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DO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA EMPRESA E OS MECANISMOS LEGAIS

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DO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA EMPRESA E OS MECANISMOS LEGAIS, PROCEDIMENTAIS E JURÍDICOS DE SUA VIABILIDADE: uma alternativa à falência e funcionalidade empresária no Brasil. 
Jeilson Silva Cutrim [footnoteRef:1] [1: Acadêmico do Curso Bacharelado em Direito pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), campus universitário Paulo VI – São Luís – Maranhão. E-mail: jeilson1974@gmail.com. ] 
Regiane Sousa de Carvalho Presot [footnoteRef:2] [2: Professora ministrante e orientadora da disciplina Direito Empresarial III pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) campus universitário Paulo VI – São Luís – Maranhão. ] 
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar breves e significativas informações sobre o instrumento de recuperação judicial da atividade empresária de acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, a partir das orientações e dos princípios fundamentais que regulam a atividade empresarial no Brasil e sua conformidade constitucional com a função social que essa mesma atividade deve desempenhar para o progresso econômico e social de toda a coletividade, contribuindo para o bem estar de toda a sociedade brasileira. Ademais, este trabalho científico pretende mostrar como se desenrolou, através dos tempos, o processo dinâmico de uma sociedade baseada na sociedade empresária e demais configurações empresariais ao longo da história, sem, contudo, deixar de lado os mecanismos criados por juristas, legisladores e operadores do direito para vencer o desafio da crise econômico-financeira que assola o mundo com ciclos históricos de decadência e/ou reinvenção do sistema capitalista mundial, apontando esse sujeitos para uma solução para esta problemática ao nível local, nacional e até globalizante da atividade empresarial brasileira, via instrumento da recuperação judicial aplicável na Lei de Recuperação e Falência (Lei n° 11.101/2005).
PALAVRAS-CHAVE: Crise Econômica; Empresa; Lei 11.101/2005; Recuperação Judicial. 
1 INTRODUÇÃO
	O Direito Falimentar é uma área da ciência jurídica onde estão presentes os temas concernentes ao problema da falência das empresas no Brasil, um fato que pode acarretar não somente atraso econômico e prejuízo para os empresários, como também ocasionar transtornos de ordem social, financeira e até atingir a vida da população, no que tange à satisfação da necessidade de recursos materiais necessários a sobrevivência da comunidade e demais aspectos relacionados às condições de vida e bem estar da coletividade. 
	Ademais, a capacidade industrial e produtora de bens e serviços das empresas vê diante de si um entrave para o aceleramento econômico, barrando sua capacidade e operacionalidade criativa por não conseguir satisfazer a demanda da sociedade capitalista na qual está inserida e ainda não ser capaz de efetivar os princípios norteadores presentes na Constituição Federal, nossa Lei Maior, da qual a superação do problema da falência empresarial surgiu por lei específica, a saber, a Lei 11.101/2005 (Lei de Recuperação e Falência). 
	Os estudiosos e juristas do Direito Empresarial, ao longo da história mercantil, já se debruçaram sobre as origens do comércio e das relações embrionárias de cunho “empresarial” desde a Idade Média e chegando até a Idade Contemporânea, numa tentativa de mostrar como se deu o processo de invenção das primeiras sociedades empresárias e suas relações comerciais e mercantis com a sociedade. O que se notou ao longo do tempo é que estes empreendimentos se adequaram de acordo com as condições econômicas de seu contexto particular e direitos da atividade empresária e dos sujeitos envolvidos no processo de produção de bens e oferecimento de serviços foram criados com consequência do aprimoramento dos estudos da “Teoria da Empresa” dentro deste campo específico do Direito Empresarial. 
	Nesse contexto, aqui é importante mencionar que nas raízes históricas do Direito Romano, a falência da empresa não necessariamente recai nesta instituição, ou seja, ainda a pessoa jurídica não fora reconhecida naquela época, e sim a responsabilidade de solvência era inteiramente atribuída à pessoa física (constrição pessoal), sobre a qual o Estado impunha a sua força, aplicando a pena de cárcere privado ou escravização ao devedor. Em um segundo momento, todavia, deixa-se esse instituto Draconiano, passando-se a um sistema de constrição patrimonial, que admitia a execução forçada. 
	Na Idade Média esse processo de amadurecimento segue seu curso, mas é no mundo contemporâneo que o Direito Concursal surge como liquidação do ativo do devedor insolvente sob a supervisão do Estado-Juiz. Desse modo, a liquidação do patrimônio do devedor passa a ser assegurada pelos organismos judiciais. Este regime predominou no Direito brasileiro, criado em meados do século passado através da Lei de Falências e Concordata (Decreto-Lei 7.661/45), revogada pela Lei de Recuperação de Empresas e Falência (Lei 11.101/2005). 
	Mais tarde, o desenvolvimento econômico evidenciado pela Revolução Industrial e intensificado pelo processo de globalização, trouxe à luz a importância das atividades econômicas para o progresso da sociedade como um todo, em função da geração de empregos, do avanço tecnológico etc. Os operadores do direito passam a se preocupar, enfim, com a função social da empresa, o que faz surgir no Direito Empresarial, com toda a força, o denominado princípio da preservação da empresa. 
	Com fundamentação nesse princípio, vários pontos relevantes do Direito Falimentar brasileiro foram alterados pela Lei 11.101/2005, dentre eles se destaca a substituição da obsoleta figura da concordata pelo instituto da recuperação judicial. 
2 A CRISE ECONÔMICO-FINANCEIRA: fator preocupante para a atividade empresarial no Brasil e seus entraves para o crescimento econômico. 
	Neste tópico, aborda-se sobre o fenômeno da “crise econômico-financeira” e seus impactos negativos para a atividade empresarial brasileira, bem como discute-se as consequências e demais aspectos relacionados ao mundo comercial e industrial, tais como a redução ou a limitação da produção de bens e serviços, a diminuição de empregos decorrente da iminência da falência da empresa, a redução de salários dos trabalhadores etc. 
	Como dito anteriormente neste trabalho científico, o sistema capitalista mundial, em suas origens, passou (e ainda passa) por ciclos periódicos como resultado das inovações tecnológicas decorrentes da Revolução Industrial e de demais fatores históricos, sociais, culturais e principalmente econômicos que acabam por transformar a dinâmica do consumo de massas visto em escala local, regional e global. 
	Para começarmos a desvendar este preocupante fator que ameaça a existência empresarial em nossos dias, aqui lembramos das palavras do autor Ricardo Negrão (2015), quando o mesmo nos diz que “a expressão ‘econômico-financeira’ abrange tanto os males que impedem o empresário de perseguir o objeto de sua empresa como também a insuficiência de recursos para o pagamento das obrigações assumidas.” (NEGRÃO, 2015, p. 269). A crise econômico-financeira, por assim dizer, é um evento inesperado para qualquer empresário (seja ele individual, uma sociedade empresária ou EIRELI), uma vez que este empresário objetiva sempre ter uma margem de lucro que supera as suas despesas, produzindo superávit. Quando assim almejado e devidamente praticado, é sinal de um empresário solvente. 
	Assim, colaborando ainda para o argumento de Ricardo Negrão (2015) supracitado neste tópico, temos que considerar as palavras de Francisco Penante Jr. (2016), o qual nos dá direcionamento sobre os rumos e os impactos da crise econômico-financeira sobre o empresário:
Por outro lado, a partir do momento em que se instala uma crise econômico-financeira (por iliquidez ou insolvência, por exemplo), o empresário precisa buscar alternativas de viabilidade para sua atividade, caso contrário, estará sujeito a procedimentos de liquidação patrimonial. (PENANTE JR, 2016, p. 179). 
	De fato, é fundamental atentarmos para causasexternas que ocasionem a crise e afetam a atividade empresarial, que “não poucas vezes deriva de causas internas, resultando da má gestão na administração.” (NEGRÃO, 2015, p. 269). As crises econômicas (fatores externos) desencadeiam crises financeiras (fatores internos), que tem como consequência a “insuficiência – momentânea ou sistemática – de recursos financeiros para o pagamento dos credores e cumprimento de todas as obrigações assumidas.” (IDEM). 
	André Luiz Santa Cruz Ramos (2015) afirma que é perfeitamente previsível que o empresário se antecipe à iminência da falência de sua empresa pelo instrumento da recuperação judicial, pois esta “será requerida antes de a crise do empresário chegar a uma situação irreversível, isto é, o pedido de recuperação geralmente é feito antes de algum credor pedir a falência do devedor.” (RAMOS, 2015, p. 732). 
	Assim, ao atuar preponderantemente sobre a atividade empresarial em seu aspecto funcional, os novos instrumentos legais de recuperação em juízo podem ajudar o empresário a cumprir suas obrigações e sair da situação crítica que atinge sua empresa, pois esses mecanismos trabalham com os seguintes fundamentos: 
· Supremacia da recuperação da empresa (aspecto funcional) sobre o interesse do sujeito da atividade (aspecto subjetivo), permitindo-se o afastamento do empresário e de seus administradores, se sua presença comprometer a eficiência do processo (LRF, art. 64). 
· Manutenção da fonte produtora (aspecto objetivo) e do emprego dos trabalhadores (aspecto corporativo), que se verifica com ações efetivas de preservação dos elementos corpóreos e incorpóreos (LRF, art. 66) e vedação à venda ou retirada de bens de propriedade de credores titulares da posição de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, durante o período de suspensão (LRF, art. 67, parágrafo único).
· Incentivo à manutenção de meios produtivos à empresa, concedendo privilégio geral de recebimento em caso de falência, aos credores quirografários que continuarem a prover bens e serviços à empresa em recuperação (LRF, art. 67, parágrafo único). 
· Manutenção dos interesses dos credores (LRF, art. 47), impedindo a desistência do devedor após o deferimento do processamento do pedido de recuperação (LRF, art. 52, § 4°), submetendo à assembleia de credores toda deliberação que afete o interesse dos credores (LRF, art. 35, I, f).
	Estes quatro fundamentos, diga-se de passagem, encontram respaldo legal na Constituição Federal do Brasil de 1988 (função social da empresa) e o princípio da preservação da empresa contido no Direito Empresarial e na Lei n° 11.101/2005 (Lei de Recuperação de Empresas e Falência). Pela interpretação de cada um deles podemos concluir que: 
· a crise pode advir a qualquer atividade econômica, tenha ou não o empresário descuidado de seus deveres na administração de seu negócio. Evidentemente, a crise pode surgir por circunstâncias macroeconômicas adversas, embora o administrador atue com zelo no exercício da empresa. 
· a crise atinge a todos: primeiro o seu empresário e, evidentemente os colaboradores (empregados e associados), fornecedores e outros interesses metaindividuais (a localidade ou região em que situado o estabelecimento empresarial; as finanças do Estado, na arrecadação tributária etc.). 
· a prevenção e solução da crise deve ser apresentada de forma transparente pelo empresário, a quem somente não se exige revele informações estratégicas de sua empresa. 
· os credores devem ser tratados de forma paritária, isto é, os titulares de créditos não podem ser discriminados entre os de igual classe. 
	Por fim, o instrumento de recuperação judicial, ante a iminência da falência empresarial, é uma espécie de “procedimento especial”. A seguir, discutiremos este mecanismo de recuperação com mais detalhes e apresentaremos os meios pelos quais o empresário pode se beneficiar deles e ainda os órgãos de recuperação em juízo que podem auxiliá-lo nesta demanda. 
3 A RECUPERAÇÃO JUDICIAL: aplicabilidade do mecanismo para salvar a empresa.
	Segundo o art. 47 da Lei 11.101/2005, 
a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. (BRASIL, 2005). 
	Pela leitura e interpretação do dispositivo legal acima, o instituto da recuperação judicial apresenta dois grandes objetivos gerais que visam a preservação da empresa enquanto instituição econômica viável e que doravante deva cumprir sua função social; e proteção do equilíbrio de mercado a partir da eliminação dos agentes econômicos nocivos ao sistema (através do instituto da falência), otimizando a distribuição dos ativos do devedor entre o coletivo de credores. Dessa maneira, em um único processo (juízo universal de falência) reúnem-se todos os bens do devedor, e são listados todos os seus credores, que serão pagos seguindo-se uma ordem de preferência, como será visto adiante neste trabalho. 
	Na acepção de Ramos (2015), “o dispositivo deixa clara a sua finalidade: permitir a recuperação dos empresários individuais e das sociedades empresárias em crise, em reconhecimento à função social da empresa e em homenagem ao princípio da preservação da empresa.” (RAMOS, 2015, p. 731). Ademais, importante convencionar aqui que a recuperação somente deve ser facultada aos reais devedores que se mostrarem em condições de se recuperar. O instituto da recuperação judicial, então, é mensurada com a finalidade de alcançar os devedores viáveis. “Se a situação de crise que acomete o devedor é de tal monta que se mostra insuperável, o caminho da recuperação lhe deve ser negado, não restando outra alternativa a não ser a decretação de sua falência.” (RAMOS, 2015, p. 732, grifo do autor). 
	Portanto, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, os interesses encerrados em uma empresa transcendem aos seus sócios e funcionários. Na verdade, a empresa constitui um polo de convergência de vários interesses, como o do Fisco, da sociedade de consumo e da economia como um todo. Por tudo isso, através da Lei n° 11.101/2005, e mais especificamente do instituto da recuperação judicial, busca-se viabilizar a superação da crise econômico-financeira do devedor viável. (PENANTE JR, 2016, p. 183).
3.1 MEIOS DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL: requisitos e regras procedimentais. 
	O instrumento mais amplo de recuperação da empresa em juízo é a modalidade prevista no Capítulo III da Lei n° 11.101/2005 (arts. 47-72), a que denominamos recuperação judicial ordinária. 
	
	Há, entretanto, outras modalidades: o plano especial (arts.70-72), os pedidos de homologação de recuperação extrajudicial (arts. 161-166) e, ainda, outras formas de acordo privado entre o devedor e seus credores (art. 167). 
	Aqui, abordaremos especificamente sobre o objeto do estudo em análise – a recuperação judicial ordinária – como delimitação temática do sistema de recuperação em juízo. 
	Nas palavras de Francisco Penante Jr. (2016), a recuperação judicial é 
regulada de maneira específica entre os arts. 47-72 da LRE, trata-se de medida excepcional, que tem por objetivo viabilizar a superação da crise econômico-financeira do empresário individual, da sociedade empresária e da EIRELI. (PENANT JR. 2016, p. 193, grifo do autor). 
	Ao contrário da antiga concordata, prevista pelo revogado Decreto-Lei 7.661/45, que restringia os meios de recuperação a remissão de dívidas e a dilação de prazos, a recuperação judicial prevê um autêntico plano de reestruturação, com variadas medidas de ordem financeira, jurídica e econômica, conferindo assim efetivas chances de superação do quadro crítico da empresa. Além do mais, enquanto no instituto da concordata os credores eram meros expectadores, na recuperação judicial estes sujeitos exercem participação ativa, sendo responsáveis pela aprovação ou rejeição do plano apresentadopelo devedor, assim como pela fiscalização do seu cumprimento.
	Nesse entendimento, o art. 48 da Lei de Recuperação de Empresas e Falência (Lei n° 11.101/2005) determina que alguns requisitos devem ser observados para que o plano de reestruturação apresentado pelo devedor empresário seja aceito, quais sejam: a) exercício regular da atividade empresarial há mais de 2 anos; b) não ser falido e, se o foi, que estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades dela decorrentes; c) não haver o devedor, há menos de 5 anos, obtido concessão do instituto da recuperação judicial; d) não haver devedor, há menos de 5 anos, obtido a concessão de recuperação judicial com base no plano especial previsto para as microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) (arts. 70-72, LRE); e e) não haver sido o devedor condenado não ter, na condição de administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos na Lei 11.101/2005. 
	Finalmente, depois de observadas todas estas formalidades, “é obrigatória a discriminação pormenorizada dos meios de recuperação, podendo o devedor valer-se da lista oferecida pelo legislador no art. 50 ou apresentar a que melhor lhe parecer conveniente.” (NEGRÃO, 2015, p. 274). Ao devedor, todavia, deve-se aplicar a análise da melhor opção apresentada por ele que considere a verdadeira causa da situação da empresa, indicando o remédio jurídico adequado para sanar a crise econômico-financeira. 
3.2 ÓRGÃOS DE RECUPERAÇÃO: alternativas efetivas contra a falência empresarial. 
	Os órgãos auxiliares de recuperação judicial da empresa são apenas três, mas suficientes para a operacionalidade técnica e jurídica do pedido do devedor ante a iminência de falência de sua empresa. Explicaremos brevemente sobre o funcionamento e as respectivas atribuições de cada um deles a seguir. 
3.2.1 Assembleia Geral dos Credores
	É um órgão colegiado, no qual todos os membros tem poderes iguais, deliberativos, isto é, objetiva a atingir as decisões finais de conflitos. Também é um órgão responsável pela apresentação do interesse predominante entre as partes diante da empresa em crise, formado pelos credores que desejam o reerguimento da sociedade empresária requerente.
	É convocada nas hipóteses legais cabíveis, ou quando conveniente desde que a soma dos créditos seja superior a 25% do total das dívidas da empresa, deverá ser publicada em Diário Oficial ou jornal de grande circulação 15 dias antes da data da realização, onde devem estar presentes os credores de mais da metade do passivo da empresa, se esse número não for alcançado dentro de cinco dias deverá ser feita nova convocação. 
	As suas atribuições são as seguintes: a) aprovar, rejeitar ou modificar o plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor; b) constituir o Comitê de Credores, eleger seus membros e decidir em relação a substituição; c) eleger o gestor judicial, quando do afastamento do devedor; d) deliberar sobre qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores; e e) decidir sobre o pedido de desistência do devedor, nos termos do parágrafo 4º da Lei 11.101/2005 o qual preceitua que “O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o deferimento de seu processamento, salvo se obtiver aprovação da desistência na assembleia geral de credores.”
3.2.2 Administrador Judicial 
	Figura como auxiliar do juiz e deverá ser uma pessoa idônea, poderá ser habilitado ou não, caso seja, de preferência advogado, economista, contador, administrador de empresas, ou pessoa jurídica especializada nomeada e que não poder exercer este cargo se dentro dos últimos 5 anos desempenhou esta função ou se possui vínculo de parentesco ou afinidade de até 3º grau com qualquer dos representantes legais da empresa que está requerendo a recuperação judicial, assim como também inimigos ou amigos ou dependentes destes.
	Atua como elo mediador entre o juízo e a massa falida (na falência) e o juízo e a empresa em recuperação, zelando pelo cumprimento da Lei n° 11.101/2005 e apoiando o juízo na prática de uma série de procedimentos administrativos dispostos no art. 22 da LRE, os quais representam suas específicas atribuições: a) envio de correspondências aos credores comunicando sobre o processo; b) fornecimento das informações pedidas pelos credores; c) consolidar o quadro-geral de credores etc. 
3.2.3 Comitê de Credores
	Auxiliador quando a sociedade econômica está em crise e que esta explora uma grande atividade o suficiente para arcar com as despesas desse órgão, as classes de credores se reúnem para eleger dois suplentes e um membro titular; também deverão ser analisadas as causas de impedimento. 
	Esse comitê possui como função principal a de fiscalização tanto do administrador, quanto a empresa passível de recuperação e deverá informar qualquer irregularidade nas dependências da empresa ao juiz, poderá também elaborar um plano de recuperação judicial alternativo, ou quando o juiz determinar o afastamento do administrador da empresa deliberar sobre alienações de bens do ativo.
	Vale lembrar que o Comitê de Credores é considerado órgão de fiscalização, de constituição facultativa. Caso não seja criado, suas atribuições serão realizadas pelo administrador judicial e, na incompatibilidade deste, pelo juiz da falência (art. 28, LRE).
	
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
	Como amplamente discutido, o objeto de estudo deste trabalho teve seu olhar voltado para o instituto da recuperação judicial da empresa, o qual ainda constitui recente preocupação para os operadores do direito, juristas e demais profissionais da ciência jurídica que atuam na área do Direito Empresarial, tendo como objetivo a preservação da existência material e funcional da empresa e manter sua função social no Estado Democrático de Direito. 
	Buscou-se aqui apontar várias formas de se evitar a falência empresarial através dessa medida jurídica existente na Lei n° 11.101/2005 como um remédio legislativo capaz de assegurar o direito de propriedade, o direito de exercer a função social da empresa e do princípio da preservação empresarial. Além disso, direitos fundamentais e sociais ligados à atividade empresária no Brasil são de suma importância como elementos dinâmicos presentes na constituição empresarial brasileira, haja vista que a presença da ameaça aos aspectos subjetivos e objetivos da operacionalidade funcional tornam o processo de produção da fonte mantenedora, das condições de trabalho dos funcionários e colaboradores, e outros elementos similares a estes uma causa interna de uma iminente crise econômico-financeira da empresa. 
	Portanto, o bom desenvolvimento da ordem econômica e financeira local, regional e nacional, bem como as obrigações decorrentes da atividade empresária para com o Estado e do processo sempre dinâmico de produção de bens e serviços para toda a comunidade dependem do efetivo respaldo da legislação infraconstitucional aqui abordada e dos princípios norteadores presentes na Constituição Federal de 1988, para que as atividades empresárias não percam seu poder de existência no país, inviabilizando ou tornando bastante ineficaz o processo criativo das empresas na sociedade capitalista brasileira. 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988. 
BRASIL. Lei n° 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. DOU, de 09 de fevereiro de 2009 – edição extra. 
NEGRÃO, Ricardo. Direito Empresarial: estudo unificado - 6ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2015.
PENANTE JR., Francisco. Direito Empresarial – Coleção Resumos para Concursos. Salvador: Editora Juspodivm, 2016. 
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado - 5ª edição revista, atualizada e ampliada. Rio de Janeiro: Editora Forense; São Paulo: Editora Método, 2015.

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