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MARKETING NO AGRONEGÓCIO Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria:Tamara Esteves de Oliveira CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Profa: Tathyane Lucas Simão Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Omar Inácio Benedetti Santos Revisão Gramatical: Sandra Pottmeier Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 658.8 O48t Oliveira, Tamara Esteves de Marketing no agronegócio / Tamara Esteves de Oliveira. In- daial: UNIASSELVI, 2018. 124 p. : il. ISBN 978-85-53158-00-3 1. Marketing. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Tamara Esteves de Oliveira Médica Veterinária (UFRGS), mestre em zootecnia (UFRGS) e doutora em agronegócios (UFRGS) é pós-doutoranda e trabalha com questões relacionadas aos fluxos de informações e negociações em cadeias produtivas, bem como marketing de atributos intangíveis relacionados à carne bovina. Principais publicações: OLIVEIRA TE, et al. Agricultural land use change in the Brazilian Pampa Biome: the reduction of natural grasslands. Land Use Policy, v. 63, p. 394– 400, 2017. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j. landusepol.2017.02.010>. OLIVEIRA TE, et al. Alianças mercadológicas e estratégias de diferenciação na cadeia da carne bovina no Brasil. Iberoamerican Journal of Strategic Management (IJSM), v. 14, n. 2, p. 40-50, 2015. Doi: 10.5585/riae. v13i2.2056 BARCELLOS JOJ, Oliveira TE, et al. Aspectos estruturais e tecnológicos da cadeia produtiva da carne bovina no Brasil. In: La ganadería en América Latina y el Caribe: alternativas para la producción competitiva, sustentable e incluyente de alimentos de origem animal. Ed. Domínguez RN et al. (2016) 1º edition, Biblioteca Básica de Agricultura: Fundación Colegio de Postgraduados en Ciencias Agrícolas, p. 809. ISBN: 978-607-715-305-4 BARCELLOS JOJ, Oliveira TE, et al. (eds.). Bovinocultura de corte: cadeia produtiva & sistemas de produção. 1ed. Guaíba/RS: Agrolivros, 2011. 256p. Sumário APRESENTAÇÃO ....................................................................01 CAPÍTULO 1 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações ........................................................09 CAPÍTULO 2 Planejamento Estratégico de Marketing .........................41 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 Estratégias de Marketing Para os Setores das Cadeias Produtivas Agroindustriais ..................................71 Tendências de Mercado e Comportamento dos Consumidores ..............................................................101 APRESENTAÇÃO Apesar da importância socioeconômica do agronegócio no Brasil e no mundo, seus setores enfrentam um ambiente de alta concorrência, sendo desafiado pela crescente população a produzir mais alimentos, reduzindo seus impactos no meio ambiente e ao mesmo tempo oferecendo o máximo de lucro possível aos empresários para que estes permaneçam no meio rural. Esse cenário é agravado pelo baixo preço de grande parte de seus produtos, muitas vezes incentivado por políticas públicas para manter o acesso geral da população a produtores tão essenciais. Assim, o marketing, oferece formas de reconhecer o mercado, os clientes e todos os fatores relacionados ao contato entre a empresa e o cliente. Para nos tornarmos agentes modificadores neste ambiente competitivo, neste livro iremos compreender como o marketing pode ser aplicado às comercializações do agronegócio. Para tanto, no primeiro capítulo serão apresentados os principais conceitos relativos ao marketing e ao agronegócio, apresentando os autores e propostas mais relevantes. Iremos abordar as propostas de cadeias produtivas dos produtos agroindustriais, suas diferentes formas de comercialização, considerando as assimetrias de informação dessas cadeias produtivas, bem como a aplicação de propostas estratégicas de marketing no agronegócio. No segundo capítulo, vamos aprofundar nosso entendimento quanto ao marketing, aplicando estratégias clássicas e inovadoras aos problemas encontrados na produção e comercialização agropecuária. Neste momento, entraremos em contato com o planejamento sistêmico de marketing em agronegócios, aprendendo a definir os consumidores, mix de produtos finais e os ideais da análise das vantagens competitivas para essas cadeias produtivas. Especificamente serão trabalhadas no terceiro capítulo as estratégias de marketing para cada um dos setores das cadeias produtivas agroindustriais, considerando serviços e insumos, produtores rurais, indústrias, varejo e venda direta de alimentos aos consumidores finais. Além disso, vamos nos familiarizar com as propostas mais inovadoras e criativas de marketing digital e as novas plataformas e mídias disponíveis para o agronegócio. Para finalizarmos nosso estudo pelo mundo do marketing no agronegócio, vamos discutir as questões referentes às tendências de marketing nos mercados nacional e internacional, buscando conhecer questões referentes a segurança alimentar, aos alimentos seguros, formas de analisar o comportamento dos consumidores de alimentos para reconectando consumidores e a produção rural. Bons estudos! CAPÍTULO 1 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender os conceitos e o cenário atual do agronegócio brasileiro e internacional. � Perceber a importância do marketing para as relações comerciais do agronegócio. � Conhecer os principais autores e suas propostas de marketing empresarial. � Identificar as dificuldades e gargalos das cadeias agroindustriais quanto à comercialização e ao fluxo de informações. � Reconhecer as vantagens e as desvantagens de cada cadeia conforme seus produtos e processos. 10 MARKETING NO AGRONEGÓCIO 11 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 Contextualização O agronegócio é responsável por grande parte da comercialização financeira mundial além de oferecer produtos essenciais para o bem-estar e saúde das sociedades humanas. Mesmo assim, grande parte de seus produtos, em geral, são de baixo valor, sem grande diferenciação entre os produtores, que enfrentam grande concorrência entre si, com outros setores e com outros países, devido à globalização. Nesse cenário de muita competição, os setores do agronegócio buscam a competitividade através da diminuição dos custos de produção e da diminuição das ineficiências ao longo das cadeias produtivas, mas essa competição é complicada em virtude do aumento das exigências de mercado quanto a questões como qualidade de vida dos trabalhadores e consideração dos impactos socioambientais e econômicos da produção de alimentos. Esses fatores incentivam os empresários do meio rural a competir em novos níveis, passando valores e novas percepções de qualidade e confiança aos seus clientes em todos os níveis de comercialização. Frente a esses novos desafios, o marketing surge como uma forma de identificar mercados, consumidores e estratégias para passar corretamente as informações que devem não só atender, mas conquistar a fidelidade de seus clientes. Portanto, o foco principal do nosso estudo está centrado em como o marketing pode ser aplicado às comercializações do agronegócio. Para tanto, neste capítulo inicialiremos conhecer os principais conceitos relativos ao marketing e ao agronegócio, apresentando os principais autores e propostas destes temas. Em especial trabalharemos com as propostas de análise das cadeias produtivas dos produtos agroindustriais, da importância da visão estratégica sistêmica e das estratégias e fragilidades de comercialização no ambiente do agronegócio, bem como da aplicação de propostas de estratégias do marketing no ambiente do agronegócio. Cenário do Agronegócio O agronegócio é responsável não só pelo fornecimento de alimentos para a população mundial, mas também oferece produtos de uso rotineiro como fumo, madeira, papel, fibras e biocombustíveis. O agronegócio enfrenta dois grandes desafios: a produção de bens de consumo com uso cada vez menor de recursos para atender a uma população estimada em cerca de 10 bilhões de pessoas em 2050 (GODFRAY, 2015); e diminuir os impactos no ambiente e garantir a o bem- estar da população local e dos animais envolvidos na produção. 12 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Neste cenário, o Brasil figura como grande produtor e consumidor de produtos agropecuários, disponibilizando ao mundo produtos relativamente baratos, pois possui recursos naturais para manter essa produção. Além disso, dispõe de recursos humanos e demais custos de produção menores do que em outros países. Porém, esta realidade está mudando com a abertura dos mercados, com o aumento da importância de exigências éticas, tanto no âmbito da legislação quanto no mercado. Conceitos de Agronegócio e Cadeias Produtivas Após a Segunda Guerra Mundial houve alterações no formato e nas práticas das propriedades rurais em todo o mundo. Os produtores passaram a depender muito mais de insumos externos às propriedades e a vender seus produtos a mercados cada vez mais distantes. Além disso, algumas atividades como armazenamento, transporte e transformação da produção se tornaram muito complexos para os produtores organizarem sozinhos e ainda aumentarem a eficiência dos seus sistemas de produção. Assim, cada um dos personagens/ atores sociais envolvidos passaram a ter mais importância no sucesso ou fracasso dos outros agentes, pois a dependência entre eles aumentou. Como a concorrência também aumentou, por questões de mercado e profissionalização dos agentes, estes também se especializaram. Buscando maior poder de barganha frente ao governo e conseguir suporte financeiro, logístico e comercial para os setores envolvidos (ARAÚJO, 2013, p. 16), o termo agronegócio foi proposto por Davis e Goldberg, sendo definido como a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas (DAVIS; GOLDBERG, 1957). Já as cadeias produtivas são uma forma de análise dos caminhos, fluxos, agentes e processos envolvidos na geração de um produto, que nasceu da escola de economia industrial francesa com o nome de Análise de filière. O propósito da análise das cadeias produtivas é identificar quais são os atores que agem em cada setor; quais os elementos mais importantes para a competitividade da produção de determinado produto; quais as dificuldades ou gargalos desta cadeia produtiva e; como seria possível melhor a comunicação, as ações e as estratégias de todos os envolvidos. O termo agronegócio foi proposto por Davis e Goldberg, sendo definido como a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas (DAVIS; GOLDBERG, 1957). 13 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 No texto disponível no link, você encontrará um resumo interessante sobre esses conceitos: <http://www.sober.org.br/ palestra/13/330.pdf>. A principal vantagem da organização das empresas em cadeias produtivas é a capacidade de responder rapidamente a alterações no mercado, como doenças ou mudanças na legislação que rege a produção. Essa estruturação permitiu um aumento significativo da competitividade do agronegócio, pois melhorou a capacidade de aproveitar oportunidades e estreitar as relações entre fornecedores e clientes (FERREIRA; PADULA, 2002). Mesmo assim, ainda há um longo caminho a percorrer quanto ao planejamento de marketing eficiente para as cadeias produtivas. Um exemplo de como essa ferramenta pode ser utilizada para entender e pensar estratégias de diferenciação para o agronegócio, foi utilizada para identificar as características e perspectivas para a produção de carne bovina sustentável (Figura 1). Figura 1 - Utilização do método de análise de cadeias produtivas para a características e perspectivas de sustentabilidade para a carne bovina PERSPECTIVAS • Rastreabilidade • Diminuição do tempo (precocidade) • Integração lavoura- pecuária-floresta • Confinamento com biodigestores • Medição e controle de emissão de gases Predomínio de Contigente LEGAL: Documentação - Legislação Ambiental e Trabalhista - CAR - LAU - Fiscalização - Novo Código Florestal ARL+APP ATUAIS • Manejo do pastejo • Recuperação de pastagens • Adubação de pastagens • Sistema plantio direto • Integração lavoura-pecuária PESQUISA APLICADA Universidades + Centros de Pesquisa REGULAÇÃO Governo Legislação Insumos Orientação/ Demanda PESQUISA DE OPINIÃO Universidades + Centros de Pesquisa CONSUMO ONG’s Consumidores Frigóríficos PROCESSAMENTO Orientação/ Demanda Pecuaristas PRODUÇÃO Orientação/ Demanda Varejo DISTRIBUIÇÃO Orientação/ Demanda Fonte: Gianezini (2012). Produto Final 14 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Normalmente, os produtos finais das cadeias agropecuárias oferecem produtos aos consumidores denominados commodities, que apresentam pouca ou nenhuma diferença entre si quanto à qualidade, preço, oferta e demanda internacional. Constituem produtos de base e são matérias-primas ou produtos com baixa industrialização. Desafios Para o Agronegócio Dentre os desafios para o agronegócio temos um expressivo aumento da demanda por produtos agropecuários. Esta demanda por produtos agropecuários será não apenas em quantidade de produtos, mas em qualidade, garantias de segurança (FERREIRA; PADULA, 2002) e diversidade conforme preferências individuais, além de outros atributos que não são tão fáceis de identificar. Entretanto, para atender a todas essas demandas, o agronegócio enfrenta particularidades quanto às características da produção, que iremos discutir a seguir. A produção em agronegócios normalmente está associada às condições físicas e climáticas da região em que estes sistemas se estabelecem. Assim, conforme quedas bruscas de temperaturas, o produto disponibilizado pode apresentar qualidade diferenciada, quantidade disponível altamente variável ou mesmo ser seriamente comprometido em caso de alteração destes fatores. Além da temperatura, umidade, pressão atmosférica, radiação solar incidente, relevo, continentalidade, vegetação, latitude e altitude influenciam fortemente na produção do agronegócio (ARAÚJO, 2013, p. 9). Estas preocupações são mais urgentes em um cenário em que se espera por sérias alterações climáticas que irão impactar na adaptação das espécies aos locais em que estão localizadas. A escassez de recursos naturais agrava este cenário, uma vez que fatores como a terra e o custo com recursos humanos estão se tornando mais procurados em todos os setores de produção e, portanto, mais caros, aumentando os custos gerais de produção. Esta demanda por produtos agropecuários será não apenas em quantidade de produtos, mas em qualidade, garantias de segurança (FERREIRA; PADULA, 2002) e diversidade conforme preferências individuais, além de outros atributos que não são tão fáceis de identificar. As mudanças climáticas são altamente controversasquanto a suas causas e reais consequências para a humanidade, mas seus efeitos são detectados em várias realidades e são de grande importância para o futuro do agronegócio. Reflita sobre os argumentos dos dois lados desta discussão e se posicione quanto a essa questão. 15 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 Outra questão importante é o uso de características externas dos produtos como fator de classificação, oferecendo um valor diferenciado por alimentos mais frescos, mas que também causa desperdícios na seleção de alimentos que são descartados (GODFRAY, 2015). Por outro lado, vários empresários estão usando esse desafio como oportunidade para reduzir desperdícios, através de ações sociais importantes e ainda melhorar a imagem das empresas frente aos consumidores. Este tipo de iniciativa está sendo denominado de marketing social ou marketing de causas sociais, algumas proposições de utilização de marketing social são: a) marketing de filantropia: baseado na doação para beneficiar entidades; b) marketing de campanhas sociais: veicula mensagens de interesse público nas embalagens dos produtos, organiza dia de vendas com percentual do lucro sendo destinado a entidades; c) marketing de patrocínio de projetos sociais: patrocina via terceiros, parceria com os governos ou patrocínio próprio, em que as empresas criam projetos e implementam- nos com recursos próprios; d) marketing de relacionamento - ações sociais: utiliza o pessoal de vendas da empresa para orientar os clientes como usuários de serviços sociais; e) marketing de promoção social do produto e da marca: utiliza o nome de uma entidade ou logotipo de uma campanha, agregando valor ao seu negócio e gerando aumento de vendas (MELO NETO; FROES, 2001, s.p.). Confira uma das ações sociais contra o desperdício de alimentos: <http://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/noticia/2016/11/mercado- oferece-alimento-de-graca-para-pessoas-carentes-em-petrolina.html>. Uma das grandes dificuldades para vencer os desafios expostos é a dispersão geográfica as propriedades rurais, principalmente as de pequeno porte (ARAÚJO, 2013). Esta distância entre os produtores dificulta sua organização, sua comunicação e o desenvolvimentos de ações públicas e privadas que atendam suas necessidades. Além disso, os sistemas de produção são muito diferentes entre si, em função das características do local, do proprietário e do produto. Porém, se por um lado essa diferença é prejudicial para padronizar as estratégias de marketing e a troca de informações, por outro lado ela oferece um fator natural de diferenciação que pode ser explorado, como os produtos artesanais. Outra tendência no ambiente rural diz respeito à crescente urbanização da população e o maior acesso a oportunidades nas cidades que têm retirado a população jovem do campo (SATTERTHWAITE; MCGRANAHAN; TACOLI, 2010). Esta realidade juntamente com o envelhecimento da população, tem 16 MARKETING NO AGRONEGÓCIO diminuído a disponibilidade de recursos humanos para o trabalho no campo, o que compromete os custos de produção e a qualidade dos produtos, influenciada pela conduta de funcionários não qualificados ou sem perfil para essa atividade. Outro fator que torna essa situação mais complexa é o aumento da rigidez das leis trabalhistas, que geram custos de adequação aos empresários, além de ainda pecar quanto à especificidade de cada propriedade e/ou situação. Além de todas estas grandes oportunidades que devem ser aproveitadas, o agronegócio ainda enfrenta o maior de todos os obstáculos, o de atender aos anseios de consumidores que estão muito bem informados, com exigências cada vez maiores quanto à qualidade, diversidade, praticidade e ética das empresas e dos produtos nos quais investe. A marca Natura é uma das mais reconhecidas por este tipo de abordagem ética e com preceitos ambientais, confira algumas de suas campanhas: <http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/ noticia/2016/10/natura-questiona-padroes-impostos-mulheres-em- nova-campanha.html>, <http://exame.abril.com.br/marketing/natura- propoe-novo-jeito-de-consumir-em-campanha/>. Alguns outros fatores também devem ser considerados como a internet, a globalização e a hipercompetição. A internet e a facilidade de acesso a informações sobrecarrega os consumidores com dados e afirmações sem verificação. Uma vez que muitas destas informações são equivocadas, elas contribuem para falta de confiança nas empresas e nos produtos. Ademais, este cenário está reformulando os mercados, o que impacta as estratégias de precificação dos produtos do agronegócio. Quanto a isso Kotler em 2003 já afirmava: A globalização induz as empresas a deslocar seus processos de produção para as localidades com custos mais baixos e a oferecer seus produtos no país de origem a preços inferiores aos dos fabricantes locais. A hipercompetição resulta em mais empresas competindo pelos mesmos clientes, o que por sua vez resulta na redução do preço. Além disso, a internet facilita a comparação dos preços e a escolha da melhor oferta. O desafio para o marketing, portanto, é encontrar meios de manter os preços e a rentabilidade, em face dessas macrotendências... As respostas mais adequadas parecem ser melhor segmentação, marcas mais fortes e excelente gerência do relacionamento com os clientes (KOTLER, 2003, p. 181). Ademais, este cenário está reformulando os mercados, o que impacta as estratégias de precificação dos produtos do agronegócio. 17 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 Atividade de Estudos: 1) Pense no último item de consumo que você comprou e desenhe os agentes e transformações que esse produto percorreu até chegar a você. Descreva este caminho. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Conceitos de Marketing Em tempos de competição exacerbada em que os clientes estão cada vez mais informados, exigentes e recebem uma diversidade de produtos para exercer suas escolhas, não é mais uma tarefa simples competir apenas pela redução dos custos de produção e, consequentemente, baixando o preço dos produtos finais. Neste novo cenário desafiador, cabe aos investidores e empresários olharem para novas frentes de competição, passando cada vez mais mensagens que não são obviamente percebidas ao comprarmos um produto. Na busca por respostas a estes desafios, devemos aplicar as estratégias do marketing. Um dos grandes autores de marketing direto, Lester Wundermn, comparou o cenário da Revolução Industrial com a nova Era da Informação. No primeiro caso apresentado, os fabricantes afirmavam: É isto o que eu faço, alguém gostaria de comprar? No caso da Era da Informação, quem faz a declaração é o consumidor final: é isso o que eu quero, alguém gostaria de fabricar? (WUNDERMN, 1997). Para compreender o que estes clientes desejam e como transmitir a mensagem de que o produto que oferecemos atende a suas demandas e expectativas, temos que aplicar as estratégias do marketing. Neste contexto, o marketing estratégico é fundamental não apenas para o desempenho comercial, mas também para a competitividade das empresas. Inicialmente, vamos compreender o que significa marketing. A palavra marketing tem origem de uma adaptação da língua inglesa, e foi ajustada do termo Market (mercado ou to Market – comercializar). O sufixo ing representa, entre outras traduções, uma ação que está acontecendo neste momento, então marketing representa a ação de comercializar alguma coisa neste momento. Este termo tem recebido diversas aplicações ao longo dos anos, mas alguns autores se destacaram para o entendimento do que o marketing representa, especialmentepara o agronegócio. 18 MARKETING NO AGRONEGÓCIO As estratégias de marketing buscam conhecer o cliente tão bem que o esforço de vendas em si possa ser dispensado (DRUCKER, 1993). Marketing significa ainda definir com clareza a identidade da empresa e fortalecê-la com integridade autêntica para construir uma imagem forte (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010). Segundo a interpretação de Batalha (2007, p. 114 p.), o marketing é composto de três componentes: os desejos e necessidades (que explicam a motivação ou o comportamento do consumidor), a relação de troca e o mercado, local onde a oferta e a demanda se encontram. O marketing é ainda a resposta para a pergunta de como competir de outras formas, que não seja apenas pelos baixos preços dos produtos disponibilizados para venda (KOTLER, 2003). Ainda segundo o mesmo autor: O Marketing é a função empresarial que identifica necessidades e desejos insatisfeitos, define e mede sua magnitude e seu potencial de rentabilidade, especifica que mercados-alvo serão mais bem atendidos pela empresa, decide sobre produtos, serviços e programas adequados para servir a esses mercados selecionados e convoca a todos na organização para pensar no cliente e atender ao cliente (KOTLER, 2003, s.p.). Como observamos os problemas da assimetria de informação e a importância da transferência de informações ao longo das cadeias produtivas, compreende-se a relevância do marketing para que esse fluxo seja fluído e transmita o que realmente cada empresa precisa comunicar para atender os elos a jusante, tanto quanto para que cada cliente esteja satisfeito com os produtos que adquire, estabelecendo relações de confiança duradouros, e que não venha a incutir altos custos de transação em negociações futuras. Para Neves e Castro (2000) o marketing é um facilitador para que as transações ocorram entre as empresas. Os mesmos autores complementam dizendo que: O marketing é utilizado para compreender as necessidades dos consumidores finais e intermediários (indústrias, distribuidores), através do processo de pesquisa, análise do comportamento dos consumidores, o mercado, facilitando ver quais segmentos de consumidores podem ser satisfeitos, quais serão alvo de atuação da empresa, que tipo de diferenciação pode ser oferecida, com gerar e adaptar produtos, marcas e embalagens, as estratégias corretas de precificação para esses produtos, como colocá-los à disposição dos consumidores através de canais de distribuição e como comunicar melhor através da propaganda, da publicidade e de outras ferramentas (NEVES; CASTRO, 2000, p. 30). Para as cadeias produtivas dedicadas ao agronegócio é indicado que se trabalhe de trás para frente, sendo necessário primeiro identificar o consumidor final e depois, identificar cada consumidor dentro das relações de negociação Marketing significa ainda definir com clareza a identidade da empresa e fortalecê-la com integridade autêntica para construir uma imagem forte (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010). Para Neves e Castro (2000) o marketing é um facilitador para que as transações ocorram entre as empresas. 19 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 dentro das cadeias. Dessa forma, é preciso que sejam identificados e analisados os diferentes mercados de cada cadeia. Assim, para as empresas de insumos, como os vendedores de fertilizantes, é preciso identificar primeiro as necessidades dos consumidores de óleo soja, para então atender as necessidades dos seus clientes diretos, os produtores de soja; e, por fim, quais as necessidades que podem ser atendidas de maneiras lucrativas (KOTLER, 2003). Considerando esse cenário, cada ponto de transferência de produtos, recursos financeiros e informações, se constitui em um mercado, e nestes vários mercados é importante a definição de quais enfoques do marketing podem ser aplicados para as cadeias de produção de alimentos (Figura 2). Figura 2 - Principais enfoques para o marketing considerando as cadeias de produção agroalimentares DistribuiçãoAgroindústriaProduçãoagropecuária Marketing Alimentar Marketing Rural Marketing Agropecuário Marketing Agroindustrial Consumidor Final Insumos Fonte: Adaptado e atualizado de Batalha (2007, p. 144). Os Quatro P’s de Mccarthy Mix ou composto de Marketing é caracterizado por um conjunto de itens que podem influenciar os consumidores na forma como eles respondem ao mercado e em como as empresas podem agir sobre estes itens para influenciar a compra por seus produtos. Este conceito foi apresentado por Neil Borden (1964) em uma lista de doze variáveis, chamados de ingredientes, capazes de possibilitar a construção de uma estratégia de marketing (GRÖNROOS, 1997). A escolha de chamar estes fatores de ingredientes ocorreu em função de uma expressão proposta por outro profissional, James Culliton, que a utilizou para caracterizar os executivos de marketing como um misturador de ingredientes (CULLITON, 1948). 20 MARKETING NO AGRONEGÓCIO 1) Planejamento do Produto 2) Preço 3) Definição da Marca 4) Canais de distribuição 5) Vendedores 6) Publicidade e Propaganda 7) Promoções 8) Embalagens 9) Disposição do produto 10) Serviços 11) Distribuição física do produto 12) Averiguação e análise dos fatos Para maiores detalhes sobre as proposições de Neil Borden, confira sua publicação The Concept of the marketing mix, disponível pelo link: <http://faculty.mu.edu.sa/public/uploads/1361463588.8451 marketing%20mix5.pdf>. Apesar da importância da simplificação realizada por McCarthy, ainda é preciso um entendimento do que cada um dos seus Ps representa para as empresas. Assim, alguns exemplos e descrições serão apresentados a seguir. a) Produto O Produto engloba tudo o que se refere aos bens e serviços que uma empresa disponibiliza no mercado. Além de bens e serviços, também pode incluir ideias, princípios, recursos humanos e/ou uma combinação destes fatores. Em geral, os itens considerados como produtos podem ser divididos entre produtos de consumo ou industriais (MURPHY; ENIS, 1986). Os produtos ou serviços industriais são itens adquiridos entre os intermediários das cadeias produtivas que são utilizados pelo elo a jusante para a produção ou transformação de outros produtos Cronologicamente, o marketing começou a ser realmente simplificado e consolidado por Jerome McCarthy até 1960, época em que a economia americana estava amadurecendo e diversas empresas entraram no mercado e começaram a agir ativamente, oferecendo vários produtos e marcas. Este autor foi essencial para o entendimento dos princípios do marketing, suas propostas e estratégias de forma muito didática, o que aproximou diversos outros autores e de várias outras áreas ao mundo do marketing. McCarthy compilou as doze variáveis de Borden quanto ao marketing em apenas 4 itens: Produto (Product), Preço (Price), Promoção (Promotion) e Ponto de distribuição ou Praça (Place), que são os quatro Ps de McCarthy (1960). Estes 4 Ps são uma simplificação da proposta anterior de Neil Borden: O Produto engloba tudo o que se refere aos bens e serviços que uma empresa disponibiliza no mercado. McCarthy compilou as doze variáveis de Borden quanto ao marketing em apenas 4 itens: Produto (Product), Preço (Price), Promoção (Promotion) e Ponto de distribuição ou Praça (Place), que são os quatro Ps de McCarthy (1960). 21 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 Figura 3 - Classificação dos produtos de consumo, adquiridos pelos consumidores finais para seu uso ou consumo pessoal • Ao contrário dos produtos de conveniência, para a compra dos produtos de aquisição, os consumidores estão dispostos a investir tempo e dinheiro buscando estes produtos, avaliando e comparando as alternativas quanto a sua qualidade, preço, estilo e conformidade às suas reais necessidades.Produtos de aquisição • São produtos diferenciados, pelos quais os consumidores realizam esforços financeiros para adquiri-los, por suas caracterísricas únicas. • Para estes produtos, as marcas são muito importantes. Produtos de especialidade • Produtos normalmente com preços baixos e que envolvem pouco esforço e investimento financeiro do consumidor. • Existe o risco de que o produto não atenda às expectativas e providencie os benefícios procurados. Produtos de conveniência Fonte: Adaptado de Völckner (2008). ou serviços (VÖLCKNER, 2008). Estes produtos podem ser identificados como: materiais ou partes (matérias-primas ou peças componentes do produto final com ou sem transformação), itens de capital (instalações, equipamentos fixos e acessórios, sendo depósitos e materiais de escritório, respectivamente). Dentre os produtos agroalimentares, os exemplos para estes tipos de produtos industriais seriam o leite que vai se transformar em queijo ou o algodão que um dia será um item de vestuário. Normalmente, os produtos de consumo são mais facilmente compreendidos porque figuram em nossa rotina diária, são os produtos adquiridos pelo consumidor final, para uso e/ou consumo pessoal (Figura 3). Para produtos alimentares algumas características são especialmente importantes nos produtos de consumo, pois estes têm o objetivo de satisfazer a fome, a busca por nutrientes específicos (BATALHA, 2007) e a satisfação em comemorações festivas, que usualmente são centradas em torno dos alimentos. Por essas características, as ações governamentais tendem a estimular o fácil acesso e o baixo preço destes produtos. Porém, ainda existe a procura por todos os tipos de produtos, mesmo que estes apresentem demandas e preços diferenciados. Essa demanda por produtos depende das percepções dos consumidores quanto aos seus atributos. CLASSIFICAÇÃO DE ATRIBUTOS DOS PRODUTOS 1) Atributos de pesquisa: são os atributos que podem ser identifica- dos por inspeção realizada antes da compra dos produtos. Trata-se das características relacionadas à aparência externa do produto. 22 MARKETING NO AGRONEGÓCIO De uma forma simplificada pode separar as características dos produtos em aspectos intrínsecos, aqueles que podem ser percebidos pelos sentidos, como a aparência, o cheiro e o sabor (considera atributos de pesquisa e de experiência) e extrínsecos, que são aqueles que não podem ser percebidos pelos sentidos ou pela experiência (CUNHA; SAES, 2005). Para entendermos melhor, pegaremos o exemplo da carne bovina, em que os fatores intrínsecos são representados pelas características físicas do produto (cor, aromas, aspecto) e os atributos extrínsecos representam a marca, a aparência do estabelecimento de compra e a origem do produto (GRUNERT, 1997). Cada vez mais os consumidores passam a valorizar os aspectos extrínsecos dos produtos, como sustentabilidade e bem-estar, mas ocorre também uma grande preocupação quanto à confiança na sanidade dos produtos. Assim, o grande desafio será a garantia da qualidade e da inocuidade dos alimentos e a transmissão de valores e princípios éticos que aproximem os consumidores às empresas produtoras de alimentos. 2) Atributos de experiência: são aqueles sobre os quais os consum- idores apenas podem ter um conhecimento razoável após com- pra e a experimentação do produto. Representam características como sabor, maciez e usabilidade dos produtos. 3) Atributos acreditáveis: são os atributos capazes de verificação apenas através de inspeção, por organizações públicas ou con- correntes. A composição nutricional e a sanidade do produto são exemplos destes tipos de atributos. 4) Atributos Potemkin: são os atributos relativos ao processo de produção, sem possibilidade de verificação por análises de labo- ratório ou pelo consumidor final. São exemplos deste tipo de atrib- utos a inexistência de trabalho escravo, a segurança ambiental e todos os atributos relacionados ao bem-estar dos animais. Para cada tipo de atributo descrito acima, os consumidores adotam diferentes tipos de procedimentos para obter as infor- mações que precisam para decidir o que comprar. Fonte: Adaptado de Jahn, Schramm e Spiller (2004). De uma forma simplificada pode separar as características dos produtos em aspectos intrínsecos, aqueles que podem ser percebidos pelos sentidos, como a aparência, o cheiro e o sabor (considera atributos de pesquisa e de experiência) e extrínsecos, que são aqueles que não podem ser percebidos pelos sentidos ou pela experiência (CUNHA; SAES, 2005). 23 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 Normalmente, os fatores extrínsecos são realmente conhecidos apenas pelos produtores e, muitas vezes, estes agentes ocultam estas informações para omitir problemas em relação ao produto final, passando uma imagem errônea sobre o produto (CUNHA; SAES, 2005). Esse comportamento gera desconfiança dos consumidores em relação aos produtos e compromete a credibilidade de todas as empresas e instituições envolvidas na cadeia. b) Preço O segundo item de esforço proposto por McCarthy é um investimento financeiro que os consumidores dão em troca do produto que estão comprando. Trata-se também da quantidade monetária que os compradores trocam pelo direito de possuir e usufruir de um bem ou serviço. O preço representa ainda o que se abdica ao comprar um produto em relação ao tempo de busca ou espera pelo item, ou seja relativo às mudanças nas prioridades financeiras do consumidor em sua economia doméstica (MURPHY; ENIS, 1986). Para Batalha (2007), o preço é definido pelo montante de dinheiro exigido pelo vendedor para a transferência de posse de um produto ou serviço ao consumidor, é ele quem auxilia na determinação da participação de mercado das empresas e também é ele que vai determinar em grande parte a escolha dos consumidores, principalmente de produtos básicos, como os alimentos rotineiros. Esta importância é maior em períodos de recessão, em que a fidelidade ao preço é maior do que à marca (KOTLER, 2003). Para o marketing, o preço é o único elemento que gera receita, todo o resto gera custos, sendo o fator mais fácil de ajustar no plano de marketing (KOTLER; KELLER, 2012), sobretudo para aumentar rapidamente as vendas e o faturamento; maximizar a participação de mercado da empresa e reagir às estratégias dos concorrentes (SEBRAE, 2017). Dada a importância do preço, o processo de sua definição deve levar em consideração todos os custos e esforços que foram necessários para a elaboração deste produto. Porém, é mais importante o valor percebido e do custo de produção, sendo uma questão de percepção de valor ou de custo x benefício (SEBRAE, 2017). Além destes, devem ser considerados os efeitos psicológicos do preço no mercado-alvo, considerando o poder aquisitivo deste mercado, sua afinidade e fidelidade com o produto e a competitividade que este preço irá adicionar ao produto em relação ao preço dos concorrentes similares ou substitutos. Para os produtos alimentares, o preço ainda sofre grande influência de questões relativas à safra dos produtos e a ocorrência de eventos climáticos, que vão determinar a oferta e a qualidade destes produtos (BATALHA 2007). 24 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Mais dicas no site: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebra e/artigos/acerte-na-precificacao-de-seu-produto-e-servico,8038a9f08 a446410VgnVCM1000003b74010aRCRD>. c) Promoção O composto de promoção ou de comunicação, representa as estratégias de cada empresa para informar, convencer e/ou lembrar os clientes e consumidores quanto ao seu produto, para chamar a sua atenção e instigar sua opinião quanto ao item disponibilizado. Estas estratégias incluem a propaganda, promoções de vendas dos produtos, venda pessoal e relações públicas da empresa ou da marca (MURPHY; ENIS, 1986). Ao focar neste tipo de estratégia são necessáriasalgumas considerações, como o tipo de produto, o público-alvo que, as formas de distribuição, além da personalidade dos responsáveis que influenciam na decisão de compra do produto. Nestes casos, um dos fatores mais importantes é que a mensagem transmitida seja clara, consistente (considerando todas as formas de comunicação entre a empresa e o cliente), além de convencer o consumidor a confiar na ideia que se quer transmitir ao longo de toda a cadeia produtiva. Considere que estas mensagens e ideias tem que passar por todos os elos da cadeia produtiva de forma informativa, clara e objetiva, refletindo o processo de produção de todos esses agentes. Assim, é importante que sejam definidas O preço cobrado pelo produto deve ser suficientemente alto para proporcionar lucro a quem o está produzindo ou comercializando, porém não pode ser tão alto que desestimule a compra, ou seja, deve ser atrativo para os clientes. Preços demasiadamente baixos podem depreciar o produto aos olhos dos compradores, que podem pensar que há algo de errado nele (SEBRAE, 2017). Em geral, as empresas que estipulam preço baixo geram menos lucros em cada venda, mas geram mais vendas (porque mais clientes são atraídos por seu preço mais baixo), mas isso só ocorre quando a empresa oferece boa qualidade e bons serviços juntamente aos preços baixos (KOTLER, 2003, p. 115). Com isso, a precificação do produto deve ser coerente com os gastos para sua produção, com os canais de distribuição e com a promoção utilizadas, mas também deve considerar a percepção de valor do cliente em relação ao produto (SEBRAE, 2017). 25 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 Caso você tenha interesse em conhecer um pouco mais sobre as diretrizes para a publicidade no Brasil, visite o site: <http://revistas. unipar.br/index.php/educere/article/view/5966/3350>. sinalizações consistentes e formas de assegurar as garantias necessárias para alcançar a confiança dos consumidores por um longo período de relacionamento lucrativo e satisfatório para clientes e fornecedores. Dentre as ferramentas que podem ser utilizadas para a promoção podemos citar: Propaganda: trata de um conjunto de atividades para propagar e difundir alguma coisa, reverberando ideias, crenças e/ou princípios. A propaganda deve ser mais do que a difusão de ideias, mas sua divulgação conforme certos métodos, baseados em símbolos para manipular das atitudes coletivas (CHILDS, 1967). Normalmente, inclui um investimento financeiro alto, cujos objetivos e vantagens incluem o alcance de um grande número de pessoas. Os principais veículos utilizados, são a televisão, rádio, jornais, outdoors e, atualmente, a internet e aplicativos para smartphones. Porém, as empresas não devem confiar excessivamente na propaganda, pois o desempenho da empresa é mais importante para a imagem organizacional do que qualquer outro fator (KOTLER, 2003). Algumas dicas de como definir a missão, a visão e os valores: <https://www.youtube.com/watch?v=dMWpTeYXMAA>. Promoção de vendas: são ações focadas em momentos pontuais como incentivo à compra ou venda de um produto/serviço e a oferta de cupons, amostras grátis, sorteios e premiações. Podem ser utilizadas para estimular a venda e/ou conhecimento de novos produtos, como os estandes de degustação e esclarecimento de alimentos nos supermercados. Importante salientar que estes programas devem ser avaliados quanto às vendas e como os consumidores se comportavam antes e depois da promoção em relação a marca, além de controles em relação ao tempo de produção (para preparar e lançar o programa) e de venda (do lançamento até 95% da venda) para cada promoção (KOTLER; KELLER, 2012). 26 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Figura 4 - Descrição das estratégias de marketing Push e Pull Estratégia push Estratégia pull • O objetivo é empurrar o produto ou a ideia que a empresa acha que os consumidores querem. • A empresa coordena suas ações conforme o que deseja o consumidor final. Fonte: Adaptado de Ferrell e Hartline (2010). Relações públicas: são todas as relações da empresa, com os outros elos da cadeia produtiva, incluindo seus recursos humanos e seus consumidores atuais e em potencial e como estes se conectam com a empresa. Seus objetivos gerais buscam manter uma imagem positiva sobre a empresa, mas também comunicar os problemas e notícias negativas ao grande público, procurando transmitir uma imagem de clareza e honestidade, mostrando uma empresa em quem os consumidores podem confiar (KOTLER; KELLER, 2012). Além disso, aumentar a eficiência do marketing envolve também a transferência de investimentos da propaganda para as relações públicas (KOTLER, 2003). Venda pessoal: caracteriza a força de vendas da empresa e como ela comunica seus produtos nas relações entre vendedores e compradores. A venda pessoal é muito importante no meio rural, pois é um espaço de estabelecimento de relações de confiança entre a empresa e os clientes. Por exemplo, os vendedores de insumos oferecem aos produtores informações técnicas, indicando os produtos mais apropriados para suas necessidades e como garantir sua melhor utilização (BATALHA, 2007). Porém, para que este tipo de estratégia seja efetivo, é preciso que a equipe de vendas seja treinada, pois a relação entre vendedores e clientes é muito próxima e sensível a falhas dos vendedores. Marketing direto: representa toda a comunicação entre a empresa e um indivíduo pertencente ao seu mercado-alvo, que pode ocorrer por diversas mídias como rádio, televisão, imprensa escrita, telefone, correio, e-mail ou sites ou catálogos (FERRELL; HARTLINE, 2010). Existem diversas formas de comunicação com os consumidores, mas usualmente, elas podem ser divididas entre estratégias de marketing push ou pull (Figura 4). 27 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 d) Praça O último item P de McCarthy se dedica ao entendimento da disponibilização dos produtos aos seus mercados consumidores. Esta distribuição está intimamente relacionada à estratégia logística e à integração entre os elos da cadeia. Dessa forma, representa os canais de distribuição, que determinam como os produtos chegam aos consumidores e inclui os pontos de venda, os serviços de entrega, quais serão os horários e dias de atendimento e como serão as diferentes formas possíveis para a compra do produto (LINDON et al., 2011). O grande objetivo é a redução das ineficiências e custos de produção, relacionados principalmente ao transporte e ao armazenamento dos produtos (FERRELL; HARTLINE, 2010), aumentando o lucro das empresas. No Brasil, este é um problema complexo, uma vez que se trata de um país extenso com sérios problemas de transporte e infraestrutura, cujos produtores encontram- se dispersos no território, dificultando a distribuição de insumos e a coleta dos produtos em cada propriedade. Estes pontos de focais do marketing, apesar de terem sido propostos por McCarthy, foram amplamente difundidos por Kotler na década de 1970. A importância deste tipo de definição, em palavras claras identificadas por suas letras iniciais, está na simplificação das definições e nas áreas de abrangência do marketing de forma objetiva. Estas formas de organizar as proposições para o marketing foram utilizadas por diversos outros autores, que também propuseram esquema de letras para introduzirem outros conceitos. A importância deste tipo de definição, em palavras claras identificadas por suas letras iniciais, está na simplificação das definições e nas áreas de abrangência do marketing de forma objetiva Para uma compreensão mais profunda sugiro a leitura do artigo: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC00000000220 06000100018&script=sci_arttext&tlng=pt>. Uma das críticas mais frequentes aos 4 Ps de McCarthy é uma consequência da época em que seu modelo foi proposto,pois neste período todo o foco estava no produto em função da existência de alta demanda para uma baixa oferta de produtos. Porém, mesmo que o consumidor não esteja explicitado diretamente nos Ps, ele é o ponto final que deve ser satisfeito em todos os pontos estipulados. Em 2003, Kotler iniciou a atualização destes princípios propondo a inclusão de política e relações públicas (politics e public relations), por também influenciarem a capacidade de venda da empresa (KOTLER, 2003). 28 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Tabela 1 - Comparação entre os 4P’s de McCarthy e os 4P’s propostos por Kotler e Keller, demonstrando a evolução da administração em marketing Fonte: Adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 24). Os Quatro C’s de Lauterborn Apesar da relevância dos 4 P’S de McCarthy, as preocupações em relação ao foco no consumidor levaram diversos autores a buscar outras propostas para a compreensão do marketing. Uma crítica mais profunda foi feita por Lauterborn que sugeriu que se trabalhasse primeiro os 4C’S antes dos 4P’S (KOTLER, 2003). Esta abordagem é mais orientada para o consumidor, em que cada C corresponde a um dos P’S de McCarthy. Destaca-se nessa proposta que mais importante do que a produção e a distribuição de um produto de baixo custo e de forma eficiente, é o planejamento, produção e oferta de um produto que satisfaça as expectativas e necessidades dos clientes (LIMA et al., 2007). A equivalência entre os 4 C’S e os 4 P’S está descrita na Tabela 2. 4 P’s do Marketing Mix (McCarthy) 4 P’s da Administração Moderna (Kotler) Produto Pessoas Preço Processos Praça Programas Promoção Performance A proposta de Kotler busca atualizar a proposição de McCarthy, pois estes não mais representavam o cenário atual. Esta atualização se baseou no marketing holístico, em que passam a ser mais relevantes as pessoas, o processo, os programas e a performance. Neste caso, Pessoas reflete o marketing interno e a importância dos funcionários para o sucesso das estratégias da empresa, além da relevância de considerar os consumidores como pessoas compreendendo sua vida em sua totalidade, não apenas como compradores da empresa. Processos representa a criatividade, disciplina e estrutura necessárias para a gestão de marketing. Os Programas refletem as atividades da empresa dirigidas ao consumidor, englobando os antigos 4 Ps e suas atividades. A Performance ou desempenho, incorpora os indicadores de resultado financeiro ou não, que devem ser integrados para realizar os objetivos da empresa (KOTLER; KELLER, 2012). 29 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 Tabela 2 - Comparação entre os 4 Cs e os 4 Ps do marketing. 4 Cs de Lauterborn 4 P’s do Marketing Mix (McCarthy) Cliente Produto Custo Preço Conveniência Praça Comunicação Promoção Fonte: Adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 24). Vamos entender o que Lauterborn especifica em cada um de seus C’S. O primeiro C, que representa os Clientes, substitui a proposição de Produto. Neste caso, os produtos devem significar uma solução para os problemas dos clientes. Para poder atender a essas demandas dos consumidores, se faz necessária uma análise aprofundada de quem é esse comprador e quais são os seus anseios, mesmo que eles não estejam conscientes destas necessidades e desejos. Este foi o caso da evolução dos smartphones, que hoje são uma necessidade indispensável para a nova geração, mas estas demandas não existiam na rotina da população antes de sua existência. Para os produtos agroindustriais, todos os intermediários devem ser considerados como os clientes e, neste caso, evidencia-se o tamanho do desafio para o entendimento de todos os compradores envolvidos. Assim, o vendedor de touros deve conhecer as necessidades dos produtores que utilizam os touros em seus sistemas de produção para que possam oferecer animais adequados, que contribuam com o aumento dos indicadores produtivos e econômicos da propriedade rural e que aumentem as chances deste produtor voltar a negociar com esta cabanha de touros, além de comunicar a outros produtores as vantagens de comprar touro deste vendedor. Acompanhe neste vídeo alguns dos produtos vencedores do prêmio de inovação em alimentos e avalie os ganhadores e indicados quanto a real necessidade dos consumidores para estes produtos e embalagens. O vídeo está disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AOVggSWfYxo&t=83s>. O segundo C trata do Custo que representa muito mais do que apenas o preço final do produto. Compreende as despesas dos consumidores ao comprar este produto, incluindo até mesmo o tempo investido pelos compradores na escol- ha do produto ou na procura por um item específico no mercado. Considerando estas proposições, é importante salientar que o Custo se equivale ao Preço e como tal deve estar contido dentro do que o consumidor percebe como valor para ele no produto, não no que a empresa entende que tem valor. 30 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Os Quatro 4A's de Richers Dos muitos modelos propostos para o marketing, os 4 A’S do marketing descritos por Richers se diferenciam dos demais por avaliar as interações da empresa com o ambiente externo a empresa, avaliando os resultados das ações estratégicas de marketing, conforme os objetivos de cada empresa. Este pesquisador brasileiro denominou este modelo de Sistema Integrado de Marketing, e propôs que no Brasil o marketing fosse chamado de mercadologia. Os 4 A’S são Análise, Adaptação, Ativação e Avaliação (RICHERS, 2000) e sua descrição será apresentada abaixo. A primeira fase, Análise, consiste em identificar as variáveis que estão agindo no mercado e suas interações com a empresa. Dentre elas destacam-se as oportunidades e ameaças, as mudanças nas tendências dos nichos de mercado- alvo para a empresa. Compreende as informações utilizadas como suporte às decisões relativas ao marketing da empresa, seja no lançamento de um novo produto ou em campanhas de publicidade. Usualmente são utilizadas como ferramentas as pesquisas de mercado e os sistemas de informação aplicados ao marketing, como as bases de dados dos consumidores. Conforme os dados encontrados e analisados, nesta etapa são definidos os objetivos das campanhas de marketing e qual é o nicho de mercado que se deseja alcançar. O processo de Adaptação trata da adequação dos produtos ao ambiente caracterizado pela fase anterior (Análise). Este ajuste compreende novo design, embalagens ou inovação da marca para se aproximar do consumidor e de seu estilo de vida. Além destes, é possível adaptar o preço do produto final e a relação pós-venda com o cliente, conforme suas expectativas e poder aquisitivo. A Conveniência, terceiro C, se relaciona com os locais em que os produtos são disponibilizados aos consumidores. Em muitos casos, representa as lojas, su- permercados e mercados de bairros, mas atualmente devemos considerar todos os caminhos pelos quais os consumidores podem ter acesso ao que desejam. Assim, os empresários devem conhecer quais os locais e formas como seus consumidores preferem comprar e assegurar que seu produto esteja sempre disponível neste local, da forma mais conveniente para o cliente, mesmo que este local seja em sites online. Por fim, a Comunicação, que representa o quarto C, representa toda a comunicação entre os vendedores e os consumidores. Se por um lado a promoção busca manipular o consumidor a comprar produtos, por outro, a comunicação se propõe a dedicar toda a atenção ao que o consumidor deseja, baseando-se em manter um diálogo constante para entrar em contato com potenciais compradores e entender as demandas de seu estilo de vida. 31 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 A Ativação representa o momento de colocar em prática todo o planejamento, disponibilizando os produtos nos canais de distribuição escolhidos. Neste momento estãoenvolvidas a distribuição dos produtos, a logística e a comunicação. O acompanhamento dos resultados das ações de marketing caracteriza a fase de Avaliação. Também chamado de auditoria de marketing, representa o momento de avaliar os resultados e definir que ações devem ser continuadas, modificadas ou canceladas. Porém, para que os 4 A’S sejam efetivos, é necessário que eles estejam em consonância com as outras áreas da empresa, uma das maiores dificuldades para o planejamento de marketing. Saiba mais sobre os 4 A’S de Richers em seu livro: RICHERS, R. Marketing: uma visão brasileira. Elsevier Brasil, 2000, 430 p. Atividade de Estudos: 1) Considerando as proposições de siglas expostas nesta seção, selecione a mais adequada, conforme suas percepções, e faça uma análise crítica sobre esta proposta. Considere uma descrição de 10 linhas com vantagens e desvantagens, além de adaptação ao atual panorama do agronegócio brasileiro. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 32 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Funções da Comercialização Agrícola A comercialização tem como principal função adequar a produção de produtos agrícolas às preferências, necessidades e demandas dos consumidores, sendo neste caso, um componente importante das estratégias de marketing para os produtos agropecuários. Normalmente, ocorre entre a produção e o mercado de consumidores com vários intermediários e cada produto exige características de manuseio e logística específicos, pois o manuseio incorreto pode estragar a embalagem e comprometer a qualidade e a seguridade do produto (ARAÚJO, 2013). Apesar de os agentes envolvidos considerarem a comercialização como simples, este processo envolve diversos fatores, como o transporte, a distância que o produto tem que percorrer, a quantidade e qualidade comercializada, a estabilidade e continuidade das negociações e as características de trabalho e valor agregado por cada elo da cadeia ao produto. A comercialização também está relacionada com a transferência dos produtos entre as empresas e com a agregação de valor aos produtos, podendo, este valor percebido pelos consumidores, estar relacionado ao tempo de entrega, ao lugar em que ele é oferecido e à forma ou processamento que é dado ao produto final (WAQUIL; MIELE; SCHULTZ, 2010). A comercialização tem como principal função adequar a produção de produtos agrícolas às preferências, necessidades e demandas dos consumidores, sendo neste caso, um componente importante das estratégias de marketing para os produtos agropecuários. Saiba mais sobre a comercialização de produtos agrícolas no livro: WAQUIL, Paulo Dabdab; MIELE, Marcelo; SCHULTZ, Glauco. Mercados e comercialização de produtos agrícolas. PLAGEDER, 2010. Disponível através do link: <http://www.ufrgs.br/cursopgdr/ downloadsSerie/derad016.pdf>. Neste sentido, não podemos mais vender, temos que comercializar, criar o desejo de comprar e, então satisfazer esse anseio, sem desprender muito esforço nas vendas (KOTLER, 2003). Porém, todas as alternativas carregam incertezas, falhas e dificuldades tanto para agregar valor aos produtos, quanto para assegurar sua comercialização. Assim, existem diversas formas e canais de comercialização que são mais favoráveis à venda, conforme as características de cada item de consumo (Figura 5). 33 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 Figura 5 - Resumos dos principais tipos de mercados de comercialização de produtos agroindustriais Mercado a termo Contratos pontuais Terminam após o final do contrato Muitas quebras de contrato Valores de venda mais baixos Contratos de Longo Prazo Maior estabilidade Compromissos claros entre fornecedores e clientes Mercado de futros Apenas 3% é efetivado Buscam reduzir custos Contratos simples de commodities Mercado Spot Mercado único Esporádico Sem compromissos futuros Fonte: Batalha (2007). Canais de Comercialização Agrícola Os canais de comercialização/distribuição/marketing são a sequência de etapas e processo por onde passa o produto até chegar ao consumidor final. Este caminho é constituído por diversos intermediários, que ocupam uma ou diversas funções que vão desde o transporte, armazenamento e transformação até a entrega nas mãos dos consumidores. Estes caminhos percorridos pelos produtos denominados de canais de comercialização variam conforme a localização e características de cada produto e devem ser adaptados também às características das empresas envolvida. Porém, a escolha de qual o melhor canal de comercialização, ou seja, qual a melhor forma de disponibilizar este produto aos consumidores, depende de uma série de fatores, como a natureza e as características do produto (como a grande perecibilidade dos frutos do mar, por exemplo), a existência ou não de intermediários e o resultado econômico obtido pelas empresas durante este processo de comercialização. 34 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Saiba mais sobre a gestão dos canais de distribuição, disponível através do link: https://www.youtube.com/watch?v=Qrz5bzBR6P4> A maioria dos canais de comercialização possui intermediários, que facilitam o processo de distribuição entre produtores e agroindústrias e o consumidor. Normalmente, os intermediários são mais capitalizados que os produtores individuais e melhor informados sobre as atualizações de mercado. Neste caso, os intermediários têm maior poder de barganha do que os produtores, porque eles conseguem avaliar por qual valor tem a possibilidade de vender os produtos e, portanto, quanto podem pagar por cada item (ARAÚJO, 2013). Uma vez que eles reúnem produtos de diversos produtores, podem atingir as vantagens de negociação em escala por obterem uma maior quantidade de produtos. É importante salientar que quanto menos desenvolvida é a região e menos organizados são os produtores, maior importância têm os intermediários na comercialização, mesmo pagando preços baixos, porque são eles que conseguem retirar os produtos da fazenda e levá-los ao mercado. Em situação inversa, de regiões desenvolvidas e de produtores organizados, a comercialização realiza- se em outros níveis, podendo ser realizada diretamente com agroindústrias, com atacadistas, com supermercados, ou mesmo com os consumidores, diminuindo- se ou mesmo eliminando a figura do intermediário (ARAÚJO, 2013). Estas propostas são interessantes porque tornam o sistema mais dinâmico e tendem a diminuir o preço dos produtos finais para os consumidores. Aumentar a eficiência do marketing ocorre mediante a substituição de canais de distribuição de alto custo por alternativas igualmente produtivas (KOTLER, 2003). Para reduzir os custos, é preciso ainda controlar os canais de distribuição e estabilizar o fornecimento de matérias-primas, além de aumentar a coordenação entre os seus integrantes. Para o marketing, também é importante o número de agentes intermediários envolvidos na comercialização, que definem a extensão do canal de distribuição. Conforme o tamanho do canal, podemos considerar dois tipos de canais de marketing, direto ou indireto. Canal direto: representa a venda do produto diretamente ao consumidor, sem intermediários e pode ser exercido através de venda por catálogos, compras online, lojas de venda direto de fábrica, feiras de produtores e serviços em geral. A maioria dos canais de comercialização possui intermediários, que facilitam o processo de distribuição entre produtores e agroindústrias e o consumidor. Para reduzir os custos, é preciso ainda controlar os canais de distribuição e estabilizar o fornecimento de matérias-primas, além de aumentar a coordenação entre os seus integrantes.35 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 Quanto mais agentes estiverem envolvidos na cadeia, mais caro será o produto final apenas em função da passagem entre os elos, uma vez que cada um que recebe o produto adiciona a ele o seu trabalho (seja transformação, embalagem ou transporte) e esse trabalho deve ser valorizado através de um custo adicional produto (ARAÚJO, 2013). Dessa forma, uma das estratégias de aumentar a eficiência de comercialização é a redução dos elos envolvidos na venda dos produtos, assim como uma coordenação da cadeia produtiva, que melhore mecanismos de negociação entre os agentes e respostas mais rápidas a alterações externas no mercado. Essa redução de custos está relacionada aos custos de elaboração e negociação de contratos, do controle de informação e do tempo que os empresários investem nesses processos. Uma estratégia interessante nesses casos são as cadeias curtas, em que um dos intermediários é retirado da cadeia e os outros integrantes ocupam suas atividades. Nestes casos, as empresas envolvidas se apropriam de uma maior porção do preço final dos produtos, sendo que esta estratégia é mais vantajosa para as empresas que se encontram mais distantes dos consumidores finais. As cadeias curtas são caracterizadas por um número muito pequeno ou ausente de intermediários entre os produtores e os consumidores, além de uma curta distância geográfica entre estes dois (PARKER, 2005). Estas proposições surgiram após diversos surtos sanitários no final do século XX, em que a desconfiança no sistema de alimentos globalizado resultou na busca por alimentos locais, que buscavam relações mais próximas com os produtores (SONNINO; MARSDEN, 2005). Quanto mais agentes estiverem envolvidos na cadeia, mais caro será o produto final apenas em função da passagem entre os elos, uma vez que cada um que recebe o produto adiciona a ele o seu trabalho (seja transformação, embalagem ou transporte) e esse trabalho deve ser valorizado através de um custo adicional produto Nesta publicação você confere um exemplo de canal de venda de direta: <http://search.proquest.com/openview/a7ae3eb73b55314a e7d1d62d43c82098/1?pq-origsite=gscholar&cbl=2032621>. Canal indireto: contém ao menos um intermediário, que pode ser um revendedor, supermercados, minimercados, atacados, lojas de conveniência e diversos outros. 36 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Atividade de Estudos: 1) Considere os produtos de seu uso rotineiro e identifique pelo menos 2 produtos que sejam provenientes de venda direta e 3 que tenham sido comprados por canais de venda indireta. Descreva brevemente as características da cadeia de produção de um desses produtos. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Neste capítulo conhecemos um mundo difícil de comunicação de ideias e princípios sobre um terreno tortuoso, mas extremamente importante, que é o agronegócio. Passeamos pela construção de conceitos importantes como o de agronegócio e das cadeias produtivas agroalimentares e entendemos porque a gestão correta da informação entre os agentes destas cadeias é tão importante. Leve consigo deste capítulo as principais mensagens da importância do marketing para os produtos do agronegócio. Além disso, procure manter a ideia do quanto é importante ter uma proposta simples, concisa e voltada para o consumidor final. Das diversas teorias expressas em siglas, lembre-se de que compreender e manter boas comunicações com os consumidores é tão ou mais importante quanto o produto que está sendo disponibilizado, que deve ser percebido como uma solução para os consumidores. Do modelo de Richers, os 4 As do marketing, é fundamental o entendimento de que o ambiente externo é fator determinante para quaisquer estratégias de marketing e que estas propostas devem ser avaliadas e continuamente melhoradas. 37 Introdução ao Marketing no Agronegócio – Conceitos e Aplicações Capítulo 1 Referências ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos do agronegócio. São Paulo: Editora Atlas, 2013. BATALHA, Mário Otávio (Coord.) Gestão agroindustrial: GEPAI: grupo de estudos e pesquisas agroindustriais. 3. ed. São Paulo: Editora Atlas SA, 2007. 2 v. v.1. BORDEN, Neil H. The concept of the marketing mix. Journal of advertising research, v. 4, n. 2, p. 2-7, 1964. CHILDS, Harwood L. Relações públicas, propaganda e opinião pública. Rio de Janeiro: FGV, 1967, p. 188. CULLITON, James W. The management of marketing costs. Division of Research, Graduate School of Business Administration, Harvard University, 1948. CUNHA, Gilberto José; SAES, Maria Sylvia Macchione. 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Vamos conhecer o planejamento estratégico, quais seus passos e como estabelecer controles para avaliá-lo. A definição dos produtos e consumidores finais e a análise do mercado também serão destacados nesta conversa. Nesta avaliação conversaremos sobre os cenários e as características das empresas do agronegócio, destacando o que constitui e como identificar as vantagens competitivas. No entendimento sobre vantagens competitivas, serão destacados dois pontos fundamentais para as estratégias de marketing. No primeiro ponto, vamos conversar sobre a competitividade e como ela age sobre as empresas e seus consumidores finais. Englobando todos os pontos destacados, esta seção encerra com uma descrição sobre as inovações para o agronegócio, destacando os riscos envolvidos. Visão Estratégica do Marketing As estratégias podem ser compostas de três elementos: os objetivos que se quer alcançar, as políticas que orientam os caminhos a serem atingidos ou evitados e os planos de ação, ou seja como colocar em prática as estratégias (BATALHA, 2007). Este autor também afirma que as empresas devem estabelecer suas estratégias conforme sua missão, valores e cultura em que esta está inserida. Na visão integrada de planejamento do marketing direcionado ao agronegócio, são propostos dez fatores fundamentais, conforme as características de cada cadeia produtiva. Megido e Xavier (2003) propõem que estes elementos sejam: sistemas de informações, políticas agrícolas, fatores de produção, segmentação dos produtores rurais, produtos agropecuários, infraestrutura, qualificação e quantificação dos mercados rurais, macroeconomia, marketing da alimentação e segmentação dos consumidores finais. 44 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Figura 6 - Resumo da visão estratégica do marketing e agronegócio Multiplicação do consumo Planejamento e instrumentos de marketing Tecnologias de marketing para o agronegócio Disponibilidade de informações sobre o produto, o serviço ou sobre a marca Marketing do agronegócio Fonte: Adaptado de Megido e Xavier (2003, p. 299). Porém, as empresas possuem estratégias singulares apenas quando definem mercados-alvos e necessidades inequívocas; desenvolvem uma proposição de valor diferenciada e vitoriosa para o mercado-alvo e formam uma rede de fornecimento distintiva para fornecer a proposição de valor ao mercado- alvo (KOTLER, 2003). Planejamento Estratégico em Agronegócios O planejamento estratégico visa adaptar as relações da empresa com o ambiente, explorando os pontos fortes e fracos da empresa, bem como as oportunidades e ameaças que ela pode enfrentar (BATALHA, 2007). O plano de marketing deve apresentar algo de novo, melhor, mais rápido ou mais barato. Além disso, a padronização dos planos na empresa é fundamental, para possibilitar a revisão e comparação entre os diferentes setores das empresas (Figura 7). O planejamento de marketing inclui uma pesquisa aprofundada sobre o mercado de cada uma das empresas conectadas a cadeia de produção, buscando ajustar os conhecimentos e objetivos individuais para uma visão única, com objetivos em comum que ofereçam vantagens a todos os agentes, e não a empresas individuais (Figura 6). 45 Planejamento Estratégico de Marketing Capítulo 2 Figura 7 - Etapas do planejamento estratégico Sensibilização Definição dos objetivos gerais Análises interna e externa (Diagnóstico estratégico) Identificação das opções estratégicas Controle e análise dos resultados Implementação Segmentação estratégica Planos de ação Objetivos conforme segmento Seleção da estratégia Missão Fonte: Adaptado de Batalha (2007, p. 118). Sensibilização – trata da discussão sobre a importância do planejamento estratégico, determinando o cronograma e a equipe de trabalho. Devem ser integradas pessoas internas (equipe multidisciplinar) e externos (consultores), que devem seguir os valores e princípios da empresa (BATALHA, 2007). Missão – pode conter os valores da empresa e a definição de seu negócio, é a razão de a empresa existir (BATALHA, 2007). As empresas são construídas para alcançar uma missão, que deve ser utilizada para definir a ordem de prioridades da empresa para garantir o lucro de seus acionistas (KOTLER, 2003). Mais ainda, a missão das empresas e como elas se conectam e representam princípios importantes para os consumidores, contribui para o valor das empresas. Neste sentido, a determinação da missão da empresa é fundamental, pois possibilita aos consumidores que compreendam quais são os direcionadores desta firma, podendo ser uma forma de conexão com esses clientes. Porém, as melhores missões são as guiadas por visões, uma espécie de sonho impossível que irá proporcionar a empresa um caminho para trilhar nos próximos anos (KOTLER; KELLER, 2012). Definição dos objetivos gerais - os objetivos são questões amplas que devem ser determinadas como um desdobramento natural dos objetivos específicos conforme os segmentos e da missão da empresa (BATALHA, 2007). 46 MARKETING NO AGRONEGÓCIO Diagnóstico estratégico – a análise interna é feita por uma equipe multidisciplinar que avalia os pontos fracos e pontos fortes da empresa e a análise externa são avaliadas as ameaças e oportunidades no ambiente competitivo da empresa (BATALHA, 2007). Segmentação estratégica e definição dos objetivos específicos – o diagnóstico estratégico deve permitir uma correta segmentação do mercado, que deve ser analisado individualmente. Cada mercado identificado deve ter objetivos quantificáveis específicos (BATALHA, 2007). Identificação das opções e seleção da estratégia - as principais estratégias para as empresas do agronegócio
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