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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA: UMA ANÁLISE DO DIREITO CIVIL1 Beatriz Stefanny Fernandes de Melo2 Gabriel José Barradas Mota² Gabrielle Santos Nogueira³ Pamela Samires Morais Lopes⁴ RESUMO: O presente ensaio versa acerca de matérias fundamentais do Direito Civil, as quais se configuram como "Prescrição" e "Decadência", esses que são mecanismos dos fatos jurídicos (em sentido estrito) ordinários. Assim, o artigo visa a colimada conceitualização, as previsões legais, os prazos e suas nuances, e as alegações jurídicas concernentes à prescrição; além disso, há, também, a conceitualização, o reconhecimento judicial e a nulidade referentes à decadência. Destarte, fala-se da introdução no meio jurídico desses mecanismos do direito civil, bem como há demonstrações e asserções sobre o "direito subjetivo" e o "potestacional". Ademais, é de comum entendimento que tais matérias são comumente confundidas entre si, pois ambas estão concatenadas à inércia de um sujeito para exercer um direito e o decurso do tempo relacionada a ela. Em virtude disso, este trabalho pretende evitar os estorvos entre esses dois elementos jurídicos e, também, facilitar as diferenças entre eles. Palavras-chave: Direito. Civil. Prescrição. Decadência. Subjetivo. Potestacional. Tempo. 1 Trabalho apresentado à disciplina Teoria do Direito Civil, ministrada pelo professor Denis Leite Rodrigues, como requisito total da 2ª avaliação. 2 Discente regularmente matriculado na graduação em Direito na Universidade Federal do Pará/ICJ/FAD, sob o número de matrícula 202206140198. ² Discente regularmente matriculado na graduação em Direito na Universidade Federal do Pará/ICJ/FAD, sob o número de matrícula 202206140058 ³ Discente regularmente matriculado na graduação em Direito na Universidade Federal do Pará/ICJ/FAD, sob o número de matrícula 202206140199 ⁴ Discente regularmente matriculado na graduação em Direito na Universidade Federal do Pará/ICJ/FAD, sob o número de matrícula 202206160183 Introdução: O tempo disciplina e regula as ações humanas, bem como as relações entre os indivíduos, tanto na esfera privada, quanto na esfera pública, e no direito não poderia ser diferente. O exercício de um direito não pode ficar pendente de forma indefinida no tempo, sendo este um dos fatores que determina o nascimento e a extinção de um direito. Destarte, as obrigações não são eternas, e nesse sentido, os institutos de prescrição e decadência têm por objetivo a segurança jurídica e a certeza da estabilidade e pacificação social, de maneira a impedir a eternização de litígios, pois são hipóteses de causas extintivas de direito. Portanto, o titular do direito deve exercê-lo dentro de um determinado prazo conforme previsto em lei, tendo em vista que "dormientibus non succurrit jus" (O Direito não socorre aos que dormem). Houve um tempo em que as ações eram perpétuas e os interessados poderiam recorrer em qualquer temporalidade. Foi, então, que a prescrição surgiu no Direito Romano, com a finalidade de mitigar os rigores do ius civile. Ademais é no direito pretoriano que surge a prescriptio temporalis, em que um demandado era liberado do processo caso o demandante não houvesse ajuizado seu direito no prazo de um ano (annus utilis), sendo que, com os imperadores a prescrição de ações reais sobre imóveis era no prazo de 10 anos no caso dos presentes e 20 anos no caso dos ausentes. Já na época de Teodósio as ações prescreviam em um prazo de 30 anos o que era denominado de longissimum tempus. No Brasil, o Instituto da prescrição foi incorporado no Código Civil de 1916, mas foi a partir do Código Civil de 2002 (o que ainda está em vigência) que passou a haver a previsão expressa da decadência, delimitando diferenças entre os institutos, em que cada um tem seus próprios conceitos e aplicabilidades, que serão observadas ao longo deste artigo. 1. PRESCRIÇÃO 1.1. Conceito O Instituto da pretensão está intimamente ligado à pretensão e ao diretor subjetivo. Com base nisso, cabe, primeiramente, dissertar acerca dessas questões. Nesse sentido, o direito subjetivo é caracterizado como aquele que permite que haja exigência da outra parte uma obrigação, ou seja, uma pretensão. Sob essa análise, o indivíduo tem seu direito material violado, o que torna faz surgir uma pretensão, o que está informado no art. 189 do Código Civil. Para tanto, segundo Maria Helena Diniz ⁵3 "A prescrição tem por objeto a pretensão à prestação devida em virtude de um descumprimento legal ou obrigacional, que gera o direito para obter a tutela jurisdicional (CC, art. 189)33; por ser uma exceção oposta ao exercício da ação (em sentido material), tem por escopo extingui-la, ante a inércia do titular, deixando escoar o prazo legal para exigi- la, tendo por fundamento um interesse jurídico-social." Todo cidadão possui um prazo prescricional para buscar seu direito, que normalmente começa no momento em que seu direito é violado, nascendo para o titular a pretensão (Art. 189, CC). Contudo, graças ao princípio actio nata, afirma-se que o prazo só começa quando a pessoa lesada tem conhecimento que seu direito foi violado. Nesse viés, uma pessoa que detém o direito subjetivo, pode exigir da outra parte uma prestação ou dever, obrigando-a a fazer algo ao seu favor, porém, caso a outra parte não cumpra com sua obrigação, a pessoa que teve seu direito violado tem o direito de pretensão, que consiste em exigir por meio de uma ação judicial que a outra parte cumpra sua obrigação. No entanto, uma vez que não esteja dentro do prazo fixado na lei, o indivíduo lesado perde a possibilidade de ter um resultado favorável em uma ação judicial. Portanto, prescrição é quando a parte lesada perde seu direito de pretensão de um direito subjetivo, assim, o que se extingue é o direito a pretensão e não o direito em si, com a parte lesada perdendo o direito de exigir judicialmente o cumprimento de uma prestação ou obrigação da parte que violou seu direito. Desta forma, pode-se dizer que a prescrição tem por objetivo exatamente extinguir o direito à pretensão da parte que teve seu direito violado, justamente pelo fato dela não ter exercido sua pretensão no prazo fixado na lei, sendo a prescrição um dos institutos que leva ao fim de um direito e a garantia de segurança nas relações sociais, assim como a decadência, que será abordada mais para frente neste artigo. Ademais, é importante ressaltar que a prescrição ainda pode ser distinguida em dois termos: a prescrição extintiva, onde há perda da pretensão jurídica em decurso do prazo previsto na lei, e a prescrição aquisitiva, que trata da hipótese contrária, a qual haverá a aquisição de um direito real sobre um bem pelo decurso do prazo previsto em lei. Nesta última, a aquisição da propriedade 35 Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. Ed: 29. São Paulo: Saraiva, 2012, p.431. pode se dar por usucapião, onde a pessoa que exerce a posse prolongada do bem pode obter a sua propriedade, desde que atenda os requisitos legais. 1.2. Previsões legais Para que ocorra a prescrição é preciso atender basicamente a 3 requisitos: a violação de um direito, a negligência ou inércia do titular do direito que não exerceu a sua pretensão no tempo previsto em lei (após a violação desse direito) e a observância do prazo para determinar a prescrição. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita (Art.193, CC), pode ser renunciável, de maneira expressa ou tácita, desde que não prejudique terceiros, depois que ocorrer a prescrição, a fim de não prejudicar sua eficácia prática, tudo conforme previsto no artigo 191 do Código Civil brasileiro, e a exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão (Art. 190, CC). Os prazos prescricionais fixados em lei nos artigos 205 a 206 correm normalmenteconforme o tempo, no entanto, pode haver modificações de contagem dos prazos quando há impedimento, suspensão e interrupção dos mesmos. Quanto aos prazos legais da prescrição, o artigo 192 prevê que estes não podem ser acordados pelas partes resultando em sua modificação, mesmo que se trate de um direito patrimonial, portanto a prescrição sempre advém da lei, e além disso, o artigo 196 prevê que a prescrição iniciada contra alguém continua a ser contada contra seus sucessores, valendo lembrar, que a sucessão pode ocorrer inter vivos, por exemplo, quando uma pessoa compra ou recebe através de doação um bem gravado de dívidas, podendo ter que responder pelo débito, continuando no prazo prescricional iniciado contra o vendedor ou o doador do bem. Por fim, os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente (Art. 195, CC). Assim, explícita Maria Helena Diniz "assegurando-se assim a incolumidade patrimonial dos incapazes que tem, ainda, mesmo que não houvesse essa disposição, o direito ao ressarcimento dos danos em razão do disposto nos arts. 186 e 927 do Código Civil, de que o art. 195 é aplicação" ⁶ 4. E o representante legal que desconheça a lei, ou não tenha experiência negocial, que alegar Prescrição traria vantagem para o representado, não pode ser responsabilizado civilmente, uma vez que não agiu culposamente, contrapartida, o representante 4 6 Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. Ed: 29. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 433. cujo a sua atividade requer desenvoltura negocial não alegar oportunamente a prescrição que favoreça o representado, deve ser responsabilizado haja vista que este assume os riscos do exercício de sua função profissional. 1.3. Prazo Segundo Maria Helena Diniz : conceitua-se o prazo prescricional como espaço de tempo que transcorre entra o seu termo inicial e final⁷ 5.Dessa forma, a prescrição estabelece prazos em duas categorias, sendo elas segmentadas em prazo geral e prazo especial. Primeiramente, sob a visão do Prazo Geral de prescrição, o Código Civil regulou de forma inovadora o prazo prescricional geral a qual está disposto no artigo 205. Segundo o artigo a prescrição ocorrerá em dez anos (máximo), que deve ser realizado caso não encontrado fixado em lei prazo menor. Outrossim, os prazos Especiais de prescrição são encontrados no artigo 206 Código Civil e são aqueles que a norma jurídica determina um prazo menor para que seja exercido certos direitos, com isso, o artigo estipula os prazos de prescrição de um, dois, três, quatro e cinco anos para determinados direitos. O artigo 206 Prescreve : Em 1 ano : I. A pretensão dos casos de hospedagem e fornecimentos de alimentos, tais como: hotéis, pensões, bases, restaurantes (art.206, § 1°, I, CC). II. A pretensão em casos de cobrança de valores relativos ao seguro, tanto para o segurado quanto para o assegurado (art.206, § 2°, II, CC). a. O prazo de prescrição de 1 ano começa a contar da data em que o segundo foi citado para responder à ação da responsabilidade civil proposta por um terceiro prejudicado. b. Quando os demais segurados o prazo de 1 ano a pretensão vai começar a contar da data da ciência do fato que gerou o direito ao pagamento de valor do assegurado. III. A pretensão de cobrança de emolumentos, honorários ou custos dos atos praticados por tabeliães, auxiliadores da justiça, servidores judiciais, árbitros e peritos (art.206, § 1°, III, CC). 5 7 Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. Ed: 29. São Paulo: Saraiva, 2012, p.347 IV. A pretensão contra peritos que avaliaram os bens para formação de uma sociedade anônima devem ser exercidas no prazo de 1 ano, a contar da data da publicação da data da assembleia que aprovar o laudo realizado pelos peritos (art.206, § 1°, IV, CC). V. A pretensão dos credores para cobrar sócios ou acionistas e os liquidantes, contra o prazo da data de publicação (art.206, § 1°, V, CC). Prescreve em 2 anos a pretensão para haver pretensão alimentares, a partir da data em que venceram (art.206, § 2°, CC). Em 3 anos : I. A pretensão relativa de cobrar os alugueis de prédios urbanos ou rústicos a contar com da data de vencimento de cada prestação (art.206, § 3°, I, CC). II. A pretensão para receber as prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias (art.206, § 3°, II, CC). III. A Pretensão dos casos em que as partes convencional que os juros (outros acessórios contratual) podem ser pagos separadamente da dívida principal (art.206, § 3°, III, CC). IV. A pretensão do caso de requerimento sem causa, sendo a pessoa que foi lesada tem 3 anos para cobrar o seu prejuízo a contar da data do desembolso (art.206, § 3°, IV, CC). V. A pretensão dos casos de responsabilidade civil (art.206, § 3°, V, CC). VI. A pretensão de requerer a restituição dos valores recebidos indevidamente (má-fé), correndo o prazo que foi deliberada a distribuição (art.206, § 3°, VI, CC). VII. A pretensão em razão de violação da lei ou do estatuto, contra (art.206, § 3°, VIII, CC) : a. Fundadores da S.A. = contado da publicação dos atos construtivos da A.S. (quando se tornam públicos). b. Administradores ou Fiscais = Contado da apresentação do balanço, da reunião ou da assembleia geral em que os sócios tornaram ciência da violação. c. Liquidantes = contado da primeira assembleia semestral posterior à violação VIII. A pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial (CC, art. 206, § 3a, VIII). IX. A pretensão do prazo de prescrição para cobrança do DPVAT, que é o seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automóveis de vias terrestre (art.206, § 3°, IX, CC). Prescreve em 4 anos a pretensão relativa à renda, a contar da data da aprovação das contas (art.206, § 4°, CC). Em 5 anos : I. A pretensão da cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular (art.206, 5°, I, CC). II. A pretensão de cobrar os seus honorários, os profissionais liberais em geral (advogados, médicos, dentista, engenheiros, farmacêutico, etc.) como também os procuradores judiciais, curadores e professores (art.206, 5°, II, CC). III. A pretensão do vencedor do processo para cobrar do perdedor as custas do processo é devolver despesas que foram pagas (adiantadas) pelo vendedor (art.206, 5°, III, CC). 1.4. Alegação judicial A prescrição pode ser alegada dispondo o artigo 193 do Código Civil em qualquer tempo e grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita. Dessa forma, a prescrição não está sujeito à “percussões temporal”, sendo assim, o resultado pode alegar tanto em primeira instância quanto na segunda. A prescrição em 1 instância pode ser alegada, por exemplo : a. Na contestação; b. Na audiência; c. Em qualquer fase do processo de conhecimento. A prescrição também pode ser alegada em 2ª instância em grau de recurso, como no recurso de alegação, por exemplo, caso não tenha sido alegada em 1ª instância. Ademais, o juiz pode também argui a prescrição de ofício, ou seja, se a parte não arguiu a prescrição, o juiz poderá apreciar a prescrição mesmo sem a parte requerer. 1.5. Impedimento de ocorrer o prazo. O impedimento do prazo ocorre quando ele ainda não se iniciou. As causas que determinam esse impedimento são circunstâncias, e impedem que o prazo inicie. Nesse sentido, se for verificado antes do prazo prescricional se iniciar a condição de uma presença de uma condição especial envolvendo as partes, tanto o titular da pretensão, ou o próprio negócio jurídico, esse prazo prescricional que ainda não se iniciou estará impedido de iniciar. Apenasquando sua causa de impedimento for cessada ele poderá fluir, voltando do início o seu prazo. 1.6. Suspensão do prazo. A suspensão do prazo prescricional ocorre quando o prazo já se iniciou. Dessa forma, é observada uma condição especial envolvendo uma das partes, podendo ser o titular da pretensão ou o próprio negócio jurídico, nesse viés, o prazo que já se iniciou será suspenso, permanecendo dessa maneira até que a causa da sua suspensão seja cessada, permitindo então sua influência. Após isso, o prazo volta ao determinado tempo em que parou. Decorrido sobre o que é o impedimento e suspensão do prazo prescricional, verifica-se agora sobre as causas que impedem o prazo. De acordo com o artigo 197 6do código civil não corre a prescrição: I - Entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; II - Entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III - Entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela; Observa-se nos incisos acima, em todas as situações citadas identifica-se uma condição especial abrangendo as partes do negócio jurídico, de modo que não há possibilidade de o titular da pretensão exercê-la sem que isso afete a harmonia da sua relação com a outra parte. Conclui-se que nessas situações não corre o prazo de prescrição se identificada essa condição especial antes de correr esse prazo (impedimento do prazo) ou depois que o prazo já estiver ocorrendo (suspensão do prazo)8. (LENDI, 2016) O artigo 198 do código civil também descreve quando não pode correr essa prescrição: I - Contra os incapazes de que trata o art.3; II - Contra os ausentes do país em serviço público da União, dos Estados e Municípios; III - Contra os que se acharem servindo nas forças armadas,em tempo de guerra; No caso das condições citadas no artigo 198 acima, o caso muda com relação ao artigo 197, pois nessas situações o titular da pretensão encontra-se numa situação em que não seria benéfico ao exercício da pretensão, não exercendo dessa forma de modo satisfatório. 6 1.7. Interrupção do prazo. O artigo 202⁹ do código civil estabelece que a interrupção do prazo de prescrição só poderá ocorrer uma vez, dar-se á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; III - por protesto cambial; IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. O artigo 202 do código civil diz em seu parágrafo único que a prescrição interrompida deverá recomeçar a ocorrer na data do ato que foi interrompido ou do último ato do processo para interromper. Ademais, o artigo 203 do código civil afirma que a prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado. De acordo com o artigo 204, “a interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados”. § 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros. § 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis. § 3º A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador. DECADÊNCIA O Código Civil de 1916 não tratava, de modo explícito e cuidadoso, da decadência, visto que não havia artigos específicos para expor esse assunto; assim, tal fato foi fundamental para um entendimento errôneo desse fator jurídico, o que levou muitas pessoas o confundirem com a prescrição (neste Código, atos prescricionais e decadenciais foram expostos em um mesmo artigo, o que causou essa confusão no imaginário comum). Em continuidade, o Código Civil de 2002 teve o zelo maior de tratar da Decadência em disposições mais específicas, como se vê nos artigos 207 ao 211 do mesmo. 2.1 Conceito Segundo Maria Helena Diniz,"A decadência é a extinção do direito pela inação de seu titular que deixa escoar o prazo legal ou voluntariamente fixado para seu exercício"7. Sob esse viés, a Decadência (também chamada de Caducidade) está relacionada à perda do próprio direito em virtude da omissão do titular dele em determinado lapso temporal, esse que, indissociavelmente, deve estar prescrito em lei. Como se sabe, a prescrição está atrelada ao direito subjetivo, de igual modo, a Decadência está concatenada ao direito potestativo. Destarte, os direitos potestativos são aqueles que dependem unilateralmente da vontade do titular, ou seja, não há interdependência entre os sujeitos da relação jurídica pois é um direito emancipado da submissão de terceiros; ademais, os direitos potestativos não permitem violação, tampouco pretensão. Portanto, ocorre a caducidade quando um direito potestativo não é exercido, sendo, então, negligenciado dentro do prazo da lei. Torna-se importante ressaltar que, se há necessidade de titularidade do prazo em lei, é mister que, não havendo na lei esse prazo, não há suscetibilidade de Decadência. Outrossim, outro fato relacionado a ela, é a subclassificação em tipos de decadência, existindo a legal e convencional. À princípio, quando se fala da decadência legal (ex vi legis), fala-se da decadência de ordem pública, sendo irrenunciável e inalienável por defluir da expressa previsão em lei. Por outro lado a Decadência convencional ou contratual (ex vi voluntatis) possui um caráter privado, isto é, está ligada apenas à vontade das partes do negócio jurídico, podendo ser renunciável. 2.2 Reconhecimento Judicial É importante relacionar o reconhecimento judicial do ato decadencial com as tipificações desse instituto em legal e convencional, pois em cada classificação haverá especificidades. Assim, a Decadência legal é esclarecida como ex officio (em português, "de ofício"), o que implica uma atribuição realizada por imposição legal, sendo, então, reconhecido judicialmente por ser prevista em lei. Por essa razão, os prazos não admitem suspensão ou interrupção, pois representam os 7 9 Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. Ed: 29. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 454 interesses sociais, sendo de ordem pública. Isto posto, essa decadência é reconhecida pelo magistrado, porquanto está prevista em lei, como determina o Art. 210 do Código Civil. Outrossim, quando se discorre acerca da decadência convencional ou contratual, tange lembrar que ela se refere aos interesses privados. Dessa forma, não há necessidade do reconhecimento do ofício pelo juiz. Em suma, como forma de resumir o que foi tratado, Maria Helena Diniz infere: “Decretação ex officio da decadência. A decadência, decorrente de prazo legal, é matéria de ordem pública; deve ser, uma vez consumado o prazo, considerada e julgada pelo magistrado, de ofício, independentemente de argüição do interessado. Se a decadência for convencional, o juiz dela não pode apreciar a não ser que haja provocação do interessado (CC, art. 211).” 8(p. 249, 2006) 2.3 Nulidade Em continuidade, no que concerne à nulidade da decadência, o Art. 207 do Livro Civil declara: "É nula a renúncia à decadência fixada em lei." (Brasil, 2022). De tal modo, infere-se que, a partir do esclarecimento legal da caducidade, torna-se irrenunciável e irretroativa essa decadência. Todavia, o atual Código Civil infere uma exceção a essa regra, a qual está disponível no art. 208, esse que estabelece queo prazo decadencial não correrá contra os absolutamente incapazes. Ademais, ainda nessa análise de prazos, a o Livro Civil também estipula que os relativamente incapazes e as pessoas coletivas que forem prejudicadas com a perda de direitos por ociosidade de seus assistentes ou representantes, terão a possibilidade e o direito de cobrar seus prejuízos, como estipula o art. 195. Vale ressaltar que a situação com os indivíduos que possuem incapacidade jurídica absoluta é excepcional, contudo, quando se trata dos relativamente incapazes e das pessoas jurídicas, torna-se mais dificultosa a alteração, embora seja possível. Considerações Finais Os dois institutos relativos aos atos jurídicos (stricto sensu) ordinários, prescrição e decadência, se relacionam por estarem ligados à inação do sujeito ante seu direito e ao decurso temporal. Porém, torna-se descomplicado diferenciar esses mecanismos ao analisar o objeto de extinção de 8 10 DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 12ª ed., 2006, p. 249. cada um, bem como os prazos, o reconhecimento do ofício pelo magistrado e a re única de cada um. Conclui-se, portanto, que é de fulcral relevância compreender de um modo idôneo a questão da prescrição e da decadência, cada uma com seus respectivos detalhes e observações, para que haja um entendimento mais aprofundado dos atos jurídicos e do próprio Direito Civil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELTRAME, Renan - Prescrição e Decadência: entenda as diferenças entre os conceitos. Aurum, 2022. Disponível em: https://www.aurum.com.br/blog/prescricao-e-decadencia/. Acesso em: 27 jun. 2022 BRITO, Anne Lacerda de - O que é Prescrição?. Jusbrasil, 2015. Disponível em: https://annelbrito.jusbrasil.com.br/artigos/265493155/o-que-e-prescricao/amp. Acesso em: 26 jun. 2022 DINIZ, Maria Helena - Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. Ed: 29. São Paulo: Saraiva, 2012 NAVES, Nilson Vital - Prescrição e Decadência no Direito Civil. Resposta da Faculdade de Direito UFMG, n. 4, p. 164-187, out. 1964. PASSARIN, Leonardo Menezes - Prescrição e Decadência no Direito Civil – Resumo. Estratégia, 2020. Disponível em: https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/prescricao-e- decadencia-no-direito-civil-resumo/amp/. Acesso em: 27 jun. 2022 FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil - parte geral e LINDB. Volume 1, 13ª Edição Revista, Ampliada e Atualizada. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2015. DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 12ª ed., 2006.
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