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Raphaela Faria SINAIS E SINTOMAS DO SISTEMA CARDIOVASCULAR Após assistir ao vídeo postado do canal de CLINICA MÉDICA UFF (editado) para noção geral do conteúdo, utilize o livro de Semiologia médica (PORTO: Sistema Cardiovascular – Noções de anatomia e fisiologia e principais sinais e sintomas) e artigos para responder as questões da sala invertida. OBJETIVOS • Reconhecer as principais sinais e sintomas do aparelho cardiovascular • Compreender o raciocínio clínico iniciado pelo sintoma guia (script da doença e anamnese dirigida) • Compreender a fisiopatologia e características semiológicos dos principais sinais e sintomas do aparelho cardiovascular. 1)- Descreva os principais aspectos fisiopatológicos dos sinais e sintomas abaixo. 2)- Citar as características semiológicas dos sinais e sintomas abaixo que devem ser exploradas na anamnese (HMA) • DOR TORÁCICA . Quando o paciente é capaz de descrever bem uma dor, contribui com uma preciosa informação diagnóstica. São inúmeras as causas de dor no tórax. A isquemia do miocárdio manifestada pelo quadro de angina do peito ou de infarto do miocárdio, as pleurites, as alterações musculoesqueléticas, as disfunções do esôfago e as afecções pericárdicas são as causas mais comuns • PALPITAÇÕES Palpitações: Palpitações significam percepção incômoda dos batimentos cardíacos, sendo relatadas pelos pacientes Raphaela Faria de diferentes maneiras, tais como "batimentos mais fortes': "falhas~ "arrancos", "paradas", "tremor no coração", "coração deixando de bater", "coração aos pulos': além de outras. Cumpre salientar que a percepção incômoda dos batimentos cardíacos (palpitações) nem sempre significa alterações do ritmo cardíaco (arritmia). As palpitações são contrações cardíacas mais fortes e mais intensas, lentas ou rápidas, rítmicas ou arrítmicas, decorrentes de transtornos do ritmo ou da frequência cardíaca, incluindo todas as manifestações de taquicardia, pausas compensadoras, aumento do débito cardíaco, estados hipercinéticos, hipertrofia ventricular, início súbito de uma bradicardia causada por bloqueio completo. As palpitações aparecem, também, em indivíduos normais, após exercício físico ou emoções; elas devem ser analisadas quanto a frequência, ritmo, horário de aparecimento, modo de instalação e desaparecimento, isto é, se têm início e término súbitos. Convém indagar, também, quanto ao uso de chá, café, refrigerantes à base de cola, tabaco e drogas, principalmente cocaína e anfetaminas. Há 3 tipos principais de palpitações - as palpitações de esforço, as que traduzem alterações do ritmo cardíaco e as que acompanham os transtornos emocionais. As palpitações de esforço ocorrem durante a execução de esforço físico e desaparecem com o repouso. Nos cardíacos, têm o mesmo significado da dispneia de esforço, sendo comum ocorrerem conjuntamente. Também com relação às palpitações, é necessário caracterizar a magnitude do esforço, habitualmente escalonado em grandes, médios e pequenos esforços. Na insuficiência cardíaca, as palpitações, assim como a dispneia, iniciam-se de modo súbito, logo ao se fazer um esforço físico, e desaparecem com o repouso, de maneira gradual e lenta. De maneira geral, os pacientes relatam batimentos rítmicos, enérgicos e rápidos. As palpitações decorrentes de alterações do ritmo cardíaco são descritas pelos pacientes com expressões ou comparações que possibilitam ao médico presumir o tipo de arritmia. Assim, o relato de "falhas", "arrancos" e "tremor" indica quase sempre a ocorrência de extrassístoles. Aliás, nesta condição, o paciente percebe mais o batimento pós-extrassistólico do que a contração prematura. De outro modo, a sensação de que o coração "deixa de bater" corresponde quase sempre à pausa com pensadora. Extrassístoles "em salvas" são descritas como "disparos do coração': com curta duração. Quando têm início e fim súbitos, costumam ser indicativas de taquicardia paroxística, enquanto as que apresentam início súbito e fim gradual sugerem taquicardia sinusal ou estado de ansiedade. O relato de taquicardia com batimentos irregulares pode levantar a suspeita de fibrilação atrial. Alguns pacientes contam suas pulsações nas crises de palpitações e esta informação pode ser bastante útil, pois uma frequência cardíaca entre IOO e ISO bpm é mais comum na taquicardia sinusal, enquanto uma frequência acima de ISO bpm levanta a possibilidade de taquicardia paroxística. As palpitações constituem queixa comum dos pacientes com transtornos emocionais, podendo fazer parte, juntamente com a precordialgia e a dispneia suspirosa, da síndrome de astenia neurocirculatória ou neurose cardíaca, cuja origem reside nas agressões emocionais sofridas nos primeiros anos de vida (castigo, medo, ameaças) ou nas dificuldades e desajustes ocorridos na vida adulta, incluindo carência afetiva, desajuste conjugal, problemas econômicos, insatisfação sexual. A perda de um membro da família ou de um amigo por doença do coração pode desencadear o quadro de astenia neurocirculatória, principalmente em pacientes que sofrem de ansiedade ou de depressão. Cumpre ressaltar que as palpitações de causa emocional costumam ser desencadeadas por agressões emocionais e, muitas vezes, acompanham-se de sudorese, desmaio, dormências, além de outros distúrbios neurovegetativos. Raphaela Faria • DISPNEIA Na linguagem leiga, a dispneia recebe a designação de cansaço, canseira, falta de ar, fôlego curto, fadiga ou respiração difícil.. Primeiramente, é preciso diferenciá-la da astenia e da fatigabilidade, o que se consegue ao perguntar aos pacientes as características de sua queixa. A dispneia é um dos sintomas mais importantes dos portadores de cardiopatia e significa a sensação consciente e desagradável do ato de respirar. Semiologicamente, apresenta-se de 2 maneiras: uma subjetiva, que é a dificuldade respiratória sentida pelo paciente, e outra objetiva, que se evidencia pela aceleração dos movimentos respiratórios (taquipneia) e pela participação ativa da musculatura acessória da respiração (músculos do pescoço na inspiração e músculos abdominais na expiração). A dispneia em paciente com lesão cardíaca indica congestão pulmonar. É necessário ter em mente todas as principais causas de dispneia para que seja feito o diagnóstico diferencial a partir de suas características semiológicas . A dispneia da insuficiência ventricular esquerda apresenta características quanto ao tempo de duração, evolução, relação com esforço e posição adotada pelo paciente. A análise da sua relação com esforços deve levar em conta as atividades habitualmente exercidas pelo paciente. Deste modo, um trabalhador braçal entende por exercício pesado "algo" diferente do que é entendido por uma pessoa de vida sedentária. Uma anamnese adequada esclarece essas particularidades. Os dados anamnésicos possibilitam reconhecer os seguintes tipos de dispneia: dispneia de esforço, dispneia de decúbito ( ortopneia), dispneia paroxística noturna e dispneia periódica ou de Cheyne-Stokes. A dispneia de esforço é o tipo mais comum na insuficiência ventricular esquerda; conforme sua denominação, aparece quando o paciente executa esforço físico. De conformidade com o tipo de exercício, ela é classificada em dispneia aos grandes, médios e pequenos esforços. A diferença fundamental entre a dispneia de esforço de uma pessoa normal e a de um cardiopata está no grau de atividade física necessário para produzir a dificuldade respiratória. Assim, quando um cardiopata relata dispneia aos grandes esforços, significa que passou a ter dificuldade respiratória ao executar uma atividade queanteriormente realizava sem qualquer desconforto. Por exemplo, subir escadas que antes era feito sem dificuldade passa a provocar falta de ar; além disso, não é capaz de andar depressa ou caminhar em uma rampa, executar trabalho costumeiro ou praticar um esporte para o qual estava treinado. A dispneia aos médios esforços surge durante a realização de exercícios físicos de intensidade mediana, tais como andar em local plano a passo normal ou subir alguns degraus, mesmo devagar. A dispneia aos pequenos esforços ocorre durante a prática de exercícios físicos de pequena magnitude, como tomar banho, trocar de roupa, mudar de posição na cama. As vezes, a dispneia aparece mesmo sem o indivíduo realizar exercícios físicos, bastando para desencadeá-la apenas o ato de falar. A evolução da dispneia de esforço da insuficiência ventricular esquerda caracteriza-se por ser de rápida progressão, passando dos grandes aos pequenos esforços em curto período de tempo. Este tipo de evolução a diferencia da dispneia que ocorre nas enfermidades pulmonares e nas anemias, condições em que a dispneia agrava-se lentamente ou é estacionária. A dispneia de decúbito surge quando o paciente se põe na posição deitada. Para minorá-la, o paciente eleva a cabeça e o tórax, usando 2 ou mais travesseiros; às vezes, inconscientemente, adota a posição semissentada ao dormir. Em fase mais Raphaela Faria avançada, quando a dispneia se torna muito intensa, o paciente é forçado a sentar-se na beira do leito (ortopneia), com as pernas para fora, quase sempre fletindo a cabeça para frente e segurando com as mãos as bordas do colchão, para ajudar o trabalho da musculatura acessória da respiração. A causa da dispneia de decúbito é o aumento da congestão pulmonar nesta posição pelo maior afluxo de sangue proveniente dos membros inferiores e do leito esplâncnico. Este tipo de dispneia aparece tão logo o paciente se deita, o que a diferencia da dispneia paroxística noturna. A dispneia paroxística ocorre com mais frequência à noite, justificando, por isso, a denominação de «dispneia paroxística noturna". Sua característica principal consiste no fato de o paciente acordar com intensa dispneia, a qual se acompanha de sufocação, tosse seca e opressão torácica, sendo obrigado a sentar-se na beira do leito ou levantar-se da cama. Durante a crise dispneica, pode haver broncospasmo, responsável pelo aparecimento de sibilos, cuja causa provável é a congestão da mucosa brônquica. Nessas condições, costuma ser chamada de asma cardíaca. Ao examinar o paciente durante a crise dispneica, nota-se pele fria e pálida, às vezes cianótica, tórax expandido, sudorese e taquicardia. Nas crises mais graves de dispneia paroxística noturna, além da intensa dispneia, há também tosse com expectoração espumosa - branca ou rosada -, cianose, respiração ruidosa pela ocorrência de sibilos e estertores. Este conjunto de sintomas e sinais caracteriza o edema agudo do pulmão. Os pacientes que apresentam falência ventricular esquerda aguda, como a causada por um infarto agudo do miocárdio, ou que têm uma obstrução no nível da valva mitral - estenose mitral - são os mais propensos a desenvolver um quadro de edema agudo do pulmão. Isso se dá devido ao aumento da pressão no átrio esquerdo, que ocorre nessas 2 afecções, que se transmite às veias pulmonares, tal como em um sistema de vasos comunicantes, aumentando a pressão nos capilares pulmonares e ocasionando transudação de líquido para o interstício, que, se ocorrer rapidamente, configura o quadro de edema agudo do pulmão. Parte 8 I Sistema Cardiovascular A dispneia periódica ou de Cheyne-Stokes caracteriza-se por períodos de apneia, seguidos de movimentos respiratórios, superficiais a princípio, mas que se tornam cada vez mais profundos, até chegar a um máximo; depois, diminuem paulatinamente de amplitude até uma nova fase de apneia, após o que se repetem os mesmos fenômenos. As pausas de apneia têm duração variável de 15 a 30 segundos, podendo alcançar até 60 segundos. Quando isso acontece, o enfermo apresenta-se em estado de torpor, sonolento ou inconsciente, as pupilas se contraem (miose), podendo aparecer cianose ao término da fase de apneia. A dispneia periódica surge de preferência nos portadores de enfermidades cardiovasculares, destacando-se hipertensão arterial, insuficiência ventricular esquerda e doença arterial coronariana, mas aparece, também, em pacientes com afecções do tronco cerebroespinal, hipertensão intracraniana, hemorragia cerebral, uremia, intoxicação por barbitúricos ou morfina. Crianças sadias e pessoas idosas podem apresentar, durante o sono, este tipo de respiração. O mecanismo de respiração periódica é o seguinte: durante a fase de apneia, ocorre uma gradativa diminuição da tensão de 0 2 junto com aumento da tensão de C02• A tensão de co2 passa a aumentar progressivamente até estimular o centro respiratório. A estimulação súbita e enérgica deste centro, decorrente da hipoxemia e do aumento do C02, produz a hiperpneia, que, por sua vez, determina queda no nível de co2 e aumento da oxigenação arterial, chegando a um nível em que são insuficientes para estimular o centro respiratório, o qual deixa de emitir estímulos que provoquem movimentos respiratórios. Isso dura certo período de tempo até que se alterem novamente os níveis de 0 2 no sangue. Todos os tipos de dispneia que aparecem na insuficiência ventricular esquerda acompanham-se de Raphaela Faria elevação da pressão nos vários segmentos do leito vascular pulmonar, que é secundária ao aumento de pressão no átrio esquerdo. A pressão elevada nas veias e nos capilares pulmonares provoca transudação de líquido para o espaço intersticial, resultando na congestão pulmonar. Assim, a congestão pulmonar é a causa básica da dispneia dos pacientes com cardiopatia. Considerando que os pulmões situam-se em uma cavidade circunscrita por paredes osteomusculares com capacidade limitada de expansão, será fácil compreender que o aumento de líquido nos pulmões determina redução do seu conteúdo aéreo, da capacidade pulmonar total e da capacidade vital. Além disso, o aumento da repleção vascular provoca uma rigidez do parênquima pulmonar que diminui sua expansibilidade, constituindo um importante fator na fisiopatologia da dispneia cardíaca. Cumpre ressaltar, ainda, que o edema intersticial e a congestão pulmonar crônica desencadeiam uma proliferação difusa do tecido conjuntivo que também diminui a expansibilidade pulmonar; sua diminuição, por sua vez. aumenta o esforço respiratório e reduz a reserva ventilatória, tanto a expiratória como a inspiratória. Nota-se, finalmente, que o edema intersticial e a fibrose decorrente da congestão dificultam progressivamente a difusão dos gases no nível da membrana alveolocapilar. A dispneia dos cardíacos costuma estar associada à taquipneia, em consequência da diminuição da expansibilidade pulmonar e da exaltação do reflexo de Hering-Breuer, em virtude de intensos impulsos aferentes vagais originados no parênquima pulmonar congesto. • TOSSE E EXPECTORAÇÃO A tosse é um sintoma frequente na insuficiência ventricular esquerda, constituindo um mecanismo de valor na manutenção da permeabilidade da árvore traqueobrônquica nos casos em que houver aumento de secreções. É um ato reflexo que se inicia por uma inspiração profunda à qual se segue o fechamento da glote, com aproximação das cordas vocais, que determina grande retenção de ar nos pulmões. Posteriormente, ocorre uma brusca contração da musculatura expiratória, em especial dos músculos da parede abdominal, com deslocamento do diafragma em sentido ascendente, o qual se contrai violentamente.A tosse da insuficiência ventricular esquerda é seca e mais intensa à noite, podendo ser muito incômoda. Sua causa é a congestão pulmonar; por isso, ela quase sempre está associada à dispneia. No edema pulmonar agudo, a tosse acompanha-se de expectoração espumosa de cor rósea. Nos aneurismas da aorta, pericardite e grande dilatação do átrio esquerdo, podem ocorrer acessos de tosse por compressão brônquica, irritação do vago ou do ramo recorrente. Expectoração é o produto eliminado por intermédio da tosse, procedente das vias respiratórias. Cumpre notar que as crianças não conseguem eliminar o escarro e, por isso, elas o deglutem, eliminando-o, às vezes, pelo vômito. A expectoração dos pacientes com insuficiência ventricular esquerda é do tipo serosa, de pouca consistência, contém ar e é rica em albumina, que lhe confere aspecto espumoso, podendo ser abundante. Sua principal causa é o edema agudo pulmonar. Como o líquido que inunda os alvéolos não é formado unicamente por plasma, pois contém hemácias, a expectoração pode adquirir aspecto hemoptoico. A congestão pulmonar torna este órgão campo propício para implantação de infecção bacteriana. Deste modo, a ocorrência de expectoração mucopurulenta - de cor amarelada ou esverdeada- deve despertar a suspeita de bronquite ou bron- • copneumoma. A expectoração de sangue nos pacientes cardíacos pode decorrer dos seguintes mecanismos: passagem de glóbulos vermelhos de vasos pulmonares congestos para os alvéolos, como ocorre no edema pulmonar agudo; ruptura de vasos endobronquiais dilatados, que fazem conexão entre a circulação venosa Raphaela Faria brônquica e a pulmonar, como acontece na estenose mitral; e necrose hemorrágica dos alvéolos, nos casos de infarto pulmonar. No diagnóstico diferencial da tosse e da expectoração, devem entrar várias afecções do sistema respiratório • SÍNCOPE Desmaio é a perda súbita e transitória da consciência e do tônus muscular postura} (síncope). Nem sempre, contudo, o sintoma ocorre de maneira completa, podendo ser parcial a perda da consciência (pré-síncope ou lipotimia). Pode ser de origem psicogênica (impactos emocionais, medo intenso) ou por redução aguda, mas transitória, do fluxo sanguíneo cerebral. Quase sempre o quadro evolui rapidamente para a recuperação da consciência, pois, se não houver melhora da perfusão cerebral, sobrevirá à morte em curto período de tempo. A maior parte das crises de desmaio (crises vasovagais ou síncope vaso depressiva) ocorre quando o indivíduo está de pé, e são acompanhadas de queda da pressão arterial. Deste modo, podem-se agrupar as causas de desmaio em " d' )) (( tr dí , car 1acas e ex acar acas . I. Causas cardíacas (diminuição do fluxo sanguíneo cerebral) A. Arritmias e transtornos da condução Bradiarritmias (bloqueio atrioventricular) Taquiarritmias (taquicardia paroxística) B. Diminuição do débito cardíaco Insuficiência cardíaca aguda (infarto agudo do miocárdio) Obstrução do fluxo sanguíneo pulmonar Tetralogia de Fallot Hipertensão pulmonar primária Estenose pulmonar Embolia pulmonar C. Regulação vasomotora anormal Estenose aórtica Hipotensão postura! ou ortostática D. Diminuição mecânica do retorno venoso Mixoma atrial Trombose de prótese valvar cardíaca E. Hipovolemia aguda 50 I Exame Clínico II. Causas extracardíacas A. Metabólicas Hipoglicemia Alcalose respiratória por hiperventilação Hipoxia B. Síncope neurogênica Síndrome do seio carotídeo Síncope vasovagal Síncope da "micção" Neuralgia glossofaríngea Epilepsia C. Obstruções "extracardíacas" do fluxo de sangue Aterosclerose cerebral e de vasos da crossa da aorta Reflexo da tosse Compressão torácica Tamponamento cardíaco Manobra de Valsalva D. Psicogênica • ALTERAÇÕES DO SONO A insônia é um sintoma frequente nos pacientes com insuficiência ventricular esquerda. Em alguns indivíduos, nos quais a dispneia de Cheyne-Stokes representa sintoma dominante da insuficiência ventricular esquerda, pode haver dificuldade para dormir justamente porque este tipo de dispneia predomina ou se acentua no período noturno. Na insuficiência cardíaca grave, a insônia é acompanhada de excitação e obnubilação, alternando-se com períodos de sonolência e prostração. A causa é a estase sanguínea encefálica, com edema cerebral e hipertensão do líquido cefalorraquidiano, além de anoxia dos neurônios cerebrais, relacionada com a diminuição do fluxo sanguíneo cerebral. Sono inquieto e pesadelos também podem ser observados na insuficiência ventricular esquerda. • CIANOSE Cianose significa coloração azulada da pele e das mucosas, em razão do aumento da hemoglobina reduzida no sangue capilar, chegando a 5 g por 100 me. A quantidade normal de hemoglobina reduzida é de 2,6 g por 100 mf. É óbvio, portanto, que os pacientes intensamente anêmicos nunca Raphaela Faria apresentarão cianose, porque não haveria hemoglobina reduzida suficiente para produzir cianose, mesmo que a tensão de oxigênio sanguíneo permanecesse relativamente alta. A cianose é um sinal importante de enfermidade cardíaca, principalmente na infância, podendo ser descoberta pelo próprio paciente ou pela família. No entanto, a modificação na coloração da pele nem sempre é notada pelos pacientes e familiares. O grau da cianose e a coloração cianótica podem ser variáveis. Em alguns enfermos, a coloração da mucosa é ligeiramente azulada, sem mudança na cor da pele; em outros, a cor dos tegumentos pode ser azul-clara ou lilás intenso. Na cia- - nose grave, as mucosas sao quase negras. O exame do paciente deve ser feito à luz do dia, observando-se os lábios, a ponta do nariz, a região malar (bochechas), os lóbulos das orelhas, a língua, o palato, a faringe e as extremidades das mãos e dos pés. A pigmentação e a espessura da pele modificam o aspecto da cianose, podendo mascará-la completamente. A impregnação da pele por bilirrubina dificulta o reconhecimento da cianose. A inspeção deve ser feita nos lugares em que a pele é mais fina e em áreas ricas de capilares sanguíneos. Nos casos de cianose intensa, todo o tegumento cutâneo adquire tonalidade azulada ou mesmo arroxeada. Quando é discreta, restringe-se a determinadas regiões. Deve- se investigar se aparece ou piora após esforço físico. A cianose é generalizada quando se observa no corpo todo e localizada quando se restringe a determinados segmentos corporais - apenas o segmento cefálico, um dos membros superiores ou um dos membros inferiores. É importante identificar se é cianose generalizada ou segmentar porque o raciocínio clínico é completamente diferente em uma e outra situação. Os pacientes cianóticos apresentam outros sintomas em razão de anoxia tecidual, tais como irritabilidade, sonolência, torpor, crises convulsivas, dor anginosa, hipocratismo digital, nanismo ou infantilismo. Quanto à intensidade, é classificada em leve, moderada e grave, mas não há parâmetros fixos para caracterizar os vários graus de cianose. Somente a experiência dá ao examinador a capacidade para identificar se uma cianose é leve, moderada ou intensa. No exame do paciente cianótico, certas características são importantes para o raciocínio diagnóstico, destacando-se as que se seguem: • Na história clínica, tem importância a duração da cianose. Se ela estiver presente desde o nascimento, talvez seja graças a uma doença cardíaca congênita • Presença ou ausência de hipocratismo digital, o qual consiste na deformidade dos dedos com aumento de volume, tornando-se globosos em formato de baqueta de tambor com unhas convexas em todos os sentidos, como vidro de relógio. O baqueteamento sem cianose é frequente em pacientes com endocardite infecciosa subaguda.A combinação de cianose com baqueteamento é frequente em pacientes com certos tipos de cardiopatias congênitas e em doenças pulmonares (fibrose pulmonar, bronquiectasia, enfisema pulmonar, câncer broncogênico, fístula arteriovenosa pulmonar). Há 4 tipos de cianose: central, periférica, mista e por alterações da hemoglobina. A cianose tipo central é a mais frequente, podendo ocorrer nas seguintes condições: • Diminuição da tensão de 0 2 no ar inspirado, como ocorre nas grandes altitudes • Transtorno da ventilação pulmonar, incluindo obstrução das vias respiratórias pela ocorrência de neoplasias ou corpos estranhos, por aumento da resistência nas vias respiratórias, como ocorre na bronquite crônica, no enfisema pulmonar e na asma brônquica; paralisia dos músculos respiratórios (fármacos bloqueadores neuromusculares, miasteniagravis, poliomielite); depressão do centro respiratório (em razão de medicamentos depressores centrais); respiração dolorosa superficial (pleurites); atelectasia pulmonar (hidrotórax, pneumotórax) • Transtorno da difusão. Por aumento na espessura da membrana alveolocapilar; infecções como Raphaela Faria pneumonia, bronquite crônica, fibrose pulmonar, congestão pulmonar • Transtornos na perfusão em consequência de cardiopatias congênitas, grave insuficiência ventricular direita, embolias pulmonares, destruição da árvore vascular pulmonar • Curto-circuito (shunt) de sangue, da direita para a esquerda, como se observa na tetralogia de Fallot, tronco comum, síndrome de Eisenmenger, transposição dos grandes vasos, atresia tricúspide, grandes comunicações interatriais e interventriculares com hipertensão pulmonar, fístulas vasculares pulmonares (hemangiomas). A cianose do tipo periférico aparece em consequência da perda exagerada de oxigênio ao nível da rede capilar por estase 449 venosa ou diminuição funcional ou orgânica do calibre dos vasos da microcirculação. Este tipo de cianose caracteriza-se por se apresentar em áreas distais como membros inferiores e sempre se acompanha de pele fria. A causa mais comum de cianose periférica é a vasoconstrição generalizada em consequência da exposição ao ar ou à água fria. Pode aparecer na insuficiência cardíaca congestiva (a estase venosa periférica retarda a circulação nos capilares que se encontram dilatados), no colapso periférico com diminuição do volume-minuto, ou pode depender de obstáculo na circulação de retorno, como ocorre na flebite ou na flebotrombose. Se o obstáculo estiver no mediastino (compressão mediastínica), haverá cianose no rosto, pescoço, braços e parte superior do tórax. A cianose por transtornos vasomotores ocorre na doença de Raynaud e acrocianose (ver Capítulo 68, Doenças da Microcirculação ). A cianose tipo mista é assim chamada quando se associam os mecanismos responsáveis por cianose do tipo central com os do tipo periférico. Exemplo típico é a cianose da insuficiência cardíaca congestiva grave, na qual, além da congestão pulmonar que impede uma oxigenação adequada do sangue, há estase venosa periférica com grande perda de oxigenação. A diferenciação entre a cianose do tipo central e a do tipo periférico pode apresentar dificuldade. O teste da água quente e a elevação do membro cianótico podem fazer desaparecer a cianose periférica. A cianose central diminui ou desaparece com a inalação de 0 2A cianose por alteração da hemoglobina deve-se a alterações bioquímicas que impedem a fixação do oxigênio pelo pigmento. A existência de meta-hemoglobina dificulta a oxigenação porque estes derivados da hemoglobina não são facilmente dissociáveis, tendo perdido sua afinidade pelo oxigênio; produzem uma coloração azul-acinzentada. A meta- hemoglobina produz cianose quando alcança no sangue 20% da hemoglobina total. Essa alteração surge pela inalação ou ingestão de substâncias tóxicas que contêm nitritos, fenacetina, sulfanilamida, anilinas. • ASTENIA A astenia é uma sensação de fraqueza generalizada. Esta expressão define um sintoma de caráter subjetivo, que tem como base uma impotência motora funcional. Está presente na maioria dos pacientes com insuficiência cardíaca e infarto agudo do miocárdio. A queixa de fraqueza ou cansaço pode ser confundida com dispneia, quando não se faz uma anamnese correta. Nos pacientes com insuficiência cardíaca, a astenia relaciona-se principalmente com a diminuição do débito cardíaco e com oxigenação insuficiente dos músculos esqueléticos. Nos pacientes em anasarca, uma diurese abundante, obtida pela administração de diurético, acompanha-se de redução do volume sanguíneo, que pode causar hipotensão postural, astenia e desmaio ao levantar. A depleção de sódio e potássio também determina astenia. Na hipopotassemia, outro sintoma importante é a ocorrência de cãibras. A astenia dos cardiopatas pode estar relacionada também com atrofia muscular, seja em razão da própria insuficiência cardíaca ou por falta de exercício físico. Por fim, a inapetência causada por digital ou outros medicamentos provoca a redução de ingestão de alimentos, Raphaela Faria o que muito contribui para a astenia dos cardíacos . • EDEMA As expressões ((inchaço" e ccinchume" são as mais usadas pelos pacientes para relatar este sintoma, mas elas podem designar, também, crescimento ou distensão do abdome (p. ex., «inchaço na boca do estômago"). O edema é o resultado do aumento do líquido intersticial, proveniente do plasma sanguíneo. Embora possa haver edema intracelular, do ponto de vista semiológico, este termo refere-se ao extracelular ou intersticial. Cumpre salientar que o peso corporal pode aumentar até 10% do peso total, mesmo sem o aparecimento de fóvea na pele. Aliás, aumento brusco de peso levanta a suspeita de retenção líquida, antes de o edema tornar-se clinicamente detectável. O edema aparece em muitas enfermidades, podendo ser localizado, como acontece no edema angioneurótico ou inflamatório e na compressão de vasos linfáticos e venosos, ou generalizado, resultante de afecções cardíacas, renais, hepáticas, carenciais e do uso de medicamentos. No edema generalizado, o acúmulo de líquido não serestringe ao tecido subcutâneo, podendo acumular-se, também, nas cavidades serosas, seja no abdome (ascite), no tórax (hidrotórax), no pericárdio (hidropericárdio) ou na bolsa escrota!. Comprova-se a ocorrência de edema subcutâneo pela depressão, à qual se dá o nome de fóvea. A pele da região ede- 450 maciada torna-se lisa e brilhante quando o edema é recente; no entanto, se for de longa duração, a pele adquire o aspecto de "casca de laranjà: indicando espessamento com as retrações puntiformes correspondentes aos folículos pilosos. A causa básica do edema cardíaco é a insuficiência ventricular direita por aumento da pressão hidrostática associado à retenção de sódio. Primeiramente, localiza-se nos membros inferiores, pela ação da gravidade, iniciando-se em torno dos maléolos. À medida que vai progredindo, acomete pernas e coxas, podendo alcançar a raiz dos membros inferiores. É bilateral, podendo ser assimétrico, isto é, mais intenso em um dos membros inferiores, o que indica, quase sempre, a existência de outra doença associada, como, por exemplo, varizes ou trombose venosa em uma das pernas. Além disso, por influência da gravidade, o edema cardíaco intensifica-se com o decorrer do dia, chegando à máxima intensidade no período da tarde; daí a denominação de edema vespertino. Diminui ou desaparece com o repouso noturno. Com o agravamento da função cardíaca, o edema acomete o corpo todo, inclusive o rosto. A esta condição, denomina-se anasarca. Nos pacientes que permanecem acamados, o edema localiza-se predominantementenas regiões sacral, glútea e parede abdominal. Quando sua origem é cardíaca, encontram-se outros sinais de insuficiência ventricular direita, ou seja, ingurgitamento das jugulares, refluxo hepatojugular e hepatomegalia. Nos casos em que há lesão da valva tricúspide e na pericardite constritiva, a ascite predomina sobre o edema das extremidades. Para se compreender os mecanismos de formação do edema, convém lembrar que o intercâmbio de líquido entre o compartimento extravascular e intravascular depende dos seguintes fatores: permeabilidade da membrana celular, pressão oncótica das proteínas, pressão hidrostática, fluxo linfático e osmolaridade intra e extravascular. A fisiopatologia do edema cardíaco, como dos outros edemas, apresenta ainda aspectos não esclarecidos, embora se saiba que os mecanismos principais envolvem o equih'brio que regula o intercâmbio de líquido, em nível capilar, entre o Raphaela Faria compartimento intravascular e o intersticial. Como se sabe, são três os fatores fundamentais que regulam este equilíbrio: o primeiro é a pressão hidrostática, que tende a expulsar água e eletrólitos do interior do lúmen capilar; o segundo é a pressão oncótica das proteínas circulantes, que se opõe à pressão hidrostática e que determina a retenção de líquidos no interior do lúmen vascular; constitui o terceiro fator a permeabilidade capilar, que se comporta como membrana semipermeável, ou seja, permeável à água e aos eletrólitos e impermeável às proteínas. Na extremidade arterial do capilar, a pressão hidrostática é maior que a pressão oncótica, de modo que o líquido intravascular passa para o espaço intersticial. Em contrapartida, na extremidade venosa do capilar, sendo a pressão hidrostática menor que a pressão oncótica, ocorre reabsorção de líquido do espaço intersticial para o intravascular. Este delicado balanço de forças faz com que haja permanente circulação de líquido no tecido intersticial em torno dos capilares, desde a extremidade arterial até a extremidade venosa. Em condições normais, a pressão hidrostática e a pressão oncótica estão em perfeito equih'brio dinâmico; no entanto, em condições patológicas, este equih'brio é rompido. Parte 8 I Sistema Cardiovascular Na insuficiência cardíaca direita, a elevação da pressão venosa central é o fator determinante do aumento da pressão hidrostática nos capilares venosos, aumentando a passagem de água para o interstício, o que é evidenciado clinicamente pelo aumento do peso corporal, pelo aparecimento de edema subcutâneo ou pelo acúmulo de líquido nas cavidades serosas. Outro fator importante na gênese do edema cardíaco é a ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona, que vai determinar a retenção de sódio e a eliminação de potássio. A diminuição do volume sanguíneo circulante, consequência da fuga de líquido do compartimento intravascular para o intersticial, constitui também estímulo para secreção de aldosterona. Na regulação destes fenômenos, participam provavelmente os receptores de volume, disseminados por toda a árvore arterial para defender o organismo exatamente contra a diminuição do volume sanguíneo. A aldosterona provoca retenção ativa de sódio pelos rins. O sódio aumenta a hipertonia intravascular, à qual são sensíveis os osmorreceptores hipotalâmicos, que, por sua vez, provocam a produção de hormônio antidiurético, responsável pela retenção de água pelos rins para restabelecer o volume sanguíneo circulante. Deste modo, ao lado da elevação da pressão hidrostática, a retenção de sódio tem papel importante na formação do edema cardíaco. Na verdade, o edema da insuficiência ventricular direita é, inicialmente, o mecanismo de defesa de que o organismo dispõe para garantir uma adequada perfusão dos tecidos, quando o ventrículo direito se torna insuficiente. Acontece que as alterações dinâmicas que dão início à formação de edema, à medida que a retenção de líquido aumenta, vão desencadeando outras modificações do equih'brio hidreletrolítico, que culminam em um círculo vicioso, tendendo a aumentar cada vez mais o edema. 3)- Após assistir aos vídeos : DISPNEIA e DISPNEIA / DOR TORÁCICA (casos clínicos aplicados) e leitura do e-book, cite os principais aspectos que devem ser colhidos na anamnese dirigida (checklist) para: DISPNEIA: O paciente apresenta sensação desagradável ao respirar¿ 1) Dificuldade respiratória sentida pelo paciente. 2)Aceleração dos movimentos respiratórios Raphaela Faria (taquipneia) e participação ativa da musculatura acessoria da respiração. A dispneia só aprece quando realiza esforço¿ Acontece somente no período noturno¿ TOSSE: seca ou produtiva¿ Qual período de maior intensidade¿ (Tosse de insuficiência ventricular esquerda é seca e mais intensa a noite), Há expectoração¿ Quantidade e coloração¿ Sangue¿ DOR TORÁCICA: EDEMA Localização DESMAIO análise do episódio em si - tempo de duração, ocorrência ou não de convulsão, incontinência fecal ou urinária, mordedura da língua, sudorese e palidez -, bem como eventuais sintomas precedendo-o e manifestações surgidas após a recuperação da consciência. É necessário também investigar as condições gerais do doente, o tempo decorrido desde a última alimentação, o grau de tensão emocional, a posição do corpo, a atitude do indivíduo no momento da crise, a execução de esforço físico ou mudança súbita na posição do corpo, a temperatura ambiente, a ocorrência doença recente ou prévia
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