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INTERPRETAÇÃO PRÉ-VESTIBULAR 125PROENEM.COM.BR HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA07 A língua portuguesa compõe um grupo de idiomas chamados “neolatinos”, por serem derivados do Latim, língua oficial do Império Romano, que dominou praticamente toda a Europa durante sete séculos. Ao longo do tempo, especialmente após a queda do Império Romano, o latim sofreu inúmeras mudanças e acabou por transformar-se em uma gama enorme de idiomas, como o italiano, o francês, o romeno, o espanhol, o provençal, o catalão, o sardo, o dalmático, o galego e, claro, nosso português. O latim, introduzido na Península Ibérica em torno do século III AEC, foi a língua oficial da região até a chegada dos invasores germânicos que ficaram na localidade do século V ao VII. A península é invadida pelos muçulmanos em 711 e permanecem por lá até por volta do século X. Apenas no século XII surge o reino de Portugal. Durante toda essa jornada, o latim falado na região sofreu a influência das línguas germânicas, do árabe, além da natural evolução temporal que sofre qualquer idioma falado. Palavras de influência germânica agasalhar, aia, albergue, arrear, bando, brotar, elmo, enguiçar, espeto, espiar, espora, estaca, ganso, garbo, guarda, guerra, íngreme, luva, mofo, roca, sítio, trégua triscar; Palavras de influência árabe Açúcar, alcateia, álcool, alcova, aldeia, alecrim, alfaiate, alface, alfândega, algarismo, algibeira, algoz, almanaque, almofada, alquimia, armazém, arroz, arsenal, auge, azul, damasco, elixir, enxaqueca, esmeralda, fulano, garrafa, girafa, harém, ímã, javali, limão, magazine, masmorra, mesquita, resma, sorvete, sultão, talco, tapete, xadrez, xarope, xaveco, xeque, xerife, zarabatana. Os primeiros textos escritos em português datam do século XIII. Esses registros mostram que a língua portuguesa não se diferencia do galego, idioma utilizado na província da Galícia, que, nos dias de hoje, fica na Espanha. Foi essa língua amalgamada, “galego-português” ou “galaico-português”, que era a “versão do latim” falada na região da Península Ibérica. As primeiras obras do Trovadorismo, como cantigas de amor e cantigas de amigo são registradas nesse “proto” português. Somente por volta de 1350, com a extinção da escola literária galego- portuguesa, que o português se afirma como língua independente, oficializando como a expressão idiomática do Reino de Portugal. A partir do século XV, com a expansão marítima, Portugal começa a levar sua língua ao mundo. Transportada por capitães e fixada junto às conquistas e colonizações, o português chega à África, Ásia, Oceania e, evidentemente, desembarca também no Brasil. É no século XVI que a língua encontra seu “esplendor” renascentista. Os Lusíadas de Camões e a publicação da primeira gramática da língua portuguesa em 1536 por Fernão de Oliveira são marcos significativos que elevam a língua portuguesa a uma organização e expressão extraordinárias. Neste período, era comum que os portugueses nobres e aqueles em campanhas colonizatórias usassem também o espanhol como segunda língua e muitos autores portugueses também escrevem suas obras na língua vizinha. Essa proximidade geográfica, cultural e política acaba por influenciar ambas as línguas ao longo da história. Palavras de influência espanhola Aperrear, boina, bolero, caudilho, cavalheiro, chiste, cordilheira, galã, lagartixa, mantilha, mochila, muleta, pirueta, tijolo A partir do século XVIII, por conta da preponderância econômica, política e cultural da França, o francês passa a ser uma língua de prestígio mundial, contribuindo com diversas expressões que acabaram por ser incorporadas à língua portuguesa. Fato semelhante ocorre a partir do século XX com o inglês, devido, em especial, à influência dos Estados Unidos. Palavras de influência francesa Ateliê, abajur, avenida, bijuteria, bufê, buquê, capô, chance, chassis, chique, chofer, crachá, departamento, envelope, felicitar, greve, guichê, menu, omelete, pose, restaurante, sutiã, toalete, tricô, vitrine. Palavras de influência inglesa Basquetebol, bife, coquetel, detetive, escanear, estartar, filme, futebol, lanche, náilon, nocaute, pulôver, repórter, sanduíche, suéter, xampu. No Brasil, a língua desenvolveu-se com influência das línguas indígenas e das línguas de origem africana, traços sentidos tanto no vocabulário quanto na pronúncia brasileira, que se diferencia da forma de falar dos europeus. Esporadicamente, palavras e termos oriundos de línguas dos imigrantes também se incorporaram ao léxico português. Palavras de influência africana Acarajé, angu, babalaô, batuque, cachumba, cachimbo, caçula, candoblé, cochilar, Exu, fubá, Iemanjá, miçangacamundongo, marimbondo, moleque, quilombo, senzala, tanga. Palavras de influência tupi Abacaxi, arara, capinar, carioca, jabuticaba, jararaca, jiboia, mandioca, Mooca, Niterói, piranha, Tietê, urubu. Palavras de influência italiana Cantina, boletim, carnaval, mortadela, risoto, salsicha, confete, porcelana, banquete, macarrão, cenário, violino, violoncelo, bandolim, sonata, ária, dueto, soprano. Com duzentos milhões de falantes da língua e sua ampla territorialidade, o Brasil é o principal país lusófono. É comum que hoje se diferenciem o português europeu do português brasileiro, dado que apresentam variações significativas nos campos fonético, lexical e sintático. A língua portuguesa, hoje a quinta língua mais falada no mundo em número de falantes, estende seus domínios por todos os continentes, sendo falada oficialmente, além de Brasil e Portugal, em Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Timor Leste, São Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial e Timor Leste. Além disso, regiões como Goa, na Índia, e Macau, na China, também são regiões onde a língua é falada, herança dos tempos das grandes navegações empreendidas pelos portugueses. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR126 INTERPRETAÇÃO 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Identifique o nome do grupo ao qual a Língua Portuguesa pertence. 02. Cite em quais aspectos são sentidas as diferenças entre o português europeu e o português brasileiro. 03. Cite cinco palavras de influência africana. 04. Apresente as influências diretas que são sentidas pela Língua Portuguesa do Brasil. 05. Identifique o período em que o latim foi inserido na Península Ibérica. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. (ENEM) A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil, corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portuguesa, paralelo ao que já ocorrera em relação à aplicação do domínio de ter na área semântica de “posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de João de Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com concordância, lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali. Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua. Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma fazer uma avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra? CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente para o passado, In: Cadernos de Letras da UFF, n.° 36, 2008. Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado). Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que a) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisahistórica. b) os estudo clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua. c) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma. d) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos linguísticos. e) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística. 02. (ENEM) O léxico e a cultura Potencialmente, todas as línguas de todos os tempos podem candidatar-se a expressar qualquer conteúdo. A pesquisa linguística do século XX demonstrou que não há diferença qualitativa entre os idiomas do mundo – ou seja, não há idiomas gramaticalmente mais primitivos ou mais desenvolvidos. Entretanto, para que possa ser efetivamente utilizada, essa igualdade potencial precisa realizar-se na prática histórica do idioma, o que nem sempre acontece. Teoricamente, uma língua com pouca tradição escrita (como as línguas indígenas brasileiras) ou uma língua já extinta (como o latim ou o grego clássicos) podem ser empregadas para falar sobre qualquer assunto, como, digamos, física quântica ou biologia molecular. Na prática, contudo, não é possível, de uma hora para outra, expressar tais conteúdos em camaiurá ou latim, simplesmente porque não haveria vocabulário próprio para esses conteúdos. É perfeitamente possível desenvolver esse vocabulário específico, seja por meio de empréstimos de outras línguas, seja por meio da criação de novos termos na língua em questão, mas tal tarefa não se realizaria em pouco tempo nem com pouco esforço. BEARZOTI FILHO, P. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa. Manual do professor. Curitiba: Positivo, 2004 (fragmento). Estudos contemporâneos mostram que cada língua possui sua própria complexidade e dinâmica de funcionamento. O texto ressalta essa dinâmica, na medida em que enfatiza a) a inexistência de conteúdo comum a todas as línguas, pois o léxico contempla visão de mundo particular específica de uma cultura. b) a existência de línguas limitadas por não permitirem ao falante nativo se comunicar perfeitamente a respeito de qualquer conteúdo. c) a tendência a serem mais restritos o vocabulário e a gramática de línguas indígenas, se comparados com outras línguas de origem europeia. d) a existência de diferenças vocabulares entre os idiomas, especificidades relacionadas à própria cultura dos falantes de uma comunidade. e) a atribuição de maior importância sociocultural às línguas contemporâneas, pois permitem que sejam abordadas quaisquer temáticas, sem dificuldades. 03. (ENEM) TEXTO I Antigamente Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais, e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo-d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco. ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983 (fragmento). TEXTO II Expressão Significado Cair nos braços de Morfeu Dormir Debicar Zombar, ridicularizar Tunda Surra Mangar Escarnecer, caçoar Tugir Murmurar Liró Bem-vestido R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 127 INTERPRETAÇÃO Copo d’água Lanche oferecido pelos amigos Convescote Piquenique Bilontra Velhaco Treteiro de topete Tratante atrevido Abrir o arco Fugir FIORIN, J. L. As línguas mudam. In: Revista Língua Portuguesa, n. 24, out. 2007 (adaptado). Na leitura do fragmento do texto Antigamente constata-se pelo emprego de palavras obsoletas, que itens lexicais outrora produtivos não mais o são no português brasileiro atual. Esse fenômeno revela que a) a língua portuguesa de antigamente carecia de termos para se referir a fatos e coisas do cotidiano. b) o português brasileiro se constitui evitando a ampliação do léxico proveniente do português europeu. c) a heterogeneidade do português leva a uma estabilidade do seu léxico no eixo temporal. d) o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para ser reconhecido como língua independente. e) o léxico do português representa uma realidade linguística variável e diversificada. 04. (ENEM) TEXTO I A língua ticuna é o idioma mais falado entre os indígenas brasileiros. De acordo com o pesquisador Aryon Rodrigues, há 40 mil índios que falam o idioma. A maioria mora ao longo do Rio Solimões, no Alto Amazonas. É a maior nação indígena do Brasil, sendo também encontrada no Peru e na Colômbia. Os ticunas falam uma língua considerada isolada, que não mantém semelhança com nenhuma outra língua indígena e apresenta complexidades em sua fonologia e sintaxe. Sua característica principal é o uso de diferentes alturas na voz. O uso intensivo da língua não chega a ser ameaçado pela proximidade de cidades ou mesmo pela convivência com falantes de outras línguas no interior da própria área ticuna: nas aldeias, esses outros falantes são minoritários e acabam por se submeter à realidade ticuna, razão pela qual, talvez, não representem uma ameaça linguística. Língua Portuguesa, n. 52, fev. 2010 (adaptado). TEXTO II “O inglês está destinado a ser uma língua mundial em sentido mais amplo do que o latim foi na era passada e o francês é na presente”, dizia o presidente americano John Adams no século XVIII. A profecia se cumpriu: o inglês é hoje a língua franca da globalização. No extremo oposto da economia linguística mundial, estão as línguas de pequenas comunidades declinantes. Calcula-se que hoje se falem de 6 000 a 7 000 línguas no mundo todo. Quase metade delas deve desaparecer nos próximos 100 anos. A última edição do Ethnologue — o mais abrangente estudo sobre as línguas mundiais —, de 2005, listava 516 línguas em risco de extinção. Veja, n.36, set. 2007 (adaptado). Os textos tratam de línguas de culturas completamente diferentes, cujas realidades se aproximam em função do(a) a) semelhança no modo de expansão. b) preferência de uso na modalidade falada. c) modo de organização das regras sintáticas. d) predomínio em relação às outras línguas de contato. e) fato de motivarem o desaparecimento de línguas minoritárias. 05. (ENEM) A forte presença de palavras indígenas e africanas e de termos trazidos pelos imigrantes a partir do século XIX é um dos traços que distinguem o português do Brasil e o português de Portugal. Mas, olhando para a história dos empréstimos que o português brasileiro recebeu de línguas europeias a partir do século XX, outra diferença também aparece: com a vinda ao Brasil da família real portuguesa (1808) e, particularmente, com a Independência, Portugal deixou de ser o intermediário obrigatório da assimilação desses empréstimos e, assim, Brasil e Portugal começaram a divergir, não só por terem sofrido influências diferentes, mas também pela maneira como reagiram a elas. ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. Os empréstimos linguísticos, recebidos de diversas línguas, são importantes na constituição do português do Brasil porque a) deixaram marcas da história vivida pela nação, como a colonização e a imigração. b) transformaram em um só idioma línguas diferentes, como as africanas, as indígenas e as europeias. c) promoveram uma línguaacessível a falantes de origens distintas, como o africano, o indígena e o europeu. d) guardaram uma relação de identidade entre os falantes do português do Brasil e os do português de Portugal. e) tornaram a língua do Brasil mais complexa do que as línguas de outros países que também tiveram colonização portuguesa. 06. (ENEM) A língua tupi no Brasil Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”, pois “aquela gente não se explica em outro idioma”. Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao sertão em busca de escravos índios. Muitos bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos Jorge Velho, o paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de Pernambuco como “um bárbaro que nem falar sabe”. Em suas andanças, essa gente batizou lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua. “Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o historiador e antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso mudou o tupi paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de outros idiomas.” O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma espécie de tupi facilitado. ÂNGELO, C. Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 8 ago. 2012 (adaptado). O texto trata de aspectos sócio-históricos da formação linguística nacional. Quanto ao papel do tupi na formação do português brasileiro, depreende-se que essa língua indígena a) contribuiu efetivamente para o léxico, com nomes relativos aos traços característicos dos lugares designados. b) originou o português falado em São Paulo no século XVII, em cuja base gramatical também está a fala de variadas etnias indígenas. c) desenvolveu-se sob influência dos trabalhos de catequese dos padres portugueses, vindos de Lisboa. d) misturou-se aos falares africanos, em razão das interações entre portugueses e negros nas investidas contra o Quilombo dos Palmares. e) expandiu-se paralelamente ao português falado pelo colonizador, e juntos originaram a língua dos bandeirantes paulistas. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR128 INTERPRETAÇÃO 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 07. (ENEM) Nestes últimos anos, a situação mudou bastante e o Brasil, normalizado, já não nos parece tão mítico, no bem e no mal. Houve um mútuo reconhecimento entre os dois países de expressão portuguesa de um lado e do outro do Atlântico: o Brasil descobriu Portugal e Portugal, em um retorno das caravelas, voltou a descobrir o Brasil e a ser, por seu lado, colonizado por expressões linguísticas, as telenovelas, os romances, a poesia, a comida e as formas de tratamento brasileiros. O mesmo, embora em nível superficial, dele excluído o plano da língua, aconteceu com a Europa, que, depois da diáspora dos anos 70, depois da inserção na cultura da bossa-nova e da música popular brasileira, da problemática ecológica centrada na Amazônia, ou da problemática social emergente do fenômeno dos meninos de rua, e até do álibi ocultista dos romances de Paulo Coelho, continua todos os dias a descobrir, no bem e no mal, o novo Brasil. Se, no fim do século XIX, Sílvio Romero definia a literatura brasileira como manifestação de um país mestiço, será fácil para nós defini-la como expressão de um país polifônico: em que já não é determinante o eixo Rio-São Paulo, mas que, em cada região, desenvolve originalmente a sua unitária e particular tradição cultural. É esse, para nós, no início do século XXI, o novo estilo brasileiro. STEGAGNO-PICCHIO, L. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004 (adaptado). No texto, a autora mostra como o Brasil, ao longo de sua história, foi, aos poucos, construindo uma identidade cultural e literária relativamente autônoma frente à identidade europeia, em geral, e à portuguesa em particular. Sua análise pressupõe, de modo especial, o papel do patrimônio literário e linguístico, que favoreceu o surgimento daquilo que ela chama de “estilo brasileiro”. Diante desse pressuposto, e levando em consideração o texto e as diferentes etapas de consolidação da cultura brasileira, constata-se que a) o Brasil redescobriu a cultura portuguesa no século XIX, o que o fez assimilar novos gêneros artísticos e culturais, assim como usos originais do idioma, conforme ilustra o caso do escritor Machado de Assis. b) a Europa reconheceu a importância da língua portuguesa no mundo, a partir da projeção que poetas brasileiros ganharam naqueles países, a partir do século XX. c) ocorre, no início do século XXI, promovido pela solidificação da cultura nacional, maior reconhecimento do Brasil por ele mesmo, tanto nos aspectos positivos quanto nos negativos. d) o Brasil continua sendo, como no século XIX, uma nação culturalmente mestiça, embora a expressão dominante seja aquela produzida no eixo Rio-São Paulo, em especial aquela ligada às telenovelas. e) o novo estilo cultural brasileiro se caracteriza por uma união bastante significativa entre as diversas matrizes culturais advindas das várias regiões do país, como se pode comprovar na obra de Paulo Coelho. 08. (ENEM) Quando os portugueses se instalaram no Brasil, o país era povoado de índios. Importaram, depois, da África, grande número de escravos. O Português, o Índio e o Negro constituem, durante o período colonial, as três bases da população brasileira. Mas no que se refere à cultura, a contribuição do Português foi de longe a mais notada. Durante muito tempo o português e o tupi viveram lado a lado como línguas de comunicação. Era o tupi que utilizavam os bandeirantes nas suas expedições. Em 1694, dizia o Padre Antônio Vieira que “as famílias dos portugueses e índios em São Paulo estão tão ligadas hoje umas com as outras, que as mulheres e os filhos se criam mística e domesticamente, e a língua que nas ditas famílias se fala é a dos Índios, e a portuguesa a vão os meninos aprender à escola.” TEYSSIER, P. História da língua portuguesa . Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1984 (adaptado). A identidade de uma nação está diretamente ligada à cultura de seu povo. O texto mostra que, no período colonial brasileiro, o Português, o índio e o Negro formaram a base da população e que o patrimônio linguístico brasileiro é resultado da a) contribuição dos índios na escolarização dos brasileiros. b) diferença entre as línguas dos colonizadores e as dos indígenas. c) importância do padre Antônio Vieira para a literatura de língua portuguesa. d) origem das diferenças entre a língua portuguesa e as línguas tupi. e) interação pacífica no uso da língua portuguesa e da língua tupi. 09. (MPE-RS – Promotor) “Nada paralisou mais a inteligência do que a busca por bodes expiatórios”, escreveu o historiador Theodore Zeldin. A tentativa de jogar a culpa por uma situação indesejada - de desastres naturais a guerras, de crises econômicas a epidemias - nas costas de um único indivíduo ou grupo quase sempre inocente é uma prática tão disseminada que alguns estudiosos a consideram essencial para entender a vida em sociedade. No livro Bode Expiatório - Uma História da Prática de Culpar Outras Pessoas, Charlie Campbell defende a tese de que cada ser humano tende a se considerar melhor do que realmente é, e por isso tem dificuldade de admitir os próprios erros. Junte-se a isso a necessidadeintrinsecamente humana de tentar encontrar um sentido, uma ordem no caos do mundo, e têm-se os elementos exatos para aceitarmos a primeira e a mais simples explicação que aparecer para os males a nos afligir. Desde muito cedo, provavelmente com o surgimento das primeiras crenças religiosas, a humanidade desenvolveu rituais para transferir a culpa para pessoas, animais ou objetos como uma forma de purificação e recomeço. A expressão “bode expiatório” refere-se a uma passagem do Velho Testamento que descreve o sacrifício de dois ruminantes no Dia da Expiação. O primeiro bode era sacrificado em tributo a Deus, para pagar pelos pecados da comunidade. O segundo era enxotado da aldeia, carregando consigo, simbolicamente, a culpa de todos os moradores. A escolha do bode expiatório costuma obeceder a, pelo menos, um de três requisitos. Primeiro, deve ser alguém capaz de substituir sozinho muitas vítimas potenciais. Foi o que ocorreu com Andrés Escobar, zagueiro da seleção colombiana de futebol, cujo gol contra na partida com os Estados Unidos eliminou seu time da Copa do Mundo de 1994. Quando voltou à Colômbia, Escobar foi assassinado a tiros, supostamente por apostadores que haviam perdido dinheiro com a derrota. Por maior que tenha sido o erro do jogador, é óbvio que num time que tem onze integrantes não se pode atribuir a apenas um deles toda a culpa por um resultado ruim. O segundo quesito a ser preenchido por um candidato a bode expiatório é ser um alvo facilmente identificável. O ditador alemão Adolf Hitler, um dos mais cruéis inventores de bodes expiatórios de todos os tempos, achava que um verdadeiro líder nacional era aquele que, em vez de dividir a atenção de seu povo, tratava de canalizá- la contra um grande inimigo. Após séculos de antissemitismo na Europa, não foi difícil para os nazistas transformar os judeus em suas vítimas preferenciais, atribuindo a eles a responsabilidade por uma série de malfeitorias. A expiação coletiva imposta pelos nazistas resultou na morte de 6 milhões de judeus. O terceiro critério para encontrar um bom culpado é suspeitar de qualquer pessoa que tente defender a inocência de um bode expiatório. Na caça às bruxas da Idade Média, que resultou no julgamento e na execução de milhares de mulheres, funcionava assim. Os métodos para identificar uma “noiva do demônio” eram absurdos. Um deles consistia em jogar a acusada num rio com as mãos e os pés atados; se ela boiasse, seria culpada;. se afundasse, seria inocente, mas aí já estaria morta. Nessas condições, poucos testemunhavam em favor das supostas bruxas. Essa regra também é atávica dos estados totalitários, que, por princípio, não podem assumir as próprias falhas sob o risco de perderem a legitimidade, e por isso precisam de alguém para expiar suas culpas. Adaptado de: SCHELP, D. A arte de culpar os outros. Veja, 16 de maio de 2012, p. 113-114. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 129 INTERPRETAÇÃO Em uma perspectiva etimológica, muitas palavras entraram prontas do latim ou de outro idioma para o léxico da Língua Portuguesa. No entanto, a maioria dos falantes não reconhece a origem das palavras, quer na sua forma mais antiga conhecida, quer em alguma etapa de sua evolução. Para compreender o processo de derivação das palavras que utiliza em seu dia a dia, o falante geralmente lança mão de seu conhecimento acerca do sentido e da função de prefixos e sufixos. Com base nessa ressalva, pode-se afirmar corretamente que, entre as palavras abaixo extraídas do texto, a única que foi formada pelo acréscimo de sufixo que transforma adjetivos em substantivos é a) humanidade. b) rituais. c) purificação. d) ruminantes. e) zagueiro. 10. (UEG) O islamismo surge na península arábica no século 7 d.C. Dentre as obras literárias que surgiram no mundo islâmico, influenciadas pela religião muçulmana, destaca-se a obra: a) os Vedas b) os Upanishades c) os Contos de Grimm d) As mil e uma noites 11. “Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade “Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis. Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado afirma: “É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na internet, tem até dicionário ...”, comenta. Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio linguístico, especialmente por a) ter mais de mil palavras conhecidas. b) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta. c) ser consolidado por objetos formais de registro. d) ser utilizado por advogados em situações formais. e) ser comum em conversas no ambiente de trabalho. 12. (UNICAMP) Morro da Babilônia À noite, do morro descem vozes que criam o terror (terror urbano, cinquenta por cento de cinema, e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua Geral). Quando houve revolução, os soldados espalharam no morro, o quartel pegou fogo, eles não voltaram. Alguns, chumbados, morreram. O morro ficou mais encantado. Mas as vozes do morro não são propriamente lúgubres. Há mesmo um cavaquinho bem afinado que domina os ruídos da pedra e da folhagem e desce até nós, modesto e recreativo, como uma gentileza do morro. (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.19.) No poema “Morro da Babilônia”, de Carlos Drummond de Andrade, f) a menção à cidade do Rio de Janeiro é feita de modo indireto, metonimicamente, pela referência ao Morro da Babilônia. g) o sentimento do mundo é representado pela percepção particular sobre a cidade do Rio de Janeiro, aludida pela metáfora do Morro da Babilônia. h) o tratamento dado ao Morro da Babilônia assemelha-se ao que é dado a uma pessoa, o que caracteriza a figura de estilo denominada paronomásia. i) a referência ao Morro da Babilônia produz, no percurso figurativo do poema, um oximoro: a relação entre terror e gentileza no espaço urbano. 13. No ano de 1985 aconteceu um acidente muito grave em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, perto da aldeia guarani de Sapukai. Choveu muito e as águas pluviais provocaram deslizamentos de terras das encostas da Serra do Mar, destruindo o Laboratório de Radioecologia da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, construída em 1970 num lugar que os índios tupinambás, há mais de 500 anos, chamavam de Itaorna. O prejuízo foi calculado na época em 8 bilhões de cruzeiros. Os engenheiros responsáveis pela construção da usina nuclear não sabiam que o nome dado pelos índios continha informação sobre a estrutura do solo, minado pelas águas da chuva. Só descobriram que Itaorna, em língua tupinambá, quer dizer ‘pedra podre’, depois do acidente. FREIRE, J. R. B. Disponível em: www.taquiprati.com.br. Acesso em: 1 ago. 2012 (adaptado). Considerando-se a história da ocupação na região de Angra dos Reis mencionada no texto, os fenômenos naturais que a atingiram poderiam ter sido previstos e suas consequências minimizadas se a) o acervo linguístico indígena fosse conhecido e valorizado. b) as línguas indígenas brasileiras tivessem sido substituídas pela língua geral. c) o conhecimento acadêmico tivesse sido priorizado pelos engenheiros. d) a língua tupinambá tivesse palavras adequadas para descrever o solo. e) o laboratório tivesse sido construído de acordo com as leis ambientais vigentes na época. 14. O INTERNETÊS NA ESCOLA O internetês – expressão grafolinguísticacriada na internet pelos adolescentes na última década – foi, durante algum tempo, um bicho de sete cabeças para gramáticos e estudiosos da língua. Eles temiam que as abreviações fonéticas (onde “casa” vira ksa; e “aqui” vira aki) comprometessem o uso da norma culta do português para além das fronteiras cibernéticas. Mas, ao que tudo indica, o temido intemetês não passa de um simpático bichinho de uma cabecinha só. Ainda que a maioria dos professores e educadores se preocupe com ele, a ocorrência do internetês nas provas escolares, vestibulares e em concursos públicos é insignificante. Essa forma de expressão parece ainda estar restrita a seu hábitat natural. Aliás, aí está a questão: saber separar bem a hora em que podemos escrever de qq jto, da hora em que não podemos escrever de “qualquer jeito”. Mas, e para um adolescente que fica várias horas “teclando” que nem louco nos instant messengers e chats da vida, é fácil virar a “chavinha” no cérebro do internetês para o português culto? “Essa dificuldade será proporcional ao contato que o adolescente tenha com textos na forma culta, como jornais ou obras literárias. Dependendo deste contato, ele terá mais facilidade para abrir mão do internetês” – explica Eduardo de Almeida Navarro, professor livre-docente de língua tupi e literatura colonial da USP. RAMPAZZO, F. Disponível em: www9.revistalingua.com.br. Acesso em: 01 mar. 2012 (adaptado). R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR130 INTERPRETAÇÃO 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA Segundo o texto, a interação virtual favoreceu o surgimento da modalidade linguística conhecida como internetês. Quanto à influência do internetês no uso da forma culta da língua, infere-se que a) a ocorrência de termos do internetês em situações formais de escrita aponta a necessidade de a língua ser vista como herança cultural que merece ser bem cuidada. b) a dificuldade dos adolescentes para produzirem textos mais complexos é evidente, sendo consequência da expansão do uso indiscriminado da internet por esse público. c) a carência de vocabulário culto na fala de jovens tem sido um alerta quanto ao uso massivo da internet, principalmente no que concerne a mensagens instantâneas. d) a criação de neologismos no campo cibernético é inevitável e restringe a capacidade de compreensão dos internautas quando precisam lidar com leitura de textos formais. e) a alternância de variante linguística é uma habilidade dos usuários da língua e é acionada pelos jovens de acordo com suas necessidades discursivas. 15. A Língua Portuguesa tem origem no idioma: a) Francês. b) Italiano. c) Espanhol. d) Galego-Português. e) Mandarim. 16. (ENEM) Texto I Um ato de criatividade pode gerar um modelo produtivo. Foi o que aconteceu com a palavra sambódromo, criativamente formada com a terminação -(o)dromo (=corrida), que figura em hipódromo, autódromo, cartódromo, formas que designam itens culturais da alta burguesia. Não demoraram a circular, a partir de então, formas populares como rangódromo, beijódromo, camelódromo. AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008 Texto II Existe coisa mais descabida do que chamar de sambódromo uma passarela para desfile de escolas de samba? Em grego, -dromo quer dizer “ação de correr, lugar de corrida”, daí as palavras autódromo e hipódromo. É certo que, às vezes, durante o desfile, a escola se atrasa e é obrigada a correr para não perder pontos, mas não se descoloca a velocidade de um cavalo ou de um carro de Fórmula 1. GULLAR, F. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 3 ago. 2012. Há nas línguas mecanismos geradores de palavras. Embora o texto II apresente um julgamento de valor sobre a formação da palavra sambódromo, o processo de formação dessa palavra reflete a) o dinamismo da língua na criação de novas palavras. b) uma nova realidade limitando o aparecimento de novas palavras. c) a apropriação inadequada de mecanismos de criação de palavras por leigos. d) o reconhecimento a impropriedade semântica dos neologismos. e) a restrição na produção de novas palavras com o radical grego. 17. (ENEM) Mandinga — Era a denominação que, no período das grandes navegações, os portugueses davam à costa ocidental da África. A palavra se tornou sinônimo de feitiçaria porque os exploradores lusitanos consideravam bruxos os africanos que ali habitavam — é que eles davam indicações sobre a existência de ouro na região. Em idioma nativo, manding designava terra de feiticeiros. A palavra acabou virando sinônimo de feitiço, sortilégio. COTRIM, M. O pulo do gato 3. São Paulo: Geração Editorial, 2009 (fragmento). No texto evidencia-se que a construção do significado da palavra mandinga resulta de um(a) a) contexto sócio-histórico. b) diversidade étnica. c) descoberta geográfica. d) apropriação religiosa. e) contraste cultural. 18. (ENEM) Cuitelinho Cheguei na bera do porto Onde as onda se espaia. As garça dá meia volta, Senta na bera da praia. E o cuitelinho não gosta Que o botão da rosa caia. Quando eu vim da minha terra, Despedi da parentaia. Eu entrei em Mato Grosso, Dei em terras paraguaia. Lá tinha revolução, Enfrentei fortes bataia. A tua saudade corta Como o aço de navaia. O coração fica aflito, Bate uma e outra faia. E os oio se enche d´água Que até a vista se atrapaia. Folclore recolhido por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó. BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna. São Paulo: Parábola, 2004. Transmitida por gerações, a canção Cuitelinho manifesta aspectos culturais de um povo, nos quais se inclui sua forma de falar, além de registrar um momento histórico. Depreende-se disso que a importância em preservar a produção cultural de uma nação consiste no fato de que produções como a canção Cuitelinho evidenciam a a) recriação da realidade brasileira de forma ficcional. b) criação neológica na língua portuguesa. c) formação da identidade nacional por meio da tradição oral. d) incorreção da língua portuguesa que é falada por pessoas do interior do Brasil. e) padronização de palavras que variam regionalmente, mas possuem mesmo significado. 19. Resta saber o que ficou das línguas indígenas no português do Brasil. Serafim da Silva Neto afirma: “No Português do Brasil, não há, positivamente, influência das línguas africanas ou ameríndias”. Todavia, é difícil de aceitar que um longo período de bilinguismo de dois séculos não deixasse marcas no português do Brasil. ELIA, S. Fundamentos Histórico-Linguísticos do Português do Brasil. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003 (adaptado). No final do sec. XVIII, no norte do Egito, foi descoberta a Pedra de Roseta, que continha um texto escrito em egípcio antigo, uma versão desse texto chamada “demótico”, e o mesmo texto escrito em grego. Até então, a antiga escrita egípcia não estava decifrada. O inglês Thomas Young estudou o objeto e fez algumas descobertas como, por exemplo, a direção em que a leitura deveria ser feita. Mais tarde, o francês Jean- François Champollion voltou a estudá-la e conseguiu decifrar a antiga escrita egípcia a partir do grego, provando que, na verdade, o grego era a língua original do texto e que o egípcio era uma tradução. Com base na leitura dos textos conclui-se, sobre as línguas, que: a) cada língua é única e intraduzível. b) elementos de uma língua são preservados, ainda que não haja mais falantes dessa língua. c) a língua escrita de determinado grupo desaparece quando a sociedade que a produzia é extinta. d) o egípcio antigo e o grego apresentam a mesma estrutura gramatical, assim como as línguas indígenas brasileiras e o português do Brasil. e) o egípcio e o grego apresentavam letras e palavras similares, o que possibilitou a comparação linguística, o mesmo que aconteceu com as línguas indígenas brasileiras e o português do Brasil. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP .PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 131 INTERPRETAÇÃO 20. Compare os textos I e II a seguir, que tratam de aspectos ligados a variedades da língua portuguesa no mundo e no Brasil. Texto I Acompanhando os navegadores, colonizadores e comerciantes portugueses em todas as suas incríveis viagens, a partir do século XV, o português se transformou na língua de um império. Nesse processo, entrou em contato — forçado, o mais das vezes; amigável, em alguns casos — com as mais diversas línguas, passando por processos de variação e de mudança linguística. Assim, contar a história do português do Brasil é mergulhar na sua história colonial e de país independente, já que as línguas não são mecanismos desgarrados dos povos que as utilizam. Nesse cenário, são muitos os aspectos da estrutura linguística que não só expressam a diferença entre Portugal e Brasil como também definem, no Brasil, diferenças regionais e sociais. PAGOTTO, E. P. Línguas do Brasil. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br. Acesso em: 5 jul. 2009 (adaptado). Texto II Barbarismo é vício que se comete na escritura de cada uma das partes da construção ou na pronunciação. E em nenhuma parte da Terra se comete mais essa figura da pronunciação que nestes reinos, por causa das muitas nações que trouxemos ao jugo do nosso serviço. Porque bem como os Gregos e Romanos haviam por bárbaras todas as outras nações estranhas a eles, por não poderem formar sua linguagem, assim nós podemos dizer que as nações de África, Guiné, Ásia, Brasil barbarizam quando querem imitar a nossa. BARROS, J. Gramática da língua portuguesa. Porto: Porto Editora, 1957 (adaptado). Os textos abordam o contato da língua portuguesa com outras línguas e processos de variação e de mudança decorridos desse contato. Da comparação entre os textos, conclui-se que a posição de João de Barros (Texto II), em relação aos usos sociais da linguagem, revela: a) atitude crítica do autor quanto à gramática que as nações a serviço de Portugal possuíam e, ao mesmo tempo, de benevolência quanto ao conhecimento que os povos tinham de suas línguas. b) atitude preconceituosa relativa a vícios culturais das nações sob domínio português, dado o interesse dos falantes dessa línguas em copiar a língua do império, o que implicou a falência do idioma falado em Portugal. c) o desejo de conservar, em Portugal, as estruturas da variante padrão da língua grega — em oposição às consideradas bárbaras —, em vista da necessidade de preservação do padrão de correção dessa língua à época. d) adesão à concepção de língua como entidade homogênea e invariável, e negação da ideia de que a língua portuguesa pertence a outros povos. e) atitude crítica, que se estende à própria língua portuguesa, por se tratar de sistema que não disporia de elementos necessários para a plena inserção sociocultural de falantes não nativos do português. 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (PUCRJ 2017 Adaptada) Efeitos da mudança das condições Tenho, até o presente, falado de mudanças — tão comuns e tão diversas nos seres orgânicos reduzidos ao estado doméstico e, em menor escala, naqueles que se encontram em estado selvagem — como se elas fossem fortuitas. É, sem objeção, uma expressão muito incorreta; talvez, contudo, seja suficiente para demonstrar a nossa total ignorância sobre as razões de cada variação particular. Alguns cientistas julgam que uma das funções do sistema reprodutor consiste tanto em produzir diferenças individuais, ou pequenos desvios de estrutura, como em produzir descendentes semelhantes aos pais. Mas o fato de as variações e de as deformações se apresentarem em maior número no estado doméstico que no estado natural, o fato de as espécies que têm um habitat muito extenso serem mais variáveis que as que têm um habitat restrito, permitem-nos concluir que a variabilidade deve ter, comumente, qualquer analogia com as condições de sobrevida às quais cada espécie foi submetida durante algumas gerações sucessivas. Tentei provar que as mudanças de condições atuam de duas maneiras: diretamente, sobre toda a organização, ou sobre algumas partes unicamente do organismo; e indiretamente, por meio do sistema reprodutor. Em todos os casos, há dois fatores: a natureza do organismo, que é a mais importante das duas, e a natureza das condições ambientes. Neste último caso, o organismo parece tornar-se plástico e encontramos uma grande variabilidade incerta. No primeiro caso, a natureza do organismo é tal que cede facilmente, quando submetido a certas condições, e todos, ou quase todos os indivíduos, se modificam da mesma maneira. É difícil delimitar até que ponto a alteração das condições — por exemplo, a alteração do clima, da alimentação, etc. — atua de uma maneira definida. Há razão para se acreditar que, no decurso do tempo, os efeitos destas alterações sejam tão marcantes que possam ser provados por evidências claras. Contudo, podemos concluir, sem receio de engano, que não se pode atribuir unicamente a uma tal causa atualmente as adaptações de estrutura, tão numerosas e tão complicadas, que observamos na natureza entre os diferentes seres orgânicos. DARWIN, Charles. A origem das espécies. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A., pp. 143-4 (Tradução de Eduardo Fonseca, 2004.) a) Indique a palavra ou expressão a que se refere a última ocorrência de “que” no texto. b) No texto, o enunciador apresenta suas reflexões acerca do que está sendo observado e das investigações que vem desenvolvendo. Destaque, do último parágrafo, a expressão que, em si mesma, denota certeza a respeito do que é enunciado. 02. (UNIFESP 2007) Leia o trecho de Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, para responder às questões seguintes: Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais que o Brasil continha; sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras holandesas, as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso de todos os rios. (...) Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, antes que a “Aurora com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo”, ele se atracava até ao almoço com o Montoya, “Arte y diccionario de la lengua guarani ó más bien tupi”, e estudava o jargão caboclo com afinco e paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse seu estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo - Ubirajara. Certa vez, o escrevente Azevedo, ao assinar o ponto, distraído, sem reparar quem lhe estava às costas, disse em tom chocarreiro: “Você já viu que hoje o Ubirajara está tardando?” Quaresma era considerado no Arsenal: a sua idade, a sua ilustração, a modéstia e honestidade do seu viver impunham- no ao respeito de todos. Sentindo que a alcunha lhe era dirigida, não perdeu a dignidade, não prorrompeu em doestos e insultos. Endireitou-se, consertou o seu “pince-nez”, levantou o dedo indicador no ar e respondeu: R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR132 INTERPRETAÇÃO 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA - Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que trabalham em silêncio, para a grandeza e a emancipação da Pátria. Vocabulário: amanuenses: escreventes; doestos: injúrias. Examine a frase: “Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani.” a) No conjunto da obra, que relação há entre nacionalismo e o estudo de tupi-guarani? b) Quanto ao sentido, explique o emprego da forma verbal “dedicava” e justifique sua resposta com uma expressão presente no texto. 03. (FGV 2012) Os mecanismos constitucionais que caracterizam o Estado de direito têm o objetivo de defender o indivíduo dos abusos do poder. Em outras palavras,são garantias de liberdade, da assim chamada 1liberdade negativa, entendida como esfera de ação em que o indivíduo não está obrigado por quem detém o poder coativo a fazer aquilo que não deseja ou não está impedido de fazer aquilo que deseja. Há uma acepção de liberdade – que é a acepção prevalecente na tradição liberal – segundo a qual “liberdade” e “poder” são dois termos 3antitéticos, que denotam duas realidades em contraste entre si e são, portanto, incompatíveis: nas relações entre duas pessoas, à medida que se estende o poder (poder de comandar ou de impedir) de uma diminui a liberdade em sentido negativo da outra e, vice-versa, à medida que a segunda amplia a sua esfera de liberdade diminui o poder da primeira. Deve-se agora acrescentar que para o pensamento liberal a liberdade individual está garantida, mais que pelos mecanismos constitucionais do Estado de direito, também pelo fato de que ao Estado são reconhecidas tarefas limitadas à manutenção da ordem pública interna e internacional. No pensamento liberal, teoria do controle do poder e teoria da limitação das tarefas do Estado procedem no mesmo passo: pode-se até mesmo dizer que a segunda é a 2conditio sine qua non da primeira, no sentido de que o controle dos abusos do poder é tanto mais fácil quanto mais restrito é o âmbito em que o Estado pode estender a própria intervenção, ou mais breve e simplesmente no sentido de que o Estado mínimo é mais controlável do que o Estado máximo. Do ponto de vista do indivíduo, do qual se põe o liberalismo, o Estado é concebido como um mal necessário; e enquanto mal, embora necessário (e nisso o liberalismo se distingue do 4anarquismo), o Estado deve se intrometer o menos possível na esfera de ação dos indivíduos. Noberto Bobbio, Liberalismo e democracia. São Paulo: Brasiliense, 2006. a) Considerada no contexto, a expressão “liberdade negativa” (ref. 1) deve ser entendida como algo positivo para o indivíduo. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta. b) Considerando o gênero a que pertence o texto, é adequado, do ponto de vista lógico, o emprego da expressão latina “conditio sine qua non” (ref. 2)? Justifique sua resposta. c) É correto afirmar que os prefixos que ocorrem nas palavras “antitéticos” (ref. 3) e “anarquismo” (ref. 4) têm o mesmo sentido que os prefixos formadores, respectivamente, das palavras “antediluviano” e “amoral”? Justifique sua resposta. 04. (CP2 2012) Texto I Mestiços (fragmento) É no mirar nossas raízes que vamos encontrar as características de nossa singularidade. Estamos maduros para encarar nossa condição de únicos, originais. 1Somos, com muita honra, provavelmente o maior país mestiço do mundo. Reconhecer isso é galgar mais um degrau na direção de nosso orgulho, de nossa nacionalidade (...). Entramos no século 21 no apogeu do poder da mídia, deixando que ela faça a nossa cabeça. Não há novela que não mostre brancos e pretos namorando, apaixonando-se. Nossos filmes e mesmo a nossa publicidade começaram, há não muito tempo, a escancarar a mestiçagem. A porta da frente já está aberta para pardos, brancos e pretos.(...) Ouço da boca dos negros que conheço que, quando entram em livraria, por mais bem vestidos que estejam, são discretamente seguidos e vigiados. Ainda se estranha um negro em livraria. 2Conheço também a 3vox populi que diz não ter preconceito, desde que “esse estranho” não queira entrar na família. Sim, temos preconceito, mas o nosso preconceito não é igual ao dos países de Primeiro Mundo que supõem pureza racial. Discriminamos cor e também nos isolamos de pobres, de delinquentes e, em certas circunstâncias, até dos “CDFs” e de outros tipos de “certinhos”. Frequentemente, honestos são vistos como tolos ou simplórios. Vi, há não muito tempo, num documentário de uma ONG que estuda o caipira paulista, uma senhora – classe A – dizendo saber que branco e preto são iguais e que gostaria de não ter preconceito, mas não consegue. Ela sabe que está errada, mas, de maneira muito ingênua, pergunta ao entrevistador: “Não seria melhor se fôssemos todos brancos ou pretos?” (Anna Veronica Mautner. In: Folha de S. Paulo, 31/12/2004) 3 Vox populi: expressão em latim que significa literalmente “voz do povo”. Texto II “Conheço também a vox populi que diz não ter preconceito, desde que “esse estranho” não queira entrar na família”. (Texto I, referência 2) Que expressão do texto II se refere ao termo “vox populi” do texto I? 05. (UNICAMP 2010) a) Qual é o pressuposto da personagem que defende o acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa? Por que esse pressuposto é inadequado? b) Explique como, na tira ao lado, esse pressuposto é quebrado. R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 133 INTERPRETAÇÃO GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. E 02. D 03. E 04. D 05. A 06. A 07. C 08. E 09. A 10. D 11. C 12. A 13. A 14. E 15. D 16. A 17. A 18. C 19. B 20. D EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. a) Na última ocorrência de “que”, vemos que “que” se refere à expressão “as adaptações de estrutura”, uma vez que são as adaptações de estrutura que observamos na natureza entre os diferentes seres orgânicos. b) A expressão é “sem receio de engano”, já que indica que para o autor não há possibilidade de engano/erro nessa afirmação. 02. a) O tupi guarani representa a língua dos nativos, ou seja, uma língua sem influências estrangeiras. b) Dedicar representa no texto estudar, pesquisar, descobrir, é que fazia Lima Barreto. Isso fica claro no trecho: “Todas as manhãs, antes que a ‘Aurora com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo’, ele se atracava até ao almoço com o Montoya, ‘Arte y diccionario de la lengua guarani ó más bien tupi’, e estudava o jargão caboclo com afinco e paixão”. 03. A a) Sim, pois o conceito de “liberdade negativa” traz subjacente a garantia de o indivíduo não ser obrigado a atos indesejados por abuso do poder constituído ou não ser impedido de fazer aquilo que deseja, ou seja, supõe um estado de direito em que sejam evitadas arbitrariedades por parte da esfera estatal. b) Sim, a expressão “conditio sine qua non” é adequada ao contexto, erudito e de cunho científico, pois trata-se de uma expressão latina que remonta aos termos jurídicos do Direito romano e que pode ser traduzido como sem a/o qual não pode deixar de ser, indispensável. c) Não, os prefixos gregos ant(i) e a(n) que ocorrem nas palavras “antitéticos” e “ anarquismo” expressam oposição e negação, respectivamente. Já o prefixo latino ante e o de origem mista a das palavras “antediliviano” e “amoral” expressam anterioridade e ausência. 04. A expressão “vox Populi” significa “voz do povo”, ou seja, indica a opinião das pessoas. Uma expressão do texto II que se refere a esse termo é “opinião alheia”, pois também indica a opinião das pessoas 05. a) O pressuposto é que o acordo ortográfico promoveria a unidade da língua em todos os países lusófonos. O acordo contempla apenas a ortografia e não interfere nos aspectos morfossintáticos ou lexicais que caracterizam a relação da Língua e seus falantes com a região onde se desenvolve a sua cultura, razão pela qual é inadequado o pressuposto do personagem. Embora se possa unificar a ortografia, as variantes sempre existirão. b) Ao desconhecer o significado de “peúgas”(*) e “bica”(**) e estranhar a palavra “bicha”(***) no contexto da frase (termos usados no português europeu e não no Brasil), o personagem fica confuso, pois verifica que não houve unificação do idioma como afirmara anteriormente. ANOTAÇÕES R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP . PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR134 INTERPRETAÇÃO 07 HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA R ep ro du çã o pr oi bi da A rt . 1 84 d o CP .
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