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HISTÓRIA, FILOSOFIA E SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Faculdade Educacional da Lapa (Org.) E d u ca çã o H IS T Ó R IA , F IL O S O F IA E S O C IO L O G IA D A E D U C A Ç Ã O Fa cu ld ad e E d uc ac io na l d a La p a O rg .) Curitiba 2016 2ª Edição Faculdade Educacional da Lapa (Org.) ´Historia, Filosofia e Sociologia da Educacaoç ~ Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 H673 História, filosofia e sociologia da educação/ Organização da Faculdade Educacional da Lapa. – 2. ed. – Curitiba: Fael, 2016. 302 p.: il. ISBN: 978-85-60531-50-9 1.História da educação 2. Filosofia da educação 3. Sociologia da educação CDD 370 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Evelyn Caroline dos Santos Betim Imagem Capa Shutterstock.com/nathapol HPS Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário 1 História da educação: conceito | 7 2 Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX | 19 3 Educação no Brasil: de 1930 ao Regime Militar | 49 4 Educação no Brasil: o período de redemocratização | 73 5 Educação contemporânea no Brasil | 91 6 Pensamentos e movimentos histórico- sociais pela educação | 111 7 Educação Quilombola e Afrodescendente: políticas e projetos | 131 8 Educação Indígena: políticas públicas, diretos e práticas pedagógicas | 153 9 Cidadania, direitos humanos e o direito à educação | 173 10 O homem e sua relação com o mundo: Filosofia e Educação | 191 11 A filosofia como suporte para a reflexão crítica do educador | 243 12 Sociologia e Antropologia para a Educação | 253 Referências | 289 Apresentação Caríssimo (a) acadêmico (a) Seja bem vindo à disciplina de História, Filosofia e Sociologia da Educação! Neste livro, foram organizados textos de profissionais com experiência na área de educação, notadamente ligados ao ensino da história, da filosofia e sociologia da educação, com o objetivo de for- necer uma base teórica que possibilite ao estudante o entendimento do processo educacional construído historicamente. Mas, o objetivo citado acima não é único, pois diante da compreensão dos temas, procura-se também proporcionar ao estudante uma reflexão crítica que possa alicerçar o presente e que possa contribuir para a uma visão de futuro, onde por certo novas transformações irão ocorrer na educação brasileira, sendo o professor, senão o principal, um dos principais atores deste processo de mudanças. – 6 – História, Filosofia e Sociologia da Educação No que se refere a história da educação, será apresentado um recorte temático da história da educação no Brasil, passando pelo Brasil- Colônia ate os anos de 1930 do século XX e depois de 1930 até o Regime Militar, para em seguida estudar o período de redemocratização do Brasil. A Educação Contemporânea no Brasil também será abordada, bem como os pensamentos e movimentos histórico-sociais pela educação. Será destacado o histórico de lutas do movimento quilombola e do movimento negro que historicamente estiveram à margem da sociedade, muito embora estejam entre os principais protagonistas da nossa história. Da mesma forma é o reconhecimento da edu- cação indígena e as políticas públicas para a área. No capítulo que trata da cidadania, direitos humanos e o direito à edu- cação, será dado destaque para o estudo de sua origem histórica e a legislação atual e os princípios que a caracterizam enquanto tal e dos aspectos da reali- dade que a tornam mais ou menos efetiva. Na parte da filosofia da educação serão abordados o homem e sua rela- ção com o mundo, uma vez que o homem, além de pertencer à natureza é um ser cultural, pois pode agir no mundo e realizar transformações. Nesse enfoque será trabalhada a importância da filosofia da educação e em capítulo à parte, como a filosofia pode dar suporte para a reflexão crítica do educador. Finalizando o livro, serão trabalhos assuntos ligados a Sociologia e Antropologia para a Educação. Assim, esperamos que os conteúdos possam ser de extrema valia para o aprendizado acadêmico e para a vida dos futuros profissionais da educação. Bons estudos! Geovani da Rocha Gonçalves1 Organizador 1. Bacharel em Direito (2000) pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG e Licenciatura em Filosofia (2011) pelo Centro Universitário Claretiano - CEUCLAR, especialista em Direito Civil e Empresarial (2003) pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) e em Gestão Pública Municipal (2011) pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG. Especialista em Educação, Diversidade e Cidadania (2014) pela FAEL/PR. Atua como Procurador e professor de Filosofia e Ética, na Faculdade Educacional da Lapa (FAEL/PR). 1 História da educação: conceito Alicia Mariani Lucio Landes da Silva Por que o estudo da História da educação é algo importante na formação de profissionais da educação? Você já parou para pen- sar nisso? Saiba que a situação atual do sistema de ensino, no Brasil, é resultado de uma construção histórica, política e social. Neste capítulo, compreenderemos o que é história da edu- cação, suas origens e relações com as áreas das ciências sociais. Veri- ficaremos, ainda, as últimas mudanças no estudo e no olhar que os historiadores lançam sobre o passado, para entender as civilizações: a chamada Nova História. Consequentemente, veremos qual a rela- ção da Nova História com a história da educação. – 8 – História, Filosofia e Sociologia da Educação Por fim, vamos conhecer os objetos de estudo que este campo da história e da educação tem enfatizado (suas fontes, objetos e temas trabalhados, atualmente, nas universidades). 1.1 História da educação: suas origens e relações A origem da história da educação tem seus estudos atrelados ao campo da pedagogia. Inicialmente, o interesse sobre os assuntos escolares só se fazia presente nos cursos de formação de professores. Como disciplina, ela surgiu no final do século XIX, em universidades da Europa. Era um assunto mais presente na pedagogia, porque, nesse período, a história voltava suas pesqui- sas para assuntos econômicos e políticos. A história tradicional não se preo- cupava com assuntos sociais ou culturais. Dessa forma, a escola ficava fora de seu foco de interesse. Sendo estudada pela pedagogia, a história da educação servia mais como uma coletânea de informações do que uma análise. Listavam os fatos, as leis, os pensadores, mas quase sempre não se historiava1 o conteúdo. Também era chamada de história da pedagogia. Segundo Lopes (2009), a história da educação começou a ser problema- tizada no campo da sociologia, observe: o caráter histórico da educação é dado de forma sistematizada por Émile Durkhein (1858-1917) em sua Educação e socio- logia, o que não significa, absolutamente, que antes disso não se encontrem trabalhos de Educação de caráter histórico. No entanto, Durkhein já anuncia o quadro teórico no qual por mui- tos anos se inscreverá a História da Educação [...] A educação é, na concepção positivista durkheinamiana, uma coisa social, que cumpre, assim, esse enunciado em obediência à regra mais fun- damental de seu método sociológico, qual seja, a de considerar os fatos sociais como coisas (LOPES, 2009, p. 19). Se a educação tinha um caráter social, por que torná-la descritiva e fac- tual? Se ela possuía agentes ativos, poderia ser contada apenas por meio de 1 Entende-se aqui o verbo historiar como oato de analisar a história e compreender suas relações com outras áreas. – 9 – História da educação: conceito dados e datas? Começa a surgir a necessidade de estabelecer as relações sociais e culturais presentes no âmbito escolar. Ou seja, outras áreas do conheci- mento começaram a estudar temas relacionados à educação. 1.2 Nova História e história da educação Há aproximadamente trinta anos, ocorreu, gradativamente, uma mudança no foco de pesquisa da história e, consequentemente, da história da educação. Anteriormente, a história era pensada apenas pelo viés econômico e quantitativo. Não havia outras fontes para o seu estudo, a não ser as oficiais (lembramos que as fontes históricas são os relatos do passado). Documentos escritos, imagens, monumentos, objetos arqueológicos e entrevistas podem ser considerados pistas do que já aconteceu. Os historiadores analisam essas fontes para construir sua narrativa. No entanto, para a história tradicional, apenas as fontes oficiais poderiam ser consideradas confiáveis. Estas últimas referem-se a documentos produzidos por órgãos oficiais, como o governo, ministério, prefeituras, entre outros (exemplos deste tipo de fonte: leis, atas, publicações do governo em geral). Todos que estudaram no antigo “ensino primário e secundário”, ou “1º e 2º grau”, devem recordar como a história era estudada. Quem estudou neste período ou já ouviu falar sobre isso lembra-se de como eram realiza- dos os grandes eventos cívicos e de como eram exaltados os grandes vultos da história brasileira. Exaltava-se certos nomes (quase em sua totalidade pessoas envolvidas na política) e menosprezava-se a participação de outros sujeitos da história. De acordo com Chartier (1998), antes de 1980, a história dominante estava fundamentada por dois pontos de vista: o estruturalista e o estatístico. O primeiro discorria acerca dos grandes discursos, da história das estruturas e das normas coletivas, bem como utilização de sistemas de posições, sem ater-se às particularidades individuais, marginalizadas por gênero e classe. O último procurava dar à história um tom de ciência social, ao aplicar procedimentos de contagens e estimativas numéricas: a seriação. A chamada Nova História enfrentou o desafio de provocar um afastamento das ciências sociais. Reviu seus conceitos e mudou as antigas – 10 – História, Filosofia e Sociologia da Educação visões para outras, como a preocupação com as redes de sociabilidade, as situações vividas e as estratégias singulares. Neste sentido, a micro-história entra como a abordagem do normal, do excepcional e das particularidades, pois, sendo ela um estudo das sociedades, estes novos objetos devem ser examinados em pequena escala. A micro-história é o estudo de objetos selecionados na história. Por exemplo: um pesquisador não consegue estudar a história de todas as escolas de um estado. Ele escolhe uma determinada escola, para estudar o seu caso específico e, dentro desta análise, faz as possíveis relações com o sistema educacional desse estado. Os grandes heróis dão espaço aos anônimos, o que não desestrutura a história, pois sabe-se que a coletividade não desfigura o indivíduo. Tais indivíduos e sociedades estão inseridos em um espaço de sociabilidades marcado por diferenças e dependências. Contudo, para entender essas relações, a história precisa enfrentar outro desafio, o de abrir o leque para novos espaços de pesquisa, fontes, análises e conceitos. Não é possível conhecer as relações sociais e culturais analisando apenas tabelas, gráficos ou outras fontes numéricas. Outros documentos do passado começam a merecer a atenção do historiador. Cabe ao historiador explorar estes signos e o universo de símbolos presentes na “linguagem das linguagens”, decifrando os seus significados, que são encontrados nas fontes, sejam elas quais forem, pois, na perspectiva cultural, qualquer produção humana foi produzida em um ambiente cultural (BURMESTER, 2003) e pode ser utilizada para conhecer e compreender as relações sociais. Este tipo de análise trouxe para a historiografia uma mudança, mais do que metodológica, conceitual. Conceitual no sentido de que são estudadas as relações da micro-história em detrimento da macro. Ou seja, as coletividades são deixadas de lado para dar espaço às questões do indivíduo, gerando um campo de possibilidades maior com o estudo da singularidade, das regularidades e das resistências existentes em um espaço que, sabe-se, não é determinado nem determinante. Desta forma, os papéis sociais não são definidos a priori e as divergências são permitidas em territórios fluídos e não fixos, proporcionando ao investigador uma análise mais interdisciplinar. – 11 – História da educação: conceito Como exemplo desta mudança de visão da história pode- mos citar que, na historiografia tradicional, as relações de escravidão eram vistas como fixas. O senhor de enge- nho era o soberano que mandava no submisso escravo. Atualmente, temos estudos que revelam as contradições desta relação. Sabemos das fugas de escravos, de suas insubmissões, das relações conjugais entre brancos e negros e de acordos, concessões existentes entre senhor e escravos, de escravos que tinham seu próprio ganho e também possuíam seus escravos. Ou seja, os papéis sociais não são predefinidos. Dentro da regra existem exceções que devem ser conhecidas e estudadas. Dentre os historiadores contemporâneos conceituados encontramos Carlo Ginzburg, Emmanuel Le Roy Ladurie, Robert Darnton, Jacques Revel e outros. Mesmo mantendo estilos diferentes (como a divergência sobre a utilização da escala de análises), eles realizam estudos sobre o cultural e possuem pontos em comum. Um desses pontos é o abandono das análises firmadas nos modelos explicativos. Para alguns não se pode abandonar certos princípios básicos, para outros, o “tempo das incertezas” é um momento propício de estimulação da criatividade e das possibilidades (palavras-chave desta corrente) de análises, fontes, vieses e escrita. Para muitos destes estudiosos, tempos novos merecem uma Nova Histó- ria, firmada na máxima de que “a história é sempre filha de seu tempo”. Uma última característica da historiografia contemporânea é a tendência de redes- cobrir autores já esquecidos e reler os clássicos, mas é claro que essa leitura se dá a partir de um olhar atual, de nosso tempo. As mudanças na historiografia influenciaram algumas das transformações ocorridas na história da educação. Como já mencionado, na década de 1930, ela não passava de uma disciplina escolar. Presente no curso de formação de professores, estava fortemente marcada pela filosofia e possuía um caráter – 12 – História, Filosofia e Sociologia da Educação formativo e moralizador. Já na década de 50 do século XX começaram a surgir os estudos na área da história da educação, porém eram voltados para um “presentismo pragmatista”. Neste viés: o atrelamento originário da disciplina a objetivos institucio- nais de formação de professores e pedagogos dificultou, até muito recentemente, a sua constituição como área de inves- tigação historiográfica capaz de se autodelimitar e de definir, com base em sua própria prática, questões, temas e objetos. Isso tornou a disciplina frágil diante das demandas postas a partir de outros campos de investigação sobre educação que hegemonizaram a produção da pesquisa, a partir da instala- ção dos Programas de Pós-Graduação, na década de 70; o que, do meu ponto de vista, reforçou a dificuldade de a dis- ciplina definir-se a partir de questões postas do seu interior ( CARVALHO, 2003, p. 330). Como já afirmamos, nos últimos trinta anos a historiografia da educação brasileira tem realizado debates sobre estudos voltados para a cultura, mais especificamente a culturaescolar. Sob a influência de autores estrangeiros (como André Chervel, Alain Chopin, Anne-Marie Chartier, Pierre Caspard, Jean Hérbrand, Dominique Julia, António Novoa, Pierre Bourdieu, Roger Chartier, entre outros) os pesquisadores brasileiros começaram a se dedicar aos estudos voltados para aspectos culturais. Dentre esses autores podemos destacar: José Mário Pires Azanha, Denice Catani, Cynthia P. de Souza, Marta Maria Chagas de Carvalho, Luciano Faria Filho, Rosa Fátima de Souza, Maria Lúcia Hilsdorf, Clarice Nunes e Diana Gonçalves Vidal. Saiba mais O presentismo pragmatista afirma que um estudo deve servir apenas para resolver, praticamente, um problema atual. Nesta visão, a história da educação servia apenas para responder a questões imediatas e acabava deixando de lado a análise historiográfica e as relações mais profundas de investigação do passado. Procurava apenas respostas práticas sobre o que estava acontecendo. – 13 – História da educação: conceito Marta Maria Chagas de Carvalho e Clarice Nunes são, de acordo com Vidal (2005), autoras que trilharam um caminho de interlocução muito pró- ximo entre história da educação e a produção francesa do campo histórico. Assim, entrelaçaram a história cultural com os interesses dos saberes pedagó- gicos. Sobre a relação entre história da educação e história e, ainda, história da educação e história cultural, Carvalho afirma: é, entretanto, do inusitado prestígio adquirido pela pro- dução historiográfica nos dias atuais que a disciplina extrai forças para se renovar. As redefinições dos objetos e dos critérios de rigor científico que transformam essa produção vêm tendo enorme impacto na História da Educação, mati- zando a pertinência dela ao campo das chamadas ciências da educação e fortalecendo seu estatuto de saber historio- gráfico especializado. [...] Nesse processo, são, sobretudo, as perspectivas abertas e as questões lançadas pela chamada Nova História Cultural que vêm redesenhando as fronteiras e redefinindo objetos da História da Educação (CARVA- LHO, 2005, p. 32). Podemos observar que as mudanças ocorridas na historiografia a partir dos anos 80 do século XX provocaram reflexos na maneira de escrever a his- tória educacional. A história cultural ampliou o leque de possibilidades de novos temas, objetos e o uso de fontes que antes eram desprezadas e afastou-se da história tradicional, que privilegiava a exaltação de grandes heróis e dos documentos oficiais. Com essa reviravolta, a história da educação, que era secundarizada apenas como uma disciplina escolar, começou a ganhar mais visibilidade a partir do momento em que voltou suas preocupações para as questões cul- turais e sociais. Desta maneira, fontes, como livros de chamadas, fotografias, objetos pedagógicos, entre outros, passaram a fazer parte dos estudos histo- riográficos, enriquecendo os trabalhos acadêmicos e tornando-os mais inte- ressantes, pois já não eram apenas pragmáticos e presentistas. Outro fator que mudou a forma de se escrever a história da edu- cação foi a incorporação de conceitos advindos da história, sociologia, antropologia e outras áreas das ciências sociais e humanas. Autores como Roger Chartier, Dominique Julia, Guy Vincent, Viñao Frago e Michel De Certeau estão sendo utilizados como referencial teórico em diversos – 14 – História, Filosofia e Sociologia da Educação trabalhos acadêmicos. Tais autores não concordam totalmente na defini- ção do termo cultura ou cultura escolar. Entretanto, chegam a um acordo para afirmar que o pesquisador, ao analisar uma instituição, indivíduo ou grupo, não pode desprezar a análise do contexto histórico. Isso deve ser realizado conjuntamente com as questões que envolvem o cultural e o social. Poderíamos, ainda, citar as contribuições de Norberto Elias, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, André Chervel, Edward Thompson, Anne- -Marie Chartier. Apesar de, atualmente, estar presente como uma disciplina dos cur- sos de licenciatura, a história da educação ainda não recebe a devida aten- ção. Nos cursos de pós-graduação de Educação existem linhas de pesquisa em história e historiografia. Nos cursos de História, a educação pode aparecer, também, como uma linha de pesquisa ou temática. Para Lopes (2009), a pedagogia precisa tomar para si a responsabilidade do estudo da história da educação. Citando e concordando com alguns autores, ela acredita que os melhores trabalhos de história da economia foram escritos por economistas (e não por historiadores). Desta forma, a história da edu- cação deve ser escrita por pessoas da área, que já dominam o conteúdo. Por isso, afirma: [...] trata-se de enfrentar, então, a questão da formação do pesquisador da História da Educação, tarefa ainda não assumida de forma mais generalizada pelos cursos de edu- cação e de pedagogia. Na verdade, o educador ou peda- gogo, não recebendo formação específica nem a metodo- logia da pesquisa histórica nem das teorias da História, dificilmente pode tornar-se um historiador. [...] A ciência da história exige rigor e método; para o crescente enten- dimento da História da Educação, que deve ser escrita através de pesquisas rigorosas que obedeçam aos critérios e as exigências da própria ciência da história ( LOPES, 2009, p. 39). Será que somente os pedagogos deveriam escrever esse tipo de história ou, ainda, que os historiadores não conheçam nada de educação? Como escrever um texto com relações históricas sem saber os métodos da pesquisa histórica? Como historiar a educação, sem conhecer as relações educacionais? Existe um longo caminho a ser percorrido nessa área. – 15 – História da educação: conceito Certo é que podemos perceber que, por meio de mudanças metodoló- gicas e conceituais, a história da educação vem ampliando o seu campo de pesquisa, atuação e participação em eventos e publicações, conferindo a si mais credibilidade entre os estudiosos da educação e entre os historiadores. São muitas as dificuldades que permaneceram das linhas tradicionais de pes- quisa, porém a história da educação está caminhando por rumos mais claros e evidentes ao privilegiar a cultura escolar, sem abandonar as visões sobre os demais aspectos nos quais a educação está envolvida (político, social, econô- mico, histórico, e outros). 1.3 História da educação: objeto de estudo Quais são os novos temas abordados pela cultura escolar? Tudo que possui uma história e pode ser contextualizado para se compreender a realidade educacional pode ser estudado. Conheça alguns aspectos estudados pela atual história da educação. 2 Arquitetura escolar e história das instituições escolares (estudo de plantas escolares; como eram construídos os colégios e escolas; as mudanças e permanências no espaço escolar ao longo dos anos; locais e modos de construção; entre outros). 2 Tempos escolares (exemplos de estudo: organização e objetivo do calendário escolar; divisão dos horários de aula; o recreio; ativida- des que aconteciam nas férias). 2 Relações de gênero na escola (divisão da escola entre meninos e meninas, as análises sobre escolas de meninos e escolas de meninas; as diferenças entre os uniformes masculinos e femininos; e outros). 2 Intelectuais da educação (um exemplo deste estudo é a análise das ideias de pensadores envolvidos diretamente ou não com a escola). 2 Escola e poder (as relações de poder existentes dentro da escola; a ligação da escola com instâncias maiores, como o Estado, entre outras situações). 2 Legislação educacional (estudo das leis, decretos e documentos oficiais sobre a educação). – 16 – História, Filosofia e Sociologia da Educação 2 Projetos educacionais não escolares (projetos educativos desenvolvidos pela mídia, por empresas ou pelo governo, entre outros). 2 A escola e a religião (escolasreligiosas, escolas dirigidas por reli- giosos, a influência da religião na educação, etc.). Visto as mudanças pelas quais passaram a história da educação e alguns de seus objetos de estudo, surge uma indagação: por que estudar as relações escolares através do tempo? Observe estas perguntas: Por que temos um determinado grupo de disciplinas escolares para estudar? Por que estudamos em um horário dividido por aulas, intervalos e períodos manhã, tarde, noite ou integral? Qual a justificativa dos currículos escolares? Ou melhor: para que serve a história da educação? Tentando dar pistas sobre uma possível resposta, Lopes (2009, p. 43-44) afirma que: Antoine Léon2 considera a abordagem histórica dos fatos da educação um indi spensável instrumento de análise das situações do presente, devido à preocupação em relativizar os problemas atuais. Considera-a ainda como uma fase preliminar da ação, ao evidenciar a ambiguidade de todas as inovações, ao apontar os conflitos que pontuam todo o processo evolutivo e ao introduzir a exigência de longo prazo na avaliação dos efeitos educacionais. Nesta visão, estudamos a história da educação para compreender as relações do presente. Para Lopes (2009), o pesquisador está comprometido com os problemas educacionais de hoje. Por isso, o seu olhar volta-se para o passado, para descobrir onde esse problema surgiu e para tentar resolvê-lo. No entanto, a história da educação não pode ser considerada pragmática. Ela não serve para resolver problemas, apesar de poder encontrá-los. A história da educação nos faz compreender o presente. Faz com que entendamos por que as nossas escolas e instituições são o que são. Por exemplo: o estudo das leis educacionais nos faz compreender a organização da escola através do tempo. Ela é um instrumento de conhecimento e, quando possível, de ação. 2 Lopes faz referência à obra de Antonie Léon, Introdução à História da Educação (Lisboa: Dom Quixote, 1983). – 17 – História da educação: conceito Da teoria para a prática Durante a leitura deste capítulo, compreendemos que a “histó- ria é filha de seu tempo”, o que significa dizer que a maneira como olhamos o passado está relacionada com os fatos que vivemos hoje. Em uma época em que a economia e a política predominavam, os estudos históricos estavam voltados para isso. Em outra época, na qual a preocupação era com as relações socioculturais, o olhar era diferenciado. Compreendemos que o estudo da história da educação também segue esse princípio. Dentro desta perspectiva, produza um texto sobre a sua própria história escolar. Utilize-se de sua fonte de memória sobre a sua trajetória educacional e liste as lembranças que possui de sua escola, dos métodos utilizados, dos professores, dos uniformes, das mobilhas da sala de aula, dos materiais escolares e dos conteúdos estudados. Saiba que estará produzindo um texto de história da educação. Apesar de suas lembranças serem singulares, ao final da produção, perceberá que tudo o que escreveu está relacionado a um contexto histórico dentro de uma estrutura governamental e legal de seu período. Além disso, o estudo das arquiteturas escolares também faz parte da pesquisa em História da Educação. Levando essas informações em consideração pesquise fotografias, plantas ou outros registros iconográficos de duas escolas distintas: uma que tenha sido construída há mais de trinta anos e outra edi- ficada há menos de dez anos. Estabeleça as semelhanças e diferenças arquitetônicas e como isso pode estar ligado ao o contexto histórico em que as escolas foram construídas. Pon- tos a serem pensados: data, local, material utilizado para a construção, tipo da instituição (pública ou privada), etc. – 18 – História, Filosofia e Sociologia da Educação Síntese Vimos, neste capítulo, que as origens da história da educação estão na pedagogia, mas, ao longo dos anos, também tornaram-se objeto de interesse de outras ciências sociais, como a história. Entendemos que o estudo da his- tória passou por um processo de transformações nos últimos trinta anos, que mudaram seu foco de pesquisa. Atualmente, a Nova História privilegia as relações sociais e culturais, e não somente os aspectos políticos e econômicos como acontecia anteriormente. Outro assunto apresentado neste capítulo foi objeto de estudo da Histó- ria da Educação, o qual, conforme observamos, envolve tudo o que se refere ao passado do ensino e da educação: legislação, tempos escolares, arquitetura, relações de gênero e outros temas. Devemos compreender a importância da História da Educação, para compreender, também, as atuais relações educacionais. 2 Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX Alicia Mariani Lucio Landes da Silva Antes da chegada dos portugueses, nosso país era habitado por diversos povos nativos. Os indígenas possuíam suas maneiras de transmitir seus conhecimentos, rituais e cultura para as futuras gerações. Podemos dizer que eles tinham um sistema informal de ensino, pois a educação acontecia na explicação ou no exemplo de algo transmitido de pais para filhos, ou dos mais velhos para os mais novos. – 20 – História, Filosofia e Sociologia da Educação Neste capítulo, contudo, vamos nos dedicar a conhecer e compreender um panorama da História da Educação do Brasil a partir do início da colo- nização. Nosso foco é a educação formal e a maneira como ela foi oferecida pela religião e pelo Estado. Inicialmente, vamos entender como as Grandes Navegações e a Reforma Protestante influenciaram na chegada dos portugueses ao nosso país e qual a sua relação com a educação religiosa existente no início da colonização. Depois de observar o que foi o ensino jesuítico, conheceremos as mudanças ocorridas com as reformas lideradas pelo Marquês de Pombal. Veremos a influência da chegada da família real ao Brasil, a educação durante o Impé- rio e a Primeira República. 2.1 Grandes Navegações e a Reforma Protestante Para entender os primórdios da educação no Brasil, é necessário conhecer o cenário que antecedeu a chegada dos portugueses em nosso país. Na civilização do ocidente medieval europeu a Igreja católica pro- curava controlar o acesso à informação religiosa, moral e científica. A alfabetização estava destinada quase exclusivamente a uma parcela dos religiosos e todos os cientistas deveriam estar submissos aos preceitos da Igreja. Qualquer conduta contrária seria considerada heresia e poderia ser julgada e punida pelo Tribunal da Inquisição. A partir do século XI, a Revolução Comercial, as Cruzadas e os avanços do Humanismo deram abertura às transformações ocorridas na Europa. As Grandes Navegações foram uma dessas mudanças e, neste caso, Portugal estava em uma posição geográfica favorável. Dom João I de Avis procurava poder ao promover grandes conquistas que desbra- vavam o Oceano Atlântico. Parte dessa expansão aconteceu nas costas africanas, contornando o continente e chegando à Índia em 1498. Era a chamada rota de comércio das especiarias. Segundo Francisco Filho (2004), a chegada dos portugueses ao Brasil foi apenas um coroamento das conquistas, visto que outros domínios já haviam sido realizados ao longo dos últimos cem anos. Continuando, o autor afirma que: – 21 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX analisando de maneira ampla os acontecimentos, notamos que a Idade Moderna (1453-1789) já estava caminhando a passos fir- mes e o Mercantilismo (1ª fase do capitalismo) fornecia as bases de pensamento econômico, amparado por um Estado poderoso, que possuía exército, polícia, justiça, cunhava moeda, tinha con- tornos territoriais definidos, com balança comercial favorável, estoque de metais, apoiando as exportações, promovendo a exal- tação do nacionalismo,adotando colônias para fornecer maté- rias-primas e obedecer o estatuto dos monopólios estabelecido pela Coroa. No tocante à educação, a hegemonia das Sete Artes Liberais, Trivium (Gramática, Dialética e Retórica) e Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia) estruturadas du- rante a Idade Média da Europa Ocidental (Século V ao XV), já não atendia as necessidades do novo momento histórico. As ideias de Santo Tomás de Aquino (1224-1274), procurando superar a dicotomia fé-razão, não encontravam tantos seguidores, isto é, a Escolástica estava em decadência, depois de muitos séculos de soberania no campo educacional (FRANCISCO FILHO, 2004, p. 10-11). A economia e o comércio estavam mudando e, com isso, o pensamento educacional. Uma nova configuração de sociedade estava surgindo. Outro fator que contribuiu para tal transformação foi a revolução tecnológica da imprensa a partir de Gutenberg3. Ao produzir literatura em maior escala, aumentou-se o acesso ao conhecimento. O que estava restrito ao campo religioso passou a ser manuseado pelos leigos. A burguesia, classe em ascensão, tinha o desejo de ser alfabetizada para conseguir ler os textos clássicos e religiosos. Neste contexto surgiram movimentos contrários à Igreja Católica, que seriam chamados de Reforma Protestante. O primeiro deles foi liderado pelo monge agostiniano Martinho Lutero, que, em 1517, declarou-se descontente com as práticas católicas (como a venda de indulgências) e escreveu 95 teses como forma de denunciar a corrupção que observava. 3 Em 1455 o alemão Johannes Gutenberg criou a tipografia. A partir de então os textos que antes eram somente manuscritos passaram a ser impressos por meio de peças metálicas que recebiam tintas para serem transferidas por pressão para o papel. O primeiro livro impresso pelo inventor foi a Bíblia. Esse método ampliou a reprodução de materiais e tornou a transmissão do conhecimento mais dinâmica e veloz. – 22 – História, Filosofia e Sociologia da Educação A Reforma Protestante condenava a avareza, a usura e o paganismo. Também criticava a Igreja quanto a não deixar os seus fiéis fazerem a leitura e tirarem a sua própria interpretação dos textos sagrados. Lutero começou a traduzir a Bíblia para o alemão e incentivou a sua leitura. A Reforma não mudou apenas a forma como enxergar a religião, ela conseguiu mexer com as ditas estruturas educacionais, já que a leitura e a escrita não eram mais privilégio dos religiosos. Com a Reforma Protestante e o Humanismo ganhando cada vez mais adeptos, a Igreja incentivou as Grandes Navegações no objetivo de conquistar territórios para a evangelização de novos fiéis. A Igreja estava perdendo territó- rio missionário e precisava expandir seus horizontes. A colonização do Brasil foi um meio para que os clérigos católicos conseguissem aumentar o número de membros da Igreja. Assim, começa a história da educação em território colonial, como veremos a seguir. 2.2 Educação jesuítica Enquanto a Europa passava por movimentos de Contrarreforma, um grupo de estudantes da Universidade de Paris (liderados por Inácio de Loyola) uniu-se, em 1534, para montar uma congregação interessada em combater o avanço da Reforma Protestante. Este grupo ficou reconhecido através de bula papal, no ano de 1540. Na intenção de ser um instrumento contra as ideias protestantes, a então chamada Companhia de Jesus procurou manter a estratégia de, por meio de seus ensinamentos cristãos, converter pessoas ao catolicismo. Logo, a Companhia de Jesus tornou-se uma congregação religiosa pode- rosa e eficiente. Possuía um caráter de milícia. Eram os soldados de Cristo em favor da fé católica. Embora submetidos à autoridade do papa, os jesuítas viviam em uma ordem religiosa, mas podiam transitar em espaços seculares. Inicialmente, as suas atividades estavam voltadas somente para a caridade. Ensinavam os “ignorantes”, aqueles que não tinham conhecimento da fé e da linguagem e que de outra maneira não teriam acesso a elas. Tinham – 23 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX uma visão de combate perante o meio social, estavam dispostos a militar em favor de sua fé. Segundo Neto (2008), seus principais fundamentos eram: [...] a busca pela perfeição humana por intermédio da palavra de Deus e a vontade dos homens; a obediência absoluta e sem limites aos superiores; a disciplina severa e rígida; a hierarquia baseada na estrutura militar; e a valori- zação da aptidão pessoal de seus membros (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, [s. p.]). Inicialmente, o interesse na evangelização era espiritual. Desejava-se a pregação, confissão e catequização. No entanto, gradativamente, a intenção de ensinar foi ocupando espaços maiores no projeto jesuíta. Depois de se fazer presente em países como Portugal, Espanha e Ale- manha, a Companhia de Jesus desembarcou no Brasil, no ano de 1549. Chegou à Bahia trazida pelo governador-geral Tomé de Souza. O primeiro líder jesuíta no Brasil foi o sacerdote Manuel da Nóbrega. Os jesuítas desembarcaram no Brasil com o objetivo de catequizar os povos nativos e educá-los para que se tornassem pessoas civilizadas (na visão do europeu). Os indígenas precisavam sair do seu aparente ócio para uma postura produtiva. De início, o indígena foi visto como o“bom gentio”, mas a sua falta de insubordinação foi logo encaradacomo um empecilho. Sair do sistema de sobrevivência para o de acumulação não era algo fácil de ser ensinado pelos jesuítas. Em concordância com Shigunov Neto e Maciel (2008, [s. p.]), que partem do pressuposto de que “o fenômeno educacional não é um fenômeno independente e autônomo da realidade social de determinado momento histórico [...]”, acredita-se que o projeto de educação jesuítica no Brasil não se resumiu apenas a catequizar e ensinar a ler e a escrever em português. Os jesuítas contribuíram com os planos do rei de Portugal em trans- formar a estrutura da sociedade presente na colônia. A Ordem dos Jesuítas atendia aos interesses da Igreja e do Estado. Desta forma, o projeto educa- cional jesuítico contribuiu para o processo de colonização almejado pelo o governo português. – 24 – História, Filosofia e Sociologia da Educação Dica de Leitura A missão Um mercador de escravos indígenas arrepende-se de seus atos e torna-se missionário jesuíta em uma das missões na América do Sul. A MISSÃO. Direção de Roland Joffé. Estados Unidos; Reino Unido: Flashstar, 1986. 1 filme (125 min), sonoro, legenda, color., 35 mm, O ensino não pretendia mudar politicamente a sociedade, era alheio à rea- lidade social e estritamente voltado para a filosofia. Atendia aos interesses por- tugueses e não incitava uma nova organização dentro desta sociedade fundada na agricultura rudimentar e no trabalho escravo (ROMANELLI, 2010, p. 34). Em agosto de 1549, foi fundada, na Bahia, a primeira escola de “ler e escrever” no Brasil. Primeiramente, havia a necessidade de alfabetizar os indí- genas na língua portuguesa, para, então, transmitir a doutrina católica. Após esta primeira fase, os jesuítas dariam oportunidade para decidir entre o ensino médio e o ensino profissionalizante. Manuel da Nóbrega mandava construir aldeias de catequização próxi- mas das cidades e vilas portuguesas. Eram habitadas pelos indígenas e pelos padres jesuítas. Essas aldeias tinham três objetivos: objetivo doutrinário – que visava ensinar a religião e a prática cristã aos índios; objetivo econômico – visava instituir o hábito do trabalho como princípio fundamental na formação da sociedade brasileira; objetivo político – visava utilizar os índios convertidos con- tra os ataques dos índios selvagens e, também, dos inimigos externos (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, [s. p.]). Apesar de querer inserir o indígena no processo produtivodo trabalho, a Companhia de Jesus sempre defendeu a liberdade dos nativos. Porém, não fazia frente contrária à escravatura por causa da relação com a Coroa Portuguesa. Neste sentido, até certo ponto, o padre Manuel da Nóbrega ficou conhecido como grande defensor dos indígenas. Coube a ele a contribuição da fundação – 25 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX de diversas escolas no Brasil (cinco de instrução elementar: São Paulo de Pirati- ninga, Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente e Espírito Santo; e três colégios: Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro). Figura 1 - A fundação de São Paulo, de Antonio Parreiras. O povoamento de São Paulo começou no dia 25 de março de 1554, juntamente com a construção de um colégio jesuíta. Fonte: Fundação de São Paulo, 1913. Antonio Parreiras. Pinacoteca Municipal de São Paulo. Óleo sobre tela. 179 x 279,5 cm. Com o crescimento das escolas da Companhia de Jesus surgiu a neces- sidade de adotar um método para unificar o trabalho educacional dos padres jesuítas. Em 1599, ficou pronto um conjunto de regras que procurava nor- matizar as ações da Ordem. As fontes de ensinamento eram Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, além da influência do Renascimento. O foco era a formação humanista e literária. O método utilizado pelos jesuítas era o Ratio Atque Institutio Studio- rum Societatis Jesu, mais conhecido como Ratio Studiorum, composto por uma coletânea de 467 regras que procuravam estabelecer uma definição do trabalho pedagógico dos jesuítas. Em 1584, uma comissão ficou res- ponsável por organizar e codificar as informações e experiências aconte- – 26 – História, Filosofia e Sociologia da Educação cidas no Colégio Romano e em outras escolas. Em 1586, o anteprojeto foi submetido a críticas e a uma nova comissão. Em 1591, tornou-se um texto redigido e, em 8 de janeiro de 1599, foi promulgado o texto do Ratio Studiorum. Ele estabelecia todo o método de ensino (incluindo currículo e orientações educacionais e administrativas) a ser seguido pelos padres jesu- ítas. As orientações deveriam ser aplicadas na Colônia e na metrópole e em todos os locais em que estavam estabelecidos. Figura 2 - Capa do método jesuítico Ratio Studiorum. Sua estrutura oferecia três cursos em dois níveis distintos: a. “os estudos inferiores”, que compreendiam o ensino secundário. Tal ensino durava entre cinco e seis anos. Estava destinado à formação clássica, humanista e literária; – 27 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX b. os estudos superiores que ofereciam o curso de teologia e o de filoso- fia, que duravam três anos. Shigunov Neto e Maciel (2008) afirmam que, enquanto o ensino universitário estava destinado à formação profissional do homem, os cursos secundários formavam o homem para viver na sociedade. Para Ribeiro, o Ratio Studiorum foi adaptado no Brasil para atender às especificidades da Colônia. Começava pelo aprendizado da língua portuguesa (ler e escrever) e a catequização; já a continuação do ensino era opcional: podia-se aprender canto orfeônico, música instrumental, aprendizado profissional e agrícola e aulas de gramática. Havia até mesmo a possibilidade de realizar uma viagem de estudos à Europa (RIBEIRO, 1998, p. 21-22). Francisco Filho faz um resumo de como acontecia o ensino em escolas jesuítas: “A metodologia de ensino começava com uma preleção. Nas classes elementares após a leitura era feito o resumo do texto, oprofessor tirava as dúvidas. Mais tarde chegava-se à retórica, à arteda composição, à sintaxe e ao estilo; o professor aceitava o diálogo.” (FRANCISCO FILHO, 2004, p. 32). Além dos indígenas, outras pessoas poderiam frequentar as escolas jesuíticas. Mamelucos e órfãos poderiam ser alunos internos e alguns filhos de colonos, alunos externos. Tempos depois, já mais consolidada no Brasil, a Companhia deu instrução para alunos provenientes da burguesia urbana, como os filhos dos donos de engenho (esses filhos da burguesia poderiam prosseguir seus estudos superiores em universidades na Europa). Foi em 1550 e 1551 que chegaram ao Brasil os meninos do Colégio de Jesus Órfãos de Lisboa. Com a autorização de Lisboa e a ajuda do governador Tomé de Souza, que doou as terras para a construção, eles viveram e estudaram em uma espécie de confraria chamada de Colégio dos Meninos de Jesus. Chambouleyron (1999) lembra que essa instituição vivia uma situação jurídica ambígua, pois, ao mesmo tempo em que era religiosa, também tinha um caráter civil, por se tratar de um local que cuidava de órfão (sujeito a uma legislação específica). Esses meninos eram ensinados a ser “pequenos catequistas e doutrinadores”, acompanhando os padres nas procissões e romarias, auxiliando no ato de levar a palavra de Deus aos nativos (CHAMBOULEYRON, 1999). No entanto, essa mistura de caráter religioso e civil não era bem-vista por moradores portugueses que viviam no Brasil. O fato da Ordem Jesu- – 28 – História, Filosofia e Sociologia da Educação íta ampliar o seu patrimônio físico e financeiro era questionado. Assim, na segunda metade de 1550, a Companhia de Jesus em todo o mundo decidiu deixar os encargos com meninos órfãos e o Colégio dos Meninos de Jesus passou a se chamar Colégio de Jesus, tendo o caráter de um colégio canônico. Os ideais propostos pela nova constituição da Companhia de Jesus (1556) firmavam a proibição de manter nos internatos estudantes leigos que não desejassem seguir a vocação religiosa. Como Manuel da Nóbrega não concordava com isso, ocorreram alguns desentendimentos. Além de tal problema, críticas externas surgiram. Os adversários políti- cos dos jesuítas os acusavam de tornarem o pensamento intelectual uniforme, dogmático e abstrato. Criticavam a ausência das ciências e das línguas moder- nas (como o francês) no plano de estudo e rejeitavam o excesso de literatura e retórica (AZEVEDO, 1976, p. 48). O pensamento iluminista que ganhava força na Europa ajudou a refor- çar a necessidade de se acabar com o modelo de educação jesuíta. Segundo Shigunov Neto e Maciel (2008), as causas da expulsão dos jesuítas foram políticas/ideológicas e educacionais. Veja as consideraões dos autores sobre as causas da expulsão em 1759: política – os jesuítas representavam um empecilho aos inte- resses do Estado Moderno, além de ser detentora de grande poder econômico, cobiçado pelo Estado; educacional – a necessidade da educação formar um novo homem – o comerciante e o homem burguês, e não mais o homem cristão –, pois os princípios liberais e o movimento ilu- minista trazem consigo novos ideais e uma nova filosofia de vida. [...] A Companhia de Jesus teve suas atividades suspensas na Colônia brasileira a partir de 1759, com o Decreto-lei de 3 de setembro de 1759 promulgado pelo Rei D. José I. Com a pro- mulgação da lei, o Ministro de Estado, Marquês de Pombal, exilava de Portugal e da colônia brasileira a Companhia de Jesus, confiscando para a coroa portuguesa todos os seus bens materiais e financeiros. Quando da assinatura do decreto pelo Marquês de Pombal, havia no Brasil 670 membros da Com- panhia de Jesus, incluindo noviços e estudantes, sendo repa- triados para Portugal 417. Permaneceram no Brasil 253 mem- bros, entre aqueles que ainda não haviam recebido ordens ou os noviços que foram induzidos a deixarem a ordem religiosa (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, [s. p.]). – 29 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX Os jesuítas podem ser considerados os primeiros professores em território brasileiro. Contribuíram com o plano do governo português de transformar a estrutura da sociedade brasileira. Catequizaram indígenas e ofereceram educação para uma pequena parcela da população. A partir de 1564 foram instaladas escolas dentro das vilas,como foi ocaso do Colégio da Bahia e do Colégio de São Paulo de Piratininga.Chambouleyron (1999, p. 78-79) ressalta que as escolas autorizadas pelo rei de Portugal (que tinham alvará para funcionamento e recebiam uma dotação para sustento, manutenção e despesas) eram muito diferentes das escolas que ficavam locali- zadas nas aldeias. Há relatos de que os alunos chegaram a visitar as cadeias para levar a palavra de Deus aos encarcerados. Além disso, nessas escolas era possível observar a presença de cerimoniais acadêmicos portugueses, ou seja, atividades como encenações, disputas, interesse em continuar os estudos, recepções de autoridades e procissões eram práticas presentes nas escolas da vila. Muito se fala e se estuda sobre a presença dos jesuítas na história da edu- cação; no entanto, outras ordens religiosas católicas, como os franciscanos, tive- ram importante participação no processo educacional ocorrido em território brasileiro. Parte deste silêncio sobre as demais ordens religiosas pode se dar ao fato de haver uma abundância de fontes historiográficas sobre os jesuítas e, em contraponto, uma aparente escassez de fontes sobre as demais ordens religiosas. No entanto, quebrando os paradigmas e rompendo o silêncio sobre o assunto, autores como Sangenis (2004) apontam para a atuação dos francis- canos e outros grupos religiosos. Sangenis ressalta o fato de que, ao acompanhar as caravelas do primeiro desembarque ao Brasil, podemos considerar que os franciscanos representaram a primeira ordem religiosa católica que atuou na evangelização e educação do povo nativo. Para o autor, não há dúvidas sobre a importância dos franciscanos para a educação brasileira, já que: foram os franciscanos os fundadores da primeira escola em território brasileiro, os iniciadores das missões junto aos indígenas, os sistematizadores de línguas nativas, os idealizadores – 30 – História, Filosofia e Sociologia da Educação de uma Igreja autenticamente ameríndia, os estudiosos de nossa história, da flora e da fauna, os propagadores de um cristianismo confraternizante, os promotores da educação e da cultura. A participação franciscana, na América e no Brasil, é tão expressiva que aludir ao terceiro franciscano Cristovão Colombo, descobridor deste Continente, ou a Frei Henrique Soares, que, em nossa terra, plantou a primeira cruz, parece- nos mera referência retórica (SANGENIS, 2004, [s. p.]). Segundo o autor, os franciscanos tiveram uma atuação contínua e inin- terrupta na história da educação brasileira, em diferentes níveis educacionais, por isso é importante ressaltar a sua participação na construção educativa de nosso país. Dica de Leitura Para aprofundar o conhecimento sobre a atuação dos franciscanos na educação brasileira e suas relações com a ordem dos jesuítas, sugerimos a leitura a seguir. SANGENIS, L. F. C. Gênese do pensamento único em educação: franciscanismo e jesuitismo na história da educação brasileira. Petró- polis, Rio de Janeiro: Vozes, 2006. É interessante ressaltar a existência de outras ordens religiosas, além do fato de que elas estiveram presentes em toda a história da educação brasi- leira até os dias de hoje. Ao mesmo tempo, verificamos que, em determinado momento, a Companhia de Jesus (especialmente) já não atendia aos anseios da Corte Portuguesa. A partir de então, podemos observar uma nova forma de pensamento educacional ganhando espaço no Brasil, como veremos a seguir. 2.3 Reforma Pombalina No século XVIII, Portugal estava atrasado em relação aos países consi- derados as potências da época. O país queria passar de uma posição mercantil para outra industrial. A Inglaterra, por exemplo, destacava-se por sua indus- – 31 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX trialização e avanços tecnológicos. Nesse cenário, um ministro português sur- giu para causar muitas transformações no país: Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal. Pombal esteve no poder de 1750 a 1777 e foi o responsável pelas mudan- ças ocorridas na economia, educação e administração de Portugal e suas colô- nias. Apesar de serem influenciadas pelo Iluminismo, as reformas pombalinas atendiam aos interesses do Estado e nada tinham de compromisso com a liberdade individual do cidadão. Boto (2010, s.p.) afirma que a “escola pom- balina não era conduzida pela utopia daemancipação”. Com suas medidas, Pombal pretendia colocar Portugal em uma posição de destaque entre as metrópoles europeias. Uma das ações foi tentar forçar o progresso da industrialização no país, além de incentivar a construção naval. Passou-se a cobrar impostos altíssimos de produtos importados para forçar o avanço interno industrial. Segundo Maciel e Shigunov Neto (2006, [s. p.]), podemos destacar que: as principais medidas implementadas pelo marquês, por intermédio do Alvará de 28 de junho de 1759, foram: total destruição da organização da educação jesuítica e sua meto- dologia de ensino, tanto no Brasil quanto em Portugal; ins- tituição de aulas de gramática latina, de grego e de retórica; criação de cargo de ‘diretor de estudos’ – pretendia-se que fosse um órgão administrativo de orientação e fiscalização do ensino; introdução das aulas régias – aulas isoladas que substituíram o curso secundário de humanidades criado pelos jesuítas; realização de concurso para escolha de professores para ministrarem as aulas régias; aprovação e instituição das aulas de comércio. Pombal realizou mudanças na educação e decidiu expulsar os jesuítas de Portugal e de suas colônias (escolas de outras ordens religiosas continua- ram existindo). A sociedade que estava surgindo não necessitava mais de um cidadão cristão. As prioridades e princípios mudaram e um novo homem precisava surgir para atender às modificações dos Estados modernos. O Brasil mudou a cobrança de impostos e investiu na organização da mineração e extração. Transferiu a capital de Salvador para o Rio de Janeiro. As capitanias hereditárias que ainda eram particulares foram compradas pela Coroa e transformadas em capitanias reais. Com relação aos indígenas, Pom- – 32 – História, Filosofia e Sociologia da Educação bal foi o responsável por legalizar o fim de sua escravidão, em 1755, o que desagradou os proprietários de escravos indígenas e os jesuítas. Ao libertar os indígenas e expulsar os jesuítas, pretendia-se libertar a população local das amarras do catolicismo e miscigenar colonos e indígenas para gerar um povo- amento estratégico em terras brasileiras. Extintos os colégios jesuítas4, a maior parcela do ensino passou a ficar sob a responsabilidade do Estado. O fato de a educação ser laica não que- ria dizer que atendia aos interesses dos cidadãos, pelo contrário, o Estado queria garantir seu absolutismo, controlando, inclusive, o material didático. Enquanto mudanças ocorriam em Portugal, o Brasil ficava estagnado. Somente dezessete anos após a expulsão dos jesuítas, o Brasil conseguiu ter novamente o ensino, porém, de uma maneira fragmentada e desarticu- lada. Surgiu no país a escola pública de responsabilidade do Estado. Profes- sores leigos e despreparados ministravam aulas avulsas (ou aulas régias) de Latim, Grego, Retórica ou Filosofia, que não possuíam conexão. Segundo a definição de Fonseca, redigida em forma de verbete no site da Unicamp, as aulas régias: [...] compreendiam o estudo das humanidades, sendo per- tencentes ao Estado e não mais restritas à Igreja – foi a pri- meira forma do sistema de ensino público no Brasil. Apesar da novidade imposta pela Reforma de Estudos realizada pelo Marquês de Pombal, em 1759, o primeiro concurso para professor somente foi realizado em 1760 e as primeiras aulas efetivamente implantadas em 1774, de Filosofia Racional e Moral. Em 1772 foi criado o Subsídio Literário, um impostoque incidia sobre a produção do vinho e da carne, destinado à manutenção dessas aulas isoladas. Na prática o sistema das Aulas Régias pouco alterou a realidade educacional no Brasil, tampouco se constituiu em uma oferta de educação popular, ficando restrita às elites locais. Ao rei cabia a criação dessas aulas isoladas e a nomeação dos professores, que levavam quase um ano para a percepção de seus ordenados, arcando eles próprios com a sua manutenção. Azevedo [1943, p. 315] menciona a abertura de uma aula régia de desenho e de figura, em 1800, nas principais cidades da orla marítima e em 4 É importante ressaltar que a Igreja católica continuou atuando nas colônias após a expulsão dos jesuítas. Continuaram realizando atividades as Ordens religiosas, como os franciscanos e beneditinos, por exemplo. – 33 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX algumas raras do planalto e do sertão. Em 1816 consta que o pintor Manoel da Costa Athaíde solicitou uma aula régia de desenho em Vila Rica, obtendo a aprovação. A permanência praticamente inalterada do sistema das Aulas Régias no Brasil da virada do século XVIII para o seguinte, estendendo-se ainda durante o primeiro reinado, deveu-se à continuidade dos modelos de pensamento em nossa elite cultural. Existiu um grande descompasso entre o pretendido pelo governo monárquico – tanto o português quanto o brasileiro, após a independência – e aquilo que as condições sociais e econômicas viriam permitir, dentro de um modelo produtivo excludente, escravista e pautado em uma menta- lidade que contribuía para se perpetrar tal situação. (CAR- DOSO, 2004 apud FONSECA, 2012, [s. p.]). Dica de Leitura Para aprofundar o conhecimento sobre as aulas régias e compre- ender melhor a educação nesse período histórico, leia CARDOSO, T. M. R. F. L. As luzes da educação: fundamentos, raízes his- tóricas e prática das aulas régias no Rio de Janeiro 1759-1834. Bragança Paulista: Editora da Universidade São Francisco, 200 Dentro deste sistema, os alunos, filhos de uma pequena elite, eram edu- cados para serem os novos nobres. O ensino procurava ser facilitado, pois a entrada no ensino superior era o almejado. Maciel e Shigunov Neto (2006, [s. p.]) fazem uma crítica contundente à Reforma Pombalina educacional, dizendo que ela: [...] pode ser avaliada como sendo bastante desastrosa para a Educação brasileira e, também, em certa medida para a Edu- cação em Portugal, pois destruiu uma organização educacio- nal já consolidada e com resultados, ainda que discutíveis e contestáveis, e não implementou uma reforma que garantisse um novo sistema educacional. Portanto, a crítica que se pode formular nesse sentido, e que vale para nossos dias, refere-se – 34 – História, Filosofia e Sociologia da Educação à destruição de uma proposta educacional em favor de outra, sem que esta tivesse condições de realizar a sua consolidação. Desta feita, podemos concluir que a Reforma Pombalina não foi um avanço na educação brasileira. Ao criticar a estrutura religiosa do ensino jesu- ítico, ela desarticulou o ensino existente no Brasil. O país vem colhendo de longa data este tipo de erro: querer implantar novas tendências em detrimento de outras, sem ponderar o que é significativo e o que deve ser abandonado. Passadas as reformas pombalinas, o Brasil recebeu a família real portu- guesa, o que modificou o cenário político, social, econômico e, consequente- mente, educacional. 2.4 Educação no Brasil: da sede da Coroa para o Império No início do século XIX, Inglaterra e França estavam em guerra. Na ten- tativa de destruir economicamente a Inglaterra, o imperador francês Napo- leão Bonaparte proibiu os países de fazerem comércio com os britânicos. Por- tugal, que mantinha uma estreita relação financeira com esse país, continuou negociando com seu parceiro. Por causa da pressão francesa e das invasões de Napoleão, o rei de Portugal decidiu levar sua família e cerca de dez mil pes- soas consigo para o Brasil. Em 1808, chegou a família real portuguesa. O país deixava de ser uma simples colônia para se tornar a sede do Impé- rio português. A Corte, que tinha sido transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, começou a se modernizar. Ruas foram abertas e pavimentadas, cons- truções foram erguidas. Nessa época foram construídos oJardim Botânico, o Museu Nacional e a Imprensa Régia, e o acervo da biblioteca de Portugal foi trazido para o Rio de Janeiro. A sede estava ficando moderna. O pensamento do mercantilismo deu lugar ao liberalismo inglês, base- ado na industrialização. Adam Smith, um dos intelectuais mais citados, defendia que cada nação deveria ser livre para fazer o comércio daquilo que “produz mais e melhor, e fazer troca do excedente por produtos oferecidos por outras nações” (FRANCISCO FILHO, 2004, p. 42). A Inglaterra teve muita influência sobre o Brasil durante esse período. Apesar da abertura dos portos brasileiros para todas as nações, o país britânico continuava obtendo – 35 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX privilégios. Os produtos ingleses eram os que pagavam menos impostos para serem importados. A elite brasileira comprava produtos supérfluos só para sentir-se “europeia civilizada”. Devido aos conflitos na Europa, a família real e as elites (brasileira e europeia recém-chegada) não podiam enviar seus filhos ao local para cursar o ensino superior. O novo contexto exigiu a reformulação do pensamento educacional. Instituições de ensino superior e técnico precisavam ser abertas no Brasil para atender a essa fatia da população. Foram criadas instituições como as elencadas a seguir. 2 Academia Real da Marinha, 1808. 2 Cursos de Cirurgia, Medicina e Anatomia, 1809. 2 Cursos técnicos de Agricultura e Indústria. 2 Academia Real Militar, 1810. 2 Laboratório de Química, 1812. 2 Curso de Agricultura, 1814. 2 Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, 1816. Apesar das mudanças ocorridas no ensino superior, a educação conti- nuou deixando as classes menos favorecidas de lado. A educação elementar “não sofreu modificação, os cuidados continuaram a ser com o conhecimento superior [...]. Não houve alteração na linha adotada durante a colonização [...]” (FRANCISCO FILHO, 2004, p. 46). Em 1822, o Brasil deixou de ser governado por Portugal. Sua indepen- dência foi liderada pelo futuro sucessor do trono português. Dom Pedro I tornou-se o primeiro imperador do Brasil, em uma ação planejada e desejada (ao contrário do que muitos livros de história trouxeram antes de 1990). Cursos superiores, técnicos e escolas religiosas, colégios públicos e particulares continuaram sendo abertos na tentativa de acompanhar o crescimento da elite brasileira. O discurso sobre a educação podia parecer eficiente, mas na realidade faltavam verbas e a população menos abonada continuava sendo esquecida. A elite estudava por meio das aulas avulsas, muitas das vezes ministradas nas escolas confessionais. Francisco Filho (2004, p. 62-63) afirma: – 36 – História, Filosofia e Sociologia da Educação em 1834 o Ato Adicional à Constituição de 1824 centra- lizou o ensino superior no governo Imperial e deu às pro- víncias o direito de legislar e promover o ensino primário e secundário. [...] As escolas de primeiras letras tiveram pouca ascensão [...] As meninas da elite recebiam educa- ção sobre afazeres domésticos e as meninas das camadas mais pobres só recebiam a educação informal de mãe para filha. [...] Foi instituído o ensino parcelado. Nas bancas das faculdades eram feitas avaliações para ingresso no ensino superior. A preparação, anterior, ficava por conta do aluno, que não precisava frequentar o ensino seriado. Somente a elite tinha condições de pagar professores ou um colégio religioso. Asmulheres continuavam sendo educadas para o lar e o foco do governo estava voltado para o ensino superior. A maioria dos colégios secundários estava nas mãos de instituições particulares e só as elites poderiam pagar seus estudos. Muitos desses colégios acabaram sendo ape- nas um curso preparatório para o ensino superior. As famílias ricas que- riam acelerar o acesso de seus filhos ao “rol dos homens cultos” (ROMA- NELLI, 2010, p. 41). A partir de 1840, o Brasil passou a ser governado por D. Pedro II, que, por meio de um golpe de maioridade, assumiu o governo com 14 anos. Cha- mamos este período de Segundo Reinado, o qual se estendeu até a Procla- mação da República, em 1889. Durante seu governo, aconteceram muitas manifestações políticas e sociais, entre elas o fim da Guerra dos Farrapos, a Revolução Praieira e a Guerra do Paraguai. Saiba mais A Guerra do Paraguai (1864-1870) proporcionou a discussão entre as camadas pobres e escravas sobre o direito de acesso à educação. Nos navios os “homens comuns” compartilhavam do mesmo sofrimento e desenvolviam com a mesma capaci- dade as atividades dos jovens oficiais. Um movimento de classe começava a surgir.culos para chegar à forma “definitiva”, que conhecemos até hoje. – 37 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX Foi durante o Segundo Reinado que o Brasil viu aumentar, significa- tivamente, a produção de café. Os fazendeiros, conhecidos como barões do café, enriqueceram por meio do trabalho escravo nas lavouras; ostentaram seu poder econômico e político e com suas riquezas favoreceram a industrializa- ção no país, sobretudo nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Devido às discussões em âmbito internacional, os discursos abolicionis- tas chegaram ao Brasil. Durante o Segundo Reinado, podemos destacar: 2 Lei Eusébio de Queiróz (1850) – extinção oficial do tráfico de escravos no Brasil; 2 Lei do Ventre Livre (1871) – liberdade dos filhos de escravos nasci- dos após a promulgação da lei; 2 Lei dos Sexagenários (1885) – liberdade aos escravos que comple- tassem 65 anos de idade; 2 Lei Áurea (1888) – abolição da escravidão assinada pela Princesa Isabel, filha do Imperador D. Pedro II. Com o fim da escravidão sendo anunciado desde 1850, os fazendeiros precisariam substituir a mão de obra que existia em suas lavouras e, por isso, começou a acontecer um grande movimento imigratório. Imigrantes vindos, principalmente, da Europa chegavam de navio ao país com a promessa de tra- balho e moradia garantidos. No entanto, ao aportarem em terras brasileiras, a realidade não parecia ser tão promissora. A maioria passou a trabalhar em fazendas de café e alguns poucos conseguiram se estabelecer como comercian- tes ou industriais. Houve, também, uma abertura na liberdade religiosa. Nosso país já não era mais exclusivamente católico (se ignorarmos as manifestações religiosas dos povos indígenas e africanos que aqui já existam), pois muitos dos imigrantes recém-chegados traziam, em suas bagagens, seus anseios, cultura e religião. Desta forma, além dos grupos de evangelização católica, começaram a chegar ao país grupos de missionários protestantes, a fim de levar os seus dogmas a países da América. A cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, rece- beu a sua primeira turma de Escola Dominical (ensino da Bíblia mediante preceitos protestantes) no ano de 1855, por intermédio do casal de missio- – 38 – História, Filosofia e Sociologia da Educação nários escoceses Sarah e Robert Kalley. Para ensinar a Bíblia, consequen- temente, eles precisavam alfabetizar as pessoas que frequentavam as aulas. Via-se, assim, a oportunidade de evangelizar e ensinar. Em 1959, chegou ao Brasil o missionário presbiteriano Simonton, que, entre outras coisas, tinha a missão de uma escola, um seminário e um jornal5. Basicamente, a proposta de evangelização trazida por ele era: 1) a santidade da igreja deve ser ciosamente mantida no testemunho de cada crente; 2) é preciso inundar o Brasil de Bíblias, livros e folhetos; 3) cada crente deve comuni- car o evangelho a outra pessoa; 4) é necessário formar um ministério nacional idôneo; 5) escolas paroquianas para os filhos dos crentes devem ser estabelecidas (CÉSAR, 2000, p. 89). A evangelização pessoal e nas igrejas alcançou um grupo de pessoas menos favorecidas que tiveram a oportunidade de serem alfabetizadas para, basicamente, ler a Bíblia. As escolas seriam a oportunidade dos protestantes de também alcançar as classes mais abastadas. Em 1869, foi fundada, em Campinas, pelo reverendo Nash Morton, a primeira escola presbiteriana chamada de Colégio Internacional. A institui- ção tinha como um de seus objetivos atender aos filhos dos presbiterianos assegurando a continuidade da cultura e religião. Em 1870, também fundada pelos presbiterianos, surgiu a Escola Americana, possuindo características como classes mistas de meninos e meninas e uma nova pedagogia de ensino. Essa escola começou a ganhar visibilidade pela dita qualidade de ensino, que contava com professores qualificados. Uma das pessoas que teve sua atenção voltada para o colégio foi o advogado Jonh Theron Mackenzie, que realizou doações em vida e em herança para que a instituição crescesse. Em 1896, ela passou a abrigar o curso superior de engenharia e tornou a se chamar Mackenzie College6. 5 Este primeiro jornal protestante chamava-se Imprensa Evangélica e circulou entre 1864 a 1892. 6 O Mackenzie College é atualmente dividido ente a Universidade Presbiteriana Mackenzie e o Colégio Presbiteriano Mackenzie. Para saber informações sobre essas instituições acesse: www.mackenzie.br e www.emack.com.br. – 39 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX Figura 3 - Escola. Ginásio Anglo-Brasileiro. Aula de física e química. São Paulo, 1910. Re pr od uç ão Ic on og ra ph ia Figura 4 - Instituto Granbery, Juiz de Fora, Minas Gerais, 1946. In st itu to G ra nb er y Já os metodistas fundaram seu primeiro colégio no ano de 1881, man- tendo relações estreitas com a elite republicana. O Colégio Piracicabano era elogiado por manter um grupo de professores seletos, formados nos Estados Unidos ou na Europa. Mesquida (1994) lembra que esses professores eram – 40 – História, Filosofia e Sociologia da Educação chamados por fazendeiros para ensinar, em casa, as primeiras letras a seus filhos, tecnologias agrícolas ou mesmo religião, por isso o prestígio e proxi- midade das elites de Piracicaba e região. Entre as características do Colégio Piracicabano estavam: prédios próprios, com arquitetura que os distinguia pelas salas amplas e construídas especificamente para o ensino. As classes eram mistas. As carteiras de estudante passaram a ser individuais. Havia salas especiais para música, geografia, com imensa quantidade de mapas, cartazes com esqueleto do corpo humano, pesos e medidas para o ensino do sistema métrico, microscópios. E, já no colégio Piracicabano, as dis- ciplinas eram latim, português, inglês, francês, gramática, caligrafia, aritmética, matemática, álgebra, geometria, astro- nomia, cosmografia, geografia, história universal, história do Brasil, história sagrada, literatura, botânica, física, química, zoologia, mineralogia, desenho, música, piano, costura, bor- dado e ginástica (ELIAS, 2005, p. 82). O Colégio Piracicabano tinha à sua frente a missionária Martha Hite Watts, que ajudaria a criar e liderar outros colégios como: Colégio Americano de Petrópolis (1895); Colégio Mineiro em Juiz de Fora (1902); Colégio Iza- bela Hendrix em Belo Horizonte (1905). Foi também nesta época que surgiram os kindergarten ou, em nossa tradu- ção, jardins de infância, destinados à educação das crianças pequenas, de zero a seis anos. CardosoFilho afirma que o primeiro jardim de infância do Brasil sur- giu em 1862, na cidade de Castro, no interior do Paraná (CARDOSO FILHO, 2009, p. 49). O mais conhecido deles é o Colégio Menezes Vieira (1875-1887), fundado pelo médico e educador Joaquim José de Menezes Vieira. Outros jar- dins de infância conhecidos pela historiografia surgiram em 1877, em São Paulo, na Escola Americana e no Colégio Piracicabano. 2.5 Educação na República Velha Chamamos de República Velha ou Primeira República o período que vai de 1889 a 1930, quando o Brasil proclamou a sua independência e passou a ser governado por presidentes. Durante este período histórico, podemos ressaltar o surgimento dos grupos escolares, instituições de ensino primário que existiram até o ano de 1971. Os grupos escolares surgiram no – 41 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX estado de São Paulo e representavam o ideal republicano presente na edu- cação. Estes locais educativos procuravam ser modelares e padronizadores da educação primária completa. Utilizavam um ensino enciclopédico e seus métodos e processos pedagógicos eram considerados modernos para a época (SOUZA, 1996). Souza (1996, p. 118) afirma que, em 1929, já havia 297 grupos escolares no estado de São Paulo, sendo 47 instalados na capital e 250 localizados nas demais cidades. Estudos recentes da história da educação têm percebido que o modelo de grupo escolar de São Paulo acabou sendo uma tentativa de padronização para os demais estados, ou seja, muitas das características presentes nesses grupos foram incorporadas por outros estados brasileiros. Nas palavras de Souza e Faria Filho (2006), esta inovação significou uma transformação da organização da educação pública dos estados brasileiros, assim: o novo modelo de escola exigia altos investimentos, pois pres- supunha a edificação de espaços próprios e adequados para o funcionamento das escolas, professores habilitados, mobiliá- rio moderno e abundante material didático. A racionalidade e a uniformidade perpassavam todos os aspectos da ordena- ção escolar, desde o agrupamento homogêneo das crianças (alunos) em turmas mediante a classificação pelo grau de conhecimento, consolidando a noção de classe e série, o esta- belecimento de programas de ensino (distribuição ordenada de atividades e dos saberes escolares), a atribuição de cada classe a um professor, a adoção de uma estrutura burocrá- tica hierarquizada – uma rede de poderes, de vigilância e de controle envolvendo professores, diretores, porteiros, serven- tes, inspetores, delegados e diretores de ensino. Perpassavam também a ordem disciplinar impingida aos alunos – asseio, ordem, obediência, prêmios e castigos (SOUZA; FARIA FILHO, 2006, p. 28). Como vimos, a instalação deste modelo de escola possuía um custo muito alto. Era necessária uma arquitetura escolar específica, um mobi- liário considerado moderno, professores preparados e, por este motivo, somente os estados de maior posse financeira conseguiram implantar a pro- posta dos grupos escolares com mais sucesso. Souza e Faria Filho (2006) destacam São Paulo, Minas Gerais e Pará como os estados que consegui- ram ampliar, significativamente, as vagas e implantar um sistema moderno de ensino. – 42 – História, Filosofia e Sociologia da Educação Nos estados de melhores condições, a construção dos prédios dos grupos escolares era grandiosa. A arquitetura era inovadora: as divisões do ambiente, o pátio escolar, a separação entre a rua e a sala de aula geravam uma postura diferenciada entre ter um comportamento de criança na rua e outro como aluno na escola. No entanto, os demais estados, apesar de também contarem com grupos escolares (talvez não tão suntuosos), dividiam o sistema primário com as já existentes escolas isoladas. Dica de Leitura Para saber mais sobre os grupos escolares indicamos a seguinte leitura: BENCOSTTA, M. L. Grupos escolares no Brasil: um novo modelo de escola primária. In: STEPHANOU, M.; BASTOS, M. H. C. História e memórias da educação no Brasil. Século XX. Petrópolis: Editora Vozes, 2005. v. 3. Figura 5 - Grupo Escolar Dom Pedro II, Ouro Preto/MG, década de 20 do século XX. AP M – E sc ol a Es ta du al D om P ed ro II – 43 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX Figura 6 - Sala de aula. Rio de Janeiro, 22 de outubro de 1914. Re pr od uç ão Ic on og ra ph ia Figura 7 - Instituto Muniz Barreto (escola – sala de aula só para meninos). Rio de Janeiro, 1904. Re pr od uç ão Ic on og ra ph ia – 44 – História, Filosofia e Sociologia da Educação Com relação ao período histórico, os cafeicultores paulistas e fazendei- ros mineiros detinham o poder político. Eles revezavam-se na presidência e controlavam o cenário econômico brasileiro. Este sistema ficou conhecido como política do café com leite. A presidência do Senado e da Câmara dos Deputados Federais ficava dividida entre os políticos do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Existiam muitas fraudes nas eleições e não havia uma fidelidade aos partidos políticos. Francisco Filho (2004, p. 76) resume o perí- odo afirmando que: tudo tinha como alicerce o coronelismo, que nomeava auto- ridades e altos funcionários e em troca apoiava os candidatos aceitos pelas bases do governo. [...] O voto era de “cabresto” e os coronéis tinham “pequenos exércitos particulares arma- dos” para manter a segurança. [...] Nesse período surgiram alguns movimentos de peso, o Tenentismo em 1922 e depois a Coluna Prestes, no campo militar. No plano intelectual surge a Semana de Arte Moderna, também em 1922, alte- rando os rumos da cultura. No campo educacional, logo no início da República, em 1890, Ben- jamim Constant troca a tradição humanista pelos princípios positivistas. Segundo Francisco Filho (2004), o ensino era seriado, enciclopédico, obri- gatório e gratuito. Novas disciplinas passaram a fazer parte do currículo: Política, Economia, Noções de Sociologia, Direito e Ciências. O ensino pas- sava pela tendência de imitar a educação francesa. Com o fim do Império, o Colégio Dom Pedro II teve seu nome mudado para Ginásio Nacional. Era a tentativa de modernizar o país e esquecer as antigas estruturas. Vamos observar no quadro a seguir algumas leis e reformas que ocorre- ram neste período. Quadro 1 Nome e data Objetivos legais Reforma Epitácio Pessoa – 1901 • O ensino secundário continuava prepa- rando para o ensino superior; • O ensino secundário passava a ter seis anos de duração; • Continuava a liberdade de ensino. – 45 – Educação no Brasil: da Colônia aos anos de 1930 do século XX Nome e data Objetivos legais Lei Orgânica Rivadávia Corrêa – 1911 • Ofereceu autonomia aos estabelecimentos de ensino; • Muitos estabelecimentos de ensino voltaram ministrar um ensino parcelado, o que pode ser considerado um retrocesso; • Fim do caráter oficial do ensino; • Volta dos exames de admissão para o ensino superior; • O estado não controlava a emissão de títulos e diplomas. Reforma de Carlos Maximiliano – 1915 • Cancelava as alterações de 1911; • Cancelava o ensino parcelado; • Obrigava a conclusão do curso secundá- rio para ter acesso ao curso superior; • Criava o vestibular para ingressar no curso superior. Lei Rocha Vaz – 1925 • Última lei antes da Era Vargas; • Era contrária às ideias da Escola Nova; • Considerada reacionária e conservadora; • O Estado controlava ideologicamente através de inspeções e autorizações; • Moral e Cívica tornou-se disciplina obrigatória na escola primária e secundária. Como pudemos observar no quadro, ocorreram algumas mudanças na educação brasileira. Parte dos interesses imperiais foi substituída
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