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Tópicos de Filosofia e História da Matemática - Unidade II

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Tópicos de Filosofia 
e História 
da Matemática
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Ana Lucia Nogueira Junqueira
Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Períodos e principais correntes filosóficas
• Introdução
• Filosofia Antiga
• Filosofia Medieval
• Período Moderno
• Período Contemporâneo
• Concluindo
 · O objetivo principal desta Unidade é discutir as características e os 
principais pensadores dos grandes períodos da Filosofia: Antiga, 
Medieval, Moderna e Contemporânea. 
 · Procuramos enfatizar as correntes filosóficas que mais se articulam com 
a história da Matemática e enfatizam o desenvolvimento da Ciência.
 · Espera-se com isso que o aluno seja capaz de identificar essas 
principais correntes filosóficas, que serão úteis para a continuidade 
dos estudos acerca da história da Matemática.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
A Disciplina como um todo trata dos aspectos de evolução do pensamento. Nesta segunda 
Unidade, vamos abordar as principais correntes de pensamento, bem como os filósofos 
mais relevantes dessas correntes, em cada grande período da História, Antiga, Medieval, 
Moderna e algumas considerações da Contemporânea.
Nesse sentido, a ênfase são as ideias e princípios que caracterizam as principais correntes 
filosóficas de cada período, dentro do contexto da época, evidenciando os filósofos de 
maior destaque e algumas de suas obras.
É importante frisar que estaremos tratando da historicidade filosófica, não do estudo da 
Filosofia propriamente dito. Portanto, o mais importante é procurar entender as mudanças 
ocorridas no modo pensante no contexto de cada época, nas diferentes correntes de 
pensamento. Também é importante ficar atento às características que demarcam as 
diferenças de pensamento, às vezes até contraditórios, embora sendo de uma mesma 
corrente filosófica.
Para tal, façam sínteses de cada corrente de pensamento evidenciando os maiores 
destaques, diferenças e concordâncias; certamente serão úteis para se preparar e realizar 
as atividades da Unidade.
Alerto que sobre algumas questões pode haver mais de uma versão ou visões diferentes. 
Isso é normal, dado que para períodos mais antigos pode haver dificuldades em determinar 
com exatidão uma data ou mesmo uma informação. Mas você não deve se preocupar com 
isso; deixemos para os filósofos e historiadores.
O mais importante é apreender as noções e conceitos tratados no material teórico, dentro 
da ideia principal da Unidade, que é dar uma visão geral da historicidade do pensamento 
em mais de 20 séculos, destacando os elementos mais relevantes.
ORIENTAÇÕES
Períodos e principais correntes fi losófi cas
UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Contextualização
Veja a imagem da pintura O Grito, do famoso pintor norueguês Edvard Munch, 
e perceba qual sensação ela lhe transmite.
Figura 1: O Grito, Edvard Munch, 1893 – Galeria Nacional, Oslo
Fonte: Wikimedia Commons
O Grito é uma série de quatro pinturas de Munch, a mais célebre delas datada de 
1893. A obra, uma das mais representativas do movimento expressionista, representa 
uma figura andrógina num momento de profunda angústia e desespero existencial.
Agora leia a “tirinha” a seguir e reflita sobre ela.
Disponível em: http://goo.gl/m7tEUm
Bill Watterson, escritor norte-americano de histórias em quadrinhos, ao criar a dupla Calvin 
e seu tigre Haroldo, critica o mundo adulto. Não por acaso o nome do menino rebelde Calvin 
foi inspirado em Calvino, líder religioso do século XVI que rompeu com a Igreja Católica. Na 
versão original, o nome do tigre é Hobbes, menção explícita ao filósofo do século XVII, que 
tinha uma visão pessimista da natureza humana.
Ex
pl
or
A vida no mundo contemporâneo tem levado as pessoas a se arrastarem num 
turbilhão de ideias, informações, inovações tecnológicas e preocupações de todo 
tipo, ao mesmo tempo em que não dá condições de o indivíduo olhar para si e 
refletir a respeito de sua existência.
6
7
Mas será que houve tempos mais tranquilos que propiciassem o livre pensar? 
Não nos enganemos, pois cada época teve seus conflitos e dificuldades 
igualmente turbulentos no contexto da época em questão. Mesmo assim, tanto em 
tempos mais remotos quanto atualmente temos pensadores que se destacam com 
o seu pensar filosófico. 
Mas o que leva a pensar filosoficamente? Pensar sobre as questões que afligem 
o mundo, ou que nos afligem? Pensar sobre nossa existência, para quê viemos ao 
mundo? Pensar que mundo é esse? 
São tantas as questões que podemos nos perguntar, que nos afligem ou 
angustiam, sob diversos aspectos, em diversos campos, que uma lista não daria 
conta. Os filósofos é que fazem isto. 
Vejamos algumas frases de filósofos bastante reconhecidos pelos seus trabalhos 
nesse campo do saber e que talvez possam dar uma ideia de suas reflexões:
 · “Tudo está se tornando, nada é.” (Platão);
 · “O homem é a medida de todas as coisas.” (Protágoras); 
 · “Que é ser?” (Aristóteles);
 · “A alma é conhecida por seus atos.” (Tomás de Aquino); 
 · “É muito mais seguro para um príncipe ser temido do que ser amado.” 
(Maquiavel); 
 · “O valor ou a valia de um homem é, como em todas as coisas, seu preço.” 
(Thomas Hobbes); 
 · “O que posso saber?” (René Descartes);
 · “O conhecimento de nenhum homem aqui pode ir além de sua 
experiência” (John Locke) 
 · “A beleza das coisas existe na mente de quem as contempla.” (David Hume);
 · “O real é o racional e o racional é o real.” (Georg W. Friedrich Hegel);
 · “O homem é uma corda, estendida entre a fera e o super-homem – uma 
corda sobre um abismo.” (Friedrich Nietzsche); 
 · “O supremo paradoxo de todo pensamento é tentar descobrir algo que o 
pensamento não pode pensar.” (Soren Keirkegaard); 
 · “Eu existo, e tudo o que é não-eu é mero fenômeno dissolvendo-se em 
conexões fenomenais.” (Edmund Husserl).
Vamos ver, então, como se deu o desenvolver desse pensar filosófico ao longo 
dos tempos e as principais corrente filosóficas?
7
UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Introdução
Vimos a importância do mito e do pensamento mítico como precursores do 
pensamento filosófico.
Agora vamos abordar as principais correntes filosóficas, lembrando-se de que os 
estudos filosóficos têm como espinha dorsal o estudo da História da Filosofia. Isto 
requer tecer algumas considerações prévias.
Para se estabelecer uma sequência histórica da Filosofia, podemos usar diferentes 
critérios. No entanto, vez que este não é um curso de Filosofia, mas apenas tópicos 
de Filosofia, a abordagem adotada será feita por meio da História da Filosofia, que 
visamos a articular com a História da Matemática.
Normalmente, a periodização é feita a partir de uma correlação com os períodos 
históricos, políticos e culturais. É dessa forma que faremos. 
É muito difícil denominar quem foi o primeiro filósofo, ou quando e em que lugar 
nasceu a Filosofia. Entretanto, segundo Marcondes (2007), Aristóteles, no Livro I 
de sua obra Metafísica, talvez tenha sido o ponto de partida dessa concepção, 
chegando a definir Tales de Mileto como o primeiro filósofo. Isto não quer dizer que 
não tenha havido pensamento filosófico antes de Tales ou em outra região.
Os diferentes povos da Antiguidade – assírios e babilônios, chineses e indianos, 
egípcios, persas e hebreus – todos tiveram visões próprias da natureza e maneiras 
diversas de explicar os fenômenos e processos naturais. 
Mas, na concepção mais comum que nos foi legada, da Filosofia Ocidental, 
caracterizamos os primórdios da Filosofia na Grécia antiga, por volta do século 
VI a. C., como a fase inicial do pensamento filosófico-científico, uma forma 
específica de se entender a realidade, mesmo que tenha havido outras formas de 
entender essa mesma realidade. 
Esse novo pensamento filosófico-científico possui características centrais que 
superam o caráter de narrativa mítica, a saber: physis, causalidade, arqué, cosmo, 
logos e caráter crítico. 
Na noção de physis (natureza)e de causalidade, o objeto de investigação 
é o mundo natural, sendo que suas teorias buscam dar uma explicação causal 
dos processos e fenômenos naturais a partir de causas encontráveis na natureza, 
puramente naturais, concretas, e não em um mundo sobrenatural, divino, de 
explicações míticas. Entretanto a explicação causal tem um caráter regressivo, ou 
seja, cada fenômeno pode ser considerado efeito de uma causa que, por sua vez, 
seria o efeito de uma causa anterior e assim sucessivamente. 
Para evitar uma regressão ao infinito da explicação causal para justificar um 
fenômeno, os filósofos postulavam a existência de um elemento primordial – arqué 
(ou arché) – que serviria de ponto de partida de todo o processo. 
8
9
O primeiro a formular essa noção foi exatamente Tales de Mileto, que afirmava 
ser a água (hydor) o elemento primordial. Não se sabe exatamente por que Tales 
teria escolhido a água como elemento primordial; talvez porque se encontra na 
natureza em seus três estados, sólido, líquido e gasoso, ou talvez por influência 
dos antigos mitos do Egito e da Mesopotâmia, civilizações de regiões áridas que se 
desenvolveram em deltas de rios, em que a água aparece como fonte de vida. 
Outros filósofos, sucessores de Tales, adotaram diferentes elementos 
primordiais: Anaxímenes, o ar; Anaximandro, o apeíron (um princípio abstrato, 
significando algo ilimitado, indefinido, subjacente à própria natureza); Heráclito, 
o fogo; Demócrito, o átomo; Empédocles adota quatro elementos primordiais, 
terra, água, ar e fogo, tese retomada depois por Platão e bastante difundida na 
Antiguidade, chegando mesmo ao período moderno, presente em especulações da 
alquimia do Renascimento até o surgimento da moderna alquimia química. 
A importância da noção do arque está na tentativa desses filósofos de apresentar 
uma explicação da realidade em um sentido mais profundo, estabelecendo um 
princípio básico que permeia toda a realidade que, de certa forma a unifique, dando 
um caráter geral, como que inaugurando a Ciência. 
O sentido de cosmos para os gregos desse período relacionava-se diretamente 
às ideias de ordem, harmonia e mesmo beleza, vez que beleza resulta da harmonia 
das formas (daí o termo cosmético). 
O cosmo como ordem se opõe ao caos, à desordem, o estado da matéria 
anterior a sua organização. É importante notar que a ordem do cosmos é uma 
ordem racional, em que razão significa a existência de princípios e leis que regem 
e organizam essa realidade. 
Dessa forma, há na concepção grega o pressuposto de uma correspondência 
entre a razão humana e a racionalidade do real – o cosmo –, que esse real pode ser 
compreendido e se pode fazer Ciência para explicá-lo teoricamente. Daí o termo 
cosmologia como explicação dos processos e fenômenos naturais e como teoria 
geral sobre a natureza e o funcionamento do universo. 
O termo logos significa literalmente discurso e com essa concepção que é 
encontrado em Heráclito de Éfeso. O logos – explicação com argumentos e razões 
dadas – difere fundamentalmente do mythos, a narrativa de caráter poético que 
recorre aos deuses e à explicação mítica do real. 
É nesse sentido racional, que explica o real por causas naturais, que se dá o 
discurso desses primeiros filósofos. 
O logos é, portanto, o discurso racional, argumentativo (daí o termo lógica), em 
que as explicações são justificadas e estão sujeitas à crítica e à discussão. Em outras 
palavras, a correspondência entre a razão humana e a racionalidade do real torna 
possível um discurso racional sobre o real.
9
UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Um dos aspectos mais fundamentais do saber que se constituiu nessas primeiras 
escolas do pensamento, sobretudo na escola jônica, foi seu caráter crítico. 
As teorias formuladas não eram de forma dogmática, apresentadas como 
verdades absolutas e definitivas, mas passíveis de serem discutidas, de suscitarem 
divergências e discordâncias, de permitirem formulações e propostas alternativas. 
Por se tratar de construção do pensamento humano, de ideias de um filósofo – 
e não de verdades reveladas, de caráter divino ou sobrenatural – estavam sempre 
abertas à discussão, a reformulações e a correções. 
A única exigência era de que as divergências fossem justificadas e fundamentadas 
por seus autores e, por sua vez, que também pudessem ser submetidas à crítica. 
Assim, levando em conta as características do pensamento filosófico-científico 
e dada sua importância histórico-filosófica, apresentamos a seguir a subdivisão da 
Filosofia em seus grandes períodos, de acordo com a classificação da Historiografia. 
A Periodização Clássica adotada pela Historiografia divide os períodos 
históricos humanos da seguinte forma:
Era
Pré-história
Das origens do 
homem até 4000 a.C.
Antiguidade
De 4000 a.C. a 476 d. C.
Idade Média
De 476 a 1453
Idade Moderna
De 1453 a 1789
Idade 
Contemporânea
de 1789 aos 
dias atuais
Evento que 
marca
o início de 
cada era
Origem da espécie 
humana Invenção da escrita
Queda do Império 
Romano
Queda de 
Constantinopla
Revolução 
francesa
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_da_hist%C3%B3ria_do_mundo 
Grandes períodos da História da Filosofia
Filosofia
 · Antiga
 · Medieval
 · Moderna
 · Contemporânea
Vale ressaltar que estes períodos não têm uma divisão perfeitamente delimitada, 
não raro se imbricam, coexistindo.
Abordaremos as características e os fundamentos mais relevantes, bem como 
os principais filósofos, dos períodos Antigo, Medieval e Moderno, procurando 
destacar suas ideias e o contexto da época em que viveram, para evidenciar as 
questões que motivaram questionamentos filosóficos relevantes na ocasião. 
Em relação ao período contemporâneo, daremos apenas um panorama geral. 
Isto se deve a algumas limitações – como a dificuldade em tratar a diversidade de 
correntes e o grande número de grande pensadores desse período em poucas 
linhas – e por optarmos em nos concentrar na historicidade da construção do 
pensamento filosófico desde seus primórdios.
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Filosofi a Antiga
A Filosofia Antiga refere-se a um grupo diversificado e que se localiza na Jônia 
desde o século VI a.C. até os primeiros tempos da era cristã. Pela dimensão 
temporal, podemos localizar temáticas díspares que são sistematizadas neste 
mesmo grupo, como indicado. 
Filosofi a Antiga
 · Período pré – Socrático
 · Período Clássico
 · Período pós – Socrático
Período Pré-Socrático
O período pré-socrático, como indica o nome, designa os primeiros filósofos 
anteriores a Sócrates (470-399 a. C.), chegando alguns a serem seus contemporâneos. 
Segundo Marcondes (2007), a leitura, interpretação e discussão da Filosofia 
dos pré-socráticos envolvem grandes dificuldades, pois suas obras se perderam na 
Antiguidade e só são conhecidas por meios indiretos. 
Pode até ter havido obras escritas, como o Poema, de Parmênides e o tratado Da 
Natureza, de Heráclito, que não sobreviveram na integralidade, só em fragmentos. 
Entretanto, a tradição da época valorizava mais a palavra falada do que a escrita e 
a Filosofia era vista essencialmente como discussão.
Duas fontes são as principais dos pré-socráticos: a doxografia e os fragmentos. A 
doxografia consiste em sínteses do pensamento desses filósofos e comentários feitos 
a posteriori, por autores de Aristóteles (384-323 a.C.) a Simplício (século VI).
Os fragmentos são citações de passagens dos próprios filósofos pré-socráticos. 
A diferença é que os fragmentos nos trazem as próprias palavras dos pensadores, 
mesmo que selecionadas por outros, enquanto que a doxografia apresenta o 
pensamento de um filósofo pelas palavras de outro pensador.
No período pré-socrático, encontramos as escolas Jônica, Italiana e Atomista. 
Vamos discorrer sobre as características de cada uma e apresentar as ideias centrais 
de seus mais influentes filósofos.
Escolas do Período Pré – Socrático 
 · Jônica
 · Italiana
 · Atomista
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UNIDADE Períodos e principais correntesfilosóficas
Escola Jônica
Caracteriza-se sobretudo pelo interesse na physis, pelas teorias sobre a natureza. 
A Jônia era uma região da costa sudoeste da Anatólia, hoje na Turquia. Ficava 
entre Mileto e Fócia e era banhada pelo mar Egeu.
Figura 2
Fonte: Wikimedia Commons
Dessa escola destacam-se:
 · Tales de Mileto (624-548 a. C.) e os discípulos Anaximandro (610-547 a.C.) 
e Anaxímenes (585-528 a.C.), que formam a chamada escola de Mileto;
 · Xenófanes de Colofon (580-480 a.C.);
 · Heráclito de Eféso (535-475 a. C.). 
Escola Italiana
Caracteriza-se pela visão mais abstrata, menos voltada para uma explicação 
naturalista da realidade, já prenunciando o surgimento da lógica e da metafísica, 
sobretudo no que diz respeito aos eleatas (de Eleia).
 · Pitágoras de Samos (571-490 a. C.), Filolau de Crotona (470-385 a.C.) e a 
escola pitagórica;
 · Parmênides de Eleia (530-460 a.C.) e a escola eleática, na qual se destacam 
Zenão de Eleia (490-430 a. C.) e Melisso de Samos (c 470 a. C.).
Temos uma segunda fase dos pré-socráticos, denominada por vezes de pluralista, 
na qual se destacam Empédocles de Agrigento (495-430 a.C.), conhecido por 
sua doutrina dos 4 elementos e a Escola atomista, cuja doutrina sustenta que a 
realidade consiste em átomos e no vazio, os átomos se atraindo e repelindo e, com 
isso, gerando os fenômenos naturais e o movimento.
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De maneira geral, os pré-socráticos ou físicos, desde Tales de Mileto, 
interrogavam-se sobre a physis (natureza) – daí o nome “físicos” – e sua 
preocupação sobre o princípio (arché) da natureza, da ordem do mundo, fez com 
que estabelecessem as primeiras elaborações à procura de um princípio lógico 
que explicasse a própria natureza.
Vejamos as ideias centrais de alguns desses pensadores. 
Tales de Mileto
Embora considerado o primeiro filósofo, sabe-se muito pouco sobre ele, vez 
que não subsistiu nenhum fragmento seu (até o momento nada se encontrou). Ele 
foi visto desde a Antiguidade como o iniciador da visão de mundo e do estilo de 
pensamento que passamos a entender como Filosofia.
Destacam-se duas características fundamentais em seu pensamento: primeiro, o 
modo de explicar a realidade natural a partir dela mesma, sem nenhuma referência ao 
sobrenatural, formulando a doutrina da água como elemento primordial, princípio 
explicativo de todo processo natural; e, em segundo lugar, o caráter crítico de 
sua doutrina, admitindo e até estimulando seus discípulos a desenvolverem outros 
pontos de vista com outros princípios explicativos. 
Anaximandro
Foi o principal discípulo e sucessor de Tales. Propôs, no entanto, o apeíron (o 
ilimitado ou o indeterminado) como princípio, sendo talvez o primeiro a utilizar a 
noção de arqué nesse sentido, destacando-se, assim, por introduzir uma noção 
nova que não se confunde com nenhum dos elementos tradicionais, num esforço 
na direção de uma explicação mais abstrata ou genérica do real, uma primeira 
versão da matéria. 
Anaxímenes
Provavelmente discípulo de Anaximandro, adotou, por sua vez, o ar (pneuma) 
como arqué, vez que o ar é incorpóreo e se encontra em toda parte, numa tentativa 
de encontrar um elemento de caráter invisível e incorpóreo para uma explicação 
abstrata da realidade física. 
Xenófanes
Embora originário da Jônia, viajou pela Grécia e esteve no sul da Itália, sendo 
considerado precursor do pensamento dos eleatas e talvez mestre de Parmênides. 
Escrevia no estilo poético, atacou o antropomorfismo típico da tradição religiosa 
da época, defendeu a ideia de deus único, identificado com a própria natureza, e 
adotou a terra como elemento primordial.
13
UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Heráclito de Efeso
Conhecido na Antiguidade como “o Obscuro” devido à dificuldade de 
interpretação do seu pensamento. Apesar de pré-socrático, é dele que mais 
chegaram fragmentos. 
Pode até ser considerado um atomista, como principal representante do 
mobilismo, isto é, que a realidade natural se caracteriza pelo movimento.
Seria este o sentido de sua frase “Panta rei” (Tudo passa), sua Filosofia parece 
defender a “unidade da pluralidade”, talvez entendida como unidade dos opostos, 
já que via a realidade marcada pelo conflito (pólemos) entre os opostos: dia e noite, 
calor e frio, vida e morte. 
Heráclito valoriza a experiência sensível e elege o fogo como elemento 
primordial, enquanto chama, energia que queima e se auto consome, simbolizando 
o caráter dinâmico da realidade. 
Seu fragmento mais famoso é: “Não podemos banharmo-nos duas vezes 
no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo”. Esse fragmento sintetiza 
a ideia da realidade em fluxo, simbolizada pelo fluxo da água no rio. Segundo 
Marcondes (2007), Hegel viu em Heráclito o primeiro filósofo a desenvolver um 
pensamento dialético.
Pitágoras
Originário de Samos, na Jônia, emigrou para a Itália por problemas políticos, após 
a invasão persa e fundou em Crotona sua escola de caráter semirreligioso e iniciático.
Representa, assim, uma transição do pensamento jônico para o da escola 
italiana, mas também a permanência de elementos míticos e religiosos. Trata-se de 
uma figura misteriosa e quase lendária, devido às características da própria escola. 
Especula-se sobre a influência egípcia no pensamento pitagórico, já que Pitágoras 
defendia uma concepção de imortalidade e transmigração (metempsicose) da alma, 
embora essas mesmas crenças fossem encontradas na tradição cultural da Trácia, 
na Grécia. 
A escola pitagórica tem longa tradição na Antiguidade, subsistindo por cerca de dez 
séculos, e teve inúmeras ramificações, como dos neopitagóricos do período helenista, 
e dos platonistas e neoplatonistas, devido à influência do pitagorismo de Platão.
Uma das principais contribuições dos pitagóricos à Filosofia e ao desenvolvimento 
da Ciência encontra-se na doutrina de que o número é o elemento básico explicativo 
da realidade, revelando uma proporção em todo o Cosmo, o que explicaria a 
harmonia do real garantindo sua beleza.
Os pitagóricos tiveram importância fundamental no desenvolvimento da 
Matemática grega, sobretudo na Geometria.
14
15
Também a teoria da harmonia musical reflete a concepção de que há uma 
proporção ideal para todo universo, aí representada nas proporções da escala 
musical; daí a música ser tratada na Antiguidade como Disciplina Matemática. 
Essa mesma concepção, que busca um princípio geométrico da proporção, como 
representante da harmonia cósmica, encontra-se na Arquitetura grega de linhas 
fortemente geométricas, na escultura do período clássico, em que o corpo é 
representado com proporções ideais, e até mesmo na ginástica e no culto ao físico. 
A concepção de número como elemento primordial reflete-se na tetractys, 
ou grupo dos quatro, que consiste nos quatro primeiro algarismos (1, 2, 3, 4) 
que somam dez e podem ser dispostos em forma triangular, simbolizando uma 
relação perfeita.
Tetractys
Figura 3
Parmênides
Parmênides e os eleatas (da região de Eleia, antiga cidade da Magna Grécia, 
denominada Vélia, na época romana)
 São adversários dos mobilistas defendendo uma posição caracterizada como 
monistas, doutrina de uma única realidade. Parmênides faz distinção entre realidade 
e aparência; assim, o movimento seria tido como aparente. 
Zenão de Eleia 
É um dos mais famosos pré-socráticos, sobretudo devido aos paradoxos que 
formulou problematizando e colocando em xeque a noção de movimento. Seus 
paradoxos são até hoje polêmicos e amplamente discutidos. 
Segundo Rodrigues (2009), o filósofo de Eléia não negou a percepção que 
temos do movimento, do múltiplo e da variação; seu objetivo foi submeter os 
dados oriundos dos sentidos às exigências lógicas da razão, demonstrando que a 
experiência imediata do movimento e da multiplicidade pelos sentidos, aos “olhos 
da razão”, é irracional e absurda.
15
UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Os argumentos propostos por Zenão afrontam a crença do senso comum (doxa), 
pois procuram defendera tese parmenidiana da imobilidade, ou imutabilidade, do Ser. 
Para Aristóteles, que tentou refutar com argumentos filosóficos, os argumentos de 
Zenão revelam-se de extrema importância, dado que movimento é mudança (kínesis).
É difícil avaliar as controvérsias entre mobilistas e monistas: Heráclito, que pensa 
os opostos como complementares, vê no conflito e no movimento os princípios 
básicos do real; a concepção de Parmênides é insustentável já que para o monismo (a 
unidade da realidade como um todo) dos eleatas, a posição do mobilismo é absurda.
Trata-se provavelmente do primeiro grande conflito de paradigmas da história da 
Filosofia. Em Matemática, uma aplicação cuidadosa do conceito de limite resolverá 
as questões levantadas pelos paradoxos de Zenão.
Leia o artigo “Zenão de Eleia, discípulo de Parmênides: um esboço”, de Osvaldino M. 
Rodrigues, disponível link: http://goo.gl/snXtdPEx
pl
or
Empédocles de Agrigento
Na Sicília, foi um filósofo e pensador pré-socrático grego conhecido por ser o 
criador da teoria cosmogênica dos quatro elementos clássicos que influenciou o 
pensamento ocidental de uma forma ou de outra, até quase meados do século XVIII.
Escrevia em versos e os fragmentos que restam de suas lições estão em dois 
poemas: Purificações e Sobre a Natureza. Embora familiarizado com as teorias 
dos Eleatas e dos Pitagóricos, Empédocles não pertencia a nenhuma escola definida. 
Sendo eclético, procurou sintetizar as doutrinas dos pensadores anteriores, como 
Parmênides, Pitágoras e pela escola jônica, bem como superar a visão monista 
eleata de unidade do real e as concepções pluralistas e mobilistas
Empédocles estabeleceu os quatro elementos essenciais que fazem toda a 
estrutura do mundo – fogo, ar, água e terra – chamando-os de raízes (rizómata). 
Ele jamais usou o termo “elemento”, que parece ter sido usado pela primeira vez 
por Platão. Em sua doutrina, de acordo com as diferentes proporções em que esses 
quatro elementos indestrutíveis e imutáveis são combinados uns com os outros, é 
produzida a diferença da estrutura. Essa teoria dos quatro elementos tornou-se o 
padrão dogma nos dois mil anos seguintes.
16
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Período Clássico
O período clássico é um período áureo da Filosofia Antiga. O pensamento 
de Sócrates é um marco na constituição do pensamento da tradição filosófica e 
inaugura o período clássico da Filosofia, rompendo com a preocupação centrada na 
formulação de doutrinas sobre a realidade natural, encontrada nos pré-socráticos. 
É um período áureo, pois além da figura emblemática de Sócrates, é constituído 
por diversos outros pensadores relevantes, entre os quais temos os Sofistas, grupos 
de mestres que viajavam de cidade em cidade realizando discursos em aparições 
públicas para atrair estudantes, como também Platão e Aristóteles, que inauguram 
a Filosofia sistemática, por sistematizarem uma obra filosófica expressando uma 
determinada concepção de mundo.
Período Clássico
 · Sócrates e os sofista
 · Filosofia sistemática – Platão e Aristóteles
Sócrates e os sofistas
O pensamento de Sócrates é um marco na constituição do pensamento da 
tradição filosófica e inaugura o período clássico da Filosofia, rompendo com a 
preocupação centrada na formulação de doutrinas sobre a realidade natural, 
encontrada nos pré-socráticos. 
Os sofistas são contemporâneos de Sócrates, principais adversários como 
também o foram Platão e Aristóteles. 
Apesar disso, Sócrates e os sofistas compartilham, embora com visões diferentes 
e às vezes diametralmente opostas, o interesse fundamental pela problemática 
ético-política, pela questão do homem enquanto cidadão da pólis, que passa a se 
organizar politicamente no sistema que conhecemos como democracia. 
Portanto, o pensamento de Sócrates e dos sofistas deve ser entendido tendo 
como pano de fundo o contexto histórico e sociopolítico de sua época. 
Nesse sentido, o surgimento da Filosofia deve ser visto como um fato cultural, 
num contexto histórico e social, que corresponde ao começo da estabilização da 
sociedade grega, com o desenvolvimento da atividade comercial, a consolidação 
de várias cidades-Estado e o progresso advindo da expansão marítima, originando 
uma classe mercantil politicamente mais influente. 
A democracia representa a possibilidade de resolverem, por meio do entendimento 
mútuo e de leis iguais para todos as diferenças e divergências existentes nessa 
sociedade, em prol do interesse comum. 
Todas essas mudanças refletem-se também em outras áreas da cultura e do 
pensamento. O teatro, por exemplo, com a tragédia, deixa de ser um ritual religioso, 
para se tornar uma celebração cívica. 
17
UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
É o caso das tragédias de Ésquilo, que datam de 490-456 a.C., e principalmente 
de Sófocles, cuja obra é de 469-405 a.C., destacando-se Édipo Rei e Antígona. 
Além do teatro, podemos mencionar relatos históricos e geográficos, como 
História da guerra contra os persas, de Heródoto, e a História da Guerra de 
Peloponeso, de Tucídides, que representam a passagem de narrativas míticas e 
lendárias de tradição arcaica para os relatos de viagens e testemunhos de eventos 
históricos. 
Sócrates (470-399 a. C.)
É figura marcante e emblemática da Filosofia grega. Embora nunca tenha escrito 
nada, foi a partir dele que as questões humanas superaram as preocupações sobre 
o princípio ordenador da natureza. 
Sócrates legou à Filosofia a figura do homem questionador, que procura 
conhecer, interrogando as pessoas que julgava sábias. Ele dialogava e interrogava 
as pessoas à exaustão, por meio da ironia e da maiêutica (método socrático que 
consiste na multiplicação de perguntas, induzindo o interlocutor à descoberta de 
suas próprias verdades e à conceituação geral de um objeto), as partes constitutivas 
do seu método dialético: inquiria para que as pessoas pudessem “dar à luz às 
ideias”. 
Incorporou o lema de um oráculo “Conhece-te a ti mesmo” como parte de sua 
tarefa e foi julgado e condenado à morte. Platão, seu discípulo, considerou que 
Sócrates foi condenado por questões evidentemente políticas. 
 Os mais conhecidos sofistas foram Protágoras de Abdera (490-421 a.C.) e 
Górgias de Leontinos (487-380 a.C.). 
O principal fragmento de Protágoras é o início de sua obra sobre a verdade, que 
afirma: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são, e das que 
não são como não são”. Esse fragmento, de certa forma, sintetiza as ideias centrais 
dos sofistas, o humanismo e o relativismo. 
A técnica argumentativa de Protágoras desenvolve a antilógica, como tentativa 
de argumentar pró e contra determinada posição. 
Górgias foi um dos maiores oradores e principais mestres da retórica de sua 
época. Em seu famoso tratado Da Natureza ou Do Não-Ser, Górgias defende a 
impossibilidade do conhecimento em um sentido estável e definitivo, afirmando: 
“Nada existe que possa ser conhecido; se pudesse ser conhecido não poderia ser 
comunicado, se pudesse ser comunicado não poderia ser compreendido”. Górgias 
dá grande importância ao logos, citando em sua obra Elogio a Helena: “O logos 
é um grande senhor”.
Górgias destaca que o logos pode ser enganoso e tudo que dispomos é o discurso, 
o mais importante do que o verdadeiro é o que pode ser provado e defendido.
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 Vale lembrar que os sofistas eram professores que ensinavam a retórica aos 
jovens de famílias ricas, mediante pagamento.
A crítica de Sócrates aos sofistas consiste em mostrar que o ensinamento sofístico 
limita-se a uma mera técnica ou habilidade argumentativa que visa a convencer o 
oponente daquilo que diz, visa à obtenção de uma “verdade consensual”, mas que 
não leva ao verdadeiro conhecimento. 
É essa oposição que determina, segundo Sócrates, a diferença entre a Filosofia 
e a sofística, o que permitiu a Platão e Aristóteles não considerarem os sofistas 
como filósofos.
Platão e Aristóteles: a Filosofia sistemática
Platão (428-347 a. C.)
Foi discípulo de Sócrates e mestrede Aristóteles. Nasceu em Atenas e depois da 
morte de Sócrates, que muito o abalou, empreendeu algumas viagens. 
Na Sicília, teve contato com alguns pitagóricos e com a escola eleática. De volta 
a Atenas, fundou, em 387 a. C., sua escola filosófica, a Academia, colocando em 
seu portal, por influência pitagórica, os dizeres: “Não passe destes portões quem 
não tiver estudado Geometria”.
Figura 4: A Academia de Platão em Atenas,
Mosaico em Pompéia, ca. séc. I
Fonte: Wikimedia Commons
Atenas era uma cidade em transformação no tempo de Platão, caracterizada pela 
instabilidade de governos, oscilando entre regimes oligárquicos e a democracia, além 
da Guerra do Peloponeso e as ameaças externas, sendo alguns dos acontecimentos 
históricos de uma cidade em crise.
Este contexto histórico marcou a vida e a Filosofia de Platão. Segundo Freitas 
Neto e Karnal (2005), a obra de Platão é uma das mais discutidas na História da 
Filosofia, o que provoca as mais variadas interpretações, muitas decorrentes dos 
diálogos platônicos: de visões religiosas a posturas políticas, muitos debates acerca 
do fundador da Academia, com interpretações que até parecem opostas, o que 
demonstra a dificuldade de apreensão da teoria platônica em seus múltiplos aspectos. 
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UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
A tradição cristã, por exemplo, enfatizou a questão da imortalidade da alma e, já 
no século XIX, Platão foi apresentado como um racionalista puro, que identificava 
realidade e inteligência
O vigor das leituras pode ser explicado pelas descobertas de novos textos ou 
fragmentos. Pode-se assim dizer que existe uma obra platônica e uma corrente 
filosófica, o platonismo. 
O estilo literário de Platão é reconhecido pelos estudiosos e a figura de Sócrates é 
um dos critérios de definição: nos primeiros diálogos (conhecidos como socráticos), 
há exposição do próprio Sócrates e os diálogos são sempre inconclusos; nos 
diálogos posteriores (não socráticos), Sócrates aparece como personagem e Platão 
desenvolve os diálogos evidenciando sua teoria. 
Os diálogos se apresentam de três formas: drama, discussão e narrativa em 
sequência. Neles, dois temas centrais se articulam: a política e a teoria do conhecimento.
Em obras como a República, Platão procura construir em logos as bases de uma 
cidade justa e feliz. Para ter êxito, é preciso conhecer, saber distinguir e construir 
uma cidade pautada no equilíbrio; por isso o conhecimento das partes da alma, das 
funções de cada uma e suas aptidões, para que a cidade permaneça em harmonia. 
Já a educação platônica se sustenta no ponto central de sua teoria: saber 
disciplinar o corpo e a alma para que seja possível distinguir as meras opiniões 
(doxa) do conhecimento autêntico (epistéme).
No jogo do dualismo platônico entre aparência e essência está a premissa da 
existência de ideias. O conhecimento dos homens se inicia por aquilo que lhe é 
mais próximo, o sensível, mas devem buscar pela reflexão o estabelecimento de 
hipóteses que os afastam das coisas sensíveis para estabelecer, exclusivamente pelo 
pensamento, o conhecimento do mundo das ideias. 
A função da educação, nesse caso, é disciplinar o corpo e a alma, pela música e 
pela ginástica, para que possa atingir a dialética, a ciência máxima que permite o 
conhecimento de todas as realidades. 
Quanto maior o conhecimento do que permanece e habita o mundo das ideias, 
maiores as condições para construção da cidade justa e feliz. Vê-se, então, que o 
conhecimento e a política em Platão não podem ser separados. 
A crítica de Platão a Sócrates diz respeito sobretudo à concepção de Filosofia, 
embora ambas visassem ao melhor conhecimento do indivíduo e da natureza 
que o cerca.
Enquanto Sócrates considerava a Filosofia como método de reflexão, Platão, 
mesmo levando em conta a reflexão filosófica, achava esse elemento insuficiente e 
entendia a Filosofia como método de análise.
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Seu principal argumento era de que o método precisa de critérios para ter sua 
aplicação eficaz, para verificar sua validade. Para Platão a Filosofia é essencialmente 
uma teoria sobre a natureza dos conceitos e das definições a serem obtidas. Esse 
é o papel da famosa teoria platônica das ideias e das formas, como uma teoria do 
conhecimento, que pode ser considerada o início da metafísica, posteriormente 
denominada ontologia. Obviamente, ambas visavam ao melhor conhecimento do 
indivíduo e da natureza que o cerca.
Aristóteles (384-321 a. C.)
Nasceu em Estagira, na Macedônia, e aos 18 anos transferiu-se para Atenas e 
ingressou na Academia de Platão, na qual permaneceu durante 19 anos, tendo 
sido o mais brilhante discípulo de Platão. 
Era filho de Nicômaco, um médico, inclusive do rei da Macedônia, e talvez o 
próprio Aristóteles tivesse formação médica, o que pode explicar seu interesse pela 
pesquisa empírica e por questões biológicas em diversos tratados. 
Após a morte de Platão e talvez em desacordo com os rumos que tomavam a 
Academia, o Estagirita – em referência ao local do seu nascimento – seguiu seu 
próprio caminho, seguiu seus estudos em Filosofia e política e aprofundou-os em 
física, lógica, moral e retórica, tendo sido preceptor de Alexandre, filho do rei 
Filipe da Macedônia e futuro conquistador de um grande império.
Voltando à Atenas, por volta de 335 a.C., fundou sua escola, o Liceu. Gostava 
de dar suas aulas e ministrar seus ensinamentos junto em caminhadas com seus 
discípulos, donde surgiu o nome de “escola peripatética” (de peripatos, o caminho).
Figura 5: Platão e Aristóteles na Escola de Atenas (1509/10).
Afresco de Rafael Sanzio. Museu Vaticano.
Fonte: Wikimedia Commons
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UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Figura 6: Aristóteles ensinando Alexandre, o Grande. 
Gravura de Charles Laplante, Paris, 1866.
Fonte: Wikimedia Commons
O pensamento de Aristóteles desenvolveu-se, sobretudo, a partir de críticas 
tanto à Filosofia dos pré-socráticos, quanto à Filosofia platônica, provocadas por 
divergências a esta última.
Os títulos de muitas de suas obras, como Ética, Política, Órganon, Metafísica, 
Física Poética demonstram sua concepção de Filosofia: elege um tema e propõe 
problemas concernentes ao seu objeto de análise, sendo o rigor da demonstração 
dos seus argumentos uma das características da sua obra.
Segundo Freitas Neto e Karnal (2005), é um filósofo que se distingue de Platão, 
por não ser ateniense, o que o diferencia da ênfase política dada pelo fundador 
da Academia.
Aristóteles é um investigador que se dedica a diversos temas; sua busca é de um 
saber amplo, global, articulando múltiplas visões na tentativa de estabelecer, de 
forma sistemática, uma compreensão entre a multiplicidade e a unidade das coisas 
e dos seres.
Os escritos de Aristóteles podem ser divididos em dois grandes grupos: os que 
se destinam ao grande público, conhecidos como exotéricos, escritos na forma 
de diálogos, versando sobre retórica e dialética, sem muita preocupação com rigor 
metodológico dada a forma dialogada; e os voltados aos já iniciados, em anotações 
para os que frequentavam cursos do Liceu, sobre temas específicos (Lógica, 
Física, Filosofia, Biologia, Metafísica, Ética, Política, Artes e História), conhecidos 
como esotéricos (ou acroamáticos, de akroama, música aos ouvidos), com maior 
aprofundamento de análise e discussão, que só interessavam a uma minoria devido 
ao rigor necessário a matérias mais abstratas. Entre os primeiros, pode-se citar 
Eudemo e Protéptico; entre os segundos, Órganon, Ética e Metafísica.
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As obras de Aristóteles alicerçaram a tradição filosófica por expor um método de 
construção do argumento, indicando categorias e a finalidade da existência dos seres.
A Metafísica aristotélica estuda os primeiros princípios e causas de todas as 
coisas, o ser como ser (costuma haver uma confusão com os vários sentidos do uso 
do termo se. Para Aristóteles, as coisas existem de diferentes maneiras: o modo 
de existência da substânciaindividual é diferente de suas qualidades, quantidades 
e relações. Por isso o verbo ser nem sempre expressa identidade, podendo ser 
um atributo ou predicado). Ao estudar as essências, ele não as separa enquanto 
essências físicas, matemáticas, astronômicas ou humanas, deixando para isto ser 
feito em cada uma das Ciências (saberes) específicas. Para ele, existem dois tipos 
de ciências: as práticas e as teóricas. 
Segundo Marcondes (2007), o sistema aristotélico inclui três partes. Na primeira, 
o saber teórico, que constitui a Ciência como conhecimento da realidade, divide-
se em: ciência geral (Metafísica) e ciência natural (que se subdivide em Física e 
Astronomia, Ciências da Vida ou biológicas, Psicologia). A segunda, o saber prático, 
que inclui a Ética e a Política, distingue-se do saber teórico porque seu objetivo 
não é o conhecimento de uma realidade determinada, mas o estabelecimento de 
normas e critérios da boa forma de agir, da ação correta e eficaz. 
A ética aristotélica – na qual se destacam as obras Ética a Nicômano, Ética 
a Eudemo e o tratado Maga Moralia – é basicamente um estudo da virtude, vez 
que, segundo o próprio Aristóteles, “nosso objetivo é tornarmo-nos homens bons, 
ou alcançar o grau mais elevado do bem humano”.
A política de Aristóteles é estudada em seu tratado de Política, que traz um 
comparativo das constituições das cidades-Estado, e no qual encontramos a famosa 
frase “o homem é um animal político”. 
A terceira parte do sistema aristotélico caracteriza-se pelo saber produtivo 
(poiésis) abrangendo sobretudo os estudos da estética – as artes produtivas ou 
criativas – como a célebre Poética e o tratado da Retórica. 
A Lógica não faz parte da divisão inicial do sistema do saber proposto por 
Aristóteles, mas segundo ele, constitui muito mais um saber instrumental de 
importância metodológica do que uma ciência do conhecimento, já que todos os 
saberes pressupõem algum tipo de lógica. Portanto, é significativo que os tratados 
aristotélicos de lógica tenham recebido o título genérico de Órganon, que contém 
diversos tratados, como Categorias, Da interpretação, Primeiros analíticos, 
Segundos analíticos, Tópicos, Refutações sofísticas. 
A principal crítica de Aristóteles a Platão concentra-se na teoria dualista de seu 
antigo mestre. 
O mundo das coisas sensíveis (materiais) é desprezado na teoria platônica 
como fonte de conhecimento, ou seja, o mundo sensível seria uma degradação 
do mundo das ideias e para conhecer, segundo Platão, o filósofo deveria suprimir 
os dados sensíveis. 
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UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Já a teoria aristotélica supõe existir uma relação entre o mundo inteligível, ou 
das ideias, e o mundo sensível, ou material.
Isto é realizado pela sua concepção de real, evitando, assim, o dualismo entre 
dois mundos. Para Aristóteles só havia um mundo: este em que nos encontramos. 
Se o homem não consegue conhecer algo mais do que os seus sentidos lhe 
mostram, então é porque esse algo não existe ou, na melhor das hipóteses, não 
vale a pena ser conhecido e por isso não é nada para nós. 
Em todo caso, dessa divergência nasce uma das principais oposições da tradição 
do conhecimento ocidental: entre o idealismo e a tendência “empírica”. 
Ainda para Aristóteles, existem cinco níveis ou graus de conhecimento, do mais 
subjetivo (o menos sábio) ao mais objetivo (o mais sábio). 
O primeiro deles é a sensação (aísthesis). Da sensação, surge a memória 
(mnemosyne), tornando melhores os seres que podem se lembrar, vez que ao 
engendrarem memória, podem aprender. E nos seres capazes de se lembrar das 
sensações, é possível desenvolver a experiência (empeiría). Até esse nível, muitos 
animais, como a abelha, o cão, entre outros, conseguem participar. No entanto, o 
homem é capaz de ir além da experiência e viver também a arte (téchne) e ainda 
a ciência (episteme).
Na figura a seguir, há um mapa da Grécia antiga, localizando o local de nascimento 
de alguns desses principais filósofos da Filosofia antiga.
Lembrem-se que costuma haver diferenças nas datas, por conta das dificuldades 
em determiná-las exatamente nos escritos que chegam até nossa época.
0 50 100 km
Demócrito: 470 - ?
Pitágoras: 570 - 500
Heraclito: 580 - 540
Tales: 640 - 562
Anaximandro: 580 - 520
Aristósteles: 384 - 322
Sócrates: 470(?) - 399
Parménides: 515 - ?
Zenão: 490 - ?
Platão: 430 - 349
Atenas
Figura 7: Filósofos da Grécia antiga
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Período Pós-Socrático
Helenismo
 · Estoicismo
 · Epicurismo
 · Ceticismo
 · Neoplatonismo
O período helenístico (pós-socrático) consiste no período da história da Grécia 
de parte do Oriente Médio, compreendido entre a morte de Alexandre, o Grande, 
em 323 a.C., e a anexação de ilhas e da península grega por Roma, em 146 a.C. 
Nessa época, a situação política e econômica das cidades-Estado gregas estava 
em declínio, por conta da guerra contra a invasão persa havida em 490 a.C., e pela 
disputa interna entre Atenas e Esparta, que acabou por se transformar na guerra 
de Peloponeso, em 431 a.C. 
Essa guerra abalou o sentimento de unidade dos gregos, consumiu recursos 
humanos e econômicos e, por fim, acabou deixando toda a Grécia vulnerável.
O rei da Macedônia, país situado ao norte da Grécia, aproveita-se dessa situação 
e inicia uma campanha expansionista. Uma a uma, as cidades-Estado gregas foram 
sendo conquistadas e anexadas à Macedônia, que assim se torna um grande império. 
Em poucas décadas, os três reis que se sucederam no trono da Macedônia – 
Amintas, Filipe e Alexandre – construíram um império colossal, que englobava a 
Grécia, o Egito e todo o Oriente Médio, chegando aos limites da Índia.
Dessa forma, é natural que as escolas gregas tenham entrado em decadência 
ao mesmo tempo em que se iniciou o período de expansão da Filosofia a partir do 
domínio exercido pelos macedônios e depois pelos romanos. 
A Filosofia deixa de ser centrada no mundo grego e ultrapassa as antigas 
fronteiras da Ética.
Na verdade, os primórdios da helenização, sob o domínio do novo império, 
evidenciaram o fim dos sistemas platônicos e aristotélicos (retomados futuramente), 
o fim da Filosofia centrada na pólis e a antiga atividade cívica é abolida sob a nova 
ordem monárquica. 
Na Filosofia, há uma significativa mudança no pensamento: a busca pela 
sabedoria e a resposta sobre o que é a felicidade se impõem como nunca. 
Os ritos religiosos já não tinham crentes e o medo dos deuses se cristalizou 
como uma perturbação constante, advindo um período de pessimismo e amargura, 
os homens expostos aos terrores da tirania, naturais e sobrenaturais. 
Como conseguir tranquilidade, sem sofrimentos ou desespero, foi a questão 
central da busca de respostas dos filósofos desta época. Assim, surgiram novas 
correntes de pensamento, das quais podemos identificar o estoicismo, o 
epicurismo, o ceticismo, o neoplatonismo.
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UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Estoicismo
O estoicismo foi a mais influente e universalista das escolas helenísticas, a que 
teve maior número de seguidores e a que perdurou como tradição intelectual por 
várias gerações. 
A história do Estoicismo inicia-se em 300 a.C., quando Zenão de Cítio 
(335-264 a. C.) funda uma escola em Atenas. Nascido em Chipre, Zenão não 
era cidadão ateniense e, pela lei vigente, os estrangeiros não podiam adquirir 
propriedades em Atenas.
Sem ter onde estabelecer sua escola, Zenão dava suas aulas em locais públicos 
de Atenas. O local preferido era um pórtico (stoá) e, por esse motivo, Zenão e seus 
seguidores passaram a ser chamados de filósofos do pórtico ou filósofos estoicos.
A doutrina estoica se caracteriza por uma Ética em que a imperturbabilidade, a 
extirpação das paixões e a aceitação resignada do destino são as marcas fundamentais 
do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira felicidade. Para o 
estoico, é preciso estar em consonância com a natureza para atingir a sabedoria. 
O lema estóico é: o único bemque existe é a retidão da vontade e o único 
mal, o vício. O que não é nem virtude nem vício, é indiferente. 
A experiência estoica consiste na tomada de consciência da situação trágica do 
homem condicionado pelo destino. O estoicismo propõe, então, viver de acordo 
com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a 
tudo que é externo ao ser. 
Mas, sendo a natureza essencialmente o logos, essa máxima é prescrição para se 
viver de acordo com a razão, que é o meio pelo qual o homem torna-se livre e feliz; 
portanto, é pela sabedoria que não se deixa escravizar pelas paixões e pelas coisas 
externas. A doutrina estoica se constitui progressivamente pelas contribuições 
sucessivas dos seus adeptos e durou cerca de um milênio. O estoicismo exerceu 
profunda influência na ética cristã. Compreende três períodos:
 · Estoicismo antigo: protagonizado por Zenão de Cício (322-262 a.C.) 
que, depois de ter sido discípulo de Crates, fundou a escola, cerca de 300 
a.C.; Cleanto de Assos (312-232 a.C.) e Crisipode Solis (279-206 a.C.). Foi 
o período de maior esplendor da escola. Depois da morte de Crisipo, foi 
perdendo prestígio em Atenas; 
 · Estoicismo médio: representado essencialmente por Panéciode Rhodes 
(185-129 a.C.) e Possidônio de Apanca (135-51 a.C.), que tiveram o grande 
mérito histórico de introduzirem o estoicismo em Roma. Ao assumir a 
direção da escola Panécio, introduz algumas ideias de outros filósofos e a 
visão eclética faz a escola reviver. Possidônio, discípulo de Panécio, fundou 
uma nova escola em Rhodes, que também foi sucesso; 
 · Novo estoicismo: desenvolveu-se em Roma sob o império e foi 
protagonizado por Sêneca (2 a.C.-65 d.C.), Epitecto, um escravo, (50-125 
d.C.) e o imperador Marco.
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Para o estoicismo, não estamos absolutamente entregues e sem defesa aos 
acidentes da vida, aos revezes da fortuna, mas temos, e nada nos pode tirar isso, a 
vontade de fazer o bem, a vontade de agir de acordo com a razão.
Por conta disso, há uma oposição radical entre o que depende de nós e pode ser 
bom ou mau, porque objeto de nossa decisão, e o que não depende de nós, mas 
de causas exteriores, do destino, e é indiferente.
Epicurismo
Epicurismo é doutrina filosófica que surge no período helenístico, voltada para 
a obtenção da serenidade interior.
A principal tese dos filósofos epicuristas é a ideia de que, para alcançar a 
tranquilidade e a libertação do medo, é preciso cultivar o prazer. Mas a busca do 
prazer deve ser moderada, já que os prazeres exacerbados são fonte de perturbações 
constantes, dificultando o encontro com a felicidade, que é manter a saúde do 
corpo e a serenidade do espírito. 
Os princípios fundamentais do epicurismo são a amizade, a moderação, o livre 
arbítrio e a indiferença à morte e aos deuses.
Seu fundador foi Epicuro (341-271 a.C.), que nasceu na ilha de Samos, em 
criança estudou com o plantonista Pânfilo e ainda muito jovem partiu para Téos, 
na Ásia Menor. 
Parece que sofria de cálculo renal, tendo sua vida marcada pela dor. Em Téos, 
estudou com um discípulo de Demócrito com quem teve contato com a teoria 
atomista – da qual depois reformulou alguns pontos – tendo retornado à terra natal 
em 323 a.C. 
Após lecionar em Cólofon, Mitilene e Lâmpsaco, transfere-se para Atenas e, 
nesta cidade cosmopolita, já com duas escolas (a Academia e o Liceu) funda sua 
escola filosófica num local afastado, tranquilo e acolhedor, distante da vida urbana, 
onde a integração com a natureza facilitava a introspecção. 
Por sua beleza natural, a propriedade passou a ser chamada de jardim (képos) e 
a comunidade de amigos e seguidores ficou conhecida como filósofos do jardim. 
Epicuro lecionou em sua escola até sua morte, cercado de amigos e discípulos e 
tendo sua vida marcada pelo ascetismo e serenidade. 
Ascetismo: fi losofi a de vida na qual são refreados os prazeres mundanos, na qual se 
propõem a austeridade.
Ex
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UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Epicuro escreveu diversas obras, infelizmente a maior parte não chegou até nós, 
restando apenas algumas cartas e fragmentos de seus tratados.
A principal obra do epicurismo que chegou completa até os dias de hoje é A 
Natureza das Coisas (De Rerum Natura), escrita por Tito Lucrécio Caro, um 
epicurista do século I a.C.
A doutrina epicurista é constituída de três partes que se articulam. Em primeiro 
lugar, a Teoria do conhecimento, que permite identificar nossas crenças infundadas 
e auxiliar o reconhecimento da verdade; em segundo lugar, a Física, que deve 
mostrar a verdadeira estrutura da realidade na qual o homem se insere e, por fim, 
a Ética, que deve indicar um caminho para a felicidade.
Veja o vídeo As delícias do jardim de Epicuro sobre as ideias desse filósofo helenista.
Disponível em: https://youtu.be/7DqdPYkoRkA
Ex
pl
or
O Ceticismo
O ceticismo é uma das doutrinas do período helenístico, voltadas para a obtenção 
da tranquilidade da alma. A principal tese dos filósofos céticos é a de que, para 
alcançar a tranquilidade, é preciso controlar nosso desejo de ter certezas absolutas.
De acordo com Sell (2008), na Ética de Aristóteles, a escolha do meio termo 
entre o excesso e a carência era tida como caminho para a felicidade.
Os céticos propõem que se aplique esse preceito do meio termo também à sede 
de saber: diminuir e orientar a nossa necessidade de ter certezas e, principalmente, 
tomar cuidado para não se deixar iludir por falsas certezas.
Enquanto escola filosófica, o ceticismo não prega a impossibilidade do 
conhecimento, mas acha ingenuidade ou falta de senso crítico se contentar com os 
resultados já alcançados. 
O maior representante dessa corrente filosófica foi Pirro de Élis (360-270 a. 
C.), filósofo grego considerado o primeiro filósofo cético e fundador da escola que 
veio a ser conhecida como pirronismo.
Pirro, junto com Anaxarco, viajou com Alexandre, o Grande, em suas explorações 
pelo Oriente, e estudou na Índia e na Pérsia. 
Da Filosofia oriental parece ter adotado uma vida de reclusão. Voltando à terra 
natal, viveu pobremente, mas foi muito reconhecido pelos habitantes de Élis e 
também pelos atenienses, que lhe concederam a cidadania. Suas doutrinas são 
conhecidas principalmente pelos escritos satíricos de seu pupilo Tímon.
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Os princípios da obra de Pirro podem assim ser expressos: em primeiro lugar, 
a impossibilidade de se conhecer a própria natureza das coisas (acatalepsia), pois 
qualquer afirmação pode ser contraditada por argumentos igualmente válidos; em 
segundo lugar, a necessidade de preservar uma atitude de suspensão intelectual, 
pois nenhuma afirmação pode ser considerada melhor que outra; por último, estes 
resultados devem ser aplicados na vida em geral. 
Pirro conclui, vez que nada pode ser conhecido, que a única atitude adequada é 
ataraxia, a “despreocupação”. 
Acerca da impossibilidade do conhecimento, mesmo em relação à nossa própria 
ignorância ou dúvida, o homem sábio deve se resguardar, evitando o stress e a 
emoção que acompanha o debate sobre coisas imaginárias. 
Este ceticismo drástico é a primeira e mais completa exposição de agnosticismo 
na história do pensamento. 
Seus resultados éticos podem ser comparados com a tranquilidade ideal dos 
estoicos e dos epicuristas.
Importante!
Vale ressaltar que o Ceticismo Científi co, embora tenha ligação com o Ceticismo 
Filosófi co que, de certa forma o embasa, não são idênticos e muitos dos praticantes 
do ceticismo científi co não concordam as proposições da corrente fi losófi ca. A corrente 
científi ca é contemporânea, as pessoas que se identifi cam como céticas são aquelas 
que apresentam uma posição crítica, baseada no pensamento crítico e nos métodos 
científi cos para constatar a validade das coisas. Assim, ganha muita importância a 
evidência empírica, o que não quer dizer que os céticos façam seu uso constantemente. 
A necessidade de evidências científi cas é mais recorrente na área da Saúde, na qualos 
experimentos não podem colocar em risco a vida das pessoas.
Importante!
Neoplatonismo
Neoplatonismo é o termo que define o conjunto de doutrinas e escolas 
de inspiração platônica que se desenvolveram do século III ao século VI, mais 
precisamente da fundação da escola alexandrina por Amônio Sacas (232) ao 
fechamento da escola de Atenas, imposto pelo edito de Justiniano, de 529. 
Pode ser considerado como o último e supremo esforço do pensamento clássico 
para resolver o problema filosófico, que tinha encontrado um obstáculo no dualismo 
e racionalismo gregos – dualismo e racionalismo que Aristóteles tentou superar, 
sem grande sucesso. 
O neoplatonismo julga poder superar o dualismo, mediante o monismo estoico, 
no qual o aristotelismo fornece sobretudo os quadros lógicos; e julga poder 
completar e integrar a Filosofia mediante a religião, o racionalismo grego, mediante 
o pensamento mítico oriental. 
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UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Incorporou Filosofia, teosofia, misticismo e teurgia (ocultismo elevado) e durante 
3 séculos serviu como último bastião da sabedoria pagã e Filosofia esotérica (no 
sentido atual), num império cristão cada vez mais hostil. 
Mesmo após o declínio da sabedoria clássica, a corrente neoplatônica 
permaneceu, sofrendo novas metamorfoses no pensamento cristão, na Filosofia 
islâmica e em algumas correntes esotéricas, como a sufi e a cabala judaica. 
O filósofo mais importante desta escola foi Plotino (204-270), que nasceu em 
Lycopolis, no Alto Egito e aos 28 anos dirigiu-se para Alexandria – centro urbano 
que era, então, o cenário da convergência entre o pensamento grego e o oriental – 
onde seguiu lições de Amônio Sacas, que o “converteu” à Filosofia, pois, na escola 
neoplatônica, assim como entre os estoicos, a Filosofia não era simples Disciplina 
teórica, mas escola de vida espiritual, destinada a transformar inteiramente a alma, 
purificá-la e voltá-la para as realidades sublimes. 
Em 243, a fim de conhecer a Filosofia dos persas, Plotino engajou-se no 
exército do imperador Giordano; sobrevivendo aos seus desastres, estabeleceu-se 
definitivamente em Roma, onde abriu uma escola. 
Os textos por ele produzidos foram depois compilados por seu discípulo Porfírio 
em uma obra conhecida como as Seis Enéadas, um conjunto que compreende 
cinquenta e quatro tratados de Plotino.
Ao contrário de Platão, Plotino acreditava em uma espécie de monismo idealista. 
A doutrina fundamental de Plotino é a das quatro hipóstases (substâncias, realidades 
eternas), embora elas procedam uma das outras: o Uno (Deus, o indivisível) , o 
Nous (mente, pensamento), a Alma e a Matéria (substância física).
A matéria é a parte concreta dessa teoria que explica a origem de tudo. Matéria 
é qualquer substância que ocupa lugar no espaço, qualquer coisa que possui massa. 
É tudo que tem volume, podendo se apresentar no estado sólido, líquido ou gasoso.
Vale também falar de Filon da Alexandria (25 a. C. – 50 d. C.), por ser muito 
representativo dos meios judeus helenizados, que só sabiam ler a Bíblia na versão 
grega, denominada dos Setenta (segundo a tradição, a Bíblia hebraica teria sido 
traduzida para o grego por setenta sábios, em Alexandria).
Seus correligionários tinham-no encarregado de uma missão junto ao imperador 
Calígula, para serem dispensados do culto ao imperador, incompatível com o 
monoteísmo judaico. 
Filon procurou fazer uma síntese entre os ensinamentos de Moisés, de Platão e 
de Zenão de Citium. Para ele, a Bíblia diz a verdade, sob forma alegórica. 
Platão traz a mesma mensagem na forma filosófica. Como dirá mais tarde um 
discípulo de Filon: “Platão é um Moisés que fala grego”.
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A ideia de Filon – harmonizar a revelação e a razão, a Bíblia e Platão – estaria 
fadada a uma longa existência. Num certo sentido, é o grande problema da escolástica 
medieval, o da concordância entre razão e fé, uma herança legada de Filon.
Segundo Barros (2013), para Filon, o próprio Deus é inacessível às nossas 
abordagens, mas podemos nos aproximar d’Ele por intermédio da renúncia ao 
mundo e do recolhimento da alma. 
Platão já dissera que é preciso morrer para o sensível, a fim de nascer para o 
inteligível. Então, se Deus é inacessível, ao menos o espírito humano pode participar 
do Inteligível – ao qual Filon denomina Logos, o Verbo eterno de Deus. A concepção 
que São João faz do Verbo divino muito se deve às ideias de Filon de Alexandria.
Além de Filon, outros neoplatônicos se destacam, ao lado de Plotino, entre 
eles Porfírio, Proclo, Jâmblico, Hipátia de Alexandria, e até mesmo Agostinho de 
Hipona, antes de sua conversão ao Catolicismo, religião na qual, posteriormente, 
ele é sagrado como Santo Agostinho.
Embora esta teoria seja considerada um pilar do paganismo, vários cristãos 
foram inspirados por ela, o que deixou marcas profundas na própria teologia cristã. 
É no Cristianismo que o Uno é considerado sinônimo de Deus.
Hipátia de Alexandria (370-415) foi uma neoplatonista grega e fi lósofa do Egito Romano, a 
primeira mulher documentada como sendo Matemática. Como chefe da escola platônica em 
Alexandria, também lecionou Filosofi a e Astronomia. Veja nos links a seguir sobre Hipátia.
Carl Sagan - Hipátia e o fi m de Alexandria (dublado):
https://youtu.be/cw4rlWIuewk
Hipátia de Alexandria - texto:
http://goo.gl/hAqxgk
Ex
pl
or
Independente da discussão acerca da existência de uma Filosofia cristã, nos 
primeiros séculos da Era Cristã, há uma disputa entre as tradições do helenismo e o 
Cristianismo nascente. Embora este último não tenha um caráter especulativo como 
as Filosofias helenistas, pode ser identificada a tentativa de um diálogo entre a Fé e a 
Razão, para atrair os pagãos e a incorporação de princípios da exposição filosófica. 
O aprofundamento dessas relações marca a passagem do final do período antigo 
para o início do período medieval.
31
UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Filosofia Medieval
A Filosofia Medieval corresponde ao período que vai do final do helenismo 
(séculos IV-V) até o Renascimento e início do pensamento moderno (final do século 
XV e século XVI); portanto, aproximadamente dez séculos. 
No entanto, segundo Marcondes (2007), o que o conhecemos da produção filosófica 
desse período concentra-se entre os séculos XII e XIV, surgimento da Escolástica.
Durante muito tempo, a Idade Média ficou conhecida como a “Idade das 
Trevas”, um período de obscurantismo e ideias retrógradas, marcado pelo atraso 
econômico e político do Feudalismo, pelas guerras religiosas, pela peste negra e 
pelo monopólio restritivo da Igreja no campo da Educação e da Cultura. 
No entanto, a arte gótica, a poesia lírica dos trovadores e obras de filósofos de 
grande originalidade, como São Tomás de Aquino, por exemplo, mostram quão 
errônea é esta imagem. 
Podemos dividir o período medieval em duas fases: o período após a queda 
do Império Romano (século V) até os séculos IX-X, quando a situação política 
e econômica começa a se estabilizar e, a segunda fase, séculos XI-XV, com o 
desenvolvimento da Escolástica, a grande produção filosófica com a criação das 
universidades (século VIII) até a crise do pensamento escolástico e surgimento do 
humanismo renascentista, nos séculos XV e XVI. 
Assim, vamos abordar
Filosofia Medieval
 · Patrística
 · Escolástica
 · Início do Renascimento
Patrística
Por Patrística entende-se o período do pensamento cristão entre os séculos II 
e VIII, que se seguiu à época Neotestamentária (Novo Testamento), até o início da 
Escolástica. Este período da cultura cristã é designado com o nome de Patrística, 
porquanto representa o pensamento dos Padres da Igreja, que são os construtores 
da teologia católica, guias e mestres da doutrina cristã.
O mais notável representante desse período é o Padre Agostinho, ou 
Santo Agostinho.
Aurélio Agostinho
Nasceu em 354, em Tangaste, na Numídia, província romana do norte da 
África, hoje localizada na Argélia. Viveu todaa sua vida em tempos conturbados, 
os últimos anos do Império Romano já em declínio e dissolução.
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Era filho de mãe cristã e pai pagão e estudou em várias cidades da região. 
Tornando-se mestre de retórica em Cartago, narrou em suas Confissões o 
desenvolvimento espiritual e filosófico, e confessa que foi a leitura do diálogo de 
Cícero, Hortensius (hoje perdido), que despertou seu interesse por Filosofia. 
Aderiu ao maniqueísmo, religião de origem persa fundada por Maniqueu, no 
século III, como desdobramento do Cristianismo e que apresenta uma visão dualista 
do mundo, perpetuamente em luta entre o Bem e o Mal.
Posteriormente, combateu o maniqueísmo, criticando as interpretações do 
Cristianismo nessa linha. Viajou para a Itália, sendo professor de retórica em Roma 
e depois em Milão. Foi aí que ouviu os sermões de Santo Ambrósio, bispo de Milão, 
que o levaram a se interessar pela forma como eram interpretadas as Escrituras. 
Estudou os filósofos neoplatônicos e, em 386, converteu-se ao Cristianismo, 
por influência de Ambrósio e, após um período de recolhimento, foi batizado. 
De volta à África, aderiu à vida monástica , em 388. Redigiu diversas obras, 
sendo a mais importante, a sua última, A cidade de Deus, na qual interpreta 
a história da Humanidade, desde a sua origem na criação (Gênesis), como um 
processo sucessivo de alianças e rupturas entre o homem e seu Criador, de Adão e 
Eva, até o juízo final e a redenção. 
Veio a falecer em 430, em uma cidade próxima a Hipona, da qual era bispo, 
durante a invasão dessa região por vândalos, uma tribo germânica convertida ao 
arianismo, liderados por Gensérico.
Marcondes (2007) destaca três aspectos principais de sua contribuição à Filosofia:
 · Sua formulação das relações entre Teologia e Filosofia, entre razão e fé;
 · Sua teoria do conhecimento com ênfase na questão da subjetividade e 
da interioridade;
 · Sua teoria da história elaborada na monumental obra Cidade de Deus.
A concepção histórica de Santo Agostinho e sua teoria da natureza humana e da 
iluminação divina foram fundamentais para a consolidação da Igreja nesse período 
e na Idade Média, graças a sua importância como teólogo e filósofo. 
Além disso, sua concepção de que a Igreja guarda na Terra as chaves da cidade de 
Deus foi uma base da doutrina de supremacia do poder espiritual sobre o temporal 
na Idade Média. 
Escolástica
É o pensamento cristão da Idade Média, baseado na tentativa de conciliação 
entre um ideal de racionalidade, corporificado na tradição grega do platonismo e 
aristotelismo, e a experiência de contato direto com a verdade revelada, tal como 
a concebe a fé cristã.
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UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Santo Agostinho foi o último dos pensadores antigos e o primeiro dos medievais. 
Porém, após sua morte e até os séculos XI-XII é bastante reduzida a produção 
filosófica e cultural no mundo europeu ocidental. 
Marcondes (2007) relata que a fragmentação política, cultural e linguística 
do mundo europeu, que não facilitava a estabilidade social e econômica, nem o 
desenvolvimento cultural, provocou um interregno filosófico.
O Império Bizantino do Oriente – que após tentativa fracassada de reconquista 
do Ocidente, por Justiniano (século VI), passa a ter pouco contato com o Ocidente – 
verifica-se a prevalência de uma ortodoxia religiosa e teórica que também restringe 
o interesse pela Filosofia. 
Além disso, as culturas bárbaras que se estabeleceram na Europa não tinham 
nem conhecimento nem interesse pela Filosofia. 
Só por volta do século IX a situação começa a mudar, por conta da constituição 
do sacro Império Romano-Germânico, quando o papa Leão III convidou Carlos 
Magno, rei dos francos, para ir a Roma, e o sagra imperador. 
A Escolástica, então, representa o último período do pensamento cristão, que 
vai do começo do século IX até o fim do século XVI, isto é, da constituição do 
sacro romano império bárbaro, ao fim da Idade Média, que geralmente é tida com 
a descoberta da América (1492). 
Este período do pensamento cristão se designa com o nome de escolástica, 
porque era a Filosofia ensinada nas escolas da época, pelos mestres, chamados 
de escolásticos. As matérias ensinadas nas escolas medievais eram representadas 
pelas chamadas artes liberais, divididas em trívio – Gramática, Retórica, Dialética 
– e quadrívio – aritmética, Geometria, Astronomia, Música. 
A Escolástica surge, historicamente, do especial desenvolvimento da dialética. 
Entre várias figuras de relevância na Escolástica, seu principal representante foi 
São Tomás de Aquino. 
Pode-se dividir a Escolástica em três períodos: o primeiro do início do século 
IX (Carlos Magno) até meados do século XIII, com predominância da questão dos 
universais (século IX e X), místicos e dialéticos (século XI e XII); e o último com o 
triunfo do aristotelismo (século XIII). 
O segundo período é dominado pela figura soberana de Tomás de Aquino, o 
aristotelismo do pensamento cristão, na segunda metade do século XIII. 
Após Tomás de Aquino, a Escolástica declina em Metafísica e, ao mesmo tempo, 
surgem novas tendência marcando o prelúdio do pensamento moderno. 
É importante ressaltar a influência da Filosofia árabe nesta época. O mundo 
latino-cristão, escolástico, conheceu Aristóteles por meio da cultura árabe, adotou-a 
e a estudou intensamente. 
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Este movimento cultural e filosófico se desenvolveu especialmente no âmbito 
das universidades, então surgidas e organizadas eficientemente, graças aos 
pensadores pertencentes às ordens religiosas, que renunciaram a tudo, salvo à 
Ciência e à caridade. 
Foram os árabes – e secundariamente os hebreus – os responsáveis por levar 
a Filosofia aristotélica ao conhecimento do mundo latino-cristão, pois após 
terem conquistado o oriente helenista entraram em contato com a cultura grega, 
especialmente na Síria. 
Os maiores filósofos árabes conhecedores de Aristóteles e que influenciaram 
profundamente o pensamento do ocidente latino-cristão foram Avicena e Averroés. 
Avicena tentou harmonizar a Filosofia aristotélica com a religião islâmica. Já 
Averroés, famoso comentador de Aristóteles, subordinava a religião à Filosofia, 
quando as argumentações delas fossem contrastantes, e considerava a religião uma 
Filosofia simbólica. 
Após uma longa preparação e desenvolvimento promissor, a Escolástica chega 
ao seu ápice com Tomás de Aquino, com o pensamento aristotélico enriquecido 
pelos comentários pormenorizados, especialmente pelos árabes, já traduzidos para 
o latim. 
Tomás de Aquino (1225-1274)
Nasceu no castelo de Roccasecca, na Campânia- Itália; pertencia à família feudal 
dos condes de Aquino. Tinha laços de sangue com a família imperial e as famílias 
reais de França, Sicília e Aragão. 
Recebeu a primeira educação no grande mosteiro de Montecassino, indo depois 
para Nápoles cursar universidade. Como aluno da Universidade de Nápoles, estudou 
as artes liberais e entrou para a ordem dominicana, apesar da forte oposição da 
família, dedicando-se assiduamente ao estudo da teologia, tendo como mestre 
Alberto Magno (1207-1280) – também da nobre família de duques de Bollstädt, 
que abraçara a ordem dominicana – primeiro na Universidade de Paris (1245-
1248) e depois em Colônia, autor de vastíssima obra de variados assuntos, Ciências 
Naturais, Filosofia, Teologia. 
Em 1252, Tomás voltou para a Universidade de Paris, onde ensinou até 1269, 
regressando então à Itália, chamado à corte papal. 
Em 1269, foi de novo à Universidade de Paris, onde lutou contra o averroísmo 
de Siger de Brabant; em 1272, voltou a Nápoles, onde lecionou teologia. 
Em 1274, viajando para tomar parte no Concílio de Lyon, por ordem de 
Gregório X, para apresentar sua obra Contra os erros dos gregos, acidentou-se 
e veio a falecer no mosteiro de Fossanova, entre Nápoles e Roma. Tinha apenas 
quarenta e nove anos de idade.
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UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
O pensamento de São Tomásde Aquino teve imensa influência em sua época, 
estendendo-se até o período contemporâneo (representado pelo neotomismo). 
Foi um pensador de grande criatividade e desenvolveu uma Filosofia própria 
com teor sistemático, tratando das grandes questões da Filosofia e da teologia da 
época, assentando-se em Aristóteles, e não mais no platonismo e agostianismo, 
como era feito então, para elaboração do seu sistema filosófico, o tomismo, 
ponto culminante do pensamento escolástico, em que se busca a harmonia entre o 
racionalismo aristotélico e a tradição revelada do Cristianismo. 
Dada à magnitude de sua obra e à complexidade das questões abordadas, não 
cabe aqui detalhá-la. Apenas acrescentar que, em relação à epistemologia, Aquino 
acreditava que “para o conhecimento de qualquer verdade, o homem precisa da 
ajuda divina; que o intelecto pode ser movido por Deus a agir”. 
Porém, também acreditava que os seres humanos tinham a capacidade natural 
de conhecer muitas coisas inteligíveis sem nenhuma revelação divina especial, 
apesar de revelações ocorrerem de quando em quando “especialmente em relação 
àquelas [verdades] pertinentes à fé”, mas esta é a luz dada ao homem por Deus 
na proporção da natureza humana. 
Comparando as duas correntes medievais, pode-se dizer que a linha de 
pensamento de Santo Agostinho girava em torno de dualismos, herança de Platão, 
e dos maniqueístas orientais, menosprezando o corpo e valorizando apenas a mente. 
São Tomás de Aquino, na contramão de Agostinho, instaurou a razão como uma 
das principais bases da Filosofia, chegando a alegar que podia provar a existência 
de Deus, vez que tudo está em movimento; portanto, deve ter uma causa inicial, 
um “primeiro motor”.
Constatou que é preciso que haja um Deus para que o Universo esteja em 
perfeita harmonia.
Período Moderno
O pensamento moderno talvez seja mais fácil de ser compreendido por nós, 
por estarmos mais próximos dele do que do pensamento antigo e do medieval. 
Todavia, às vezes não é tão fácil termos consciência e explicitarmos as características 
fundamentais daquilo que é mais familiar, por estarmos acostumados a aceitá-lo 
como tal. 
O conceito de modernidade costuma estar relacionado ao sentido positivo de 
mudança, transformação e progresso. De fato, esses ideais de mudança, ruptura, 
progresso e inovação, até mesmo de revolução, surgem e se desenvolvem nos séculos 
XVIII e XIX, período que na história da Filosofia denominamos de “moderno”.
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Dessa forma, vamos subdividir a Filosofia desse período em:
Filosofi a 
Moderna
Renascimento Racionalismo Empirismo
Iluminismo
O conceito de Renascimento designando um período histórico intermediário 
entre o Medieval e o Moderno (séculos XV e XVI), segundo Marcondes (2007), 
origina-se da obra de grande repercussão A civilização do Renascimento na 
Itália, de 1860, do historiador de arte suíço Jacob Burkhardt, embora já tivesse 
aparecido numa obra de 1550 do pintor e arquiteto italiano Giorgio Vasari. 
Entretanto, a história da Filosofia não costumava reconhecer no Renascimento 
importância filosófica, mas essa tendência tem mudado e o Renascimento tem sido 
visto atualmente como detentor de uma identidade própria, desenvolvendo uma 
concepção específica de Filosofia e do estilo de filosofar, que rompe com a Filosofia 
medieval, mas não se confunde inteiramente com a Filosofia moderna, sendo seu 
traço mais característico o humanismo, tanto que chega a ser denominado de 
Humanismo Renascentista, que teve grande influência no pensamento moderno. 
O Renascimento, fiel aos clássicos, busca o lema do humanismo no fragmento 
do filósofo sofista Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”. 
Esse lema marca decisivamente a ruptura com o período medieval, com sua 
visão fortemente hierárquica, com sua arte voltada para o sagrado e com a Filosofia 
a serviço da teologia e dos problemas de ordem religiosa. 
Assim, o humanismo rompe com a visão teocêntrica e com a Filosofia medieval, 
valorizando o interesse pelo homem considerado em si mesmo, mas, por outro 
lado, é um rompimento com a importância dada às ciências naturais, após a 
redescoberta aristotélica do final do século XII. 
Significativo como movimento artístico e cultural, o humanismo também se 
expressou na literatura e na Filosofia. 
Racionalismo
Grandes pensadores do século XVII, segundo Marcondes (2007), podem ser 
considerados revolucionários e inovadores, como o político, filósofo e ensaísta inglês 
Francis Bacon (1561-1626) ou o filósofo, físico e matemático René Descartes 
(1596-1650), que jamais se autodenominaram modernos, embora adotassem e 
defendessem, em grande parte, ideais associados à modernidade. 
A periodização histórica a que nos referimos origina-se basicamente do grande 
filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). 
Hegel foi o primeiro filósofo e entender a história da Filosofia como uma questão 
central para a própria Filosofia, e não apenas um relato histórico de fatos, doutrinas 
e correntes do passado. 
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UNIDADE Períodos e principais correntes filosóficas
Pode-se dizer que Lições de história da Filosofia é a primeira obra histórica da 
Filosofia que não é apenas histórica ou historiográfica. 
É nessa obra que Hegel divide a história da Filosofia em três grandes períodos, 
cada qual com suas características específicas, mas fazendo parte de um mesmo 
processo: o antigo, o medieval e, em suas palavras, Filosofia do novo tempo, 
que na sua concepção consolidou-se apenas ao tempo da Guerra dos Trinta Anos 
(século XVII), com Bacon, Jacob Boehme e Descartes, dando especial ênfase a 
Descartes e sua Filosofia do cogito. 
Na realidade, o termo moderno já era utilizado na Filosofia medieval, no 
novo movimento da Lógica do século XII, e mesmo por conta da querela entre 
antigos e modernos que agitou os meios literários franceses nas últimas décadas 
do século XVII. 
Duas características, no entanto, estão vinculadas ao conceito de “moderno”: 
a ideia de progresso – que faz com que o novo seja considerado melhor ou mais 
avançado do que o anterior – e a valorização do indivíduo, ou da subjetividade – 
como lugar da certeza e da verdade e origem de valores em oposição à tradição. 
Assim, quatro fatores históricos principais podem ser atribuídos à origem, 
por vezes de forma contraditória, da Filosofia moderna e da influência ao seu 
desenvolvimento: o humanismo renascentista do século XV, a descoberta do Novo 
Mundo (1492), a reforma protestante do século XVI e a revolução científica do 
século XVII. 
Embora todos estes fatores sejam importantes e determinem interessantes 
considerações, vamos nos ater aqui ao papel da revolução científica, que teve 
seu ponto de partida na obra de Nicolau Copérnico (1473-1543), Sobre a 
revolução das orbes celestes, publicado no ano de sua morte, em que defende 
matematicamente, por meio dos cálculos dos movimentos dos corpo celestes, um 
modelo heliocêntrico de Cosmo, rompendo com o sistema geocêntrico formulado 
no século II por Ptolomeu. Foi uma das rupturas mais marcantes da época, vez que 
contradizia uma teoria estabelecida há quase vinte séculos. 
 Cabe aqui uma consideração. O interesse pelas Ciências Naturais se inicia com 
a reintrodução na Europa ocidental, a partir do século XII, da obra de Aristóteles e 
seus intérpretes árabes. 
Embora a revolução científica moderna tenha se inspirado muito em Platão, no 
aspecto da valorização da Matemática na explicação do cosmo, e nos pitagóricos, 
que já teriam antecipado o sistema heliocêntrico, Aristóteles é o responsável pela 
ênfase na pesquisa experimental e na importância da investigação da natureza. 
Portanto, quando os modernos rejeitam Aristóteles, isso se deve principalmente 
ao modelo compreendido de esferas homocêntricas defendidas por ele, por isso 
a contribuição de Aristóteles não chega a ser bem compreendida, com várias 
discussões a respeito. 
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Podem-se considerar duas grandes transformações que levaram à revolu-

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