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Fundamentos da Psicanálise (atualização 20-11)

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Fundamentos
da Psicanálise
Prof. Arthur Eduardo
arthureduardopsi@gmail.com
[2020.2]
A psicanálise 
freudiana
Sigmund Freud
Por que “freudiana”?
Por que “freudiana”?
Toda a psicanálise é freudiana
Principais eixos de discussão
Salvador Dalí (1937)
I Surgimento da Psicanálise
II Inconsciente
III Constituição do Sujeito
IV Psicanálise e Interlocuções
I Surgimentoda Psicanálise
Desconhecido
(Psic)Analista - (Psic)Analisante
Como surge esse par?
Desconhecido
Obras consultadas
• FREUD, Sigmund (1924). Resumo da Psicanálise. In: Obras completas, volume 16. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011, p. 222-233.
• PEREZ, Daniel O. O inconsciente: onde mora o desejo. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2012, p. 21-36/53-
59.
A cena da loucura (final séc. XIX)
• Um mal-estar social
• Psiquiatria e neurologia – Terapêuticas de
base anátomo-patológica, com medidas
“tonificantes”
• Não havia assento para o psiquismo
Iconographie Photographique de La Salpetriere
Um recorte dessa cena: a histeria
• O fenômeno histérico (“útero”)
• O encontro de Freud com a histeria –
Jean-Martin Charcot, hospital La
Salpêtrière, França.
Jean-Martin Charcot (1825-1893)
Um recorte dessa cena: a histeria
• Os sintomas histéricos não tinham causa
biológica
• Freud se indaga sobre este objeto
Iconographie Photographique de La Salpetriere
Um recorte dessa cena: a histeria
Iconographie Photographique de La Salpetriere
Um recorte dessa cena: a histeria
Iconographie Photographique de La Salpetriere
Um recorte dessa cena: a histeria
Iconographie Photographique de La Salpetriere
Um recorte dessa cena: a histeria
Iconographie Photographique de La Salpetriere
Um recorte dessa cena: a histeria
Freud e a Histeria
• O uso da hipnose – Em busca da gênese
• Joseph Breuer e a cura pela fala
• Conversão histérica – Método catártico
Desconhecido
Outro lugar para o sintoma
• Um sentido para os sintomas
• Do fenômeno histérico ao discurso
histérico: uma outra lógica para o sintoma
• O inconsciente é tomado como conceito
(veremos melhor sobre em outro momento)
Louise Bourgeois
Uma outra clínica
• O abandono da hipnose: surge a psicanálise
• Associação-livre: regra fundamental
• Epistemologia psicanalítica, desde suas
origens: da clínica à teoria
Desconhecido
• Loucura x Mitologia 
• Novo olhar sobre a 
loucura 
• Biológico x Ambiente 
• Tratamento x Dignidade
A cena da 
Loucura
• A histeria como um problema 
mais moral
• Teatro ou fingimento
• A histeria era vista como 
fenômeno de adoecimento ao 
corpo da mulher
A histeria
• Freud – Charcot - Breuer
• Gênese – Psíquica
• Método catártico (hipnose e 
fala) – Caminho para a cura
• Sintoma > 
Direção/Significado –
Representação do que fora 
reprimido
Freud, a histeria e o 
sentido do sintoma
• Freud/Breuer
• Terapia psicanalítica 
• Sofrimento psíquico
• Consciente/Inconsciente
Surge a 
Psicanálise
Linha do Tempo
I Surgimentoda Psicanálise
Desconhecido
Outras notas 
históricas
Não há psicanálise sem inconsciente
• A psicanálise é uma experiência do
inconsciente.
• A direção que histeria apontou é que a
realidade primordial e decisiva é a realidade
psíquica – eis para onde mira a psicanálise.
Louise Bourgeois
Sobre o ICS: a terceira causalidade
• Primeiro, a causalidade físico-matemática
• Segundo, a causalidade consciente
• Terceiro, a causalidade psíquica inconsciente
René Magritte
Sobre o ICS: a terceira ferida narcísica
• Primeira: Copérnico (séc. XVI) - O homem e a
terra não são o centro do universo
Nicolau Copérnico (1473-1543)
Matemático, astrônomo, médico e cônego da Igreja Católica
Sobre o ICS: a terceira ferida narcísica
• Segunda: Darwin (séc. XIX) - O homem é
produto da evolução biológica animal
Charles Darwin (1809-1882)
Naturalista, geólogo e biólogo
Sobre o ICS: a terceira ferida narcísica
• Terceira: Freud (séc. XIX) - “O homem não é
senhor em sua própria casa”
Sigmund Freud (1856-1939)
Médico neurologista e psicanalista
Mas o que é o inconsciente?
“(…) como uma prisão de máxima segurança com reclusos anti-
sociais, definhando há anos ou recém-chegados, tratados com rigor 
e fortemente vigiados, mas dificilmente controlados e sempre 
tentando fugir. Suas fugas apenas têm êxito de modo intermitente 
e com alto preço para si e para os outros” (Peter Gay, 1989, p. 131)
O inconsciente seria...
Vamos seguir nosso percurso e conhecer mais sobre o inconsciente psicanalítico.
II
Desconhecido
O Inconsciente
Psicanalítico
O inconsciente é uma suposição necessária
• O psíquico não se resume ao consciente.
• A consciência tem lacunas.
• A consciência abrange um conteúdo mínimo. A
maior parte acha-se em estado de latência.
Vladimir Kush
O inconsciente é uma suposição legítima
• A existência de atos psíquicos privados da
consciência nos convoca à sua investigação.
• É importante compreender o modo de
funcionamento do psiquismo.
René Magritte
Breve nota sobre Metapsicologia
• “A psicologia — ou melhor, a metapsicologia —
preocupa-me ininterruptamente.” (Freud em carta a
Fliess, em 13 fevereiro de 1896).
• Foi do termo metapsicologia que Freud se serviu
para designar um lugar para o seu projeto teórico.
Salvador Dalí
Breve nota sobre Metapsicologia
• Assim como no campo da metafísica (que interroga a
natureza das coisas para além do que tocam as ciências
tradicionais), a metapsicologia volta-se para os
fenômenos para além da consciência.
• Sob o rótulo de metapsicologia agrupa-se grande
parte da obra freudiana. Vejamos alguns dos
conceitos fundamentais que nos descreverão
minimamente a estrutura e funcionamento do
inconsciente. Salvador Dalí
Desconhecido
II O InconscientePsicanalítico
O mecanismo 
do Recalque
Obras consultadas
• FREUD, Sigmund (1915). O recalque [A repressão]. In: Obras completas, volume 12. São Paulo: Companhia
das Letras, 2010, p. 61-73.
A pedra angular
• “A teoria do recalque é a pedra angular sobre
a qual repousa toda a estrutura da
psicanálise. É a parte mais essencial dela e
todavia nada mais é senão a formulação
teórica de um fenômeno que pode ser
observado quantas vezes se desejar
empreender a análise de um neurótico sem
recorrer à hipnose” (Freud, 1914)
Tarsila do Amaral
Considerações sobre o termo recalque
• Na linguagem comum, designa o ato de recuar.
• Não é o mesmo que repressão – supressão
consciente de alguma ideia.
• Não é o mesmo que resistência – reação do
analisante; dado clínico, inerente ao recalque.
Salvador Dalí
Características gerais do recalque
• O recalque não é um mecanismo de defesa
existente desde o início. Não surge antes que se
produza uma nítida separação entre atividade
psíquica consciente e inconsciente.
• Sua essência consiste em rejeitar e manter algo
afastado da consciência.
Rafal Olbinski
Características gerais do recalque
• O recalque é estrutural e estruturante; é
constitutivo do inconsciente.
• O aparelho psíquico funciona
fundamentalmente pela via do processo de
recalque, por ser um “regulador” das forças
pulsionais.
Rafal Olbinski
Observações prévias sobre as pulsões
• A pulsão é composta por:
Representante psíquico / Ideia
(Dimensão qualitativa)
Montante afetivo / Afeto / Libido 
(Dimensão quantitativa)
+
Frida Kahlo
O mecanismo do recalque
• No processo de recalque ocorrem duas
situações:
1º) Na pulsão a ideia é retirada de cena e o afeto é obrigado
a estabelecer uma nova conexão com outra ideia. O afeto,
assim, segue existindo como tal ou em parte.
2º) O afeto transforma-se numa “cota” de outra qualidade
ou é recalcado no sentido de inibir seu desencadeamento.
Salvador Dalí
O mecanismo do recalque
• Dito de outro modo, segundo Freud o
verdadeiro objetivo do recalque é impedir o
desencadeamento do afeto, mas tal afeto ainda
segue seu percurso por outras vias, associando-
se a outro representante pulsional que lhe
permita emergir na consciência.
Salvador Dalí
Três fases* do recalque
• Freud postula aexistência de três fases* do
recalque:
1) o recalque primordial [originário].
2) o recalque propriamente dito.
3) o retorno do recalcado (formação substitutiva).
* Deve ser interpretado como “modalidades” [de Recalque]
e não etapas que se sobrepõem. Vale ressaltar que todos
os sujeitos (neuróticos) experimentam todas as fases.
Joan Miró
1) O recalque primordial [originário]
• Primeiro momento em que se é negado à
representante psíquica da pulsão (ideia), o
acesso ao consciente. Com isso, se produz uma
fixação (espécie de ponto para onde se regressa).
• A partir daí o representante (ideia) em questão
persiste inalterável.
• É fundante do Inconsciente. Joan Miró
2) O recalque propriamente dito
• Afeta os derivados psíquicos da ideia recalcada
ou as cadeias de pensamento que, mesmo
originando-se em outra parte, entraram em
vínculo associativo com ela.
• Ocorre , então, a recusa desta ideia no
inconsciente, semelhante ao que ocorre no
recalque originário.
• Trata-se de um processo contínuo, pois o
recalcado exerce uma contínua pressão.
Joan Miró
3) O retorno do recalcado
• Formação substitutiva que alcança o plano da
consciência (veremos mais em aula específica).
Joan Miró
Em síntese...
• O processo de recalque, conforme descrito,
designa fundamentalmente uma operação de
separação entre afetos (ou montante afetivo; ou
libido) e ideias (ou representante psíquico), onde
ambos seguem caminhos separadamente
Desconhecido
II O InconscientePsicanalítico
As pulsões
Obras consultadas
• FREUD, Sigmund (1915). As pulsões e seus destinos [Os instintos e seus destinos]. In: Obras completas,
volume 12. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 38-60;
• ELIA, Luciano. Corpo e Sexualidade em Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Uapê, 1995.
Observações preliminares
• Não é o mesmo que instinto, que é:
“Um padrão fixo, invariável de comportamento,
comum a todos os indivíduos de uma mesma espécie,
voltado para o objeto específico e pré-determinado de
satisfação, que o é precisamente por garantir que sua
finalidade seja alcançada” (Elia, 1995, p.47)
Vladimir Kush
Observações preliminares
• Pulsões ≠ Instintos
Pulsão
Representante psíquico de 
um impulso
Instinto
Aparato pré-estabelecido, 
inerente à espécie
Vladimir Kush
Observações preliminares
• Não é o mesmo que libido, que é:
Constitui a teoria da sexualidade, não compreendida
de modo genital, mas sim psíquico, correspondendo a
“energia” da pulsão, da “força amorosa” (não se
confunde com o Eros, é a energia do Eros).
Vladimir Kush
Observações preliminares
• Pulsões ≠ Libido
Pulsão
Eros
Libido
Energia do Eros
Vladimir Kush
Características gerais das pulsões
• Enquanto os instintos naturais respondem aos
estímulos externos, Freud concebe as pulsões
enquanto estímulos do psiquismo.
• As pulsões imprimem um impacto constante.
Frida Kahlo
Características gerais das pulsões
• São da ordem da necessidade. O que apazigua
uma necessidade é a satisfação (adequada,
específica).
• As pulsões (e não os estímulos externos)
constituem a nossa força motriz – “(…) autênticos
motores dos progressos (…)” (Freud, 1915, p. 56)
Frida Kahlo
Componentes da Pulsão
• Impulso – Fator motor, medida de força ou
exigência de trabalho. É sua essência!
• Meta – É sempre satisfação.
• Objeto – Coisa em relação à qual a pulsão é capaz
de atingir sua finalidade. É variável.
• Fonte – Processo somático cujo estímulo é
representado na vida psíquica por uma pulsão.
Max Ernst
1º dualismo pulsional (1915)
• Freud postula uma primeira diferenciação de dois
grupos de pulsões.
o Pulsões do Eu (ou de Autoconservação) –
Movidas pela busca da autopreservação do eu.
o Pulsões Sexuais – Operam como exigências da
obtenção de prazer.
Salvador Dalí
1º dualismo pulsional (1915)
• Pulsões do Eu
o Aquelas que se voltam à autoconservação.
Salvador Dalí
1º dualismo pulsional (1915)
• Pulsões Sexuais
o Apoiam-se inicialmente nas pulsões do Eu.
o Podem ser satisfeitas em forma de fantasia.
o Tem variados destinos possíveis: a) reversão no
contrário; b) volta-se contra a própria pessoa;
c) recalque; d) sublimação.
o Freud dá aos destinos das pulsões sexuais o
estatuto de modalidade de defesa.
Salvador Dalí
1º dualismo pulsional (1915)
• Pulsões Sexuais - Destinos
o a) Reversão no contrário – Dois processos:
▪ 1) Mudança da atividade para passividade –
Uma finalidade ativa é substituída pela
finalidade passiva (ex.: sadismo-masoquismo;
voyeurismo-exibicionismo).
▪ 2) Reversão de seu conteúdo – Amor e atração
são afetados em seu percurso, transformando-
se em seu contrário (ex.: amor pode converter-se
em ódio e atração pode converter-se em rejeição).
Salvador Dalí
1º dualismo pulsional (1915)
• Pulsões Sexuais - Destinos
o b) Voltar-se contra a própria pessoa.
▪ Freud postula que o masoquismo, afinal, é um
sadismo voltado contra o próprio Eu, e o
exibicionismo inclui a contemplação do próprio
corpo.
▪ A experiência clínica de Freud aponta que no
masoquista também frui a fúria contra sua
própria pessoa, e o exibicionista, do seu
desnudamento.
Salvador Dalí
1º dualismo pulsional (1915)
• Pulsões Sexuais - Destinos
o c) Recalque
▪ Vide aula anterior.
Salvador Dalí
1º dualismo pulsional (1915)
• Pulsões Sexuais - Destinos
o d) Sublimação
▪ Satisfação por meio de objetos aparentemente
sem relação com o sexual, dirigida à atividade
social e cultural do ser humano.
▪ Os mecanismos sublimatórios participam da
constituição da civilização.
Salvador Dalí
Em síntese...
• “A pulsão (Trieb) nos aparece como um conceito-
limite entre o somático e o psíquico, como o
representante psíquico dos estímulos oriundos do
interior do corpo e que atingem a alma, como
uma medida do trabalho imposto á psique por
sua ligação com o corpo”. (Freud, 1915, p. 57)
Frida Kahlo
Desconhecido
II O InconscientePsicanalítico
O Inconsciente
[1ª tópica]
Obras consultadas
• FREUD, Sigmund (1915). O Inconsciente. In: Obras completas, volume 14. São Paulo: Imago, 1996.
• PEREZ, Daniel O. O inconsciente: onde mora o desejo. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2012.
• VERAS, Karina. O inconsciente freudiano. Texto inédito.
Representação metapsicológica do Ics
• Descrição dos processos psíquicos em suas
relações dinâmica, topológicas e econômicas.
Louise Bourgeois
Representação metapsicológica do Ics
• Descrição dos processos psíquicos em suas
relações dinâmica, topológicas e econômicas.
o Do ponto de vista dinâmico:
Diz respeito aos seus mecanismos e
funcionamento, ou seja, seu modo de
atuação.
Louise Bourgeois
Representação metapsicológica do Ics
• Descrição dos processos psíquicos em suas
relações dinâmica, topológicas e econômicas.
o Do ponto de vista topólogico/tópico:
Trata-se da localização; uma organização em
sistemas, a fim de indicar, acerca de um ato
psíquico, no interior de qual ou entre quais
sistemas ele se passa.
Louise Bourgeois
Representação metapsicológica do Ics
• Descrição dos processos psíquicos em suas
relações dinâmica, topológicas e econômicas.
o Do ponto de vista econômico:
procura acompanhar os destinos das
quantidades de excitação e alcançar uma
avaliação ao menos relativa dos mesmos.
Louise Bourgeois
Primeira tópica freudiana (1915)
• O aparelho psíquico é dividido em Sistema
inconsciente, pré-consciente e Sistema consciente,
separados por censuras.
Louise Bourgeois
Sist. ICS ↔ 1ª Cs ↔ [PCS] ↔ 2ª Cs ↔ Sist. CS
Primeira tópica freudiana (1915)
• Sistema inconsciente
o Inaugurado pelo recalque originário
o Seu âmago consiste de representantes pulsionais
que querem descarregar seu investimento
o Não há negação, não há dúvidas, nem graus de
certeza, é atemporal, não conhece a diferença dos
sexos, predomínio da realidade psíquica.
Louise Bourgeois
Primeira tópica freudiana (1915)
• Sistema inconsciente
o Seus processos tornam-se cognoscíveis apenas
quando emergem na consciência (pela via dos
seus derivados).
o É vivo!
Louise Bourgeois
Primeira tópicafreudiana (1915)
• Pré-consciente
o Lugar dos atos psíquicos capazes de consciência.
o Considerado uma espécie “inconsciente segundo”,
chamado de latente.
o Tem função reguladora, proibidora e/ou autorizadora.
Louise Bourgeois
Primeira tópica freudiana (1915)
• Sistema consciente
o Terreno das expressões finais da dinâmica
psíquica.
o Lugar da representação da coisa acrescida à
representação da palavra → representação
consciente.
Louise Bourgeois
Formações do Inconsciente
• Ao falarmos do retorno do recalcado
anteriormente, estávamos fazendo referência ao
que Freud chamou de Formações do Inconsciente
(ou formações/soluções de compromisso) entre
as ideias recalcadas e as instâncias recalcadoras.
o Ato falho
o Chiste
o Sonho
o Sintoma Louise Bourgeois
Falaremos mais na próxima aula...
Desconhecido
II O InconscientePsicanalítico
Formações do 
Inconsciente
Obras consultadas
• FREUD, Sigmund (1916). Os Atos Falhos/Os Atos Falhos (Continuação)/Os Atos Falhos (Conclusão). In: Obras
completas, volume 13. São Paulo: Cia. das Letras, 2011, p. 25-87;
• FREUD, Sigmund (1916). O sentido do sintoma. In: Obras completas, volume 13. São Paulo: Cia. das Letras,
2011, p. 279-296;
• FREUD, Sigmund (1916). Os caminhos da formação dos sintomas. In: Obras completas, volume 13. São Paulo:
Cia. das Letras, 2011, p. 387-406.
• JORGE, Marco A. C. Fundamentos da Psicanálise de Freud a Lacan, Vol. 1. Rio de Janeiro: Zahar Ed, 2005, p.
85-90 / 116-125;
• PEREZ, Daniel O. O inconsciente: onde mora o desejo. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2012, p. 145-148.
• COSTA, Ana. Os sonhos. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2006;
O ato falho
• Seria um capricho desperdiçar trabalho e
interesse com essas “ninharias”?
• Geralmente são os eventos modestos
constituem-se objeto de interesse da psicanálise.
@martiii.collage
O ato falho
• Gestos involuntários, erros de fala, de leitura,
esquecimentos, negações, equívocos, perdas de
objetos etc.
“Certa feita, um presidente de nossa Câmara dos
Deputados abriu uma sessão da seguinte maneira:
‘Senhores deputados, constato um número suficiente
de membros na casa e declaro, portanto, encerrada a
sessão’. (S. Freud, 1916, p. 44)
@martiii.collage
O ato falho
• Trata-se da expressão de um elemento de alto
valor psíquico, revelado na interrupção ou quebra
da continuidade do discurso e do agir consciente,
mas na posição de um acidente.
@martiii.collage
O ato falho
• Trata-se de um ato psíquico “pleno”, munido de
objetivo próprio, devendo, assim, ser
compreendido como uma manifestação dotada
de conteúdo e significado.
@martiii.collage
O ato falho
• Mais exemplos:
Os sonhos - Considerações iniciais
• Como tais atos psíquicos se formam e o que
enunciam, ainda que com seus disfarces?
• Para orientar um pouco as respostas, importa
conhecer minimamente os mecanismos de
condensação e deslocamento formulados por S.
Freud, assim como os mecanismos de metáfora e
metonímia introduzidos por J. Lacan.
@martiii.collage
• A condensação é uma resultante de um
compromisso entre o desejo e a censura.
• Consiste na reunião/concentração, num mesmo e
único elemento, de uma pluralidade de
elementos de alto valor psíquico.
@martiii.collage
Os sonhos - Considerações iniciais
• No deslocamento ocorre uma substituição de
elementos de alto valor psíquico para elementos
de baixo valor psíquico.
• Tudo se passa, segundo Freud, como se houvesse
um deslocamento da ênfase psíquica, passando
das representações fortemente investidas para
outras cuja tensão é fraca.
@martiii.collage
Os sonhos - Considerações iniciais
• Lacan postula o mecanismo da metáfora em
alusão ao mecanismo de condensação freudiano,
mas integrado às suas proposições do
inconsciente estruturado como linguagem.
• Implica na substituição de uma significação por
outra a partir de uma relação de semelhança.
@martiii.collage
Os sonhos - Considerações iniciais
• Assim como no anterior, Lacan postula o
mecanismo da metonímia em alusão ao
mecanismo de deslocamento proposto por Freud.
• Implica num remetimento, em geral se tomando
uma parte de um elemento pelo todo.
@martiii.collage
Os sonhos - Considerações iniciais
Elementos de alto
valor psíquico
“Homem bonito”
“Homem atraente”
“Homem interessante”
Elemento único 
de alto valor 
psíquico
“Que gato”
Substituição
Elemento de alto
valor psíquico
“Não te afastes da 
religião”
Elementos de 
baixo valor 
psíquico
“Não te afaste da 
cruz”
Remetimento
Os sonhos - Considerações iniciais
C
o
n
d
en
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lo
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to
 
M
et
o
n
ím
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Os sonhos
@martiii.collage
• Por que sonhamos?
• À luz da estrita natureza, o sonho não serve para
nada.
Os sonhos
• Freud sugere não confundirmos realidade
psíquica x realidade material.
• A realidade psíquica é a “tela” necessária para
que a “realidade”, tal qual a representamos em
nosso cotidiano, possa ter a consistência que
conhecemos.
@martiii.collage
Os sonhos
• A realidade psíquica é responsável pela formação
dos sonhos. Freud propõe o sonho como “outra
cena”, que não corresponde aos parâmetros do
cotidiano.
• Enquanto produto da realidade psíquica (por
condensação e deslocamento), o sonho é a via
régia para o inconsciente.
@martiii.collage
Os sonhos
• Freud constata a ligação entre sonho e desejo,
muito presentes também nas metáforas
cotidianas (“realizei um sonho”, “parece um
sonho”).
• Quanto ao sonho, não se trata de deduzi-lo como
algo que preencheu o que se aspira, mas que, ao
contrário, aponta para uma falta.
@martiii.collage
Os sonhos
• Sendo assim, os sonhos mostram os efeitos dos
nossos laços pulsionais.
• É então nesse sentido que interessam as
narrativas dos sonhos: como aquilo que pode
revelar os enlaces pulsionais do sujeito.
@martiii.collage
Os sonhos
• Para Freud os sonhos poderiam ser interpretados
como um texto, possuindo um conteúdo
manifesto (resultado de sua elaboração) e um
conteúdo latente (inconsciente).
• Nessa perspectiva, compreende-se em
psicanálise que o sonho deve ser lido [pelo
sonhador].
@martiii.collage
Os sonhos
• Vejamos:
“Eu queria oferecer uma ceia, mas o único mantimento que tinha em
casa era um pouco de salmão defumado. Quis sair para fazer compras,
mas lembrei-me de que era domingo à tarde e todas as lojas estavam
fechadas. Quis telefonar para alguns fornecedores, mas o telefone
estava com defeito. Assim, tive de renunciar ao desejo de oferecer uma
ceia.”
Conhecido como “o sonho da bela açougueira”
(S. Freud, 1900)
Os sonhos
• Breves comentários sobre o sonho:
A paciente era casada com um açougueiro, por quem estava muito apaixonada. Tratava-
se de um homem mais rude e ela costumava implicar com ele. Surge um elemento
curioso: ela lhe pedira que não lhe desse nenhum caviar. O que significaria isto, visto
que a paciente diz que há muito deseja comer sanduíche de caviar todas as manhãs?
Mais ainda: se pedisse, o marido certamente a satisfaria. Mas não: ela não quer que ele
lhe dê para poder continuar implicando com ele.
Traz depois sobre a visita que fizera, no dia anterior, a uma amiga de quem sentia ciúme
por pensar que ela agradava a seu marido — mas por sorte era magra, e ele preferia
formas rechonchudas. Essa amiga fica também associada a outro elemento do sonho: o
salmão é seu prato preferido. [continua]
Os sonhos
• Breves comentários sobre o sonho:
[...] Freud dá duas explicações ao sonho: uma, na sua relação direta, mais ligada ao
conteúdo manifesto, que refere que no sonho a paciente realiza o desejo de não ver a
amiga engordar com seu jantar, para assim não ter o risco de que ela lhe arrebatasse o
marido. Em algumas ocasiões, a amiga lhe havia sugerido que a convidasse para jantar,
porque em sua casa se comia bem.
A outra explicação é indireta: Freud sugere que a paciente tinha necessidade de
manter um desejo insatisfeito e que essa amiga também mantinha essa mesma
posição. O desejo insatisfeito surgia na relação da paciente com o caviar — ela preferiaque o marido não a satisfizesse — tanto quanto na relação da amiga com o salmão.
(Freud, citado por Costa, 2006, p. 52)
Os sonhos e a arte
Salvador Dalí - O sono, 1937
Os sonhos e a arte
Salvador Dalí – A persistência da memória, 1937
Os sonhos e a arte
Salvador Dalí – Elefante tigre de sonho, 1944
Os sintomas
@martiii.collage
• A realidade que decide é a realidade psíquica.
• A realidade psíquica também é produtora de
sintoma.
Os sintomas
• O sintoma cumpre a função de “solução de
compromisso”, atendendo num só momento a dois
senhores: as forças pulsionais e instancias
recalcadoras.
@martiii.collage
Os sintomas
• É uma solução singular.
• Trata-se de um querer dizer, portanto também
precisa ser interpretado – à luz de cada sujeito.
@martiii.collage
Os sintomas
• “O sintoma possui um sentido [e intenção, também
direção]...”(Freud, 1917, p. 343).
• “(...) e tal como os atos falhos e os sonhos, guardam
relação com a vida das pessoas que os exibem.”
(Freud, 1917, p. 344).
@martiii.collage
Os sintomas
• Vinheta clínica (p. 349-350).
• Qual a intenção?
o Ela (identificada a ele) dá continuidade e corrige a cena, pois
agora a mancha está no lugar certo.
o Corrige também aquilo que lhe foi penoso na noite de
núpcias: a impotência do marido.
o A ação obsessiva diz: “não, não é verdade. Ele não era
impotente e não precisou sentir vergonha da criada”.
o “À maneira de um sonho, a ação obsessiva apresenta, em
uma ação presente, esse desejo como realizado.” (p. 351).
Ela serve, neste caso, ao propósito de retirar o homem de
seu infortúnio, posição que também lhe parecia cara.
@martiii.collage
Os chistes
• Vejamos o diálogo abaixo:
- O que é que o senhor acha do sexo antes do
casamento?
- Nada contra, desde que não atrase muito a
cerimônia.
@martiii.collage
Os chistes
• Os chistes se relacionam aos ditos espirituosos,
gracejos emitidos por um sujeito a outro (ou outros).
• Distinguem-se do âmbito mais geral do cômico, pois
apesar de também promoverem o riso, Freud
concentra seu interesse nos chistes enquanto
formação do inconsciente.
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Os chistes
• Com Freud, o interesse no aspecto psíquico do
chiste é justificado, entre vários outros motivos, por
tratar-se de um ato em que o sujeito parece triunfar
momentaneamente sobre o recalcamento.
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Os chistes
• No chiste o que faz rir é a queda da imagem ideal.
• Com o chiste o sujeito consegue driblar os
obstáculos impostos pela cultura.
• Como efeito, há um ganho de prazer e evitação de
desprazer.
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Os chistes
• Remonta ao infantil, quando a criança maneja a
linguagem sem se preocupar com o sentido, apenas
notando a variedade e a repetição de sons. Com a
“maturidade”, esse prazer é inibido pela censura.
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Os chistes
• No plano psíquico, trata-se de um trabalho psíquico
de condensação e deslocamento, como modo de
“despistar” a censura e a sua consequente proibição
em relação a obscenidade, a agressividade, o cinismo
e o ceticismo.
• São aquelas que estão proibidas e recalcadas em
nossas relações sociais. Na produção dos chistes, é
possível torna-los aparentes e partilhá-los
socialmente.
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Os chistes
• A condensação se produz juntando duas palavras ou
partes que separadas ou ordenadas de outro modo
não causariam nenhuma graça.
• O deslocamento usa as sequências de pensamento,
o subentendido e o raciocínio pressuposto pelo
interlocutor.
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Os chistes
• Vejamos outros exemplos de falas chistosas:
Os chistes
• Vejamos outros exemplos de falas chistosas:
Os chistes
• “O que faz rir é o que é, por um lado, absurdo e por
outro, familiar” (S. Freud, 1905).
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Desconhecido
II O InconscientePsicanalítico
As pulsões
(2º dualismo)
Obras consultadas
• FREUD, Sigmund (1920). Além do princípio do prazer. In: Obras completas, volume 14. São Paulo: 2010, p.
120-178.
• JORGE, Marco A. C. Fundamentos da Psicanálise de Freud a Lacan, Vol. 2. Rio de Janeiro: Zahar Ed, 2010, p.
126-131.
Prazer x Desprazer
• Freud relaciona prazer e desprazer com a quantidade
de excitação existente na vida psíquica, onde o
desprazer corresponde a um aumento de excitação e
o prazer, diminuição dessa excitação.
Kenne Gregoire
Prazer x Desprazer
• O princípio do prazer é dominante dos processos
inconscientes, isto é, busca proporcionar prazer e
evitar o desprazer – este ultimo caracteriza o
recalque.
• O princípio da realidade regula a busca pela
satisfação, a partir das condições impostas pelo
mundo externo, atuando como uma espécie de
proteção ao princípio do prazer.
Kenne Gregoire
Além do prazer
• Em Além do princípio do prazer (1920) Freud avança
e constata um além sobre sua compreensão do
prazer enquanto princípio que regeria o
inconsciente.
Kenne Gregoire
A repetição
• Freud refina a noção de compulsão à repetição.
• Verifica a peculiaridade de os sujeitos repetirem as
experiências desagradáveis (na vida psíquica e na
realidade material).
• Freud postula sobre uma espécie de fixação ao
trauma.
René Magritte
A repetição
• O jogo do Fort - Da
• Porque reencenar o desaparecimento da mãe?
René Magritte
A repetição
• Para Freud, a compulsão a repetição constitui um
princípio mais primitivo, mais elementar e pulsional
do que o princípio do prazer.
• A repetição trataria-se de uma produção de prazer
de outra fonte, distinta da pulsão sexual.
René Magritte
A repetição
• “O objetivo de toda vida é a morte e, retrospectivamente,
o inanimado existia antes que o vivente(...). Em algum
momento, por uma ação de forças ainda inteiramente
inimaginável, os atributos do vivente foram suscitados na
matéria inanimada. A tensão que sobreveio, na
substância anteriormente inanimada, procurou anular a
si mesma; foi o primeiro instinto, o de retornar ao
inanimado” (Freud, 1920, p. 149)
René Magritte
A repetição
• Freud então irá enfatizar a tendência conservadora
das pulsões, ou seja, a tendência de reproduzir o que
já existe.
@martiii.collage
Fonte: JORGE, Marco A. C. (2010, p.131)
René Magritte
A repetição
• As pulsões dão uma impressão enganadora de serem
forças tendentes ao progresso e à mudança, quando
na verdade tendem a restaurar um estado anterior de
coisas.
René Magritte
2º dualismo pulsional
• Pulsões de vida – Reúne as pulsões do eu e as pulsões
sexuais
• Pulsões de morte – Oposição às pulsões de vida
Flávio Cerqueira
Pulsão de morte
• Em síntese, contrapõem-se às pulsões de vida.
• Tendência a redução das tensões, ou seja, reconduzir
o ser vivo ao estado inorgânico.
• Voltadas primariamente ao interior e
secundariamente ao exterior, sob a forma de pulsão
de agressão ou de destruição.
Flávio Cerqueira

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