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TREINAMENTO DESPORTIVO Salma Hernandez Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Enumerar as diferentes formas de coordenação e equilíbrio. Identificar os métodos específicos de treinamento para coordenação e equilíbrio. Planejar uma periodização de treinamento de coordenação e equilíbrio a longo prazo. Introdução As qualidades físicas são valências treináveis que determinam a nossa inte- ração com o meio mediante movimentos. Assim, quando estão em iteração também expressam nossa aptidão física e capacidade funcional. Uma ca- pacidade coordenativa apurada e um bom nível de equilíbrio evidenciam vantagem técnica e tática nos desportos, pois se relacionam com a habilidade de resolver problemas ou intercorrências motoras de forma eficiente. Ainda é importante destacar a coordenação e o equilíbrio como valências físicas fundamentais também para a realização de atividades cotidianas. Neste capítulo, você vai conhecer as diferentes formas de manifestação da coordenação e do equilíbrio, bem como os métodos de treinamento dessas qualidades e planejamento para um programa a longo prazo. 1 Coordenação e equilíbrio A coordenação motora estará presente sempre que houver uma interação sin- cronizada entre o sistema nervoso central e o sistema muscular esquelético, promovendo uma ação ótima entre os grupamentos musculares na realização de um movimento. A capacidade coordenativa permite que o praticante e domine ações motoras em diferentes situações de forma segura e econômica do ponto de vista energético, além de possibilitar que outros movimentos possam ser aprendidos/realizados mais rapidamente. De maneira geral, a coordenação pode ser classifi cada como geral ou específi ca (WEINECK, 1999; GOBBI; VILLAR; ZAGO, 2005). Segundo Tubino e Moreira (2003), a coordenação específi ca se relaciona com a destreza, ou seja, com uma qualidade técnica específi ca decorrente de uma interação das qualidades físicas num gesto desportivo com o máximo de efi ciência e economia energética, melhorando a performance. Exemplos de coordenação geral e específica podem ser encontrados em uma partida de futebol. Enquanto o jogador corre pelo campo, ele manifesta sua coordenação motora geral. Já quando corre com a posse de bola e realiza um chute, está expressando sua coordenação específica. Já a manifestação da coordenação motora geral é resultado de treinamento em múltiplos movimentos em diferentes modalidades desportivas e que envol- vem praticamente o corpo todo. Em comparação, a capacidade coordenativa específica é desenvolvida respeitando os limites da modalidade praticada e suas técnicas particulares (WEINECK, 1999; GOBBI; VILLAR; ZAGO, 2005). O equilíbrio, por sua vez, relaciona-se com a capacidade de manter uma orientação estável e específica em relação ao ambiente imediato, isto é, a capa- cidade de controlar qualquer posição corporal sobre uma base de apoio, esteja ela estacionária ou em movimento. (WEINECK, 1999; GOBBI; VILLAR; ZAGO, 2005; RADCLIFFE, 2017). O equilíbrio pode ser classificado como estático, dinâmico ou recuperado. O equilíbrio estático refere-se à manutenção de certa postura ou posição par- ticular do corpo com o mínimo de oscilação possível. Nessa manifestação de equilíbrio, variáveis como base de apoio, distância entre o centro de gravidade e a base de apoio e tamanho da base de apoio serão intervenientes (WEINECK, 1999; GOBBI; VILLAR; ZAGO, 2005; RADCLIFFE, 2017). Quando houver uma postura eficiente durante a realização de um movi- mento, o equilíbrio será dinâmico. As variáveis intervenientes nesse caso são o dinamismo dos processos nervosos, as técnicas de cada tarefa a ser realizada, a posição e o deslocamento do centro de gravidade, a força de apoio sobre o corpo e o ambiente em que o movimento é realizado. Cabe ressaltar que todo Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio2 movimento envolve um ciclo de equilíbrio e desequilíbrio, isto é, o corpo sai do equilíbrio para que o movimento se inicie e depois retoma o equilíbrio a finalizar o movimento. Esse ciclo ocorre muitas vezes e de maneira rápida, por exemplo, durante uma corrida. Por sua vez, o equilíbrio recuperado depende do equilíbrio dinâmico e ocorre quando há um desequilíbrio maior do que o equilíbrio, repercutindo em aplicação de uma resultante de forças a fim de evitar uma queda, por exemplo (WEINECK, 1999; GOBBI; VILLAR; ZAGO, 2005; RADCLIFFE, 2017). 2 Métodos de treinamento A capacidade coordenativa é fundamental para um bom desenvolvimento de força e potência. O recrutamento de feixes musculares específi cos, acionando músculos agonistas e antagonistas de maneira equilibrada para execução de um movimento, é básico para a expressão de força em si. Tal capacidade deve ser estimulada desde a infância, respeitando-se as fases individuais de aquisição, por meio de atividades básicas de saltar, caminhar, correr, rolar, trocar bases de apoio, bater a bola com uma mão, arremessar, etc., pois determinarão a experiência motora do indivíduo. Essa experiência adquirida ao longo da vida é determinante, por exemplo, em tomadas de decisão corretas em atividades competitivas, como resolver problemas táticos ou motores, complexos ou inesperados (BOMPA; HAFF, 2002; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). Não existe um método único ou exclusivo de treinamento da coordenação, pois ela compreende todas as tarefas motoras. Assim, ao focar um treinamento coordenativo, quer esteja relacionado à performance ou saúde, você deve escolher movimentos preferencialmente relacionados com o desporto em si. As atividades para o treinamento da coordenação devem partir da coorde- nação geral para a específica. Ou seja, inicie o treinamento com movimentos de coordenação geral e depois implemente a coordenação específica. Essas relações podem ocorrer de maneiras diferentes, como pela prática de um movimento e depois do mesmo movimento com o aumento da dificuldade de execução, ou então com um movimento global (correr) e depois específico (chutar). Você pode recorrer a recursos visuais, aplicando uma coordenação visiomotora ao treinar arremessos, por exemplo e até mesmo a capacidade coordenativa bimanual, com a realização de um movimento com as duas mãos. Assim, o treinamento da coordenação deve ser variado quanto ao estímulo, afinal, quantas variações de um mesmo movimento são possíveis? Variar o ambiente, o clima, a acuidade visual, o equilíbrio e a interferência 3Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio externa (de oponentes, por exemplo) é fundamental para o treinamento da coordenação (BOMPA; HAFF, 2002; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). A Figura 1 ilustra uma possibilidade coordenativa de trabalho do core e de membros inferiores com o exercício de avanço com rotação segurando uma medicine ball. Observe como os movimentos coordenam membros superiores e inferiores com exercício de força. Além disso, podem ser variados, com os braços estendidos ou até mesmo realizando o avanço de trás para adiante, sem falar na inclusão de outros estímulos, como diferentes superfícies e imposição de tempo limite. Figura 1. Exemplo de exercício para coordenação motora: avanço com rotação. Fonte: Adaptada de Radcliffe (2017). Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio4 Diante disso, destaca-se a utilização dos métodos de treinamento contínuo e fracionado para o treinamento dessa qualidade física. Utilizando o racional desses métodos e considerando as diferentes fases de periodização (preparatória, competitiva e transição), você poderá prescrever treinamento eficazes. Assim, podem ser utilizados estímulos de forma contínua, em que o aluno/atleta é orientado a realizar um gesto ou movimento ininterruptamente (movimentos cíclicos) para a capacitação coordenativa. Os métodos contínuos se caracterizampela baixa intensidade de estímulo, para que possam ser realizados por um período prolongado sem a exaustão se instalar rapidamente. Tais métodos são importantes ferramentas de preparação global/geral orgânica do indivíduo, promovendo adaptações para estímulos mais intensos e diversificados (BOMPA; HAFF, 2002; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). Estímulos contínuos para a coordenação podem ser aplicados na fase de preparação geral dentro do programa de treinamento de um indivíduo/ atleta, promovendo a coordenação geral. Como já mencionado, a capacidade coordenativa de correr é imprescindível para inúmeras modalidades, sendo seu treinamento uma importante aquisição global para a formação desportiva. Já na fase preparatória específica, espera-se que os gestos ou estímulos mais próximos da modalidade sejam inseridos, como o chute no futebol, realizando variações do mesmo gesto (forma não usual) e atribuindo também outras qua- lidades, como velocidade e agilidade para variar a intensidade do estímulo em si. Assim, na fase preparatória específica, você poderá selecionar estímulos ou gestos acíclicos mais próximos da performance do desporto, com períodos bem definidos entre início e recuperação e intensidade acentuada, caracterizando essa fase com o emprego do método fracionado de treinamento (BOMPA; HAFF, 2002; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). Já ao elaborar treinamentos para o equilíbrio, deve ser levado em consideração o equilíbrio como uma área proprioceptiva do desenvolvimento motor que é essen- cial dentro do contexto desportivo e da capacidade funcional dos indivíduos que praticam atividade física regular. Da mesma forma que a coordenação, sua aptidão é decorrente do processo de estímulos e vivências ao longo da vida (BOMPA; HAFF, 2002; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). A grande maioria dos estudos da área concentra suas análises sobre o equi- líbrio em populações idosas e métodos de treinamentos combinados de força e equilíbrio, o que dificulta o embasamento de um método específico para o treinamento do equilíbrio. Zambaldi et al. (2007) abordaram um protocolo exclu- sivamente pautado no equilíbrio de idosas. Nesse protocolo, estavam presentes exercícios isolados e circuitos fechados que foram realizados duas vezes por semana, perfazendo um total de 16 sessões. Os autores trataram de estimular as 5Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio participantes de forma sensorial em superfície plantar utilizando sementes de girassol e alpiste, treino de latência com a utilização de estimulo sonoro (apito) e rápida resposta, marcha em superfície instável, como colchões, marcha em base estreita, trajeto circunferencial, marcha com obstáculos, perturbações inesperadas, condensação populacional, entre outras. Após a análise dos dados, os autores concluíram que o protocolo de equilíbrio específico, apesar de não sistematizado, mostrou benefícios para o equilíbrio das idosas participantes. O Colégio Americano de Medicina do Esporte (GARBER et al., 2011) recomenda o treinamento neuromuscular ou funcional para o trabalho das qualidades físicas como equilíbrio, agilidade, coordenação e marcha em indi- víduos hígidos que buscam se manter fisicamente ativos. Embora não existam evidencias que embasem indicações de volume, padronização e progressão, os autores recomendam uma frequência de duas a três vezes por semana com duração entre 20 e 30 minutos por sessão. Assim, exercícios que envolvam as habilidades motoras, exercícios proprioceptivos e atividades multifacetadas como tai chi e yoga são recomendadas para pessoas idosas para melhorar ou manter a função física e reduzir o risco de quedas. A Figura 2 ilustra uma possibilidade de trabalho: lançamento com equilíbrio. A tarefa consiste no lançamento de uma bola de um indivíduo para outro enquanto se susten- tam em base unipodal, em que o equilíbrio dinâmico é colocado em ação. Figura 2. Exemplo de exercício para o equilíbrio: lançamento de bola em apoio unipodal. Fonte: Radcliffe (2017, p. 93). Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio6 Dessa maneira, tanto o treinamento da coordenação quanto da flexibi- lidade devem respeitar o racional de métodos já bem estabelecidos, como a divisão contínuo/fracionado, em que se iniciam os trabalhos com volumes de treinamento, precedidos de intensidade. Nesse caso, treinamentos da coor- denação motora geral e do equilíbrio estático devem preceder o treinamento coordenativo específico e o equilíbrio dinâmico e recuperado, favorecendo os ganhos globais nas qualidades físicas que servem de preparação orgânica aos estímulos mais intensos e variados (BOMPA; HAFF, 2002; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). Refletindo essas possibilidades, uma proposição para preparação geral de um atleta/aluno cujo objetivo é aquisição de performance no equilíbrio deve se dar pelo aumento da capacidade global dessa qualidade. Sendo assim, os trabalhos proprioceptivos são de suma importância, pois ativam mecanismos de manifestação do equilíbrio, como sensores/receptores cutâneos e condições externas ambientais, promovendo input no sistema nervoso central e perifé- rico e exigindo resposta desses sistemas complexos (BOMPA; HAFF, 2002; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). Superada essa fase em que essas capacidades de captação dos estímulos (inputs) estão mais treinadas ou apuradas para a elaboração da resposta mo- tora, deve-se então partir para um estímulo mais específico do equilíbrio e preferencialmente mais intenso a fim de se obter uma nova forma desportiva. Nesse sentido, a realização do gesto desportivo ou movimento em superfície instável é um método de obtenção dessa qualidade. Enquanto na fase de pre- paração geral se espera uma resposta orgânica sensorial motora global, na fase específica se espera um estímulo ainda na utilização desse sistema sensorial, mas mediante um gesto específico (BOMPA; HAFF, 2002; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). Nas fases subsequentes, o estímulo deve persistir, a fim de apurar a forma esportiva. No entanto, na fase competitiva os treinamentos específicos dessas qualidades tendem a ser menos presentes, já que as práticas reais da performance devem acontecer com mais frequência. Na fase de transição, por sua vez, cabe novamente um estímulo específico dessas valências físicas, mas o foco será outro, ora mais recuperativo, mais recreativo ou até mesmo avaliativo. 7Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio Antes de realizar o treinamento de qualquer qualidade física, aqueça o corpo. Evidências indicam que o aquecimento tem relação com a diminuição de lesões, especialmente se realizado em movimentos similares aos das tarefas a serem executadas. A ideia central do aquecimento é ativar o organismo, preparando-o para uma ativação máxima com a maior eficiência possível e menor risco de lesão. A revisão sistemática da literatura conduzida por Herman et al. (2012) constatou que uma implementação eficaz do aquecimento neuromuscular pode reduzir a incidência de lesões de membros inferiores em jovens, mulheres atletas, amadores e militares tanto do sexo masculino quanto feminino. 3 Programa de treinamento para coordenação e equilíbrio Ao se elaborar um programa de treinamento para a coordenação motora, deve-se ter em mente melhorias como imagem cortical da sequência de movimentos, formação da propriocepção do movimento, eliminação de movimentos não necessários em uma tarefa, automatização e estabilização da coordenação inter e intramuscular, aumento das ramifi cações dendríticas e maior plasticidade neural, repercutindo em maior controle dos movimentos (BOMPA; HAFF, 2002; GOBBI; VILAR; ZAGO, 2005; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). O desenvolvimento do equilíbrio integra basicamente três sistemas orgânicos: somatossensorial (propriocepção), vestibular e visual. As estruturas dos fusos musculares,dos receptores articulares e dos mecanoreceptores cutâneos realizam correspondência com o sistema nervoso central, repassando dados sobre a posição do corpo em relação ao meio, bem como as forças atuantes. O aparelho vestibular contribui principalmente com informações da posição da cabeça em relação ao corpo, enquanto o sistema visual capta informações do ambiente e as relaciona com a posição do corpo (BOMPA; HAFF, 2002; GOBBI; VILAR; ZAGO, 2005; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). Além das variáveis específicas relacionadas a cada qualidade física, ao elaborar um programa de treinamento deve-se levar em conta os princípios do condicionamento físico, como individualidade biológica, sobrecarga e adaptação, continuidade e reversibilidade, generalidade, especificidade e variabilidade, bem como a utilização de um racional entre os métodos de treinamento mais utilizados, como o treinamento contínuo (variável ou es- tável) e fracionado (intervalado ou repetitivo), associados ao tempo para o desenvolvimento desse programa e suas divisões/ciclos (BOMPA; HAFF, Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio8 2002; GOBBI; VILAR; ZAGO, 2005; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). Segundo Radcliffe (2017), a elaboração de um programa conceitua um mapa com determinado condicionamento e ponto de chegada de competição. Em termos práticos, o autor exemplifica: se o planejamento tem um ano de duração com a finalidade de alguma competição, deve-se dividir esse período em três ou quatro, conforme resumido no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Radcliffe (2017). Período preparatório Período competitivo Período de transição Preparatório geral Preparatório específico Caracteriza-se pelo aumento da capacidade orgânica de enfrentamento de estímulos mais intensos e espe- cíficos que serão administrados na fase preparatória específica. Geral- mente contempla grande volume de atividades aeróbicas realiza- das em volume e baixa intensidade. Concentra-se nas qualidades de coordenação e equilíbrio, considerando suas formas básicas ou menos complexas de estímulo, com esforços nas bases neurofisiológicas dessas qualidades. Caracteriza-se por estímulos especí- ficos relacionados à modalidade esportiva. Geral- mente são tidos em menor volume e grande inten- sidade de treina- mento. Em termos de qualidades coordenativas e de equilíbrio, devem ser estimuladas suas manifestações mais complexas, desafiadoras e progressivas em comparação com a etapa anterior. Caracteriza-se pela manifestação dessas qualidades em performance máxima. Neste período, os estímulos são mais próximos das situações compe- titivas possíveis. No entanto, é preciso dosar a intensidade e o volume para que a forma desportiva adquirida até aqui não decline em decorrência da falta de recupera- ção adequada. Caracteriza- -se pela fase recuperativa e regeneradora do atleta. Os volumes e intensidades dos estímulos são acentuadamente reduzidos. Estímu- los regeneradores e recreativos são pertinentes nessa fase. Também é o momento de planejar a próxima temporada/com- petição avaliando pontos positivos e negativos do trabalho realizado ao longo do macrociclo. Quadro 1. Subdivisões para periodização de treinamento 9Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio Assim, a capacidade de coordenação geral deve se enfatizada na fase pre- paratória básica e na fase de transição, enquanto a coordenação específica deve ser enfatizada na fase preparatória específica e na fase competitiva. De modo similar, o equilíbrio estático deve estar presente nas fases de preparação geral e de transição, enquanto o equilíbrio dinâmico e recuperado estarão nas fases preparatória específica e competitiva (BOMPA; HAFF, 2002; GOBBI; VILAR; ZAGO, 2005; WEINECK, 1999; PLATONOV, 2008; RADCLIFFE, 2017). Embora os métodos de treinamento exclusivo das qualidades de coordenação e equilíbrio não estejam ainda bem fundamentados é possível encontrar testes para sua avaliação, permitindo determinar se os treinamentos propostos estão apropriados. Freitas et al. (2013) avaliaram o nível de coordenação motora em jovens praticantes de atletismo utilizando o teste KörperkoordinationsTest für Kinder (KTK) (KIPHARD; SCHILLING, 1974), que consiste na avaliação de quatro tarefas: equilíbrio andando de costas sobre uma trave, saltito com um perna, salto lateral e transposição lateral. Os autores concluíram que os atletas avaliados foram classificados com um nível elevado de coordenação motora, possuindo valores superiores a populações de várias partes do mundo. Já Tenan Neto et al. (2010) avaliaram a performance de jogadores de futebol antes e depois do treinamento específico e encontraram relação significativa entre as variáveis agilidade e potência de membros inferiores, concluindo que as qualidades físicas necessárias a um bom desempenho no futebol devem ser trabalhadas de acordo com suas especificidades. Para avaliação da coordenação, os autores utilizaram um teste específico para o futebol, o teste de drible Mor e Cristian (1979), que consiste na realização de um percurso por um círculo de 18,5 m de diâmetro sinalizado por cones, distantes entre si 4,5 m, além da linha de início, de 91,5 cm, traçada perpendicularmente ao círculo. A bola é posicionada sobre a linha de início e, ao comando “Pronto! Vai!”, o examinado conduz a bola ao redor do percurso circular, correndo sinuosamente pelos cones, até voltar à linha de início no menor tempo possível. São dadas três tentativas, a primeira no sentido horário, a segunda no sentido anti-horário e a terceira fica a critério do avaliado. O resultado do teste é a média das duas melhores tentativas. Ferreira et al. (2017) avaliaram o equilíbrio, entre outras qualidades físicas, de atletas de futebol por meio de testes funcionais e fotogrametria. Ao final do estudo, concluíram que essas avaliações representam formas de baixo custo e fácil reprodutibilidade, valorizando suas utilizações. Um dos testes funcionais empregados foi o Side Hop Test (ITOH et al., 1998), em que o atleta é posicionado em apoio unipodal, calçando tênis, para então realizar 10 saltos laterais, distantes 30 cm, o mais rápido possível. Outro teste aplicado foi o Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio10 Figure 8 Test (SUDA; SOUZA, 2009), em que o atleta, em apoio unipodal, calçando tênis, percorre uma distância de 5 metros delimitada por dois cones, contornando-os de forma a desenhar um 8 por duas vezes consecutivas o mais rápido possível. Também foi realizado o Star Excursion Balance Test (GRIBBLE; HERTEL et al., 2003), em que três fitas métricas são colocadas no chão nas direções anterior, posteromedial e posterolateral, cada uma delas com 120 cm a partir do centro. O atleta posiciona um pé, descalço, na intersecção entre todas as diagonais, de maneira que a linha maleolar fique no centro da intersecção das fitas; e, com o outro pé, é orientado a tocar levemente a fita com a ponta do hálux, o mais longe possível, em cada uma das três direções, mantendo o equilíbrio corporal, com o calcâneo do pé de apoio fixo no solo. Para estabelecer os valores de análise, considerou-se a maior distância alcan- çada, em centímetros, para cada direção. Por fim, Karloh et al. (2009) avaliaram o equilíbrio dinâmico de atletas da ginástica rítmica também usando o Star Excursion Balance Test (recém- -explicado) e concluíram que esses atletas possuem maior capacidade de manutenção e restabelecimento de controle postural, o que provavelmente se deve aos gestos específicos do esporte. Gomes (2009) ressalta que as qualidades físicas de coordenação e equilíbrio não se manifestam de forma isolada na prática desportiva. A capacidade coordenativa, por exemplo, está muito ligada à precisão na reprodução dos parâmetros de força, espaço, tempo e ritmo nos movimentos. Assim, as qualidades físicas de coordenaçãoe equilíbrio são inerentes às práticas desportivas e manifestam-se em interação com outras qualidades físicas na performance. O treinamento dessas qualidades físicas deve ser incentivado em todas as prescrições de treinamento físico, haja vista sua relação com a produção de movimentos harmoniosos e eficientes, evitando quedas e possíveis lesões. Obviamente, conhecimentos sobre os conceitos, a aplicação e a avaliação dessas qualidades devem fazer parte do repertório técnico e cognitivo dos instrutores do treinamento físico, não somente para uma proposição específica, mas também como uma defesa teórica dessa proposição frente aos praticantes, prescrevendo intervenções eficazes e fundamentadas. 11Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio BOMPA, T. D.; HAFF, G. G. Teoria e metodologia do treinamento: periodização. 5. ed. São Paulo: Phorte, 2012. FERREIRA, D. C. et al. Agilidade, equilíbrio e flexibilidade de atletas de futebol: avaliação por meio de testes funcionais e fotogrametria. Fisioterapia Brasil, v. 18, n. 2, p. 111–120, maio 2017. Disponível em: https://portalatlanticaeditora.com.br/index.php/fisiotera- piabrasil/article/view/788/1720. Acesso em: 25 jul. 2020. FREITAS, J. V. de. et al. Nível de coordenação motora de jovens atletas de atletismo. Coleção Pesquisa em Educação Física, v. 12, n. 3, p. 109–116, 2013. Disponível em: https:// www.fontouraeditora.com.br/periodico/upload/artigo/1043_1503667402.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020. GARBER, C. E. et al. Quantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory, musculoskeletal, and neuromotor fitness in apparently healthy adults: guidance for prescribing exercise. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 43, n. 7, p. 1334–1359, 2011. 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Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. PLATONOV, V. N. Tratado geral de treinamento desportivo: metodologia do treinamento: periodização. 5. ed. São Paulo: Phorte, 2008. RADCLIFFE, J. C. Treinamento funcional para atletas de todos os níveis: séries para agilidade, velocidade e força. Porto Alegre: Artmed, 2017. SUDA, E. Y.; SOUZA, R. N. Análise da performance funcional em indivíduos com instabi- lidade do tornozelo: uma revisão sistemática da literatura. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 15, p. 233–237, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbme/ v15n3/a14v15n3.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020. TENAN NETO, A. et al. Análise da coordenação motora de uma equipe sub-11 de futebol de campo em Florianópolis. Revista Brasileira de Futsal e Futebol, v. 2, n. 4, p. 07–13, 2010. TUBINO, M. J. G.; MOREIRA, S. B. Metodologia científica do treinamento desportivo. 13. ed. 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Acesso em: 25 jul. 2020. 13Métodos de treinamento da coordenação e do equilíbrio
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