jurídico praticado dentro de um processo/procedimento é, também, processual;
· 2ª corrente: É importante quem pratica (o sujeito) o fato. Se o fato jurídico foi praticado pelo sujeito da relação jurídica processual é, também, processual;
· 3ª corrente: É importante que seja praticado no curso do processo e pelo sujeito do processo. Assim, o que importa é a sede + o sujeito que pratica. É uma síntese entre as duas correntes anteriores; 
· 4ª corrente: Basta a aptidão do fato de produzir efeitos no processo. Há fatos jurídicos processuais fora do processo. Ex: Contrato de locação que impõe a comarca de Salvador como foro (estipulação do juízo competente para julgar a causa); 
4. Classificação dos fatos jurídicos processuais:
	LÍCITOS
	FATO JURÍDICO STRICTO SENSU
	ATO-FATO JURÍDICO
	ATO JURÍDICO PROCESSUAL
	Não há conduta humana no suporte fático.
Ex: Morte (os herdeiros passam a configurar como partes no processo). 
	Há conduta humana, entretanto, a vontade não compõe o suporte fático. 
Ex: Revelia (perda do prazo para pleitear um direito). 
	A vontade humana compõe o suporte fático.
Divide-se em:
· Ato jurídico stricto sensu: Efeitos decorrentes de lei (maioria dos atos jurídicos processuais). Ex: Citação;
· Negócio jurídico: Efeitos modulados pelas partes (autonomia). Houve no passado, uma corrente que apontava para a impossibilidade de negócio jurídico processual. Nomes como Fredie Diedier Jr. refutaram essa perspectiva e hoje não há dúvida de que é permitido (permissão concedida pelo legislador, inclusive para celebrar contratos jurídicos atípicos). Ex: A possibilidade de se abrir mão de um prazo recursal. 
	ILÍCITOS
	INDENIZATIVO
	INVALIDANTE
	AUTORIZANTE
	CADUCIFICANTE
	Gera o dever de indenizar a outra parte. 
Ex: O litigante de má-fé é obrigado a indenizar a outra parte.
	Enseja a invalidação do ato.
Ex: A obtém provas de forma ilícita (mediante, por exemplo, confissão mediante coação). 
	Gera para o ofendido uma situação jurídica ativa que lhe permite praticar determinado ato.
Ex: A está devendo e o oficial de justiça vai até a casa dela para penhorar um bem. A parte contrária pode solicitar uso das forças armadas para penhorar o bem de A. 
	A consequência é a perda de um direito/poder. 
Ex: A pratica um atentado e pode perder o direito de ter vista dos autos fora do cartório. 
5. O negócio jurídico processual:
· Típico x atípico: Sem nenhum óbice do legislador, podem ser criados, para além dos já previstos em lei (típicos), negócios jurídicos atípicos, os quais não estão tipificados previamente pelo legislador. 
· Unilateral x bilateral x plurilateral: É unilateral quando uma só parte se manifesta. É bilateral quando duas partes se manifestam. É plurilateral quando mais de duas partes se manifestam;
· Expresso x tácito: A parte manifesta o que realmente deseja no negócio jurídico processual expresso – o que não se constata no negócio jurídico processual tácito. O negócio jurídico processual tácito pode ser celebrado mediante conduta comissiva (ação) ou omissiva (omissão – ex: não alegação da convenção de arbitragem); 
· Necessita de homologação x não necessita de homologação: Como regra, a homologação é necessária. Entretanto, há exceções. O silêncio da parte contrária faz, por exemplo, que um juiz incompetente relativamente se torne competente. Trata-se de um exemplo de negócio jurídico processual que não necessita de homologação. 
6. A atipicidade da negociação processual:
Art. 190 – NCPC: Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento,o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.
O negócio jurídico processual atípico pode estipular mudanças no procedimento para ajustar às especificidades da causa. 
O negócio jurídico processual atípico pode ser celebrado antes de o processo começar ou durante o processo.
Os requisitos do negócio jurídico são: 
· Sujeito capaz;
· Objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
· Forma não defesa (proibida) em lei; 
Os requisitos do negócio jurídico processual são semelhantes aos do negócio jurídico. 
· Capacidade processual: Aptidão de praticar sozinho os atos do processo. Além disso, tem que existir a não vulnerabilidade (art. 190, p. único, NCPC); 
· Só se permite o negócio jurídico processual sobre direitos que admitem a autocomposição – que permitem às partes transacionarem; 
· Respeito às normas fundamentais do processo: Não se permite a violação de normas processuais fundamentais; 
· A forma não pode ser proibida em lei: Não se tem uma liberdade absoluta para as partes firmarem negócios jurídicos processuais atípicos; 
Os negócios jurídicos processuais, em regra, produzem efeitos imediatos e o inadimplemento do negócio jurídico processual precisa ser alegado pela parte sob possibilidade de configurar renúncia tácita. 
7. Os atos processuais – forma:
Os atos das partes:
· Atos postulatórios: Atos que contêm alguma solicitação ao Estado-juiz; 
· Atos dispositivos: Atos em que a parte dispõe (abre mão) de algum direito. Ex: Renúncia, transação;
· Atos instrutórios: Atos que têm por objetivo trazer as provas que as partes pretendem demonstrar o seu direito; 
Os atos do órgão jurisdicional:
· Atos de movimentação: Atos voltados para a celeridade/movimentação processual;
· Atos de documentação: Voltados para documentar o que aconteceu no processo. Ex: Registrar que ocorreu o trânsito em julgado devido à inércia da defesa; 
· Atos de execução: Voltados para a execução da decisão proferida pelo juiz. Ex: Penhora; 
Os atos do juiz (art. 203 – NCPC): 
Podem ser atos decisórios ou não decisórios.
Os atos decisórios do juiz se dividem em:
· Sentença: 
§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.
Os artigos referidos são aqueles voltados para o término do processo com e sem resolução do mérito. 
A sentença tem conteúdo decisório e por isso é possível recorrer dessa sentença. A sentença é recorrível e o recurso cabível da sentença é a apelação. 
· Decisão interlocutória:
§ 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1º. 
Se o juiz decidiu algo e não pôs fim no processo (ex: a concessão de uma liminar logo no início do processo), tem-se uma decisão interlocutória e não uma sentença. 
A decisão interlocutória é recorrível mediante agravo. 
Agrava-se da decisão interlocutória e apela-se da sentença. 
Os atos não decisórios podem ser os despachos. Os despachos não têm conteúdo decisório. Não são passíveis de recurso (irrecorríveis). 
§ 3º São despachos todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte. 
Os atos decisórios podem ser, também, realizados pelo tribunal e não monocraticamente por um juiz. A decisão proferida pelo colegiado recebe o nome de acórdão. 
Art. 204 – NCPC: Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais.
A decisão não proferida pelo colegiado é chamada de decisão monocrática do relator e, por ter conteúdo decisório, é recorrível. 
8. Os atos processuais – modo: 
· Liberdade da forma e Instrumentalidade da forma: Quando não se exige uma forma específica, e o ato atinge a sua finalidade, é necessário preservar o ato.
· Documentação: Os atos processuais precisam ser documentados. 
· Publicidade: Salvo disposição contrária por lei, os atos processuais devem ser públicos. 
· Prática eletrônica de atos processuais: Avanço significativo proveniente da era tecnológica. 
9. Atos processuais – tempo (arts. 212 a 216 – NCPC): 
Os atos processuais devem ser praticados das 6 às 20h, contudo, precisa-se levar em conta diversos fatores como a possibilidade de extensão de um ato que começa, por exemplo, no final da tarde. 
Seção I
Do Tempo
Art. 212 – NCPC: Os atos processuais serão realizados em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas.
§ 1º Serão concluídos após as 20 (vinte) horas os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar grave dano.
§ 2º Independentemente de autorização judicial, as citações, intimações e penhoras poderão realizar-se no período de férias forenses, onde as houver, e nos feriados ou dias úteis fora do horário estabelecido neste artigo, observado o disposto no art. 5º, inciso XI, da Constituição Federal .
§ 3º Quando o ato tiver de ser praticado por meio de petição em autos não eletrônicos, essa deverá ser protocolada no horário de funcionamento do fórum ou tribunal, conforme o disposto na lei de organização judiciária local.
Art. 213 – NCPC: A prática eletrônica de ato processual pode ocorrer em qualquer horário até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia do prazo.
Parágrafo único. O horário vigente no juízo perante o qual o ato deve ser praticado será considerado para fins de atendimento do prazo.
Art. 214 – NCPC: Durante as férias forenses e nos feriados, não se praticarão atos processuais, excetuando-se:
I - os atos previstos no art. 212, § 2º ;
II - a tutela de urgência.
Art. 215 – NCPC: Processam-se durante as férias forenses, onde as houver, e não se suspendem pela superveniência delas:
I - os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários à conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo adiamento;
II - a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de tutor e curador;
III - os processos que a lei determinar.
Art. 216 – NCPC: Além dos declarados em lei, são feriados, para efeito forense, os sábados, os domingos e os dias em que não haja expediente forense.
Prazo (arts. 218 a 232 – NCPC): Lapso temporal dentro do qual os atos precisam ser praticados. 
A contagem é feita em dias úteis, excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento, salvo disposição em contrário.
10. Atos processuais – lugar (art. 217 – NCPC): 
Art. 217 – NCPC: Os atos processuais realizar-se-ão ordinariamente na sede do juízo, ou, excepcionalmente, em outro lugar em razão de deferência, de interesse da justiça, da natureza do ato ou de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz.
Os atos processuais são praticados, em regra, na sede do juízo. Se o processo está correndo na 7ª vara da Fazenda Pública, por exemplo, é lá que os atos processuais correm.
Há, contudo, ocasiões em que o legislador concedeu certos benefícios a determinadas pessoas ou em que há a impossibilidade da prática dos atos na sede do juízo. 
Ademais, pode-se citar a natureza do ato (a avaliação de um bem imóvel, por exemplo) que torna impossível levá-lo à sede do juízo.
Pode-se citar um obstáculo (como a ouvida de determinada testemunha acamada) que obsta a regra supramencionada.
11. O plano da validade – premissas:
· O plano da validade só se aplica aos atos jurídicos (compõem a vontade humana no suporte fático);
· Defeito não se confunde com sanção;
· Nem todo defeito gera invalidação;
· Toda invalidade processual precisa ser decretada;
· Não há interesse prático na criação de uma tipologia das invalidades processuais; 
Tipologia com base nos defeitos (Fredie Didier Jr.):
· Meras irregularidades: Não geram nenhuma invalidade. Mera irregularidade processual que não tem o condão de invalidar nada. Ex: O não uso do traje correto não ofusca uma excelente argumentação;
· Defeitos que geram invalidades: 
· Não podemser decretados de ofício: O magistrado decretar sem a manifestação da parte. Dependem, portanto, da manifestação das partes. Ex: Incompetência relativa;
· Podem ser decretados de ofício: Independem da manifestação das partes. 
· Não se submetem à preclusão (perda do direito de manifestação): Regra;
· Submetem-se à preclusão: Há um momento para que o magistrado decrete o vício de ofício. Ex: A citação defeituosa – depois de um determinado período o juiz não pode mais decretar; 
Observações sobre a avaliação:
Ocorre na próxima quarta-feira (30/11), sem consulta, 3 questões de valores próximos (3,3), não é cumulativa, com garantia de um caso prático e uma questão de teoria da ação. Não será cobrada a organização judiciária. O assunto da prova vai até plano da existência.

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