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1 Pró-reitoria de EaD e CCDD História da Arte Aula 5 Prof. Otacilio Vaz 2 Pró-reitoria de EaD e CCDD Conversa Inicial Assim como acontece em outros campos, na arte, também as ideias vêm e vão. Tendências e modas também se fazem presentes na arte, assim como as calças ficam mais soltas ou mais apertadas a cada década, e modas antigas retornam de outra maneira. Nesse caso, o que voltam são as ideias da Grécia e da Roma antigas, para terminar de romper os laços com ideias religiosas. Disso se trata o período neoclássico, que abordaremos aqui, juntamente com a maneira pela qual o neoclássico chegou ao Brasil, trazido por artistas franceses. Com ele surgiram outros movimentos, que, junto da popularização da fotografia, levaram a arte a novos caminhos. São as vanguardas do começo do século XX, que começaram a questionar se a arte precisava realmente representar tudo de uma maneira tão certinha. Apesar de muitos desses artistas parecerem que pintavam dessa maneira por preguiça, eles certamente colaboraram para que a arte se libertasse de algumas amarras. Tema 1: Arte e Comunicação (século XIX) O século XIX se caracterizou por várias técnicas de impressão e/ou gravura que, por um lado, aumentaram as possibilidades dos artistas e, por outro, permitiram a reprodução de uma obra. No começo do século XIX, o inglês Thomas Bewick, gravurista e autor de livros de história natural, usou ferramentas de gravura em metal para fazer gravuras em madeira, que eram combinadas com tipos em metal para imprimir livros. O processo barateou os custos de incluir gravuras em livros. Antes, o método usado era o talho-doce, pelo qual a tinta entra nas ranhuras gravadas em uma chapa de cobre. No talho-doce, é necessário limpar a chapa a cada impressão, o que também exige que o texto seja impresso separadamente. Por sua parte, o método do talho-doce derivou na impressão por rotogravura, usado para impressões em tiragens muito grandes. 3 Pró-reitoria de EaD e CCDD Em 1796, o ator alemão Alois Senefelder procurava um jeito de gastar menos na impressão de suas peças teatrais, o que o levou a inventar a litografia. A técnica consiste em usar um lápis oleoso na superfície de uma pedra; depois, é aplicada uma tinta especial, que se fixa na graxa do lápis; o excesso de tinta é retirado, e, então, o papel é aplicado sobre a pedra, imprimindo o que havia sido desenhado com o lápis. O processo foi uma grande inovação, já que permitia que fosse usado em menor escala, para as artes, e também para a reprodução de mais cópias, como os livros. O uso de várias pedras permitia a combinação de diferentes cores. O livro com aquarelas de Debret, Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, do qual falaremos adiante, foi impresso com essa técnica. O barateamento da reprodução em cores, junto com o fim de legislações que censuravam avisos em espaços públicos, colaborou para o surgimento da arte dos cartazes ou pôsteres. Vários artistas passaram a fazer cartazes, muitos dos quais são conhecidos até hoje, como Toulouse-Lautrec – pintor que ficou mais conhecido pelos seus cartazes – e Jules Chéret – que alguns consideram o pai dos cartazes como propaganda, tanto pela sua obra como pelas mudanças que ele fez que facilitaram o processo da litografia e permitiram a impressão em grandes tiragens. Figura 1: Théophile Steinlen, cartaz para o cabaré “Le Chat Noir”. 4 Pró-reitoria de EaD e CCDD O processo de litografia foi aperfeiçoado para o uso de chapas de alumínio em vez de pedra, que podiam ser enroladas em um cilindro. Surgia, assim, a impressão offset, método popular até hoje, usado em jornais, revistas, folhetos, entre outros. Tema 2: O Neoclássico O iluminismo foi um movimento cultural que buscava reformar a sociedade através do conhecimento científico e da natureza, baseando o poder, idealmente, na razão. Esse movimento foi a base do neoclassicismo, que, assim como o iluminismo buscava novos valores para terminar de desapegar da Idade Média, buscava se desapegar dos excessos do barroco e do rococó. Como em vários outros momentos da história, foi feito um resgate dos ideais da Antiguidade, antes da Idade Média, particularmente Grécia e Roma antigas. A ideia era resgatar os valores éticos e estéticos da arte da época. O apreço pela ciência e pelo racional, aliado à queda da influência religiosa na arte, foi a chave no movimento neoclássico. As conotações políticas do movimento também estavam em sintonia com a época, o final do século XVIII. O governo revolucionário francês adotou o neoclassicismo em contraposição aos excessos do rococó, associado aos excessos das elites, porém logo o neoclássico foi apropriado pelas cortes. O pintor mais representativo do neoclássico é o francês Jacques-Louis David (1748–1825). Ajudado pelos tios, começou a estudar pintura, mas não era um bom aluno. Mais tarde, tentou estudar com François Boucher, pintor seguidor do rococó, que, por sua vez, o enviou como aprendiz de Joseph-Marie Vien, que já tinha uma influência neoclássica. David entrou na Academia Real e, mais tarde, depois de várias tentativas, conseguiu entrar na Academia de Roma. Durante o período na Itália, ficou fascinado com o renascentista Rafael e chegou a visitar a cidade de Pompeia, citada como influência do neoclassicismo. Retornou a Paris depois de cinco anos, onde, além de pintar, 5 Pró-reitoria de EaD e CCDD apoiou a Revolução Francesa. Um de seus quadros mais famosos é A morte de Marat, de 1793, em referência a Jean-Paul Marat, envolvido com a Revolução Francesa, assassinado em sua banheira. No quadro, é possível ver a influência dos clássicos, na representação da anatomia, mas também a tentativa de reproduzir fielmente a cena do crime, tudo isso de uma maneira austera, sem grandes exageros em perspectivas (Gombrich, 2000, p. 485). Outros artistas de destaque são o espanhol Francisco de Goya, o também francês e aluno de David Jean-Marie-Joseph Ingres, e o escultor italiano Antonio Canova. No Brasil, o neoclassicismo chegou com a chamada Missão Francesa, que estudaremos na continuação. Figura 2: Cartaz do documentário Lixo extraordinário, que referencia A morte de Marat. Fonte: Berlinda, 2016. Tema 3: A Missão Francesa no Brasil Com a chegada ao Brasil da corte portuguesa, em 1808, e junto da revogação da lei que proibia a instalação de indústrias no Brasil, aconteceu uma reestruturação urbana, para a qual foram chamados vários artistas 6 Pró-reitoria de EaD e CCDD franceses para que organizassem o ensino de artes e ofícios. Esses artistas chegaram ao Brasil em março de 1816, por iniciativa – segundo alguns autores – do Marquês de Marialva. Outra teoria seria que esses artistas vieram ao Brasil exilados depois da queda de Napoleão. Em agosto de 1816, é criada por decreto a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, depois de vários problemas, entre os quais a substituição do líder Joaquim Lebreton, francês, pelo português Henrique José da Silva, que causou alguns problemas entre os artistas franceses e os portugueses. Com outro nome, a Academia Imperial das Belas Artes só foi inaugurada em novembro de 1826; três anos depois, foi realizada sua primeira exposição. Até então, a arte brasileira se inspirava nos mestres que estavam aqui presentes, na arte na qual predominava o estilo barroco português. A influência era principalmente essa, e era predominante apesar das releituras e apropriações que os artistas brasileiros faziam ao dar continuidade a esses trabalhos. O barroco e o rococó estavam esgotados, e sem grandes artistas que representassem o movimento (Instituto, 2016). Em entrevista, o museólogo Pedro Martins Caldas Xexéo contextualiza a quebra que a Missão Francesa representou para a arte brasileira: Um argumento clássico contrário àinfluência dos artistas franceses e seus imediatos seguidores brasileiros é que o desenvolvimento natural da arte brasileira dentro dos princípios formais do Barroco foi interrompido abruptamente por uma proposta formal alienígena que impedia a continuidade da trajetória natural de nossa arte. (Instituto, 2016) Ainda segundo Xexéo, o estilo neoclássico chegaria ao Brasil de qualquer maneira, já que estava sendo difundido na Europa Ocidental, e também era visto como “sofisticado” pelas elites. A Missão Francesa teve por consequência uma renovação nas artes – ainda que criticada por alguns estudiosos –, e também a profissionalização artística, não somente para a pintura e escultura, mas também na arquitetura e urbanismo, que na época estavam mais relacionadas ao campo artístico. 7 Pró-reitoria de EaD e CCDD Outro ponto importante, assim como aconteceu na missão holandesa dois séculos antes, foi que o trabalho desses artistas serviu para documentar as paisagens urbanas e naturais, e os próprios brasileiros, seus hábitos, seu cotidiano e as vestimentas daquela época. Principais artistas da missão Jean-Baptiste Debret (1768–1848): era um artista de muitas habilidades. Além de pintor, desenhista e gravador, trabalhou com decoração e cenografia, além de dar aulas de pintura. Trabalhou como pintor na corte de Napoleão, cuja queda, além da morte do único filho de Debret, fez com que o artista decidisse integrar a Missão Artística Francesa. No Brasil, ministrou aulas de pintura, além de visitar várias cidades para representar suas paisagens e costumes. Ele assumiu o papel de documentar o Brasil; portanto, sua obra parecia ser feita para ser reproduzida em gravuras, e suas aquarelas parecem ter sido feitas rapidamente, o que poderia revelar que ele priorizaria o registro do que a técnica. O historiador Rodrigo Naves aponta a dificuldade que Debret teria tido em transpor as ideias neoclássicas para o Brasil, considerando ideias conflitantes, como a monarquia aqui instaurada e a escravidão (Enciclopédia, 2016a). Já de volta à França, várias aquarelas feitas no Brasil foram litografadas e editadas na obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, que foi publicada em três volumes, entre 1834 e 1839. Nicolas-Antoine Taunay (1755–1830): estudou pintura desde os 13 anos. Em 1805, foi escolhido como um dos pintores que retratariam as campanhas de Napoleão na Alemanha. Com a queda de Napoleão, escreve à rainha de Portugal solicitando asilo político, o que acarretou sua vinda ao Brasil junto com a Missão. Esteve no Brasil entre 1816 e 1821, quando a nomeação de Henrique José da Silva para a academia de Belas Artes causou desentendimentos que o fizeram voltar à França. Ele ensinava pintura de paisagens, deixando seu filho Félix no lugar. Estima-se que ele tenha pintado de 25 a 40 quadros durante os cinco anos que esteve no Brasil, dos quais só são conhecidos 16. Taunay não representa a luz forte, típica de outros artistas 8 Pró-reitoria de EaD e CCDD que retrataram paisagens brasileiras, e sim uma luz calma, paisagens tranquilas, não tão narrativas, e sim contemplativas, minuciosas e ordenadas. Segundo o artista e historiador Carlos Zilio, a obra de Taunay revela uma dificuldade do artista em conciliar seus conhecimentos vindos da Europa com a natureza, desconhecida para ele, do Brasil, usando esquemas de representação europeus (Enciclopédia, 2016b). Auguste Henry Victor Grandjean de Montigny (1776–1850): arquiteto e urbanista, foi um profissional influente durante o império de Napoleão. Professor de arquitetura na Academia Imperial, ficou no Brasil até sua morte. É dele o projeto do prédio da Academia Imperial de Belas Artes – do qual só resta o portal, que pode ser visitado no Jardim Botânico da cidade do Rio de Janeiro. Outras obras que ainda podem ser visitadas, também no Rio de Janeiro, são o edifício da Praça do Comércio (atual Casa França-Brasil) e o Solar Grandjean de Montigny, no bairro da Gávea (Instituto, 2016). Tema 4: O Academicismo Brasileiro e sua Superação A fundação da Academia Imperial de Belas Artes no Brasil fortaleceu um movimento chamado, justamente, academicismo. O academicismo busca que as artes plásticas atinjam um nível de qualidade padrão, um uso apurado das técnicas e a busca pela beleza ideal, mais do que pela fidelidade na representação. O termo varia segundo os autores, mas alguns se referem ao academicismo como a consolidação do método das academias de belas artes em detrimento do sistema corporativo das guildas medievais de artistas. No academicismo, os artistas se distanciam dos artesãos e ficam mais próximos dos intelectuais. No Brasil, a situação até o início do século XIX era similar à das guildas medievais. O ensino da arte era informal, passado de pintores a aprendizes. O plano inicial de Lebreton para a Academia Imperial incluía aulas de desenho geral, desenho com modelo vivo, história da arte e da arquitetura, perspectiva, etc., além de cursos técnicos. 9 Pró-reitoria de EaD e CCDD Os cursos foram tirados do plano por Henrique da Silva, que se opunha aos franceses, fato ao qual Debret se referiu como um retrocesso (Cardoso, 2008). Depois de algumas décadas de instabilidade, problemas administrativos, pouca produção dos alunos, retorno de alguns dos mestres da Missão Francesa a Paris, a Academia Imperial afirmava seu papel de apontar os rumos da arte brasileira. A estabilidade política e econômica do segundo reinado (1840–1889) também colaborou para isso. Em 1854, o artista Manoel de Araújo Porto Alegre, discípulo de Debret, assumiu a direção da Academia Imperial, dando importância aos cursos técnicos, criando novas matérias, a pinacoteca, entre outras medidas; tudo isso cuidando para que fosse apropriado para a realidade brasileira, e não uma mera transposição do conhecimento europeu. Afonso Taunay – historiador, bisneto do pintor Nicolas-Antoine, de quem já falamos – resume o que o academismo representou no Brasil: Ao empirismo, ou automatismo dos processos correntes de aprendizagem artística e profissional, substituiu uma metodologia. Terminava a época antididática e iniciava-se a de caráter didático. […] Na pintura — o antigo, a mitologia e a história substituíram a obra quase que exclusivamente sacra dos 'santeiros' pictoriais da colônia e do último Vice-Reinado (Taunay apud Vale, 2006). Principais artistas Pedro Américo (1843-1905): aos dez anos, já era desenhista de uma expedição de estudos de plantas nordestinas. Recebeu apoio do governo para estudar na Academia Imperial, e depois estudou na Europa – não somente pintura, mas também Ciências Sociais e Ciências Naturais. Ele abordava vários temas, mas se caracterizava pelas pinturas representando batalhas, como a Batalha de Avaí, executada entre 1874 e 1877, em Florença, na Itália. A obra lhe rendeu o reconhecimento do governo italiano, que solicitou a Américo um retrato para ser colocado entre os retratos de pintores da Galleria degli Uffizi. Seu estilo é bem representativo do academicismo, misturando elementos neoclássicos, românticos, e realistas, não muito preocupado com a representação pictórica fiel dos fatos. Nas suas próprias palavras: 10 Pró-reitoria de EaD e CCDD Um quadro histórico deve, como síntese, ser baseado na verdade e reproduzir as faces essenciais do fato, e, como análise, em um grande número de raciocínios derivados, a um tempo da ponderação das circunstâncias verossímeis e prováveis, e do conhecimento das leis e das convenções da arte (Melo apud Trevisan, 2009). Figura 3: Batalha de Avaí. Vitor Meireles de Lima (1832–1903): nascido em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, era filho de imigrantes portugueses; apesar da falta de condições econômicas, conseguiu ir à escola e estudar desenho. Aos 14 anos, foi admitido na Academia Imperialpelo então diretor Félix-Émile Taunay – filho de Nicolas-Antoine –, que ficou impressionado com seus desenhos. Aluno exemplar, destacou-se particularmente na disciplina de pintura histórica. Aos 20 anos, venceu o prêmio que outorgou a ele uma viagem à Europa, onde estudou até 1861, quando retornou ao Brasil. Antes disso, expôs no Salão de Paris sua obra mais conhecida, A primeira missa no Brasil, executada entre 1858 e 1861. 11 Pró-reitoria de EaD e CCDD Figura 4: A primeira missa no Brasil. José Ferraz de Almeida Júnior (1850–1899): nascido em Itu, interior de São Paulo, foi estudar na Academia Imperial aos 21 anos, com o dinheiro coletado pelo padre Miguel Correa Pacheco. Era descrito como o típico “caipira”, no modo de se vestir, na fala, e na timidez. Obteve o título de professor de desenho e também prêmios honoríficos que o habilitavam a concorrer ao prêmio de viagem, como acontecera com Pedro Américo e Vitor Meireles – este último, inclusive, foi professor de Almeida Júnior. Mesmo assim, passou seis anos na França, financiado por Dom Pedro II. Alguns críticos o consideram “o mais brasileiro” dos pintores do século XIX. Sua obra retrata temas históricos, mas ele se caracteriza pelos quadros que representam o cotidiano, como Caipira picando fumo. 12 Pró-reitoria de EaD e CCDD Nessa fase, abandonou certas técnicas de pintura mais tradicionais para valorizar a luz, sem priorizar o retrato dos materiais, como fazia antes de voltar da Europa (Galvão, 1950). No aniversário do seu nascimento, 8 de maio, é comemorado o Dia do Artista Plástico. Figura 5: Caipira picando fumo. 13 Pró-reitoria de EaD e CCDD Tema 5: Chegada da Fotografia e os Movimentos Abstratos A natureza que fala a câmara é distinta da que fala o olho; distinta, sobretudo porque, graças a ela, um espaço constituído inconscientemente substitui o espaço constituído pela consciência humana. (Benjamin, 1994, p. 26) As técnicas usadas na fotografia já eram conhecidas na época do Renascimento, mas somente durante o século XIX foram pesquisadas técnicas para fixar as imagens em chapas de vidro e, mais tarde, em papel fotográfico. A primeira fotografia permanente foi feita em 1826, pelo francês Nicéphore Niépce. Depois de várias trocas de experiências com o também francês Daguerre, os dois se associaram. Depois da morte de Niépce, Daguerre desenvolveu um processo com vapor de mercúrio, que reduzia a exposição necessária para a imagem se fixar na superfície de algumas horas para alguns minutos, o que permitia retratar pessoas com a ajuda de suportes para que as pessoas não se mexessem e saíssem borradas no retrato. No começo do século XX, a fotografia já era popular, com inovações como a câmera Kodak Brownie, lançada em 1900, que permitia que qualquer pessoa fotografasse. Em 1859, a fotografia, como expressão artística, teve seu espaço no Salon Carré do Louvre, o que causou polêmicas sobre o estatuto da nova técnica como arte (Ramos, 2009, p. 131). Segundo Walter Benjamin (apud Ramos, 2009, p. 131), “a fotografia permitiu que a pintura entregasse o testemunho”, ou seja, fez com que a pintura deixasse de ter a responsabilidade de representar a realidade. Já Gombrich (2000, p. 561) fala que essa necessidade surgiu no Renascimento, e cita como exemplo a arte egípcia, que representava a realidade de maneiras esquemáticas. Ainda segundo Gombrich, a realidade nunca pode ser retratada fielmente – como aconteceu, por exemplo, com as pinturas de batalhas de Pedro Américo e Vitor Meireles. http://www.passeiweb.com/saiba_mais/biografias/a/imagens/almeida_junior.jpg 14 Pró-reitoria de EaD e CCDD Gombrich (2000, p. 563) situa como os primeiros “rebeldes solitários” os expressionistas como Van Gogh, Cézanne e Gauguin. Nas palavras do próprio Van Gogh (Gombrich, 2000, p. 564): Exagerei a cor clara do cabelo, usando laranja, cromo e amarelo-limão, e por trás da cabeça não pintei a parede trivial do quarto, mas o Infinito. Fiz um fundo simples com o azul mais rico e intenso que a paleta era capaz de produzir. A luminosa cabeça loura destaca-se misteriosamente deste fundo azul-forte como uma estrela no firmamento. Lamentavelmente, meu caríssimo amigo, o público apenas verá nesse exagero uma caricatura – mas o que nos importa isso? Talvez a obra que melhor represente o expressionismo seja O grito, do norueguês Edvard Munch, cuja versão mais famosa data de 1893, inspirada por um pôr do sol em Oslo, no qual o céu ficou vermelho repentinamente. Na década de 1910, o russo Vassily Kandinsky, então morando em Munique, começou a experimentar com quadros não figurativos, tornando-se o primeiro pintor abstracionista. Outros pintores abstencionistas importantes são o holandês Piet Mondrian e o russo Kazimir Malevich. Outro pintor importante foi o francês Paul Cézanne, cujas tentativas de simplificação das formas influenciaram movimentos como o fauvismo e o cubismo. Nesse último movimento, talvez dentro das vanguardas artísticas da transição do século XIX para o século XX, o pintor mais famoso é o espanhol Pablo Picasso, que, aos 13 anos, já pintava retratos realistas. Depois de períodos mais ou menos experimentais, como os chamados períodos azul e período rosa, em 1907, pintou o que foi considerado o primeiro quadro dele com influência de arte africana: As senhoritas de Avignon. 15 Pró-reitoria de EaD e CCDD Figura 6: Retrato da mãe do artista, 1896 – Picasso tinha 15 anos de idade. Fonte: Art Experts, 2016. Figura 7: Garota com barco, 1938. Fonte: Art Experts, 2016. https://www.artexpertswebsite.com/pages/artists/picasso-gallery.php 16 Pró-reitoria de EaD e CCDD Sobre Picasso, Braque, Cézanne e outros, Gombrich diz que: Pode-se perfeitamente simpatizar com o gosto de artistas do século XX por tudo o que é direto e genuíno e, no entanto, sentir que seus esforços para se tornarem deliberadamente ingênuos e primitivos estão fadados a cair em contradição. Ninguém se torna primitivo à sua escolha. Seu desejo frenético de se tornar como crianças direcionou alguns dos artistas meramente a exercícios de calculada tolice. (Gombrich, 2000, p. 589) Outros movimentos de vanguarda são o surrealismo, cujos principais expoentes são Salvador Dalí e René Magritte; o dadaísmo, de Michel Duchamp e Man Ray, que questionava a arte, apresentando objetos cotidianos como obras de arte; e o expressionismo abstrato, dos estadunidenses Jackson Pollock e Franz Kline. Síntese Aqui começamos estudando o neoclássico, que, por um lado, resgatava valores da antiguidade; por outro, fazia esse resgate com a intenção de marcar uma diferença, romper com os valores anteriores do rococó, por exemplo. É interessante observar as semelhanças com as vanguardas do século XX. Semelhanças não entre as pinturas e a arte em si, que eram bem diferentes, mas sim na intenção de romper com o anterior e contar sua própria história, sem se ater às convenções. No caso das vanguardas do século XX, é interessante ver os dois papéis da fotografia: por um lado, ela teria libertado os pintores da tarefa de representar fatos fielmente, ou nem tão fielmente, no caso dos pintores academicistas – ou você acredita que uma foto da Batalha de Avaí seria tão espetacular quanto o quadro? Por outro, a fotografia se tornou mais uma linguagem a ser usada pela arte. Portanto, é complicado se ater às divisões de movimentos e períodos históricos que aqui traçamos. Essas divisões facilitam nosso trabalho como historiadores, mas também temos que entender que há mais nuances entre os fatos, os artistas e as suas obras. 17 Pró-reitoria de EaD e CCDD Referências ART Experts. Disponível em: <https://www.artexpertswebsite.com/pages/artists/picasso-gallery.php>. Acesso em: 21 ago. 2016. BENJAMIN, W. Magiae técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 4.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. BERLINDA. Disponível em: <http://www.berlinda.org/pt/wp- content/uploads/2013/11/Lixo-Extraordinario.jpg>. Acesso em: 21 ago. 2016. CARDOSO, R. A Academia Imperial de Belas Artes e o ensino técnico. 19&20, Rio de Janeiro, v. III, n. 1, jan. 2008. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/ensino_artistico/rc_ebatecnico.htm>. Acesso: 11 jul. 2016. DEBRET, J. B. Voyage pittoresque et historique au Brésil. 1 v. 1834. Disponível em: <http://www.brasiliana.usp.br/handle/1918/00624510>. Acesso: 11 jul. 2016. ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural. Debret. 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