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Fundamentos da Psicanálise Prof. Arthur Eduardo arthureduardopsi@gmail.com [2020.2] A psicanálise freudiana Sigmund Freud Por que “freudiana”? Por que “freudiana”? Toda a psicanálise é freudiana Principais eixos de discussão Salvador Dalí (1937) I Surgimento da Psicanálise II Inconsciente III Constituição do Sujeito IV Psicanálise e Interlocuções I Surgimentoda Psicanálise Desconhecido (Psic)Analista - (Psic)Analisante Como surge esse par? Desconhecido Obras consultadas • FREUD, Sigmund (1924). Resumo da Psicanálise. In: Obras completas, volume 16. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 222-233. • PEREZ, Daniel O. O inconsciente: onde mora o desejo. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2012, p. 21-36/53- 59. A cena da loucura (final séc. XIX) • Um mal-estar social • Psiquiatria e neurologia – Terapêuticas de base anátomo-patológica, com medidas “tonificantes” • Não havia assento para o psiquismo Iconographie Photographique de La Salpetriere Um recorte dessa cena: a histeria • O fenômeno histérico (“útero”) • O encontro de Freud com a histeria – Jean-Martin Charcot, hospital La Salpêtrière, França. Jean-Martin Charcot (1825-1893) Um recorte dessa cena: a histeria • Os sintomas histéricos não tinham causa biológica • Freud se indaga sobre este objeto Iconographie Photographique de La Salpetriere Um recorte dessa cena: a histeria Iconographie Photographique de La Salpetriere Um recorte dessa cena: a histeria Iconographie Photographique de La Salpetriere Um recorte dessa cena: a histeria Iconographie Photographique de La Salpetriere Um recorte dessa cena: a histeria Iconographie Photographique de La Salpetriere Um recorte dessa cena: a histeria Freud e a Histeria • O uso da hipnose – Em busca da gênese • Joseph Breuer e a cura pela fala • Conversão histérica – Método catártico Desconhecido Outro lugar para o sintoma • Um sentido para os sintomas • Do fenômeno histérico ao discurso histérico: uma outra lógica para o sintoma • O inconsciente é tomado como conceito (veremos melhor sobre em outro momento) Louise Bourgeois Uma outra clínica • O abandono da hipnose: surge a psicanálise • Associação-livre: regra fundamental • Epistemologia psicanalítica, desde suas origens: da clínica à teoria Desconhecido • Loucura x Mitologia • Novo olhar sobre a loucura • Biológico x Ambiente • Tratamento x Dignidade A cena da Loucura • A histeria como um problema mais moral • Teatro ou fingimento • A histeria era vista como fenômeno de adoecimento ao corpo da mulher A histeria • Freud – Charcot - Breuer • Gênese – Psíquica • Método catártico (hipnose e fala) – Caminho para a cura • Sintoma > Direção/Significado – Representação do que fora reprimido Freud, a histeria e o sentido do sintoma • Freud/Breuer • Terapia psicanalítica • Sofrimento psíquico • Consciente/Inconsciente Surge a Psicanálise Linha do Tempo I Surgimentoda Psicanálise Desconhecido Outras notas históricas Não há psicanálise sem inconsciente • A psicanálise é uma experiência do inconsciente. • A direção que histeria apontou é que a realidade primordial e decisiva é a realidade psíquica – eis para onde mira a psicanálise. Louise Bourgeois Sobre o ICS: a terceira causalidade • Primeiro, a causalidade físico-matemática • Segundo, a causalidade consciente • Terceiro, a causalidade psíquica inconsciente René Magritte Sobre o ICS: a terceira ferida narcísica • Primeira: Copérnico (séc. XVI) - O homem e a terra não são o centro do universo Nicolau Copérnico (1473-1543) Matemático, astrônomo, médico e cônego da Igreja Católica Sobre o ICS: a terceira ferida narcísica • Segunda: Darwin (séc. XIX) - O homem é produto da evolução biológica animal Charles Darwin (1809-1882) Naturalista, geólogo e biólogo Sobre o ICS: a terceira ferida narcísica • Terceira: Freud (séc. XIX) - “O homem não é senhor em sua própria casa” Sigmund Freud (1856-1939) Médico neurologista e psicanalista Mas o que é o inconsciente? “(…) como uma prisão de máxima segurança com reclusos anti- sociais, definhando há anos ou recém-chegados, tratados com rigor e fortemente vigiados, mas dificilmente controlados e sempre tentando fugir. Suas fugas apenas têm êxito de modo intermitente e com alto preço para si e para os outros” (Peter Gay, 1989, p. 131) O inconsciente seria... Vamos seguir nosso percurso e conhecer mais sobre o inconsciente psicanalítico. II Desconhecido O Inconsciente Psicanalítico O inconsciente é uma suposição necessária • O psíquico não se resume ao consciente. • A consciência tem lacunas. • A consciência abrange um conteúdo mínimo. A maior parte acha-se em estado de latência. Vladimir Kush O inconsciente é uma suposição legítima • A existência de atos psíquicos privados da consciência nos convoca à sua investigação. • É importante compreender o modo de funcionamento do psiquismo. René Magritte Breve nota sobre Metapsicologia • “A psicologia — ou melhor, a metapsicologia — preocupa-me ininterruptamente.” (Freud em carta a Fliess, em 13 fevereiro de 1896). • Foi do termo metapsicologia que Freud se serviu para designar um lugar para o seu projeto teórico. Salvador Dalí Breve nota sobre Metapsicologia • Assim como no campo da metafísica (que interroga a natureza das coisas para além do que tocam as ciências tradicionais), a metapsicologia volta-se para os fenômenos para além da consciência. • Sob o rótulo de metapsicologia agrupa-se grande parte da obra freudiana. Vejamos alguns dos conceitos fundamentais que nos descreverão minimamente a estrutura e funcionamento do inconsciente. Salvador Dalí Desconhecido II O InconscientePsicanalítico O mecanismo do Recalque Obras consultadas • FREUD, Sigmund (1915). O recalque [A repressão]. In: Obras completas, volume 12. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 61-73. A pedra angular • “A teoria do recalque é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise. É a parte mais essencial dela e todavia nada mais é senão a formulação teórica de um fenômeno que pode ser observado quantas vezes se desejar empreender a análise de um neurótico sem recorrer à hipnose” (Freud, 1914) Tarsila do Amaral Considerações sobre o termo recalque • Na linguagem comum, designa o ato de recuar. • Não é o mesmo que repressão – supressão consciente de alguma ideia. • Não é o mesmo que resistência – reação do analisante; dado clínico, inerente ao recalque. Salvador Dalí Características gerais do recalque • O recalque não é um mecanismo de defesa existente desde o início. Não surge antes que se produza uma nítida separação entre atividade psíquica consciente e inconsciente. • Sua essência consiste em rejeitar e manter algo afastado da consciência. Rafal Olbinski Características gerais do recalque • O recalque é estrutural e estruturante; é constitutivo do inconsciente. • O aparelho psíquico funciona fundamentalmente pela via do processo de recalque, por ser um “regulador” das forças pulsionais. Rafal Olbinski Observações prévias sobre as pulsões • A pulsão é composta por: Representante psíquico / Ideia (Dimensão qualitativa) Montante afetivo / Afeto / Libido (Dimensão quantitativa) + Frida Kahlo O mecanismo do recalque • No processo de recalque ocorrem duas situações: 1º) Na pulsão a ideia é retirada de cena e o afeto é obrigado a estabelecer uma nova conexão com outra ideia. O afeto, assim, segue existindo como tal ou em parte. 2º) O afeto transforma-se numa “cota” de outra qualidade ou é recalcado no sentido de inibir seu desencadeamento. Salvador Dalí O mecanismo do recalque • Dito de outro modo, segundo Freud o verdadeiro objetivo do recalque é impedir o desencadeamento do afeto, mas tal afeto ainda segue seu percurso por outras vias, associando- se a outro representante pulsional que lhe permita emergir na consciência. Salvador Dalí Três fases* do recalque • Freud postula aexistência de três fases* do recalque: 1) o recalque primordial [originário]. 2) o recalque propriamente dito. 3) o retorno do recalcado (formação substitutiva). * Deve ser interpretado como “modalidades” [de Recalque] e não etapas que se sobrepõem. Vale ressaltar que todos os sujeitos (neuróticos) experimentam todas as fases. Joan Miró 1) O recalque primordial [originário] • Primeiro momento em que se é negado à representante psíquica da pulsão (ideia), o acesso ao consciente. Com isso, se produz uma fixação (espécie de ponto para onde se regressa). • A partir daí o representante (ideia) em questão persiste inalterável. • É fundante do Inconsciente. Joan Miró 2) O recalque propriamente dito • Afeta os derivados psíquicos da ideia recalcada ou as cadeias de pensamento que, mesmo originando-se em outra parte, entraram em vínculo associativo com ela. • Ocorre , então, a recusa desta ideia no inconsciente, semelhante ao que ocorre no recalque originário. • Trata-se de um processo contínuo, pois o recalcado exerce uma contínua pressão. Joan Miró 3) O retorno do recalcado • Formação substitutiva que alcança o plano da consciência (veremos mais em aula específica). Joan Miró Em síntese... • O processo de recalque, conforme descrito, designa fundamentalmente uma operação de separação entre afetos (ou montante afetivo; ou libido) e ideias (ou representante psíquico), onde ambos seguem caminhos separadamente Desconhecido II O InconscientePsicanalítico As pulsões Obras consultadas • FREUD, Sigmund (1915). As pulsões e seus destinos [Os instintos e seus destinos]. In: Obras completas, volume 12. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 38-60; • ELIA, Luciano. Corpo e Sexualidade em Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Uapê, 1995. Observações preliminares • Não é o mesmo que instinto, que é: “Um padrão fixo, invariável de comportamento, comum a todos os indivíduos de uma mesma espécie, voltado para o objeto específico e pré-determinado de satisfação, que o é precisamente por garantir que sua finalidade seja alcançada” (Elia, 1995, p.47) Vladimir Kush Observações preliminares • Pulsões ≠ Instintos Pulsão Representante psíquico de um impulso Instinto Aparato pré-estabelecido, inerente à espécie Vladimir Kush Observações preliminares • Não é o mesmo que libido, que é: Constitui a teoria da sexualidade, não compreendida de modo genital, mas sim psíquico, correspondendo a “energia” da pulsão, da “força amorosa” (não se confunde com o Eros, é a energia do Eros). Vladimir Kush Observações preliminares • Pulsões ≠ Libido Pulsão Eros Libido Energia do Eros Vladimir Kush Características gerais das pulsões • Enquanto os instintos naturais respondem aos estímulos externos, Freud concebe as pulsões enquanto estímulos do psiquismo. • As pulsões imprimem um impacto constante. Frida Kahlo Características gerais das pulsões • São da ordem da necessidade. O que apazigua uma necessidade é a satisfação (adequada, específica). • As pulsões (e não os estímulos externos) constituem a nossa força motriz – “(…) autênticos motores dos progressos (…)” (Freud, 1915, p. 56) Frida Kahlo Componentes da Pulsão • Impulso – Fator motor, medida de força ou exigência de trabalho. É sua essência! • Meta – É sempre satisfação. • Objeto – Coisa em relação à qual a pulsão é capaz de atingir sua finalidade. É variável. • Fonte – Processo somático cujo estímulo é representado na vida psíquica por uma pulsão. Max Ernst 1º dualismo pulsional (1915) • Freud postula uma primeira diferenciação de dois grupos de pulsões. o Pulsões do Eu (ou de Autoconservação) – Movidas pela busca da autopreservação do eu. o Pulsões Sexuais – Operam como exigências da obtenção de prazer. Salvador Dalí 1º dualismo pulsional (1915) • Pulsões do Eu o Aquelas que se voltam à autoconservação. Salvador Dalí 1º dualismo pulsional (1915) • Pulsões Sexuais o Apoiam-se inicialmente nas pulsões do Eu. o Podem ser satisfeitas em forma de fantasia. o Tem variados destinos possíveis: a) reversão no contrário; b) volta-se contra a própria pessoa; c) recalque; d) sublimação. o Freud dá aos destinos das pulsões sexuais o estatuto de modalidade de defesa. Salvador Dalí 1º dualismo pulsional (1915) • Pulsões Sexuais - Destinos o a) Reversão no contrário – Dois processos: ▪ 1) Mudança da atividade para passividade – Uma finalidade ativa é substituída pela finalidade passiva (ex.: sadismo-masoquismo; voyeurismo-exibicionismo). ▪ 2) Reversão de seu conteúdo – Amor e atração são afetados em seu percurso, transformando- se em seu contrário (ex.: amor pode converter-se em ódio e atração pode converter-se em rejeição). Salvador Dalí 1º dualismo pulsional (1915) • Pulsões Sexuais - Destinos o b) Voltar-se contra a própria pessoa. ▪ Freud postula que o masoquismo, afinal, é um sadismo voltado contra o próprio Eu, e o exibicionismo inclui a contemplação do próprio corpo. ▪ A experiência clínica de Freud aponta que no masoquista também frui a fúria contra sua própria pessoa, e o exibicionista, do seu desnudamento. Salvador Dalí 1º dualismo pulsional (1915) • Pulsões Sexuais - Destinos o c) Recalque ▪ Vide aula anterior. Salvador Dalí 1º dualismo pulsional (1915) • Pulsões Sexuais - Destinos o d) Sublimação ▪ Satisfação por meio de objetos aparentemente sem relação com o sexual, dirigida à atividade social e cultural do ser humano. ▪ Os mecanismos sublimatórios participam da constituição da civilização. Salvador Dalí Em síntese... • “A pulsão (Trieb) nos aparece como um conceito- limite entre o somático e o psíquico, como o representante psíquico dos estímulos oriundos do interior do corpo e que atingem a alma, como uma medida do trabalho imposto á psique por sua ligação com o corpo”. (Freud, 1915, p. 57) Frida Kahlo Desconhecido II O InconscientePsicanalítico O Inconsciente [1ª tópica] Obras consultadas • FREUD, Sigmund (1915). O Inconsciente. In: Obras completas, volume 14. São Paulo: Imago, 1996. • PEREZ, Daniel O. O inconsciente: onde mora o desejo. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2012. • VERAS, Karina. O inconsciente freudiano. Texto inédito. Representação metapsicológica do Ics • Descrição dos processos psíquicos em suas relações dinâmica, topológicas e econômicas. Louise Bourgeois Representação metapsicológica do Ics • Descrição dos processos psíquicos em suas relações dinâmica, topológicas e econômicas. o Do ponto de vista dinâmico: Diz respeito aos seus mecanismos e funcionamento, ou seja, seu modo de atuação. Louise Bourgeois Representação metapsicológica do Ics • Descrição dos processos psíquicos em suas relações dinâmica, topológicas e econômicas. o Do ponto de vista topólogico/tópico: Trata-se da localização; uma organização em sistemas, a fim de indicar, acerca de um ato psíquico, no interior de qual ou entre quais sistemas ele se passa. Louise Bourgeois Representação metapsicológica do Ics • Descrição dos processos psíquicos em suas relações dinâmica, topológicas e econômicas. o Do ponto de vista econômico: procura acompanhar os destinos das quantidades de excitação e alcançar uma avaliação ao menos relativa dos mesmos. Louise Bourgeois Primeira tópica freudiana (1915) • O aparelho psíquico é dividido em Sistema inconsciente, pré-consciente e Sistema consciente, separados por censuras. Louise Bourgeois Sist. ICS ↔ 1ª Cs ↔ [PCS] ↔ 2ª Cs ↔ Sist. CS Primeira tópica freudiana (1915) • Sistema inconsciente o Inaugurado pelo recalque originário o Seu âmago consiste de representantes pulsionais que querem descarregar seu investimento o Não há negação, não há dúvidas, nem graus de certeza, é atemporal, não conhece a diferença dos sexos, predomínio da realidade psíquica. Louise Bourgeois Primeira tópica freudiana (1915) • Sistema inconsciente o Seus processos tornam-se cognoscíveis apenas quando emergem na consciência (pela via dos seus derivados). o É vivo! Louise Bourgeois Primeira tópicafreudiana (1915) • Pré-consciente o Lugar dos atos psíquicos capazes de consciência. o Considerado uma espécie “inconsciente segundo”, chamado de latente. o Tem função reguladora, proibidora e/ou autorizadora. Louise Bourgeois Primeira tópica freudiana (1915) • Sistema consciente o Terreno das expressões finais da dinâmica psíquica. o Lugar da representação da coisa acrescida à representação da palavra → representação consciente. Louise Bourgeois Formações do Inconsciente • Ao falarmos do retorno do recalcado anteriormente, estávamos fazendo referência ao que Freud chamou de Formações do Inconsciente (ou formações/soluções de compromisso) entre as ideias recalcadas e as instâncias recalcadoras. o Ato falho o Chiste o Sonho o Sintoma Louise Bourgeois Falaremos mais na próxima aula... Desconhecido II O InconscientePsicanalítico Formações do Inconsciente Obras consultadas • FREUD, Sigmund (1916). Os Atos Falhos/Os Atos Falhos (Continuação)/Os Atos Falhos (Conclusão). In: Obras completas, volume 13. São Paulo: Cia. das Letras, 2011, p. 25-87; • FREUD, Sigmund (1916). O sentido do sintoma. In: Obras completas, volume 13. São Paulo: Cia. das Letras, 2011, p. 279-296; • FREUD, Sigmund (1916). Os caminhos da formação dos sintomas. In: Obras completas, volume 13. São Paulo: Cia. das Letras, 2011, p. 387-406. • JORGE, Marco A. C. Fundamentos da Psicanálise de Freud a Lacan, Vol. 1. Rio de Janeiro: Zahar Ed, 2005, p. 85-90 / 116-125; • PEREZ, Daniel O. O inconsciente: onde mora o desejo. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2012, p. 145-148. • COSTA, Ana. Os sonhos. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2006; O ato falho • Seria um capricho desperdiçar trabalho e interesse com essas “ninharias”? • Geralmente são os eventos modestos constituem-se objeto de interesse da psicanálise. @martiii.collage O ato falho • Gestos involuntários, erros de fala, de leitura, esquecimentos, negações, equívocos, perdas de objetos etc. “Certa feita, um presidente de nossa Câmara dos Deputados abriu uma sessão da seguinte maneira: ‘Senhores deputados, constato um número suficiente de membros na casa e declaro, portanto, encerrada a sessão’. (S. Freud, 1916, p. 44) @martiii.collage O ato falho • Trata-se da expressão de um elemento de alto valor psíquico, revelado na interrupção ou quebra da continuidade do discurso e do agir consciente, mas na posição de um acidente. @martiii.collage O ato falho • Trata-se de um ato psíquico “pleno”, munido de objetivo próprio, devendo, assim, ser compreendido como uma manifestação dotada de conteúdo e significado. @martiii.collage O ato falho • Mais exemplos: Os sonhos - Considerações iniciais • Como tais atos psíquicos se formam e o que enunciam, ainda que com seus disfarces? • Para orientar um pouco as respostas, importa conhecer minimamente os mecanismos de condensação e deslocamento formulados por S. Freud, assim como os mecanismos de metáfora e metonímia introduzidos por J. Lacan. @martiii.collage • A condensação é uma resultante de um compromisso entre o desejo e a censura. • Consiste na reunião/concentração, num mesmo e único elemento, de uma pluralidade de elementos de alto valor psíquico. @martiii.collage Os sonhos - Considerações iniciais • No deslocamento ocorre uma substituição de elementos de alto valor psíquico para elementos de baixo valor psíquico. • Tudo se passa, segundo Freud, como se houvesse um deslocamento da ênfase psíquica, passando das representações fortemente investidas para outras cuja tensão é fraca. @martiii.collage Os sonhos - Considerações iniciais • Lacan postula o mecanismo da metáfora em alusão ao mecanismo de condensação freudiano, mas integrado às suas proposições do inconsciente estruturado como linguagem. • Implica na substituição de uma significação por outra a partir de uma relação de semelhança. @martiii.collage Os sonhos - Considerações iniciais • Assim como no anterior, Lacan postula o mecanismo da metonímia em alusão ao mecanismo de deslocamento proposto por Freud. • Implica num remetimento, em geral se tomando uma parte de um elemento pelo todo. @martiii.collage Os sonhos - Considerações iniciais Elementos de alto valor psíquico “Homem bonito” “Homem atraente” “Homem interessante” Elemento único de alto valor psíquico “Que gato” Substituição Elemento de alto valor psíquico “Não te afastes da religião” Elementos de baixo valor psíquico “Não te afaste da cruz” Remetimento Os sonhos - Considerações iniciais C o n d en sa çã o M et áf o ra D es lo ca m e n to M et o n ím ia Os sonhos @martiii.collage • Por que sonhamos? • À luz da estrita natureza, o sonho não serve para nada. Os sonhos • Freud sugere não confundirmos realidade psíquica x realidade material. • A realidade psíquica é a “tela” necessária para que a “realidade”, tal qual a representamos em nosso cotidiano, possa ter a consistência que conhecemos. @martiii.collage Os sonhos • A realidade psíquica é responsável pela formação dos sonhos. Freud propõe o sonho como “outra cena”, que não corresponde aos parâmetros do cotidiano. • Enquanto produto da realidade psíquica (por condensação e deslocamento), o sonho é a via régia para o inconsciente. @martiii.collage Os sonhos • Freud constata a ligação entre sonho e desejo, muito presentes também nas metáforas cotidianas (“realizei um sonho”, “parece um sonho”). • Quanto ao sonho, não se trata de deduzi-lo como algo que preencheu o que se aspira, mas que, ao contrário, aponta para uma falta. @martiii.collage Os sonhos • Sendo assim, os sonhos mostram os efeitos dos nossos laços pulsionais. • É então nesse sentido que interessam as narrativas dos sonhos: como aquilo que pode revelar os enlaces pulsionais do sujeito. @martiii.collage Os sonhos • Para Freud os sonhos poderiam ser interpretados como um texto, possuindo um conteúdo manifesto (resultado de sua elaboração) e um conteúdo latente (inconsciente). • Nessa perspectiva, compreende-se em psicanálise que o sonho deve ser lido [pelo sonhador]. @martiii.collage Os sonhos • Vejamos: “Eu queria oferecer uma ceia, mas o único mantimento que tinha em casa era um pouco de salmão defumado. Quis sair para fazer compras, mas lembrei-me de que era domingo à tarde e todas as lojas estavam fechadas. Quis telefonar para alguns fornecedores, mas o telefone estava com defeito. Assim, tive de renunciar ao desejo de oferecer uma ceia.” Conhecido como “o sonho da bela açougueira” (S. Freud, 1900) Os sonhos • Breves comentários sobre o sonho: A paciente era casada com um açougueiro, por quem estava muito apaixonada. Tratava- se de um homem mais rude e ela costumava implicar com ele. Surge um elemento curioso: ela lhe pedira que não lhe desse nenhum caviar. O que significaria isto, visto que a paciente diz que há muito deseja comer sanduíche de caviar todas as manhãs? Mais ainda: se pedisse, o marido certamente a satisfaria. Mas não: ela não quer que ele lhe dê para poder continuar implicando com ele. Traz depois sobre a visita que fizera, no dia anterior, a uma amiga de quem sentia ciúme por pensar que ela agradava a seu marido — mas por sorte era magra, e ele preferia formas rechonchudas. Essa amiga fica também associada a outro elemento do sonho: o salmão é seu prato preferido. [continua] Os sonhos • Breves comentários sobre o sonho: [...] Freud dá duas explicações ao sonho: uma, na sua relação direta, mais ligada ao conteúdo manifesto, que refere que no sonho a paciente realiza o desejo de não ver a amiga engordar com seu jantar, para assim não ter o risco de que ela lhe arrebatasse o marido. Em algumas ocasiões, a amiga lhe havia sugerido que a convidasse para jantar, porque em sua casa se comia bem. A outra explicação é indireta: Freud sugere que a paciente tinha necessidade de manter um desejo insatisfeito e que essa amiga também mantinha essa mesma posição. O desejo insatisfeito surgia na relação da paciente com o caviar — ela preferiaque o marido não a satisfizesse — tanto quanto na relação da amiga com o salmão. (Freud, citado por Costa, 2006, p. 52) Os sonhos e a arte Salvador Dalí - O sono, 1937 Os sonhos e a arte Salvador Dalí – A persistência da memória, 1937 Os sonhos e a arte Salvador Dalí – Elefante tigre de sonho, 1944 Os sintomas @martiii.collage • A realidade que decide é a realidade psíquica. • A realidade psíquica também é produtora de sintoma. Os sintomas • O sintoma cumpre a função de “solução de compromisso”, atendendo num só momento a dois senhores: as forças pulsionais e instancias recalcadoras. @martiii.collage Os sintomas • É uma solução singular. • Trata-se de um querer dizer, portanto também precisa ser interpretado – à luz de cada sujeito. @martiii.collage Os sintomas • “O sintoma possui um sentido [e intenção, também direção]...”(Freud, 1917, p. 343). • “(...) e tal como os atos falhos e os sonhos, guardam relação com a vida das pessoas que os exibem.” (Freud, 1917, p. 344). @martiii.collage Os sintomas • Vinheta clínica (p. 349-350). • Qual a intenção? o Ela (identificada a ele) dá continuidade e corrige a cena, pois agora a mancha está no lugar certo. o Corrige também aquilo que lhe foi penoso na noite de núpcias: a impotência do marido. o A ação obsessiva diz: “não, não é verdade. Ele não era impotente e não precisou sentir vergonha da criada”. o “À maneira de um sonho, a ação obsessiva apresenta, em uma ação presente, esse desejo como realizado.” (p. 351). Ela serve, neste caso, ao propósito de retirar o homem de seu infortúnio, posição que também lhe parecia cara. @martiii.collage Os chistes • Vejamos o diálogo abaixo: - O que é que o senhor acha do sexo antes do casamento? - Nada contra, desde que não atrase muito a cerimônia. @martiii.collage Os chistes • Os chistes se relacionam aos ditos espirituosos, gracejos emitidos por um sujeito a outro (ou outros). • Distinguem-se do âmbito mais geral do cômico, pois apesar de também promoverem o riso, Freud concentra seu interesse nos chistes enquanto formação do inconsciente. @martiii.collage Os chistes • Com Freud, o interesse no aspecto psíquico do chiste é justificado, entre vários outros motivos, por tratar-se de um ato em que o sujeito parece triunfar momentaneamente sobre o recalcamento. @martiii.collage Os chistes • No chiste o que faz rir é a queda da imagem ideal. • Com o chiste o sujeito consegue driblar os obstáculos impostos pela cultura. • Como efeito, há um ganho de prazer e evitação de desprazer. @martiii.collage Os chistes • Remonta ao infantil, quando a criança maneja a linguagem sem se preocupar com o sentido, apenas notando a variedade e a repetição de sons. Com a “maturidade”, esse prazer é inibido pela censura. @martiii.collage Os chistes • No plano psíquico, trata-se de um trabalho psíquico de condensação e deslocamento, como modo de “despistar” a censura e a sua consequente proibição em relação a obscenidade, a agressividade, o cinismo e o ceticismo. • São aquelas que estão proibidas e recalcadas em nossas relações sociais. Na produção dos chistes, é possível torna-los aparentes e partilhá-los socialmente. @martiii.collage Os chistes • A condensação se produz juntando duas palavras ou partes que separadas ou ordenadas de outro modo não causariam nenhuma graça. • O deslocamento usa as sequências de pensamento, o subentendido e o raciocínio pressuposto pelo interlocutor. @martiii.collage Os chistes • Vejamos outros exemplos de falas chistosas: Os chistes • Vejamos outros exemplos de falas chistosas: Os chistes • “O que faz rir é o que é, por um lado, absurdo e por outro, familiar” (S. Freud, 1905). @martiii.collage Desconhecido II O InconscientePsicanalítico As pulsões (2º dualismo) Obras consultadas • FREUD, Sigmund (1920). Além do princípio do prazer. In: Obras completas, volume 14. São Paulo: 2010, p. 120-178. • JORGE, Marco A. C. Fundamentos da Psicanálise de Freud a Lacan, Vol. 2. Rio de Janeiro: Zahar Ed, 2010, p. 126-131. Prazer x Desprazer • Freud relaciona prazer e desprazer com a quantidade de excitação existente na vida psíquica, onde o desprazer corresponde a um aumento de excitação e o prazer, diminuição dessa excitação. Kenne Gregoire Prazer x Desprazer • O princípio do prazer é dominante dos processos inconscientes, isto é, busca proporcionar prazer e evitar o desprazer – este ultimo caracteriza o recalque. • O princípio da realidade regula a busca pela satisfação, a partir das condições impostas pelo mundo externo, atuando como uma espécie de proteção ao princípio do prazer. Kenne Gregoire Além do prazer • Em Além do princípio do prazer (1920) Freud avança e constata um além sobre sua compreensão do prazer enquanto princípio que regeria o inconsciente. Kenne Gregoire A repetição • Freud refina a noção de compulsão à repetição. • Verifica a peculiaridade de os sujeitos repetirem as experiências desagradáveis (na vida psíquica e na realidade material). • Freud postula sobre uma espécie de fixação ao trauma. René Magritte A repetição • O jogo do Fort - Da • Porque reencenar o desaparecimento da mãe? René Magritte A repetição • Para Freud, a compulsão a repetição constitui um princípio mais primitivo, mais elementar e pulsional do que o princípio do prazer. • A repetição trataria-se de uma produção de prazer de outra fonte, distinta da pulsão sexual. René Magritte A repetição • “O objetivo de toda vida é a morte e, retrospectivamente, o inanimado existia antes que o vivente(...). Em algum momento, por uma ação de forças ainda inteiramente inimaginável, os atributos do vivente foram suscitados na matéria inanimada. A tensão que sobreveio, na substância anteriormente inanimada, procurou anular a si mesma; foi o primeiro instinto, o de retornar ao inanimado” (Freud, 1920, p. 149) René Magritte A repetição • Freud então irá enfatizar a tendência conservadora das pulsões, ou seja, a tendência de reproduzir o que já existe. @martiii.collage Fonte: JORGE, Marco A. C. (2010, p.131) René Magritte A repetição • As pulsões dão uma impressão enganadora de serem forças tendentes ao progresso e à mudança, quando na verdade tendem a restaurar um estado anterior de coisas. René Magritte 2º dualismo pulsional • Pulsões de vida – Reúne as pulsões do eu e as pulsões sexuais • Pulsões de morte – Oposição às pulsões de vida Flávio Cerqueira Pulsão de morte • Em síntese, contrapõem-se às pulsões de vida. • Tendência a redução das tensões, ou seja, reconduzir o ser vivo ao estado inorgânico. • Voltadas primariamente ao interior e secundariamente ao exterior, sob a forma de pulsão de agressão ou de destruição. Flávio Cerqueira
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