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LÍNGUA-PORTUGUESA-E-LITERATURA-BRASILEIRA-2

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1 
 
 
LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA 
1 
 
 
Sumário 
Sumário ...................................................................................................................... 1 
NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 2 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
O QUE É LITERATURA? ........................................................................................... 4 
A ILÍADA E A ODISSÉIA ............................................................................................ 7 
PRINCIPAIS AUTORES ............................................................................................. 9 
IDADE MÉDIA ........................................................................................................... 10 
RESUMO DO TROVADORISMO .............................................................................. 12 
HUMANISMO ............................................................................................................ 12 
A POESIA PALACIANA ........................................................................................... 13 
RENASCIMENTO ..................................................................................................... 15 
HISTÓRICO DO PORTUGUÊS ................................................................................ 17 
LÍNGUAS INDÍGENAS E AFRICANAS NA FORMAÇÃO DO PORTUGUÊS 
BRASILEIRO, SUA UNIDADE E DIVERSIDADE ..................................................... 27 
CONSERVADORISMOS E INOVAÇÕES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO ............ 39 
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, 
em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo 
serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
INTRODUÇÃO 
No mundo atual, escrever é sempre importante, necessário e frequente. 
Mostrar que você sabe comunicar-se (bem), usando a escrita, é um dos fundamentos 
da capacidade de ser e realizar, da cidadania e da competência. 
A tão propalada era do computador que, muitos afirmavam, iria diminuir 
drasticamente a necessidade de papel e de escrever, fez o inverso: nunca tanta 
informação e conhecimento circularam entre tantas pessoas e de modo tão rápido, 
nunca as pessoas se comunicaram tanto (via e-mails, chats, impressos etc), fazendo 
com que todos escrevamos mais e mais. 
Apesar de tantas inovações trazidas pela era da modernidade, algo certamente 
permanece incólume nos dias atuais: a relevância da tradição literária em língua 
portuguesa. 
A partir de dois países, Portugal e Brasil, unificados pela expansão marítima e 
econômica iniciada no século XV, edificou-se uma gama forte e admirável de obras 
que revelaram, literariamente, os costumes, as angústias, as conquistas e derrotas de 
conjuntos sociais que igualmente ascenderam e decaíram ao longo da história. 
É certo que não apenas esse descompromissado caráter documental torna 
relevante o estudo das obras literárias, mas também compreender e avaliar a 
evolução da nossa própria língua e as diferentes estéticas que dela se apossaram 
para, ou permitir a manutenção das normas sociais vigentes, ou sutilmente relatar 
suas agruras ou, mais frequentemente rebater e revolucionar essas normas a partir 
da escrita. 
Houve e há diferentes “estratégias” de expressão da língua, que enriqueceram 
e inseriram essa cultura literária no contexto mundial, desde os primórdios da literatura 
portuguesa até finalmente chegarmos a uma literatura de caráter efetivamente 
brasileiro. 
 
 
 
 
4 
 
 
O QUE É LITERATURA? 
Então, o autor cria ficção, ao fugir da realidade, mas não da contextualidade. 
Em sua obra literária, são encontrados os elementos essenciais – conteúdo, que é a 
mensagem da obra, as ideias que o autor quer transmitir; e forma que é como o autor 
empregou a palavra para elaborar seu texto. 
Diante destas colocações, é necessário ressaltar que a Literatura se constitui 
de três gêneros literários, neste capítulo brevemente definidos, mas sempre 
retomados ao longo deste trabalho. 
• Gênero lírico – trata-se de uma revelação subjetiva de uma exposição dos 
sentimentos humanos, como a alegria, a tristeza, o amor, a inquietação, a fatalidade 
etc. Este gênero apresenta-se em versos. 
 A Literatura teve sua origem mais ou menos paralela ao surgimento da escrita, há 
milhares de anos atrás, criada pelo homem com o objetivo de conservar a sua história 
através de epopeias e lendas, e controlar a natureza, criando-se os mitos e religiões. 
Em recentes pesquisas de estudiosos e historiadores, descobriu-se que a Literatura é 
anterior à escrita. Certas lendas e canções eram feitas oralmente e, neste caso, não 
existia um autor específico – a literatura era oral, anônima e coletiva. Somente com o 
surgimento da escrita é que a Literatura tomou forma e ganhou a figura do autor. 
Literatura nada mais é do que uma combinação de palavras com uma intenção 
estética, cujos gêneros podem ser classificados em epopeia, poema e teatro. Ao 
combinarem-se as palavras, alcança-se novos significados (metáforas), sobre os 
quais o escritor acaba criando sua própria realidade através da imaginação. 
Portanto, dizemos que a Literatura é invenção, e o autor cultiva essa realidade 
imaginária através de situações básicas da vida, sua visão do mundo, seu talento e 
sua sensibilidade. É pelo contentamento (ou não) com realidade que o autor procura 
descrever a vida através de uma linguagem pessoal, porém se preocupando com a 
compreensão do leitor. 
• Gênero épico – trata do mundo exterior e das relações do homem com este mundo. 
Este gênero é mais objetivo e há a predominância de um narrador que conta um fato, 
num ambiente dotado de elementos como: tempo, espaço, personagem e ação. O 
5 
 
 
personagem, na sua totalidade, é um herói que exemplifica todo o heroísmo e 
qualidades de um povo. 
Exemplo de um texto épico: 
Grande sertão: veredas (fragmento) 
Esbandalhados nós estávamos, escatimados naquela esfrega. Esmorecidos é que 
não. Nenhum se lastimava, filhos do dia, acho mesmo que ninguém se dizia dar por 
assim. Jagunço é isso. Jagunço não se escabreia como perda nem derrota – quase 
que tudo para ele é o igual. Nunca vi. Para ele a vida já está assentada: comer, beber, 
apreciar mulher, brigar, e o fim final. E todo mundo não presume assim? Fazendeiro, 
também? Querem é trovão em outubro e a tulha cheia de arroz. Tudo que eu mesmo, 
do que mal houve, me esquecia. Tornava a ter fé na clareza de Medeiro Vaz, não 
desfazia mais nele, digo. Confiança – o senhor sabe – não se tira das coisas feitas ou 
perfeitas: ela rodeia é o quente da pessoa. E despareci meu espíritode ir procurar 
Otalícia, pedir em casamento, mandado de virtude. Fui logo, depois de ser cinza. Ah, 
a algum, isto é que é, a gente tem de vassalar. Olhe: Deus como escondido, e o diabo 
sai por toda parte lambendo o prato... Mas eu gostava de Diadorim para poder saber 
que estes gerais são formosos. 
.• Gênero dramático – trata-se do gênero em que os personagens falam diretamente, 
expondo seus dramas e conflitos. O texto dramático é feito para a encenação teatral, 
ou seja, é representado por atores, que encarnam os personagens. Exemplo de um 
texto dramático: A Ceia dos Cardeais (fragmento) 
Cardeal Rufo, acercando-se também do Cardeal Gonzaga Em que pensa, cardeal? 
Cardeal Gonzaga, como quem acorda, os olhos cheios de brilho, a expressão 
transfigurada Em como é diferente o amor de Portugal! Nem a frase sutil, nem o duelo 
sangrento... É o amor coração, é o amor sentimento. 
Uma lágrima... Um beijo... Uns sinos a tocar... Um parzinho que ajoelha e que se vai 
casar. Tão simples tudo! Amor, que de rosas se inflora: Em sendo triste canta, em 
sendo alegre chora! O amor simplicidade, o amor delicadeza... Ai, como sabe amar, a 
gente portuguesa! Tecer de Sol um beijo, e, desde tenra idade, Ir nesse beijo unindo 
o amor com a amizade, Numa ternura casta e numa estima sã, Sem saber distinguir 
entre a noiva e a irmã... Fazer vibrar o amor em cordas misteriosas Como se em 
6 
 
 
comunhão se entendessem as rosas, Como se todo o amor fosse um amor somente... 
Ai, como é diferente! Ai, como é diferente! Cardeal Rufo Também Vossa Eminência 
amou? Cardeal Gonzaga Também! Também! Pode-se lá viver sem ter amado alguém! 
Sem sentir dentro d’alma — ah, podê-la sentir! — Uma saudade em flor, a chorar e a 
rir! 
Se amei! Se amei — Eu tinha uns quinze anos, apenas. Ela, treze. Um amor de 
crianças pequenas, Pombas brancas revoando ao abrir da manhã... Era minha 
priminha. Era quase uma irmã. Bonita não seria... Ah, não... Talvez não fosse. Mas 
que profundo olhar e que expressão tão doce! Chamava-lhe eu, a rir, a minha 
mulherzinha... Nós brincávamos tanto! Eu senti-a tão minha! Toda a gente dizia em 
pleno povoado: “Não há noiva melhor para o senhor morgado, Nem em capela antiga 
há santa mais santinha...” E eu rezava, baixinho: “É minha! É minha! É minha!” Quanta 
vez, quanta vez, cansados de brincar, Ficávamos a olhar um para o outro, a olhar, 
Todos cheios de Sol, ofegantes ainda... Numa grande expressão de dor: Era feia, 
talvez, mas Deus achou-a linda... E, uma noite, a minha alma, a minha luz, morreu! 
Onde se iniciou a Literatura? No princípio, a literatura narrava os feitos de 
personagens heroicos – suas derrotas e vitórias. Este gênero ficou conhecido como 
gênero épico. Posteriormente, deu-se lugar aos deuses para protagonizarem histórias 
de amor e ciúme; ganharam aspecto humano e passaram a sentir e agir como mortais; 
e configurou-se o gênero lírico. E, por fim, surgiu o teatro com o objetivo fundamental 
de emocionar o público através dos aspectos cômicos e trágicos – o gênero dramático. 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
A ILÍADA E A ODISSÉIA 
Estas duas obras representam os dois maiores modelos de epopeia e têm 
como principais características a narrativa em grandes dimensões, que retrata o tema 
de modo heroico, na maioria das vezes, sobrecarregando-o de elementos fantásticos 
e sobrenaturais. A presença do mito tem papel fundamental, pois, este irá mostrar 
outra forma de ver o mundo e estreitar a distância entre o humano e o divino. Suas 
narrativas focalizam episódios ocorridos durante a guerra de gregos e troianos e têm, 
como personagens principais, os heróis lendários Aquiles e Ulisses, cruéis e 
sanguinários, porém justos e generosos. 
A Literatura Portuguesa teve seu início durante a Idade Média, porém, é 
primordial salientar a importância das literaturas grega e latina, pois foi através delas 
que muitos autores portugueses se engajaram no caminho literário e se fixaram na 
história das artes. Em Os Lusíadas, de Luís de Camões, observamos a grandiosidade 
dos feitos e a exaltação do herói, que desbrava aventuras mágicas e percorre 
caminhos de vida ou de morte. Tal como o astucioso Ulisses e o bravo Aquiles 
enaltecidos por Homero, ou do nobre Enéas de Virgílio, Vasco da Gama ora enfrentará 
a fúria de deuses e outros seres fantásticos, ora por outros será protegido e mantido 
alerta sobre os perigos que estão por vir. Todos são, por fim, figuras imaginárias que 
servem de modelo ao homem, seja ele antigo ou medieval. Interessante conhecermos 
algumas manifestações literárias da Grécia Antiga e, em seguida, entraremos no 
percurso da Literatura Portuguesa. Antiguidade Clássica Teve seu inicio no século IX 
a.C., com o surgimento, na Grécia, das primeiras manifestações da arte literária, 
através das obras Ilíada e Odisseia, de Homero, e estendeu-se até o final do século 
V d.C. 
Os acontecimentos da Ilíada e da Odisseia se passam durante e depois da 
Guerra de Tróia, guerra esta ocorrida entre a Grécia e a cidade de Tróia, 
aproximadamente no século XII a.C. Muitos acreditam que os poemas foram escritos 
entre 800 e 700 a.C. Baseia-se a data em referências, encontradas nos poemas, às 
condições sociais da época. A Ilíada É o mais antigo poema grego, entre os que 
sobreviveram. Foi escrito por Homero por volta do séc. VIII a.c. e descreve 
acontecimentos do último ano da guerra de Tróia, que durou cerca de dez anos. Inicia-
se a guerra devido ao rapto de Helena, de Esparta, por Páris, herdeiro do trono troiano. 
8 
 
 
Em busca da filha de seu irmão Menelau, Agamênon chefia o exército de heróis 
gregos, dentre eles, o orgulhoso guerreiro Aquile. A história cobre 54 dias, e a ação 
ocorre, em sua maior parte, em campo grego, mas também dentro dos muros de Tróia 
e nas áreas próximas. Uma disputa ocorre entre Agamêmnon e Aquiles, o mais forte 
dos jovens heróis gregos: Aquiles reclama por maior recompensa devido aos seus 
serviços aos gregos; Agamêmnon, por sua vez, acha que Aquiles não demonstra 
respeito bastante a sua posição como comandante do exército. O conflito faz Aquiles 
abandonar a guerra e, sem seu auxílio, os gregos são expulsos pelas forças troianas 
lideradas por Heitor, irmão de París e filho do rei Príamo. 
Pátroclo, o mais próximo amigo de Aquiles, vai lutar no exército para ajudar os 
gregos, mas é morto por Heitor, Aquiles retorna à guerra em busca de vingança, e 
concretiza seu intento fora de Tróia: Heitor é morto, e seu funeral finaliza o poema. A 
Odisseia é formada por 24 capítulos e tem lugar em um período de dez anos, no séc. 
XII a.c.. O poema começa quando grande parte de sua ação já havia ocorrido. É a 
obra mais influente e popular da antiga literatura grega. Figura entre as maiores 
histórias de aventuras da literatura de todos os tempos, servindo de modelo para obras 
posteriores do mesmo gênero. A Odisseia foi composta pelo poeta grego Homero e 
tem como personagem principal Ulisses, rei de Ítaca. A obra descreve as aventuras 
de Ulisses ao tentar regressar a sua terra natal, depois da vitória da Grécia na guerra 
de Tróia. A história começa na ilha de Igígia, onde Ulisses cai prisioneiro da ninfa 
Calipso durante sete anos. Durante um conselho de deuses no Olimpo, Zeus decide 
que é chegada a hora de Ulisses voltar para sua esposa Penélope, em Ítaca, onde 
seu palácio encontrava-se ocupado por um grupo de jovens nobres e desregrados. 
Os nobres pressionam Penélope a admitir a morte de seu marido e a casar-se com 
um deles, escolhendo assim um novo rei para Ítaca. 
O filho de Ulisses, Telêmaco, alertado pela deusa Atena, viaja em busca de 
notícias de seu pai, e suas viagens tornam-se parte da história. Enquanto isso, o deus 
Hermes faz Calipso libertar Ulisses, que mais tarde naufraga em alto mar devido à ira 
de Poseidon. Ao fim da tempestade causada pelo deus dos mares, o herói é 
encontrado por Nausícaa, filha do rei dos Feacos. Ulissesdescreve aos Feacos suas 
aventuras desde a guerra de Tróia, conta sua visita à terra dos comedores de lótus, 
flor cujos poderes mágicos fazem as pessoas esquecerem a sua terra natal. Vencendo 
a resistência de seus homens, que não desejavam continuar a viagem, Ulisses e sua 
9 
 
 
frota acabam capturados em uma ilha por Polifemo, um dos Ciclopes, gigantes de um 
olho só. Conseguem escapar, mas o barco em que estavam é desviado de seu curso 
pelo vento. Chegam à ilha da feiticeira Circe, que transforma em porcos os homens 
de Ulisses e o torna seu amante. Advertido de que, para regressar a seu país, 
precisava descer aos infernos para consultar o profeta Tirésias, ele faz o que lhe é 
aconselhado, e nos infernos, Ulisses vê a alma de sua mãe e dos heróis da guerra de 
Tróia, além de testemunhar a punição dos pecadores. Tirésias indica-lhe o caminho 
de volta e Circe lhe ensina a evitar os monstros marinhos Cila e Carible. Adverte-o, 
ainda, com relação às sereias, ninfas do mar que utilizam seu belo canto para atrair 
os viajantes para a morte numa ilha mágica. 
O barco de Ulisses passa por muitos perigos e parece pronto para atingir Ítaca 
sem mais problemas. Porém, alguns de seus homens haviam roubado e comido o 
gado sagrado do sol na ilha de Trinácria, e, como punição, um raio destrói a 
embarcação e se afogam. Ulisses consegue se salvar, mas é preso na ilha de Calipso, 
onde a história começou. Quando Ulisses termina de narrar sua história, os Feacos o 
conduzem a uma praia deserta de Ítaca. Lá, Atena conta-lhe sobre os nobres em seu 
palácio e o aconselha a retornar disfarçado, para sua própria segurança. Vestido como 
mendigo, Ulisses chega a seu palácio, onde os nobres participam de um concurso: 
desposaria Penélope quem conseguisse usar o arco do rei desaparecido. Ulisses 
ganha o concurso, mata os nobres e é reconhecido por Penélope. 
 
PRINCIPAIS AUTORES 
Encontramos, na Antiguidade Clássica, diversos autores que fizeram história 
na arte literária, tais como: 
• Homero – viveu entre os séculos IX e VIII a C, na cidade de Esmirna e recolheu a 
poesia que, até então, era oral. Escreveu as duas maiores poesias épicas: Ilíada e 
Odisseia. 
• Hesíodo – descreveu a origem do mundo e dos deuses, reunindo-os em sua obra 
Teogonia. Preocupava-se com as emoções do homem e desprezava a guerra. Foi ele 
o responsável pelo surgimento da poesia lírica. 
10 
 
 
• Píndaro – poeta dos Jogos Olímpicos, foi o símbolo do amor dos gregos pelo esporte 
e pela beleza do corpo masculino. 
• Esopo – autor quase lendário, viveu em Atenas no século V; escreveu fábulas que 
ensinavam sobre o bem e o mal, através de figuras de animais que assumiam as 
virtudes e os defeitos do ser humano. 
• Ésquilo – precursor da dramaturgia. Escreveu mais de 80 obras e foi o primeiro 
grande autor trágico. 
• Sófocles – deu continuidade à obra de Ésquilo e escreveu Édipo Rei, considerado o 
“drama de todos nós” (segundo Sigmund Freud, pai da psicanálise). 
 • Eurípedes – revolucionou a técnica teatral. Preocupava-se com a reflexão sobre 
controvérsias intelectuais, políticas e éticas. Escreveu Medéia. 
 
IDADE MÉDIA 
Em oposição à primeira, as novelas de cavalaria desenvolveram-se sob a forma 
de narrativas e retratavam o amor concreto e mais realista. As relações amorosas se 
davam entre nobres. De caráter pagão, os poetas exaltavam a valentia, a aventura e 
a capacidade de conquista. Surgiram, então, as narrativas centradas no rei Artur e 
seus cavaleiros da Távola Redonda. 
 
As cantigas 
Criadas por trovadores, poetas das cortes feudais, retratavam sentimentos amorosos 
entre cavalheiros e damas da nobreza (cantigas de amor) ou entre uma jovem 
compesiva e seu amante distante (cantigas de amigo). 
• Cantigas de amigo – de origem galaico-portuguesa, são marcadas por um eu-lírico 
feminino, uma donzela que fala sobre seu problema amoroso, seja através de um 
monólogo íntimo, seja através de um confidente, simbolizada pela figura da mãe, irmã, 
amiga ou até mesmo algum elemento da natureza (flores, árvores...). 
Inicia-se no final do século V, com o avanço do Cristianismo, estendendo-se até o 
século XV. Neste período há uma preocupação com os ideais gregos e judaicos em 
11 
 
 
relação ao Novo Testamento. Surgem a literatura cortesã e as novelas de cavalaria. 
Este período da literatura fica conhecido como Trovadorismo (1198 – 1434). O 
Trovadorismo foi o primeiro movimento literário no mundo ocidental e apresentou a 
realidade da época. Suas poesias eram acompanhadas por instrumentos musicais 
como a lira, a harpa, a rabeca, o alaúde, a flauta, o tamborete, o címbalo e outros. O 
primeiro documento literário de que se tem notícia em Portugal é a Cantiga da 
Ribeirinha, escrita por Paio Soares de Taveirós em 1198. Tal obra é dotada de lirismo 
e sátira, porém, é classificada como cantiga de amor. Esta cantiga é oferecida a Maria 
Pais Ribeiro (Ribeirinha), amante de D. Sancho I, então rei de Portugal. A literatura 
cortesã se desenvolveu no sul da França, na Provença, enquanto que as novelas de 
cavalaria se desenvolveram no norte da França. Surgiu com Guilherme de Aquitânia, 
que criou o amor idealizado, ou seja, seu objetivo era centrado no amor impossível 
entre a mulher amada e o poeta (trovador). Entre os autores de cantigas destacam-se 
D. Dinis, Paio Soares de Taveirós, Martim Codax, D. Afonso Men 
A cantiga de amigo possui um aspecto folclórico, pois retrata um determinado 
ambiente ou costume repleto de sentimento amoroso burguês. Desse modo, pode ser 
uma bailada, romaria, barcarola, pastorela ou alba. De caráter narrativo e descritivo, 
retrata as relações afetivas entre pessoas de níveis sociais inferiores. O amor é 
singelo e espontâneo. Normalmente, estas cantigas narram a partida do namorado 
para combater os mouros, surgindo, assim, aspectos como a solidão, a tristeza e a 
saudade. Os versos apresentam musicalidade e ritmo, com repetição total ou parcial 
do refrão. Cantiga de amigo Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! e ai Deus, 
se verá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! e ai Deus, se verá cedo! 
Se vistes meu amigo, o por que eu suspiro! e ai Deus, se verá cedo! Se vistes meu 
amado por que hei gran cuidado! e ai Deus, se verá cedo! 
(adaptação) 
Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! e ai Deus, voltará cedo? 
Ondas do mar levantado, se vistes meu amado! e ai Deus, voltará cedo? 
Se vistes meu amigo, aquele por quem suspiro, e ai Deus, voltará cedo? 
Se vistes meu amado que me pôs neste cuidado, e ai Deus, voltará cedo? 
 
12 
 
 
RESUMO DO TROVADORISMO 
 
 
HUMANISMO 
Esferas do Paraíso, até que São Bernardo (a Mística) lhe permite desfrutar da 
presença de Deus”. Resumo elaborado por Help! Sistema de Consulta Interativa – 
Técnicas de Redação e Literatura. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1996. p. 99. 
• Francisco Petrarca – é o criador do Humanismo. Escreveu Canzoniere, obra que 
contém canções, badaladas, sextinas, estâncias e sonetos que, posteriormente, 
vieram a ser imitados por toda a lírica europeia. 
• Giovanni Boccaccio – escreveu Decameron, obra repleta de linguagem expressiva 
e rica inventividade. 
• Fernão Lopes – foi o primeiro cronista-mor de Portugal, responsável pela tarefa de 
registrar a História de seu país. Lopes foi o iniciador da historiografia portuguesa. 
Utilizava-se de um estilo elegante e coloquial nas suas narrativas e descrições e 
acreditava que o povo era o agente das transformações sociais. Crônica de D. Pedro 
Foi um movimento que tinha por objetivo principal a contestação do teocentrismo, 
dando espaço ao antropocentrismo. Num cenário como este, surgiram vários autores 
como Dante Alighieri (1265 – 1375), Petrarca (1304 – 1373) e Boccaccio (1313 – 1375). 
13 
 
 
• Dante Alighieri – nascido em Florença, estudou clássicos latinos e dedicou-se à 
filosofia. Sua obra principal foi A Divina Comédia,que se dividia em “Inferno”, 
“Purgatório” e “Paraíso”. 
A Obra: “Perdido numa selva (o Pecado), Dante é auxiliado pelo poeta latino Virgílio 
(a Razão), que o guia através do Inferno: para ele, um grande local afunilado, situado 
no centro da Terra, onde os condenados sofrem enormes tormentos. 
 
A POESIA PALACIANA 
Refere-se à poesia que surgiu no século XV nos palácios, ou seja, na vida 
aristocrática. Garcia de Resende, poeta que costumava frequentar a Corte, reuniu 
toda a sua produção poética palaciana no Cancioneiro Geral. Este tipo de poesia 
possui uma linguagem mais rica do que a poesia trovadoresca. 
Cantiga sua partindo-se (João Ruiz Castelo Branco) Senhora, partem tão tristes 
meus olhos por vós, meu bem, que nunca tão tristes vistes, outros nenhuns por 
ninguém. Tão tristes, tão saudosos, tão doentes da partida, tão cansados, tão 
chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida. Partem tão tristes os 
tristes, tão fora d’esperar bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por 
ninguém. O teatro popular Em 1502, o teatro praticamente não existia em Portugal. 
Apenas haviam representações religiosas nas festas da Igreja, onde encenavam-se a 
vida de Cristo com o intuito de educar os fiéis. Somente mais tarde é que surgiu o 
teatro de Gil Vicente com a sua encenação mais popular: Monólogo do Vaqueiro. Seu 
teatro era chamado profano, por ser representado nas praças públicas. O autor 
português mais importante do período é Gil Vicente (1460 – 1536), que viveu a maior 
parte de sua vida em Lisboa, centro comercial e cultural de Portugal, autor de 
Monólogo do Vaqueiro, primeira peça dentre os mais de 44 títulos que escreveu, 
retratou a sociedade da época e sua sátira atingia todas as classes sociais como 
frades, bispos, fidalgos, plebeus, ciganos, etc., criticando sua postura moral. 
O poeta critica o comportamento humano com finalidade moralizadora, embora 
de maneira cômica, com o uso de prosopopeias (Todo Mundo e Ninguém), satirizando 
o comportamento humano. Auto da Barca do Inferno Publicado em 1517, foi encenada 
pela primeira vez na câmara da rainha D. Maria de Castela, na presença do rei D. 
14 
 
 
Manuel e de sua irmã D. Leonor, a Rainha Velha. O Auto da Barca do Inferno tem 
como cenário fixo duas embarcações, num porto imaginário para onde vão as almas 
no instante em que morrem. Uma barca é representada por um Anjo, simbolizando o 
Paraíso e a outra é representada pelo diabo, simbolizando o Inferno. A ação se 
desenrola a partir da chegada dos personagens no porto, procurando encontrar a 
passagem para a vida eterna. Na peça, os personagens serão julgados segundo as 
obras que realizaram em vida. A obra apresenta-se com versos redondilhos, rimas, 
símbolos e metáforas. Os personagens são considerados tipos sociais – a nobreza, o 
clero e o povo. Além da oposição do Bem X Mal, Céu X Inferno, o Anjo e o Diabo 
assumem posturas também opostas, fazendo com que a simpatia e a ironia do Diabo 
domine toda a peça. (resumo) Num braço de mar, onde estão ancoradas duas barcas, 
chegam as almas de representantes de várias classes sociais e profissionais. Uma 
das barcas dirige-se ao Purgatório ou ao Inferno; a outra, ao Paraíso. A primeira será 
tripulada pelo Diabo e seu Companheiro; a outra, por um Anjo. 
Eis que chega a primeira alma para a viagem. É Dom Henrique, o Fidalgo, 
acompanhado por um criado que transporta uma cadeira e carrega um manto para 
seu Senhor. Assim como outros personagens, o Fidalgo argumenta contra sua ida 
para o Inferno, considera que a barca não é digna de sua nobre pessoa. O Diabo 
procura ironizar os diversos argumentos do nobre, dizendo que uma vida cheia de 
prazeres e pecados só podia resultar em punição. O Fidalgo reporta-se à barca do 
Anjo. Alega direito de embarcar por pertencer a uma boa linhagem, mas era muito 
tirano e vaidoso. Seu esforço foi em vão e, retornando à barca do Inferno, quer 
demonstrar força moral ao reconhecer que vivera erroneamente. Chega o Onzeneiro, 
carregando seus bolsões de dinheiro. Recusa-se a embarcar quando toma 
conhecimento do destino da barca, mas o Diabo, sarcástico, se faz de espantado e 
ironiza o fato de o dinheiro do Onzeneiro não ter servido para salvá-lo da morte. 
Procura então a barca do Anjo, pedindo-lhe que o deixasse entrar, pois queria mesmo 
era o Paraíso. Seu pedido é recusado quando o Anjo vê seus bolsões, afirmando que 
estavam tão cheios de dinheiro que tomariam todo o espaço do navio. Desconsolado, 
o Onzeneiro entra na barca infernal, cumprimentando com respeito o Fidalgo, que lá 
já estava, aguardando a triste partida. 
15 
 
 
 
 
RENASCIMENTO 
Teve seu início no século XV e estendeu-se até meados do século XVI e é 
marcado pela supervalorização do homem e pelo antropocentrismo, em oposição ao 
teocentrismo e misticismo. Há uma retomada das ideias grecoromanas; o artista não 
se contenta em apenas observar a natureza, mas procura estudá-la e imitá-la; 
valoriza-se a individualidade do artista, em contraposição à coletividade das obras 
clássicas. O Renascimento em Portugal deu-se no período de 1527 a 1580, com o 
retorno do poeta Sá de Miranda após seus estudos na Itália, trazendo inovações de 
poetas italianos. Porém, foi com Luís de Camões que ocorreu o aprimoramento 
dessas novas técnicas poéticas. Este período ficou conhecido como Classicismo e os 
escritores introduziram em suas obras temas pagãos, além do ideal do amor platônico, 
a exaltação do antropocentrismo, a imitação de autores clássicos, a predominância 
da ciência e da razão, o uso da mitologia, clareza e objetividade, uso de linguagem 
simples e precisa o culto da beleza e da perfeição. 
Luís Vaz de Camões (1524 – 1580) 
Publicou em 1572 Os Lusíadas, poema épico organizado em: Proposição, 
Invocação, Dedicação, Narração e Epílogo. Além do poema épico, Camões ficou 
conhecido por seus poemas líricos, em que buscava o amor espiritual e expunha as 
16 
 
 
contradições do coração. Sua poesia lírica toma dois sentidos: popular (redondilhas) 
e erudita (sonetos). 
A poesia lírica de Camões Soneto Transforma-se o amador na [cousa amada, 
Por virtude do muito imaginar; Não tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho 
a parte desejada. Se nela está minha alma [transformada, Que mais deseja o corpo 
de [alcançar? Em si somente pode descansar, Pois consigo tal alma está liada. Mas 
esta linda e pura semideia, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim com a minha 
alma se conforma, Está no pensamento como ideia; E o vivo e puro amor de que sou 
feito, Como a matéria simples busca [a forma. 
 
 
17 
 
 
 
HISTÓRICO DO PORTUGUÊS 
O que podemos chamar de “pano de fundo” da formação do português, 
apresentando algumas das línguas que o compunham. Com relação a documentos 
sobre o português falado no Brasil entre 1500 e 1600, há muito pouco material, mas 
em meio a essa escassez há o relato de três viajantes naturalistas que aqui passaram, 
estando tanto com os colonos portugueses quanto com os indígenas, e que 
registraram em diários e descrições de viagem algumas palavras usadas no Brasil. 
Trata-se dos relatos de Hans Staden (1550- 1555), André Thevet (1557) e Jean de 
Léry (1578) (cf. NOLL, 2008). 
Nesses relatos, encontramos o primeiro registro histórico de diversas vozes 
indígenas que até hoje são usadas no português brasileiro, como biju, cipó, guará, 
paca, pajé, tatu, mandioca, tucano, caju, canindé, jacaré, aipim, arara, jaguar, entre 
muitas outras. Vale ressaltar que o material composto por Thevet não relata apenas 
convivência com indígenas: para compor seu relato, Les Singulatirés de la France 
Antarctique, ele utilizou o depoimento de franceses já residentes no brasil, o que 
confirma que a entrada de vozes indígenas no português deu-se desde o início da 
colonização. Léry, por sua vez, escreveu uma espécie de “guia de conversação” de 
mais de dez páginas, em forma de diálogo,em tupi e francês, com várias explicações 
gramaticais. 
O português da fase inicial (1500-1550) refere-se apenas ao léxico da língua, 
que se enriqueceu de muitas palavras indígenas nesse período. Vejamos, a seguir, 
algumas das características diferenciadoras do português brasileiro detectadas na sua 
fase formativa. 
Fase formativa (1550 a 1700) 
Entre 1550 e 1700, a fase formativa, já é possível vislumbrar diferenças entre 
as duas variedades de português que vão além de empréstimos vocabulares e têm a 
ver, principalmente, com a estrutura fonético-fonológica do português falado no Brasil. 
Todos os fenômenos que descrevemos abaixo têm como pano de fundo o contraste 
entre o português brasileiro e o europeu notados e documentados durante o período 
em questão. 
18 
 
 
Com relação às vogais tônicas, o português brasileiro diferencia-se do 
português europeu no não desenvolvimento da oposição entre /a/ e /ɐ/ para marcar a 
distinção entre pescamos no presente (a vogal tônica é [ɐ]) e pescámos no pretérito 
perfeito (a vogal tônica é [a]). Em Portugal, essa distinção já havia sido notada por 
João de Barros em 1540. 
É interessante lembrar que a diferença entre esses tempos gramaticais é 
marcada no português brasileiro coloquial, principalmente no chamado “dialeto 
caipira”, através da oposição “pescamos” (presente) vs. “pesquemos” (pretérito 
perfeito). 
Sobre as vogais pretônicas, o naturalista Markgraft nota, em 1648, na sua 
Historia Naturalis Brasiliae, o alçamento de /e/ e /o/ para /i/ e /u/, como nas pronúncias 
do primeiro <e> de menino e do <o> de dormir. 
Nos séculos seguintes, esse processo ganhou ainda mais força e pode-se dizer 
que é generalizado no Brasil (com exceção de certas regiões do Nordeste que têm /ɛ/ 
e /ɔ/ pretônicos). 
Ainda nesse período, constata-se a manutenção da nasalização 
heterossilábica – grosso modo, a nasalização assimilada regressivamente, como em 
cama [ˈkɐ.̃ma], que em Portugal pronuncia-se [ˈkɐ.ma]. Sobre as consoantes, nota-se 
que a africação em Portugal de /d/ entre vogais (RHYS, 1569, apud NOLL, 2008). 
Fase diferenciadora (1700 a 1800) 
Neste período, encontramos diversos documentos que assinalam as diferenças 
que há entre o português brasileiro e o europeu. Como exemplo, podemos citar a peça 
de teatro O periquito do ar, de Rodrigues Maia, escrita por volta de 1800 (cf. NOLL, 
2008). Uma dos personagens dessa farsa é um brasileiro, estereotipicamente 
caracterizado por sua fala e procedência: seu nome é Dom Periquito das Alturas do 
Serro do Frio – na região da Comarca do Serro do Frio, em Minas Gerais, local em 
que foram encontrados os primeiros diamantes, em 1729. 
Dom Periquito é caracterizado como café com leite e carioca, termos que, à 
época, se referiam a “pessoas de cor”, mulatos. Sua fala na peça é recheada de traços 
que têm por objetivo o humor e também identificar Dom Periquito com o português 
falado no Brasil, ainda que possivelmente de modo exagerado. É bastante notável a 
19 
 
 
escrita das vogais que são alçadas, principalmente <e> para <i>, indicando a 
pronúncia [i], como em: mi diga (me diga), sinhorinho (senhorinho), sinhorinha 
(senhorinha), mitêlo (metê-lo), virdade (verdade), di (de). Encontra-se também a 
pronúncia [l] para [ʎ], como em li (lhe). A certa altura da peça, Dom Periquito usa a 
forma sinhazinha, que pode indicar indiretamente a queda de <r> em fins de palavra: 
senhor > sinhor > sinhô; sinhá > sinhazinha. 
Passando à morfologia, há um uso exacerbado de diminutivos como em: 
mimozinho, coquinho, molestinha, mancinho, sinhorinho. Do ponto de vista sintático, 
registra-se a ocorrência maior de próclise com relação ao português europeu: mi deixe, 
le diga, mi consterna. A forma de tratamento você aparece também como típica do 
português brasileiro. 
Em outras obras de teatro, há menção a personagens brasileiros que “falam 
carioca”, o que indica como já era claro entre 1700 e 1800 para os portugueses e 
brasileiros que havia diferenças bastante notáveis entre as duas variedades de 
português. 
Na obra Compendio de orthografia, de Monte Carmelo, de 1767, o autor nota a 
diferença entre pregar (fixar, [prə’gar ]) e pregar (dar um sermão, [prɛ’gar]), que 
sobreviveu apenas em Portugal. 
Outras características importantes do português brasileiro são identificadas nas 
normas educacionais do Seminário Episcopal de Nossa Senhora da Grasa, de Olinda 
– PE, e do Recolhimento de Nossa Senhora da Gloria do Lugar de Boa-Vista, de 
Recife – PE, escritas pelo bispo de Pernambuco, José J. da Cunha de Azeredo 
Coutinho, 1798. 
Nessas normas, o bispo aponta a necessidade de corrigir vários “vícios de 
linguagem” praticados pelos alunos. Muitos desses “vícios” já foram mencionados 
anteriormente; além deles, o bispo enumera: 
• a mudança de [ʎ] para [j]: telhado como [‘teja.do], milho como [‘mijo], filho como [‘fijo]; 
• a monotongação de [ej] para [e]: janeiro como [ʒɐ̃ˈneru], primeiro como [priˈmeru]; 
• a queda do /l/ final: Portugal como “Portugá”; 
20 
 
 
• a falta de concordância no sintagma nominal para a formação do plural: os menino; 
muitas flor. 
Quase todas essas características documentadas durante os séculos XVIII e 
XIX são ainda atestadas em maior ou menor grau no Brasil, principalmente na fala 
coloquial. 
Também neste período, encontramos alguns movimentos políticos efetivos 
partindo de Portugal para a promoção da língua portuguesa. Em 1702, o governador-
geral João de Lencastro propôs ao rei a criação de seminários para os índios “com 
condição de que nos Seminários se não havia de falar outra língua mais do que a 
Portuguesa” (CASTRO, 1986, p. 303). Alguns anos depois, em 1727, o rei de Portugal 
ordenou ao governador do Maranhão que proibisse a língua geral nos povoados e nas 
aldeias dos índios. A medida mais importante foi o Diretório dos Índios, promulgada 
pelo Marquês de Pombal, em 
1757. Esse diretório foi proposto como uma “medida civilizatória” que tinha por 
objetivo, entre outras coisas, que os índios pagassem impostos e que fossem todos 
de fato convertidos ao Cristianismo. Em meio a esses abusos agora absurdos, o 
diretório se expressa em relação à língua do seguinte modo: 
Para desterrar este perniciosíssimo abuso, será hum dos principais cuidados 
dos Diretores, estabelecer nas suas respectivas Povoações o uso da Língua 
Portuguesa, não consentindo por modo algum, que os Meninos, e Meninas, que 
pertencerem ás Escolas, e todos aqueles Índios, que forem capazes de instrução 
nesta matéria, usem da Língua própria das suas Nações, ou da chamada geral; mas 
unicamente da Portuguesa, na forma, que Sua Majestade tem recomendado em 
repetidas ordens, que até agora se não observarão com total ruina Espiritual, e 
Temporal do Estado. 
Apresentamos abaixo dois exemplos de textos escritos no Brasil durante a fase 
diferenciadora. O primeiro deles é uma carta escrita por uma escrava em 1770 – fato, 
aliás, bastante notável, devido à enorme taxa de analfabetismo da época, 
principalmente entre mulheres e mais ainda entre escravas. O documento é 
proveniente do Arquivo Público do Estado do Piauí (cf. NOLL, 2008, p. 169-170, para 
análise e mais comentários; cf. MOTT, 1979, p. 8-9, para a primeira apresentação 
dessa carta): 
21 
 
 
Eu Sou uma escrava de V. S. administração de Capam Anto Vieira de Couto, casada. 
Desde que o Capam pa Lá foi administrar, q. me tirou O Marquês de Pombal 
expulsando os jesuítas, de Louis-Michel van Loo e Claude-Joseph Vernet, 1766 da 
faz da dos algo dois, aonde vivia com meu marido, para ser cozinheira de sua casa, 
onde nela passo muito mal. 
A Primeira é que há grandes trovoadas de pancadas nenhum Filho meu sendo uma 
criança q̃ lhe fez extrair sangue pela boca, em min não poço esplicar q̃. Sou hũ 
colcham de pancadas, tanto que cahy huã vez do Sobrado abacho peiada; por 
mezericordia de Ds esCapei. 
A segunda estou eu e mais minhas parceiraspor confeçar a três annos. E huã criança 
minha e duas mais por batizar. Pello q̃ Peço a V.S. pello amor de Ds e do Seu valimto 
ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Porcurador que mande p. a Fazda 
aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e Batizar minha Filha de V.Sa. sua 
escrava EsPeranCa garcia 
 
O segundo exemplo é um trecho do texto do Bispo de Pernambuco, Jozé J. da 
Cunha de Azeredo Coutinho, que comentamos mais acima (cf. NOLL, 2008, p. 170-
171; CASTRO, 1986, p. 381-382):Quanto á Arte de Lér. §. 2. Deve o Profesor ensinar 
aos seus Dicipulos a conhecer as letras, ou caratéres de que se áde||servir, fazendo 
diferensa das vogaes, e das consoantes, e do sôm de cada uma delas separadas, ou 
juntas uma com as outras, naõ lhes consentindo que pronunciem umas em lugar de 
outras: v. gr. v em lugar b, nem b em lugar de v, como vento em lugar de Bento, e 
Bento em lugar de vento, nem acresentar letras aonde naõ á, como v. gr. aiagua em 
lugar de a agua, naõ aiá em lugar de naõ a á; nem tirar letras onde á, como v. gr. 
Janero em lugar de Janeiro; teado em lugar de telhado; mio em lugar de milho; nem 
inverter a ordem das letras, pondo em primeiro lugar as que se devem pôr em segundo, 
como v. gr. treato em lugar de teatro; cravaõ em lugar de carvaõ; virdasa em lugar de 
vidrasa; breso em lugar de berso; provezinho em lugar de pobrezinho &c. 
Deve ensinar-lhes a pronunciar os ditongos com clareza, e em toda sua forsa: 
como v. gr. meu Pai, e naõ me Pai; pauzinho e naõ pazinho; naõ, e naõ num &c. É 
com o português falado no Brasil já bastante próximo da língua que temos hoje que 
22 
 
 
chegamos ao penúltimo período da história do português brasileiro, a fase de 
desenvolvimento da escrita e do ensino. 
Fase de desenvolvimento da escrita e do ensino (1800 a 1950) 
Do ponto de vista estritamente linguístico, os principais fenômenos encontrados 
a partir de 1800 e exclusivos do português brasileiro são: 
• a queda do /r/ final, principalmente nos verbos, mas também em alguns susbtantivos: 
buscar como buscá, receber como recebê, calor como calô, etc; 
• a monotongação de [aj] antes de [ʃ]: baixo como baxo, encaixo com encaxo, etc; 
• abreviações (aférese) como: tá por está, pra por para, seu por senhor, etc; 
• a epêntese de [i] antes de /s/ final: em português brasileiro, na maioria dos dialetos, 
é possível rimar pais com paz, ambos pronunciados como /pais/, o mesmo vale para 
seis e três que terminam como /eis/, mês como /meis/ etc. 
A africação de /t/ e /d/ antes de /i/ no português brasileiro – como na pronúnica 
tio [ˈtʃiʊ] e dia [ˈdʒiɐ] –, bastante generalizada, parece ter se iniciado no começo do 
século XIX e é mencionada por Soares Barbosa em sua gramática de 1822. Por volta 
da mesma época, documenta-se também a existência do chamado “erre caipira”, o 
<r>-retroflexo, marca registrada do interior de São Paulo, mas que ocorre também no 
Paraná, em Santa Catarina (nas cidades colonizadas por paulistas), em Minas Gerais 
e no Mato Grosso. A pronúncia chiante de /s/ e /z/ em fins de palavras e de sílaba, 
característica do Rio de Janeiro e de Belém e várias cidades litorâneas, é também 
documentada desde as primeiras décadas do século XIX no Brasil, apesar de ter se 
desenvolvido muito antes em Portugal. 
Aliás, a realização chiante de /s/ e /z/ foi muitas vezes ligada – tal-vez de modo 
direto demais – à vinda da Família Real Portuguesa e sua corte ao Brasil em 1808, 
fugindo de Napoleão e suas tropas. Entre os vários hábitos e exigências 
metropolitanas que essa vinda impôs à então capital brasileira Rio de Janeiro, conta-
se também a língua falada pelos recém-chegados. Não é de se espantar que alguns 
pesquisadores tenham assumido que os moradores brasileiros viam vantagens em 
falar como a corte portuguesa, afinal, deve haver muito prestígio em falar como o rei. 
E assim, constrói-se a hipótese de que a pronúncia chiante resultou justamente da 
imitação da fala dos portugueses que chegaram em 1808. 
23 
 
 
Como mostra Noll (2008, p. 229-235), contudo, não é possível fazer uma 
relação tão direta entre a pronúncia chiante e a vinda da corte portuguesa ao Brasil, 
apesar de ser possível pensar que há alguma relação entre elas. Seus argumentos, 
muito resumidamente, são: 
1. Por volta do início do século, a pronúncia portuguesa chiante era criticada no Brasil 
e vista com maus olhos; 
2. Não existe nenhuma outra característica do português europeu que tenha passado 
ao português brasileiro com a vinda da corte, e seria no mínimo surpreende que 
apenas a pronúncia chiante tenha tido esse privilégio; 
3. O encontro –sc– é realizado como [ʃs] em Portugal, mas não no Brasil, onde ele é 
realizado como [s]; 
4. Encontramos uma mesma pronúncia chiante em Belém do Pará sem a presença 
de portugueses. 
A hipótese então avançada por Noll é a de que a pronúncia chiante no Brasil e 
em Portugal desenvolveu-se de modo independente. Essa é uma hipótese bastante 
interessante, mas que ainda carece de mais estudos e documentos para ser 
plenamente aceitável. 
Para a fixação do português brasileiro como o conhecemos hoje, a vinda da 
corte contribuiu de outras maneiras, um pouco menos diretas do ponto de vista 
estritamente linguístico, mas não menos importantes para a história da língua. Junto 
com a família real, chegou ao Brasil a primeira prensa tipográfica e a partir de então o 
País contava com publicações feitas diretamente em seu território, sem ter que passar 
por Portugal. Com isso, o Brasil teve o seu primeiro jornal, fundado em 10 de setembro 
de 1808, a Gazeta do Rio de Janeiro. 
A política educacional brasileira também foi alvo de alterações. O ensino, por 
muito tempo nas mãos dos jesuítas, desenvolveu-se grande mente no século XIX. 
Através de um decreto-lei de 1827, foram criadas no Brasil várias escolas, bem como 
colégios técnicos, academias e posteriormente faculdades. 
De 1808 em diante, o Brasil passou a contar com a impressa, com políticas 
educacionais e com uma urbanização cada vez mais intensificada. Com a imprensa 
escrita, foi possível pela primeira vez fixar normas estilísticas exclusivamente 
24 
 
 
brasileiras, sem as amarras da “sintaxe lusa”. As políticas educacionais tiveram um 
reflexo imediato no número de analfabetos, que cai a partir de então. E a urbanização, 
juntamente com tudo o mais que ela traz, como veremos na sequência, foi um fator 
decisivo para a uniformização e o nivelamento do português brasileiro em nosso vasto 
território. 
Desta fase, há uma quantidade bastante grande de textos que chegaram até 
os dias de hoje. Exemplos interessantes podem ser encontrados no livro E os preços 
eram cômodos..., organizado por Guedes e Berlinck (2000), que traz anúncios de 
jornais de todas as regiões do Brasil publicados durante o século XIX. Deste livro, 
retiramos dois anúncios: o primeiro deles foi publicado em 1809, no Rio de Janeiro, 
pelo jornal Gazeta do Rio de Janeiro; o segundo, também analisado por Ilari e Basso 
(2006, p. 154-155), é da cidade de São Paulo, e foi publicado no jornal O Farol 
Paulistano, 1830. Abaixo, os textos: 
Na cocheira da rua Santa Tereza por detraz do Império da Lapa há duas seges muito 
asseadas, e com boas parellas, as quaes se alugão pelo preço de 5 patacas, tanto de 
manhã como de tarde, até a distancia da praia do Botafogo, ou de São Cristovão: 
adverte-se ás pessoas, que as mandarem alugar, que ensinem os seus domésticos, 
que no caso de acharem a dita Cocheira fechada, se dirijão ao tendeiro Manoel 
Gonçalvez de Bastos, que tem venda na rua das Mangueiras com frente para o Largo 
da Lapa. (GUEDES; BERLINCK, 2000, p. 198) 
Hontem pela manhãa se me enviou um negro do gentio de Guinè, muito boçal, e 
trajado à maneira dos que vem em comboi, e se me dice, foi pegado, vagando como 
perdido. Por intérprete apenas pude colher que ainda não era baptisado, e que saindo 
a lenhar se perdeu: queirapor tanto V.m. inserir este annuncio em sua folha, a fim de 
apparecer dono, sobre o que declaro, que se não apparecer por 15 dias, contados da 
publicação da folha, heide remetel-o á Provedoria dos Resíduos; a quem pertence o 
conhecimento das coisas de que se não sabe dono. – São Paulo 9 de Abril de 1830. 
– O Juiz de Paz Supplente da Freguezia da Sè – José da Silva Merceanna. (GUEDES; 
BERLINK, 2000, p. 329) 
 
 
25 
 
 
Fase de nivelamento (1950 em diante) 
De 1900 em diante, o Brasil conheceu uma urbanização impressionante. 
Apenas para se ter uma ideia, em 1940, aproximadamente 69% da população 
brasileira vivia no campo e em áreas rurais e a população urbana estava em torno de 
31%; somente 30 anos depois, em 1970, a porcentagem da população urbana girava 
em torno de 82%, ao passo que a população rural caía para 18%. Se somarmos a 
isso a taxa de natalidade crescente e a de mortalidade infantil decrescente nesse 
período, constatamos que o contingente urbano era realmente enorme – e ele 
continua a aumentar. 
Tomemos, por exemplo, a construção de Brasília, fundada em 21 de abril de 
1960. Para sua construção, houve o deslocamento de inúmeras pessoas, 
principalmente provenientes da região Nordeste, mas também de outras, que se 
reuniram num mesmo local. Obviamente essas pessoas tinham que se comunicar e 
cada uma delas trazia de sua região uma experiência e uma série de marcas 
linguísticas peculiares. Não é difícil imaginar o “caldeirão linguístico” então formado e 
como certo “nivelamento” ocorreu, justamente devido às trocas e interações 
linguísticas. 
Podemos pensar também no grande número de pessoas que se deslocaram 
do Nordeste para a região de São Paulo e do Rio de Janeiro em busca de trabalho e 
de melhores condições de vida. Juntamente com esses migrantes, vieram diversos 
costumes e um linguajar típico que não raramente foi incorporado pela região que 
recebeu os migrantes. Um bom exemplo é o forró, que veio juntamente com os 
migrantes da região Nordeste, atualmente comum em diversas regiões de São Paulo, 
juntamente com seu “vocabulário técnico”, ou seja, os termos usados para designar a 
dança, seus passos, sua execução etc. 
Para efeitos de “nivelamento”, os meios de comunicação desempenharam um 
papel fundamental, não apenas a imprensa escrita, mas também o rádio e a televisão; 
afinal, um mesmo canal poderia ser ouvido no Brasil inteiro, transmitindo para 
qualquer lugar as características linguísticas da região de origem. 
A preocupação com uma norma ou um padrão para o rádio e a televisão foi tão 
forte a ponto de sua promoção e estabelecimento motivar dois grandes “congressos” 
para discutir a questão. O primeiro deles ocorreu em 1936, o Congresso Brasileiro da 
26 
 
 
Língua Cantada, realizado em São Paulo; em 1957, teve vez o Congresso Brasileiro 
de Língua Falada no Teatro, em Salvador. 
Atualmente, é possível ouvir praticamente todas as variedades de português 
na televisão e no rádio, o que se distancia do ideal culto e aristocrático com que 
sonhavam os envolvidos nos congressos citados, que eram figuras como Mário de 
Andrade, Manuel Bandeira, Antenor Nascentes, Antonio Houaiss, Celso Cunha, entre 
outros. Os trechos abaixo dão uma ideia do tipo de preocupação que essas pessoas 
tinham em mente (apud ILARI; BASSO, 2006, p. 222): 
Quem quer que frequente o teatro nacional ficará desagradavelmente ferido 
ante a diversidade de pronúncias que se entrechocam no ar. Essa diversidade deriva 
em parte de atores estaduanos que, trazendo consigo suas pronúncias regionais e 
não fazendo nenhum esforço para unificar essas pronúncias em benefício do equilíbrio 
e unidade fonética, tornam a obra-de-arte um mistifório malsoante, irregular de estilo 
e de sonoridade, muitas vezes, por isso, de penosa compreensão para o ouvinte. 
E que dizer-se da quantidade de artistas, Portugueses, Espanhóis e Italianos, ou ainda 
mesmo Brasileiros filhos de estrangeiros, que surgem numerosamente no palco 
nacional, num desprezo cego do bem dizer, e que carreiam para a nossa linguagem 
sons espúrios, sutaques (sic) estrambóticos, desnorteando a naturalidade e a pureza 
da língua! (ANDRADE, Anteprojeto da Língua Nacional Cantada, 1936, p. 4). 
O problema da língua comum [...] apresenta no Brasil a tendência espontânea 
de realizar-se naturalmente, que deve ser apoiada por uma política linguística 
consciente. A força do Recife para certa área, desta soberba Salvador para outra, do 
Rio, de São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, cada um para sua periferia, mostra 
que tendemos para certos padrões regionais amplos e pouco numerosos. Graças aos 
modernos meios de comunicação viva, à distância, aliados a uma população que se 
multiplica em permanente fusão de nacionais de todos os pontos em todos os pontos 
é possível para a intercomunicação de âmbito universalista no nosso território 
adotarmos lúcida e conscientemente uma média de falar equidistante de todos os 
padrões regionais básicos. O nosso Congresso, porém creio eu, não aspira a servir 
tão-somente à língua falada no teatro. Ao contrário, aspira à língua falada culta no 
Brasil todo inteiro. Se chegarmos a um padrão culto aceitável para o teatro, este se 
imporá, por vir de consequência, ao rádio e à televisão, ao cinema e ao magistério, ao 
27 
 
 
parlamento e à tribuna em geral, em suma a todas as categorias profissionais que 
fazem da técnica da língua uma finalidade, ou pelo menos um instrumento cuja 
finalidade seja na medida do possível pan-brasileira. (CUNHA, 1959) 
Podemos ainda citar como características linguísticas mais recentes do 
português brasileiro as seguintes: 
• amplo uso de objeto nulo, como em “Comprei um bolo e comi” ao invés de “Comprei 
um bolo e o comi”; 
• uso quase exclusivo da ordem sujeito-verbo, como em “ele era viciado em 
anfetaminas” ao invés de “era ele viciado em anfetaminas”; 
• prevalecimento das orações relativas “cortadoras” e “copiadoras” frente à forma 
padrão, como abaixo: 
1. forma padrão: a mulher com quem divido a casa; 
2. forma “cortadora”: a mulher que eu divido a casa; 
3. forma “copiadora”: a mulher que eu divido a casa com ela. 
Como vimos, urbanização, impressa e fluxo migratório estão entre os principais 
fatores do nivelamento e, por conseguinte, da unidade do português brasileiro. No 
próximo capítulo analisaremos mais a fundo como se deu a formação do português 
brasileiro, sua relativa unidade e diversidade e sua relação com as outras línguas 
faladas no território nacional. 
 
LÍNGUAS INDÍGENAS E AFRICANAS NA FORMAÇÃO DO 
PORTUGUÊS BRASILEIRO, SUA UNIDADE E DIVERSIDADE 
Descrevemos o cenário linguístico que recebeu o português, suas diferenças 
em relação ao português de Portugal, compostas tanto por conservadorismo como 
por inovações, e como as dinâmicas populacionais e econômicas, como a ocupação 
do território e a urbanização, desempenharam um importante papel para “forjar” a 
língua que hoje falamos. 
No presente, veremos com mais vagar a contribuição e as influências das 
línguas africanas e indígenas no que tange à formação do português brasileiro. Feito 
28 
 
 
isso, analisaremos o português brasileiro hoje: ele é um só? Há dialetos? Quantos? 
Onde? E as línguas indígenas e africanas, elas têm lugar na política linguística 
nacional? Não podemos esquecer também as línguas das comunidades de imigrantes 
que vivem hoje no Brasil, às vezes em grande número e bastante organizadas. 
Indígenas, africanos, europeus e brasileiros: o caldeirão do português do Brasil 
Há pelo menos dois motivos principais para falarmos em influências linguísticas 
indígenas e africanas na estrutura do português brasileiro: 
(1) o convívio durante séculos de populações indígenas e africanas com os europeus 
colonizadores, que, eram em número muito maior do que o de europeus; e 
(2) diferenças linguísticas significativas entre as variedades de português faladas noBrasil e em Portugal. 
Conclui-se, a partir de (1), do convívio durante tanto tempo de populações com 
línguas bastante diversas, num quadro em que o português era língua nativa de uma 
minoria, que o português que prevaleceu seria influenciado pelas línguas faladas por 
indígenas e negros africanos. 
A partir de (2), conclui-se que as peculiaridades do português brasileiro, em 
confronto com a variedade europeia, são justamente o resultado das influências 
desencadeadas por (1). Assim, (2) é resultado – mais ou menos direto, a depender do 
pesquisador e de sua análise – de (1). 
As motivações (1) e (2) levaram alguns pesquisadores a considerar que no seio 
da formação do português brasileiro havia uma língua crioula, e foi sobre esse crioulo 
de base portuguesa que se formou o português brasileiro, nesse crioulo está a raiz 
das principais características linguísticas que opõem as variedades de português dos 
dois lados do Atlântico. Essa é, em linhas bastante gerais, a hipótese da criolização 
prévia ou inicial para a formação do português brasileiro, cuja versão mais radical é 
comumente atribuída ao filólogo português Francisco Adolfo Coelho, a partir de 
afirmações como: 
Diversas particularidades características dos dialetos crioulos repetem-se no 
Brasil; tal é a tendência para a supressão das formas do plural, manifestada aqui, que, 
quando se seguem artigo e substantivo, adjetivo e substantivo, etc., que deviam 
concordar, só um toma o sinal do plural (COELHO, 1880-86, p. 170-171). 
29 
 
 
De fato, Coelho mais chama a atenção para paralelos entre o que ocorre no 
português brasileiro e nas línguas crioulas do que estabelece uma relação causal 
entre (1) e (2). 
Outros pesquisadores falam na existência de um “semicrioulo” que era falado 
ao lado do português, e era a “adaptação do português no uso dos mestiços, 
aborígines e negros” (SILVA NETO, 1950, p. 48). Contudo, é extremamente difícil 
definir uma língua semicrioula. O que seria isso? Como apontam alguns, esse termo 
parece simplesmente acomodar a falta de documentação sobre a origem do português 
e preencher a lacuna que existe entre (1) e (2) com uma relação causal mais fraca. 
Mais recentemente, alguns pesquisadores investiram na ideia da “transmissão 
linguística irregular” ou “imprópria” para explicar (2), relacionando-o com (1). Segundo 
Naro e Scherre (2007, p. 137), a “transmissão linguística irregular”, grosso modo, é 
aquela que se dá “entre adultos e/ou com base em fala não suscetível de uma análise 
ordenada, talvez por ser caótica, ou por ser em quantidade insuficiente, ou ainda por 
outras razões”. 
No caso brasileiro, podemos pensar em uma transmissão linguística que se deu 
entre falantes em sua imensa maioria analfabetos e sem escolarização; ou seja, 
distantes de uma norma linguística ditada por uma gramática ou mesmo de 
instituições de regulamentação linguística que poderiam atuar como órgão regulador 
sobre a linguagem, sem esquecer que esses falantes provavelmente falavam outras 
línguas, como as indígenas e as africanas. 
A depender de como a caracterizamos, é certamente plausível que houve 
“transmissão linguística irregular” no território brasileiro à época da formação do 
português do Brasil. Mais importante ainda, essa ideia nos faz considerar uma quarta 
personagem atuante no contexto de formação do português brasileiro, a saber: o 
brasileiro nativo – ao lado dos indígenas, dos escravos e dos europeus, cada um 
presumivelmente com sua língua, a pessoa nascida no Brasil aprendia uma língua, 
mas provavelmente não apenas a de sua comunidade, dado que tinha que interagir 
também, obviamente em diferentes graus, com indígenas, escravos africanos e 
europeus. É na figura do nativo do Brasil que podemos encontrar a chave para a 
formação de nossa língua. 
30 
 
 
A dinâmica populacional apresentada no quadro anterior é um dos argumentos 
de Noll (2008, p. 190) para rejeitar a hipótese da crioulização prévia e da existência 
de um semicrioulo. Estudos recentes sobre línguas crioulas consideram que seja 
necessário, para a formação de uma língua crioula baseada numa língua A num dado 
país, que não mais do que 20% de sua população tenha a língua A como língua 
materna. O momento que mais se aproxima de tal situação é o período entre 1538-
1600, no qual apenas 30% da população tinha o português como língua materna. Daí 
em diante, quando entra em cena a figura do brasileiro nativo, que, como dissemos, 
ou tinha o português como língua materna ou travou contato com essa língua desde 
cedo, o número de pessoas que têm o português como língua materna só cresce. 
Essa discussão sobre a população enfraquece o primeiro dos dois motivos que 
apresentamos acima com relação à existência de influência de línguas indígenas e 
africanas no português falado no Brasil. Há ainda, contudo, uma série de argumentos 
estritamente linguísticos que enfraquecem o ponto (2) (i.e., as diferenças linguísticas 
significativas entre as variedades de português faladas no Brasil e em Portugal podem 
ser explicadas apelando-se a tal influência). 
Para podermos apreciar o ponto (2) e avaliar sua solidez, é necessário, antes 
de mais nada, que arrolemos sumariamente algumas dessas diferenças (NOLL, 2008, 
p. 213-218): 
1. a entoação brasileira, bastante diferente da portuguesa; 
ɐ̃.ma]; 
3. a passagem de [ʎ ʎ 
4. a africação de /t/ e /d/ diante de /i/; 
5. assimilação [nd] > [n], como em falando e falano; 
6. queda de /r/ final; 
7. queda de /l/ e /s/ finais; 
8. neutralização de /r/ e /l/, como na pronúncia caipira de sol (“sor”), animal (“animar”); 
9. quebra de encontros consonantais, como advogado por “adivogado”; técnico por 
“téquinico” (grafia, aliás, que não é incomum encontrar); 
31 
 
 
10. a aférese, como em “tá” por está, “cê” por você; 
11. uso dos pronomes ele e ela como objeto direto, como “você viu ele?”; 
12. a repetição da negação, como em “não quero não”. 
 
Atribui-se aos itens de (1) a (5) uma influência tanto indígena quanto africana, 
ao item (6) atribui-se uma influência indígena, e aos itens de (7) a (12), uma influência 
africana. 
Noll (2008, p. 213-218) apresenta uma série de problemas bastante complexos 
com a ideia de buscar uma explicação para os fenômenos de (1) a (12) em influências 
indígenas e africanas; tomemos alguns exemplos: 
• há muitas línguas indígenas e africanas que estiveram (e algumas ainda estão) no 
Brasil, portanto, se quisermos explicar o fenômeno X devido à influência de outra 
língua, devemos ser claros sobre qual língua estamos falando e como se deu tal 
influência – dizer que X resulta do contato com uma série de línguas indígenas e 
africanas não relacionadas entre e intra si é algo muito cômodo, mas pouco explicativo; 
• além da diversidade de línguas, há uma diferença na densidade populacional entre 
indígenas e africanos em contextos rurais e urbanos que precisamos levar em conta. 
Isso se complica sobremaneira quando lembramos que os fenômenos arrolados 
acima são encontrados praticamente em todo o território nacional; 
• não encontramos na estrutura das línguas que alegadamente influenciaram o 
português brasileiro os fenômenos que encontramos em português (notadamente as 
quedas de consoantes em finais de palavra e ausência de certos tipos de 
concordância); 
• todos os fenômenos arrolados acima são atestados em diferentes períodos na 
história da língua portuguesa, e não é necessário recorrer a influências externas para 
explicá-los. 
A posição de Noll (2008) é controversa, mas, mais do que tudo, mostra como é 
complicado saber as origens do português brasileiro como ainda há trabalho a ser 
feito. 
32 
 
 
Durante a década de 20, o linguista americano Edward Sapir lançou a ideia de 
que as mudanças linguísticas de curto e longo prazo são condicionadas 
estruturalmente pelas línguas e que seguem certo caminho ou certo padrão, e é 
justamente essecaminho ou padrão que ele chamou de “deriva linguística”. Essa é 
uma ideia bastante intuitiva, mas também bastante poderosa, pois segundo ela as 
línguas não mudam aleatoriamente e nem caoticamente, mas quando há alguma 
mudança, ela se conforma à deriva da língua, que tem a ver com sua estrutura. 
Com esses três elementos – deriva linguística, transmissão linguística 
imprópria e a constatação de que o que ocorre no português brasileiro já foi registrado 
de maneira oscilante em momentos antigos da língua portuguesa –, podemos lançar 
a seguinte hipótese: o português brasileiro é simplesmente uma variedade de 
português que sofreu modificações (tanto conservando características quanto as 
inovando) diferentes do caso do português europeu, mas ainda assim consoantes com 
sua deriva linguística, que foi, por sua vez, “acelerada” ou“ catalisada” pelo processo 
de transmissão linguística imprópria. 
Novamente, essa é uma hipótese controversa, mas não deixa de ser bastante 
interessante: dá conta da ausência de uma documentação história sobre uma suposta 
língua crioula falada no Brasil; dá conta, ainda, das diferenças que há entre o 
português do Brasil e o de Portugal e atribui um papel de suma importância às 
populações que não tinham o português como língua materna e aos primeiros 
brasileiros nativos que é justamente a aceleração ou catalisação da deriva linguística. 
Ecos de uma hipótese similar já podem ser encontrados nos trabalhos de Serafim da 
Silva Neto (1950, p.96), que afirmava, na década de 50, que “no português brasileiro 
não há, positivamente, influência de línguas africanas ou ameríndias”. Os trabalhos 
de Naro e Scherre (2007) e de Noll (2008) podem ser também lidos como apontando 
para direções próximas à que a hipótese esboçada acima aponta. 
Como terá notado o leitor, e como mencionamos pouco acima, há muito 
trabalho ainda a ser feito para desvendarmos e entendermos a formação do português 
brasileiro. Não é nosso objetivo aqui dar uma palavra final sobre essa questão, mas 
apenas chamar a atenção para sua importância e complexidade, bem como indicar 
como procede esse tipo de investigação da história de uma língua e de sua formação. 
Vejamos na sequência a situação do português no Brasil de hoje. 
33 
 
 
Unidade e diversidade no português falado no Brasil 
Há dois slogans muito comuns relacionados ao português brasileiro: um deles 
diz que o Brasil é o maior país de língua portuguesa – e está perfeitamente correto; o 
outro, menos comum hoje em dia, é aquele segundo o qual o Brasil é o maior país em 
que se fala apenas uma língua – e isso não está correto, por mais de um motivo. 
O primeiro slogan é incontestável diante de um país de dimensões continentais 
que conta com mais de 190 milhões de habitantes (em 2009). Mas isso não exclui 
duas coisas: (1) que há diversidade no interior do português brasileiro, e (2) que o 
português não é a única língua falada no Brasil, algo que vai contra o segundo slogan. 
Sobre a veracidade do ponto (1) todos estão de acordo. Afinal, basta 
conhecermos pessoas de diferentes regiões do país, ou ligarmos o rádio ou a televisão 
que veremos (ou melhor, ouviremos) facilmente a diversidade dos “falares 
portugueses” no Brasil – o que comprova, aliás, que somos excelentes “linguistas 
amadores”, principalmente foneticistas, percebemos imediatamente o sotaque das 
pessoas. É documentado no Brasil, desde o século XIX, que certas regiões têm 
sotaques diferentes de outras. Um bom exemplo foi estudado por Oliveira (2004) e 
trata-se de um texto de 1816, um documento policial, escrito por policiais de 
Florianópolis (então Desterro), que relata também Ilari e Basso (2006, p. 160-
161).encontro com oficiais de São Paulo. Os policiais de Florianópolis identificaram os 
paulistas, entre outras coisas, pela maneira de falar: 
encontramos / 
pelas onze horas mais ou menos da / 
mesma noite na Rua do Vinagre junto / 
à porta de um tal Fayal, bem de fronte / 
da travessa que toma para a Rua Augusta / 
uns oito vultos, dois ou trez dos quaes com / 
borretinas do uniforme de cavallaria / 
de S. Paulo, ao presente destacada nesta Va 
[corroído] 
34 
 
 
os mais vestidos de ponxes com chapeos / 
desabados, os quaes fomos reconhecer da par- / 
te da Justiça, como era da nossa obrigação / 
declarando serem soldados do Regimto / 
d. São Paulo – como com effeito erão, e se / 
conhecerão pela diferença e singularidad.e 
da sua voz e pronúncia – que ali se acha - / 
vão com licença do seu Then.e Cor.El comand.Te [MIRANDA, F. G..; SARAIVA, J. P. 
A.; VIEIRA, S. F. Ofícios dos Juízes de Fora para o Presidente da Província (1814-
1821), Florianópolis: Núcleo de Estudos Portugueses, 1996. Série Filológica]. 
Depois da virada do século XIX para o século XX, encontramos vários trabalhos 
que descrevem uma ou outra variedade do português brasileiro e alguns que têm por 
objetivo mapeá-los; podemos citar os seguintes trabalhos: O dialeto caipira, de 
Amadeu Amaral (sobre São Paulo, 1920 / 2a. ed. 1953); O linguajar carioca, de 
Antenor Nascentes (1922); A linguagem dos cantadores, de Clóvis Monteiro (sobre o 
Ceará, 1934); A língua do Nordeste, de Mário Marroquim (sobre Alagoas e 
Pernambuco, 1938); Alguns aspectos da fonética sul-riograndense, de Elpídio Ferreira 
Paes (1938); O falar mineiro e Os estudos de dialetologia portuguesa, de J. A. Teixeira 
(sobre Goiás, 1944), entre muitos outros. 
O trabalho de Antenor Nascentes, de 1922, traz o primeiro atlas linguístico 
brasileiro, classificando as variedades regionais do português do Brasil. Mesmo 
contando com quase cem anos, esse mapa é ainda relativamente fiel à realidade 
variacional do português brasileiro e identifica as seguintes variedades: Sulista, 
Mineiro, Fluminense, Baiano, Nordestino, Amazônico: 
 
Limites com o estrangeiro 
Limites estaduais 
Limites dos subfatores 
35 
 
 
Amazônico 
Sulista 
Mineiro 
Baiano 
Território Incaracterístico 
Nordestino 
Fluminene 
 
Mapa – Atlas linguístico brasileiro. Fonte: Nascentes (1922). 
Apesar de sua atualidade, o trabalho de Nascentes merece alguns retoques. O 
primeiro deles se refere ao que o autor classificou como “Território incaracterístico”, 
que compreende uma região aproximadamente do tamanho da França (cf., ILARI; 
BASSO, 2006, p. 170-171). 
A razão para a taxação “território incaracterístico” é majoritariamente a falta de 
população nessas regiões, algo que mudou e muito nos últimos anos, principalmente 
com a migração de paulistas e gaúchos. Sobre a variedade Sulista, assim como para 
o caso da Amazônica, haveria mais subdivisões a fazer, opondo, por exemplo, a 
variedade de São Paulo à de Florianópolis e à de Porto Alegre, assim como a 
variedade de Manaus à de Belém. Obviamente, a depender do grau de detalhe da 
análise, as outras variedades de Nascentes também podem ser subdivididas. Ilari e 
Basso (2006, p. 167-169) arrolam alguns fenômenos regionais do português brasileiro, 
que apresentamos abaixo. Antes de olharmos para tais fenômenos, é importante 
salientar, porém, que não se trata de uma exposição exaustiva, ou seja, pode ser que 
mais regiões apresentem os fenômenos que citamos ou que certas regiões os 
apresentem com mais frequência e de maneira mais robusta que outras: 
 
1. fenômenos de ordem fonética: 
• Palatalização de /s/ e /z/ finais de sílaba e de palavra: 
36 
 
 
<mais> pronunciado [maj∫], <rapaz> 
Encontrado principalmente na fala carioca, mas também em alguns locais do Espírito 
Santo, em algumas regiões de Minas Gerais e em certos falares do Pará, do 
Amazonas e também de Pernambuco (Recife); 
• Realização de /s/ final como /h/ 
É certo que, no Brasil, um manauense pode entender um gaúcho e as maiores 
dificuldade de comunicação serão encontradas no léxico, mas a questão da 
legitimidade político-social de variedades e dialetos é bastante delicada e que não 
aprofundaremos aqui. Assim, o portuguêsbrasileiro de fato apresenta-se bastante 
homogêneo, mesmo com as diferenças que apresentamos logo acima. 
A constatação da homogeneidade do português brasileiro, contudo, não nos 
autoriza a endossar o segundo dos slogans que vimos acima, a saber: que o Brasil é 
o maior país em que se fala apenas uma língua. 
Atualmente, o Brasil tem como língua oficial o português e a língua brasileira 
de sinais (Libras), reconhecida oficialmente desde 2002; além disso, o município de 
São Gabriel da Cachoeira tem como línguas oficiais, reconhecidas pelo governo 
brasileiro, as línguas indígenas tucano, nheengatu e baniwa. 
Quanto às línguas indígenas ainda faladas no território nacional, nas diversas 
reservas espalhadas pelo País, encontramos cerca de 180. Não podemos esquecer 
também das línguas de comunidades de imigrantes que vieram mais recentemente 
ao Brasil e que também influenciaram o português brasileiro, como o italiano, o alemão, 
o japonês, entre outras. <mais> pronunciado [majh] encontrado no Nordeste e no Rio 
de Janeiro; 
• Realização de /v/ e /ʒ/ como /h/ em início de palavra. 
<vamos> pronunciado [hamʊ] 
 ]׀
encontrado em regiões do Nordeste, principalmente no Ceará; 
• Diferentes realizações do /R/ (o <r> de carro): 
37 
 
 
apical múltipla na Região Sul (churrasco, espeto corrido e chimarrão na voz dos 
gaúchos); 
ʊ]); fricativa velar surda [h] no resto do País; 
• Ausência da palatalização de /t/ e /d/ antes de /e/ e /i/: a palatização (<dente, pratinho, 
ɲʊ ׀ ʒiskʊ]) é fenômeno generalizado em 
todo o território brasileiro, com exceção do interior de São Paulo e da Região Sul 
do CE, do MA e do PI; 
• ʊ], 
ʊ] encontrado em regiões do sertão, Pernambuco, Paraíba e Mato Grosso; 
• 
encontrado em localidades da Região Sul e em localidades do interior de São Paulo. 
A não ser nesta área, a oposição /e/-/i/ se neutraliza em posição pós-tônica; idem para 
/o/-/u/; 
• “entoação descendente”: <sei não> pronunciado com um “contorno descendente 
longo” encontrado no Nordeste, acima do estado da Bahia; 
 encontrado na ]׀ •
região Nordeste; 
• ɔ
das características do “dialeto caipira”, que costuma ser associado à região não 
costeira de colonização mais antiga, em São Paulo. A pronúncia retroflexa do /r/, como 
de resto muitas outras características do dialeto caipira, alcançam de fato algumas 
regiões do sul de Minas Gerais, do Mato Grosso, do norte do Paraná, de Goiás e de 
Tocantins. A mesma pronúncia é dada no “dialeto caipira” ao primeiro [l] de <álcool> 
e ao [l] de <sol> e de <animal>. 
• -l que fecha sílaba: 
a primeira pronúncia é generalizada pelo Brasil afora, o que leva à confusão de 
palavras como mal e mau, e a grafias erradas como <autofalante> e <altomóvel>. 
38 
 
 
A segunda pronúncia é encontrada no Sul. Outros falares regionais, entre eles o 
dialeto caipira, apresentam uma terceira alternativa de pronúncia, que é a queda pura 
e simples do /l/ final; 
• queda do -r final dos infinitivos verbais / queda do –r final dos substantivos: 
], 
ɔ
Espírito Santo,mas também, com maior ou menos intensidade, em todo o território 
nacional; 
• pronúncia do fonema /λ/: áreas: na região do “dialeto caipira” e em muitas outras, a 
pronúncia é [j]: filho [fijo], milho [mijo]; nessas regiões, uma reaçãode hipercorreção 
leva eventualmente a pronunciar desentupidor de pia como desentupidor de pilha. Em 
ɛ] 
2. fenômenos morfossintáticos: 
• uso ou omissão dos artigos definidos antes de nomes próprios e dos nomes de 
parentesco: 
O assunto de que mais se falou na casa de mainha / da mãe foi o casamento de /do 
Luís. A omissão se dá principalmente na região Nordeste; 
• uso de tu e você como pronomes de segunda pessoa: há, realmente, em português 
brasileiro, três formas de expressar a segunda pessoa: (i) pronome tu + verbo de 
segunda pessoa: tu és / tu vais; (ii) pronome tu + verbo de terceira pessoa: tu é / tu 
vai; (iii) pronome você e verbo de terceira pessoa: você é / você vai. 
As duas primeiras soluções prevalecem nos três estados da região Sul; na fala carioca, 
encontramos a segunda e a terceira; na região norte e nordeste também encontramos 
(i) e (ii). A solução com você + verbo de 3a pessoa prevalece no resto do País. 
• tendência a omitir o pronome reflexivo com verbos pronominais: 
Já tinha acontecido antes, por isso não preocupei (em vez de me preocupei). 
Encontrado em Minas Gerais, e ampliando sua área a partir de lá. É certo que, 
no Brasil, um manauense pode entender um gaúcho e as maiores dificuldade de 
comunicação serão encontradas no léxico, mas a questão da legitimidade político-
39 
 
 
social de variedades e dialetos é bastante delicada e que não aprofundaremos aqui. 
Assim, o português brasileiro de fato apresenta-se bastante homogêneo, mesmo com 
as diferenças que apresentamos logo acima. 
A constatação da homogeneidade do português brasileiro, contudo, não nos 
autoriza a endossar o segundo dos slogans que vimos acima, a saber: que o Brasil é 
o maior país em que se fala apenas uma língua. 
Atualmente, o Brasil tem como língua oficial o português e a língua brasileira 
de sinais (Libras), reconhecida oficialmente desde 2002; além disso, o município de 
São Gabriel da Cachoeira tem como línguas oficiais, reconhecidas pelo governo 
brasileiro, as línguas indígenas tucano, nheengatu e baniwa. 
Quanto às línguas indígenas ainda faladas no território nacional, nas diversas 
reservas espalhadas pelo País, encontramos cerca de 180. Não podemos esquecer 
também das línguas de comunidades de imigrantes que vieram mais recentemente 
ao Brasil e que também influenciaram o português brasileiro, como o italiano, o alemão, 
o japonês, entre outras. 
 
CONSERVADORISMOS E INOVAÇÕES DO PORTUGUÊS 
BRASILEIRO 
Tomaremos como marco cronológico para avaliar se uma dada diferença deve 
ser tratada como uma inovação ou um conservadorismo a data de 1500, ou seja, se 
uma característica que o português europeu tinha em 1500 foi mantida no português 
brasileiro, mas não no europeu, tal característica será considerada um 
conservadorismo do português brasileiro; se, por sua vez, um dado fenômeno não for 
encontrado no português de 1500 e nem no atual português europeu, mas sim no 
português brasileiro, podemos dizer que tal fenômeno é uma inovação do português 
brasileiro. 
Ao longo deste livro, já nos deparamos com as diferenças entre o português 
europeu e o brasileiro que podem ser distribuídas entre inovações e 
conservadorismos. Como resumo, apresentamos abaixo, de modo adaptado e 
resumido, algumas das conclusões de Noll (2008), Ilari e Basso (2006) e Teyssier 
(1997). 
40 
 
 
Conservadorismos do português brasileiro: 
1. a nasalização heterossilábica, como em cama [ˈkɐ̃.ma] e não [ˈkɐ.ma]; 
2. a ausência de oposição entre /a/ e /ɐ/, como no português europeu cantámos vs. 
cantamos; 
3. a repetição da negação, como em não sei não; 
4. a manutenção das vogais pretônicas e postônicas [e], [o] e [u], 
que se reduziram no português de Portugal; 
5. conservação de [e] antes de palatal ([ʎ ɲ ʃ ʒ]), que em Portugal se realiza como [ɛ ɐ 
ɐj]; 
6. conservação dos ditongos [ej ej]̃, que em Portugal se realizam como [aj aj]̃; 
7. conservação do gerúndio como está fazendo, e não a fazer; 
8. conservação da próclise em sentenças afirmativas com sujeito substantival 
anteposto. 
Um conservadorismo bastante interessante, mas ainda a ser melhor estudado, 
refere-se à prosódia e à estrutura fonética do português. Se pedirmos para um falante 
nativo de português europeu para que leia os versos do poema Os Lusíadas, de 
Camões, ele certamente não respeitará a métrica, ou seja, ao invés das dez sílabas 
com as quais são construídos os versos, um português pronunciará oito ou sete. Como 
dissemos mais acima, isso se deve às profundas mudanças pelas quais as vogais do 
português europeu passaram, possibilitando a redução drástica de sílabas. 
Se um brasileiro ler

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