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P1: DISPNEIA (TRG) 1 P1: DISPNEIA (TRG) 📌 PROBLEMA 1: “MAS TEM TANTO AR AO MEU REDOR” 📌 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1- Conceituar dispneia; 2- Caracterizar a fisiopatologia da dispneia; 3- Descrever a investigação semiológica da dispneia (início, modo de instalação, duração, fator desencadeador, periodicidade, intensidade, fator concomitante e fator de melhora); 4- Reconhecer as escalas usadas para avaliação da dispneia; 5- Conceituar os termos descritivos para dispneia (dispneia de esforço, ortopneia, dispneia paroxística noturna, platipneia, trepopneia, taquipneia, bradipneia, hiperpneia, apneia, dispneia suspirosa); 6- Descrever os principais tipos de ritmos respiratórios (Cantani, Kussmaul, Biot, Cheyne-Stokes); 7- Identificar os principais tipos de dispneia (cardíaca, pulmonar, neurogênica, metabólica, psicogênica); P1: DISPNEIA (TRG) 2 8- Caracterizar as principais causas de dispneia aguda (qc, dx e tto): asma, TEP, PTX, DPOC, bronquite, arritmia cardíaca, disfunção ventricular esquerda, corpo estranho, anafilaxia; 9- Caracterizar as principais causas de dispneia crônica (qc, dx e tto): obesidade, descondicionamento físico, asma, DPOC, doença pulmonar intersticial, hipertensão pulmonar, TEP crônico, disfunção ventricular esquerda, doença neuromuscular. 📚 REFERÊNCIAS: Artigo USP 2004; ACL; Urgências e Emergências USP; Oxford; Guyton. 1- Conceituar dispneia A palavra dispneia origina-se do grego e literalmente significa “respiração ruim”. Geralmente dispneia representa uma experiência subjetiva de sensações respiratórias desconfortáveis, podendo ou não estar associada com batimento de asas de nariz e ↑ FC. Nada mais é que a percepção da respiração. Dispneia é “um termo usado para caracterizar a experiência subjetiva de desconforto respiratório que consiste de sensações qualitativamente distintas, variáveis em sua intensidade. A experiência deriva de interações entre múltiplos fatores fisiológicos, psicológicos, sociais e ambientais podendo induzir respostas comportamentais e fisiológicas secundárias”. A dispnéia constitui-se no principal fator limitante da qualidade de vida, relacionada à saúde de pacientes portadores de IRr crônica, seja ela de cunho obstrutivo ou restritivo. 2- Caracterizar a fisiopatologia da dispneia Ao contrário do mecanismo da dor, NÃO existem receptores especializados de dispneia. Importante diferenciar sensação e percepção respiratória: Sensação respiratória: ativação neurológica resultante da estimulação de algum receptor periférico. Percepção respiratória: envolve resultado final do processamento desse estímulo pelo SNC e as reações do indivíduo frente à referida sensação. P1: DISPNEIA (TRG) 3 💡 Fatores culturais, psicológicos e ambientais podem influenciar o tipo de reação (percepção) de diferentes indivíduos frente a sensações semelhantes. P. ex., um indivíduo estóico pode negar sua dificuldade respiratória e mostrar menos limitações do que uma pessoa mais sensível a mensagens corporais. FISIOLOGIA DA RESPIRAÇÃO: Para entendermos a origem dispneia, precisamos entender os sistemas controle ventilação e alterações mecânica respiratória e das trocas gasosas (figura abaixo): A atividade motora respiratória emana de grupos de neurônios localizados no bulbo. Descargas respiratórias Eferentes ⇒ Ativam Mm. respiratórios ⇒ Expandem caixa torácica ⇒ Inflam pulmões ⇒ Ventilação. Quimiorreceptores (vasos e cérebro) + Mecanorreceptores (vias aéreas, pulmões, cx torácica e Mm. respiratórios) = Envolvidos regulação automática respiração e promovem sensações de dispneia. P1: DISPNEIA (TRG) 4 Mudanças PCO2 e PO2: detectadas pelos quimiorreceptores centrais (bulbo) e periféricos (carótida e aorta). Sinais originados nesses quimiorreceptores são transmitidos de volta p/ tronco cerebral, p/ ajuste respiração e manutenção homeostase acidobásica. Impulsos Aferentes a partir de receptores vagais (NC X) tb interferem no padrão respiratório: Receptores pulmonares de estiramento são estimulados à medida que o pulmão se expande; Receptores de irritação (nível do epitélio brônquico) são ativados pela estimulação mecânica da mucosa brônquica, altas taxas de fluxo aéreo e ↑ tônus da musculatura brônquica; Fibras C (interstício pulmonar, próximas aos alvéolos) respondem a ↑ pressões intersticiais e capilares. Os Mm. respiratórios tbm possuem receptores sensoriais: Fusos musculares ⇒ Abundantes Mm. intercostais e envolvidos em reflexos no nível espinal e supra-espinal. Diafragma contém receptores tendinosos, que exercem atividade inibitória sobre a atividade respiratória central. 💡 Todos sinais Aferentes (gerados por mecanorreceptores pulm. e torácicos) fornecem informações relacionadas à situação mecânica bomba ventilatória, bem como das mudanças no comprimento e força contração Mm. respiratórios. Tais informações permitem ajustes atividade neurônios motores, respiratórios, visando à adaptação frente à mudanças função dos Mm. respiratórios ou da impedância do sistema ventilatório. Segundo Guyton (13ªed), o centro respiratório se divide em três agrupamentos principais de neurônios: (1) o grupo respiratório dorsal, situado na porção dorsal do bulbo, responsável principalmente pela inspiração; (2) o grupo respiratório ventral, localizado na parte ventrolateral do bulbo, encarregado basicamente da expiração; e P1: DISPNEIA (TRG) 5 (3) o centro pneumotáxico, encontrado na porção dorsal superior da ponte, incumbido do controle da frequência e da amplitude respiratória. SENSAÇÃO DISPNEIA: surge pela ativação sistemas sensoriais: Informação sensorial é enviada p/ centros cerebrais superiores (onde o processamento dos sinais modularia a expressão da sensação evocada, sob a influência de fatores cognitivos e comportamentais). 🫁 Teoria dissociação eferente-reaferente: “a dispnéia resultaria de uma dissociação/desequilíbrio entre a atividade de neurônios motores, respiratórios (localizados no SNC) e a correspondente informação sensorial aferente (captada pelos receptores especializados, localizados nas vias aéreas, pulmões e cx torácica). O contínuo feedback aferente (a partir desses receptores sensoriais) permitiria ao cérebro avaliar a efetividade da resposta aos comandos neurológicos, motores, enviados p/ Mm. respiratórios, sob a forma do surgimento de fluxos, volumes e pressões, proporcionais ao estímulo inicial. Qdo as respostas aferentes não fossem proporcionais aos estímulos motores iniciais, a respiração tornar-se-ia consciente e desconfortável. Para tanto, descargas corolárias surgiriam a partir dos neurônios motores respiratórios e seriam enviadas para áreas sensoriais superiores (ainda não identificadas) ⇒ Prof Sylvana disse que NÃO precisa saber para prova!!!”. P1: DISPNEIA (TRG) 6 💡 “Recentemente, demonstrou-se a ativação córtex insular em resposta à dispnéia provocada por ↑ discretas PaCO2 e baixos volumes correntes. Tal área do cérebro faz parte do sistema límbico e costuma ser ativada por estímulos desconfortáveis (dores e náuseas)”. O termo dispnéia é usado englobando sensações respiratórias qualitativamente distintas (isoladas ou associadas). Essas sensações originam-se a partir de diferentes mecanismos fisiopatológicos, existindo investigações no sentido de se estabelecer tais associações. Frases relacionadas à sensação ↑ esforço/trabalho respiração são encontradas em condições caracterizadas por sobrecarga mecânica respiratória. Ex.: DPOC; Dça intersticial pulmonar; Fraqueza neuromuscular ⇒ “Minha respiração é pesada” e “Parece que o ar não entra”. Indivíduos com asma costumam queixar-se de “Sufocação” e “Aperto no peito”. Pacientes com ICC relatam sensação de “Sufocação” ou de “Urgência para respirar”. 3- Descrever a investigação semiológica da dispneia 94% indivíduos c/ dispnéia podem ser enquadrados em alguma das situações: dça pulmonar, DCV, refluxo gastroesofágico, falta condicionamento físico e quadros psicogênicos. Na grande maioria dasvezes, o paciente c/ dispnéia, mostra outros sinais e sintomas sugestivos de uma condição específica. P1: DISPNEIA (TRG) 7 Através de HC e EF bem feitos, o médico pode pedir exames subsidiários, dirigidos, que permitam uma definição dx. Entretanto, numa % pequena casos, o dx poderá não ser tão óbvio, sendo necessária a indicação de exames subsidiários mais sofisticados (medidas de hiperreatividade brônquica ou testes de exercício cardiopulmonares). Alguns elementos a serem investigados são: Início: época e hora de aparecimento; Modo de instalação: dispnéia de instalação súbita é comum em processos de instalação aguda (PTX espontâneo ou TEP); dispnéia de instalação progressiva é característica de processos evolutivos/crônicos (DPOC e fibrose pulmonar); Duração: desde o início dos sintomas e duração das crises; Fatores desencadeantes: tipos de esforços, exposições ambientais e ocupacionais, alterações climáticas, estresse, etc.; Comparação: sensação de cansaço, esforço, sufocação, aperto no peito, etc; Nº crises e periodicidade: ao longo do dia, semanas e meses; Intensidade: avaliada através de escalas apropriadas (obj 4) e medidas repercussão sobre a qualidade de vida; Fatores que acompanham: tosse, chiado, edema, palpitações, etc.; Fatores que melhoram: tipo medicamentos, repouso, posições assumidas e relação c/ decúbito. Dispneia atual X Dispneia usual: A atual reflete as características do sintoma num momento preciso como, p. ex., durante ou após a corrida em esteira. A usual diz respeito às limitações provocadas pelo sintoma na execução de atividades do cotidiano como, p. ex., para subir escadas ⇒ Medida na prática clínica!!! 4- Reconhecer as escalas usadas para avaliação da dispneia P1: DISPNEIA (TRG) 8 Algumas escalas validadas p/ avaliação da DISPNÉIA ATUAL são a analogicovisual, a numérica e a Borg modificada (figura abaixo). Podem ser usadas durante a realização de testes de exercício, ou quando se avalia a efetividade imediata de uma medicação broncodilatadora, numa crise de asma. Escala analogicovisual: linha vertical ou horizontal (geralmente de 10cm). Numa extremidade temos ausência total de dispnéia e, na outra, pior sensação de dispnéia imaginada ou já sentida pelo pcte. No momento da avaliação, o pcte é orientado a marcar um ponto na escala. Escala numérica: mesmo princípio, mas, fornece nº menor e pré-selecionado graus opção. Escala de Borg: desenvolvida p/ percepção grau esforço, realizado durante o exercício. Inicialmente descrita com pontuação 6 a 20, atualmente, é usada com escores 0 a 10. Permite correlação entre intensidade sintomas classificados em categorias e uma graduação numérica. Porém, o grau distinção entre as categorias é confuso ⇒ Difícil compreensão pelos pacientes. Na prática clínica, medimos a DISPNÉIA USUAL. Essa medida traduz não apenas o tipo e a intensidade atividade que desencadeia a dispnéia, como, também, reflete os efeitos do sintoma sobre a qualidade de vida dos pctes. Inúmeras escalas têm sido empregadas nesse sentido, entre elas: Conselho Britânico de Pesquisas Médicas Modificada (MRC) ⇒ Tabela abaixo é a única importante p/ prova na avaliação dispnéia usual (na prática: perguntar ao pcte primeiro o nº4 e ir descendo). Outras: Diagrama Custo Oxigênio (OCD); Índice Basal Dispnéia (BDI) e Índice Transicional Dispnéia (TDI) de Mahler; Questionário Dispnéia da Universidade P1: DISPNEIA (TRG) 9 Califórnia em San Diego (UCSDQ); Componente referente à dispnéia do Questionário da Dça Respiratória Crônica de Guyatt (CRQ). 5- Conceituar os termos descritivos para dispneia � DISPNEIA ESFORÇO: surgimento ou agravamento sensação dispnéia por atividades físicas. É uma queixa muito comum e inespecífica entre portadores de pneumo e cardiopatias. � ORTOPNEIA: surgimento ou agravamento sensação dispnéia com adoção da posição horizontal. O sintoma tende a ser aliviado, parcial ou totalmente, com elevação porção superior tórax pelo uso de um nº maior de travesseiros ou pela elevação cabeceira da cama. Surge em pacientes portadores de ICE e é associada com o estabelecimento de congestão pulmonar. A presença de congestão pulmonar leva a rápidas alterações da P1: DISPNEIA (TRG) 10 complacência pulmonar, promovendo ↑ trabalho Mm. respiratórios ⇒ Surgimento dispnéia. A ↓ complacência pulmonar é atribuída a elevações da pressão hidrostática intravascular (coluna de sangue situada abaixo do nível cardíaco) nas regiões dependentes do pulmão, que acabam por ocupar áreas mais extensas, quando se adota a posição deitada. Embora mais freqüente em cardíacos, a ortopnéia também pode ser observada em pacientes com asma ou DPOC. Ela também é uma queixa característica de indivíduos portadores de fraqueza da musculatura diafragmática como, p. ex., pacientes com dças neuromusculares (decúbito dorsal ⇒ elevação vísceras abd ⇒ se opõe às incursões inspiratórias diafragmáticas). � DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA: pcte tem seu sono interrompido por uma dramática sensação falta de ar, levando-o a sentar-se no leito, ou levantar-se e procurar uma área mais ventilada ⇒ Visando obter alívio. Pode estar presente ainda sudorese profusa. Comum em pctes portadores de ICE ⇒ Nesses casos, durante o sono: Reabsorção edema periférico ⇒ Hipervolemia sistêmica e pulmonar ⇒ Agravamento congestão pulmonar. 💡 As sobrecargas hemodinâmicas, que ocorrem na fase movimentos rápidos olhos (REM), podem contribuir p/ agravamento congestão pulmonar e facilitar surgimento desse tipo de dispnéia. No sono REM, há grande estimulação dos Nn simpáticos sobre o sist. CV. � ASMA CARDÍACA: queixa de chiado no peito e a presença de sibilos em pacientes com ICE e sintomas de dispnéia. Tais achados são encontrados em indivíduos com ortopnéia e dispnéia paroxística noturna. O estreitamento pequenas vias aéreas por edema da mucosa e reflexos gerados a partir de receptores nervosos (localizados no interstício pulmona), com conseqüente broncoespasmo, estão envolvidos na gênese de tais fenômenos. � PLATIPNÉIA: sensação dispnéia, que surge ou se agrava na posição ortostática (particularmente em pé). Comum em pacientes com pericardite ou na presença de shunts D-Es. P1: DISPNEIA (TRG) 11 💡 Os shunts D-Es podem vir acompanhados de ortodeoxia (↓ acentuada SatO2 com a posição em pé). Platipnéia e ortodeoxia são achados clássicos da sd hepatopulmonar, que se estabelece secundariamente à presença de dilatações vasculares intrapulmonares. � TREPOPNÉIA: sensação de dispnéia, que surge ou piora em uma posição lateral, e desaparece ou melhora com o decúbito lateral oposto. É uma queixa não específica, que pode surgir em qualquer doença, comprometendo um pulmão mais intensamente do que o outro. Exemplos: derrame pleural unilateral ou paralisia diafragmática unilateral. 6- Descrever os principais tipos de ritmos respiratórios � TAQUIPNÉIA: ↑ nº incursões respiratórias na unidade de tempo. Em condições fisiológicas de repouso, esse nº gira entre 12 e 20. A taquipnéia implica também na ↓ amplitude das incursões respiratórias (volume corrente). Condições: sds restritivas pulmonares (derrames pleurais, dças intersticiais, edema pulmonar), febre, ansiedade, etc. � HIPERPNÉIA: elevação ventilação alveolar 2ª, não apenas ao ↑ FR, e ↑ amplitude movimentos respiratórios. Situações: acidose metabólica, febre, ansiedade, etc. � BRADIPNÉIA: ↓ nº movimentos respiratórios, geralmente <8 irpm. Situações: presença lesões neurológicas, depressão centros respiratórios por drogas (opióides, diazepínicos), precedendo a parada respiratória em casos de fadiga dos músculos respiratórios, etc. � APNÉIA: interrupção movimentos respiratórios por um período de tempo prolongado. Assim, p. ex., pactes com dx sd apnéia sono podem permanecer sem respirar durante minutos, cursando com hipoxemia acentuada e significantes riscos do surgimento de arritmias cardíacas e morte. Indivíduos em apnéia necessitam de suporte respiratórioou então progredirão para óbito. � DISPNÉIA SUSPIROSA: inspirações profundas, esporádicas, em meio a um ritmo respiratório normal. Situações: distúrbios psicológicos (ansiedade) ou pela simples emoção. P1: DISPNEIA (TRG) 12 � RITMO CANTANI: ↑ amplitude movimentos respiratórios, de modo regular, secundariamente à presença de acidose metabólica, encontrada, p. ex., na cetoacidose diabética ou insuficiência renal. Esse ritmo é caracterizado pela hiperpneia. � RITMO KUSSMAUL: à medida que a acidose metabólica agrava-se, raramente pode haver o surgimento do ritmo de Kussmaul (alternância seqüencial apnéias inspiratórias e expiratórias). � RITMO BIOT: ritmo respiratório totalmente irregular, no tocante à amplitude das incursões respiratórias e à freqüência. Ex.: hipertensão intracraniana e lesões do SNC. � RITMO DE CHEYNES-STOCKES: alternância de períodos de apnéia, seguidos por hiperpnéia crescente e decrescente, até a instalação de nova apnéia, e, assim, sucessivamente. Ex.: ICC grave, hipertensão intracraniana e lesões do SNC. Nos casos de IC, sua gênese é explicada pelo ↑ retardo circulatório dos pulmões para o cérebro. Nessa situação, ocorre uma dissociação entre os valores de pH e PaCO2 no nível pulmonar e no nível dos quimiorreceptores centrais, levando ao surgimento da respiração periódica. Temos apneia, hiperpneia… 7- Identificar os principais tipos de dispneia (ACL) � ORIGEM CARDÍACA: P1: DISPNEIA (TRG) 13 A dispneia resulta do acúmulo líquido extravascular na membrana alvéolo-capilar pulmonar. Essa fina interface entre o sangue e o ar possibilita efetiva troca de gases, por outro lado faz-se necessário um sistema capaz de impedir o acúmulo de líquido extravascular e seu extravasamento para o interior do alvéolo. As forças que regem o movimento de líquido entre os diversos compartimentos do organismo são as forças de Starling, ou seja, pressões hidrostática e osmótica. A pressão osmótica é exercida por substâncias que não atravessam os poros de uma membrana semipermeável. A pressão osmótica do plasma e do interstício deve-se a ptns que não atravessam os poros da membrana capilar. A albumina é a responsável por cerca 80% da pressão osmótica plasmática (=coloidosmótica ou oncótica). A pressão osmótica do interstício tem como principais determinantes a permeabilidade capilar a proteínas e o fluxo linfático. No microambiente do capilar pulmonar, os valores aproximados das pressões em condições normais são os seguintes: pressão hidrostática capilar pulmonar 7mmHg, pressão oncótica plasmática 28mmHg, pressão hidrostática intersticial 8mmHg (valor negativo devido ao efeito da circulação linfática), pressão osmótica intersticial 14mmHg. Deste modo, forma-se um gradiente de pressão de aproximadamente 1 mmHg no sentido do capilar para o interstício, e o excesso de líquido extravascular é recolhido pelo sistema linfático. Nas cardiopatias de diversas etiologias, o denominador comum é o ↑ pressão hidrostática em átrio esquerdo (AE), que se transmite retrogradamente para o território venocapilar pulmonar. O organismo dispõe de mecanismos adaptativos, como expansão de vênulas, abertura de capilares e aumento do fluxo linfático, que pode aumentar até aproximadamente 200mL /h em um adulto de tamanho médio. Além disso, o ↑ crônico de pressão AE estimula hipertrofia do sistema linfático pulmonar, amplificando a sua capacidade de drenagem. O esgotamento dos mecanismos de adaptação leva ao acúmulo de líquido no espaço intersticial e posteriormente edema alveolar. O edema pulmonar ocorre particularmente quando a pressão hidrostática capilar pulmonar excede sua pressão osmótica (aproximadamente 28mmHg). O acúmulo crônico de líquido no espaço extravascular estimula uma série de alterações estruturais no alvéolo pulmonar que também contribuem para manifestações clínicas. Tais alterações incluem espessamento de membrana basal, proliferação de P1: DISPNEIA (TRG) 14 fibras reticulares e elásticas, fibrose alveolar, hipertrofia de camada média vascular, fibrose intimal, podendo chegar a um estágio avançado de arterite necrosante. O edema intersticial/alveolar pulmonar provoca uma série de efeitos na mecânica respiratória e na troca de gases que acabam por gerar a sensação de dispneia. O extravasamento de conteúdo plasmático para o interstício e alvéolos ↓ complacência pulmonar e a retenção anormal de ar ocorre pelo fechamento precoce das vias respiratórias dependentes, ocasionando hipoventilação por mecanismo restritivo. O ingurgitamento de vasos pulmonares pode ↓ calibre das vias respiratórias, o que ↑ resistência. Desta forma, maior trabalho respiratório é requerido para proporcionar uma pressão intrapleural necessária para a entrada de ar nos pulmões. Caracteristicamente, o paciente com IC apresenta dispneia que se acentua com o esforço físico, ortopneia e dispneia paroxística noturna. A resposta fisiológica da circulação pulmonar ao esforço físico envolve abertura e distensão de capilares, ↑ velocidade do fluxo pulmonar, ocorrendo ↓ resistência vascular pulmonar com pouco ↑ pressões pulmonares. Dessa maneira, consegue-se acomodar o incremento de fluxo pulmonar (que pode chegar a 4 a 7 vezes o basal sob esforço intenso) sem que haja extravasamento de fluido para o extracelular. Em condições patológicas, como na IC, o comprometimento desses mecanismos compensatórios provoca ↑ pressão capilar pulmonar, facilitando a formação de edema intersticial/alveolar. � ORIGEM PULMONAR: Pode se instalar de forma aguda ou crônica e podem ser objetivas ou subjetivas. Objetivas: predominantemente inspiratórias (acompanhadas ou não por cornagem); expiratórias (abaulamento expiratório) e mistas (tiragem e abaulamento). Subjetivas: provocadas por alguma disfunção da musculatura respiratória (torácica e as paroxísticas); as de esforço e de decúbito. Na dispneia que ocorre em obesos, possivelmente há um misto entre ↓ força e da capacidade de resistência dos Mm respiratórios, distúrbios da função pulmonar e da capacidade de exercício. Existe a possibilidade da existência de um papel importante da obstrução de pequenas vias aéreas e piores trocas gasosas em obesos graus 2 e 3. Pacientes com DPOC têm prejuízo não só na mecânica pulmonar, mas também na musculatura periférica: Obstrução crônica ⇒ Aprisionamento ar ⇒ Hiperinsuflação ⇒ ↓ capacidade física aos esforços remodelação de Mm inspiratórios. P1: DISPNEIA (TRG) 15 O desequilíbrio entre a força gerada por esses Mm e as alterações em seu comprimento podem causar dispneia. Principal músculo atingido = diafragma (retificação). Os mecanorreceptores existentes, tanto na cx torácica qto na musculatura acessória, são sensíveis às alterações comprimento, tensão e/ou movimento e podem exercer papel no mecanismo da dispneia. � ORIGEM NEUROGÊNICA: Secundárias a lesões graves do encéfalo, como AVC (isquêmicos ou hemorrágicos), inflamações (meningoencefalites), traumas, intoxicações ou tumores. Dano no SNC edema local ou generalizado chega ao bulbo irregularidade de amplitudes respiratórias (Biot) ou bradipnéia. Também pode ocorrer por depressão do centro respiratório por drogas (opioides e benzodiazepínicos), além de preceder a parada respiratória nos casos em que há fadiga dos músculos respiratórios. � ORIGEM METABÓLICA: Surge durante distúrbios do equilíbrio ácido-básico, notadamente a acidose. Causas: ↑ ingestão ou metabolização (envenenamento por etilenoglicol ou metanol, ingestão excessiva de ácido acetilsalicílico), produção ou incapacidade de metabolização pelo organismo (DM descompensada, insuficiência hepática ou choque) ou incapacidade de equilíbrio orgânico (insuficiência renal). Aumento da amplitude e FR (hiperpneia) na tentativa de ↓ concentração de hidrogênio por eliminação de CO2: respiração de Kussmaul ou ritmo de Cantani. � ORIGEM PSICOGÊNICA (suspirosa): Relacionada a conflitos emocionais que envolvem apatia, frustração ou insegurança. É uma inspiração profundae isolada do ritmo normal. Em crises de angústia, podem existir queixas vagas de sensações de incapacidade de o ar penetrar nos pulmões. Tal impressão leva a uma elevação da frequência e da amplitude respiratória de forma irregular e intermitente, que varia com o estado psicológico do paciente. 8- Caracterizar as principais causas de dispneia aguda P1: DISPNEIA (TRG) 16 💡 Achados indicam necessidade avaliação imediata: FR>30irpm; SatO2<90%; Instabilidade hemodinâmica; Uso musculatura acessória, fala entrecortada, estridor, MV assimétrico, estertores difusos; Cianose e sudorese; Agitação psicomotora e alteração estado mental (livro emergências USP). SISTEMA CARDIOVASCULAR 🫀🫀 1) Arritmia cardíaca: Sugerido por: palpitações, dor torácica, tontura, palidez, hipotensão, taquicardia. Confirmado por: ECG (pulso tipicamente >140 ou <40) e melhora nos sintomas/sinais à medida que a frequência de pulso melhora. 2) Disfunção ventricular esquerda: Causado por: evento cardíaco, dça valvar, desequilíbrio eletrolítico, arritmia. Sugerido por: início minutos a horas. Sem fôlego, angustiado e úmido, batimento apical deslocado, 3ª bulha cardíaca, crepitações inspiratórias finas tardias basais bilaterais. Muitas vezes também sinais de insuficiência ventricular direita. Confirmado por: radiografia torácica: opacificação maior ao redor dos hilos, opacidades lineares horizontais perifericamente, derrames bilaterais, coração grande. Função ventricular esquerda prejudicada no ecocardiograma. SISTEMA RESPIRATÓRIO 🫁🫁 1) Acometimento vias aéreas superiores: P1: DISPNEIA (TRG) 17 Pode ocorrer por corpos estranhos, angioedema, anafilaxia, trauma e infecções. Nesse caso, os pacientes apresentam com frequência estridor e ausculta similar a sibilos localizados em região de vias aéreas superiores. Em pacientes com angioedema são comuns lesões eritematosas na pele, mas não são pruriginosas. Inalaçaõ de corpos estranhos: Sugerido por: histórico de colocar um objeto na boca, por exemplo, amendoim. Estridor súbito, tosse intensa, sibilos monofônicos de baixa frequência e sons respiratórios reduzidos, geralmente à direita. Confirmado por: RX/TC de tórax ou broncoscopia para mostrar corpo estranho. Anafilaxia: Sugerido por: início em minutos, história de exposição recente a alérgenos, sensação de pavor, rubor, sudorese, edema facial, urticária, extremidades quentes e úmidas, dispneia e taquipneia, taquicardia, sibilos. Confirmado por: apresentação clínica e resposta à adrenalina (epinefrina) IM. 2) Exacerbação da asma: Sugerido por: sibilo polifônico generalizado com exacerbações ao longo de horas. Peito silencioso se for grave. Ansiedade, taquipneia, taquicardia e uso de músculos acessórios. Confirmado por: fluxos de pico reduzidos. VEF1 que melhora >15% com o tratamento. 3) Exacerbação de DPOC: Sugerido por: longa história de tosse ± expectoração, muitos anos-maço de tabagismo, 'exacerbações' recorrentes. Finalizado pelo resultado previsível da gestão, por exemplo, RX: pulmões radiolúcidos (”mais pretos”). Confirmado por: espirometria: VEF1 <80% do previsto e relação VEF/CVF <0,7. Além disso, <15% reversibilidade. Enfisema na TC de tórax ± redução dos níveis de alfa1- antitripsina. 4) TEP (embolia pulmonar): Sugerido por: dispneia súbita, atrito pleural, cianose, taquicardia, TVP associada ou fatores de risco como cirurgia recente, terapia c/ estrógeno, imobilidade, êmbolos prévios, malignidade, etc. P1: DISPNEIA (TRG) 18 Confirmado por: angiotomografia pulmonar mostrando coágulo na artéria pulmonar. Existem alguns critérios clínicos definidores da probabilidade diagnóstica de EP, dos quais os mais utilizados são os critérios de Wells (Tabela 5). 5) PTX: Sugerido por: dor no centro ou lateral do tórax com dispneia abrupta, ↓ sons respiratórios e hiperressonância/timpanismo à percussão. Confirmado por: desvio traqueal e desconforto sugerindo pneumotórax hipertensivo ou RX de expiração mostrando perda de marcações pulmonares fora da linha nítida. 6) Bronquite viral ou bacteriana aguda: Sugerido por: início de sibilos ao longo de dias. Sem progressão dramática. Febre, expectoração mucopurulenta, dispneia. Confirmado por: cultura de escarro e sensibilidades. Nenhuma consolidação no RX tórax. 9- Caracterizar as principais causas de dispneia crônica 1) Obesidade e descondicionamento físico: PROBABILIDADE BAIXA: D-dímero (se negativo, descarte TEP; se positivo, peça uma angio-TC tórax). PROBABILIDADES MÉDIA E ALTA: angio-TC tórax (se positivo, confirme TEP; se negativo, descartar). P1: DISPNEIA (TRG) 19 Sugerido por: mais falta de ar ao esforço. Sem tosse ou outros sintomas. IMC alto, mas nenhuma outra anormalidade no exame e testes basais normais. Confirmado por: defeito restritivo normal ou leve na espirometria, radiografia torácica e ECG. Melhora com perda de peso e programa de exercícios aeróbicos graduados. 2) Dça pulmonar intersticial: Sugerido por: tosse seca crônica, exposição ocupacional ou evidência de doença subjacente do tecido conjuntivo. Baqueteamento digital, cianose, ↓ expansão torácica, crepitações bibasais inspiratórias tardias grosseiras. Confirmado por: sombra nodular reticular na radiografia torácica. Sombra intersticial e/ou fibrose subpleural na TCAR. 3) Hipertensão pulmonar: Primária: ocorre em 20% casos; Secundária: 80% casos → embolia pulmonar prévia, vasculite, dça pulmonar crônica. Sugerido por: características da causa subjacente. Dessaturação na oximetria de pulso na caminhada e baixo fator de transferência. Confirmado por: pressões pulmonares e/ou disfunção ventricular direita no ecocardiograma. 4) TEP crônico com ou sem hipertensão pulmonar: Sugerido por: fatores de risco subjacentes, hipóxia limítrofe (por exemplo, saturações de 92–95%), taquicardia em repouso. Confirmado por: ecocardiograma sem sinais de hipertensão pulmonar. TC mostrando vasos ocluídos ou varreduras V/Q (mostrando incompatibilidade ventilação/perfusão (melhor na detecção de coágulos periféricos menores abaixo da 4ª divisão das artérias pulmonares). 5) Dça neuromuscular complicada com IRr: Sugerida por: fraqueza muscular, ortopneia, sonolência diurna e/ou cefaleias matinais (por hipoventilação noturna). Atrofia muscular, fasciculação, hipertrofia da panturrilha, etc. Confirmado por: apresentação clínica e biópsia muscular. Defeito restritivo na espirometria + CVF e queda na CVF em ≥20% ao deitar. Pulmões de pequeno volume na radiografia torácica.
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