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UNIDADE 3 
 
O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
• analisar o espaço da educação brasileira como local de continuidade e descontinuidade, ou rupturas e 
permanências em termos de teorias, modelos, explicações, métodos, normas e leis educacionais; 
• estudar o contexto histórico e as estruturas educacionais do período colonial brasileiro, em especial o 
sistema de ensino da Companhia de Jesus; 
• conhecer as condições históricas e sociais do período político denominado de Brasil Império, no que diz 
respeito a instituições políticas e políticas públicas em educação para a época; 
• analisar as principais diretrizes educacionais que se instalaram no Brasil a partir da Proclamação da 
República e nos primeiros anos do século XX; 
• identificar e compreender os novos rumos e tendências que se configuraram na educação brasileira a partir 
da Constituição de 1988. 
TÓPICO 1 
CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL 
1 INTRODUÇÃO 
Caro acadêmico! Agora chegou o momento de analisarmos em linhas gerais como se deu a estruturação do 
ensino e das instituições educacionais no Brasil. Isso significa reconhecer o que adaptamos de outras 
regiões e países, como a Europa e os Estados Unidos, e o que desenvolvemos de forma genuína, ou seja, 
o que a intelectualidade brasileira foi capaz de pensar e realizar a partir do contexto de desafios da realidade 
que se apresentava. 
Antecipamos que o Brasil, em termos de políticas de governo em educação, por muito tempo não se 
preocupou em pensar uma estrutura educacional coesa e sólida que envolvesse ensino, pesquisa e 
extensão. Isto passou a ser uma realidade somente a partir do século XX e, hoje, no descortinar das 
primeiras décadas do século XXI, ainda não representa uma prática sólida e autônoma, ainda nos 
encontramos numa posição de dependência no que diz respeito a matrizes teóricas e metodológicas do que 
é produzido no exterior. 
Gostaríamos que estas reflexões não sejam responsáveis por desmerecer toda a jornada e luta que foi 
travada pelas gerações anteriores, pois sem o trabalho deles não estaríamos hoje aqui, revisitando e 
refletindo o seu legado, e muito menos teríamos o ponto de partida no qual nos situamos; assim como não 
desestimulem ou desmotivem as superações que você, sua turma e sua geração podem fazer pelo contexto 
educacional atual, seja em meio à sua comunidade, região, país e/ou mundo. 
Neste momento, nos dedicaremos mais a descrever e explicar as estruturas políticas, as instituições e os 
movimentos educacionais, os métodos e os principais idealizadores de teorias pedagógicas brasileiras. 
Fique atento aos tópicos que compõem esta unidade, procure identificar as continuidades e semelhanças 
que perpassaram cada época e, em especial, as mudanças e rupturas que possibilitaram a renovação do 
pensamento pedagógico no Brasil. 
O que compreendemos por período colonial brasileiro se refere a uma temporalidade iniciada em 1500, 
quando da viagem de Pedro Álvares Cabral, até a Independência do Brasil, em 1822. Todavia, estes marcos 
cronológicos da história brasileira não correspondem, necessariamente, aos períodos de maior intensidade 
nas transformações sociais que permitiram ao Brasil sua composição socioeconômica presente; de modo 
sistemático e cronológico, a história política brasileira se divide em três períodos: período colonial, período 
imperial e período republicano (FAUSTO, 2000). 
Votos de uma boa leitura e apropriação de conhecimentos pela frente! 
2 O EXEMPLO DE PORTUGAL 
A educação brasileira, no período colonial, se relaciona às dinâmicas educacionais da metrópole; na colônia 
obrigatoriamente vigoraria a confissão religiosa da metrópole, portanto, muitas das decisões relativas às 
questões educacionais durante o período colonial brasileiro se relacionam às políticas portuguesas em 
relação às suas colônias. Por isso, devemos, antes de compreender o Brasil, analisar os antecedentes 
portugueses na educação. 
Portugal surge como nação por volta do século XIII, quando se tem no poder os reis da dinastia afonsina. 
Durante a chamada Revolução de Avis, de 1385, surge uma nova dinastia homônima ao movimento 
revolucionário. Com os reis da Dinastia Avis temos o auge das grandes navegações portuguesas. Expansão 
ultramarina iniciada em 1415, quando os lusitanos, liderados pelo infante D. Henrique, conquistaram a 
cidade de Ceuta, no norte da África. Depois tivemos as chamadas grandes viagens de Gil Eanes, que 
ultrapassou o Cabo Bojador; de Bartolomeu Dias, que descobriu o Cabo da Boa Esperança, e Vasco da 
Gama, que descobriu o caminho marítimo para as Índias. Dois anos após, as embarcações comandadas 
por Pedro Álvares Cabral alcançaram as praias de Porto Seguro, sendo a data “oficial” da primeira chegada 
dos portugueses ao Brasil (MATOSO, 2001). 
Portugal confessava-se cristã católica, sendo assim o modelo antropológico e cosmovisão tomista, cuja 
matriz encontra-se nas obras de São Tomás de Aquino. Segundo Lauand e Sproviero (1999), a doutrina de 
São Tomás centra-se na noção de participação, no sentido de que os indivíduos comungam dos ideais, 
congregam, fazem parte do grupo ou do movimento. O que nos leva a interpretar que os novos adeptos e 
convertidos da fé católica deveriam ser catequizados e posteriormente demonstrá-la e professá-la de forma 
íntegra e convincente. 
Lauand e Sproviero (1999) acrescentam que o pensamento de São Tomás de Aquino foi responsável por 
sustentar filosoficamente as alianças que a Igreja Católica realizou com as instituições políticas e 
econômicas ao longo da era das grandes navegações, descobertas, colonização e catequização do Novo 
Mundo. 
A relação das grandes navegações portuguesas com a educação é um ponto de discórdia entre diversos 
historiadores, pois, para alguns, existiu uma instituição formada com o objetivo de educar jovens marinheiros 
para a “faina marítima”, isto é, para as lidas cotidianas navais. A escola teria como local de sede o 
promontório de Sagres, no sul da Península Ibérica. Teria como principal diretor o infante D. Henrique, que 
seria o principal responsável pela fundação e manutenção de uma instituição de ensino para a Marinha. 
Todavia, existem outros historiadores, que não concordam com a existência de tal “escola de aprendizes-
marinheiros”. Isto porque as navegações, em seus aspectos de maior materialidade, como a construção 
naval, ou teóricos, como a navegação astronômica, tiveram seu desenvolvimento ligados a uma empiria no 
trato com o mar, e da tradição de povos que habitam a Península Ibérica e que possuíam o hábito tradicional 
de contemplar as estrelas, como os judeus e árabes. 
Uma instituição de ensino que pode ser considerada um ponto de concórdia entre os historiadores da 
educação em língua portuguesa foi a Universidade de Coimbra. Fundada ainda no período medieval, a 
universidade foi formada para ser um centro intelectual do reino português. 
Enquanto Guimarães e posteriormente Lisboa foram as capitais políticas de Portugal, Coimbra foi a sua 
capital cultural, pois está nesta cidade a mais antiga universidade. Não apenas por sua tradição, mas 
também por sua condição enquanto universidade, Coimbra se destacou. Em geral, a principal carreira a ser 
seguida era a de Direito. Os letrados de Coimbra eram as principais figuras da burocracia do Império 
Marítimo Português. Com isso, podemos compreender algumas questões ligadas às instituições 
educacionais do Brasil Colonial. 
No Brasil, ao contrário da América Espanhola, não havia universidades (HOLANDA, 1995). Isto é, ao invés 
de investir em universidades no ultramar, o governo português centralizava a educação superior em uma 
única instituição. O Império Espanhol, ao contrário, instituiu universidades em diversos pontos de sua colônia 
americana, sendo a mais antiga a Universidade de São Marcos, no Peru. 
Tal política de educação superior da realeza lusitana possuiu pontos positivos e negativos. Os pontos 
negativospodem ser enumerados na dificuldade de acesso ao Ensino Superior aos súditos lusitanos na 
América Portuguesa, além da pouca produção intelectual, algo que a presença de uma universidade pode 
fomentar, porém, entre os pontos positivos, está a de uma mentalidade uniforme entre os burocratas do 
reino português, pois alguns homens teriam de exercer, em uma mesma existência, cargos de poder em 
pontos distintos do globo, como na Ásia, na África e no Brasil. 
A educação desde os tempos mais longínquos consiste em um dos principais vetores na divulgação de 
novas ideias políticas, filosóficas e científicas. Por isso, os Estados nacionais, durante o Antigo Regime, 
possuíam um profundo controle não apenas nas instituições universitárias, como também sobre todas as 
produções intelectuais. Em Portugal existiu a denominada Mesa de Consciência e Ordem, órgão 
responsável pela censura de livros, peças teatrais e demais obras a serem publicadas no reino e nos 
domínios de ultramar. Todavia, para se estabelecer o “certo” e o “errado” do ponto de vista intelectual, temos 
de compreender as disputas intelectuais no interior do reino português quinhentista. 
No Portugal dos Quinhentos, dois grupos sociais lutavam pela hegemonia das ideias: os erasmianos e os 
neoescolásticos. Os erasmianos eram os intelectuais ligados às ideias de Erasmo de Roterdã. Tal postura 
intelectual era ligada a influências agostinianas e humanísticas, típicas do Renascimento europeu: o 
pensamento neotomista. 
A concepção erasmiana era influenciada pelo platonismo agostiniano, enquanto os neoescolásticos eram 
ligados ao pensamento de São Tomás de Aquino. O pensamento erasmiano foi fecundo em Portugal na 
primeira metade do século XVI. Damião de Góis foi um dos principais intelectuais erasmianos portugueses. 
O termo erasmiano é oriundo de Erasmo de Roterdã, intelectual importante no século XVI, autor de um 
clássico do pensamento ocidental chamado Elogio da Loucura. 
Os erasmianos realizaram uma obra educacional interessante no afamado Colégio das Artes de Coimbra. 
Todavia, são expulsos e colocados sob suspeita. Em Portugal, assim como na Espanha, se debateu qual é 
o melhor método filosófico, e os neoescolásticos ganharam a disputa. Os jesuítas eram os principais 
neoescolásticos e foram os religiosos que substituíram os erasmianos no colégio coimbrão. Esta substituição 
é um marco na mudança de rumos da educação durante a Idade Moderna portuguesa. 
Um dos marcos da colonização portuguesa nos trópicos da América foi a instalação do Governo Geral em 
1550. Este foi acompanhado por religiosos jesuítas, que se instalaram no Brasil e marcaram profundamente 
a história brasileira nos séculos XVI e XVII, a ponto de se atribuir uma máxima ao historiador Capistrano de 
Abreu, cuja História do Brasil dos dois primeiros séculos é a história da Companhia de Jesus. 
Na tentativa de explicar a instauração dos modelos de civilização, educação e aculturação da metrópole na 
colônia, Saviani (2004, p. 123) colabora descrevendo que “[...] no caso da educação instaurada no âmbito 
do processo de colonização tratava-se, evidentemente, de aculturação, já que as tradições e costumes que 
se busca inculcar decorrem de um dinamismo externo, isto é, que vai do meio cultural do colonizador para 
a situação objeto de colonização”. 
Segundo Paiva (1978), havia o projeto de transformação de costumes, que deveria alcançar e sensibilizar 
desde as organizações familiares, a estrutura de governo, a geografia das aldeias e as relações no interior 
das mesas, entre outros aspectos, almejando a superação dos costumes autóctones sob o pretexto de obter 
a salvação das almas. Em outras palavras, os hábitos selvagens dos povos nativos deveriam ser suprimidos 
e em seu lugar cultivados os valores da civilização, aqueles ainda da antiguidade clássica de Aristóteles e 
Platão, de superar os vícios por meio do hábito constante das virtudes. 
Segundo Saviani (2007, p. 41), diversas ordens religiosas, tais como franciscanos, beneditinos, carmelitas, 
mercedários, oratorianos e capuchinhos desenvolveram ações educativas e religiosas em terras brasileiras, 
mas foram os jesuítas que as consolidaram ao longo da maior parte do período colonial. Logo, se faz 
necessário aprofundar os conhecimentos sobre elas. 
A Companhia de Jesus foi fundada por volta de 1530, por Inácio de Loyola, um basco que, desejando se 
tornar cavaleiro, ficou ferido e, se tratando em um mosteiro, solicitou ler sobre aventuras da cavalaria, mas 
acabou lendo a única literatura disponível no mosteiro, as hagiografias, isto é, a escrita sobre a vida de 
santos. Inspirado por esta literatura religiosa, acabou por fundar uma Companhia de Soldados de Cristo. 
Possuem os mesmos o lema Ad Majorem Gloriam Dei (Para a Maior Glória de Deus), como sigla as letras 
SJ, além de uma regra de vida comum própria. Dois livros são marcas do pensamento inaciano: Os 
exercícios espirituais e a Ratium Studiorum (SEBE, 1981). 
A Companhia de Jesus tinha como finalidade traduzir em ações a fé que professava; não lhe bastando 
meditar e orar, daí o fervor missionário, de caráter militante e combatente, que moveu os seguidores a 
considerar a cruz e a espada como faces de uma mesma moeda. 
A Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu (Plano e Organização de Estudos da Companhia de Jesus) 
foi publicada no ano de 1599, continha as regras que orientavam todas as atividades dos agentes 
diretamente ligados ao ensino. Abrangia desde as regras do Provincial, passando pelas do Reitor, do 
Prefeito de Estudos, dos professores de modo geral e de cada matéria de ensino, abrangendo as regras da 
prova escrita, da distribuição de prêmios, do bedel, chegando às regras dos alunos e concluindo com as 
regras das diversas academias. 
BEDEL: ou disciplinador; nome dado ao responsável por aplicar a disciplina no interior dos espaços 
escolares, é comum também o nome ser utilizador para referir e denominar os profissionais que são 
responsáveis pelas atividades burocráticas. 
Tobias (1987) explica que, além da finalidade de aculturar e converter os nativos brasileiros, a educação 
desenvolvida no Brasil almejava formar padres, e que a estrutura familiar do Brasil, que se caracterizava por 
ser numerosa, fornecia condições favoráveis para tal, sendo que: “o primeiro filho tinha que ser o herdeiro 
da herança material do pai; o segundo, o intelectual da família; o ‘terceiro filho’ ‘entrava para a Igreja” 
(TOBIAS, 1987, p. 80). 
3 FUNDAMENTOS DO MODELO E MÉTODO JESUÍTICO DE ENSINO 
Os portugueses que gradualmente chegaram ao Brasil traziam os modelos e concepções que estavam em 
voga em Portugal e na Europa medieval. Os jesuítas se instalaram em diversos pontos do país. Dois dos 
mais afamados jesuítas que atuaram no Brasil colonial foram os padres José de Anchieta e Antônio Vieira. 
A importância da educação jesuítica para a história brasileira é incontável, pois foram eles os fundadores do 
Colégio de São Paulo de Piratininga, que deu origem à atual cidade de São Paulo, a maior metrópole 
brasileira. 
Os jesuítas possuíam como método de estudo o Ratium Studiorum, pelo qual os estudantes eram 
disciplinados, ligando as ideias de Inácio de Loyola com o cotidiano dos alunos. Na colônia, as principais 
instituições eram as vinculadas ao ideal jesuítico. O Colégio de Salvador possuiu grande qualidade 
acadêmica, a ponto de as autoridades coloniais solicitarem uma equiparação do Colégio Jesuíta de Salvador 
com a Universidade de Coimbra. Equiparação esta que não ocorreu por questões políticas. 
Quanto aos indígenas, a ação jesuítica foi muito intensa. Eles organizaram sua ação com relação às 
maneiras de catequizar através das reduções, formas de atrair os indígenas e nelas também explorar sua 
mão de obra, em especial nas denominadas “drogas do sertão”, isto é, as especiarias brasileiras, como 
castanhas. No interior da América do Sul, entre os territórios do Paraguai, Paraná e Rio Grande do Sul, a 
ação dos jesuítas com osindígenas foi grande, nas chamadas missões, nas quais os jesuítas influenciaram 
a cultura. Os padres traduziram as histórias bíblicas para o idioma guarani, até hoje a língua oficial dos 
paraguaios, ao lado do espanhol. Em relação ao idioma, em muitas localidades do Brasil Colonial, a 
chamada língua geral, uma forma de tupi-guarani padronizado pelos jesuítas, era língua corrente. 
As reduções que foram edificadas no interior do Rio Grande do Sul, quando da expulsão dos jesuítas do 
Brasil, passaram por um longo período de declínio e decadência e hoje restam apenas ruínas das estruturas 
edificadas, que abrigavam as unidades de educação, trabalho e moradias. As edificações mais expressivas 
encontram-se na cidade de São Miguel das Missões, que foi reconhecida como sítio arqueológico de São 
Miguel Arcanjo e, em 1983, declarado patrimônio mundial pela Unesco. Observe a imagem a seguir da 
estrutura que a redução possuía, bem como uma imagem do local na atualidade: 
FIGURA 23 - ESTRUTURA DA REDUÇÃO DE SÃO MIGUEL ARCANJO, SIMULAÇÃO DA ESTRUTURA 
ORIGINAL 
FONTE: Disponível em: <http://compartilhandoescritas.blogspot.com.br/2012/06/missoes-jesuiticas-os-
sete-povos-das.html>. Acesso em: 30 out 2016. 
FIGURA 24 - REDUÇÃO DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES-RS, IMAGEM ATUAL 
FONTE: Disponível em: <http://portaldasmissoes.com.br/site/view/id/406/ruinas-de-sao-miguel-arcanjo-
sitio-arqueologico.html>. Acesso em: 29 out. 2016. 
Silva (2012) procura explicar que: 
A didática dos jesuítas era fiel aos fundamentos de sua pedagogia, reproduzindo, quase que completamente, 
o modelo medieval escolástico. Conteúdos e formas de ensino, assim, manteriam os professores e os 
estudantes sob a tutela magisterial da igreja, principalmente porque a livre interpretação das escrituras e a 
salvação pela fé eram bandeiras protestantes que atribuíam liberdades exageradas aos fiéis, do ponto de 
vista católico. 
Se nos séculos XVI e XVII os jesuítas se destacaram nos aspectos educacionais da colônia, tal assertiva 
não corresponde ao século XVIII, no qual a ordem inaciana perdeu grande parte de seu prestígio, e em 1759 
os jesuítas foram expulsos do Brasil. 
Por reformas pombalinas ou reformas ilustradas são denominadas as transformações político-sociais 
empregadas por um conselheiro do rei D. José I, José Sebastião de Carvalho Mello, que tinha o título de 
nobreza Marquês de Pombal. De maneira geral, possuíam caráter iluminista, racionalista e defendiam o 
estado laico, ou seja, o governo político sem a influência da Igreja. A partir daquele momento foram 
organizadas as aulas régias, avulsas e que seriam ministradas por um professor pago pela Coroa 
portuguesa. 
Ao tentar modernizar o Estado português, Pombal influiu em diferentes campos da sociedade, com reflexos 
na educação, pois uma de suas medidas em relação ao contato do Estado português com os indígenas 
brasileiros foi instituída em um dispositivo legal, o Diretório dos Índios do Grão-Pará e Maranhão. Nesta lei, 
Pombal instituiu que as reduções deveriam ser comandadas não mais por religiosos, mas por funcionários 
do Estado. Com isto, o poder dos jesuítas diminuiu. Este poder jesuítico acabou com a expulsão desta ordem 
religiosa dos territórios portugueses (FAUSTO, 2000). 
Para substituir os Soldados de Cristo foram denominados irmãos da Ordem do Oratório, como substitutos 
dos inacianos nas instituições religiosas. Em grande parte, pela similaridade do carisma das duas ordens 
em pregar o evangelho, além dos interesses econômicos por parte da monarquia portuguesa, que via na 
Companhia de Jesus uma concorrente comercial. A expulsão dos jesuítas significou uma profunda alteração, 
pois eles eram os principais promotores da educação brasileira. 
PARA REFLETIR: 
Caro acadêmico, ao longo de todo o período do Brasil Colonial não existiram universidades em nosso país. 
Até que ponto esta característica de nossa colonização nos prejudicou no que diz respeito ao 
desenvolvimento educacional? 
O período colonial foi um tempo de forte controle sobre a estruturação e o desenvolvimento do Brasil; o país 
não era impedido somente de criar universidades, como também de estruturar atividades industriais. 
Para compreender o grau de controle que Portugal exercia sobre o Brasil e os alcances do domínio que 
exercia, observe a passagem a seguir, que ilustra uma das determinações da rainha Maria I, que governou 
o Brasil e Portugal entre os anos de 1777 e 1815: 
O Brasil é o país mais fértil do mundo em frutos e produção da terra. Os seus habitantes têm, por meio da 
cultura, não só tudo quanto lhes é necessário para o sustento da vida, mais ainda artigos importantíssimos, 
para fazerem, como fazem, um extenso comércio e navegação. Ora, se a estas incontáveis vantagens 
reunirem as das indústrias e das artes para o vestuário, luxo e outras comodidades, ficarão os mesmos 
totalmente independentes da metrópole. É, por conseguinte, de absoluta necessidade acabar com todas as 
fábricas e manufaturas no Brasil (Alvará de 05.01.1785 in Fonseca, 1961- D. Maria I- A louca). 
Tendo em vista as implicações destas determinações ao processo histórico de desenvolvimento do Brasil, 
passam a fazer sentido muitos dos problemas em termos de desenvolvimento e justiça social que ainda se 
apresentam em nossa época. 
Caro acadêmico! Vamos adiante nos estudos. O cenário histórico, social, político e filosófico passa por 
significativas alterações a partir da mudança do sistema colonial ao sistema monárquico. Prossiga na leitura. 
4 FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NA ÉPOCA IMPERIAL 
Nos mais de 80 anos em que o Brasil foi governado pelo regime de monarquia (1808-1889), o sistema 
educacional atuava em três níveis: o ensino elementar (ou primário), o ensino secundário e o ensino 
superior. Piletti (2006) destaca que o ensino no Brasil Império era fragmentado em aulas avulsas (e 
dispersas), caracterizando conteúdos totalmente desconexos para o ensino elementar e o ensino 
secundário. Deve-se considerar ainda que não havia exigência de conclusão de uma forma de ensino para 
alcançar a outra fase, ou seja, mesmo sem concluir o ensino elementar, o ensino secundário poderia ser 
acessado. 
A configuração social do Brasil no século XIX não favorecia investimentos à educação primária. A 
Constituição, outorgada em 1824, destacava que “A instrução primária é gratuita para todos os cidadãos 
[...]”, mas o número de escolas era reduzido. Foi somente em 15 de outubro de 1827 que a Assembleia 
Legislativa aprovou a primeira lei sobre a instrução pública nacional do Império Brasileiro. 
Esta lei estabelecia que “em todas as cidades, vilas e lugares populosos haverá escolas de primeiras letras 
[ler, escrever, contar] que forem necessárias” (WEREBE, 1994, p. 63). A Constituição do Brasil também 
determinava os conteúdos das disciplinas a serem ministradas nas escolas primárias e secundárias. 
Destacavam-se os princípios da moral cristã e de doutrina da religião católica e apostólica romana. A 
preferência acerca dos temas, para o ensino de leitura, era para a Constituição do Império e História do 
Brasil (AZEVEDO, 1971). 
O Ato Adicional, de 6 de agosto de 1834, instituiu as Assembleias Legislativas Provinciais, com o poder de 
elaborar o seu próprio regimento, desde que não ferissem as imposições gerais do Estado. Cada província 
passava a responder pelas diretrizes e pelo funcionamento das suas escolas de ensino elementar e 
secundário. Dificuldades surgiram quanto aos moradores dos lugares distantes, devido à falta de escolas e 
de professores. Outro Ato Adicional, em 1835, instituiu as Escolas Normais, que objetivavam formar 
docentes. Embora houvesse muitas leis, na prática os investimentos na área educacional por parte do 
governo eram mínimos e atendiam somente a população elitizada (NASCIMENTO, 2004). 
O surgimento das Escolas Normais (em Niterói, Bahia, Ceará e São Paulo) ampliou um pouco a formação 
docente. No entanto, o título de bacharel, necessário para acessaro Ensino Superior, só era frequentado 
pela sociedade abastada, que se formava para manter a elite como dirigente social. 
Em 1840 existiam 441 escolas primárias, sendo o Colégio Pedro II considerado escola modelo no país 
(AZEVEDO, 1971). O governo imperial estabeleceu, em 1854, algumas normas para o exercício da liberdade 
de ensino e de um sistema de preparação do professor primário, bem como a criação do ensino para cegos 
e surdos-mudos. A iniciativa privada foi responsável pela criação do Liceu de Artes e Ofícios, em 1856. 
Embora essas normas tivessem sido ideias produtivas e que geraram avanços na área educacional, não 
produziram resultados satisfatórios (NASCIMENTO, 2004). 
A partir de 1843, mesmo sem permissão oficial, a Companhia de Jesus retoma a missão no Brasil e funda 
o Colégio Catarinense, em Florianópolis, e a Escola de Latim, em Porto Alegre. No Recife, em 1873, um 
colégio jesuíta é fechado pela hostilidade da maçonaria e do imperador D. Pedro II. Com o passar do tempo, 
a Companhia de Jesus fundou novos colégios e faculdades em todo o país (WEREBE, 1994). 
Em 1879, a reforma de Leôncio de Carvalho instituiu a liberdade de ensino, possibilitando o surgimento de 
colégios protestantes e positivistas, além de colégios privados. Ainda assim, o período do governo imperial 
brasileiro terminou deixando muitas lacunas quanto à acessibilidade, qualidade e interesse no sistema 
educacional, pois a população analfabeta ultrapassava 67% dos brasileiros (NASCIMENTO, 2004). 
Embora a educação sempre tenha sido pensada no Brasil como instrumento de domínio, desde que os 
jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal, a educação teve como característica a simplificação e 
abreviação dos estudos. O ensino secundário deixou de ser organizado em cursos e passou a ser aplicado 
em aulas avulsas, ou seja, um processo rápido e básico de ensino, em que o aluno ia até o professor para 
obter conteúdos para sua formação (HAIDAR, 1972). 
Em nível mundial, em 1827 ocorreu a criação da escola das primeiras letras, idealizada por Andrew Bell, 
pastor anglicano, e Joseph Lancaster, pastor Quacker. De maneira geral, ambos propunham uma 
metodologia em que prevalecia a disciplina e hierarquização do espaço, no qual o professor supervisionava 
a classe e indicava o estudante mais avançado para auxiliá-lo; além disso, as preocupações e os objetivos 
das atividades restringiam-se em silabar e soletrar, e o método avaliativo centrava-se no aproveitamento e 
no comportamento do estudante. 
FIGURA 25 - JOSEPH LANCASTER 
Tais diretrizes foram adaptadas ao Brasil, por meio de aulas régias, nas quais usava-se o Método Lancaster 
(1789), em que as crianças tinham noção de leitura, cálculo, escrita e catecismo. Devido à falta de 
professores, um professor atendia cerca de 100 alunos e escolhia seus melhores discípulos para auxiliar 
outros dez alunos (chamado de método decúria, em que o ajudante era um decurião). Apesar das evidentes 
dificuldades e falhas, considerando-se que a aprendizagem girava em torno do conhecimento de colegas da 
própria classe, esse método prevaleceu por 15 anos no país (FÁVERO, 2002). 
Com professores mal preparados e mal remunerados, com a dificuldade de locomoção dos alunos e com o 
total desinteresse do governo, a educação permaneceu estagnada. As aulas régias foram extintas em 1857 
por não abrangerem as disciplinas necessárias para acessar o Ensino Superior (latim, comércio, geometria, 
francês, retórica e filosofia) (AZEVEDO, 1984). Como alternativa a este cenário existiam, desde 1835, os 
liceus provincianos, que funcionavam nas capitais brasileiras e que tinham como objetivo reunir todas as 
aulas avulsas em um mesmo lugar, construindo assim os primeiros currículos seriados. 
Os liceus atendiam aos alunos de 10 a 18 anos, pertencentes ao ensino secundário, que hoje corresponde 
à faixa etária que vai do sexto ano ao Ensino Médio. Receberam este nome para diferenciar-se dos colégios 
que ofereciam o ensino primário. Nos liceus, o aluno poderia escolher a ordem e a quantidade de disciplinas 
que quisesse cursar ao mesmo tempo, formando uma reunião de aulas avulsas, mas que atendiam às 
disciplinas exigidas nos exames preparatórios para o Ensino Superior (HAIDAR, 1972). 
Muitos liceus surgiram e se tornaram importantes, mas no Rio de Janeiro foi criado, em 1837, o Colégio 
Pedro II (também chamado de Colégio Imperial Pedro II e de Ginásio Nacional), considerado o liceu modelo 
em todo o país. 
FIGURA 26 - COLÉGIO D. PEDRO II, DESENHO DE 1856 
De 1835 até 1959 foram criadas 21 instituições de ensino secundário, e destas, 17 foram chamadas de liceu 
(FÁVERO, 2002). Nos liceus, sobretudo no Colégio Pedro II, após estudar por sete anos conteúdos variados, 
embora fragmentados, o estudante (masculino, pois as mulheres não podiam cursar o ensino secundário, a 
profissão de professor era exclusivamente masculina) recebia a carta de bacharel em Letras. 
Depois de prestar juramento perante ao Ministro do Império, o estudante tinha o direito de lecionar para o 
primário. Estas escolas tinham a intenção de disponibilizar mão de obra que aceitasse os salários pagos 
pelo Estado. No entanto, embora sanasse a carência de professores, começaram a faltar alunos devido ao 
alto preço dos materiais didáticos, que não eram gratuitos (AZEVEDO, 1984). 
Proibidas de criarem cursos de nível superior, prerrogativa exclusiva do governo nacional, as províncias 
passaram a tentar estabelecer liceus técnicos, dando ênfase a disciplinas como Química, Física, Botânica e 
Agricultura. Assim, efetivaram-se as escolas técnicas voltadas a mercados como enfermagem, 
contabilidade, agricultura, pedagogia, desenho, artífices, costura, prática manual, música, artes plásticas 
etc. (HAIDAR, 1972). 
O retorno dos jesuítas ao Brasil em 1842, ainda que sem autorização do governo, proporcionou a fundação 
de vários colégios particulares de ensino secundário (para meninos, e mais tarde para meninas). Diante 
disso, criou-se rapidamente uma rede amplamente disputada pela elite brasileira e seguida por outras 
instituições que também investiram na formação particular. Assim, essas instituições supriram parte da 
necessidade de formação educacional que deveria ser atribuição do Estado (HAIDAR, 1972). 
Data deste contexto a criação de instituições como o Colégio Caraça de 1820, em Minas Gerais; o Colégio 
Mackenzie, de 1870, na cidade de São Paulo; o Colégio São Luís, que iniciou as atividades em Itu, em 1867, 
e que em 1919 foi transferido para São Paulo; o Colégio Internacional, de 1873, em Campinas; o Colégio 
Americano, de 1885, em Porto Alegre, entre outros. 
O desprezo que a elite nutria pelo trabalho, sobretudo pelo trabalho manual que estava bem de acordo com 
a estrutura social e econômica vigente, explica em parte o abandono do ensino no primário e o total 
desinteresse pelo ensino profissional. A repulsa pelas atividades manuais levava essa elite a considerar vis 
as profissões ligadas às artes e aos ofícios. Só mesmo o descaso com que o ensino primário era tratado e 
a falta de visão na busca de soluções para os problemas educacionais permitem entender a adoção por 
tanto tempo do método lancasteriano nas escolas brasileiras. (WEREBE, 1974, p. 369). 
A fundação de escolas particulares não garantiu um ensino de qualidade ao Brasil Imperial, pois o objetivo 
da iniciativa privada era o êxito financeiro. Sem, no entanto, se preocupar em discutir ou tentar melhorar as 
condições econômicas e sociais do país ou ajudar no desenvolvimento nacional (FÁVERO, 2002). O Ensino 
Médio gratuito para as mulheres só foi conquistado no fim do Império, antes, somente as escolas particulares 
ofereciam a modalidade. Ainda assim, no setor privado, as mulheres eram mantidas em escolas ou salas 
separadas, com ensinamentos diferenciados, voltados à vida doméstica, à maternidade e à religião. O 
conteúdo intelectual e científico ainda era exclusivamente masculino (NASCIMENTO, 2004). 
Vale destacar ainda que a chegadade imigrantes ao país também fez surgir escolas voltadas aos imigrantes. 
Algumas eram comunitárias, outras eram particulares, geralmente mantidas por entidades religiosas do país 
de origem ou laicas. No entanto, essa iniciativa não ocorreu com todos os imigrantes. Destacaram-se, nesse 
sentido, alemães, italianos, poloneses e japoneses (TRAVERSINI, 1998). 
ENSINO SUPERIOR: No período colonial, existiam no Brasil apenas cursos superiores de Filosofia e 
Teologia, oferecidos pelos jesuítas, pois Portugal impedia o desenvolvimento do Ensino Superior nas suas 
colônias, temendo contribuir com os movimentos de independência. 
Com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, a partir de 1808, o Ensino Superior passou a existir 
em instituições formais. Foram criadas as escolas de Cirurgia e Anatomia em Salvador (hoje Faculdade de 
Medicina da Universidade Federal da Bahia), a de Anatomia e Cirurgia, no Rio de Janeiro (atual Faculdade 
de Medicina da UFRJ) e a Academia da Guarda Marinha, também no Rio de Janeiro. Dois anos depois foi 
fundada a Academia Real Militar (atual Escola Nacional de Engenharia da UFRJ). Seguiram-se o curso de 
Agricultura em 1814 e a Real Academia de Pintura e Escultura. 
Foram propostos 24 projetos para criação de faculdades [e não universidades] no período 1808-1882, mas 
nenhum deles foi aprovado. Ao Brasil não interessava formação superior, que não trazia mais que formação 
a poucos profissionais liberais e prestígio social. Depois de 1850 observou-se uma discreta expansão do 
número de instituições de Ensino Superior, mas a capacidade de investimentos dependia do governo central 
e de sua vontade política (inexistente). Até o fim do século XIX existiam somente 24 estabelecimentos de 
Ensino Superior no Brasil, com cerca de 10 mil estudantes, em que se destacava a Faculdade de Medicina 
(CUNHA, 2007). 
Em 19 de abril de 1879, o ministro do Império, Leôncio de Carvalho, propôs a reforma do ensino primário e 
secundário no município da Corte, e do Ensino Superior em todo o Império, publicando o Decreto de nº 
7.247/1879. Todavia, o decreto somente reafirmou a liberdade de criação de escolas particulares quanto à 
oferta de Ensino Superior no país. Cabia ao Império a fiscalização para a garantia de moralidade e de 
condições de higiene nesses cursos (MOROSINI, 2005). 
As faculdades privadas que funcionassem regularmente pelo período consecutivo de sete anos, com outorga 
de grau acadêmico para 40 alunos no mínimo, receberiam do governo o título de “faculdade livre”, com todos 
os privilégios e vantagens outorgadas às escolas oficiais (BRASIL, 1879), § 1º, art. 21 do Decreto 7.247). 
Conforme Morosini (2005), a criação de cursos superiores no Brasil Império foi marcada por cursos isolados 
e profissionalizantes, desvinculando teoria e prática. Os principais cursos eram voltados ao ensino médico, 
engenharia, direito, agricultura e artes. A revisão e valorização do Ensino Superior só teve amplitude no país 
após a Proclamação da República. Ressalta-se ainda que essas instituições não eram universidades, estas 
só foram criadas a partir do século XX (CUNHA, 2007). 
Caro acadêmico! Apresentamos acima como se deu a formação das primeiras faculdades e universidades 
do Brasil; estas nomenclaturas são muito ouvidas em nossa época e, muitas vezes, não se sabe ao certo o 
que cada uma significa; agora, neste momento, aproveitamos para diferenciar no que consiste uma 
instituição de Ensino Superior que é denominada de ‘Universidade’, a que é chamada de ‘Faculdade’ e o 
que leva o nome de ‘Centro Universitário’. 
UNIVERSIDADE: oferece atividade de ensino, pesquisa e extensão à comunidade; não precisam de 
autorização do MEC (Ministério da Educação) para abrir cursos; precisam ter 1/3 do corpo docente de 
mestres e doutores, 1/3 dos docentes com carga horária integral e pelo menos quatro cursos de pós-
graduação stricto sensu. 
CENTRO UNIVERSITÁRIO: possui curso de graduação em várias áreas do conhecimento e autonomia para 
criar cursos no Ensino Superior, 1/3 do corpo docente de mestres e doutores e 1/5 dos docentes com carga 
horária integral. 
FACULDADE: instituições que oferecem um número mais reduzido de cursos e em uma determinada área 
do saber, não possuem autonomia para criar cursos sem a autorização do MEC e o corpo docente precisa 
ter pelo menos pós-graduação lato sensu. 
Agora lançamos o desafio para que você pesquise as diferenças que existem no que diz respeito às 
modalidades de pós-graduação, que são lato sensu e stricto sensu. Para tanto, acesse o site do Ministério 
da Educação, disponível em: <http://www.mec.gov.br/>. 
RESUMO DO TÓPICO 
Neste tópico você viu que: 
• A educação que prevaleceu na época colonial era oriunda do modelo institucional da Companhia de Jesus, 
idealizado por Santo Inácio de Loyola, por volta de 1534, a fim de expandir os dogmas e converter fiéis à 
Igreja Católica. 
• Os integrantes da Companhia de Jesus eram chamados de jesuítas e o método que utilizavam foi o da 
catequese, no qual a função social da educação era de caráter religioso, sendo os clérigos os principais 
educadores. 
• Com a expulsão dos jesuítas e o cumprimento das reformas pombalinas foram implantados, no Brasil, os 
modelos de educação que se encontravam em voga na época na Europa, que eram os dos pastores Andrew 
Bell e Joseph Lancaster, que haviam formulado uma modalidade de ensino que previa a indicação e a 
participação de estudantes mais avançados para atuar como tutores em meio às atividades pedagógicas 
realizadas pelos professores. 
• As reformas pombalinas estavam alinhadas aos valores iluministas, racionalistas e advogavam em defesa 
do Estado laico. 
• A estrutura educacional da época imperial pode ser sintetizada no modelo de aulas régias e liceus; as aulas 
régias correspondiam ao ensino primário, e os liceus ao ensino secundário; havia pouco interesse e 
investimento por parte do governo, pois as elites enviavam seus filhos para estudar na Europa. 
• Na época imperial formaram-se diversas instituições de ensino, porém extremamente elitistas, que 
desvalorizavam os trabalhos manuais e as artes, apresentavam restrições às mulheres, que eram mantidas 
em salas separadas e com conteúdos que tratavam da vida doméstica, maternidade e ensinamentos 
religiosos. 
• Tanto no período colonial como no imperial, o Brasil possuía um Ensino Superior insuficiente, isso se deve 
ao fato de que no período colonial foi impedida a criação de universidades. Somente no período imperial, a 
partir da existência de escolas normais, foram emitidos os primeiros títulos em Ensino Superior. 
AUTO ATIVIDADES 
UNIDADE 3 - TÓPICO 1 
1 As ordens religiosas mantidas pela Igreja Católica possuem uma incomensurável importância para o 
desenvolvimento educacional do Ocidente. Assim compreendendo, pergunta-se: qual é a importância dos 
jesuítas para a educação brasileira colonial? Assinale a alternativa correta: 
A) Os jesuítas foram apenas mais uma das ordens católicas a pisar o solo brasileiro, sem maior importância 
que as demais ordens religiosas que aqui trabalharam. 
B) Os jesuítas foram os principais religiosos a pregar o evangelho no Brasil colonial, respeitando a 
diversidade cultural e desejando catequizar os indígenas. 
C) Os jesuítas foram os principais religiosos a catequizar os indígenas. Sua ação os fez aprender o idioma 
tupi-guarani. A sua eficácia nas ações na América Portuguesa chegou a rivalizar com a Coroa, o que explica 
sua expulsão dos territórios ultramarinos portugueses no século XVIII. 
D) Os jesuítas não obtiveram êxito na sua pregação evangélica, em grande parte por se negarem a 
aprender o idioma indígena. Sua pouca produtividade no processo colonizador foi patente. Por isso, foram 
expulsos dos territórios ultramarinos portugueses pelo Marquês de Pombal, no século XX. 
 
2 As instituições de Ensino Superior foram criadas no Brasil apenas após a vinda da família real portuguesa, 
em 1808. Assim compreendendo, pergunta-se: qual éa importância da criação dos cursos superiores no 
Brasil, a partir da vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro? Assinale a alternativa correta: 
A) A criação de cursos superiores possibilitou a construção de um pensamento brasileiro autônomo, não 
mais ligado à antiga metrópole, a Inglaterra. 
B) A criação de cursos superiores no Brasil Império não alterou o panorama da educação brasileira. 
C) A criação de cursos superiores no Brasil, durante o século XIX, possibilitou uma ampliação do acesso 
dos brasileiros às faculdades. 
D) A criação de cursos superiores no Brasil só aconteceu com a fundação da Universidade de São Paulo, 
nos anos 1930. 
 
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UNIDADE 3 
 
O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
TÓPICO 2 
CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL A PARTIR DA PROCLAMAÇÃO DA 
REPÚBLICA E NOS PRIMEIROS ANOS DO SÉCULO XX. 
1 INTRODUÇÃO 
Segundo os estudiosos, foi somente a partir da época imperial e republicana que o Estado/governo passou 
a assumir a responsabilidade em prover formação escolar à população brasileira. Até então, quem 
coordenava e monitorava as atividades educacionais desenvolvidas no Brasil era a Igreja Católica, como foi 
estudado no Tópico 1 desta unidade. 
A educação no denominado período da República Velha passou por poucas transformações, se 
compararmos ao sistema educacional “herdado” do império. Grande parte das instituições de ensino ainda 
era oriunda do segundo reinado. A principal alteração é a que vincula a educação com as elites políticas. 
As elites políticas utilizavam-se da educação como uma ferramenta que alavanca as condições econômica 
e social na qual se encontravam e galgavam prestígio e integração em espaços e postos superiores. Porém, 
as novas acomodações do cenário político (monarquia para república) e da nova base econômica (elites 
das oligarquias agrícolas a elites urbano-industriais) promoveram abalos nas antigas estruturas sociais do 
país e a demanda por instituições que coordenassem a implantação de um sistema de ensino propriamente 
dito. 
O cenário político que se configurou entre os anos de 1930 e 1964 foi o de concorrência entre o modelo que 
havia sido hegemônico até os anos de 1930, ou seja, de base agrícola, rural, pecuarista, voltado à 
exportação e abastecimento do mercado internacional, e outro que almejava promover a industrialização da 
produção, a urbanização da população e a produção para abastecimento do mercado consumidor interno. 
Caro acadêmico! Prossiga na leitura, nas próximas páginas estaremos apresentando conteúdos que ilustram 
como se deu a ampliação e consolidação da educação pública e o processo de democratização da 
sociedade brasileira, e como este processo se inseria no contexto histórico e educacional mundial. 
2 ELEMENTOS EDUCACIONAIS DO BRASIL IMPÉRIO 
Por volta de 1870 ocorreram embates entre quem defendia as concepções cientificistas e os setores 
conservadores ligados ao ensino moralizante dominado pela Igreja Católica, o que gradualmente resultou 
na ampliação dos conteúdos e na incorporação de disciplinas como Ciências Físicas, História Natural, com 
a adoção dos preceitos metodológicos das chamadas “lições de coisas” e a inclusão de tópicos sobre 
História e Geografia Universal, História do Brasil e História Regional (BRASILO, 1997). 
Estas mudanças incluíram nas discussões temas sobre o fim da escravidão, a transformação do regime 
político do Império para a República e a retomada dos debates sobre o ensino laico, visando, cada vez mais, 
à separação entre o Estado e a Igreja Católica e sua ampliação para outros segmentos sociais. 
A precariedade das escolas elementares indicava que entre as propostas de ensino e sua efetivação na sala 
de aula existiu sempre um hiato. Em geral, as salas de aula eram palco de uma prática bastante simplificada. 
Por isso, as autoridades escolares exigiam dos professores o cumprimento mínimo da parte obrigatória 
composta de leitura e escrita, noções de Gramática, princípios de Aritmética e o ensino da doutrina religiosa. 
A Constituição Republicana, promulgada em 1891, indicava que o voto era universal, e não mais definido 
pela renda do cidadão. As condições para ser eleitor eram ter mais de 21 anos, do sexo masculino e ser 
alfabetizado. Porém, grande parte da população continuou analfabeta, mesmo a alfabetização significando 
um status social distinto, o de eleitor. Do ponto de vista das instituições de ensino, a Igreja Católica ainda 
possuía grande importância, sendo mantenedora de grande parte das instituições educacionais, porém, com 
a laicidade dos Estados Unidos do Brasil, algumas instituições educacionais protestantes e judaicas 
começaram a ser formadas, algumas delas até hoje presentes no campo educacional brasileiro. 
Os materiais didáticos eram escassos, restringindo-se à fala do professor e aos poucos livros didáticos que 
seguiam o modelo dos catecismos. No final do século XIX, com a abolição da escravatura, a implantação 
da República, o civismo, o patriotismo, a higiene, a preocupação pela racionalização das relações de 
trabalho e o processo migratório, atribuiu-se à educação o duplo papel de dar conta de uma formação ao 
mesmo tempo civilizatória e patriótica. 
 O ensino era dividido em primário, até a 4ª série. Posteriormente, viria o Curso Ginasial, de também 
quatro anos de duração. Havia a chamada Prova de Admissão ao Ginasial, um exame que selecionava os 
alunos mais capazes. E, por fim, o Clássico e o Científico, que corresponderiam ao atual Ensino Médio. O 
Clássico mais ligado a áreas humanas, e o Científico mais ligado às ciências exatas. Todavia, o único colégio 
responsável por ministrar o segundo grau em todo o território nacional era o Colégio D. Pedro II, da capital 
da República. 
Porém, alguns estabelecimentos de ensino das capitais dos principais estados, além de ter vários ginásios, 
pediam a equiparação ao Colégio Pedro II, possibilitando, assim, um aumento no número de matrículas. 
Contudo, o processo de equiparação se tratava de um procedimento difícil. Com isso era comum muitos dos 
filhos das elites estaduais estudarem como internos no Colégio Pedro II. 
O Colégio D. Pedro II representava uma instituição moderna, dividida em salas, pátios e jardins, que 
deveriam conter ambientes limpos e higiênicos, favoráveis às atividades físicas. Júnior (2012, p. 64) explica 
que: 
Essa organização do espaço físico possibilitou uma nova estrutura escolar, com a reunião de vários 
professores e de um corpo técnico-administrativo, formado por diretores e funcionários, exigindo, assim, a 
elaboração de regimes e cumprimentos de rotinas burocráticas. Ou seja, foram instituídos horários para 
início e fim das aulas, normas de conduta a serem seguidas por todos os alunos e professores, o surgimento 
da figura do diretor, como o principal cargo dentro desse universo. 
Júnior (2012) explica que foram incluídas novas disciplinas no currículo escolar, tais como ciências físicas e 
naturais, história, geografia, música, geometria, instrução moral, educação física, desenho, instrução cívica 
e trabalhos manuais, o que por sua vez ia ao encontro da proposta republicana de formar um cidadão apto 
a desempenhar diversas funções na sociedade, por isso a preocupação de aumentar as disciplinas 
obrigatórias. 
Tratou-se de uma união de disciplinas que envolviam tanto o trabalho mental (história, geografia, instrução 
moral e cívica etc.) como disciplinas voltadas para trabalhos manuais (música, desenho, etc.), o que 
culminaria nos preceitos de educação integral que almejava a educação física, intelectual e moral, defendida 
pelo teórico inglês Herbert Spencer, na obra intitulada "Educação intelectual, moral e física", publicada na 
segunda metade do século XIX. Rui Barbosa foi um dos intelectuais a recomendar a obra de Spencer à 
realidade brasileira. 
A herança do Império brasileiro em que a educação era direcionada para a elite (em 1900, 75% da população 
eraanalfabeta), valorizando o ensino secundário e superior em detrimento da formação primária e 
profissional, que atingia as camadas mais pobres, continuou no início dos primeiros governos presidenciais. 
O Código Epitácio Pessoa, criado em 1901, incluía a Lógica entre as matérias ministradas nas escolas 
imperiais e retirava a Biologia, a Sociologia e a Moral, acentuando a literatura e não a ciência. 
O cenário social dos primeiros anos da República brasileira foi o da entrada de fortes levas de imigrantes 
europeus (italianos, alemães, poloneses, japoneses, judeus alemães), que por sua vez atuariam tanto nas 
lavouras de café e regiões agrícolas do Brasil e nas vagas que as indústrias pudessem necessitar. 
A pintura de Tarsila do Amaral que apresentamos a seguir ilustra a diversidade social que passava a compor 
as cidades do Brasil da época. A concentração da população se deu nas principais capitais do Brasil, pois 
lá estavam as oportunidades de trabalho no campo da indústria, no comércio e nos espaços públicos das 
unidades do governo. 
FIGURA 27 - OPERÁRIOS. TARSILA DO AMARAL, 1933, ÓLEO SOBRE TELA 
As primeiras décadas do século XX foram de forte diversidade populacional. Nos espaços urbanos cresceu 
a organização de trabalhadores em sindicatos que militavam por melhores condições de trabalho, salário, 
direitos e moradia. A organização dos movimentos foi favorecida pela presença dos imigrantes europeus 
que já conheciam as lutas operárias e a organização sindical na Europa. Destaque do jornal Correio 
Paulistano abordando a grande confusão reinante no ano de 1917, em São Paulo, por conta da grande greve 
dos operários, que lutavam por melhores salários e condições mais dignas de trabalho, observe a manchete 
a seguir: 
FIGURA 28 - AGITAÇÃO SOCIAL NO COMEÇO DO SÉCULO XX 
APROPRIAÇÃO SIGNIFICATIVA 
Caro acadêmico! Aproveite este anúncio de jornal, que significa uma fonte primária, para se apropriar de 
outros elementos além da notícia sobre o movimento operário de São Paulo nos anos de 1917. Procure 
compreender também como ocorria a mobilização dos movimentos sociais, como se dava a reação das 
forças do governo diante das agitações sociais, assim como o jornal retratou o ocorrido, e, por fim os 
elementos ortográficos que faziam parte da língua portuguesa na época. 
O cenário político foi o de diversas correntes que chegavam da Europa ao Brasil, porém marcadas por 
confusões no que diz respeito às ideologias que cada uma pregava. Atente aos estudos e explicações de 
Carvalho (1987, p. 42): “Liberalismo, positivismo, socialismo, anarquismo misturavam-se e combinavam-se 
das maneiras mais esdrúxulas na boca e na pena das pessoas mais inesperadas”. 
Carvalho (1990) explica que após a Proclamação da República existiam no Brasil pelo menos três correntes 
políticas que disputavam a hegemonia no cenário político nacional, sendo elas: o liberalismo à americana, 
o jacobinismo à francesa e o positivismo, que travaram disputas acirradas ao longo dos primeiros anos da 
República, porém o ‘liberalismo americano’ sobressaiu-se. 
Os anos de 1920 foram marcados por crises generalizadas no cenário educacional. O modelo elitista entrou 
em crise, bem como outras áreas sociais: o controle político dos coronéis da cultura café com leite (São 
Paulo e Minas Gerais), as fraudes nas eleições (falsificações de documentos, mortos que votavam e o voto 
exclusivo para homens maiores de 21 anos), a classe média oprimida, a crise econômica do café nos 
mercados internacionais, tudo isso gerou uma frustração no ideal democrático. 
Este contexto culminou na Semana de Arte Moderna, em 1922, com representantes das artes plásticas, 
música, arquitetura e literatura propondo uma cultura autenticamente brasileira. Essas crises 
desencadearam muitas discussões polêmicas, que resultaram na fundação da Associação Brasileira de 
Educação (ABE), em 1924. 
Em conferências para debater a educação, sugestões de profissionais renomados foram levantadas pelo 
jornal “O Estado de São Paulo”, em 1926, dirigido por Fernando Azevedo, em relação a soluções para o 
sistema educacional, muitas das quais colocadas em prática. Nas reformas educacionais em diversos 
estados brasileiros, durante toda a década de 1920, melhorou-se consideravelmente o ensino primário e 
secundário, ainda responsabilidades dos estados (destacam-se aqui as iniciativas dos estados de São 
Paulo, Ceará, Bahia, Minas Gerais e, sobretudo, do Distrito Federal, de maior repercussão). 
Entre os principais intelectuais que pensaram a educação brasileira no período entre a Proclamação da 
República e a Revolução de 1930, está a figura de Antônio Carneiro Leão. Formado pela prestigiosa Escola 
de Direito do Recife, suas ações como educador podem ser apontadas tanto na produção literária quanto 
na ação política. Enquanto produtor de livros sobre temáticas educacionais, sua estreia foi em 1909, com o 
livro de título Educação. 
Em 1917, Leão publicou O Brasil e a educação popular. Morto em 1966, recebeu importantes títulos 
honoríficos no estrangeiro, como Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Paris (Sorbone) e pela 
Universidade Autônoma do México. Quando na função de gestão, foi secretário no então Distrito Federal 
(Rio de Janeiro) e em Pernambuco, oportunidades nas quais se caracterizou por abrir escolas. 
Foi um momento de profundas mudanças em meio à sociedade brasileira, quando ocorreu ampla 
modernização nas principais cidades/capitais do Brasil, arruamentos e sistemas de transporte, reformulação 
de prisões, hospitais e escolas, tendo como referência os modelos e métodos positivistas e científicos 
europeus. Toda a movimentação pela qual o Brasil passou ficou também conhecida como belle époque (bela 
época). 
Conforme explica Foucault (1987), a modernização poderia ser traduzida como a ideologia de controle, que 
se multiplicou por todo o corpo social, formando o que se pode chamar de sociedade disciplinar. A ideologia 
de controle abrangia hospitais, manicômios, prisões, escolas, praças, cemitérios, entre outros espaços 
públicos de convivência, de circulação, de comum uso da população; e seria instalado um regime que 
invadiria e vigiaria o comportamento e os costumes dos indivíduos nestes espaços. 
As posturas da racionalidade organizacional e positivista foram e ainda são possíveis de se observar na 
organização interna das escolas, nos espaços das salas de aula; nos hospitais, com os leitos de internação; 
no exército, na apresentação dos recrutas; nos restaurantes, em torno dos buffets; nos bancos e no 
comércio, no momento do pagamento de produtos ou serviços; e até no interior das igrejas, na disposição 
dos bancos para os fiéis se acomodarem. 
Assim como a sociedade, a educação brasileira passou por profundas transformações após a Revolução de 
1930. A partir desta data, tivemos várias ações que viabilizaram uma melhora no nível e acesso à educação 
no Brasil. Uma importante medida foi a criação, em 1931, do Ministério da Educação e da Saúde. 
Posteriormente, em 1932, tivemos o Manifesto dos Pioneiros da Nova Educação. O Manifesto teve ampla 
repercussão nos meios políticos-educacionais, e foi um importante marco para a ampliação do acesso e 
aumento da qualidade educacional. Porém, podemos relacionar este manifesto às transformações sociais 
por que passou o Brasil nos anos 1920. 
Júnior (2012) explica que os fundamentos da Escola Nova consistiam em ampliar a importância dos 
processos de aprendizagem e amenizar a ênfase que era atribuída ao grande número de conteúdos 
lecionados em sala de aula. 
2.1 DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA APÓS OS ANOS DE 1930 
As mudanças educacionais também alteraram as características políticas brasileiras. Durante a década de 
1920 ocorreu o Movimento dos 18 do Forte, também chamado de Revolta do Forte de Copacabana (1922). 
Este movimento desejava a queda da República Velha, ou seja, o fim do poder nas mãos dos coronéis da 
cultura café com leite. Sob o comando do Capitão Euclides Hermes daFonseca, esse movimento, isolado e 
facilmente controlado pelo governo, originou, com muitas vítimas, um sentimento patriótico que segmentou 
outras revoltas, como a Coluna Prestes (uma marcha de soldados pelo Brasil, que durante dois anos e meio 
(1924-1927) tentou a adesão da população contra a opressão do governo, o voto secreto e ensino primário 
público e gratuito para todos). Liderada por Luís Carlos Prestes, também chamado de Cavaleiro da 
Esperança, originou o ideal do Soldado Cidadão e culminou na criação dos ideais da Revolução de 1930, 
que eclodiu logo em seguida. 
Uma das importantes medidas das elites brasileiras foi a de buscar instituir universidades no país. Uma das 
motivações foi a visita, em 1922, do rei Alberto, da Bélgica, ao Brasil. Quando quis visitar a universidade 
brasileira, foi informado de que no Brasil não existiam universidades. 
Além disso, contribuiu para a Revolução de 1930, no que se refere à educação, a realização de diversas 
reformas de abrangência estadual, como a de Lourenço Filho, no Ceará, em 1923; a de Anísio Teixeira, na 
Bahia, em 1925; a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em 1927; a de Fernando de 
Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928, e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 
1928. 
Em 1932, um manifesto denominado Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, escrito durante o governo de 
Getúlio Vargas, por diferentes segmentos da elite intelectual, inclusive de posicionamentos diferentes, 
vislumbrava interferir na educação do país, revolucionando-a. Entre os 26 intelectuais que assinaram o 
Manifesto destacam-se Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Antônio F. 
Almeida Junior, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles. Além de criticar o 
ensino e sua organização, sugeria um plano educacional que se propunha público, laico, obrigatório e 
gratuito. 
Segundo Aranha (2006, p. 263), 
[...] um movimento que defendia a educação ativista, a partir da renovação da pesquisa pedagógica, na 
busca teórica dos fundamentos filosóficos e científicos de uma prática educativa mais eficaz. Ao lado de 
uma atenção especial na formação do cidadão em uma sociedade democrática e plural – que estimulava o 
processo de socialização da criança –, havia o empenho em desenvolver a individualidade, a autonomia, o 
que só seria possível em uma escola não autoritária que permitisse ao educando aprender por si mesmo, e 
aprender fazendo. 
Embora duramente criticado pela Igreja, detentora de expressiva parcela de escolas da rede privada na 
sociedade, o manifesto conseguiu orientar (até os dias de hoje) algumas mudanças na concepção 
pedagógica e na forma de olhar para o ensino (SANDER, 2007). Observe um trecho do documento que 
apresentamos a seguir: 
Ora, se a educação está intimamente vinculada à filosofia de cada época, que lhe define o caráter, rasgando 
sempre novas perspectivas ao pensamento pedagógico, a educação nova não pode deixar de ser uma 
reação categórica, intencional e sistemática contra a velha estrutura do serviço educacional, artificial e 
verbalista, montada para uma concepção vencida. Desprendendo-se dos interesses de classes, a que ela 
tem servido, a educação perde o "sentido aristológico", para usar a expressão de Ernesto Nelson, deixa de 
constituir um privilégio determinado pela condição econômica e social do indivíduo, para assumir um "caráter 
biológico", com que ela se organiza para a coletividade em geral, reconhecendo a todo o indivíduo o direito 
a ser educado até onde o permitam as suas aptidões naturais, independente de razões de ordem econômica 
e social. A educação nova, alargando a sua finalidade para além dos limites das classes, assume, com uma 
feição mais humana, a sua verdadeira função social, preparando-se para formar "a hierarquia democrática" 
pela "hierarquia das capacidades", recrutadas em todos os grupos sociais, a que se abrem as mesmas 
oportunidades de educação. Ela tem, por objeto, organizar e desenvolver os meios de ação durável com o 
fim de "dirigir o desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma das etapas de seu 
crescimento", de acordo com uma certa concepção do mundo. [...] A diversidade de conceitos da vida 
provém, em parte, das diferenças de classes e, em parte, da variedade de conteúdo na noção de "qualidade 
socialmente útil", conforme o ângulo visual de cada uma das classes ou grupos sociais. A educação nova 
que, certamente pragmática, se propõe ao fim de servir não aos interesses de classes, mas aos interesses 
do indivíduo, e que se funda sobre o princípio da vinculação da escola com o meio social, tem o seu ideal 
condicionado pela vida social atual, mas profundamente humano, de solidariedade, de serviço social e 
cooperação. (MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA, Finalidades da Educação, 1932). 
A crítica de que a educação brasileira servia apenas a um grupo social, às elites, marca o tom do manifesto, 
e em contrapartida seus autores defendem uma educação que dê conta de desenvolver competências e 
habilidades a todo e qualquer indivíduo, ou seja, que tenha alcance universal e que seja democrática. Os 
autores do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, a fim de alcançar os objetivos e abordagem que 
estavam reclamando à educação brasileira, estruturaram um plano educacional nos seguintes termos: 
A estrutura do plano educacional corresponde, na hierarquia de suas instituições escolares (escola infantil 
ou pré-primária; primária; secundária e superior ou universitária) aos quatro grandes períodos que apresenta 
o desenvolvimento natural do ser humano. É uma reforma integral da organização e dos métodos de toda a 
educação nacional, dentro do mesmo espírito que substitui o conceito estático do ensino por um conceito 
dinâmico, fazendo um apelo, dos jardins de infância à Universidade, não à receptividade mas à atividade 
criadora do aluno. A partir da escola infantil (4 a 6 anos) à Universidade, com escala pela educação primária 
(7 a 12) e pela secundária (l2 a 18 anos), a "continuação ininterrupta de esforços criadores" deve levar à 
formação da personalidade integral do aluno e ao desenvolvimento de sua faculdade produtora e de seu 
poder criador, pela aplicação, na escola, para a aquisição ativa de conhecimentos, dos mesmos métodos 
(observação, pesquisa, e experiência), que segue o espírito maduro, nas investigações científicas. A escola 
secundária, unificada para se evitar o divórcio entre os trabalhadores manuais e intelectuais, terá uma sólida 
base comum de cultura geral (3 anos), para a posterior bifurcação (dos 15 aos 18), em seção de 
preponderância intelectual (com os 3 ciclos de humanidades modernas; ciências físicas e matemáticas; e 
ciências químicas e biológicas), e em seção de preferência manual, ramificada por sua vez, em ciclos, 
escolas ou cursos destinados à preparação às atividades profissionais, decorrentes da extração de matérias-
primas (escolas agrícolas, de mineração e de pesca) da elaboração das matérias-primas (industriais e 
profissionais) e da distribuição dos produtos elaborados (transportes, comunicações e comércio). 
(MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA, Plano de reconstrução educacional, 1932). 
Os pioneiros reclamam por uma educação criativa, não estática, que esteja atenta à formação integral dos 
estudantes, que abranja o campo científico e prático, que associe atividades manuais e atividades 
intelectuais para os temas de cultura geral, humanidades e ciências cada vez mais ramificadas e 
aprofundadas. 
Com métodos ativos, com aulas mais dinâmicas, centradas nas atividades do aluno, com a realização de 
trabalhos concretos como fazer maquetes, visitar museus, assistir a filmes, comparar fatos e épocas, 
coordenar os conhecimentos históricos aos geográficos, quando o que predominava era a memorização e 
as festividades cívicas, que passaram a ser parte fundamental do cotidiano escolar. Porém, a prática no 
interior das salas de aula continuousendo a de recitar as “lições de cor”, com datas e nomes dos 
personagens considerados mais significativos da História (PCN, 1997). 
FIGURA 29 - INTEGRANTES DO MANIFESTO DOS PIONEIROS DA ESCOLA NOVA, 1936 
Em 1930 havia sido criado o Ministério da Educação e Saúde. Da junção de diversas instituições foram 
fundadas algumas universidades. As primeiras a serem instituídas foram a Universidade do Distrito Federal, 
no Rio de Janeiro, e a Universidade de São Paulo (USP). Grande parte dos professores contratados eram 
estrangeiros, vieram ao Brasil para lecionar nos cursos recém-criados. A Universidade do Distrito Federal 
foi fechada por problemas políticos advindos do Estado Novo. Em seu lugar foi inaugurada a Universidade 
do Brasil, que após o golpe militar de 1964 foi rebatizada como Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
A tradição colonial dos filhos das elites irem para a Europa estudar, que no império “diminuiu”, após os anos 
1930 diminuiu ainda mais. A Constituição de 1934, promulgada por Getúlio Vargas, apontava a necessidade 
de se implantar um Plano Nacional de Educação, o qual estabeleceu competências no interior dos níveis 
administrativos, regulamentou e fixou os financiamentos de cotas específicas de verbas à federação, aos 
estados e aos municípios. Por conseguinte, implantou-se a gratuidade, a obrigatoriedade e o ensino religioso 
tornou-se optativo. 
Na Constituição de 1937 avançou-se no sentido de que se incluiu o ensino profissionalizante e de que os 
grupos industriais e os sindicatos deveriam criar escolas de aprendizagem e aperfeiçoamento em áreas 
especializadas para atender aos trabalhadores sindicalizados, aos seus familiares e à comunidade. Na 
mesma Constituição constava que os conteúdos de educação moral e política se tornavam obrigatórios nos 
currículos escolares. 
Com o fim do Estado Novo, tivemos uma grande disputa política, que caracterizou os debates sobre a 
educação entre 1945 e 1964: a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Uma das 
principais polêmicas era se o ensino deveria ser laico ou religioso. Polêmicas que eram refletidas nas 
disputas eleitorais para a Presidência da República. 
Entre os presidentes que se destacaram no período em relação à educação, podemos destacar os governos 
de Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek. No governo Getúlio Vargas tivemos a fundação de instituições 
que auxiliaram sobremaneira a expansão do Ensino Superior e de pós-graduação no Brasil: a fundação da 
CAPES e do CNPq. O CNPq é um órgão, de título Central Nacional de Pesquisas, e foi idealizado pelo 
Almirante Álvaro Alberto, tendo como função fomentar a pesquisa científica no Brasil. A CAPES é a 
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e tem como função desenvolver a pós-
graduação no país. 
Acesse os sites: 
CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior: <http://www.capes.gov.br/>. 
CNPQ: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico: <http://www.cnpq.br/>. 
Estes órgãos foram fundamentais para o aumento das universidades nos diversos Estados brasileiros, pois 
foram os responsáveis por formar os professores de nível superior. A educação no governo Juscelino 
Kubistchek foi um dos temas dos Planos de Metas. Uma das metas era, justamente, construir uma 
universidade federal em cada capital de estado da federação. O que possibilitou uma melhora geral no 
ensino brasileiro, ao aumentar as portas de acesso ao Ensino Superior. 
Caro acadêmico! Para que você possa compor uma análise mais próxima das condições educacionais do 
país e de sua população, observe o quadro a seguir, procurando perceber relações que existem entre as 
décadas, a relação que existe entre o local de residência (rural ou urbana), a localização das escolas 
(urbana) e o número de analfabetismo da população brasileira: 
QUADRO 7: Números da população, residência e índice de analfabetismo, Brasil, 1920-1950 
O quadro ilustra os desafios que existiam em termos de percentuais de analfabetismo na primeira metade 
do século XX. Os dados presentes nas décadas de 1900 e 1920 ilustram os resultados obtidos por meio das 
políticas de governo desde a implantação da República, que foi de aumento dos índices de analfabetismo, 
bem como as políticas de modernização das instituições e das políticas de urbanização da população; os 
dados precisam ser pensados num contexto social mais amplo, que foi o de aumento da população, através 
de nascimentos e das ondas de imigrações europeias e asiáticas, dados que foram responsáveis por originar 
boa parte dos objetivos dos intelectuais do Movimento dos Pioneiros da Educação Nova. 
Os dados das décadas de 1940 e 1950 ilustram os resultados que foram alcançados pelas políticas 
educacionais de governo a partir dos anos de 1930, ou seja, em meio ao governo de Getúlio Vargas, da 
criação do MEC e pelo Movimento dos Pioneiros da Escola Nova. Entre os anos de 1920 a 1950, ou seja, 
num intervalo de 30 anos, o alcance da redução do índice de analfabetismo foi de quase 20%. 
Não se pode esquecer que as unidades escolares não conseguiam atender aos brasileiros que residiam nas 
regiões mais afastadas dos centros urbanos e das capitais do país, e que os números de analfabetismo 
passaram a ser alterados significativamente a partir do momento em que a população passou a migrar e 
residir nas cidades. 
2.2 O LEGADO DE ANÍSIO TEIXEIRA: O DEFENSOR DA ESCOLA NOVA NO BRASIL 
Anísio Teixeira (1900-1971), nascido na cidade de Caetité, no interior da Bahia, foi um jurista, intelectual e 
educador responsável por difundir os conceitos e valores do pedagogo norte-americano John Dewey e da 
Escola Nova, com quem teve contato e firmou amizade em uma viagem feita aos Estados Unidos da 
América. No retorno ao Brasil, se dedicou a viabilizar a adaptação à realidade brasileira e a vislumbrar a 
concretização prática de tais ideais, por meio da qual preconizava o ensino público, gratuito, obrigatório, 
integral e laico. 
Contribuiu significativamente na reforma do ensino no Estado da Bahia e no Rio de Janeiro, e em 1935 foi 
o personagem fundamental na consolidação da Universidade do Distrito Federal-UDF, na cidade do Rio de 
Janeiro, capital do Brasil na época. A universidade funcionava com as escolas de Ciências, Educação, 
Economia e Direito, Filosofia e Instituto de Artes, e contou com a colaboração dos professores e intelectuais 
franceses Eugène Albertini, Henry Hauser, Jacques Perro. Porém, em 1937, em meio a agitações políticas, 
a universidade foi fechada, os estudantes e o quadro de professores foram transferidos para a Faculdade 
Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, cuja orientação ideológica foi católico-cristã. 
Caro acadêmico! Deixemos este dissabor de lado e nos centremos um pouco mais na produção intelectual 
de Anísio Teixeira. Entre os principais trabalhos publicados tem-se o “A Educação não é privilégio”, publicado 
em 1953, que consiste em uma reunião de vários textos; “A escola pública, universal e gratuita”, de 1956; 
“A educação e a formação nacional do povo brasileiro”, de 1959; “A educação é um direito”, de 1968. 
Para Teixeira é fundamental o financiamento estatal do ensino, pois este deve atender à esfera pública. A 
escola primária é para o autor a mais importante escola do sistema de educação, ao ponto de que o Ensino 
Superior existe porque o homem foi capaz de inventar a arte da escrita e porque as pessoas a dominam. A 
capacidade de ler, escrever, somar, subtrair, dividir e multiplicar possibilitou todo o desenvolvimento do dito 
mundo ocidental. É realmente fundamental termos o domínio destas simples, pequenas e fundamentais 
operações, pois exercem papel primordial no exercício e atividade de libertação do homem (FREIRE, 1987). 
Anísio Teixeira foi autor de importantes livros educacionais, como “A Educação Não é privilégio”, no qual 
apontou as principais deficiências e desafios da educação brasileira. Em especial, as dificuldades da 
formação dos professores,e a necessidade de se ter uma formação universitária para os docentes do ensino 
primário. 
Para Teixeira, era muito grave que o ensino primário no Brasil não fosse tratado como prioridade, denunciava 
que o país contava com centros universitários comparados com os do ‘primeiro-mundo’, porém não 
conseguia oferecer a toda população ensino público elementar com qualidade. O modelo ideal de escola 
pública ao qual se dedicou Anísio foi o de escola integral. Para dar conta de tal tese ele fundou, em Salvador, 
uma escola modelo chamada Carneiro Ribeiro. 
O professor Anísio foi o responsável por uma das principais experiências educacionais: A Escola de Ensino 
Integral Carneiro Ribeiro, instalada em um dos bairros mais pobres de Salvador, a capital baiana, e seguindo 
a inspiração teórica do escolanovismo norte-americano de John Dewey, sua proposta era a de uma escola 
na qual as crianças ficavam o dia inteiro na unidade educacional, tendo, além do ensino formal, aulas com 
capacitação técnica ou atividades lúdicas, como carpintaria, música e teatro. Nesta escola, o horário de 
funcionamento foi dividido em dois períodos, um de instrução em classe, outro de trabalho, educação física, 
atividades propriamente sociais e atividades artísticas; funcionava como um semi-internato, recebendo os 
alunos às 7 horas e 30 minutos e devolvendo-os às famílias às 4 horas e 30 minutos da tarde. 
O projeto de Anísio Teixeira de educação integral foi revisitado por diversos estudiosos e lideranças políticas, 
porém, na época, foi taxado de marxista, comunista e subversivo. Sempre se apresentou muito consciente 
da dependência e influência estrangeira sobre a intelectualidade brasileira, diante da qual se posicionava no 
sentido de que, apesar de havermos copiado as instituições políticas do modelo da América do Norte, 
havíamos buscado inspiração ao campo educacional na França e demais países da Europa (TEIXEIRA, 
1977). 
Entre as críticas que foram feitas ao pensamento e projeto de Anísio tem-se a do governo do general Ernesto 
Geisel (1997, p. 322), que se manifestou nos seguintes termos: 
É uma escola que se propõe substituir o lar. A família só vai tomar conhecimento da criança praticamente 
na hora em que ela vai dormir, e talvez aos sábados e domingos. O resto da semana as crianças estão, pelo 
menos teoricamente, desligadas dos pais. Pode ser que eu esteja pensando como velho, avesso ao que é 
considerado moderno hoje em dia, mas creio que não é bom sistema. Dizem que é uma ideia antiga do 
Anísio Teixeira, que foi um grande educador. Mas não se pode isolar um problema no Brasil... As coisas 
estão interligadas. 
O modelo de ensino proposto por Teixeira nos anos de 1950 foi responsável também por denunciar a 
fragilidade do contexto econômico e social das famílias que precisavam trabalhar para garantir o sustento 
da casa, deixando assim os filhos vulneráveis e expostos a todos os tipos de infortúnios e desvios possíveis. 
Como reflexo e resultado de uma boa educação primária teríamos a possibilidade de mobilidade social, pois 
no modelo liberal de vida a competição está presente, sendo que todos os cidadãos brasileiros teriam a 
mesma possibilidade inicial de desenvolvimento pessoal, onde teríamos o perfeito desenvolvimento do ideal 
liberal. Porém, as elites jamais irão permitir que tal fato ocorra, observe as palavras do próprio Anísio 
Teixeira: 
Ora, a educação não foi considerada necessidade para o funcionamento da nova sociedade. Ficara relegada 
também à iniciativa privada. E assim aos que tivessem recursos para consegui-la. Deste modo, a sociedade 
democrática pode ir aos poucos se fazendo oligárquica, e deste modo, aristocrática” (TEIXEIRA, 1977, p. 
153). 
A ideia de ensino integral, proposta por Anísio Teixeira, foi posta em prática no Rio de Janeiro nos anos 
1980, quando Darcy Ribeiro ocupou o cargo de secretário de Educação. Foram criados os chamados CIEPs 
- Centros Integrados de Educação Pública, que nada mais eram que o estabelecimento de uma rede de 
ensino nos moldes da experiência do Colégio Carneiro Ribeiro, de Salvador. Porém, devido a problemas 
políticos, a iniciativa não prosperou. Anísio Teixeira morreu em um provável atentado à sua vida, sendo 
achado morto na cisterna de um prédio no Rio de Janeiro, em 1971, durante a vigência da ditadura militar. 
A proposta de Teixeira é frequentemente mencionada também em discursos políticos eleitorais, em especial 
no que diz respeito ao projeto de educação integral, porém em poucas cidades foi levada a cabo. 
Uma indicação para saber mais sobre a vida e a importância do legado de Anísio Teixeira para a educação 
brasileira é o site da Biblioteca Virtual Anísio Teixeira, disponibilizado pela Universidade Federal da Bahia. 
Biblioteca Virtual Anísio Teixeira: <http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/>. 
RESUMO DO TÓPICO 
Ao longo desta unidade você pôde estudar que: 
• O contexto histórico e filosófico da educação brasileira dos primeiros anos da Repúb lica consistiu na 
continuidade da herança do legado da época imperial, ou seja, em que as elites se apropriavam da educação 
como forma de manutenção do status e da condição econômica. 
• O ensino dos primeiros anos da República foi dividido em ensino primár io (até a 4ª série), ginásio (quatro 
anos após o primário) e clássico e científico (Ensino Médio, o primeiro com ênfase em ciências humanas e 
o segundo às ciências exatas). 
• A partir dos anos de 1920 passam a ocorrer mudanças significativas nas estruturas políticas, sociais e 
educacionais, que abalam as estruturas nas quais o contexto histórico e filosófico brasileiro havia se 
sustentado até então. 
• Os anos de 1920 foram marcados por forte organização de movimentos sociais, entre eles o movimento 
operário e rupturas no cenário político, em que a política do café com leite foi abalada pela crise interacional 
e pelo movimento político liderado por Getúlio Vargas. 
• A Escola Nova norte-americana foi adaptada na realidade brasileira dos anos de 1920 por meio do 
movimento ‘pioneiros da nova escola’. 
• A partir dos anos de 1930, em meio ao governo de Getúlio Vargas, foram criados o Ministério da Educação 
e Saúde, o Plano Nacional de Educação, a CAPES, o Cnpq e a Universidade de São Paulo. 
• Nos anos de 1920, o percentual de analfabetos chegava a 69,9%, isso se deve ao fato de que o ensino 
priorizava a formação das elites e as unidades escolares localizavam-se nas principais cidades e capitais 
do Brasil. 
• Anísio Teixeira, em sua obra “A educação não é privilégio”, defendia os valores da matriz de pensamento 
norte-americana ‘escola nova’, que eram os de ensino público, gratuito, obrigatório, integral e laico, que 
compreendia fortemente o compromisso do Estado/nação na oferta de ensino à população brasileira. 
AUTO ATIVIDADES 
UNIDADE 3 - TÓPICO 2 
1 Anísio Teixeira, que defendia a adaptação na realidade brasileira do modelo norte-americano conhecido 
como ‘A Escola Nova’, foi um dos principais intelectuais a reclamar por mudanças no campo da educação, 
sendo muitas vezes mal compreendido e vítima de perseguições. No que diz respeito às sugestões de 
Teixeira para a formação e qualificação dos profissionais que atuavam na educação, é correto afirmar que: 
A) Os professores de educação primária deveriam possuir formação em Ensino Superior. 
B) Os professores de educação secundária deveriam possuir formação em ensino técnico. 
C) Os professores em educação primária deveriam possuir formação em Ensino Médio. 
D) Os professores em educação secundária deveriam possuir formação em nível de pós-graduação. 
2 Adaptado de ENADE, Pedagogia, 2011. 
John Dewey foi um filósofo, psicólogo e pedagogo, nascido nos Estados Unidos da América, que se 
posicionou a favor do conceito de Escola Ativa, na qual a educação do estudante deve ser voltada ao pensar, 
transformar uma capacidade natural em hábito, por meio de uma atividade, de forma cooperativa. O 
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que ocorreu em 1932,

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