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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 2 Agronegócio ................................................................................................ 3 3 Histórico e Evolução do Agronegócio Brasileiro ......................................... 4 3.1 Perspectivas Para o Agronegócio Brasileiro ........................................ 6 3.2 Importância Econômico-Social do Agronegócio Brasileiro ................... 7 3.3 Desafios do Agronegócio no Brasil ...................................................... 8 4 A EVOLUÇÃO DO AGRONEGÓCIO ........................................................ 12 5 Introdução Ao Agronegócio ....................................................................... 13 5.1 Os territórios e a formação das aglomerações produtivas locais ....... 15 5.2 Os Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) ..................................... 18 6 Sistemas e cadeias agroalimentares e agroindustriais ............................. 22 6.1 Níveis de análise dos sistemas agroalimentares e agroindustriais .... 22 6.2 Cadeias Produtivas Agroalimentares e Agroindustriais (CPAs) ......... 26 6.3 Gestão de Sistemas e Cadeias Produtivas Agroalimentares e Agroindustriais ....................................................................................................... 28 7 As aglomerações produtivas agroalimentares e agroindustriais dos territórios rurais ......................................................................................................... 30 7.1 Os distritos agrícolas e agroindustriais italianos ................................. 32 7.2 Revisão de literatura........................................................................... 38 8 OS 10 NOVOS POLOS DO AGRONEGÓCIO .......................................... 39 9 Terra é o diferencial do Brasil ................................................................... 41 9.1 CANAIS DE ESCOAMENTO .............................................................. 42 10 IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO AGRONEGÓCIO NO BRASIL 45 11 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 49 1 INTRODUÇÃO Fonte:www.correio.rac.com.br Sob o ponto de vista da economia, o agronegócio tem sido o responsável pelo superávit da balança comercial, gerador de empregos, e fator irrigante de toda uma nova sociedade que se espraia pelo interior do País. Tivemos uma queda na safra de grãos 2016/17, predominantemente pelo fator clima, no qual recuamos para cerca de 190 milhões de toneladas. Porém, as perspectivas da nova safra, 2017/2018 apontam para uma super safra, acima de 213 milhões de toneladas de grãos. Dentro das atividades do agro, os fatores incontroláveis atuam de maneira impiedosa. Estamos contando com uma perspectiva de clima normal, o que nos permite projetar esse crescimento na safra de grãos. Os preços internacionais também não apresentam sinais de queda nas principais culturas, e temos melhora dos preços do açúcar, o que é estimulante para o surrado setor sucroalcooleiro, que apanhou muito por conta da política de preços dos combustíveis. Portanto o Brasil é grande no agronegócio, o quarto maior exportador mundial quando incluímos todas as cadeias produtivas com o pós-porteira das fazendas, onde despontam Estados Unidos, Holanda, Alemanha e Brasil. Somos hoje uma agrossociedade. Isso quer dizer uma civilização que se esparrama por todo o território, onde a base da riqueza econômica é oriunda da moderna agropecuária, mas toda uma rede de comercio, serviços e indústrias se estabelecem. 2 AGRONEGÓCIO Agronegócio também chamado de agribusiness, segundo Batalha (2002), é o conjunto de negócios relacionados à agricultura dentro do ponto de vista econômico. Costuma-se dividir o estudo do agronegócio em três partes. A primeira parte trata dos negócios agropecuários propriamente ditos (ou de dentro da porteira) que representam os produtores rurais, sejam eles pequenos, médios ou grandes produtores, constituídos na forma de pessoas físicas (fazendeiros ou camponeses) ou de pessoas jurídicas (empresas). Na segunda parte, os negócios à montante (ou da pré-porteira) aos da agropecuária, representados pelas indústrias e comércios que fornecem insumos para a produção rural. Por exemplo, os fabricantes de fertilizantes, defensivos químicos, equipamentos, etc. E, na terceira parte, estão os negócios à jusante dos negócios agropecuários, ou de pós-porteira, onde estão a compra, transporte, beneficiamento e venda dos produtos agropecuários, até chegar ao consumidor final. Enquadram-se nesta definição os frigoríficos, as indústrias têxteis e calçadistas, empacotadores, supermercados e distribuidores de alimentos. A definição correta de agronegócio é muito mais antiga do que se imagina e incorpora qualquer tipo de empresa rural. Em 1957, dois pesquisadores americanos reconheceram que não seria mais adequado analisar a economia nos moldes tradicionais, com setores isolados que fabricavam insumos, processavam os produtos e os comercializavam. (JUNIOR PADILHA, 2004). Já para Callado (2006), o agronegócio é um conjunto de empresas que produzem insumos agrícolas, as propriedades rurais, as empresas de processamento e toda a distribuição. No Brasil o termo é usado quando se refere a um tipo especial de produção agrícola, caracterizada pela agricultura em grande escala, baseada no plantio ou na criação de rebanhos e em grandes extensões de terra. Estes negócios, via de regra, se fundamentam na propriedade latifundiária bem como na prática de arrendamentos. O termo inclui todos os setores relacionados às plantações e às criações de animais, como comércio de sementes e de máquinas e equipamentos, as indústrias agrícolas, os abatedouros, o transporte da produção e as atividades voltadas à distribuição. Este tipo de produção agrícola também é chamada de agribusiness ou agrobusiness. (WIKIPÉDIA, 2009). O conceito de agronegócio implica na ideia de cadeia produtiva, com seus elos entrelaçados e sua interdependência. A agricultura moderna, mesmo a familiar, extrapolou os limites físicos da propriedade. Depende cada vez mais de insumos adquiridos fora da fazenda e sua decisão de o que, quanto e de que como produzir, está fortemente relacionada ao mercado consumidor. Há diferentes agentes no processo produtivo, inclusive o agricultor, em uma permanente negociação de quantidades e preços. Davis e Goldberg (1957) definem, o agronegócio como sendo a soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; das operações de produção na fazenda; do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles. Este conceito procura abarcar todos os vínculos intersetoriais do setor agrícola, deslocando o centro de análise de dentro para fora da fazenda, substituindo a análise parcial dos estudos sobre economia agrícola pela análise sistêmica da agricultura. No Brasil, essa abordagem sistêmica foi utilizada explicitamente por Araújo, Wedekin e Pinazza (1990), com a finalidade de levantar as dimensões básicas do agribusiness brasileiro. Estes autores concluíram que o agribusiness brasileiro representava 46% dos gastos relativos ao consumo das famílias, o que correspondia ao equivalente a 32% do PIB brasileiro em 1980. Assim, o Agronegócio é toda relação comercial envolvendo produtos agrícolas. 3 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO A história econômica brasileira, com suas implicações sociais, políticas e culturais, têm fortes raízes junto ao agronegócio. Foi à exploração de uma madeira, o pau Brasil, que deu nome definitivo ao nosso País. A ocupação do território brasileiro iniciada durante o século XVI e apoiada na doação de terras por intermédio de sesmarias,monocultura da cana-de-açúcar e no regime escravocrata foi responsável pela expansão do latifúndio. Antes da expansão deste sistema monocultor, já havia se instalado no país como primeira atividade econômica a extração do pau-brasil. Fonte:www.sintecsys.com A extinção do pau-brasil coincidiu com o início da implantação da lavoura canavieira, que durante esse período serviu de base e sustentação para a economia. O processo de colonização e crescimento está ligado a vários ciclos agroindustriais, como a cana-de-açúcar, com grande desenvolvimento no Nordeste; a borracha dá exuberância à região amazônica, transformando Manaus numa metrópole mundial, no início do século, logo depois o café torna-se a mais importante fonte de poupança interna e o principal financiador do processo de industrialização; mais recentemente, a soja ganha destaque como principal commodity brasileira de exportação, (RENAI, 2007). Da poupança da agricultura, instalam-se agroindústrias, como a do vinho e dos móveis, da carne bovina, de suínos e aves. O progresso do Sul do Brasil também está ligado ao agronegócio. A pecuária domina os pampas; a exploração da madeira nas serras e a agricultura se desenvolvem com a participação das várias etnias que compõem o mosaico populacional da região. Em síntese, fica evidente que, a partir da década de 1930, com maior intensidade na de 1960 até a de 1980, o produtor rural passou, gradativamente, a ser um especialista, envolvido quase exclusivamente com as operações de cultivo e criação de animais; por sua vez, as funções de armazenar, processar e distribuir produtos agropecuários, bem como as de suprir insumos e fatores de produção, foram transferidas para organizações produtivas e de serviços nacionais e/ou internacionais fora da fazenda, impulsionando, com isso, ainda mais a indústria de base agrícola. (VILARINHO, 2006). O agronegócio brasileiro passou por um grande impulso entre as décadas de 1970 e 1990, com o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, proporcionando o domínio de regiões antes consideradas inóspitas para a agropecuária. Isso fez surgir à oferta de um grande número de produtos. O país passou então a ser considerado como aquele que dominou a agricultura tropical, chamando a atenção de todos os nossos parceiros e competidores em nível mundial. Atualmente, produtos oriundos do complexo de soja, carnes e derivados de animais, açúcar e álcool, madeira (papel, celulose e outros), café, chá, fumo, tabaco, algodão e fibras têxteis vegetais, frutas e derivados, hortaliças, cereais e derivados e a borracha natural são itens importantes da pauta de exportação brasileira (VILARINHO, 2006). A evolução da composição do Complexo do Agronegócio confirma que as cadeias do agronegócio adicionam valor às matérias-primas agrícolas onde o setor de armazenamento, processamento e distribuição final constituem o vetor de maior propulsão no valor da produção vendida ao consumidor, consolidado na forte rede de interligação entre a agricultura e a indústria. 3.1 Perspectivas Para o Agronegócio Brasileiro Para Contini (2001), as perspectivas são promissoras. O Brasil detém terras abundantes, planas e baratas, como são os cerrados com uma reserva de 80 milhões de hectares, dispõe de produtores rurais experimentes e capazes de transformar essas potencialidades em produtos comercializáveis e detém um estoque de conhecimentos e tecnologias agropecuárias, transformadoras de recursos em produtos. Por qualquer ângulo que se analise o mercado, o tamanho que o Brasil adquiriu no campo do agronegócio é impressionante. Por conta de condições extremamente favoráveis para a contínua expansão deste mercado, como farto espaço territorial, mão-de-obra acessível e diversas questões ligadas à conjuntura internacional, o país é visto por muitos especialistas como principal candidato ao posto de grande fornecedor alimentício global. Até 2015, a participação nacional no mercado internacional de soja deve crescer dos atuais 36% para 46%. No caso do frango, o salto será de 58% para 66%. Nas áreas em que o país ainda tem uma fatia pequena do comércio mundial, as evoluções devem ser muito maiores. Na suinocultura, por exemplo, de acordo com previsões dos especialistas da área, o Brasil deve quadruplicar sua participação, conquistando metade do mercado internacional. Num futuro próximo, a suinocultura será tão importante para a balança comercial do país quanto são hoje o frango e a carne bovina (NETO, 2007 apud SEIBEL, 2007). O agronegócio é o maior negócio mundial e brasileiro. No mundo, representa a geração de U$ 6,5 trilhões/ano e, no Brasil, em torno de R$ 350 bilhões, ou 26% do PIB (29%, segundo a Confederação Nacional da Agricultura - CNA). A maior parte deste montante refere-se a negócios fora das porteiras, abrangendo o suprimento de insumos, o beneficiamento/processamento das matérias-primas e a distribuição dos produtos. (STEFANELO, 2002). Estes são pontos que reforçam a importância do agronegócio no Brasil, além de sua grande competitividade, utilização de alta tecnologia e gerador de empregos e riquezas para o país. 3.2 Importância Econômico-Social do Agronegócio Brasileiro O agronegócio é também importante na geração de renda e riqueza do País. No aspecto social, a agricultura é o setor econômico que ainda mais ocupa mão-de- obra, ao redor de 17 milhões de pessoas, que somados a 10 milhões dos demais componentes do agronegócio, representa 27 milhões de pessoas, no total. É o setor que ocupa mais mão-de-obra em relação ao valor de produção: para cada R$ 1 milhão, o número de ocupados, em 1995, era de 182 para a agropecuária, 25 para a extração mineral, 38 para a construção civil. (CONTINI, 2001). O agronegócio como um todo envolve mais de 1/3 do PIB brasileiro. Mesmo reconhecendo-se os benefícios da transformação de uma sociedade agrária para uma industrial-urbana, não se pode esquecer que esta tem capacidade limitada de absorver mão-de-obra. Principalmente em regiões menos desenvolvidas, os setores da agricultura, da agroindustrialização e de áreas correlatas serão importantes para o crescimento da renda e do emprego. (RENAI, 2007). No contexto da recente crise cambial, o agronegócio tem sido um fator que minimizou os desequilíbrios das contas externas do Brasil. A agricultura contribuiu decisivamente para as exportações com saldo comercial setorial positivo da ordem de US$ 40,18 bilhões de dólares em 2006 e de 49,7 bilhões em 2007. 3.3 Desafios do Agronegócio no Brasil Fonte:www.portaldoagronegocio.com.br Segundo indicadores da (Unctad), a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, o Brasil será o maior país agrícola do mundo em dez anos. Em 2006 as exportações cresceram 19,29% em relação a 2005, em termos de saldo, a ampliação em 2007 foi de cerca de US$ 58,4 bilhões, um aumento de 10,8% acima dos US$ 52,04 bilhões de 2006. O país é líder mundial de exportação de açúcar, café, suco de laranja e soja. Assumiu também a dianteira nos segmentos de carne bovina e frango, depois de ultrapassar tradicionais concorrentes, como Estados Unidos e Austrália. Essas boas posições devem consolidar-se ainda mais nos próximos anos. (BORGES, 2007). Esse montante coloca o Brasil entre os líderes mundiais na produção de soja, milho, açúcar, café, carne bovina e de frango. Mas todos esses bons resultados, assim como as expectativas futuras, correm sérios riscos de sofrer um pesado revés se os problemas relacionados à infraestrutura logística - o maior obstáculo para o desenvolvimento do agronegócio do Brasil, não forem solucionados. Um dos grandes entraves é a infraestrutura, em particular a precariedade da malha rodoviária do país. De acordo com uma das pesquisas mais recentes sobre o assunto, elaborada pela CNT Confederação Nacional do Transporte (2007), dos 84.832 quilômetrosavaliados, 37% encontram-se em estado péssimo de conservação e outros 32% possuem alguma deficiência. Em razão desse tipo de problema, regiões com potencial no agronegócio, como o Nordeste, ainda não conseguiram deslanchar. O agronegócio é justamente o que mais sofre com a ineficiência dos canais de transporte, cujas deficiências são responsáveis por prejuízo correspondente a 16% do PIB, segundo estudo do Centro de Estudos de Logística da Universidade do Rio de Janeiro. O gargalo logístico envolve praticamente toda a infraestrutura de transporte do país. As ferrovias, embora tenham recebido investimentos com a privatização, ainda estão longe de suprir a demanda do setor de agronegócio e se consolidar como uma alternativa viável ao transporte rodoviário. Além da ampliação da malha de 30 mil quilômetros de extensão (praticamente igual à do Japão, país 22 vezes menor que o Brasil) é urgente a modernização do maquinário. Com os trens e bitolas atuais, a velocidade média das composições não ultrapassa lentos 25 km/h. (BORGES, 2007). Ainda de acordo com a mesma fonte, Ao mesmo tempo, deixamos de fazer uso de canais de transporte de grande potencial, caso dos 42 mil quilômetros de hidrovias, em que apenas 10 mil quilômetros são efetivamente utilizados. Como resultado, sistemas como o do Tietê-Paraná, com 2,4 mil quilômetros e que consumiu US$ 2 bilhões em investimentos públicos em vários governos, escoa apenas 2 milhões de toneladas de carga/ano, apenas 10% de sua capacidade total. No transporte marítimo de cabotagem (outro canal com grande potencial no Brasil) assistimos a uma situação semelhante. Embora a privatização tenha contribuído para a modernização dos portos, o excesso de mão-de-obra (que chega a ser de três a nove vezes superiores aos portos europeus e sul-americanos) ainda mantém os padrões de produtividade baixos. Enquanto o índice internacional de movimentação é de 40 contêineres/hora, nos portos brasileiros essa média é de 27. É um dos motivos pelos quais todos os anos caminhões formam filas de até 150 quilômetros de extensão para descarregar suas cargas no porto de Paranaguá (PR). Consciente de que sozinho não conseguirá reverter esse quadro, o governo federal já busca o apoio da iniciativa privada. Por meio do plano de Parceria Público- Privada, que pretende investir R$ 13,68 bilhões em 23 projetos de reformas em rodovias, ferrovias, portos e canais de irrigação nos próximos anos. Na certeza que só as Parcerias Público-Privada, não será suficiente para dotar o país de bom infraestrutura, o Governo Federal criou o (PAC) Programa de Aceleração do Crescimento lançado no começo de 2007, foi concebido para eliminar esse descompasso e afastar o risco de gargalos nos próximos anos. (PAC, 2009). O objetivo do programa é aumentar o investimento em infraestrutura para: eliminar os principais gargalos que podem restringir o crescimento da economia; reduzir custos e aumentar a produtividade das empresas; estimular o aumento do investimento privado; e reduzir as desigualdades regionais. Os investimentos em Infraestrutura logística do PAC previstos até 2010 são de R$ 58 bilhões de reais. É preciso destacar também que, além dos recursos, a iniciativa privada ainda tem muito a contribuir para o desenvolvimento da infraestrutura do país, incentivando a criação de polos intermodais de transporte (integração entre os sistemas rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial e aéreo) para redução de custos e aumento do nível de serviços. Um exemplo do potencial desses polos é representado por um estudo do Geipot (Empresa Brasileira de Planejamento em Transportes, ligada ao Ministério dos Transportes). Já em 2000, a empresa alertava que o melhor aproveitamento e a utilização racional dos canais de transporte seria capaz de economizar em cerca de US$ 75 milhões os custos anuais de escoamento de grãos. Para ilustrar o que estamos falando, basta destacar que um único comboio na hidrovia Rio Madeira tem capacidade para 18 mil toneladas de grãos, substituindo 600 carretas de 30 toneladas nos eixos Cuiabá (MT) / Santos (SP) e Cuiabá (MT) /Paranaguá (PR). Essa redução dos custos de transporte contribuiria diretamente para reduzir os custos de nossos produtos, tornando-os mais competitivos no mercado internacional. Isso sem falar da economia de combustível e de fretes, na redução do tráfego e desgaste das rodovias. Outro obstáculo sério ao desenvolvimento pleno do agronegócio está relacionado ao sistema tributário. Com uma economia aberta ao exterior, isto é com possibilidade de exportar e importar qualquer produto do agronegócio, a carga tributária deve ser compatível com a dos nossos competidores. Como nossos concorrentes, inclusive no Mercosul, têm impostos baixos, fica difícil ao produtor brasileiro competir nos mercados externos; vezes há que perde o próprio mercado interno porque os produtos importados chegam mais baratos. Fonte: www.sfagro.uol.com.br Não há como o produtor rural e a agroindústria serem competitivos com governos vorazes em criar novos impostos, aumentar os atuais e com mecanismos complexos de arrecadação, o que aumenta os custos de produção. A reforma tributária é urgente, com diminuição da carga e simplificação dos procedimentos na tributação. Além das medidas de controle sanitário que também estão na relação de assuntos importantes que vêm sendo negligenciados pelo governo. O potencial de prejuízos que isso pode acarretar aos produtores já foi demonstrado nos últimos anos. Por causa do surgimento de focos de febre aftosa em Mato Grosso do Sul e no Paraná, segundo Seibel (2007) mais de 50 países impuseram embargo à carne bovina desses estados, que estão entre os maiores produtores nacionais. Além do embargo à carne bovina, o agronegócio brasileiro sofreu com o surto de gripe aviária, que prejudicou as exportações mesmo de países que não registraram casos da doença (como o Brasil). Como se vê, os obstáculos para o crescimento do agronegócio brasileiro são imensos, mas as soluções também existem e precisam ser colocadas em prática. O que esperamos, é que tanto o governo nas esferas federal, estadual e municipal, quanto a iniciativa privada, mantenham a sua determinação em modernizar a infraestrutura brasileira, e resolva os problemas domésticos para que o pais se torne a potência do agronegócio do futuro. 4 A EVOLUÇÃO DO AGRONEGÓCIO No final da década de 1980, surgiu uma revolução técnico-científica na agropecuária do Brasil chamada de Revolução Verde, a qual consistia na disseminação de novas práticas, permitindo um enorme aumento da produção agrícola. Essas novas práticas utilizavam-se de sementes modificadas, bem como de insumos industriais. Além disso, melhoravam-se os recursos de irrigação e na mecanização do trabalho. Outro fator facilitador do aumento da produção agrícola foi a política de crédito acessível e de preço mínimo. Esse fato gerou a multiplicação de agências governamentais de tecnologia agrícola como: Emater, Embrapa e outras. Com esse desenvolvimento a ampliação da produção foi imensa em espécies como soja, milho e algodão. Esse desenvolvimento e essa nova tecnologia atingiram também o setor de pecuária de corte e avicultura. Nos tempos atuais, o avanço da biotecnologia ainda causa certo desconforto entre os produtores, principalmente no estado do Paraná, onde o governo adota uma política anti-transgênicos. Entretanto, pessoas influentes no meio agrícola e até mesmo o Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, atestam que é inevitável o avanço dos produtos transgênicos no Brasil e no mundo. Segundo a FAO, Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, a produção de transgênicos poderá frear o aumento do problema da fome, já que a estimativa de ampliação da população é de 2 bilhões de habitantes nos próximos 25 anos. Em países como EstadosUnidos, China e Argentina, a produção de transgênicos é extremamente elevada. A soja, nos Estados Unidos, tem sua composição total formada com 87% de transgênicos. Para o algodão, essa porcentagem é de 79% e para o milho, 52%. Argentina e EUA responderam por 80% da área de transgênicos cultivados no mundo, em 2004, enquanto o Brasil participa com somente 6% do total. Em todos os países, calcula-se que o consumo de produtos geneticamente modificados tenha ultrapassado 350 milhões de toneladas e, desde 1994, não foram registrados problemas de saúde oriundos desses alimentos. Portanto, ainda resta muito espaço para avançar na produtividade das diversas espécies de grãos e leguminosas, mas o principal avanço deve ocorrer na cultura e na mudança de paradigmas do produtor brasileiro. 5 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Com o aprofundamento do processo de globalização dos mercados e da produção, aumentou também a competitividade decorrente de uma expansão da escala de produção das indústrias, quando as empresas transnacionais procuram organizar a sua logística dentro de um padrão operacional global. Esse contexto tem gerado a necessidade de novas formas de atuação e organização dos atores sociais locais e das empresas, privadas e cooperativas, de ações institucionais e de uma perspectiva territorial para estudar os processos de desenvolvimento regional em curso. Essas mudanças vêm acontecendo a partir das diversificações horizontais, quando ocorrem formações de redes, alianças, fusões e aquisições, e das diversificações verticais, quando há investimentos nos sistemas e cadeias produtivas e nas estruturas de distribuição. Com isso, teve início um processo de reestruturação do sistema produtivo capitalista, reorganização da produção globalizada e, desde o final dos anos 60, mudanças no modo de regulação fordista do período pós-guerra. Essa reestruturação vem provocando significativas mudanças nos processos locais e territoriais de produção e consumo e aprofundando os desequilíbrios regionais. Esse movimento vem gerando novas demandas e formas de políticas públicas para o desenvolvimento dos territórios. Estes, por meio de seus atores locais, tentam responder aos efeitos da globalização, ao mesmo tempo em que passam a fazer parte, de forma mais ativa, da trajetória da reestruturação do sistema produtivo global através de modificações, adaptações e a formação de novos sistemas produtivos locais. Por isso, já se verificam novas dinâmicas locais de desenvolvimento, em resposta aos efeitos da globalização e da reestruturação produtiva global sobre os sistemas produtivos locais. As transformações nos processos produtivos locais e os seus resultados nas diferentes regiões, associadas às características físicas, político-culturais e socioeconômicas internas de cada território, deram origem a diversificadas dinâmicas de desenvolvimento local com trajetórias bastante diferenciadas e complexas. A falta de conhecimentos sobre essas dinâmicas socioeconômicas locais tornou-se um importante limitador do alcance dos instrumentos e políticas públicas e privadas de desenvolvimento e das ações do Estado como agente indutor eficaz desse desenvolvimento das aglomerações produtivas e, particularmente, dos sistemas e cadeias agroalimentares e agroindustriais. Fonte:www.exame.abril.com.br Como resultado, emergiu a necessidade de mudanças nas formas de interpretação das teorias e políticas de desenvolvimento regional, abandonando-se os paradigmas que pretendiam explicar os desequilíbrios regionais a partir apenas da reorganização da produção globalizada. Isso deu um novo impulso aos estudos que utilizam abordagens teóricas que, após uma necessária constatação empírica, pudessem explicar a gênese e o funcionamento das atuais dinâmicas de desenvolvimento dos territórios. Os resultados dos estudos sobre reestruturação produtiva, desenvolvimento regional e aglomerações produtivas territoriais deram origem à perspectiva territorial do desenvolvimento. Dessa perspectiva surgiram as abordagens dos Clusters ou Arranjos Produtivos Locais (APLs), dos Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) e dos distritos industriais, agroindustriais e agrícolas. Mais recentemente, as teorias do desenvolvimento regional e rural passaram a considerar a dinâmica territorial, superando a dicotomia rural-urbano, utilizando uma perspectiva multisetorial e territorial do desenvolvimento, a partir de uma análise da dinâmica socioeconômica do desenvolvimento dos territórios rurais, com uma abordagem teórica apoiada nos Sistemas Agroalimentares Localizados (SIALs). 5.1 Os territórios e a formação das aglomerações produtivas locais Com a atual crise do modelo produtivo mundial e a flexibilização geral (organizacional e das relações de trabalho) do capitalismo, emerge um novo sistema de regulação socioeconômica e política, na qual um grande conjunto de pequenas e médias empresas vem garantindo a diversificação e um aumento na participação da produção. Com isso, cresceu a importância da produção flexível, da inovação tecnológica e das vantagens competitivas das aglomerações produtivas locais. A evolução das novas relações nas sociedades contemporâneas demonstra empiricamente e valida os conceitos e definições que enfatizam a relação dialética entre as esferas local e global. As relações sociais locais são reflexos dos fatos e das ações dos atores globais, enquanto estas são também consequências das relações e ações locais. O global não existe sem o local, mas, em grande parte, este se caracteriza pelas relações socioeconômicas estruturadas pelas relações socioeconômicas e políticas globais. Como há necessidade de se buscar um equilíbrio entre o global e o local, o foco não pode ser apenas nas relações com o exterior, mas também nas relações e interações internas dos territórios. Nesse caso, o local reage e responde aos estímulos provocados pelas ações dos atores globais. Esse contexto caracteriza o que vem sendo denominado de Desenvolvimento Territorial (MORAES, 2008). Na esteira do debate em torno dos caminhos da reestruturação produtiva capitalista, desde o início da década de 1980, intensificaram-se os estudos que utilizam as abordagens locais, endógenas e, mais recentemente, territoriais do desenvolvimento (BENKO, 2002; BENKO; LIPIETZ, 1994; REIS, 2006; SABOURIN, 2002). Assim, diversos estudos, como o de Reis (2006), passaram a dar mais ênfase aos fatores endógenos, à ação dos atores sociais locais, à dimensão territorial, ao papel das instituições e às aglomerações produtivas locais nos processos de desenvolvimento. Como resultado da relação da sociedade com o seu espaço, o conceito de território destaca as relações da sociedade local com as suas atividades econômicas e produtivas. Para que se tenha um território é necessário que a sociedade ou grupos sociais apropriem-se do espaço físico, que se ampliem e se utilizem as inovações tecnológicas e que exista um sentimento de pertencimento ou a identificação da sociedade com o seu território. As dinâmicas socioeconômicas de desenvolvimento de um território, região ou conjunto de municípios são condicionadas pela organização local do seu sistema de produção. Esses sistemas são formados pelas interações entre as empresas locais, propiciando economias de escala, de escopo, de proximidade ou de aglomeração. Essas geram vários mercados internos e áreas de contato com o exterior, facilitando as trocas de informações e conhecimentos e outros bens e serviços. Diferentemente do crescimento industrial verificado até o final dos anos 1970, os resultados de uma ampla variedade de estudos indicam uma crescente importância atribuída aos territórios e às aglomerações produtivas locais e o aparecimento de novas formas de segmentação dessas (MORAES, 2008). Uma aglomeração produtiva é a concentração de atividadessimilares ou interdependentes em um determinado espaço ou território, não importando o tamanho das empresas, nem a natureza da atividade econômica desenvolvida. Essas atividades podem pertencer ao setor agrícola, industrial ou de serviços. Pode incluir desde estruturas artesanais, com pequeno dinamismo, até arranjos que comportem uma grande divisão de trabalho entre as empresas. Geralmente, os produtos resultantes têm um elevado conteúdo tecnológico. Dentro do aglomerado, a divisão do trabalho entre as empresas permite que o processo produtivo ganhe flexibilidade e eficiência, já que as empresas são obrigadas a se tornarem competitivas nas suas atividades. A concentração de produtores especializados estimula o desdobramento da cadeia produtiva a montante, principalmente pelo surgimento de fornecedores de matérias-primas, máquinas e equipamentos, peças de reposição e assistência técnica, além de serviços especializados. Essa concentração estimula também o desenvolvimento da cadeia produtiva a jusante, por meio da atração de empresas especializadas nestes segmentos e do surgimento de agentes comerciais que levam os produtos para mercados distantes (REIS, 1992). Assim, emerge um debate em torno da formação e do papel das aglomerações produtivas locais ou localizadas, resultando nas abordagens teóricas dos Arranjos Produtivos Locais (APLs), dos Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) e dos Sistemas Agroalimentares Localizados (SIALs). Esses SIALs são estruturados a partir dos sistemas (SAGs) e das cadeias produtivas (CPA) agroalimentares e agroindustriais presentes nos territórios rurais. Acredita-se que essas abordagens, além de contribuírem para fornecer algumas pistas para as questões do desenvolvimento local, possam também servir de base para políticas e instrumentos de produção e desenvolvimento de sistemas e cadeias agroalimentares e agroindustriais, mais ajustados ao perfil específico de cada território rural e de suas potencialidades locais. Fonte:www.foconopoder.com Algumas indicações sobre as origens dos estudos sobre os territórios, SPLs, APLs podem ser encontradas nas abordagens teóricas que tratam da concentração espacial de empresas e das principais tipologias dos aglomerados produtivos. Como essas têm implicações diretas na formulação de políticas industriais, podem contribuir também para as políticas de desenvolvimento de uma determinada região ou território. Assim, muda o enfoque que percebe a empresa como uma unidade autônoma para outro, em que a empresa passa a ser analisada como parte do ambiente socioeconômico e físico, ao qual ela pertence. Esse é o ambiente socioterritorial onde ocorre o processo produtivo que, consequentemente, transforma-se em uma nova unidade de produção e análise. Nesse contexto, os Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) e, particularmente, os Sistemas Agroalimentares Localizados (SIALs), nos territórios rurais, aparecem como mecanismo de mediação entre os efeitos da globalização e as dinâmicas socioeconômicas locais de desenvolvimento dos territórios, através da coordenação, aproveitando as oportunidades externas e as potencialidades endógenas desses territórios. Estes, então, passam a ser representados pelas suas dinâmicas locais de desenvolvimento e tomam a forma de SPLs e SIALs. Assim, os territórios podem ser analisados sob o ponto de vista organizacional, produtivo, social, institucional e de suas articulações externas e internas. A partir desse mecanismo, atores e instituições passam a gerenciar a produção e os recursos endógenos, executando ações de coordenação do território e de suas aglomerações produtivas. 5.2 Os Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) Os estudos sobre os Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) têm origem nos trabalhos de Alfred Marshall, ainda no final do século XIX, sobre a organização da produção, identificando a formação dos distritos industriais. Esses estudos serviram de ponto de partida para o surgimento de um leque de variantes a partir do conceito de distrito industrial, que buscam identificar e classificar a formação de aglomerações produtivas. Marshall destacava a localização das indústrias como fator gerador de diversas vantagens para a população local dos territórios, tais como a transmissão quase espontânea dos conhecimentos do ofício de uma geração a outra, o desenvolvimento de tecnologias inovadoras relativas ao ofício e à transmissão das formas de organização do negócio entre os atores, as facilidades geradas pela concentração de mão de obra especializada, para os trabalhadores encontrarem trabalho e para as empresas encontrarem mão de obra de boa qualidade e o aumento da concorrência de fornecedores e de serviços associados, favorecido pela concentração das indústrias, o que diminui os custos de produção das empresas (MARSHALL, 1992). A abordagem dos SPLs tanto pode englobar uma cadeia produtiva estruturada localmente como se concentrar em um ou mais segmentos de uma cadeia produtiva específica de abrangência nacional e/ou internacional. Entre os atores que atuam nos SPLs, incluem-se, entre outros, o Estado, empresas produtoras, fornecedoras de insumos, financeiras e prestadoras de serviços, associações de classe, associações comerciais, instituições de suporte, serviços, fomento, ensino e pesquisa (POMMIER, 2002). No Brasil, a Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (Redesist), coordenada pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CASSIOLATO; LASTRES, 2002) define Arranjo Produtivo Local (APL) como um aglomerado de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, que apresentam fortes vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem. Uma das principais vantagens dos estudos focados nos SPLs e APLs, segundo Cassiolato & Lastres (2003), é o fato de esses representarem uma unidade prática de investigação que vai além da tradicional visão baseada na empresa, no setor ou somente em uma cadeia produtiva. Assim, permite-se estabelecer uma ponte entre o território e as atividades econômicas; focalizar um grupo diversificado, tanto de agentes ligados diretamente à produção como de atividades conexas (principal característica de um sistema produtivo e inovativo local); representar o território a partir de um espaço no qual são oferecidas as condições para a inovação; representar um importante desdobramento da implementação de políticas de desenvolvimento. Atualmente, entende-se que os SPLs representam os mecanismos de mediação entre os efeitos do capitalismo global e as propostas locais-endógenas para o desenvolvimento territorial, por meio da coordenação e negociação. A definição de SPL destaca a forma de organização, o processo de desenvolvimento local e o papel dos atores e instituições dentro do sistema. Enquanto o desenvolvimento local corresponde à dimensão social do SPLs, implicando melhores condições de vida, a forma de organização corresponde a processos históricos de consolidação sobre um espaço físico de uma população que desenvolve relações culturais e de identidade com o território, além da localização das indústrias em um determinado espaço geográfico (CORREA, 2004). Desde o início da década de 1970, os sistemas produtivos locais (SPLs) de diversos territórios do Brasil vêm caminhando para uma crescente articulação ou integração socioeconômica com setores capitalistas mundiais, por intermédio de cadeias globais de produção e consumo. Essa articulação e/ou integração tem sido o caminho seguido por algumas regiões ou territórios como respostas locais às mudanças provocadas pela reestruturação do sistema produtivo global e à modernização tecnológica dos processos produtivos (MORAES, 2008). Fonte:www.cut.org.br O Setor agroalimentar e as cadeias globais de produção e consumo Bonanno (1999)cita William H. Friedland como autor de uma alternativa crítica importante aos pressupostos das teorias da pauta dos debates sobre a evolução dos sistemas agroalimentares e agroindustriais globais e o fim do fordismo. A proposta de Friedland, na segunda metade da década de 1990, reconhece tanto a natureza contraditória da evolução da economia global como a ação das diferentes classes sociais envolvidas nesse processo e vê a globalização como um fenômeno desigual que não afeta da mesma forma e com a mesma abrangência todas as regiões, setores e mercadorias. Embora reconhecendo que as tendências para a especialização e a globalização da produção tenham sido confirmadas, Friedland afirma que essas tendências não são caracterizadas pela produção artesanal. Ele cita como exemplo o caso da produção de frutas e vegetais in natura na Holanda, onde a presença de pequenas unidades familiares de produção e a descentralização de um amplo sistema de integração vertical não representa o fim da produção em massa e a emergência de um sistema manufatureiro baseado na forma artesanal. Segundo ele, indica o desenvolvimento de um sistema de produção em massa bem mais sofisticado (talvez mais apropriado fosse chamar de um neofordismo), que está ancorado nas pequenas unidades familiares de produção Essas pequenas unidades não podem ser consideradas independentes, porque são controladas pelas grandes corporações transnacionais, que empregaram esquemas técnicos e legais para fragmentarem o poder de barganha das unidades de produção. Esse parece ser um caso semelhante ao que acontece na produção de tabaco no sul do Brasil. Para Friedland, a formação de nichos de mercado é o tópico principal para se entender a produção em massa individualizada, pois esse fenômeno é a fragmentação de um mercado de massa-padrão em uma variedade de mercados com produtos especializados. Isso responde à crise nos mercados homogêneos de massa, pois introduz um sortimento de produtos necessários para o atendimento das novas demandas dos consumidores globais. Na essência, apesar da aparente independência dos produtores, o processo de trabalho e os produtos mantêm seu caráter fordista e continuam totalmente controlados por aqueles setores que estão acima dos produtores. Foi a teoria dos nichos de mercado que permitiu a Friedland rejeitar as teses do fim do fordismo e a transição para um pós-fordismo. No entanto, no debate brasileiro em torno do desenvolvimento rural, já se identifica uma mudança de visão nas novas abordagens utilizadas para compreender o papel do mundo rural no desenvolvimento do país. Uma nova perspectiva de estudo vem substituindo a visão tradicional, que se apoiava na dicotomia rural-urbana e via o rural como sinônimo de agrícola, por uma visão sobre o mundo rural baseada na possibilidade desse território rural incluir, também, as pequenas cidades do interior e oferecer novas alternativas de emprego e renda e diversas outras formas de melhoria na qualidade de vida da sua população. Espera-se que, assim, o território rural possa utilizar o seu potencial local, suas características históricas e culturais e, ao mesmo tempo, as oportunidades externas, levando a uma nova ruralidade e contribuindo para o desenvolvimento desses territórios. 6 SISTEMAS E CADEIAS AGROALIMENTARES E AGROINDUSTRIAIS As regiões rurais estão, cada vez mais, diversificando as suas atividades e trajetórias de desenvolvimento que, nos novos espaços rurais, são coordenadas por diferentes redes (MURDOCH, 2000). Então, destacam-se as significativas interações entre os sistemas e cadeias agroalimentares e agroindustriais e os territórios, decorrentes do fato de que as lógicas das cadeias produtivas e a dos territórios serem inseparáveis (SAUTIER, 2002). Essas interações, que são também relações de interdependência, encarregam-se de explicar as dinâmicas territoriais-locais e as formas específicas de articulação entre o local e o global, uma vez que no espaço local é onde ocorre a convergência entre o rural e o urbano, onde se encontram o mundo urbano e o mundo rural (WANDERLEY, 2001). Nos conceitos adotados nas abordagens dos sistemas agroalimentares e agroindustriais (SAGs) e das cadeias produtivas agroalimentares e agroindustriais (CPAs), agribusiness ou agronegócios e, consequentemente, dos Sistemas Agroalimentares Localizados (SIALs), destacam-se os relacionamentos entre a produção agrícola, as empresas agroindustriais e de serviços (fornecedores, processadores e distribuidores) e o ambiente socioeconômico. Essas abordagens interpretativas são formadas por três grandes segmentos, o segmento antes da porteira, os fornecedores para a agropecuária (ou agricultura), o dentro da porteira, a produção agropecuária, e os segmentos depois da porteira, as empresas agroindustriais, as indústrias de alimentos e as distribuidoras do produto final. 6.1 Níveis de análise dos sistemas agroalimentares e agroindustriais Os professores da Universidade Harvard, Ray Goldberg e John Davis, publicaram, em 1957, o livro A Concept of Agribusiness, que trouxe um novo conceito para a análise da agricultura, saindo da tradicional visão isolada para a análise do sistema que vai desde a produção de insumos até a distribuição, passando pela produção agrícola e agroindustrial. Dessa maneira, a agricultura, em um contexto sistêmico de cadeia produtiva, foi denominada de Agribusiness e definido como: a soma das operações de produção e distribuição de insumos para a agricultura, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir delas (BATALHA, 1997, p. 25). O Agribusiness ou Agronegócio compõe-se de sistemas e cadeias produtivas agroalimentares e agroindustriais que operam em diferentes ecossistemas ou sistemas naturais. No contexto geral do agronegócio, existe um conglomerado de instituições de apoio e coordenação, de organizações de crédito, pesquisa, assistência técnica, entre outras, e um aparato legal e normativo, exercendo forte influência no seu desempenho (DAVIS; GOLDBERG, apud BATALHA, 1997). Fonte:www.trecsson.com.br Consequentemente, a gestão do agronegócio busca mobilizar conceitos e instrumentos de intervenção nos sistemas e cadeias produtivas, como o crédito agrícola, a inovação tecnológica e gerencial, as normas de taxação, serviços de apoio, entre outros, para melhorar o desempenho em relação a indicadores específicos. Essas intervenções entretanto, só se tornam eficazes quando é possível compreender sistematicamente, o que ocorre todos os segmentos em que a produção agropecuária se insere. No entanto, o Agribusiness apresenta enfoques metodológicos diferentes. Em 1968, Goldberg publicou outro trabalho onde utilizou a noção de commodity systems approach (CSA), dentro de uma visão sistêmica, tendo como início uma matéria prima básica, conhecido, no Brasil, por Complexo Agroindustrial (CAI). As cadeias de agribusiness são operações organizadas de forma vertical e percorrida pelo produto desde sua produção, elaboração industrial e distribuição, podendo ser coordenadas via mercado, ou por meio da intervenção de agentes diversos ao longo da cadeia, que contribuem ou interferem de alguma maneira no produto final. Essa coordenação pode ter maior importância naquelas cadeias expostas à competição internacional e, especialmente, às crescentes pressões dos clientes, que são os alvos finais das cadeias e a quem estas devem adaptar-se (ZYLBERSTAJN; NEVES, 2000). A Escola Francesa de Organização Industrial desenvolveu, na década de 1960, o conceito de analyse de filières, que visava analisar parcialmente o agribusiness. Esse modelo foi traduzido para o português como cadeia de produção ou cadeia de produção agroindustrial (CPA). Nesse caso, a análise parte do produtofinal em direção à matéria-prima que lhe deu origem, diferente do modelo (CSA) proposto anteriormente por Goldberg, que partia de uma matéria-prima básica. Apesar de terem surgidos em locais e épocas diferentes, as metodologias de análise da cadeia proposta por Goldberg e pela escola francesa (analyse de filières) possuem muitas semelhanças. Por exemplo, as duas utilizam cortes verticais no sistema econômico de um determinado produto/serviço final (mais comum na escola francesa) ou a partir de uma matéria-prima de base, para posteriormente estudar sua lógica de funcionamento. Além disso, ambas dividem o sistema em três subsetores distintos: agricultura, indústria e serviços e partem da premissa que a agricultura deve ser vista dentro de um sistema mais amplo, do qual participam também produtores de insumos, indústria processadora (agroindústrias e indústrias de alimentos) e segmentos de distribuição e comercialização (atacado e varejo). As duas metodologias de análise apontam nas mesmas direções: estratégia e marketing, política industrial, gestão tecnológica, modelo de delimitação de espaços de análise dentro do sistema produtivo e ferramenta de descrição técnico-econômica de um setor. Os dois conceitos usam a noção de sucessão de etapas produtivas, desde a produção de insumos até o produto acabado, como forma de orientar a construção de suas análises. Ambos destacam o dinamismo do sistema e propõem um caráter prospectivo. A diferença principal está na importância atribuída ao consumidor final como agente dinamizador da cadeia. A análise de filières privilegia o mercado final (produto acabado/serviço) em direção à matéria-prima básica para a sua produção. Os dois principais aspectos destacados pelas duas metodologias são o caráter mesoanalítico e sistêmico dos estudos de cadeias produtivas agroindustriais (BATALHA, 1997). Ainda, segundo Batalha (1997), a literatura que trata da problemática agroindustrial no Brasil não tem feito uma boa diferenciação entre as expressões Sistema Agroindustrial, Complexo Agroindustrial e Cadeia de Produção Agroindustrial. Esses conceitos representam espaços de análise diferentes, têm diferentes objetivos e todos foram desenvolvidos como instrumentos de visão sistêmica. Parte-se da premissa que a produção de bens e serviços pode ser representada como um sistema, no qual os diversos atores estão interconectados por fluxos de materiais, de capital e de informação, objetivando suprir um mercado consumidor final com os produtos do sistema. A partir desse ponto do texto, com o objetivo de se tornarem mais abrangentes e práticos, esses termos serão acrescidos da palavra agroalimentar, ou seja, serão denominados de Sistema Agroalimentar e Agroindustrial (SAG), Complexo Agroalimentar e Agroindustrial (CAI) e Cadeia de Produção Agroalimentar e Agroindustrial (CPA). Um Sistema Agroalimentar e Agroindustrial (SAG) não está associado a qualquer matéria-prima agropecuária ou produto final específico. Pode-se entender o SAG como sendo composto pelos seis conjuntos de atores: (1) agricultura, pecuária e pesca; (2) indústrias agroalimentares (IAA); (3) distribuição agrícola e alimentar; (4) comércio internacional; (5) consumidor; e (6) indústrias e serviços de apoio. O SAG é definido por Batalha (1997, p.30) como o conjunto de atividades que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a produção dos insumos até a chegada do produto final ao consumidor. Dessa forma, um SAG específico é composto por empresas ou firmas entre as quais são realizadas várias transações. Existem diferentes sistemas agroindustriais dentro do agribusiness associados a diferentes produtos, bem como diferentes formas de organização. O Complexo Agroalimentar e Agroindustrial (CAI) tem como ponto de partida uma determinada matéria-prima básica (café, algodão, leite, soja, uva). Essa matéria- prima pode originar diferentes produtos finais (queijo, nata, manteiga), formando várias cadeias de produção, cada uma delas associada a um produto final (BATALHA, 1997). A arquitetura de um CAI parte de uma matéria-prima principal que o originou, segundo os diferentes processos industriais e comerciais que ela pode sofrer até se transformar em diferentes produtos finais. A formação de um CAI exige a participação de um conjunto de cadeias de produção (CPA), cada uma delas associada a um produto ou família de produtos. Como as CPAs são as unidades básicas para os CAIs, SAGs e demais formas de aglomerações produtivas agroalimentares e agroindustriais, elas serão abordadas com mais detalhes a seguir. 6.2 Cadeias Produtivas Agroalimentares e Agroindustriais (CPAs) Uma cadeia produtiva é formada pelo conjunto de componentes interativos, incluindo os segmentos produção agrícola, fornecedores de insumos e serviços, industriais de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização, além de consumidores finais. O objetivo é suprir o consumidor final de determinados produtos ou subprodutos (CASTRO, 1998). Fonte:www.agriculturaemar.com A Cadeia Produtiva Agroalimentar e Agroindustrial (CPA) é definida a partir da identificação do produto final que, após identificado, é encadeado de jusante a montante pelas várias operações técnicas, comerciais e logísticas necessárias a sua produção (BATALHA, 1997). A CPA dos vinhos finos do Rio Grande do Sul pode ser um exemplo. Conforme Batalha (1997), uma CPA pode ser segmentada, de jusante a montante, em três macro segmentos, que são: a) Comercialização - É representada pelas empresas que mantém contato com o cliente final da cadeia de produção e que criam condições para o consumo e o comércio dos produtos finais (supermercados, restaurantes, cantinas, etc.), podendo, ainda, serem incluídas nesse segmento empresas que se responsabilizam pela logística de distribuição dos produtos acabados. b) Industrialização - É constituída pelas empresas que transformam as matérias-primas em produtos acabados destinados ao consumo. c) Produção de matéria-prima - É formado pelas firmas que fornecem matérias- primas iniciais para que outras empresas produzam o produto final destinado ao consumo. Um SAG, um CAI ou uma CPA representam uma série de transações (T1, T2, T3, T4, T5), que interligam os diferentes segmentos, desde o setor de insumos, passando pela produção agropecuária, indústria (agroindústria e indústria de alimentos), distribuição (atacado e varejo), até a chegada do produto ao consumidor. Além disso, deve ser destacada a importância do ambiente institucional, que define as regras do jogo, e do ambiente organizacional, que é o processo de ação coletiva das empresas, por exemplo, por meio de associações e/ou sindicatos. Esses conceitos foram introduzidos no Brasil, inicialmente, com a denominação de complexo agroindustrial, negócio agrícola e agronegócio e são definidos não apenas em relação ao que ocorre dentro dos limites das propriedades rurais, mas em todos os processos interligados que propiciam a oferta dos produtos da agricultura aos seus consumidores (ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Daí nasceu o conceito de cadeia produtiva, como subsistema (ou sistemas dentro de sistemas) do agronegócio, composto por muitas cadeias produtivas, ou subsistemas do negócio agrícola. As cadeias produtivas, por sua vez, possuem entre os seus componentes ou subsistemas os diversos sistemas produtivos agropecuários e agroflorestais (CASTRO et al., 1998). Essa generalidade do enfoque permite que se possa referir, de uma maneira geral, a um enfoque sistêmico em cadeias produtivas. A mesoanálise tem sido definida como a análise estrutural e funcional dos subsistemas e de suas interfaces e interdependências dentro de um sistema produtivo integrado. Essas alterações são basicamente resultado do conjunto de cinco fatores: políticos, econômico-financeiros,tecnológicos, socioculturais e legais ou jurídicos. Conceitualmente, uma cadeia produtiva é o encadeamento de atividades econômicas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos, incluindo desde as matérias-primas, máquinas e equipamentos, produtos intermediários e finais, sua distribuição e comercialização. Resulta de uma crescente divisão de trabalho, na qual cada agente ou conjunto de agentes especializa-se em etapas distintas do processo produtivo. Essas cadeias produtivas podem ser identificadas a partir da análise de relações interindustriais expressas em matrizes insumo-produto. 6.3 Gestão de Sistemas e Cadeias Produtivas Agroalimentares e Agroindustriais De acordo com Castro (1998), a compreensão do funcionamento do agronegócio é essencial para a sua gestão. Esse conhecimento pode ser ampliado aplicando-se a lógica e as técnicas de análise de sistemas. A análise do agronegócio como sistema pode fornecer importantes subsídios para a formulação de macro políticas e de estratégias de desenvolvimento setorial. Os resultados das análises de cadeias produtivas oferecem, no entanto, maiores oportunidades de aplicação, pela sua maior especificidade e possibilidade de aprofundamento, seja no plano do desenvolvimento setorial, na gestão e coordenação das cadeias ou na identificação de demandas tecnológicas para P&D. A análise de cadeias produtivas é uma ferramenta poderosa para investigar as várias interfaces que permeiam a dinâmica de um sistema agroalimentar e agroindustrial, pois a partir da premissa que o alimento ou uma matéria-prima energética deve ser produzido, industrializado e encaminhado até o consumidor final, qualquer disfunção em uma dessas etapas básicas compromete o abastecimento e a competitividade do sistema. Portanto, somente após a realização da análise dos aspectos tecnológicos, comerciais e logísticos de uma cadeia de produção agroindustrial, assim como dos fatores externos que a influenciam (socioeconômicos, legais e governamentais), é que poderão ser identificadas as disfunções e propiciar subsídios adequados à formulação e à implementação de uma política agroindustrial eficiente para o país, assim como tornar o sistema ou o segmento mais competitivo em nível internacional (BATALHA, 1997). A competitividade de uma cadeia produtiva agroalimentar e agroindustrial é construída através da coordenação entre todos os seus agentes. Uma cadeia é composta pelas indústrias de suprimentos para a produção agropecuária, infraestrutura de transporte e a comunicação, a produção agropecuária, agroindústrias, indústria de alimentos, redes de distribuição e consumo e outros prestadores de serviços. Fonte:www.onortao.com.br Para o estudo de competitividade, dentro de uma visão sistêmica de agronegócios, deve ser efetuado um corte vertical do sistema econômico. A análise de competitividade é realizada de forma integrada, com evidentes vantagens na coordenação, pois essa é resultante de importantes arranjos contratuais entre os vários agentes e atores. Essa análise sistêmica de competitividade de cadeias produtivas deve utilizar modelos teórico-metodológicos que facilite a identificação da estrutura das cadeias produtivas e dos fatores que afetam o desempenho de todo o sistema (BATALHA, 1997). Para isso, a análise sistêmica pode ser conceitualmente conduzida pelos princípios do Enfoque Sistêmico do Produto (CSA) e pela abordagem do Desenvolvimento Territorial Rural. A representação de um sistema produtivo agroalimentar ou agroindustrial estruturado sobre uma cadeia produtiva constitui-se em uma importante ferramenta para o estudo ou identificação, por exemplo, de modificações ocorridas a montante (segmentos localizados antes da porteira ou fornecedores de insumos e serviços para agropecuária) e a jusante (segmentos localizados depois da porteira ou processadores e distribuidores da produção agropecuária) do processo de inovação original. De acordo com Batalha (1997), essa análise pode ainda avaliar as consequências das inovações como espaço analítico inicial (análise vertical), assim como junto a outras cadeias produtivas que se relacionem com ela (análise horizontal). O crescimento econômico de uma região está associado ao desempenho de suas diversas cadeias produtivas. Frequentemente, variáveis de desenvolvimento social, como nível de emprego, saúde, habitação, também estão associadas ao desempenho de determinadas cadeias produtivas. Assim, o planejamento do desenvolvimento regional também é beneficiado pela base ampliada de informação gerada pelos resultados das análises prospectivas de cadeias. 7 AS AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS AGROALIMENTARES E AGROINDUSTRIAIS DOS TERRITÓRIOS RURAIS A nova perspectiva sobre o mundo rural tem como base argumentos que abrem a possibilidade de o território rural também oferecer alternativas de emprego e renda e diversas outras formas de melhoria na qualidade de vida da população local. Entretanto, para oferecer isso, o território rural deve utilizar o seu potencial local, aproveitar as oportunidades externas e suas características históricas e culturais particulares e também estar integrado com a economia e a sociedade local. Esses são os contornos que poderão levar a uma nova ruralidade e contribuir para o desenvolvimento local dos territórios rurais. Essa transformação alterou profundamente a estrutura socioeconômica e cultural do rural agrícola, com este deixando de ser exclusivamente agrícola para se tornar um conjunto fragmentado, diversificado e heterogêneo de territórios, formando uma complexa articulação de sistemas territoriais. Com isso, a agricultura deixa de ser o foco central da economia do território e as atividades produtivas agrícolas, industriais e de serviços passam a coexistir internamente e dividir esse papel. As oportunidades externas estão, principalmente, nas possibilidades de acesso aos mercados agrícolas nacionais e internacionais. Desde a década de 1970, os SPLs ligados aos territórios rurais do sul do Brasil, onde a estrutura agrária é marcada pela agricultura familiar, vêm caminhando para uma crescente articulação e, em alguns casos, até para a integração socioeconômica, com o setor agroalimentar global, por intermédio de cadeias globais de produção e consumo. Essa articulação e/ou integração tem sido o caminho seguido por alguns territórios, como resposta local às mudanças provocadas pela reestruturação do sistema produtivo global, ao modelo atual de modernização tecnológica dos processos produtivos agroindustriais e ao crescente acesso das famílias rurais aos diversos mercados locais (de trabalho, de bens e serviços e de fatores). Muitos desses territórios rurais ainda se sustentam economicamente por meio de atividades de produção agropecuárias, nem sempre voltadas para produtos de melhor qualidade e/ou de maior valor agregado, ao lado de atividades agroindustriais, exercidas por pequenas e médias empresas, que procuram se manter em equilíbrio com o ambiente natural. Enfim, o desenvolvimento desses territórios depende tanto das dinâmicas externas, na maioria das vezes determinadas pelo processo de globalização, a partir dos mercados agrícolas ou agroindustriais, como também da capacidade dos seus agentes locais atraírem fluxos de recursos (capital para investimento produtivo, turistas ou trabalhadores capacitados) e dos seus capitais territoriais: ambiental, cultural, social, institucional e o saber-fazer. Quando os territórios são rurais, os seus principais sistemas produtivos também podem ser caracterizados e/ou denominados de Distritos Agrícolas, Distritos Agroindustriais ou Sistemas Agroalimentares Localizados (SIALs), com uma estrutura produtiva alicerçada nos Sistemas Agroalimentares e Agroindustriais (SAGs) e nas Cadeias Produtivas Agroalimentares e Agroindustriais(CPAs). Enquanto os dois primeiros foram estudados por economistas agrícolas italianos, a abordagem dos SIALs é uma proposição da escola francesa. Essas denominações variam de acordo com as suas tendências setoriais, na medida em que associam características dos setores industrial e de serviços, e com o grau de intensidade das relações socioeconômicas, institucionais e de proximidade. A seguir, demonstram-se as origens conceituais e teóricas dessas duas formas específicas de sistemas produtivos. 7.1 Os distritos agrícolas e agroindustriais italianos Na década de 1970, economistas italianos iniciaram estudos sobre a importância da competitividade das empresas e dos processos de inovação, tendo como referência os conceitos de redes, meios inovadores e efeitos de proximidade, da teoria Marshalliana. Essa teoria foi resgatada por Beccattini (1994) para explicar o crescimento econômico de algumas concentrações industriais na Itália. Então, por meio do conceito de distrito industrial, foi possível caracterizar as concentrações de pequenas empresas, onde as relações de proximidade e os efeitos derivados dessas relações serviam para promover o desenvolvimento local. Fonte:www.alternize.com.br A mudança de foco das estruturas nacionais para as redes heterogêneas foi seguida pela territorialização do espaço rural, fazendo com que também alguns economistas agrícolas iniciassem um processo de adaptação da base conceitual do distrito industrial, para a formação dos conceitos de distrito agrícola e distrito agroindustrial. Esses termos surgiram para descrever os modelos organizacionais econômicos, típicos do sistema agroalimentar italiano, baseado em clusters de PMEs desse setor, regionalmente concentrados (CECCHI, 2001; BERTI, 2005). Segundo Brunore e Rossi (2007), essas formas de análise foram desenvolvidas para explicar a relevância dos sistemas econômicos regionais dentro do sistema agroindustrial italiano. Nos distritos agrícolas ou nos agroindustriais, destacam-se os relacionamentos entre a produção agrícola, as empresas industriais e de serviços (fornecedores, processadores e distribuidores) e o ambiente socioeconômico. Essa é a configuração teórica, muito semelhante aos conceitos e interpretações dos sistemas ou cadeias agroindustriais, de agribusiness ou de agronegócio. Essa abordagem interpretativa é formada por três fases, o antes da porteira, os fornecedores para a agropecuária (ou agricultura), o dentro da porteira, a produção agropecuária, e o depois da porteira, as empresas agroindustriais e as distribuidoras do produto. Essa adaptação para distrito agroindustrial foi possível porque este guarda algumas características similares ao do distrito industrial, tais como a concentração de pequenas e médias empresas (PMEs) e a estrutura organizacional muito parecidas, a predominância da produção de um bem típico, a concentração e a especialização de empresas, os relacionamentos inter-industriais facilitam o funcionamento do mercado local e, por fim, os relacionamentos pessoais que criam uma atmosfera favorável para as trocas de conhecimentos. Porém, há uma diferença fundamental entre distrito agrícola e distrito agroindustrial. O primeiro se forma a partir, apenas, do segmento da agropecuária (agricultura) e do segmento fornecedor de insumos, crédito, máquinas e equipamentos para esta. O distrito agroindustrial se forma a partir destes dois, mas também se inclui os segmentos que vêm depois da porteira, o segmento que realiza o processamento do produto agrícola, a agroindústria e indústria de alimentos, e o segmento que faz a distribuição desse produto, o atacado e o varejo. Para Cecchi (2001), o distrito agrícola é o interior territorial dos clusters em que a agricultura é a força que impulsiona as outras atividades do distrito, que só existem por causa da produção agrícola local. As características principais do distrito agrícola são similares às do distrito agroindustrial com relação ao realce da sua produção agrícola e da sua dependência em relação à indústria processadora, mas nos distritos agroindustriais a indústria processadora sempre está presente e com um alto percentual de processamento de produtos agrícolas vindo de fora do distrito. Os principais efeitos do processo de reestruturação produtiva mundial sobre os sistemas agroalimentares e agroindustriais são imigrações urbano-rurais, descentralização industrial, declínio da importância agrícola em termos econômicos e de ocupação, a diversificação da agricultura, a crescente importância do setor de serviços na geração de empregos e as mudanças nos modelos de consumo (BERTI, 2005). Mais recentemente, sob um ponto de vista muito parecido com o dos italianos, Sautier (2002), Requier-Desjardins (2002b) e Muchnik (2002) propuseram a noção de Systèmes Agroalimentaires Localisès (SYAL), ou Sistema Agroalimentar Localizado (SIAL), em vez de simplesmente utilizar a noção de APL ou SPL do setor agroalimentar, porque os SIALs têm especificidades que os diferenciam significativamente dos outros SPLs. Conforme os autores, as principais especificidades dos SIALs são: o papel específico dos bens alimentares, por serem os únicos que são literalmente incorporados pelos consumidores no ato de consumo, em vez de serem somente utilizados como os demais bens de consumo; a especificidade da matéria-prima produzida, pois a atividade agroalimentar tem origem em uma matéria-prima agrícola, viva, heterogênea, sazonal e perecível; a relação com o ambiente e com a gestão dos recursos naturais; por fim, a vinculação frequente das atividades agroalimentares, mais do que outras atividades produtivas com uma parte significativa do saber-fazer local (intransferível) e com os conhecimentos transmitidos por aprendizagem. Em quase todas as definições de SIAL, chama a atenção o destaque dado ao papel dos atores e/ou do capital social dentro desses sistemas. De acordo com Requier-Desjardins (1999), a definição de capital social reconhece tanto o seu componente social como o seu componente econômico. Assim, o capital social não se refere apenas às regras e normas empresariais e às relações de confiança e de amizade entre os indivíduos e as redes sociais, mas também às vantagens econômicas dos indivíduos obtidos a partir do capital social. Esse rendimento é gerado pela troca de informações, conhecimentos, mão de obra ou outras formas de cooperação. Assim, nos SIALs, há uma relação muito próxima entre os modos de fabricação dos produtos e as preferências dos consumidores, com a produção e a economia rural centrada na transformação e na comercialização de produtos vindos, predominantemente, de unidades rurais familiares de pequena escala. Na definição de Requier-Desjardins (2002a e 2002b), o conjunto das relações sociais de trabalho e produção é o que constitui um SIAL. Essas relações possuem uma historicidade e uma especificidade que diferenciam esses sistemas produtivos locais (SPL), tanto em relação ao exterior como entre eles. Assim, procura-se mostrar que, nos SIALs, há uma relação muito próxima entre os modos de fabricação dos produtos e as preferências dos consumidores com a produção e a economia rural centrada na transformação e na comercialização de produtos, predominantemente vindos de unidades rurais familiares, com uma pequena escala produtiva e estruturados a partir de sistemas ou cadeias produtivas agroalimentares ou agroindustriais. Fonte:www.florestalbrasil.com Medidas de incentivo à demanda por bens industriais têm sido recentemente realizadas pelo governo brasileiro como estímulo ao crescimento econômico. Exemplos desta prática são as reduções do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) sobre alguns produtos específicos, como eletrodomésticos e automóveis. Entretanto, o País é reconhecidamente competitivo na sua produção agropecuária,e políticas de incentivo à demanda dos mesmos não têm sido estabelecidas na mesma magnitude daquelas dos produtos industriais. Além disto, faltam incentivos à industrialização, como política para aumento do valor adicionado na produção agrícola. Um exemplo característico deste fato é representado por um dos setores agrícolas de maior expressão do País: setor de soja. Na década de 2000, o Brasil exportou, em valores monetários, cerca de 5 vezes mais soja em grão do que óleo de soja, que é um dos produtos originados da industrialização deste grão (FAO, 2012). Além disto, considerando-se os últimos 20 anos, a taxa anual de crescimento do valor das exportações de grão de soja foi de 13%, contra apenas 7% de crescimento anual no valor das exportações do óleo (FAO, 2012). O setor agrícola tem grande importância na economia brasileira. Em 2005, toda a cadeia de agronegócio no País gerou 28% do PIB nacional (GUILHOTO et al., 2007). Além disto, o Brasil é também um dos maiores produtores mundiais neste setor. Considerando-se o valor da produção agropecuária dos países da Organização Econômica para Cooperação e Desenvolvimento (OECD), a produção brasileira perde apenas para a europeia e americana. Entretanto, o País tem ainda grande potencial de crescimento. Em 2007, a produção agropecuária da União Europeia foi mais de 2,5 vezes superior à brasileira. Já o valor da produção dos Estados Unidos foi o dobro da produção do Brasil naquele mesmo ano (OECD, 2011). Dada a importância do agronegócio na economia do País, este estudo tem como objetivo fazer uma avaliação comparativa dos encadeamentos provocados pelo aumento de demanda de alguns dos principais setores agrícolas (brutos ou processados), com aqueles induzidos em alguns setores não agrícolas selecionados (seja com alta produção no País ou cujas demandas são constantemente incentivadas pelo governo brasileiro). Ou seja, pretende-se responder às seguintes perguntas: para incentivar o aumento de renda e emprego no País, que leva ao crescimento econômico, o estímulo de demanda nos setores industriais que tiveram recentes desonerações fiscais tem mais impactos na economia do que incentivos em setores agrícolas? Além disto, considerando a terra como recurso escasso, quanto o processamento de produtos agrícolas brutos aumenta os impactos econômicos e sociais por área cultivada? Tais questões são importantes para promover não apenas o crescimento do setor agropecuário como toda a economia por meio dos efeitos multiplicadores identificados. Neste sentido, os setores eleitos para esta análise foram, entre os setores agroindustriais: arroz, milho, soja, cana-de-açúcar, silvicultura, álcool, abate de bovinos e outros, abate de aves, abate de suínos e óleos vegetais. Os quatro primeiros são setores caracteristicamente agrícolas e ocuparam, em 2009, 73% de toda área colhida com vegetais e responderam por 60% da produção de lavouras temporárias e permanentes no País (IBGE, 2011c). Além disto, segundo dados da Produção Agrícola Municipal – PAM (IBGE, 2011c), de 1999 a 2009, este crescimento foi superior a 10% ao ano para todos os produtos. Os que tiveram maior crescimento foram soja (18% ao ano) e cana-de-açúcar (17% ao ano). Entretanto, a maior parte da área dos estabelecimentos agropecuários no País é utilizada com pecuária e criação de outros animais. Segundo o IBGE (2011a), enquanto estes últimos ocuparam 62% da área dos estabelecimentos no País em 2006 (dados mais recentes disponíveis), a produção vegetal foi responsável por apenas 31% desta área. Por este motivo, além dos produtos vegetais anteriormente citados, este trabalho analisou também o impacto na produção das principais carnes produzidas no País: bovina, suína e de frango. Já para os setores não agrícolas foram considerados: refino do petróleo e coque; fabricação de aço e derivados e máquinas, aparelhos e materiais elétricos por serem, dentre os setores não agrícolas, aqueles com altos valores na produção nacional, e eletrodomésticos, material eletrônico e automóveis, camionetas e utilitários os quais, apesar de terem baixa produção, são setores considerados como de alto nível tecnológico e cujos consumos têm sido constantemente incentivados pelo governo federal, principalmente pela redução de IPI. Produtos do setor máquinas, aparelhos e materiais elétricos também tiveram incentivos de demanda por medidas de redução de IPI e combustíveis provenientes do setor refino do petróleo e coque, a partir de 2012 apresentam preços deprimidos para o consumidor, os quais são subsidiados pelo governo. Embora o objetivo do subsídio neste último setor não seja o de incentivar a demanda, mas, sim, de controlar a inflação, o estímulo à demanda proveniente desta política é inevitável. Os setores agroindustriais e os não agrícolas selecionados responderam por 5% e 6%, respectivamente, de todo o valor consumido de bens e serviços pela demanda final da economia em 2006. 7.2 Revisão de literatura Alguns estudos com objetivos distintos ao apresentado neste trabalho, mas utilizando metodologia similar, foram revisados para mostrar alguns resultados semelhantes aos que o presente trabalho busca apresentar. Tais trabalhos utilizaram o instrumental da matriz insumo-produto, mas consideraram um número menor de setores agrícolas e desagregados por estados ou regiões específicas do País (por exemplo, citam-se os estudos de SANTOS et al., 2009; COSTA et al., 2006; FIGUEIREDO et al., 2005). No trabalho realizado por Santos et al. (2009), em que foram analisados os setores da economia mineira para 1995, os autores verificaram que os maiores multiplicadores de produção são observados para setores de produtos processados do agronegócio: indústria do café e outras indústrias de produtos alimentares, que apresentaram o primeiro e o terceiro maiores impactos, respectivamente. Já os maiores multiplicadores de renda foram observados para os setores de agropecuária para produtos não processados. Fonte:www.portaldoagronegocio.com.br Em Costa et al. (2006), os autores tiveram como objetivo identificar a importância dos setores sucroalcooleiros (cana-de-açúcar, açúcar e etanol), distintamente nas regiões Centro-Sul e Norte-Nordeste do País. Para isto, vários indicadores foram utilizados: índices de ligação para frente e para trás; índices puros de ligação e multiplicadores de produção. Neste caso, foram utilizadas as matrizes regionais estimadas para 1999. Observou-se que, junto aos setores de metalurgia, têxteis e outros serviços para famílias, os setores agroindustriais: indústria do açúcar e outros produtos alimentares foram aqueles com impactos mais significativos na economia em ambas as regiões. Isto mostra a importância do aumento de demanda sobre os produtos agrícolas processados na economia do Brasil. Considerando a matriz insumo-produto do estado de Mato Grosso, Figueiredo et al. (2005) descreveram os setores-chaves da economia daquele estado, procurando identificar a importância dos setores de produção e processamento da soja. Utilizando os índices de Hirschman-Rasmussen, os autores descrevem que os setores que mostraram impactos mais expressivos para trás naquela economia foram, em ordem decrescente: eletroeletrônicos; abate de bovinos; peças e veículos; indústria do café e fabricação de óleos vegetais. Entretanto, utilizando os índices normalizados, ou seja, levando em conta a importância de cada setor na economia do estados, os setores com maiores impactos foram: comércio; administração pública e fabricação de óleos vegetais. Destes estudos pode-se perceber a importância de diferentes setores do agronegócio impactando a economia em diferentes estados e regiões brasileiras. Entretanto, observa-se também que alguns setores industriais são também importantes para o seu desenvolvimento. 8 OS 10 NOVOS POLOS
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