Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Tributário Profª. Estefânia Gonçalves Direito Tributário Aula 6 - 1.1 RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA Situação - problema: João sempre sonhou em ser empresário e viu uma oportunidade ao ler o anúncio de "vende-se“ na padaria do seu bairro. Após comprar o estabelecimento comercial e registrar o CNPJ da sua empresa, decidiu manter a exploração da mesma atividade econômica até então realizada pelo alienante, ou seja, a produção e a comercialização de pães, bolos, torta e lanches em geral. Por outro lado, o alienante Sérgio, informou que queria dar um tempo na exploração de atividade econômica, pois havia tido muito prejuízo durante a pandemia do covid19, o que havia lhe deixado desmotivado. Passados 7 meses do ato de alienação do estabelecimento comercial, João foi notificado pela fazenda pública estadual sobre uma dívida não quitada de ICMS, cujos fatos geradores seriam anteriores ao ato da referida venda. A partir disso, pergunte aos alunos: A cobrança realizada pelo fisco tem embasamento jurídico? 3 Direito Tributário Responsável: é a pessoa escolhida pela lei para responder pela obrigação tributária, pois tem relação indireta com a situação que constitui o fato gerador (art. 121, parágrafo único, II, CTN). O legislador visou o efetivo recebimento do tributo em situações onde o contribuinte se torna pouco acessível à cobrança ou o tributo não puder ser normalmente pago. 4 Direito Tributário Art. 128, CTN (lei 5172/1966): Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação. 5 Direito Tributário 1 Responsabilidade por substituição (“pra frente” ou “pra trás”) É definida por lei antes da ocorrência do fato gerador (128, CTN). Quem pratica o fato gerador jamais chega a ser, realmente, sujeito passivo da obrigação, pois a lei atribui a uma terceira pessoa a responsabilidade, ocupando o lugar do contribuinte. Existe um liame jurídico, econômico ou contratual entre o contribuinte e o responsável (substituído e substituto). Direito Tributário 1.1 Substituição Tributária Progressiva/ por antecipação/ pra frente (150, §7º, CF): é a hipótese na qual a lei impõe a responsabilidade de pagar antes mesmo do fato gerador ocorrer, daí ser denominada para frente (fato gerador presumido). O substituto deve arcar com o tributo referente ao substituído – previamente à própria ocorrência do fato gerador. Geralmente envolve impostos sobre a produção e a circulação, ou seja, que incidem sobre várias operações dentro de uma cadeia econômica (IPI e ICMS). Direito Tributário Art. 150, §7º, CF: A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido. Direito Tributário Fato Gerador Presumido: Não ocorrência A CF garante a restituição preferencial dos valores pagos antecipadamente (150, 7º, CF). O STF garantiu também a restituição se o fato gerador ocorrer por valor inferior ao valor presumido: “É devida a restituição da diferença do Imposto de Circulação de Mercadorias - ICMS pago a mais no regime de substituição tributária para frente se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida” (Tese 201 de repercussão geral). Direito Tributário 1.2 Substituição Tributária Regressiva/ para trás (128, CTN): é a postergação ou o adiamento do recolhimento do tributo com relação ao momento pretérito em que ocorre o fato gerador. O pagamento do tributo é efetuado pelo responsável legal posteriormente à ocorrência do fato gerador (diferimento). O tributo será integralmente recolhido pelo sujeito ao final da cadeia. Neste caso, não é necessário uma base de cálculo presumida, visto que todas as operações de saída de mercadorias foram realizadas, de modo que o cálculo do tributo é efetuado a partir de valores já conhecidos. Direito Tributário 2 Responsabilidade Tributária por Transferência: Surge após a ocorrência do fato gerador, em razão de fato posterior previsto em lei, provocando uma transferência da responsabilidade para um terceiro (responsável). Ou seja, diante da dificuldade de cobrar daquele que de fato deveria pagar (contribuinte), a lei sub-roga o dever a terceiro (responsável). Formas: Por Solidariedade (124, CTN). Por Sucessão (129 a 133, CTN) - ocorre por ato inter vivos, causa mortis, empresarial. De terceiros (134 e 135, CTN) - pessoas exteriores à relação jurídica tributária. Direito Tributário 2.1 Por Solidariedade (124, CTN): Existe mais de um devedor obrigado pelo pagamento de toda a dívida fiscal. *SEM BENEFICIO DE ORDEM: O FISCO PODE COBRAR DE QUALQUER UM DOS CO-OBRIGADOS, OU DE AMBOS. as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal; as pessoas expressamente designadas por lei. Direito Tributário Efeitos da solidariedade: 125,CTN O pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais; A isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se outorgada pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo saldo; A interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados, favorece ou prejudica aos demais. Direito Tributário 2.2 Por Sucessão (129 a 133, CTN): O responsável deverá satisfazer a prestação descumprida pelo contribuinte. • Há o deslocamento da obrigação de recolher o tributo devido pelo sucedido. • Créditos constituídos, em fase de constituição ou constituídos posteriormente à sucessão (129, CTN). Direito Tributário Subsidiariedade: a responsabilidade do terceiro pelo cumprimento da obrigação é residual. Inicialmente cobra-se do contribuinte, caso este não disponha de recursos suficientes, cobra-se do responsável legal (existe beneficio de ordem). Direito Tributário Por Sucessão (129 a 133, CTN): Adquirente de bem imóvel: responde pelas dívidas tributárias sobre o bem, anteriores à compra e venda (130 e parágrafo, CTN); Adquirente ou remitente de bem móvel: responde pelas dívidas anteriores (131, I, CTN); Sucessor, cônjuge meeiro e espólio: respondem pelas dívidas deixadas pelo de cujus, no limite do quinhão/meação/legado recebido (131, II, III, CTN); Direito Tributário Fusão, incorporação e transformação de pessoa jurídica (operações de reorganização societária): a pessoa que resultar da operação responde pelas dívidas anteriores ao ato (132, CTN). OBS: a cisão não foi citada no art. 132 por ter surgido apenas na lei de S/A 6404/76 (art. 229), posteriormente ao CTN que é de 1966, mas entende-se que na cisão também haverá a responsabilidade por sucessão (STJ: RESP. nº 242.721/ RESP nº 970.585/ RESP nº 852.972). Extinção de pessoa jurídica: o sócio remanescente ou espólio que continuar a explorar a mesma atividade responde pelas dívidas deixadas (132, parágrafo, CTN); Direito Tributário Adquirente de fundo de comércio, estabelecimento comercial, industrial ou profissional: se prosseguir na mesma atividade responde pelas dívidas deixadas (133, CTN). Responde integralmente pelas dívidas deixadas pelo alienante: se o alienante não explorar mais atividade econômica ou voltar a explorar após 6 meses do ato de alienação; Responde subsidiariamente pelas dívidas deixadas pelo alienante: se o alienante prosseguir na exploração de atividade econômica (de qualquer atividade) ou iniciar nova atividade econômica dentro de 6 meses, a contar da data da alienação. Direito Tributário Art. 133, CTN: A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ouprofissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. Direito Tributário Art. 133, § 1º, CTN: O disposto no caput deste artigo não se aplica na hipótese de alienação judicial: I – em processo de falência; II – de filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial. § 2º Não se aplica o disposto no § 1º deste artigo quando o adquirente for: I – sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em recuperação judicial; II – parente, em linha reta ou colateral até o 4º (quarto) grau, consanguíneo ou afim, do devedor falido ou em recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; ou III – identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a sucessão tributária. Direito Tributário 2.3 De Terceiros (134 e 135, CTN): Trata-se de responsabilidade Subsidiária, apesar do 134, CTN usar a nomenclatura errada. Art. 134, CTN: Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente (?) com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: Direito Tributário os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores; os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados; os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário; os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício; os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. Direito Tributário Responsabilidade Pessoal (135, CTN) – Respondem com patrimônio próprio por dívida de outra pessoa se agir com excesso de poder, infração à lei, contrato social ou estatutos (dolo ou culpa). as pessoas referidas no artigo anterior; os mandatários, prepostos e empregados; os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. Direito Tributário Sócio gerente/administrador de PJ: Súmula 430, STJ: O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente. Súmula 435, STJ: Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente. Direito Tributário 3 Responsabilidade por infrações – 136 a 138, CTN: é a sujeição de alguém às consequências pela prática de seus atos, ou a responsabilidade pelo pagamento de multas, quando se descumpre uma obrigação. Objetiva: responsabiliza-se quem praticou o ato ilícito (descumprimento das obrigações tributárias), e independe de dolo ou culpa (136, CTN); Pessoal: aplicada como exceção, determinando a punição do próprio agente, e não do sujeito passivo (pessoa física que concretiza conduta ilícita por trás de pessoa jurídica, por exemplo). O sujeito passivo permanece como responsável pelo tributo devido no âmbito da obrigação tributária correspondente, porém, é o agente quem se submete à sanção imposta pela prática de infração (art. 137, CTN). Direito Tributário Art. 137, CTN: A responsabilidade é pessoal ao agente: I - quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou contravenções, salvo quando praticadas no exercício regular de administração, mandato, função, cargo ou emprego, ou no cumprimento de ordem expressa emitida por quem de direito; II - quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja elementar (componente do tipo); III - quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo específico (intenção especial): a) das pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem respondem; b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes, preponentes ou empregadores; c) dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado, contra estas. Direito Tributário Denúncia espontânea (confissão espontânea ou autodenúncia): se acompanhada do pagamento do tributo devido e dos juros de mora exclui a responsabilidade (multa) pela prática de infração. Deve ocorrer antes do início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração (138, CTN). Direito Tributário Atividade Autônoma Aura: 1. O Código tributário nacional previu a responsabilidade tributária, instituto que transfere a uma terceira pessoa o dever legal de recolher um tributo no lugar do contribuinte. No que se refere a chamada responsabilidade por sucessão, o CTN previu regras de responsabilidade pela aquisição de bens imóveis e móveis. Com base em tais disposições, assinale a opção correta: A. O Adquirente de bem imóvel responde pelas dívidas tributárias sobre o bem, anteriores à compra e venda, mesmo havendo prova de quitação do tributo. B. O Adquirente de bem imóvel responde pelas dívidas tributárias sobre o bem, anteriores à compra e venda, salvo se houver prova de quitação do tributo. C. O remitente de bem móvel jamais será responsabilizado pelas dívidas pretéritas ao ato. D. O adquirente de veículo em leilão deverá ser responsabilizado pelas dívidas de IPVA anteriores ao ato. E. O adquirente de bem imóvel não responde pelas dívidas pretéritas de taxas sobre o bem, mas responde pelas dívidas de IPTU. Direito Tributário 2. Giulia é prestadora de serviços de transporte intramunicipal, entretanto deixou de declarar os fatos geradores e de recolher por 2 meses o ISSQN em prol do município XX. Arrependida, solicitou ao fisco municipal a denúncia espontânea, ocasião em que fez o pagamento do tributo devido. Considerando as informações do enunciado, marque a opção correta: A. A denúncia espontânea excluirá a aplicação de multa. B. A denúncia espontânea excluirá a incidência de juros de mora e da multa. C. A denúncia espontânea livra o sujeito passivo de pagar o tributo, juros e a multa, razão pela qual Giulia terá a restituição do valor pago, caso o seu pedido seja aceito. D. O benefício da denúncia espontânea se aplica aos tributos sujeitos a lançamento por homologação regularmente declarados, mas pagos a destempo. E. A denúncia espontânea é possível mesmo quando já instaurado pelo Fisco um processo administrativo de investigação da infração, desde que não tenha havido o julgamento. Estefânia de Oliveira Gonçalves Advogada. Professora do Curso de Direito e da Pós Graduação Lato sensu da Universidade Estácio de Sá. Mestra em Direito e Especialista em Direito Público. Direito Tributário Obrigada! Direito Tributário
Compartilhar